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apg 23 – malária 1. Compreender a fisiopatologia, etiologia, epidemiologia, manifestações clínicas, diagnóstico (clínico e laboratorial), complicações, tratamento e causas socioambientais da disseminação da malária. epidemiologia - Patologia comum na maioria das nações africanas, da América Central e do Caribe, além daquelas do Sudeste Asiático e o Brasil (WHO, 2018; Brasil, 2019a); - No Brasil é endêmica na região Norte, principalmente nos estados da Amazônia legal (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima); causas socioambientais da disseminação da malária - Para a disseminação são necessários 3 fatores: 1. o protista (Plasmodium spp.); 2. o hospedeiro (ser humano); 3. vetor (fêmea do mosquito do gênero Anopheles). etiologia - Causada por patógenos do gênero Plasmodium do reino protista; - Parasitam humanos: Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax, Plasmodium ovale, Plasmodium malariae e Plasmodium knowlesi; - Plasmodium falciparum: responsável pelo quadro grave da doença; - Incidências no Brasil: P. vivax (mais de 80% dos casos), P. falciparum (próximo de 20% dos casos - graves) e P. malariae (alguns poucos casos); fisiopatologia - Doença febril não contagiosa com acometimento de múltiplos órgãos e sistemas, com evolução grave quando tarada precocemente; ciclo de vida - No hospedeiro ocorre a reprodução assexuada por esquizogonia e no vetor ocorre a reprodução sexuada por esporogonia; - O ciclo no ser humano tem dois estágios principais: o exoeritrocítico (ou pré-eritrocítico), no fígado; e o eritrocítico, no sangue. - A ruptura dos eritrócitos infectados leva as manifestações clínicas características; - Duração de 7 – 21 dias; esporozoitos - Forma infectante que é inoculado pela fêmea do mosquito Anopheles e invade o fígado; 1. Esquizogonia: multiplicação que ocorre após a entrada nos hepatócitos pelos esporozoítos e sua diferenciação em criptozoítos; 2. Formação dos esquizontes hepáticos que originam milhares de merozoítos hepáticos; 3. Os merozoítos hepáticos rompem os hepatócitos e invadem eritrócitos; merozoítos hepáticos - São ovais e menores que os esporozoítos; - Entram no eritrócito e se diferenciam em trofozoítos e depois em esquizontes sanguíneos; - Os esquizontes se agrupam e formam rosáceas; - Diferenciações: trofozoíto Esquizontes sanguíneos merozoítos sanguíneos P. falciparum citoplasma com pigmentação escura e granulações de Maurer - 8 – 24 P. vivax citoplasma grande com formato ameboide, pigmentação marrom-amarelada e granulações de Schüffner Maiores que os P. falciparum 12 - 24 P. malariae cromatina grande, com granulações de Ziemann - 6 – 12 merozoítos sanguíneos - Invadem eritrócitos e são produtos da degradação das rosáceas; gametócitos - Originados da diferenciação dos merozoítos sanguíneos em trofozoítos imaturos que dão origem aos gametócitos; - O feminino é denominado de macrogametócitos, e os masculinos, microgametócitos; - Diferenciações: macrogametócitos microgametócito P. falciparum cromatina e pigmentos centrais cromatina difusa P. vivax pigmento azul e cromatina periférica arredondado com cromatina central P. malariae cromatina periférica e pigmentos escassos cromatina mais difusa oocinetos e oocistos - O oocineto (ovo móvel) é formado no estomago do mosquito pela união dos microgametócitos e macrogametócitos; - O oocineto se aloja na parede intestinal e se desenvolve em oocisto que matura e produz esporócitos que se alojam nas glândulas salivares do mosquito; hipnozoítos - Formas latentes da patologia presentes no ciclo das espécies P. vivax e P. ovale; - Os esporozoítos ao invadirem os hepatócitos ficam latentes por 1 mês – 2 anos; imunologia e patologia p. falciparum - Forma mais grave da doença devido a citoaderência e a produção de rosetas; · Citoaderência: ocorre devido ao amadurecimento dentro dos eritrócitos que passam a apresentar botões (knobs), esses se aderem a outras hemácias e/ou ao próprio endotélio; - Obstrução da microcirculação no cérebro, dos rins, pulmões e da placenta; - Molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1), molécula de adesão leucocitária ao endotélio 1 (ELAM-1) e molécula de adesão vascular 1 (VCAM-1); no cérebro, o principal ligante é o ICAM-1. · Rosetas: aglomerados celulares formados pela aderência entre os eritrócitos infectados e normais; proteção imunológica - Ocorre em regiões endêmicas, sem total função protetora e de baixa duração quando não há contato com o plasmodium; - Infecções mais graves; - Imigrantes africanos na França e proteção de neonatos mediados por IgG transferidos pela placenta; fígado - A elevada parasitemia – com aumento de células infectadas nos sinusoides hepáticos, associada a hipertrofia e hiperplasia das células de Kuppfer – pode provocar retardo da circulação, hipoxia, degeneração celular e congestão do órgão. - Ocorre devido a invasão dos hepatócitos por esporozoítos; baço - Atua acentuadamente no controle da parasitemia, sendo proporcional ao dano causado no órgão e a esplenomegalia; - Hiperplásico e hipertrófico, sendo descritos, ainda, casos de aderência à parede abdominal e ao diafragma; - Eritrócito 1 da P. falciparum (PfEMP-1): induz a citotoxicidade celular, opsonização e eliminação por macrófagos esplênicos por indução de resposta imune; pulmões - Hipoxia e hipocapnia de padrão restritivo, até bronquite, infiltrado intersticial e alveolar e derrame pleural; - Pode se agravar e ocasionar edema pulmonar e síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA); cérebro - O acometimento cerebral se da pela obstrução do fluxo sanguíneo sistêmico, por lesões do parênquima devido a desregulação da resposta imune e por desregulação da cascata de coagulação; · Lesões do parênquima: ocorre devido ao sequestro de leucócitos na microcirculação cerebral que amplia a reação inflamatória que degrada a barreira hematoencefálica; · Desregulação da cascata de coagulação: aparecimento de trombos e focos hemorrágicos; - Danos cognitivos; manifestações clínicas - Quadro clínico típico caracteriza-se por febre, calafrios, dor nas articulações, vômitos, cefaleia intensa e icterícia, com possibilidade de convulsões, podendo progredir ao coma; Malária por P. vivax, P. malariae e P. ovale - Inicio da sintomatologia: · 14 dias para o P. vivax; · 30 dias para o P. malariae; · 12 dias para o P. falciparum. - Tríade: febre, calafrios, sudorese e cefaleia; - Evolução da sintomatologia: 1. mal-estar, náuseas, tonturas e dores musculares; 2. Ataque paroxístico, calafrios que duram 1 hora em média, febre alta; 3. Após a febre ocorre sudorese intensa e astenia; 4. Ausência de sintomas; - A febre passa a ser intermitente de forma cíclica a depender de cada espécie de plasmodium e seu tempo de lise dos eritrócitos para liberação de merozoítos sanguíneos; - P. vivax ou P. ovale: contagem aumentada de reticulócitos devido a parasitemia de eritrócitos jovens que induzem a eritropoiese; - P. malariae: parasita os eritrócitos velhos o que gera baixa sintomatologia, mas pode gerar glomerulopatia; colérica - Diarreia com forte desidratação; álgida - Cianose periférica e pele fria; - Ocorre devido a mediação do fator de necrose tumoral (TNF); Malária falcípara - Ocorrem achados clínicos compatíveis com sepse devido ao envolvimento de diversos órgãos; - O aumento da resposta imune não diminui a parasitemia; - Invasão de eritrócito jovens e maduros; - hiperparasitemia, podendo ter mais de 5% dos eritrócitos parasitados; - SNC: cefaleia, bruxismo, rebaixamento do nível de consciência, delírio, sonolência, torpor, convulsões e coma; · Ocorre devido ao quadro de hipoxia devido a destruição dos eritrócitos e obstrução de fluxo; · Liberação de citocinas pelo sistema imune; - Anemia: Ocorre devido a destruição dos eritrócitos e parasitismo que evolui em um quadro grave com contagem de eritrócitos é menor que 15%, e a concentração de hemoglobina reduz-se a menos que 5 g/dℓ; - Disfunção hepática: · Fase aguda: hepatomegalia que se expressa com icterícia e aumento discreto de aminotransferases, ocorretambém a diminuição da sintese dos fatores de coagulação, hipoglicemia e acidose láctica; · Fase crônica: congestão hepática, colestase e dilatação sinusoidal; - Insuficiência renal: dano renal decorrente da citoaderencia e por fenômenos embólicos que restringem o fluxo sanguíneo que levam a hipoxia decidual e lesões do parênquima renal; - Disfunção pulmonar: letalidade de 70% que ocorre com alteração da frequência respiratória que pode evoluir em SDRA dano endotelial disseminado; · Padrão respiratório de Kussmaul (inspiração profunda, rápida e ruidosa, seguida de pausa e posterior expiração repentina) – alcalose respiratória em resposta a acidose metabólica; · Nesse caso não se deve utilizar terapia hídrica devido ao risco de agravar a congestão pulmonar; - Choque: pode ocorrer devido à redução na pressão arterial sistólica no ortostatismo devido à queda da RVP combinada a acidose metabólica, sepse e/ou hemorragia; · Choque hiperdinâmico já que não compromete o funcionamento cardíaco; · Síndrome malárica álgida; - Coagulação intravascular disseminada: intensificação da cascata de coagulação e do sistema fibrinolítico; - Hipoglicemia: associado ao processo de hiperinsulinemia, pois fatores intrínsecos a P. falciparum intensificam a atividade das células betapancreáticas. · Ocorre comumente em crianças e mulheres grávidas; - Acidose metabólica: quadro decorrente de vários fatores, como: processo febril com consequente aumento de citocinas inflamatórias; redução e/ou congestão do fluxo sanguíneo hepático, ocasionando menor depuração do lactato; maior ação muscular em quadros convulsivos; hipoxia tecidual devido à anemia; e redução da cadeia de oxidação da glicose em eritrócitos parasitados; diagnóstico (clínico e laboratorial) - Clínico: paciente em processo febril cabe a suspeita de malária em que se investiga: · história epidemiológica do enfermo, viagens a áreas endêmicas ou riscos de infecção por realização de recente transfusão sanguínea ou de hemoderivados, ou ocorrência de acidentes com objetos perfurocortantes. laboratorial - Hematoscopia: exame de gosta espessa (alta sensibilidade) para identificação direta do protozoário; · Distenção sanguínea (alta especificidade): identifica a presença dos protozoários e ocorre a diferenciação por espécie; - Gametócitos do Plasmodium vivax: - Gametócitos do Plasmodium falciparum: - Gametócitos do Plasmodium malariae: - Teste rápido imunocromatográfico: detectam antígenos parasitários e são úteis na ausência de microscopistas treinados, mas não dispensa a realização da hematoscopia para identificação do plasmodium e conduta terapêutica adequada; · Permanecem positivos após o tratamento; · Ex: ParaSight para o P. falciparum, com base na detecção da HRP-II (especificidade de 99% e sensibilidade 94%); · No Brasil são priorizados os testes rápidos em casos de difícil acesso microscópico; - Técnicas moleculares: a identificação do parasito com reação em cadeia da polimerase (PCR); · Utilizado em casos de baixa parasitemia; · Alto custo e necessita de mão de obra especializada; · Sensível e específica, de outras espécies relacionadas à doença, como o P. malariae, na região amazônica; · Com associação do PCR em tempo real com o convencional é possível amplificar, detectar e quantificar o material genético, otimizando os resultados. - Exames inespecíficos: avaliação do enfermo com diagnóstico de malária; · Hemograma: quadro de anemia, achado comum nos pacientes infectados com parasitos do gênero Plasmodium; · Leucograma: varia de acordo com a evolução da doença e lesão de órgãos alvo; · Urinálise: alteração da função renal por presença de hemoglobinúria; · Radiografia de tórax: infiltrado alveolar; complicações - A complicações podem ser relacionadas a espécie e acometimento e aos fatores de risco; 1. primo-infecção ou viajante em retorno de área endêmica (independentemente de idade ou estado imunológico); 2. idade avançada; 3. gestação; 4. imunodepressão; 5. demora no diagnóstico e na instituição do tratamento; 6. gravidade da doença no momento da admissão hospitalar. tratamento • Repouso • Hidratação • Terapêutica sintomática (antiemético -nauseas e vômitos- e antitérmico) TRATAMENTO MEDICAMENTOSO OBJETIVOS • Interrupção da esquizogonia sanguínea • Destruição das formas latentes • Interrupção da transmissão → atividade contra gametócitos TRATAMENTO HOSPITALAR • Crianças menores de 5 anos • Idosos maiores de 60 anos • Gestantes • Pacientes imunossuprimidos • Paciente com critério de gravidade ADMINISTRAÇÃO Administrar todos os dias, de preferência no mesmo horário e após a refeição No caso de vômitos até 60 minutos da ingestão deve repetir toda a medicação PRIMAQUINA - Elimina as formas exoeritrocitárias de plasmódios, além de impedir a maturação das formas sexuas e levar sua destruição no plasma - Possui ação esquizonicida - Efeitos adversos: anemia hemolítica induzida por fármacos em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, o que torna a célula mais suscetível a compostos tóxicos e hemólise CLOROQUINA - Altamente específica contra a forma assexuada dos plasmódios - A cloroquina entra no vacúolo alimentar e se liga ao heme, impedindo sua polimerização em hemozoina → aumento do pH e acúmulo do heme → lesões oxidativas → lise do parasita e do eritrócito; ARTEMISININA - Produção de radicais livres, além de se ligar a proteínas maláricas específicas e danificá-las MEFLOQUINA - Eficaz para profilaxia e tratamento para formas multirresistentes de P. falciparum referencias SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo. Parasitologia - Fundamentos e Prática Clínica. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788527736473. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527736473/. Acesso em: 23 out. 2022. WHALEN, Karen; FINKELL, Richard; PANAVELIL, Thomas A. Farmacologia Ilustrada. [Digite o Local da Editora]: Grupo A, 2016. E-book. ISBN 9788582713235. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582713235/. Acesso em: 23 out. 2022. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Guia de tratamento da malária no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. 2. ed. atual. Brasília: Ministério da Saúde, 2021.
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