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MARIANA (Hérnias de Parede Abdominal* CONCEITOS Hérnia: protrusão anormal de tecido/órgão intra-abdominal por meio de um defeito na parede. Em ordem de prevalência ▪ Ínguino-crural (75%) ▪ Incisionais (15-20%) ▪ Umbilicais e outras. Composição: ▪ Tecidos de cobertura: pele, subcutâneo... ▪ Saco peritoneal ▪ Víscera Quanto mais precoce a correção, melhor o prognóstico. Tratamento definitivo: cirurgia. Hérnia redutível: o conteúdo do saco retorna espontaneamente ou com pressão manual quando o paciente está deitado. Hérnia irredutível/encarcerada: conteúdo não pode retornar para o abdome. ▪ Não implica em obstrução, inflamação ou isquemia (inicialmente). ▪ Pré-requisito para que ocorra obstrução ou estrangulamento. Hérnia estrangulada: comprometimento do suprimento sanguíneo do conteúdo do saco (ex: omento ou intestino) ▪ Predispõe o estrangulamento e obstrução: aderência entre o conteúdo da hérnia e o revestimento peritoneal do saco. ▪ Maior incidência: hérnias femorais ▪ Diagnóstico diferencial em abdome agudo obstrutivo ▪ Pele sensível, sinais flogísticos, hipotensão, leucocitose ▪ Cirurgia imediata. Hérnia de Richter: tipo incomum de estrangulamento – pinçamento de apenas uma parte (antimesentérica) da circunferência do intestino fica encarcerada/estrangulada, sofrendo redução espontânea, de modo que a porção gangrenada não seja identificada na cirurgia; ▪ Estrangulamento sem sinais de obstrução ▪ Risco de perfuração e peritonite. ▪ + comum em hérnias femorais Hérnia externa: protruso para fora da parede Hérnia interna: protrusão do intestino por um defeito no interior da Hérnias Primárias de Parede Abdominal MARIANA Virilha o Inguinal: ▪ Indireta ▪ Direta ▪ Combinada o Femoral (abaixo do lig.ing.) Anterior: o Umbilical o Epigástrica o De spiegel Pélvica: o Obturador o Ciática o Perineal Posterior o Lombar: superior/inferior Hérnias Inguinais (75%, H>M) Canal Inguinal ▪ Reflexão da aponeurose do oblíquo externo. ▪ Parede posterior: fáscia transversalis e músculos transverso do abdome e oblíquo interno. ▪ Pela parede posterior passam o anel inguinal interno e canal femoral. ▪ Parede anterior: aponeurose do músculo oblíquo externo. ▪ Fim: anel inguinal externo. ▪ Conteúdo: o Homem: funículo espermático (m. cremáster, plexo pampiniforme, vasos deferentes, CPV obliterado...) o Mulher: ligamento redondo do útero Fatores de Risco Congênitos: ▪ Persistência do processo vaginal (peritônio) ▪ Prematuridade e baixo peso ▪ Deficiência de colágeno Adquiridos: ▪ Alterações do colágeno: tabagismo e idade ▪ Aumento repetido/persistente da pressão intra-abdominal: → DPOC → Prostatismo → Obesidade → Gravidez → Neoplasia intra-abd MARIANA Hérnia inguinal indireta: passa pelo anel inguinal interno, obliquamente, em direção ao externo, e por fim para a bolsa escrotal, sem defeito na parede posterior. ▪ + comum, H>M, D>E ▪ Típica em crianças, maior relação com situações congênitas: persistência do conduto peritoneovaginal ▪ LATERAL aos vasos epigástricos inferiores ▪ Corre dentro do funículo espermático; ▪ Hérnia completa/inguinoescrotal: passa completamente para o escroto ▪ Manobra de Landivar negativa. Hérnia inguinal direta: protrusão para fora, maior chance de estrangulamento. ▪ MEDIAL os vasos epigástricos inf. ▪ Triângulo de Hesselbach → Ligamento inguinal de Poupard (LI) → Vasos epigástricos inferiores (LL) → Borda lateral do músculo reto (LM) → Fáscia transversalis (assoalho). Hérnia Mista/em pantalona: componente direto e indireto, mais comum em adultos. Anatomia Fazem protrusão pelo orifício miopectíneo de Fruchaud: fraqueza na fáscia transversalis – músculos transverso, oblíquo interno e externo do abdome (aponeuróticos medialmente). Anatomia: → Linha alba: encontro medial das aponeuroses dos retos abdominais. → Tendão conjunto: fusão dos músculos transverso e oblíquo interno do abdome, passa ao longo da borda ínfero-lateral do músculo reto e se liga ao tubérculo púbico. → Ligamento inguinal (de Poupart): entre o tubérculo púbico e a espinha ilíaca anterossuperior., formado pela borda inferior da aponeurose do oblíquo externo (dobra sobre si mesma). → Trato iliopúbico: faixa de TC que forma a borda superior da bainha femoral, se insere no ramo púbico superior formando o ligamento lacunar (de Gimbernat). → Ligamento pectíneo (De Cooper): faixa que se estende lateralmente por 2,5cm ao longo da linha iliopectínea (inicia na base do ligamento lacunar). MARIANA Diagnóstico com EXAME CLÍNICO: anamnese + exame físico Quadro clínico ▪ Assintomáico ▪ Abaulamento/tumefação redutível ▪ Dor, desconforto ou peso na virilha ▪ Relação com esforço físico ▪ Tumefação fixa -> encarceramento ▪ Parestesia/dor irradiada (incomum) ▪ Sinais de complicação: obstrução, isquemia, perfuração. Exame físico: com o paciente em pé e deitado ▪ Inspeção estática ▪ Inspeção dinâmica: manobra de Valsava; ▪ Manobra de Landivar: com o paciente em pé, localizar o anel inguinal externo com o indicador (reduzir se possível), e realizar valsava. → Positivo se a hérnia aparecer (Hérnia direta) → Negativo: hérnia não sai (indireta). ▪ Manobra choque-dedo: entrar com o dedo indicador pelo anel inguinal superficial, a protrusão da hérnia direta bate na lateral, e da hérnia indireta bate na ponta. ▪ Sexo feminino: 2 dedos ao longo do canal inguinal ▪ Femoral: abaixo do ligamento inguinal, medial à artéria femoral ▪ Palpação da hérnia: → Redutível ou não → Conteúdo → Anel herniário Exame de imagem raramente é necessário após o diagnóstico clínico. Pode usar quando o exame físico é inconclusivo ou hérnias internas. Classificação de Nyhus MARIANA Tratamento Cirúrgico, independente do tipo de hérnia. ▪ Redutível: cirurgia eletiva ▪ Encarcerada: redução manual; cirurgia de urgência (caso refratário ou isquemia) ▪ Estrangulada (isquemia): cirurgia de emergência por inguinostomia ou VLP o Se reduzir na anestesia: laparotomia xifopúbica Princípios do tratamento: Reduzir/ressecar elementos herniados Tratamento do saco herniário Correção do defeito anatômico Identificar e eliminar o fator de risco Aproximação primária a) Abordagem anterior Técnica Padrão-Ouro – Lichtenstein ▪ Unilaterais e não recidivantes. ▪ Técnica livre de tensão: a tela de poliporpileno (marlex) fica interposta entre as regiões de sutura (tendão conjunto e ligamento inguinal), confecciona anel inguinal interno sintético; ▪ Recidivas muito baixas (<1%). ▪ Tela de polipropileno Técnica de Bassini ▪ Sutura do tendão conjunto, transverso oblíquo, diretamente no ligamento inguinal. ▪ Alta tensão, alta taxa de recidiva. b) Abordagem posterior Técnica de Stoppa MARIANA ▪ Hérnias recidivadas e/ou bilaterais; ▪ Espaço pré-peritoneal: coloca-se uma tela grande, desde a cicatriz umbilical até o pubis. ▪ O mais indicado é utilizar técnica videolaparoscópica. ▪ Triângulo do Desastre: LM ducto deferente, LL vasos gonadais, LI vasos ilíacos externos – contem veia circunflexa profunda, ramo genital do nervo genitofemoral e nervo femoral. ▪ Triângulo da Dor: LM vasos gonadais, LL trato iliopúbico, LI reflexão peritoneal (VIE) – contem os nervos cutâneos femoral lateral e femoral anterior. Diagnósticos Diferenciais ▪ Hérnia inguinal ▪ Hidrocele ▪ Varicocele ▪ Testículo ectópico ▪ Epididimite ▪ Torção testicular ▪ Lipoma ▪ Hematoma ▪ Cisto sebáceo ▪ Hidradenite das glândulas apócrinas inguinais ▪ Linfadenopatia inguinal ▪ Linfoma ▪ Neoplasia metastática ▪ Hérnia femoral ▪ Linfadenopatia femoral ▪ Aneurisma ou pseudoaneurisma da artéria femoral MARIANAHérnias Femorais (M>H) Abaixo do ligamento inguinal (parte superior da coxa). → Característica predisponente: canal femoral – espaço vazio entre o ligamento lacunar (medialmente) e a veia femoral (leteralmente) → Bordas distintas e resistentes: maior risco de encarceramento e estrangulamento. (das hernias inguino-crurais) → D>E – o sigmoide tampona o canal femoral esquerdo Cirurgia de McVay: sutura do tendão conjunto ao ligamento Cooper após a abertura da fascia transversalis. Hérnias Raras ▪ Hérnia de Amyand: traz junto o apêndice cecal. ▪ Hérnia de Littré: com divertículo de Meckel ▪ Hérnia de Spiegel: entre a borda lateral do reto abdominal e a linha semilunar, mais lateralizada, infraumbilical. ▪ Hérnias lombares → De Petit: trígono lombar inferior → De Grynfelt: trígono lombar superior Hérnias Ventrais Incisionais ▪ Mais frequente em incisões de linha média. ▪ Tratamento: herniorrafia com tela. ▪ Prevenção: ▪ Fatores de risco : → Infecção ou contaminação → Desnutrição → Hematoma MARIANA → Tensão → Esforço no pós-operatório (prostatismo, tosse crônica) → Comorbidades: obesidade, diabetes, DPOC → Ascite → Medicamentos: corticoide, imunossupressores → Tabagismo ▪ Quadro clínico: abaulamento em região de cirurgia prévia. ▪ Complicações locais: escoriações e úlceras. ▪ Complicações intra-abdominais: encarceramento, obstrução intestinal, fístulas enterocutâneas. ▪ Tratamento dispensa telas se <5cm. Hérnia Umbilical Diferenciar a hérnia da criança e do adulto, pois apresentam fisiopatologia e tratamento diferentes Criança (congênita) O fechamento espontâneo é até os 2 anos de idade Operar se: concomitante à hérnia inguinal; defeito > 2cm; DVP associada; não fechar após 4-6 anos Adulto (adquirida) Operar se: sintomática, ascite volumosa Hérnia Epigástrica Forma-se na linha média – entre o apêndice xifoide e a cicatriz umbilical Hérnia Incisional Forma-se em área de incisão cirúrgica prévia ▪ Pode ocorrer por falha técnica, desnutrição, etc... Hérnia de Spiegel Forma-se entre a borda lateral do músculo reto do abdome e a linha semilunar Hérnia Lombar (aponeurose do transverso) Hérnia de Grynfeltt No triângulo lombar superior (abaixo da 12ª costela) (+comum) Hérnia de Petit No triângulo lombar inferior (acima da crista ilíaca) Obturatória Por meio do forame obturatório, incomum, normalmente unilateral à direita, M>H, >60 anos Sinal de Howship Romberg: dor na face medial da coxa por compressão do n.obturatório.