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� � � � � � � � � �� ��� �������� � ����� ���� � �� �� � ��������� �������� � ������� Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Obra originalmente publicada sob o título Biology, 8th Edition ISBN 9780805368444 Authorized translation from the English language edition, entitled BIOLOGY, 8th Edition, by NEIL A. CAMPBELL and JANE B. REECE, published by Pearson Education, Inc., publishing as Benjamin Cummings, Copyright © 2008. All rights reserved. No part of this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying, recording or by any information storage retrieval system, without permission from Pearson Education, Inc. Portuguese language edition published by Artmed Editora, Copyright © 2010. Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada BIOLOGY, 8ª EDIÇÃO, de autoria de NEIL A. CAMPBELL e JANE B. REECE, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo de Benjamin Cummings, Copyright © 2008. Todos os direitos reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes ou sua íntegra armazenada em quaisquer meios, seja mecânico ou eletrônico, inclusive fotocópia, sem permissão da Pearson Education, Inc. A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora, Copyright © 2010. Capa: Mário Röhnelt Preparação de originais: Henrique de Oliveira Guerra Leitura final: Magda Regina Chaves Editora Sênior – Biociências: Letícia Bispo de Lima Editora Júnior – Biociências: Carla Casaril Paludo Editoração eletrônica: Techbooks Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 C187b Campbell, Neil. Biologia [recurso eletrônico] / Neil Campbell, Jane Reece; tradução Daniel Lorenzini ... [et al.]. – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010. Editado também como livro impresso em 2010. ISBN 978-85-363-2351-0 1. Biologia. I. Reece, Jane. II. Título. CDU 573 1236 Campbell & Cols. mais saudáveis e mudas maiores do que aqueles na bacia hidrográ- fica controle. Esses dados sugerem que o declínio dos bordos no nordeste dos Estados Unidos e sudeste do Canadá é devido pelo menos em parte às consequências da acidificação do solo. Os estudos em Hubbard Brook, bem como diversos outros projetos de pesquisa ecológica de longa duração financiados pela Fundação Nacional de Ciência, avaliam os processos naturais do ecossistema e fornecem uma visão importante dos mecanismos pelos quais as atividades humanas afetam esses processos. R E V I S à O D O C O N C E I T O 1. DESENHE Para cada um dos ciclos biogeoquímicos deta- lhados na Figura 55.14, desenhe um diagrama simples que mostre uma possível rota para um átomo ou molécula da- quela substância química de um reservatório abiótico até um reservatório biótico e vice-versa. 2. Por que o desmatamento da bacia hidrográfica aumenta a concentração de nitratos nos cursos d’água da bacia? 3. E SE...? Por que a disponibilidade de nutrientes na flo- resta tropical é particularmente vulnerável ao desmata- mento? Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. 55.5 Atividades humanas hoje dominam a maioria dos ciclos químicos na Terra Uma vez que a população humana cresceu rapidamente em ta- manho (ver Seção 53.6), nossas atividades e capacidades tecno- lógicas têm perturbado a estrutura trófica, o fluxo de energia e a reciclagem química dos ecossistemas. Na realidade, em sua maio- ria, os ciclos químicos hoje são mais influenciados por atividades humanas do que por processos naturais. Enriquecimento de nutrientes A atividade humana geralmente remove nutrientes de uma parte da biosfera e os adiciona em outra parte. No nível mais simples, uma pessoa comendo um pedaço de brócolis em Washington, DC, consome nutrientes que poucos dias antes estavam no solo na Califórnia; um pequeno espaço de tempo depois, alguns des- ses nutrientes estarão no Rio Potomac, tendo passado pelo sis- tema digestivo da pessoa e pela unidade de tratamento local de esgoto. Em escala maior, nutrientes no solo de uma fazenda po- dem lixiviar até rios e lagos, esgotando nutrientes em uma área e acrescentando em outra e alterando os ciclos químicos em ambas as áreas. Além disso, os seres humanos adicionaram materiais in- teiramente novos – alguns deles tóxicos – aos ecossistemas. Os seres humanos alteraram tanto os ciclos de nutrientes que não podemos mais compreender nenhum ciclo sem levar esses efeitos em consideração. Vamos examinar exemplos específicos do impacto dos seres humanos na dinâmica química da biosfera. A agricultura e o ciclo do nitrogênio Após a vegetação natural ser removida de uma área, a reserva existente de nutrientes no solo é suficiente para cultivar planta- ções por um período de tempo. Nos ecossistemas de agricultura, entretanto, uma fração substancial desses nutrientes é exporta- da da área na forma de biomassa da plantação. O período “livre” para a produção da plantação – quando não há necessidade de adicionar nutrientes no solo – varia enormemente. Quando al- gumas das pradarias nos primórdios da América do Norte foram cultivadas pela primeira vez, grandes plantações poderiam ser produzidas por décadas, pois o grande estoque de material or- gânico no solo continuava a se decompor e a fornecer nutrientes. Por outro lado, algumas áreas desmatadas nos trópicos podem ser cultivadas apenas por um ou dois anos por causa da quantidade reduzida de nutrientes contida no solo. Apesar dessas variações, em qualquer área sob agricultura intensiva, o estoque natural de nutrientes acaba se tornando escasso. O nitrogênio é o principal nutriente perdido na agricultura; portanto, a agricultura tem grande impacto no ciclo do nitrogê- nio. Lavrar a terra mistura o solo e acelera a decomposição de matéria orgânica, liberando nitrogênio posteriormente remo- vido quando as plantações são colhidas. Fertilizantes aplicados ajustam a perda de nitrogênio utilizável para os ecossistemas de agricultura (Figura 55.17). Além disso, conforme vimos no caso de Hubbard Brook, sem a vegetação para retirar nitratos do solo, eles provavelmente serão perdidos por lixiviação do ecossistema. Estudos recentes indicam que as atividades humanas têm mais que duplicado o estoque global de nitrogênio fixo disponí- vel para os produtores primários. Fertilizantes industriais forne- ceram a maior fonte adicional de nitrogênio. A queima de com- bustível fóssil também libera óxidos de nitrogênio, que entram na atmosfera e são dissolvidos na água da chuva. O aumento do cultivo de leguminosas, com seus simbiontes fixadores de nitro- gênio, é a terceira via pela qual os seres humanos aumentam a quantidade de nitrogênio fixado no solo. Figura 55.17 � Fertilização de uma plantação de milho. Para repor os nutrientes removidos nas plantações, produtores devem aplicar fertili- zantes – sejam eles orgânicos, como estrume ou palha, ou sintéticos, como mostrado aqui. Biologia 1237 Contaminação de ecossistemas aquáticos O problema essencial do excesso de nutrientes é a carga crítica, a quantidade de nutrientes adicionados, geralmente nitrogênio ou fósforo, que pode ser absorvida pelas plantas sem danificar a integridade do ecossistema. Por exemplo, minerais contendo ni- trogênio no solo que excedam a carga crítica acabam percolando para o lençol freático ou seguem até ecossistemasmarinhos ou de água doce, contaminando estoques de água e matando peixes. Concentrações de nitratos nas águas correntes estão aumentando nas regiões de maior agricultura, às vezes excedendo os níveis de segurança para consumo. Diversos rios contaminados com nitratos e amônia pela agricultura e esgoto vão até o Oceano Atlântico, com as maiores entradas ocorrendo no norte da Europa e no centro dos Estados Unidos. O Rio Mississippi carrega a poluição de nitrogênio para o Golfo do México, abastecendo um aumento súbito de fitoplânc- ton a cada verão. Quando o fitoplâncton morre, sua decomposi- ção cria uma extensa “zona morta” de baixa disponibilidade de oxigênio ao longo da costa (Figura 55.18). Peixes, camarões e ou- tros animais marinhos desaparecem de algumas das águas econo- micamente mais importantes do país. Para reduzir o tamanho da zona morta, agricultores começaram a utilizar fertilizantes com mais eficiência, e os administradores estão restaurando águas na bacia do Mississippi, duas mudanças estimuladas por resultados de experimentos em ecossistemas. A saída de nutrientes também pode levar à eutrofização de lagos, como aprendemos no item 55.2. O crescimento e poste- rior morte de algas e cianobactérias e a consequente depleção de oxigênio lembram o que ocorre na zona morta marinha. Essas condições ameaçam a sobrevivência dos organismos. Por exem- plo, a eutrofização do Lago Erie e a pesca excessiva acabaram com peixes importantes comercialmente, como o lúcio-azul, o peixe-branco e a truta-do-lago, por volta dos anos 1960. Desde então, regras mais rígidas para despejo de lixo no lago permiti- ram o retorno de algumas populações de peixes, porém diversas espécies de peixes e invertebrados ainda não se recuperaram. Precipitação ácida A queima de madeira e combustíveis fósseis, incluindo carvão e óleo, libera óxidos de enxofre e nitrogênio que reagem com a água na atmosfera, formando ácido sulfúrico e nítrico, respec- tivamente. Os ácidos por fim caem na superf ície terrestre como precipitação ácida – chuva, neve ou neblina com pH inferior a 5,2. Precipitação ácida abaixa o pH de rios e lagos e afeta a quí- mica do solo e disponibilidade de nutrientes. Embora a precipi- tação ácida ocorra desde a Revolução Industrial, as emissões que a causam aumentaram durante o último século, principalmente por mineradoras e usinas elétricas. A precipitação ácida é um problema regional que vem surgin- do a partir das emissões locais. As mineradoras e usinas elétricas são construídas com sistemas de exaustão de mais de 300 m de al- tura que reduzem a poluição no nível do solo, porém exportam-na para longe pelo vento. Poluentes sulfurados e nitrogenados podem percorrer centenas de quilômetros antes de caírem como precipi- tação ácida. Nos anos 1960, ecologistas determinaram que organismos de lagos no nordeste do Canadá estavam morrendo devido à poluição do ar proveniente de fábrica no meio-oeste americano. Lagos e rios no sul da Noruega e da Suécia estavam perdendo peixes devido à chuva ácida de poluentes gerados na Grã-Bretanha e na Europa Central. Por volta de 1980, o pH da precipitação em grandes áreas da América do Norte e Europa era em média de 4,0-4,5 e ocasio- nalmente caía até 3,0. Nos ecossistemas terrestres, como as florestas antigas da Nova Inglaterra, a mudança no pH do solo devido à precipitação ácida causa a eliminação de cálcio e outros nutrientes do solo (ver os es- tudos de Hubbard Brook no item 55.4). A deficiência de nutrientes afeta a saúde das plantas e limita seu crescimento. A precipitação ácida também danifica as plantas diretamente, em especial pela eliminação de nutrientes das folhas. Ecossistemas de água doce são particularmente sensíveis à precipitação ácida. Os lagos na América do Norte e no norte da Europa mais rapidamente danificados pela precipitação ácida são aqueles que possuem baixa concentração de bicarbonato, um im- portante tampão (ver Capítulo 3). Populações de peixes vêm dimi- nuindo em milhares de lagos na Noruega e Suécia, onde o pH da água caiu abaixo de 5,0. No Canadá, trutas-do-lago recém-incuba- das, um importante predador, morrem quando o pH cai abaixo de 5,4. Quando a truta foi substituída por um peixe com tolerância à acidez, a dinâmica das cadeias alimentares mudou drasticamente. Diversos experimentos em grandes ecossistemas estão sendo conduzidos para testar a possibilidade de reverter os efeitos da pre- cipitação ácida. Um desses experimentos é a adição de Ca2� em Figura 55.18 � A zona morta proveniente da poluição de nitrogênio na bacia do Mississip- pi. Nessas imagens de satélite de 2004, vermelho e la- ranja representam altas concentrações de fitoplânctons e sedimentos do rio no Golfo do México. Esta zona morta estende-se muito mais além da costa no verão do que no inverno. Inverno Verão 1238 Campbell & Cols. Hubbard Brook discutida anteriormente neste capítulo. Outro é um experimento de 17 anos na Noruega, em que cientistas cons- truíram um teto de vidro sobre uma floresta e então molharam a floresta com precipitação sem os ácidos. Essa precipitação “limpa” rapidamente aumentou o pH e diminuiu as concentrações de ni- trato, amônia e sulfato nos rios das florestas. Resultados desse e de outros experimentos ajudaram a convencer líderes de mais de 40 países europeus a assinar um tratado para reduzir a poluição do ar. Regulamentações ambientais e novas tecnologias industriais permitiram que países desenvolvidos reduzissem as emissões de dióxido de enxofre nos últimos 40 anos. Nos Estados Unidos, por exemplo, as emissões de dióxido de enxofre diminuíram 31% entre 1993 e 2002. Como resultado, a precipitação no nordeste americano está gradualmente se tornando menos ácida (Figura 55.19). Entretanto, os ecologistas estimam que serão necessárias décadas para que os ecossistemas aquáticos dessa região se recu- perem, mesmo se as emissões de dióxido de enxofre continuarem a diminuir. Enquanto isso, as emissões de óxidos de nitrogênio estão aumentando nos Estados Unidos, e as emissões de dióxido de enxofre e a precipitação ácida continuam a danificar as flores- tas na Europa Central e Oriental. Toxinas no meio ambiente Os seres humanos liberam uma variedade imensa de substâncias químicas tóxicas, incluindo milhares de compostos sintéticos previamente desconhecidos na natureza, com pouca preocupa- ção sobre as consequências ecológicas. Organismos absorvem susbtâncias tóxicas do meio ambiente junto com os nutrientes e a água. Alguns dos venenos são metabolizados e excretados, porém outros são acumulados em tecidos específicos, especialmente na gordura. Uma das razões para as toxinas acumuladas serem par- ticularmente danosas é que elas se tornam mais concentradas nos sucessivos níves tróficos da cadeia alimentar, processo chamado de ampliação biológica. A ampliação ocorre porque a biomassa em qualquer nível trófico é produzida a partir de uma biomassa muito maior ingerida do nível abaixo (ver item 55.3). Portanto, carnívoros de elite tendem a ser os organismos mais severamente afetados pelos compostos tóxicos no meio ambiente. Uma classe de compostos industriais sintetizados que vem demonstrando ampliação biológica são os hidrocarbonetos clo- rados, que incluem os agentes químicos chamados de PCBs (bife- nilas policloradas) e diversos pesticidas, como o DDT. Pesquisas atuais relacionam diversos desses compostos ao comprometi- mento do sistema endócrino de diversos animais, incluindo os seres humanos. A ampliação biológica de PCBs foi descoberta na cadeia alimentar dos Grandes Lagos, onde a concentração de PCBs nos ovos de gaivotas, no topo da cadeia alimentar, é aproxi- madamente 5.000 vezes maior do que no fitoplâncton da base da cadeia alimentar (Figura 55.20). Um desonroso caso de ampliação biológica danificou car- nívoros de elite envolvendo DDT, substância química utilizada para controlar insetos, como mosquitos e pestes na agricultura. Na década após a SegundaGuerra Mundial, o uso de DDT cres- ceu rapidamente; suas consequências ecológicas não eram com- pletamente compreendidas. Por volta dos anos 1950, cientistas descobriram que o DDT persiste no meio ambiente e é transpor- tado pela água até áreas distantes do local de uso. Um dos pri- meiros sinais de que o DDT era um grave problema ambiental foi 20001995199019851980 Ano 1975197019651960 4,0 4,1 4,2 pH 4,3 4,4 4,5 Figura 55.19 � Mudanças no pH da precipitação em Hubbard Brook. Embora ainda esteja muito ácida, a precipitação nessa floresta do nordeste americano vem aumentando o pH há mais de três décadas. Ovos de gaivotas 124 ppm C on ce nt ra çã o de P C Bs Truta 4,83 ppm Eperlano 1,04 ppm Zooplâncton 0,123 ppm Fitoplâncton 0,025 ppm Figura 55.20 � Ampliação biológica de PCBs na cadeia alimentar dos Grandes Lagos. Biologia 1239 o declínio nas populações de pelicanos, águia-marinha, águias e pássaros que se alimentam no topo da cadeia alimentar. O acú- mulo de DDT (e DDE, o produto da sua degradação) nos teci- dos desses pássaros interferiu na deposição de cálcio nas cascas de seus ovos. Quando os pássaros tentaram incubar seus ovos, o peso dos pais quebrou as cascas dos ovos afetados, resultando no declínio catastrófico nas taxas de reprodução das aves. O livro de Rachel Carson, Primavera silenciosa, ajudou a trazer o problema ao conhecimento do público nos anos 1960 (ver Capítulo 52), e o DDT foi banido dos Estados Unidos em 1971. Na sequência, foi observada uma significativa recuperação nas populações das aves afetadas. Na maioria dos trópicos, o DDT ainda é utilizado para con- trolar os mosquitos que disseminam malária e outras doenças. As sociedades enfrentam um dilema entre salvar seres humanos ou proteger outras espécies. A melhor abordagem parece estar na aplicação do DDT de forma reduzida e utilizar concomitan- temente redes para mosquitos e outras soluções de baixa tecno- logia. A história complicada do DDT ilustra a importância do entendimento das relações ecológicas entre as doenças e as co- munidades (ver item 54.5). Diversas toxinas não podem ser degradadas pelos micro-or- ganismos e persistem no meio ambiente por anos ou até mesmo décadas. Em outros casos, substâncias químicas liberadas no meio ambiente podem ser relativamente inertes, porém são converti- das em produtos mais tóxicos por meio de reações com outras substâncias, por exposição à luz, ou pelo metabolismo de micro-organismos. Por exemplo, o mercúrio, produto secundário da pro- dução de plásticos e de usinas termo- elétricas, é despejado rotineiramente nos rios e mares na forma insolúvel. Bactérias nos leitos convertem o dejeto em metilmercúrio (CH3Hg�), um com- posto solúvel extremamente tóxico que se acumula nos tecidos de organismos, incluindo seres humanos que conso- mem peixes de águas contaminadas. Efeito estufa e aquecimento global As atividades humanas liberam uma série de dejetos gasosos. As pessoas an- tigamente pensavam que a vasta atmos- fera poderia absorver esses materiais indefinidamente, mas hoje sabemos que essas adições podem causar mu- danças fundamentais na atmosfera e em suas interações com o resto da bios- fera. Nesta seção, examinaremos como o aumento da concentração de dióxido de carbono e o aquecimento global afe- tam os ecossistemas. Embora o aquecimento provavelmente traga alguns benef ícios para as pessoas, também traz custos enormes aos seres humanos e diversas outras espécies na Terra. Elevação dos níveis de CO2 atmosférico Desde a Revolução Industrial, a concentração de CO2 na atmos- fera vem aumentando como resultado da queima de combustíveis fósseis e do desflorestamento. Cientistas estimam que a concen- tração média de CO2 na atmosfera antes de 1850 era de cerca de 274 ppm. Em 1958, uma estação de monitoramento começou a realizar medidas precisas no pico Mauna Loa no Havaí, local isolado das cidades e alto suficiente para deixar a atmosfera bem homogênea. Naquele momento, a concentração de CO2 era de 316 ppm (Figura 55.21). Hoje, ela excede 380 ppm, um aumento de cerca de 40% desde a metade do século XIX. Se as emissões de CO2 continuarem a aumentar na taxa atual, por volta do ano 2075 a concentração atmosférica desse gás será maior do que o dobro que era no começo da Revolução Industrial. O aumento na produtividade aumentada das plantas é uma consequência prevista do aumento dos níveis de CO2. Na realidade, quando as concentrações de CO2 são elevadas em câmaras expe- rimentais como estufas, a maioria das plantas cresce mais rapida- mente. Pelo fato das plantas C3 serem mais limitadas pela disponi- bilidade de CO2 do que as plantas C4 (ver Capítulo 10), um efeito do aumento global da concentração de CO2 pode ser a disseminação 390 380 370 360 350 340 330 320 310 300 14,8 14,7 14,9 14,6 14,5 14,4 14,3 14,2 14,1 14,0 13,9 13,8 13,7 13,6 Temperatura C on ce nt ra çã o de C O 2 (p pm ) 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Ano CO2CO2 Figura 55.21 � Aumento na concentração de dióxido de carbono na atmosfera em Mauna Loa, Havaí, e as temperaturas globais médias. Sem levar em consideração as flutuações sazonais normais, a concentração de CO2 (curva azul) vem aumentando constantemente desde 1958 até 2007. Embora a temperatura média global (curva vermelha) tenha oscilado enormemente no mesmo período, existe uma clara tendência de aquecimento. 1240 Campbell & Cols. de espécies C3 nos hábitats terrestres que atualmente favorecem plantas C4. Essas mudanças podem influenciar se o milho, planta C4 e a mais importante cultura de grãos dos Estados Unidos, vai ou não ser substituído por plantações de trigo ou soja que podem superar o milho em ambientes com altas taxas de CO2. A fim de prever os efeitos graduais e complexos do aumento dos níveis de CO2 na produtividade e na composição de espécies, os cientistas estão se voltando para experimentos de campo de longa duração. Como os elevados níveis de CO2 afetam a ecologia de florestas: o experimento FACTS-I A fim de determinar como a concentração de CO2 atmosférico po- deria afetar as florestas temperadas, cientistas da Universidade de Duke começaram o experimento Transferência e Armazenagem de Carbono Floresta-Atmosfera (FACTS-I) em 1995. Os pesquisado- res estão manipulando a concentração de CO2 à qual as árvores estão expostas. O experimento FACTS-I inclui seis lotes em uma região de 80 hectares (200 acres) de pinheiros dentro da floresta experimental da universidade. Cada lote consiste em uma área cir- cular, com aproximadamente 30 m de diâmetro, delimitadas por 16 torres (Figura 55.22). Em três dos seis lotes, as torres produziam ar contendo cerca de 1/5 a concentração atual de CO2. Instrumentos em uma torre elevada no centro de cada lote medem a direção e a velocidade do vento, ajustando a distribuição de CO2 para manter estável a concentração de CO2. Todos os outros fatores (tempera- tura, precipitação e direção e velocidade do vento) variam normal- mente para ambos os lotes experimentais e controles. O estudo FACTS-I está testando agora como os níveis ele- vados de CO2 influenciam o crescimento das árvores, a concen- tração de carbono no solo, a população de insetos, a umidade do solo, o crescimento de plantas na floresta e outros fatores. Após dez anos, as árvores nos lotes experimentais produziram 15% mais madeira por ano do que as árvores nos lotes controles. Esse crescimento aumentado é importante para a produção de madei- ra e o armazenamento de carbono, porém é muito mais baixo do o previsto nos experimentos com estufas. A disponibilidade de nitrogênio e outros nutrientes aparentemente limita a capacidade das árvores utilizarem o CO2 extra. Pesquisadores no FACTS-I começaram a remover essa limitação em 2005, fertilizando meta- de de cada lote com nitrato de amônia. Na maioria dos ecossistemas do mundo, nutrientes limitam a produtividade do ecossistema e fertilizantes estãoindisponíveis. Os resultados do FACTS-I e de outros experimentos indicam que os níveis elevados de CO2 atmosférico aumentarão a produção de plantas, mas bem menos do que os cientistas haviam previsto uma década atrás. O efeito estufa e o clima Concentrações elevadas de gases estufa de longa vida como CO2 estão mudando o orçamento térmico da Terra. Grande parte da radiação solar que atinge o planeta é refletida de volta para o espa- ço. Embora CO2, vapor d’água e outros gases estufa na atmosfera sejam transparentes para o luz visível, eles interceptam e absor- vem grande parte da radiação infravermelha que a Terra emite, refletindo uma parte de volta à Terra. Esse processo retém parte do calor solar. Não fosse por esse efeito estufa, a temperatura mé- dia do ar na superf ície da Terra seria congelante: �18°C (�2,4°F); e a maioria da vida como conhecemos não poderia existir. Esse aumento acentuado na concentração de CO2 atmosférico ao longo dos últimos 150 anos preocupa os cientistas por sua rela- ção com o aumento da temperatura global. Por mais de um século, cientistas estudam como os gases estufa aquecem a Terra e como a queima de combustível fóssil pode contribuir para o aquecimento. A maioria dos cientistas está convencida que esse aquecimento já começou e aumentará rapidamente nesse século (ver Figura 55.21). Modelos globais calculam que pelo fim do século XXI, a con- centração de CO2 atmosférico mais que duplicará, aumentando a temperatura média global em torno de 3°C (5°F). Confirmando esses modelos está a correlação entre níveis de CO2 e as tempe- raturas na pré-história. Uma maneira que os climatologistas uti- lizam para estimar concentrações passadas de CO2 é medir os níveis de CO2 em bolhas presas no gelo glacial, algumas delas de milhões de anos atrás. Temperaturas pré-históricas são inferidas por diversos métodos, incluindo a análise de vegetação passada com base em fósseis e isótopos químicos em sedimentos e corais. Um aumento de apenas 1,3°C tornaria o planeta mais quente do que nos últimos 100.000 anos. Os ecossistemas onde o maior aquecimento já ocorreu estão localizados no extremo norte, nas florestas de coníferas e tun- dras. Como a neve e o gelo derretem e revelam superf ícies mais escuras e mais absortivas, esses sistemas refletem menos radia- Figura 55.22 � Experimento de larga escala sobre os efeitos da concentração elevada de CO2. As torres em círculos na Floresta Expe- rimental na Universidade de Duke emitem dióxido de carbono suficiente para elevar e manter os níveis de CO2 de 200 ppm acima das concentra- ções atuais na metade dos lotes experimentais. Biologia 1241 ção de volta à atmosfera e se aquecem mais ainda. O gelo ártico no verão de 2007 cobria a menor área já registrada. Modelos de clima indicam que lá talvez não exista mais gelo no verão no fim deste século, diminuindo os hábitats para ursos polares, focas e pássaros marinhos. Temperaturas mais elevadas também aumen- tam a probabilidade de incêndios. Nas florestas boreais no oeste dos Estados Unidos e Rússia, incêndios queimaram o dobro da área usual nas últimas décadas. Uma tendência de aquecimento também alteraria a distri- buição geográfica de precipitação, tornando áreas de agricultura no centro dos Estados Unidos muito mais áridas, por exemplo. Entretanto, diversos modelos matemáticos discordam sobre os detalhes de como o clima em cada região será afetado. Estudan- do como os períodos passados de aquecimento e resfriamento global afetaram as comunidades de plantas, os ecologistas estão tentando prever as consequências das mudanças de temperatura no futuro. Mudanças climáticas no passado ocorreram gradual- mente, porém as populações de plantas e animais tiveram tempo de migrar para áreas onde as condições abióticas permitiam sua sobrevivência. Diversos organismos, especialmente plantas que não podem se dispersar rapidamente a longas distâncias, podem não ser capazes de sobreviver às altas taxas de mudanças climáti- cas projetadas a partir do aquecimento global. Além disso, hoje, diversos hábitats são muito mais fragmentados do que eram no passado (ver Capítulo 56), limitando ainda mais a capacidade de migração de diversos organismos. Precisaremos de diversas ferramentas para diminuir o aque- cimento global. O rápido progresso pode ser alcançado utili- zando a energia de uma maneira mais eficiente e substituindo combustíveis fósseis com energia solar e eólica renovável, e mais controversamente com energia nuclear. Hoje, carvão, gasolina, madeira e outros combustíveis orgânicos permanecem no cerne das sociedades industrializadas e não podem ser queimados sem liberar CO2. Estabilizar as emissões de CO2 exigirá um esforço internacional concentrado e a aceitação das mudanças tanto no estilo de vida pessoal quanto nos processos industriais. Diversos ecologistas pensam que esses esforços sofreram um grande retro- cesso em 2001, quando os Estados Unidos se retiraram do Proto- colo de Kyoto, uma proposta internacional de 1997 das nações industrializadas para reduzir suas emissões de CO2 em cerca de 5%. Essa redução seria o primeiro passo em uma jornada para estabilizar as concentrações de CO2 atmosférico. O esgotamento de ozônio atmosférico A vida na Terra é protegida dos efeitos danosos da radiação ultra- violeta (UV) por uma camada de moléculas de ozônio (O3) locali- zada na estratosfera 17-25 km acima da superf ície da Terra. Entre- tanto, estudos com satélites na atmosfera mostram que a camada de ozônio está ficando cada vez mais tênue desde 1975 (Figura 55.23). A destruição do ozônio atmosférico resulta do acúmulo de clorofluorcarbonos (CFCs), substâncias utilizadas na refrigeração e em fábricas. Quando os produtos da degradação dessas susbtâncias alcança a estratosfera, o cloro que elas contêm reage com o ozônio, reduzindo-o para uma molécula de O2 (Figura 55.24). Reações quí- micas subsequentes liberam o cloro, permitindo que ele reaja com outras moléculas de ozônio em uma reação em cadeia catalítica. A diminuição da camada de ozônio é mais aparente sobre a Antártica na primavera, onde o ar frio e estável permite que a rea- ção em cadeia continue. Cientistas descreveram primeiramente o buraco de ozônio sobre a Antártica em 1985. A magnitude do esgotamento do ozônio e do tamanho do buraco de ozônio têm aumentado nos anos recentes, e o buraco se estende às vezes até as regiões ao sul da Austrália, Nova Zelândia e América do Sul (Figura 55.25). Em latitudes mais populosas, os níveis de ozônio diminuíram 2-10% durante os últimos 20 anos. Níveis baixos de ozônio na estratosfera aumentam a intensida- de de raios UV atingindo a superf ície da Terra. As consequências da depleção do ozônio para a vida na Terra podem ser severas para 350 300 250 200 150 0 100 Es pe ss ur a da c am ad a de o zô ni o (D ob so ns ) 1955 ‘60 ‘65 ‘70 ‘75 ‘80 Ano ‘85 ‘90 ‘95 ‘052000 Figura 55.23 � Espessura da camada de ozônio sobre a Antártica em unidades chamadas de Dobsons. 1 Cloro dos CFCs interage com o ozônio (O3), formando monóxido de cloro (ClO) e oxigênio (O2). 3 A luz solar degrada o Cl2O2 em O2 e libera átomos livres de cloro. Os átomos de cloro podem começar o ciclo novamente. 2 Duas moléculas de ClO, formando peróxido de cloro (Cl2O2). Cloro Luz solar Átomo de cloro O3 Cl2O2 O2 O2 ClO ClO Figura 55.24 � Como os átomos de cloro livres na atmosfera des- troem o ozônio. 1242 Campbell & Cols. plantas, animais e micro-organismos. Alguns cientistas esperam aumento tanto nas formas letais qunto não letais de câncer de pele e catarata entre os seres humanos, bem como efeitos imprevisíveis nas plantações e comunidades naturais, especialmente no fitoplânc- ton responsável por grande parte da produção primária da Terra. Para estudar as consequências do esgotamento do ozônio, eco- logistas conduziram experimentos de campo em que utilizaram filtros para diminuir ou bloquear a radiação UV na luzsolar. Em um experimento, realizado em um ecossistema na extremidade da América do Sul, mostrou que quando o buraco de ozônio passou sobre a área, a quantidade de radiação UV alcançando o solo au- mentou drasticamente, causando mais dano ao DNA das plantas não protegidas por filtros. Cientistas demonstraram dano no DNA similar e uma redução no crescimento de fitoplâncton quando o bu- raco de ozônio se abriu sobre o oceano mais ao sul a cada ano. A boa notícia sobre o buraco de ozônio é que diversos paí- ses responderam rapidamente a essa situação. A partir de 1987, aproximadamente 190 nações, incluindo os Estados Unidos, as- sinaram o Protocolo de Montreal, tratado que regula o uso de agentes químicos que degradam o ozônio. Diversas nações, no- vamente incluindo os Estados Unidos, terminaram com a produ- ção de CFCs. Em consequência dessas ações, as concentrações de cloro na estratosfera se estabilizaram e a depleção de ozônio está diminuindo. Entretanto, mesmo se todo o CFC fosse banido globalmente hoje, as moléculas de cloro que já estão na atmosfera continuariam a influenciar os níveis estratoféricos de ozônio pe- los próximos 50 anos. A destruição parcial da camada de ozônio é mais um exem- plo de como os seres humanos são capazes de perturbar as dinâ- micas dos ecossistemas e a biosfera. Isso também evidencia nossa habilidade em resolver problemas ambientais quando dedicamos nossas mentes para essa finalidade. No capítulo final deste livro, exploraremos como os cientistas nas áreas de biologia de conser- vação e ecologia de restauração estudam os efeitos das atividades humanas na biodiversidade da Terra e utilizam o conhecimento ecológico para reduzir tais efeitos. R E V I S à O D O C O N C E I T O 1. Como a adição de nutrientes excessivos ameaça a popula- ção de peixes de um lago? 2. Face à ampliação biológica de toxinas, é mais saudável alimentar-se utilizando os níveis tróficos mais baixos ou mais altos? Explique. 3. E SE...? Existem vastos estoques de matéria orgânica nos solos das florestas de coníferas e tundras no norte em todo o mundo. Com base no que aprendemos sobre de- composição na Figura 55.15, explique por que cientistas preocupados com o aquecimento global monitoram de perto esses estoques. Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. (a) Setembro de 1979. (b) Setembro de 2006. Figura 55.25 � Destruição da camada de ozônio na Terra. O bu- raco de ozônio sobre a Antártica é visível como uma mancha azul escura nessas imagens baseadas nos dados atmosféricos. RESUMO DOS CONCEITOS-CHAVE 55.1 Leis da Física determinam o fluxo de energia e a ciclagem de compostos químicos nos ecossistemas (p. 1223-1224) Conservação de energia � Um ecossistema consiste em todos os organismos em uma comunidade e todos os fatores abióticos com os quais eles interagem. As leis da Física e da Química apli- cam-se ao ecossistemas, em especial no que diz respeito ao fluxo de energia. A energia é conservada, porém degradada em calor durante os processos do ecossistema. Conservação de matéria � Ecologistas estudam quanto de um ele- mento químico entra e sai de um ecossistema e circula dentro dele. As entradas e saídas são geralmente menores quando comparadas às quantidades recicladas, porém seu equilíbrio determina se um ecossistema ganha ou perde um elemento ao longo do tempo. Energia, matéria e níveis tróficos � Consumidores primários Produtores primários Consumidores secundários Micro-organismos e outros decompositores Dejetos Calor Consumidores terciários Sol CHAVE Ciclo químico Fluxo de energia Revisão do Capítulo 55 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.