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POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO Simone de Oliveira A legislação educacional contemporânea: a LDB Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar as principais alterações presentes na mais nova LDB. Analisar criticamente a implementação da política. Identificar os desafios que permanecem com a aprovação da Lei. Introdução A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 1996, é a legislação que regulamenta o sistema educacional brasileiro, público ou privado, da educação básica até o ensino superior. Entre outras regulamentações, a LDB estabelece as obrigações das instituições de ensino, determina a carga horária mínima para cada nível de ensino e ainda apresenta diretrizes curriculares básicas para a educação. É também conhecida popularmente como a Lei Darcy Ribeiro, em homenagem ao educador e político brasileiro que foi um dos seus principais pensadores e construtores. Neste capítulo, você vai aprofundar seus estudos a respeito da legis- lação educacional contemporânea, de modo a perceber as principais modificações ocorridas na LDB. Você também vai ver como analisar criticamente a implementação dessa política educacional. Por fim, vai conhecer os desafios do contexto educacional após a aprovação da Lei. Principais alterações trazidas pela LDB de 1996 Com base nos princípios e fi ns constitucionais, a Lei nº 9.394 foi promul- gada em 20 de dezembro de 1996. Ela é a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. De acordo com a LDB, a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Vale ressaltar que a LDB disciplina apenas a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. No que diz respeito ao dever do Estado, a legislação determina que ele deve garantir: ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade do ensino médio; atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; atendimento gratuito em creches e escolas de educação infantil às crianças de 0 a 6 anos de idade; acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com caracterís- ticas e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e a quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao de- senvolvimento do processo de ensino e aprendizagem (BRASIL, 1996). De acordo com Carvalho (2018), em relação aos profissionais da educa- ção, a LDB fixa diversas normas orientadoras, tais como: as finalidades e fundamentos da formação dos profissionais da educação; os níveis e o lócus da formação docente e de “especialistas”; os cursos que podem ser mantidos pelos institutos superiores de educação; a carga horária da prática de ensino; a valorização do magistério e a experiência docente; entre outros. Carvalho (2018) aponta ainda que é necessário ter uma visão ampla da organização da educação escolar brasileira, pois os professores que se pre- tendem formar destinam-se aos níveis e etapas dessa organização. Os níveis são: a educação básica, constituída de três etapas — educação infantil, ensino fundamental e ensino médio —, e a educação superior. A legislação educacional contemporânea: a LDB2 Vale lembrar que a LDB contempla outras modalidades de educação: a educação de jovens e adultos, a educação profissional e a educação especial. Em relação à educação escolar indígena, prevista nas disposições gerais, pela sua especificidade, deve ser regulamentada e tratada no quadro geral da formação de profissionais da educação, tendo em vista “[...] manter programas de formação de pessoal especializado [...]” (BRASIL, 1996, documento on-line) destinados a tais comunidades. Recentemente, foi anunciada pelo Governo Federal uma reforma da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Tal anúncio está causando algumas tensões e preocupações. Além disso, gera diferentes dúvidas levantadas por professores, familiares e, principalmente, alunos do ensino médio. De acordo com a Lei nº 9.394, as principais reformas são referentes às disciplinas obri- gatórias, à formação dos docentes e à carga horária das aulas. A seguir, você vai entender melhor as reformas propostas para cada um desses itens. Disciplinas obrigatórias Anteriormente, o currículo do ensino médio e do ensino fundamental deveria abranger obrigatoriamente as disciplinas de língua portuguesa, matemática e ciências naturais, bem como a realidade política e cultural, sobretudo a do Brasil. Com as mudanças na LDB, as disciplinas mencio- nadas fi cam sujeitas ao que versam os arts. 31, 32 e 36 da Lei de Diretrizes e Bases, sendo que este último sofre alterações. Com as mudanças, o art. 36 da LDB dita o seguinte: Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Co- mum Curricular e por itinerários formativos específicos, a serem definidos pelos sistemas de ensino, com ênfase nas seguintes áreas de conhecimento ou de atuação profissional: I – linguagens; II – matemática; III – ciências da natureza; IV – ciências humanas; e V – formação técnica e profissional (BRASIL, 1996, documento on-line). As disciplinas que compõem a grade curricular do ensino médio também devem sofrer mudanças. É o caso das disciplinas de língua estrangeira. A partir do 6º ano do ensino fundamental, as aulas de inglês passam a ser obrigatórias e o ensino de outros idiomas, como o espanhol, passa a ser optativo. Antes, a 3A legislação educacional contemporânea: a LDB determinação era de que uma língua estrangeira, escolhida pela comunidade escolar, deveria ser ensinada a partir do 5º ano. Professor sem formação específica Antes da reforma, os professores selecionados para lecionar uma disciplina deveriam ter formação específi ca na área. Com as mudanças, entretanto, os docentes podem ser selecionados com base no saber notório sobre o conteúdo, sem ter formação específi ca. Sobre esse aspecto, Archangelo (2017) ressalta que o “notório saber” é medida de caráter excepcional para reconhecimento público de conhecimento e erudição. Em sua origem, portanto, não consiste em atalho a qualquer processo de formação. De acordo com a autora, o Projeto de Lei nº 839/2016, contudo, valendo-se da Medida Provisória nº 746/2016, subverte por completo seu sentido original (ARCHANGELO, 2017). Propõe a certifi cação de conhecimento para professores da educação básica, em qualquer área do conhecimento e para qualquer nível de ensino. Sua fi nalidade principal é reduzir o defi cit de professores da rede estadual de ensino, ampliando o contingente de profi ssionais “habilitados” a assumir a árdua e relevante tarefa de formar os jovens. Carga horária A carga horária prevista para as disciplinas passa de 800 horas/aula para 1.400 horas/aula. As mudanças na LDB visam ao melhoramento no de- sempenho dos estudantes brasileiros e, ainda, à modernização do sistema público de ensino. Além de aumentar a carga horária dos estudantes, essas alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional promovem mudanças no que diz respeito às disciplinas e aostemas obrigatórios. Enfim, a legislação educacional brasileira mostra os diferentes aspectos e os diversos movimentos realizados para que a concepção da proposta educacional fosse se transformando e chegasse aonde chegou. Conceber a legislação educacional na atualidade significa compreendê-la como algo que está além de um simples documento, mas que institui direitos e contribui fortemente para a cidadania. Certamente, todas essas reformas e alterações se refletem em movimentos e avanços na e para a construção da legislação atual. A legislação educacional contemporânea: a LDB4 A seguir, você pode aprender mais sobre o que muda com a proposta de reforma do ensino médio feita pelo Governo Federal. O ensino de artes constituirá componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensino fundamental — e não mais de toda a educação básica. O ensino da língua inglesa será ofertado no currículo do ensino fundamental a partir do 6º ano. Antes, a LDB previa a inclusão de uma língua estrangeira na parte diversificada, sem definir qual. A menção a princípios da proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios sairão para dar lugar à definição dos temas transversais pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O currículo do ensino médio será composto pela BNCC e por itinerários formativos específicos, a serem definidos pelos sistemas de ensino, com ênfase nas seguintes áreas: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. A parte diversificada dos currículos deverá estar integrada à BNCC e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultural. Passará a vigorar a obrigatoriedade do ensino de inglês no ensino médio e deixará de existir a obrigatoriedade da oferta de espanhol como opção ao estudante. As escolas ficam livres para escolher qual é o segundo idioma a ser ofertado. O ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o sistema de créditos ou disciplinas. Os conteúdos cursados poderão ser aproveitados como créditos no ensino superior após normatização pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e homologação do Ministério da Educação (MEC). A mudança nos currículos de formação de professores para se adequar à BNCC deverá ser implementada em dois anos a partir da data de publicação da medida provisória. (ALTENFELDER; MUNARO, 2018, p. 1). Implementação da política Para pensar e examinar criticamente a implementação da política educacional, é necessário retomar e identifi car a LDB como um grande marco, que estabelece em seu art. 1º aspectos sobre o desenvolvimento da educação: Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. 5A legislação educacional contemporânea: a LDB § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominan- temente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (BRASIL, 1996, documento on-line). A LDB reconhece o direito à educação básica como direito público subje- tivo, o que facilita a busca por sua exigência e sua concretização. Veja o que dispõe o seu art. 5º: Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, orga- nização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo (BRASIL, 1996, documento on-line). Considerando, portanto, o art. 1º, pode-se afirmar, de antemão, que o per- curso histórico da legislação educacional — mudanças, ampliações, direitos, deveres — resulta em uma educação reconhecida como um direito público. Fica, assim, garantido a todas as crianças e adolescentes o direito de estudar, entendido como direito humano essencial. Com relação a esse aspecto, Afonso (2013, p. 1) diz que A LDB deu nova legitimidade jurídica para que forças sociais transformadoras conquistem mais espaço político para atuarem nos sistemas de ensino. No artigo 2º, declara que a finalidade da educação é o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. E, ainda, que o ensino deva ser ministrado com observância de princípios de: igualdade de condições para acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; respeito à liberdade e apreço à tolerância; coexistência de instituições públicas e pri- vadas de ensino; gratuidade do ensino público nos estabelecimentos oficiais; valorização do profissional da educação escolar; gestão democrática do ensino público na forma dessa lei e da legislação dos sistemas de ensino; garantia de padrão de qualidade; valorização da experiência extraescolar; vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. O conteúdo da LDB se relaciona aos objetivos e ao direito à educação, ao lugar e ao peso do público no processo educacional, às questões de ordem administrativa, financeira, de formação docente, acesso e permanência dos alunos. A Lei situa a educação formal no universo de práticas sociais e institu- cionais que lidam com o processo de formação humana em geral. A legislação A legislação educacional contemporânea: a LDB6 educacional, hoje, norteia o sistema escolar brasileiro e é responsável pela sua organização e pelo seu funcionamento. Isso quer dizer que o sucesso ou fracasso da instituição escolar é dependente dos regulamentos dessa legislação. Nessa perspectiva, a legislação educacional interfere muito no cotidiano da comunidade escolar, tendo como finalidade o sucesso escolar. Além disso, ela promove um espaço cômodo para a construção reflexiva e significativa do saber, de forma conjunta com a sociedade. Considerando as transformações acarretadas no percurso histórico e a partir das regulações da legislação educacional, atualmente, pode-se almejar uma educação cidadã e democrática. De acordo com Soares (2016), a LDB de 1996 veio para substituir sua versão anterior, de 1971, e ampliar os direitos educacionais, a autonomia de ação das redes públicas, das escolas e dos pro- fessores, bem como para deixar mais claras as atribuições do trabalho docente. As discussões sobre uma nova lei que orientasse a educação brasileira tiveram início ainda em 1988, durante o processo de aprovação da Constituição — que deu aos municípios a atribuição de oferecer o ensino básico à população. Acesse o link a seguir para se aprofundar na Lei de Diretrizes e Bases. No mesmo link, você pode ampliar seus conhecimentos a partir de outras legislações e decisões que envolvem a educação no Brasil. https://goo.gl/VUREQb Alguns aspectos mostram os efeitos da legislação educacional no decor- rer da história como propulsora para importantes mudanças na legislação atual. Por exemplo, para o ensino fundamental, a LDB de 1996 aparece com a preocupação crucial em torno da capacidade de aprender. Para o ensino médio, a preocupação maior é que o aluno continue aprendendo de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade às novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores. Para a educação de jovens e adultos, destacam- -se os conhecimentos e habilidades adquiridos por meios informais, que serão aferidos e reconhecidos por meio de exames. A educação superior deve suscitar o desejo fundamental de aperfeiçoamento cultural e profissional. Na educação especial, não se fala em avaliação, mas em currículo, métodos, téc- 7A legislação educacional contemporânea: a LDB nicas, recursos educativos e organizações específicas; porém, nessa atividadeeducativa de extremo esmero qualitativo está incluído o processo avaliativo. A LDB (1996) ainda: garante os direitos dos professores e também assegura os direitos dos alunos; assegura a merenda escolar; possibilita a existência de um conselho escolar; enfatiza e reafirma a importância da gestão democrática; assegura o direito de todos à educação, inclusive pessoas com defici- ência, normatizando a acessibilidade, a necessidade de professores de apoio, as adequações pedagógicas, etc.; permite e reforça a importância da formação continuada e do aperfei- çoamento dos professores; estabelece a elaboração do currículo escolar, de modo que ele seja formulado com o intuito principal de atender às necessidades básicas dos alunos e que a decisão de reformulação seja tomada de forma linear e não hierárquica. Para Chancharulo (2012), diversos outros componentes podem ser realçados, pois representam importantes avanços que demarcam a legislação educacional atual. Por exemplo: a perspectiva de nível superior para os docentes que atuam em educação básica, reforçada com graduação plena; a progressiva extensão da obrigatoriedade da educação média; o atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de 0 a 6 anos; a oferta de educação para jovens e adultos, inclusive regular; o acesso ao ensino fundamental como direito público subjetivo em qualquer idade, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, asso- ciação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e ainda o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo; a responsabilidade de todos para que todas as crianças que estejam em idade escolar frequentem a escola; a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto da escola, bem como em projetos equivalentes; os progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira; A legislação educacional contemporânea: a LDB8 o avanço na concepção da educação básica, compreendida como sistema de “educação”, não de “ensino”. Enfim, chega-se aqui ao ponto de examinar criticamente a legislação para tentar compreender os reflexos e contribuições de suas transformações. Vale ressaltar que as mudanças propostas na legislação resultam em grandes avanços e progressos notáveis nas teorias e práticas de aprendizagem. A LDB trata o professor como o eixo central da qualidade de educação, aborda a valorização do profissional da educação e o aperfeiçoamento profissional continuado. Além disso, propõe um ensino médio mais coerente e contribui, ainda, para o cenário da educação brasileira. A ideia é promover a democracia, assegurar direitos, propor deveres e diversos outros aspectos que possibilitam uma educação significativa e para todos. O Projeto de Lei nº 6.840, de 2013, que tramita na Câmara dos Deputados, prevê a alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para instituir a jornada em tempo integral no ensino médio e a organização dos currículos em áreas do conhecimento — linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. Desafios que permanecem com a aprovação da Lei Afonso (2013) relata que a LDB é também chamada de Carta Magna da Educa- ção. Foi inspirada e defendida pelo antropólogo Darcy Ribeiro, que conseguiu reunir suas ideias em um texto bem sintetizado, permitindo generalização, fl exibilidade e repercussões políticas. Ao mesmo tempo em que a LDB busca uma educação de qualidade, visa a uma transformação da ordem social. Um povo mais educado se torna mais responsável, mais consciente de seus direitos e defende com mais convicção a cidadania enquanto um espaço de participação política e democrática. A prática docente pode influenciar esse processo. Afinal, os professores são os formadores de opinião, os responsáveis pela educação e pela formação dos valores de seus alunos. No cenário atual, um dos desafios, mesmo após a aprovação da LDB, é instituir uma nova compreensão sobre a educação e o currículo. Os conteúdos 9A legislação educacional contemporânea: a LDB não devem ser organizados de maneira linear e inflexível, mas relacionados a um processo dialógico. É fundamental que os conhecimentos escolares sejam instigados por novas temáticas em proposição. Ou seja, os objetos do conhecimento das diversas disciplinas devem apontar, a partir de suas especificidades, para uma ação crítica e reflexiva a respeito das realidades colocadas em questão. A educação no Brasil ainda está longe de ser a ideal, especialmente em termos da qualidade do aprendizado, mas houve importantes avanços nas últimas décadas. A LDB introduziu mecanismos de avaliação do ensino, que hoje se materializam em iniciativas como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e o Censo Escolar. Com isso, é possível conhecer melhor os resultados do trabalho desenvolvido pelos educadores. De acordo com Leão (2005), a legislação e as políticas educacionais con- tribuem com a educação, direcionando melhorias à vida humana. Essa é uma conquista gradual da cultura, do desenvolvimento crítico e do aproveitamento das potencialidades do ser humano. Assim, requer o redimensionamento político dos processos educativos. Nestes, residem as possibilidades de recons- trução de uma sociedade, se não igualitária, menos desigual, em que o nível de inter-relações transcorra num sentido de horizontalidade, na qual grupos ou classes sociais não se sobreponham uns aos outros. Você deve notar que é no confronto cotidiano que se pensam as novas possibilidades educativas em detrimento das velhas práticas arraigadas. A legislação está posta, mas não necessariamente é definitiva. À LDB é dada a complexa tarefa de reconstruir novas lógicas educativas a partir das suas peculiaridades. Assim, você precisa ficar atento para o fato de que uma pro- posta pedagógica é um caminho, não um destino. A educação é construída nesse caminhar e tem uma história que precisa ser contada. Ela nasce de uma realidade que pergunta e é também a busca de uma resposta (KRAMER, 1997). A legislação deve ser abrangente e minuciosa. Não só deve garantir o acesso no sentido de ter escolas, salas de aula e carteiras suficientes e adequadas à quantidade de alunos em cada região, como também deve garantir a educação aos jovens que não podem se locomover até a escola, estejam eles em casa, hospitais, clínicas de recuperação de uso de drogas ou centros de detenção. A legislação educacional visa também a ofertar uma educação e um ambiente escolar inclusivo para os jovens com necessidades especiais. Todos esses aspectos se configuram como desafiadores para a educação nacional. A legislação educacional contemporânea: a LDB10 Uma vez garantido o acesso de todos os jovens à escola, é esperado que ela promova um ensino de qualidade. Para isso, é preciso uma boa estrutura e um bom currículo, que por sua vez é preconizado pelas políticas educacionais. As políticas educacionais visam à melhoria contínua e significativa da efetividade dos serviços oferecidos nas escolas, desde professores bem formados a práticas de ensino mais eficazes. No que se refere à formação de professores, Carvalho (2018) reforça que, no momento atual, é necessária uma política pública de formação. Tal política deve tratar, de maneira ampla, simultânea e integrada, tanto da formação inicial como das condições de trabalho, remuneração, carreira e formação continuada dos docentes. Cuidar da valorização dos docentes é uma das prin- cipais medidas para a melhoria da qualidade do ensino ministrado às crianças e aos jovens. O autor afirma, ainda, que é preciso haver a valorização dos profissionais do ensino, garantindo, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurando regime único para todas as instituições mantidas pela União. Outro aspectoa ser considerado é que ainda existem jovens que se desen- gajam das atividades escolares por questões ligadas à vulnerabilidade social de suas famílias. Nessas condições, não há como esperar que o jovem vá para a escola e que aprenda estando subnutrido ou afetado por outras mazelas da pobreza extrema. Por isso, as políticas educacionais devem estar integradas a políticas sociais de combate à miséria, assistência social e atenção básica de saúde. Como você sabe, isso demanda um trabalho intenso, complexo e desafiador. Mesmo com as transformações ocorridas na educação a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, faz-se necessário um olhar que pressupõe (re)pensar, positivamente, os processos educacionais. Isso talvez ajude a determinar a função da educação frente aos problemas sociais que atingem a escola, bem como a definir a sua especificidade dentro da socie- dade. Talvez seja preciso, inclusive, repensar a fragmentação no currículo e nas políticas educativas. Os desafios emergem a cada nova situação e, nessa perspectiva, não há dúvidas quanto aos avanços alcançados pela educação brasileira na atualidade. Contudo, como você viu, muitos desafios ainda seguem em aberto na realidade nacional, principalmente para a concretização de uma educação com qualidade e equidade para todos os brasileiros. 11A legislação educacional contemporânea: a LDB AFONSO, S. de R. 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