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Lara Mendonça P6 FITS → Erroneamente, considera-se a anemia uma patologia, e não o sinal de uma doença de base. O raciocínio simplista de considerar a anemia uma entidade individual leva a falhas graves na realização de diagnósticos e no seu tratamento. Diagnosticar a etiologia é essencial, pois, se não corrigida ou controlada, a anemia evolui de forma recorrente ou com piora progressiva → A anemia é definida como síndrome caracterizada por diminuição de massa eritrocitária total. Laboratorialmente, definimos anemia como hemoglobina menor que 12 g/dl em mulheres ou 13 g/dl em homens. Na gravidez existe anemia relativa, por hemodiluição, além daquela por carência nutricional, principalmente, por deficiência de ferro e ácido fólico. Na gestação os limites considerados normais para o valor da hemoglobina caem para 10g% e os do hematócrito para 30%. → Essa diminuição geralmente é acompanhada por redução da contagem de eritrócitos e do hematócrito, porém esses valores podem ser normais em alguns pacientes com níveis baixos de hemoglobina. → Raramente a anemia é a doença principal, na maioria das vezes é uma alteração secundária de uma doença de base. Por isso é fundamental além de estabelecer o diagnóstico da anemia, buscar suas possíveis causas. → A avaliação inicial do paciente com anemia inclui anamnese e exame físico minuciosos, além de exames laboratoriais. Os sintomas relacionados à anemia dependem da idade, da capacidade física, do grau de anemia e do tempo de evolução. Pacientes com evolução aguda apresentam sintomas com valores mais altos de hemoglobina, enquanto que os de evolução crônica exibem valores mais baixos. Os sintomas usuais incluem astenia, cansaço, fraqueza, falta de ar e palpitações. No exame físico o achado mais característico é a palidez mucocutânea. O paciente com anemia deve ser avaliado em função do tamanho dos GV com o volume corpuscular médio (VCM). Por exemplo, na suspeita de anemia carencial, a hemácia microcítica sugere deficiência de ferro, enquanto a hemácia macrocítica sugere deficiência de vitamina B12 e/ou de ácido fólico Lara Mendonça P6 FITS O diagnóstico das anemias é muito auxiliado pela correta interpretação dos índices hematimétricos, bem como da poiquilocitose observada no esfregaço periférico e das inclusões nos GV. A presença de eritroblastos circulantes (eritrócitos jovens nucleados) indica quadro de hemólise. 1. Anemias hipoproliferativas: diagnosticadas pela reticulocitopenia, resultam da baixa taxa de produção de hemácia. As causas mais comuns são: a) Deficiência nutritiva (em crianças e adultos) por falta de absorção, ingesta inadequada ou perda crônica (especialmente de ferro, folato e vitamina B12); b) Falta de estímulo com diminuição de hormônios estimulantes da eritropoese – EPO (disfunção renal), hormônio tireoidiano, androgênio; c) Doenças da célula-tronco (anemia aplásica, mielodisplasia) ou infiltração medular tumoral; d) Supressão medular: quimioterápicos, medicamentos; e) Anemia de doença crônica secundária a processos inflamatórios, infecciosos ou neoplásicos. 2. Anemias hiperproliferativas: diagnosticadas pela reticulocitose, ocorrem em razão da perda ou destruição excessiva dos eritrócitos, com resposta adequada da medula óssea. Hemólise é a destruição prematura de hemácias e pode ser de causa congênita ou adquirida. →A investigação laboratorial inicial consiste na realização dos seguintes exames: ● Hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos para avaliar o grau de anemia. ● Índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) para determinar se os eritrócitos são, em média, normocíticos, macrocíticos (VCM > 100) ou microcíticos (VCM < 80) e se são hipocrômicos. O aumento da amplitude de distribuição do volume dos eritrócitos (RDW) é uma medida de anisocitose. ● Contagem de reticulócitos para estimar se a resposta medular sugere incapacidade da produção- ou hemólise-ou perda sanguínea recente. Lara Mendonça P6 FITS ● Exame microscópico da distensão sanguínea (lâmina de sangue periférico) para avaliar o aspecto dos eritrócitos e as alterações concomitantes dos leucócitos e das plaquetas. → As Anemias Hipoproliferativas são uma classe de anemias que possuem em comum a resposta medular insuficiente, ou seja, uma baixa produção de reticulócitos. Classificação As anemias Hipoproliferativas podem ser classificadas de uma forma geral em quatro tipos: anemias carenciais, como a ferropriva e a megaloblástica; a sideroblástica, aplasia da série vermelha; e as causadas por doenças crônicas. Neste sentido, podemos desdobrá-las também em alguns tipos mais frequentemente encontradas, como: Anemia Carencial Ferropriva: pode ser causada pela perda sanguínea (aguda) ou pela má absorção. Anemia Carencial Megaloblástica: os eritrócitos passam por um atraso na maturação do núcleo, na medula óssea, em relação ao citoplasma, devido a uma síntese defeituosa de DNA sendo causada pela deficiência ou anomalia do metabolismo de vitamina B12 ou de folato ou por deficiências enzimáticas adquiridas. Anemia Sideroblástica: é formada por um grupo de anemias, que tem como característica o acúmulo de ferro nas mitocôndrias perinucleares dos eritroblastos (sideroblastos em anel). Anemia Aplasica: é denominada como uma doença das células tronco hematopoiéticas, resultando na perda dos precursores dos eritrócitos, hipoplasia ou aplasia da medula óssea e citopenia de duas ou mais linhagens celulares. Lara Mendonça P6 FITS Anemia da doença crônica: está associada a distúrbios infecciosos crônicos, infecciosos ou neoplasias. Sendo caracterizada por hipoferremia, mesmo na presença adequada de ferro sérico. Anemia da insuficiência renal crônica: é causada por deficiência na produção de eritropoietina (EPO) em decorrência da redução da massa renal funcional ou produzida em decorrência da diminuição da resposta à eritropoietina. A contagem de reticulócitos é importante para diferenciar o diagnóstico de anemia hipoproliferativa x anemia hiperproliferativa: Anemia hipoproliferativa (reticulocitopenia): deficiência nutricional (ex.: ferro, ácido fólico, vitamina B12), supressão medular por efeitos de drogas (ex.: quimioterápicos) ou radiação, redução dos precursores eritroides (ex.: anemia aplásica, infiltração por tumor sólido, fibrose medular), redução dos estímulos à eritropoiese (ex.: eritropoietina na doença renal crônica, hormônios tireoidianos no hipotireoidismo) ou eritropoiese ineficaz (ex.: anemia megaloblástica, síndrome mielodisplásica); Anemia hiperproliferativa (reticulocitose): perda sanguínea (ex: hemorragia, exames repetidos no paciente crítico) ou hemólise (ex.: microangiopatia, hemoglobinopatias, malária, autoimune). A avaliação de hemogramas prévios é importante para definição de anemia aguda x crônica. Quadros agudos têm maior associação com sangramentos agudos e hemólise, nos quais há aumento da contagem de reticulócitos (anemia hiperproliferativa). A anemia pode ser classificada em leve, moderada ou grave de acordo com a hemoglobina: 1. Leve: hemoglobina > 10 g/dL; 2. Moderada: hemoglobina entre 7 e 10 g/dL; 3. Grave: hemoglobina < 7 g/dL. A anemia pode ter várias causas, primárias (por exemplo, hemoglobinopatias) ou secundárias (por exemplo, doença renal crônica). Em muitos casos, representa uma condição multifatorial (alterações no metabolismo do ferro, apoptose dos precursores eritroides, redução da produção de eritropoietina, aumento da atividade macrofágica) e tem impacto prognóstico em outras comorbidades, como na doença cardiovascular. → O hemograma é um exame laboratorial de baixo custo que fornece informações qualitativas e quantitativas dos glóbulos vermelhos (GV), dos glóbulos brancos (GB) e das plaquetas, sempre devendo ser interpretado junto com a história clínica, exame físico, idade e sexo do paciente. Fatores demográficos e biológicos, doenças subjacentes, uso de Lara Mendonça P6 FITS medicamentos e influências externas (variação diurna, gravidez,trabalho de parto, menstruação, exercício, tabagismo, local da coleta, obesidade) podem interferir na avaliação do hemograma. Para a interpretação das provas de coagulação, deve-se considerar a história clínica do paciente, os exames laboratoriais anteriormente realizados, doenças e uso de medicações, antecedentes pessoais e familiares de hemorragia ou trombose e histórico de distúrbios menstruais pessoais ou familiares. Lara Mendonça P6 FITS → Reticulócitos A avaliação dos reticulócitos (células vermelhas imaturas sem núcleo) também é importante para auxiliar no diagnóstico. Os valores normais para o recém-nascido (RN) são 2,5-6,5%, caindo para valores de adultos (0,5-1,5%) com 15 dias de vida. Reticulócitos diminuídos sugerem falha na produção da medula óssea (hipoplasia e aplasia), e aumentados sugerem aumento da eritropoese (anemias hemolíticas). →Avaliação do leucograma O leucograma fornece o número total dos GB e sua contagem diferencial no sangue periférico. O pediatra deve considerar o contexto clínico do paciente para fazer suas hipóteses diagnósticas. As contagens de leucócitos e de neutrófilos são mais baixas em negros e em judeus iemenitas do que em brancos. Nos negros, a leucometria mais baixa é observada a partir de 1 ano de idade e é cerca de 20% menor do que nos brancos, bem como a contagem de neutrófilos é menor em torno de 200-600 células/mm3.1 O RN tem contagem de neutrófilos geralmente maior, além de desvio à esquerda, elevando-se ainda mais durante as primeiras horas de vida. Esse aumento ocorre pela elevação das formas jovens imaturas, decrescendo em torno de 72 horas de vida. Os linfócitos são células mais numerosas nos primeiros 4 anos de vida, quando, então, ocorre predomínio dos neutrófilos como nos adultos. O número absoluto de eosinófilos ao nascer é maior do que o dos adultos. A eosinofilia pós-natal observada em alguns estudos foi relacionada ao uso de transfusões sanguíneas e de medidas de suporte terapêutico. O número absoluto de monócitos também é mais elevado nos RN. → Leucocitose A leucocitose é definida como contagem leucocitária acima de 2 desvios padrão da média para a idade. Pode ocorrer pelo aumento principalmente de neutrófilos, mas também de linfócitos, eosinófilos, monócitos e células imaturas (blastos leucêmicos). Lara Mendonça P6 FITS → Neutrofilia Os neutrófilos têm a função de quimiotaxia e fagocitose, representando a primeira linha de defesa contra infecções bacterianas. A abordagem inicial do paciente com neutrofilia envolve história clínica e exame físico detalhados em busca de presença ou ausência de infecção, inflamação ou malignidade. → Eosinofilia Os eosinófilos têm função na mediação de processos inflamatórios associados à alergia, na defesa contra parasitas metazoários helmínticos e em certos distúrbios cutâneos alérgicos e neoplásicos. O grau de eosinofilia pode ser categorizado em: Leve: 500-1.500/mm3. Moderado: 1.500-5.000/mm3. Grave: > 5.000/mm3. A síndrome hipereosinofílica é definida como uma contagem absoluta de eosinófilos maior que 1.500/mm3 em duas ocasiões com pelo menos 1 mês de intervalo ou eosinofilia tecidual intensa. → Linfocitose A contagem de linfócitos é mais elevada em lactentes e crianças, e não difere entre os sexos nem entre os grupos étnicos. A presença de anemia, trombocitopenia ou neutropenia associada à linfocitose pode sugerir o diagnóstico de processo maligno, e o paciente deve ser imediatamente encaminhado para o hematologista. →Monocitose Os monócitos participam da fagocitose de células mortas, senescentes, corpos estranhos, regulação da função de outras células, processamento e apresentação de antígenos, reações inflamatórias e destruição de microrganismos e células tumorais. → Pancitopenia A pancitopenia é outra alteração que pode ocorrer no sangue periférico e se caracteriza pela presença de anemia, leucopenia e trombocitopenia. A leucopenia geralmente ocorre por diminuição do número de neutrófilos. A pancitopenia frequentemente é determinada por infiltração da medula óssea e substituição das células normais por células doentes (como nas leucemias e linfomas) ou por insuficiência da produção da medula óssea. Entretanto, algumas vezes, a pancitopenia pode ocorrer pela retenção das células em um baço aumentado (hiperesplenismo) ou pela destruição periférica de células maduras. Lara Mendonça P6 FITS Define-se anemia como a redução da concentração de Hb e/ou massa eritrocitária, com variações de acordo com a idade, o sexo, a raça e a altitude em relação ao nível do mar.4,5 Em geral, o limiar para definição de anemia é o hematócrito (Ht) ou a Hb abaixo de dois desvios padrão da média da população normal. A anemia acomete cerca de 1/3 da população mundial, incluindo 800 milhões de mulheres e crianças. A anemia ferropriva é responsável por 50% dos casos de anemia nas mulheres e 42% nas crianças menores de 5 anos. A prevalência da anemia ferropriva varia entre os diferentes países, com menores taxas nos países desenvolvidos. Portanto, a anemia ferropriva é um grave problema de saúde pública. DIAGNÓSTICO CLÍNICO A abordagem inicial do paciente com anemia inclui a anamnese e o exame físico detalhados, visando identificar sua possível etiologia. A presença das manifestações clínicas está relacionada à velocidade e à intensidade de instalação da anemia, à idade em que a doença ocorre e à curva de dissociação entre o oxigênio e a hemoglobina. A maioria das crianças com anemia leve não apresenta sinais ou sintomas. Algumas podem apresentar sinais e sintomas gerais, como palidez das mucosas, fadiga, cansaço, anorexia e irritabilidade. A palidez tem pouca sensibilidade para predizer anemia leve, mas correlaciona-se bem com anemia grave. Estudo realizado por Luby et al. demonstrou que a palidez de conjuntiva, língua, mãos e leito ungueal apresentou 93% de sensibilidade e 57% de especificidade no diagnóstico de anemia em pacientes cuja hemoglobina era menor do que 5 g/dL. A sensibilidade diminuiu para 66% quando o nível de hemoglobina estava entre 5-8 g/dL. Doença de caráter genético, frequente, mas não exclusiva, em indivíduos de origem africana, é originada por uma mutação no cromossomo 11 que resulta na substituição de um ácido glutâmico pela valina na posição 6 da extremidade N-terminal na cadeia da globina, dando origem à hemoglobina S. Os eritrócitos cujo conteúdo predominante é a hemoglobina S assumem, em condições de hipóxia, forma semelhante à de uma foice, daí o nome falciforme, decorrente da polimerização da hemoglobina S. Lara Mendonça P6 FITS Os glóbulos vermelhos em forma de foice não circulam adequadamente na microcirculação, resultando tanto em obstrução do fluxo sanguíneo capilar como em sua própria destruição precoce. Este mecanismo fisiopatológico acarreta graves manifestações clínicas, com maior frequência após os 3 meses de idade. Durante os 6 primeiros meses de vida, esses indivíduos são geralmente assintomáticos devido aos altos níveis de hemoglobina F. O diagnóstico laboratorial da anemia falciforme é feito através de eletroforese de hemoglobina, focalização isoelétrica ou cromatografia líquida de alta performance (HPLC). As cadeias b globínicas são detectáveis em fase precoce da vida fetal, a partir da 10ª a 12ª semana de gravidez, o que possibilitaria o diagnóstico pré-natal da anemia falciforme. A doença falciforme manifesta-se em indivíduos homozigóticos para a hemoglobina S e em combinação com outras hemoglobinas anormais, o que pode resultar em doença falciforme com diversos graus de gravidade: co-herança com um gene da hemoglobina C (SC), um gene da b+ talassemia (SAF), ou um gene da bº talassemia (SF), em ordem decrescente de frequência. A eletroforese de hemoglobina é solicitada para identificar alterações estruturais e funcionais relacionadas à síntese de hemoglobina. Assim, esse exame pode ser recomendado pelo médico nas seguintes situações: ● Diagnóstico da anemia falciforme;● Diagnóstico da doença da hemoglobina C; ● Diferenciação dos tipos de talassemia; Lara Mendonça P6 FITS ● Exame de rotina em pessoas que já foram diagnosticadas com alterações na hemoglobina. Alterações no tipo de hemoglobina Assim, a partir da eletroforese de hemoglobinas, é possível identificar a presença de hemoglobinas anormais e, com o auxílio de outra técnica diagnóstica, é possível verificar a concentração das hemoglobinas normais e anormais, podendo ser indicativo de: ● Presença de HbSS: Anemia falciforme, que é caracterizada pela alteração no formato da hemácia devido a uma mutação na cadeia beta da hemoglobina. ● Presença de HbAS: Traço falciforme, em que a pessoa é portadora do gene responsável pela anemia falciforme, mas não apresenta sintomas, no entanto pode passar esse gene para outras gerações: A eletroforese de hemoglobina preconizada pelo Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) é realizada pela metodologia do High-Performance Liquid Chromatography (HPLC) ou da Focalização Isoelétrica, métodos de maior especificidade e sensibilidade e, portanto, mais seguros quanto ao diagnóstico de certeza. A partir dos 4 meses de idade, o diagnóstico pode ser feito por quaisquer das metodologias existentes para eletroforese de hemoglobina. Quanto mais precoce for o diagnóstico e, consequentemente, o estabelecimento de uma linha de cuidado à saúde, maiores serão os benefícios individuais para as pessoas com Doença Falciforme (DF) .A DF é uma das enfermidades genéticas e hereditárias mais comuns no mundo. Decorre de uma mutação no gene que produz a hemoglobina A, originando outra, mutante, denominada hemoglobina S, de herança recessiva. Existem outras hemoglobinas mutantes, como, por exemplo, C, D, E etc. Em par com a S, integram o grupo denominado DF. A mais conhecida é a SS, que inicialmente se denominou anemia falciforme (SS).Entre essas associações para a DF, a de maior manifestação clínica é identificada como anemia falciforme (AF), determinada pela presença da hemoglobina S em homozigose (SS), ou seja, a pessoa recebe de cada um dos Lara Mendonça P6 FITS pais um gene para hemoglobina S. Essa combinação é a que se denomina anemia falciforme.A presença de apenas um gene para hemoglobina S, combinado com outro para hemoglobina A, possui um padrão genético AS (heterozigose), que não produz manifestações da DF, sendo o indivíduo identificado como portador de traço falciforme (TF). Cabe reiterar que o estado heterozigoto (AS) denominado traço falciforme, de acordo com estudos internacionalmente considerados, não acarreta qualquer sintomatologia clínica, e sua importância é para orientação genética ao portador ou à sua família, de acordo com a publicação Consenso Brasileiro sobre atividades esportivas e militares e herança falciforme. As manifestações clínicas decorrentes da DF são extremamente variáveis entre as pessoas com a doença e na mesma pessoa, ao longo de sua vida. Os sintomas podem começar a aparecer ainda no primeiro ano de vida, mostrando a importância do diagnóstico precoce como principal medida de impacto positiva na assistência de qualidade às pessoas com a doença. O fenômeno de afoiçamento das hemácias é responsável por todo o quadro fisiopatológico. As hemácias, quando assumem essa forma, apresentam maior rigidez e vivem na circulação sanguínea em média 10 dias, muito menos que o tempo médio usual de 120 dias, estando mais sujeitas à destruição. Isso resulta em anemia crônica intensa. A maioria das medidas terapêuticas na anemia falciforme é de suporte e muda muito pouco a fisiopatologia e o curso da doença. Nas manifestações agudas da doença, são tratados os sintomas. As crises dolorosas são tratadas por hidratação, aquecimento e analgésicos, desde anti-inflamatórios não esteroidais até opióides. A crise torácica aguda e seus sintomas são tratados com inalação de O2, espirometria incentivada e transfusão sanguínea. No sequestro esplênico, a anemia severa ameaça a vida, assim, é necessária a transfusão sanguínea. O acidente vascular cerebral e infecções bacterianas seguem o tratamento padrão para qualquer indivíduo, contudo, os riscos de hemorragia devem ser bem avaliados e os glicocorticoides devem ser usados com cuidado. No caso de acidente vascular a transfusão sanguínea pode ser necessária Nas manifestações crônicas da doença são também tratados os sintomas, decorrentes da hemólise e vaso-oclusão, contudo, medidas profiláticas devem ser utilizadas para minimizar a morbidade associada a cada condição. As medidas profiláticas incluem hidratação; o uso de penicilina (assim que o recém-nascido recebe o diagnóstico de HbSS); vacina conjugada meningogócica e vacina com polissacarídeo pneumocócico, além das demais vacinas recomendadas; transfusão sanguínea crônica e hidroxiureia para prevenção de acidente vascular cerebral. Entretanto, a transfusão sanguínea mensal pode trazer sequelas, sobretudo, no fígado e no coração, devido à sobrecarga de ferro O único medicamento aprovado para o tratamento da anemia falciforme é a hidroxiureia (HU; hidroxicarbamida ou Hydrea®). A HU altera a enzima ribonucleotídeo redutase, Lara Mendonça P6 FITS resultando no atraso da fase S do ciclo celular e por mecanismo ainda não esclarecido aumenta a produção de HbF, mas, a resposta individual a HU é muito variável. Os indivíduos que respondem à HU apresentam melhoria das manifestações clínicas da doença, com diminuição de 68 a 84% das crises em geral e a razão para o sucesso do tratamento, reside no aumento da HbF. Tendo em vista que a HbF não forma polímero com a HbS, mesmo em alta concentração de HbS, o tratamento com HU reduz a falcização e, portanto, a hemólise, a vaso-oclusão e os demais sintomas decorrentes desses eventos. Assim, diversos trabalhos buscando novos agentes que induzam a HbF ou moduladores alostéricos da HbS, que aumentem sua afinidade pelo O2 estão em curso, tendo em vista que a HU, pode levar à infertilidade, suscetibilidade à infecção e apresenta efeitos mutagênico, carcinogênico e teratogênico. A única opção curativa para a anemia falciforme é o transplante de células tronco hematopoéticas. Contudo, apenas 25% dos casos apresentam doadores compatíveis. Outro alvo celular para o tratamento da anemia falciforme é a célula natural killer invariante T. Estas células estão aumentadas tanto em número como em ativação na anemia falciforme, contribuindo para a resposta inflamatória e quimiotaxia, induzindo a vaso-oclusão. Assim, testes estão em progresso para avaliar o efeito de bloqueadores e de anticorpos para diminuição dessas células. A AF é a doença hematológica hereditária mais comum no mundo, caracterizando-se pelo acometimento da cadeia beta da Hb, originando uma Hb anormal denominada S (HbS). O padrão de herança é autossômico e codominante. Em consequência de uma mutação estrutural, haverá alteração qualitativa na Hb. A alteração molecular primária é representada pela substituição, no cromossomo 11, de 1 único aminoácido no códon 6 do gene da cadeia betaglobina, tendo como consequência a formação da HbS. Com a elevação desta, a HbS desoxigenada fica insolúvel e forma fibras polimerizadas, resultando em alteração da morfologia da hemácia (hemácia “em foice”). Após a reoxigenação, o polímero se desfaz, e a célula volta ao normal. Porém, a polimerização e a despolimerização frequentes acabam provocando lesões progressivas na membrana, que inicialmente são reversíveis; contudo, após vários processos de falcização, as hemácias tornam-se definitivamente lesadas, transformando-se nas chamadas hemácias irreversivelmente falcizadas. As células com formato alterado (de foice) são rígidas e, com menor capacidade de deformabilidade, passam a circular com mais dificuldade pelos pequenos capilares. Quando associadas a leucócitos em número aumentado e moléculas de adesão, são responsáveis pela lentificação do fluxo, oclusão vascular e lesão de tecidos, que representam os fenômenosprincipais dessa doença. Lara Mendonça P6 FITS → A Esferocitose Hereditária representa um grande grupo de anemias hemolíticas caracterizadas pela forma esférica do eritrócito. Se trata de uma doença com transmissão hereditária na qual o defeito primário está na membrana da hemácia. Na Esferocitose Hereditária o defeito celular primário é a perda da área de superfície da membrana eritrocitária em relação ao volume intracelular. O resultado disso é a formação de esferócitos, além de redução da deformabilidade das hemácias, predisposição ao aprisionamento esplênico. → As talassemias são condições caracterizadas pela redução ou ausência da síntese das cadeias de globina (as cadeias deficientes são, assim, indicadas no nome da patologia, ou alfa, ou beta). A síntese reduzida da cadeia globínica mutada leva à redução do conteúdo eritrocitário de Hb e, finalmente, à anemia hipocrômica e microcítica de intensidade variada. Lara Mendonça P6 FITS Em compensação, o excesso da cadeia globínica normal pode levar à hemólise crônica e eritropoese inefica.
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