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3 Atenção Primária à Saúde Priscila Lucas Barbosa Introdução Todo serviço em saúde pública tem por objetivo otimizar a saúde de uma população por meio do conhecimento disponível sobre a causa de determinada doença. Para tanto, seus agentes dispõem de locais apropriados e de diferentes recursos técnicos e científicos. É, também, de responsabilidade desse serviço reduzir as diferenças de atendimento aos diversos subgrupos populacionais que estejam em desvantagem de acesso de forma a viabilizar o alcance de todos os cidadãos a um atendimento digno. Para compreensão do conceito de Atenção Primária à Saúde – APS, basta retomar uma simples situação de enfermidade: quando os indivíduos apresentam alguma enfermidade, manifestam diversos sinais e sintomas que, a princípio, não direcionam para uma doença específica. Muitas vezes são queixas confusas que precisam ser entendidas num contexto mais amplo e, por esse motivo, o paciente ainda não pode ser encaminhado para um especialista. Para ser enquadrado em algum diagnóstico, esse paciente precisa da abordagem de um profissional que esteja apto a entender o processo da enfermidade e diagnosticá-la. Nesse nível de atuação, o profissional está centrado na Atenção Primária, que é a porta de entrada ou o primeiro contato do indivíduo com o sistema de saúde. Assim é que, com essa “porta de entrada”, de forma ampla, as necessidades de saúde da população devem ser entendidas e atendidas como Atenção Primária à Saúde – APS. No presente estudo, vamos apresentar e discutir os fundamentos e as diretrizes da Atenção Básica à Saúde para compreendermos mais especificamente sua função na rede bem como a necessidade de educação permanente dos servidores para se garantir a eficácia dos processos no trabalho das equipes de Atenção Básica em Saúde. Objetivos Os objetivos do estudo neste capítulos são os seguintes: • localizar a legislação referente à ABS; • identificar, nos textos legais, os fundamentos da ABS; • relacionar os fundamentos da ABS com o conteúdo das suas diretrizes; • descrever o processo de trabalho das equipes de trabalho da ABS. Esquema 3.1. Atenção Básica 3.1.1. Fundamentos e diretrizes da Atenção Básica 3.1.2. Funções na Rede de Atenção à Saúde 3.1.3. Educação Permanente das Equipes de Atenção Básica 3.1.4. Processo de Trabalho das Equipes de Atenção Básica Resumo Referências 3.1 Atenção Básica A Atenção Básica concentra seus esforços nos problemas mais comuns da comunidade e oferece serviços de prevenção, cura e reabilitação para maximizar a saúde e o bem- estar da população. Uma de suas funções é integrar a atenção quando existe mais de um problema de saúde, relacionando a doença com o contexto em que está inserida e, dessa forma, permitir que as pessoas reflitam sobre seus problemas de saúde e participem com responsabilidade pelo seu processo de modificação. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da equidade e da participação social. (BRASIL, 2010) A publicação do Manual para Organização da Atenção Básica (1999) foi passo importante na demarcação da atenção básica para a organização dos sistemas de saúde. Para além do arcabouço jurídico-legal, avançou-se na definição de responsabilidades e na estratégia organizativa. Nesse manual, destaca-se importância da ABS no processo de reorganização dos sistemas municipais de saúde e a define como “um conjunto de ações de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação da saúde”. (BRASIL, 2007) Com a criação do Departamento de Atenção Básica (DAB), reforçou-se a posição estratégica do Programa de Saúde da Família e buscou-se a integração de áreas técnicas e outros programas existentes relacionados à Atenção Básica. A Atenção Básica, portanto, deve ser o contato preferencial dos usuários, pois é a principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede a Atenção à Saúde. 3.1.1 Fundamentos e diretrizes da Atenção Básica Na organização da ABS, é fundamental o conhecimento do território (município, bairro, comunidade) devendo ser reconhecido como local onde acontece a construção cotidiana da vida das pessoas. Esse território deve ser compreendido, portanto, para além de um espaço geográfico, delimitado para se construir a área de atuação dos serviços. Deve ser considerado e reconhecido como espaço social, no qual a sociedade foi se constituindo e, por meio do processo social de produção do trabalho, dividindo-se em classes sociais, com acessos bastante diferenciados aos bens de consumo, incluídos os serviços de saúde. Vejamos, a seguir, os fundamentos da Atenção Básica em Saúde. I. Ter território adstrito que permita o planejamento, a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e intersetoriais com o impacto na situação, nos condicionantes e determinantes das saúdes das coletividades que constituem aquele território sempre em consonância com o princípio da equidade. II. Facultar o acesso o universal e contínuo aos serviços de saúde de qualidade e resolutivos, caracterizados como a porta de entrada aberta e preferencial da rede de atenção, acolhendo os usuários e promovendo a vinculação e corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde; o estabelecer mecanismos que assegurem acessibilidade e acolhimento em uma lógica de organização e funcionamento do serviço de saúde, que parte do princípio de que a unidade de saúde deva receber e ouvir todas as pessoas que procuram os seus serviços, de modo universal e sem diferenciações excludentes. III. Desenvolver ações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado (ou seja: a relação terapêutica duradoura entre usuários e profissionais). O vínculo, consiste na construção de confiança e relações de afetividade entre o usuário e o trabalhador da saúde, permitindo o aprofundamento do processo de corresponsabilização pela saúde, construído ao longo do tempo. IV. Coordenar a integralidade de ações pragmáticas e demanda espontância; articulação das ações de promoção à saúde; promover a prevenção de agravos; vigilância à saúde; tratamento e reabilitação e manejo das diversas tecnologias de cuidado e gestão necessárias a estes fins e à ampliação da autonomia dos usuários e coletividades; trabalhando de forma multiprofissional, interdisciplinar e em equipe; realizando a gestão do cuidado integral do usuário e coordenando- o no conjunto da rede de atenção. V. Estimular a participação dos usuários como forma de ampliar sua autonomia e capacidade na construção do cuidado à saúde e as pessoas e coletividades do território, no enfrentamento dos determinantes e condicionantes de saúde, na organização e orientação dos serviços de saúde a partir de lógicas mais centradas no usuário e no exercício do controle social. A Política Nacional de Atenção Básica – PNAB – considera os termos Atenção Básica e Atenção Primária a Saúde, nas atuais concepções, como termos equivalentes. A PNAB tem na Saúde da Família sua estratégia prioritária para a expansão e consolidação da atenção básica. (BRASIL, 2012) 3.1.2 Funções na Rede de Atenção à Saúde A normatização vigente do SUS define a organização de Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população. As RAS constituem-se em arranjos organizativos formados por ações e serviços de saúde, articulados com base territorial e de forma complementar, com diferentes configurações tecnológicas e missões assistenciais, tendo como ponto de partida a ABS. Neste sentito, a atençãobásica deve desempenhar algumas funções para contribuir com o funcionamento da RAS, como veremos a seguir: I. de base: ser a modalidade de atenção e de serviço de saúde com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre necessária. II. de resolução: ser resolutiva para identificar riscos, necessidades e demandas em saúde, utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais. III. de coordenação: coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e gerir projetos terapêuticos singulares, bem como acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS. IV. de ordenação das redes: reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das necessidades de saúde dos usuários. 3.1.3 Educação Permanente das Equipes de Atenção Básica A solidificação e o aprimoramento da Atenção Básica como importante modelo de atenção à saúde no Brasil requer contínua e permanente educação na prática dos serviços de saúde. Este modelo de atenção implica a necessidade de adequação contínua do funcionamento dos serviços e processos de trabalho das equipes e de seus atores (trabalhadores, gestores e usuários), com maior capacidade de análise, intervenção e autonomia na gestão das mudanças e o estreitamento dos elos entre a concepção e execução do trabalho. A educação permanente deve estar fundamentada pedagogicamente em um processo que contemple a aquisição e atualização de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades, o planejamento e a programação educativa ascendente, de maneira que, com base na análise coletiva dos processos de trabalho, os pontos críticos possam ser identificados e enfrentados pelas equipes gestora e de serviços, possibilitando a construção de novas estratégias que promovam o diálogo entre políticas e experiências inovadoras na gestão do cuidado e dos serviços de sáude. (FARIA et al., 2010) 3.1.4 Processo de Trabalho das Equipes de Atenção Básica São algumas características do processo de trabalho das equipes de atenção básica: • definição do território de atuação e de população sob responsabilidades da Unidades Basicas de Saúde (UBS) e das equipes; • programação e implementação das atividades de atenção à saúde de acordo com as necessidades de saúde da população, com a priorização de intervenções clínicas e sanitárias nos problemas de saúde segundo critérios de frequência, risco, vulnerabilidade e resiliência. Incluindo o planejamento e a organização da agenda de trabalho compartilhado de todos os profissionais e recomenda-se evitar a divisão de agenda segundo critérios de problemas de saúde, ciclos de vida, orientação sexual e patologias dificultando o acesso dos usuários; • desenvolvimento de ações que priorizem os grupos de risco e os fatores de risco clínico-comportamentais, alimentares e/ou ambientais, com a finalidade de prevenir o aparecimento ou a persistência de doenças e danos evitáveis; • realização o acolhimento com escuta qualificada, classificação de risco, avaliação de necessidade de saúde e análise de vulnerabilidade tendo em vista a responsabilidade da assistência resolutiva à demanda espontânea e o primeiro atendimento às urgências; • provisão da atenção integral, contínua e organizada a população adscrita; • realização da atenção à saúde na UBS, no domicílio, em locais do território (salões comunitários, escolas, praças etc.) e outros espaços que comportem ação planejada; Para operacionalização desses processos, fundamentados nos princípios do Sistema Único de Saúde no Brasil, foram desenvolvidas uma gama de estratégias. A principal delas ̶Estratégias de Saúde da Família ̶ será abordada no próximo capítulo. RESUMO Nesse capítulo foi apresentada a definição de Atenção Básica enquanto o conjunto de ações de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação da saúde. A partir desse conceito, foram destacados os fundamentos e diretrizes da AB que norteiam o processo de reorganização do sistema municipal de saúde; o processo de trabalho das equipes e a necessidade da formação continuada dos profissionais que atuam em AB. Ressaltou-se, ainda, que no Programa Nacional de Atenção Básica a Saúde (PNAB) a Saúde da família é considerada a estratégia prioritária para a expansão e consolidação da AB. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Manual para a organização da atenção básica. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1999. 42p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/organizacao_atencao.pdf. Acessado em: 18/07/2021. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 60p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao _saude_3ed.pdf. Acessado em: 18/07/2021. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 110 p. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf. Acessado em: 18/07/2021. FARIA, H. P. de; COELHO, I. B; WERNECK, M. A. F.; SANTOS, M. A. Modelo assistencial e atenção básica em saúde. 2ª ed. Belo Horizonte: NESCON/UFMG/COOPEMED. 2010. 68p. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1792.pdf. Acessado em: 18/07/2021. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao%20_saude_3ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao%20_saude_3ed.pdf http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1792.pdf
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