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Políticas Públicas e Educação Unidade 1 Sistema Educacional Brasileiro Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria PRICILA RIBEIRO ALIAS AUTORIA Pricila Ribeiro Alias Sou formada em Ciências Biológicas, com habilitação em Química pela Fundação Santo André e realizei a especialização em Ciências da Natureza para crianças pela Universidade de São Paulo (USP). Além da graduação citada, sou formada em Pedagogia com habilitação em Direção e Supervisão Escolar pela Universidade Bandeirantes (Uniban). Com uma vasta experiência técnico-profissional na área educacional há mais de 24 anos, tenho, dentre eles, 18 anos na área de docência (como professora de Ciências e Química) e 13 anos na coordenação pedagógica do Ensino Fundamental I, II, Ensino Médio e Técnico, incluindo escolas municipais, estaduais e particulares. Foram 16 anos de docência na Secretaria Estadual de Educação e dois anos na ETEC Ribeirão Pires, 10 anos na Prefeitura Municipal de São Paulo como professora de Ciências e Coordenadora Pedagógica, dois anos na Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo como coordenadora pedagógica e mais cinco anos na coordenação pedagógica de uma escola particular como minha penúltima experiência. Como última experiência profissional, exerci a função de consultora pedagógica na Editora FTD Educação, ministrando formações para diretores, coordenadores e professores, além da consultoria pedagógica para estudantes nas orientações de TCC. Já ministrei, também, cursinhos preparatórios para concurso público. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO História do sistema educacional brasileiro .........................................10 O sistema educacional brasileiro – histórico .............................................................. 12 O sistema educacional brasileiro — avanços e retrocessos ............................ 19 Conceitos do sistema educacional brasileiro .................................... 21 O que é o sistema educacional brasileiro? .................................................................. 21 A organização do sistema educacional brasileiro ...................................................24 Princípios do sistema educacional brasileiro .....................................33 Princípios educacionais propostos para uma rede colaborativa de educadores ......................................................................................................................................... 36 Princípios que fazem da educação da Finlândia um sucesso....................... 41 Características do sistema educacional brasileiro ..........................44 Características gerais dos sistemas educativos .......................................................44 Características das escolas eficazes no Brasil .......................................................... 48 7 UNIDADE 01 Políticas Públicas e Educação 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade, vamos abordar o sistema educacional brasileiro, e estaremos dissertando, a priori, o conceito de “sistemas”, com o objetivo de o aluno entender do que se trata “sistemas” e como o sistema educacional brasileiro está inserido nesse contexto. Trataremos, também, do sistema educacional brasileiro e todo o seu histórico, seus avanços e retrocessos e toda legislação que passou por mudanças e transformações ao longo desses séculos, além dos princípios da educação que permeiam esse sistema, suas principais características e as ideias sobre as características dos sistemas educacionais que, hoje, são bem-sucedidos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar nesse universo! Políticas Públicas e Educação 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1, e o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Entender a história do sistema educacional brasileiro, seus avanços e retrocessos. 2. Definir o conceito do sistema educacional brasileiro, compreendendo como ele está organizado. 3. Compreender os princípios básicos do sistema educacional brasileiro em comparação com o de outros países que possuem um sistema de educação bem-sucedido. 4. Identificar as características gerais do sistema educacional brasileiro e, em especial, aquelas que são eficazes no Brasil. Então, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Políticas Públicas e Educação 10 História do sistema educacional brasileiro OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como é o sistema educacional brasileiro, seu histórico, seus avanços e retrocessos. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Para melhor entendermos o conceito, as características e a estrutura do sistema educativo, torna-se necessário rever alguns conceitos básicos da teoria geral dos sistemas, o que fazemos de forma necessariamente sucinta e os aspectos indispensáveis. O conceito de sistema faz parte da base conceitual de uma parte cibernética que se denomina Teoria geral de Sistemas, cujo objetivo é relacionar, entre si, a grande variedade de sistemas existentes, de maneira a descobrir suas próprias propriedades e desenvolver um referencial histórico que possa ser aplicável a todos eles. Entretanto, há certos grupos específicos de objetos ou fenômenos da realidade que, pelas características particulares, exigem abordagens específicas e não unicamente no quadro da teoria geral dos sistemas. Assim, pode-se falar de sistemas biológicos, sociais, organizativos, eletrônicos, etc., cujos estudos ficam a cargo específico da teoria de cada área. O conceito de sistemas tem sido formulado de modo diferente pelos especialistas, entre os quais não há unanimidade sobre a sua definição. Alguns defendem que, por se tratar de um conceito intuitivo, não carece de definições. Todavia, é possível encontrar pontos comuns nas diferentes posições e, dessa forma, formular uma ideia básica acerca do que são os sistemas. Assim, de quase todas as definições resulta a ideia de que “sistema” é um conjunto organizado e integrado de elementos que concorrem para o mesmo fim. Lalande apud Silva (2006) apresenta uma das definições mais didáticas e de fácil compreensão sobre o termo. Ele o define como “conjunto de elementos,materiais ou não, que dependem reciprocamente Políticas Públicas e Educação 11 uns dos outros, de maneira a formar um todo organizado”. Essa definição apresenta o sistema como um todo formado de partes interdependentes e harmônicas, mas tem sua atenção voltada apenas para o interior do sistema, ignorando o que se passa à sua volta. Já Drew apud Silva (2006) incorpora as relações com o meio externo à noção de sistema, ao defini-lo como Conjunto de componentes ligados por fluxos de energia e funcionando como uma unidade [...]. Se o sistema recebe energia exterior e devolve energia, dizemos que é um sistema aberto. Se a energia é retida dentro do sistema, dizemos então, que se trata de um sistema fechado. (DREW apud SILVA, 2006) Sendo assim, um sistema aberto apresenta uma fronteira permeável ao ambiente, ou seja, existe um movimento de entrada e saída de elementos através das fronteiras. Ele recebe do ambiente externo novos elementos e devolve ao ambiente os produtos do sistema. Em geral, o sistema está contido dentro de um sistema mais amplo, que poderá ser chamado de “super sistema” e, em contrapartida, ele poderá estar contido de partes que são sistemas menores e podem ser chamados de “subsistemas”, ou seja, o “subsistema” convém estudá-lo como parte de um sistema maior. A estrutura sistêmica exige, para um bom funcionamento, um conjunto de regras orientadoras, normatizadoras da vida em sociedade. Isso significa dizer que a base de sustentação do “super sistema” ou “macrossistema” vem traduzida na Constituição Federal. Nessa mesma linha de compreensão, focamos a educação em sua composição formal (escola) e apresentamos com base de sustentação normativa a LDBEN. Enfim, em uma abordagem mais elaborada, diremos que o sistema é um conjunto de elementos, que, possuindo propriedades ou atributos específicos, estabelecem relações entre si e com o meio ambiente, gerando sinergias e contribuindo para o mesmo fim. O sistema é assim, esses conjuntos de elementos, propriedades, relações que, pertencendo à realidade objetiva, representam para o investigador o objeto do seu trabalho. Políticas Públicas e Educação 12 O aspecto mais importante consiste em que um sistema constitui um todo e, portanto, apresenta como resultado final ou integrado determinadas propriedades que não é possível localizar de forma isolada em nenhuma das suas componentes. Todavia, esse complexo de elementos, propriedades, relações e resultados finais tem lugar em determinadas condições de espaço e tempo e em contato com um meio ambiente. Entendendo o sistema, ora, como um conjunto de elementos organizados para o prosseguimento do mesmo fim, o sistema educativo pode ser definido como um conjunto integrado de estruturas, meios e ações diversificadas que, por iniciativa e sob responsabilidade de diferentes instituições e entidades públicas, privadas e/ou cooperativas, pensam na realização do direito à educação em um dado contexto, ora, como um conjunto de estruturas e instituições educativas que, embora possuam características ou peculiaridades específicas, relacionam-se entre si e com o meio ambiente, envolvendo de forma integrada e dinâmica, combinando os meios e recursos disponíveis para a realização do seu objetivo comum, que é garantir a realização de um serviço educativo que corresponda às exigências e demandas de uma sociedade. O sistema educacional brasileiro – histórico Considerando os primórdios da educação no Brasil, iniciamos com a reflexão de que, na época da colonização do nosso país, Portugal passa aos jesuítas a responsabilidade da gestão da educação. Todavia, nesse período já existia uma forma administrativa de gerir uma escola, baseada em uma rigorosa hierarquia, e foi dessa forma que a direção das escolas foi caminhando no período que veio logo atrás. No Império, ainda havia a predominância de uma forma de construir a escola sob perspectivas de imposições intransigentes. Ao longo do tempo, esses modelos foram evoluindo. Então, o primeiro período vai de 1500 a 1930, e engloba o período do sistema educacional brasileiro que abrange o Brasil Colônia, Império e a Primeira República, prevalecendo uma concepção tradicional de educação. Políticas Públicas e Educação 13 Em 1548, dá-se o período inicial do Brasil Colônia, que regulamenta a conversão dos indígenas à fé católica pela catequese e instrução, trabalho este realizado pelos Jesuítas. Embora tenham sido expulsos em 1759, os Jesuítas implantaram as bases, a estrutura e o funcionamento da escola brasileira, diferentemente do que estava previsto no regimento, instalando-se como direito de todos e não apenas da população indígena. Figura 1 - Jesuítas Fonte: Wikimedia Commons. VOCÊ SABIA? Você sabia que mesmo depois de mais de 500 anos, o Brasil ainda possui tribos indígenas? E que agora essa clientela está amparada pela LDB com a Educação Indígena? Cabe ressaltar que a sociedade nessa época era organizada para garantir o modelo agroexportador e a monocultura latifundiária não dependia de mão de obra qualificada ou diversificada, pois o tráfico de negros supria a necessidade da mão de obra. Diante dessa realidade, surge na colônia dois tipos de escolas, uma para as populações indígenas (catequese) e outra para os mamelucos, órfãos e filhos dos principais caciques da terra (a instrução através dos internatos — recolhimentos). Posteriormente, foram criados colégios e seminários destinados aos filhos dos colonos brancos. Políticas Públicas e Educação 14 Os Jesuítas sendo os responsáveis pela educação na colônia, tornam a Igreja participante privilegiada da sociedade civil e política da época e a escola um instrumento de grande alcance na reprodução dos valores de uma cultura externa, embasada na visão liberal, já consolidada na Europa. No último século desse período, a Escola Função deixa de ser a característica da educação na Colônia, e a Escola Estrutura passa a ser organizada e regulamentada nacionalmente. Desde então, o aumento numérico de escolas de instrução básica é acompanhado da criação de colégios e cursos cuja finalidade era formar profissionais. Dessa maneira, nascem os primeiros cursos de Medicina e Direito, os primeiros cursos técnicos de artes e ofícios e os colégios militares. No fim do Império e início da República, são traçadas as primeiras concepções de uma política educacional estatal, resultado do fortalecimento do Estado, sob a forma de sociedade política. Em 1824, é promulgada a primeira Constituição, e assim, acontece a substituição da proposta de uma política nacional de ensino por uma regulamentação da instrução primária gratuita a todos os cidadãos e pela criação de colégios e universidades onde seriam ensinados os elementos das Ciências, Belas Artes e Artes. Em relação à escola primária, a Lei de 15 de outubro de 1827 foi à única lei geral sobre esse nível de ensino, até 1946. O governo republicano, segundo alguns autores, foi quem proporcionou o maior crescimento de oportunidades escolares, porém, essas escolas eram elitistas, e com o tempo tornaram-se insuficientes. Com o início do ensino secundário, o pobre não podia frequentá-lo, visto que o ginásio e o colégio custavam caro. Então, cerca de 90% eram os pobres, que iriam para fábricas, lavouras e para mão de obra. E os 10% restantes eram os ricos, fariam exames e seriam médicos, engenheiros, políticos, jornalistas, bacharéis e constituiriam a elite nacional dominadora. Na Constituição de 1891, a escola organiza-se em “graus de ensino”, em que o 1º grau seria para crianças de 7 a 13 anos e o 2º grau para crianças a partir de 13 anos. Uma das intenções dessa nova estrutura na organização escolar era que os diversos níveis de ensino se tornassem formadores e não apenas preparadores para o grau seguinte. O ingresso Políticas Públicas e Educação 15 nos cursossuperiores seria precedido de exames (no final do curso secundário), objetivando medir a capacidade intelectual dos formandos. Outra intenção era assegurar que a formação no 2º grau ocorresse tendo como base a Ciência, substituindo, assim, o que chamavam “academismo literário”, criticado como resultado do predomínio da escola tradicional. Porém, ocorreram os paradoxos: • Formação humana versus preparação para o ensino superior. • Formação humana baseada na ciência versus formação humana baseada na literatura. O resultado desse impasse é que ambos os ensinos (1º e 2º) tornaram-se enciclopédicos. Na prática, a escola se manteve como preparadora daqueles que iriam ingressar no grau de ensino subsequente. Em 1930, no governo de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério da Educação e Saúde, mas apenas 30% da população em idade escolar estava nas escolas. A ideia mais geral e abrangente de escola pública no Brasil surgiu com o Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, que lançaram o Manifesto dos Pioneiros. Os pioneiros da educação apresentam um projeto de sistema educacional, baseado no pressuposto de que medidas educacionais deveriam ser tomadas e apoiadas a partir de um programa educacional amplo, com unidade de propósitos e sequência determinada. Propunham a organização de cursos acadêmicos e profissionais em um mesmo estabelecimento; combatiam o dualismo entre o ensino profissional e cultural, sendo contrários ao centralismo que confundia unidade com uniformidade. O “movimento dos pioneiros” marcou o tipo de escola e o sistema escolar da época, mas não impossibilitou o crescimento da escola tecnicista, sendo a escola laica com gratuidade, obrigatoriedade e coeducação alguns dos tantos princípios que esse Manifesto assenta a escola unificada. O Manifesto prescrevia a inovação para o progresso da educação. Políticas Públicas e Educação 16 No período de 1946 até 1964, houve um grande avanço na política educacional brasileira, que abarca o ensino na zona rural e a classe trabalhadora, desencadeando amplas defensorias da escola pública, no entanto, os resultados alcançados não correspondiam às expectativas da sociedade. No período de 1965 até 1970, de cada mil alunos matriculados no Ensino Fundamental, apenas 101 alcançavam a 8ª série. Na década de 1960, surge uma nova organização educacional, pela Lei nº 4.024/61 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB), tornando o sistema de ensino um ponto de conflito entre os segmentos e grupos sociais. Essa primeira LDB foi considerada uma lei completa, pois estabelecia diretrizes e bases para toda a educação nacional, ou seja, para todos os níveis de ensino, desde a pré-escola até o nível superior. Estabeleceu a seguinte estrutura para o ensino: Cursos 1. Primário — obrigatório e gratuito com duração de quatro anos (1ª a 4ª série). 2. Ginásio — não obrigatório e gratuito nas escolas públicas com duração de quatro anos (5ª a 8ª série). 3. Colegial — subdividido em “clássico” e “científico”, não era obrigatório, mas era gratuito nas escolas públicas, com duração de três anos. 4. Superior — não obrigatório e gratuito nas escolas públicas. Apesar das prescrições, os dados do MEC/SEEC demonstram que, em 1964, apenas dois terços das crianças estavam matriculadas. Diante dessa circunstância de exclusão social, o princípio de direito e o dever da educação para todos os cidadãos passa a descrédito. A partir do golpe de 1964, o país passou por uma centralização administrativa, o que mudou o direcionamento e a condução do trabalho pedagógico e discente nos diferentes níveis de ensino do sistema público. A melhor forma de educação era a instrução programada, que tinha objetivos de conteúdo e de comportamento para os estudantes, em especial no Ensino Médio, em que só se podia trabalhar com questões Políticas Públicas e Educação 17 fechadas, as quais o aluno não podia transcender. O aluno tinha uma pergunta com uma série de respostas estabelecidas das quais não poderia escapar: uma delas era correta e não se cabia questionamentos da realidade. A resistência à ditadura gerou movimentos de luta democrática. A década de 1980 reflete essas ações, o que resulta no retorno ao estado democrático, e em seguida, a instalação da constituinte. Os diferentes setores da sociedade se organizam para garantir o direito de influenciar no processo de mudanças que ficam mais fortes no país. Temos a segunda LDB, nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Com ela, surge a unificação do ensino primário com o ginásio, constituindo o “1º grau” tornando os oito primeiros anos obrigatórios e gratuitos em escolas públicas. Essa lei estabeleceu a seguinte estrutura: • Ensino do 1º grau – obrigatório e gratuito nas escolas públicas, com duração de oito anos. • Ensino do 2º grau – não obrigatório, mas gratuito nas escolas públicas, com duração de três ou quatro anos obrigatórios e profissionalizante. A obrigatoriedade da profissionalização do ensino de 2º grau foi abolida em 1982, já que tinha sido um completo fracasso, devido à falta de condições e de recursos necessários por parte da maioria das escolas públicas. A democratização das escolas necessita de uma autonomia destas, mas vinculadas à política geral do Estado para que as instituições de ensino não percam seu sentido de público, de atendimento a todos, o que não pode acontecer devido a uma privatização interna das escolas. Se estas são públicas, são de todos e todos devem participar. Escola autônoma é aquela que estabelece suas regras e normas para sua existência e funcionamento, podendo levar em conta sua realidade. Com essa conquista, as unidades escolares estabelecem diretrizes para canalizar as forças vindas de diversos setores: governo, administração escolar, alunos e pais. Essa foi uma bandeira levantada no fórum nacional em defesa da escola pública, em 1987. Esse fórum continuou mobilizado em função da LDB. Políticas Públicas e Educação 18 Em 1996, com a Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), levou-se em consideração a realidade educacional, normatizando o sistema educacional para garantir o acesso à educação de igual para todos. Essa lei traria um conjunto de definições políticas que orientariam o sistema educacional brasileiro, introduzindo mudanças significativas na educação básica no Brasil. Considerando, em especial, além da educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio), suas modalidades: Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Técnica, Educação Especial e Educação a distância (EAD). A LDB é o diploma legal que define as regras gerais a serem seguidas nas políticas educacionais no país. A elaboração dessa nova LDB surgiu da necessidade de a educação atender e adequar-se à realidade brasileira e às exigências de um mundo cada vez mais globalizado. Do mesmo modo, era necessário elaborar uma lei que fosse mais adequada aos assuntos constitucionais que tratavam da educação. IMPORTANTE: Após a LBD, ainda em vigor, surgiram várias emendas, melhorando ainda mais os direitos à educação, como o Ensino Infantil (pré-escola obrigatório), que agora é obrigatório a partir dos 4 anos, tornando a pré-escola, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio obrigatórios e gratuitos nas escolas públicas. Além do Ensino Fundamental de nove anos, entre outros benefícios. Após a LDB, temos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevista na LDB e prescrita para o Ensino Fundamental e a Educação Infantil, norteando nacionalmente a construção dos currículos. Políticas Públicas e Educação 19 O sistema educacional brasileiro — avanços e retrocessos Nas últimas décadas, a educação no Brasil tem transposto períodos reflexivos que culminam em uma ideia: a educação precisa mudar. O tema, mesmo recorrente, continua atual. Não é mais uma questão de opção ou de postura dosprofissionais da educação, mas trata-se de uma exigência da sociedade, que cada vez mais prega a mudança da educação para que esta seja de qualidade e igualitária. Em todo o mundo estão sendo implantadas reformas educacionais para adequar o sistema de ensino às mudanças econômicas e sociais. As instituições escolares vêm sendo pressionadas a repensar o seu papel diante das transformações aceleradas que caracterizam o processo de integração e reestruturação capitalista mundial e inovações tecnológicas. Os avanços tecnológicos e científicos, as mudanças no mundo do conhecimento afetam diretamente a sociedade em suas necessidades, e é claro, atingem também a escola, que é cobrada pela formação desse “novo cidadão” para o século XXI. Em resposta a essa exigência, as instituições de ensino têm a todo tempo o questionamento do papel e da função da escola, em relação ao que a sociedade espera que ela desenvolva na formação integral do aluno e exerça verdadeiramente sua cidadania. Para o educador hoje, não basta ser um profissional eficiente em sala de aula, mas possuir uma cultura geral que inclui conhecimentos legais, jurídicos, cognitivos e pedagógicos e saber direcionar a busca do conhecimento dos seus alunos, visto que o ensino autodidata vem crescendo. O que observamos é que, no Brasil, na maioria das escolas públicas, podemos observar: instituições do século XXI estruturalmente falando, professores do século XX, que nem sempre se atualizam com as novas tendências educacionais, e os alunos do século XXI. Por isso, há um abismo entre a versão escolar e a versão social, e, em consequência disso, o fracasso de algumas escolas públicas no Brasil. Políticas Públicas e Educação 20 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos revisar o que vimos. Você deve ter aprendido que nos primórdios da educação no Brasil, Portugal passa aos jesuítas a responsabilidade da gestão da educação e esses implantaram as bases, a estrutura e o funcionamento da escola brasileira. Posteriormente, foram criados colégios e seminários destinados aos filhos dos colonos brancos. No fim do Império e início da República, são traçadas as primeiras concepções de uma política educacional estatal, resultado do fortalecimento do Estado, sob a forma de sociedade política. O governo republicano foi quem proporcionou o maior crescimento de oportunidades escolares elitistas. Na Constituição de 1891, a escola organiza-se em “graus de ensino”, em que o 1º grau seria para crianças de 7 a 13 anos, e o 2º grau para crianças a partir de 13 anos. Na década de 60, surge uma nova organização educacional, pela Lei nº 4.024/61 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação [LDB]), estabelecendo a seguinte estrutura para o ensino: Primário — obrigatório e gratuito com duração de quatro anos (1ª a 4ª série). Ginásio — não obrigatório e gratuito nas escolas públicas com duração de quatro anos (5ª a 8ª série). Colegial — subdividido em “clássico” e “científico”, não era obrigatório, mas era gratuito nas escolas públicas, com duração de três anos. Superior — não obrigatório e gratuito nas escolas públicas. Estudamos que foi criada a segunda LDB, nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Com ela, surge a unificação do ensino primário com o ginásio, constituindo o “1º grau” e tornando os oito primeiros anos obrigatórios e gratuitos em escolas públicas. Políticas Públicas e Educação 21 Conceitos do sistema educacional brasileiro OBJETIVO: O sistema educacional brasileiro está cada vez mais sendo lembrado e falado por redes sociais, mídias, nas campanhas eleitorais, em congressos, entre outros. Fato este importante, visto que a educação é a principal ferramenta para formar profissionais e cidadãos mais conscientes dos seus direitos e deveres e como a sociedade funciona. Neste tópico, você entenderá mais sobre o conceito do sistema educacional brasileiro. O que é o sistema educacional brasileiro? De acordo com o que estabelece Menezes (2021), o sistema educacional é a maneira como se organiza a educação regular no processo político brasileiro. É a forma de como se organiza a educação regular no Brasil. Essa organização se dá em sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Constituição Federal de 1988, com a Emenda Constitucional n.º 14, de 1996 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), instituída pela lei nº 9394, de 1996, são as leis maiores que regulamentam o atual sistema educacional brasileiro. (MENEZES, 2021) Figura 2 - Sistema educacional brasileiro Sistema educacional Regulamentado por leis Organização Educação regular Fonte: Elaborado pela autora com base em Menezes (2021 online) Políticas Públicas e Educação 22 No que se refere ao processo estabelecido pela LDB (Lei de diretrizes e bases), destaca-se ser uma norma responsável por definir os objetivos centrais da educação do Brasil e isso inclui a maneira como ela se organiza, quais são os órgãos que irão gerenciar as atividades educacionais e ainda, os níveis educacionais que o sistema brasileiro oferecerá. Destaca-se, portanto, que os elementos previstos da LDB devem estar em consonância com o estabelecido no sistema princípio lógico identificado na Constituição Federal. Figura 3 - Os pressupostos da Lei de Diretrizes e Base Constituição Federal Sistema principiológico Organização Níveis educacionais LDB Gerenciamento das atividades educacionais Modalidades de ensino Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) Ainda sobre a LDB, destaca-se que exerceu uma grande influência na BNCC Um conjunto de orientações de aprendizagem dos alunos para atingir metas educacionais. Ela busca garantir que todos os alunos tenham acesso aos conhecimentos básicos e indispensáveis, independentemente de onde e em quais condições estudam, conforme estabelecido em Brasil (2017) A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento Políticas Públicas e Educação 23 normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996) e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam a formação humana integral e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). Cabe à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios planejar, financiar, manter e executar as políticas de ensino que estejam de acordo com a BNCC, LDB e as diretrizes constitucionais. (BRASIL, 2017) O Art. 2º da LDB afirma que a educação é inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, cuja finalidade é desenvolver pessoas para exercerem a cidadania e qualificá-las para o trabalho. Além disso, a LDB define que existem duas categorias de ensino: a educação básica e a educação superior. REFLITA: A LDB trata especificamente de educação, como já vimos. Porém, ela divide a educação em ampla e estrita, sendo que a primeira é de responsabilidade da família e a segunda do Estado. A educação no sentido amplo, é tudo aquilo que acontece nos diversos ambientes formativos, ou seja, é o que se aprende em qualquer lugar ou espaço. Já a educação no sentido estrito, é a que acontece em ambientes formais, ou seja, uma educação escolar, sendo essa a única que a LDB irá disciplinar(NOGUEIRA, 2021). Sendo assim, de acordo com o que as referidas normas estabelecem, vários órgãos são responsáveis pelo funcionamento do nosso sistema educacional e, como será possível compreender abaixo, o funcionamento se dará de acordo com o estabelecido em níveis, que são, federal, estadual e municipal. No que se refere ao nível federal, encontram-se os seguintes órgãos: • Ministério da Educação (MEC). • Conselho Nacional de Educação (CNE). Políticas Públicas e Educação 24 Já no âmbito estadual, assim como no Distrito Federal, decisões sobre o sistema educacional ficam a cargo das seguintes entidades: • Secretarias Estaduais de Educação (SEE). • Conselhos Estaduais de Educação (CEE). • Diretorias de Ensino de Educação (DE). E, por fim, no nível municipal, quem coordena a educação são: • Secretarias Municipais de Educação (SME). • Conselhos Municipais de Educação (CME). SAIBA MAIS: No intuito de compreender melhor as informações que contextualizam a construção da BNCC, sugere-se a leitura do texto que pode ser acessado aqui. Através dessa leitura, será possível perceber as etapas cronológicas no processo de construção do documento que entrou em vigor no ano de 2017. Em seguida, torna-se essencial a leitura do texto final do documento BNCC que pode ser acessado aqui. A organização do sistema educacional brasileiro Como foi possível observar anteriormente, o sistema educacional brasileiro é estruturado em níveis de ensino, no sentido de adequar as necessidades do estudante de acordo com a sua faixa etária e realidade. Portanto, de acordo com a LDB 9.394/96 estabelece, o sistema educacional brasileiro está organizado em educação básica e ensino superior. Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I – Educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II – Educação superior. (BRASIL, 1996) Políticas Públicas e Educação http://basenacionalcomum.mec.gov.br/historico. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf 25 No que se refere ao processo de compreensão da educação básica, convém destacar que se diz respeito a um processo eminentemente obrigatório, ou seja, é dever dos pais e/ou responsáveis que as crianças e adolescentes concluam a educação básica, assim como é dever do Estado oferecer essa educação. Ela é constituída pelas seguintes modalidades: • Educação infantil – Com duração de cinco anos – Creche com alunos de 0 a 3 anos e pré-escola com alunos de 4 e 5 anos. Sendo obrigatória a matrícula a partir de 4 anos. • Ensino fundamental – Duração de nove anos, com alunos de 6 a 14 anos. • Ensino médio – Duração de três anos, com alunos de 15 a 17 anos. • Ensino médio técnico – As escolas podem oferecer cursos técnicos em turnos inversos. A duração é variável, podendo ser de um a três anos. Ainda no que se refere ao processo estabelecido pela educação básica, destacam-se outras modalidades, que são: • Educação de jovens e adultos (EJA) Essa é uma das modalidades mais conhecidas na educação brasileira. Sua origem advém da necessidade de escolarização de pessoas excluídas do processo, mas ficou inicialmente conhecida como uma educação de segunda classe para as pessoas adultas e, em geral, de classes populares. A necessidade de mão de obra minimamente qualificada para atuar na indústria e a diminuição dos números vergonhosos de analfabetismo foram os iniciadores do processo para que o Estado oferecesse tal modalidade. Anteriormente conhecida como supletivo, a atual EJA traz consigo a concepção de inclusão social e oferta para aqueles que não tiveram oportunidades na idade própria. A EJA está disciplinada na LDB, em especial nos artigos 37 e 38, e possui DCN própria para sua oferta. Políticas Públicas e Educação 26 • Educação especial Seu conceito está disposto no artigo 58 da LDB — a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (BRASIL, 1996) Como é possível observar, a LDB teve o cuidado de especificar o que seria educação especial e, ainda, como deve ser aplicada, como é o caso da definição dos locais e da maneira como deve ser aplicada. Destacando a necessidade da instituição de ensino se adequar às peculiaridades de cada indivíduo que busca o serviço especial de educação. No que se refere ao processo de caracterização, destaca-se que ela é encontrada nos artigos 59, 59-A e 60, bem como nas inúmeras legislações que foram necessárias para que o processo de inclusão pudesse acontecer. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação Políticas Públicas e Educação 27 com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados na educação básica e na educação superior, a fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedimentos para inclusão no cadastro referido no caput deste artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que trata o caput serão definidos em regulamento. (BRASIL, 1996) Figura 4 - LDB e aspectos da educação especial LDB Inclusão Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) Compreende-se que a LDB se apresenta como um sistema normativo voltado para o processo de inclusão de todos os indivíduos, independentemente, de sua condição neurológica. Por isso, compreende- se como um processo de responsabilidade da escola, visto que cabe à instituição possuir estrutura física adequada para a construção da igualdade de oportunidades. Destaca-se, portanto, que a criança ou adulto que possui algum tipo de condição neuroatípica possui os mesmos direitos sobre o acesso à educação de qualquer outra criança ou indivíduo que é neuroatípica. Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Políticas Públicas e Educação 28 Educacional Especializado (AEE), complementar ou suplementarà escolarização, ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. • Educação profissional e tecnológica A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se com o ensino regular e com outras modalidades educacionais: EJA, educação especial e educação a distância (EAD). Como modalidade da educação básica, a educação profissional e tecnológica ocorre na oferta de cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional e nos de educação profissional técnica de nível médio. No que se refere à previsão legal da educação profissional e tecnológica, indica-se o estabelecido no artigo 39º, que se encontra disposto da seguinte maneira: Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra- se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008) § 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) § 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) II – de educação profissional técnica de nível médio; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) § 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008). (BRASIL, 1996) Políticas Públicas e Educação 29 Ao analisar o texto apresentado do dispositivo normativo acima, destaca-se que se trata de uma iniciativa do poder público para ampliar o processo de aperfeiçoamento e, ainda, de inclusão da população. A educação profissional e o ensino tecnólogo, acima de qualquer coisa, ampliam as oportunidades dos jovens e adultos que desejam entrar no mercado de trabalho, mas que por várias questões não tiveram oportunidades. • Educação básica do campo A educação para a população rural está prevista com adequações necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada região, definindo-se orientações para três aspectos essenciais à organização da ação pedagógica: conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e aos interesses dos estudantes da zona rural, organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas e, ainda, adequação à natureza do trabalho na zona rural. Nesse sentido, observa-se o disposto no artigo 28º da LDB que estabelece o seguinte: Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a manifestação da comunidade escolar. (BRASIL, 1996) Portanto, a identidade da escola do campo é definida pela vinculação com as questões inerentes à sua realidade, com propostas pedagógicas que contemplam sua diversidade em todos os aspectos, como sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. Políticas Públicas e Educação 30 Além do mais, as formas de organização e metodologias pertinentes à realidade do campo devem ser acolhidas, como a pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho pedagógico fundamentado no princípio da sustentabilidade, para assegurar a preservação da vida das futuras gerações, e a pedagogia da alternância, na qual o estudante participa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo parceria educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis pelo aprendizado e pela formação do estudante. • Educação escolar indígena Previsto no artigo 78º da LDB, a educação escolar indígena dispõe que as unidades educacionais inscritas em terras indígenas e suas culturas, as quais têm uma realidade singular, requerem uma pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a educação básica brasileira. Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos: I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências; II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não- índias. (BRASIL, 1996) Na estruturação e no funcionamento das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando a valorização plena das culturas dos povos indígenas e a afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. Políticas Públicas e Educação 31 Figura 5 - Educação escolar indígena Peculiarudades culturais Elementos históricos Valorização da linguagem Educação indigena Favorecimento da identidade étnica Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) • Educação escolar quilombola A educação escolar quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a educação básica brasileira. Nesse sentido, de acordo com o que estabelecem as diretrizes nacionais para a educação escolar quilombola (2012), observa-se que: A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico- cultural de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Na estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua diversidade cultural. (BRASIL, 2012 p. 42) Dessa maneira, convém destacar que no âmbito da estruturação e do funcionamento das escolasquilombolas, bem como nas demais, deve ser reconhecida e valorizada a diversidade cultural. • EAD É a modalidade educacional na qual os alunos e professores estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação (TICs). Essa modalidade é regulada por uma legislação específica e pode ser implantada Políticas Públicas e Educação 32 na educação básica (EJA, educação profissional técnica de nível médio) e na educação superior. A modalidade EAD caracteriza-se pela mediação didático–pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem que ocorre com a utilização de TICs, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares e/ou tempos diversos. VOCÊ SABIA? Você sabia que com os avanços no sistema educacional brasileiro, os cursos EAD foram bem-sucedidos e cresceram muito nesta última década? RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos revisar o que vimos. Você deve ter aprendido que a educação básica tem caráter obrigatório, ou seja, é dever dos pais e/ou responsáveis que as crianças e adolescentes concluam a educação básica, assim como é dever do Estado oferecer essa educação. Ela é constituída pelas seguintes modalidades: Educação infantil. Ensino fundamental. Ensino médio. Ensino médio técnico Outras modalidades da educação básica: Educação de jovens e adultos (EJA). Educação especial. Educação profissional e tecnológica. Educação básica do campo Educação escolar indígena. Educação escolar quilombola. EAD. Políticas Públicas e Educação 33 Princípios do sistema educacional brasileiro OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender os princípios do sistema educacional brasileiro e que estes vêm da constituição. Você verá também os educacionais propostos para uma rede colaborativa além dos princípios que fazem da educação Finlandesa um sucesso. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A Constituição Federal estabelece um complexo sistema de proteção do indivíduo que pode ser identificada durante todo o texto constitucional. Por isso, observa-se a grande influência que o presente texto constitucional possui no processo de construção do texto constitucional. A referida questão pode ser encontrada nos artigos 205 da Constituição Federal, como é possível identificar na transcrição dos dispositivos apresentados abaixo. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I – comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação. (BRASIL, 1988) Políticas Públicas e Educação 34 Figura 6 - Constituição Federal Fonte: Wikimedia Commons. Ao analisar os dispositivos acima, convém destacar o cuidado que a Constituição Federal teve ao afirmar que estudar é um direito de todas as pessoas, independentemente de sua condição financeira, política ou étnica. Além do mais, o próprio texto constitucional destaca que é dever do Estado garantir este acesso à educação, mas que deve haver a parcela de responsabilidade da família no que se refere ao cumprimento do direito educacional. Inclusive se torna essencial destacar que a família que não favorece a inclusão dos filhos no processo educacional, deve ser responsabilizada. Ainda no artigo 205 é possível observar que a educação amplia os horizontes da criança, pois favorece o seu desenvolvimento completo como ser humano, visto que oferece a construção de aspectos essenciais para o exercício de sua cidadania, ou seja, para a sua participação integral como membro de uma sociedade e, ainda, ser capaz de modificar o cenário em que se encontra inserido. Como será visto no tópico a seguir, o sistema educacional será fundamentado nos aspectos principiológicos, ou seja, independentemente de sua condição, o indivíduo possuirá o direito de acesso à educação. No que se refere ao sujeito responsável para garantir o funcionamento dos preceitos educacionais, observa-se que no artigo 208 está disposto que: Políticas Públicas e Educação 35 O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré- escola às crianças de 0 a 6 anos de idade. (BRASIL, 1988) O referido dispositivo destaca que compete ao poder público garantir o acesso à educação para todas as pessoas, indistintamente, ou seja, mesmo que o sujeito apresente alguma condição neuroatípica, conforme encontra-se destacado no inciso III. Além do mais, das informações apreendidas no presente dispositivo, torna-se possível compreender que o sistema educacional é obrigatório, ou seja, as famílias e o poder público não têm a opção de não oferecer educação às suas crianças e adolescentes. SAIBA MAIS: No que se refere à obrigatoriedade da criança estar na escola, destaca-se o especificado na Emenda Constitucional 59/2009, que estabelece a necessidade das famílias matricularem seus filhos na escola e nos casos de inexistência de vaga, o poder público precisa acolher esta criança a partir da criação de novas vagas. Nesse sentido, para compreender um pouco melhor o funcionamento da obrigatoriedade de se conceder acesso à educação, indica-se a leitura do artigo de opinião escrito por Marcela Campos, cujo título é “pais terão que matricular filhos a partir dos 4 anos”. O artigo pode ser acessado aqui. Por fim, não menos importante, o artigo 213 da Constituição Federal estabelece as especificações acerca do uso dos recursos públicos referentes ao processo educacional. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I – comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação. Destaca-se, portanto, que os recursos públicos se destinarão para as escolas públicas ou ainda, para instituições filantrópicas que objetivam, Políticas Públicas e Educação https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/pais-terao-de-matricular-os-filhos-a-partir-de-4-anos-3s400hvpvagb7romy3aovu580/ 36 essencial, o favorecimento da educação. A referida questão visa, tão somente, afastar o uso dos recursos públicos por instituições privadas e, portanto, evitar a possibilidade de ocorrência de atos de corrupção. Princípios educacionais propostos para uma rede colaborativa de educadores A atual Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em 5 de outubro de 1988. No que se refere à educação, como foi destacado no tópico anterior, mais especificamente no capítulo III que versa sobre Educação, Cultura e Desporto e na Seção I que versa sobre Educação observa-se um amplo sistema de proteção ao sistema educacional, de maneira a garantir acesso irrestrito à educação. No caso do artigo 206, a Constituição Federal estabelece quais são os princípios que irão nortear as atividades educacionais, como é possível identificar nafigura 7, apresentada abaixo. Figura 7 - Princípios Constitucionais que fundamentam o Direito à educação Liberdade Gratuidade Pluralismo Valorização Igualdade Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideais e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, Políticas Públicas e Educação 37 com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; V - valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 1988) Partindo desse pressuposto, a Constituição determina que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho conforme o art. 205. Figura 8 - Os pressupostos da Educação Igualdade Autonomia Educação ampla Consciência crítica Participação da sociedade Inclusiva Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Políticas Públicas e Educação 38 Percebe-se, portanto, que a educação a ser estruturada no Estado democrático de Direito com fundamento na Constituição Federal, visa o amplo desenvolvimento do indivíduo, afastando, portanto, as possibilidades de violação dos Direitos Humanos. Constitui dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, conforme estabelece o artigo 227º da Constituição Federal. Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988) E, nos casos de não se cumprir o estabelecido pela norma acima especificada, os sujeitos envolvidos no processo poderão ser responsabilizados diretamente pela omissão ou negligência no processo de cumprimento das determinações educacionais. No que se refere às possibilidades do exercício da prestação de serviço educacional, destaca-se que o ensino é livre à iniciativa privada, desde que sejam cumpridas as normas gerais da educação nacional e o seu funcionamento seja autorizado e avaliado pelo poder público (art. 209). Dessa maneira, destaca-se que tanto a iniciativa privada como a iniciativa pública podem oferecer atividades educacionais para a sociedade. Portanto, amplia as possibilidades de acesso à educação, conforme se observa nos preceitos estabelecidos na Constituição Federal. Políticas Públicas e Educação 39 Figura 9 - Os pressupostos para o exercício da Educação Iniciativa privada Iniciativa pública Ampliação da educação Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Então, a partir desses princípios, foram necessários outros documentos, como, LDB 9.394/96 e suas alterações, a BNCC, emendas constitucionais, para regulamentar vários desses princípios, inclusive em relação aos investimentos que os governos Federal, Estadual e Municipal poderiam ter e aplicar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, publicada em 1996, além de anunciar os princípios constitucionais, ampliou-os, incorporando o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, a coexistência das instituições públicas e privadas de ensino, a valorização da experiência extraescolar e a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. Segue abaixo um quadro das leis que regulamentam atualmente o sistema educacional brasileiro, visando os princípios que o norteiam. Quadro 1: Leis que regulamentam o sistema educacional brasileiro 1988 Constituição Federal 1990 Lei nº 8.069 Estatuto da Criança e Adolescente 1996 Emenda Constitucional nº 11 Autonomia Universitária Emenda nº 14 Criação FUNDEF Lei nº 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — LDBEN Lei nº 9.424 Regulamentação do FUNDEF Decreto nº 2.264 Regulamentação do FUNDEF Lei nº 10.172 Plano Nacional da Educação 2007 Lei nº 11.494/2007 FUNDEB — Fundo de manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e da Valorização dos professores da Educação Fonte: Elaborado pela autora (2021). Políticas Públicas e Educação 40 Esses princípios citados na Constituição são as BASES para a formação integral do ser humano e partir delas é que surgiram outros princípios que também norteariam a educação, para que ela tenha um papel crucial na transformação e desenvolvimento das formas de pensar e agir. Segundo o site Escolas de Redes, eles sugerem seis princípios a serem trabalhados, a fim de inserir uma rede colaborativa de educadores que poderão servir de pontos de partida para um multidiálogo. Carta de Princípios da Rede RC – núcleo SP (...) [esta é] uma rede colaborativa formada por pessoas que militam pela transformação da Educação Pública (1). Nossa finalidade inicial é a de promover a comunicação e o apoio mútuo entre pessoas, organizações e projetos que tenham por objetivo contribuir para a superação dos arcaicos paradigmas educacionais vigentes. (...) os modelos educacionais e as práticas educativas possuem decisivas condicionantes socioculturais. Este fato exige que, para a transformação da Educação, tenhamos de ultrapassar seu âmbito restrito, englobando as dimensões sociais, políticas e culturais. (...) a Educação atualmente praticada não contribui para que as gerações futuras tenham condição de superar os cruciais desafios postos para e pela humanidade. Mais do que isso, essa educação acaba por incentivar a formação de pessoas que tendem a reproduzir o modo de pensar, sentir, agir e viver que produziram tais desafios. Para que os atuais paradigmas educacionais possam ser superados é necessário estabelecer novas concepções que apontem formas alternativas de pensar, estruturar e praticar a Educação. (...) São estes princípiosque, a nosso ver, devem fundamentar a vital transformação da Educação, para que esta possa corresponder às necessidades das pessoas e das sociedades contemporâneas: 1. Educar [se] para a Integralidade. 2. Educar [se] em Solidariedade. 3. Educar [se] na Diversidade. 4. Educar [se] na Realidade. 5. Educar [se] na Democracia. 6. Educar [se] com Dignidade. (CASTRO, et al. 2009) p. 23 Políticas Públicas e Educação 41 Observa-se que os princípios de integridade, solidariedade, diversidade, realidade, democracia e dignidade fomentam os princípios da Constituição. Porém, em uma ótica socioemocional mais do que cognitiva, a BNCC trouxe-os como “base” das competências gerais a serem trabalhados nos conteúdos mínimos a serem ministrados pela educação no Brasil. Figura 10 - Princípios norteadores da educação Educação Diversidade Dignidade Realidade Integralidade Democracia Solidariedade Fonte: Elabora pela autora com base em Castro et al. (2009 p.23) Princípios que fazem da educação da Finlândia um sucesso Uma reforma curricular adotada pela Agência Nacional Finlandesa para a educação de 2016 fez com que crescesse mais a participação dos alunos pela aprendizagem, e assim os alunos tornaram-se mais bem- sucedidos no seu aprendizado acadêmico e socioemocional. Neste ensino, os alunos estabelecem metas, resolvem seus problemas e avaliam seu aprendizado com base nas suas metas estabelecidas. Os princípios que embasam a educação na Finlândia enfatizam a escola como uma “comunidade de aprendizagem”, visando: Políticas Públicas e Educação 42 • Habilidades transversais – Conhecidas como o “aprender a aprender”, enfatizando o “cuidar de si mesmo” e gerenciar sua vida cotidiana, bem como ênfase nas habilidades ativas que os alunos poderão utilizar para o resto de suas vidas, como empreendedorismo, participação, envolvimento e criação de um futuro sustentável. • Apoio governamental – Como o próprio nome diz, apoio do governo, ou seja, apoio do governo financeiro para custear esse ensino. Porém, para promover os currículos das escolas, a Agência Nacional de Educação na Finlândia e o governo buscam ferramentas que apoiem o ensino. Uma delas foi a venda do seu programa educacional antibullying para 17 países ao redor do mundo. • Aprendizagem multidisciplinar – Todo ano letivo, cada escola tem um tema ou projeto definido que culmine com o conteúdo em todas as disciplinas, chamados de “módulos de aprendizagem multidisciplinar”. • Diferenciação – Há um respeito muito grande em relação à individualidade dos alunos, por isso, eles não ensinam todos da mesma maneira, considerando que cada aluno tem sua individualidade e seu modo de aprender. Os professores precisam diferenciar suas aulas, o que implica em, geralmente, pelo menos cinco tipos de tarefas diferentes na mesma classe e ao mesmo tempo. • Diversidade na avaliação do aluno – Na Finlândia, a “AVALIAÇÃO” não é vista como um momento punitivo e classificatório, o novo currículo finlandês enfatiza a diversidade nos métodos de avaliação, bem como a avaliação que orienta e promove a aprendizagem. Informações sobre o progresso acadêmico de cada aluno devem ser dadas ao aluno e aos responsáveis com frequência. O retorno avaliativo também é fornecido de outras maneiras que não relatórios ou certificados. A autoavaliação e a avaliação entre pares desempenham um papel importante na avaliação e na habilidade de aprender a aprender. Políticas Públicas e Educação 43 • Um papel ativo para seus alunos – Neste princípio, os professores devem falar menos e deixar o aluno fazer mais, dando, assim, AUTONOMIA a eles. Os professores facilitam o ensino, enquanto os alunos estabelecem metas, refletem e resolvem problemas da vida real. Também estimulamos a curiosidade dos alunos estudando em ambientes fora da sala de aula, como o pátio da escola, a floresta, uma biblioteca ou até mesmo um shopping center. Todos esses princípios são fundamentais para a boa educação, e a Finlândia leva à sério esses fatores, mas o mais importante é que o sistema educacional deles é dedicado a ajudar todos os estudantes a crescer como seres humanos. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos revisar o que vimos. Você viu os princípios propostos para uma rede colaborativa de educadores e conheceu os princípios que tornam a educação da Finlândia um sucesso. Políticas Públicas e Educação 44 Características do sistema educacional brasileiro OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender as características do sistema educacional brasileiro, as características gerais dos sistemas educativos, assim como, as características das escolas no Brasil. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Características gerais dos sistemas educativos Para que seja possível compreender as informações apresentadas no presente capítulo, convém destacar o que estabelece Torres e Kawahara (s.d., p.05) ao dispor que: O sistema de ensino pode ser compreendido como um conjunto de partes que, coordenadas e integradas entre si, permitem estabelecer uma interligação lógica entre as esferas educacionais do nosso país, formando um todo autônomo e independente para atingir um objetivo comum. Como no Brasil os três entes federal, estadual e municipal são constitucionalmente responsáveis pela oferta da educação básica pública, a legislação preceitua que essa oferta deve se dar por meio do Regime de Colaboração. Trata-se, pois, de uma estratégia para evitar sobreposição e dispersão de ações. (TORRES; KAWAHARA, s.d., p.05) Isso significa informar que o sistema de ensino é dever do poder do público e para que isso aconteça torna-se essencial a interligação de atividades desempenhadas, de maneira colaborativa, por todos os sujeitos que se encontram evolvidos no processo. E, para que isso seja possível, a emenda constitucional 59/209 apresenta elementos essenciais no sentido de favorecer o cumprimento das questões educacionais previstas na constituição, nomeadamente o Plano Nacional de Educação (PNE). Políticas Públicas e Educação 45 Após a promulgação da Emenda Constitucional (EC) nº 59, de 12 de novembro de 2009, entre outras modificações introduzidas no texto constitucional, o artigo 214 reconhece o Sistema Nacional de Educação. De acordo com os preceitos da EC nº 59, o Sistema Nacional de Educação deve ter como elemento articulador o Plano Nacional de Educação (PNE) e o regime de colaboração entre os entes federativos, definindo diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos. (TORRES; KAWAHARA, s.d., p. 06) Sendo assim, tendo em vista os critérios de classificação de “sistemas” dados no início desta unidade, podemos caracterizar o sistema educacional brasileiro da seguinte forma: • Em relação ao meio – O sistema educativo brasileiro é um sistema ABERTO, pois está em plena relação com o meio. • Em relação à sua estrutura – É um sistema composto, pois integra outros sistemas (subsistemas, por exemplo) que, por sua vez, podem ser decompostos em outros níveis. • Quanto à sua previsibilidade – É um sistema probabilístico, na medida em que é afetado por fatores imprevisíveis ou limitadamente previsíveis, que impedem de estabelecer determinados inputs ao sistema, provocando efeitos certos e determinados. • Por seu dinamismo, é um sistema dinâmico, visto que, para efeitos de seu estudo, são consideradas todas ou algumas de suas variações no tempo. Evolui consoante o contexto (espaço- temporal, sociocultural,etc.). • Por sua estabilidade, é um sistema relativamente estável, visto que tem uma capacidade média de resistência aos fatores de perturbação. • Por sua capacidade de regulação, é um sistema eclético (um misto de sistema “autorregulado” e de sistema “não autorregulado”), ou seja, tem certa capacidade própria de governar/regulação, porém, não deixa de depender grandemente do meio para sua gestão ou regulação. Políticas Públicas e Educação 46 • Quanto à sua origem, é um sistema artificial, visto ser criado pelo homem. • Por suas componentes, é um sistema social, visto que está constituído por pessoas. • Por sua forma de regulação, é um sistema conceitual (está formado por ideais e raciocínios) e de procedimentos (está formado por regras, normas ou instruções). Tendo compreendido as características dos sistemas de ensino convém destacar que as diretrizes do plano nacional de educação, mais especificamente em seu artigo 2º, se fundamentam em algumas questões especificas, que são: Erradicação do analfabetismo; II- universalização do atendimento escolar; III- superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual. IV- melhoria da qualidade da educação; V- formação para o trabalho e para a cidadania; VI- promoção do princípio da gestão democrática da educação; promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País. VII- estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; VIII- valorização dos (as) profissionais da educação; VIX- promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. X - difusão dos princípios da equidade, do respeito à diversidade e a gestão democrática da educação. (BRASIL, 2014) Dessa maneira, não se pode pensar em desenvolvimento de atividades no âmbito da educação nacional, sem que haja um fundamento essencial e, nesse caso, como observou-se acima, são os pressupostos estabelecidos no PNE. Políticas Públicas e Educação 47 Figura 11 - A importância do PNE PNE Desenvolvimento educacional Fonte: Autora (2021) baseado em (TORRES, KAWAHARA, s.d., p.16) Além do mais, analisando de maneira primária as questões da referida diretriz, observa-se que se trata de um sistema inclusivo, pois propõe a melhoria na qualidade da educação, a ampliação do acesso à educação, a construção de cidadãos que se preocupem com o desenvolvimento da sociedade através de uma consciência crítica e inclusiva. Destacamos que a execução do plano, considerando a natureza política do processo de planejamento, ocorrerá a partir do apoio dos atores comprometidos com o monitoramento contínuo e de avaliações periódicas das metas. Assim, destacamos a importância do acompanhamento e avaliação dos índices educacionais de quatro instâncias: Ministério da Educação (MEC); Comissões de Educação da Câmara dos Deputados e Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; Conselho Nacional de Educação (CNE); Fórum Nacional de Educação (FNE). (TORRES; KAWAHARA, s.d., p. 16) Por isso, pensar em um sistema mais integrativo, onde se é capaz de pensar no desenvolvimento integral do ensino e de seus partícipes, se torna essencial no processo educacional. Sendo assim, conforme destaca Torres e Kawahara (s.d., p.16) a solução é pensar em: Um regime de colaboração específico para a implementação de modalidades de educação escolar que necessitem considerar territórios étnico-educacionais e a utilização de estratégias que levem em conta as identidades e especificidades socioculturais e linguísticas de cada comunidade envolvida, assegurada a consulta prévia e informada a essa comunidade. (TORRES; KAWAHARA, s.d., p.16) Políticas Públicas e Educação 48 Figura 12 - Relação de regime de colaboração com educação de qualidade Regime de colaboração Estratégias adequadas Educação escolar de qualidade Fonte: Elaborado pela autora com base em TORRES e KAWAHARA (s.d., p.16) Características das escolas eficazes no Brasil Vários estudos demonstram algumas características das escolas eficazes. Escolas eficazes são escolas que conseguem motivar (quase) a totalidade dos seus alunos a aprender, tanto habilidades básicas quanto habilidades socioemocionais/metacognitivas. Figura 13 - Escolas eficazes Motivam Integram Aperfeiçoamento Fonte: Elaborado pela autora com base em Castro et al. (2009 p.23) É importante que o aluno queira dedicar o maior tempo que lhe seja possível a atividades de aprendizagem, fazendo uso intensivo das oportunidades de ensino oferecidas. Isso evidencia que, no final das contas, o aluno é o fator determinante no processo. Como diz o provérbio americano, “You can bring the horse to the water, but you cannot make it drink” (É possível levar o cavalo à água, mas não se pode obrigá-lo a beber). Naturalmente, isso não altera o fato de que é necessário dar aos alunos a chance de despenderem tempo com os estudos. Um currículo sobrecarregado torna impossível a aprendizagem. Políticas Públicas e Educação 49 Figura 14 - Os efeitos de um curriculum sobrecarregado Currículo sobrecarregado Cansaço Desmotivação Falta de foco Dificuldades de aprendizagem Fonte: Elaborado pela autora com base em Castro et al. (2009 p.23) Outro fato importante é que é necessário fornecer aos alunos oportunidades concretas de aprenderem: materiais de estudo e livros atraentes e convidativos, por exemplo. O que nos leva automaticamente aos responsáveis por ofertar essas oportunidades de aprendizagem. Em primeiro lugar, os professores nas salas de aula. Importantes elementos do currículo são: • Objetivos e conteúdos claros e explícitos e de relação social. • Estrutura e transparência do conteúdo. • O emprego de planos de aulas contextualizados. • A avaliação sistemática dos resultados do aluno, oferecendo feedback positivo e instrução, além das autoavaliações. Além disso, a forma de agrupamentos dos alunos é importante. É preciso lembrar que a eficácia dos grupos de trabalho depende, em muito, dos materiais diversificados de que os professores dispõem, da maneira como é feita a avaliação e do modo como é dado o feedback e da forma como as informações suplementares são oferecidas. Porém, o currículo e as formas de agrupamentos, em si mesmos, representam apenas condições. O fator mais importante é o próprio professor, o ser humano à frente da classe. Em primeiro lugar ele (ou ela) pode influenciar o currículo e as formas de agrupamentos, embora essa possibilidade dependa do sistema de ensino, do país e da escola em questão. Nem todos os currículos realmente envolvem desde o início os seus professores em mudanças educacionais concretas. E, em muitos casos, o grande número de alunos por sala limita as variações nas formas de agrupamento. Políticas Públicas e Educação 50 No entanto, só o professor pode proporcionar: • Uma organização calma e ordenada da classe. • Uma forma bem planejada de acoplar o trabalho da classe às lições de casa. • Formulação precisa de objetivos, com ênfase em número limitado de metas, com muita atenção para as habilidades básicas e para a aprendizagem cognitiva. • Estruturação dos conteúdos curriculares, baseando-se nos conhecimentos que o aluno já possui e contextualizar. • Apresentações breves e compreensíveis, capazes de cativar a atenção do aluno. • Ênfase nos conhecimentos prévios dos alunos. • Após a apresentação de novo conteúdo, introduzir logo exercícios para que a matéria passe a ser praticada e integrada. • Muita atenção para a avaliação, feedback positivo, e instrução sobre os erros dos alunos e as reflexões sobre isso. • Utilizar novas tecnologias educacionais, como aaula invertida. O papel do professor é essencial em qualquer forma de ensino em que se pretende que mais alunos aprendam mais. Porém, todas as pesquisas demonstram que, sozinho, o professor não conseguirá esse objetivo. Ele precisa da escola, na verdade, de um trabalho em equipe, contando com a direção escolar, com a comunidade e estar atento aos recursos financeiros para apoiá-los. Na escola, são criadas as condições didáticas e organizacionais que permitem um bom desempenho do professor em sala de aula, com seus alunos, porém, o papel de mediador do professor é de real importância. São requisitos educacionais importantes: • O consenso entre os membros do corpo docente e a direção da escola, em especial, em termos de métodos didáticos, de material de ensino, de formas de agrupamentos e de atitudes dos professores. Políticas Públicas e Educação 51 • Um sistema de avaliação dos resultados do aluno que facilite o acompanhamento dele durante todo o curso, evitando problemas ou corrigindo-os em uma fase inicial. Uma avaliação formativa que visa fazer um levantamento sobre o PROCESSO de aprendizagem e redirecionar o trabalho, se necessário. Figura 15 - Desempenho do professor Condições didáticas Condições organizacionais Favorecimento do desempenho do professor Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2014) São requisitos organizacionais importantes: • Uma cultura e uma filosofia da escola que estejam voltadas à melhoria da eficácia do ensino, com um trabalho de equipe através de coordenação, direção e supervisão que vise a liderança e o profissionalismo. • Um planejamento sistemático e bem concebido das atividades de aprendizagem, combatendo as faltas de alunos e dos professores. • Muita atenção para estimular um ambiente calmo e ordenado na escola. • Consenso entre a direção, coordenação e professores no tocante à “missão” (função) da escola. • Existência, na escola, de um plano de trabalho bem definido e ser revisitado com frequência. • Um acordo acerca da progressão do aluno através do currículo, das avaliações, analisando as dificuldades que eles estão enfrentando e buscar soluções para saná-las. É preciso prestar muita atenção à coerência entre os vários componentes da equipe escolar. Todo o pessoal (tanto a direção, a coordenação e os docentes) deve estar disposto a assumir a Políticas Públicas e Educação 52 responsabilidade pela coerência da escola. Cada um analisando, dentro das funções, o que está ou não dando certo. Isso significa que a filosofia da escola não deve ser modificada muito frequentemente. Os professores e a direção devem ter tempo para se familiarizar com a mudança. Essa realidade colide às vezes com as ideias e os interesses de determinadas partes interessadas no contexto da escola: as autoridades, os conselhos de educação, os pais e os empregadores. Outra consequência é que os diretores das escolas desempenham um papel muito importante no processo de inovação educacional. A escola também pode adotar algumas políticas que viabilizam esse ensino eficaz. Podemos citar entre elas: • Um método sistemático de avaliar e de testar. • Formação e apoio aos docentes, visando a eficácia. Uma escola (e com certeza uma escola pública) nunca se encontra isolada no bairro, na cidade ou na região. A escola tem laços com os conselhos de educação, com as autoridades, com outras escolas, com empresas e instituições. Esse contexto em que a escola está inserida é de extrema importância para os alunos se sentirem envolvidos. Figura 16 - Escola e sociedade Família Comunidade Escola Sistema Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2014) O contexto da escola pode contribuir para sua eficácia, principalmente com as conhecidas “parcerias”. A família, a sociedade e os comércios em torno da escola podem ajudar a escola para concretizar seus projetos e também ser beneficiada com eles. Além disso, é o contexto que deve dar as diretrizes para lidar com o tempo necessário ao ensino. E, por fim, o Políticas Públicas e Educação 53 contexto pode promover a eficácia, proporcionando um currículo nacional e recursos a ele associados. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à ao livro Reflexões sobre Políticas Educacionais no Brasil: consensos e dissensos sobre a educação pública. São Luís: EDUFMA, 2009, p. 88-108. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que os professores dispõem de muitas possibilidades para estimular os alunos para que aprendam mais, desde que a escola crie, de forma consistente, as condições didáticas e organizacionais necessárias. Além disso, o contexto pode contribuir, formulando requisitos e recursos, inclusive financeiros necessários. Aumentar a eficácia das escolas naturalmente, todos querem que as escolas sejam eficazes. Não existe coisa mais triste do que constatar que alunos, depois de anos de escolaridade, ou não aprenderam nada, ou aprenderam coisas erradas. E, em sua maioria, os docentes ficam muito aborrecidos quando, de repente, o aluno nunca mais volta à escola; para o professor, cada desistência é uma decepção. A prática mostra que não é nada fácil concretizar, efetivamente, uma educação eficaz em grande número de escolas. Aperfeiçoar escolas é um processo complexo, que envolve muitos agentes que, em diferentes níveis (aula, escola, conselhos, autoridades) devem colaborar uns com os outros. Estratégias em grande escala, nas quais as escolas e os professores são considerados exclusivamente como agentes executores de uma política com a qual não se identificam, têm acabado em fracasso. Políticas Públicas e Educação 54 RESUMINDO: Podemos afirmar como conclusão que os projetos em grande escala em nível nacional podem contribuir para a inovação educacional, desde que criem um ambiente favorável para os projetos ligados a certo tipo de escola. Mas podem também sufocar qualquer eventual inovação, se forçarem a escola a seguir um rumo de maneira rígida, linear e diretiva. Em projetos de inovação bem-sucedidos, são oferecidas aos professores oportunidades de aprender de forma crítica-reflexiva. E para finalizar: a presença de uma liderança estimulante na escola é fundamental. Políticas Públicas e Educação 55 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://bit.ly/2EBWWYJ. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. 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Edição da Carta de Princípios da Rede RC 12. Núcleo RC-SP. May 2009. Disponível em: https://bit.ly/3ljrhy9. Acesso em: 19 jan. 2021.DEMO, P. Educação e qualidade. 6. ed. São Paulo: Papirus, 2001. MENEZES, E. T. de. Verbete sistema educacional brasileiro. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001. Disponível em https://bit.ly/3oBSYEG. Acesso em: 20 set. 2021. Políticas Públicas e Educação 56 SANTOS, S. Q.; MACHADO, V. L. C. Políticas Públicas educacionais: antigas reivindicações, conquistas (Lei 10.639) e novos desafios. Disponível em: http://bit.ly/34oOkMh. Acesso em 20 set. 2021. TORRES, G. V. S. T., KAWAHARA, L. S. I. Sistema educacional brasileiro: espaços de tensões e luta pelo reconhecimento das diferenças e das múltiplas identidades. [s.d.] Disponível em: https://bit.ly/3FulePm. Acesso em 28 set. 2021. VIEIRA, S. L. Estrutura e Funcionamento da Educação Básica. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001, 144 p. Políticas Públicas e Educação Políticas Públicas e Educação Unidade 2 Bases Legais da Educação Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria PRICILA RIBEIRO ALIAS AUTORIA Pricila Ribeiro Alias Sou formada em Ciências Biológicas, com habilitação em Química pela Fundação Santo André e realizei a especialização em Ciências da Natureza para crianças pela Universidade de São Paulo (USP). Além da graduação citada, sou formada em Pedagogia com habilitação em Direção e Supervisão Escolar pela Universidade Bandeirantes (Uniban). Com uma vasta experiência técnico-profissional na área educacional há mais de 24 anos, tenho, dentre eles, 18 anos na área de docência (como professora de Ciências e Química) e 13 anos na coordenação pedagógica do Ensino Fundamental I, II, Ensino Médio e Técnico, incluindo escolas municipais, estaduais e particulares. Foram 16 anos de docência na Secretaria Estadual de Educação e dois anos na ETEC Ribeirão Pires, 10 anos na Prefeitura Municipal de São Paulo como professora de Ciências e Coordenadora Pedagógica, dois anos na Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo como coordenadora pedagógica e mais cinco anos na coordenação pedagógica de uma escola particular como minha penúltima experiência. Como última experiência profissional, exerci a função de consultora pedagógica na Editora FTD Educação, ministrando formações para diretores, coordenadores e professores, além da consultoria pedagógica para estudantes nas orientações de TCC. Já ministrei, também, cursinhos preparatórios para concurso público. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Instâncias administrativas e organizacionais .....................................10 Órgãos responsáveis pela educação – MEC ............................................................... 11 A administração da escola nos processos educativos e seus recursos 16 Declaração Universal dos Direitos Humanos .....................................20 O que é a Declaração Universal dos Direitos Humanos? ................................. 20 Histórico da Declaração Universal dos Direitos Humanos ............................... 21 Pressupostos da Declaração Universal dos Direitos Humanos .................... 22 A importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos ...................28 Declaração da UNESCO/ONU sobre educação ............................... 31 O papel da UNESCO ..................................................................................................................... 31 Constituição da República Federativa do Brasil ............................... 41 Capítulo III – Da educação, da cultura e do desporto – Artigos de 205 a 214 ............................................................................................................................................... 41 7 UNIDADE 02 Políticas Públicas e Educação 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade, trataremos da estrutura administrativa do sistema educacional brasileiro e seus órgãos responsáveis. Além da estrutura, iremos tratar de algumas conquistas que, através das políticas públicas educacionais, foram criadas, como: Declaração dos Direitos Humanos e a Declaração da Unesco (pela Organização das Nações Unidas (ONU). Sobre essas declarações, iremos falar sobre seus conceitos, históricos, sua importância e seus pressupostos. Para finalizar o capítulo desta unidade, iremos falar sobre a lei federal que rege todo o país, a Constituição Federal do Brasil de 1988. Políticas Públicas e Educação 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2, e o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar e entender a estrutura do sistema educacional brasileiro e seus órgãos responsáveis. 2. Entender sobre a declaração universal dos direitos humanos, seu histórico, pressupostos e sua importância para a educação da sociedade. 3. Compreender o papel da UNESCO no contexto dos direitos humanos. 4. Identificar as referências da Constituição Federal da República de 1988 no que concerne a proteção e determinação das diretrizes educacionais do Brasil. Então, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Políticas Públicas e Educação 10 Instâncias administrativas e organizacionais OBJETIVO: Neste capítulo, faremos uma abordagem sobre a estrutura administrativa do sistema em níveis federal, estadual e municipal, conselhos e órgãos que normatizam o ensino com a finalidade de um correto funcionamento da escola, além da abordagem da administração escolar, seus recursos e a mudança pragmática de “administração” para “gestão”, pensando que a escola tornou-se um ambiente do processo educativo mais democrático. Com o objetivo de oferecer educação de qualidade para todos os cidadãos, a escola tem a responsabilidade de fazer cumprir as determinações constitucionais. A partir deste pressuposto, a missão da escola é funcionar administrando todo processo educacional dos seus alunos, fazendo o acompanhamento e registrando adequadamente o desenvolvimento físico, cognitivo, moral e emocional destes. Para isso, a escola precisa administrar cumprindo as diretrizes administrativas e pedagógicas advindas das esferas federal, estadual e municipal. A gestão democrática das escolas as torna autônomas conforme a Lei de diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394/96, Art. 3º, Inciso VIII, porém, as suas atividades devem ser desenvolvidas em consonância com a legislaçãono Brasil. Entende-se, portanto, que a escola não possui soberania, e sim autonomia escolar, devendo cumprir as leis que regem o sistema de ensino. A escola faz parte do sistema de ensino brasileiro e esse sistema, segundo Menezes (2004, p.138), é comparado a uma pirâmide, estando no topo a esfera federal, no meio a estadual, e na base, os municípios e a escola. Políticas Públicas e Educação 11 Órgãos responsáveis pela educação – MEC As atribuições do poder público federal em matéria de educação são exercidas pelo Ministério da Educação (MEC), estabelecido pela LDB. O MEC conta com a colaboração do Conselho Nacional de Educação e as Câmaras que o compõem ao desempenhar suas funções. A União, em colaboração com estados, Distrito Federal e municípios, elabora, também, o Plano Nacional de Educação, que tem a função de estabelecer diretrizes e metas para os níveis e modalidades de ensino, formação de professores e valorização do magistério e financiamento da gestão, para um prazo de 10 anos. Cabe ao MEC exercer as atribuições do poder público federal em matéria de educação. Cabe a ele, portanto, formular e avaliar a política nacional de educação, zelar pela qualidade de ensino e velar pelo cumprimento das leis que o regem. É o MEC que organiza as políticas para educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação de jovens e adultos (EJA), educação indígena, educação especial e educação a distância (EAD). Figura 1 - A educação a partir do poder público federal MEC Conselho Nacional de Educação Câmaras Estados Federados Municípios Instituições de Ensino Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) Políticas Públicas e Educação 12 Conforme o artigo 8º, § 1º, da Lei nº 9.394/96, cabe à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais, atribuição que exercerá executando as incumbências estabelecidas pelo artigo 9º: I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do sistema federal de ensino e os dos Territórios; III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, exercendo sua função redistributiva e supletiva, com prioridade à escolaridade obrigatória; IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum; V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação; VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade; VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e de pós-graduação; VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior; IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. Estas atribuições poderão ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal que mantiverem instituições de educação superior. (BRASIL, 1996) O Artigo 9º prevê, ainda, a existência de um Conselho Nacional de Educação, em substituição ao anterior Conselho Federal de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei própria. O Distrito Federal e os estados são responsáveis por organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas Políticas Públicas e Educação 13 de ensino. Aos estados cabe assegurar o ensino fundamental e o ensino médio, conforme Art.10 da LDB nº 9.394/96. A administração em nível estadual e do Distrito Federal é constituída pela rede de escolas para o desenvolvimento da educação escolar, pelas secretarias ou departamentos de educação e pelos Conselhos Estaduais de Educação, que, por sua vez, são constituídos pela Câmara de Educação Básica e pela Câmara de Educação Superior. As incumbências dos estados estão definidas no artigo 10 da Lei nº 9.394/96: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; II - colaborar com os Municípios na oferta do ensino fundamental; III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação; IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio. (BRASIL, 1996) No que se refere à competência dos municípios, observa-se que de acordo com o artigo 11, têm as seguintes atribuições: I - Organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V - oferecer educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, só podendo atuar em outros níveis de ensino quando estiverem plenamente atendidas as necessidades de sua área de competência. (BRASIL, 1996) Políticas Públicas e Educação 14 Ainda sobre a administração em nível municipal, os sistemas de ensino são organizados pelos próprios municípios, de forma que devem integrar-se às políticas e aos planos educacionais da União e dos estados. O ensino fundamental deve ser a prioridade do município, podendo oferecer também a educação infantil em creches e pré-escolas. Figura 2 - Sistemas de ensino no âmbito municipal Sistema Municipal de ensino Políticas educacionais estaduais Políticas educacionais municipais Políticas educacionais federais Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) Para atuarem em outros níveis de ensino, as necessidades do ensino fundamental devem estar plenamente atendidas e os recursos estarem acima dos percentuais mínimos estabelecidos pela Constituição Federal para a manutenção e o desenvolvimento dessa área de ensino. Faz parte da esfera municipal o Conselho Municipal de Educação, órgão que tem as funções normativa, consultiva, propositiva, mobilizadora, deliberativa e fiscalizadora, e o Plano Municipal de Educação, órgão que estabelece diretriz e metas para todos os níveis de ensino e modalidades de ensino do município. A lei nº 9394/96 estabelece as atribuições dos estabelecimentos de ensino (art. 12). Estes, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; Políticas Públicas e Educação 15 V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos e sobre a execução de sua proposta pedagógica. (BRASIL, 1996) Percebe-se que se os envolvidos nas esferas federal, estadual, o Distrito Federal, osmunicípios, os estabelecimentos de ensino e os docentes desenvolverem de forma satisfatória as atribuições que a lei lhes confia, poderemos ter no Brasil uma educação básica de boa qualidade e acessível a todos. Considera-se que é de grande importância e necessário o empenho da sociedade no sentido de fiscalizar e cobrar das diversas instâncias educacionais o cumprimento das suas obrigações. Nesse sentido, a sociedade organizada (associações diversas, entidades profissionais, empresas, igrejas, sindicatos, etc.) deve colaborar e exigir dos poderes públicos atenção prioritária e absoluta para o ensino fundamental, criando melhores condições de trabalho, destinando os recursos materiais, financeiros e humanos necessários à universalização da educação básica, por meio de uma política educacional séria e duradoura. Com esse esforço conjugado, inclusive com as unidades escolares levando a sério à questão administrativa na ótica democrática, poderemos estabelecer no Brasil uma educação de melhor qualidade. ACESSE: Para saber mais sobre os órgãos responsáveis pela educação no país, acesse o portal do MEC. Disponível aqui. Para além das diretrizes estabelecidas no âmbito da LDB, o sistema educacional brasileiro pode contar com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que é um documento estruturado em âmbito nacional, cujo objetivo é auxiliar o funcionamento da educação básica no Brasil e, ainda, estabelecer metas de conhecimento e aprendizagem para todas as instituições de ensino do país. Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/36fEMVs 16 Dessa maneira, a partir da BNCC, os órgãos e instituições de ensino passam a se preocupar com uma dinâmica educacional mais integrativa, ou seja, deixa de lado a temática da acumulação de conteúdo e se concentra mais no estudo dos conteúdos a partir de uma ótica que vivencia a realidade de cada instituição. Seria, portanto, a situação das instituições começarem a atuar para além do funcionamento entre muros e, portanto, começar a compreender as necessidades da comunidade na qual a escola se encontra inserida para que se consiga conectar o conteúdo com a realidade. Figura 3 - Os efeitos da BNCC O aluno compreende a realidade O aluno desperta o senso crítico O aluno constrói a realidade de maneira dinâmica e contextualizada Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2017) O que deve ser primordial para compreender um pouco melhor o funcionamento da BNCC é perceber que sua elaboração não ocorreu de maneira isolada, ou seja, várias questões sociais, normativas, políticas e econômicas foram levadas em consideração para que o texto fosse fechado. Entretanto, a grande meta de toda a introdução da BNCC era, tão somente, estimular e sistematizar mudanças reais na educação brasileira. A administração da escola nos processos educativos e seus recursos A administração da escola, envolvendo recursos físicos, materiais, financeiros e humanos, foi o foco da ação da gestão no tempo da escola conservadora, elitista e orientada pelo paradigma Positivismo, que via os processos educacionais fragmentados e atuava sobre eles, um de cada vez e como um valor em si mesmo, para garantir a qualidade do ensino. Políticas Públicas e Educação 17 Segundo essa concepção paradigmática limitada, o diretor escolar dedicava a maior parte do seu tempo buscando garantir esses recursos para a escola, na expectativa de que os processos educacionais fluíssem naturalmente. Houve, porém, uma mudança paradigmática na dinâmica humana, associada às mudanças substanciais no modo de ser e fazer e nas dinâmicas sociais e de todos os empreendimentos humanos, implicando em mudanças da superação da ótica limitada da administração em si para a da gestão de caráter abrangente e interativo (Lück, 2007). Essa mudança paradigmática coloca a administração como uma dimensão de papel subsidiário para a ação educacional, no contexto de várias outras dimensões da gestão. A gestão administrativa, portanto, se situa no contexto de um conjunto interativo de várias outras dimensões da gestão escolar, passando a ser percebida como um substrato sobre o qual se assentam todas as outras, mas também percebido com uma ótica menos funcional e mais dinâmica. A passagem de uma ótica fragmentada da educação para uma ótica organizada pela visão de conjunto (Lück, 2007) tem implicações de grande repercussão sobre a gestão da escola, demandando a contínua articulação entre o modo de pensar e de fazer o trabalho educacional e a necessidade de promoção de articulações e interações, análise conjunta dos diferentes aspectos da realidade, análise do relacionamento entre os objetivos específicos de cada área de atuação, com os objetivos gerais da educação e do projeto pedagógico escolar e a associação desses objetivos com o uso educacional de espaços, bens materiais e físicos e recursos financeiros, voltados para a sua realização. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre ações, projetos e vários programas com premiações e formações, acesse o site do Conselho Nacional de Secretários de Educação. Disponível aqui. Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/35cOF6i 18 Nesse sentido, há uma mudança de significado dos recursos, que passam a valer não por sua existência na escola, mas pelo uso que se faz deles no processo educacional, conforme definido no quadro a seguir. Quadro 1 - Mudança de significado de recursos utilizados em educação diante da mudança de paradigma de administração para gestão Administração Gestão A disponibilidade de recursos a servirem como insumos constituem-se em condição que garante a qualidade do ensino. Uma vez garantidos os recursos, estes, naturalmente, garantiriam a qualidade do ensino. Recursos não valem por si mesmos, mas pelo uso que deles se faz, a partir do significado a eles atribuído pelas pessoas e a forma como são utilizados por elas na realização do processo educacional. Fonte: Elaborado pela autora (2021). Portanto, a gestão administrativa ganha perspectivas dinâmicas e pedagógicas. Essa gestão é referida pelo Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar (Consed, 2007) como sendo gestão de serviços e recursos, abrangendo “processos e práticas eficientes e eficazes de gestão dos serviços de apoio, recursos físicos e financeiros”. São destacados como indicadores de qualidade dessa dimensão: a organização dos registros escolares, a utilização adequada das instalações e equipamentos, a preservação do patrimônio escolar, a interação escola/ comunidade e a captação e aplicação de recursos didáticos e financeiros. VOCÊ SABIA? Você sabia que o site do Consed contém um programa de educação financeira voltado para escolas e possui diversos materiais de apoio para formação desse tema? Dentre eles, os livros para alunos e professores dos ensinos médio e fundamental I e II. Esses livros estão disponíveis para download ou leitura on-line. É só acessar o site e saber mais sobre isso. Políticas Públicas e Educação 19 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Fizemos uma abordagem sobre a estrutura administrativa do sistema em níveis federal, estadual e municipal, conselhos e órgãos que normatizam o ensino com a finalidade de um correto funcionamento da escola, além da abordagem da administração escolar, seus recursos e a mudança pragmática de “administração” para “gestão”, pensando que a escola tornou-se um ambiente do processo educativo mais democrático. Políticas Públicas e Educação 20 Declaração Universal dos Direitos Humanos OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender o que é a Declaração dos Direitos Humanos, o histórico da mesma, seus pressupostos e sua importância. Isto será fundamental para o exercício de suaprofissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! O que é a Declaração Universal dos Direitos Humanos? A Declaração Universal dos Direitos Humanos é o documento base da luta contra a opressão e a discriminação, defendendo a igualdade e a dignidade das pessoas, reconhecendo que os direitos humanos e as liberdades fundamentais devem ser aplicados a todo cidadão do planeta. Foi aprovada na Assembleia Geral da ONU em 1948. Os direitos humanos são os direitos essenciais a todos os seres humanos, sem que haja discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade ou por qualquer outro motivo (como religião e opinião política). Eles podem ser civis ou políticos, como o direito à vida, à igualdade perante a lei e à liberdade de expressão. Podem também ser econômicos, sociais e culturais, como o direito ao trabalho e à educação e coletivos, como o direito ao desenvolvimento. A garantia dos direitos humanos universais é feita por lei, na forma de tratados e de leis internacionais, por exemplo. Políticas Públicas e Educação 21 Histórico da Declaração Universal dos Direitos Humanos A Declaração Universal dos Direitos Humanos começou a ser pensada quando o mundo ainda sentia os efeitos da Segunda Guerra Mundial, encerrada em 1945. Outros documentos já haviam sido redigidos em reação a tratamentos desumanos e injustiças, como a Declaração de Direitos Inglesa (elaborada em 1689, após as Guerras Civis Inglesas, para pregar a democracia) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (redigida em 1789, após a Revolução Francesa, a fim de proclamar a igualdade para todos). Depois da Segunda Guerra e da criação da ONU (também em 1945), líderes mundiais decidiram complementar a promessa da comunidade internacional de nunca mais permitir atrocidades como as que haviam sido vistas na guerra. Assim, elaboraram um guia para garantir os direitos de todas as pessoas e em todos os lugares do globo. O documento foi apresentado na primeira Assembleia Geral da ONU, em 1946, e repassado à Comissão de Direitos Humanos para que fosse usado na preparação de uma declaração internacional de direitos. Na primeira sessão da comissão, em 1947, seus membros foram autorizados a elaborar o que foi chamado de “esboço preliminar da Declaração Internacional dos Direitos Humanos”. Um comitê formado por membros de oito países recebeu a declaração e se reuniu pela primeira vez em 1947. Ele foi presidido por Eleanor Roosevelt, viúva do presidente americano Franklin D. Roosevelt. O responsável pelo primeiro esboço da declaração, o francês René Cassin, também participou. O primeiro rascunho da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que contou com a participação de mais de 50 países na redação, foi apresentado em setembro de 1948 e teve seu texto final redigido em menos de dois anos. Políticas Públicas e Educação 22 Pressupostos da Declaração Universal dos Direitos Humanos Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos partiu dos seguintes pressupostos: • O reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. • Que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum. • Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão. • Ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações. • Que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla. • Que os países-membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a observância desses direitos e liberdades. • Que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso. Políticas Públicas e Educação 23 A Assembleia Geral proclamou a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios países-membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Fica promulgado: Artigo 01 Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Artigo 02 1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. Artigo 03 Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 04 Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo 05 Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo 06 Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. Artigo 07 Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a Políticas Públicas e Educação 24 igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 08 Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédios efetivos para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Artigo 09 Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10 Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Artigo 11 1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público, no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo 12 Ninguém será sujeito à interferênciana sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. Artigo 13 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar. Artigo 14 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas. Políticas Públicas e Educação 25 Artigo 15 1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. Artigo 17 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Artigo 18 Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular. Artigo 19 Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo 20 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21 1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será expressa em eleições periódicas e Políticas Públicas e Educação 26 legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. Artigo 22 Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Artigo 23 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses. Artigo 24 Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. Artigo 25 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social. Artigo 26 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito; Políticas Públicas e Educação 27 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz; 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada aos seus filhos. Artigo 27 1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios; 2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor. Artigo 28 Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados. Artigo 29 1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível; 2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática; 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas. Artigo 30 Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos. (CHRISTOFARO, 1948) Políticas Públicas e Educação 28 VOCÊ SABIA? Todo ano no dia 10 de dezembro é comemorado o Dia da Declaração dos Direitos Humanos. A importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos A Declaração Universal de Direitos Humanos foi fruto de uma evolução de pelo menos de sete séculos e representou um marco histórico em matéria de ética. Nas diferentes civilizações da antiguidade, cada povo considerava seus valores éticos, consolidados em costumes tradicionais, como superiores aos dos demais povos, os quais eram tidos, por isso mesmo, como bárbaros, senão como inimigos. Além disso, no mundo antigo, os indivíduos achavam-se absorvidos no grupo social, não tendo praticamente nenhuma autonomia de vida e atuação. A Declaração Universal veio alterar radicalmente essa concepção ética, ao proclamar, desde o seu artigo de abertura, que “todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos”. Se todos nós, humanos, possuímos a mesma dignidade, nenhum povo, etnia, grupo religioso ou gênero sexual pode se considerar superior aos outros. Além disso, essa situação de substancial igualdade humana passou a concretizar-se em direitos; vale dizer, na capacidade reconhecida a cada qual – indivíduoou grupo social – de exigir dos demais o respeito à sua dignidade. Com isso, a Declaração Universal dos Direitos Humanos veio anunciar a abertura de uma nova era na evolução histórica: a unificação da humanidade. Superando as divisões tribais, nacionais, étnicas ou religiosas, passamos todos a ter consciência de que formamos um só grupo na face da Terra, unido pela condição de natural solidariedade. Tudo o que prejudica um indivíduo, povo ou etnia prejudica também, necessariamente, a humanidade inteira. Mas a História, obviamente, não cessa de evoluir. A partir de 1948, duas novas dimensões de direitos humanos surgiram, e passaram a ser objeto de documentos internacionais. Políticas Públicas e Educação 29 A primeira delas diz respeito ao chamado direito à diferença. Com efeito, se reconhecemos, de um lado, que a nossa espécie comporta dois sexos, cada qual com peculiaridades próprias e igualmente respeitáveis, e se, de outro lado, verificamos que possuímos, todos, uma capacidade de permanente criação cultural, é impossível negar que somos, pela nossa essência, diferentes uns dos outros. Em 27 de novembro de 1978, na Declaração sobre Raça e Preconceito Racial, a UNESCO, reiterando que nenhum povo pode considerar-se superior aos demais, afirmou que “todos os povos têm o direito de ser diferentes, de se considerarem diferentes e de serem vistos como tais”. A segunda dimensão dos direitos humanos, reconhecida posteriormente à Declaração Universal de 1948, é a existência de direitos dos povos e de direitos da humanidade. Dentre os primeiros, declarados, por exemplo, na Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos Povos de 1981, figuram o direito dos povos a uma existência livre e autônoma, bem como o direito ao desenvolvimento, à paz e à segurança. Por fim, quanto aos direitos da própria humanidade, devem ser lembrados, entre outros, o de preservação do meio ambiente mundial e o reconhecimento, como declarado pela UNESCO em 1999, de que o genoma humano constitui um “patrimônio da humanidade”, sendo, nessa condição, insuscetível de apropriação privada para fins empresariais, como se tentou obter, em inúmeras ocasiões. Hoje, cada vez mais, tomamos consciência, pura e simplesmente, de que a preservação dos direitos humanos é uma condição de sobrevivência da humanidade. VOCÊ SABIA? A sede internacional da ONU está localizada em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e foi projetada por uma equipe de arquitetos de diversos países, liderada por Wallace Harrison, sendo o projeto final baseado nas propostas de Oscar Niemeyer (Brasil) e Le Corbusier (Francês). Foi construída entre 1949 e 1952 e está localizada no setor leste de Manhattan. Políticas Públicas e Educação 30 Figura 4 - Sede da ONU Fonte: Freepik. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você foi capaz de entender o que é a Declaração dos Direitos Humanos, o histórico da mesma, seus pressupostos e sua importância. Políticas Públicas e Educação 31 Declaração da UNESCO/ONU sobre educação OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender o que é a Declaração da UNESCO/ONU. O papel da UNESCO e a declaração universal sobre raça e preconceito. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! O papel da UNESCO UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura é uma agência especializada das Nações Unidas. Ela contribui para a construção da paz mundial através da preservação da cultura. Como mencionado no tópico anterior, o sistema das Nações Unidas tem por objetivo o processo de disseminação de políticas sociais que valorizem os Direitos Humanos e, para que isso seja possível, se utilizam de instrumentos que assegurem a paz e a segurança internacional, conforme estabelece o artigo 2º da Carta das nações Unidas, que se encontra disposta da seguinte maneira: Artº. 2 A Organização e os seus membros, para a realização dos objetivos mencionados no Artº. 1, agirão de acordo com os seguintes princípios: A Organização é baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus membros; Os membros da Organização, a fim de assegurarem a todos em geral os direitos e vantagens resultantes da sua qualidade de membros, deverão cumprir de boa-fé as obrigações por eles assumidas em conformidade com a presente Carta; Nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervir em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição interna de qualquer Estado, ou obrigará os membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este Políticas Públicas e Educação 32 princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do capítulo VII. A Unesco, agência multilateral inserida na ONU, trabalha para atender a suas estratégias de atuação em seus países membros, institucionais, sociais e econômicas. (ONU, 1945) Sendo assim, logo no início, já é possível compreender o nível de responsabilidade que a ONU assume no que se refere aos Direitos Humanos. Ainda, atribui responsabilidades às suas agências especializadas, em virtude da quantidade de países e assuntos que precisa gerenciar, se tornando impossível administrar todas as questões ao mesmo tempo. Figura 5 – As agências especializadas da ONU Auxiliam em assuntos específicos Monitoram o cumprimento das diretrizes estabelecida sem âmbito internacional Colaboram para o cumprimento dos Direitos Humanos Fonte: Elaborado pela autora com base em ONU (1945) Neste cenário de agências especializadas apresentado pela Organização das Nações Unidas, destaca-se a UNESCO que de acordo com Souza e Lara (2014 p.141) observa-se que: A Unesco, agência multilateral inserida na ONU, trabalha para atender as suas estratégias de atuação em seus países membros, institucionais, sociais e econômicas. As Resoluções que citamos nesse trabalho são da ONU, as quais se difundem por diversas regiões do globo. Contudo, o conteúdo e a linguagem se configuram no discurso da UNESCO, presentes nas diferentes publicações da agência sobre a juventude no Brasil, desde 1997 até 2000. (SOUZA; LARA, 2014 p.141) Ainda sobre a criação da UNESCO, observa-se a existência de Conferências de Londres, que é o documento jurídico capaz de estruturar a UNESCO. Entretanto, como é possível observar anteriormente, sua composição é pensada desde a Carta de São Francisco, mais especificamente no artigo 57º, conforme especifica STANCMAUSTEA (2015 p. 14) Políticas Públicas e Educação 33 O Artigo 57 da Carta das Nações Unidas constitui a fundação espiritual da UNESCO, pois prevê a criação de uma agência especializada para à cooperação nas esferas educacionais e culturais, que ‘derrotaria o espírito maligno’ e combateria as ideias que levaram a duas guerras mundiais e que poderiam levar à aniquilação sistemática da vida humana. (STANCAMUSTEA, 2015, p.14) Dessa maneira, em virtude de sua estrutura e de suas funções estabelecidas pela Conferência de Londres, a UNESCO passa a ter as seguintes responsabilidades: a. Promover a incorporação dos princípios enunciados na presente Declaração nas estratégias de desenvolvimento elaboradas no seio das diversas entidades intergovernamentais. b. Servir de instância de referência e de articulação entre os estados, os organismos internacionais governamentais e não governamentais, a sociedade civil e o setor privado para a elaboração conjunta de conceitos, objetivos e políticas em favor da diversidade cultural. c. Dar seguimento a suas atividades normativas, de sensibilização e de desenvolvimento de capacidades nos âmbitos relacionados com a presente Declaração dentrode suas esferas de competência. d. Facilitar a aplicação do Plano de Ação, cujas linhas gerais se encontram apensas a presente Declaração. Ainda sobre o processo de criação da UNESCO, destaca-se que a situação observada no pós Segunda Guerra Mundial foi marcada por muitos desafios estruturais, políticos e econômicos. De maneira que foi necessário que a organização internacional acolhesse informações voltadas à ciência, no intuito de analisar e amadurecer as questões nucleares para que se evitasse viver novamente situações como a de Hiroshima e Nagasaki. Observa-se, portanto, que durante todo o período de existência da UNESCO muitas medidas foram tomadas no sentido de evidenciar a importância da cultura na sociedade e, em especial, nos jovens. Políticas Públicas e Educação 34 No tocante à temática juventude, a ONU/ Unesco, durante sua existência, elaborou diversas resoluções com proposições e ações geradas nas conferências, fóruns e congressos, destinadas a esse estrato social. Em 1965, lança a Resolução nº 2.037, denominada Declaração sobre a difusão entre os jovens dos ideais de paz, respeito mútuo e compreensão entre os povos, com a assertiva de que os jovens foram as maiores vítimas na Segunda Guerra Mundial. Esse grupo desempenha um papel essencial nas várias esferas da sociedade, visto que dirigirá os rumos da humanidade. Portanto, é preciso protegê-los. A juventude deve conhecer, respeitar e desenvolver o acervo cultural da humanidade e de seu país; a educação dos jovens e a troca entre os mesmos deve permitir e contribuir com as relações internacionais e fortalecer a paz e a segurança (ONU, 1965). A Declaração é uma chamada para os governos, organizações não governamentais (ONG’s) e movimentos de juventude para que esses agentes políticos reconheçam os princípios e orientações contidos na Declaração e assegurem o respeito aos valores das Nações Unidas para os jovens. (SOUZA; LARA 2014 p.141) No intuito de compreender um pouco mais sobre as questões relacionadas com o funcionamento e composição da UNESCO, observa- se as informações apresentadas por Leitão (s.d, online) ao destacar que existem 195 países membros da agência especializada da ONU. Sede localizada em Paris, na França, a UNESCO conta com 195 Estados-membros e 8 membros associados. A maior parte dos países-membros da ONU integram a UNESCO, com exceção dos Estados Unidos, Israel e Liechtenstein. Entre os países-membros da UNESCO que não integram a ONU estão as Ilhas Cook, Niue e o Estado da Palestina. A Palestina tornou-se membro da UNESCO em 2011 após uma votação onde a entrada do país foi apoiada por 107 votos e reprovada por apenas 14 votos. Como represália à entrada da Palestina na UNESCO, os Estados Unidos acusaram a organização de ser antissemita e deixaram de integrar os Estados-membros em 2018, seguido por Israel.” (LEITÂO, s.d., online) Atualmente, destaca-se que a Organização Internacional está sendo analisada e se propõe a analisar elementos que se relacionam com a educação, cultura e ciência. Políticas Públicas e Educação 35 Mas, a UNESCO, após 73 anos de sua criação, ainda é referência nas questões relativas à educação, cultura e ciência. No âmbito cultural, destaca-se desde a sua constituição, a preocupação com o patrimônio que é possível verificar, entre outros documentos, no item c do primeiro artigo da Constituição da UNESCO, que discorre acerca dos propósitos e funções desta organização: Manter, expandir e difundir o conhecimento, garantindo a conservação e a proteção do legado mundial de livros, obras de arte e monumentos de história e de ciência, recomendando as convenções internacionais necessárias às nações envolvidas. (VIDAL; FONTOURA, 2018 p.03) Portanto, observa-se que o objetivo principal da UNESCO é disseminar uma prática de cultura pelo mundo através dos jovens, visto que eles são os sujeitos principais para modificar a realidade do País. Além do mais, compreende-se que, ao informar e formar os jovens, a sociedade também se beneficiará das práticas de formação cultural da sociedade e, consequentemente, o país também colherá os frutos de uma sociedade bem instruída, visto que as diferenças poderão ser mais bem equilibradas e, assim, a humanidade terá condições de viver em harmonia. Nesse mesmo sentido, Souza e Lara (2014 p.142) destacam que: A declaração nº 2.037/1965, em seu primeiro ponto, reporta-se à educação, advertindo que todos os jovens devem ser educados no espírito da paz e do respeito mútuo, para que promovam a igualdade de direitos dos seres humanos, o crescimento econômico e social, na busca da paz e da segurança internacional. Todos os meios de educação e de ensino à juventude devem fomentar os ideais de paz, humanismo, liberdade e solidariedade internacional. (SOUZA; LARA, 2014 p.142) Ainda sobre a importância e maneira de se trabalhar com os jovens pelo mundo, a Organização das Nações Unidas (1965) evidencia a necessidade de se enaltecer os valores da dignidade e igualdade entre os povos, ou seja, os povos não devem permitir um tratamento discriminatório entre sua população e, portanto, deve favorecer acesso amplo e igualitário para todos os direitos e obrigações. É preciso que os jovens sejam educados nos princípios e orientações de dignidade e igualdade entre os homens, independente de raça, cor, etnia e credo. As organizações Políticas Públicas e Educação 36 juvenis devem se adequar a essas direções e buscar continuamente o respeito entre as etnias e o intercâmbio de jovens de diferentes nações. (ONU, 1965, p. 2) Figura 6 – Os fundamentos do trabalho com a juventude Respeito Solidariedade Igualdade Direitos Humanos Cooperação Fonte: Elaborado pela autora com base em ONU (1965 p,02) Sendo assim, diante do que é possível observar até o presente momento, quando a UNESCO defende a promoção da educação, da ciência e da cultura, observa-se, portanto, uma conexão estreita com a paz e a segurança internacional. O objetivo da Unesco é promover a paz e a segurança mundial por meio da Educação, da Ciência e da Cultura entre os seus 193 países membros. Sua sede atual localiza-se em Paris e dispõe do Instituto Internacional de Planejamento Educacional, que oferece cursos para equipes das administrações nacionais. (ROSEMBERG, 2000) Figura 7 – A educação como ferramenta da paz mundial O jovem que estuda É um jovem que pensa É um jovem que reflete É um jovem capaz de mudar uma realidade violenta e desigual Fonte: Elaborado pela autora com base em ONU (1965 p,02) Políticas Públicas e Educação 37 De acordo com o que se apresenta na figura acima, um jovem que tem acesso à educação será capaz de refletir sobre as causas e consequências dos problemas que está vivenciando e, assim, terá condições de identificar como a realidade em que vive deveria se apresentar para, em seguida, encontrar uma solução adequada para o problema em que se encontra diretamente inserido. Dessa maneira, a consciência crítica e reflexiva são elementos que podem modificar a realidade de qualquer país, independentemente de sua condição, pois o desejo de mudar combinado com a competência técnica adquirida a partir de estudos especializados, evitará grandes problemas sociais, políticos e econômicos. Sobre os problemas que a UNESCO se ocupa, destaca-se o caso do fechamento das escolas durante a pandemia da Covid-19, onde a agência especializada da ONU evidenciou a importância de se evitar o fechamento prolongado, sem necessidade, das escolas, visto que os danos para o aprendizado serão significativos e, em alguns casos até irreversíveis. A UNESCO e seus parceiros da Coalizão Global de Educação têm defendido a reabertura segura das escolas, insistindo que os fechamentos completos sejam usados apenas como último recurso. Desde o início da pandemia, em todo o mundo, as escolaspermaneceram completamente fechadas por uma média de 18 semanas (quatro meses e meio). Se forem considerados os fechamentos parciais (por localidade ou por nível educacional), a duração média dos fechamentos em todo o mundo é de 34 semanas (oito meses e meio), ou quase um ano acadêmico completo. Interrupções prolongadas ou repetidas de aulas, assim como o fechamento das escolas, ocorridos durante os últimos dois anos acadêmicos, resultaram em perdas de aprendizagem e no aumento das taxas de evasão, afetando de maneira desproporcional os estudantes mais vulneráveis. (UNESCO, 2021) No que se refere à influência que a UNESCO exerce sobre o Brasil, destaca um vasto panorama, onde é possível compreender que para cada proposta apresentada pela Organização Internacional, existe a estruturação de um plano que coaduna educação, plano de alimentação e trabalho, como é o caso do programa Fome-Zero e do Primeiro Emprego. Políticas Públicas e Educação 38 Conforme destaca Lara e Souza (2014 p.149) no que se refere ao trabalho da UNESCO, observa-se que: As metas desses espaços e deliberações integram os princípios da Unesco: igualdade de direitos, liberdade, dignidade, cidadania, paz, diversidade e tolerância. A concepção de educação para a agência é encontrada em um de seus mais famosos relatórios, conhecido comumente por Delors (1998), no qual a educação é salientada como um meio de tornar os indivíduos cientes de suas raízes étnicas e responsável pela edificação de um mundo solidário para aceitar as diferentes culturas. No bom sentimento, do reconhecimento das diferenças, distinto da abordagem economicista do BM e da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL). A concepção de educação no Relatório Delors (1998) possui um caráter de promover mudanças no ser individual, propondo metas para a educação mundial de forma que todas as culturas atendam essa perspectiva de educação. A educação é designada como um meio para “construir” a solidariedade, o respeito das diferentes culturas e, acima de tudo, de promover a paz. (LARA; SOUZA, 2014 p.149) Mais uma vez, observa-se que a proposta da UNESCO, no que se refere ao fortalecimento do sistema educacional, tem como pressuposto essencial transformá-lo em instrumento de solidariedade e, consequentemente, de paz. Dessa maneira, pensando no compromisso com a plena realização dos direitos humanos e das liberdades fundamentais proclamadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em outros instrumentos universalmente reconhecidos, como os dois Pactos Internacionais de 1966 relativos respectivamente, aos direitos civis e políticos e aos direitos econômicos, sociais e culturais e que o Preâmbulo da Constituição da UNESCO afirma: “(...) que a ampla difusão da cultura e da educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são indispensáveis para a dignidade do homem e constituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir com um espírito de responsabilidade e de ajuda mútua” e consciente do mandato específico confiado à UNESCO, no seio do sistema das Nações Unidas, de assegurar a preservação e a promoção da fecunda diversidade das culturas. (UNESCO, 2002) Políticas Públicas e Educação 39 Destacam-se alguns princípios essenciais para que seja possível construir um cenário democrático na sociedade, ou seja, em que as pessoas tenham acesso à educação e aos demais direitos que se encontram conectados com a educação. IDENTIDADE, DIVERSIDADE E PLURALISMO Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade Artigo 2 – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural Artigo 3 – A diversidade cultural, fator de desenvolvimento DIVERSIDADE CULTURAL E DIREITOS HUMANOS Artigo 4 – Os direitos humanos, garantias da diversidade cultural Artigo 5 – Os direitos culturais, marco propício da diversidade cultural Artigo 6 – Rumo a uma diversidade cultural acessível a todos DIVERSIDADE CULTURAL E CRIATIVIDADE Artigo 7 – O patrimônio cultural, fonte da criatividade Artigo 8 – Os bens e serviços culturais, mercadorias distintas das demais Artigo 9 – As políticas culturais, catalisadoras da criatividade DIVERSIDADE CULTURAL E SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL Artigo 10 – Reforçar as capacidades de criação e de difusão em escala mundial Artigo 11 – Estabelecer parcerias entre o setor público, o setor privado e a sociedade civil (UNESCO, 2002) Figura 8 – Os efeitos da aplicação dos princípios da UNESCO Integram Valorizam a reflexão Aperfeiçoam a democracia Fonte: Elaborado pela autora com base em UNESCO (2002) Políticas Públicas e Educação 40 Portanto, diante do que se observa e baseado nos trabalhos desenvolvidos pela UNESCO, destaca-se que existe um vasto trabalho que vem sendo desenvolvido pela agência especializada em estudo e que, portanto, o compromisso em se utilizar da educação como instrumento essencial para construção da paz é ponto focal dos trabalhos do órgão. Nesse sentido, é possível identificar que a agência especializada integra as diretrizes estabelecidas na Agenda 2030 que versam sobre os objetivos do desenvolvimento sustentável. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você aprendeu o que é a Declaração da UNESCO/ONU. O papel da UNESCO e a declaração universal sobre raça e preconceito. Políticas Públicas e Educação 41 Constituição da República Federativa do Brasil OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender o que é a Constituição da República Federativa do Brasil e seu capítulo sobre a educação, cultura e desporto. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Capítulo III – Da educação, da cultura e do desporto – Artigos de 205 a 214 A Constituição Brasileira de 1988 foi escrita pelo Congresso Nacional do Brasil e aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte em 22 de setembro de 1988 e promulgada em 5 de outubro de 1988. A Constituição é a lei fundamental e suprema do Brasil, servindo de parâmetro de validade a todas as demais espécies normativas, situando-se no topo do ordenamento jurídico. Durante esses 30 anos, após a promulgação da Lei, muitas Emendas Constitucionais foram acrescentadas. No texto abaixo, segue os artigos relacionados à EDUCAÇÃO e à regularização em relação às emendas. Como visto anteriormente, segue abaixo os artigos de 205 a 214 já com as regularizações das emendas constitucionais. CAPÍTULO III DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO SEÇÃO I DA EDUCAÇÃO Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988) Políticas Públicas e Educação 42 Diante do que se observa no dispositivo transcrito, o ordenamento jurídico considera que a educação é instrumento essencial para a solidificação da cidadania, ou seja, de um sistema capaz de incluir e aceitar as diferenças a partir de reflexões pessoais e coletivas. Destaca-se, portanto, que será através da educação que o sistema social será capaz de ser modificado, de forma, portanto, que não se admite um poder público que venha a minimizar a importância da educação no âmbito social. No que se refere aos princípios que fundamentam o direito à educação no sistema jurídico brasileiro, destaca-se que se baseiam essencialmente na massificação da educação para todos os povos, ou seja, não pode haver entraves para que a população tenha acesso direto ao sistema educacional do País. Essa questão está explicitamente apresentada no artigo 206 da Constituição Federale, encontra-se disposta da seguinte maneira: Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 1988) Políticas Públicas e Educação 43 Os princípios acima elencados visam, como observado anteriormente, o amplo acesso ao estudo, independentemente de condições pessoais, políticas, econômicas e sociais. Além do mais, muito embora esteja evidenciada a priorização do ensino gratuito para todos os brasileiros e não apenas para as pessoas que se encontram em estado de vulnerabilidade social, não se pode afastar o direito de pessoas de alta renda se beneficiarem da gratuidade da educação. Essa questão é meramente de igualdade de oportunidades para todas as pessoas, por isso o poder público deve estar organizado para oferecer amplas oportunidades para quem deseje ou precise ter acesso à educação. No que se refere ao acesso dos jovens às Instituições de Ensino Superior, os artigos 206 e 207 da Constituição Federal apresentam peculiaridades, pois ao passo em que se afirma a obrigatoriedade do ensino gratuito, destaca-se que em virtude da ausência de IES de ensino superior para suprir as demandas da sociedade, surgem as IES de ensino superior privadas e que podem acolher jovens que desejem frequentar e realizar cursos superiores ou técnicos. Além do mais, o artigo 207 estabelece questões relacionadas ao funcionamento estrutural das IES de ensino superior e, portanto, estabelece autonomia funcional e patrimonial às IES públicas ou privadas, mas devem cumprir com as determinações apresentadas por lei, como é o caso do cumprimento das questões relacionadas com o ensino, pesquisa e extensão. Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático- científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. § 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996) § 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996). (BRASIL, 1988) Ainda no que se refere à obrigatoriedade da educação gratuita, convém destacar que os elementos estão indicados no artigo 208 da CF e se referem apenas à educação básica que vai dos 4 aos 17 anos. Políticas Públicas e Educação 44 Observa-se ainda, que o mesmo dispositivo evidencia não apenas a obrigatoriedade da educação gratuita, mas também da necessidade de se colocar as crianças e jovens na escola. A referida questão relaciona- se com a responsabilidade direta das famílias ou responsáveis para com a educação das crianças e jovens, podendo inclusive responder por abandono caso se omita no processo de educação das crianças. Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009) II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. (BRASIL, 1988) Políticas Públicas e Educação 45 Ainda, no que se refere ao disposto no artigo 208, observa-se a necessidade do poder público estar devidamente organizado para oferecer a educação para sua população na faixa etária entre 4 e 17 anos e, por ser obrigatória, não pode existir a possibilidade de ausência de vaga, de estrutura ou de profissionais. Portanto, da mesma maneira que os responsáveis pela criança ou jovem podem ser responsabilizados por omissão, as autoridades competentes podem ser responsabilizadas pelo descumprimento dos preceitos constitucionais estabelecidos. Ainda, no que se refere ao ensino básico, observa-se que existe um ponto importante no processo de educação das crianças e jovens, a necessidade da escola estar devidamente em contato com as famílias ou responsáveis pelo indivíduo, ou seja, o dever de zelar e motivar o processo de ensino e aprendizagem é tanto da escola, como também das famílias ou responsáveis. Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; II - Autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. (BRASIL, 1988) No que se refere à possibilidade de oferecer instrução educacional, como foi observado anteriormente, cabe tanto a iniciativa privada como ao poder público. Entretanto, o poder público tem a função direta de autorizar e avaliar periodicamente os cursos que são provenientes de iniciativa privada. O objetivo é, portanto, fiscalizar o tipo de serviço que está sendo prestado e, se for o caso, como deve melhorar a prestação de serviço. Figura 9 – Órgãos responsáveis pelo serviço educacional Autorizado e fiscalizado pelo poder público Público Privado Educação Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Políticas Públicas e Educação 46 No que se refere aos conteúdos que se destinam ao cumprimento das diretrizes pedagógicas das séries, o BNCC estabelece uma dinâmica diferenciada para os novos currículos, onde partirá da ideia de uma reestruturação na gestão pedagógica e, ainda, no próprio curriculum escolar, pois visa um sistema que integra a realidade escolar com o sistema social. Em outras palavras, a escola deverá aplicar as diretrizes pedagógicas a partir da realidade que a Instituição deEnsino se encontra devidamente inserida. Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. (BRASIL, 1988) Importante No que se refere aos objetivos traçados pela BNCC, destaca-se o evidenciado por Brasil (2017) ao especificar que: A partir de 2020 os professores devem começar a ser formados para o trabalho com os novos referenciais curriculares alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Você terá um papel fundamental: é o responsável por liderar a revisão do Projeto Pedagógico (PPP ou PP) e a formação continuada dos professores na escola, duas ações imprescindíveis para que os novos currículos cheguem às salas de aula e apoiem cada dia mais professores e alunos. (BRASIL, 2017) No que se refere ao sistema de colaboração entre a União, o Distrito Federal, Estados e Municípios, destaca-se um regime essencial de ordenação de interesses e competências, visto que cada setor acima mencionado irá dispor uma função específica e, de forma alguma, poderá invadir as competências jurisdicionais dos demais setores responsáveis pela educação. O que é importante compreender neste processo é a capacidade de integração inerente à condição da prestação de serviço Políticas Públicas e Educação 47 educacional e, portanto, os setores devem estar trabalhando de maneira a cumprir os princípios da educação. Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). (BRASIL, 1988) No que se refere aos valores financeiros que se destinam a educação, o artigo 212 da Constituição Federal evidencia de maneira clara, as porcentagens de cada ente, qual seja, federal, municipal ou estadual. Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir. § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no “caput” deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino Políticas Públicas e Educação 48 federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213. § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional de educação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) § 4º Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários. § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) (Vide Decreto nº 6.003, de 2006) § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). (BRASIL, 1988) Ainda no que se refere à possibilidade de repasse de recursos públicos para instituições de ensino do setor privado, destaca-se o evidenciado no artigo 213 da Constituição Federal que especifica esta possibilidade, desde que se comprove como instituição sem fins lucrativos. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades. § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. Políticas Públicas e Educação 49 § 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por instituições de educação profissional e tecnológica poderão receber apoio financeiro do Poder Público. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015). (BRASIL, 1988) Diante do que foi exposto, observa-se que a Constituição Federal é um instrumento complexo, mas completo de questões relacionadas ao sistema educacional. Essa percepção apresenta uma característica integrativa com os documentos internacionais analisados neste estudo, como é o caso da Convenção que cria UNESCO. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você aprendeu o que é a Constituição da República Federativa do Brasil e seu capítulo sobre a educação, cultura e desporto. Políticas Públicas e Educação 50 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://bit.ly/2EBWWYJ. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996, D.O.U., a. CXXXIV, nº 248, 23.12.96, p. 27833-27841. Disponível em: http://bit.ly/37R0D6i. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. PARECER CNE/CBE nº 07/2010 – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral.Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. 562p. Disponível em: https://bit.ly/3uUg4ax. Acesso em: 20 set. 2021. ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. (217 [III] A). Paris. (1948) Disponível em: https://uni.cf/3loeYkv. Acesso em: 19 jan. 2021. DEMO, P. Educação e qualidade. 6. ed. São Paulo: Papirus, 2001. MENEZES, E. 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Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Princípios e finalidades da educação nacional .................................10 Princípios e fins da educação nacional – Segundo a LDB 9394/96 .......... 11 As políticas públicas e suas considerações com a LDB 9.394/96 ............. 13 Diretrizes e bases da educação – LDB 9.394/96 .............................20 LDB 9.394/96 .................................................................................................................................... 20 Os objetivos da LDB 9.394/96 para o sistema educacional brasileiro ....23 As políticas públicas influenciando no processo de avaliação .....................25 Base Nacional Comum Curricular – As 10 competências gerais .................27 Plano Nacional de Educação ......................................................................32 Plano Nacional de Educação – Entendendo o conceito ...................................32 Diretrizes Nacionais para a Educação Básica ....................................42 Breve histórico ...................................................................................................................................42 Objetivos das Diretrizes Curriculares Nacionais .......................................................44 Organização curricular ................................................................................................................45 Etapas da educação básica .................................................................................................... 46 Modalidades da educação básica ..................................................................................... 46 Avaliação na educação básica ..............................................................................................47 Gestão democrática ..................................................................................................................... 48 7 UNIDADE 03 Políticas Públicas e Educação 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade, trataremos dos princípios e fins da educação nacional segundo a LDB 9.394/96, suas políticas e algumas considerações, além das discussões sobre as políticas educacionais que permeiam a LDB 9.394/96. Tal lei será explorada com seus respectivos artigos, objetivos, suas influências no processo educacional em relação aos processos de avaliação e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Iremos tratar, também, do Plano Nacional de Educação (PNE), previsto na legislação. E, para finalizar, falaremos das Diretrizes Curriculares para a Educação Básica, texto norteador do processo de educação e do ensino e aprendizagem do sistema educacional brasileiro, seu histórico, seus objetivos, sua organização curricular, as etapas e modalidades da educação básica, o processo de avaliação e sua proposta de uma gestão democrática. Políticas Públicas e Educação 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à nossa Unidade 3, nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Entender os princípios e finalidades das políticas públicas da educação nacional, nos termos da LDB 9394/96. 2. Compreender o disposto nas Diretrizes da Educação Brasileira e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 3. Discernir sobre o Plano Nacional da Educação (PNE), entendendo seus objetivos e suas diretrizes. 4. Entender as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação básica, compreendendo seus objetivos e identificando suas etapas e modalidades. Então, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Políticas Públicas e Educação 10 Princípios e finalidades da educação nacional OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender os princípios e finalidades da educação nacional, assim como as políticas públicas e suas considerações com a LDB. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A Constituição Federal foi promulgada em 5 de outubro de 1988, onde passou a determinar que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, conforme o artigo 205: Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando aopleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988) Sendo assim, a educação se constitui como um direito garantido por lei e considerado como prioridade, assim como o direito à vida, à saúde e à alimentação. Segundo o artigo 227 da Constituição: Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988) A Constituição Federal também garante que sejam fixados conteúdos mínimos para assegurar a formação básica comum a todos, conforme o artigo 210. Art. 210 Devem ser fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de modo a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. (BRASIL, 1988) Políticas Públicas e Educação 11 Considerando o artigo 210, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) constituiu seus princípios de modo a favorecer diretrizes para a fixação desses currículos. Figura 1 - LDB e os princípios da educação nacional Princípios Estruturação de conteúdos AcessibilidadeInclusão Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) Princípios e fins da educação nacional – Segundo a LDB 9394/96 Os princípios da educação nacional segundo a LDB nº 9.394/96, estão fixados nos artigos 2º e 3º, que visam reafirmar o que foi determinado pela Constituição Federal sobre os direitos, deveres e princípios da educação. Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; Políticas Públicas e Educação 12 VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII – valorização do profissional da educação escolar; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX – garantia de padrão de qualidade; X – valorização da experiência extraescolar; XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais; XII – consideração com a diversidade étnico-racial; XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. (BRASIL, 1996). O artigo 3º apresenta uma preocupação em relação não só à garantia de acesso do aluno à educação, mas sim com a qualidade oferecida por essa educação, tornando o direito à educação um direito social de qualidade. Figura 2 - Acesso à educação versus qualidade Garante o acesso à educação Garante a qualidade do ensino Constituição Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Portanto, destaca-se que o poder público brasileiro para além de garantir um sistema integral de acesso à educação para todos os brasileiros, independentemente, de sua condição política, econômica e social, precisa garantir a qualidade do ensino que é prestado. Essa questão se torna essencial, pois tão importante quanto ter acesso é saber que o serviço prestado possui qualidade, visto que faz parte desse processo garantir que a prestação de serviços educacionais possua qualidade. A referida questão é deveras importante, pois no caso do sistema educacional brasileiro, o serviço é marcado por um conjunto de situações que, no lugar de favorecer, prejudica. Em outras palavras, do que adianta o aluno ter vaga na escola, mas não ter onde sentar ou o que comer, nem onde escrever. Políticas Públicas e Educação 13 REFLITA: No intuito de compreender a importância da qualidade no sistema de prestação de serviços educacionais, apresenta- se o caso ocorrido no ano de 2018 no Estado do Amapá, onde as instituições de ensino possuíam alunos, mas a estrutura era precária e, portanto, em virtude da ausência de mobiliário adequado, os alunos precisaram assistir aula em pé. “As aulas da Escola Estadual Antônio Castro, localizada no bairro Zerão, Zona Sul de Macapá, foram suspensas na manhã desta terça-feira. Os professores decidiram paralisar as atividades devido à falta de carteiras. Eles relatam que os estudantes chegam a assistir as aulas em pé e escrever com os cadernos no colo”. (ABREU, 2018 online) As políticas públicas e suas considerações com a LDB 9.394/96 No Brasil, encontramos uma sociedade marcada pela exclusão e desigualdade social, sendo necessárias políticas públicas estruturadas para a promoção dessas marcas. A educação se faz necessária por apresentar um importante mecanismo para a promoção do desenvolvimento social e econômico de um país, uma vez que os mais bem-sucedidos em todas as áreas são àqueles que têm acesso à educação e conseguem romper com as limitações. Esta questão apresentada anteriormente é expressamente observada, não apenas na Constituição Federal, mas também nas diretrizes estabelecidas pela UNESCO. A referida agência especializada destaca que a educação é um instrumento capaz de modificar realidades econômicas, sociais e políticas. Sendo assim, é essencial que os países apresentem políticas públicas que priorizem a educação e, portanto, considerem como fundamental para o desenvolvimento não apenas do indivíduo, mas de toda a sociedade, pois os estudos comprovam que os altos índices de criminalidade estão associados à baixa escolaridade e desempregos. Encontramos nos países desenvolvidos altos índices de escolarização, Políticas Públicas e Educação 14 sendo assim, a educação é importante para possibilitar uma sociedade mais justa social e economicamente. Dessa maneira, apreende-se que mesmo o poder público sendo o responsável direto por propor ensino de qualidade, observa-se que parcela da população brasileira não possui acesso ao ensino de qualidade e, consequentemente, não recebem o conhecimento educacional adequado e o resultado desse processo é uma parcela da população que por não compreender os seus direitos e a própria realidade que se encontra inserido, não consegue reivindicar adequadamente os preceitos constitucionais. Figura 3 - Os efeitos sociais da educação inadequada Não pensa Não participa Não reflete Não compreende Desconstrói a Democracia Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1988) Como é possível observar no quadro acima, quando o poder público não oferece educação de qualidade, muitos serão os desafios a enfrentar, não apenas pelo indivíduo que não teve acesso à educação, mas a todo o conjunto da sociedade, pois quanto menor for o número de pessoas sem acesso à educação, maior será o desinteresse no processo de participação das decisões da coletividade, situação que definimos como democracia. Sabendo da importância da educação para o processo de desenvolvimento da sociedade, destaca-se a necessidade de se elaborar políticas públicas voltadas para o favorecimento da educação, pois só através de uma proposta capaz de promover o conhecimento é possível construir uma sociedade baseada nos critérios de igualdade e solidariedade. Políticas Públicas e Educação 15 Figura 4 - Democracia e educação O indivíduo que estuda Compreende Sugere Soluciona Questiona Integra Reflete Modifica Participa Fonte: Elaborado pela autoracom base em Brasil (1988) Sendo assim, partindo do pressuposto que as políticas públicas são essenciais para o desenvolvimento do país, cumpre definir como se direcionará tais políticas públicas. No caso do Brasil, como nação mesmo do sistema das Nações Unidas, existe o compromisso de seguir os objetivos do desenvolvimento sustentável com a finalidade de mudar a realidade mundial até o ano de 2030. Analisando os objetivos do desenvolvimento sustentável, destaca- se que o pano de fundo é, tão somente, eliminar a pobreza extrema e a fome através de medidas eficazes que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Sendo assim, os objetivos do desenvolvimento são considerados como um plano de ação global e, apesar de se destinar a toda sociedade, priorizam medidas socioeducativas para crianças e adolescentes nomeadamente, educação, alimentação, saúde, pobreza, igualdade, saneamento etc. Dessa maneira, sabendo da variedade de elementos que precisam ser modificados até 2030, identificam-se 17 objetivos específicos para que seja possível cumprir as metas e, por fim, atingir o desenvolvimento integral da sociedade. Políticas Públicas e Educação 16 Figura 5 - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável Fonte: Nações Unidas, Brasil IMPORTANTE: No intuito de compreender um pouco melhor a proposta o trabalho da UNICEF, que é agência especializada da ONU, sobre o cumprimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável, sugere-se o acesso ao link disponível aqui. Neste endereço, será possível compreender quais os objetivos precisos da agenda do desenvolvimento e, ainda, como cada país deve desenvolver seus mecanismos para chegar a atingir os objetivos do desenvolvimento. A figura 5, apresentada anteriormente, indica os 17 pontos que se enquadram no âmbito do objetivo do desenvolvimento e, a partir de então, apresentam-se como os referidos elementos que podem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Além do mais, convém destacar que ao analisar os objetivos, não se pode deixar de compreender que todos se encontram intimamente relacionados e, por isso, não adianta nesse estudo, querer focar apenas da questão do ensino de qualidade, pois os demais elementos favorecem a construção deste estudo de qualidade. Entre os objetivos destacados anteriormente, inicia-se a análise a partir da erradicação da pobreza, que significa a necessidade do poder público estabelecer medidas eficazes para que todas as formas de Políticas Públicas e Educação https://www.unicef.org/brazil/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel 17 pobreza sejam realmente erradicadas. Não se trata apenas da pobreza alimentar, mas de todas as demais situações que contribuem para um mundo desigual e sem oportunidades. Entretanto, erradicar a fome é parte do segundo objetivo do desenvolvimento e, com isso, o poder público deve envidar esforços no sentido de garantir alimentação a todos e, para que isso seja possível, deve favorecer o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, ou seja, um tipo de agricultura que seja capaz de suprir as necessidades e demandas da população sem prejudicar o meio ambiente. A partir das informações apresentadas no objetivo anterior, fome zero e agricultura sustentável, observa-se que será possível a promoção da saúde e o bem-estar de toda a população. Esta questão é bem simples, pois basta perceber que um sujeito bem alimentado, poderá ter qualidade de vida. Vendo que o ponto anterior se refere à saúde e bem-estar, destaca- se que o processo de favorecimento da educação de qualidade faz parte do bem-estar e também da saúde, pois envolve as questões emocionais e cognitivas. Quando se analisa esta questão, compreende-se que para o indivíduo usufruir da educação de qualidade, ele precisa estar bem alimentado e gozar de plena saúde. Tendo acesso à educação, o indivíduo compreenderá os desafios que surgem no decorrer de toda a sua vida e, ainda estará contribuindo para o desenvolvimento global da sociedade, pois terá condições de refletir melhor sobre as questões políticas, econômicas e, ainda, sociais. Figura 6 - Educação e desenvolvimento Educação Desenvolvimento Fonte: Elaborado pela autora. Políticas Públicas e Educação 18 Apenas a partir desta reflexão é que surge a possibilidade de compreender melhor a qualidade de gênero, pois o indivíduo compreenderá que ter comportamentos discriminatórios estarão em desconformidade ao que uma sociedade mais justa, fraterna e desenvolvida deseja. Educação de qualidade relaciona-se também com as questões da gestão da água potável e do saneamento para toda a população, pois o indivíduo que possui educação compreenderá a importância do uso adequado dos recursos da natureza. Assim como importância da gestão adequada dos recursos da natureza se relacionam com a educação de qualidade, destaca-se a necessidade de se compreender que o trabalho quando desempenhado por uma pessoa que teve educação de qualidade, estará dentro dos padrões exigidos por um país desenvolvimento. Isso não significa apenas que o sujeito deve ter formação universitária para ter um trabalho decente, mas que se perceba a necessidade de formalização do trabalho para o cumprimento das diretrizes normativas, no intuito de se afastar o trabalho escravo. Quando se investe em educação, o desenvolvimento industrial é consequência natural deste processo. Além do mais, em se tratando de inovação, não há que se falar sem que tenha existido dedicação técnica, científica e temporal. E isso só ocorre quando o indivíduo que inova, possui conhecimento específico para o feito. Se o poder publico investe em educação, surgem postos de trabalho, a indústria e a inovação de movimentam e, como consequência, as desigualdades sociais entre as pessoas são reduzidas. Quando o poder público consegue reduzir a desigualdade social, torna-se possível promover a construção de uma sociedade pacífica, inclusiva, onde é possível identificar aspectos de justiça e fraternidade. Por fim, não menos importante, quando um país consegue reduzir as desigualdades sociais, os aspectos de índice de desenvolvimento se modificam e, portanto, os demais países que compõem a sociedade internacional o buscam para realizar parcerias diplomáticas. Políticas Públicas e Educação 19 Tendo compreendido todos os aspectos apresentados nos objetivos do desenvolvimento, destaca-se a necessidade de se perceber a importância do real cumprimento dessas demandas, visto que todos os 17 objetivos analisados estão relacionados diretamente com um direito maior e, talvez o mais importante que integra o ordenamento jurídico de um país democrático, que são os Direitos Humanos. IMPORTANTE: No sentido de compreender melhor o motivo pelo qual a educação é importante para o desenvolvimento de um país, destaca-se o artigo de opinião intitulado de: A importância da educação para o desenvolvimento do país, cuja autoria é de Patrícia Mota Guedes e pode ser acessado através do endereço eletrônico disponível aqui. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você viu os princípios e finalidades da educação nacional, assim como as políticas públicas e suas considerações com a LDB. Políticas Públicas e Educação https://anoticiadoceara.com.br/noticias/educacao/a-importancia-da-educacao-para-o-desenvolvimento-do-pais/ 20 Diretrizes e bases da educação – LDB 9.394/96 OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender as diretrizes e bases da educação, os objetivos da LDB, as políticas públicas que influenciam o processo de avaliação e a base nacional comum curricular e suas dez competências gerais. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivadopara desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! LDB 9.394/96 A LDB foi aprovada em dezembro de 1996, com o número 9394/96, pelo presidente na época, Fernando Henrique Cardoso de Almeida. Trata-se de uma lei importante por trazer a educação para o debate na sociedade. A lei foi criada para reafirmar o direito garantido pela Constituição Federal do acesso a todos a uma educação gratuita e de qualidade. Nesse sentido, Carvalho (1998, p.81) destaca que: Com a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o dia 20/12/96 assinala um momento de transição significativo para a educação brasileira. Nessa data, completados 35 anos, revogou-se a 1ª LDB com as alterações havidas no período, entrando em vigor nossa 2ª LDB. O Chefe do Poder Executivo sancionou a Lei 9.394/96, denominando-a “Lei Darcy Ribeiro” e, com este ato, dividiu, formalmente, a conhecida história da Nova LDB: um primeiro momento, caracterizado por amplos debates entre as partes (Câmara Federal, Governo, partidos políticos, associações educacionais, educadores, empresários etc.) e outro, atrelado à orientação da política educacional governamental e assumido pelo professor homenageado. Na disputa entre o coletivo e o individual, entre a esfera pública e a esfera privada, entre os representantes da população e os representantes do governo, está vencendo a política neoliberal, dominante não só na dimensão global, mas também com pretensões de chegar a conduzir o trabalho pedagógico Políticas Públicas e Educação 21 na sala de aula. Objetivo: a busca da qualidade (total), no sentido de formar cidadãos eficientes, competitivos, líderes, produtivos, rentáveis, numa máquina, quando pública, racionalizada. Este cidadão – anuncia-se – terá empregabilidade e, igualmente, será um consumidor consciente. A lei foi produzida, existe. Enquanto lei, resta- nos identificar, compreender e avaliar a intencionalidade de suas propostas, para a adoção das posturas pertinentes. (CARVALHO, 1998 p.81) Sendo assim, a valorização dos profissionais da educação é considerada na LDB e estabelece o dever da União, dos estados e dos municípios com a educação pública e o combate à exclusão social. Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. (BRASIL, 1996). Figura 7 - LDB e o desenvolvimento social Abrange processos formativos Favorece a integração social Aperfeiçoa a democracia Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996). Entretanto, conforme a sociedade se desenvolve, exige que a lei sofra alterações. Uma dessas alterações ocorreu no artigo 4º, em que a obrigação do atendimento às crianças, que anteriormente era aos 6 anos, passou a ser 4 anos. Políticas Públicas e Educação 22 Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). (BRASIL, 1996) Sendo assim, depreende-se que o Artigo 10 da Lei 9495/96 trata que os estados terão o dever de oferecer o ensino fundamental prioritariamente e, portanto, não pode o poder público se afastar desta responsabilidade social, onde caso ocorra, poderá ser responsabilizado pelas questões sociais. Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.061, de 2009) VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003). (BRASIL, 1996) A LDB foi importante por estabelecer diretrizes que visassem o cumprimento da Constituição Federal e a oferta de uma educação de qualidade. Figura 8 - LDB e educação de qualidade Constituição Federal LDB Educação de qualidade Fonte: Elaborado pela autora com base em LDB (1996) Políticas Públicas e Educação 23 ACESSE: O portal do Governo Federal e conheça toda a LDB 9.394/96 na íntegra com suas alterações. Disponível aqui. Os objetivos da LDB 9.394/96 para o sistema educacional brasileiro A LDB-9394/96 tem como objetivo reafirmar a educação como sendo um dever da família e do Estado. Inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, estabelece como finalidade o pleno desenvolvimento do educando e seu preparo para o exercício da cidadania, além da sua qualificação para o trabalho. A LDB visa organizar a estrutura da educação brasileira e influenciar diretamente a formação escolar e acadêmica, normatizando e direcionando a educação brasileira. A valorização profissional do professor é mencionada na LDB 9394/96, no seu artigo 67: Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim; III - piso salarial profissional; IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho; V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; VI - condições adequadas de trabalho. (BRASIL, 1996) Para se manter viva e ativa até hoje, a LDB precisou ultrapassar barreiras governamentais e contou com o reforço de mecanismos como o Plano Nacional de Educação (PNE), que define metas e objetivos a serem Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/2rpZX8D 24 alcançados a cada 10 anos. “De um ponto inicial de nenhuma informação sobre aprendizado de estudantes em 1994, os governos FHC e Lula sistematicamente construíram um dos mais impressionantes sistemas do mundo para medir resultados educativos”, escrevem os pesquisadores Barbara Bruns, David Evans e Javier Luque no estudo Achieving World- Class Education in Brazil, publicado pelo Banco Mundial há cinco anos. Segundo os autores, entre 1990 e 2010, a evolução na escolaridade da população do Brasil cresceu a um ritmo mais rápido que o da China. Depois do acesso, os maiores desafios para o país, ainda de acordo com eles, seriam a qualificação dos professores, o desenvolvimento das crianças mais vulneráveis e a melhoria da qualidade do Ensino Médio. Temas que seguem bastante presentes no debate no fim de 2016 (SOARES; BERNARDO, 2016). Considerar a valorização profissional do professor é fundamental, visto que se trata de um agente principal de transformação da educação e possibilita oferecer um serviço de qualidade. Portanto, diante do que está sendo apresentado e analisado, observa-se que o sistema jurídico apresentado pela LDB valoriza, especialmente, a construção da cidadania através do instrumento educacional. Dessa maneira, para que isso ocorra, faz-se necessário que estes valores estejam devidamente inseridos nos objetivos centrais da educação básica, como é o caso da transversalidade do currículo escolar. A partir da nova LDB, promulgada em particular com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), ficou explicitado, para todas as instituições de ensino, o reconhecimento da importância do ensino e da aprendizagem dos valores na educação escolar.Doutra sorte, o Conselho Nacional de Educação (CNE), ao estabelecer as diretrizes curriculares para a Educação Básica, deu um caráter normativo à inserção e integralização dos conteúdos da educação em valores nos currículos escolares. A ideia de que a educação em valores permeia os dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional pode ser observada à primeira leitura do art. 2º, que, ao definir a educação como dever da família e do Estado, afirma que aquela é inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tendo por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (MARTINS, s.d.) Políticas Públicas e Educação 25 As políticas públicas influenciando no processo de avaliação Desde a década e 1920 é possível registros da luta de educadores em torno da qualidade, originando a fundação da Associação Brasileira de Educação (ABE). Em 1932, essa luta desencadeia o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, tendo como principais representantes educadores Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho. Esse movimento defendia a democratização das oportunidades educacionais e a garantia de uma educação de qualidade a todos os cidadãos. Entre 1950 e 1960, foi promovida a Campanha em Defesa da Escola Pública, mais tarde ocorreu as Conferências Brasileiras de Educação e o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública. Todos esses episódios têm em comum o fato de os educadores se unirem em defesa da universalização do acesso à educação básica, a igualdade de oportunidades para estudantes e a qualidade da educação. A partir de 1980, houve maior participação social nas discussões sobre educação, permitindo novas ações que visam ampliar o controle social por meio de índices, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), alcançado por escolas, municípios e estados. Como relata Salviani: [...] O que confere caráter diferenciado ao Ideb é a tentativa de agir sobre o problema da qualidade do ensino ministrado nas escolas de educação básica, buscando resolvê‐lo. E isso veio ao encontro dos clamores da sociedade diante do fraco desempenho das escolas à luz dos indicadores nacionais e internacionais dos alunos. Esses clamores adquiriram maior visibilidade com as manifestações daquela parcela social com mais presença na mídia, em virtude de suas ligações com a área empresarial. Tal parcela só mais recentemente vem assumindo a bandeira da educação, em contraste com os educadores, que apresentam uma história de lutas bem mais longa. (SALVIANI, 2009, p.31) O Governo Federal, visando ofertar uma educação de qualidade, institui a criação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Políticas Públicas e Educação 26 Por meio do Saeb, o Governo institui o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) como indicador de qualidade da educação básica. Em meio à importância das avaliações externas como forma de avaliação da qualidade do ensino no Brasil e responsabilização sobre os resultados, encontramos três gerações de avaliação na educação. A primeira geração consiste na avaliação diagnosticada como qualidade da educação sem atribuição de consequências diretas para as escolas e para o currículo escolar, está relacionada com a criação do Saeb, que se constitui como o principal sistema de avaliação da educação básica. Conforme argumenta Bonamino e Sousa (2012 p.376) Ainda que a elaboração dos testes leve à definição do que deve ser considerado fundamental em termos de aprendizagem escolar e, portanto, do que todos os alunos deveriam saber e ser capazes de fazer ao final de determinados ciclos de escolarização, por ser de base amostral, o Saeb apresenta baixo nível de interferência na vida das escolas e no currículo escolar. (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 376) O Saeb, principal sistema de avaliação da qualidade da educação básica, é um sistema de avaliação que ocorre a cada dois anos, com uma amostra de alunos regularmente matriculados no último ano dos ciclos I e II do ensino fundamental e o terceiro ano do ensino médio, de escolas públicas e privadas localizadas em área urbana e rural. As outras duas gerações articulam com os resultados das avaliações às políticas de responsabilização, com atribuições de consequências simbólicas ou materiais para os agentes escolares. A segunda geração de avaliação da educação é marcada pela criação do Prova Brasil, que, conforme apontam Bonamino e Sousa (2012), além de diagnosticar a realidade educacional, gera consequências brandas para professores e escolas, consequências essas situadas no nível simbólico. Os resultados são divulgados e relacionados com o trabalho da escola. A criação da Prova Brasil foi efetivada pelas limitações do desempenho amostral do Saeb em retratar as especificidades de municípios e escolas e induzindo a criação de políticas públicas, que não condiz com a realidade. Políticas Públicas e Educação 27 A Prova Brasil ocorre a cada dois anos, permitindo produzir informações a respeito do ensino oferecido nas escolas, com o objetivo de auxiliar os governantes nas decisões sobre a educação, além de estabelecer metas e ações pedagógicas visando a qualidade do ensino. SAIBA MAIS: No sentido de compreender um pouco melhor os objetivos e a importância da Prova Brasil no sistema educacional brasileiro, indica-se assistir ao vídeo intitulado de #educa 31 - O que é a Prova Brasil? do ano de 2017, que pode ser acessado aqui. A terceira geração de avaliação da educação externa centraliza- se na responsabilização e nas consequências simbólicas e até mesmo materiais. Conforme relata Bonamino e Sousa, Cada escola terá metas definidas a partir da sua realidade, e terá que melhorar em relação a ela mesma. As escolas com desempenho insuficiente terão apoio pedagógico intensivo e receberão incentivos especiais para melhorarem seu resultado. As equipes escolares que cumprirem as metas ganharão incentivos na remuneração dos profissionais. (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 381) Em 1996, em São Paulo, foi implementando, o Sistema de Avaliação Rendimento Escolar de São Paulo (Saresp), uma avaliação que ocorre todo ano com o objetivo de avaliar os programas para que possa se tomar decisões sobre a educação. Base Nacional Comum Curricular – As 10 competências gerais Com base no artigo 210 da Constituição Federal e reafirmado no artigo 26 da LDB, que abordam sobre a importância de se ter um currículo predeterminado, com conteúdos mínimos assegurados, se desenvolveu a BNCC. Políticas Públicas e Educação https://www.youtube.com/watch?v=72X1IeoefdE 28 Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. (BRASIL, 1988) Art. 26: “Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). (BRASIL 1996) A BNCC é um documento que define um conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos que devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica, e tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento. A BNCC deve ser orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam a formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. A BNCC passa a ser uma referência e integrar a política nacional da educação básica, alinhando políticas sobre a formação de professores, à avaliação e à elaboração de conteúdos educacionais.Contudo, a BNCC tem a função de unir as políticas educacionais, fortalecendo o regime de colaboração entre os governos, sejam eles municipais, estaduais ou o Governo Federal, favorecendo a qualidade efetiva da educação. De acordo com o documento ao longo da educação básica, deve possuir aprendizagens essenciais que visam assegurar aos estudantes o desenvolvimento de 10 competências gerais que garantam o desenvolvimento do educando. Na BNCC, as competências são definidas como: • Mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos). • Habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais). • Atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Políticas Públicas e Educação 29 As competências definidas pela BNCC consideram a educação uma importante fonte de valores, que possibilita estimular ações que visem contribuir para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana e justa, oferendo não apenas a igualdade, mas também as mesmas oportunidades a todos. A BNCC define como competências o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores importantes para o desenvolvimento intelectual, social e moral. São eles: 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre os mundos físico, social e cultural para entender e explicar a realidade (fatos, informações, fenômenos e processos linguísticos, culturais, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos e naturais), colaborando para a construção de uma sociedade solidária. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e inventar soluções com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Desenvolver o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar conhecimentos das linguagens verbal (oral e escrita) e/ou verbo-visual (como Libras), corporal, multimodal, artística, matemática, científica, tecnológica e digital para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e, com eles, produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano (incluindo as escolares) ao se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e se apropriar de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao seu projeto de vida pessoal, profissional e social, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. Políticas Públicas e Educação 30 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas e com a pressão do grupo. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de origem, etnia, gênero, idade, habilidade/ necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra natureza, reconhecendo-se como parte de uma coletividade com a qual deve se comprometer. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões, com base nos conhecimentos construídos na escola, segundo princípios éticos democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (BRASIL, 2017) Figura 9 - Os objetivos precípuos da BNCC Respeito Acolhimento Desenvolvimento Solidariedade Inclusão Fonte: Elaborado pela autora com base em BNCC (2017) As competências definidas pela BNCC visam o desenvolvimento pleno do educando, tornando-o apto a exercer suas atividades no ambiente escolar, na sociedade e no trabalho. Políticas Públicas e Educação 31 SAIBA MAIS: Entenda mais sobre a BNCC. Disponível aqui. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você viu as diretrizes e bases da educação, os objetivos da LDB, as políticas públicas que influenciam o processo de avaliação e a base nacional comum curricular e suas dez competências gerais. Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/2PwlZP2 32 Plano Nacional de Educação OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender o conceito do plano nacional de educação. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Plano Nacional de Educação – Entendendo o conceito Como já foi exaustivamente discutido no decorrer do presente estudo, o acesso à educação é um direito fundamental que se encontra devidamente estabelecido na Constituição Federal e, portanto, o poder público deve envidar esforços no sentido de garantir não apenas o acesso à educação de crianças e jovens, mas também para todas as demais pessoas que desejam estudar e, por alguma circunstância não conseguiu estar inserido no sistema educacional. Para além da garantia do acesso à educação para toda a sociedade, o poder público deve ainda, garantir que a prestação de serviços educacionais seja feita de maneira gratuita e revestindo-se de alta qualidade. Sendo assim, quando o poder público não cumpre com as diretrizes de acesso ao ensino de qualidade, a sociedade pode buscar mecanismos para responsabilização pelo descumprimento que está previsto, como observado anteriormente, na Constituição Federal. O PNE não é vinculado, a não ser por analogia, ao planejamento da ordem econômica. Trata-se de referência para o planejamento de um setor da ordem social – o setor educacional –, para o qual assume caráter de norma supra ordenadora, em consonância, mas não subordinada, a planos plurianuais. Esse parece ser o entendimento compatível com a EC nº 59/2009, uma vez que o PNE, plano decenal, conviverá com três PPAs. (BRASIL, 2014 p. 12) Políticas Públicas e Educação 33 Dessa maneira, sabendo da importância que a educação ocupa no cenário do desenvolvimento social do Brasil, durante muito tempo passou a ser discutido um instrumento que fosse capaz de abarcar todos os elementos essenciais para a sistematização adequada da educação brasileira e, nesse caso, identifica-se o PNE, também conhecido como Plano Nacional de Educação. Destaca-se que a maneira como o PNE foi devidamente estruturado, acabou por favorecer o reconhecimento de um documento democrático, com raízes sociais. Destaca-se que o Plano Nacional de Educação se tornou essencial para o desenvolvimento da educação no País e, no intuito de se obter bons resultados, foi definido que o PNE teria vigência de 10 anos, ou seja, funcionaria de 2014 a 2024. Em 26 de junho 2014, foi aprovado o PNE, a partir da Lei n.º 10.172/2001, com a finalidade de direcionar esforços e investimentos paraa melhoria da qualidade da educação no país. Esse plano estabelece diretrizes, metas e estratégias na área da educação para alcançar os objetivos que cada estado e município deve elaborar para planejamentos específicos considerando a situação real e as especificidades de cada região. A análise dos índices do PNE deve ser realizada a cada dois anos. Figura 10 - Aspectos do Plano Nacional de Educação PNE Sistematiza DirecionaIntegra Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2001) Sabendo que o Plano Nacional de Educação possui período de vigência específico, identifica-se, como observado anteriormente, a importância de se estabelecer objetivos específicos que, de acordo com o estabelecido no texto, é possível identificar 20 metas que vão desde a educação infantil até o ensino superior. Políticas Públicas e Educação 34 Ao analisar as questões apresentadas acima, destaca-se que as metas observadas no Plano Nacional de Educação propõem uma integração com temas importantes, como é o caso da educação inclusiva, plano de carreira de professores, educação de qualidade, universalização do ensino, acesso à educação, gestão e, por fim, o financiamento do projeto. Figura 11 - Os fundamentos do Plano Nacional de Educação PNE Direitos Humanos Desenvol- vimento Constituição Federal Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2001) Conforme observado anteriormente, o PNE se fundamenta especificamente em determinados pressupostos, para que seja possível cumprir as vinte metas estabelecidas no texto do plano. Conforme se observa abaixo, as metas encontram-se estabelecidas da seguinte maneira: • Universalizar até 2016 o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar a oferta educacional de forma que creches atendam no mínimo 50% da população de até 3 anos, e, até o último ano de vigência desta Lei, universalizar o atendimento da demanda manifestada por creche. • Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de 6 a 14 anos até quatro anos após a vigência desta Lei e garantir que pelo menos 85% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o quinto ano de vigência deste PNE, elevando esse percentual a 95% até o último ano. • Universalizar, até o quinto ano de vigência desta Lei, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar a taxa líquida de matrículas dessa faixa etária no ensino médio, alcançando-se 75% no quinto ano de vigência desta Lei e 90% no último ano de vigência. Políticas Públicas e Educação 35 As três metas iniciais propõem o acesso à educação, ou seja, estabelecem como objetivo que as crianças e jovens (de 4 a 17 anos), estejam não apenas matriculadas, mas especialmente cursando as suas respectivas séries. Afinal de contas, não adianta estar apenas matriculada, o importante é que se tenha rendimento escolar, pois só através da vivência educacional é que a realidade pode ser modificada. • No prazo de quatro anos de vigência deste PNE, assegurar a alfabetização de todas as crianças até o final do segundo ano do ensino fundamental. Essa meta especifica a questão da necessidade de se alfabetizar a criança em idade escolar. Isso remete às questões apresentadas anteriormente, pois não se trata apenas de estar matriculada, mas especialmente de se conseguir cumprir o objetivo da série que, no caso, é possibilitar que as crianças em idade escolar estejam devidamente alfabetizadas, ou seja, que tenham aprendido a ler e escrever em contexto. • Oferecer educação em tempo integral para 30%, no quinto ano deste PNE, e para metade, no último ano de sua vigência, dos alunos das escolas públicas de educação básica. No intuito de se retirar muitas crianças que são provenientes da escola pública da situação de vulnerabilidade, destacou-se a necessidade de se implementar o regime integral de ensino, onde as crianças e jovens estariam recebendo educação em tempo integral. • Fomentar a qualidade de ensino em todos os níveis, etapas e modalidades do ensino, assegurando a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem dos estudantes. Um dos pontos mais interessantes de toda esta questão é a qualidade da educação que está sendo apresentada, onde a proposta é melhorar o ensino em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino. O que se deseja, portanto, não é estar na escola por estar, ou ainda, que se ensine qualquer coisa, de todo jeito, mas essencialmente que a qualidade seja o foco principal de todo o sistema educacional. Políticas Públicas e Educação 36 • Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até o quinto ano de vigência deste PNE e, até o último ano, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 60% a taxa de analfabetismo funcional; ofertando vagas de educação de jovens e adultos para 50% da demanda ativa no quinto ano e 100% até o último ano deste PNE. A redução do analfabetismo é um ponto extremamente importante, pois no Brasil ainda é possível identificar uma grande quantidade de pessoas que se encaixam em pessoas que, mesmo tendo passado pela alfabetização, não conseguiram cumprir as metas estabelecidas no período e, portanto, mesmo sabendo ler e escrever, não conseguem desenvolver outras competências que decorrem da leitura e da escrita. Em situação semelhante ao analfabeto funcional, destaca-se o caso das pessoas que se encontram em plena condição de analfabetismo, ou seja, são aquelas pessoas que em momento algum da vida, conseguiram ter acesso à educação. • Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. • Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando que a rede pública corresponda, no quinto ano de vigência desta Lei, a 60% das matrículas e, no último ano de vigência desta Lei, a 80% do total de matrículas. No intuito de reduzir o impacto que pode ser observado a partir dos elementos apresentados anteriormente, o Plano Nacional de Educação possibilidade ainda que jovens e adultos que estejam fora da idade escolar (ensino fundamental e ensino médio) tenham acesso ao ensino de maneira a conseguir integrar com sua educação profissional e minimizar possíveis desafios que possam enfrentar no mercado de trabalho. • Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino, realizando Censo específico. Políticas Públicas e Educação 37 • Elevar a escolaridade média da população maior de 15 anos de idade, de modo a alcançar mínimo de 10 anos de estudo até o quinto ano de vigência desta Lei e 12 anos de estudo até o último ano de vigência desta Lei para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional. O PNE aborda também entre as 20 metas o direito à universalização do ensino aos sujeitos com deficiências e residentes em regiões rurais de diversas áreas do país, por meio das metas a seguir. Esta meta inova no sentido de possibilitar às crianças e jovens com deficiência, de estar inseridas no sistema educacional. Ao analisar esta meta é possível observar de maneira expressa, que existe uma valorização substancial da figura dos Direitos Humanos. Encontram-se metas voltadas para valorização dos profissionais da educação, essa valorização é crucial para que as outras metas sejam alcançadas. São elas: • Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de um ano de vigência deste PNE, política nacional de formação e valorização dos profissionais da educação,assegurado que, no quinto ano de vigência deste plano, 85% e, no décimo ano, todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura presencial, na área de conhecimento em que atuam. • Formar em nível de pós-graduação 35%, até o quinto ano, e 50% por cento dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos, a formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. • Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais da educação básica pública em todos os sistemas de ensino, tendo como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do art. 206, VIII, da Constituição Federal. Políticas Públicas e Educação 38 • Elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para, no mínimo, 85% do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 45% doutores. • Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 55 mil mestres e 20 mil doutores até o quinto ano de vigência desta Lei e 70 mil mestres e 30 mil doutores até o último ano. • Valorizar os profissionais do magistério das redes públicas da educação básica, a fim de equiparar a 80% ao final do quinto ano, e a igualar, no último ano de vigência deste PNE, o rendimento médio desses profissionais ao rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente. Figura 12 - Valorização do profissional da educação O que é valorização? Estrutura adequada Oportunidades Salário adequado Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil (2001) A valorização do profissional da educação é ponto essencial no processo de valorização do ensino, visto que a prestação de serviço educacional só ocorrerá adequadamente quando os profissionais estiverem sendo devidamente valorizados e isso quer dizer que o profissional deve ter apoio para concluir seus cursos de aperfeiçoamento e, por mais incrível que possa parecer, que todos os profissionais da educação tenham um curso superior, ou seja, observa-se que ainda é possível identificar profissionais no Brasil que trabalham com educação, mas não possuem o curso superior específico para o desenvolvimento do serviço. Políticas Públicas e Educação 39 Existem metas voltadas ao ensino superior, que será responsável pela formação dos futuros profissionais da educação e também diversos outros profissionais, que irão gerar renda e desenvolvimento socioeconômico para o país. No que se refere ao número de matrículas, o Plano Nacional de Educação apresenta elementos essenciais para toda a sociedade, de maneira que tem relação direta com o direito de acesso à educação. Dessa maneira, significa dizer que o poder público deve favorecer, ao máximo, a garantia do acesso à educação, sem se esquecer, contudo, da qualidade do ensino. • Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 60% e a taxa líquida para 40% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta e a participação pública nas matrículas de pelo menos 40% no quinto ano de vigência desta Lei e 60% no último ano de vigência desta Lei. No que se refere ao processo de gestão escolar, destaca-se a necessidade de se cumprir os critérios necessários que um gestor de uma instituição de ensino deve ter para conseguir cumprir as existências decorrentes da função. • Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar. • Ampliar o investimento público direto em educação pública, de forma a atingir, no mínimo, 10% do produto interno bruto no primeiro ano de vigência desta Lei, mantendo-se esse patamar ao longo da década, sendo que 80% dos investimentos públicos em educação devem ser revertidos para a educação básica e 20% para o ensino superior. Políticas Públicas e Educação 40 Figura 13 - Poder público e investimento O poder público: Investe Os estudantes: Têm acesso à educação de qualidade A sociedade: Se desenvolve Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2001) ACESSE: Observatório das Metas do Plano Nacional de Educação. Disponível aqui. No que se refere às estratégias que foram adotadas para o cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação, destaca-se o especificado por Bridje (2020 online) ao mencionar que as estratégias do MEC se destinam, essencialmente, ao cumprimento dos objetivos através da colaboração da União, dos Estados, do Distrito Federal e, por fim dos Municípios, no sentido de ampliar o acesso à educação e, garantir de maneira real a qualidade do ensino. O MEC adotou oficialmente algumas estratégias para assegurar que essas metas serão atingidas no tempo inicialmente previsto. Entre as estratégias estão a atuação em conjunto da União, Estados, Distrito Federal e Municípios para expandir o acesso a todos os níveis educacionais, ainda que a educação infantil seja responsabilidade do município e os ensinos fundamental e médio sejam oferecidos, via de regra, pelas redes estaduais. Para a educação infantil, a estratégia é expandir o acesso de vagas a todas as crianças, realizando parcerias entre diversas áreas do governo, como saúde e assistência social, para identificar crianças que ainda não estejam matriculadas. Neste caso, respeita-se o direito dos pais de decidirem sobre a frequência escolar de crianças de até 03 anos. Realidade similar é o atendimento a Portadores de Necessidades Especiais, que ainda deve ser expandido. (BRIDJE, 2020) Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/2E4lF4B 41 Após a análise das metas e dos objetivos, percebemos que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer em relação à educação, mas metas são importantes para que a educação brasileira se torne um aprendizado significante, contribuindo em mudanças sociais, emocionais e econômicas que a nossa sociedade necessita. IMPORTANTE: Ao final do decênio, em 2024, deverão ser traçadas novas metas. A pandemia de COVID-19 mostrou que a democratização do acesso à tecnologia pode estar entre as prioridades para a educação do país no futuro. Isto, no entanto, não dependerá apenas do setor público e da área de educação em si, mas também da iniciativa privada e dos segmentos de tecnologia da informação, telecomunicações, entre outros. (BRIDJE, 2020). RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você entendeu o conceito do plano nacional de educação. Políticas Públicas e Educação 42 Diretrizes Nacionais para a Educação Básica OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender as diretrizes nacionais para a educação básica, seu breve histórico e objetivos. Aprenderá também a organização curricular, as etapas da educação básica, da avaliação e a gestão democrática. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Breve histórico As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas que orientam o planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino da educação básica, fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). As DCNs têm origem na LDB de 1996, que assinala a necessidade de estabelecer diretrizes que irão nortear os currículos da educação básica. Art. 8º. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemasde ensino. IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum. (Brasil, 1996) Figura 14 - Os pressupostos das DCNs Constituição federal LDB DCNs Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (1996) Políticas Públicas e Educação 43 A criação das DCNs se faz importante para o desenvolvimento de políticas públicas que garantam o direito de todos ao acesso a uma educação de qualidade. I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Básica contidos na Constituição, na LDB e demais dispositivos legais, traduzindo-os em orientações que contribuam para assegurar a formação básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola; II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsidiar a formulação, execução e avaliação do projeto político-pedagógico da escola de Educação Básica; III – orientar os cursos de formação inicial e continuada de profissionais – docentes, técnicos, funcionários – da Educação Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federados e as escolas que os integram, indistintamente da rede a que pertençam. (Brasil, 2001) Figura 15 - A importância das DCNs DCNs Desenvolvimento Social Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2001) As DCNs se diferem dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), pois as DCNs são leis que fornecem as metas e os objetivos a serem buscados em cada curso, já os PCNs são apenas referências curriculares, não leis. Segundo o próprio documento: As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. São estas diretrizes que estabelecem a base nacional comum, responsável por orientar a organização, articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras. (BRASIL, 2013) Políticas Públicas e Educação 44 Figura 16 - DCNs versus PCNs DCNs PCNs Fonte: Elaborado pela autora (2021) As DCNs gerais para educação básica estabelecem bases para a educação infantil, ensino fundamental e médio, em que os sistemas federais, estaduais e municipais irão se orientar para promover um currículo integralizado. Segundo o CNE, as DCNs buscam ser uma referência curricular, para que todos tenham acesso a conhecimentos cientificamente elaborados e historicamente construídos, para isso as DCNs, estabelecem princípios norteadores para a escola desenvolver suas ações pedagógicas, são eles: 1. Princípios éticos – autonomia, responsabilidade e respeito. 2. Princípios políticos – direito e cidadania. 3. Princípios estéticos – criatividade, sensibilidade e variadas formas artísticas. Objetivos das Diretrizes Curriculares Nacionais A criação das DCNs é importante pela necessidade de políticas públicas educacionais que buscassem oferecer o direito a uma educação de qualidade. Essas diretrizes têm por objetivos: I – Sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Básica contidos na Constituição, na LDB e demais dispositivos legais, traduzindo-os em orientações que contribuam para assegurar a formação básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola; II – Estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsidiar a formulação, execução, e avaliação do Projeto Político Pedagógico da escola de Educação Básica; Políticas Públicas e Educação 45 III – Orientar os cursos de formação inicial e continuada de profissionais – docentes, técnicos, funcionários – da Educação Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federados e as escolas que os integram, indistintamente da rede a que pertençam. (BRASIL, 2013) As diretrizes buscam favorecer ao educando uma educação de qualidade, onde possa proporcionar o desenvolvimento integral do educando, tornando apto a atuar na sociedade. Organização curricular A organização curricular deve considerar o meio e as particularidades em que o ambiente escolar está inserido. Os conhecimentos escolares são as práticas socialmente construídas, e essas práticas se constituem no âmbito do currículo, considerando que: • As instituições universidades e centros de pesquisas são produtores de conhecimento. • Relacionados para o mundo do trabalho. • Promover no desenvolvimento tecnológico. • Desenvolver atividades desportivas e corporais. • Valorização artística. • Ao campo da Saúde. • Diversas formas de exercícios de cidadania. • Voltadas para os movimentos sociais. Segundo a LDB, os conteúdos curriculares da educação básica devem: I. Difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; II. Consideração das condições de escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento; III. Orientação para o trabalho; Promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais. (BRASIL, 1996) Políticas Públicas e Educação 46 Desse modo, os valores sociais direitos e deveres dos cidadãos devem constituir assuntos importantes para o currículo. Etapas da educação básica A LDB 9394/96 estrutura a educação básica por etapas e modalidades de ensino, são elas: Educação infantil • Creche de 0 a 3 anos e 11 meses. • Pré-escola de 4 a 5 anos. • Duração de dois anos. Ensino fundamental • Obrigatório e gratuito. • Duração de nove anos, é organizado em duas fases: Ensino fundamental I (com duração de cinco anos) – anos iniciais; Ensino fundamental anos finais (com duração de quatro anos). Ensino médio • Duração de três anos. Modalidades da educação básica Na oferta de cada etapa, pode corresponder uma ou mais modalidades de ensino. São elas: • Educação de jovens e adultos (EJA). • Educação especial. • Educação profissional e tecnológica. • Educação básica do campo. • Educação escolar indígena. • Educação escolar quilombola. • Educação a distância (EaD). Políticas Públicas e Educação 47 Dentro de cada modalidade encontra-se uma diretriz curricular que norteia o currículo. Além dessas diretrizes curriculares para as modalidades citadas acima, no novo documento das DCNs para educação básica encontra-se: • DCNs para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. • DCNs para a educação em Direitos Humanos. • DCNs para a Educação Ambiental. ACESSE: Entenda mais sobre as DCNs. Disponível aqui. Avaliação na educação básica A avaliação no ambiente escolar compreende três dimensões básicas: • Avaliação da aprendizagem. • Avaliação institucional interna e externa. • Avaliação de redes de educação básica. É nessas diretrizes que baseia-se a concepção de educação que fundamenta as dimensões da avaliação e das estratégias didático- pedagógicas a serem utilizadas em todas as unidades escolares e no sistema de ensino educacional. No texto da LDB, a avaliação da aprendizagem na educação básica é norteada pelos artigos 24 e 31, que se complementam, definindo que a avaliação será de acordo com as regras comuns. Art. 24 V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/38tHhVR 48 quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimentoescolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013). (BRASIL, 1996) O CNE orienta que a avaliação da aprendizagem escolar deve ser pautada na avaliação de caráter formativo, em que deve predominar os valores qualitativos sobre os quantitativos, eliminando o caráter classificatório. Figura17 - Avaliação da aprendizagem escolar Caráter formativo Valores qualitativos Fonte: Elaborado pela autora (2021). A este respeito, é preciso adotar uma estratégia de progresso individual e contínuo, que favoreça o crescimento e considere a evolução de cada estudante, preservando a qualidade necessária para sua formação escolar. Gestão democrática A organização do trabalho escolar deve ser desenvolvida baseada na democracia, favorecendo que todos que compõem o ambiente escolar possam contribuir para a tomada de decisão. Políticas Públicas e Educação 49 O ambiente escolar deve ser um espaço que promova o diálogo e o desenvolvimento democrático. Conforme exposto pela LDB, os sistemas de ensino terão a incumbência de: Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009) VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. (Incluído pela Lei nº 10.287, de 2001) VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei; (Redação dada pela Lei nº 13.803, de 2019) Políticas Públicas e Educação 50 IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018). (BRASIL, 1996) Figura 18 - Pressupostos da gestão democrática Espaço inclusivo Solidário Participativo Equitativo Fonte: Elaborado pela autora (2021). Conforme observamos no artigo 12, a escola deve articular com a família, e essa articulação é importante para que todos devam participar das decisões, sejam elas quais forem. Para que a gestão escolar cumpra o papel que cabe à escola, os gestores devem proceder a uma revisão de sua organização administrativa e pedagógica, a partir do tipo de cidadão que se propõe a formar, o que exige compromisso social com a redução das desigualdades entre o ponto de partida do estudante e o ponto de chegada a uma sociedade de classes. Políticas Públicas e Educação 51 SAIBA MAIS: Entenda mais sobre as diretrizes curriculares da educação básica. Disponível aqui. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você viu as diretrizes nacionais para a educação básica, seu breve histórico e objetivos. Aprendeu também a organização curricular, as etapas da educação básica, da avaliação e a gestão democrática. Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/2PwUwMV 52 REFERÊNCIAS BONAMINO, A. & SOUZA, S. Z. Três gerações de Avaliação da Educação Básica no Brasil: Interfaces com o currículo da/na escola. Educação e Pesquisa, São Paulo, V. 38, p. 373-388, Abril/Junho, 2012. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://bit.ly/2EBWWYJ. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, DF, 2014. Disponível em: https://bit.ly/2YzJTkI. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Conselho Nacional da Educação. Diretoria de Currículos e Educação Integral. – Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. BRASIL. Resolução CNE/ CP nº 2, de 22 de Dezembro de 2017. Institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular, a ser respeitada obrigatoriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica. Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação. Disponível em: https://bit.ly/2YCZHTE. Acesso em 19 jan. 2021. CARNOY, M. Mundialização e Reforma na Educação. Brasília: UNESCO, 2002. CARVALHO, D. P. de C. A nova lei de diretrizes e bases e a formação de professores para a educação básica. 1998. Disponível em: https://bit.ly/3iMsH2v. Acesso em 01 out. 2021. Políticas Públicas e Educação 53 CASASSUS, J. A Escola e a Desigualdade. Brasília: Plano, 2002. HINGEL, M. LDB: Reflexões e caminhos. Brasília: INDEC, 1997. MARTINS, V. A Educação em Valores na Lei de Diretrizes e Bases. Construir notícias. 25 ed. [s.d.] Disponível em: https://bit.ly/3FDGSRg. Acesso em: 01 out. 2021. PATTO, M. H. S. O fracasso escolar. São Paulo: SE, 2004. Políticas Públicas e Educação Políticas Públicas e Educação Unidade 4 Financiamento da Educação Nacional Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria MARIA PAULA SILVA LIMA ALMEIDA AUTORIA Maria Paula Silva Lima Almeida Sou graduada em Administração de Empresas e Pedagogia, Mestra em gestão da educação, com uma experiência técnico-profissional na área de gestão de mais de 10 anos. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisaser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Financiamento da educação escolar .....................................................10 Conceito ................................................................................................................................................. 10 Programas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ..............................................................................................................20 Conceito ................................................................................................................................................ 20 Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) ............................................22 Programa Brasil Alfabetizado .................................................................................................23 Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) ............................................................24 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) ...............................................................25 Programa de Apoio ao Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (PEJA) .......................................................................................................................................................26 Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE) ..............................................26 Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) .....................................................27 Programa Nacional de Saúde do Escolar (PNSE)....................................................27 Organização ........................................................................................................................................27 Financiamento da educação profissional no brasil – contradições e desafios ...................................................................................................................................................28 Organização e financiamento da educação profissional de nível médio ......................................................................................................................30 Organização ....................................................................................................................................... 30 Organização e financiamento do ensino superior............................40 Organização e estrutura do ensino superior .............................................................. 40 Financiamento do ensino superior no Brasil ...............................................................42 7 UNIDADE 04 Políticas Públicas e Educação 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade, trataremos o conceito e histórico do financiamento da educação escolar. Em especial, o Fundeb – Lei 11.494/2007 e o parecer CNE/CBE – 07/2008, que tratam sobre as verbas federias na educação básica. Para falar sobre “financiamento”, abordaremos sobre todos os “programas” que envolvem o Fundeb, seus conceitos e destinos. Trataremos, também, da organização e financiamento da educação profissional em nível médio, suas contradições e desafios, e, para finalizar, falaremos da organização e do financiamento do ensino superior educacional brasileiro. Políticas Públicas e Educação 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à nossa Unidade 4, o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar as linhas e fundos de financiamento da educação escolar. 2. Compreender os fundamentos e a aplicabilidade dos programas do FNDE. 3. Entender a organização da educação profissional em nível médio no Brasil e identificar os financiamentos que a mantêm. 4. Discernir sobre a organização da educação superior pública no Brasil e identificar os financiamentos que mantêm essa modalidade. Então, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Políticas Públicas e Educação 10 Financiamento da educação escolar OBJETIVO: Ao final desta unidade você irá compreender um pouco melhor as questões relacionadas ao financiamento da educação escolar. Sugere-se uma análise a partir do que compreende o instrumento como sendo a capacidade de gerir financeiramente algo ou alguma coisa. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Conceito No caso do Brasil, a educação recebe financiamentos que podem decorrer tanto de recursos públicos, de empresas privadas e, ainda, dos próprios cidadãos. A referida questão encontra-se devidamente estabelecida na Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, mais especificamente no artigo 68º do capítulo VI, que se encontra apresentado da seguinte maneira: Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os originários de: I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - receita de transferências constitucionais e outras transferências; III - receita do salário-educação e de outras contribuições sociais; IV - receita de incentivos fiscais; V - outros recursos previstos em lei. (BRASIL, 1996) Políticas Públicas e Educação 11 Figura 1 - Recursos públicos e educação Financiamento Estados MunicíposUnião Distrito Federal Fonte: Elaborado pela autora (2021). Ainda em se tratando de distribuição de recursos para a educação, observa-se que no caput do artigo 69º da Lei 9.394/96 se encontram especificados alguns percentuais de aplicação das receitas financeiras que são arrecadas através dos impostos. Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na manutenção e desenvolvimento do ensino público. (BRASIL, 1996) Figura 2 - Percentuais de distribuição Distrito Federal Estados Municípios União 25%18% Fonte: Elaborado pela autora (2021). Políticas Públicas e Educação 12 Além do mais, deve ser destacado que os percentuais direcionados por cada sujeito de direito são elementos de extrema importância para o favorecimento da educação pública no Brasil de maneira que, em caso do não repasse ou ainda do próprio atraso, os representantes do poder público que teriam a responsabilidade de fazer a ação, mas não o fazem, poderiam ser responsabilizados civil e criminalmente, conforme estabelece o § 6º do já mencionado artigo 69º da LDB, que se encontra disposto da seguinte maneira: O atraso da liberação sujeitará os recursos à correção monetária e à responsabilização civil e criminal das autoridades competentes. (BRASIL, 1996) Por isso, sabendo que a destinação dos recursos públicos é um direito expressamente garantido por lei e ainda, no intuito de se evitar o extremo da responsabilização apresentado acima, o Ministério da Educação se torna o órgão competente para direcionar a maneira como as verbas deverão ser utilizadas. Figura 3 - Direcionamento dos recursos públicos Ministério da Educação define a destinação dos recursos As instituições recebem os recursos As instituições aplicam os recursos de acordo comas diretrizes estabelecidas Fonte: Elaborado pela autora (2021). Portanto, para que seja possível a utilização adequada dos recursos direcionados pelo poder público a partir das definições do Ministério da Educação, a Lei ainda apresenta a maneira como os Estados, Municípios e Distrito Federal devem trabalhar de maneira colaborativa nos assuntos Para que isso ocorra, foi implementado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), em que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão destinar pelo menos 15% dos impostos para manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental. Políticas Públicas e Educação 13 Figura 4 - FUNDEF e os recursos públicos FUNDEF FPM FPEICMS IPIExp Fonte: Elaborado pela autora (2021). Em 1551, no Brasil Colônia, a educação formal pública era de responsabilidade dos jesuítas, e os representantes da Companhia de Jesus eram os responsáveis pelas escolas. Em meados do século XVIII, os jesuítas foram expulsos, e o governo de Portugal ficou responsável pela educação no Brasil. Nessa época, a educação era custeada por meio de um novo tributo que os próprios brasileiros contribuíam chamado de “Subsídio Literário”. A Constituição Brasileira de 1934, no artigo 150, declarava ser competência da União a fixação de um plano nacional de educação que contemplasse todos os graus e modalidades de ensino, bem como coordenasse e fiscalizasse sua execução. Neste artigo, ficou estabelecido que a União destinasse 10% de seus impostos para a educação, os Estados e o Distrito Federal 20%, e para o ensino das zonas rurais, a União destinaria 20% das cotas anuais de educação. Em 1946, na Carta Magna, ficou estabelecido que a União aplicasse, anualmente, pelo menos 10%, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pelo menos de 20% da renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino (BRASIL, 2006). Políticas Públicas e Educação 14 As porcentagens sofreram modificação com a Lei de Diretrizes e Bases de 1961 (LDB - Lei 4.024/61), que previa que a União aplicaria 12%, enquanto os Estados, o Distrito Federal e os municípios 20%, no mínimo, de sua receita de impostos. A Lei estabelecia que caso os Estados, o Distrito Federal e os municípios não aplicassem a porcentagem prevista na Constituição, não poderiam solicitar auxílio da União para esse fim. Entre 1962 e 1970, foi elaborado o Plano de Educação como consequência do regime militar de 1964. Encontramos nessa época foco na centralização, burocracia e autoritarismo prevalecendo uma concentração de poder na União enfraquecendo os governos estaduais e municipais nas decisões relacionadas a educação. Esse modelo centralizador e autoritário foi reproduzido pelas secretarias e órgãos da educação de estados e municípios, contribuindo para a ineficiência da gestão educacional do país. Em 1964, pela Lei 4.440, criou-se outra fonte importante de financiamento, o “salário-educação”, destinado somente ao ensino fundamental público. Baseando-se nisso, Callegari (2008) afirma que, na Emenda Constitucional de 1969, a vinculação de recursos ficou limitada aos municípios e a União, que já vinha descumprindo o dispositivo da antiga LDB, ficou liberada de qualquer obrigação. Essa desvinculação de recursos foi desastrosa para a educação. Em 1983, foi aprovada a Emenda Calmon, que previa a aplicação de 13% pela União e 20% pelos Estados, Distrito Federal e Municípios da receita proveniente de impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino. A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 dividem as competências e responsabilidades entre a União, os Estados e os Municípios, o que também se aplica ao financiamento e manutenção dos diferentes níveis da educação e do ensino. No entanto, essa forma de organização não indica, necessariamente, que o sistema educacional brasileiro seja plenamente descentralizado. A descentralização da gestão vem se constituindo em um grande desafio, visando a consolidação da Políticas Públicas e Educação 15 dinâmica federativa do Estado brasileiro e à democratização do poder e dos processos decisórios nas suas diferentes estruturas organizacionais. Na Constituição de 1988, ficou estabelecido que a União aplicasse, na manutenção e desenvolvimento do ensino, no mínimo, 18%, os Estados, o DF e os municípios 25% da receita resultante de impostos, incluindo a proveniente de transferências. Com a reforma tributária de 1988, o Estado não conseguiu arcar com as despesas para manter a própria rede, o que foi um impulso à municipalização do ensino Fundamental, pois assim, aliviaria a manutenção deste nível de ensino. De acordo com Callegari (2008), após oito anos da Constituição de 1988, em 1996, a taxa de escolarização era de 90,8%, faltando cerca de três milhões de matrículas em relação à almejada universalização do ensino fundamental em idade própria. Em 1996, foi criado o FUNDEF — Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Lei 9.424, de 24 de dezembro de 1996) no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, constituído de 15% das receitas provenientes de impostos e transferências, para distribuição entre o Estado e seus municípios, proporcionalmente às matrículas no ensino Fundamental, focando na municipalização do ensino fundamental (BRASIL, 1996). O Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental — FUNDEF foi responsável pela redistribuição da receita arrecadada pelos municípios e estados de alguns impostos (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços — ICMS, Fundo de Participação dos Municípios — FPM, Fundo de Participação dos Estados — FPE, Imposto dobre Produtos Industrializados, proporcional as exportações — IPI exportação) para o desenvolvimento do ensino fundamental. No entanto, esse fundo não trouxe grande novidade, cuidou apenas para a distribuição igualitária de 15% dos recursos arrecadados distribuídos por número de alunos matriculados no ensino fundamental. Esse fundo vigorou de 1998 a 2006, era um fundo de subvinculação das receitas da educação, dos 25% da receita vinculada, 60% eram destinado ao ensino fundamental. Políticas Públicas e Educação 16 Com a criação do FUNDEF, iniciou-se o processo de descentralização na educação, os municípios, visando não perder as receitas advindas do ensino fundamental, passaram a ter a responsabilidade sobre esse sistema de ensino. Em 2006, o FUNDEF com poucas modificações, foi substituído pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB, uma das mudanças desse fundo era que 20% dos recursos eram distribuídos pelo número de matrículas no ensino básico, ou seja, desde a educação infantil até o ensino médio e não somente no ensino fundamental, como no FUNDEF. Outra mudança foi a ampliação dos impostos para compor esse fundo e acrescentou-se o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação – ITCMD, Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, Imposto sobre Renda e Proventos incidentes sobre rendimentos pagos pelos municípios, Imposto sobre Renda e Proventos incidentes sobre rendimentos pagos pelos estados, cota de 50% do Imposto Territorial Rural – ITR devida aos municípios. Esses programas têm por objetivo obter recursos para as escolas públicas de educação básica das redes federal, estadual e municipal para ampliarem o desenvolvimento de atividades educativas. O recurso financeiro é algo diretamente relacionado à qualidade da educação, e, ao analisar o financiamento educacional, o grande problema talvez não esteja na pouca arrecadação, mas sim na forma que esses recursos são distribuídos e aplicados. A população deve participar ativamente das decisões em relação à educação, reivindicando seus direitos, participando das discussões e fiscalizando os gastos com a educação, para que possacontribuir para efetiva melhorar da educação brasileira. Ainda sobre a Lei nº 11.494, implementada em 2007 que regulamenta o FUNDEB é importante destacar alguns pontos importantes sobre o seu funcionamento: Políticas Públicas e Educação 17 • Será instituído para cada Estado e Distrito Federal um fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica e valorização profissional. • Aplicação de no mínimo de 25% (vinte e cinco por cento) desses impostos em favor da manutenção e desenvolvimento do ensino. • A distribuição de recursos será proporcional ao número de alunos matriculados nas respectivas redes de educação básica pública presencial. • As instituições devem oferecer igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e atendimento educacional gratuito a todos os seus alunos. • A instituição sem fins lucrativos deve comprovar finalidade não lucrativa e aplicar seus excedentes financeiros em educação. • Atender a padrões mínimos de qualidade. A lei do FUNDEB foi um importante avanço para a destinação de recursos com foco na educação, no entanto, a partir da lei deve-se investir em políticas públicas para o desenvolvimento na prática da destinação correta dos recursos e para efetiva ampliação da qualidade e acesso à educação. ACESSE: Conheça a Lei do FUNDEB na íntegra. Disponível aqui. Ainda no que se refere ao processo de destinação dos recursos financeiros do FUNDEB, destaca-se que o processo é realizado a partir da quantidade de alunos que são identificados na educação básica que foram cadastrados no censo escolar que deve ser realizado sempre no ano escolar anterior. No que se refere ao processo de aperfeiçoamento do FUNDEB, no ano de 2021 foi estabelecido um aumento nos valores do repasse, cujo objetivo é que até o ano de 2026 o valor atinja 23%. De acordo com os Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/2P8kcAE 18 novos cálculos que se destinam ao novo FUNDEB, 70% deve ser utilizado para o pagamento aos profissionais da Educação Básica, diferente do percentual antigo que era de 60% para os profissionais que ocupavam o magistério. Agora, pelo menos 70% dos valores do Fundo devem ser investidos no pagamento de profissionais da Educação Básica. No antigo modelo, o percentual mínimo era de 60% e abarcava apenas os profissionais do magistério. O novo Fundeb também traz um reforço no monitoramento feito pela sociedade, ao ampliar o número de integrantes dos conselhos de acompanhamento e controle social, os chamados Cacs-Fundeb. (BRASIL, 2021) REFLITA: Sobre a importância do FUNDEB para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do sistema educacional brasileiro, indica- se a leitura do artigo de opinião intitulado de: O que é e como funciona o FUNDEB? Que pode ser acessado aqui. A lei educacional brasileira garante também que os recursos públicos devem ser destinados às escolas públicas e poderão ser direcionados também para escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas que não tenham finalidades lucrativas, que transfere seu patrimônio para outra escola comunitária caso encerre suas atividades e prestem contas ao poder público recebido. A qualidade da educação é a uma preocupação nacional e devido à grande diversificação do sistema, o Ministério tem buscado proporcionar um detalhamento sobre as fontes de recursos disponíveis para o financiamento da educação profissional, como forma de articular e integrar os sistemas. Em busca de melhorar a educação, a legislação destina 10% do Produto Interno Bruto (PIB), para a educação. Esse investimento visa melhorar os índices relacionados à qualidade da educação. Contudo, a participação de toda a sociedade principalmente pais, professores e gestores é crucial para a correta aplicação dessa verba, pois, por meio de um processo democrático, todos podem opinar sobre a correta destinação do recurso, de modo que seja utilizado favorecendo a aprendizagem e contribuindo para equidade educacional. Políticas Públicas e Educação https://todospelaeducacao.org.br/noticias/perguntas-e-respostas-o-que-e-e-como-funciona-o-fundeb/ 19 ACESSE: Para saber mais sobre de onde vem e para onde vai os financiamentos educacionais leia Por dentro da Grana. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você viu definições gerais sobre financiamento, para que em seguida, fosse possível compreender a relação do financiamento no âmbito da educação. Em seguida, foi possível compreender o que é FUNDEB e FUNDEF e sua importância para a educação brasileira. Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/35cgGdV 20 Programas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação OBJETIVO: Ao final deste capítulo você entenderá o que é o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE que tem como principal objetivo prover recursos e ações para o desenvolvimento da educação, visando garantir um ensino de qualidade a todos os brasileiros. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Conceito O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação — FNDE tem como principal objetivo prover recursos e ações para o desenvolvimento da educação, visando garantir um ensino de qualidade a todos os brasileiros. Seus recursos são direcionados aos estados, ao Distrito Federal, aos municípios e às organizações não governamentais, para atendimento às escolas públicas de educação básica. Ainda no que se refere ao objetivo principal do FNDE, observa-se o especificado pelo FNDE onde se destaca sua atuação inovadora no processo de utilização dos recursos públicos que se destinam à educação. Figura 5 - FUNDEF e os recursos públicos FUNDEF arrecada recursos FUNDEF repassa recursos para estados e municípios FUNDEF garante a implementação e o funcionamento de programas educacionais Fonte: Elaborado pela autora (2021). Políticas Públicas e Educação 21 De acordo com o que é apresentado na figura acima, destaca-se que o FNDE se torna uma instituição de referência no cenário nacional e, portanto, essencial para o direcionamento adequado dos programas que se destinam à implementação da educação brasileira, pois a administração do processo de execução no âmbito da implementação dos recursos fica a cargo do FNDE. Nesse sentido, Baião (2021) destaca que: De modo geral, a tarefa do FNDE consiste em arrecadar e repassar recursos para estados e municípios brasileiros, de forma a garantir a implementação e/ou funcionamento de importantes programas educacionais – entre os quais o FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). (BAIÃO, 2021) Como órgão administrador dos fundos educacionais no sistema brasileiro, destaca-se que o FNDE financia vários programas e fundos existentes no Brasil, como é o caso dos seguintes programas: • FUNDEB. • FIES. • PNAE. • PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO. • PNLD. • PDDE. • PEJA. • PNATE. • PNBE. • PNSE. Políticas Públicas e Educação 22 SAIBA MAIS: No intuito de aprofundar as informações sobre a importância do FNDE para o sistema governamental brasileiro, destaca- se o artigo de opinião cuja autoria é de: FNDE e ainda, intitulado de “Presidente do FNDE reforça a importância dos trabalhos da autarquia em encontro com servidores e colaboradores”, que pode ser acessado através do link disponível aqui. Vejamos no próximo tópico, de maneira pormenorizada, as informações relacionadas com os programas e fundos apresentados acima. Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) Em 1954, foi criado o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), cujo objetivo é transferir recursos financeiros para os estados e municípios no processo de realização de compra de gêneros alimentícios, garantindoa alimentação escolar dos alunos de educação infantil e do ensino fundamental, inclusive os das escolas indígenas. Nesse sentido, de acordo com o PNAE, o programa se destinará ao favorecimento da alimentação escolar e, por isso, o poder público federal tem a responsabilidade de repassar aos Estados, escolas federais e Municípios determinados valores financeiros, mas em caráter suplementar, divididos em dez parcelas mensais, para conceder suporte alimentar aos estudantes. De acordo com o FNDE os valores atuais que são repassados para o poder público, de acordo com cada necessidade específica, são os seguintes: • Creches: R$ 1,07 • Pré-escola: R$ 0,53 • Escolas indígenas e quilombolas: R$ 0,64 Políticas Públicas e Educação https://www.fnde.gov.br/index.php/acesso-a-informacao/institucional/area-de-imprensa/noticias/item/13265-presidente-do-fnde-refor%C3%A7a-a-import%C3%A2ncia-dos-trabalhos-da-autarquia-em-encontro-com-servidores-e-colaboradores. 23 • Ensino fundamental e médio: R$ 0,36 • Educação de jovens e adultos: R$ 0,32 • Ensino integral: R$ 1,07 • Programa de Fomento às Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral: R$ 2,00 • Alunos que frequentam o Atendimento Educacional Especializado no contra turno: R$ 0,53 Figura 6 - Recursos do PNAE Censo escolar realizado Repasse direto aos Estados e Municípios Fiscalização pela sociedade, conselhos de alimentação, FNDE, TCU, CGU e MP Fonte: Elaborado pela autora (2021). Programa Brasil Alfabetizado O Programa Brasil Alfabetizado visa a universalização do ensino fundamental e a superação do analfabetismo entre os jovens a partir de 15 anos, reconhecendo a educação como direito humano de todos. Seus recursos são destinados à capacitação de professores por meio de parcerias com estados, municípios, universidades, empresas privadas, organizações não governamentais e da sociedade civil de interesse público. Nesse sentido, o programa Brasil Alfabetizado é um processo de favorecimento da construção da cidadania através do aperfeiçoamento do serviço escolar. Políticas Públicas e Educação 24 Dessa maneira, percebe-se que o programa objetiva a superação do analfabetismo para os indivíduos com idade superior a 15 anos e é justamente por isso, que o fundamento do presente programa são os Direitos Humanos. Figura 7 - Fundamentos do Brasil Alfabetizado Direitos Humanos/Direito à educação Brasil Alfabetizado Superação do Analfabetismo Fonte: Elaborado pela autora (2021). Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) tem como objetivo proporcionar um material didático (livros) de qualidade gratuitamente para as escolas das redes federal, estadual e municipal e as entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado. Esse programa abrange todo o ensino fundamental público, inclusive a alfabetização e o ensino médio. As editoras cadastram suas obras no MEC para serem analisadas segundo critérios pedagógicos e depois de aprovadas quando o MEC realiza o lançamento dessas obras. Desdobrando o significado da sigla PNLD, temos: • P – programa, por se tratar de um documento que expõe intenções governamentais. • N – nacional, por seu caráter de abrangência — todo o Brasil. • L – livro (e do material), que são os materiais físicos e digitais distribuídos pelo programa. • D – didático, pela função educativa dos materiais. Políticas Públicas e Educação 25 O Ministério da Educação (MEC) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) são os órgãos responsáveis pela realização do PNLD. São eles que avaliam, compram e distribuem, junto aos Correios, as obras didáticas às escolas públicas. A existência do PNLD justifica-se pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), elaborada em 1996, que garante a distribuição de material didático como parte do dever do Estado com a educação escolar pública. ACESSE: Entenda mais sobre o PNLD. Disponível aqui. Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) foi criado em 1995 e destina recursos para aquisição de material permanente, de manutenção e de consumo necessários para manter o funcionamento da escola; capacitar e aperfeiçoar os profissionais da educação; avaliar a aprendizagem; implementar o projeto pedagógico; e desenvolver atividades educacionais. O valor destinado para cada escola é baseado no número de alunos matriculados no ensino fundamental ou na educação especial, indicados pelo Censo Escolar no ano anterior. Figura 8 - PDDE Assistência financeira suplementar Infraestrutura física Infraestrutura pedagógica Fonte: Elaborado pela autora (2021). Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/2P7udOv 26 IMPORTANTE: Conforme Resolução nº 6, de 27 de fevereiro de 2018, os repasses dos recursos dar-se-ão em duas parcelas anuais, devendo o pagamento da primeira parcela ser efetivado até 30 de abril e o da segunda parcela até 30 de setembro de cada exercício às EEx, UEx e EM que cumprirem as exigências de atualização cadastral até a data de efetivação dos pagamentos. O programa engloba várias ações que possuam finalidades e públicos-alvo específicos, embora a transferência e gestão dos recursos siga os mesmos moldes operacionais do PDDE. Programa de Apoio ao Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (PEJA) O Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (PEJA) tem como objetivo aumentar as matrículas do ensino fundamental e médio na educação de jovens e adultos (EJA) na modalidade presencial, é um meio de aquisição de livro didático, contratação de professores temporários e formação continuada de docentes. ACESSE: Leia mais sobre o PEJA. Disponível aqui. Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE) O Programa Nacional de Transporte Escolar transfere recursos financeiros aos Estados e Municípios para serem gastos com despesas relacionadas ao transporte escolar, de alunos da educação básica pública da zona rural. O PNATE tem como objetivo garantir o acesso e a permanência do acesso dos alunos da zona rural na escola. Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/2qFlUQt 27 Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) O Programa Nacional Biblioteca na Escola visa incentivar a leitura e o acesso a cultura de alunos, professores e a comunidade em geral. Por meio desse programa são distribuídos livros de literatura brasileira e estrangeira, infanto-juvenil, clássica, de pesquisa, de referência e outros materiais de apoio para instituições de ensino públicas. ACESSE: Entenda mais sobre o programa. Disponível aqui. Programa Nacional de Saúde do Escolar (PNSE) O Programa Nacional de Saúde Escolar (PNSE) foi criado em 1984 pelo Governo Federal com o objetivo de atender as necessidades de saúde da população escolar, principalmente em relação as dificuldades visual e auditiva dos alunos. O atendimento abrange as escolas das redes de ensino estadual e municipal em municípios brasileiros com mais de 40 mil habitantes, de acordo com a contagem populacional do IBGE. O PNSE oferece apoio financeiro às escolas públicas municipais para a aquisição e distribuição de óculos para os alunos da 1ª série do ensino fundamental que necessitem do acessório. Organização e financiamento da educação profissional de nível médio Organização Segundo a Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, a educação profissional abrange cursos, como a formação inicial e continuada, educação profissional técnica de nível médio e a educação profissional tecnológica de graduação e pós graduação. Políticas Públicas e Educação https://bit.ly/2E3v2By 28 A Educação profissional técnico de nível médio é articulada ao ensino médio e são organizados por eixos tecnológicos, que possibilitam os itinerários formativos flexíveis que visam favorecer o aproveitamento dos estudos e a experiência profissional.Financiamento da educação profissional no brasil – contradições e desafios O ensino técnico de nível médio está inserido na educação básica, sendo assim o investimento nessa etapa de ensino deverá ser ofertado pelo FUNDEB. Embora esteja inserida no FUNDEB, a falta de definição das fontes que ligarão o financiamento para o Ensino técnico nível médio, torna o financiamento uma situação muito complexa e inserta. As políticas de financiamento e de distribuição dos recursos em uma sociedade capitalista precisam ser estudadas e interpretadas, de acordo as suas especificidades de acordo com a realidade da sociedade que está inserida. Outro fator que dificulta o investimento na educação profissional de nível médio no Brasil e a disputa e rivalidade política, pois muitas vezes os políticos estão interessados se manterem no cargo, e não com a distribuição de recursos e tomada de decisões relacionados a educação que realmente serão necessárias a educação. Uma sociedade se desenvolve por meio da educação, e o ensino médio nível técnico poderia contribuir para o desenvolvimento da sociedade brasileira, seja socialmente e até mesmo economicamente, no entanto por interesses políticos o direito adquirido na Constituição Federal de 1988 do acesso de todos a uma educação de qualidade fica comprometido. Políticas Públicas e Educação 29 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você viu a retomada das definições gerais sobre financiamento para que se compreendesse como funcionam os programas do fundo nacional de desenvolvimento para a educação, também conhecido como FNDE. Políticas Públicas e Educação 30 Organização e financiamento da educação profissional de nível médio OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a organização e financiamento da educação profissional de nível médio. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Organização De acordo com o estabelecido pela Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, não há em seu texto uma indicação expressa da educação profissional e como esclarece Pacheco (2012 p.19), a referida lei apresenta um nível dual profissional e, portanto, este setor da educação é trabalhado de maneira paralela à educação regular. Na LDB a educação brasileira se encontra estruturada em dois níveis – educação básica e educação superior –, por não localizar a educação profissional em nenhum deles, o texto explicita e assume uma concepção dual em que a educação profissional é posta fora da estrutura da educação regular brasileira, considerada algo que vem em paralelo ou como um apêndice. (PACHECO, 2012 p.19) Entretanto, dentro do texto da LDB, mais especificamente no inciso I do artigo 36º, em alteração posterior onde trata das questões voltadas ao ensino médio, existe a compreensão da possibilidade de profissionalização, desde que seja levado em consideração a formação completa do indivíduo através de arranjos curriculares e as questões sociais. Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: V - formação técnica e profissional. (BRASIL, 2017) Políticas Públicas e Educação 31 Os movimentos sociais também resistiram à separação entre educação básica e profissional por meio de críticas ao Decreto 2.208/97 e ao dualismo, conforme se pode observar em suas participações nas Conferências Nacionais de Educação organizadas pelo Movimento de Defesa da Educação Pública e nos eventos promovidos pelas Comissões de Educação da Câmara de Deputados e do Senado. (PACHECO, 2012 p. 23). Ainda no que se refere ao ensino apresentado na educação profissional, destaca-se que existe a inserção no âmbito do ensino regular ou ainda, de qualquer situação apresentada na educação continuada, como destaca o artigo 40º da LDB. Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. (BRASIL, 1996) Figura 9 - Educação profissionalizante Formação integraldo indivíduo Formação continuada Formação flexível Fonte: Elaborado pela autora (2021) Destaca-se, portanto que o aperfeiçoamento da LDB, ao longo dos anos, teve como pressuposto essencial aperfeiçoar a prestação de serviços educacionais que foram apresentadas pelo Plano de Desenvolvimento da Educação, conforme destaca Brasil (2008). As alterações na LDB têm o propósito de transformar em lei as inovações trazidas pelo Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Portanto, passam a ser obrigatórias aos estados e municípios e tornam-se mais um componente da política de melhoria da qualidade da educação brasileira. O objetivo é preparar melhor e elevar a escolaridade dos trabalhadores. (BRASIL, 2008) Ainda no que se refere às propostas apresentadas pela LDB para a educação profissional de nível médio, o ensino profissional se torna um diferencial no âmbito do ensino de jovens e adultos conforme destaca o §3 do artigo 37º. Políticas Públicas e Educação 32 § 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento. (BRASIL, 1996) No que se refere à maneira de funcionamento da educação profissional de nível médio, destaca-se o especificado art. 39 que apresenta não apenas a preocupação em cumprir os pressupostos da educação nacional, mas também a sua localização em vários níveis e modalidades da educação. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. § 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino. § 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos: I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; II – de educação profissional técnica de nível médio; III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação. § 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação. (BRASIL, 1996) Em se tratando dos aspectos apresentados no âmbito do artigo 41 da LDB, existe a valorização das informações e competências adquiridas no âmbito da educação profissional e, por isso, servirá como fundamento, quando necessário, para concluir estudos futuros. Artigo 41. O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos. (BRASIL, 1996) Políticas Públicas e Educação 33 Figura 10 - Educação profissional e competências Conhecimento adquirido Diversidade de modalidades Fonte: Elaborado pela autora (2021). Sobre a questão da diversidade de modalidades da competência, destaca-se o apresentado por Brasil (2008): A lei também dispõe sobre os tipos de curso que a educação profissional e tecnológica abrangerá: de formação inicial e continuada ou qualificação profissional, técnica de nível médio e tecnológica de graduação e pós-graduação.As instituições de educação profissional também deverão oferecer, além de seus cursos regulares, cursos especiais, abertos à comunidade. Nesse caso, a matrícula não deve ser condicionada, necessariamente, ao nível de escolaridade, mas à capacidade de aproveitamento do aluno. (BRASIL, 2008) No que se refere aos aspectos relacionados com os tipos de cursos a serem oferecidos pelas Instituições de educação profissional e tecnológica, o artigo 42 da LDB destaca que: Art. 42. As instituições de educação profissional e tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade. (BRASIL, 1996) Quando o dispositivo acima destaca cursos regulares, deseja informar que são cursos realizados com uma frequência pré-fixada, podendo ser tanto de elementos iniciais (gerais) como também, continuados. O ponto mais interessante desse processo é compreender que a educação profissional do nível médio pode ser oferecida para a comunidade e, por isso, não está restrito apenas ao núcleo fechado das instituições de ensino e, por fim, não pode estar conectada ao nível de escolaridade que o aluno apresenta, mas tão somente às capacidades que o aluno porventura apresentar. Políticas Públicas e Educação 34 Figura 11 - Acesso à educação profissional Educação profissional Sociedade Instituições de ensino Fonte: Elaborado pela autora (2021). Como foi possível compreender no início, os cursos e programas relacionados com a educação profissional de nível médio possuem uma estrutura fundamentada em eixos tecnológicos e objetiva atingir o maior número de pessoas possível. Por isso, são consideradas como flexíveis e abrangentes. Dessa maneira, no intuito de atingir os objetivos traçados no âmbito da educação profissional, destacam-se os seguintes cursos no âmbito da educação profissional de nível médio: • Qualificação Profissional Técnica de Nível Médio: De acordo com Pacheco (2012p.32) estes cursos estão interligados com a organização curricular de uma habilitação profissional técnica de nível médio. Cursos que se integram a organização curricular de uma Habilitação Profissional Técnica de Nível Médio, compondo o respectivo itinerário formativo aprovado pelo Sistema de Ensino. Também chamados de Unidades ou Módulos correspondem a saídas intermediárias do plano curricular com carga horaria mínima de 20% do previsto para a respectiva habilitação e destinados a propiciar o desenvolvimento de competências e valores necessários ao exercício de uma ou mais ocupações reconhecidas no mercado de trabalho. (PACHECO, 2012p.32) Políticas Públicas e Educação 35 Figura 12 - Itinerário formativo Estrutura aprovada pelo sistema de ensino Desenvol- vimento de competências Ocupações reconhecidas no mercado de trabalho Valores necessários para o exercício de uma profissão Fonte: Elaborado pela autora (2021). • Habilitação Profissional do Técnico de Nível Médio: no que se refere aos cursos que se destinam ao exercício de uma profissional que é reconhecida no mercado de trabalho, possui alguns requisitos específicos como é o caso da obrigatoriedade de ter concluído o ensino fundamental ou ainda, o ensino médio. Cursos que habilitam para o exercício profissional em função reconhecida pelo mercado de trabalho (Classificação Brasileira de Ocupações – CBO), sendo destinados a pessoas que tenham concluído o Ensino Fundamental e estejam cursando ou tenham concluído o Ensino Médio. Com carga horária variando entre 800, 1.000 e 1.200 horas dependendo da respectiva habilitação profissional técnica. (PACHECO, 2012, p.33) Dessa maneira, esses cursos podem ser organizados dentro de sistemas definidos no âmbito dos currículos do ensino médio e, revestem- se de uma grande flexibilidade, por isso, podem ser estruturados de maneiras distintas. • Especialização Técnica de Nível Médio: Esses cursos se diferenciam dos anteriores, pois estão voltados para as pessoas que concluíram o curso técnico. Políticas Públicas e Educação 36 Tendo compreendido os tipos de cursos técnicos que podem ser oferecidos, destaca-se a necessidade de compreender que são os órgãos competentes para a realização dos diversos cursos técnicos. • Sistema Federal de Ensino: No âmbito do governo federal é possível identificar os Institutos Federais, as Escolas Técnicas que são vinculadas às Universidades Federais, o SENAI, SENAC, SENAT, SENAR, Instituições privadas de Educação Profissional que estão vinculadas ao sistema sindical e, por fim, as Instituições de Ensino Superior que estão habilitadas para o feito. IMPORTANTE: Para compreender um pouco melhor quem pode fornecer cursos técnicos no âmbito da educação profissional, apresenta-se as informações do artigo 20 e seguintes da LEI Nº 12.513, DE 26 DE OUTUBRO DE 2011. Art. 20. Os serviços nacionais de aprendizagem integram o sistema federal de ensino na condição de mantenedores, podendo criar instituições de educação profissional técnica de nível médio, de formação inicial e continuada e de educação superior, observada a competência de regulação, supervisão e avaliação da União, nos termos dos incisos VIII e IX do art. 9º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , e do inciso VI do art. 6º-D desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.816, de 2013) § 1º As instituições de educação profissional técnica de nível médio e de formação inicial e continuada dos serviços nacionais de aprendizagem terão autonomia para criação de cursos e programas de educação profissional e tecnológica, com autorização do órgão colegiado superior do respectivo departamento regional da entidade. (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) § 2º A criação de instituições de educação superior pelos serviços nacionais de aprendizagem será condicionada à aprovação do Ministério da Educação, por meio de processo de credenciamento. (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) § 3º As instituições de educação superior dos serviços nacionais de aprendizagem terão autonomia para: (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) Políticas Públicas e Educação 37 I - criação de cursos superiores de tecnologia, na modalidade presencial; (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) II - alteração do número de vagas ofertadas nos cursos superiores de tecnologia; (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) III - criação de unidades vinculadas, nos termos de ato do Ministro de Estado da Educação; (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) IV - registro de diplomas. (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) § 4º O exercício das prerrogativas previstas no § 3º dependerá de autorização do órgão colegiado superior do respectivo departamento regional da entidade. (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) Art. 20-A. Os serviços nacionais sociais terão autonomia para criar unidades de ensino para a oferta de educação profissional técnica de nível médio e educação de jovens e adultos integrada à educação profissional, desde que em articulação direta com os serviços nacionais de aprendizagem, observada a competência de supervisão e avaliação dos Estados. (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) Art. 20-B. As instituições privadas de ensino superior habilitadas nos termos do § 2º do art. 6º-A ficam autorizadas a criar e ofertar cursos técnicos de nível médio, nas formas e modalidades definidas no regulamento, resguardadas as competências de supervisão e avaliação da União, previstas no inciso IX do caput do art. 9º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013) § 1º A supervisão e a avaliação dos cursos serão realizadas em regime de colaboração com os órgãos competentes dos Estados e do Distrito Federal, nos termos estabelecidos em ato do Ministro de Estado da Educação. (Incluídopela Lei nº 12.816, de 2013) § 2º A criação de novos cursos deverá ser comunicada pelas instituições de ensino superior aos órgãos competentes dos Estados, que poderão, a qualquer tempo, pronunciar-se sobre eventual descumprimento de requisitos necessários para a oferta dos cursos. (Incluído pela Lei nº 12.816, de 2013). (BRASIL, 2011) Políticas Públicas e Educação 38 • Sistemas estaduais, distrital e municipais de ensino: No âmbito dos sistemas estaduais, municipais e distritais de ensino, observam- se as escolas técnicas privadas, as instituições de ensino superior que estão vinculadas ao poder público estadual ou municipal. Entretanto, o único requisito para a prestação de serviços, é que as instituições estejam devidamente habilitadas para esta prestação de serviços e portanto, que possam certificar os referidos cursos. Como foi possível compreender, o ensino técnico de nível médio está inserido na educação básica, sendo assim o investimento nessa etapa de ensino deverá ser ofertado pelo FUNDEB. Embora esteja inserida no FUNDEB, a falta de definição das fontes que ligarão o financiamento para o Ensino técnico nível médio, torna o financiamento uma situação muito complexa e inserta. Figura 13 - Ensino profissional de nível médio Educação básica Investimento do FUNDEB Fonte: Elaborado pela autora (2021). As políticas de financiamento e de distribuição dos recursos em uma sociedade capitalista precisam ser estudadas e interpretadas, de acordo as suas especificidades de acordo com a realidade da sociedade que está inserida. Outro fator que dificulta o investimento na educação profissional de nível médio no Brasil e a disputa e rivalidade política, pois muitas vezes os políticos estão interessados se manterem no cargo, e não com a distribuição de recursos e tomada de decisões relacionados a educação que realmente serão necessárias a educação. Uma sociedade se desenvolve por meio da educação, e o ensino médio nível técnico poderia contribuir para o desenvolvimento da sociedade brasileira, seja socialmente e até mesmo economicamente, no entanto por interesses políticos o direito adquirido na Constituição Federal de 1988 do acesso de todos a uma educação de qualidade fica comprometido. Políticas Públicas e Educação 39 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você viu a retomada das definições gerais sobre a Lei de Diretrizes e Bases, no intuito de compreender como se processa a relação da educação profissional de ensino médio e os financiamentos nas Instituições de Ensino públicas e privadas. Políticas Públicas e Educação 40 Organização e financiamento do ensino superior OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a organização e financiamento do ensino superior. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Organização e estrutura do ensino superior A Constituição Federal de 1988 normatiza a estrutura da educação superior no Brasil, determinando ser dever do estado com a educação e depois reafirmado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96. A Constituição Federal assegura também a participação da iniciativa privada no ensino superior, mas impede que sejam destinados recursos públicos para o financiamento de atividades desse setor. As instituições de ensino superior no Brasil se dividem em • Instituições Universitárias: Tem o ensino, a pesquisa e a extensão como atividades principais que devem ter um terço dos professores com título de mestre ou doutor e um terço trabalhando em dedicação exclusiva. • Instituições de Ensino Superior (IES) não universitárias: São as faculdades e os centros e institutos tecnológicos, voltados basicamente para as atividades de ensino, necessitam do Conselho Nacional de Educação (CNE) para aprovação de novos cursos e vagas. Políticas Públicas e Educação 41 Figura 14 - Instituições de Ensino Superior Faculdades Centros e Institutos tecnológicos Atividades de ensino Ensino Não UniversitáriasUniversitárias Pesquisa Extensão Fonte: Elaborado pela autora (2021). O ensino superior é ofertado por universidades, centros universitários, faculdades, institutos tecnológicos e centro de educação tecnológica, e podem ser realizados três tipos de graduação: • Bacharelado. • Licenciatura. • Formação Tecnológica. O ensino superior também contempla os cursos de pós-graduação que pode ser dividida em: • Lato Sensu (especializações e MBAs). • Strictu Sensu (mestrados e doutorados). Os cursos oferecidos gratuitamente englobam formação de nível bacharelado, licenciatura e tecnológica e podem ser encontrados em instituições de responsabilidade federal ou estadual em todo o Brasil. O acesso ao ensino superior era realizado, principalmente, por meio da aprovação em exame seletivo (provas dissertativas e/ou objetivas), que verifica conhecimentos comuns do ensino médio, denominado vestibular? No entanto, em 1998, foi criado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para avaliar os estudantes que concluem o ensino médio. Este exame avalia as competências e as habilidades desenvolvidas em doze anos de escolarização básica, sendo oferecido anualmente aos concluintes e egressos do ensino médio, com participação voluntária. A nota final do Enem é usada como parâmetro de classificação por muitas universidades, sendo também utilizada pelo programa governamental de inclusão social – Programa Universidade para Todos (Prouni) – como critério para os candidatos conseguirem uma vaga no ensino superior privado. Políticas Públicas e Educação 42 Financiamento do ensino superior no Brasil As instituições públicas que oferecem o ensino superior no Brasil recebem recursos financeiros oriundos da arrecadação de impostos, e, embora o Brasil seja reconhecido por ter uma alta carga tributária, os interesses políticos e a má distribuição de recursos prejudicam os serviços que necessitam desse financiamento. O ensino superior é de responsabilidade da União, no entanto, não pode desenvolver políticas que privilegiem apenas uma etapa da educação, as políticas públicas e os investimentos devem agir articulando todas as etapas priorizando recursos da educação infantil ao ensino superior. O exemplo demostrados de países mais desenvolvidos observou a prioridade de investimentos em educação, esses países investem conforme o seu Produto Interno Bruto (PIB). O Brasil possui riqueza nacional (PIB) para ampliar os recursos públicos aplicados em educação, necessitando para isso que a educação seja considerada como prioridade do Brasil. O grande desafio para o Brasil é aumentar os recursos investidos em educação, e considerar a educação de todos como prioridade e oportunidade de desenvolvimento. A desigualdade social encontrada no Brasil não garante a equidade de oportunidades de acesso a todos, e visando a garantia de acesso à Educação Superior para todos os cidadãos o governo federal criou alguns programas para a Educação Superior. São eles: • PROUNI — Programa universidade para todos: Este programa faz parte de um sistema desenvolvido pelo poder público brasileiro no intuito de ampliar o acesso ao ensino superior e, para que isso fosse possível, estabeleceu parcerias com Instituições do Ensino Superior Privado para que se conseguisse aumentar o acesso à educação, visto que as Instituições de Ensino Superior Públicas não eram suficientes para acolher os jovens e adultos desejosos de ingressar o ensino superior. Nesse sentido Castro et al (2017 p.633) destaca que: Políticas Públicas e Educação 43 A importância do acesso ao ensino superior fundamenta-se no aumento das exigências para ingressarno mercado de trabalho, nas transformações das profissões, bem como na expectativa de aumento da renda e ascensão social. Neste cenário, a educação tem apresentado estrita relação com o desenvolvimento, tornando necessária a elaboração de propostas pelos governos que beneficiem o maior número possível de indivíduos, mediante a aplicação racional dos recursos públicos. (CASTRO et al., 2017 p.633) O Programa Universidade para Todos (ProUni) foi criado em 2004, pela Lei nº 11.096/2005, e tem como objetivo a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e de cursos sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. As instituições que aderem ao programa recebem isenção de tributos. Figura 14 - PROUNI Concessão de bolsas de Estudo Instituições de Ensino Superior Privadas Inseção de Impostos para as IES Fonte: Elaborado pela autora com base em CASTRO et al. (2017 p.633). • Programa REUNI: O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) busca ampliar o acesso e a permanência na educação superior. Nesse sentido, de acordo com Brasil (2009 p.09) observa-se que: No Brasil, a partir do século XX, a demanda e a oferta de cursos na Educação Superior expandiram, com a valorização do conhecimento acadêmico no mercado de trabalho e do desenvolvimento de pesquisas científicas Nesse sentido, a universidade ganhou reconhecimento por ser um instrumento de “transformação social, desenvolvimento sustentável e inserção do país [...] no cenário internacional”. (BRASIL, 2009, p. 9). Nesse sentido, a partir da necessidade de se incluir jovens e adultos no ensino superior, o poder público federal através do Decreto 6096/2007 instituiu o REUNI e, assim, possibilitou a ampliação de vagas e cursos em Políticas Públicas e Educação 44 Universidades Federais. De acordo com o exposto, Paula e Almeida (2020) destacam que: A partir desse contexto, o governo federal criou o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), para ampliar as vagas, criar outros cursos, readequar a infraestrutura, elevar as matrículas e o número de concluintes, bem como otimizar os recursos humanos e físicos existentes. Como meta global, previu-se o alcance da taxa de conclusão da graduação de 90% e da relação de 18 alunos por professor. O Decreto nº 6.096/2007 instituiu o Reuni e delegou competências ao Ministério da Educação (MEC) em relação aos indicadores de desempenho e às novas formas de controle das instituições, com base em conceitos de: matrícula projetada, fator de retenção por área de conhecimento, banco de professores equivalentes e relação de alunos de Pós-graduação por professor. (PAULA; ALMEIDA, 2020 p.1055) Figura 15 - REUNI Ampliar as vagas das Universidades Readequou as estruturas Criou cursos Criou vagas Fonte: Elaborado pela autora (2021). • Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES): O objetivo do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) é financiar a graduação na educação superior de estudantes que não têm condições de arcar com os custos de sua formação. Nesse sentido, Castro et al (2017 p.637) estabelecem que: A expansão da oferta de vagas das instituições privadas de ensino superior, somada às exigências da adoção de medias por parte do governo para proporcionar o acesso de grupos desfavorecidos a este nível de ensino, viabilizou a criação do Fies em 1999. Este programa foi concebido para ser autossustentado e oferecer financiamentos de até 100% da mensalidade para indivíduos de menor poder aquisitivo, matriculados em instituições privadas que aderiram ao programa e foram avaliadas positivamente pelo Ministério da Educação. (CASTRO et al., 2017 p.637) Políticas Públicas e Educação 45 Entretanto, mesmo observando o grande benefício do FIES no processo de ampliação do acesso à educação superior, não se pode deixar de perceber que as dificuldades para cumprir com as exigências das Instituições de Ensino Superior privadas para a concessão do FIES se tornaram um grande obstáculo, visto que após a conclusão do curso, os beneficiados pelo FIES precisavam pagar o valor que fora parcelado, mas em virtude de várias demandas de mercado e ainda, pessoais, utilizar o FIES se tornou um problema. Dessa maneira, surge o Prouni como alternativa para sanar as questões apresentadas pelo FIES, conforme destaca Castro et al. (2017) Mesmo após a criação do Fies, o problema do acesso ao ensino superior para indivíduos que não possuem condições de arcar com a mensalidade em instituições privadas e não conseguem ingressar nas instituições públicas de ensino superior, persistiu. Assim, institucionalizou-se o Programa Universidade para todos (ProUni) como alternativa para expandir a oferta do ensino gratuito com menor impacto no orçamento do Ministério da Educação. (CASTRO et al., 2017 p.638) SAIBA MAIS: No intuito de compreender um pouco mais sobre o FIES, indica-se o acesso e consequente leitura do artigo denominado de FIES, que pode ser acessado aqui. • Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID): Oferece bolsas de iniciação à docência para alunos de cursos presenciais que se dedicam ao estágio nas escolas públicas e que, quando graduados, se comprometam a trabalhar no magistério da rede pública de ensino. Nesse sentido, observa-se o especificado por Paniago et al. (20183) que estabelece que: O ponto de vista da formação inicial de professores, nos últimos dez anos, vários programas e leis foram implementados no Brasil, tencionando a melhoria deste processo nas Instituições de Ensino Superior (IES) e suprir a falta de professores com formação, as quais integram o Plano de Desenvolvimento de Educação, criado em 2007. Destas, destacamos o Programa Institucional de Bolsa Políticas Públicas e Educação fnde.gov.br/index.php/financiamento/fies-graduacao/perguntas-frequentes-fies 46 de Iniciação à Docência (PIBID), instituído pelo Decreto de Lei nº 7.219/2010, no qual se insere o objeto desta investigação, e o movimento de criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), por meio da Lei nº 11.892/2008, que passam a ofertar o mínimo de 20% de suas vagas para os cursos de Licenciatura. (PANIAGO et al, 2018 p.03) O programa hora em análise está diretamente vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e sua criação se deu em virtude da necessidade patente de favorecer a formação de professores e, por isso, o principal foco do PIBID eram os alunos de Licenciatura, para que seja possível elevar a qualidade dos professores que se encontram no mercado de trabalho. Figura 16 - PIBID Experiência docente Alunos de Licenciatura Formação docente Elevação da qualidade do docente Fonte: Elaborado pela autora (2021). Conforme o especificado na figura acima observa-se que de acordo PANIAGO et al. (2018 p.03) destaca-se que: O foco do programa é a formação do aluno da Licenciatura, a elevação da qualidade da formação de professores, a inserção dos licenciandos no cotidiano da rede pública de Educação Básica, a fim Educação em de que possam vivenciar e participar de experiências ensejadoras do ser professor. Por meio do programa, os alunos das Licenciaturas podem envolver-se, desde o início de sua formação, em experiências de aprendizagem da docência, nas escolas públicas de educação básica, que vão desde o conhecimento de questões administrativas, de gestão, questões socioculturais dos alunos, relações interpessoais a práticas de ensino em sala de aula. Então, o PIBID aproxima as IES da realidade da escola, campo de trabalho dos futuros profissionais, de modo a articulá-las com a escola e sistemas de ensino municipais e estaduais.(PANIAGO et al, 2018 p.03) Políticas Públicas e Educação 47 Todos os integrantes do PIBID, professores coordenadores das IES, professores supervisores da rede pública de educação básica, recebem bolsas como estímulo à sua participação. Quando criado em 2007, o programa foi direcionado, inicialmente, apenas às Instituições Federais de Ensino Superior, focando as áreas de Física, Química, Biologia e Matemática para o Ensino Médio. A partir de 2009, o programa se estendeu a toda a educação básica, contemplando, inclusive, a educação de jovens e adultos, indígenas, campo e quilombolas. (PANIAGO et al., 2018 p.04) • Sistema de seleção unificada (SISU): O Sistema de Seleção Unificada (SISU) é um programa do Ministério da Educação que oferece vagas em universidades públicas por meio da nota obtida no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Nesse sentido, Vargas (2019) destaca que: Em 2010 o Ministério da Educação (MEC) criou um novo mecanismo de seleção para admissão ao ensino superior público: o Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Esse sistema foi proposto tendo como objetivos a redução dos gastos com a realização de exames de seleção descentralizados; a diminuição das ineficiências observadas na ocupação das vagas (acúmulo de vagas ociosas); a democratização do acesso à educação superior e a ampliação da mobilidade geográfica estudantil. Até então, o acesso ao ensino superior público se dava por meio do vestibular tradicional, processo seletivo descentralizado, formulado e aplicado pelas instituições isoladamente ou, no máximo, por um conjunto de instituições parceiras. Desde sua implantação o SiSU apresentou uma crescente adesão por parte das instituições de educação superior, as quais passaram a utilizá-lo total ou parcialmente no lugar do tradicional vestibular. (VARGAS, 2019 p. 02) Políticas Públicas e Educação 48 Figura 17 - SISU Redução de gastos com vestibular Inclusão social Participação das Universidades Mobilidade geográfica Fonte: Elaborado pela autora com base em Vargas (2019 p. 02). RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo desta unidade, vamos rever algo do que vimos. Você viu a retomada das definições gerais sobre financiamento, sobre a Lei de Diretrizes e Bases para que fosse possível compreender a importância de programas de ampliação de vagas no ensino superior. Em seguida, foi possível observar que alguns programas de financiamento do ensino superior foram criados no intuito de favorecer o acesso à educação superior e, ainda, a introdução dos jovens e adultos no mercado de trabalho. Políticas Públicas e Educação 49 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: https://bit.ly/3FCZK36. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em: http://bit.ly/37R0D6i. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. LEI Nº 9.424, DE 24 DE DEZEMBRO DE 1996. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e dá outras providências. Brasília, DF, 1996. Disponível em: https://bit.ly/3aHoU2p. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. LEI Nº 12.513, DE 26 DE OUTUBRO DE 2011. Institui o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Brasília, DF, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3iSBpfL. Acesso em: 19 jan. 2021. BRASIL. LEI Nº 11.494, DE 20 DE JUNHO DE 2007. Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. Brasília, DF, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3FLOu4D. Acesso em: 19 jan. 2021. CALLEGARI, C. (org.). Fundeb: financiamento da educação pública no estado de São Paulo. São Paulo: Ground/APEOESP, 2008. CASTRO, S. O. C. de; SANTOS, F. M.; RODRIGUES, C. T. 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A organização do sistema educacional brasileiro Princípios do sistema educacional brasileiro Princípios educacionais propostos para uma rede colaborativa de educadores Princípios que fazem da educação da Finlândia um sucesso Características do sistema educacional brasileiro Características gerais dos sistemas educativos Características das escolas eficazes no Brasil tituloviiicapituloiiisecaoi art205 art206i art206ii art206iii art206iv 206V art206v. art206vi art206vii art206viii cfart206viii art206p art207 art207§1 art207§2 art208 art208i.. art208i. art208ii art208iii art208iv. cfart208iv art208v art208vi art208vii art208vii. art208§1 art208§2 art208§3 art209 art209i art209ii art210 art210§1 art210§2 art211 art211§1. art211§1 art211§2. art211§2 art211§3 art211§4 art211§4. cfart211§5 212 art212 art212§1 art212§2 art212§3. art212§3 art212§4 212§4 art212§5.. art212§5. art212§6 art213 art213i art213ii art213§1 art213§2 art213§2. Instâncias administrativas e organizacionais Órgãos responsáveis pela educação – MEC A administração da escola nos processos educativos e seus recursos Declaração Universal dos Direitos Humanos O que é a Declaração Universal dos Direitos Humanos? Histórico da Declaração Universal dos Direitos Humanos Pressupostos da Declaração Universal dos Direitos Humanos A importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos Declaração da UNESCO/ONU sobre educação O papel da UNESCO Constituição da República Federativa do Brasil Capítulo III – Da educação, da cultura e do desporto – Artigos de 205 a 214 art1§1 art1§2 art10vii Princípios e finalidades da educação nacional Princípios e fins da educação nacional – Segundo a LDB 9394/96 As políticas públicas e suas considerações com a LDB 9.394/96 Diretrizes e bases da educação – LDB 9.394/96 LDB 9.394/96 Os objetivosda LDB 9.394/96 para o sistema educacional brasileiro As políticas públicas influenciando no processo de avaliação Base Nacional Comum Curricular – As 10 competências gerais Plano Nacional de Educação Plano Nacional de Educação – Entendendo o conceito Diretrizes Nacionais para a Educação Básica Breve histórico Objetivos das Diretrizes Curriculares Nacionais Organização curricular Etapas da educação básica Modalidades da educação básica Avaliação na educação básica Gestão democrática art68i art68ii art69 page2 _Hlk84240026 art20§1. art20§2. art20§3. art20§3i. art20§3ii. art20§3iii. art20§3iv. art20§4. art20a art20a. art20b. art20b§1 art20b§2 Financiamento da educação escolar Conceito Programas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Conceito Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) Programa Brasil Alfabetizado Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) Programa de Apoio ao Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (PEJA) Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE) Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) Programa Nacional de Saúde do Escolar (PNSE) Organização Financiamento da educação profissional no brasil – contradições e desafios Organização e financiamento da educação profissional de nível médio Organização Organização e financiamento do ensino superior Organização e estrutura do ensino superior Financiamento do ensino superior no Brasil