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FORMAÇÃO-ECONÔMICA-E-TERRITORIAL-DO-BRASIL-2

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1 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORMAÇÃO ECONÔMICA 
 E TERRITORIAL DO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO ......................................... 5 
2 OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO SOCIONATURAL BRASILEIRO ........................ 8 
3 QUESTÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS NA FORMAÇÃO TERRITORIAL DO 
BRASIL...................................................................................................................13 
4 A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL E AS ESTRATÉGIAS 
GEOPOLÍTICAS .................................................................................................... 15 
5 OS DISCURSOS GEOPOLÍTICOS DOMINANTES NO PERÍODO 
REPUBLICANO ..................................................................................................... 19 
6 AS LINHAS DE FORÇA DA GEOPOLÍTICA BRASILEIRA ................................ 25 
7 FORMAÇÃO ECONÔMICO-ESPACIAL BRASILEIRA E SUA INSERÇÃO NA 
ECONOMIA GLOBAL ........................................................................................... 29 
7.1 A organização espacial do Brasil .................................................................... 30 
7.2 A fase dos vetores fundacionais ...................................................................... 31 
7.3 A fase dos ciclos de assentamento ................................................................. 32 
7.4 A fase da redivisão territorial industrial do trabalho ......................................... 34 
7.5 A fase da privatização, da gestão e da desintegração espacial do projeto 
nacional...................................................................................................................35 
7.6 A fase da articulação das sociabilidades e da formação espacial complexa .. 36 
8 A PRODUÇÃO E O USO DO TERRITÓRIO ...................................................... 37 
9 AS REDES DE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS ......................................... 39 
10 O CONCEITO DE REGIÃO NA GEOGRAFIA E A QUESTÃO REGIONAL 
BRASILEIRA NOS CONTEXTOS POLÍTICO E SOCIOECONÔMICO ................. 42 
11 A INTEGRAÇÃO REGIONAL BRASILEIRA: PARTICULARIDADES REGIONAIS 
NO TERRITÓRIO .................................................................................................. 48 
 
3 
 
12 A GESTÃO TERRITORIAL DO BRASIL E SUAS REGIÕES POLÍTICO-
ADMINISTRATIVAS .............................................................................................. 52 
13 SISTEMA ECONÔMICO BRASILEIRO ............................................................ 55 
13.1 Características do sistema econômico brasileiro atual .................................. 60 
13.2 Economia informacional ................................................................................ 62 
14 ATIVIDADES ECONÔMICAS REGIONAIS ...................................................... 64 
15 PRODUÇÃO DE ENERGIA NO BRASIL.......................................................... 68 
16 SOCIEDADE, INDUSTRIALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL........ 72 
17 NATUREZA TÉCNICA E ECONÔMICA DAS INDÚSTRIAS ............................ 76 
17.1 Indústrias extrativistas e de beneficiamento .................................................. 76 
17.2 Indústrias de transformação .......................................................................... 77 
17.3 Indústrias de bens de uso durável ................................................................. 78 
18 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS INDÚSTRIAS NO BRASIL .......................... 82 
19 A RELAÇÃO HOMEM/NATUREZA SOB O ADVENTO DOS AVANÇOS 
TECNOLÓGICOS ................................................................................................. 86 
20 IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS E INDUSTRIAIS .................................. 88 
21 O RURAL BRASILEIRO E SEUS PROBLEMAS AMBIENTAIS ....................... 93 
22 DESENVOLVIMENTO REGIONAL BRASILEIRO NOS SÉCULOS XX E XXI: 
PRINCIPAIS POLÍTICAS FEDERAIS DO ESTADO ............................................. 96 
23 DESENVOLVIMENTO REGIONAL BRASILEIRO: RESULTADOS ............... 104 
24 DESENVOLVIMENTO REGIONAL BRASILEIRO: IMPASSES E 
POSSIBILIDADES ............................................................................................... 108 
 
 
 
 
 
 
4 
 
Prezado aluno! 
 
O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as 
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão 
respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e 
organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura 
do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá 
reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o 
quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos 
para as atividades. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
1 USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO 
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, grupos étnicos 
indígenas já ocupavam o território do País. Por séculos, as terras brasileiras foram 
utilizadas pelos indígenas, o que se modificou com a chegada dos portugueses, que 
tomaram posse do território. (FAGUNDES, 2021) 
A coroa portuguesa e os portugueses enviados para colonizar o Brasil 
adotaram um modelo de colonização de exploração (de terras, recursos naturais e 
mão de obra), visando a direcionar produtos para a metrópole. Ao chegar aqui, os 
colonos portugueses encontraram um território “[...] povoado por uma diversidade 
de tribos indígenas cuja soma chega a uma população de mais de cinco milhões de 
habitantes. Espaço e força de trabalho aí estão reunidos [...]” (MOREIRA, 2011, p. 
11). 
Os portugueses, os bandeirantes (homens que exploravam e penetravam 
as terras) e os religiosos jesuítas foram agentes que por cerca de três séculos 
interviram no País e alteraram as formas de uso e ocupação do território brasileiro, 
bem como a vida dos indígenas que já residiam nesse território. Veja: 
Os três primeiros séculos serão dedicados a essa tarefa de 
disponibilização, realizada por intermédio de uma ação simultânea de 
expropriação e realocação territorial das tribos indígenas. A expropriação 
será a tarefa dos bandeirantes. A realocação, dos jesuítas. Disponibilizado, 
o espaço pode agora ser ocupado pelo colono. E a população indígena 
dele despojada, usada como força de trabalho (MOREIRA, 2011, p. 11–
12). 
A organização do território brasileiro ocorreu inicialmente por meio das 
capitanias hereditárias. As capitanias eram uma forma de distribuição de terras 
imposta pelos colonizadores. As faixas de terra eram destinadas aos donatários e 
repassadas por hereditariedade (na família, de pais para filhos). Cada donatário 
deveria administrar e proteger as terras recebidas e responder às imposições do rei 
de Portugal. Atente ao seguinte: 
As capitanias hereditárias foram a primeira medida real de colonização 
tomada pelos portugueses em relação ao Brasil. Com as capitanias, foi 
implantado um sistema de divisão administrativa por ordem do rei 
português D. João III, em 1534. A América Portuguesa foi dividida em 15 
 
6 
 
faixas de terra, e a administração dessas terras foi entregue aos 
donatários. As capitanias existiram no Brasil durante séculos, mas, a partir 
de 1548, uma nova forma de administrar o Brasil foi criada (SILVA, 2020, 
documento on-line). 
Na Figura 1, a seguir, veja as capitanias hereditárias e os seusrespectivos 
donatários, isto é, os europeus que receberam faixas de terra para administrar. 
 
 
 
Outra forma de organização do espaço geográfico do País — nesse caso, 
de distribuição das terras brasileiras — foram as sesmarias. As sesmarias foram 
criadas como um meio de implantar práticas de agricultura e povoar as novas terras 
da coroa portuguesa. Veja a definição de sesmaria: 
Sesmaria era um lote de terras distribuído a um beneficiário, em nome do 
rei de Portugal, com o objetivo de cultivar terras virgens. Originada como 
medida administrativa nos períodos finais da Idade Média em Portugal, a 
 
7 
 
concessão de sesmarias foi largamente utilizada no período colonial 
brasileiro. Iniciada com a constituição das capitanias hereditárias em 1534, 
a concessão de sesmarias foi abolida apenas quando houve o processo 
de independência, em 1822. A origem das sesmarias esteve relacionada 
com as terras comunais existentes no reino português e com a forma de 
distribuição delas entre os habitantes das comunidades rurais (PINTO, 
2020, documento on-line). 
De acordo com Théry e Mello-Théry (2005), os ciclos econômicos do Brasil 
permitiram o povoamento do território. Para os autores, o processo de interiorização 
do País (a colonização ficou muito tempo restrita às faixas litorâneas) deu-se por 
meio dos diferentes ciclos econômicos. Afinal, tais ciclos desencadearam a 
exploração de regiões até então não ocupadas. 
Iniciava-se, assim, a formação de um Brasil “arquipélago”, com uma espécie 
de mosaico de regiões autônomas. Formava-se um país de diferenças regionais, 
com uma série de ciclos econômicos em regiões distintas. Cada tipo de produção 
afetou uma região diferente do País, permitindo novos povoamentos (chamados de 
“interiorização”) (THÉRY; MELLO-THÉRY, 2005). 
Até o século XVII, predominou o ciclo econômico do açúcar, restrito às 
áreas territoriais do litoral onde se cultivava a cana-de-açúcar e se produzia o açúcar 
em engenhos. Depois, iniciou-se um processo de interiorização, povoamento e 
expansão para Minas Gerais, com a descoberta de ouro. O ciclo econômico do ouro 
começou no final do século XVII (THÉRY; MELLO-THÉRY, 2005). 
A mineração em Minas Gerais impulsionou a mudança da capital do Brasil 
Colônia. A capital, que antes era Salvador, passou a ser o Rio de Janeiro. Com essa 
mudança, o centro econômico, que era restrito ao litoral nordestino, deslocou-se 
para o centro-sul brasileiro. Isso intensificou o processo de interiorização do Brasil; 
formaram-se vilas e, consequentemente, cidades polos de mineração. 
(FAGUNDES, 2021) 
Em seguida, teve início o ciclo econômico do café, nos séculos XIX e XX. 
Nesse ciclo, São Paulo ganha destaque. No estado, o café desenvolveu-se 
magnificamente sobretudo no Vale do Paraíba Paulista, adaptando-se bem à terra 
roxa. Nesse período, o cultivo do café utilizava mão de obra assalariada (não mais 
 
8 
 
servil e pouco qualificada), constituída no início principalmente de imigrantes 
custeados pelos fazendeiros paulistas (THÉRY; MELLO-THÉRY, 2005). 
Outro ciclo econômico e produtivo que contribuiu para modelar o território 
brasileiro foi o da borracha, no início do século XX, na região da Amazônia. 
Ademais, destaca-se a pecuária, que contribuiu mais do que o ouro para dilatar o 
espaço brasileiro. A produção pecuária se estendeu até depois do período do ouro, 
criando estradas e pontos de apoio estáveis. (FAGUNDES, 2021) 
Destacam-se ainda a atuação dos bandeirantes (bandeirantismo) e dos 
missionários jesuítas (aldeamentos) e a expansão da agropecuária no processo de 
interiorização do País. No entanto, esses processos acarretaram impactos sociais 
e ameaças aos povos originários indígenas, bem como aos povos e comunidades 
afrodescendentes. Devido aos modelos econômicos e de trabalho vigentes, esses 
povos foram capturados, escravizados e em alguns casos mortos e extintos. 
(FAGUNDES, 2021) 
Portanto, a distribuição de terras por capitanias hereditárias e sesmarias e 
os ciclos econômicos influenciaram a formação territorial do país. Entre as 
consequências desses processos, destacam-se a economia e a política 
latifundiárias (em que prevalecem as grandes propriedades rurais), a concentração 
fundiária e a desigualdade social rural. (FAGUNDES, 2021) 
 
 
2 OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO SOCIONATURAL BRASILEIRO 
Nos períodos colonial e monárquico, a matriz espacial de organização do 
território brasileiro considerou formas de utilização e ocupação baseadas nos 
recursos da natureza. Segundo Moreira (2011), a priori os colonos portugueses 
 
9 
 
organizaram o território a partir de características socionaturais denominadas 
“faixas geobotânicas”. A seguir, veja quais são essas faixas. 
 
 Costeira (litoral): vegetação de mata tropical. 
 Interiorana (interior): vegetação de mata campestre. 
 Setentrional (Região Norte): vegetação de mata equatorial. 
 
Na Figura 2, veja os domínios geobotânicos brasileiros e a sua 
representação cartográfica. 
 
 
 
Nos domínios geobotânicos, instalam-se as formas de produção do setor 
primário da economia (agricultura, pecuária e extrativismo). Os colonizadores 
portugueses tinham como objetivo implantar práticas de uma agricultura de 
monocultura baseada no sistema de plantation, com o objetivo de comercializar 
essa produção agrícola e direcioná-la à metrópole portuguesa (relação colônia–
metrópole). A lavoura se instala em áreas de mata tropical litorânea. Por sua vez, a 
 
10 
 
pecuária se instala em áreas de mata campestre do interior. Já o extrativismo se 
instala em áreas de mata equatorial ao norte do País (MOREIRA, 2011). Considere 
o seguinte: 
A entrada do colono português com seu modo de vida de monocultor e 
mercantil- -exportador por essas três faixas, embora quase numa 
reprodução do modo de ocupação indígena, com a lavoura ocupando as 
áreas de mata do litoral e a pecuária, as de formação aberta campestre da 
hinterlândia, além do extrativismo, as da mata equatorial, gera um novo 
tipo de enraizamento, movimentando socioambientalmente o quadro de 
integração da natureza sob novos modos de interligação e arranjo 
(MOREIRA, 2011, p. 19). 
No Quadro 1, veja uma síntese das principais características físicas e 
naturais das três faixas geobotânicas. 
 
Quadro 1. Principais características físicas e naturais das faixas 
geobotânicas. 
 
 
11 
 
 
Fonte: Adaptado de Moreira (2011). 
Segundo Gomes (1988), o arranjo e a organização espacial se dão em 
decorrência do modo de vida e copertencimento de grupos étnicos indígenas como 
o tupi (agricultura, lavoura de mandioca), os gês (coleta e caça), o caribe e o 
aruaque. Na faixa da mata atlântica, habitam as tribos indígenas tupis; na faixa da 
vegetação campestre, habitam as tribos indígenas gê; já na faixa da mata 
equatorial, habitam as outras tribos indígenas, como caribe e aruaque (GOMES, 
1988). 
Posteriormente, uma nova forma de organização do território se inicia, 
considerando não apenas a distribuição espacial das tribos indígenas e as faixas 
geobotânicas, mas também questões de clima (tipos de clima, massas de ar, 
 
12 
 
temperatura, regime de chuvas), relevo e bacias hidrográficas. Os novos ocupantes 
atuam 
[...] substituindo pelo seu modo mercantil de ocupação espaços cultural e 
ambientalmente enraizados nos modos de vida comunitários das tribos 
indígenas, numa modalidade de relação que mantenha a complexidade de 
integração morfoestrutural e edafomorfoclimática que cada faixa 
geobotânica envolve (MOREIRA, 2011, p. 17). 
Para definir os domínios morfoclimáticos do Brasil, Ab’Sáber (2003) 
considerou elementos naturais (relevo, clima, vegetação e hidrografia) e suas 
relações e interações nas paisagens. Veja: 
[...] domínio morfoclimático e fitogeográfico [é] um conjunto espacial de 
certa ordem de grandeza territorial — de centenas de milhares a milhares 
de quilômetros quadrados de área — onde haja umesquema coerente de 
feições de relevo, tipos de solos, formas de vegetação e condições 
climático-hidrológicas. Tais domínios espaciais, de feições paisagísticas, 
de certa dimensão e arranjo, em que as condições fisiográficas e 
biogeográficas formam um complexo relativamente homogêneo e 
extensivo (AB’SÁBER, 2003, p. 11–12). 
Na Figura 3, veja os domínios morfoclimáticos do País. São eles: 
amazônico, cerrado, mares de morros, caatinga, araucária e pradarias. Além disso, 
há faixas de transição não diferenciadas em suas características. (FAGUNDES, 
2021) 
 
 
 
 
13 
 
Moreira (2011) destaca que a organização no território e o arranjo espacial 
dos indígenas e dos colonos apresentam relação de correspondência com os 
domínios morfoclimáticos. O autor ainda afirma que a faixa de mata atlântica de 
ocupação tupi e de prática da lavoura agrícola no Brasil Colônia corresponde ao 
domínio de mares de morros. Por sua vez, a faixa de mata campestre de ocupação 
tapuia e prática pastoril corresponde aos domínios da caatinga, do cerrado, de 
araucárias e de pradarias. Por fim, a mata equatorial, ocupada por várias tribos e 
marcada pela prática do extrativismo, corresponde ao domínio amazônico. Veja: 
E que em si embutem tanto o modo indígena quanto o colonial de arranjo 
espacial numa relação de correspondência em que o domínio dos “mares 
de morros” florestados da faixa atlântica é o da área de ocupação tupi e da 
lavoura colonial; os domínios das depressões interplanálticas e semiáridas 
das caatingas do Nordeste, dos chapadões centrais recobertos dos 
cerrados, cerradões e campestres e das coxilhas subtropicais com 
formação mista das pradarias são os da ocupação tapuia e pastoril; e o 
domínio das terras florestadas da Amazônia, o da ocupação das múltiplas 
tribos e extrativismo (MOREIRA, 2011, p. 17). 
Portanto, a formação territorial do País se deu a partir de formas de uso e 
ocupação que consideraram questões socionaturais. 
 
 
3 QUESTÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS NA FORMAÇÃO TERRITORIAL 
DO BRASIL 
A lei do arranjo espacial é aquela que melhor contemple fatores como 
localização e fertilidade do solo. Essa é uma combinação perfeita (solo e 
localização), denominada “renda diferencial”. Há locais em que se busca compensar 
a pobreza edáfica (referente aos solos) com uma excelente e privilegiada 
localização geográfica, como a litorânea (área portuária e estratégica para o 
escoamento da produção) (MOREIRA, 2011). 
 
14 
 
A renda diferencial, segundo Oliveira (2007), é aquela que independe da 
aplicação de capital. Ela decorre do tipo de solo e da fertilidade natural dos solos, 
que acarreta maior produtividade. Nesse contexto, a fertilidade natural dos solos, a 
localização das terras (devido à valorização das terras pelo mercado naquela 
localidade) e o transporte (devido a despesas com frete) são considerados fatores 
territoriais importantes. (OLIVEIRA 2007). Considere o seguinte: 
A renda diferencial I causada pela diferença da fertilidade natural dos solos 
existentes no país é, portanto, resultado da posse de uma força natural que 
foi monopolizada. [...] Assim a desigualdade natural dos diferentes tipos de 
solos permite a aqueles que detêm os solos mais férteis a possibilidade de 
auferirem renda da terra diferencial I de forma permanente, evidentemente, 
desde que este solo esteja produzindo (OLIVEIRA, 2007, p. 45). 
Atente também ao seguinte: 
A localização das terras como fonte formadora da renda da terra diferencial 
I também será analisada a partir da premissa de que iguais quantidades 
de capital aplicadas em terras diferentes, mas com áreas iguais, produzem 
resultados desiguais. [...] [Isso] quando não ocorre a alta dos preços de 
mercado, mas aparece um aumento na eficiência dos meios de transportes 
(OLIVEIRA, 2007, p. 48). 
A ocupação do território no Brasil Colônia ocorreu inicialmente nas 
seguintes capitanias da Região Nordeste: São Vicente, Bahia e Pernambuco. Tal 
ocupação envolveu a instalação de canaviais (lavouras de cana-de-açúcar) e 
engenhos de cana-de-açúcar em áreas de várzeas de rio (onde os solos são férteis 
para a prática da agricultura) e áreas próximas de zonas portuárias (para 
escoamento da produção e do extrativismo e exploração das riquezas das terras) 
(MOREIRA, 2011). Veja: 
Na Bahia e em Pernambuco, onde com o tempo a economia canavieira se 
concentra, frente o fracasso da experiência vicentina, a altíssima fertilidade 
do massapê compensa o problema da localização, cada vez mais 
interiorizada, resolvendo-se o problema com a abertura de portos à beira 
do rio e chamando para aí a localização do canavial e do engenho. O 
tempo foi afastando, todavia, os centros de produção dessa combinação 
solo–localização apropriada, num adentramento vale acima, rio adentro, 
de custos crescentes (MOREIRA, 2011, p. 41). 
Com a migração da Região Nordeste para a Região Sudeste, a relação 
entre localização e fertilidade dos solos também influenciou a lavoura de café: 
 
15 
 
Com o tempo, assim como na área canavieira dos solos de massapê da 
zona da mata nordestina, a renda diferencial puxa a monocultura para 
localizações distantes e solos menos férteis, a lei do rendimento 
decrescente empurrando a cafeicultura para localizações e solos cada vez 
mais distantes da costa e custos cada vez mais altos (MOREIRA, 2011, p. 
41). 
Portanto, o processo de formação, ocupação e uso do território brasileiro 
perpassou ciclos produtivos e econômicos. Nesse processo, a localização das 
atividades produtivas se deu a partir de interesses dos colonizadores na extração 
de recursos da natureza e na exploração de sujeitos sociais (como os indígenas e 
os negros). Além disso, ela foi influenciada por leis espaciais de localização de 
atividades produtivas (considerando fatores como qualidade e fertilidades das 
terras, deslocamento dos produtos e distância de centros consumidores) e pela 
lógica do valor e da reprodução social, que gerou impactos duradouros na 
sociedade e nos territórios. (FAGUNDES, 2021) 
4 A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL E AS ESTRATÉGIAS 
GEOPOLÍTICAS 
O Brasil foi formado no período das grandes navegações, como resultado 
do expansionismo europeu e da busca por novas terras, riquezas e metais 
preciosos. Na Europa, grandes mudanças estavam se constituindo durante o século 
XV, a exemplo da ascensão da burguesia, da retomada da nobreza ao poder 
soberano com o declínio do clero, além de grandes avanços técnicos que o mundo 
passou a conhecer, a exemplo dos avanços na cartografia, nas técnicas de 
navegação, entre outras. Tudo isso fez aumentar a ambição das nações pelo 
fortalecimento do comércio e da sua posição na geopolítica europeia. (DANTAS, 
2021) 
Esse período também consolidou o capitalismo mercantil, fazendo os 
Estados buscarem expansão da riqueza por meio do comércio. Portugal e Espanha 
saíram na frente com as grandes navegações, mas Holanda, França e Inglaterra 
posteriormente também passaram a buscar colônias de exploração. (DANTAS, 
2021) 
 
16 
 
O Brasil foi descoberto pelos europeus em 1500, devido à expedição 
portuguesa de Pedro Álvares Cabral; contudo, parte considerável do continente sul-
americano foi ocupada pelos espanhóis, e algumas áreas se tornaram foco de 
disputa também com os holandeses. Buscando delimitar as fronteiras de atuação e 
proteger o território de invasões, estabelecendo um marco político-fronteiriço, 
Portugal e Espanha firmaram o tratado de Tordesilhas, em 1494, definindo, 
portanto, a primeira fronteira territorial do Brasil-Colônia. (DANTAS, 2021) 
As relações comerciais durante os séculos XVI e XVII foram marcadas por 
uma intensa disputa territorial na América do Sul, envolvendo principalmente 
portugueses e espanhóis (TEIXEIRA, 2006). 
A estratégia portuguesa para proteger o território foi repartir as terras em 
grandes porções, denominadas capitanias hereditárias. O regime de capitanias foi 
interessante parapovoar o território com portugueses que estavam em buscas de 
terras; além disso, a migração de escravos do continente africano para o Brasil 
iniciou no século XVI, estabelecendo uma divisão social do trabalho entre brancos 
europeus, que passaram a dominar as terras, e escravos africanos, além dos 
indígenas, que foram expropriados dos seus territórios com o avanço da ocupação 
europeia ou subordinados ao regime de escravidão. (DANTAS, 2021) 
 
 
 
Várias capitanias hereditárias, no entanto, acabaram não logrando o êxito 
esperado. Aquelas que melhor se estabeleceram foram as capitanias de São 
Vicente e Pernambuco, que adotaram produção de cana-de-açúcar, criação de 
engenhos e uma organização produtiva/econômica do território. Os donatários 
também dividiram as capitanias em sesmarias, porções que eram destinadas a 
 
17 
 
terceiros para produção agrícola. As sesmarias, no entanto, acabaram por constituir 
uma forte divisão de classes, nas quais os proprietários de terra, em grande parte, 
utilizavam mão de obra escrava para produção. (DANTAS, 2021) 
Assim, a economia brasileira colonial foi marcada primeiro pela exportação 
do pau-brasil seguida do açúcar e, posteriormente, com as descobertas das jazidas 
de ouro e prata, da atividade mineradora (TEIXEIRA, 2006). 
As atividades econômicas acabaram promovendo a ocupação de porções 
do território e amplos processos migratórios. O surgimento de vilas no entorno de 
dada atividade econômica foi característico: em Minas Gerais com a mineração, no 
Norte do país com as drogas do sertão, no Nordeste com os engenhos de cana-de-
açúcar e em São Paulo e no Rio de Janeiro com o café. (DANTAS, 2021) 
A atuação dos Bandeirantes acabou resultando em novas definições 
fronteiriças, e a expansão migratória dos povos europeus para o interior do 
continente em busca de metais preciosos e novas descobertas promoveu 
imprecisões nas áreas de domínio português e espanhol. (DANTAS, 2021) 
Desse modo, conforme cita Moraes (2002), o Estado forja um país que 
negligencia o povo e defende o território em busca da legitimação do poder das 
elites; a atuação dos bandeirantes nesse sentido contribui para esse cenário, no 
qual a expansão nacional fortalece os donos do poder, mas mantém a condição 
periférica do país. 
Assim, o Brasil é adaptado aos planos internacionais devido à forte 
dependência econômica/comercial, subordinando-se às demandas da acumulação 
do capital internacional e implementando projetos/ideologias que se vinculam aos 
interesses internacionais e aos interesses das elites. (DANTAS, 2021) 
Em 1750 é assinado o tratado de Madrid, promovendo uma redefinição nos 
marcos político-territoriais da América do Sul. Desse modo, os portugueses 
conseguem a expansão do Brasil-Colônia, buscando também expandir suas 
atividades de exploração pelo território. (DANTAS, 2021) 
Na Figura 1 é possível verificar a fronteira dos tratados de Tordesilhas e de 
Madrid. 
 
 
18 
 
 
 
No século XVIII, uma série de mudanças ocorrem, a exemplo do processo 
de industrialização da Inglaterra, que levou os britânicos a se tornarem a principal 
potência econômica mundial, desencadeando grandes alterações no imperialismo. 
(DANTAS, 2021) 
Além disso, os franceses também passaram a conquistar vários territórios, 
e, no século XIX, devido às guerras napoleônicas e a invasão da França a Portugal, 
a família real se deslocou para o Brasil, em 1808. Desse modo, Portugal vai 
perdendo seu espaço geopolítico e comercial e o Brasil se torna seu refúgio. 
(DANTAS, 2021) 
Em 1822, o Brasil se torna independente da metrópole portuguesa; no 
entanto, a concentração fundiária, a divisão social do trabalho, acompanhada do 
escravismo e de uma hierarquia social estabelecida ao longo dos séculos, 
permanecem. O processo de independência é um marco institucional, mas não 
promove alterações na estrutura social e econômica do país. (DANTAS, 2021) 
Após o processo de independência, o Brasil continua como um país agrário- 
-exportador, comandado pela elite branca-europeia descendente do período 
 
19 
 
colonial. No entanto, aproxima suas relações de comércio com os ingleses, que 
passaram, no século XIX, a comprar grande parte do açúcar e do café produzido no 
Brasil (TEIXEIRA, 2006). 
Com o avanço das teorias liberais na Europa e dos ideais de propriedade 
privada, juntamente com o avanço do Estado Moderno, há uma forte pressão para 
abolição dos regimes escravagistas; o Brasil, em 1950, decreta a lei de terras, na 
qual toda terra deve cumprir uma função social. Em 1888 decreta a abolição da 
escravatura (SOUZA, 2017). 
Tais mudanças foram importantes para desenhar avanços sociais internos, 
no direito pela propriedade e pela terra. No entanto, na esfera político- -econômica, 
o país continuou cimentado em uma hierarquia social enrijecida de extremas 
desigualdades (SOUZA, 2017). 
O fim do Brasil-Império inaugura o regime republicano, que permaneceu 
marcado pelo domínio das oligarquias regionais, e do poder militar, tornando as 
mazelas sociais e econômicas um continuum. (DANTAS, 2021) 
 
 
5 OS DISCURSOS GEOPOLÍTICOS DOMINANTES NO PERÍODO 
REPUBLICANO 
O período republicano no Brasil foi marcado por uma série de rupturas e 
disputas pelo poder. Sua primeira “fase” é conhecida como República Velha, 
marcada pelo comando de militares à frente do poder político do Estado. O prestígio 
dos militares veio principalmente com a vitória do Brasil na Guerra do Paraguai e 
 
20 
 
inaugurou um período na qual o exército passou a liderar o aparelho de Estado. 
(DANTAS, 2021) 
Ao mesmo tempo, foi marcado pelo comando de oligarquias regionais que 
se estabeleceram ao longo do tempo e concentravam a posse da terra, que desde 
o período colonial foi mal distribuída e herdada de modo extremamente 
concentrado. (DANTAS, 2021) 
O período também ficou conhecido pela política do “café com leite”, pois os 
Estados de São Paulo e Minas Gerais, produtores de café e leite, respectivamente, 
passaram a comandar o poder executivo, impedindo que políticos de Pernambuco 
e do Rio Grande do Sul chegassem ao poder. Assim, houve uma frente ampla de 
apoio a esse revezamento, sobretudo no setor agrário, que gozava de muitos 
benefícios (VARES, 2011). 
O início do século XX foi marcado por mudanças; alguns setores da 
sociedade começaram a defender um processo de modernização do país, que 
desde o período colonial mantinha uma economia primária e exportadora. Ao 
mesmo tempo, as elites agrárias conservadoras defendiam a manutenção do 
regime político-econômico-social e, obviamente, dos seus privilégios (VARES, 
2011). 
Havia, em muitos momentos, uma relação amigável e indissociável entre a 
elite agrária e a militar. As camadas menos favorecidas também passaram a 
reivindicar direitos, que foram abafados devido aos pactos políticos estabelecidos 
na política do café com leite. (DANTAS, 2021) 
Em âmbito internacional, o mundo também passou por fortes tensões, como 
a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, e a proliferação das teorias eugenistas, 
que chegaram ao Brasil e ganharam adeptos, sobretudo vinculados à elite 
acadêmica e política. Foi uma forma de manter o conservadorismo político e 
justificá-lo ao mesmo tempo em que a teoria respondia ao racismo estrutural da 
sociedade brasileira. A elite agrária escravagista também não se opôs aos 
movimentos eugenistas, pois mantinham a força do trabalho braçal e semiescravo 
(SOUZA, 2017). 
 
21 
 
A República Velha vai até 1930, com a Revolução; assim, Getúlio Vargas 
chega ao poder e dá início à Era Vargas. A partir de então, uma série de mudanças 
ocorreu. Em âmbito internacional, a crise de 1929 provocou forte queda nas 
exportações de café e açúcar do Brasil, e as alas pró-modernização nacional 
ganharam destaque com a chegada de Vargas ao poder, que interrompeu o ciclo 
SP-MG no comando do País. (DANTAS, 2021) 
Vargas introduziu,aos poucos, mudanças significativas e buscou incentivar 
a industrialização nacional; assim, passou a centralizar o poder do Estado e 
promover uma série de ações estratégicas que visavam modernizar o país por meio 
da industrialização. Esse processo foi fundamental para o desenvolvimento 
industrial do Sudeste e desencadeou uma rápida e intensa urbanização em cidades 
como Rio de Janeiro e São Paulo (CANO, 2005). 
Entre as mudanças feitas na Era Vargas, a criação da consolidação das leis 
de trabalho (CLT) foi uma das principais e mais marcantes, pois as leis trabalhistas 
promoveram uma espécie de pacto entre a classe trabalhadora, que passou a ser 
regulamentada e adquirir direitos necessários, e as elites industriais e agrárias, que 
passaram a exigir requisitos dos trabalhadores; tal pacto “acalmou” os ânimos dos 
movimentos populares. A garantia também promoveu a permanência da 
concentração da propriedade no Brasil e conservou o poder das elites (CANO, 
2005). 
Os maiores parceiros comerciais do Brasil na época eram Estados Unidos 
e Alemanha; havia também fortes relações com os italianos, que já estavam 
migrando para o Brasil desde o fim do século XIX, principalmente devido ao 
movimento de embranquecimento da população e da incorporação da mão de obra 
branca estrangeira nas fazendas de café e leite em São Paulo e Minas Gerais. Com 
o advento da Segunda Guerra Mundial, porém, o Brasil opta por apoiar os Estados 
Unidos, e, a partir de então, as relações Brasil- -EUA se estreitam. (DANTAS, 2021) 
Na década de 1950, é criada a Comissão Mista Brasil-EUA, que buscou unir 
recursos para financiar obras de infraestrutura; foi, assim, criado Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico (BNDE), para gerir recursos das obras e outros 
investimentos (KLÜGER, 2014). 
 
22 
 
Em 1948, também é criada a Comissão Econômica para América Latina 
(CEPAL), que visava expandir a economia dos países latino-americanos em um 
contexto de forte alinhamento com a Organização das Nações Unidas, que havia 
sido criada em 1945, no contexto pós-guerra. (DANTAS, 2021) 
O Brasil apoiou os Aliados na Segunda Guerra, bloco formado por Estados 
Unidos, Inglaterra, França e União Soviética. No entanto, com o fim da Segunda 
Guerra Mundial, a ascensão dos EUA como principal potência mundial, e a 
ascensão dos ideais comunistas liderados pelos soviéticos, a Guerra Fria gerou um 
ambiente hostil nas relações diplomáticas entre os países. (DANTAS, 2021) 
Esse período de bipolaridade nas relações internacionais perdurou até o 
final da década de 1980; praticamente todas as ações envolvendo questões 
internacionais, sejam acordos econômicos, diplomáticos e/ou militares, tinham 
interesses de uma das duas potências, que passaram a polarizar o mundo em um 
grande duelo ideológico e uma corrida pela hegemonia e o poder global. (DANTAS, 
2021) 
Com a criação da Comissão Brasil-EUA e da Cepal, o Brasil passou a 
investir massivamente na industrialização, por meio de grandes projetos 
coordenados pelo Estado. Ao mesmo tempo, passou a modernizar o campo e 
importar automóveis, processo este que levou a uma grande revolução urbana, 
sobretudo em cidades como São Paulo, que passou a adotar seu planejamento 
urbano para os automóveis, que eram símbolo da modernidade. (DANTAS, 2021) 
O amplo processo migratório que ocorreu em decorrência do período entre 
guerras fez o Brasil se tornar um local atrativo; assim, atrelado à rápida 
modernização, o país passou por uma intensa urbanização e um inchaço 
populacional considerável (Figura 2). 
 
 
23 
 
 
 
O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) também promoveu 
grandes transformações; com o Plano de Metas, o governo objetivou acelerar a 
modernização nacional que estava em curso e construiu Brasília, uma capital 
moderna, com o objetivo de integrá-la às outras regiões. (DANTAS, 2021) 
Havia, no entanto, três grandes movimentos ideológicos que pairavam 
sobre o país. Um era o mais conservador, que procurava frear o processo de 
modernização para conservar o poder sobre a propriedade e a riqueza; outro 
buscava acelerar a modernização com base na diversificação produtiva, garantindo 
elevar a economia nacional e promover gradativamente transformações sociais, 
modelo defendido pela CEPAL; o último era constituído de movimentos alinhados 
com os ideais socialistas, que, liderados por movimentos sociais e camadas 
populares, lutavam por reforma agrária, reforma urbana e divisão da riqueza. 
(DANTAS, 2021) 
O último movimento foi fortemente repreendido a partir de 1964, com o 
golpe militar. A retomada dos militares ao poder garantiu a permanência das elites 
no poder e conservou a estrutura agrária e patrimonial. Ao mesmo tempo, os 
militares criam o Plano Nacional de Desenvolvimento, na tentativa de acelerar a 
expansão econômica do Brasil, no auge da Guerra Fria, introduzindo o Brasil nos 
mercados capitalistas e aprofundando as relações com os Estados Unidos. 
(DANTAS, 2021) 
Esse longo processo ficou conhecido como modernização conservadora, 
pois, apesar da ampla industrialização nos setores têxteis, alimentício, siderúrgico 
 
24 
 
e metalúrgico, o país não mudou sua estrutura socioeconômica desigual, além de 
conservar o poder político de oligarquias que permaneceram atuando no aparelho 
de estado, direta ou indiretamente (PERLATTO, 2014). 
A década de 1980 é marcada pelo fim da Guerra Fria e pela abertura de 
novos ideais; o avanço das pautas ambientais, dos direitos humanos, das liberdades 
individuais e da paz mundial faz as nações adotarem novos acordos, propostas e 
prerrogativas que alteram drasticamente as estratégias geopolíticas do Brasil. 
(DANTAS, 2021) 
Desse modo, podemos considerar que o Brasil antes de 1930 não obtinha 
uma noção de unidade territorial forte, sendo constituído por grupos de poder 
importantes no Rio Grande do Sul, em São Paulo e Pernambuco, mas, após o 
governo Vargas, o país passa a constituir um Estado Centralizador, nas quais as 
decisões do Estado passaram a prevalecer (e se articular) sobre as oligarquias 
regionais, que não perderam expressão, mas foram submetidas ao Estado central 
(SOUZA, 2017). 
Vargas, nesse sentido, conseguiu criar uma unidade federativa na qual 
passou a consolidar a figura do Estado Nacional, promoveu um pacto das elites, 
satisfazendo as necessidades da elite agrária e industrial, ao mesmo tempo em que 
ganhou popularidade entre as classes operárias. (DANTAS, 2021) 
A universidade brasileira também desempenhou papel fundamental na 
constituição de uma noção de Brasil-Nação, a começar pela Universidade de São 
Paulo, que ao formar, principalmente, parte da classe média brasileira, legitimando 
a ideologia de um país branco e miscigenado, excluiu a noção de luta de classes e 
do escravismo posto em prática por séculos, tal como foi tratado nas obras de 
Gilberto Freire e outros (SOUZA, 2017). 
Nos governos subsequentes a Vargas, a centralização do poder político 
aumenta, sendo que as políticas públicas e o próprio orçamento e financiamento 
das políticas eram centralizados no poder federal. Desse modo, a formação do 
Estado a partir dos poderes executivo, legislativo e judiciário também é marcada 
pela descentralização dos poderes entre os entes federativos, e o governo federal, 
 
25 
 
até a Constituição de 1988, exercia papel decisivo na centralidade e no 
financiamento das macropolíticas. (DANTAS, 2021) 
Assim, a Constituição de 1988 dá início a uma ruptura na posição 
geopolítica do Brasil e inaugura uma nova forma de comportamento nos assuntos 
envolvendo relações internacionais. Ao mesmo tempo, promove a descentralização 
do poder, criando mecanismos jurídicos e institucionais que permitem a gestão das 
políticas públicas em âmbito estadual e municipal, rompendo com a característica 
do Estado centralizador, que marcou parte considerável do século XX. (DANTAS, 
2021) 
 
 
6 AS LINHASDE FORÇA DA GEOPOLÍTICA BRASILEIRA 
Após a constituição de 1988, o Brasil introduz institucionalmente a 
importância da democracia; isso foi resultado dos movimentos populares, sindicatos 
e outros, mas também de uma grande coesão internacional na qual várias nações 
passaram a reconhecer a importância da democracia, da cidadania, dos direitos 
humanos e das liberdades individuais (SEINO et al., 2013). O avanço dos meios de 
comunicação e da globalização provocaram também uma ampla articulação entre 
a sociedade civil, além de promover a disseminação de ideais universais. 
O Brasil inicia a década de 1990 liderando uma das maiores reuniões 
acerca da questão ambiental, a Eco-92, que ocorreu no Rio de Janeiro, naquele 
ano. Aos poucos, o Brasil foi se consolidando como um país responsável por liderar 
debates importantes internacionalmente. (DANTAS, 2021) 
 
26 
 
Em 1991, Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil criam o Mercado Comum 
do Sul (Mercosul), bloco econômico que tem o Brasil como um dos principais 
protagonistas, pois lidera as relações de comércio e detém a maior população. 
O país conhecido pela passividade auxiliou, por meio das forças de defesa, 
vários outros países em ações humanitárias coordenadas pela ONU e se posicionou 
firmemente no combate ao terrorismo, a epidemias, pobreza e outros (LIMA; 
MILANI; DUARTE, 2017). 
Nos anos 2000, elevou o PIB drasticamente e se tornou uma potência 
econômica no setor de produção de commodities agrícolas — além de atingir 
autossuficiência no setor energético petrolífero. Também impulsionou a política de 
diversificação de combustíveis e passou a ser protagonista na produção de energias 
renováveis. Introduziu uma política ambiental eficaz que reduziu drasticamente o 
desmatamento até o ano de 2015. (DANTAS, 2021) 
Em 2006 entrou no bloco dos BRICS — constituído por Brasil, Rússia, Índia, 
China e África do Sul, países de economia emergente que passaram a criar acordos 
comerciais para obtenção de vantagens competitivas. 
O país, por ser um dos mais multiétnicos do mundo, adotou uma política 
migratória que viabilizou a regularização de imigrantes de países africanos, latino-
americanos e outras regiões do mundo como a Ásia. 
Desse modo, apesar da grande dependência econômica e tecnológica e do 
retrocesso em acordos ambientais dos últimos anos, o Brasil pode ser caracterizado 
como um país que adota relações diplomáticas estratégicas, em assuntos de 
relevância global. (DANTAS, 2021) 
No entanto, para se chegar a esse patamar, o país passou por um amplo 
processo de ampliação das fronteiras territoriais, (re) organização política- -territorial 
do Estado Nacional, e constituiu algumas mudanças políticas estratégicas. 
Os mapas das Figuras 3a-b mostram a expansão territorial do Brasil. 
 
 
27 
 
 
(a) 
 
(b) 
 
 
Essa expansão territorial e a nova divisão política-administrativa do Brasil 
conferiram novas estratégias para fortalecimento do comércio no Cone Sul, 
passaram a descentralizar recursos e investimentos em novas áreas, explorando o 
potencial econômico das regiões, como áreas de mineração e expansão das 
fronteiras agrícolas, e criaram possibilidades de se tornar uma potência econômica 
 
28 
 
regional, principalmente devido à comercialização de commodities agrícolas e 
minerais. (DANTAS, 2021) 
No que tange à Constituição de 1988, ela promoveu a descentralização do 
poder político, conferindo autonomia aos municípios na gestão do território, e 
disponibilizando instrumentos jurídicos e fiscais para aquisição de recursos 
próprios; assim, estados e municípios passaram a ter um papel legislativo 
fundamental no desenvolvimento de políticas e estratégias de desenvolvimento. 
Esse processo fez que regiões deprimidas passarem a ser assistidas politicamente, 
e obter através de públicas um desenvolvimento mais equitativo, principalmente 
com as políticas públicas pós anos 2000. (DANTAS, 2021) 
Outra estratégia interna que promoveu fortes alterações nas dinâmicas 
políticas e no desenvolvimento foi a transferência da capital. O governo JK e o plano 
de metas, ao construir Brasília, acabou concebendo um novo país, que por meio de 
uma integração regional povoou várias regiões, ampliou a malha rodoviária, 
articulou o Centro-Oeste às demais regiões e promoveu investimentos no interior. 
Vale destacar que entre os anos de 1960 e 1990 o Brasil vive o auge do êxodo rural, 
da urbanização e da expansão demográfica, além de grandes alterações 
econômicas no campo devido à modernização agrícola. (DANTAS, 2021) 
Tais fatores abriram novos mercados para investimentos externos e 
insumos, além de criar uma demanda de consumo urbana, fazendo o Brasil 
efetivamente ingressar na economia mundial. Esses processos alteraram 
drasticamente as relações geopolíticas do País, que passou a ampliar as relações 
de comércio com outros países. (DANTAS, 2021) 
 
 
 
29 
 
7 FORMAÇÃO ECONÔMICO-ESPACIAL BRASILEIRA E SUA INSERÇÃO NA 
ECONOMIA GLOBAL 
Para compreender o papel da globalização e sua atuação na transformação 
dos diversos territórios e regiões mundiais, é preciso retomar alguns conceitos 
essenciais que nos auxiliem a entender as consequências dos processos em escala 
macro e como eles influenciaram os processos de microescala. (SILVEROL, 2021) 
A globalização pode ser entendida como um processo que visa à 
integração entre os mercados financeiro, de bens e de serviços, e indústrias, 
comércios, tecnologias e culturas. O ato de integrar pode trazer inúmeros 
benefícios, mas, ao mesmo tempo, pode agravar situações internas aos países, isto 
é, relações inerentes ao microcosmo, gerando conflitos sociais, políticos e culturais. 
Ainda, a integração trazida pela globalização traz a ideia de difusão, em que as 
ideias e pensamentos mundiais foram (e são) disseminados nos territórios e regiões 
de forma padrão, não respeitando as individualidades regionais e, especialmente, 
suas especificidades econômicas, políticas e sociais (SANTOS, 1999). 
O processo de globalização do Brasil ocorreu a partir do final da década de 
1980, em decorrência da estagnação econômica e da falta de alternativas para a 
realização de diversas reformas e de investimentos em infraestrutura, sobretudo 
industrial. O fato de o Brasil ter iniciado sua industrialização de forma tardia 
prejudicou seu ingresso de forma competitiva no mercado internacional, 
transformando-o em um país periférico à economia global (MOREIRA, 2005). 
Para que o fenômeno da globalização brasileira seja compreendido, é 
importante entender os processos iniciais que resultaram na organização 
econômico-espacial atual. Os processos foram distintos em cada região e 
convergiram em um processo com o mesmo princípio, mas que ainda aconteceu de 
forma diferenciada, em decorrência das características de cada região. (SILVEROL, 
2021) 
A organização espacial das regiões é resultante de diversas dinâmicas 
territoriais, que variaram de acordo com o momento histórico. Cada período histórico 
 
30 
 
é caracterizado por determinado tipo de uso do território/região, marcado por 
manifestações particulares que se integram ao longo do tempo. (SILVEROL, 2021) 
A distribuição territorial do trabalho define uma hierarquia entre os lugares, 
pois a forma de agir das pessoas e das instituições se altera no decorrer do tempo, 
impondo transformações às regiões e modificando seu grau de importância. Além 
disso, o conjunto de técnicas e sua evolução definem a base de uma região, 
tornando-a hegemônica e representando a expressão geográfica da globalização 
(SANTOS, 1999). 
7.1 A organização espacial do Brasil 
O processo de globalização só é possível mediante a existência de uma 
rede de fluxos efetiva, pois é a partir dessa rede que os fluxos de pessoas, 
mercadorias e serviços circulam pelo território. E é somente pela interligação de 
bens e serviços que ocorre a globalização. No território brasileiro,a globalização 
ocorreu de maneira desigual, tanto no tempo e no espaço quanto em relação aos 
resultados do processo, o que repercutiu na produção e no uso do território, além 
do estabelecimento das redes de circulação de mercadorias. (SILVEROL, 2021) 
A organização econômico-espacial do Brasil pode ser dividida em fases 
(MOREIRA, 2005): 
 
1. A dos vetores fundacionais; 
2. A dos ciclos de assentamento; 
3. A da redivisão territorial industrial do trabalho; 
4. A da privatização, da gestão e da desintegração espacial do projeto 
nacional; 
5. A da articulação das sociabilidades e das tendências de uma 
formação espacial complexa. 
 
Essas fases atuaram de maneira concomitante, em um processo contínuo 
de transformação do território. Vejamos cada uma em detalhes a seguir. 
 
31 
 
7.2 A fase dos vetores fundacionais 
A formação espacial do Brasil iniciou-se por meio de dois vetores: o 
movimento dos bandeirantes e a expansão do gado. Esses movimentos começaram 
em pontos e momentos diferentes no território, mas se encontraram no século XVIII 
(MOREIRA, 2005). 
O movimento dos bandeirantes teve início no século XVI, permanecendo 
ativo até o século XVIII. Seu ponto de partida foi o litoral, seguindo por quatro rotas 
distintas: litoral Sul, para o desbravamento da costa; Sudoeste, em direção ao 
território das missões jesuíticas; Oeste e Noroeste, em direção às comunidades 
indígenas do planalto central e da Amazônia; e Nordeste, em direção aos territórios 
quilombolas, rebelados contra os centros canavieiros da zona da mata nordestina 
(MOREIRA, 2005). 
O objetivo dessas incursões era a captura de índios e de escravos fugitivos, 
e, ao mesmo tempo, a busca por outras riquezas, especialmente metais. Os 
bandeirantes, durante sua permanência nesses lugares, realizaram cultivos 
agrícolas para subsistência e iniciaram pequenos núcleos populacionais, que 
funcionaram como uma base logística que, posteriormente, originou as cidades 
atuais. (SILVEROL, 2021) 
 
 
 
A expansão do gado originou-se na região açucareira da Zona da Mata 
pernambucana, com o avanço dos rebanhos para a direção do sertão nordestino no 
Piauí e no Ceará; para a direção Oeste, nos limites do planalto central; e pela calha 
do Rio São Francisco, na direção Sul. Da mesma forma como aconteceu com os 
bandeirantes, a cada ponto de parada dos rebanhos, foram realizados pequenos 
 
32 
 
plantios agrícolas e núcleos populacionais, criando novas bases de referência da 
ocupação e formação do território (MOREIRA, 2005). 
Os movimentos dos bandeirantes e dos rebanhos contribuíram para o 
deslocamento das fronteiras formais impostas pelo Tratado de Tordesilhas, 
avançando para o interior do território brasileiro e criando as primeiras bases, que, 
posteriormente, interligariam essas regiões. (SILVEROL, 2021) 
7.3 A fase dos ciclos de assentamento 
As rotas desbravadas e criadas pela expansão do gado e pelo movimento 
dos bandeirantes facilitaram o estabelecimento e a disseminação de núcleos 
populacionais pelo território. Ao mesmo tempo, os ciclos de assentamento que 
foram fomentados pelos ciclos econômicos também contribuíram, de maneira 
decisiva, para a organização espacial do território. Assim, a evolução do território 
ocorreu sob a influência de seis grandes ciclos (MOREIRA, 2005): 
 
1. Pau-brasil; 
2. Cana-de-açúcar; 
3. Mineração; 
4. Gado; 
5. Borracha; 
6. Café. 
 
A formação espacial brasileira iniciou-se com o ciclo do pau-brasil, que 
ocorreu entre os séculos XVI e XVII no litoral, sobretudo nos núcleos de mata 
atlântica. A extração da madeira para exportação exigiu o estabelecimento de 
feitorias e pequenas áreas de ocupação, mas com baixa magnitude. (SILVEROL, 
2021) 
O ciclo da cana-de-açúcar, iniciado em 1532 na zona da mata nordestina, 
foi o que, de fato, atuou de forma efetiva na ocupação territorial do litoral. Do litoral 
nordestino, foi se expandido pelas áreas de mata atlântica já devastadas pela 
 
33 
 
exploração de pau-brasil e seguiu até o Rio de Janeiro, notadamente no Norte do 
estado, e no litoral paulista, na região de São Vicente. (SILVEROL, 2021) 
No século XVIII, com o encontro de ouro e de diamantes em Minas Gerais 
e em parte do Centro-Oeste, a organização espacial sofreu uma importante 
mudança, com a transferência de uma parte da ocupação do litoral para o interior. 
Com isso, a formação colonial, que apresentava um caráter agrário, foi substituída 
pela mineira-urbana, encerrando a fase dos bandeirantes e da expansão do gado. 
Ao final do ciclo da mineração, a vida urbana instalada no interior prosseguiu, e o 
ciclo do gado foi iniciado nessa região, enquanto o centro de referência retornou 
para os núcleos açucareiros do litoral (MOREIRA, 2005). 
O ciclo do gado é uma junção de dois deslocamentos de rebanhos, sendo 
um proveniente do sertão nordestino e o outro do Sul do País, com um único destino: 
o planalto central-mineiro, devido à demanda de alimentos e de animais para 
transporte criada durante o ciclo da mineração. Durante esses deslocamentos, 
muitas áreas foram sendo povoadas, e novos núcleos de ocupação, estabelecidos. 
(SILVEROL, 2021) 
Enquanto o ciclo da mineração acontecia no Centro-Sul do País, o ciclo da 
borracha era iniciado no Norte do País, no final do século XVIII. A extração da 
borracha reorganizou todo o território, e essa nova atividade econômica atraiu 
pessoas, principalmente do sertão nordestino, que foram assolados pelas secas do 
final do século. Com isso, as relações existentes foram alteradas, surgindo uma 
nova forma de exploração da floresta (MOREIRA, 2005). 
 
 
 
O ciclo do café é o último ciclo econômico, iniciado no século XIX e 
estendido até meados do século XX, cujo núcleo mais próspero foi o estado de São 
 
34 
 
Paulo. O café foi cultivado inicialmente nas matas dos maciços interiores da cidade 
do Rio de Janeiro, expandindo-se para a Serra do Mar e o Vale do Paraíba, nos 
estados do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de São Paulo. Na sequência, 
alcançou o planalto paulista, onde atingiu seu auge. (SILVEROL, 2021) 
Esse último ciclo econômico foi de grande importância, pois sua 
rentabilidade possibilitou e fomentou a realização de inúmeras transições, como da 
colônia para a independência, da escravidão para o capitalismo e da monarquia 
para a república. Ainda, seria o responsável por uma grande transformação do 
espaço geográfico brasileiro, com o financiamento da industrialização e da 
urbanização do País (MOREIRA, 2005). 
7.4 A fase da redivisão territorial industrial do trabalho 
No decorrer dos ciclos econômicos, a configuração espacial brasileira foi se 
consolidando, e, no início do século XX, a formação espacial já estava 
fundamentada e pronta para o próximo passo: a industrialização. Nesse momento, 
o território se reorganizou e algumas áreas foram diferenciadas, além de ter havido 
a consolidação das regiões e de suas áreas de influência em função dos ciclos 
econômicos. De fato, a diferenciação regional foi de grande importância para o 
desenvolvimento da indústria, sobretudo para a divisão territorial de trabalho, cujo 
objetivo era extrair as divisas de exportação necessárias ao desenvolvimento 
industrial (MOREIRA, 2005). 
A fase industrial pode ser dividida em dois momentos: a fase pré-industrial 
e a fase industrial propriamente dita. Até a década de 1950, a produção industrial 
buscava atender ao mercado externo e, com as divisas obtidas com o comercio 
exterior, financiava o capital inicial das indústrias, com aquisições de matérias-
primas importadas e equipamentos diversos. A partir de 1950, o parque industrial 
brasileiro estava desenvolvido e com capital, e centrando a formação espacial a 
partir de uma organização do espaço produzida e transformada para atender às 
necessidades da indústria. (SILVEROL, 2021) 
 
35 
 
Assim, a fase de ciclos econômicos e a organização espacialresultante 
desse processo, ou seja, uma economia regional organizada, com a fase da 
industrialização, foi transformada em uma economia nacional regionalmente 
organizada (MOREIRA, 2005). 
7.5 A fase da privatização, da gestão e da desintegração espacial do projeto 
nacional 
A fase de industrialização também repercutiu na ampliação e na 
urbanização das cidades, especialmente no Sudeste do Brasil. As oportunidades 
decorrentes do crescimento da indústria, do comércio e do aumento dos serviços 
provocaram uma série de movimentos populacionais. A migração interna trouxe 
uma variedade de problemas e de conflitos sociais, já que o desenvolvimento estava 
mais concentrado em uma região do País (SANTOS, 2009). 
Para que as outras regiões pudessem se desenvolver, foram realizadas 
reformas que tinham por objetivo uma nova reordenação espacial, de forma a 
orientar o desenvolvimento das outras regiões, bem como sua modernização. A 
reestruturação do espaço brasileiro iniciou-se na década de 1970, com três 
ações principais (MOREIRA, 2005): 
 
1. O incentivo à modernização da agricultura; 
2. A redistribuição territorial da indústria; 
3. A privatização de espaços estatais. 
 
A modernização da agricultura ocorreu de forma mais contundente a 
partir da década de 1970, mas a expansão das fronteiras agrícolas foi anterior, com 
a migração de pequenos produtores oriundos do Sul do Brasil, a partir de meados 
da década de 1950, para o Centro-Oeste. Aproveitando essa corrente migratória, o 
governo militar também incentivou a colonização no Norte do País, principalmente 
na fronteira amazônica. A partir de técnicas de cultivo dos solos do cerrado 
elaboradas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a 
agricultura em larga escala foi possibilitada, acrescida do incentivo governamental 
 
36 
 
ao desenvolvimento da indústria para agricultura, permitindo a mecanização do 
campo. Em poucas décadas, commodities como soja, algodão, milho, etc., 
passaram a ocupar essas regiões (MOREIRA, 2005). 
A redistribuição territorial da indústria consistiu em políticas de 
desconcentração industrial, a partir da redistribuição de alguns setores para as 
periferias do território, como as indústrias de bens intermediários, implementando-
as na forma de grandes polos mineiro-industriais. Essa redistribuição, associada à 
modernização da agricultura, conferiu visibilidade e importância aos outros espaços 
regionais, integrando-os, de alguma forma, ao espaço geográfico nacional. Assim, 
a nova configuração espacial abandonou, em parte, a organização em faixas de 
sentido litoral-interior e as regiões oriundas dos ciclos econômicos para uma 
disseminação das estruturas por boa parte do território (MOREIRA, 2005). 
Por fim, a política de privatização das empresas estatais, ocorrida a 
partir dos anos de 1980, privatizou também a gestão territorial. A partir do momento 
que empresas de áreas estratégicas de infraestrutura e de bens intermediários, 
como siderurgia, exploração de recursos minerais, energia, etc., foram privatizadas, 
sua gestão passou a ser de responsabilidade do capital privado. (SILVEROL, 2021) 
 
 
7.6 A fase da articulação das sociabilidades e da formação espacial 
complexa 
A era das privatizações de empresas estatais, que também privatizava a 
gestão territorial de uma parte do espaço geográfico, reduziu a ação do poder 
público na regulação e na gestão do espaço. A gestão territorial passou a ser 
interpretada, a partir de então, como uma parceria público-privada, em que o capital 
privado sinaliza, na maioria das vezes, as ações necessárias para que ele seja 
beneficiado. Porém, para que o poder público mantivesse certo controle da gestão 
 
37 
 
territorial, foram criadas as agências de regulação para setores estratégicos da 
economia, como o petróleo, as telecomunicações, a energia elétrica, os transportes 
terrestres, etc., como um mecanismo de intervenção às ações do capital privado. 
(SILVEROL, 2021) 
Dessa forma, a gestão territorial e a organização espacial brasileira 
passaram a ser cada vez mais fragmentadas e setorizadas. As agências 
reguladoras buscam assegurar a gestão territorial, que, muitas vezes, beneficia o 
capital privado, alterando a forma como a sociedade se relaciona com o espaço 
geográfico. Com as mudanças, surgem formas espontâneas, por parte da 
população, de autorregulação, de modo a permitir o desenvolvimento de formas 
coletivas e individuais de organização da produção e de vida, antes associadas aos 
interesses do capital privado (MOREIRA, 2005). 
Nesse sentido, a formação espacial brasileira, a partir de meados da década 
de 1990, tornou-se ainda mais complexa, justamente pela coexistência das 
demandas do capital privado e da globalização e as formas não capitalista de 
existência da sociedade. Tudo isso impõe a necessidade de novos caminhos e a 
quebra de paradigmas em relação ao trabalho e às políticas para o gerenciamento 
e a regulação do espaço geográfico (MOREIRA, 2005). 
8 A PRODUÇÃO E O USO DO TERRITÓRIO 
A organização econômico-espacial do Brasil foi construída a partir de fases, 
que foram alterando o modo como o espaço geográfico se configuraria em função 
dos acontecimentos históricos, econômicos e sociais que ocorriam no território 
brasileiro. (SILVEROL, 2021) 
O uso do território, desde o período Colonial até meados da industrialização, 
sempre foi muito desigual. À medida que as dinâmicas econômicas, sociais e 
históricas eram alteradas, surgiam novas formações espaciais, cujo processo de 
desenvolvimento ainda se mantinha desigual, somente mudando o centro de 
importância de um espaço para outro, bem como as relações sociais ali existentes 
(MOREIRA, 2005). 
 
38 
 
 
 
Sem dúvida, a grande transformação do uso e da produção do território 
ocorreu a partir da fase industrial brasileira, que pode ser dividida em duas fases. A 
primeira, quando a industrialização conseguiu dissolver e alterar a dinâmica 
econômica imposta pelos ciclos econômicos, reorganizando o espaço e 
estabelecendo uma nova divisão territorial de trabalho, ou seja, separando de forma 
definitiva o campo da cidade; e a segunda, quando essa divisão territorial de 
trabalho foi consolidada, e as indústrias, antes pulverizadas, concentraram-se em 
São Paulo (MOREIRA, 2005). 
Para fomentar as novas atividades econômicas, um novo território foi 
produzido, com infraestruturas que permitissem a circulação de mercadorias, de 
serviços e de pessoas, bem como a comunicação e a transmissão de energia. 
Ainda, deveria ser organizado em uma ampla rede de circulação, objetivando 
instaurar o comando da cidade sobre o campo e do estado de São Paulo sobre o 
espaço nacional. (SILVEROL, 2021) 
A forte concentração da economia industrial no polo paulista e a 
subordinação, por décadas, das atividades regionais à performance econômica da 
indústria concentrada em São Paulo fomentaram e promoveram o uso e a produção 
do território em outros espaços de maneira muito desigual, gerando muitas 
disparidades econômicas e sociais. Nesse sentido, tornou- -se necessária a adoção 
de ações que tentassem equalizar as disparidades, pois só com uma produção 
territorial equilibrada o País se desenvolveria de forma mais sustentável. 
(SILVEROL, 2021) 
 
39 
 
Assim, a descentralização industrial permitiu o uso e a produção territorial 
nos espaços periféricos do centro paulista, como as regiões Norte, Nordeste e 
Centro-Oeste. A instalação de indústrias de bens intermediários e a expansão 
agrícola propiciaram a transformação do espaço geográfico, da formação espacial 
e das dinâmicas economias e sociais. (SILVEROL, 2021) 
A partir da década de 1980, a formação espacial brasileira, incluindo seu 
uso e a produção territorial, foi ampliada graças à disseminação das atividades 
agrícolas, pecuárias e industriais por todo o território. Essa disseminação também 
fomentou a criaçãoe a difusão de uma rede de circulação, que envolveu 
transportes, comunicação e linhas de transmissão de energia, ampliando a 
circulação de pessoas entre as cidades e as trocas comerciais, que se tornaram 
cada vez mais distribuídas pelo território nacional (MOREIRA, 2005). 
9 AS REDES DE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS 
No período colonial brasileiro, os colonizadores portugueses não tinham 
interesse em criar cidades, mas, sim, em estabelecer alguns núcleos urbanos no 
litoral brasileiro com a função de defesa e como entreposto para a exploração do 
interior nos diversos ciclos extrativos e agrícolas que existiram durantes os séculos 
que se seguiram. Assim, durante todo o período colonial e na fase de assentamento, 
quando atuaram os ciclos econômicos, os núcleos populacionais eram criados para 
defesa e entreposto. Assim, não compunham qualquer rede de circulação e se 
interligavam com os núcleos do litoral com o intuito de escoamento, configurando 
pontos isolados no território. (SILVEROL, 2021) 
Devido ao movimento bandeirante, alguns núcleos populacionais passaram 
a se interligar de alguma forma, e uma incipiente rede de circulação foi iniciada a 
partir de 1530, com uma rede de circulação formada, ao final de 1720, com 63 vilas 
e oito cidades. A rede formada a partir de 1720, portanto, foi fomentada pelo 
surgimento de vilas e de cidades que se desenvolveram e prosperaram em função 
dos ciclos econômicos. Ou seja, à medida que as cidades cresciam e se 
 
40 
 
desenvolviam em função das atividades econômicas, as redes de circulação 
tornavam-se mais complexas e difundidas pelo território (MOREIRA, 2005). 
 
 
 
Com a aceleração do processo de urbanização, a partir do século XVIII, as 
vilas e as cidades ganharam mais relevância, já que as oligarquias agrárias 
elegeram as cidades como sua moradia principal. Os grandes fazendeiros iam para 
as fazendas somente para acompanhar o andamento da produção e para resolver 
problemas relacionados à atividade (SANTOS, 2009). 
A urbanização brasileira atingiu sua maturidade no século XIX. Com o 
sucesso do ciclo do café e os primeiros surtos de industrialização, as relações 
comerciais entre as diferentes regiões brasileiras, que até então eram consideradas 
“arquipélagos regionais”, intensificaram-se. Com a produção do café, o estado de 
São Paulo passou a ser o polo dinâmico de uma grande área do território nacional, 
a qual abrangia o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Todo o aparato desenvolvido em 
função desse ciclo econômico, como a construção e a melhoria dos meios de 
transporte e de circulação e dos meios de comunicação, trouxe uma fluidez a essa 
região (MOREIRA, 2005). 
 
 
 
 
41 
 
Além disso, a própria natureza comercial agroexportadora do café inseriu, 
no território, as primeiras formas capitalistas de trabalho, de produção e de 
consumo, garantindo a fluidez nas redes de circulação. A divisão do trabalho que 
ocorreu nessa região promoveu o crescimento dos diversos subespaços envolvidos 
nessa rede, originando uma série de diferenciações espaciais quando comparadas 
com outras regiões do Brasil. (SILVEROL, 2021) 
A dinâmica proporcionada pela produção e comercialização do café e pela 
divisão do trabalho foi fundamental para que o processo de industrialização se 
desenvolvesse primeiramente nessa região, atribuindo uma grande vantagem ao 
polo central, São Paulo. No entanto, foi uma integração limitada do espaço e do 
mercado, pois só se concentrou no Sudeste do País. (SILVEROL, 2021) 
A partir de 1945, as primeiras vias importantes de transportes, como o 
ferroviário e o rodoviário, foram construídas e/ou interligadas, permitindo uma maior 
circulação de bens, de serviços e de mercadorias diversas entre as diversas regiões 
do País, e, sobretudo, dessas regiões para o núcleo urbano principal, São Paulo. 
Toda essa infraestrutura foi construída com o objetivo de intensificar os programas 
de substituições de importações e, por consequência, promoveu o aumento das 
redes de circulação com a ampliação da comunicação entre as redes urbanas 
(MOREIRA, 2005). 
No geral, a rede de circulação que foi promovida pela industrialização, e a 
urbanização era orientada para atender às demandas de uma área central, que, por 
muitas décadas, foi o estado de São Paulo. Isso ocasionou um impacto negativo 
nas relações e nos outros núcleos iniciais de assentamento. A configuração espacial 
desses espaços e sua rede de circulação foram alteradas diversas vezes para 
atender ao núcleo central, até que as políticas públicas iniciassem o processo de 
descentralização. (SILVEROL, 2021) 
As políticas de descentralização, a partir da década de 1970, permitiram 
o estabelecimento de novas redes de circulação, especialmente para a periferia do 
território, onde a expansão da agricultura e a instalação e/ ou transferência de 
indústrias diversas, sobretudo de bens de produção, permitiram a ampliação das 
redes. Ainda, a construção de infraestrutura básica, como estradas e ferrovias, e a 
 
42 
 
instalação de linhas de transmissão de energia e de comunicação permitiram o 
avanço na circulação de pessoas, de mercadorias e de serviços. (SILVEROL, 2021) 
Dessa maneira, as redes regionais preexistentes passaram a ser integradas 
a uma rede nacional de circulação, com o centro de referência ainda no sudeste do 
Brasil. A desconcentração industrial no estado de São Paulo permitiu maior 
interiorização das redes e a busca pelas redes regionais, de modo a integrar quase 
todo o sistema. (SILVEROL, 2021) 
10 O CONCEITO DE REGIÃO NA GEOGRAFIA E A QUESTÃO REGIONAL 
BRASILEIRA NOS CONTEXTOS POLÍTICO E SOCIOECONÔMICO 
O conceito de região é uma importante categoria de análise para a geografia 
e tem sido utilizado desde a geografia clássica com diferentes significações, na 
tentativa de compreender o espaço geográfico e as suas particularidades. O termo 
“região” não é de uso único e exclusivo da geografia, sendo utilizado também por 
outras ciências ao longo do tempo, além de ser utilizado para representar ideias de 
senso comum. Cabe fazer um apanhado histórico sobre o significado de região e 
seu emprego na geografia durante os diferentes períodos vivenciados pela ciência 
e entender sua importância no contexto territorial brasileiro. (MEGIATO, 2021) 
Ao procurar significados de “região” no dicionário Dicio de língua 
portuguesa, é possível encontrar diversos significados, sendo os principais: 
[...] território que se diferencia do outro por possuir características próprias 
de localização, população, clima e etc.; Designação das cinco grandes 
áreas por meio das quais o Brasil se divide; Designação das camadas que 
dividem a atmosfera. (REGIÃO, 2020, documento on-line). 
Ainda, apresentam-se significados para outras áreas, como a anatomia, em 
que o termo é utilizado para designar áreas do corpo humano. O dicionário ainda 
apresenta sinônimos para a palavra que remetem a país, província, pátria, nação e 
distrito — termos esses que são amplamente utilizados para entender questões 
territoriais de determinado espaço geográfico. (MEGIATO, 2021) 
 
43 
 
Ao pesquisar sua etimologia, a palavra “região” aparece como derivada do 
latim regere, com o prefixo reg comum a outras palavras, como regra e regente, de 
acordo com Gomes (2011). De acordo com o autor, a palavra regione era utilizada 
para denominar áreas no Império Romano (Figura 1) que respondiam a Roma, mas 
que possuíam uma administração local. Gomes (2011) relaciona o surgimento do 
conceito de região no período com a interpretação de alguns filósofos que se 
propuseram a discutir a questão territorial dessa época. 
Alguns filósofos interpretam a emergência deste conceito como uma 
necessidade de um momento histórico em que, pela primeira vez surge, 
de forma ampla, a relação entre centralização do poder em um local e a 
extensão dele sobre uma área de grande diversidade social, cultural e 
espacial.(GOMES, 2011, p. 51). 
 
 
Assim como outros conceitos da geografia, o conceito de região passou por 
ressignificações desde a Antiguidade até os diversos períodos da ciência 
geográfica. Tais ressignificações foram dadas por cada contexto histórico, 
agregando novos significados de acordo com as questões territoriais, políticas, 
econômicas e sociais de cada período. Porém, sempre estiveram atreladas ao 
significado de região questões como: diversidade espacial, diversidade física, 
 
44 
 
diversidade cultural, diversidade política, além de centralização de poder e 
regulação administrativa. (MEGIATO, 2021) 
De acordo com Gomes (2011, p. 52), a partir do levantamento histórico do 
conceito de região, é possível perceber três consequências principais: 
A primeira é que o conceito de região tem implicações fundadoras no 
campo da discussão política, da dinâmica do Estado, da organização da 
cultura e do estatuto da diversidade espacial; percebemos também que 
este debate sobre região (ou sobre seus correlatos como nação), possui 
um inequívoco componente espacial, ou seja, vemos que o viés na 
discussão destes temas , da política, da cultura, das atividades 
econômicas, está relacionado especificamente às projeções no espaço 
das noções de autonomia, soberania, direitos etc., e de suas 
representações; finalmente, em terceiro lugar , percebemos que a 
geografia foi o campo privilegiado destas discussões ao abrigar a região 
como um dos seus conceitos-chave e ao tomar a si a tarefa de produzir 
uma reflexão sistemática sobre este tema. 
Ao fazer uma análise histórica sobre o pensamento geográfico e a sua 
evolução no tempo, é possível perceber transformações, rupturas e mudanças 
metodológicas e de significados na abordagem do conceito de região. Em parte, as 
discussões e os debates em torno do conceito de região acompanharam o 
desenvolvimento do pensamento científico e a evolução da ciência geográfica. De 
acordo com Carvalho (2002), mesmo antes da sistematização da geografia, a noção 
de região já aparecia com o filósofo Immanuel Kant, no século XVIII, atrelada à ideia 
de espaço geográfico. Para o autor, o espaço se dividia em regiões que 
representariam a história dos homens na superfície terrestre. 
Na obra do geógrafo Friedrich Ratzel, da corrente do determinismo, é 
abordada a noção de região natural, sendo considerada parte da geografia física 
e relacionada às questões da natureza. Isso porque, na concepção do 
determinismo, o meio ambiente influencia ou define as diferentes sociedades 
humanas. Já a obra do geógrafo Paul Vidal de La Blache, fundador da corrente do 
possibilismo, apresenta a noção de região geográfica. De acordo com Carvalho 
(2002, documento on-line): 
Vidal de La Blache (1845- 1918) defendeu a região, enquanto entidade 
concreta, existente por si só. Aos geógrafos caberia delimitá-la e descrevê-
la. Segundo ele, a geografia definiria seu papel através da identificação 
das regiões da superfície terrestre. Nessa noção de região, acrescenta-se 
 
45 
 
à presença dos elementos da natureza, caracterizadores da unidade e da 
individualidade, a presença do homem. 
Outros autores que se destacam na abordagem do conceito de região são 
os geógrafos Alfred Hettner e Richard Hartshorne. Hettner considerava uma divisão 
das ciências em: 
 
 Ciências idiográficas (observação e descrição de fenômenos em 
determinado lugar ou sobre algum tema); e 
 Ciências nomotéticas (levantamento, classificação de fenômenos e 
elaboração de sínteses para explicação de fenômenos universais). 
 
De acordo com Spósito (2004), as ideias de Hettner foram retomadas por 
Hartshorne em The Nature of Geography, em que se discute o método regional de 
estudo, abordando a distribuição e a localização espacial ao se estudar a região. 
Nas palavras de Spósito (2004), fazendo referência a Hartshorne, “[...] a região não 
é uma realidade evidente, mas um produto mental, uma forma de ver o espaço que 
coloca em evidência fundamentos da organização diferenciada do espaço, ou seja, 
síntese de relações complexas” (SPÓSITO, 2004, p. 103). 
Outros autores e outras correntes do pensamento geográfico influenciaram 
o conceito de região e a sua aplicação. Merece destaque a geografia 
neopositivista, que, segundo Spósito (2004), buscou a unidade metodológica e de 
discurso da ciência geográfica, considerando o conceito de região como uma 
divisão do espaço de acordo com critérios diferentes e criando o conceito de regiões 
funcionais e regiões homogêneas. 
Também se destaca a noção de região dada pela geografia crítica, que 
considera a diferenciação do espaço como fruto da divisão do trabalho e do 
processo de acumulação de capital, diferenciando aqueles que o possuem daqueles 
que não os possuem. Nesse sentido, de acordo com Spósito (2004), o processo 
histórico passa a ser visível por meio do conceito de formação econômica. O autor 
busca no pensamento de Milton Santos (1978) sintetizado por Gomes (1995) o 
entendimento de que região é a síntese concreta e histórica desta instância espacial 
 
46 
 
ontológica dos processos sociais, produto e meio da produção e reprodução de toda 
vida social (SANTOS, 1978 apud GOMES, 1995). 
É possível perceber a questão regional brasileira, a sua concepção e a sua 
aplicação no território ao longo do tempo. Algumas regionalizações, de acordo com 
Haesbart (2020), eram referentes “[...] tanto às transformações histórico-geográficas 
concretas quanto — e às vezes de maneira dissociada — ao campo da história das 
ideias” (HAESBART, 2020, documento on-line). A primeira regionalização do 
Brasil data de 1913, com o propósito de regionalizar o país por meio dos aspectos 
físico-naturais como relevo, clima e vegetação, dividindo o país em cinco regiões: 
Setentrional, Norte Oriental, Central, Oriental e Meridional. Tal regionalização era 
utilizada para fins didáticos no ensino de geografia e foi proposta pelo geógrafo 
Delgado de Carvalho. 
Segundo Haesbart (2020), foi somente depois da segunda metade do 
século XX que as regionalizações brasileiras passaram a agregar de forma mais 
efetiva as características econômicas e culturais em seus modelos e propostas. 
Antes desse período, as regionalizações existentes, como a de Delgado de 
Carvalho, eram influenciadas pela obra de Vidal de La Blache, que inicialmente 
considerava os aspectos naturais para delimitação das regiões. De acordo com 
Haesbart (2020, documento on-line): 
É sintomático o debate envolvendo as propostas do Conselho Nacional de 
Geografia quando da definição da primeira regionalização oficial do país, 
em 1941. Segundo Lira (2017), travou-se à época um embate entre 
diferentes tradições da geografia, ‘uma vertente francesa e uma vertente 
norte americana, representando também diferenças entre a escola 
paulista, formada por Monbeig, e a escola carioca, influenciada, após a 
passagem de Deffontaines, pela escola americana’. 
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1945, propôs 
uma nova regionalização para o território nacional, baseando-se em aspectos 
físicos e socioeconômicos. Nessa divisão regional, o Brasil se dividia em sete 
regiões: Norte, Nordeste Oriental, Nordeste Ocidental, Centro-Oeste, Leste 
Setentrional, Leste Meridional e Sul. De 1950 a 1960, essas regiões se 
diferenciavam pela inserção ou exclusão de áreas, devido às transformações 
territoriais ocorridas no período. 
 
47 
 
A regionalização oficial do IBGE atual foi desenhada em 1970, sendo o país 
dividido em cinco macrorregiões político-administrativas: Norte, Nordeste, Sul, 
Sudeste e Centro-Oeste. Posteriormente, em 1990, com as mudanças da 
Constituição de 1988, essa divisão regional foi atualizada a partir de algumas 
mudanças territoriais que se configuraram. (MEGIATO, 2021) 
Uma regionalização que se destaca pela preocupação em inserir questões 
de ordem econômica e formas de ocupação do espaço no Brasil é a

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