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Literatura Portuguesa completa (1)

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14/03/22, 17:42 Introdução
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/introducao-un1.html 1/3
Unidade 1
Construção da Identidade
Nacional Portuguesa
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:42 Introdução
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/introducao-un1.html 2/3
Introdução
Olá, aluno(a)! Quero apresentá-lo(a) ao território cuja literatura vamos passar a
explorar a partir de agora.
Portugal é um país com uma geogra�a curiosa. É um território pequeno, com
menos de 90.000 km², o que equivale dizer que ele é um pouco menor do que o
estado de Santa Catarina. O país se limita a norte e leste com a Espanha e a sul e
oeste com o oceano Atlântico. Além disso, conta ainda com dois arquipélagos,
Açores e Madeira, os quais, por serem arquipélagos, não diminuem a sensação de
isolamento vivida pelo indivíduo português. 
Essa “angústia geográ�ca” gera no indivíduo/escritor português dois sentimentos
bastante antagônicos: por um lado, há um grande apego à terra, aos costumes, ao
passado. Por outro, ele olha para o mar em busca de liberdade, riquezas, conquistas.
Não por acaso, a relação da literatura portuguesa com o mar sempre foi muito
apaixonada.
Assim, a literatura portuguesa oscila entre um lirismo exacerbado e piegas e um
sentimento hipercrítico e sagaz (MOISÉS, 1981). Esses dois aspectos, na verdade, se
apresentam como duas faces de uma mesma moeda, o que, segundo Moisés (1981),
dá suporte ao “�ngimento poético” – expressão que vem de um poema de Fernando
Pessoa – que é perceptível em grande parte da poesia portuguesa. Tais aspectos
também se relacionam a características muito importantes da nação portuguesa,
como sua visão de si mesma como grande pioneira da expansão marítima europeia.
Mas... quando é que surge a literatura portuguesa? Vamos conversar um pouco a
respeito disso?
Nesta unidade, falarei sobre as origens da literatura portuguesa, desde o período
conhecido como Trovadorismo, iniciado no �nal do século XII, e percorrerei seus
desdobramentos até o período chamado Humanismo, que se segue a esse primeiro.
Nesse processo, falarei também sobre alguns autores importantes do período, como
Paio Soares de Taveirós, Fernão Lopes e Gil Vicente, já que é importante conhecê-los
para se inteirar mais a respeito da estética literária da época. 
Vamos começar?
Plano de Estudo
Origem da literatura
portuguesa.
14/03/22, 17:42 Introdução
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/introducao-un1.html 3/3
Periodização da literatura
portuguesa.
O Trovadorismo.
O romance de cavalaria.
O Humanismo.
O teatro de Gil Vicente.
Objetivos de Aprendizagem
Contextualização da origem da literatura
portuguesa e a formação da identidade
portuguesa enquanto nação colonizadora.
Localização temporal das correntes e
períodos literários portugueses.
Compreensão da importância dos períodos
do Trovadorismo e Humanismo para
compreender tudo o que vem depois dentro
do escopo da literatura portuguesa.
Ciência de autores relevantes da época,
como Paio Soares de Taveirós, Fernão Lopes
e Gil Vicente.
14/03/22, 17:42 Origem da Literatura Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/origem-da-literatura-portuguesa.html 1/4
Origem da Literatura
Portuguesa
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:42 Origem da Literatura Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/origem-da-literatura-portuguesa.html 2/4
O que hoje é Portugal já foi território das mais diversas culturas: celta, ibérica, fenícia,
grega, germânica... Tais culturas foram obrigadas a se uniformizar depois da
ocupação romana, em 219 a.C. Porém, essas manifestações culturais permaneceram
ali, silenciosas, in�uenciando a cultura dominante. Mais tarde, no século V, vários
grupos guerreiros atacaram a hegemonia administrativa e política romana – eram os
chamados “bárbaros”. Como esses grupos não conseguiram acabar com a cultura
que já existia, sua própria cultura se misturou à cultura romana. Ou seja, o que hoje é
Portugal já era uma região de multiplicidade cultural, mas passou a ser ainda mais
com o decorrer do tempo.
Mais adiante, no século VII, a península ainda foi invadida pelos árabes (mouros ou
muçulmanos), que dominaram a região quase por completo por muito tempo (até o
século XV). O reino português surge antes do �nal da dominação moura, no �m do
século XI. Ainda estavam no processo de retomada das terras ibéricas, quando o rei
Afonso VI casou sua �lha e única herdeira, Urraca, com Raimundo, um cavaleiro
europeu que ajudava na Reconquista das terras. Seu dote foi o governo da Galiza
(atual Espanha). Pouco depois casou Teresa, sua �lha bastarda, com Henrique, outro
cavaleiro europeu, e ofereceu o Condado Portucalense como dote. E mais tarde, em
1128, o �lho de D. Henrique de Borgonha e Teresa, Afonso Henriques, proclamou a
independência do Condado Portucalense.
Porém, Afonso VII, �lho de D. Raimundo e Urraca e “imperador de toda a Espanha”
desde 1135, somente concedeu a seu primo Afonso Henriques o título de Rei de
Portugal em 1143 (NICOLA, 1999).
E é somente a partir desse marco do surgimento de Portugal enquanto nação que
podemos realmente de�nir a literatura portuguesa – já que é só a partir de então
que Portugal se estabelece como nação. Nesse sentido, a data que marca o início da
atividade literária em Portugal é o ano de 1198 (ou 1189, os registros são imprecisos),
quando o trovador Paio Soares de Taveirós compõe uma cantiga endereçada a Maria
Pais Ribeiro, amante de D. Sancho I, e também chamada A Ribeirinha.
Isso não signi�ca que nada tenha sido escrito antes disso em Portugal, mas ainda
não haviam produzido um texto com tamanha complexidade poética. Além disso, o
hábito na época era que os trovadores memorizassem as composições deles e de
outros autores, muito raramente havendo registros escritos de tais obras. É por isso
que, considerando a trova de Paio Soares de Taveirós como o primeiro documento
literário de que se tem registro na literatura portuguesa, ele acabou sendo tomado
como marco inicial.
Veremos mais a respeito desse importante momento na literatura portuguesa no
tópico 5 desta unidade, ao falarmos sobre o Trovadorismo.
Construção da Identidade Nacional
Colonizadora
14/03/22, 17:42 Origem da Literatura Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/origem-da-literatura-portuguesa.html 3/4
Antes de olharmos para cada período literário português, vale entender como se
formou a identidade nacional colonizadora. No século XIV, após o início da Revolução
de Avis (que durou de 1383 a 1385 – mas falarei mais a respeito no tópico 6), houve
várias mudanças em relação a impostos, leis e exércitos. Isso favoreceu a burguesia,
consequentemente, fortalecendo as viagens mercantis.
Mas muitas das rotas comerciais da época, entre Portugal e Ásia, eram
intermediadas pelos muçulmanos (via Mar Mediterrâneo) ou pelos italianos (via
terrestre). Assim, buscando fugir dos altos preços cobrados pelos intermediários e
conseguir maiores lucros, a burguesia portuguesa decidiu experimentar novas rotas
marítimas. O objetivo era contato com os comerciantes orientais sem
intermediários. 
Esse objetivo inicial se alterou a partir da Conquista de Ceuta, em 1415. A partir de
então, deu-se início a um processo de colonização portuguesa da costa africana e de
algumas ilhas do Oceano Atlântico.
O próximo passo foi ultrapassar o Cabo das Tormentas, chamado hoje de Cabo da
Boa Esperança. Na época, esse era o limite do mundo conhecido e, ao ultrapassá-lo,
Portugal tomou a dianteira na expansão marítima europeia.
Esses acontecimentos, a geogra�a do país e a noção de “predestinação” que era
latente na cultura portuguesa, �zeram com que o país se sentisse merecidamente
pioneiro e competentepara explorar mares “nunca dantes navegados”. 
Figura 1 - Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500
Fonte: Oscar Pereira da Silva em Wikimedia Commons.
14/03/22, 17:42 Origem da Literatura Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/origem-da-literatura-portuguesa.html 4/4
O auge da expansão marítima portuguesa se deu em 1500, com a chegada de Pedro
Álvares Cabral às terras brasileiras. Porém, nesse ponto, a identidade nacional
colonizadora já estava con�gurada há anos, e ainda perduraria por muito tempo até
sua derrocada.
14/03/22, 17:43 Periodização da Literatura Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/periodizacao-da-literatura-portuguesa.html 1/3
Periodização da Literatura
Portuguesa
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:43 Periodização da Literatura Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/periodizacao-da-literatura-portuguesa.html 2/3
A literatura portuguesa pode ser dividida em três “fases”, que acompanham grandes
transformações na Europa:
Essas relações entre as fases e as épocas da História acontecem porque “a produção
cultural de um povo está estreitamente relacionada ao momento histórico por ele
vivido” (NICOLA, 1999, p. 29). 
A literatura, como parte dessa produção cultural, nasce de seu momento histórico e
re�ete esse mesmo momento. Além disso, está relacionada também a várias
questões ideológicas da época, como economia, política, religião, ciência etc. Isso faz
com que estudar a literatura de cada período seja, entre outras coisas, uma forma de
conhecer como era a sociedade de cada época.
Principais Períodos Literários
Portugueses
As três eras mencionadas anteriormente se dividem, por sua vez, em fases menores
– as escolas literárias, estilos de época ou movimentos literários (NICOLA, 1999).
Assim, temos a seguinte divisão:
Era Medieval (séculos XIII a XV): 
Trovadorismo (1189-1434);
Humanismo (1434-1527).
Era Clássica (séculos XVI a XVIII): 
Classicismo (1527-1580);
Barroco (1580-1726);
Arcadismo (1726-1825). 
a Era Medieval, que vai até 1502 e coincide com a Idade Média
(que vai até 1453);
a Era Clássica (1527-1825), que coincide com a chamada Idade
Moderna (1453- 1789); e
a Era Romântica ou Moderna (a partir de 1825), que coincide com
a Idade Contemporânea (a partir de 1789).
14/03/22, 17:43 Periodização da Literatura Portuguesa
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Era Moderna (século XIX até atualidade):
Romantismo (1825-1865);
Realismo (1865-1890);
Simbolismo (1890-1915);
Modernismo (a partir de 1915)
Há quem diga que estejamos já em um novo período, que alguns pensadores
chamam de Pós-Modernismo. Outros, para não arriscar cair em erro – por ser difícil
de�nir o que ainda estamos vivendo –, preferem o conceito de Contemporaneidade,
mais aplicado em termos como Literatura Contemporânea ou Escritores
Contemporâneos. Desde quando e até quando vai esse período é algo que só
saberemos mais tarde, quando esse momento que vivemos já for parte do passado
e puderem analisá-lo com mais distanciamento.
14/03/22, 17:43 O Trovadorismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/o-trovadorismo.html 1/8
O Trovadorismo
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:43 O Trovadorismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/o-trovadorismo.html 2/8
Agora que você já tem uma noção geral das épocas literárias de Portugal e da
formação de sua identidade, podemos nos aprofundar um pouco mais período por
período.
Como eu já disse no tópico 1, a formação da nação portuguesa se deu em meio a
guerras de reconquista dos territórios que tinham sido dominados pelos mouros.
Apesar de esse clima bélico geralmente interferir na produção cultural de um país, a
atividade literária portuguesa conseguiu se desenvolver “em meio ao caos” – e
muitas vezes falando de amor.
É na segunda metade do século XIII que a poesia medieval portuguesa alcança seu
ponto mais alto. Sua origem é controversa, mas Moisés (1981, p. 23) aponta que
comumente se admitem quatro teses para explicá-la: 
a tese arábica, que considera a cultura arábica como sua velha raiz; a
tese folclórica que a julga criada pelo povo; a tese médio-latinista,
segundo a qual essa poesia ter-se-ia originado da literatura latina
produzida durante a Idade Média; a tese litúrgica considera-a fruto da
poesia litúrgico-cristã elaborada na mesma época. 
De acordo com o autor, nenhuma delas dá conta de explicar de fato a origem da
poesia portuguesa. Aliás, se você lembrar das múltiplas in�uências culturais que
Portugal teve (o que eu mencionei no primeiro tópico desta unidade), vai entender
como é difícil pensar em uma só origem para qualquer coisa no país, especialmente
em sua formação.
Outra coisa na qual poderíamos pensar neste momento seria a origem da poesia
amorosa, que é muito forte neste momento do qual falo aqui. Segundo a teórica
Nelly Novaes Coelho (1993, p. 127-128), 
a poesia que se volta para a emoção amorosa, para o mundo interior do
homem, surge em meados do século XII, diferenciada em dois tipos
bem de�nidos: a trovadoresca e o romance cortês, seguidos mais tarde
pelas novelas de cavalaria. Foi a Provença, pequena região situada ao
sul da França, o local geográ�co que serviu de ponto de partida ou de
fulcro gerador das primeiras manifestações poéticas da literatura
ocidental, conhecidas hoje em dia como Poesia Trovadoresca. [...] É com
os trovadores provençais que renasce a poesia lírica [...]. Levada pelos
trovadores, jograis ou menestréis, largamente protegidos pelas cortes,
a poesia trovadoresca atravessa os Alpes e os Pireneus e vai provocar o
nascimento da poesia nacional de Portugal, Espanha e Itália. É com ela
que nasce a poesia portuguesa.
A palavra trovadores, que aparece na citação, era o nome usado para designar os
autores/poetas dessa época. Ela vem do francês trouver, que signi�ca achar,
encontrar. Nesse sentido, é como se o poeta fosse o indivíduo que encontrava a
14/03/22, 17:43 O Trovadorismo
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música adequada para um poema (seu ou de outra pessoa). Então, ele o cantava,
usando algum instrumento como a cítara, a lira, a harpa ou a viola, por exemplo.
Havia dois tipos principais de poesia trovadoresca: a lírico-amorosa e a satírica. A
primeira divide-se em cantigas de amor e cantigas de amigo; e a segunda divide-se
em cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.
Vamos ver as características de cada uma delas.
Cantigas de Amor 
Nas cantigas de amor, o eu-lírico é um homem apaixonado por uma mulher
inacessível por qualquer razão (muitas vezes por ela ser de classe social superior à
dele). Assim, o poema se torna uma con�ssão dolorosa, angustiante e passional
desse amor.  
Uma coisa para a qual temos que nos atentar é que, por mais que os apelos do
trovador coloquem-se “num plano de espiritualidade, de idealidade ou
contemplação platônica, [na verdade, eles se entranham] no mais fundo dos
sentidos: o impulso erótico situado na raiz das súplicas[, que] transubstancia-se,
puri�ca-se, sublima-se” (MOISÉS, 1981, p. 25).
Entre as exigências desse amor cortês/trovadoresco, estavam: 
Figura 2 - Página de um cancioneiro medieval
Fonte: Wikimedia Commons ([2020]).
14/03/22, 17:43 O Trovadorismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/o-trovadorismo.html 4/8
A mulher amada devia ser perfeita;
O amor deveria se submeter a duras provas para ser recompensado;
O cavalheiro era totalmente devoto à mulher amada;
O homem demonstrava nos poemas atitude servil em relação à mulher amada;
O homem deveria se esforçar paradomar seus instintos e impulsos sensuais.
Tal conceito de amor se relaciona a um processo de valorização e elevação da
mulher dentro da sociedade. Esse processo foi orquestrado pela Igreja, através do
culto mariano, e buscava também “a espiritualização do amor, liberando-o da
sensualidade grosseira que caracterizava as relações Homem-Mulher, à época”
(COELHO, 1993, p. 128).  
Nesse tipo de cantiga, havia alguns padrões sempre seguidos:
Você se lembra da primeira cantiga portuguesa, a Cantiga da Ribeirinha, de autoria
de Paio Soares de Taveirós? Pois é. Esse texto, ainda que trouxesse alguns traços de
escárnio, era principalmente uma cantiga de amor.
O sofrimento pela não correspondência amorosa é chamado de
coita; 
A mulher amada é sempre designada pela palavra mia senhor ou
mia dona (que seria equivalente à minha senhora);
O trovador deveria mencionar seu sentimento (mesura) de forma
comedida, para não gerar desagrado (sanha) na amada;
O trovador deveria ocultar o nome da amada;
A vassalagem amorosa tinha quatro partes, em que o trovador
assumia as seguintes condições:
Fenhedor: aquele que se consome em suspiros;
Precador: aquele que ousa se declarar e pedir o afeto da amada;
Entendedor: aquele que é namorado da amada.
14/03/22, 17:43 O Trovadorismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/o-trovadorismo.html 5/8
Cantiga da Ribeirinha
(Paio Soares de Taveirós)
No mundo nom me sei parelha,
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e – ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton nom vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, �lha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaya,
Pois eu, mia senhor, dalfaya
Nunca de vós houve nem hei
Valia d’ua correa.
Glossário:
Mentre: enquanto
Ca: pois
Branca e vermelha: a pele branca contrastando como rosado do
rosto
Retraya: descreva, retrate
Em saya: sem manto, na intimidade
Que: pois
Senhor: senhora, dama, mulher amada
Des: desde
Semelha: parece
Guarvaya: manto geralmente usado pela nobreza
Alfaya: presente
Valia d’ua correa: objeto de pequeno valor
14/03/22, 17:43 O Trovadorismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/o-trovadorismo.html 6/8
Cantiga de Amigo
Outro tipo de cantiga que também era escrita à época eram as Cantigas de Amigo.
Nelas, em vez de haver foco no homem apaixonado, o poeta assume o discurso de
uma mulher apaixonada. Amigo, em galego-português, signi�ca namorado, amado.
É por isso que a cantiga é chamada Cantiga de Amigo.
Também aqui há o sofrimento amoroso e, mais uma vez, uma das di�culdades para
a realização do amor é a classe social. Porém, neste caso, é a mulher que vem das
classes populares (é uma pastora, uma camponesa etc.). Segundo Moisés (1981, p.
27),
O trovador, amado incondicionalmente pela moça humilde e ingênua
do campo ou da zona ribeirinha, projeta-se-lhe no íntimo e desvenda o
desgosto de amar e ser abandonada, por causa da guerra ou de outra
mulher. O drama é o da mulher mas quem ainda compõe a cantiga é o
trovador: 1) pode ser ele precisamente o homem com quem a moça
vive sua história; o sofrimento dela, o trovador é que o conhece, melhor
do que ninguém; 2) por ser a jovem analfabeta, como acontecia mesmo
às �dalgas.
SAIBA MAIS
“Lírico” surge do latim lyricus, e se relaciona à lira, um instrumento
musical utilizado pelos gregos no período clássico. Como durante muito
tempo a música (o som) foi indissociável dos textos (a palavra), os
poemas compostos para as canções eram “líricos”. Assim, o “eu” que fala
nos versos é “lírico” – é o eu-lírico. Na teoria da literatura, esse termo
pode ser entendido como a expressão de um “eu” �ctício que existe
dentro do poema e que não se confunde com o autor. 
Em muitas épocas, houve (e ainda há!) uma confusão por parte do leitor
entre o “eu” do texto, o “eu-lírico” (ou narrador, no caso da narrativa), e o
“eu” real do poeta ou do escritor. Porém, sugiro que você guarde
sempre essa distinção: ela existe e é importante na análise neutra de
um texto literário. 
Fonte: a autora
14/03/22, 17:43 O Trovadorismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/o-trovadorismo.html 7/8
Há muitas vezes uma ambiguidade no sentimento do homem amado, que, por
vezes, “em espírito, dirige-se à dama aristocrática; com os sentidos, à camponesa ou
à pastora” (MOISÉS, 1981, p. 27). Em suma, é já a velha dicotomia machista que divide
as mulheres entre aquelas “para casar” e as outras, que atraem sexualmente. 
No geral, a voz é dada à própria mulher (por mais que escrita pelo trovador), que faz
a con�ssão de seu amor para a mãe, as amigas, os pássaros, os riachos, entre outros
interlocutores possíveis. Seu conteúdo é sempre um amor incompreendido, mas ao
qual a mulher se entrega completamente. Nesse sentido, é possível entender a
cantiga de amor como idealista, enquanto a cantiga de amigo é realista – uma vez
que revela um sentimento espontâneo e natural da mulher sendo retribuído por
uma postura donjuanesca e egoísta do homem.
Algumas características desse tipo de cantiga são:
Cantigas de Escárnio e Maldizer
Esses dois tipos de cantiga, de escárnio e de maldizer, têm um mesmo núcleo: a
sátira e a crítica ácida. A diferença está na forma como a crítica é realizada.
Na cantiga de escárnio a crítica é indireta, com uso de ironia e sarcasmo, e
usando de recursos que façam com que o texto resulte ambíguo, não dando a
entender exatamente para quem é a crítica (é o equivalente medieval das
indiretas nas redes sociais). 
O amado está ausente e a apaixonada fala sobre ele para outras
pessoas;
Consequentemente, a con�ssão amorosa é feita de forma indireta
(não ao amado);
Em alguns casos, já houve o encontro amoroso (e mesmo sexual),
e a moça anseia matar as saudades do amado;
Sofre pressão social (muitas vezes representada pela mãe) contra a
realização de seu amor;
O comportamento da mulher é vigiado ou tolhido por um sistema
patriarcal e machista;
Apesar de o eu-lírico ser uma mulher, o poeta é homem;
Assim como no caso da Cantiga de Amor, o paralelismo e o refrão
são recursos que dão musicalidade e facilitam sua memorização.
14/03/22, 17:43 O Trovadorismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/o-trovadorismo.html 8/8
Na cantiga de maldizer a crítica/sátira é feita diretamente, de forma agressiva,
com ofensas e palavras chulas.
Ou seja, é o fato de o ataque ser mais ou menos direto que diferencia esses dois
tipos de cantiga, ainda que muitos trovadores não tenham feito essa diferença e
tenham reunido os dois tipos de composição satírica num mesmo grupo.
Muitas vezes, essas cantigas eram compostas pelos mesmos trovadores que
compunham as cantigas de amor e amigo. A intenção de tais composições era
criticar e satirizar certos aspectos da vida da corte (pessoais, sociais, morais,
religiosos e políticos). Nem o amor cortês passava imune, sendo também
ridicularizado.
Para fazer isso, muitas vezes usavam recursos cômicos. A linguagem também
admitia 
expressões licenciosas ou de baixo-calão: poesia ‘forte’, descambando
para a pornogra�a ou o mau gosto, possui escasso valor estético, mas
em contrapartida documenta os meios populares do tempo, na sua
linguagem e nos seus costumes, com uma �agrância de reportagem
viva.
Visto constituir um tipo de poesia cultivado notadamente por jograis
de má vida, era natural propiciasse e estimulasse o acompanhamento
de soldadeiras (mulheres a soldo), cantadeiras e bailadeiras que iam
nas letras das canções (MOISÉS, 1981, p. 28)
O Valor da Poesia Trovadoresca
Sim, aluno(a), uma grande parte da produção trovadoresca é vista hoje como
ultrapassada e di�cilmente agrada o leitor moderno. Porém, em seu primitivismo,
revelava aspectos da vida social humanaque estão presentes em muitas produções
artísticas atuais. 
É só pensar, por exemplo, em músicas românticas populares. Está também ali a
paixão de um homem por uma mulher, por vezes platônica e por vezes sendo dita
de uma forma de encobre os impulsos sensuais do poeta. Nas canções atuais de eu-
lírico feminino também temos muito do que já havia em semente nas cantigas de
amigo. 
Ou seja, para o estudioso da linguagem e da literatura, importa muito saber a
origem das coisas, a fonte primeira do que constitui o patrimônio cultural de épocas
seguintes. Aí seu grande valor, ainda hoje.
14/03/22, 17:43 O Romance de Cavalaria
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O Romance de Cavalaria
AUTORIA
Thays Pretti
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Além da lírica, o Trovadorismo também foi espaço para o surgimento das novelas de
cavalaria. Elas são a prosi�cação das chamadas canções de gesta, que eram
poesias sobre temas de guerra. Nesse processo de passar de poesia à prosa, as
histórias �caram mais longas e detalhadas, e deixaram de ser cantadas para serem
lidas. 
As histórias das novelas eram traduzidas, geralmente do francês, ganhando,
voluntária ou involuntariamente, ares portugueses. De acordo com Moisés (1981,
p.32-33),
Convencionou-se dividia a matéria cavaleiresca em três ciclos: ciclo
bretão ou artuliano, tendo o Rei Artur e seus cavaleiros como
protagonistas; ciclo carolíngio, em torno de Carlos Magno e os doze
pares de França; ciclo clássico, referente a novelas de temas greco-
latinos. Tratando-se de Literatura Portuguesa, essa divisão não tem
cabimento, pois só o ciclo arturiano deixou marcas vivas de sua
passagem em Portugal.
As três novelas de cavalaria mais conhecidas da época em Portugal foram História
de Merlim, José de Arimatéia e A Demanda do Santo Graal, sendo as três uma
espécie de trilogia de origem céltica e pagã, mas que se cristianizou no processo de
tradução. 
Dessas três narrativas, a terceira é a mais conhecida, e gira em torno dos cavaleiros
da távola redonda, e da tentativa de se arrancar uma espada maravilhosa �ncada em
uma pedra, além de outras aventuras e romances vividos pelos cavaleiros e pelo rei.
Moisés (1981, p. 35) explica que A Demanda do Santo Graal “corresponde
precisamente à reação da Igreja Católica contra o desvirtuamento da Cavalaria”, pois,
com o enfraquecimento do Feudalismo, os cavaleiros, antes feudais, acabam �cando
desocupados, às vezes até assaltando as pessoas. A igreja, para reverter isso, decide
formar uma cavalaria cristã, organizando, então, a primeira Cruzada.
Essa transformação dos cavaleiros era apoiada pela literatura – que desde sempre
teve uma função de ou dar suporte ou questionar os costumes sociais. Nesse caso, a
literatura teve a função de ajudar a formar as mentalidades no sentido de
considerarem que a cavalaria cristã era algo bonito, elevado e aventuresco. Isso,
aluno(a), é apenas um dos exemplos de como a literatura e a vida se entrelaçam em
todas as sociedades no decorrer dos séculos.
Busco em Sanches (2015, p. 37) as características das novelas de cavalaria, que
seguem:
Relatavam grandes aventuras e atos de coragem dos cavaleiros medievais.
No enredo desses romances, os acontecimentos tinham mais importância que
os personagens.
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As aventuras não expunham um �m, havia sequências, como se fossem
seriados.
O amor, quase sempre impossível, era idealizado pelo cavaleiro em relação à
dama (amor cortês).
As histórias costumavam terminar tragicamente, sem o esperado “�nal feliz”.
Havia sempre a provação da honra, da lealdade e da coragem do cavaleiro em
batalhas, aventuras, torneios e lutas contra monstros imaginários.
Muito temas eram relacionados a batalhas entre cristãos e muçulmanos
durante as Cruzadas medievais.
As cenas de situações contadas pela tradição oral eram narradas em capítulos.
As referências a períodos históricos e míticos do passado eram marcantes.
Os locais onde as aventuras aconteciam eram imaginários (terras fantásticas e
míticas).
Os cavaleiros medievais seguiam códigos de conduta.
Isso era seguido por todas as histórias da época, e ajudava a formar esse imaginário
coletivo que, repito, era também uma forma de ensinar uma cultura.
Entre os romances de cavalaria tidos como originalmente portugueses, o mais
famoso é Amadis de Gaula, ainda que sua autoria não seja precisa, sendo disputada
por portugueses e espanhóis. A versão mais antiga que se tem acesso é de 1508 e de
autoria de Garcia de Montalvo, mas se sabe que a história remonta ao século XVI e já
Figura 3 - Romance de cavalaria medieval
Fonte: Sabbio (1533) em Wikimedia Commons.
14/03/22, 17:43 O Romance de Cavalaria
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era conhecida em Portugal muito antes de 1500. Há, por exemplo, registros de um
cronista português de 1450 dizendo que o Amadis teria sido escrito por Vasco de
Lobeira em meados do século XIII. Trechos desse texto aparecem na versão de
Garcia Montalvo, que indicou, ele mesmo, numa das edições do livro, que Amadis de
Gaula seria uma tradução, não seria de sua autoria. Apesar disso, a versão que
sobreviveu foi a de Montalvo, tão importante na literatura espanhola que teria
servido de inspiração para Cervantes escrever o seu “Dom Quixote”.
E isso encerra o fundamental a saber sobre o Trovadorismo. Para encerrar este
tópico, segue um pequeno resumo da época em um quadro didático, para facilitar
seu aprendizado.
Quadro 1 - Resumo do Trovadorismo
Resumo do Trovadorismo
Momento
Sociocultural
Idade Média Feudalismo: sistema de poder baseado na posse da terra. Supremacia do
clero (teocentrismo) e da nobreza (senhores feudais, patriarcalismo)
Características
literárias
Predomínio da literatura oral, associada à música e à dança, as cantigas. Tipos de
cantigas: de amor (eu lírico masculino, prestando vassalagem amorosa à mulher, à
senhora – amor cortês); de amigo (eu lírico feminino, sensual e popular, o lamento pela
ausência do amigo/amante); de escárnio (crítica pessoal e/ou social indireta, irônica);
de maldizer (crítica pessoal e/ou social direta). Prosa medieval: novelas de cavalaria (o
heroísmo de in�uência religiosa e feudal).
Autores e
obras
Trovadores (poetas-cantores): Paio Soares de Taveirós (autor da Cantiga da Ribeirinha,
cantiga de amor homenageando uma dama da corte – D. Maria Paes Ribeiro); D. Dinis
(rei-trovador e mecenas, ou seja, protetor das artes). Novelas de cavalaria (criações
populares): o rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda; Carlos Magno e os doze
pares da França.
Fonte: Martins e Ledo (2001, p. 18).
14/03/22, 17:44 O Humanismo
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O Humanismo
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Thays Pretti
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A segunda época medieval, ou Humanismo, se caracteriza especialmente por um
processo de humanização da cultura. Estamos vislumbrando aqui o nascimento do
mundo moderno, com a decadência dos valores medievais e a ascensão do
mercantilismo e dos ideais burgueses. As cidades e o comércio estão em expansão e
o homem começa a se tornar mais importante, tanto como indivíduo quanto como
parte de uma coletividade. 
A concepção teocêntrica da vida, com Deus no centro da escala de valores, continua
forte, mas surgem atitudes mais centradas no homem (antropocentrismo). Isso é
incentivado também pelas descobertas e conquistas ultramarinas,iniciadas com
Ceuta, em 1415, e que seguem pelo século seguinte.
O rei, que era uma autoridade simbólica, fortalece-se ao se aliar à classe emergente,
a burguesia (artesãos e comerciantes, detentores do dinheiro e moradores das
cidades, chamadas burgos). Com isso, a Igreja perde um pouco de força e tanto a
cultura quanto a educação se tornam mais laicas.
A educação do homem, �dalgo sobretudo, constitui o objetivo da
literatura moralista então escrita; nas crônicas de Fernão Lopes, o povo,
a massa popular, comparece pela primeira vez. Uma onda de realismo,
de terrenalismo, de apego à natureza física, eleva-se para se contrapor
ao transcendentalismo anterior: as crônicas, a poesia e especialmente o
teatro vicentino documentam à saciedade essa mutação histórica,
identi�cada com o fato de o acento tônico da cultura se transferir para
o homem enquanto homem e não para o homem concebido à imagem
e semelhança de Deus (MOISÉS, 1981, p. 40)
Nesse momento, uma vez que a Igreja deixa de ter o monopólio da cultura, surgem
bibliotecas fora dos mosteiros e conventos. Além disso, é nessa época que surgem os
humanistas, homens cultos e profundos admiradores da cultura antiga.  Eram
progressistas (contra o feudalismo) e davam importância aos direitos individuais de
cada um.
Em Portugal, essas mudanças chegaram de forma difusa, uma vez que os
portugueses foram mais impactados pela Revolução de Avis (1383-1385), a partir da
qual D. João, mestre de Avis, foi coroado rei. Além disso, outras mudanças históricas
que interferiram no rumo das manifestações artísticas em Portugal foram: as
mudanças no país causadas pela Revolução de Avis; o mercantilismo; a conquista de
Ceuta (1415), fato que daria início a um século de expansionismo lusitano; a vida mais
prática e menos lírica do homem comum; o interesse da realeza por produções que
fugissem do lirismo. Tudo isso favoreceu a crônica e a prosa histórica, entre gêneros
textuais.
Se formos de�nir um marco histórico, o Humanismo Português inicia-se quando
Fernão Lopes é nomeado para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo por D.
Duarte, em 1434. Essa época vai até o retorno de Sá de Miranda da Itália, em 1527,
trazendo a estética clássica que daria início ao período seguinte, o Classicismo.
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Esse é um período muito importante na história de Portugal, por constituir uma
profunda revolução cultural no país. Além disso, o Humanismo
foi um período muito rico para o desenvolvimento da prosa, graças ao
trabalho dos cronistas, notadamente de Fernão Lopes, considerado o
iniciador da historiogra�a portuguesa. Outra manifestação
importantíssima que se desenvolveu no Humanismo, já no início do
século XVI, foi o teatro popular, com a produção de Gil Vicente. A
poesia, por outro lado, conheceu um período de decadência nos anos
de 1400, estando toda a produção poética do período ligada ao
Cancioneiro Geral, organizado por Garcia de Resende; essa poesia, por
se desenvolver no ambiente palaciano, é conhecida como poesia
palaciana. Tanto as crônicas históricas como o próprio teatro vicentino
estão intimamente relacionados com as profundas transformações
políticas, econômicas e sociais veri�cadas em Portugal no �nal do
século XIV e em todo o século XV (NICOLA, 1999, p. 51). 
Falarei mais detidamente a respeito do teatro de Gil Vicente na próxima unidade.
Por ora, falarei um pouco mais sobre outro nome importante do período: o cronista
Fernão Lopes.
Fernão Lopes, o Cronista
Estima-se que Fernão Lopes deva ter nascido entre 1378 e 1383, e que deva ter
morrido pouco depois de 1459, última data conhecida em sua trajetória. Porém,
pouco se sabe de fato. A primeira data conhecida de sua história é o ano de 1418,
quando foi nomeado “guarda das escrituras” da Torre do Tombo por D. João I. Já em
1434, o funcionário do palácio real ganha de D. Duarte, �lho e sucessor de D. João I, a
designação de cronista-mor, com a função de escrever a vida dos reis de Portugal,
desde D. Henrique até D. João I. 
Muitas de suas crônicas se perderam no decorrer do tempo. Dentre as que restaram
e que são comprovadamente de sua autoria, temos: 
�. Crônica d’El-Rei D. Pedro; 
�. Crônica d’El-Rei Fernando;
�. Crônica d’El-Rei D. João I (as duas primeiras partes. A terceira, por algum
motivo – talvez a morte do cronista –, foi escrita por Gomes Eanes de Zurara).
Sua produção é importantíssima por trazer relevância à atividade historiográ�ca
portuguesa. Nesse sentido, Fernão Lopes é frequentemente considerado o “pai da
História” em Portugal. Segundo Moisés (1981, p. 41), “seu valor como historiador
reside acima de tudo no fato de procurar ser ‘moderno’, desprezando o relato oral
em favor dos acontecimentos documentados”. Além disso, era muito rigoroso na
análise desses documentos, além de objetivo, honesto e imparcial, de modo a tentar
reconstituir a verdade histórica da forma mais �el possível.
14/03/22, 17:44 O Humanismo
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Nesse sentido, já no Prólogo da Crônica de D. João I, Fernão Lopes a�rma que
“nosso desejo foi em esta obra escrever verdade, sem outra mistura, deixando nos
bons aquecimentos todo �ngido louvor, e nuamente mostrar ao povo, quaisquer
contrárias cousas, da guisa que aviera” (MOISÉS, 1981, p. 41).
É também importante a atenção que ele dá em seus textos para festas e revoluções
populares – ou seja, ele acha que tais coisas são tão dignas de registro quanto a vida
dos reis. Além disso, ele considera as causas econômicas e psicológicas dos
acontecimentos, sendo, assim, um profundo analista da história e cultura que
contava – o que era muito diferente dos cronistas anteriores e talvez tenha sido
decorrente de ele mesmo ter origem plebeia. Isso mostra, desde então, a
necessidade de que todas as classes consigam falar por si mesmas, remetendo-nos
a um provérbio africano que diz que “até que os leões inventem as suas próprias
histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caça”.
REFLITA
“Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores
serão sempre os heróis das narrativas de caça” (Provérbio Africano) –
antigamente não tínhamos muitas possibilidades de narrativas: elas
geralmente estavam todas concentradas nas mãos dos grupos
dominantes e, mesmo quando as manifestações artísticas eram críticas
à sociedade, sempre deixavam alguns grupos de fora. É importante que
mudemos isso pouco a pouco para que cada vez mais tenhamos a
possibilidade de multiplicidade estética e narrativa. Isso enriquece
nossa sociedade e diversi�ca o debate cultural.   
Fonte: a autora
14/03/22, 17:44 O Teatro de Gil Vicente
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O Teatro de Gil Vicente
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:44 O Teatro de Gil Vicente
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Gil Vicente é um nome muito importante dentro da literatura portuguesa, por haver
levado para Portugal o chamado “teatro popular”. Segundo Moisés (1981, p. 50),
durante a Idade Média, despontou e vicejou um tipo de teatro que
recebeu o nome de popular por suas características fundamentais
(popular nos temas, na linguagem e nos atores). De remota origem
francesa (século XII), iniciara-se com os mistérios e milagres, que
consistiam na representação de breves quadros religiosos alusivos a
cenas bíblicas e encenados em datas festivas, sobretudo no Natal e na
Páscoa. Inicialmente falados em Latim, mais adiante adotaram o
Francês. O local da encenação era o interior das igrejas, o próprio altar,
de onde se transferiu para o claustro, e ao �m para o adro. No começo,
era reduzido o texto e escasso o tempo de representação, mas três
séculosdepois, o número de �gurantes ascendia a centenas, o texto a
milhares de versos, e a encenação podia levar dias. É de crer que aos
poucos algumas pessoas do povo passassem a participar de tais
encenações, e nelas introduzissem alterações cada vez maiores. Com o
tempo, o próprio povo entrou a representar suas peças, já agora de
caráter não-religioso, num tablado erguido no pátio defronte à igreja:
daí o seu caráter profano, isto é, que �ca fora, diante (pro) do templo
(fanu-). Abandonando o pátio, o teatro popular se disseminou em feiras,
mercados, burgos e castelos da Europa e acabou tendo grande
acolhida nos reinos ibéricos (Castela, Leão, Navarra e Aragão). E foi por
in�uxo castelhano que esse teatro penetrou em Portugal pelas mãos
de Gil Vicente [...].
Não está claro se houve ou não teatro em Portugal antes dele. O que se sabe é que
não há registros. Mesmo sobre a pessoa de Gil Vicente, assim como sobre Fernão
Lopes, os registros são incertos. Seu ano de nascimento pode ter sido 1465 ou 1466, e
ele possivelmente morreu entre 1536 e 1540. Gil Vicente era ourives e mestre da
balança na Casa da Moeda de Lisboa, e começa a produzir seu teatro em 07 de
junho de 1502, dia do nascimento do futuro D. João III, �lho de D. Manuel e sua
segunda mulher, D. Maria de Castela. 
Nessa ocasião, Gil Vicente vai até a câmara real saudar o evento em nome dos
servidores da Casa da Moeda, e declama o Monólogo do Vaqueiro (ou Auto da
Visitação). Seu monólogo é tão bem recebido que pedem que ele o repita nas festas
de Natal. Em vez de fazer isso, encena outra peça, com um tema parecido: Auto
Pastoril Castelhano. Conseguindo mais uma vez a mesma recepção, passa a
escrever e representar teatro para entretenimento da realeza e �dalguia. 
Gil Vicente escreveu e representou diversas peças, muitas delas famosas até hoje,
como a Trilogia das Barcas (1517-1518), o Auto da Alma (1518) e a Farsa de Inês
Pereira (1523). Trabalhou tanto com temas religiosos como profanos/satíricos (de
crítica social), tendo inclusive feito alguns textos mistos. 
Segundo Sanches (2015), entre seus textos religiosos (apresentados dentro das
igrejas), estavam:
14/03/22, 17:44 O Teatro de Gil Vicente
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Mistérios: representação da vida de Jesus Cristo;
Milagres: representação da vida de santos;
Moralidades: representações curtas com �m didático ou moralizante.
Já seus textos profanos eram representados fora das igrejas e dividiam-se em:
Sobre o teatro vicentino, Moisés (1981, p. 53) a�rma que ele se caracteriza: 
por ser primitivo, rudimentar e popular, muito embora tenha surgido e
se tenha desenvolvido no ambiente da Corte, para servir de
entretenimento nos animados serões oferecidos pelo Rei. Graças ao
amparo deste, o comediógrafo não precisou comercializar seu talento
para o ver fruti�car. Mais importante do que isso é o fato de ele fugir
das concessões que favorecem mas empequenecem, e ter-se guiado
sobranceiramente por suas convicções, numa independência de
espírito apenas limitada pelo bom senso e pelas naturais coerções do
meio palaciano.
E complementa, a�rmando ainda que: 
Arremedilho ou arremedo: uma imitação cômica de pessoas ou
fatos;
Écloga: peça pastoril;
Entremeze: encenação curta para ser apresentada entre os atos
de uma peça mais longa;
Farsa: encenação satírica com humor absurdo e ridículo;
Momo: encenação carnavalesca, com máscaras e imitações;
Pantomima alegórica: uma espécie e palhaçada circense, com
atores usando máscaras e imitando as pessoas;
Sermão burlesco: monólogo recitado por um ator usando
máscara;
Sotie: parecida com a farsa, mas com um bobo (sot, no francês;
“tolo”) como protagonista.
14/03/22, 17:44 O Teatro de Gil Vicente
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Essas determinantes são fundamentais para compreender o precoce
despontar, historicamente falando, de um teatro tão rico, denso e
variado. Escrevendo para um público exigente e que detinha nas mãos
as rédeas do poder, nem por isso Gil Vicente deixou de impor-se como
teatrólogo e impor seu gosto pessoal. E se por vezes parece haver
obedecido às injunções do ambiente em que vivia e em que levava seu
teatro, jamais se rebaixou a ponto de se desmerecer, ainda que, para
defender sua autonomia moral, tivesse de camu�á-la com o emprego
de disfarces, truques, símbolos, alegorias e mesmo o riso mais
desopilante. (MOISÉS, 1981, p.54)
E é graças a essas condições muito especí�cas de trabalho que Gil Vicente
conseguiu desenvolver uma obra tão extensa e relevante até os dias de hoje.
Por �m, é importante �car o registro de que Gil Vicente é o mais importante autor
de teatro de toda a Literatura Portuguesa, servindo de ponte entre a Idade Média e o
Renascimento em Portugal. Para produzir o melhor de seu teatro, debruçou-se
sobre a paisagem humana de seu tempo, analisando-a sempre em detalhes. Sua
obra in�uenciou e in�uencia, direta e indiretamente, grande parte da Literatura
Portuguesa posterior. 
14/03/22, 17:44 Conclusão
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Olá, aluno(a)!
Nesta unidade, vimos a respeito da formação do reino de Portugal, com suas particularidades históricas e
geográ�cas, e de sua primeira manifestação literária, o Trovadorismo. Nessa parte, falamos sobre as cantigas lírico-
amorosas e as satíricas, mostrando o quanto ambas são representativas de sentimentos presentes no homem da
Idade Média em Portugal e da forma como era a sociedade. Vimos um exemplo de cantiga da época, escrita em
galego-português e, por isso, utilizando termos que já não são nossos familiares.
Falamos ainda a respeito dos romances/novelas de cavalaria, que vieram da tradição oral de outros países e
receberam traços característicos ao serem traduzidos em Portugal. Sua existência foi muito importante na
formação dos costumes de uma época.
Na sequência, falamos sobre o Humanismo, um momento que deixou de enfocar tanto Deus para passar a
enfocar o ser humano. Nessa época, foi muito relevante a �gura do cronista, que registrava a história dos homens
importantes daquele tempo – os reis, no caso. Fernão Lopes foi o mais famoso cronista e muito importante para a
historiogra�a e para a literatura portuguesas ao registrar em suas crônicas não só as histórias dos reis, mas
também alguns elementos mais voltados ao povo, dando importância também às classes mais baixas da época. 
Isso também foi feito por Gil Vicente, grande comediógrafo da época, que, em vez de produzir somente obras
religiosas, optou por criar um teatro popular, com personagens que vinham das camadas menos favorecidas e
voltado tanto para a nobreza como para o público em geral. Esse tipo de escolha artística é importante porque
traz o homem simples para perto da arte e a�rma sua importância como indivíduo, o que foge um pouco do que
era o discurso geral. 
Como você viu no segundo tópico desta unidade, que trata da periodização da literatura portuguesa, nossa
jornada está apenas começando e ainda temos muito o que conhecer neste nosso percurso. Espero que ele seja
tão enriquecedor para você como é para mim.
Sigamos!
Leitura complementar
Nesta seção, apresentarei dois textos que complementam de alguma forma o material apresentado na unidade.
Ambos são do e-dicionário de termos literários de Carlos Ruas e tratam-se de de�nições de gêneros literários
apresentados nesta unidade: crônica e novela. 
Texto 1
CRÔNICA
Derivado do lat. Chronica e do gr. Khrónos, consagra o conceito de tempo, informando com ele o discurso dos
textos que designa.
Conclusão - Unidade 1
14/03/22, 17:44 Conclusão
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Inicialmente, a crônica, mais geral ou mais particular, registava acontecimentos históricospor ordem cronológica.
Fonte mais direta e imediata do conhecimento histórico, comportava também factos menos relevantes,
informação secundária que a História moderna tenderá a elidir. Na alta Idade Média, a crônica começa a ser
conformada por uma perspectiva individual que lhe confere uma dimensão interpretativa e, eventualmente,
estética, como acontece com as obras de Fernão Lopes. (séc. XIV).
No séc. XIX, o desenvolvimento da imprensa periódica, e, em especial, da de opinião, vai fazer emergir a crônica no
sentido moderno. No início, ela era apenas uma pequena secção de abertura que dava conta das notícias e dos
rumores do dia, mas tenderá a alargar-se e a especializar-se pelo interior do periódico (crônica artística, literária,
musical etc.). Depois, ela desloca-se para o “folhetim”, secção do rodapé da primeira página do periódico, lugar de
que se libertará mas onde conquistará a colaboração de homens de letras e, com isso, um espaço entre
Jornalismo e Literatura. A sua identidade apoiar-se-á cada vez mais na autoria: a realidade social, política, cultural
etc. tornar-se-á progressivamente o quadro onde o cronista procura e seleciona qualquer facto quase como
pretexto para discursar, opinar e, até mesmo, efabular. Deste modo, a crônica esteticiza-se. A crônica
contemporânea, discurso de autor, oscila entre ser predominantemente comentativa, re�exiva e efabulatória (p.
ex., no espaço brasileiro, ela assume a feição do conto breve). Assim, apesar da atualidade e transitoriedade da sua
temática, tem uma autonomia que favorece a prática da sua recolha e publicação em volume.
Fonte: Rita (2009).
Texto 2
NOVELA
Do italiano novella, que, por sua vez, deriva do latim nova (“novidade, notícia”), para uma narrativa média em
termos de extensão, por oposição ao conto (mais breve) e ao romance (mais extenso), o termo novela em
Português não tem a mesma correspondência em outras línguas e di�cilmente se encontrará consenso sobre a
sua de�nição exata. Novela distingue-se de outros gêneros não só pela sua extensão mas também pela
complexidade da sua trama, pelo que se pode de�nir, em termos muito gerais, como uma narrativa de extensão
média (de tamanho variável, mas podendo ser limitada a cerca de 100 páginas ou 40 mil palavras), com uma
trama simples, descrita sem demora na caracterização dos ambientes, personagens e tempos de ação, com
apenas os elementos essenciais necessários à compreensão dos acontecimentos narrados. Nessas circunstâncias,
a novela privilegia o desenvolvimento de um argumento �ccional essencial à descrição completa de todos os
elementos de uma história de �cção.
A di�culdade etimológica do termo português novela percebe-se na sua comparação com outras línguas: em
espanhol, chama-se novela a um romance e novela corta a uma novela; em francês, há uma distinção semelhante
ao caso português, que não existe em espanhol, por exemplo; conte (conto), nouvelle (também do italiano novella,
que corresponde ao nosso termo novela) e roman (romance, em português, romanzo, em italiano); em inglês, diz-
se short story  para conto, long short story ou novelette para novela e novel para romance. Estas divergências
linguísticas vêm de longe: o Decameron  é uma coleção de cem novelas escritas por Giovanni Boccaccio entre
1348 e 1353; Bernardim Ribeiro publicou no século XVI uma obra de �cção que tem sido classi�cada quer como
novela, pela sua extensão breve, quer como um dos primeiros romances portugueses: Menina e Moça (edição
de�nitiva em 1559); Miguel de Cervantes chama ao que hoje consideramos um dos melhores romances de todos
os tempos Novelas ejemplares (1613). O que caracteriza esses exemplos clássicos de novelas e os confunde com o
que entendemos por romance é não só a brevidade narrativa mas também o fato de concentrarem num só texto
todas as ações de uma única história, podendo, como no caso de Novelas ejemplares, evoluírem para um
conjunto mais complexo que obriga à classi�cação de romance para podermos compreender todas as suas
incidências técnicas e de conteúdo.
Na Idade Média, foi um gênero dominante nas Letras galego-portuguesas, espanholas e francesas, com destaque
para uma literatura novelística com forte pendor aventureiro, épico, mágico e/ou religioso. Os romances de
cavalaria medievais entram também dentro da categoria de novelas, porque se condensavam em histórias de
reis, como o imperador Carlos Magno e o rei Artur, de heróis valorosos, como os Cavaleiros da Távola Redonda,
Tristão, Lancelote, Percival, Galvão, Galaaz, etc. O conceito e âmbito temático da novela evoluiu para temas mais
distantes da capacidade bélica e mística do ser humano para continuar nos círculos mais restritos das paixões e
das desilusões amorosas. Modernamente, é um gênero apetecível para quase todos os romancistas que possuem
no seu portfólio literário obras menos extensas que não são necessariamente de menor importância no conjunto
da sua obra. É o caso de A Morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói; A Metamorfose, de Franz Kafka; Morte em Veneza,
de Thomas Mann; A Hora da Estrela, de Clarice Lispector; O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago; Aura,
de Carlos Fuentes; ou The Crying of Lot 49, de Thomas Pynchon. Há outros fatores para além da extensão textual
que podem interferir na decisão de um romancista para �xar a sua obra como novela e não como conto ou
14/03/22, 17:44 Conclusão
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/conclusao-un1.html 3/4
romance: a decisão pode ser determinada pela ponderação do assunto escolhido, para o qual o autor decide que
�cará mais protegido, claro ou eloquente se evitar longas descrições e caracterizações e privilegiar uma grande
economia narrativa, deixando de lado análises psicológicas completas, digressões re�exivas, dilatação de
informações contextuais, etc. [...]
Fonte: Ceia (2010).
Tanto o conceito de crônica como o de novela mudaram muito no decorrer do tempo. Novela, por exemplo, já
quase não é mais usado no Brasil, especialmente quando falamos de obras de literatura contemporânea, tendo
quase que de�nitivamente cedido espaço para o termo romance. Apesar disso, é importante conhecer os termos
que foram utilizados no decorrer da história da literatura, para conseguir categorizar melhor as obras, quando
necessário.
Livro
Acesse o link
Filme
https://www.amazon.com.br/Rei-Arthur-Cavaleiros-T%C3%A1vola-Redonda/dp/8537810657/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=rei+artur&qid=1598053225&sr=8-2
14/03/22, 17:44 Conclusão
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-1/conclusao-un1.html 4/4
14/03/22, 17:44 Introdução
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/introducao.html 1/3
Unidade 2
Do retorno aos clássicos ao
retorno à natureza
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:44 Introdução
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/introducao.html 2/3
Introdução
Olá, aluno(a)!
Nesta segunda unidade de nossa disciplina de Literatura Portuguesa, seguiremos a
linha temporal estabelecida na unidade anterior e chegaremos ao Classicismo
português. Esse período – a versão literária portuguesa do Renascentismo europeu –
deixa importantes marcas na história literária em Portugal, já que é justamente
nesse período que é escrita a epopeia portuguesa – Os Lusíadas. 
A relevância dessa obra não é fácil de ser medida, uma vez que ela molda muito da
forma como o povo português vai se enxergar pelos séculos seguintes. 
Seguindo a sequência temporal, passaremos, então, para o extenso período do
Barroco português – um momento não tão frutífero para a cultura geral. Como
veremos, esse momento favoreceu a religião em detrimento da cultura laica ou a
ciência, então a maioria das produções da época são relacionadas a sermões, cartas
e ensinamentos sobre a catequização dos povos que vinham sendoconquistados
desde o século XV.
Dentro desse período, conheceremos o Padre Antônio Vieira, o mais importante
nome em Portugal na época. Valerá também a menção a um poeta brasileiro que
incorporou intensamente os ideais estéticos do Barroco, e que serve, assim como o
Padre Antônio Vieira, como ponte entre a literatura portuguesa e a brasileira.
Depois, passaremos para os verdes campos do Arcadismo e conheceremos um
pouco mais sobre esse momento que, além de ser uma reação ao Barroco, é uma
retomada do Classicismo, fazendo com que os três momentos desta unidade
estejam bastante interligados. Comentaremos ainda – brevemente – a respeito de
um grande poeta da época, Bocage, sonetista importante que marcou o Arcadismo
e o século XVIII. 
A viagem que faremos aqui é longa e ultrapassou muitos séculos. Por isso, muita
coisa não vai caber nesta apostila, nesta unidade. Pensando nisso, peço sua
colaboração, aluno(a). Pesquise! Ao ver o nome de um novo autor, procure algum
texto dele na internet. Leia uma biogra�a mais extensa. Conheça! Saber do que se
passou no passado em termos de literatura e linguagem faz com que entendamos
mais profundamente o que se deu depois, quais as relações, causas e
consequências. A viagem pela literatura é saborosíssima – para quem se permite
degustá-la.
Plano de Estudo
14/03/22, 17:44 Introdução
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/introducao.html 3/3
Conceitos e De�nições do que foi o
Classicismo em Portugal.
Breve histórico e apresentação de
Luís Vaz de Camões e da épica
portuguesa.
Conceitos e De�nições do que foi o
Barroco em Portugal.
Conceitos e De�nições do que foi o
Arcadismo em Portugal.
Objetivos de Aprendizagem
Conceituar e contextualizar o Classicismo e
sua relação com o Renascimento europeu.
Estabelecer a importância de Luís Vaz de
Camões na literatura portuguesa e em
especial no período classicista português.
Compreender como o Barroco se
desenvolveu na Europa e, mais
especi�camente, em Portugal por meio da
obra do Padre Antônio Vieira.
Localizar o Arcadismo português em
relação ao Arcadismo europeu,
apresentando Bocage, seu principal
representante.
14/03/22, 17:45 Classicismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/classicismo.html 1/3
Classicismo
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:45 Classicismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/classicismo.html 2/3
A valorização do Homem (em contraposição a Deus) e do que foi criado por ele,
estimulada pelo Humanismo, criou as condições para que a Europa vivesse o
período seguinte, o Renascimento. Esse momento se con�gurou como uma
redescoberta dos monumentos culturais do mundo greco-latico. O nome dado a
esse período vem daí. É Renascimento por empenar tal redescoberta e revisão. 
Segundo Sanches (2015), o Renascimento não apresentou as mesmas características
em todos os países da Europa. Porém, algo foi marcante em todos ele: o
rompimento com o teocentrismo medieval e a abertura mais completa ao
antropocentrismo, e às revoluções cientí�cas e culturais que decorreram disso.
Os renascentistas exaltaram a importância do ser humano, considerando-o como
um ser livre, capaz de de�nir seu próprio projeto de vida e ser feliz na Terra, ou seja,
sem ter que esperar a morte e a recompensa divina pelos seus bons atos. 
O Renascimento foi um momento de grande efervescência cultural. O
conhecimento artístico, literário e �losó�co greco-romano é retomado,
assim publicações como a Odisseia, os diálogos platônicos e outros
textos são traduzidos e difundidos pela Europa. Estudam-se com mais
rigor as ciências, surgem as primeiras gramáticas, que buscam
compreender sistematicamente as línguas modernas. Além disso, [...] a
expansão marítima foi importante para colocar o homem europeu em
contato com outras culturas e, consequentemente, reforçar a própria
cultura (SANCHES, 2015, p. 78).
Segundo Sanches (2015), três conceitos são fundamentais para compreendermos
esse importante momento histórico: arte, engenho e razão. A arte seria adquirida
por meio do estudo dos textos clássicos; o engenho seria um talento nato necessário
para a criação das obras, algo como um dom; e a razão deveria se opor à emoção na
busca pelo equilíbrio no momento da produção das obras. 
Esses conceitos guiam o pensamento renascentista, que também tem como
característica a valorização das ciências em lugar da religião.
O movimento iniciou na região italiana da Toscana, centrado principalmente nas
cidades de Florença e Siena, de onde se espalhou, graças ao desenvolvimento da
imprensa de Johannes Gutemberg, em 1450. Isso facilitava a impressão e difusão dos
livros e, consequentemente, de conhecimento e cultura – por agilizar o processo de
produção do livro e diminuir seus custos. 
Foi justamente da Itália que tais ideias foram levadas a Portugal. Francisco Sá de
Miranda, poeta português, morou na Itália durante oito anos, em um período de
grande efervescência cultural. Ao voltar, em 1527, tratou de levar a in�uência consigo.
Em Portugal, o movimento chamou-se Classicismo. Mas a ideia era a mesma: buscar
nos gregos e latinos do passado – os Clássicos – a inspiração para suas composições
literárias.
14/03/22, 17:45 Classicismo
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/classicismo.html 3/3
Nessa busca de inspiração, os clássicos eram considerados como modelos de
perfeição estética que se buscava imitar. Essa imitação, porém, não se dava no
sentido de cópia, mas sim de uma busca por criar obras de arte usando as regras,
fórmulas e medidas estabelecidas pelos antigos.
É nesse período e dentro dessa proposta artística que surge um dos mais
importantes nomes da literatura portuguesa: Luís Vaz de Camões, autor de diversos
poemas líricos, sonetos e poemas épicos. Seu texto mais importante é Os Lusíadas,
uma epopeia centrada na viagem de Vasco da Gama às Índias, mas que, na verdade,
conta a História de Portugal.
14/03/22, 17:45 Luís Vaz de Camões e a Épica Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/luis-vaz-de-camoes-e-a-epica-portuguesa.html 1/8
Luís Vaz de Camões e a
Épica Portuguesa
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:45 Luís Vaz de Camões e a Épica Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/luis-vaz-de-camoes-e-a-epica-portuguesa.html 2/8
Como é o caso de muitos escritores da época, é incerto o que se sabe sobre Luís Vaz
de Camões. É possível que ele tenha nascido entre 1524 e 1525, de uma família
aristocrática, em Coimbra, Lisboa, Santarém ou Alenquer. É possível que tenha
estudado na Universidade de Coimbra, mas não há registros de sua passagem pela
instituição. Porém, ele teria, em algum momento de sua educação, conhecido
grandes referências, como Homero, Horácio, Virgílio, Ovídio, Petrarca, entre outros. 
Outro traço importante é que, talvez por sua má vida (seria um boêmio, vivendo
amores proibidos), teria sido “desterrado” para longe da Corte durante um tempo, o
que faria com que ele se “exilasse” em Ceuta, em 1549, como soldado raso. Nessa sua
atuação, perde um olho. Na sequência, volta para Lisboa.
Em Lisboa, em 1552, ele chega a ser preso por entrar em uma briga e ferir um
homem. É solto sob condição de que volte para o serviço militar. Aceita e vai para a
Índia como soldado, em 1553. Ocupa essa função até 1556, quando sai novamente e é
nomeado “provedor mor dos bens de defuntos e ausentes” em Macau. Sua grande
obra, Os Lusíadas, teria sido parcialmente escrita aí.
Acusado de corrupção, embarca para Goa para se defender. Diz a lenda que seu
navio naufraga, e ele salva-se a nado, levando Os Lusíadas. Porém, perde sua
companheira, Dinamene, no naufrágio.
Em Goa, é mais uma vez preso, sendo solto depois de algum tempo, em 1563. Em
1567, Camões é preso novamentepor dívidas e logo solto outra vez. Leva uma vida
miserável por um tempo, até voltar para Portugal com a ajuda de Diogo do Couto.
Em 1572, publica Os Lusíadas. Como recompensa, ganha uma pensão anual de 15
mil réis do rei D. Sebastião, a quem o poema foi dedicado. Porém, Camões não teria
recebido o valor com regularidade, de modo que nunca conseguiu, de fato, sair das
dívidas e da miséria. O poeta morre em 10 de junho de 1580, pobre e abandonado, e
seu enterro teria sido �nanciado por uma instituição bene�cente, chamada
Companhia dos Cortesãos.
Em tudo o que escreveu, Camões renovou a língua portuguesa, além de ter passado
a ser um grande símbolo de Portugal e uma referência para todos os países
lusófonos. Os Lusíadas, sua obra prima, é considerado o poema épico mais
importante da língua portuguesa. Narrando as aventuras de Vasco da Gama, a obra
funciona como a epopeia do povo lusitano, dando a ele o heroísmo característico
desse gênero literário, mas sem deixar de lado características muito portuguesas,
como certa melancolia constitutiva.
A Épica Camoniana
14/03/22, 17:45 Luís Vaz de Camões e a Épica Portuguesa
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/luis-vaz-de-camoes-e-a-epica-portuguesa.html 3/8
Como eu já disse anteriormente, a expansão marítima foi um traço muito
característico do Renascimento em Portugal. Essa busca por novas terras e por
“mares nunca antes navegados” é que impulsiona a escrita de Os Lusíadas, a mais
importante epopeia em língua portuguesa.
Figura 1 - Folha de rosto da primeira edição de Os Lusíadas.
Fonte: Educalingo (s.d.).
SAIBA MAIS
A palavra Lusíadas antecede Camões. Foi André de Resende que, perto
do �nal do século XV, começou a utilizar essa palavra, e ele mesmo
explica numa das suas obras, "A Luso, unde Lusitania dicta est,
Lusiadas adpellavimus", ou seja, é um apelativo derivado de Luso, uma
�gura mitológica associada a Baco (talvez seu �lho ou seu
companheiro) e o suposto fundador das terras da Lusitânia, a quem até
é feita uma breve alusão nO terceiro canto de Os Lusíadas, inclusive faz
alusão a Luso e essa origem mítica de Portugal.
Fonte: Mitologia em português (2019).
14/03/22, 17:45 Luís Vaz de Camões e a Épica Portuguesa
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Relembremos: a epopeia clássica, como a Eneida, a Ilíada ou a Odisseia,
apresentava sempre aventuras heroicas, e o protagonista – o herói – geralmente
serve como símbolo de todo um povo ou toda uma nação. Não é diferente quando
falamos de Os Lusíadas. Vasco da Gama representa Portugal, o espírito do país. Seu
heroísmo é tido como o heroísmo de todos os portugueses. 
O cerne da obra é o deslocamento do caminho marítimo para as Índias,
narrado em um poema que se vale da mitologia para descrever seres
sobrenaturais, ou os deuses, que atuam na evolução da ação, alguns
opondo-se à viagem de Vasco da Gama, outros favorecendo-a.
Simultaneamente, são evocadas por Vasco da Gama ao rei de Melinde
as glórias da nacionalidade, sintetizando a história de Portugal. Não
raro, no início e no �m dos cantos, o poeta faz diversas considerações
relevando suas opiniões, re�exões e críticas (SANCHES, 2015, p. 84).
Características da obra
Como já dito, o herói de Os Lusíadas, Vasco da Gama, representa todo o povo
português. Suas navegações são representativas de toda a expansão marítima
portuguesa, bem como da grande coragem desse povo ao navegar por “mares
nunca dantes navegados”. Assim, o tema da epopeia é a glória do povo navegador
português, ou seja, dos navegadores que conquistaram as Índias e edi�caram o
Império Português no Oriente. O poema canta, assim, as conquistas de Portugal.
Outras características importantes são:
O poema possui 8816 versos decassílabos (dez sílabas poéticas)
divididos em 1102 estrofes de oito versos cada (oitavas);
A epopeia é constituída por dez cantos (“capítulos”), cada um com
uma quantidade variável de estrofes;
Dentro das oitavas, os primeiros seis versos têm rimas cruzadas e
os dois últimos são emparelhados (esquema AB AB AB CC);
Sua estrutura repete a estrutura da epopeia clássica, dividindo-se
em:
Proposição: apresentação da história;
Invocação: pedido de inspiração às musas, no caso as ninfas do
Tejo;
Dedicatória: o texto é dedicado a D. Sebastião, o que é indicado
no poema;
Narração: a história em si.
14/03/22, 17:45 Luís Vaz de Camões e a Épica Portuguesa
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Agora, vamos contar com o auxílio de Sanches (2015, p. 85-86) para observar mais
atentamente a estrutura da obra, iniciando pela Proposição. 
Nas primeiras três estrofes do Canto I, o poeta a�rma que vai cantar vitórias de
homens ilustres, “as armas e os barões assinalados”. Essa primeira parte do poema
ainda apresenta o plano da viagem, “[...] da Ocidental praia lusitana/Por mares
nunca de antes navegados”, o plano da história, “[...] as memórias gloriosas/
Daqueles Reis que foram dilatando/ A Fé, o império e as terras viciosas/ De África e
de Ásia [...]”, o plano divino, “A quem Netuno e Marte obedeceram [...]”, e o plano do
poeta, “[...] cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e
arte”, “[...] que eu canto o peito ilustre lusitano [...]”. 
Ou seja, todos os elementos que dialogarão durante a narrativa, os personagens, a
História, o divino e a arte, já são colocados no “tabuleiro” do poema, para que
possam ser postos em ação dali por diante.
Ainda no Canto I, mas entre as estrofes 4 e 5, o poeta faz a primeira invocação das
musas, para que o auxiliem. Nesse primeiro momento, ele chama as ninfas do Tejo (o
que é representativo, já que o Tejo é o rio mais importante de Portugal). Mais tarde,
no Canto II (estrofes 1 e 2), o poeta invoca Calíope, musa clássica da poesia épica. O
poeta ainda invoca as ninfas do Tejo mais uma vez no Canto VII, e Calíope no Canto
X.
A dedicatória do poema também se concentra no Canto I, entre as estrofes 6 e 18.
Para tanto, inicia ressaltando a importância de D. Sebastião, expondo exemplos que
con�rmariam isso. Essa dedicatória era tradicional nas epopeias e, como eu disse
anteriormente, resultou em uma pensão anual, que não foi paga regularmente.
Por �m, o texto segue para a parte da narração, a qual começa na estrofe 19 do Canto
I. Como nas epopeias clássicas, a história se inicia in media res, ou seja, já no meio da
história. Vasco da Gama já se encontrava em alto mar quando a narrativa se abre
para que nós, leitores, o acompanhemos, e só posteriormente �camos sabendo
sobre como foi o início da viagem.
O narrador intercala a narração de terceira pessoa (um narrador onisciente
heterodiegético, ou seja, fora da história) e primeira pessoa (Vasco da Gama
narrando parte da viagem). Nesse sentido, o passado é narrado por Vasco da Gama,
e o presente da história (a partir daquele momento em que encontramos Vasco da
Gama navegando) é apresentado pelo narrador externo.
Em Os Lusíadas, a importância de detectar o sujeito da fala em certos momentos da
narrativa está relacionada não somente aos aspectos técnicos da estrutura literária,
mas também à compreensão do texto, pois a relevância de um discurso relaciona-se
à autoridade de seu enunciador. Vejamos, por exemplo, o plano da enunciação, no
qual surgem os três tipos de narradores principais, correspondentes a perspectivas
ou visões diferentes. 
14/03/22, 17:45 Luís Vaz de Camões e a Épica Portuguesa
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Eu poemático – “As armas e os barões assinalados... cantarei”, encontra-se na
parte introdutória (proposição, invocação e dedicatória); o registro em primeira
pessoa expõe ideias e sentimentos que têm identi�caçãocom o narrador.
Narrador onisciente – “Lá no largo Oceano navegavam...”, encontra-se na
narração; uma voz narrativa em terceira pessoa e objetiva descreve a gloriosa
aventura do povo português.
Falas das personagens – [são os] discursos de Vasco da Gama, Inês de Castro,
o Gigante Adamastor, o Velho do Restelo etc. São perspectivas particulares,
diferentes e até contestatórias das posições ideológicas do eu poemático ou do
narrador onisciente. Esse recurso evita incoerências e contradições na obra
(SANCHES, 2015, p. 88).
Na imagem a seguir, você pode ver em que altura da viagem a narração se inicia
(marcação dos Cantos 1 e 2) e de que forma ela é narrada dentro da epopeia.
Figura 2 - A viagem de Vasco da Gama ilustrada 1
Fonte:  Cais da Memória (2015).
14/03/22, 17:45 Luís Vaz de Camões e a Épica Portuguesa
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Figura 3 - A viagem de Vasco da Gama ilustrada 2
Fonte: Corbett (2017).
14/03/22, 17:45 Luís Vaz de Camões e a Épica Portuguesa
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Como já dito, esse é um grande poeta português por muitos aspectos. É importante
ao estudante de Letras conhecer sua obra para entender melhor a História de
Portugal e para conseguir perceber as in�uências que tal trabalho teve em
produções seguintes.
SAIBA MAIS
Além de sua importante epopeia, Camões também produziu grandes
poemas lírico-amorosos, usando especialmente duas formas
poemáticas: os sonetos (poesia erudita) e as redondilhas (poesia
popular). Dentre seus mais famosos poemas está o Amor é fogo que
arde sem se ver, que inclusive foi tomado como inspiração pelo cantor
Renato Russo (da banda Legião Urbana) para a composição de uma
música chamada Monte Castelo (presente no álbum As quatro
estações, de 1989). Segue o poema:  
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Luís de Camões).
14/03/22, 17:45 Barroco
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/barroco.html 1/6
Barroco
AUTORIA
Thays Pretti
14/03/22, 17:45 Barroco
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Como eu já havia dito na unidade sobre o Renascimento, durante aquele período
houve um afastamento da religião e uma maior aproximação da ciência. A Reforma
Protestante, que também acontece durante o período chamado de Renascimento,
colaborou muito com o enfraquecimento da Igreja Católica na época, abrindo
espaço para novas formas de se abordar a religião. 
Entretanto, no �m do século XVI, a Igreja começa um movimento cujo objetivo é
recuperar seus �éis. Para isso, funda a Companhia que Jesus, que buscava
principalmente combater o protestantismo. Esse movimento da Igreja �cou
conhecido como Contrarreforma.
Esse novo momento teve também sua in�uência nas artes, permitindo o
surgimento do Barroco, que durou dos �ns do século XVI até o início do século XVIII
e teve como grande marco de sua estética a dualidade entre homem e Deus, o
profano e o sagrado. O homem da época duvidava das certezas do homem do
período anterior, e não se decidia entre os prazeres e felicidades carnais ou as
recompensas da outra vida. 
Isso vai surgir de várias formas diferentes na arte do período, mas uma delas,
bastante relevante na pintura, é o jogo de luzes e sombras que passa a ser bastante
intenso. Na literatura, isso vai ser representado largamente no jogo de ideias, com
um mesmo texto frequentemente remetendo ora ao sagrado, ora ao profano. A
culpa também é algo muito frequente nas obras deste período, assim como diversas
formas de sofrimento autoimposto.
Contexto Histórico e Características
Em 1578, D. Sebastião, rei de Portugal, desaparece em Alcácer-Quibir, em uma de
suas grandes viagens de expansão marítima. Chegava ao �m uma época de
tomadas de território iniciadas a partir de Ceuta (1415) até o Brasil (1500). Dois anos
depois, morre Luís Vaz de Camões, o que Moisés (1981, p. 89) aponta como “dois
acontecimentos curiosa e coincidentemente simultâneos, a marcar o �m de um
mundo e o início de outro. Termina a Renascença em Portugal e tem começo a
extensa época do Barroco”.
A partir de tais acontecimentos e com um novo fortalecimento da Igreja Católica, a
cultura, de certa forma, se retrai, “hiberna”. Em comparação com o boom do período
anterior, muito pouco é produzido neste, e o que é produzido tende a ter relações
com religiosidade. 
A palavra “barroco” tem origem duvidosa e a princípio designava um tipo de pérola
irregular. Depois, passou a designar todo sinal de mau gosto estético e, então, a
cultura do século XVII e começo do século XVIII. 
14/03/22, 17:45 Barroco
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A Contrarreforma absorveu a estética barroca pelo fato de o próprio Barroco, da
forma como estava surgindo na Espanha, já trazia em si características úteis para
esse novo projeto da Igreja Católica, ou seja, a conciliação do teocentrismo medieval
com o espírito clássico, “de essência pagã, terrena e antropocêntrica” (MOISÉS, 1981,
p. 91) do Renascimento. 
Na fusão entre orientações tão opostas e à primeira vista mutuamente
repulsiva, haveria uma inevitável troca de posições, de forma que se
operaria a espiritualização da carne e a correspondente carnalização do
espírito. Em resumo, era a luta para conciliar o claro e o escuro, a
matéria e o espírito, a luz e a sombra, no esforço de anular pela
uni�cação a dualidade básica do Homem, dividido entre os apelos do
corpo e os da alma (MOISÉS, 1981, p. 91).
Entre as características mais importantes desse momento, destaco, com o suporte
de Sanches (2015, p. 98):
Culto ao contraste (aproximação de opostos, como corpo/alma,
pecado/perdão, céu/terra etc.);
Con�ito entre o eu e o mundo;
Con�ito entre a fé e a razão;
Antítese, dualidade, contradição;
Pessimismo;
Feísmo (exploração da miséria da condição humana);
Fusionismo (união das visões medieval e renascentista);
Linguagem �gurada;
Linguagem requintada;
Exploração de temas religiosos;
Consciência de que a vida é passageira (do que resulta o con�ito
entre buscar a salvação espiritual ou gozar seus dias antes da
morte);
Cultismo (jogo de palavras, criação de efeitos sensoriais por meio
de palavras e �guras de linguagem. Predomina na poesia);
Conceptismo (jogo de ideias, uso de conceitos e raciocínio lógico.
Predomina na prosa).
14/03/22, 17:45 Barroco
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/226779/mod_resource/content/2/unidade-2/barroco.html 4/6
Para compreender um pouco dessas características, recorramos a um poema de um
poeta brasileiro, Gregório de Matos, um dos mais importantes poetas do Barroco no
Brasil:
Apesar de estarmos falando de literatura portuguesa, a literatura brasileira começa a
ser in�uenciada por essa primeira durante esse período literário, de modo que,
apesar de haver características levemente diferentes entre o Barroco português e o
brasileiro, muitas de suas características são comuns, de modo a podermos usar este
clássico poema como exemplo de algumas características barrocas.
Nesse poema, o eu lírico “barganha” com seu interlocutor, Jesus Cristo, para que ele
perdoe suas falhas. Nesse sentido, utiliza o Conceptismo para elaborar um jogo
lógico com Jesus, como se dissesse: na Bíblia, Jesus sente grande

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