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PSICOLOGIA EM ESTÉTICA PROF.A MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Simone Barbosa Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Aliana de Araújo Camolez © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4 1. A CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO .......................................................................................................5 1.1 A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA ..............................................................................................................................5 1.1.1 SENSO COMUM .....................................................................................................................................................6 1.1.2 A CIÊNCIA .............................................................................................................................................................. 7 1.1.3 OBJETIVIDADE DO MÉTODO CIENTÍFICO E IDEOLOGIA NAS CIÊNCIAS .......................................................9 1.1.4 OS PRIMÓRDIOS DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA ............................................................................................... 10 1.1.5 PRINCIPAIS TEORIAS DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XX ..........................................................................................12 1.1.6 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO SEGUNDO A PSICANÁLISE ................................................... 16 1.1.7 A PSICOLOGIA HOJE ............................................................................................................................................ 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................... 19 PSICOLOGIA: COMPREENDENDO A CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO PROF.A MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA EM ESTÉTICA 4WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Seja muito bem-vindo(a)! Na Unidade 1, pretendemos apresentar, de maneira clara e didática, a ciência psicológica e seus referenciais científicos, bem como sua aplicabilidade e suas correntes teóricas mais influentes do século XX. Nosso propósito é demonstrar o caráter múltiplo da psicologia e suas facetas, objetivando refletir nosso compromisso social com o bem-estar e com a saúde integral do ser humano. Compreendemos o humano e sua saúde para além de uma visão individual e cartesiana, partindo de um ponto de vista que nos considera co-construtores de nossa realidade material e psíquica, a qual, por sua vez, está embasada em um plano de fundo histórico e social (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2009). Portanto, estar doente não pressupõe simplesmente a presença de algum mal-estar ou qualquer diagnóstico negativo. Antes, pressupõe uma série de condições psíquicas e realidades materiais que, somadas, constroem um panorama de adoecimento, mas que pode ser alterado. Em uma abordagem construcionista social, a saúde é um complexo dialético dinâmico e plural, construído a partir das relações entre a esfera individual e social (SPINK, 2010). “Estar” saudável é, assim, fruto de uma série de fatores congruentes. Destarte, nosso objetivo nesta unidade será apresentar a Psicologia como ciência e sua relação com a sociedade e a saúde. À medida que avançarmos, conheceremos os detalhes dos diferentes sistemas psicológicos que se propuseram a compreender o ser humano em suas múltiplas faces. Desejamos a você uma excelente leitura! 5WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. A CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO HUMANO 1.1 A Psicologia como Ciência A psicologia é caracterizada como a ciência que estuda o comportamento humano e a relação desse sujeito com o mundo. Psi significa “mente” ou “alma”, e logia significa “estudo”. Por “ciência”, compreende-se “[...] um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2009, p. 19). Tais conhecimentos devem ser descritos de maneira sistematizada e metodológica para que seja possível a posterior averiguação dos resultados. Logo, a experiência pode ser retida e mais eficazmente desenvolvida. Em função dessa característica da ciência, ela não objetiva provar algo. Seu compromisso é a descrição apurada e metodológica da realidade, em um contínuo movimento de averiguação, repetição e desenvolvimento. Isso viabiliza que a produção científica não seja estática, mas que procure sempre descobrir novos aspectos da realidade para, assim, avançar. A psicologia é um conjunto de teorias que versam sobre os seguintes objetos: a mente humana, o comportamento humano, o fenômeno psíquico e suas relações com o mundo. Para tanto, utiliza-se de diferentes métodos, a depender da corrente teórica em que se fundamenta o psicólogo. Para o senso comum, são inúmeros os estereótipos relacionados à ciência psicológica. Um deles seria a ilusória capacitação inata que todos teriam para ser psicólogo; outro é a atitude de menosprezar a importância das questões psíquicas e emocionais em nosso cotidiano. Situações como essas se evidenciam em falas do tipo “Não se preocupe com isso, é psicológico!” ou “Sou meio psicólogo(a), sempre ouço o desabafo de minhas colegas de trabalho”. Pergunta-se: em quê essas situações se relacionam ao nosso conteúdo? Elas tão somente demonstram o conhecimento do senso comum, ou seja, o que a população leiga crê que sabe sobre o assunto. Bock, Furtado e Teixeira (2009) afirmam que existem outras áreas do conhecimento além da ciência e do senso comum, tais como arte, religião e filosofia. Igualmente, elas são práticas humanas que buscam dar significado à nossa existência. Os conhecimentos produzidos conjuntamente por essas diferentes áreas formam nosso saber sobre o mundo. Diante do exposto, vejamos as características do senso comum e sua comparação com a produção de conhecimento baseado no método científico. 6WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA1.1.1 Senso comum Chauí (2000) difere o conhecimento científico do conhecimento advindo do senso comum. Este se caracteriza por ser um saber assistemático, produzido socialmente com o objetivo de informar, sem necessariamente comprometer-se com veracidade ou neutralidade. São características dos saberes produzidos pelo senso comum: a. Apresentam afirmações subjetivas sobre aspectos da realidade, ou seja, exprimem sentimentos e opiniões pessoais. Por exemplo: “Ela é depressiva, vive sempre de cabeça baixa, anda devagar e fala baixo”. Dizer que alguém é depressivo baseando-se apenas em supostas evidências explicita uma opinião pessoal, e não uma averiguação científica. b. São qualificantes. Nós, ao julgarmos, conferimos “qualidades” a algo ou a alguém. Comumente, fazemos isso no cotidiano ao indicarmos o trabalho de um profissional em quem confiamos. Por exemplo: “Vá ao doutor Fulano, ele é um excelente médico, sempre nos atende bem”. A recomendação é baseada na experiência pessoal e individual e expressa julgamento (positivo, nesse caso), mas em nada revela dados que comprovam a eficácia e o profissionalismo do médico. c. São heterogêneos, porque percebemos os acontecimentos como diversos, sem conexão. Por exemplo: “Meu filho adolescente está muito quieto em seu quarto, parece estar bravo comigo, não sei o que está acontecendo”. No senso comum, a resposta normalmente se baseia na experiência do interlocutor e não se preocupa em analisar a demanda com base na ciência do desenvolvimento humano, por exemplo. Facilmente poderíamos ter uma resposta tal como: “O meu primo também passou por isso. Quando percebemos, já estava usando drogas!”. d. São generalizadores. Por exemplo: “Os animais”; “as plantas”; “as crianças”, “os homens” etc. Busca-se generalizar comportamentos, o que naturaliza e solidifica práticas e, infelizmente, até legitima situações negativas. Por exemplo: “Todas as crianças são assim. Isso é normal”. e. São centrados em causa e efeito. O senso comum desconsidera o processo e restringe a compreensão da realidade a descrições simplistas. Por exemplo: “Se seu filho estiver muito agitado na escola, deve ser Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)!”. f. Desconsideram a regularidade. Julga-se previamente determinado acontecimento ou comportamento sem considerar seu contexto. Por exemplo: “Professora, percebi que tenho mania de fechar a porta da casa duas vezes seguidas. Isso pode ser Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)?”. g. Confunde-se ciência com magia. Um exemplo ocorre quando alguém diz acreditar ou não em determinado tratamento. Na linguagem científica, averiguaríamos sua efetividade e resultados uma vez que não se trata de uma questão de fé. Mas, no senso comum, ouvimos com frequência que determinados tratamentos são misteriosos ou perigosos pela falta de conhecimento que, em geral, tem-se de seus métodos e bases teóricas. h. Fazem-se projeções. As projeções, no senso comum, são extremamente comuns, especialmente nas relações cotidianas. Por se sentir inseguro, o parceiro diz que não gosta que o outro esteja sempre em dúvida ou que lamenta por ele(a) não ser mais incisivo(a). Ou, no âmbito profissional, dizemos que o governo está perdido e não sabe o que faz quando o fato é que nós (população) lamentavelmente também nos encontramos em tal situação. 7WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Enfim, conforme Chauí (2000), o senso comum é a descrição dos aspectos da realidade que tem por objetivo a construção do conhecimento informativo e informal. Não tem compromisso em ser fiel à realidade uma vez que apresenta todos esses aspectos descritos anteriormente, que o abastecem de subjetividade. É evidente que os conhecimentos do senso comum têm sua contribuição na compreensão do fenômeno psíquico. Porém, como cientistas em formação, devemos nos esforçar na descrição e análise de nosso objeto de estudo (psiquismo e relações humanas) pautadas em métodos sistematizados capazes de serem replicados e continuamente atualizados. O senso comum, na produção desse tipo de conhecimento, percorre um caminho que vai do hábito à tradição, a qual, quando estabelecida, passa de geração para geração. Assim, aprendemos com nossos pais a atravessar uma rua, a fazer o liquidificador funcionar, a plantar alimentos na época e de maneira correta, a conquistar a pessoa que desejamos e assim por diante (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2012, p. 17). Os autores reafirmam que, por mais que seja um modo de entendimento talvez simplificado ou cindido, o senso comum nos serve como ponto de partida para a produção de nossas práticas e crenças cotidianas. O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximam-se e se afastam: aproximam-se porque a ciência se refere ao real; afastam-se porque a ciência abstrai a realidade para compreendê-la melhor, ou seja, a ciência afasta- se da realidade, transformando-a em objeto de investigação – o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2012, p. 16). 1.1.2 A ciência O que distingue o conhecimento popular (vulgar, o senso comum) do científico são a forma, o modo/método e os instrumentos do conhecer. Segundo Lakatus e Marconi (2003), a ciência se configura como um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação. A ciência, como expresso anteriormente, tem a obrigatoriedade de se mostrar falível, apta a ser refutada, pois não se baseia em crenças ou julgamentos tampouco na razão. Antes, fundamenta-se na descrição de fatos observados na realidade, encontrados e descritos a partir de determinada metodologia. Dessa forma, dizemos que o que a ciência e o senso comum têm em comum é a realidade. Os dois modos de produção do conhecimento partem da descrição da realidade. Um é sem método, e o outro possui todo o rigor metodológico. Obviamente, seria inviável que apenas uma ciência fosse capaz de descrever toda a realidade. Até porque o que entendemos por mundo ou realidade está em constante mudança. E isso é uma das dificuldades da ciência (TOMANIK, 2004). Portanto, cada ciência tem seu campo de pesquisa. Faz-se um recorte na realidade e esse recorte se torna seu objeto de pesquisa, a parte da realidade sobre a qual dada ciência pretende realizar seus estudos. Tomanik (2004) também aponta que, no momento em que adota determinado aspecto da realidade como seu objeto de estudo, cada ciência procura desenvolver procedimentos capazes de lhe permitir conhecer aquele objeto. Esses procedimentos são chamados de métodos. Por fim, entendemos que a busca de conhecimentos científicos não se fecha em si mesma. É uma atividade sempre realizada como meio para se atingir outros fins, exteriores a ela. 8WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Os fins a que a ciência visa atingir são chamados de objetivos. Assim sendo, um mesmo objeto de estudo pode ser pauta de diferentes ciências, com diferentes objetivos. Essas ciências pesquisarão o fenômeno por vias metodológicas diferentes, na tentativa de compor a descrição mais fiel possível daquela realidade. A Metáfora do Elefante e dos Sábios Cegos Certo dia, um príncipe indiano mandou chamar um grupo de cegos de nascença e os reuniu no pátio do palácio. Ao mesmo tempo, mandou trazer um elefante e o colocou diante do grupo. Em seguida, conduzindo-os pela mão, foi levando os cegos até o elefante para que o apalpassem. Um apalpava a barriga; outro, a cauda; outro, a orelha; outro, a tromba; outro, uma das pernas. Quando todos os cegos tinham apalpado o paquiderme, o príncipe ordenou que cada um explicasse aos outros como era o elefante. Então, o que tinha apalpado a barriga disse que o elefante era como uma enorme panela. O que tinha apalpado a cauda até os pelos da extremidadediscordou, dizendo que o elefante se parecia mais com uma vassoura. “Nada disso”, interrompeu o que tinha apalpado a orelha. “Se há alguma coisa com a qual se parece, é com um grande leque aberto”. O que apalpara a tromba deu uma risada e interferiu: “Vocês estão por fora. O elefante tem a forma, as ondulações e a flexibilidade de uma mangueira de água”. “Essa não”, replicou o que apalpara a perna, “Ele é redondo como uma grande mangueira, mas não tem nada de ondulações nem de flexibilidade, é rígido como um poste”. Os cegos se envolveram numa discussão sem fim, cada um defendendo seu ponto de vista, querendo provar que os outros estavam errados. Evidentemente, cada um se apoiava na sua própria experiência e não conseguia entender como os demais podiam afirmar o que afirmavam. O príncipe deixou-os falar para ver se chegavam a um acordo, mas, quando percebeu que eram incapazes de aceitar que os outros podiam ter tido outras experiências, ordenou que se calassem. “O elefante é tudo isso que vocês falaram”, explicou. “Tudo isso que cada um de vocês percebeu é só uma parte do elefante. Não devem negar o que os outros perceberam. Deveriam juntar as experiências de todos e tentar imaginar como a parte que cada um apalpou se une às outras para formarem esse todo que é o elefante.” 9WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.1.3 Objetividade do método científico e ideologia nas ciências Então, vejamos. Se temos diferentes modos de conhecer o mundo, em especial as questões psicológicas, por que optarmos pela via científica? Teoricamente, porque o método científico será neutro, empírico e não subjetivo, portanto, sem contaminar a realidade descoberta. Mas saibamos mais sobre o método que fundamenta a prática do cientista. Na visão empirista, o homem deveria classificar tudo que existe na natureza como fato, reconhecer as relações que um fato tem com outro e descrever suas sequências, aplicando determinado método científico. Quando fizesse isso com tudo o que existe, então, estaria terminada a missão do cientista. O espírito científico, na prática, se traduz por uma mente crítica, objetiva e racional (CERVO; BERVIAN, 1976 apud TOMANIK, 2004, p. 60). Essa prática de estudos voltada para tudo o que existe deveria se basear nos seguintes passos: • Observação. • O experimento. • O raciocínio empirista. • A aplicação da ciência. Figura 1 - Os cegos e o elefante. Fonte: McClintock (2015). Assim como os cegos, as diferentes áreas do conhecimento só podem refletir uma pequena parte do todo. Todo conhecimento difere dos outros por sua metodologia e objeto de estudo. Não sabemos tudo sobre tudo. 10WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Na prática, o que se descobre é que, embora exista um compromisso do cientista para com a veracidade e neutralidade, é difícil esperar isso de uma prática humana. Não seria um equívoco de nossa parte? Já que somos fruto de um contexto social, histórico e ideológico, seria possível produzir uma ciência “limpa” de nossos valores e crenças contaminadoras, especialmente no que tange às ciências psicológicas? Segundo D’Oliveira (1984), de modo geral, pensamos ciência como a produção de novos conhecimentos e descobertas. E, para isso, é necessário cumprir determinado protocolo: observar, realizar experiências, construir instrumentos, submeter hipóteses e testes, publicar resultados e esperar que tal descoberta modifique o cotidiano da população, produzindo bem-estar social. Desse modo, cada cientista poderá dar mais ênfase a determinado aspecto em detrimento de outro. Se imaginamos a ciência como uma atividade padronizada a partir de regras semelhantes e estáticas, devemos nos preparar para outra realidade. Os cientistas estão em uma atividade, um “estar fazendo”. Por se tratar de uma produção humana, a ciência está em constante mudança no decorrer dos tempos históricos e reflete múltiplas diferenças entre aqueles que a pensam e a produzem (D’OLIVEIRA, 1984). Tendo em vista nosso pertencimento, cabe aos cientistas sociais conhecer as ideologias que perpassam sua prática científica e considerá-las no processo de elaboração do conhecimento. A ciência tem compromissos sociais e deve assumi-los para que possa ser também colocada à prova (TOMANIK, 2004). Por fim, compreendemos que, no nosso cotidiano, acabamos utilizando muitos conhecimentos da psicologia do senso comum, pois vamos aprendendo a fazer a leitura de determinados comportamentos humanos simplesmente por estarmos mais atentos ao sofrimento psíquico de outrem. E não há nada de errado nisso; no entanto, devemos estar cientes de que essa prática não se configura como a prática do psicólogo. Em suma, objetivou-se neste tópico apresentar o princípio de que a produção de conhecimento humano sobre o fenômeno psíquico está também em construção e apresenta diferentes pontos de vista. Vejamos, portanto, o que a psicologia científica nos diz. 1.1.4 Os primórdios da psicologia científica O marco inicial, considerado o nascimento da Psicologia, deu-se na Alemanha, ao final do século XIX. Os nomes em destaque dessa emergência foram Wilhelm Wundt, Weber e Fechner, que trabalharam juntos na Universidade de Leipzig. O objetivo desses cientistas era comprovar a vida psíquica como objeto de estudo da ciência da Psicologia (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2012). Wilhelm Wundt foi o fundador do primeiro laboratório de Psicologia Científica na Universidade de Leipzing, na Alemanha, em 1879. Desenvolveu a concepção de Paralelismo Psicofísico. O método de introspecção foi o utilizado no laboratório. A partir desse movimento, a Psicologia se afasta da filosofia e se aproxima das ciências naturais para obter, inclusive, o status de Ciência. Foi, no entanto, nos Estados Unidos que a Psicologia Científica obteve grande crescimento, pois suas técnicas de avaliação psicológica de perfis contribuiu para a lógica de produção capitalista, baseada, naquele momento, em um ideal fordista: The rigth men in the rigth place (“Os homens certos, no lugar certo”, em tradução livre). Esse ideal favoreceu um “[...] campo para um rápido crescimento, resultado do grande avanço econômico que colocou os Estados Unidos na vanguarda do sistema capitalista” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2012). E assim, nos próprios Estados Unidos, diferentes abordagens ou escolas em Psicologia deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente. 11WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Essas abordagens são: o Funcionalismo, de William James (1842-1910), o Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949). Até aquele momento histórico, a Psicologia era considerada uma área da Filosofia que estudava a alma. A Psicologia Científica vem com o objetivo de romper com essa questão “não palpável” de seu objeto de estudo e nasce quando Wundt preconiza a Psicologia “sem alma” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2012). Essa Psicologia moderna se aproxima muito mais da medicina que da filosofia, assumindo um critério rigoroso de construção do conhecimento como método de investigação das ciências naturais. A partir dessa mudança, desenvolveram-se as principais correntes teóricas que fundamentam a psicologia até os dias atuais. Em resumo: • Por meio do desenvolvimento científico baseado na racionalidade é que se desenvolveram os estudos modernos sobre a psique. • Era preciso que o homem dominasse e entendesse a natureza e a si mesmo. • “Para se conhecer o psiquismo humano passa a ser necessário compreender os mecanismos e o funcionamento da máquina de pensar do homem – seu cérebro” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2012, p. 39). • A Psicologia como ciência surge a partir da Fisiologia, Neuroanatomia e Neurofisiologia. Figura 2 - Wilhem Wundt (1832-1920). Fonte: Azevedo (2016). 12WWW.UNINGA.BR PSIC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.1.5 Principais teorias da psicologia no século XX As três principais correntes teóricas da Psicologia no século XX, segundo inúmeros autores, foram o Behaviorismo ou Teoria (S-R) (do inglês Stimuli-Respond, “Estímulo-Resposta”), a Gestalt e a Psicanálise. O Behaviorismo iniciou-se a partir de Watson e teve seu desenvolvimento nos Estados Unidos. Com suas aplicações práticas, tornou-se importante por ter definido o fato psicológico, privilegiando questões concretas a partir da noção de comportamento (behavior). Segundo o dicionário Michaelis (2016), é a “[...] teoria cujo método de investigação se fundamenta na observação e análise do comportamento humano e dos animais, ou seja, no estudo das reações visíveis do organismo aos estímulos exteriores, e consequente negação do método introspectivo”. Posteriormente, nos EUA, recebe influência do psicólogo norte-americano Burrhus Frederic Skinner, autor da obra “Behaviorismo Radical”, teoria que contribuiu fortemente para o desenvolvimento da corrente desde os anos 1950 até os dias atuais. Figura 3 - John Watson. Fonte: Conhecimento Científico (2019). Na posição de segunda corrente teórica mais influente, não em sentido de importância, mas apenas a título de organização, está a Gestalt. Tal teoria teve seu berço na Europa, surgindo como “[...] uma negação da fragmentação das ações e processos humanos, realizada pelas tendências da Psicologia científica do século XIX” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2012, p. 50). Seus princípios fomentam a necessidade de se compreender o homem como uma totalidade. Pode ser considerada a tendência teórica mais ligada à Filosofia. Como já exposto, a psicologia se consolidou, ao longo do século XIX, como uma vertente filosófica e científica. Nesse período, ela estudava tão somente o comportamento, as emoções e a percepção. O que prevalecia era o modelo atômico, isto é, buscava-se compreender o todo a partir do conhecimento das partes, sendo possível perceber uma imagem por meio apenas de seus elementos. Em oposição a esse processo, nasceu a Gestalt, corrente filosófica que, apoiada em pressupostos existencialistas, sugere que o todo é maior do que a soma das partes. Seus mais famosos praticantes foram Friederich Salomon Perls (o fundador da corrente), Kurt Koffka, Wolfgang Köhler e Max Werteimr. 13WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A Figura 4 traz uma ilusão de ótica publicada em 1915 por um cartunista britânico, William Ely Hill. Ele a desenhou para uma revista de humor com o título My Wife and My Mother- in-Law (“Minha esposa e minha sogra”, em português). A legenda já instigava a ambiguidade: “As duas estão na imagem. Tente encontrá-las”. Figura 4 – Cartão-postal alemão do século XIX. Fonte: Battaglia (2018). Guardada a surpresa que o cartão-postal nos traz, as ilusões de ótica são ícones da Gestalt que servem para ilustrar que determinada situação, vivência, conceito, problema etc., ou seja, qualquer realidade, seja ela material ou não, é contemplada e percebida como um todo de uma maneira singular por cada sujeito. Como o termo sugere, o nome Gestalt é de origem germânica, sem tradução ideal para o português. Assemelha-se a algo como “completude”, “figura”, “totalidade”. Além disso, afirma que o ser humano tem uma tendência por buscar razões, sentido e completude. Psicólogos gestaltistas encaram sintomas (tais como dores, momentos deprimi- dos ou dificuldades nas relações) como um caminho de explicação para o adoe- cimento de clientes. O Sintoma – O Caminho da Explicação Grande parte das vezes, o cliente, ao buscar a psicoterapia, tem uma demanda: uma queixa somática, uma dificuldade relacional com alguém com quem ele pre- cisa conviver, uma perda não superada, dentre outras. Esse desconforto é, talvez, a primeira oportunidade para que o psicoterapeuta participe da dinâmica existen- cial do cliente e possa começar a construir um vínculo de confiança. Ginger e Ginger (1995) afirmam que “[...] em Gestalt, o sintoma corporal é delibe- radamente utilizado como ‘porta de entrada’ que permite um contato direto com o cliente, respeitando a via que ele mesmo ‘escolheu’, embora, com frequência, involuntariamente” (GINGER; GINGER, 1995, p. 161). 14WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 5 - Sigmund Freud, por Max Halberstadt, em 1922. Fonte: Wikipedia (2020). A Psicanálise, que nasce com Freud, na Áustria, a partir da prática médica, recupera para a Psicologia a importância da afetividade e postula o inconsciente como objeto de estudo, quebrando a tradição da Psicologia como ciência da consciência e da razão (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2012). Fundamenta a teoria a partir de duas grandes tópicas. Na primeira tópica, são apresentadas três qualidades dos processos psíquicos. A mente teria aspectos conscientes, subconscientes e inconscientes (PILLETI; ROSSATO; ROSSATO, 2014). • Consciente: é formado pelas informações que estão em nossa lembrança e que obtemos a partir da percepção. São sentimentos e conteúdos do cotidiano, conhecimentos que estão em nosso campo de memória acessível. Esse sintoma, essa demanda ou queixa representa, geralmente, uma falência nas possibilidades de a pessoa lidar com suas dificuldades. E ela tem necessidade de entender o porquê do seu sofrimento; busca as causas, perguntando-se: “Quem começou a discussão?”, “Por que eu disse aquilo?”, “Por que tudo deu errado?”, “Por que eu não dou conta?”, “Por quê?”. A legitimidade de seu questionamento encontra suporte na necessidade humana de dar um sentido à vida. Procuramos a todo momento captar a linearidade dos acontecimentos à nossa volta, resgatan- do a historicidade daquilo que estamos vivendo. O sentido que tanto almejamos quase sempre é buscado nessa perspectiva histórica da existência num exercício de explicar a realidade segundo essa lógica (ALMEIDA, 2010). 15WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Subconsciente ou pré-consciente: é uma parte maior do conteúdo da mente, que estaria abaixo do nível da consciência, mas que poderia ser acessada a qualquer momento quando desejado. Por exemplo: memórias da infância, uma música ou uma certa situação do passado. • Inconsciente: instância do aparelho psíquico preenchida pelas ideias, sentimentos e experiências que não podem ser acessados diretamente pela consciência, porque foram reprimidos (bloqueados) por serem muito pesados para que pudéssemos lidar com eles. Esses conteúdos, no entanto, embora não estejam em nosso campo de memória acessível, influenciam nossos comportamentos de maneira inconsciente. Além disso, o inconsciente é atemporal e não segue uma lógica linear. Ainda que esses conteúdos não adentrem a consciência, certa parte deles pode escapar e aparecer de forma distorcida, emergindo, por exemplo, por meio dos sonhos, de maneira irracional, fantasiosa, simbólica, sem provocar tanta angústia ao indivíduo (PILLETI; ROSSATO; ROSSATO, 2014). Figura 6 - A persistência da memória (Salvador Dali, 1931). Fonte: Borges (2020). A obra surrealista de Dali (1931 – Figura 6) alude ao modo atemporal e ilógico do inconsciente, em que o tempo e as regras não funcionam como na realidade. Faz-nos refletir sobre a diferença entre a realidade material e a realidade psíquica. 16WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Já na segunda tópica, Freud explicita que o aparelho psíquico é regulamentado por forças opostas (Id e Superego) em constante conflito, mediado por uma terceira parte (Ego). O superego opõe-se ao id na tentativa de inibir seu impulso à gratidão imediata, interferindo sobre este. Seu desenvolvimento ocorre na medida em que são constituídas as normas, tradições e interposições de conduta dospais sobre as crianças, do meio que circunda o indivíduo, da sociedade; ou seja, é conduzido pelas restrições morais. Id e superego estão em constante conflito. O mediador desses conflitos é o ego, que busca integrar a personalidade, para tanto se fundamenta no princípio da realidade [...], [na] demanda do mundo externo (PILLETI; ROSSATO; ROSSATO, 2014, p. 48). Freud também escreve, em sua teoria do desenvolvimento psicossexual, que todos os seres humanos, desde a mais tenra idade, são seres sexuados, o que causou grande espanto e recusa à sociedade da época. O teórico dividiu os períodos ou fases do desenvolvimento em cinco etapas: fase oral, fase anal, fase fálica, latência e genitalidade. Em cada uma dessas fases, a libido ou energia vital se localizaria em determinada zona erógena. 1.1.6 As fases do desenvolvimento humano segundo a Psicanálise • Fase oral - de 0 a 1 ano, aproximadamente. A região pela qual o desejo é manifesto e que dá mais prazer à criança é a boca. É pela boca que a criança entra em contato com o mundo. O principal objeto de desejo dessa fase é o seio da mãe, que proporciona alimento, satisfação e acolhimento. • Fase anal – de 2 a 4 anos. É nessa fase que o bebê passa a adquirir o controle dos esfíncteres, e a região de maior satisfação é o ânus. Tem controle das fezes, podendo oferecê-las como presente ou usá-las como algo agressivo. Surgem a noção de higiene e a posse de objetos fora de seu corpo. • Fase fálica - de 4 a 6 anos. A atenção da criança volta-se à região genital, tendo ela um comportamento narcisista. É momento quando se elaboram teorias sobre o pênis e a falta dele. • Latência – de 6 a 11 anos. Há dormência da libido. Nesse período, as crianças deslocam a libido sexual para atividades socialmente aceitas. Gostam de jogos competitivos, com regras estabelecidas, são moralistas e “odeiam” o sexo oposto. Gastam a energia em atividades sociais e escolares. • Genitalidade: ocorre a retomada dos impulsos sexuais. O adolescente passa a buscar o objeto de amor fora do contexto do núcleo familiar. Há perda da identidade infantil, luto pelos pais idealizados e agressividade em busca de identidade adulta. É a chamada “síndrome normal da adolescência”. Nesse movimento, o adolescente procura se diferenciar do outro e, ao mesmo tempo, se identificar com grupos e estilos próprios. Para a ciência psicológica, o ser humano está em constante desenvolvimento e só passa por ele por meio da relação com o outro. O desenvolvimento é fomentado pela companhia, linguagem e cultura para diferentes abordagens teóricas. Daí advém a importância de se frisar que o homem é um ser social, condição sem a qual não se tornaria humanizado. Toda a nossa condição humanoide (casca) só se torna humana de fato (dotada de conteúdo, inteligência, pensamento e consciência) por meio do que somos juntos. 17WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O filme Freud, além da alma, de 1962, mostra o início dos trabalhos de Freud em Viena, enfocando su a teoria sobre a interpretação dos sonhos. O filme mostra também a rejeição da comunidade médica às suas ideias. Depois de ter assistido ao filme, você compreenderá com mais clareza o desenvolvimento da teoria psicanalítica. Você já parou para pensar em como é árduo e ainda deficitário o caminho da humanidade no que se refere ao autoconhecimento? Sabemos muito pouco sobre nós mesmos. Para mais informações sobre as diferentes correntes em psicologia, recomendamos a leitura da obra: TELES, M. L. S. O que é Psicologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2010. A partir da leitura desse pequeno livro, você compreenderá que a Psicologia apresenta diferentes maneiras de interpretar o fenômeno psíquico e a relação do homem com o mundo. A leitura, inclusive, proporcionará a você a oportunidade de se identificar e de aprimorar seus conhecimentos quanto a uma dada corrente específica. Fonte: Books Google (2017). 18WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.1.7 A Psicologia hoje Como discutido anteriormente, o objeto de estudo da psicologia é o homem (no sentido humano), em todas as suas expressões, as visíveis e as invisíveis, as genéricas e as singulares (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2009). Portanto, onde quer que o ser humano esteja, há conteúdo para investigação e intervenção psicológicas. A profissão de psicólogo é reconhecida no Brasil por meio da Lei nº 4.119, de 1962. Os Conselhos Federal e Estaduais de Psicologia foram criados por meio da Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de 1971. E o Código de Ética que rege a profissão é o quarto de sua história, oficializado no ano de 2005. A Psicologia exerce um papel central no meio científico e social, pois seus saberes afetam ambos os meios e oferecem subsídios para a fundamentação de inúmeras práticas, as quais, acima de tudo, buscam colaborar para a promoção da saúde, a valorização da subjetividade e a proteção dos direitos humanos (LEME; BUSSAB; OTTA, 1989). Algumas das possíveis áreas de atuação da psicologia são: saúde e assistência social por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e Sistema Único de Assistência Social (SUAS), área jurídica, psicologia do trânsito, psicologia escolar, psicologia clínica, pesquisador, psicologia organizacional e do trabalho, psicologia do esporte, psicologia hospitalar, dentre outras mais. 19WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Iniciamos a Unidade 1 esclarecendo de que maneira os conteúdos do senso comum estão presentes na construção social de nossos valores e conhecimentos gerais. Além disso, percebemos que a própria psicologia está presente em nosso cotidiano, mais do que imaginávamos. Posteriormente, compreendemos os detalhes do método científico e as implicações ideológicas, das quais, embora tentemos nos desvencilhar, ainda assim nos acompanham. Compreendemos que qualquer ciência, seja ela natural, biológica ou humana, será inevitavelmente trespassada pelo fator humano. A ressalva a se fazer é, portanto, a de garantir que, como pesquisadores e investigadores em formação, estejamos sempre buscando novas respostas e testando as que já estão vigentes, nesse movimento conhecido como ciência. Após isso, retomamos brevemente o histórico da Psicologia Científica, bem como seu desenvolvimento e aplicabilidade. Passamos, ademais, pelas mais influentes correntes psicológicas do século XX: o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise, focalizando o desenvolvimento por fases e apresentando a importância da relação do ser humano com o mundo e com o outro. Sem esse mix, não seria possível a produção da subjetividade humana tal como a conhecemos. Estamos em um processo de autoconhecimento lento, mas progressivo, buscando compreender melhor as relações intrapsíquicas e relacionais dos seres humanos. 2020WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 21 1. BELEZA, IDENTIDADE E MERCADO .......................................................................................................................22 2. A SOCIEDADE E OS PADRÕES DE BELEZA ...........................................................................................................23 3. A AUTOESTIMA E A ESTÉTICA...............................................................................................................................25 4. TRANSTORNOS DE IMAGEM E TRANSTORNOS ALIMENTARES .......................................................................26 5. A RELAÇÃO ENTRE PROFISSIONAL E PACIENTE ............................................................................................30 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................................................................33ESTÉTICA, CONSUMO E SOCIEDADE: RELAÇÕES ENTRE ESTETICISTA, PACIENTE, FAMÍLIA E SOCIEDADE PROF.A MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA EM ESTÉTICA 21WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nesta unidade, trataremos de assuntos relacionados à estética, às relações humanas e à saúde, assim como àquilo que envolve e acompanha um procedimento estético e suas entrelinhas. Sabe-se que, na atualidade, a busca pela estética tornou-se uma corrida contra o tempo, pois, a cada instante, surgem novas opções de procedimentos, cirurgias, medicamentos, cremes e demais produtos relacionados a essa busca incansável pela estética dita perfeita. A vaidade é uma forte característica da sociedade em geral apesar da predominância do sexo feminino quando se trata do assunto em questão. Os indivíduos buscam seguir um padrão de acordo com regras e critérios estabelecidos pelo meio do qual fazem parte. Para que não sofram exclusão ou rejeição pelo seu meio, os indivíduos buscam incansavelmente métodos com vistas a que os padrões sejam alcançados. Tal busca envolve profissionais, como dentistas, biomédicos, cabeleireiros, profissionais de educação física, nutricionistas, cirurgiões, fisioterapeutas e esteticistas. Os meios que levam a essa busca são associados, na maior parte dos casos, à mídia, relativa a redes sociais (Twitter, Facebook e Instagram), desfiles de moda, televisão, dentre outros aspectos (BARROS; OLIVEIRA, 2017). As mídias são grandes veiculadoras deste novo culto. Há uma enorme quantidade de anúncios publicitários onde aparecem corpos considerados perfeitos, induzindo os leitores a consumirem uma imensa parafernália para conseguirem a boa forma desejada. Isto seria um investimento e considerado um bem de altíssimo valor. Convencidos disso, quem pode e deseja recorre às operações plásticas, próteses e outros artifícios (MARTINS, 2004, p. 5). Os profissionais da área da estética devem compreender que as razões pelas quais um indivíduo busca procedimentos estéticos não são apenas superficiais. Esses procedimentos resultam em mudanças significativas na vida de quem os realiza e também na vida de quem está à sua volta (BARROS; OLIVEIRA, 2017). Sendo assim, devem-se compreender a cultura e as relações sociais envolvidas na realização dos procedimentos estéticos, percebendo-se o desejo como um todo social, cultural, psicológico, físico e psíquico do indivíduo. 22WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. BELEZA, IDENTIDADE E MERCADO Para compreender o conceito de beleza, é válido retroceder até o surgimento desse termo e estudar, de maneira aprofundada, a forma como ele é visto na atualidade. Segundo Pollachi (2012), a primeira menção ao termo beleza remete à Grécia Antiga. Os gregos relacionavam a beleza à ética, pois o belo associava-se ao bom e ao verdadeiro. Podemos perceber a importância dada à beleza por intermédio das impecáveis esculturas e obras gregas. Nelas, o antropomorfismo foi inigualável. Enquanto os homens da época frequentavam barbearias, as mulheres se maquiavam com sombra e pó facial (o qual, por conter chumbo, acabou causando muitas mortes) e até se depilavam. A própria palavra “cosméticos” deriva do grego kosmetikós, que significa “o que serve para ornamentar”. Os romanos antigos foram reconhecidos pela criação das casas de banho, belas construções em espaço público, com partes separadas para homens e mulheres. Os procedimentos estéticos nesses locais eram realizados por meio de massagens e tratamentos com vapor. Após os banhos, óleos eram aplicados na pele para mantê-la saudável e atraente. Os asiáticos, similarmente, seguiam alto padrão de beleza e boa aparência. Para exemplificar, citemos as gueixas. Elas removiam os pelos do corpo com uma técnica semelhante ao que hoje chamamos de depilação com linha (POLLACHI, 2012). Logo, podemos perceber que alguns desses rituais da antiguidade permanecem atuais. Na Idade Média, a religião cumpria papel dominante na vida das pessoas. O clero combatia a maquiagem com todas as forças já que a prática era tida como sedutora, conduzindo os indivíduos ao pecado. Foi somente a partir do século XIX que nascem a sociedade do consumo e uma nova era nas concepções de beleza. As indústrias passaram a produzir artigos de beleza em grande escala, tornando-os mais baratos e acessíveis (SUENAGA et al., 2012). Anteriormente, os artigos de beleza eram utilizados apenas pela realeza vez que a nobreza fazia uso de joias e maquiagens para denotar poder. O século XX foi marcante e revolucionário nesse mercado da estética e dos padrões de beleza. Tais mudanças ocorreram, principalmente, devido à fusão entre culturas e à industrialização das civilizações. Os meios de informação, como jornais, revistas, cinema e rádio, foram grandes auxiliares na disseminação desses padrões. Comportamentos até então executados exclusivamente por homens passaram a ser reproduzidos por mulheres, dentre eles: fumar, beber em público, discutir política, afirmar a sexualidade e seguir uma profissão. Nos anos 1990, o visual unissex foi definitivamente consagrado. Calças jeans, sapatos baixos e cabelo comprido passaram a ser utilizados por ambos os sexos. Apesar dessa tentativa de aproximação, as diferenças entre homens e mulheres continuavam bem demarcadas: os homens deviam ser másculos e apresentar agressividade, e as mulheres apresentavam corpos malhados e depilados. Os cabelos eram pintados para esconder os fios brancos, e cremes de beleza rejuvenescedores eram usados para manter esse ideal de beleza (SUENAGA et al., 2012). A ciência renovou o mercado da beleza, as pesquisas se multiplicaram, a revolução da cosmetologia avançou, e a maquiagem passou a ser considerada item fundamental no cotidiano das mulheres. Apesar de toda a diferença entre culturas, civilizações e indivíduos, existe uma forte tendência em favor da “globalização” dos padrões estéticos. Vale ressaltar, no entanto, que sempre existem grupos que destoam desse padrão de beleza, como os punks, nerds, hippies etc. Ou seja, a relação entre indivíduo e beleza também varia de acordo com a inserção social. Apesar dos grupos sociais e da suposta globalização mencionada, os padrões impostos pelas culturas passadas ainda se encontram presentes na atualidade (SUENAGA et al., 2012). 23WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Segundo Sampaio e Ferreira (2009), a beleza tem se tornado algo a ser conquistado e desejado pela sociedade contemporânea. Um recorte para exemplificar tal fala pode ser encontrado no fato de as academias, os centros de estética e os consultórios de cirurgia plástica estarem em grande expansão no mercado. As celebridades são reconhecidas por serem belas apesar de possuírem outras tantas competências. As campanhas publicitárias nos meios de comunicação diariamente testam nossa autoestima, colocando em questionamento a visão que possuímos do próprio corpo e imagem. Em um mundo orientado pelo mercado, não ficaria à parte do sistema de produção um objeto de tal resplandecência. Assim, o corpo passa a ser objeto de manipulação por parte do mercado, com suas atuais estruturas de produção e consumo, por meio de um aparelho ideológico alimentado pela mídia de massa, o que favorece que o indivíduo desenvolva representações acerca de seu próprio corpo: o corpo como capital e como objeto de consumo. De tal processo decorre a necessidade de se investir no corpo com toda a determinação, tanto no sentido econômico como na acepção psíquica do termo (SAMPAIO; FERREIRA, 2009, p. 15). 2. A SOCIEDADE E OS PADRÕES DE BELEZA Conforme discutido no tópico anterior, o termo beleza e seus padrões foram se estabelecendo e se modificando com o passar dos anos. No século XXI, o padrão de beleza tornou- se o mais rígidode todos os tempos, trazendo à sociedade uma imensa frustração. A mídia impôs um padrão que não corresponde à maioria das mulheres do mundo, padrão esse que ultrapassa os limites até mesmo do que é considerado um corpo saudável (SCHMIDT; OLIVEIRA; GALLAS, 2008). Na Figura 1, compreendemos a rigidez dos padrões de beleza impostos na atualidade. Figura 1 – Padrão a ser quebrado. Fonte: Vilar (2020). 24WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Adolescentes, homens e mulheres não satisfeitos com seus corpos buscam, a qualquer custo e sem medir esforços, alcançar um padrão de estética inalcançável. Em boa parte dos casos, essa corrida pela beleza está relacionada à idade. E o uso de instrumentos para a recuperação da juventude está cada dia mais evoluído, seja nos procedimentos estéticos seja nas intervenções cirúrgicas. Essa constante busca pela preservação da juventude, do vigor e da beleza é incentivada pelos avanços tecnológicos que vêm acontecendo na estética, na medicina e no mercado de cosméticos (SCHMIDT; OLIVEIRA; GALLAS, 2008). A evolução do cosmético e da medicina possibilita um leque de opções ao consumidor, levando-o a buscar e a investir cada vez mais para alcançar os almejados padrões de beleza. Os fabricantes de cosméticos estão atentos às tendências, materializando os desejos e as necessidades dos consumidores por meio de novos produtos. É um mercado em ascendência que torna tudo muito atrativo ao consumidor, fazendo com que ele consuma cada vez mais, formando-se um ciclo de consumo sem fim (SCHMIDT; OLIVEIRA; GALLAS, 2008). O consumo alienado de mercadorias faz do corpo um objeto de consumo que tem a capacidade de ser reinventado todos os dias. A busca da perfeição corporal é confundida com felicidade e realização ao ocupar o lugar dos valores morais e éticos, o que acaba gerando grandes frustrações. Quem lucra com essa inversão das prioridades humanas é a milionária indústria da beleza (MIRANDA, 2010, p. 2). Segundo Pinheiro e Castro Jr. (2015), os padrões de beleza atualmente estão ligados à magreza embora seja óbvio que a beleza e a magreza não têm afinidade natural. A supervalorização corporal vem instigando os indivíduos a uma série de comportamentos com diversas consequências, como transtornos alimentares (bulimia e anorexia), transtorno dismórfico corporal, compulsões alimentares, tratamentos estéticos invasivos e intervenções cirúrgicas. Pode-se afirmar que esse culto à magreza é resultado dos padrões impostos pela sociedade, isso sem contar os meios de comunicação e as agências de modelos que usam padrões irreais em seus desfiles. A ‘fabricação do corpo’ na contemporaneidade é tão forte quanto na era primitiva: a sociedade pós-moderna infringe sobre o corpo humano a marca de seu momento sócio-histórico atual, utilizando na ‘fabricação do corpo pós- moderno’ todas as tecnologias disponíveis no mais alto grau de conhecimento humano. Laser como peeling, cirurgia plástica e implante de cabelos; químicas e farmacologia para emagrecer, aumentar, endurecer e estreitar as formas; materiais sintéticos como silicone para aumentar os seios, metais como ouro, platina e cobre para segurar a face e esticar os ossos, tudo para tornar o corpo o ícone do momento presente: o belo e o ideal de acordo com sua cultura (PINHEIRO; CASTRO JR., 2015, p. 3). Sendo assim, o corpo tem sido objeto de atenção especial no que tange à beleza, fazendo com que o indivíduo dedique parte de sua vida a cuidados especiais em busca da estética perfeita ou da manutenção e transformação do corpo, sempre visando a se encaixar nos padrões estabelecidos pela sociedade. Multiplicam-se atitudes que mantêm a supervalorização do corpo como algo indissociável da condição de ser e estar no mundo, gerando reflexões a respeito dos valores humanos: o que é superlativo e o que é superficial (o corpo efêmero), movendo-se o foco do diminutivo para o essencial (a própria essência humana) (PINHEIRO; CASTRO JR., 2015). 25WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Hoje, vivemos numa sociedade de imagens, que corporificam pessoas magras, jovens e sem rugas, modelo atrás do qual todas correm. Tal fato gera uma forma de cobrança indireta especialmente nas mulheres. Mas é um tipo de beleza que não tem a ver com nossa cultura. A mistura de raças que há no Brasil resulta numa mulher curvilínea, por exemplo. Aquilo que chamamos de ‘morenidade’ da brasileira desapareceu para dar espaço às figuras esguias, loiras e de seios grandes, enquanto a brasileira é mais baixa, e tem seios pequenos. Isso é grave, pois temos um país com minorias negras muito grandes. Esse modelo perverso deixa a autoestima de muitas meninas e mulheres fragilizada, o que acaba sacrificando a identidade física brasileira (MARTINS, 2004, p. 4). 3. A AUTOESTIMA E A ESTÉTICA Pesquisas afirmam que, na atualidade, os indivíduos buscam uma melhora em sua autoestima e bem-estar por meio da estética. Cuidar do corpo e da aparência deixou de ser atividade supérflua e passou a ser questão de saúde, que gera empregos, renda e divide o País. Os seres humanos dificilmente encontram-se em um estado pleno de satisfação, e o mercado oferece inúmeros cosméticos, serviços e produtos com a finalidade de oferecer essa tão buscada satisfação, saúde, beleza e bem-estar (BORBA; THIVES, 2011). A pressão externa, advinda da mídia, altera a percepção que o indivíduo tem de si, afetando sua autoestima e seu bem-estar. Logo, a beleza passa a ter valor social e o poder de garantir sucessos ou fracassos, seja nas relações pessoais seja nas profissionais. Os profissionais conseguiram captar essa conexão e o interesse dos indivíduos de buscarem, por intermédio da estética, se sentir bem, melhores e mais bonitos. Segundo Borba e Thives (2011), a autoestima nada mais é que a autoaceitação ou não em relação a si mesmo; a aprovação ou reprovação da própria imagem, princípios, crenças e valores. Relaciona-se também ao convívio interpessoal e particular na vida social das pessoas. É comum confundir-se a definição de autoestima com a definição de autoimagem: a principal diferença entre ambas é que a autoestima é como o indivíduo vê a si mesmo, e a autoimagem é como os outros o veem. Quando o indivíduo se posiciona frente ao espelho e não gosta da imagem que vê, na maioria dos casos, inicia-se a busca para alterar sua aparência a partir de produtos, cosméticos, academias, salões de beleza, centros de estética e cirurgias plásticas. A estética possui forte influência nessa causa, ajudando os pacientes a manterem ou melhorarem a boa aparência e auxiliando no equilíbrio entre autoimagem e autoestima (BORBA; THIVES, 2011). 26WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. TRANSTORNOS DE IMAGEM E TRANSTORNOS ALIMENTARES Segundo Saikali et al. (2004), a imagem corporal é a imagem de nosso próprio corpo que formamos em nossa mente. O conceito de imagem corporal envolve três componentes: • Perceptivo: relacionado à precisão da nossa própria aparência física. • Subjetivo: envolve aspectos relacionados à satisfação com a nossa própria aparência. • Comportamental: focaliza situações evitadas pelo indivíduo após experimentar desconforto associado à aparência corporal. Percebe-se que o mundo social discrimina indivíduos não aparentes e que as crenças culturais determinam normas sociais com relação ao corpo humano. Práticas de embelezamento, manipulação e mutilação fazem do corpo um terreno de significados simbólicos. As mudanças sociais no formato do rosto e do corpo comunicam a posição social do indivíduo e, muitas vezes, alteram seu status social. A sociedade é um modelo de preocupações com medidas corporais. E essas preocupações resultam em dietas excessivas, comportamentos não saudáveis de controle de peso e compulsões alimentares, como ressaltam Saikaliet al. (2004). [...] existem evidências que dão suporte de que a mídia promove distúrbios da imagem corporal e alimentar. Análises têm estabelecido que modelos, atrizes e outros ícones femininos vêm se tornando mais magras ao longo das décadas. Indivíduos com transtornos alimentares sentem-se pressionados em demasia pela mídia para serem magros e reportam terem aprendido técnicas não- saudáveis de controle de peso (indução de vômitos, exercícios físicos rigorosos, dietas drásticas) através desse veículo (SAIKALI et al., 2004, p. 31). O comportamento alimentar tem duas principais funções: manter a quantidade de nutrientes necessários à nossa sobrevivência – os processos fisiológicos – e dar o prazer que o ato de comer nos proporciona, liberando neurotransmissores responsáveis pelo prazer e bem- estar (dopamina e serotonina). Outro fator que interfere no comportamento alimentar é o metabolismo, que muda conforme a idade. Quando nosso sistema está em desequilíbrio, é possível que se desencadeiem alguns transtornos alimentares, como a anorexia, bulimia e obesidade. Esses transtornos podem ser caracterizados como doenças causadas por aspectos psicológicos ou emocionais, que levam a pessoa a ter obsessão por determinado tipo de comportamento (SOUZA et al., 2011). Segundo Appolinário e Claudino (2000), a anorexia geralmente se inicia na infância ou na adolescência, porém, pode ser desencadeada também em mulheres na fase adulta. O início é marcado por dietas extremamente restritivas que eliminam alimentos “engordantes” do cardápio, como aqueles que contêm carboidrato. As pacientes apresentam forte insatisfação quanto a seu corpo, e o medo de engordar é um dos sintomas principais desse transtorno. Gradativamente, as pacientes passam a viver exclusivamente em função da dieta, do peso, da comida e da forma corporal, restringindo seu campo de interesse, num gradativo isolamento social. 27WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Segundo o sistema classificatório da última edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV2), existem dois tipos de apresentação clínica da doença: no primeiro, as pacientes apenas empregam comportamentos restritivos associados à dieta (‘tipo restritivo’); no outro grupo (‘tipo purgativo’) ocorrem episódios de compulsão alimentar e/ou comportamentos mais perigosos, como os vômitos auto-induzidos, o abuso de laxativos e de diuréticos. A classificação dos transtornos mentais e do comportamento da Classificação Internacional de Doenças ¾ 10ª Edição (CID-103) já não distingue tipos de anorexia e, portanto, pacientes anoréticas que apresentam episódios bulímicos podem receber os dois diagnósticos: anorexia e bulimia (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000, p. 22). A anorexia é considerada um transtorno de difícil tratamento cuja base terapêutica é uma integração das seguintes abordagens médicas: médica, psicológica e nutricional. A constituição de uma equipe multiprofissional é de extrema importância para o sucesso terapêutico, e os profissionais envolvidos devem trabalhar de forma integrada. Apesar de não existir um agente farmacológico específico para a anorexia, vários medicamentos têm se mostrado úteis. O uso de ansiolíticos e antidepressivos pode ser indicado para pacientes que desenvolvem uma comorbidade psiquiátrica associada. A psicoterapia em suas diversas modalidades (cognitiva, comportamental, interpessoal e de família) ainda é um dos pilares centrais do tratamento (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000). A bulimia, por sua vez, caracteriza-se pela grande ingestão de alimentos de maneira descontrolada, seguida por uma sensação de descontrole, caracterizada como episódios bulímicos. Em um episódio bulímico, calcula-se a ingestão média de três a quatro mil calorias, porém, existem relatos de episódios da ingestão de até 20 mil calorias. Na maioria dos casos, tais episódios acontecem após longos períodos de jejum ou restrição severa de alimentação. Os pacientes desse transtorno buscam compensar esses episódios com o uso de laxantes, diuréticos, prática excessiva de exercícios ou vômito autoinduzido (CAMPOS; HAACK, 2012). Segundo Appolinário e Claudino (2000), o vômito autoinduzido ocorre em cerca de 90% dos casos, sendo, portanto, o principal método compensatório utilizado. No começo do transtorno, o paciente necessita de métodos para induzir o vômito, como a introdução do dedo ou de algum objeto na garganta. Com a evolução do transtorno, a estimulação mecânica deixa de existir. Alguns pacientes bulímicos com quadros mais graves, com vários episódios de vômitos por dia, podem apresentar até ulcerações no dorso da mão pela indução do mesmo. O episódio de compulsão alimentar é o sintoma principal e costuma surgir no decorrer de uma dieta para emagrecer. No início, pode se achar relacionado à fome, mas posteriormente, quando o ciclo de compulsão alimentar-purgação já está instalado, ocorre em todo tipo de situação que gera sentimentos negativos (frustração, tristeza, ansiedade, tédio, solidão). Inclui um aspecto comportamental objetivo que seria comer uma quantidade de comida considerada exagerada se comparada ao que uma pessoa comeria em condições normais; e um componente subjetivo que é a sensação de total falta de controle sobre o seu próprio comportamento. Estes episódios ocorrem às escondidas na grande maioria das vezes e são acompanhados de sentimentos de intensa vergonha, culpa e desejos de autopunição (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000, p. 22). 28WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O tratamento para pacientes bulímicos, assim como na anorexia, também deve ser conduzido por uma equipe multiprofissional. Em relação aos fármacos, os estudos fazendo uso da fluoxetina no controle de episódios de compulsão alimentar têm gerado grande entusiasmo quanto ao uso da fluoxetina por pacientes anoréxicos. O tratamento é extra-hospitalar, devendo- se tentar um período inicial de abordagens, como a psicoterapia cognitivo-comportamental, o aconselhamento nutricional e o uso de psicofármacos, podendo resultar em melhora dos pacientes. A necessidade de internação hospitalar nos casos de bulimia está relacionada à presença de complicações médico-psiquiátricas, ciclos incoercíveis de compulsão alimentar, vômitos, abuso de laxativos e/ou outras drogas, além de outros comportamentos de risco (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000). As complicações clínicas são decorrentes principalmente das manobras compensatórias para perda de peso: erosão dos dentes, alargamento das parótidas, esofagites, hipopotassemia e alterações cardiovasculares, dentre outras. Como na AN, parece haver uma ocorrência aumentada de transtornos do humor e de transtornos de ansiedade em pacientes com BN. Assim, um grande número de pacientes com BN (46% a 89%) evidencia um transtorno depressivo associado em algum momento de sua evolução clínica. Particular atenção deve ser dada à ocorrência de transtornos de personalidade e de abuso de substâncias no diagnóstico das pacientes com BN. Os abusos de álcool e de psicoestimulantes são descritos, mas também podemos encontrar o abuso múltiplo de substâncias (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000, p. 22). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, a obesidade tem sido considerada, mundialmente, a mais importante desordem nutricional. A modernização das sociedades desencadeou um novo modo de vida ao homem contemporâneo, no qual a oferta e o consumo de alimentos aumentaram expressivamente. As modificações na alimentação estão ligadas à crescente aderência da população à dieta ocidental ou dieta moderna. São dietas caracterizadas por serem ricas em gorduras, açúcar refinado e alimentos refinados. Em contrapartida, há quantidade reduzida de fibras e outros carboidratos complexos (WANDERLEY; FERREIRA, 2010). No que diz respeito à atividade física, ainda segundo esses autores, houve transformaçõesna estrutura das ocupações de trabalho. Observa-se nas últimas décadas a mecanização do processo de trabalho e o aumento da participação da população no setor terciário da economia, cujas ocupações requerem menor demanda energética que nos demais setores, tais como o secundário e primário. E a redução nas atividades do setor primário. Tal situação relaciona-se ao fenômeno da transição demográfica, com a concentração da população nas áreas urbanas do país e, ainda, em decorrência do desenvolvimento tecnológico (WANDERLEY; FERREIRA, 2010, p. 4). A obesidade tem causas multifatoriais e resulta da interação de fatores genéticos, metabólicos, sociais, comportamentais e culturais. Na maioria dos casos, associa-se ao abuso da ingestão calórica e ao sedentarismo, em que o excesso de calorias se armazena como tecido adiposo, gerando balanço energético positivo. O balanço energético pode ser definido como a diferença entre a quantidade de energia adquirida e a quantidade de energia gasta na realização das funções vitais e de atividades em geral. Segundo a Organização Mundial da Saúde, classifica- se a obesidade conforme o índice de massa corporal (IMC) do indivíduo, definido pelo cálculo do peso corporal (em quilogramas), dividido pelo quadrado da altura (em metros quadrados) e também pelo risco de mortalidade associada (TAVARES; NUNES; SANTOS, 2010). 29WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Os maiores problemas sociais enfrentados pelos obesos são problemas de preconceito e discriminação no trabalho, na sociedade em geral e nos relacionamentos interpessoais. O preconceito contra a obesidade começa em face de crianças com seis anos de idade. Elas são descritas como preguiçosas, sujas, burras, mentirosas e feias. Os obesos, para alguns tipos de trabalho, são classificados como menos qualificados, com problemas emocionais e interpessoais, tendo ainda menos chance de serem admitidos em escolas de prestígio ou em profissões mais atraentes. Por tudo isso, pode-se afirmar que a obesidade tem impacto na saúde, bem-estar, psicológico e longevidade dos sujeitos (TAVARES; NUNES; SANTOS, 2010). A obesidade constitui-se em condição médica crônica de etiologia multifatorial, o que requer tratamento de múltipla abordagem. A orientação dietética, a programação de atividade física e o uso de fármacos antiobesidade constituem os seus principais pilares. O tratamento convencional para a obesidade de grau III, entretanto, continua produzindo resultados insatisfatórios, com 95% dos pacientes recuperando seu peso inicial em até dois anos. A indicação de cirurgia bariátrica vem se tornando mais frequente devido à dificuldade da abordagem clínica de obesos graves. Deve também procurar a obtenção de mais conscientização da equipe de saúde envolvida no processo terapêutico de obesos sobre a importância da assistência multidisciplinar, buscando a melhora física, psíquica e social, visando a aprimorar e melhorar a qualidade da assistência oferecida (TAVARES; NUNES; SANTOS, 2010, p. 3). Segundo Souza et al. (2005), a família tem papel importante, seja para manter a superalimentação e inatividade seja para desenvolver melhores padrões de alimentação e atividade. Os autores afirmam, ainda, que a família poderá ajudar o paciente por meio de ações que sirvam de exemplo a que ele torne saudáveis seus hábitos alimentares. Assim, não basta que o familiar dê conselhos ao obeso sobre o que é certo, mas que o familiar também se envolva no tratamento, procurando, por exemplo, acompanhar o obeso em caminhadas ou modificando os seus próprios hábitos alimentares. Nesse sentido, a família representaria uma fonte de apoio social que promoveria mudanças. [...] observa-se que as pacientes estão inseridas em um contexto propício à acumulação de peso: padrão de comportamento alimentar incorreto e desorganizado, falha no autocontrole desse comportamento, influência do estresse e de sentimentos negativos e ausência de apoio social e familiar na perda de peso e consequentemente na manutenção. Assim, comprova-se que a obesidade é uma condição complexa, na qual estão envolvidos múltiplos fatores e o tratamento é difícil, uma vez que requer mudanças comportamentais e de hábitos pelo resto da vida (SOUZA et al., 2005, p. 1). O apoio social é definido como qualquer auxílio oferecido por grupos ou pessoas, que causam efeitos emocionais ou efeitos comportamentais positivos. O apoio social provoca consequências físicas (influenciando o comportamento das pessoas) e ajuda a evitar maus hábitos e comportamentos de risco que poderiam alterar os sistemas imunológico, nervoso e cardiovascular. Esse apoio faz sobressair o papel ativo que os indivíduos podem desempenhar na resolução dos seus problemas (SOUZA et al., 2005). No caso do paciente obeso, o apoio social é de suma importância para o fortalecimento e permanência no tratamento. 30WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 5. A RELAÇÃO ENTRE PROFISSIONAL E PACIENTE O relacionamento entre profissional e paciente é a base para todo tratamento, e a qualidade desse relacionamento exerce impacto direto sobre a saúde. Essa relação é construída por intermédio da comunicação verbal e não verbal, e a qualidade dessa comunicação (acompanhada de um bom vínculo terapêutico e da sensibilidade do profissional em perceber o contexto na totalidade) é propulsora de uma eficiente atenção à saúde integral do paciente e de um bom resultado no tratamento, seja ele qual for. Por mais aprimorada que seja uma técnica, ela se torna ineficiente caso a relação entre paciente e profissional não se estabeleça de forma confiável e agradável para ambas as partes (ASSUNÇÃO; QUEIROZ, 2015). Seguindo essa linha de raciocínio, podemos afirmar que o tratamento voltado ao paciente deve ser um tratamento humanizado. Humanizar é estar coeso com os valores. É certificar o humano na ação, e isso se refere ao cuidado, porque só o ser humano tem a capacidade de cuidar no sentido total, isto é, de maneira consciente. Na humanização, encontra-se a dignidade da pessoa humana, o interesse pela vida do outro, que é vulnerável (SARTORI; ALVARENGA, 2016). De acordo com a Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2005), a humanização é um pacto, uma construção coletiva que só pode acontecer a partir da construção e troca de saberes, através do trabalho em rede com equipes multiprofissionais, da identificação das necessidades, desejos e interesses dos envolvidos, do reconhecimento de gestores, trabalhadores e usuários como sujeitos ativos e protagonistas das ações de saúde, e da criação de redes solidárias e interativas, participativas e protagonistas (MOTA; MARTINS; VÉRAS, 2006, pp. 329-330). As equipes multiprofissionais são de extrema importância para a vida do paciente que busca os procedimentos estéticos. Elas demonstram isso ao visarem que os recursos terapêuticos, quando bem utilizados, por exemplo, podem acelerar a recuperação do indivíduo, o qual logo poderá retornar às suas atividades sociais. Devido à grande busca por profissionais da estética após procedimentos operatórios, esses mesmos profissionais vêm buscando cada vez mais qualificar-se frente ao mercado por meio de especializações voltadas às áreas de maior procura (SDREGOTTI; SOUZA; PAULA, 2009). De acordo com o projeto de Lei nº. 959, de 2003, destacam-se as funções voltadas para o profissional que esteja em caso de pós-operatório: anamnese de pele, limpeza de pele profunda, procedimentos pré- e pós-cirúrgicos (drenagem linfática), eletroterapia geral com fins estéticos, massagem mecânica e cosmética, vacuoterapia, bandagens, esfoliação corporal, além da atuação em equipes multidisciplinares dos estabelecimentos de saúde quanto aos procedimentos dermatológicos e de cirurgia plástica (SDREGOTTI; SOUZA; PAULA, 2009). Conforme já estudado, a autoestima é responsável por movimentaros desejos e os anseios da vida de um indivíduo. Porém, transformar a beleza em um único agente regulador de sucessos pessoais pode desencadear uma expectativa muito alta acerca dos procedimentos estéticos. Sendo assim, é papel do profissional da estética ajudar as pessoas a enxergarem o que elas veem em si mesmas, abrindo-lhes a mente para as infinitas possibilidades do que é considerado belo. Os problemas de autoimagem são mais frequentes do que se supunha e aparecem basicamente em clínicas dermatológicas, estéticas e de cirurgia plástica, dado que a pessoa ‘se vê feia’, ou com algum defeito imaginado e espera que a correção estética, apenas, resolva o problema, o que não acontece (IKEMATSU, 2017, p. 4). 31WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para identificar transtornos psicológicos decorrentes da autoestima, é necessário identificar os sinais na ficha de avaliação desse paciente. Eis um exemplo: a pessoa evita ao máximo se olhar no espelho ou observa incansavelmente sua imagem através dele; o tema “aparência” é dominante em suas conversas; sente-se oprimida ou evita tirar fotos por causa da aparência; busca insistentemente tratamentos estéticos (cirúrgicos ou não); e acha que, por conta da aparência “horrível”, não vale a pena viver (IKEMATSU, 2017). Tais transtornos geram uma expectativa muito alta em relação aos resultados dos procedimentos estéticos, fazendo surgir conflitos entre pacientes e profissionais. Embora teoricamente todos possam se beneficiar da melhor estética, na prática existem casos de pessoas que não usufruem dos resultados. Permanecem insatisfeitas mesmo diante de intervenções cirúrgicas tecnicamente perfeitas, demonstrando que a intervenção estética, por si só, não foi suficiente, e atentam à necessidade da atuação psicológica conjunta, sem a qual o ‘defeito estético’ continuará a ser percebido. Longe de terminar, seus problemas mal começaram (IKEMATSU, 2017, p. 5). Pode-se concluir, a partir daí, que cabe ao profissional da estética realizar um atendimento humanizado aos pacientes, tendo em mente que os procedimentos estéticos não podem ser a solução total para os problemas da vida desse indivíduo. Isso significa que o profissional necessita ter outros cuidados, tais como: não interferir nem insistir na realização de procedimentos físicos em pacientes/clientes emocionalmente alterados; identificar os sinais de alteração, considerando faixa etária, sexo, profissão e, principalmente, a expectativa em relação ao tratamento estético. Agindo dessa forma, o profissional estabelece limites no tratamento, evitando problemas futuros. Por que o esteticista é o profissional do futuro? Está comprovado, por meio de pesquisas, que a procura por procedimentos estéticos não cirúrgicos cresceu 390% nos últimos 2 anos. Isso demonstra que a população está buscando por procedimentos mais seguros para conquistar o seu sonho de beleza. O profissional esteta vai na contramão da crise no País. Em 2017, os brasileiros gastaram 206 bilhões de reais só em estética. As pessoas buscam a beleza e preferem não correr riscos, optando, então, pela estética ao invés de cirurgias plásticas – tornando, assim, a estética uma profissão almejada para o futuro. Para mais informações a respeito do culto ao corpo na contemporaneidade, indicamos a obra: DANTAS, J. B. Um ensaio sobre o culto ao corpo na contemporaneidade. Rio de Janeiro: UVA, 2011. O material pode ser acessado em http://www.revispsi.uerj.br/ v11n3/artigos/pdf/v11n3a10.pdf. http://www.revispsi.uerj.br/v11n3/artigos/pdf/v11n3a10.pdf http://www.revispsi.uerj.br/v11n3/artigos/pdf/v11n3a10.pdf 32WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Como é que um desfile de moda do porte da São Paulo Fashion Week continua na passarela após um de seus modelos sofrer um mal súbito e cair? Os questionamentos e as críticas fizeram com que a marca emitisse uma nota de esclarecimento com um pedido de desculpas após o ocorrido em sua 47ª edição. Determinados assuntos não deveriam ser tratados com tanta frieza e desdém, pois a indústria da moda é um dos segmentos que mais crescem no mundo conforme o passar dos anos. As empresas que empregam profissionais para desfiles de moda deveriam tomar exames de saúde como pré-requisito de contratação visto que o modelo que sofreu o mal súbito possuía problema cardíaco não diagnosticado anteriormente. Que esse exemplo, infelizmente, sirva de alerta às demais agências e marcas e também aos profissionais da área, alertando-os para que se cuidem para além da beleza aparente, priorizando, antes, sua saúde física. Para compreender o padrão de beleza citado durante toda a Unidade 2, assista ao filme Good Hair, de 2009. Não se prenda às partes de comédia apresentadas durante o filme, mas, sim, aos depoimentos de padronização que as clientes trazem até o salão. Nesse fascinante documentário, é mostrada a obsessão das mulheres em modificar a forma natural do cabelo, o que as leva a recorrer até mesmo a produtos tóxicos. O comediante Chris Rock mergulha no mundo dos cabelos das afro-americanas. Fonte: Evaristo (2014). Acreditamos que, após assistir ao filme, você compreenderá a importância do tratamento humanizado estabelecido entre profissional e paciente. É um ótimo momento para refletir sobre os padrões de beleza impostos pela sociedade e o sofrimento que esses padrões podem trazer aos indivíduos que tentam a qualquer custo neles se encaixar. Afinal, você já parou para pensar em como seria o mundo se cada um seguisse o padrão de beleza que lhe faz bem? 33WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Na Unidade 1, pudemos compreender o conceito de beleza, como ele foi inserido desde a Antiguidade até os dias atuais e qual foi a bagagem atribuída por intermédio de nossos ancestrais, seja por meio de produtos, métodos ou procedimentos. Traçamos uma pequena linha do tempo para compreender o conceito da palavra autoestima e como ela afeta a vida da sociedade na atualidade, diferenciando autoestima de autoimagem. Na Unidade 2, compreendemos a importância do tratamento humanizado e a boa relação entre paciente e profissional da estética, buscando um melhor resultado e uma proximidade maior com o cliente/paciente. É necessário que haja uma anamnese completa para compreender melhor os motivos que levaram o dado paciente a realizar o tratamento, quais seus planos e suas expectativas futuras, visando à busca da satisfação completa desse cliente. A junção da psicologia com a estética é de extrema importância tanto para os indivíduos que buscam os procedimentos estéticos quanto para os profissionais que realizam tais tratamentos. Para os pacientes/clientes, a junção garante atendimento de qualidade e maior conforto ao se sentir confiança no profissional, criando uma relação para além da relação convencional entre paciente e profissional. Em relação ao profissional, possuir um mínimo conhecimento psicológico garante maior sucesso no procedimento. A partir desse conhecimento, o profissional pode captar se existe apenas um desejo físico de mudança ou se existem transtornos psicológicos por trás do desejo de mudança, que levam o indivíduo a buscar os tratamentos estéticos. Em suma, um tratamento estético eficaz e de qualidade vai para além da técnica: é necessário que exista uma relação humanizada fundamentando todo o atendimento. Antes de se iniciar qualquer tipo de tratamento, algumas perguntas são importantes: Quais são os sinais emocionais e psicológicos que esse paciente carrega consigo? Qual será o grau de satisfação após esse tratamento? Será necessária a inserção de uma equipe multidisciplinar para esse caso? Se não é simples definir expectativas saudáveis para si mesmo, imagine para pacientes/clientes portadores de transtornos psicológicos de autoestima!O ser humano é a integração do físico, químico, emocional e nutricional, inserido no ambiente em que vive. A pessoa é, principalmente, o resultado de suas escolhas: era assim desde seus ascendentes, que acabam transmitindo a seus descendentes. Cabe a você, como profissional, olhar para esse indivíduo de forma única e individual, compreendendo sua singularidade e o meio onde ele está inserido, não estabelecendo qualquer tipo de preconceito ou visão individual do que seja beleza. Se cada profissional realizar seu trabalho desse modo, em breve existirá uma rede humanizada, pacientes e clientes cada vez mais realizados e satisfeitos com seus procedimentos estéticos. 3434WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 35 1. MEDICINA PSICOSSOMÁTICA E A ÁREA DA SAÚDE: UM BREVE HISTÓRICO ................................................ 36 2. CONCEITO DE PSICOSSOMÁTICA ........................................................................................................................ 37 2.1 RELAÇÃO ENTRE ESTRESSE E PSICOSSOMÁTICA ........................................................................................... 38 2.2 TRANSTORNOS MENTAIS................................................................................................................................... 41 2.3 O PAPEL DA FAMÍLIA E DA EQUIPE NO ATENDIMENTO EM PSICOSSOMÁTICA E TRANSTORNOS MEN- TAIS.............................................................................................................................................................................. 43 ESTÉTICA, CONSUMO E SOCIEDADE: RELAÇÕES ENTRE ESTETICISTA, PACIENTE, FAMÍLIA E SOCIEDADE PROF.A MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA EM ESTÉTICA 35WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Na área da saúde em geral, observa-se a existência de inúmeras doenças crônicas que exigem tratamentos contínuos e, consequentemente, sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS) com consultas recorrentes e custos elevados de medicamentos para controle. Esse esforço para sanar o desequilíbrio físico, muitas vezes, apenas atenua o sofrimento do paciente, o qual enfrenta inúmeras dificuldades em sua vida cotidiana, principalmente, relacionadas ao estresse. Nesse contexto, surge a necessidade de se buscar um entendimento complementar e mais profundo quanto ao melhor manejo dos desequilíbrios físico e mental crônicos. A possibilidade da compreensão mais ampla do ser que adoece pode surgir de um esgotamento dos tratamentos tradicionais ou de uma consciência mais abrangente dos profissionais de saúde, pensando-se desde Hipócrates (conhecido como o pai da Medicina) até os dias atuais. Assim, a pessoa, a partir da abordagem psicossomática, passa a ser vista não só como um corpo físico, mas também como sendo constituída de outras dimensões, como a psíquica, social, econômica e cultural, as quais estão interconectadas e podem igualmente afetar o equilíbrio do estado de saúde e/ou doença, tanto física como mental. A abordagem psicossomática não se restringe à Medicina, mas abrange várias profissões da área da saúde, como psicologia, nutrição, fisioterapia, enfermagem etc. Atualmente, tem-se um entendimento abrangente e holístico do fenômeno do processo saúde e doença, considerando-se o ser humano na sua integralidade, nas suas dimensões biopsicossociais. Dessa forma, a doença não tem sua origem restrita a fatores biológicos, mas é também influenciada e desencadeada por fatores psicológicos e sociais. Além disso, a melhoria das condições psíquicas e ambientais contribui ao processo de cura do paciente. Esta unidade visa a apresentar os princípios da abordagem psicossomática, assim como sua relação com o estresse e os transtornos mentais, além de apontar caminhos para o tratamento e prevenção acerca da somatização. 36WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. MEDICINA PSICOSSOMÁTICA E A ÁREA DA SAÚDE: UM BREVE HISTÓRICO Segundo Angerami-Camon (2002), o princípio da história da Medicina se vê intimamente ligado à filosofia uma vez que seu “pai”, o filósofo Hipócrates, sempre considerou a relação entre lesões corporais, estados psíquicos e fatores ambientais. Pode-se dizer que a Medicina já nasceu psicossomática. A perspectiva psicossomática se assemelha ao trabalho de um arqueólogo, pois ambos se propõem a escavar o passado para compreender a evolução e os aspectos mais recentes da história. Em Medicina, olhar o homem como um ser biopsicossocial significa atribuir aos fenômenos característicos da espécie uma vertente biológica, influenciada por suas vivências em sociedade e pelos significados de sua estrutura psíquica individual. É, portanto, diferente em cada ser. Porém, as Universidades da atualidade tendem a formar médicos que apenas conhecem o corpo humano e executam técnicas. Descarta-se o saber humano que se dá pelas relações, inclusive entre médico e paciente. Esses profissionais tornam-se meros prescritores de medicamentos e negam a vertente social do humano e sua interferência na saúde deste. Nesse sentido, podem ser elencadas duas concepções do homem. A primeira tem a visão do homem como totalidade e é advinda de Hipócrates. Para essa concepção, chamada monista, o acompanhamento da doença deve ser feito de modo integrador e dinâmico, considerando como foco o estabelecimento da harmonia do homem consigo mesmo e com seu ambiente de convivência. Já a segunda é nomeada dualista. Ela foca a doença, e sua terapêutica tem o objetivo de localizar e extirpar a patologia do corpo. Vem da concepção de Galeno e trata-se de algo mecanicista, que reduz o homem a um conjunto de funções mecânicas. A concepção monista teve influência até meados do século XVII, quando René Descartes dividiu o homem em corpo e mente. Por um lado, essa divisão contribuiu para os avanços científicos da época. Atribuiu a função do médico ao corpo, e a Igreja acabou sendo direcionada a cuidar da alma. Logo, a ciência avançou uma vez que a Igreja exercia imensa influência na sociedade da época. Foi atribuído ao corpo humano o funcionamento mecânico, sendo considerado a máquina perfeita e sujeito às leis das ciências exatas. É considerado um bom fruto dessa divisão o fato de se poder estudar o corpo humano com mais detalhes, gerando grandes avanços para a compreensão fisiológica e patológica do corpo humano. Contudo, a relação entre médico e paciente tornou-se mais fria, sendo adotado, naturalmente, o modelo laboratorial de uma relação técnica no exercício clínico da Medicina. Esses avanços científicos propiciaram a eclosão da Revolução Industrial, período em que se atribuíram ao homem as mesmas características das máquinas industriais, as quais funcionavam perfeitamente segundo sua montagem e criação. Se houvesse algum erro de funcionamento, ele seria atribuído à perda de funcionalidade de alguma peça. Também o corpo humano passa a ser tratado dessa forma, como uma máquina a ser reparada, desconsiderando-se os aspectos psíquicos e sociais envolvidos no aparecimento e evolução da doença. Ainda de acordo com Angerami-Camon (2002), é apenas a partir dos estudos do médico Sigmund Freud que o homem volta a ser visto como um ser completo. Ao descobrir o inconsciente e desenvolver a psicanálise, Freud demonstra a importância de se considerar a história do paciente para a compreensão da doença e o restabelecimento de sua saúde. O corpo deixa de ser simplesmente máquina quando consideramos sua história, a qual é construída pela interação entre corpo, mente e ambiente. 37WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A ciência é cindida:enquanto as ciências exatas se ocupam da observação visual do fato e da busca por dados mensuráveis, as ciências humanas partem da experiência vivida do homem, considerando as relações que ali se estabelecem e não categorizando o homem, mas, antes, descrevendo-o a partir de formas fundamentais da experiência de viver. 2. CONCEITO DE PSICOSSOMÁTICA A psicossomática não exclui a contribuição das ciências exatas para o entendimento do homem. Antes, ela permite aferir níveis satisfatórios de funcionamento fisiológico, como o exemplo dos batimentos cardíacos ou dos níveis de substâncias na corrente sanguínea. O problema está em reduzir o homem ao mero funcionamento homeostático e acreditar que, conhecendo o corpo, conhece-se toda a realidade humana. Freud provou, com a psicanálise, que há homeostase psíquica. Uma vez que o inconsciente se manifesta, pode-se observar níveis satisfatórios ou não do funcionamento psíquico. Quando não são satisfatórios, os danos podem transpassar a mente, atingindo o corpo. Contudo, alguns profissionais partiram para um novo reducionismo, no qual todas as manifestações corporais do homem são ligadas a seu funcionamento inconsciente, reduzindo o homem a apenas mente, atribuindo a certas doenças padrões psíquicos e levando a crer que o paciente que apresentá-los possui um distúrbio psíquico específico. De acordo com Mello Filho (1992), a abordagem psicossomática da atualidade defende a relação biopsicossocial do homem, considerando aspectos mensuráveis de homeostase, sua construção psíquica e o modo de se relacionar com a sociedade e consigo mesmo. Não são descartadas características psíquicas comuns em pacientes com algumas patologias. Contudo, não se pode reduzir o homem a apenas um aspecto, seja ele qual for. A psicossomática, portanto, é também filosofia quando defende uma visão de ser humano e uma postura profissional uma vez que o olhar do profissional para com seu cliente deve ser sistematizado no sentido de ser mais abrangente e multilateral. Conforme Perestrello (1974), em psicossomática, torna-se fundamental a visão de grupo. Têm-se como referencial teórico os estudos do corpo, da mente e do contexto social, sendo evidenciada no método a consideração da relação humana existente entre médico e paciente. Propõe-se a integração dos três aspectos fundamentais da vida humana para exercício de toda e qualquer intervenção ou pesquisa em saúde. Por outro lado, a psicossomática não exclui o método clínico, mas se dispõe a agregar conhecimento e a ampliar a potencialidade terapêutica da Medicina e demais profissões ligadas à atenção ao homem. Seu método defende: a postura profissional da compreensão; a criação de vínculos; a percepção e reflexão de sentimento relacionado à doença; e o encaminhamento à psicoterapia e outras especialidades médicas quando necessário e oportuno. Essa postura não torna o médico um terapeuta ou especialista em todas as áreas humanas, mas apenas amplia seu olhar para o indivíduo e o permite uma maior aproximação com seu cliente. Tampouco se caracteriza por uma medicina alternativa, mas uma extensão do método clínico. É verdade que a psicossomática favorece a eficiência do diagnóstico e o acompanhamento da evolução do quadro. Contudo, por ser um método mais minucioso, ele limita o número de atendimentos diários. Assim, essa prática é pouco incentivada. Infelizmente, há uma contaminação econômica que permeia a sociedade mais ampla e influencia as práticas profissionais, desestimulando a prática psicossomática e seu potencial curativo. Nesse sentido, a Associação Brasileira de Medicina Psicossomática trabalha de modo a disseminar sua filosofia e os métodos eficazes de sua proposta terapêutica. 38WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Mello Filho (1992) também comentou que a designação Medicina psicossomática não abrange a totalidade dos fenômenos que influenciam a saúde do homem, como os sociais e culturais, e sugeriu, baseado nas ideias de Perestrelo (1974), que a designação mais completa poderia ser Medicina psicossociossomática. Porém, como o termo original já está definitivamente implantado, ele permanece mesmo sendo incompleto. Mello Filho (1992) explana que, atualmente, a visão psicossomática já conquistou um espaço importante entre as práticas médicas, tendo como prova disso a atual definição de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo a qual saúde não se restringe somente à ausência de doença, mas abrange um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Apesar de ser alvo de críticas, esse conceito consegue ser mais próximo de uma visão de homem integral, pois considera as influências biopsicossociais. 2.1 Relação entre Estresse e Psicossomática O estresse está presente em nossas vidas diariamente em maior ou menor grau, sendo um componente, inclusive, necessário à nossa sobrevivência. Porém, quando em excesso, gera graves consequências, como veremos a seguir. Ele tem sido muito estudado por autores da psicossomática, pois, nas reações ao estresse, fica bastante clara a ligação entre mente e corpo. Basta pensarmos, por exemplo, em quando levamos um susto: imediatamente, nossa pupila dilata, sentimos o coração disparar, as mãos ficam suadas, dentre outras reações orgânicas. As respostas fisiológicas do organismo ao estresse são necessárias para a regulação da constância do meio interno. Cannon (1911) conceituou essa regulação como sendo uma função que chamou de homeostasia, que é a tendência do organismo vivo de reparar o dano causado por estímulos de qualquer tipo. Estudou também as reações do organismo à emoção e delineou o conceito do fenômeno “luta ou fuga”. As situações de perigo ativam o sistema nervoso autônomo e a medula suprarrenal, que preparam o corpo para a luta ou fuga. A adaptabilidade e o desenvolvimento da resistência aos efeitos do estresse e dos estímulos nocivos são pré-condições para a vida e a sobrevivência. Tal adaptação pode envolver reações específicas de defesa, como o desenvolvimento de anticorpos contra vírus, mecanismos envolvidos na adaptação ao frio ou à vida em grandes altitudes ou a hipertrofia muscular por trabalho pesado e prolongado. Pode ser que o ser humano tenha começado a padecer da Síndrome Geral de Adaptação quando seus objetivos, inicialmente colocados à disposição da sobrevivência, foram deslocados para o atendimento das necessidades sociais e, principalmente, afetivas. Os agentes estressores que continuamente estimulam a pessoa não representam mais apenas ameaças ao seu bem-estar físico e imediato, mas, antes disso, representam também estressores que estimulam uma tomada de atitude diante de ameaças subjetivas e abstratas. Em algum momento de nossa pré-história, talvez o ser humano não necessitasse mais apenas sobreviver, como teria sido a preocupação absoluta de nossos ancestrais das cavernas. Mais que isso, necessitava sobreviver socialmente, profissionalmente, familiarmente e economicamente: não bastava adaptar-se apenas ao aqui e agora, como exigência momentânea de sua trajetória existencial, mas, sobretudo, o ser humano devia adaptar-se ao seu passado, ao seu presente e ao seu futuro. O aqui e o agora são apenas uma parte do esforço adaptativo do ser humano e, mesmo assim, não se trata de uma atitude voltada exclusivamente para a manutenção prática de sua existência. Psicologicamente, a adaptação é convocada para que o indivíduo exista desta ou daquela forma, e não simplesmente para que exista. Além disso, o ser humano tem de se adaptar emocionalmente às suas cicatrizes do passado e às suas perspectivas do futuro. 39WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O ser humano tem de se adaptar aos problemas da infância, às perdas e abandonos sofridos, às agressões, ao medo e às frustrações, às expectativas que seu grupo social lhe dirige e a uma identidade conveniente,mas nem sempre sincera. Precisa se adaptar à competição e à manutenção de seu espaço social, às angústias do amor e à conquista da segurança para seus entes queridos. Enfim, tem de se adaptar às ameaças impalpáveis e abstratas, ameaças essas encontradas em seu próprio interior, como se fosse um inimigo sempre presente. Tudo isso, ou seja, todos esses estímulos estressores são capazes de convocar a Síndrome Geral de Adaptação por tempo indeterminado. Segundo Ballone, Pereira Neto e Ortolani (2002), a maioria dos estímulos capazes de produzir ansiedade, estresse e esgotamento não é exclusivamente proveniente do mundo externo. Em geral, eles são internos (conflitos, angústias, frustrações) e determinam a ansiedade constante e patológica, a qual pode levar ao esgotamento. A afetividade é um equipamento regulador da percepção pessoal que temos do mundo, sendo a maior responsável pela percepção dos estímulos do jeito que parecem ser a cada um (agressivos ou não, agradáveis ou não etc.). É como se cada pessoa tivesse uma lente afetiva pela qual cada fato do dia a dia é interpretado como bom, mau, ameaçador, reconfortante etc. Dessa forma, pode-se dizer que o significado dos estímulos para a pessoa é mais importante que o estímulo em si. No estado de estresse, ocorrem alterações funcionais em todos os mecanismos neurorreguladores, deprimindo os mecanismos homeostáticos do organismo e deixando-o vulnerável a infecções e outros distúrbios. Os estressores biológicos, psicossociais e ambientais costumam estar associados à maioria dos transtornos mentais e de comportamento, levando-se em consideração a vulnerabilidade biológica específica em cada um deles. O estresse e a ansiedade (reflexo emocional do estresse) são fundamentais para a adaptação e sobrevivência; no entanto, quando não há tempo suficiente para a recuperação do esforço psíquico da ansiedade, os recursos adaptativos acabam se esgotando. Ballone, Pereira Neto e Ortolani (2002) realizaram um intenso estudo acerca da relação entre estresse e psicossomática, corroborando com a ideia de diversos autores de que o estresse estaria na origem de grande parte dos transtornos mentais e também das doenças físicas. Quando o cérebro, independentemente da vontade, interpreta alguma situação como ameaçadora ou tensa, todo o organismo passa a desenvolver uma série de alterações denominadas, em seu conjunto, como Síndrome Geral da Adaptação ou estresse. Na primeira etapa dessa situação, ocorre uma reação de alarme, quando todas as respostas corporais entram em estado de prontidão geral, ou seja, todo o organismo é mobilizado sem envolvimento específico ou exclusivo de algum órgão em particular. No entanto, se esse estresse continua por um período mais longo, sobrevém a segunda fase, chamada de fase de adaptação ou resistência, a qual acontece quando a tensão se repete. Nessa fase, o corpo começa a acostumar-se aos estímulos causadores do estresse e entra num estado de resistência ou de adaptação. Ainda segundo os autores supracitados, durante esse estágio, o organismo adapta suas reações e seu metabolismo para suportar o estresse por um período de tempo. Nesse estado, a reação pode ser canalizada para um órgão específico ou para um determinado sistema, seja o sistema cardiológico, a pele, o sistema muscular ou o aparelho digestivo, dentre outros. Entretanto, a energia dirigida para a adaptação da pessoa à solicitação estressante não é ilimitada. Se o estresse continuar, o corpo todo pode entrar na terceira fase, o estado de esgotamento, quando haverá queda acentuada da capacidade adaptativa, sendo um estado em que as reservas de recursos para a adaptação acabam se esgotando, havendo alterações orgânicas significativas, começando pela hipófise, pelas glândulas suprarrenais (secretoras de adrenalina e cortisona) e por diversas alterações endócrinas, enzimáticas e eletrolíticas. 40WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA As principais alterações orgânicas da ansiedade crônica na fase de esgotamento são: descontrole de pressão arterial, alteração do ritmo cardíaco, alterações do sistema imune e alterações nos níveis de glicose no sangue. No nível psíquico, há apatia, desinteresse, desânimo e pessimismo. Em resposta ao aumento da produção de dopamina, noradrenalina e do fator liberador da corticotrofina pelo hipotálamo, a hipófise aumenta a produção de seus hormônios, tais como a vasopressina, a prolactina, o hormônio somatotrófico (ou hormônio do crescimento – GH) e o hormônio estimulador da tireoide (TSH). Em relação ao GnRH ou hormônio liberador de gonadotrofinas, produzido no hipotálamo e capaz de estimular a hipófise para a liberação dos hormônios gonadotróficos, pode ocorrer no estresse tanto inibição quanto aumento desmedido. Por causa de tudo isso, o hipotálamo é considerado o principal sítio cerebral responsável pela constelação das respostas orgânicas aos agentes estressores. A hipófise, por sua vez, tem como uma das principais ações estimular o sistema endócrino, notadamente, as glândulas suprarrenais. A resposta imune ao estresse se dá por meio de três sistemas: nervoso, endócrino e imune. A partir da produção do fator liberador da corticotrofina, o hipotálamo estimula a hipófise a aumentar a produção da corticotrofina, chamada também de hormônio adreno-corticotrófico (ACTH), o qual, por sua vez, agirá nas glândulas suprarrenais. Nas glândulas suprarrenais, haverá aumento na liberação de seus hormônios, o cortisol e as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). Esses últimos são de fundamental importância na resposta fisiológica ao estresse, sendo que o aumento da adrenalina e noradrenalina inibe as respostas dos anticorpos, diminuindo a ação imune do organismo. De acordo com Mello Filho (1992), na realidade, toda essa revolução fisiológica produzida pelo estresse visa a colocar o organismo à disposição da adaptação. Não se trata apenas da adequação paulatina do desempenho físico e visceral às solicitações, mas, sobretudo, de fornecer quantidade suficiente de ansiedade para a manutenção do estado de alerta. As reações de estresse resultam, exatamente, do esforço adaptativo às doenças. Como no exemplo do estado conhecido como esgotamento, as doenças surgem quando o estímulo estressor for muito intenso ou muito persistente, sendo o esgotamento o custo (mental e biológico) do esforço adaptativo. Enfim, a síndrome geral de adaptação viabiliza as atitudes adaptativas necessárias para a manutenção da vida diante de um mundo dinâmico e altamente solicitante. Diante dessa maravilhosa característica adaptativa proporcionada por essa síndrome, é curioso o fato de esse tão brilhante mecanismo se relacionar com o desenvolvimento de transtornos emocionais, físicos e psicossomáticos. Para Silva (2006), os efeitos da síndrome geral de adaptação sobre o indivíduo ao longo do tempo compõem o substrato fisiopatológico das doenças psicossomáticas. Cada órgão ou sistema será envolvido e apenado pelas alterações fisiológicas continuadas do estresse, de início apenas com alterações funcionais e, depois, com lesões estruturais. Em virtude disso, podemos dizer que as doenças psicossomáticas são aquelas determinadas ou agravadas por motivos emocionais já que é sempre a emoção que detecta a ameaça e o perigo, sejam eles reais, imaginários ou fantasiosos. De modo geral, os acontecimentos da vida repercutem na mente e no cérebro, que constituem seu substrato físico. Essas repercussões propagam-se para o corpo e atingem a saúde como tal. A gravidade da reação não é completamente preditável da intensidade do estressor, a depender da vulnerabilidade e sensibilidade da pessoa. Dependendo da biografia do indivíduo e da sua vulnerabilidade como ser socio-psicossomático, ele poderá reagir a acontecimentos e circunstâncias estressantes de formas diferentes. 41WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2.2 Transtornos Mentais Durante séculos, as pessoas com sofrimento mental foram afastadas do resto da sociedade, algumas vezes até encarceradas em condições precárias, sem direito a se manifestarem na condução de suas vidas. Transtornos mentais, como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, transtorno bipolar e esquizofrenia, podem afetar qualquer pessoa em qualquer época da sua vida, sendo os mais frequentes a ansiedade e a depressão, não havendo uma única explicação para a origem desses transtornos embora fatores biológicos, sociais e psíquicos estejam associados à sua origem e evolução. De acordo com Botega (2004), no Brasil, vinte e quatro pessoas morrem diariamente por suicídio, cujo impacto é obscurecido pelos homicídios e pelos acidentes de trânsito devido à subnotificação do problema, que é, muitas vezes, classificado como morte por causas externas. Tal classificação também inclui mortes decorrentes de violência e acidentes, o que dificulta a precisão dos números. O Instituto de Medicina Legal (IML) é o órgão responsável pelo envio das informações das declarações de óbito ao Ministério da Saúde, porém, nem todas as regiões do País preenchem corretamente os dados. Conforme apontam Meleiro, Teng e Wang (2004), a associação entre suicídio e transtornos mentais é de mais de 90%. Entre os transtornos mentais associados ao suicídio, a depressão é o que mais se destaca. Os outros transtornos mentais que aparecem na literatura associados ao suicídio são os transtornos bipolares do humor, o abuso de álcool, a esquizofrenia e os transtornos de personalidade. Estudo realizado na UNICAMP revelou 150 tentativas de suicídio para cada 100.000 habitantes, sendo que, em 75% dos casos, a tentativa se deu entre menores de 27 anos, principalmente do sexo feminino. A depressão é apontada nos dias de hoje como a quarta doença mais presente no mundo: estima-se que a doença afeta 121 milhões de pessoas, e menos de 25% dos deprimidos têm acesso ao tratamento. Calcula-se que de 5% a 10% da população mundial sofrerá ao menos um episódio de depressão ao longo da vida. As mulheres apresentam chances maiores de se deprimirem (10 a 20%) se comparadas aos homens (5 a 12%). Cerca de 15% dos deprimidos graves se suicidam segundo a OMS. Conforme o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV, 4ª edição), a característica essencial de um episódio depressivo maior é um período mínimo de duas semanas durante as quais há um humor deprimido ou perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades. Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável ao invés de triste. O indivíduo também deve experimentar, pelo menos, quatro sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui: alterações no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões; pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida; e planos ou tentativas de suicídio. A depressão pode ser classificada como leve, moderada ou grave. Nos quadros moderados e graves, sempre há necessidade de se mapear se há a presença de ideias de morte ou ideação suicida (planejamento). O termo depressão já era usado em dicionários médicos em 1860, referindo-se ao fenômeno de diminuição de ânimo que acometia pessoas que sofriam de uma doença. Segundo Dalgalarrondo (2000), é muito difícil, no campo da psicologia e da psiquiatria, estabelecer os limites entre normalidade e anormalidade, exceto em casos em que as atitudes do indivíduo são extremamente desviantes da norma. O estudioso nessa área não julga moralmente o seu objeto, mas busca apenas observar, identificar e compreender os diversos elementos da doença mental. Além disso, rejeita qualquer tipo de dogma, seja ele religioso, filosófico, psicológico ou biológico. O conhecimento que busca está permanentemente sujeito a revisões, críticas e reformulações. 42WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O campo da psicopatologia inclui um grande número de fenômenos humanos especiais, associados ao que se denominou historicamente de doença mental. A psicopatologia tem boa parte de suas raízes na tradição médica (na obra dos grandes clínicos e alienistas do passado), o que propiciou, nos últimos dois séculos, a observação prolongada e cuidadosa de um considerável contingente de doentes mentais. Ainda segundo Dalgalarrondo (2000), não se pode compreender ou explicar tudo o que existe em um homem por meio de conceitos psicopatológicos. Assim, ao se diagnosticar uma pessoa como tendo um transtorno mental, isso nunca explicará totalmente sua vida e seus sentimentos: sempre restará algo que transcende a psicopatologia e mesmo a ciência. Os conceitos de saúde e de normalidade em psicopatologia geram uma questão de grande controvérsia. Quando se trata de casos extremos, cujas alterações comportamentais e mentais são de intensidade acentuada e de longa duração, o delineamento das fronteiras entre o normal e o patológico não é tão problemático. Entretanto, há muitos casos limítrofes, nos quais a delimitação entre comportamentos e formas de sentir normais e patológicas é bastante difícil. Nessas situações, o conceito de normalidade em saúde mental ganha especial relevância. Aliás, o problema não é exclusivo da psicopatologia, mas de toda a Medicina. Para Dalgalarrondo (2000), a doença mental inclui vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica, como se os doentes mentais tivessem uma dimensão própria, não sendo apenas uma manifestação de exageros do normal. Por outro lado, existem completas conexões com a psicologia do normal, pois o mundo do doente mental não é totalmente estranho ao mundo normal. Conforme Fontenelle (2008), de modo geral, o sofrimento emocional em nosso meio é carregado de estigma. As pessoas têm vergonha de admitir suas angústias e aflições e de expressar que passa pelos seus pensamentos uma forte ideia de que a morte seria um alívio para o sofrimento, uma forma de saída mágica dos conflitos. Isso costuma ser escondido ou camuflado, dificultando ainda mais o acesso à pessoa e o oferecimento de ajuda ou suporte especializado. A sociedade, apesar dos avanços da Medicina em diagnosticar os transtornos mentais com mais precisão e de serem várias as possibilidades de intervenções psicoterápicas e farmacológicas, manifesta seu preconceito. Segundo pesquisas, apenas 30% dos deprimidos procuram ajuda. É necessária uma maior conscientização da população acerca dos transtornos mentais e das formas de tratamento e serviços existentes para o atendimento à população, partindo do entendimento de que não se trata de má vontade, preguiça ou de uma “frescura” do indivíduo, mas, sim, de doenças que realmente existem, assim como as físicas, e que podem trazer consequências graves. 43WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Essas doenças podem levar o sujeito à morte, seja por suicídio seja pelo fato de, muitas vezes, a pessoa acometida por determinados transtornos se colocar constantemente em situações de risco ou até mesmo por adquirir doenças físicas concomitantes às mentais (partindo-se da ideia de que o ser humano é um ser biopsicossocial e que o adoecimento se dá também de forma global). Figura 1 - No limiar da eternidade. Vincent Van Gogh (1890). Fonte: Tendências do Imaginário (2017). 2.3 O Papel da Família e da Equipe no Atendimento em Psicossomática e Transtornos Mentais De acordo com Silva (2006), a família tem papel fundamental no processo de cura e tratamento do paciente, devendo oferecê-lo suporte emocional. No entanto, muitas vezes, a própria família é que contribui para o processo de adoecimento, seja físico ou mental, atuando como fonte de estresse e disfunções, sendo necessárioobservar quem é a pessoa que realmente é capaz de dar o necessário suporte nesse momento. Muitas vezes, algum membro familiar precisa ser encaminhado para uma terapia concomitante ao tratamento. Em outros casos, pode ser interessante uma terapia familiar quando se trata de famílias muito disfuncionais. 44WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Além disso, Silva (2006) menciona o papel do médico e do restante da equipe, que devem ter uma postura acolhedora e promover a escuta a todo tempo, entendendo que muitas vezes a resposta ao adoecimento está relacionada à história de vida do sujeito. Por exemplo: o indivíduo pode relatar que suas crises de gastrite sempre começam após discussões com o marido ou quando passa por situações de estresse no trabalho etc. Um relato desse tipo não deve ser banalizado. Pelo contrário, na medida do possível, deve-se pensar junto com o paciente sobre os fatores que desencadeiam essa crise, além de possíveis formas de amenizar essa situação. Os profissionais não devem julgar o paciente, mas, sim: (I) trabalhar com os mitos que ele possa ter a seu favor acerca da doença; (II) ter muita empatia e respeito a diferentes culturas, religiões e pontos de vista; (III) e entender todo o entorno do processo saúde-doença, fazendo encaminhamentos a outros profissionais quando necessário. Deve-se manter baixa tensão emocional ao atender, ter percepção de dados subjetivos e de sua articulação com dados objetivos, ou seja, deve-se ver além da comunicação verbal. Deve- se ir além do interesse investigativo, perguntando e levantando-se hipóteses sobre a percepção e reflexão de seus próprios sentimentos relativos à doença. Pessoas com transtornos mentais necessitam de acompanhamento adequado da saúde mental pública, pois muitas são as dificuldades encontradas em suas vidas quanto a aspectos biopsicossociais. Nesse sentido, a família deve se engajar no processo de tratamento e entender sobre a doença e o tratamento, pois é no convívio diário que o acompanhamento deve ocorrer. Todo transtorno mental, após ser diagnosticado, deve ser tratado, visando ao bem-estar pessoal e familiar dos envolvidos. Havendo tratamentos específicos que auxiliem na diminuição ou remissão dos sintomas, a pessoa, quando tratada corretamente, pode muitas vezes retornar às suas atividades habituais sem sofrimento psíquico. A maior parte dos autores em psicossomática concorda que, apesar de não se tratar de forma alguma de uma prática alternativa e de a todo tempo haver a necessidade de se considerar a importância dos avanços da Medicina, há de se reconhecer a importância das chamadas terapias alternativas, que podem ser usadas de forma concomitante ao tratamento médico, psicológico etc. As terapias alternativas, também nomeadas como complementares e/ou integrativas, são denominadas pela OMS como Medicina tradicional. Elas compreendem um grupo de práticas de atenção à saúde não alopáticas e englobam atividades, como acupuntura, naturopatia, fitoterapia, meditação, reiki, terapia floral, dentre outras. Procuram atender o indivíduo de forma holística, baseando-se na confiança e no vínculo terapeuta-usuário. A própria OMS vem estimulando o uso das terapias alternativas/complementares desde que elas sejam feitas de forma racional, segura, eficaz e com qualidade, apontando seu crescimento tanto em países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos. 45WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA De acordo com Brasil (2013), o Ministério da Saúde, seguindo diretriz da OMS, aprovou, em maio de 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde. Essa política legitimou a oferta das práticas oferecidas por profissionais nas Unidades Básicas de Saúde, bem como das equipes de Saúde da Família, beneficiando uma parcela considerável da população usuária do SUS. A Política Nacional de Práticas Integrativas pretende desenvolver abordagens à saúde que busquem estimular a promoção, prevenção e recuperação da saúde, utilizando métodos naturais, pautados na escuta, acolhimento e desenvolvimento de vínculos terapêuticos entre usuário, família e profissional de saúde de modo a auxiliar no entendimento do conceito ampliado de saúde e no autocuidado. Quando se trata de estresse e adoecimento, é impossível não pensar no mundo do trabalho. Segundo Freud (1996), os indivíduos reagem de forma diferente às dificuldades das situações de trabalho e chegam a ele com sua história de vida pessoal, sendo que os problemas, nesse contexto, nascem de relações conflituosas. De um lado, encontram-se a pessoa e sua necessidade de prazer; do outro, a organização, que tende ao automatismo e à adaptação do trabalhador a um determinado modelo. O trabalho, como parte do mundo externo ao sujeito e do seu próprio corpo e relações sociais, representa uma fonte de prazer ou de sofrimento desde que as condições externas oferecidas atendam ou não à satisfação dos desejos inconscientes. Hoje em dia, é muito comum o uso da expressão Síndrome de Burnout, entendida como um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, relacionado diretamente ao mal-estar gerado no ambiente de trabalho do indivíduo. Dessa forma, torna-se cada vez mais interessante o desenvolvimento de projetos que atendam ao trabalhador, visando a melhorar sua qualidade de vida. Cabe refletirmos sobre qual seria o papel da psicologia frente a essa realidade, sobre como deveria ser a atuação dos psicólogos nas empresas visando ao bem-estar dos funcionários e à resolução/amenização de conflitos, além da possibilidade de encaminhamento para a psicoterapia individual ou em grupo (sem prejuízo de outras áreas, como a Educação Física e a ginástica laboral). 46WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O Livro Quem ama não adoece, escrito pelo médico Marco Aurélio Dias da Silva, apresenta uma profunda investigação sobre o papel das emoções na origem e cura das doenças. O autor revela as estreitas e pouco compreendidas relações entre o corpo e a alma, discutindo os componentes psicológicos de inúmeras doenças e questões como envelhecimento, medo da morte, sexualidade, relações familiares e trabalho. A obra possui linguagem simples e acessível mesmo a quem não é estudante ou profissional da área. Fonte: Biernath (2016). Apesar de ser uma animação, o longa Divertida Mente (2015) é um ótimo material de estudos em psicologia. Trata-se da história da garotinha Riley, que se muda de cidade e precisa abandonar os amigos e a escola. Enquanto isso, suas emoções passam por uma verdadeira confusão. De forma bem-humorada e didática, o filme mostra a importância da emoção na vida das pessoas e como ela assume valor na vida de cada um. Também mostra que, embora desejemos ter alegria o tempo todo, emoções como raiva, medo e tristeza fazem parte da vida e são fundamentais para a saúde de nosso psiquismo, sendo necessário aprender a lidar com elas. Por se tratar de um filme com formato infantil, não nos deparamos com a seriedade que o filme tem a propor, dando importância às emoções como fator influenciador de pensamentos e comportamentos, não sendo diferente da perspectiva apresentada pela psicossomática em relação às emoções como fator influenciador e influenciável. 47WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O ser humano é um todo integrado, não existindo na prática uma separação entre mente e corpo. Sendo assim, processos físicos não estão dissociados de processos mentais. Partindo desse pressuposto, todos nós somatizamos em maior ou menor grau, dependendo do evento estressor bem como de nossos recursos físicos e emocionais. Seguindo essa linha de raciocínio, nenhuma doença é totalmente física ou totalmentemental, já que o ser humano é sistêmico, apresentando uma abordagem multifatorial na determinação de seus comportamentos bem como no desenvolvimento de qualquer transtorno. Em outras palavras, o homem é biopsicossocial e também espiritual. Qualquer teoria ou conceito que não vá ao encontro dessa multideterminação do homem é reducionista. Sendo assim, a qualidade de nossos pensamentos e sentimentos repercutirá na qualidade de nossas emoções, podendo causar adoecimento físico e mental. 48WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Na Unidade 3, buscaram-se esclarecer os aspectos de integralidade da saúde humana, demonstrando-se a interdependência entre os aspectos biológicos, sociais e psíquicos. Como apresentado, a doença não tem sua origem restrita a fatores biológicos, sendo também influenciada e desencadeada por fatores psicológicos e sociais. Além disso, o ambiente onde o indivíduo se encontra altera significativamente a qualidade de suas relações e, por consequência, sua saúde. Depois disso, versou-se sobre o conceito de psicossomática, valorizando a relação do homem com o mundo que o cerca, esclarecendo-se que qualquer visão que desconsidera a multiplicidade de fatores influenciadores do bem-estar humano contribui para uma visão determinista e incompleta da ideia de saúde. Ainda, buscou-se refletir sobre como fatores estressores e ansiógenos alteram diretamente a condição mental dos indivíduos. Vimos que tanto o estresse como a ansiedade são inerentes à condição humana, mas, quando exacerbados, podem gerar transtornos mentais, os quais surgem como sintomatização de uma condição social e psíquica de desordem e desequilíbrio. A pessoa que adoece mentalmente ainda carrega inúmeros estigmas e nem sempre é bem compreendida e assistida pela sociedade como um todo. Isso decorre do tabu de que se reveste a doença mental, por vezes, em virtude do próprio desconhecimento que a população geral tem acerca do assunto. A responsabilidade pela saúde mental humana deve ser compartilhada, pois, sem vínculos e contextualização ambiental, não se promove saúde mental. Por fim, entendemos que o cuidado em saúde deve ter caráter monista, integrado e compartilhado. Tanto a família quanto os profissionais de saúde estão implicados em algo que é processual e qualitativo. Ninguém dá ou vende saúde: ela é promovida a partir das relações humanas de cuidado que consideram o ambiente, as especificidades de cada ser humano, suas características biológicas e seu potencial de transformação. 4949WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 04 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................50 1. O CONCEITO DE SAÚDE .......................................................................................................................................... 51 1.1 DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO..................................................................................................................... 51 2. QUALIDADE DE VIDA ..............................................................................................................................................52 2.1 OS PRIMÓRDIOS DA QUALIDADE DE VIDA: DEFINIÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO .......................................52 2.2 BEM-ESTAR SUBJETIVO.......................................................................................................................................53 3. NECESSIDADES INTERPESSOAIS PRESENTES NO ATENDIMENTO EM SAÚDE .............................................54 4. A FORMAÇÃO DE VÍNCULO NO ATENDIMENTO EM SAÚDE ..............................................................................55 5. A DINÂMICA FAMILIAR NO ATENDIMENTO EM SAÚDE ...................................................................................58 5.1 CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS ABERTOS .................................................................................................59 5.2 OS PAPÉIS FAMILIARES .....................................................................................................................................60 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................................................................62 QUALIDADE DE VIDA, HUMANIZAÇÃO E RELAÇÕES HUMANAS NO CUIDADO EM SAÚDE PROF.A MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA EM ESTÉTICA 50WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Na Unidade 4, adotaremos o termo saúde segundo o que a OMS definiu em 1947, como sendo um estado não de mera ausência de doença ou enfermidade, mas de completo bem-estar físico, mental e social. A partir disso, deter-nos-emos a tratar dos aspectos múltiplos e relacionais que estão implicados no cuidado em saúde, tais como: qualidade de vida; bem-estar; necessidades interpessoais; importância do vínculo no cuidado; influência da família; e saúde mental (conceito que será retomado). Atualmente, diferentes autores tentam expor conceitos para qualidade de vida (doravante, QV) considerando os apontamentos da OMS, levando a uma nova formulação dos aspectos relacionados a ela. Segundo Minayo, Araújo e Buss (2000), qualidade de vida é uma representação social criada por parâmetros subjetivos e objetivos, cujas referências são a satisfação de necessidades básicas e de necessidades criadas no contexto histórico-econômico. A definição mais comum é a proposta pela OMS, que aponta a QV como a percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, o que envolve valores culturais, condições sociais, materiais, dentre outras (MINAYO; ARAÚJO; BUSS, 2000). A partir do seu ambiente ou meio social, o sujeito avaliará sua condição de vida e o quanto se sente satisfeito com ela. Em suma, no cuidado em saúde, o desafio do profissional é oferecer um olhar atento às necessidades do cliente, de maneira ética, comprometida com a técnica e essencialmente humanizada para garantir-lhe qualidade no atendimento e, mais amplamente, QV. Compreenderemos melhor esse termo ao longo da Unidade 4. Os conceitos apresentados a seguir são baseados na produção teórica de Seger (2009). 51WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. O CONCEITO DE SAÚDE Historicamente, nós, seres humanos, preocupamo-nos muito mais em estudar as doenças do que em nos debruçarmos sobre os aspectos da saúde. A priori, isso nos livraria da morte se pudéssemos controlar as doenças e, por isso, a prática se justificou. Portanto, sabemos que as preocupações com o adoecimento sempre estiveram presentes nas mais diversas sociedades, cada uma com sua peculiaridade já que a dimensão de saúde tem intrínseca relação com questões culturais e sociais. O Quadro 1 representa a evolução na forma como os conceitos de saúde e doença foram tratados ao longo dos anos. 1.1 Desenvolvimento do Conceito Antiguidade Caráter mágico, religioso e sobrenatural como determinante do adoecimento. Índia e China Estabelecem a noção de saúde a partir do equilíbrio entre os quatro elementos constituintes de toda a matéria: terra, água, fogo e ar. Grécia (VI a IV a.C.) Com Hipócrates, considerado o pai da Medicina, os gregos começam a pensar em explicações racionais para o adoecimento (sazonalidade, ambiente, trabalho, posição social). Idade Média Para os pagãos, o adoecimento era vinculado a feitiçarias. Para os cristãos, as doenças significam a purificação e expiação dos pecados. Renascimento A teoria miasmática atribui as doenças a condições sanitárias e atmosféricas. Desenvolvimento científico e de estudos, como os da circulação sanguínea, pulmonar e anatomia. Desenvolvimento da racionalidade científica Influência do desenvolvimentotecnológico. O corpo passa a ser visto como máquina. Quadro 1 – Evolução nos conceitos de saúde e doença. Fonte: A autora. O Quadro 1 representa o desenvolvimento do conceito de doença ao longo do tempo. Percebemos que, inicialmente, as explicações sobre o adoecimento eram atribuídas às questões místicas e divinas e que, à medida que a racionalização dos processos de investigação da materialidade foi ganhando força (principalmente, após o Renascimento), o conceito já se tornou domínio das ciências médicas. 52WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. QUALIDADE DE VIDA 2.1 Os Primórdios da Qualidade de Vida: Definição e Contexto Histórico Segundo Minayo, Araújo e Buss (2000), esse conceito é subjetivo e está relacionado a diferentes aspectos da vida, do contexto histórico, do ambiente e da história individual, sendo uma construção social com características de multiplicidade cultural. Isso significa que a QV de cada indivíduo será avaliada por si mesmo diante de suas condições específicas; portanto, o conceito não é algo que possa ser definido por um valor “x” de renda ou por um tipo específico de moradia. Esses são apenas indicadores que serão individualmente avaliados. Diante disso, entende-se que QV refere-se a uma avaliação subjetiva de fatores objetivos e subjetivos, realizada por um indivíduo que compartilha um contexto social. Ou seja, o sujeito responde por ele, mas não está sozinho ou desligado das condições que o cercam: antes, é participante e operante na QV de outros pares. Historicamente, o termo QV aparece tanto na sociedade ocidental quanto na oriental. Está presente na filosofia chinesa com os ideais de equilíbrio de forças entre Yin e Yang, como também na literatura, arte e medicina tradicional. Na perspectiva ocidental, no discurso de Aristóteles, a QV está relacionada à felicidade, representada pela atividade íntegra da alma, como se o indivíduo estivesse realizado, pleno, completo. No entanto, essas são ideias sobre conceitos semelhantes, que apenas futuramente viriam a ser considerados QV. O construto QV foi primeiramente utilizado nas ciências médicas e apenas posteriormente na Psicologia e Sociologia, sempre relacionado ao tratamento de doenças físicas ou traumas. Foi somente com o fim na Segunda Guerra Mundial, em 1945, que a noção de qualidade de vida se associou ao desenvolvimento econômico e poder aquisitivo da população, em um momento marcado pela instauração da economia de mercado. A partir dessa sistematização, convencionaram-se três aspectos fundamentais ainda que a definição do tema careça de consenso. São eles: 1) a existência de aspectos objetivos e subjetivos; 2) construto multidimensional; 3) dimensões positivas e negativas. O grupo WHOQOL GROUP, da OMS, definiu QV como “[...] a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (FLECK, 2000, p. 25). A partir da problematização e da reformulação do conceito de QV, agora mais subjetiva e social, buscou-se criar indicadores para a avaliação da QV das populações. Minayo, Araújo e Buss (2000) sugerem indicadores socioambientais, como moradia, renda, alimentação, escolaridade, condições de transporte, lazer, saneamento, assistência médica e condições de trabalho. Hereditariedade e estilo de vida são classificados como parâmetros ou indicadores individuais. 53WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2.2 Bem-estar Subjetivo A avaliação pessoal da QV é denominada bem-estar subjetivo, e o termo refere-se à satisfação pessoal em relação à felicidade e ao estado de espírito. Os estudos que abordam essa temática esperam contribuir para a compreensão e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Atualmente, os instrumentos mais utilizados em pesquisas com adultos são: escala de satisfação com a vida, de Diener (1985), e escalas PANAS (Positive and Negative Affect Schedule), de Watson (1985). Instrumentos como escalas e entrevistas são utilizados como avaliadores dos níveis de bem-estar subjetivo e qualidade de vida de diferentes populações. O questionário Notthingham Healthy Profile, por exemplo, desenvolvido por Fletcher, Dickinson e Philip (1992), é destinado à população idosa, com perguntas relacionadas às condições de vida da população. Há também questionários destinados às populações jovens, como o YAQOL (Young Adult Quality of Life), direcionado às condições de vida dessa faixa etária. De forma geral, os instrumentos avaliam a QV por domínios: físicos, psicológicos, relações sociais, nível de independência e noções sobre bem-estar. As avaliações podem ser genéricas ou específicas. As genéricas englobam aspectos gerais sobre saúde, doença, vida cotidiana etc. Seu objetivo é comparar grupos, como os níveis de QV de um grupo saudável com os de um grupo de pessoas doentes. Finalmente, entende-se como compreensível a ausência de consenso a respeito de um tema novo como QV. Em contrapartida, o que é característico dessa área e que tem se multiplicado (principalmente na última década) são os instrumentos que se propõem a avaliar a QV, tendo ocorrido o que autores denominam de uma “avalanche de dados”, que podem influenciar políticas de saúde sem, no entanto, se saber ao certo o que se está medindo (FLECK, 2000). Diante da polissemia do termo e da dificuldade em criar e validar instrumentos que se propõem a medir QV, a OMS criou, em 1995, o Grupo WHOQOL, que produziu o instrumento mais utilizado para medir QV até o momento: os questionários WHOQOL e WHOQOL-BREF. Segundo Fleck (2000), existem três aspectos fundamentais sobre o construto QV, implícitos no conceito do Grupo WHOQOL, quais sejam: • Subjetividade: isto é, a perspectiva do indivíduo é o que está em questão. A realidade objetiva só conta na medida em que é percebida pelo indivíduo. • Multidimensionalidade: isto é, a QV é composta por várias dimensões. Por isso, deve ser medida em vários domínios. • Presença de dimensões positivas e negativas. Por exemplo: ter mobilidade e não ter dor. 54WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. NECESSIDADES INTERPESSOAIS PRESENTES NO ATENDIMENTO EM SAÚDE Após compreendermos que os aspectos de saúde, QV e bem-estar subjetivo são construções sociais sobre nossa avaliação pessoal, social e de condições de vida (materiais e imateriais), cabe- nos agora ter um olhar mais atento às nossas necessidades interpessoais. No cuidado em saúde, não estamos sozinhos tampouco lidando sempre com o mesmo objeto ou sujeito. Pelo contrário, cada um apresentará determinada necessidade. Vejamos então o que Fritzen (2010) elenca como necessidades interpessoais e suas aplicabilidades para o cuidado e promoção tanto em saúde como de saúde. O autor salienta que, em toda relação grupal, a inclusão, o controle e a afeição são necessidades fundamentais do sujeito, criadas pelo grupo, que só podem ser satisfeitas adequadamente por ele mesmo. “Todo indivíduo, ao entrar em um grupo, preocupa-se inicialmente com a inclusão, passando a seguir pelo controle e, finalmente, procurar satisfazer sua necessidade de afeição” (FRITZEN, 2010, p. 11). A necessidade de inclusão se define pelo desejo do novo membro em ser aceito, integrado e valorizado por aqueles que já estão inseridos. É uma fase importante para estabelecer confiança e sentimento de pertença. O novo membro procura investigar aspectos do grupo com os quais possa se identificar. Uma vez satisfeita a necessidade de inclusão, o indivíduo passa a preocupar-se com o controle. O controle consiste, para cada membro, em definir para si mesmo suas responsabilidades e a dos outros. Conhecer as estruturas do grupo, bem como suas atividades, projetos, objetivos etc. Ele procura saber quem é a liderança,quais os participantes mais influentes, como ele pode influenciar o grupo etc. Depois de estarem satisfeitas essas necessidades, o sujeito agora se detém em buscar afeição e amizades para corresponder às necessidades emocionais. A afeição é a terceira e última necessidade interpessoal de Schutz citada por Fritzen (2010). Ela representa o desejo de ser amado pelo grupo, bem quisto, sentir-se importante, útil, estimado, ter sua competência reconhecida. Quando incluídos totalmente nessa fase, os sujeitos podem expressar verbalmente o que sentem em relação ao grupo e aos membros, expressar sua apreciação por escrito, procurar conhecer melhor cada membro e estar envolvido ao máximo de sua capacidade. Tanto o desenvolvimento integral como a satisfação das necessidades interpessoais de integração são indispensáveis à participação efetiva da população em grupos de atendimento em saúde, especialmente se pautados em ideais comunitários, em que há de se propagar a participação ativa dos membros como co-construtores de sentido. O profissional de saúde pode facilitar o processo, dando atenção dedicada aos passos, principalmente à inclusão. Assim, ele estaria garantindo que o convidado se sinta à vontade por meio de ações hospitaleiras, como: oferecer um cafezinho (obviamente, quando possível; isso é apenas uma sugestão do autor); consignar um recepcionista encarregado de saudar os membros e orientar a reunião ou grupo; providenciar crachás quando achar que é uma necessidade; e garantir um ambiente acolhedor. 55WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. A FORMAÇÃO DE VÍNCULO NO ATENDIMENTO EM SAÚDE A palavra vínculo se origina do Latim vinculum, que significa “união”. Criar um vínculo no atendimento em saúde é essencial para o bom funcionamento da “dupla terapêutica”. Mas há obstáculos à sua criação, pois, para além do preparo técnico e do ambiente favorável, também deve haver uma excelente comunicação entre profissional e cliente (ou profissional e paciente). O vínculo faz parte da nossa vida. É exatamente o que nos liga a outras pessoas e fortalece as relações humanas. Os vínculos são sempre carregados de significados pessoais e de responsabilidade. No âmbito profissional, o vínculo configura a corresponsabilidade do profissional com a pessoa atendida e com o resultado do tratamento oferecido. No estabelecimento do vínculo, é de responsabilidade do profissional o esclarecimento dos seguintes tópicos: • Fantasias do paciente: esclarecer ao paciente que nenhum tratamento em saúde tem caráter milagroso. Isto é, ao conhecer o que o paciente ou cliente espera com o resultado do tratamento, você (profissional) deve explicar o que vocês poderão atingir, desmistificando, assim, expectativas idealizadas que ele (ou ela) possa ter nutrido em relação ao processo. • Aspectos de realidade: esclarecer ao paciente aspectos da realidade que possam estar sendo negligenciados por ele, tais como: condições físicas, materiais ou financeiras que podem impedir o pleno atendimento. Exemplo: você pode receber um paciente que deseja muito determinado procedimento, mas, baseado em seu conhecimento técnico, cabe a você apresentar aspectos da realidade que talvez possam atrapalhar a aplicação desse procedimento e, então, oferecer o procedimento adequado. • Conhecer as expectativas do paciente: como base aos anteriores, esse tópico é autoexplicativo. Sem o conhecimento claro das expectativas do paciente, é fácil errar ou realizar um atendimento que fique aquém do desejo dele. Por isso, é essencial conhecer o que realmente ele (ou ela) espera de tal processo. Para Riviére (1995) apud Seger (2009), o vínculo diz respeito a uma estrutura complexa que é necessariamente bicorporal e que envolve: • Duas pessoas e suas representações mútuas. • Emissor, receptor, codificação e decodificação. • “O vínculo é um fenômeno existente nas duas pessoas envolvidas em cada relação e influenciado pelas vinculações vivenciadas anteriormente por estas” (SEGER, 2009, p. 35). 56WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Desde o nascimento, estamos em processo de vinculação, sendo comumente a família a primeira “equipe” a possibilitar nossa comunicação e desenvolvimento. A Figura 1 explica sobre o processo de vínculo parental, com foco na comunicação. Cada ação do bebê faz a mãe/cuidador reagir de determinado modo, com o objetivo final de garantir a sobrevivência e bem-estar da criança. Figura 1 - O vínculo na maternidade. Fonte: Bertoldi (2012). 57WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para Pichon-Rivière (2000), toda comunicação é bicorporal e tripessoal, sugerindo que, entre duas pessoas, existe sempre um conteúdo intrassubjetivo que se interpõe, denominado “o terceiro da relação”. Ainda segundo o autor, nesse processo de comunicação, que é o vínculo, há entes que podem prejudicar ou alterar a reprodução plena da mensagem. São eles: ruídos, transferência e contratransferência. • Ruídos: são barreiras na comunicação. Alguns elementos da personalidade dos envolvidos podem causar tal fato. • A transferência e a contratransferência são uma forma de projeção típica da relação terapêutica. Na forma positiva, elas ocorrem com sentimentos de afeto e admiração. Na negativa, ocorrem com sentimentos de agressividade e resistência. • Transferências são reedições, reduções das reações e fantasias que, durante o avanço da análise, costumam despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica de substituírem uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Dito de outra forma: uma série de experiências psíquicas prévias é revivida, não como algo do passado, mas como um vínculo atual com a pessoa do médico. • A contratransferência envolve sensações, sentimentos e percepções que brotam no profissional, emergentes do relacionamento com o paciente. O profissional que não se permite sentir tende a reagir a isso de maneira inconsciente, podendo transformar a relação profissional em algo conflituoso. No entanto, quando se tem noção das relações transferenciais, há a possibilidade de se pensar sobre e de se reformular o comportamento. O livro sugerido complementa o conteúdo apresentado em nossa disciplina quanto à teoria do vínculo e processos grupais. A referência completa é: PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do Vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 58WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 5. A DINÂMICA FAMILIAR NO ATENDIMENTO EM SAÚDE A família, para Assumpção Jr. e Sprovieri (1993) apud Seger (2009), pode ser definida como um sistema social pequeno e independente, que contém subsistemas menores que se relacionam e uma estrutura razoavelmente estável, com papéis bem definidos, regras e valores comuns. Assim, embora saibamos que cada família tem sua peculiaridade e contexto sócio-histórico e cultural, há determinados comportamentos e tendências que estão presentes nas relações familiares. A forma como o indivíduo se relaciona com o seu corpo, sua autoimagem ou com seu histórico de consumo é certamente reflexo de sua relação familiar. Ele pode, inclusive, desenvolver algum sintoma que precisará de atendimento médico em função de algum conflito familiar. Em suma: • A forma como o sujeito lida com seus problemas pode ser reflexo de sua organização familiar. • Compreender o sujeito implica conhecer o seu contexto, o que inclui sua família. Na fábula do porco-espinho, de Arthur Schopenhauer, um grupo de porcos- espinhos ia perambulando num dia frio de inverno. Para não congelarem, os animais chegavam mais perto uns dos outros. Mas, no momento em que ficavam suficientemente próximos para se aquecer, começavam a se espetar uns aos outros com seus espinhos. Para fazer cessar a dor, dispersavam-se, perdiamo benefício do convívio próximo e começavam a tremer novamente. E o ciclo se repetia, numa infindável luta para descobrir uma distância confortável entre o frio do afastamento e a dor da união. A partir disso, reflitamos, iniciando com um questionamento. Você se considera uma pessoa mentalmente saudável (na linguagem informal, uma pessoa “normal”)? É uma pergunta simples, mas comumente difícil de responder. Ao dizermos que sim, lembramo-nos automaticamente de coisas que fazemos ou sentimos, que nos distanciam dos demais. E, então, lembramos de algumas circunstâncias que tenhamos vivenciado ou de certos comportamentos que tivemos que destoam do habitual. Ainda, pode ser que rememoremos certas anormalidades físicas ou de personalidade e, então, quase que como uma confissão, dizemos a nós mesmos que não somos tão normais assim. Em contrapartida, ao dizermos que não somos normais, procuramos uma justificativa que seria algo que nos “despadroniza”, que nos identifica como diferentes dos demais. Uma doença, uma disfunção, uma debilidade ou dificuldade. O que é paradoxal, afinal, todos somos singulares! Dessa forma, seríamos as duas coisas ao mesmo tempo. Isso demonstra o que nos humaniza. Em suma, é difícil conviver com as pessoas e suas diferenças, mas seria impossível nos tornarmos pessoas melhores e sadias sem nos relacionarmos. 59WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A família deve, portanto, ser compreendida como um sistema aberto do qual o paciente ou cliente que procura atendimento é mais um membro. Figura 2 - Estrutura do grupo operativo ou sistema e demonstração da teoria do vínculo de Pichon-Rivière. Fonte: Pichon-Rivière (2000). Vejamos, então, o que Seger (2009) compreende por sistema e como isso se relaciona com nossa temática. Sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes que interagem com objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente (SEGER, 2009, p. 106). Dessa forma, qualquer mudança na família afeta tanto a parte (pessoa) como o todo. Isso é um sistema aberto: ter relação com o meio externo e alterar a si e aos membros concomitantemente. 5.1 Características dos Sistemas Abertos • São passíveis de mudança e de comunicação intra e extrafamiliar. • Totalidade: as mudanças ocorridas em um elemento da família tendem a modificar a família como um todo. Um influencia o outro. • Não adicionabilidade: a soma é maior que o todo. Por exemplo: conhecer cada indivíduo da família não é o mesmo que conhecê-los juntos, no funcionamento familiar. 60WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Igualdade de fins: retroalimentação. A igualdade de fins significa que o funcionamento interno da família serve para sustentar seu modo operante. Isso demonstra que um sintoma apresentado por um membro da família pode ter mais de uma causa já que várias circunstâncias na história do grupo acabam por retroalimentar determinados comportamentos ou situações. Para exemplificar: o filho mais novo tem medo ao ver algum profissional de saúde de jaleco branco. Por que isso estaria acontecendo? Suponhamos que o pai já tenha apresentado esse comportamento, e a criança o copiou. Além disso, os outros membros apoiam o comportamento, reforçando-o com falas do tipo: “Faça isso ou te levaremos ao hospital”. • Homeostase: equilíbrio. A família como sistema sempre procura se reorganizar e harmonizar-se, evitando desequilíbrios e redistribuindo funções. 5.2 Os Papéis Familiares O sistema familiar tende a se estabilizar com regras e papéis bem definidos. Por exemplo, não é difícil pensarmos em algumas famílias nas quais identificamos o membro rebelde, que sempre está envolvido em problemas e confusões. Da mesma forma, não é difícil encontrarmos, na mesma família, o sujeito que representa exatamente o oposto do anterior. Indivíduos que foram criados pelos mesmos pais, dividindo a mesma casa, com cargas genéticas compatíveis, mas que são totalmente diferentes. As relações familiares e seus papéis não são definidos de forma explícita. Antes, foram assumidos por cada membro da família de acordo com suas características pessoais. Em nossa família, herdamos um lugar ou propósito ao nascermos. Mas não somos passivos nesse processo e, sim, sujeitos ativos. Obviamente, quanto mais conscientes estivermos desse papel e de suas implicações, mais facilmente deliberaremos sobre ele. Quanto às classificações dos lugares ou papéis familiares, segundo Seger (2009), temos: Porta-voz: normalmente, é um papel assumido por um dos membros que apresenta determinado problema, sintoma, doença, disfunção etc. e que, ao adoecer, está denunciando a enfermidade grupal. Já o bode expiatório é aquele que recebe as projeções de aspectos negativos dos demais e fica como o representante das manifestações indesejadas do grupo familiar. A diferença entre os dois está em que o primeiro não é retirado, excluído ou mal quisto pela família, enquanto o segundo o é. A importância de conhecermos esses dois conceitos está na possibilidade de enxergarmos isso de maneira ampla, abrangente, para além do que é dito em palavras. “[...] Significa podermos considerar que nem sempre as coisas são como parecem ser, que muitas vezes aquele paciente pode estar contando algo que não diz respeito somente a ele, mas a todo um contexto familiar, do qual ele está sendo mensageiro” (SEGER, 2009, p. 110). Por fim, o conhecimento sobre a dinâmica familiar e alguns dos seus aspectos não será suficiente para resolver os conflitos familiares dos pacientes e clientes em atendimento, mas certamente servirá de auxílio para um atendimento mais atencioso e humanizado. Desse modo, contribui para a habilitação de novos profissionais, mais capacitados no que tange à complexidade do atendimento em saúde. 61WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Sobre o tratamento com menores, o profissional de estética deve orientar os pacientes e seus pais acerca de sua responsabilidade na prevenção de problemas e ao longo do tratamento. No entanto, não deve confundir o estabelecimento de limites claros com conselhos ou repreensões, cujos resultados acabam sendo invasivos e ineficazes. O Projeto de Lei PLS 417/07 obriga os serviços públicos e privados de atendimento a crianças e adolescentes a terem, em seus quadros, pessoal capacitado para reconhecer e reportar maus tratos. Para uma melhor compreensão da importância da dinâmica familiar para nossas relações, indicamos que você assista ao vídeo O Começo da Vida ou The begining: the series. É um trabalho que mostra os três primeiros anos de vida de crianças e de que modo as aprendizagens dessa fase servirão para a vida toda. Dirigido por Estela Renner, o vídeo possui 240 minutos de duração. O link para acesso é o https://www.youtube.com/watch?v=NfCD35iC3xU . 62WWW.UNINGA.BR PS IC OL OG IA E M E ST ÉT IC A | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Na Unidade 4, tivemos a oportunidade de compreender que a saúde envolve múltiplos aspectos e que a avaliação subjetiva desses aspectos seria a QV. Além disso, observamos como as relações humanas interferem em nossa saúde e vida, pois conhecemos um pouco melhor os papéis familiares e o papel do vínculo na construção de quem somos. Após reformular a ideia de saúde mental, pudemos enxergá-la como a capacidade de administrar a própria vida e suas emoções dentro de um amplo espectro de variações, sem, contudo, perdermos o valor do real. Estar saudável mentalmente é, portanto, ser capaz de ser o sujeito de suas próprias ações, sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima,respeitando o legal e o outro (SEGER, 2009). Saúde mental é também estar de bem consigo e com os outros, aceitar as exigências da vida, saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza; coragem/ medo; amor/ódio; serenidade/raiva; ciúmes; culpa; frustrações. É reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário. Isso nos permite vislumbrar o paciente com um olhar mais amplo, indo além do sintoma ou da demanda apresentada, buscando compreender o que o trouxe até aquela formatação em que se apresenta. Isto é, investigar a qualidade de seus vínculos, sua situação familiar e aspectos subjetivos para avaliar sua QV. Portanto, estar saudável mentalmente não é um estado perene, mas nos custa investimentos, tais como: relações saudáveis, boa comunicação, não negligenciar os sintomas e conflitos psíquicos, prática de lazer e psicoterapia. Por compreendermos que relacionar-se bem com os demais é uma arte, é necessário que estejamos sempre atentos a como estamos desempenhando nossos papéis sociais. Cabe indagar se estamos cobrando demais de nós mesmos e se não é o momento de procurar ajuda. Lembre-se de que o cuidador também demanda cuidados. 63WWW.UNINGA.BR ENSINO A DISTÂNCIA REFERÊNCIAS ALMEIDA, J. M. T. de. Reflexões sobre a prática clínica em Gestalt-terapia: possibilidades de acesso à experiência do cliente. Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v. 16, n. 2, 2010. ANGERAMI-CAMON, V. A. (org.). Psicologia da Saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Pioneira. 2002. APPOLINÁRIO, J. C.; CLAUDINO, A. M. Transtornos Alimentares. 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