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Psicopatologia, Medicalização e Saúde

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Indaial – 2021
PsicoPatologia, 
Medicalização e saúde
Profª. Nislândia Santos Evangelista
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Profª. Nislândia Santos Evangelista
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
E92p
Evangelista, Nislândia Santos
Psicopatologia, medicalização e saúde. / Nislândia Santos 
Evangelista – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
220 p.; il.
ISBN 978-65-5663-851-5
ISBN Digital 978-65-5663-846-1
1. Psicanálise. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 616
aPresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Psicopatologia, 
Medicalização e Saúde, que foi elaborada para permitir a compreensão, a 
partir de diferentes óticas e com um olhar sensível, de conceitos e questões 
específicas da psicopatologia, uma área em constante diálogo com as deman-
das próprias da psicopedagogia. 
Na Unidade 1, serão tratados conceitos e diretrizes que abordam a área 
da Psicopatologia, seus históricos, suas fissuras, suas transformações, tipos de 
abordagens e os principais documentos que servem como norteadores de práti-
cas. Será discutido como o conceito de loucura mudou com o passar do tempo e 
como os aspectos sociais, políticos e morais influenciam na forma como percebe-
mos e interpretamos os comportamentos dos indivíduos. Algumas abordagens 
da Psicologia também serão apresentadas, indicando que, dependendo de como 
compreendemos o indivíduo, as práticas, em termos de saúde mental, possuem 
técnicas e manejos diferentes. Por fim, veremos a avaliação e o diagnóstico na 
área da saúde, especificamente para o campo da Psicopedagogia.
Na Unidade 2, estudaremos algumas especificidades da interseção 
entre Psicopedagogia e Psicopatologia, como essa relação foi construída e 
transformada, em conjunto com as demandas sociais e com as atualizações 
que os campos tanto da saúde quanto da educação passaram com o decorrer 
do tempo. Nesse sentido, também serão abordados alguns termos de inter-
venção medicamentosa para transtornos de aprendizagem e/ou desenvol-
vimento, pensando a partir de aspectos técnicos e sociais dessa questão e 
apontando algumas problemáticas e cuidados a serem utilizados.
Por fim, na Unidade 3, estudaremos diferentes possibilidades para a 
avaliação psicopedagógica. Nesse interim, será abordada a importância do 
respeito à alteridade e de um olhar mais atento à diversidade, captando desde 
aspectos lúdicos até casos de neurodiversidade. Além disso, veremos breve-
mente algumas considerações que o psicopedagogo deve ter nas relações com 
os sujeitos, aprendentes e responsáveis, no manejo do laudo e do pós-laudo.
Bons estudos!
Profª. Nislândia Santos Evangelista
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
suMário
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E
 PSICOLÓGICOS ....................................................................................................... 1
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO ........... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 AS VÁRIAS FACES DA LOUCURA ............................................................................................... 4
2.1 LOUCURAS DA IDADE MÉDIA OU CAÇA ÀS BRUXAS ..................................................... 6
2.2 LOUCURAS DA RENASCENÇA OU A PERDA DA RAZÃO ............................................... 9
2.3 LOUCURAS DA PSIQUIATRIA OU A DOENÇA MENTAL ................................................ 12
3 LOUCURAS NO SÉCULO XX OU ASCENÇÃO E QUEDA DOS MANICÔMIOS ............ 14
3.1 LOUCURAS NO BRASIL E OU O RECONHECIMENTO DE DIREITOS E CIDADANIA ......... 16
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 20
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 21
TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA ....... 23
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23
2 ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA .................................................................................... 23
2.1 ABORDAGEM PSICANALÍTICA .............................................................................................. 24
2.2 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL E COGNITIVA ......................................................... 29
2.3 ABORDAGEM EXISTENCIAL E HUMANISTA ..................................................................... 37
3 O NORMAL E O PATOLÓGICO: CONCEITUAÇÃO E COMPREENSÃO .......................... 41
3.1 CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO ................................................................................................ 42
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 44
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45
TÓPICO 3 — AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PSICOPEDAGOGIA ..................................... 47
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47
2 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ........................................................................................................ 47
2.1 ENTREVISTAS CLÍNICAS ......................................................................................................... 48
2.2 DOCUMENTOS NORMATIVOS ............................................................................................... 49
3 CRITÉRIOSDE DIAGNÓSTICO E A PSICOPEDAGOGIA ................................................... 50
3.1 AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO EM PSICOPEDAGOGIA ................................................... 51
3.2 QUESTÕES ESPECÍFICAS DA PSICOPEDAGOGIA ............................................................. 54
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 57
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 61
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 62
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 64
UNIDADE 2 — PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA ..................................................... 67
TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA ................. 69
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 69
2 INTERSEÇÃO ENTRE ESCOLA E SAÚDE ................................................................................. 70
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA IDEIA DE HIGIENE ................................................................. 71
2.1.1 Higienização e Racismo: uma via de mão única ............................................................ 72
2.2 A CONSTRUÇÃO DA INFÂNCIA NORMATIZADA ........................................................... 80
3 PSICOPEDAGOGIA E PSICOPATOLOGIA: HISTÓRICOS, CONTEXTOS 
 E CONCEITOS ................................................................................................................................... 86
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 90
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 92
TÓPICO 2 — PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM E PSICOPATOLOGIA ............................ 95
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95
2 NOMENCLATURAS PSICOPEDAGÓGICAS ............................................................................ 95
2.1 TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM .............................................................................. 101
2.1.1 Transtorno da Linguagem Escrita ................................................................................... 101
2.1.2 Dislexia ................................................................................................................................ 106
3 TRANSTORNOS NA MATEMÁTICA ...................................................................................... 107
4 TRANSTORNO DA MEMÓRIA .................................................................................................. 109
5 TRANSTORNO DE DESENVOLVIMENTO AUTISTA (TEA) .............................................. 111
6 TRANSTORNO DO DEFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE .................................... 114
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 116
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117
TÓPICO 3 — MEDICALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM ........................................................ 119
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119
2 MEDICALIZAÇÃO DA VIDA ..................................................................................................... 119
2.1 MEDICALIZAÇÃO DA VIDA ESCOLAR ............................................................................. 123
3 MEDICALIZAÇÃO: CRÍTICAS E REFLEXÕES........................................................................ 125
3.1 OS PAPÉIS DE RESISTÊNCIA E A PSICOPEDAGOGIA ..................................................... 128
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 130
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 135
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 137
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 139
UNIDADE 3 — PSICOPATOLOGIA: INSTRUMENTOS, ESTRATÉGIAS 
 E INTERVENÇÕES EM PSICOPEDAGOGIA ................................................ 143
TÓPICO 1 — DIFERENTES INSTRUMENTOS PARA INTERVENÇÃO
 PSICOPEDAGÓGICA .............................................................................................. 145
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 145
2 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ................................................................. 147
3 EOCA ................................................................................................................................................. 150
4 TÉCNICAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS ................................................................. 151
4.1 DOMÍNIO ESCOLAR – PAR EDUCATIVO ........................................................................... 155
4.2 VÍNCULOS FAMILIARES – OS QUATRO MOMENTOS DE UM DIA ............................. 157
4.3 VÍNCULOS CONSIGO MESMO – FAZENDO O QUE MAIS GOSTO .............................. 160
4.4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PROVAS PROJETIVAS .................................. 162
5 DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO .................................................................................................. 163
6 TESTES PSICOMÉTRICOS ........................................................................................................... 164
6.1 TESTES DE DESEMPENHO E INTELIGÊNCIA .................................................................. 165
6.2 TESTE GESTÁLTICO VISOMOTOR DE BENDER ................................................................ 166
7 SÍNTESE DE INSTRUMENTOS PARA AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM .................. 166
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 169
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 170
TÓPICO 2 — ALTERIDADE COMO NOVOS COLÍRIOS: O LÚDICO E A DIVERSIDADE ...... 171
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 171
2 O LÚDICO NAS INTERVENÇÕES ............................................................................................ 172
2.1 A HORA DO JOGO ..................................................................................................................... 177
2.2 SESSÃO LÚDICA CENTRADA NA APRENDIZAGEM ...................................................... 179
2.3 O JOGO DE AREIA PSICOPEDAGÓGICO (JAP) ................................................................. 181
3 A ALTERIDADE COMO ABORDAGEM E COMPREENSÃO .............................................. 184
3.1 A NEURODIVERSIDADE ......................................................................................................... 184
3.2 OS MOVIMENTOS PRÓ-CURA E ANTICURA .................................................................... 188
4 CONSIDERAÇÕES......................................................................................................................... 190
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 191
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 192
TÓPICO 3 — CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES NO LAUDO E PÓS-LAUDO ...................... 193
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 193
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O LAUDO ...................................................................................... 194
2.1 O REGISTRO ............................................................................................................................... 196
3 RELAÇÕES E COMUNICAÇÕES COM A FAMÍLIA E COM A ESCOLA .......................... 198
4 DEVOLUTIVA .................................................................................................................................. 201
5 PSICOPEDAGOGIA: O ELO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE ............................................. 204
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 206
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 216
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 217
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 219
1
UNIDADE 1 — 
PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS 
HISTÓRICOS, SOCIAIS E 
PSICOLÓGICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer os aspectos históricos da loucura;
• entender algumas abordagens psicológicas e como elas compreendem 
o ser humano;
• identificar alguns tópicos gerais sobre o processo de avaliação e como 
alguns instrumentos são utilizados;
• compreender o uso de documentos normativos para diagnóstico e ques-
tões específicas da Psicopedagogia.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO 
 PATOLÓGICO
TÓPICO 2 – DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA 
 PSICOPATOLOGIA
TÓPICO 3 – AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E PSICOPEDAGOGIA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS 
DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
1 INTRODUÇÃO
É importante entendermos que o que conhecemos, em termos teóricos, clí-
nicos e acadêmicos, ou em termos vulgares, sobre loucura faz parte do imaginário 
e da construção social, fecundada e difundida com o decorrer do tempo. Assim, a 
história da loucura tem que estar sempre localizada num contexto social e político 
próprio de cada época e, na mesma linha, do que consideramos “normal”. Essas 
concepções estão sempre emaranhadas com o contexto moral, político, social, te-
órico e, até mesmo, com a cosmovisão da época ou da cultura.
Há diferentes formas de compreender a psicopatologia, tanto a partir da 
lupa histórica como a partir de abordagens psicológicas, nas quais há outra imensi-
dão de possibilidades interpretativas. Neste tópico, focaremos no caráter histórico 
para, posteriormente, abordar as diferentes perspectivas. Veremos algumas trajetó-
rias do conceito e do manejo da loucura no decorrer do tempo, abrangendo tanto 
a ótica da exclusão social quanto a ótica da reintegração social. Por fim, conhecere-
mos, brevemente, alguns aspectos para diagnóstico e avaliação do paciente.
O termo psicopatologia é de origem grega, composto pelas palavras “psy-
chê”, “pathos” e “logos”, que significam, respectivamente, psiquismo, sofrimento 
e conhecimento, resultando em um conhecimento sobre o sofrimento psíquico 
(CECCARELLI, 2005). Inicialmente, psicopatologia foi um termo criado por Je-
remy Bentham, em 1817, que reconheceu a necessidade de uma “psychological 
pathology” (patologia psicológica). Ao longo do tempo, foram usadas outras ex-
pressões, como psicopatologia geral, psicologia anormal, psicopatologia clíni-
ca, psicologia patológica, psicologia da anormalidade e psicologia do patológi-
co, sendo o termo mais empregado e amplamente aceito psicopatologia – mais 
adiante, entenderemos um pouco do processo até surgir essa conceituação.
A saúde como bem-estar integral, ou seja, tanto físico quanto mental e 
social, é uma definição cunhada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 
1946, considerada um conceito inovador, por um lado, devido à amplitude que 
conseguiu abarcar, mas que, por outro lado, também pode ser uma fragilidade, 
visto que não tem uma orientação objetiva (GAINO et al., 2018).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2001), cerca de 450 
milhões de pessoas, no mundo, padecem de enfermidades neurop-
siquiátricas, como transtornos mentais ou neurobiológicos, ou então 
problemas psicossociais como os relacionados com o abuso do álcool 
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
4
e das drogas, atingindo prevalência pontual ao redor de 10%. Além 
disso, aproximadamente 24% de todos os pacientes atendidos por pro-
fissionais de atenção primária têm um ou mais transtornos mentais 
(FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014).
Nesse cenário, a importância da compreensão, em termos amplos, dos trans-
tornos psicológicos é essencial para que o profissional da área de psicopedagogia te-
nha uma atuação consciente, com base em estudos e dados da área da psicopatologia. 
Desse modo, inicialmente, abordaremos as faces da loucura no decorrer do tempo.
2 AS VÁRIAS FACES DA LOUCURA 
 
O termo “psicopatologia” ainda é usado em diferentes sentidos, para desig-
nar diferentes tipos de comportamento, sendo estudado a partir de diversas aborda-
gens e autores e se mantendo em constante atualização – considerando que a história 
e a cultura estão sempre em movimento e, portanto, os termos e os conceitos para 
pensar e aplicar o que é o “normal” e o que é “patológico” também se atualizam. 
Pode-se falar, de maneira geral, que o campo da psicopatologia inclui 
uma variedade de fenômenos que associamos, historicamente, à “doença men-
tal” (DALGALARRONDO, 2019). Esses fenômenos incluem vivências, estados 
mentais e padrões comportamental, que apresentam tanto uma esfera individual 
e singular, uma dimensão própria e, por outro lado, conexões complexas com 
ideias da psicologia sobre normalidade (DALGALARRONDO, 2019).
Dito de outra forma, não se pode compreender ou explicar tudo o que 
existe em um ser humano por meio de conceitos psicopatológicos. As-
sim, ao se diagnosticar Van Gogh como esquizofrênico (ou epiléptico, 
maníaco-depressivo ou qualquer que seja o diagnóstico formulado), 
ao se fazer uma análise psicopatológica de sua biografia, isso nunca 
explicará totalmente sua vida e sua obra. Sempre resta algo que trans-
cende à psicopatologia e mesmo à ciência, permanecendo no domínio 
do mistério (DALGALARRONDO, 2019, p. 28).
Percebemos que seria injusto e, sobretudo, antiético limitar a experiência e 
a jornada de um indivíduo a um diagnóstico psicopatológico, optando-se por com-
preender que essa é apenas uma das tantas esferas possíveis de um indivíduo. Por 
isso mesmo, o estudo da área revela a importância para os profissionais que lidam 
com o tema sobre cuidado, atenção, intervenções e manejos necessários.
Vicent Van Gogh foi considerado um dos maiores pintores de todos os tem-
pos, tendo produzido mais de 2 mil obras durante seus 37 anos de vida.O artista foi ca-
racterizado como um homem incompreendido, atormentado, intempestivo e com dis-
INTERESSA
NTE
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
5
túrbios comportamentais. Seu legado é tão representativo que, em 1973, em Amsterdã, 
na Holanda, seu país-natal, foi criado um museu para abrigar suas criações. Dessa maneira, 
não só suas obras como sua vida geram muita curiosidade até os dias de hoje. Outro fato 
interessante sobre o artista foi ele não ter alcançado reconhecimento em termos simbóli-
cos e artísticos nem em termos materiais, enquanto era vivo. A fama e o reconhecimento 
de seu trabalho vieram apenas no post mortem. Uma de suas obras mais famosas, “Noite 
Estrelada”, é a única pintura noturna da série de obras da vista do quarto do hospício Asilo 
Saint-Paul, onde ficou internado nos últimos anos de sua vida.
FIGURA – A NOITE ESTRELADA, DE VAN GOGH
FIGURA – FILME COM AMOR, VAN GOGH
FONTE: <https://bit.ly/3vGNytD>. Acesso em: 29 ago. 2021.
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/310748443033929357/>. Acesso em: 29 ago. 2021.
Van Gogh foi tema de diversos livros, filmes e documentários, sendo o mais recente Com 
amor, Van Gogh, uma animação biográfica feita em stop motion, utilizando pinturas a 
óleo sobre a tela, para replicar a técnica que o autor utilizava em vida. Para realização das 
pinturas, 125 artistas trabalharam para pintar os 65 mil quadros individuais do filme, sendo 
cada sequência inspirada por pinturas específicas de Van Gogh. O elenco jogou cenas em 
conjuntos rudimentares, então isso foi projetado para telas, quadro a quadro e pintado. Os 
cineastas optaram por usar pintores classicamente treinados sobre animações tradicio-
nais. Assim, fica demarcada a importância e a relevância de Van Gogh, o que, em alguma 
medida, transcende qualquer diagnóstico psicopatológico que o artista teria.
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
6
Não obstante, se quisermos apresentar uma cronologia – que estaria, cer-
tamente, com lacunas –, podemos pensar a partir de “fases da história” para com-
preendermos também “fases da loucura”. Consideramos, assim, que a loucura (o 
patológico) sempre existiu, mas a forma e o conteúdo que se ressaltavam muda-
vam de acordo com o contexto. Assim, na Idade Média, por exemplo, pensamos 
em termos de demonologia e caça às bruxas; na renascença e na idade moderna, 
pensamos a partir da (perda da) razão. Veremos, mais adiante, um pouco sobre 
essas outras épocas, para que seja possível compreender a fluidez desse termo e 
o quanto se conecta com modo de operar da sociedade.
2.1 LOUCURAS DA IDADE MÉDIA OU CAÇA ÀS BRUXAS
A forma como uma sociedade lida com a anormalidade depende muito 
dos valores ali impregnados, como suposições sobre a vida e o comportamento 
humano. No período medieval, sobretudo na baixa Idade Média (séculos XI a XV, 
ou seja, no final desse período), o que chamavam de “anormalidade” ou “loucu-
ra” tinha causa atribuída a preceitos sobrenaturais e demoníacos, com tratamento 
envolvendo preces e exorcismos (HOLMES, 1997).
A chamada “demonologia” diz respeito à crença de que forças sobrena-
turais e diabólicas atuam sobre o comportamento humano, causando a anormali-
dade (a loucura). Mesmo antes da Idade Média, há evidências, em forma de rolos 
de papiro e monumentos, apontando que egípcios, árabes e hebreus acreditavam 
que a loucura seria decorrente de fontes míticas, como deuses raivosos, maus es-
píritos e castigo divino (HOLMES, 1997). Na verdade, também no Império Persa 
de 900 a 600 a.C., todos os transtornos físicos e mentais eram considerados mani-
festações demoníacas (BARLOW; DURAND, 2015).
No entanto, devemos considerar que, nessa época, outros fenômenos tam-
bém eram atribuídos à ira dos deuses, como tempestades, inundações ou incên-
dios. Dessa forma, a partir da cosmovisão e da compreensão de mundo da época, 
era esperado que também o “desvio” da norma dos comportamentos humanos, 
ou o contágio de alguma doença, também fosse associado a entes “superiores”. 
Essa concepção de loucura/anormalidade a partir de uma ótica mítica tem íntima 
relação com o imaginário popular, presente ainda nos dias atuais, sobre a eterna 
batalha entre o bem e o mal.
Durante o último quartel do século XIV, religiosos e autoridades laicas 
apoiaram as superstições populares, e a sociedade passou a acreditar 
na realidade e no poder dos demônios e das bruxas. A Igreja Católica 
se dividiu, e um segundo segmento, com a inclusão de um papa, sur-
giu no sul da Franca para competir com Roma. Em reação a essa cisma, 
a Igreja Romana lutou contra o mal no mundo que acreditava estar por 
trás daquela heresia (BARLOW; DURAND, 2015, p. 8).
A batalha entre o bem e o mal, nesses termos, encontrou regozijo na forte 
opinião popular, política e religiosa do sobrenatural. Desse modo, para compre-
endermos o contexto, com a pobreza elevada e um alto índice de mortalidade 
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
7
(devido, entre outras coisas, à peste bubônica que assolou o continente europeu 
no século XIV), as pessoas recorriam às ervas e ao contato com a natureza, o que 
era costume na época (FEDERICI, 2004). 
No entanto, com a ascensão do capitalismo e o surgimento da ciência, es-
sas práticas, realizadas sobretudo por mulheres mais velhas e pobres, passaram a 
ser especuladas como “mágicas” ou “bruxarias” (FEDERICI, 2004), embora já não 
fossem bem-vistas ou recebidas, quando se levava em conta o novo paradigma 
que se fortalecia naquele cenário, pois recorrer à natureza poderia ser considera-
do algo “irracional”, devido às diversas mudanças que ocorriam naquela altura 
histórica, mudança demográfica, mudança nas formas e nos meios de produção, 
no crescimento das cidades e no surgimento da ciência. Desse modo, a população 
recorria, como último suspiro, às divindades que regiam aquela realidade, o que 
causava, a um só tempo, medo e segurança.
Para compreender melhor esse período histórico, recomendamos a leitura de 
Calibã e a Bruxa, de autoria de Silvia Federici, em que há um esquema interpretativo que 
esclarece duas questões históricas muito importantes: a execução de centenas de milha-
res de “bruxas” no começo da Era Moderna e o surgimento do capitalismo coincidindo 
com essa guerra contra as mulheres. O livro aborda o período de transição que envolve 
mudanças radicais na força do trabalho, nos meios de produção, na cosmovisão da po-
pulação e em uma série de novos conflitos sociais e políticos. Era um cenário como um 
caldeirão fervente, em que tantas mudanças ocorriam simultaneamente, o que resultou 
em uma série de violências para legitimar as novas concepções impostas. Posto isso, o 
desenvolvimento da ciência, da medicina e do capitalismo são peças-chave. Essa compre-
ensão é importante para que se compreenda o quanto as questões de loucura, patologia e 
transtornos mentais estão histórica e intimamente imbricadas com as demais transforma-
ções políticas e sociais. Nenhuma de nossas concepções atuais nasce num vazio social, 
pelo contrário, são séculos de lentas transformações. Hoje, o que fica no imaginário po-
pular sobre bruxas são estereótipos de filmes e desenhos animados, mas, em outra época, 
era símbolo de perigo social e, para tal, justificava-se um genocídio que durou quase um 
século. Além disso, é preciso esclarecer que a ideia de bruxaria existia apenas como re-
tórica religiosa e política, para cassar e controlar as pessoas que não seguiam as normas 
ou buscavam algum tipo de controle contraceptivo ou curas através das ervas medicinais.
DICAS
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
8
FIGURA – CAPA DO LIVRO DE SÍLVIA FEDERICI, CALIBÃ E A BRUXA
FONTE: <https://bit.ly/3ntTfal>. Acesso em: 29 ago. 2021.
Como reação aos comportamentos das mulheres que já não eram aceitáveis, 
como uso de medicamentos e controle da natalidade, passaram a ser considerados 
como “bizarros” e possuídospelos demônios. Assim, esses indivíduos que fugiam 
da norma, especulados como “dominados por maus espíritos”, eram considerados 
responsáveis por qualquer infortúnio experimentado pelos moradores da cidade. 
Por exemplo, se uma vaca parasse de dar leite, se algum animal fugisse e/ou se a 
plantação de alguém não vingasse, acreditava-se ser obra de algum dos indivíduos 
possuídos, principalmente mulheres, que eram tidas como bruxas. Os tratamentos 
incluíam exorcismo, em que diversos rituais religiosos eram desenvolvidos para 
livrar vítima dos maus espíritos. Outras abordagens incluíam tosar o cabelo da ví-
tima em formato de cruz e amarrá-la a um muro próximo ao adro de uma igreja, de 
maneira que pudesse se beneficiar ao ouvir a missa (BARLOW; DURAND, 2015).
Antes de mais nada, toda uma literatura de contas e moralidades. Sua 
origem, sem dúvida, é bem remota. Mas ao final da Idade Média, ela 
assume uma superfície considerável: longa série de “loucuras” que, 
estigmatizando como no passado vícios e defeitos, aproximam-nos 
todos não mais do orgulho, não mais da falta de caridade, não mais 
do esquecimento das virtudes cristãs, mas de uma espécie de grande 
desatino pelo qual, ao certo, ninguém é exatamente culpável, mas que 
arrasta a todos numa complacência secreta. A denúncia da loucura tor-
na-se a forma geral da crítica (FOUCAULT, 1978, p. 18).
Essa foi a época em que a Inquisição teve o seu apogeu, com apoio do Estado 
e da Igreja, apoiado em um imaginário popular sobre a batalha entre o bem e o mal. 
A convicção de que a bruxaria e as bruxas eram causas da loucura e de outros ma-
les continuou durante o século XV. Essa crença de “possessão”, bruxaria e poderes 
“demoníacos” também foi, anos depois, um contributo para a lógica e as estratégias 
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
9
FIGURA – UMA FORMA DE CARTAZ, ESCRITO EM LATIM, QUE DESIGNA A CAPA DO 
LIVRO O MARTELO DAS FEITICEIRAS
FONTE: <https://bit.ly/3jAUpzK>. Acesso em: 29 ago. 2021.
para a colonização dos povos das Américas e da África, que não eram reconhecidos 
como humanos, mas como selvagens, considerados sem alma e “menores” por sua 
forma de compreender o mundo material e divino (FEDERICI, 2004).
O livro Malleus Maleficarum, ou o Martelo das Feiticeiras, é de autoria de 
Heinrich Kraemer e James Sprenger, na Alemanha, entre 1486 e 1487, dois inquisitores na 
baixa Idade Média. Essa obra é uma espécie de manual para identificar, prender e torturar 
as pessoas acusadas de bruxaria. Embora não seja oficialmente pertencente à Igreja, os 
inquisitores podiam utilizar o livro como diretriz e guia. De acordo com historiadores, em-
bora não haja um consenso, a estimativa é que milhões de pessoas foram executadas, das 
quais quase 85% eram mulheres. Esse material é importante para a compreensão história 
de uma época e os artifícios utilizados para conseguir alcançar o objetivo.
UNI
2.2 LOUCURAS DA RENASCENÇA OU A PERDA DA RAZÃO 
Essa margem entre o fim da Idade Média e Início da Renascença, proposta 
para fins didáticos, ressalta também a ascensão da ciência e da medicina como for-
ma de guiar as compreensões de mundo, de indivíduo e de sociedade. Nessa linha, 
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
10
o tratamento oferecido à loucura, àqueles que fogem das normas, não mais será a 
partir de exorcismos ou técnicas desenvolvidas pela igreja. A mudança na forma 
de se perceber a loucura coloca a medicina como peça-chave e fundamental para 
o tratamento e o estudo da cura das doenças nervosas. A partir desse estudo, do 
desenvolvimento de técnicas para compreensão da loucura, desse fértil domínio do 
saber, do desenvolvimento de uma linguagem e de uma métrica para o comporta-
mento humano, nascerá a possibilidade de uma psiquiatria da observação, de uma 
psicologia, de um internamento e, posteriormente, também da psicopedagogia.
O filósofo Michel Foucault, em uma de suas pesquisas, aborda o tema da 
história da loucura e aponta-nos para a reconfiguração do social. Dito de outra for-
ma, no início da Idade Média, havia uma quantidade, em franco crescimento, dos 
casos de lepra, de forma que havia um local específico para alojar leprosos. Essa 
medida continha a contaminação ainda maior da doença. A lepra, na alta Idade 
Média, era o verdadeiro temor e terror da população que, de acordo com Foucault 
(1978), um a cada cem parisiense teve contato com a doença. O fato da diminuição 
radical da doença deixou estes espaços de internação ao léu e só foram de fato re-
avivados quase dois séculos depois, onde a loucura, por assim dizer, tomou conta 
do medo e do imaginário popular e assim vemos, novamente, reações de divisão, 
de exclusão e de purificação dos indivíduos (FOUCAULT, 1978).
Trata-se de recolher, alojar, alimentar aqueles que se apresentam de 
espontânea vontade, ou aqueles que para lá são encaminhados pela 
autoridade real ou judiciária. E preciso também zelar pela subsistên-
cia, pela boa conduta e pela ordem geral daqueles que não puderam 
encontrar seu lugar ali, mas que poderiam ou mereciam ali estar 
(FOUCAULT, 1978, p. 56).
Desse modo, a partir da Renascença, podemos perceber um delineamento 
maior do internamento, tal qual na Idade Média, quando os leprosos eram se-
gregados, porém, agora, o público-alvo era outro (FOUCAULT, 1978). Contudo, 
temos que ter em mente que o gesto de aprisionamento, de internamento, carrega 
um leque de significados para além da questão clínica em si, pois também há 
camadas sociais, políticas, religiosas, econômicas e morais (FOUCAULT, 1978). 
Essas esferas e a forma como nos relacionamentos com a loucura, com a dita 
anormalidade, depende sempre do conjunto da história e da cultura. Assim, mui-
tas vezes, a prática do internamento está condicionada a faltas morais, conflitos 
familiares e libertinagem, sendo, então, o internamento a medida social adotada 
para ser a casa da loucura (VIEIRA, 2007).
É nesse quadro que, ao final do século XVIII, aproximam-se duas figu-
ras que tinham permanecido por muito tempo estranhas uma a outra: 
o pensamento médico e a prática do internamento. Essa aproximação 
não aconteceu devido a uma tomada de consciência de que os internos 
eram doentes, mas por um trabalho violento que se realizou através 
de um defrontamento entre o velho espaço de exclusão, homogêneo 
e uniforme e esse espaço social da assistência que o século XVIII frag-
mentou. Com a vitória desse último, a loucura ganha um estatuto pú-
blico e o espaço do confinamento é criado para garantir a segurança da 
sociedade contra os seus perigos (VIEIRA, 2007, p. 18).
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
11
O filósofo e historiador Michel Foucault, em seu livro História da Loucura, des-
vela e analisa sobre as modificações do discurso sobre a loucura na Idade Média e no Re-
nascimento, mostrando alguns pontos de clivagem e outros pontos de continuação, como 
temos visto no decorrer do texto.
ESTUDOS FU
TUROS
FIGURA – CAPA DO LIVRO A HISTÓRIA DA LOUCURA, DE MICHEL FOUCAULT
FONTE: <https://amzn.to/30UFUQR>. Acesso em: 29 ago. 2021.
Essa transformação na forma de compreender e manejar a loucura, em 
termos sociais, com criação de instituições e o desenvolvimento de todo um ar-
senal do saber também foi acompanhado pelas artes, pinturas e literatura, espe-
cialmente (FOUCAULT, 1978). Nesse sentido, compreende-se que a loucura, na 
altura da Idade Média, consistia em perceber o mal – e a morte – aproximando-se 
do indivíduo para, em alguma medida, libertá-lo. Com o passar do tempo, o foco 
estava na denúncia de que há loucura em toda parte e que disso nem mesmo a 
morte os salvaria (FOUCAULT, 1978).
O pintor Bosch representou, no vasto de sua obra, esse imbricamento entre a 
Nau dos Loucos e o perigo, sempre próximo, semprea à espreita, ou seja, a loucura 
sempre ao lado e esta, por sua vez, representada por meio da devassidão e do caos 
(FOUCAULT, 1978). Lembremos, contudo, que estaépoca histórica também apre-
sentava uma série de drásticas transformações sociais que colocam em xeque todo 
um estilo de vida e um esquema de crenças sobre si, sobre o outro, a vida e a morte.
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
12
A pintura Navio dos Loucos, do artista holandês Hieronymus Bosch (1450-
1516), feita em óleo sobre madeira, por volta de 1495, apresenta uma crítica, de forma 
alegórica, sobre os costumes da sociedade da época: a devassidão e a profanidade, in-
clusive no clero, o jogo e o álcool. Entre os protagonistas estão uma monja franciscana e 
um clérigo pobre e transgressor, que se encontram distraídos. Essa pintura foi feita num 
período de grande crise religiosa e social.
INTERESSA
NTE
FIGURA – PINTURA RENASCENTISTA DO ARTISTA BOSCH, EM QUE HÁ ALGUMAS PESSOAS 
CANTANDO, DANÇANDO E BEBENDO, ENTRE ELAS FIGURAS REPRESENTANTES DO CLERO
FONTE: <https://www.ex-isto.com/2020/01/navio-dos-loucos.html>. Acesso em: 29 ago. 2021.
2.3 LOUCURAS DA PSIQUIATRIA OU A DOENÇA MENTAL
Com o desenvolvimento das sociedades e a transformação que o conceito 
e a compreensão da loucura, a medicina ganhou cada vez mais espaço com seus 
métodos e técnicas clínicas. Desse modo, a psiquiatria teve cada vez mais acen-
tuada relevância para o entendimento moderno do que seria loucura (SCHNEI-
DER, 2009). Agora enquadra-se o conceito no bojo de uma doença mental. Ou 
seja, o que antes era reconhecido como bruxaria ou perda da razão, agora tem um 
nome que é regido por uma área do saber (a medicina) e está relacionado com 
adoecimento do próprio corpo. Assim, uma série de nomenclaturas e descrições 
são elencadas a fim de medir e mesurar a mente humana. Ainda nesse pensamen-
to, consagra-se a ideia de cura, pois assim como a medicina sara as doenças do 
corpo, também cura os males da mente (SCHNEIDER, 2009).
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
13
Nesse interim, os “transtornos mentais” passaram a ser a sustentação da 
construção psiquiátrica, com perspectivas teórico-epistemológicas, cuja determi-
nação é organicista, muitas vezes de base genética, a partir de uma perspectiva 
essencialmente individualista e universalizante (SCHNEIDER, 2009). Um ponto de 
fragilidade, portanto, está na desconexão da psiquiatria e de seus conceitos com as 
relações sociais dos sujeitos, associando, quando feito, de maneira superficial.
Assim, a psiquiatria, em seu início, com esse caráter pouco humanizado, des-
dobra-se em práticas de internação, cujo sofrimento humano é incitado em nome da 
ciência e na crença de “concertar” e de “endireitar” o sujeito que da norma se desviou.
Tais concepções desdobram-se nas práticas da internação e em diversas te-
rapêuticas, indo inicialmente do acorrentamento, passando pela aplicação 
de banhos quentes e frios, pelo tratamento moral, pela lobotomia, pelos 
choques insulínicos e elétricos, até a vasta e indiscriminada administração 
de psicofármacos, a partir dos anos 1950 (SCHNEIDER, 2009, p. 63).
Em O Nascimento da Clínica, Michel Foucault aborda como a medicina tem 
sua base na análise e observação clínica dos casos, desenvolvendo a descrição 
de sinais e sintomas para realizar o diagnóstico. Isso coloca os pensamentos e 
os quadros clínicos, de maneira classificatória, em seu início. No entanto, com o 
decorrer do tempo, a medicina desenvolve uma perspectiva experimental e cien-
tífica, o que consolidará a clínica moderna, pautada, sobretudo, na anatomia e na 
patologia do século XIX, sob forte influência dos pensamentos iluministas que 
saúdam a razão e o controle total do corpo como sinal de civilização.
Assim, a loucura não é mais uma bruxaria ou uma associação a algo mítico, 
passando a ser considerada uma doença que deve receber um diagnóstico classi-
ficatório e um tratamento “adequado”, que passa a ser um objeto de intervenção 
exclusivo da medicina, tendo o aval para medicar e internar (SCHNEIDER, 2009). 
Esse movimento coloca a interpretação do que é loucura no crivo do modelo ana-
tomopatológico, buscando explicações da doença mental em fatores externos como 
lesões ou disfunções médicas, as quais se encontrariam no “corpo físico”, procu-
rando, assim, o aspecto orgânico da loucura. Na medida em que não se encontram, 
em termos palpáveis, esses fatores objetivos para a doença mental, a medicação 
de psicotrópicos passa a ser uma prática comum, à medida que controla alguns 
sintomas em alguns casos. Essas práticas medicamentosas ocorriam, em seus pri-
mórdios, a partir de tentativas, incertas, que poderiam incorrer ao erro. No caso de 
acerto medicamentoso, quase arbitrário, então, estabelecia-se o diagnóstico.
Hipócrates é considerado o pai da medicina, mas, na clínica psiquiátrica, 
o francês Philippe Pinel (1745-1826) ocupa esse lugar. Com a psiquiatria de Pinel, 
a medicina passou a responder sobre os fenômenos patológicos, rompendo a vi-
são religiosa predominante desde a Idade Média (PACHECO, 2003). Dando con-
tinuidade aos passos de Pinel, conservando o pressuposto de que a doença men-
tal teria causas morais e físicas, Jean-Étienne Esquirol (1772-1840) foi defensor de 
uma análise detalhada e apurada das síndromes psicopatológicas (PACHECO, 
2003). Até hoje, permanecem elementos de sua nosografia – por exemplo, suas 
subdivisões da mania em piromania, cleptomania etc.
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
14
Antoine-Laurent Bayle (1799-1858), em sua tese Pesquisas sobre as doenças 
mentais, buscava provar que a alienação mental seria oriunda de uma inflamação 
crônica em uma das meninges, também podendo ser ocasionada por uma gastrite 
ou gastroenterite crônica. Além disso, apresentava a ideia de que a loucura pode-
ria ser determinada por uma gota irregular (PEREIRA, 2009). Ele foi o primeiro 
profissional a descobrir a causa anatômica de um estado de alienação e, a partir 
de seu estudo, outras pesquisas procurariam identificar as causas orgânicas de 
todas as doenças mentais.
Na Alemanha, podemos destacar nomes como Wilhelm Griesinger (1817-
1868) e Emil Kraepelin (1856-1926). Griesinger acreditava que as “doenças psíqui-
cas eram disfunções do cérebro” e a “insanidade” representava apenas um sintoma 
de patologia cerebral. Procurando construir uma psiquiatria empírica baseada no 
modelo médico, Griesinger defendia que esta deveria transcender as descrições pu-
ramente sintomáticas ao modo francês e ainda levava em conta a personalidade 
anterior ao desenvolvimento da doença (WANG; LOUZA NETO; ELKIS, 1995).
Kraepelin apresentou diferentes classificações para a loucura, demarcan-
do aos poucos, novas categorias nosográficas no campo psiquiátrico. Sua inten-
ção era identificar um quadro clínico e criar uma taxonomia para as psicoses. Kra-
epelin também tornou possível o desenvolvimento das bases de dados clínicos 
(BERRIOS; HAUSER, 2013).
As práticas desses médicos já se caracterizavam como a definição de psi-
copatologia. Entretanto, apesar de alguns fenômenos já observados nos doentes 
mentais, a psicopatologia, enquanto disciplina científica, foi nomeada a partir de 
Karl Jaspers, em 1913.
3 LOUCURAS NO SÉCULO XX OU ASCENÇÃO E QUEDA 
DOS MANICÔMIOS 
Se, por um lado, a loucura é uma produção histórica e social mediada por 
discursos, práticas, representações e sabres sobre o estado mental dos pacientes, 
por outro lado, o sofrimento psíquico, atualmente, exibe, em alguma medida, a 
ideia de incapacidade e improdutividade, podendo gerar constrangimento aos 
indivíduos, inclusive nas instituições que recebiam esses sujeitos, como em hos-
pitais psiquiátricos e manicômios (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014). 
Nesse contexto, a reforma psiquiátrica tem foco em intervenções com equipes 
multidisciplinares, com vistas à melhoria da qualidade de vida e à cidadania do 
indivíduo (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014).
A representação história do conceito de loucura, portanto, está imbricada 
com o surgimento de manicômios e hospitais psiquiátricos.Assim, percebem-se 
diferentes funções do manicômio, sendo a mais antiga a recolhida de loucos e 
outras minorias, isolando-os em prédios antigos e mantidos pelo poder públi-
co, por grupos ou instituições religiosas (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
15
2014). Por conseguinte, surgiram hospitais psiquiátricos para que esses sujeitos 
tivessem um tratamento médico adequado, ainda que os profissionais desses lo-
cais não tivessem uma formação médica, o que causava verdadeiros problemas.
A partir do século XIX, surgem instituições que acolhem apenas doentes 
mentais, a fim de um tratamento médico especializado e sistemático em instituições 
chamadas de manicômios. No entanto, as condições estruturais desses espaços eram 
precárias e, como em outras épocas, os pacientes não tinham, necessariamente, um 
diagnóstico de doença mental. A população enclausurada era, como em outras épo-
cas, minorias e populações socialmente vulneráveis ou estigmatizadas, como epiléti-
cos, homossexuais, prostitutas, entre outras pessoas que não seguiam a norma.
Esse cenário é sustentado, no âmbito da produção de conhecimento, pela 
influência do pensamento de René Descartes, que elevava e condicionava a razão 
como forma “correta” da existência humana (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVA-
RES, 2014). Logo, aquele que foge da razão, que é guiado a partir de uma desra-
zão, não tem condições para cuidar de si e, ainda nessa via, também não possui 
condições para conviver em sociedade. Assim, os tidos como “loucos” eram en-
clausurados em manicômios/hospitais psiquiátricos, como forma de assistência 
social, considerando que são desvalidados e sua existência é, em alguma medi-
da, deslegitimada (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014). Nesse sentido, 
as internações, além de arbitrárias, eram muito violentas, privando o sujeito de 
liberdade e mantendo-o enclausurado.
O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, é baseado numa famosa pas-
sagem do arquiteto romano Vitrúvio, um tratado de arquitetura em que, no terceiro livro, 
descreve as proporções do corpo humano masculino. Esse caráter de medição do corpo 
se estendeu também para medição da mente e da vida, e, de forma geral, influenciou o 
pensamento do filósofo René Descartes.
INTERESSA
NTE
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
16
FIGURA – O HOMEM VITRUVIANO, DE LEONARDO DA VINCI
FONTE: <https://bit.ly/3nsI8P5>. Acesso em: 29 ago. 2021.
3.1 LOUCURAS NO BRASIL E OU O RECONHECIMENTO 
DE DIREITOS E CIDADANIA
Esse contexto tem sua fertilidade e brotamento na Europa, não obstante, 
essa forma de se relacionar com a loucura e com esses sujeitos chegou também ao 
Brasil, onde o pensamento colonial e ocidentalizado imperava e aguçava formas 
de tratamento desumano. Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, diversos 
movimentos se levantaram contra essas formas teóricas e práticas de se pensar 
e relacionar a loucura. Esses movimentos defendiam perspectivas humanizadas 
em relação à saúde mental (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014).
A reforma psiquiátrica no Brasil encontrou brotamento no período de 
redemocratização do país, embora sua idealização já estivesse sendo fertilizada 
décadas antes, porque, além da redemocratização, o país também passava por 
uma transição na fase sanitarista, colocando a responsabilidade de saúde para 
os Estados. Assim, a partir da década de 1980, surgiram novos serviços de assis-
tência, como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Núcleos de Atenção 
Psicossocial (NAPS), que são como membros do pensamento de uma Reforma 
Psiquiátrica Brasileira (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014), cujo atendi-
mento parte de diferentes frentes e profissionais, nos quais não há o princípio de 
internamento, mas, pelo contrário, de socialização e cidadania.
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
17
A assistência é definida como de atenção integral, e o serviço propõe 
atividades psicoterápicas, socioterápicas de arte e de terapia ocupacio-
nal – enfoque multidisciplinar. O sofrimento psíquico deve ser pen-
sado no campo da saúde coletiva, tendo em consideração os diversos 
contextos em que o indivíduo está inserido como a família, o trabalho, 
cultura, contexto histórico, entre outros. [...] Os serviços substitutivos 
foram os principais avanços da Reforma Psiquiátrica, trazendo alter-
nativas de tratamento com o objetivo de, principalmente, não repro-
duzir as bases teórico-práticas do modelo psiquiátrico clássico [...]. É 
notável, que a presença dos CAPS/NAPS refletiu uma mudança na 
concepção de tratamento dos pacientes psiquiátricos; onde antes a 
única instituição que receberia esses pacientes – com a função de reco-
lher/excluir – eram os manicômios/hospitais psiquiátricos (FIGUEIRÊ-
DO; DELEVATI; TAVARES, 2014, p. 130).
Esse contexto é ressaltado, ainda mais, devido à Luta Antimanicomial que 
influenciou a criação do Projeto de Lei nº 3.657, proposto, em 1989, pelo Depu-
tado Federal Paulo Delgado, sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua 
substituição por outros recursos assistenciais, regulamentando a internação psi-
quiátrica compulsória, indicada apenas quando os recursos extra-hospitalares se 
mostrarem insuficientes.
O livro O Holocausto Brasileiro, de autoria de Daniela Arbex, conta a história 
de algumas pessoas que foram enclausuradas no “Colônia”, o maior hospício do Brasil, lo-
calizado em Barbacena, Minas Gerais. No Colônia, morreram quase 60 mil pessoas, entre 
as quais cerca de 70% tinham diagnóstico de doença mental por serem homossexuais, 
prostitutas, meninas grávidas que haviam sido violentadas e esposas que os maridos deci-
diram internar. Essas pessoas eram, a um só tempo, enclausuradas e abandonadas, mor-
riam de fome, de frio e de choque. A autora chama esse período de holocausto, devido ao 
genocídio contra as pessoas que fugiam à norma. Vale a pena a leitura para conhecimento 
de uma fase obscura do Brasil, em termos de saúde mental, e para que, com essa consci-
ência, essa fase não encontre terreno fértil para que se repita.
ESTUDOS FU
TUROS
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
18
FIGURA - FOTO DE VÁRIAS PESSOAS DEITADAS EM MACAS OU SENTADAS NO CHÃO, 
AMONTOADAS; A IMAGEM ESTÁ EM PRETO E BRANCO E PASSA UMA IDEIA DE TRISTEZA
FONTE: Arbex (2013, p. 157;159)
Ainda com intuito de regulamentar essa situação, foi instituída a Lei Na-
cional da Reforma Psiquiátrica, Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001 (BRASIL, 2001), 
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, re-
direcionando o modelo assistencial em saúde mental. Com isso, foram estipula-
das mudanças tanto em relação ao tratamento quanto à compreensão de loucura 
na sociedade. Nesse sentido, pensa-se a loucura não mais como um elemento que 
deve estar excluído e posto à margem da sociedade, pelo contrário, essa nova con-
cepção coloca os sujeitos e a ideia na rua e em socialização, com questionamentos 
e discussões sobre os sujeitos tidos como “loucos”, que passam a ser reconheci-
dos como cidadãos que possuem direitos (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 
2014). Assim, a Reforma Psiquiátrica previu a proteção e a garantia de direitos a 
pessoas portadoras de transtornos mentais e criticou o modelo hospitalocêntro e 
enclausurador imposto anteriormente. De acordo com a Lei nº 10.216/2001, são 
direitos da pessoa portadora de transtorno mental: 
I- ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâ-
neo às suas necessidades;
II- ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo 
de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela 
inserção na família, no trabalho e na comunidade;
III- ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV- ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V- ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclare-
cer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VI-ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII- receber o maior número de informações a respeito de sua doença 
e de seu tratamento;
VIII- ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasi-
vos possíveis;
IX- ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saú-
de mental (BRASIL, 2001).
TÓPICO 1 — ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO
19
Certamente, a implementação dessas leis é essencial para o combate à es-
tigmatização de pessoas com transtornos mentais na sociedade. Contudo, esses 
movimentos políticos não representam uma resolução imediata em relação aos 
manicômios, porque, como mostramos no anteriormente, esse é um tema que 
atravessa séculos e as formas de exclusão são sempre renovadas. Assim, parte do 
problema está nas concepções e nas representações de loucura na sociedade, no 
processo de subjetivação e nas transformações sociais e políticas (FIGUEIRÊDO; 
DELEVATI; TAVARES, 2014). Como era de se esperar, esse movimento não apre-
senta resultados imediatos.
20
Neste tópico, você aprendeu que:
RESUMO DO TÓPICO 1
• As concepções de loucura mudam de acordo com a época histórica.
• Na Idade Média, concebiam a loucura a partir dos termos de possessão de-
moníaca.
• A caça às bruxas foi, entre outras coisas, consequência de transformações 
sociais, sendo impulsionada pelas esferas religiosas, políticas e científicas.
• No Renascimento, a loucura é concebida como ausência da razão.
• Para a Psiquiatria, a loucura é percebida como doença mental.
• A Reforma Psiquiátrica trouxe uma ideia de humanização para o tratamento 
de transtornos mentais.
21
1 Existem trajetórias no conceito e no manejo da loucura no decorrer do tem-
po, da ótica da exclusão social à ótica da reintegração social. Sobre a trajetó-
ria histórica da psicopatologia, assinale a alternativa INCORRETA:
a) ( ) No período medieval, sobretudo na baixa Idade Média, o que chama-
vam de “anormalidade” ou “loucura” tinha causa atribuída a preceitos 
sobrenaturais e demoníacos.
b) ( ) No início da Renascença, o tratamento oferecido à loucura, àqueles que 
fogem das normas, era a partir de exorcismos ou técnicas desenvolvi-
das pela igreja.
c) ( ) A partir do século XIX, surgem instituições que acolhem apenas doen-
tes mentais, a fim de tratamento médico especializado e sistemático em 
instituições chamadas de manicômios.
d) ( ) A psicopatologia, enquanto disciplina científica, foi nomeada a partir 
de Karl Jaspers, em 1913.
2 A partir da década de 1980, no Brasil, começam a surgir novos serviços de 
assistência, como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Núcleos 
de Atenção Psicossocial (NAPS), que são como membros do pensamento 
de uma Reforma Psiquiátrica Brasileira. Com base na reforma psiquiátrica 
brasileira, analise as sentenças a seguir:
I- A Lei Nacional da Reforma Psiquiátrica, Lei nº 10.216/2001, dispõe sobre 
a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e 
redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
II- A Lei nº 3.657, proposta, em 1989, pelo Deputado Federal Paulo Delgado, 
defendia a extinção progressiva dos manicômios.
III- Dois fatores essenciais e que apresentaram resultados imediatos foram a 
reforma, um movimento político, e a implementação das leis.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
3 A Lei Nacional da Reforma Psiquiátrica, Lei nº 10.216/2001, propôs mudan-
ças em relação ao tratamento e à compreensão de loucura na sociedade. 
Com relação à pessoa portadora de transtorno mental, classifique V para as 
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Não ter acesso aos meios de comunicação para não atrapalhar o tratamento.
( ) Ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração.
AUTOATIVIDADE
22
( ) Receber o menor número de informações a respeito de sua doença e de 
seu tratamento.
( ) Ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – V.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – V – F – V.
4 As concepções de loucura e doença no século XV são diferentes das do sé-
culo XIX. Disserte sobre quais são essas diferenças nesses períodos.
5 Foi com a psiquiatria de Pinel que a medicina passou a responder sobre os fe-
nômenos patológicos, rompendo a visão religiosa predominante desde a Idade 
Média. Emil Kraepelin (1856-1926) contribuiu com o entendimento que temos 
hoje sobre psicopatologia. Disserte sobre as contribuições de Kraepelin.
23
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS 
DA PSICOPATOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Anteriormente, vimos um pouco sobre a loucura a partir de uma perspec-
tiva histórica. Neste tópico, abordaremos como a psicopatologia pode ser com-
preendida a partir de diferentes teorias, que influenciam também a forma como 
serão conduzidos o diagnóstico e o tratamento.
A psicopatologia percorreu um caminho difícil para ser uma disciplina autô-
noma, sendo uma ciência recente, influenciada pela psiquiatria, pela psicanálise e pela 
psicologia (FERNANDES, 2003). Segundo Jaspers, em psicopatologia, há dois objetivos 
possíveis de conhecimento: os fenômenos psíquicos (singulares) e dinâmicos. 
Os fenômenos psíquicos implicam uma psicopatologia estática, que pode 
ser subjetiva ou objetiva. Na psicopatologia estática, é preciso descartar qualquer 
teoria ou conceito precedente para colher o vivido pelo outro, tal como se apre-
senta intuitivamente, numa compreensão por identificação com ele. A psicopato-
logia objetiva estudar os aspectos externos dos estados psíquicos, como a postura, 
o discurso, a mímica facial etc., e seu método não visa a uma compreensão, mas a 
uma explicação (PESSOTTI, 2006). 
Os fatores dinâmicos se preocupam com eventos intrapsíquicos nem sem-
pre passíveis de explicação.
Essenciais à psicopatologia, então, são as teorias e as descobertas da Psico-
logia, que também é responsável por uma série de instrumentos utilizados para 
o diagnóstico de pacientes. Por isso, veremos algumas abordagens referentes à 
psicologia e como essas teorias compreendem o indivíduo e suas patologias.
2 ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
Como discutido anteriormente, há diversas formas de se perceber a doen-
ça, a normalidade e os comportamentos humanos. Para compreender um pouco 
mais sobre essa diversidade no campo teórico, destacamos três das principais 
abordagens da Psicologia, apresentando um panorama geral de como são e em 
que se baseiam a construção dessas teorias e como elas percebem o sujeito em 
situação de adoecimento mental.
24
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Não há hierarquias entre as abordagens, em termos de relevância, sendo 
importante destacar formas diferentes de se perceber o sujeito – todas têm contri-
buições para a área da Psicologia, assim como também são passíveis de críticas, 
pois, nos campos acadêmico e científico, é necessário percebermos lacunas para, 
assim, conseguirmos transformações.
2.1 ABORDAGEM PSICANALÍTICA
A psicopatologia dinâmica ocupa-se das relações dos fenômenos psíquicos 
com outros eventos: as relações psíquicas, que são compreensíveis e têm como 
exemplo o fracasso que gera depressão, e as explicativas, como a ingestão de 
álcool que leva à irritabilidade e à fadiga. Com isso, Jaspers conclui que é possível 
tentar uma explicação do comportamento do louco, mas a sua loucura ou o seu 
mundo delirante é inacessível à compreensão (PESSOTTI, 2006).
Para a Psicanálise, os afetos são de suma importância, pois, a partir deles, 
as condutas e os traumas dos indivíduos passam a ficar condicionados, estando 
afeto e ação intimamente imbricados em conflitos e desejos inconscientes. Logo, 
sintomas e síndromes, para a psicanálise, podem gerar um quadro diagnósticode 
psicopatologia (DALGALARRONDO, 2019).
O sintoma é encarado, nesse caso, como uma “formação de compro-
misso”, um certo arranjo entre o desejo inconsciente, as normas e as 
permissões culturais e as possibilidades reais de satisfação desse de-
sejo. A resultante desse emaranhado de forças, dessa “trama confliti-
va” inconsciente, é o que se identifica como sintoma psicopatológico 
(DALGALARRONDO, 2019).
Sigmund Freud foi o precursor da psicanálise, área que surgiu no século 
XIX, na Europa, num contexto de crescente casos de histeria. Tendo como referência 
Jean Martin-Charcot (1825-1893) e Josef Breuer (1842-1925), Freud passou a aderir à 
hipnose como estratégia de tratamento aos casos de histeria, começando a delinear 
sua teoria de que conteúdos inconscientes podem adoecer o corpo. No manejo da 
hipnose, Breuer pedia que os pacientes descrevessem seus problemas, conflitos e 
medos durante o transe e, ao final da sessão, embora muitas vezes melhorassem o 
quadro, eles não se lembravam da descrição que haviam feito, ou seja, essas lem-
branças estavam além de suas consciências (BARLOW; DURAND, 2017).
As teorias de Freud e Breuer foram possíveis graças às observações sistemá-
ticas que realizaram sobre os casos de histeria. Um dos mais emblemáticos (e clássicos) 
dessa época foi o de Anna O., em 1985, uma jovem cuja saúde do corpo física indicava 
estabilidade e nenhum problema, mas que, aos 21 anos de idade, enquanto cuidava de seu 
INTERESSA
NTE
TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
25
pai doente e nas horas que passava ao lado do pai, durante o dia, desenvolveu uma série 
de sintomas físicos, como perda da visão, da audição e da fala, além da impossibilidade 
de comer e paralisia de braços e pernas e algumas alucinações. Com observações cons-
tantes e foco em um sintoma de cada vez, Breuer induziu a paciente ao estado hipnótico, 
em que suas memórias eram revividas em forma de símbolos abstratos. Assim, ao mesmo 
tempo em que determinados eventos da infância contribuíram para o surgimento dos sin-
tomas, relembrar esses eventos também contribuiu para a melhora de Anna O. Esse é um 
caso que consta no livro Estudos sobre a Histeria, de autoria de Breuer e Freud. 
Além disso, o filme Freud Além da Alma conta a história do início da psicanálise e os de-
safios que Freud enfrentou para apresentar e legitimar para a comunidade acadêmica sua 
nova teoria de desenvolvimento humano.
FIGURA - IMAGENS DE BREUER, ANNA O. E FREUD
FONTE: <https://bit.ly/3Go0UQ6>. Acesso em: 29 ago. 2021.
A partir de um arsenal de observações, acompanhamentos e tratamentos, 
Freud desenvolveu um modelo psicanalítico, que aborda o desenvolvimento e a 
estrutura de nossas personalidades. Nesse interim, dependendo de como sujeito 
consegue lidar (ou driblar) seus conteúdos psicológicos, pode desenvolver quadros 
de transtornos psicológicos. A visão psicanalítica de indivíduo é, em grande medi-
da, determinista, sendo o sujeito dominado por forças inconscientes. A psicanálise 
é uma das correntes mais importantes da psicologia e suas ideias são de grande 
influência e importância para o século XX, quando passou a olhar para si, para a in-
fância e para a sexualidade a partir de novos termos (DALGALARRONDO, 2015).
De acordo com Barlow e Durand (2015, p. 18), há três principais facetas da 
teoria psicanalítica:
(1) a estrutura da mente e as distintas funções da personalidade, que 
as vezes se chocam umas com as outras; (2) os mecanismos de defesa 
com os quais a mente se defende desses choques ou conflitos; e (3) 
os estágios do desenvolvimento psicossexual precoce que oferece os 
subsídios para nossos conflitos internos.
26
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
Por essa via, a estrutura da mente é composta por id, ego e superego. O 
id diz respeito à fonte de nossos desejos sexuais e agressivos, e, por isso, opera a 
partir do princípio do prazer. Quando vemos uma criança em seus primeiros me-
ses de vida, pensando a partir de uma perspectiva psicanalítica, dizemos que ela 
é “puro id”, no sentido de que ela busca apenas alcançar seus desejos. Isso porque 
o id opera a partir de um “processo primário” de informação, sendo irracional, 
emocional, ilógico e repleto de fantasias.
O superego, por sua vez, é formado com base em princípios morais, pois 
sua construção depende também da cultura na qual o indivíduo está inserido, 
tendo uma forte carga de noção civilizatória; o que for considerado bom, respon-
sável, ético e moral, será por onde o superego caminhará. Por isso, os conteúdos 
impulsivos, agressivos e/ou sexuais do id, marcados pelo princípio do prazer, 
não chegam integralmente ao superego, que é mais rígido e tem sua formação a 
partir das lógicas sociais.
O ego, por outro lado, é regulado a partir do princípio da realidade, pois 
processa as informações decorrentes de um “processo secundário”, enfatizando o 
uso das cognições de pensamento, com racionalidade e lógica. O ego é responsá-
vel por mediar as informações e os conflitos entre id e superego, tendo, portanto, 
uma função conciliadora entre os desejos e a realidade. Desse modo, caso essa 
mediação do ego seja bem-sucedida, o sujeito pode alcançar realizações, levar 
uma vida criativa e com bem-estar. Caso contrário, ou seja, se o superego ou o 
id tornar-se mais enfatizado, forte ou rígidos, o conflito intrapsíquico domina, 
abrindo espaço para o desenvolvimento de transtornos psicológicos.
FIGURA 1 – INDICAÇÕES DA ESTRUTURA DA MENTE DE ACORDO COM A PSICANÁLISE: ID, 
EGO E SUPEREGO
FONTE: Barlow; Durand (2015, p. 19)
Essa espécie de “batalha psíquica” em que o ego é um mediador entre 
id e superego pode, ocasionalmente, causar ansiedade, devido a pressões que o 
ego pode sofrer nessas mediações. A ansiedade, nesse sentido, é entendida como 
um sinal para que sejam postos em ação alguns mecanismos de defesa, que são 
TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
27
“processos protetores inconscientes que mantem sob controle as emoções primi-
tivas associadas aos conflitos, de maneira que o ego possa continuar a funcionar 
adequadamente” (BARLOW; DURAND, 2015, p. 19).
Os mecanismos de defesa são utilizados por todos nós e a forma como lida-
mos e enfrentamos os conflitos é essencial para compreendermos alguns quadros 
de psicopatologia. Alguns exemplos de mecanismos de defesa são descritos como:
• negação: recusa reconhecer algum aspecto da realidade objetiva 
ou da experiência subjetiva que é visível para outras pessoas;
• deslocamento: transfere um sentimento sobre um objeto (ou uma 
resposta a ele) que causa desconforto para outra pessoa ou objeto, 
geralmente menos ameaçadores;
• projeção: atribui falsamente os próprios sentimentos, impulsos e 
pensamentos inaceitáveis para outra pessoa ou objeto;
• racionalização: encobre as verdadeiras motivações de atos, pen-
samentos e sentimentos por meio da elaboração de explicações 
confortadoras para si mesmo, mas incorretas;
• formação reativa: substitui comportamentos, pensamentos ou senti-
mentos por outros que são diretamente opostos àqueles inaceitáveis;
• repressão: bloqueia desejos, pensamentos ou experiências pertur-
badores da mente consciente;
• sublimação: direciona sentimentos ou impulsos potencialmente 
mal adaptativos para se tornarem comportamentos socialmente 
aceitos (BARLOW; DURAND, 2015, p. 19).
Por exemplo, numa situação hipotética de um ambiente de trabalho, em 
que o chefe é grosseiro e agressivo com o funcionário, o qual, devido a sua po-
sição hierárquica ou a sua forma de resolver conflitos, não pode responder na 
mesma proporção; ao chegar em casa, esse funcionário pode deslocar o tal con-
flito para uma outra relação, como brigar com esposa ou filhos, uma vez que sua 
posição no ambiente doméstico permite e aceita tais ações. Por outro lado, se ele 
liberasse essa tensão e esse conflito do ambiente de trabalho compondo um dese-
nho ou uma melodia, ele estaria sublimando oconflito, dando contornos criativos 
e socialmente aceitos a essa situação.
Nesse sentido, um dos principais objetivos de um tratamento psicanalíti-
co tradicional é trazer à consciência material o que foi reprimido, ou seja, o que 
está no inconsciente. Para isso, há diversos métodos adotados, como o método de 
“associação livre”, utilizado desde os primórdios da psicanálise, em que o sujeito 
diz literalmente tudo o que lhe vem à mente, como nos casos de histeria.
Os tratamentos mais atuais com a psicanálise exploram aspectos do “self”, 
que são inconscientes e que o sujeito não reconhece, de modo que o terapeuta 
desempenhe a função de estudar como os sujeitos revelam e influenciam esses 
conteúdos que vêm à tona. De toda forma, o foco do tratamento psicanalítico está 
na exploração das experiências emocionais do indivíduo (atuais ou passadas), de 
seus mecanismos de defesa, de seus relacionamentos íntimos e de suas fantasias 
de maneira geral (sonhos, devaneios etc.).
28
UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
A teoria de Freud influenciou o mundo e firmou-se como um novo para-
digma da mente, embora seja considerada a versão “clássica” ou “ortodoxa” da 
psicanálise. Diversos outros autores contribuíram com a teoria psicanalítica, po-
dendo-se citar, inicialmente, Carl Jung (1875-1961), um estudante de Freud e que 
rejeitou algumas das ideias deste, formando seus próprios pensamentos (BAR-
LOW; DURAND, 2015).
Jung era um proeminente discípulo de Freud, mas rejeitou diversos as-
pectos sobre conotação sexual da teoria de seu mestre, apresentando o conceito 
de “inconsciente coletivo”, que seria um conhecimento acumulado historicamen-
te, passado de geração para geração, armazenado profundamente na mente dos 
indivíduos, da sociedade e da cultura (BARLOW; DURAND, 2015). Nesse senti-
do, ele aborda muitos aspectos dos desejos espirituais e religiosos, dando a eles 
tanta importância quanto aos desejos sexuais, aproximando-se de ideias míticas 
da existência humana. Por algum tempo, Jung também estudou noções da caba-
la, do tarot e mandalas, percebendo padrões da natureza que surgem em nossos 
sonhos. O trabalho com mandalas ficou amplamente conhecido e é utilizado até 
hoje em alguns centros de reabilitação. Além disso, também abordou traços está-
veis da personalidade, como introversão e extroversão.
Psiquiatra alagoana, Nise da Silveira (1905-1999) foi uma das maiores repre-
sentantes da corrente junguiana no Brasil. Jovem médica, formada pela Universidade da 
Bahia e psiquiatra principiante no hospício da Praia Vermelha, Nise da Silveira sempre ou-
sou; esquerdista, atuante na União Feminina do Brasil, foi presa pela ditadura getulista, ao 
lado de Olga Prestes e Elisa Berger. Também foi expulsa do Partido Comunista, pelo crime 
inafiançável de suposto trotskismo. Nise da Silveira equilibrava-se entre as estruturas rígidas 
das instituições e sua inegável vocação para a marginalidade. Seu feito mais celebrado foi 
ter transformado honestas e sedativas atividades de terapia ocupacional em vias libertárias 
de realização estética para os internos do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Foram 
esses trabalhos artísticos dos internos que culminaram na criação do Museu de Imagens 
do Inconsciente, em 1952, do qual parte do acervo veio a ser apresentado em São Paulo, 
em 2000, na mostra Brasil 500 anos. Em 1955, Nise fundou, no Rio de Janeiro, um grupo 
de estudos sobre C. G. Jung, que viria a se tornar um centro aglutinador de todos que bus-
cavam caminhos alternativos aos diversos discursos hegemônicos que, então, dominavam 
o campo “psi”. Já em 1956, preocupada em resgatar a dimensão humana dos denomina-
dos “loucos”, Nise da Silveira criou a Casa das Palmeiras, instituição pioneira de acolhimen-
to, de portas sempre abertas, e que, na opinião de um de seus primeiros clientes, seria “um 
cantinho que iria modificar o mundo”. 
Em 2015, foi lançado um filme biográfico em sua homenagem Nise: no coração da loucura, 
que conta uma pouco de sua história, por ter proposto uma nova forma de tratamento aos 
pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e a lobotomia. Ao longo 
da história, vemos como seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento 
e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, no qual dá 
início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor, da arte e de mandalas.
INTERESSA
NTE
TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
29
FIGURA - NISE DA SILVEIRA, MULHER NA FAIXA ETÁRIA DOS 60 ANOS
FONTE: <https://bit.ly/3EgwRIw>. Acesso em: 7 abr. 2021.
2.2 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL E COGNITIVA 
O modelo comportamental (ou modelo cognitivo-comportamental; ou mo-
delo de aprendizagem social), a partir do século XX, ganhou cada vez mais desta-
que com sua proposta pragmática, experimental e baseada em evidências e obser-
vações. Desse modo, percebemos a diferença e a distância entre esse modelo e a 
psicanálise, uma vez que esta valoriza e investiga processos intrapsíquicos, lançan-
do uma teoria sobre estrutura abstrata da mente que regularia o comportamento. 
O modelo comportamental, em contrapartida, trabalha essencialmente com as pos-
sibilidades que o contexto oferece, não estando ligada, em um primeiro momento, 
a investigações ou especulações sobre questões do comportamento que não podem 
ser mensuradas a partir de observação e experimento (BARLOW; DURAND, 2015).
Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) foi um dos pioneiros a investigar sobre 
o condicionamento clássico. O experimento mais conhecido de Pavlov consistia 
em examinar por que os cachorros salivavam antes receberem sua comida. As-
sim, estudou como ocorria a condição da presença de um evento particular, ou 
seja, um estímulo. No caso de Pavlov, observou-se que os cachorros, ao ouvi-
rem os sons dos passos do assistente de laboratório, já começavam a salivar, pois 
os passos indicavam que, no momento seguinte, a comida seria servida. Dessa 
forma, havia um condicionamento da resposta (salivar) do cachorro de acordo 
com as condições (passos) do ambiente. Posteriormente, Pavlov passou a utilizar 
um metrônomo para que a observação fosse mais fidedigna. Não obstante, se 
o estímulo é lançado sem que seja oferecida a comida por um longo período, o 
condicionamento perdia a eficácia, ou seja, o cachorro já não apresentava mais a 
resposta (BARLOW; DURAND, 2015).
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UNIDADE 1 — PSICOPATOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS
FIGURA 2 – IVAN PAVLOV
FIGURA 3 – WATSON
FONTE: <https://bit.ly/3CdWgSv>. Acesso em: 29 ago. 2021.
FONTE: <http://www.psicologiavirtual.net/2018/01/ivan-pavlov-autor.html>. Acesso em: 29 ago. 2021.
O psicólogo John B. Watson (1878-1958), influenciado por Pavlov, é consi-
derado o fundador da abordagem comportamental (behaviorista). Watson tinha 
como base teórica a ciência natural e não partia de pressupostos de introspecção, 
pois acreditava que esses métodos não seriam quantificáveis, tendo como metas 
a previsão e o controle do comportamento, e dando ao behaviorismo o status de 
ciência empírica radical.
TÓPICO 2 — DIFERENTES CONCEPÇÕES E ABORDAGENS DA PSICOPATOLOGIA
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O PEQUENO ALBERT
Em um dos mais famosos e controversos experimentos, Watson e Rosalie Rayner, uma de 
suas alunas, estudaram o medo com o pequeno Albert, um menino de 9 meses de idade. 
Os pesquisadores deram a Albert um ratinho branco, totalmente inofensivo, e a criança 
não apresentou medo, pelo contrário, gostava de se divertir com seu animal de estimação. 
No entanto, como parte do estudo, todas vezes que Albert ia em direção do rato para pe-
gá-lo, soltavam um barulho alto atrás dele. Com isso, após cinco tentativas de pegar o rato, 
Albert mostrou os primeiros sinais de medo. Além disso, a criança passou a demonstrar 
medo de outros animais, como um coelho, por exemplo, e também a apresentar medo de 
qualquer objeto branco peludo, como até mesmo a barba do Papai Noel. Obviamente,

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