Prévia do material em texto
SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE COM ÊNFASE NA ESTRATÉGIA- SAÚDE DA FAMÍLIA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Flaviana Aparecida de Mello Indaial - 2022 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2022 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. M527s Mello, Flaviana Aparecida de Saúde preventiva e promoção da saúde com ênfase na estraté- gia-saúde da família. / Flaviana Aparecida de Mello. – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 114 p.; il. ISBN 978-65-5646-370-4 ISBN Digital 978-65-5646-371-1 1. Saúde preventiva. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 610 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Saúde Preventiva E Promoção Da Saúde ...................................9 CAPÍTULO 2 A Atenção Primária Da Saúde – Aps – E A Atenção Básica Da Saúde .......................................................................................45 CAPÍTULO 3 A Estratégia De Saúde Da Família – Esf E Os Núcleos De Apoio À Saúde Da Família – NASF ...............................................81 APRESENTAÇÃO Como objetivo da disciplina Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia Saúde da Família é fundamental aprendermos a respeito dos modelos e dos conceitos balizares de promoção e prevenção da saúde e a influência dos determinantes sociais em saúde no processo saúde e doença. Com a evolução dos estudos e pesquisas em saúde, presentemente temos a concepção de que a saúde é muito mais do que a ausência de doença, mas contempla a totalidade do bem-estar biopsicossocial de cada ser humano. É sabido que, no Brasil, historicamente a saúde era tratada apenas como ausência de doença, e havia uma intensa desigualdade do acesso a algum tipo de tratamento; dessa forma, ampla parte da população recorria/e ainda recorre, a práticas de cuidados através de chás de ervas, benzedeiras e/ou curandeirismo. Durante séculos, o Brasil não investiu na saúde enquanto política pública social, com a sistematização da previdência social brasileira no início do século XX, o atendimento à saúde era atrelado à contribuição com a previdência social, somente aqueles cidadãos que eram trabalhadores de carteira assinada podiam ter acesso ao atendimento em saúde. Tal realidade perdurou até o início da década de 1980, quando surge e se intensifica o movimento pela reforma sanitária brasileira, que questionava esse tipo de acesso à saúde, e propunha uma alternativa de atenção à saúde através de um sistema universal livre de contribuições compulsórias. A força do movimento teve como ápice a VIII Conferência Nacional de Saúde, que defendeu a sistematização do SUS, tendo sido reconhecido e inserido na Carta Magna de 1988, e dois anos depois, sancionado através da Lei nº 8080/1990. A partir de então, o SUS deu início ao seu processo de sistematização e fortalecendo a lógica do modelo universal e gratuito à saúde, buscando romper com o modelo curativista e de cunho privatista. No entanto, precisamos registrar que mesmo tendo o SUS, o modelo de atenção à saúde que se opõe a ele nunca deixou de existir e busca de todas as formas táticas para contrapor o SUS. Com o desenvolvimento do SUS, a partir da década de 1990 em diante, precisamos dar ênfase a um importante serviço que fora implementado e implantado, que é trabalho Estratégia Saúde da Família – ESF. Ele se contorna enquanto uma tática de atenção à saúde intrincada no que se alude a respeito de práticas. Isso solicita que o método de acompanhamento seja arquitetado articulando conhecimento apurado, técnicas e tudo sendo embasado por princípios éticos para que assim possa conseguir ofertar uma atenção integral à saúde. Destarte, o desenvolvimento do trabalho profissional no âmbito da Estratégia de Saúde da Família precisa se organizar de modo a ativar os vários conhecimentos interdisciplinares e intersetoriais para arquitetar estratégias eficazes às questões relacionadas à saúde da população usuária. Avultamos, além disso, que a metodologia do trabalho na Estratégia Saúde da Família estabelece, como alvo de partida, a consideração do fato no qual se esteja desenvolvendo a intervenção, logo, o território de desempenho de atenção em saúde sob encargo da Equipe de Saúde da Família, em que as pessoas e famílias convivem, se relacionam e possuem identidade. Nesse sentido, é fundamental que cada profissional que fora atuar no ESF deve ter noção sobre a realidade territorial, tanto a partir de informações do fato cultural, epidemiológica, social, política e demográfica como os modos de apreciar e imaginar a realidade. Outra importante questão a ser mencionada é o fato de cada profissional precisa apreender sobre a atenção primária da saúde – APS – estudar a respeito das qualidades e diretrizes da APS e como estrutura do SUS, e a relevância da rede de atenção à saúde para uma boa articulação do atendimento da população. Ratificamos, portanto, a relevância de apreciar toda a sistematização que tangencia o SUS e a realidade social de vida das pessoas atendidas, bem como do território onde elas vivenciam, no entanto, porém de modo crítico, questionador e criativo. Para isso, organizamos esta disciplina em três capítulos. No primeiro capítulo, intitulado Modelos e conceitos em saúde, iniciamos com estudos sobre o conceito de promoção e prevenção da saúde e os determinantes sociais em saúde, em que você terá a oportunidade de instrumentalizar-se para o cotidiano de trabalho no âmbito da saúde pública compreendendo conceitos fundamentais relacionados, bem como aprenderá a identificar o que são os DSS – determinantes sociais em saúde. E, ao fim do capítulo, conhecerá modelos de atenção à saúde no Brasil: o modelo biomédico e o modelo de determinação social – modelo sanitarista, entendendo a respeito do contraponto que há entre o modelo biomédico em relação ao modelo sanitarista que deu origem ao SUS. No segundo capítulo, nominado A atenção primária da saúde – APS e a atenção básica da saúde iniciamos os estudos a respeito do que é a atenção primária da saúde – APS; diretrizes e características e, em seguida, vamos estudar a respeito da atenção básica de saúde e a sua política nacional de atenção básica: princípios e diretrizes. No terceiro e último capítulo, intitulado Estratégia de Saúde da Família – ESF e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF, abordamos como se constituiu o Estratégia de Saúde da Família, bem como seus conceitos fundamentais e a relevância desse trabalho no âmbito da atenção básica de saúde, e a relação entre as UBS, ESF e os NASF e como se desenvolve essa atuação no cotidiano de atendimento. E, em seguida, vamos estudar as Unidades Básicas de Saúde - UBS, Estratégia Saúde da Família - ESF e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF: legislação e diretrizes. Nosso desígnio é que seu curso seja um procedimento de constituição cotidiana ativado e com criticidade, no sentido de você se tornar sujeito da edificação do próprio conhecimento, de você instrumentalizar-se para a mudança da realidade social contribuindo com o seu fazer profissional e conhecimento a ser adquirido, para a sociedade e para o SUS ser mais justo, equitativo e se manter ativo, atendendoa quem dele necessitar. Portanto, faça anotações, registre, anote, produza esquemas paralelos que o auxiliem a abarcar e conhecer mais a respeito da disciplina, Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia Saúde da Família. Desejamos bons estudos! Professora Flaviana Aparecida de Mello CAPÍTULO 1 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Conhecer os conceitos balizares de promoção e prevenção da saúde e a infl uência dos determinantes sociais em saúde no processo saúde e doença; • Aprender os modelos de atenção à saúde no Brasil; • Entender o contraponto que há entre o modelo biomédico em relação ao modelo sanitarista que deu origem ao SUS. 10 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família 11 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo tem como objetivo abordar informações e conhecimento a respeito dos modelos e conceitos em saúde. Sendo assim, aprenderemos a respeito do conceito de promoção e prevenção da saúde e os determinantes sociais em saúde. Você terá o ensejo de aprimorar-se para a intervenção profi ssional cotidiana no âmbito da saúde pública. Também estudaremos os conceitos fundamentais relacionados, bem como aprenderá a identifi car o que são os DSS – determinantes sociais em saúde. E, em seguida, vamos estudar os modelos de atenção à saúde no Brasil: modelo biomédico e o modelo de determinação social – modelo sanitarista, entendendo a respeito do contraponto que há entre o modelo biomédico em relação ao modelo sanitarista que deu origem ao SUS. E, ainda, conhecendo os diversos outros modelos de atenção à saúde que ainda persistem na sociedade. Junto a isso, buscamos contribuir para que no decorrer dos estudos, você possa analisar e, ainda, criar o seu próprio mapa conceitual sobre as informações que norteiam a prática na gestão do serviço social, fazendo o exercício da relação teoria e prática. Portanto, sugerimos que você verifi que os assuntos aqui abordados e alinhe com a sua realidade profi ssional e/ou o que almeja desenvolver em sua prática quando estiver inserido em algum espaço sócio-ocupacional. Assim, compomos um conjunto de possibilidades de abordagem do tema proposto neste capítulo que corrobora com os estudos a respeito da Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia Saúde da Família. Fique atento e vamos juntos em busca do conhecimento e aprimoramento profi ssional. Bons estudos! 2 O CONCEITO DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE E OS DETERMINANTES SOCIAIS EM SAÚDE Os cuidados absolutos com a saúde sugerem atos de promoção da saúde, prevenção de enfermidades e fatores de risco e, após alojada a enfermidade, o tratamento correspondente às pessoas enfermas (BUSS, 2010). 12 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Saúde é considerada enquanto direito humano basilar admitida por todas as agências mundiais e em todas as sociedades. Destarte, a saúde se apresenta no mesmo patamar com diversos direitos afi ançados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos – (DUDH), do ano de 1948: liberdade, alimentação, educação, segurança, nacionalidade, entre outros. A saúde é largamente admitida como uma elementar solução para o desenvolvimento pessoal, social, econômico, bem como uma das mais extraordinárias extensões da qualidade de vida. Desse modo, a saúde e qualidade de vida, ambos os assuntos estão diametralmente conexos, fato que podemos distinguir no nosso dia a dia. Logo, a saúde coopera para aprimorar a qualidade de vida e esta é basilar para que um sujeito e a comunidade tenham saúde. Em sinopse, promover a saúde é agenciar a qualidade de vida. De acordo com Buss (2010), no ano de 1986, na cidade de Ottawa, localizada no Canadá, foi realizada uma Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, que constituiu uma linha de princípios éticos e políticos, determinando os campos de ação. Segundo Buss (2010), esse tratado convencionado nessa conferência internacional diz que promoção da saúde é o método de habilitação da comunidade para agir no progresso da sua qualidade de vida e saúde, compreendendo máxima participação no controle desse procedimento. Ainda a respeito da promoção da saúde, os autores Verdi, Da Ros e Souza (2012) citam outros díspares modelos conceituais, sendo um deles alvitrado pela saúde coletiva brasileira e outros originários do Canadá. Desde o Relatório Lalonde, publicado no ano de 1974, no Canadá, e mais designadamente, posteriormente à Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, ocorrida no ano de 1986, em Ottawa, a compreensão de promoção da saúde irrompeu com o modelo de níveis de prevenção amparado durante décadas. Para alcançar uma condição de completo bem-estar mental, físico e social, os sujeitos e coletivos necessitam ter ciência para adaptações, controlar anseios, ter satisfação e alterar convenientemente o ambiente social, natural e político. Desse modo, a saúde contorna-se, segundo Buss (2010), um conceito prosaico, que ressalta as soluções sociais e pessoais, assim como as competências físicas. Portanto, não é encargo exclusivo de políticas de saúde e vai além de um costume de vida saudável, na administração de um bem-estar global. Consideramos algumas soluções imprescindíveis para ter saúde de modo pleno: alimentação adequada, recursos sustentáveis, paz, renda, moradia, 13 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 educação, ambiente saudável, equidade e justiça social, com toda a complexidade que sugerem quaisquer desses quesitos. Destarte, a promoção da saúde é a decorrência de um contíguo de fatores sociais, coletivos, individuais, culturais, econômicos e políticos que se ajustam de contorno privado em cada sociedade e em conjunturas específi cas, resultando em sociedades mais ou menos saudáveis. Na maior parte do tempo de suas vidas, a maioria das pessoas é saudável, ou seja, não necessita de hospitais, CTI ou complexos procedimentos médicos, diagnósticos ou terapêuticos. Mas, durante toda a vida, todas as pessoas necessitam de água e ar puros, ambiente saudável, alimentação adequada, situações social, econômica e cultural favoráveis, prevenção de problemas específi cos de saúde, assim como educação e informação – estes, componentes importantes da promoção da saúde. Então, para promover a saúde é preciso enfrentar os chamados determinantes sociais da saúde. A promoção da saúde se refere às ações sobre os condicionantes e determinantes sociais da saúde, dirigidas a impactar convenientemente a qualidade de vida. Por essa razão, assinala-se essencialmente por uma conciliação intersetorial e pelas atuações de ampliação da compreensão sanitária educação para a saúde, direitos e deveres, estilos de vida e aspectos comportamentais, dentre outros. De tal modo, para aprimorar as condições de saúde de uma população são imprescindíveis modifi cações carregadas dos padrões econômicos no cerne dessas sociedades e ativação de políticas sociais, que são de modo eminente políticas públicas sociais. Isto é, para que uma sociedade alcance saúde para todos os seus cidadãos é imprescindível atuação intersetorial e políticas públicas de caráter integral (BUSS, 2010). A comissão nacional dos determinantes sociais da saúde fez uma análise profunda dos determinantes sociais da saúde no Brasil e uma série de políticas e ações, cujo desígnio derradeiro é a promoção da saúde. É importante destacarmos a defi nição que a Organização Mundial da Saúde – OMS – desenvolveu sobre saúde determinando que o estado de saúde não é apenas ausência de doença, mas o completo bem-estar psicossocial do ser humano, admitido pelo nome de determinantes sociais da saúde. O processo saúde-doença não está sujeito exclusivamente aos mecanismos biológicosque afetam o organismo humano, há múltiplos condicionantes titulados determinantes do processo saúde x doença; eles são os fatores sociais, étnico- 14 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família raciais, culturais, econômicos, comportamentais e psicológicos que infl uenciam o episódio de problemas de saúde e seus fatos de risco na população. Os DSS abrangem as características específi cas do contexto social que infl uem na saúde e o modo como as condições sociais afetam a saúde. As interações entre distintos graus de condições sociais produzem desigualdades em saúde, desde o âmbito individual até o nível das condições culturais, ambientais e econômicas que incidem em ampla parte da sociedade (GEIB, 2012). Ainda conforme Geib (2012), juntos, formam o contexto sociopolítico responsável pela estratifi cação dos grupos segundo os níveis de renda, escolaridade, profi ssão, sexo, gênero, local de moradia e outros fatores. Esses mecanismos de estratifi cação socioeconômica são descritos como determinantes estruturais da saúde ou como fatores sociais determinantes das desigualdades na saúde. FIGURA 1 – DETERMINANTES SOCIAIS NO PROCESSO SAÚDE X DOENÇA FONTE: A autora 15 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 Para a atenção integral de saúde, de acordo com Buss (2010), é imprescindível empregar e associar saberes e práticas atualmente agregados em compartimentos avulsos: atenção médico-hospitalar; programas de saúde pública; vigilância epidemiológica; vigilância sanitária; educação para a saúde, entre outros. O autor ainda pronuncia que essa integração deve combinar ações extrassetoriais em abalizados âmbitos, como água, esgoto, resíduos, drenagem urbana, e ainda, na educação, habitação, alimentação e nutrição; e administrar esses saberes e práticas conexos a um território característico, díspar de outros territórios, onde reside uma população com predicados culturais, sociais, políticos, econômicos. Em síntese, é a sugestão de uma inovação prática sanitária interdisciplinar, que agrega díspares conhecimentos teóricos e práticas, que se cobrem de um novo atributo ao proferir, de modo organizado pelo paradigma da promoção da saúde, para o enfrentamento das difi culdades viventes num dado território particular. Um bom exemplo de ações que se voltam ao cuidado da promoção da saúde em sua totalidade, temos a estratégia de saúde da família e dos agentes comunitários de saúde, que ponderamos ser fundamental para esse processo de promoção e merecem o mais decidido apoio político e técnico para sua implementação. Verdi, Da Ros e Souza (2012) proferem que este exemplar conceitual em saúde proporciona uma nova confi guração de analisar o processo saúde x doença. Cabe destacar que esse modo de analisar a saúde tem sua ascendência no continente europeu, em meados do século XIX, num movimento denominado Medicina Social. Ainda de acordo com Verdi, Da Ros e Souza (2012), os autores mencionam a respeito de um médico social e patologista conhecido como Virchow, em que este afi rmava que os indivíduos enfermam e falecem pelo modo no qual vivem. Esse estilo de viver a vida é determinado por fatores de ordem social, cultural e econômica, o que por sua vez assinala-se o todo da manifestação da enfermidade. Os mesmos autores ressaltam ainda que no ano de 1848, Virchow organizou, com outros profi ssionais, a Lei de Saúde Pública da Prússia, em que profere que incumbe ao Estado o encargo de cuidar da saúde da população, que o Estado necessita promover a saúde e desenvolver estratégias de enfrentamento e tratamento da doença para todos os sujeitos, isto é, saúde é direito de todos, dever do Estado. Por fi m, Verdi, Da Ros e Souza (2012) acrescentam que foi esse movimento que guiou a constituição do nosso sistema único de saúde – SUS. 16 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família A respeito do conceito de determinação social incidindo no processo saúde- doença, Verdi, Da Ros e Souza (2012) mencionam outro profi ssional que se dedicou a estudar a temática: Henry Sigerist, no ano de 1942, este pronunciava que o profi ssional de medicina tinha quatro amplas tarefas, são elas: • promover saúde; • prevenir doenças; • restabelecer o doente; • reabilitá-lo. Promover saúde era apresentar qualidades de vida, trabalho, educação, cultura, lazer, acesso à cultura, ter descanso, cabe ainda avultar que o modelo da determinação social não se recusa a prestar o atendimento individual quando imprescindível, entretanto, ela é contextualizada numa semelhança entre cidadãos. Você sabia que existem modelos de saúde que são distintos uns dos outros e, por essa razão, possuem concepções distintas de saúde? Para aquecer o debate, consulte o artigo a seguir: Modelos assistenciais: reformulando o pensamento e incorporando a proteção e a promoção da saúde, com autoria de: PAIM, Jairnilson Silva. Disponível em: https://dms.ufpel.edu.br/sus/fi les/media/PaimJS_ ModelosAssistenciais.pdf Converse com sua equipe de trabalho e seus colegas de turma sobre a relevância da compreensão a respeito dos distintos modelos de atenção à saúde e a importância da concepção de promoção e prevenção em saúde para a prática profi ssional dos diversos profi ssionais que atuam no âmbito da saúde pública em distintos espaços ocupacionais. De acordo com Carvalho (2008), o modelo de promoção da saúde originário do Canadá tem a afi rmação do social, já que exibe a consignação do processo saúde-doença, a procura de superação do modelo biomédico e o comprometimento de saúde como direito de cidadania. 17 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 Caro estudante: para contribuir ainda mais com o seu conhecimento; deixamos como sugestão de leitura os seguintes livros: O referido livro promove uma refl exão a respeito dos conceitos e tendências presente no discurso contemporâneo do campo da saúde coletiva com ênfase na promoção da saúde. Referência: CZERESNIA, D. FREITAS, C. M. de. Promoção da saúde: conceitos, refl exões, tendências. Scielo – Editora FIOCRUZ, 2009. O referido livro agencia uma discussão sobre mudanças na abordagem da saúde e nas práticas de atenção e tem gerado debate internacional, convergindo para um novo paradigma. Este é baseado na promoção da saúde, a qual defende uma evolução substantiva no modo como são formuladas e implementadas as políticas públicas que infl uenciam as condições de saúde da população. 18 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família A autora reconstitui a história social do conceito e das práticas de promoção da saúde como crítica ao entendimento prioritariamente biomédico da saúde. Analisa como Brasil e Canadá incorporaram em suas políticas públicas a proposta de promoção da saúde ratifi cada pela Declaração de Otawa, em 1986, assim como os componentes conceituais dessa proposta, teoricamente e em suas apropriações pelos dois países. Referência: RABELLO, L. S. Promoção da saúde: a construção social de um conceito em perspectiva comparada. Editora FIOCRUZ, 2010. De acordo com Buss (2003), resumidamente, as formulações de promoção da saúde podem ser agrupadas em duas amplas convergências, conforme aponta o quadro a seguir: QUADRO 1 – PROMOÇÃO DA SAÚDE A primeira, centrada no comporta- mento dos indivíduos e seus estilos de vida. Uma das características desta tendência é o seu enfoque fortemente comportamental, expresso por meio de ações de saúde que visam à transformação de hábitos e estilos de vida dos indivíduos, ponderando o ambiente familiar, assim como o contexto cultural em que convivem. A segunda, dirigida a um enfoque mais amplo de desenvolvimento de políticas públicas e condições favo- ráveis à saúde. Esta tendência se aproxima muito do modelo preventivo. As semelhanças entre a promoção da saúde e a prevenção de doenças nosexibe que prevenir é vigiar, antecipar aconteci- mentos indesejáveis em populações consideradas de risco, enquanto promover a saúde, quando não se trata de contro- lar politicamente as condições sanitárias, de trabalho e de vida da população em geral, mas quando procura cunhar hábitos saudáveis, é também uma vigilância. Uma vigilância que cada um de nós necessita desempenhar sobre si próprio. FONTE: Adaptado de Buss (2003) Nessa ótica, centrada no comportamento dos indivíduos e seus estilos de vida, a promoção da saúde acerca-se a priorizar aspectos educativos acoplados a fatores de riscos comportamentais singulares e, deste modo, método potencialmente atinado pelos próprios sujeitos. 19 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 Essa tendência, dirigida a um enfoque mais amplo de desenvolvimento de políticas públicas e condições favoráveis à saúde, apontada por Buss (2003) como mais atualizada, pondera como fundamental à função protagonista dos determinantes sociais a respeito das condições de saúde, cujo extenso espectro de fatores está absolutamente pertinente com a qualidade de vida particular e coletiva. Logo, promover a saúde implica considerar um padrão adequado de alimentação, de habitação e de saneamento, boas condições de trabalho, acesso à educação, ambiente físico limpo, apoio social para famílias e indivíduos e estilo de vida responsável. Promover a saúde envolve, também, dirigir o olhar ao coletivo de indivíduos e ao ambiente em todas as dimensões, física, social, política, econômica e cultural. Por fi m, promover a saúde implica uma abordagem mais ampla da questão da saúde na sociedade. 1) (Adaptada - 2018 - FCC – Órgão Prefeitura de Macapá – AP): Saúde” e “Doença” são termos que, sob a perspectiva da História, vêm mudando de signifi cado ao longo do tempo. Contemporaneamente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que “Saúde não é apenas a ausência de doença ou enfermidade, mas um estado de completo bem-estar físico, mental e social”, sendo este conceito baseado em: a) ( ) Uma abordagem holística da saúde. b) ( ) Uma abordagem negativa de saúde. c) ( ) Características individuais e específi cas, próprias da espécie humana. d) ( ) Evidências científi cas que se consolidaram após o fi nal da Idade Média. 2) (2020 - CESPE/CEBRASPE – Órgão: Hub – Residência multiprofi ssional em saúde coletiva): A intersetorialidade constitui um dos princípios da Política Nacional de Promoção de Saúde (PNPS) e pressupõe a articulação dos saberes para a promoção de saúde. Quanto a esse assunto, analise e assinale o item a seguir: 20 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família A integração dos setores público e privado constitui a base do conceito da intersetorialidade em saúde, e tem o objetivo de alcançar a integralidade e a solução de um problema complexo e multicausal. ( ) CERTO ( ) ERRADO FIGURA 2 – RESULTADOS DA PROMOÇÃO DE SAÚDE FONTE: A autora Importa sinalizar que as intenções para o debate de promoção da saúde têm de forma trivial a importância do social, nessa conjuntura, a questão de saúde necessita ser apreendida como a competência para viver a vida de forma livre, independente, refl exiva e socialmente responsável, de que o cerne de intervenção do setor da saúde precisa ser em volta dos serviços e territórios (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). Carece compreender a saúde por meio da politização das práticas sanitárias, tendo como alvo a produção de bens e serviços, a produção de sujeitos à democratização institucional. Nesse aspecto, a promoção da saúde precisa abarcar o fortalecimento da democracia e a intervenção no ambiente. A promoção da saúde é componente de díspares instâncias de decisões e, destacadamente, do aparelho estatal, que necessita organizar um conjunto de políticas públicas de natureza estrutural econômicas e infraestruturais e da mesma forma políticas públicas sociais como saúde, habitação, assistência social, segurança alimentar, educação entre outras que envolvem a necessidade da população. 21 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 É importante compreendermos que a determinação da doença está diretamente ligada aos fatores sociais, e precisamos cada vez mais desenvolver ações de educação em saúde para que a população possa compreender a relevância destes determinantes sociais e adotar medidas de promoção da sua própria saúde. Destarte, compreensão da forma de organização da sociedade no capitalismo nos permite conhecer o papel e os limites estruturais do Estado, para viabilizar ou para não assumir políticas sociais e, dentre elas, as de saúde. Assim, compreenderemos como isso vai gerar desigualdades sociais, eixo para entender a determinação social da doença (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). Este nos leva a refl etir que o poder capitalista internacional com seus representantes nacionais, bem como o próprio interesse capitalista nacional procura adotar os encargos de comando, tanto no poder Executivo como no Legislativo e Judiciário, para afi ançar uma política que assevere a reprodução do capital (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). Assim, confi gura ser um problema para a classe trabalhadora e principalmente para a grande massa de pessoas que vivem em situação de pobreza extrema. É importante registrar que isso tem alusões diretas no sistema único de saúde pública para a população brasileira. A hegemonia dominante assume também papéis nos órgãos de imprensa e na lógica das igrejas e impregna sua ideologia. Por fi m, fazendo referência ao que diz respeito ao modelo de prevenção de saúde proposto originalmente para elucidar a história natural da doença, oferece três coefi cientes de prevenção: primário, secundário e terciário. No coefi ciente primário, defendia a existência de um nível primário de prevenção. É salutar ressaltar que nesse modelo o foco central é a prevenção da doença. Portanto, essa concepção de prevenção da saúde versa, na veracidade, a respeito da doença, e não propriamente da promoção de saúde (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). Contudo, a principal diferença encontrada entre prevenção e promoção está no olhar sobre o conceito de saúde; na prevenção, a saúde é vista simplesmente como ausência de doenças, enquanto na promoção, a saúde é enfrentada como um conceito positivo e multidimensional procedendo deste modo, em um modelo participativo de saúde na promoção em oposição ao modelo médico de intervenção (CZERESNIA, 1999 apud FREITAS, 2003). 22 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família 2.1 OS MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE NO BRASIL: MODELO BIOMÉDICO E MODELO DE DETERMINAÇÃO SOCIAL – MODELO SANITARISTA Neste subtópico, você vai ter o ensejo de estudar a respeito das concepções de alguns modelos de atenção à saúde, conhecendo-os e compreendendo seus objetivos e características, além de apreender a respeito de um breve histórico da constituição destes. Para pronunciarmos a respeito dos modelos de atenção à saúde brasileira é importante discorrermos a priori sobre a concepção de medicina social que teve origem no século XVIII, na Europa, em uma ampla metodologia de rearticulação social da prática médica o qual Foucault designou de “nascimento da medicina social”, indicando que o capitalismo socializou o corpo como força de produção e de trabalho, e isso iria se estabelecer através da medicina (MENEGHEL, 2004). Assim, a medicina, em uma estratégia biopolítica, conquistaria, depois disso, um lugar na sociedade como seu objeto de trabalho. A medicina não social, individualista, clínica, essa não existe, no entanto foi uma fantasia pela qual certa forma de prática “associal” de medicina – a prática privada – se respaldou e se fundamentou (MENEGUEL, 2004). A medicina social pesquisa e estuda a dinâmica do processo saúde/doença, a ligação com a estrutura organizacional de atenção médica e com o corpo social,intencionando à obtenção de níveis robustos possíveis de saúde e bem-estar. Na Europa do século XVIII, a medicina social surgiu distinguindo-se em três principais tendências: o sanitarismo inglês, focado na medicina da força de trabalho; o urbanismo francês, empenhado com a salubridade das cidades; e por fi m, a polícia médica, essa se constituiu na Alemanha, delimitada por uma imensa atenção com o controle sanitário. O movimento da medicina social defi nia que a participação política é o principal meio estratégico de mudança da realidade de saúde, na perspectiva de que as revoluções populares garantissem justiça, igualdade e cidadania. Na América Latina, o período transcorrido entre o fi nal do século XIX até 1930, distingue-se pelas investigações no âmbito da higiene, patrocinadas pelo 23 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 Estado e elaboradas por institutos de pesquisa nos padrões europeus. A chamada “revolução científi ca”, permeada pelas descobertas da bacteriologia, disporia com que o foco causal se transportasse das condições sociais para os microrganismos. Desse modo, o ideal indicado era o de achar uma vacina para cada tipo de agente infeccioso e executar medidas de controle das doenças sem uma análise ou questionamento do ambiente socioeconômico e cultural. É como se o retorno às explicações causais de cunho biológico em desfavor dos pressupostos sociais das doenças acontecesse periodicamente. No momento atual, esse juízo impregna os estudos e pesquisas que trata de vários agravos, podendo-se mostrar mais diretamente a intensa busca por uma vacina para a AIDS, que possa controlar a doença sem pontuar questões importantes que envolvem gênero, sexualidade e drogadição, entre outros. Nos primórdios do século XX, coincidiu com a criação dos institutos de medicina tropical e as campanhas contra determinadas doenças, o saneamento dos portos, a revolta contra a vacina obrigatória. Tivemos ainda as pesquisas fundamentadas na parasitologia e os levantamentos entomológicos, independentemente do pensamento de alguns sanitaristas do período, já se depara-se com o embrião do pensamento ecológico, principalmente na obra de Samuel Pessoa, este elaborou interessantes teorias a respeito dos nichos ecológicos de doenças transmissíveis (MENEGHEL, 2004). Um aspecto a salientar é que a redução nos índices das doenças transmissíveis na Europa foi atribuída aos feitos da medicina bacteriana. Porém, mais tarde, foi evidenciado que tal fato deveu-se, na realidade, à Revolução Vital, ou seja, à melhoria da qualidade de vida, e não aos atos médicos propriamente ditos. As esperanças em relação à medicina bacteriana caíram na década de 1930, um momento crítico permeado pela crise ocasionada pelos elevados custos da medicina científi ca sem diminuir os níveis das doenças. A morbidade e a mortalidade, ocasionadas por doenças infecciosas e parasitárias, transformaram para um cenário do qual os agravos crônico-degenerativos tomaram maiores proporções, somados do acréscimo da expectativa de vida, padrão qualifi cado de transição epidemiológica (MENEGHEL, 2004). O novo modelo de justifi cativa para a saúde/doença, criado em 1930, nos Estados Unidos, tentava racionalizar os altos custos da assistência médica. Assim, estava inaugurada a medicina preventiva, respaldada na história natural da doença e também nos pressupostos de prevenção à saúde. 24 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família A gênese das doenças encontrava-se em um período de pré-patogênese, composto pela notável tríade de agentes e hospedeiros equilibrados em uma balança, do qual fi el é o ambiente. Estudiosos e pesquisadores elaboraram duras críticas ao modelo preventivista, especialmente no que toca à superfi cialidade da proposta e à homogeneização dos fatores determinantes da saúde/doença (MENEGHEL, 2004). Na década de 1970, muitas propostas de ampliação de cobertura de serviços de saúde e ainda de cuidados básicos em saúde foram questionados. A medicina social acompanhou de perto essas propostas, entretanto, paralelamente, ela tenha se estabelecido em uma referência de contestação ao pensamento hegemônico da saúde pública – reducionista e biologista. Desse modo, a saúde coletiva só iria afl orar nos anos 1980, baseada na interdisciplinaridade como facilitadora de um conhecimento vasto de saúde e na multiprofi ssionalidade como uma maneira de enfrentar a diversidade interna ao saber/fazer das práticas sanitárias (MENEGHEL, 2004). A saúde coletiva – estabelecida nos limites do biológico e do social – segue pela frente a responsabilidade de pesquisar, compreender e interpretar as questões determinantes da produção social das doenças e da organização social dos serviços de saúde, quer no âmbito diacrônico quer no plano sincrônico da história. A saúde coletiva, ao incorporar as ciências humanas no campo da saúde, reorganiza as coordenadas deste campo, conduzindo para seu interior as perspectivas simbólica, ética e política. A atenção à saúde caracteriza a organização estratégica do sistema e das práticas de saúde em explicação às necessidades da população. E manifesta- se em políticas, programas e serviços de saúde consoante os princípios e as diretrizes que compõem e estruturam o Sistema Único de Saúde (SUS). O entendimento do termo atenção à saúde diz respeito tanto a processos históricos, políticos e culturais que manifestam disputas por projetos no campo da saúde e à própria visão de saúde sobre o objeto e os objetivos de suas ações e serviços, signifi ca como tem de ser as ações e os serviços de saúde, como a quem se destinam, sobre o que incidem e a maneira como se organizam para alcançar suas metas (MATTA; MOROSINI, s.d.). Numa concepção histórica, o sentido de atenção almeja superar a clássica oposição entre as dualidades: a assistência e a prevenção, entre indivíduo e coletividade, que por longo tempo marcou as políticas de saúde no Brasil. Sendo assim, refere-se à história ao corte entre as iniciativas de caráter individual e 25 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 curativo, que defi nem a assistência médica, e as iniciativas de caráter coletivo e massivo, de fi nalidades preventivas, específi cas da saúde pública. Essas duas formas aqui mencionadas de confi gurar e de ordenar as ações e os serviços de saúde caracterizaram dois modelos diferenciados – o modelo biomédico e o modelo campanhista/preventivista – estes marcaram, mutuamente, a assistência médica e a saúde pública, expressões do setor saúde brasileiro cuja separação, há muito instituída, ainda refl ete um desafi o para a confi guração da saúde em um sistema integrado. O modelo biomédico, desenvolvido ainda o século XIX, relaciona doença à lesão, limitando o processo saúde-doença a sua dimensão anatomofi siológica, removendo as dimensões histórico-sociais, como a cultura, a política e a economia e, em consequência disso, colocando seus principais planejamentos interventivos no corpo doente. Você sabe que também existe o conceito de medicina preventiva? E você sabe o que signifi ca medicina preventiva? A medicina preventiva é a especialidade médica focada em evitar o desenvolvimento de doenças, reduzir o impacto das enfermidades na saúde dos indivíduos e melhorar a qualidade de vida de pacientes em tratamento. O conceito de medicina preventiva surgiu em meados do século XX como um movimento que propunha uma abordagem diferente da medicina. A ideia básica era mudar o foco da prática médica, que até então se concentrava exclusivamente no tratamento das doenças, para uma visão mais voltada à promoção da saúde. Em contrapartida, desde o fi nal do século XIX, o modelo preventivista ampliou o paradigma microbiológico da doença para as populações, defi nindo-se como um saber epidemiológico e sanitário, objetivando o ordenamento, organização e à higienização dos espaços humanos.No Brasil, tais modelos de atenção são possíveis ser compreendidos em relação às condições socioeconômicas e políticas criadas nos vários períodos históricos de organização da sociedade brasileira (MATTA; MOROSINI, s.d.). 26 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Os autores ainda expressam que o modelo campanhista – motivado por interesses agroexportadores no começo do século XX – fundamentou-se em campanhas sanitárias no combate às epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola, estabelecendo programas de vacinação obrigatória, desinfecção dos espaços públicos e residências e demais ações de medicalização do espaço urbano, que focaram, em sua maioria, nas camadas mais empobrecidas da população. Esse modelo perdurou no cenário das políticas de saúde brasileiras até o início da década de 1960 (MATTA; MOROSINI, s.d.). O modelo previdenciário-privatista surgiu na década de 1920 infl uenciado pela medicina liberal, e seu objetivo era ofertar assistência médico-hospitalar para os trabalhadores urbanos e industriais, na modalidade de seguro-saúde/ previdência. Sua ordenação é marcada pela lógica da assistência e da previdência social, a princípio, limita-se a algumas corporações de trabalhadores e, em seguida, unifi cando-se no Instituto Nacional de Assistência e Previdência Social – INPS – em 1966, e vai ampliando-se gradualmente aos demais trabalhadores formalmente inseridos na economia. Esse modelo é conhecido também pela sua dimensão hospitalocêntrica, pois, a partir da década de 1940, a rede hospitalar começou a receber um volume robusto de investimentos, e a atenção à saúde foi se consolidando sinônimo de assistência hospitalar. Refere-se à maior manifestação na história do setor saúde brasileiro da concepção médico-curativa, alicerçada no paradigma fl exneriano, marcado por uma concepção mecanicista do processo saúde-doença, pelo reducionismo da causalidade aos agentes biológicos, focado na atenção sobre a doença e o indivíduo. Nessa perspectiva organizou o ensino, e o trabalho médico foi um dos responsáveis pela fragmentação e hierarquização do desenvolvimento de trabalho em saúde e pelo alastramento das especialidades médicas (MATTA; MOROSINI, s.d.). Conforme os apontamentos dos autores, nesse mesmo processo, o modelo campanhista da saúde pública, guiado pelas intervenções na coletividade e nos espaços sociais, perde terreno e infl uencia o cenário político e o orçamento público do setor saúde, que passa a preferir a assistência médico-curativa, chegando a comprometer a prevenção e o controle das endemias no território nacional (MATTA; MOROSINI, s.d.). 27 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 Se você quiser conhecer mais sobre os assuntos abordados, vamos deixar a indicação de alguns livros que se articulam com o assunto tratado neste subtópico: Este livro é indicado para as áreas de Medicina, Nutrição, Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia, Odontologia, Farmácia, Medicina Veterinária, Serviço Social, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e muitas outras ligadas à saúde. Possui um arcabouço teórico bem aprofundado a respeito dos conceitos, teorias sobre a saúde pública no Brasil. Referência: MAGALHÃES, Thereza Maria (coord.) Manual de Saúde Pública. 2. ed. Salvador: Editora Sanar, 2019. Um livro didático e de referência que inclui os eixos de análise individual/coletivo, clínico/epidemiológico e público/privado, além de congregar autores com experiência na gestão de serviços e do próprio sistema, nos três níveis da federação. 28 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família A construção do SUS há muito deixou de ser obra exclusiva de intelectuais capazes de ler em língua estrangeira. Temos ‘construtores’ que leem na realidade concreta dos serviços e da gestão, e que participam ativamente do complexo processo de construção cotidiana da saúde. Referência: GIOVANELLA, Lígia; ESCOREL, Sarah; LOBATO, Lenaura de Vasconcelos Costa; NORONHA, José de Carvalho; CARVALHO, Antônio Ivo de. Políticas e sistema de saúde no Brasil. SciELO - Editora FIOCRUZ, 2012. Ao fi nal da década de 1970, vários segmentos da sociedade civil – entre eles, usuários e profi ssionais de saúde pública – aborrecidos com o sistema de saúde brasileiro começaram um movimento de luta pela ‘atenção à saúde’ como um direito de todos e um dever do Estado. Esse movimento fi cou conhecido como Reforma Sanitária Brasileira e resultou na instituição do SUS por meio da Constituição de 1988. A Constituição de 1988 destinou alguns artigos específi cos para tratar especifi camente a respeito da saúde, tamanha a necessidade de avalizá-la enquanto direito inerente a todos os cidadãos. O texto constitucional apresenta a saúde delineando-a legalmente através de princípios e diretrizes que necessitam ponderar as atividades do Estado e da sociedade em prol da proteção social e integral da saúde enquanto direito no Brasil. Nesse compasso, os legisladores brasileiros elaboraram normas legais com vistas a proteger o direito à saúde no Brasil, expandindo signifi cativamente esse direito a todas as pessoas que dele necessitarem. Dentre os direcionamentos legais promovidos pela Constituição Federal de 1988, que protegem o Direito à Saúde, destacam-se os artigos 196 ao 200. Tratando, assim, a saúde um dever do Estado, além de orientar legalmente a necessidade dos estados, municípios e União de organizar os atendimentos em saúde de maneira descentralizada e com a participação da população, além de avultar sobre a necessidade de sistematizar esse atendimento em forma de um sistema único. O Estado em suas três esferas, precisa implementar políticas econômicas e sociais com vistas à redução dos riscos de enfermidades e demais agravos, e, sobretudo realizar ações de promoção do acesso universal e igualitário às ações e serviços empreendidos pelo poder público em relação a saúde. 29 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 Com o reconhecimento legal da saúde sendo inserida no texto constitucional, sendo considerada direito social fundamental, ela passa a receber proteção jurídica e legal com vistas a assegurar esse direito a todos os cidadãos, o que concerne em obrigar o poder público a fazer seu papel na oferta de atendimento em saúde em todos os níveis de atenção, sempre de acordo com as necessidades da população. A Constituição Federal de 1988 representa o principal marco legal de consolidação de direitos sociais no país, e do Estado democrático de Direito; mormente, porque se delineou após o longo período de ausência de democracia, de liberdade de expressão e direitos cassados e negados. A Constituição Federal, ainda, pôs fi m à lógica de atendimento à saúde, atrelada à contribuição com a previdência social, passando assim a ser universal e demarcou o início do atendimento em saúde nos motes de sistema único, podemos assegurar que ela preconizou o Sistema Único de Saúde – SUS – brasileiro. Posteriormente regulamentado pelas leis nº 8.080/90 e 8.142/90, chamadas Leis Orgânicas da Saúde. 1) No que diz respeito à saúde enquanto política pública brasileira, como ela está apresentada no campo da seguridade social da Constituição Federal de 1988? 2) Sabe-se que a promulgação da Carta Magna em 1988 assegurou o direito da população à saúde e, ao Estado, o dever de assegurar esse direito a todos brasileiros. Assim, como o Estado garantirá o acesso à saúde para a população? Em meio ao movimento de consolidação do SUS, a noção de atenção afi rma-se na tentativa de produzir uma síntese que expresse a complexidade e a extensão da concepção ampliada de saúde que marcou o movimento pela Reforma Sanitária: saúde é a resultado das condições de habitação, alimentação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, promoção e posse da terra e ascensão a serviçosde saúde (MATTA, MOROSINI, s.d.). 30 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família A partir dessa concepção ampliada do processo saúde-doença, a atenção à saúde intenta conceber e organizar as políticas e as ações de saúde numa perspectiva interdisciplinar, partindo da crítica em relação aos modelos excludentes, seja o biomédico curativo ou o preventivista. No âmbito do SUS, há três princípios fundamentais a serem considerados em relação à organização da atenção à saúde, são eles: o princípio da universalidade, pelo qual o SUS deve garantir o atendimento de toda a população brasileira; o princípio da integralidade, pelo qual a assistência é apreendida como um conjunto articulado e ininterrupto das ações e serviços preventivos e curativos, singulares e coletivos; e o princípio da equidade, pelo qual esse atendimento deve ser garantido de forma igualitária, porém, contemplando a multiplicidade e a desigualdade das condições sociossanitárias da população (BRASIL, 1990). Em relação à universalidade, o desafi o posto à organização da ‘atenção à saúde’ é o de constituir um conjunto de ações e práticas que permitam incorporar ou reincorporar parcelas da população historicamente apartadas dos serviços de saúde. Da mesma forma, ao pautar-se pelo princípio da integralidade, a organização da ‘atenção à saúde’ implica a produção de serviços, ações e práticas de saúde que possam garantir, a toda a população, o atendimento mais abrangente de suas necessidades. Já em relação à equidade, a ‘atenção à saúde’ precisa orientar os serviços e as ações de saúde segundo o respeito ao direito da população brasileira em geral de ter as suas necessidades de saúde atendidas, considerando, entretanto, as diferenças historicamente instituídas e que se expressam em situações desiguais de saúde segundo as regiões do país, os estratos sociais, etários, de gênero entre outros. 31 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 FIGURA 3 – PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS E DOUTRINÁRIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE PRECONIZADOS A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 FONTE: A autora Já os princípios organizativos têm as seguintes funções: • Regionalização - ter serviços de saúde dentro dos territórios sem ter a necessidade das pessoas se deslocarem para muito distante de sua região; artigo 198 da CF/1988. • Descentralização - responsabilização dos vários entes (municípios, estados, DF e União) em fazer um sistema único de alcance e qualidade para todos; está preconizado no artigo 198 da CF/1988. • Participação popular – tem os cidadãos participando das discussões e debates sobre o atendimento em saúde, através dos conselhos municipais de saúde, conferências entre outros, nos três níveis – Municipal, Estadual e Federal. Premido, de um lado, pelas tensões geradas por essa pauta de princípios e, de outro, pela convivência com os paradigmas do modelo assistencialista, o 32 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família SUS organizou o modelo de atenção à saúde de forma hierarquizada, em níveis crescentes de complexidade. Segundo essa lógica, os serviços de saúde são classifi cados nos níveis primário, secundário e terciário de atenção, conforme o grau de complexidade tecnológica requerida aos procedimentos realizados. A imagem associada a essa hierarquização é a de uma pirâmide, em cuja base se encontram os serviços de menor complexidade e maior frequência, que funcionariam como a porta de entrada para o sistema. No meio da pirâmide estão os serviços de complexidade média e alta, aos quais o acesso se dá por encaminhamento e, fi nalmente, no topo estão os serviços de alta complexidade, fortemente especializados. Essa tentativa de organizar e racionalizar o SUS, se, por um lado, proporcionou um desenho e um fl uxo para o sistema, por outro, reforçou a sua fragmentação e subvalorizou a atenção primária como um lócus de tecnologias simples, de baixa complexidade. Em contraposição, o modelo de atenção pode constituir-se na resposta dos gestores, serviços e profi ssionais de saúde para o desenvolvimento de políticas e a organização dos serviços, das ações e do próprio trabalho em saúde, de forma a atenderem às necessidades de saúde dos indivíduos, nas suas singularidades, e dos grupos sociais, na sua relação com suas formas de vida, suas especifi cidades culturais e políticas. O modelo de atenção pode, enfi m, buscar garantir a continuidade do atendimento nos diversos momentos e contextos em que se objetiva a atenção à saúde. Nesse sentido, existem também propostas de atenção dirigidas a grupos específi cos que podem ser descritas como políticas voltadas para atenção à saúde por ciclo de vida – atenção à saúde do idoso, à criança e ao adolescente, atenção à saúde do adulto; a portadores de doenças específi cas – atenção à hipertensão arterial, diabetes, hanseníase, DST/Aids, entre outras; e relativas a questões de gênero – saúde da mulher e, mais recentemente, saúde do homem. Essas propostas podem vir associadas a estratégias de centralização política e especialização técnica, historicamente concebidas como programas de saúde que antagonizam com a lógica da integralidade, uma vez que favorecem a fragmentação das políticas e das ações de saúde e buscam uniformizar a intervenção por meio de protocolos técnico-científi cos pouco permeáveis às especifi cidades políticas, sociais e culturais. 33 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 Ao contrário, argumenta-se que a complexidade dos problemas de saúde requer para o seu enfrentamento a utilização de múltiplos saberes e práticas. Desse modo: O sentido da mudança do foco dos serviços e ações de saúde para as necessidades individuais e coletivas, portanto para o cuidado, implica a produção de relações de acolhimento, de vínculo e de responsabilização entre os trabalhadores e a população, reforçando a centralidade do trabalho da equipe multiprofi ssional (EPSJV, 2005, p. 75). Numa dimensão ético-política, isso signifi ca afi rmar que a ‘atenção à saúde’ se constrói a partir de uma perspectiva múltipla, interdisciplinar e, também, participativa, na qual a intervenção sobre o processo saúde-doença é resultado da interação e do protagonismo dos sujeitos envolvidos: trabalhadores e usuários que produzem e conduzem as ações de saúde. 1) Na Constituição Federal, na seção II da saúde, o artigo 198 informa que as ações e os serviços públicos de saúde devem integrar uma rede regionalizada, compor um sistema único e seguir algumas diretrizes. Quais são essas diretrizes? 2) Sabe-se que no Brasil, mesmo com a implantação do SUS, a partir da Constituição Federal de 1988, ainda nos deparamos com outro tipo de projeto para a saúde brasileira. Qual é esse outro tipo de projeto? É importante destacar que os modelos apresentados anteriormente são formas de organização do sistema em diferentes períodos históricos no Brasil. Atualmente, apesar do modelo preconizado ser a Atenção Básica em Saúde, os demais modelos aqui estudados ainda estão presentes em formas de organização de programas e nas práticas de atenção à saúde. Para melhor síntese de compreensão sobre os modelos de atenção, explicitamos no quadro os principais modelos do Estado brasileiro e suas distintas características: 34 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família QUADRO 2 – SÍNTESE DOS MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE NO ESTADO BRASILEIRO SANITARISMO ASSISTENCIALISMO MÉDICO ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE Características organizacionais Financiamento público estatal Financiamento misto (estado, empregador) Financiamento público com repasse e autono- mia municipal Acesso universal Acesso à população defi nida Acesso progressivamen- te universal (territorial) Ações não hospitalares Ações enfaticamente hospitalares Ações territorializadas e indutoras de redesda atenção à saúde Ações verticais sem participação social Controle social inci- piente Participação popular e controle social Características das práticas de atenção à saúde Proteção social focali- zada e seletiva Proteção social meri- tocrática (acesso para quem tem vínculo de trabalho ou pagamento direto) Proteção social univer- sal Ações de prevenção Ações curativas Orientado pela integra- lidade Ações programadas Atendimento à deman- da Equilíbrio entre ações programadas e aten- dimento à demanda espontânea Ações sobre o ambien- te e coletividade Ações individuais Ações individuais e coletivas centradas no usuário/família/comu- nidade Práticas não necessa- riamente médicas Práticas enfaticamente médicas Práticas multiprofi ssio- nais Processo saúde-do- ença na perspectiva microbiológica Processo saúde-do- ença na perspectiva anatomoclínica Processo saúde-doença baseado nos determi- nantes sociais de saúde FONTE: <https://dms.ufpel.edu.br/sus/fi les/U02.html>. Acesso em: 11 maio 2021. Compreendemos que a saúde foi uma das áreas cujos avanços constitucionais foram mais relevantes. O Sistema Único de Saúde – SUS –, constituinte da Seguridade Social e uma das proposições do Projeto de Reforma Sanitária, foi regulamentado, em 1990, pela Lei Orgânica da Saúde – LOS. Ao analisar o SUS como uma estratégia, o Projeto de Reforma Sanitária tem como base o Estado democrático de direito, encarregado das políticas sociais e, consequentemente, da saúde (CFESS, 2010). 35 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 Ressalta-se como fundamentos desse plano a democratização do acesso; a universalização das ações; a evolução da qualidade dos serviços, com a implementação de um novo modelo assistencial centrado na integralidade e equidade das ações; a democratização das informações e lisura no uso de recursos, bens e ações do governo; a descentralização com controle social democrático; a interdisciplinaridade nas ações. Possui como premissa básica a defesa da saúde como direito de todos e dever do Estado (BRAVO, 1999; BRAVO; MATOS, 2001). A proposta elementar da Reforma Sanitária é a defesa da universalização das políticas sociais e a garantia dos direitos sociais. Nesse sentido, destaca- se a concepção ampliada de saúde, defi nidas como melhores condições de vida e de trabalho, com destaque nos determinantes sociais; a nova organização do sistema de saúde através da construção do SUS, aliado aos princípios da intersetorialidade, integralidade, descentralização, universalização, participação social e também a redefi nição dos papéis institucionais das unidades políticas (União, Estado, municípios, territórios) na prestação dos serviços de saúde; e efetivo fi nanciamento do Estado. Cabe destacar que no ano de 1989, nas eleições presidenciais, há uma disputa entre dois projetos societários: Democracia de Massas X Democracia Restrita (NETTO, 1990), erigidos no processo da relação Estado – Sociedade. O projeto Democracia de Massas pressupõe a ampla participação social, agregando as instituições parlamentares e os sistemas partidários através de uma malha de organizações de base: sindicatos, comissões de empresas, organizações de profi ssionais e de bairros, movimentos sociais urbanos e rurais. FIGURA 4 – DEMOCRACIA RESTRITA X DEMOCRACIA DE MASSAS FONTE: A autora 36 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Esse projeto propõe associar a democracia representativa com a democracia direta e concebe ao Estado democrático de direito a responsabilidade e o dever de construir respostas às expressões da questão social. O projeto Democracia Restrita restringe os direitos sociais e políticos com a concepção de Estado mínimo, ou seja, máximo para o capital e mínimo para o trabalho. O enxugamento do Estado é a grande meta, como também a substituição das lutas coletivas por lutas corporativas. Na década de 1990, em consequência das derrotas sofridas pelo projeto Democracia de Massas, fortalece-se um rumo político das classes dominantes no processo de enfrentamento da crise brasileira. Nessa perspectiva, as principais estratégias do grande capital passam a ser: fervorosa crítica às conquistas sociais da Constituição Federal de 1988, com ênfase para a concepção de Seguridade Social, e a edifi cação de uma cultura persuasiva para a transmissão e tornar seu projeto consensual e compartilhado (MOTA, 1995). É notável, nessa década, a afi rmação das contrarreformas de forte caráter neoliberal, apregoadas pelas agências internacionais. As propostas do grande capital têm como vetores privilegiados, segundo Mota (1995), a defesa do desenvolvimento de privatização e a constituição do cidadão consumidor. Na defesa do processo de desenvolvimento de privatização, destaca-se a mercantilização da Saúde e da Previdência e a ampliação do assistencialismo. FIQUE ATENTO Mesmo com a promulgação da Constituição Federal em 1988, trazendo a saúde como direito social fundamental e assegurando-a enquanto direito de todo cidadão; não deixou de existir um outro projeto de saúde no Brasil, que é o que chamamos de projeto privatista. Esse projeto visa destinar o direito da saúde apenas para garantir os mínimos em saúde, e que esse direito seja regulado pelo mercado, tem um forte apelo a não universalização das ações, voltando-se para a ideia de que para se ter acesso à saúde se fazem necessárias contribuições. O que podemos concluir que esse tipo de projeto altamente neoliberal, circunda a política de saúde, e que a população precisa fazer resistência juntamente com os movimentos sociais e trabalhadores do SUS para não deixar esse projeto avançar ainda mais e destituir o SUS. 37 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 FONTE: CFESS. Parâmetros de atuação do assistente social na saúde. Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/Parametros_ para_a_Atuacao_de_Assistentes_Sociais_na_Saude.pdf. Acesso em: 10 maio 2021. As principais diretrizes são: a Reforma da Previdência anexada no bojo da Reforma do Estado, que vem sendo instituída progressivamente e possui características de uma contrarrevolução ou contrarreforma; a defesa do SUS para os menos favorecidos e a refi lantropização da assistência social, com forte proliferação da ação do setor privado no âmbito das políticas sociais (GUERRA, 1998). A contrarreforma do Estado atingiu a saúde através das proposições de contenção do fi nanciamento público; da divisão entre ações curativas e preventivas, rompendo com a concepção de integralidade por intermédio da elaboração de dois subsistemas: o subsistema de entrada e controle. Ou seja, de atendimento básico, de obrigação do setor estatal visto que esse atendimento não é de preocupação do setor privado e o subsistema de referência ambulatorial e especializada, composto por unidades de maior complexidade que seriam transformadas em Organizações Sociais (CFESS, 2010). A política pública de saúde tem encontrado notórias difi culdades para sua efetivação, como a desigualdade de acesso da população aos serviços de saúde, o desafi o de construção de práticas baseadas na integralidade, os dilemas para alcançar a equidade no fi nanciamento do setor, os avanços e recuos nas experiências de controle social, a falta de articulação entre os movimentos sociais, entre outras. Todas essas questões são exemplos de que a construção e consolidação dos princípios da Reforma Sanitária permanecem como desafi os fundamentais na agenda contemporânea da política de saúde. FIQUE ATENTO A concepção de saúde como direito de todos os cidadãos somente foi admitida pelo Estado brasileiro a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988. Ganha especial atenção dos preceitos constitucionais, devido a estar arrolado na 38 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família seção II da ordem social em queapresenta a quem se destina, além dos princípios e diretrizes para a sistematização do Sistema Único de Saúde (SUS) para o Brasil. É necessário que todos/as profi ssionais que atuam ou desejam atuar no âmbito do SUS, quer seja na atenção básica, nível secundário e/ou terciário, entenda sobre equidade, universalidade, integralidade, descentralização e participação popular, que se constituem como princípios organizativos do SUS que orientarão as ações nos três níveis de atenção à saúde. É importante enfatizarmos que o projeto de reforma sanitária brasileira, edifi cado a partir da metade dos anos de 1970, encontra-se sendo intencionalmente deslegitimado e enfraquecido em suas ações e recursos, para que assim possa perder sua notoriedade para o projeto voltado para o mercado ou privatista, que encontrou base na lógica neoliberal a partir dos anos 1990. O projeto da saúde articulado ao mercado ou à reatualização do modelo médico assistencial privatista está pautado na Política de Ajuste, que tem como principais tendências: • a contenção dos gastos com racionalização da oferta; • a descentralização com isenção de responsabilidade do poder central. A incumbência do Estado, nesse projeto, se traduz em garantir um mínimo àqueles que não podem pagar, fi cando para o setor privado o suporte aos que têm acesso ao mercado, diante disso, suas propostas relevantes nesse sentido são: caráter focalizado para assistir às populações em situação de vulnerabilidade através do pacote básico para a saúde, expansão da privatização, forte incentivo ao seguro privado, descentralização dos serviços em âmbito local e eliminação da vinculação de fonte com relação ao fi nanciamento (CFESS, 2010). Existem alguns sites acadêmicos que reúnem publicações de artigos acadêmicos de várias revistas eletrônicas acadêmicas, dentre eles, deixamos como indicação o site da Scielo; sendo assim, segue o site para que possa acessar e navegar: https://scielo.org/. 39 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 A universalidade do direito – um dos fundamentos centrais do SUS e contido no projeto de Reforma Sanitária – é um dos aspectos que tem provocado resistência dos formuladores do projeto privatista da saúde. Os valores solidários, coletivos e universais que alicerçam a formulação da Seguridade Social lavrada na Constituição de 1988 estão sendo trocados pelos valores individualistas, corporativos, focalistas, que expande a consolidação do projeto direcionado para o mercado, que possui por suporte a consolidação do SUS para os vulneráveis e a segmentação do sistema (CFESS, 2010). Você sabe qual a importância do movimento da reforma sanitária para assegurar a saúde pública no Brasil enquanto direito de todos os cidadãos? Esse movimento ocorreu em vários países no mundo e, no Brasil, deu início a partir do fi nal da década de 1970, em meio ao período ditatorial militar. Cabe ressaltar que o Brasil se espelhou no movimento sanitarista da Itália. Várias entidades como: Centro de Estudos brasileiros – CEBES (1976); Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO (1979) foram se organizando no Brasil para fortalecimento desse movimento, para que pudesse alcançar a mudança estrutural de atendimento em saúde para a população brasileira. O movimento ganhou mais força quando se concretizou a VIII Conferência em saúde realizada em Brasília no ano de 1986, em que se debateu profundamente a mudança na forma de ofertar saúde no Brasil, e que essa mudança deveria ser a partir da universalização do acesso, bem como conceber a saúde não apenas como curativa, mas, sim, de prevenção e promoção, além de ter mecanismos legais para assegurar seu fi nanciamento. Ponderamos, deste modo, que esse movimento que reuniu vários profi ssionais e a participação da população, foi fundamental para que dois anos após essa conferência nacional em saúde, a nova Constituição Federal pudesse avalizar a saúde enquanto direito social e humano com todas as garantias necessárias a atender à população de forma universal. FONTE: <https://www.todamateria.com.br/reforma-sanitaria- brasileira/>. Acesso em: 10 maio 2021. 40 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Nessa situação, várias entidades defi nidas até então no campo progressista têm modifi cado suas lutas coletivas por lutas corporativas, limitadas a grupos de interesses. Essa visão está de total acordo com o ideário das classes dominantes que vislumbram como perspectiva a “americanização perversa” da sociedade brasileira, enfraquecendo os processos de resistência com a utilização de métodos e estratégias persuasivas, intimidando os trabalhadores a uma prática política defensiva (VIANA, 1999). Por fi m, esse projeto coletivo, cuja construção iniciou-se nos anos de 1980, tem sido questionado e substituído pelo projeto corporativo e privatista que procura naturalizar a objetividade da ordem burguesa, considerando, assim, a necessidade de a saúde ser um produto a ser comercializado a quem dela precisar, procurando reforçar a lógica de seguro saúde no Brasil. Contudo, cabe aos profi ssionais do âmbito da saúde pública brasileira desenvolver estratégias cotidianas em seu exercício de trabalho para fazer valer os preceitos constitucionais, bem como a materialidade dos princípios balizadores da reforma sanitária que culminaram na constituição do SUS – Sistema Único de Saúde. 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, procuramos explicitar a respeito de conhecimentos que são de suma importância para a compreensão dos estudantes que desejam atuar e/ ou que já atuam profi ssionalmente no campo da saúde pública com foco na saúde da família. Como discente, você pôde compreender a relevância da promoção à saúde, entendendo como esse conceito surgiu e a que ele se destina a atender, apreendendo ainda a concepção ampliada de saúde que surgiu a partir da perspectiva ampliada do processo de saúde x doença e conhecendo os impactos dos determinantes sociais em saúde – DSS – tangenciando o referido procedimento de saúde x doença. Como estudante, você também foi orientado a refl etir acerca da existência de modos diferentes de pensar saúde que acabam constituindo seus diferentes modelos conceituais. É fundamental destacar que o tema modelos conceituais em saúde não se consume nesta ocasião de estudo. É imprescindível que cada qual busque a compreensão dos modelos conceituais de saúde, e faça uma refl exão crítica em seu cotidiano de trabalho 41 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 a fi m de verifi car as implicações de cada qual, infl uenciando na direção do atendimento à população, e enquanto profi ssionais, procurando validar o conceito do modelo que emanou da reforma sanitária brasileira. Relembramos que seu objetivo de aprendizagem neste capítulo foi conhecer o modelo da determinação social da doença em contraponto ao modelo biomédico e a infl uência das relações sociais na constituição desses modelos de saúde, além de identifi car algumas características do modelo da promoção da saúde, bem como suas tendências contemporâneas. Confi rmamos, assim, a importância desse estudo para todos os estudantes, para que tenham a noção do que tínhamos enquanto concepções de acesso à saúde e compreensão dos processos de saúde e doença, bem como os vários tipos de modelos de atenção em saúde que foram sendo estudados e implantados no mundo e que infl uenciou o Brasil. Por fi m, compreendendo ainda que a reforma sanitária buscou pautar-se em um modelo de atenção universal, mas que, a lógica privatista de saúde ainda persiste nos atuais dias, tentando de todas as formas enfraquecer o sistema de saúde na concepção universal; e mesmo diante da constante ameaça ao SUS os profi ssionais tendo entendimento da totalidade, buscar fazer a defesa deste sistema para todos os brasileiros. REFERÊNCIAS ANDRADE, L. O. M. de. Do surgimento da medicinasocial ao surgimento da intersetorialidade. [s.d.]. AROUCA, S. Reforma Sanitária. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998. Disponível em: http://bvsarouca.icict.fi ocruz.br/sanitarista05.html. Acesso em: 11 abril. 2021. BAPTISTA, T. W. F. O direito à saúde no Brasil: sobre como chegamos ao Sistema Único de Saúde e o que esperamos dele. In: EPSJV (Org.) Textos de Apoio em Políticas de Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Atenção à Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 152 p. (Caderno de Atenção Básica n. 27). BRASIL. Saúde da Família: uma estratégia para reorientação do modelo assistencial. Brasília, 1997. 42 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Disponível em: http://www6. senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=134238. Acesso em: 10 maio 2021. BRASIL. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Disponível em: http://www6. senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=134561. Acesso em: 10 maio 2021. BRASIL. Constituição da República. Artigos 194, 196. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/. Acesso em: 10 maio 2021. BRAVO, M. I. S. A política de saúde na década de 90: projetos em disputa. Revista Superando Desafi os – Cadernos do Serviço Social do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, n. 4, UERJ /HUPE, 1999. BRAVO, M. I. S.; MATOS, M. C. A Saúde no Brasil: Reforma Sanitária e Ofensiva Neoliberal. In: BRAVO, M. I. S.; PEREIRA, P. A. (Org.). Política Social e Democracia. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2001. BUSS, P. M. O conceito de promoção da saúde e os determinantes sociais. 2010. In: Agência Fiocruz de Notícias. Disponível em: https://agencia.fi ocruz.br/o- conceito-de-promo%C3%A7%C3%A3o-da-sa%C3%BAde-e-os-determinantes- sociais. Acesso em: 10 abr. 2021. BUSS, P. M. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: CZERESNIA, D. F. C. M. (Org.). Promoção da saúde: conceitos, refl exões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 15-38. CARVALHO, S. R. Modelos teóricos conceituais da promoção à saúde canadense e da saúde coletiva brasileira. São Paulo: USP, 2008. CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. Parâmetros de atuação do/a assistente social na saúde. Série: Trabalho e projeto profi ssional nas políticas sociais. Brasília – DF, 2010. CORBO, A. M.; MOROSINI, M. V. G. Saúde da família: história recente da reorganização da atenção à saúde. In: EPSJV (Org.) Textos de Apoio em Políticas de Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. EPSJV (Org.) Projeto Político Pedagógico. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. COSTA, D. C. Comentários sobre a tendência secular da tuberculose. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 4, n. 4, out./dez. 1988. 43 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Capítulo 1 CZERESNIA, D. O conceito de saúde e a diferença entre promoção e prevenção (versão revisada e atualizada do artigo "The concept of health and the difference between promotion and prevention Cadernos de Saúde Pública, 1999). In: CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. (Org) Promoção da Saúde: conceitos, refl exões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 39-53. Disponível em: http://143.107.23.244/departamentos/social/saude_coletiva/ AOconceito.pdf. Acesso em: 17 maio 2021. DA ROS, M. A. A ideologia nos cursos de Medicina. In: MARINS, J. J. N. et al. Educação médica em transformação: instrumentos para a construção de novas realidades. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 245-266. EPSJV (ORG). Projeto Político-Pedagógico. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. GEIB, L. T. C. Determinantes Sociais da Saúde do Idoso. In: Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 123-133, 2012. GUERRA, Y. O Brasil (do) real: alguns elementos para pensar a reforma do Estado no Brasil. A racionalidade hegemônica do capitalismo no Brasil contemporâneo: uma análise das suas principais determinações. Tese Doutorado em Serviço Social Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1998. MATTA, G. C.; MOROSINI, M. V. G. Atenção à saúde. Modelo biomédico e modelo sanitarista – FIOCRUZ, [s.d.]. MARCONDES, W. B. A convergência de referências na promoção da saúde. Saúde e Sociedade, v. 13, n. 1, p. 5-13, 2004. MENEGHEL, S. N. Medicina Social: um instrumento para denúncia, ano 2, n. 15, Instituto Humanitas, UNISINOS, 2004. MOROSINI, M. V. G. C. et al. Política Nacional de Atenção Básica 2017: retrocessos e riscos para o Sistema Único de Saúde. In: Revista saúde debate, Rio de Janeiro-RJ, v. 42, n. 116, p. 11-24, 2018. MOTA, A. E. A cultura da crise e seguridade social: um estudo sobre as tendências da previdência e da assistência social brasileira nos anos 80 e 90. São Paulo: Cortez, 1995. NETTO, J. P. Democracia e Transição Socialista: escritos de teoria e política. Belo Horizonte: Ofi cina de Livros, 1990. 44 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família PAIM, J. da S. Modelos de atenção à saúde no Brasil. In: GIOVANELLA, L. et al. Políticas e sistema de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. p. 547- 573. PORTAL EDUCAÇÃO. Diferencial entre Promoção da saúde e Prevenção de doenças. 2021. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/ conteudo/artigos/enfermagem/diferencial-entre-promocao-da-saude-e-prevencao- de-doencas/60144. Acesso em: 14 maio 2021. SILVA JUNIOR, A. G. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o debate no campo da saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 1998. STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: Unesco, 2002. VERDI, M.; CAPONI, S. Refl exões sobre a promoção da saúde numa perspectiva bioética. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 14, n. 1, jan./mar, 2005. p. 82-88. VERDI, M. I. M.; DA ROS, M. A.; SOUZA, T. T. Saúde e sociedade [Recurso eletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina. 2. ed. rev. e ampl. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012. VIANA, M. L. W. As armas secretas que abateram a seguridade social. In: LESBAUPIN, I. (Org.). O desmonte da nação: balanço do Governo FHC. Petrópolis: Vozes, 1999. CAPÍTULO 2 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Conhecer a atenção primária da saúde – APS – como estrutura do SUS; • Estudar as características e diretrizes da APS; • Aprender a respeito do modelo de atenção básica de saúde na perspectiva de sua política nacional de atenção básica – PNAB. 46 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família 47 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo objetiva tratar sobre a atenção primária da saúde (APS); diretrizes e características e, em seguida, estudaremos a respeito da atenção básica de saúde e a sua política nacional de atenção básica: princípios e diretrizes. Possibilitaremos a você, a possibilidade de obter uma refl exão crítica sobre o conceito, as qualidades, os eixos e as diretrizes da Atenção Primária da Saúde (APS) e sua afi nidade com o modelo brasileiro da Atenção Básica de Saúde (ABS), que se fundamenta a partir da Estratégia Saúde da Família. Nessa perspectiva, apontaremos contribuições no transcorrer dessa leitura para lhe possibilitar análises e, também, elaborar o seu próprio mapa conceitual a respeito das informações que orientam a prática na gestão do serviço social, estabelecendo o exercício da relação teoria e prática. Mediante a isso, propomos que você observe os conteúdos aqui tratados e alinhe com a sua realidade profi ssional e/ou o que aspira desenvolver no seu cotidiano profi ssional quandoestiver inserido em um determinado espaço sócio- ocupacional. Dessa forma, integramos algumas possibilidades de abordagem do tema proposto neste capítulo que corrobora com os estudos a respeito da Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia Saúde da Família. Fique atento e vamos juntos em busca do conhecimento e aprimoramento profi ssional. Bons estudos! 2 ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE (APS): DIRETRIZES E CARACTERÍSTICAS Diversas apropriações, usos e vertentes têm sido utilizados pelas tendências conservadoras, como também por forças progressistas. Percebe-se que, mais uma vez, uma questão epistemológica está lançada: não há um sentido de APS – Atenção primária da saúde – que não esteja impregnado de uma concepção saúde-doença como pressuposto. Quando mencionamos as forças conservadoras e progressistas, sabemos que os primeiros priorizam os custos do setor da saúde e vislumbram a APS como a possibilidade de barateá-los, ao passo que os progressistas focam as 48 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família desigualdades sanitárias e a possibilidade de construir cidadania pelo viés da saúde (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). Considerando a menção, observa-se que no Relatório Dawson, de 1920, na Grã-Bretanha, compõe em sua estrutura uma estruturação do conceito de APS (LAVRAS, 2011). O texto deve ser renovado e contextualizado dentro do seu tempo, mas são notórias certas semelhanças com o que, atualmente, está sendo discutido. Sir Dawson divide um sistema de saúde em três níveis: a) incialmente, vem o nível primário – com generalistas em comunidades; b) em seguida, o nível secundário – com especialistas atuando em ambulatórios; e c) por fi m, o nível terciário – com especialistas vinculados à atenção hospitalar. A APS representaria a delimitação de um distrito, com atenção fundamentada em torno das necessidades locais, elaborada por um médico generalista que viabilizaria ações de prevenção de doenças além de, também, recuperação da saúde. A base territorial, a conexão entre os níveis de atenção e a associação das concepções curativista e preventivista respaldaram as discussões na formação de vários sistemas de saúde. É evidente que devemos apreender essa teoria inserida no contexto histórico no qual foi desenvolvida. Não é prudente esperar, para a época, algo que não fosse médico-centrado, e muito menos podemos exigir de Dawson um discurso pró-promoção da saúde. A despeito desses pressupostos terem, de certa forma, reverberado, somente em 1978, na 1ª Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, sucedida em Alma-Ata (antiga URSS), a Organização Mundial da Saúde (OMS) estruturou os princípios da APS. É legítimo dizer que Alma-Ata conseguiu sistematizar e sintetizar um movimento que está se desenvolvendo dinamizado no mundo todo, inclusive no Brasil (UNICEF, 1978). O relatório do referido encontro não criou uma realidade, mas mostrou as lutas de diversos movimentos sanitários. É importante destacar que não seria errado defi nir que o documento produziu um aparente acolhimento ao Movimento da Reforma Brasileira, desde a esfera acadêmica como também no campo da gestão em saúde (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). 49 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 Conforme o relatório, APS seria uma atenção fundamental à saúde fundamentada em tecnologia e métodos práticos, cientifi camente comprovados e socialmente aceitáveis, empregados universalmente disponíveis a indivíduos e famílias na comunidade através de meios aceitáveis para eles e a um custo acessível à comunidade como ao país, para que possam dispor em cada estágio de seu desenvolvimento, um espírito de autoconfi ança e autodeterminação (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). É incumbência integral do sistema de saúde do país, do qual é função primordial, sendo o enfoque central do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. É o primeiro nível de aproximação dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, deslocando a atenção à saúde o mais próximo possível da região onde as pessoas realizam suas atividades diárias, residem e trabalham, formatando a peça principal de um processo de atenção continuada à saúde (UNICEF, 1978). FIGURA 1 – ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS FONTE: A autora 50 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família A representação de APS está intimamente pertinente a princípios que defi nem saúde-doença como procedimento apurado socialmente. Não recusa os condicionantes ecológico-ambientais, no entanto, os apreendem como hierarquicamente submetidos à maneira como nossa sociedade se dispõe. Sequer recusa os desencadeadores etiológicos, entretanto, os posiciona como elementos dos condicionantes e esses como servis do determinante social (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). É importante destacar que há outras maneiras de pensar APS. Há, por exemplo, a APS Seletiva, esta se confi gura basicamente por programas de impacto a comunidades específi cas. A título de exemplo, citamos o Programa de Terapia de Reidratação Oral em região com alta mortalidade por doença diarreica. Outro exemplo considerado APS Seletiva em um programa de saúde indígena. Outra forma de ver a APS é apenas como um nível de atenção, alicerçado em prevalência, focada no atendimento clínico, ou seja, centrada nas doenças mais comuns, no indivíduo e na fi gura do médico (APS Clássica). A construção política que se objetiva evidentemente não se unifi ca com qualquer dos dois modelos anteriores, todavia, sim, admitindo universalmente os princípios da APS expandida, isto é, encaminhada à comunidade. Essa posição, apesar de ser política, apresenta uma base de cunho epistemológico, está totalmente ligada a um espectro de mundo e, por conseguinte, com uma compreensão saúde-doença (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). Nessa perspectiva, conforme o relatório mundial da saúde, publicado pela OMS – Organização Mundial da Saúde – no ano de 2008, perfi lha a precisão de se defi nirem normas de atenção à saúde com base numa APS – atenção primária da saúde – de maneira expressiva e com qualidade, como podemos observar a seguir, segundo a OMS (2008, p. 43): [...] na interface entre uma população e o seu sistema de saúde, os cuidados primários podem vir a ser facilitadores de uma convergência, segura, efetiva e socialmente produtiva, da promoção da saúde, da prevenção da doença, da cura e dos cuidados em geral. Para tal é essencial "dar prioridade às pessoas" realçando, de uma forma equilibrada, a saúde e o bem-estar, assim como os valores e as capacidades das pessoas nas suas comunidades e das que trabalham no setor da saúde. 51 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 Você sabia que existem distintas concepções a respeito do efetivo signifi cado da APS – Atenção primária da saúde? Mas para que possamos saber qual o real signifi cado é importante que se saiba essas outras concepções e aprenda qual o real e efetivo signifi cado atribuido a APS. Sendo assim, para aquecer o debate, consulte o artigo a seguir: Atenção primária à saúde e a organização de redes regionais de atenção à saúde no Brasil, da autora Carmen Lavras, médica sanitarista. Disponível em: https://scielosp.org/article/sausoc/2011. v20n4/867-874/. Converse com sua equipe de trabalho, seus colegas de turma sobre a relevância a respeito da compreensão que cada uma/um de vocês possam ter alcançado a respeito do conceito efetivo da atenção primária da saúde – APS – e a relevância desse conceito para a saúde na perspectiva do acesso à saúde de um modo universal. 2.1 CARACTERÍSTICAS, EIXOS E DIRETRIZES DA APS Há diversas opções teóricas que podem ser acessadas como pontos de partida. Poderíamos dizer, por exemplo, que a APS está baseada na Vigilância daSaúde. Outro ponto de partida poderia ser o cuidado transversal. Outros poderiam alegar que constituiria a integralidade das ações, isto é, não se pode desconsiderar a legitimidade de qualquer um desses subsídios, menos ainda a relação particular que eles detêm. É importante frisar, ainda, que quando mencionamos a comunidade, estamos admitindo que em sua composição há famílias, e nessas famílias existem indivíduos. Comunidade tem vida, pulsa. 52 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Caro estudante: para contribuir ainda mais com o seu conhecimento, deixamos como sugestão de leitura o seguinte livro: O referido livro promove uma refl exão a respeito da trajetória e os desafi os relacionados à Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil, contorna-se densa e encantadora de debates e sugestões de intervenção quando se agrupam aspectos múltiplos sobre os caminhos teóricos, das experiências em díspares territórios, das práticas profi ssionais. Tal cenário consente abranger o estima desta política social para a aquisição do direito universal à saúde e para a concretização do Sistema Único de Saúde – SUS. Referência: MENDONÇA, Maria Helena Magalhães de; MATTA, Gustavo Corrêa; GONDIM, Roberta; GIOVANELLA, Lígia. (orgs.) Atenção à saúde no Brasil conceitos, práticas e pesquisa. 1. ed. FIOCRUZ, 2018. Os coefi cientes de atenção à saúde são capitais para o uso coeso dos recursos e fundos para estabelecer o enfoco gerencial das instâncias de governança das RAS – rede de atenção à saúde. É em rede que os serviços e programas dos três níveis de atenção à saúde necessitam ser pronunciados para o atendimento da população. 53 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 FIGURA 2 – REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE – RAS E A APS FONTE: A autora As ações do Estado em rede assegurariam maior racionalidade e efetividade, otimizando os recursos presentes na comunidade, fator essencial no atendimento às demandas da população no interior do território ao qual pertença. Por meio do discurso da gestão em redes tenciona-se garantir a ação efetiva das políticas públicas, normalmente caracterizadas por ações setoriais, desarticuladas, centralizadoras e hierárquicas, transcender a fragmentação da atenção às precisões sociais, paralelismo de ações, centralização das defi nições, informações e recursos, determinando em pauta do mesmo modo a precisão de juntar novos atores no domínio, na tomada de decisão da política social, que historicamente, no Brasil, fi cava exclusivamente a cargo do Estado anterior à Constituição Federal de 1988. 54 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família FIGURA 3 – DE SISTEMAS FRAGMENTADOS PARA AS REDES POLIÁRQUICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE FONTE: A autora Na designação de transpor as sobreposições e atitudes paralelas e/ou desarticuladas, o desígnio é agregar ações e progressivamente alavancar seus resultados regulares diante das demandas da população que se deparam nos territórios carecendo de atenção dos múltiplos serviços de saúde. A defi nição de redes de atenção à saúde tem estabelecido em diversas arenas de estudos e pesquisa, tais como: serviço social, psicologia social, sociologia, administração, sistema de informação, e em uma variedade de outras áreas científi cas. Para saber um pouco mais da discussão teórica apresentada neste capítulo, deixamos como sugestão alguns sites ofi ciais que possuem conteúdos que podem auxiliar na concepção a respeito do assunto abordado. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/atencao-a-saude/ comofuncionaosus/redes-de-atencao-a-saude/. Disponível em: https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/ arquivos/201701/11144518-redes-aps-para-novos-gestores.pdf. 55 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 É essencial avultarmos que as diretrizes da APS ampliada estão organizadas para a comunidade e a ela necessita acolher. Essa denominação, comunidade, envolve em seus sentidos estruturas não inferiormente complexas, como cultura e seus aspectos, grupos sociais, etnias, religiões, saberes, identidades, micropoderes, modos de vida diversos, relações no trabalho, formas específi cas de organização, distribuição de renda, educação, características ambientais e, segundo Starfi eld (2002, p. 23), “características comportamentais da sua população e o senso de conexão e de graus de coesão social na comunidade”. 1) (2020 banca: CONTEMAX – Prefeitura de Passira - PE) Analise as afi rmativas abaixo acerca das funções na rede de atenção à saúde assinalando a afi rmativa INCORRETA: a) ( ) Ser base. b) ( ) Ser resolutiva. c) ( ) Coordenar cuidado. d) ( ) Garantir rápido atendimento. Signifi ca que a comunidade e seu território são expressões e manifestação da sociedade organizada. É a epidemiologia crítico-social o instrumento que subsidiará a Vigilância da Saúde. Compete à Equipe de APS a adscrição dos usuários dos serviços de atenção à saúde no território, a sistematização do conhecimento referente aos problemas comunitários e o arsenal que a comunidade possui para seus enfrentamentos. A aplicabilidade dos procedimentos epidemiológicos possibilita a identifi cação dos problemas comunitários, bem como suas relações causais e de determinação, auxiliando com o planejamento local de saúde. Dentro da conjuntura da orientação comunitária, outra diretriz de trabalho que se apresenta é a participação social. A participação democrática dos usuários do sistema nos processos decisivos, que é o caso dos Conselhos Locais de Saúde –CLS – é premissa da APS ampliada. É recomendado que trabalhos sejam executados pelas equipes de saúde, especialmente no nível da atenção primária de saúde referente à orientação da 56 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família população a respeito do que é e como se dá o controle social, a participação ativa nos conselhos de direitos, nas conferências de saúde para que as mudanças concretas de fato se façam necessárias no contexto do desenvolvimento das ações de saúde ofertados no território. Conclui-se que os movimentos sociais podem ser instrumento de empoderamento tão legítimo quanto os CLS. Arriscaríamos dizer que, quem sabe, o usuário empoderado nos movimentos sociais possua mais qualidades de empreender nos CLS. É importante que se mencione que a edifi cação de uma nova cidadania não está na simples elaboração de um CLS, mas conseguimos entender que o seu papel não se restringe apenas a um instrumento regulador. O CLS deve ser compreendido como um pujante instrumento de planejamento, ouvidoria, corresponsabilização e democracia participativa. Outra característica interessante da APS diz respeito ao primeiro contato. Indo em direção ao princípio da universalidade, espera-se que a APS se torne a porta de entrada do sistema. É a partir da adscrição que o usuário se assenta, seja para o acompanhamento de suas demandas de saúde como, ainda, para as circunstâncias de agravos. O conceito de porta de entrada opera como uma referência de cuidado para o usuário. É na comunidade, na unidade de APS, na sua equipe de saúde, que ele procura uma espécie de abrigo nos momentos de reais necessidades quando precisa. Essa referência é necessária, até porque o usuário desconhece os fl uxos do sistema de saúde. O primeiro, a universalidade, parte da garantia da atenção à saúde, da parte do sistema para todo e qualquer cidadão e reverbera o princípio de que saúde é direito de cidadania e dever do Estado (BRASIL, 1990). Essa acessibilidade às ações e serviços de saúde explanou uma conquista fundamental de caráter democrático, e a saúde se tornou direito de todos e dever do Estado. Crê-se que o fortalecimento do sistema chega até a atenção universal de qualidade. A APS não deve ser pensada como uma “medicinade má qualidade e para pobres”, mas pelo contrário, como um “cuidado de saúde para todos”, que necessita alcançar a classe média também, ou seja, deve prever cobertura a todos indistintamente. Passemos agora à acessibilidade. A APS deve ser acessível ao usuário cadastrado. Universalidade é a garantia legal, o direito à atenção à saúde, logo, acessibilidade é a simplifi cação dos fl uxos ao direito da universalidade. Citando 57 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 como exemplo: Qualquer habitante da cidade tem direito a uma ressonância magnética? Sim, tem – universalidade. Todo cidadão brasileiro tem acesso a uma ressonância magnética? Não, não tem – acessibilidade. O cidadão cadastrado possui direito ao atendimento clínico na APS? Sim, tem. Tem acesso? Sim e não, estar sujeito à circunstância do momento. FIGURA 4 – A APS COMO PORTA DE ENTRADA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE BRASILEIRO FONTE: A autora Nessa perspectiva surge a questão do acolhimento. Poderíamos afi rmar que a acessibilidade é a facilitação parte colaborativa da universalidade e o acolhimento é um dos instrumentos da acessibilidade. Conforme Merhy (1997, p. 67), acolhimento signifi ca “[...] humanização do atendimento, o que pressupõe a garantia de acesso a todas as pessoas –acessibilidade universal”. A discussão segue, ainda, à escuta de problemas de saúde do usuário, de forma profunda e com qualidade, dando-lhe especialmente uma resposta de caráter prático e responsabilizando com a dissolução do problema. Mediante a isso, o acolhimento necessita garantir a resolubilidade, que é a fi nalidade do trabalho em saúde, solucionar efetivamente o problema do sujeito atendido. 58 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Outra característica, a longitudinalidade, é que normalmente, e não apropriadamente, é chamada de continuidade, tratando a respeito do conjunto de mecanismos defi nidos no cuidado que dá um aspecto de transversalidade na relação entre a equipe de saúde e o usuário do sistema. Traduzindo, longitudinalidade envolve uma relação de corresponsabilização de atenção aos indivíduos e famílias em suas etapas vitais, inseridos em determinado tempo e espaço, quer seja na proteção e promoção da saúde, ou quiçá, no tratamento de suas demandas clínicas – eixo processo saúde-doença. Segundo Starfi eld (2002), a essência da longitudinalidade é uma relação pessoal ao longo do tempo, involuntariamente do tipo de problemas de saúde ou ainda a apresentação de um problema de saúde, entre um paciente e uma equipe de saúde. Essa afi nidade, por decorrência, suscita conexão, responsabilização, certeza e otimização da resolubilidade. Para que um profi ssional de saúde se fi rme em uma comunidade, além de gostar verdadeiramente de exercer a sua função e compreender que aquela opção profi ssional possui relação com as perspectivas de mundo que ele possui, desse modo, ter uma relação trabalhista que envolva vínculos sólidos e um bom salário, como também de boas condições logísticas de trabalho. Outro elemento é a integralidade, o espectro de seu sentido é bastante amplo e incorpora desde a noção ampla da concepção saúde-doença; que abarca toda a compreensão do indivíduo como ser biográfi co, compreendendo os aspectos familiares e sociais; potencializa a oferta conjunta de serviços de promoção e proteção da saúde; seguindo até a prevenção de doenças e a recuperação e reabilitação da saúde (STARFIELD, 2002). Ainda baseado em Starfi eld (2002), para todos os efeitos, poderíamos afi rmar que a integralidade tem um sentido que pode ser compreendido como nuclear e primordial: o reconhecimento da necessidade do outro. A integralidade requisita que a APS reconheça e admita a variedade total de necessidades relacionadas à saúde do paciente e providencie recursos para abordá-las (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2012). A integralidade conduz também de outro pressuposto, que é o da complexidade do entendimento e a apreensão da defi nição saúde-doença. A complexidade deve ser colocada não como produto fi nal, mas como processo. Sendo assim, integralidade não signifi ca totalidade, integralidade não é produto, é processo. 59 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 Não devemos ser puristas a ponto de inferir que toda malha de complexidade que detém o entendimento de saúde possa ser entendida em sua íntegra, mesmo que todas as necessidades do sujeito atendido possam ser contentadas em seu conjunto. Isso não procede; integralidade, não é totalidade. Sendo assim, esta não pode ser utilizada como pretexto, visto que semelha que a totalidade não é concreta, todavia a integralidade o é. O conceito pragmático da integralidade, estamos nos referindo às ações integradas da saúde. Parte-se do pressuposto de que toda ação em saúde é derivada de uma concepção saúde-doença. Então, se falamos de ações integradas, estamos falando de uma concepção integrada de saúde-doença. A concepção saúde-doença biologicista, ou seja, causada por um desencadeador biológico (unicausal), nos leva a agir na recuperação e na reabilitação da saúde. Um modo de ver multicausal, com seus condicionantes, é o ecológico-ambiental, que nos leva a agir na proteção da saúde e na prevenção de doenças. Um entendimento de saúde-doença como processo e sua determinação social tem como consequência a promoção da saúde. Seria o mesmo que intervir viabilizando as ações de promoção, proteção, prevenção, recuperação e reabilitação. Retornaremos ao pressuposto de que toda ação em saúde é consequente a uma concepção saúde-doença. Ademais, as ações correlacionadas dizem respeito a uma concepção saúde-doença da integralidade, confi rma a determinação social, o condicionante ecológico-ambiental e o desencadeador biológico. Isso não signifi ca negar o biológico, mas contextualizá-lo, localizá-lo no âmbito de outro ângulo que não limita, mas expande. Sobre a organização dos atributos da APS, a gestão do processo de trabalho da equipe aperfeiçoa os demais atributos e dinamiza os fl uxos, ou seja, que cadastra, averigua, origina, acompanha, encaminha, promove ações integradas, acolhe e promove resolubilidade, segundo Cutolo (2001). Por opção teórica, não seria previsível localizar a coordenação do cuidado e apreendê-la inserida em uma perspectiva de gestão da Vigilância da Saúde? 60 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Nesse sentido, a Vigilância da Saúde seria o esforço como proposta metodológica de gestão. Para abarcar a atuação de saúde a respeito das dimensões às diversas concepções do processo saúde-doença, em especial do ponto de vista da determinação social. Em virtude disso busca-se agregar propostas de operacionalização dos sistemas de saúde, primando por se respeitar uma visão mais totalizadora. A Vigilância da Saúde, como eixo estruturante de gestão local, tem como ponto de partida fundante, o sentido de território, da identifi cação dos riscos e seus determinantes e condicionantes, e do planejamento das atuações de cuidado. Para melhor compreensão da discussão teórica apresentada neste capítulo, deixamos como sugestão alguns sites de artigos acadêmicos e documentos ofi ciais que auxiliarão sua pesquisa, para maior conhecimento a respeito das perguntas que deixamos a seguir como forma de instigá-los a pesquisar ainda mais a respeito deste importante tema. APS para quê? Por que APS? Por que tudo isso? Quais as vantagens da APS? A quem se destina? Por que mudar o modelo de atenção? Disponível em: https://aps.saude.gov.br/smp/smpoquee#:~:text=A%20 Aten%C3%A7%C3%A3o%20Prim%C3%A1ria%20%C3%A0%20 S a % C 3 % B A d e , m a n u t e n % C 3 % A 7 % C 3 % A 3 o % 2 0 d a % 2 0 sa%C3%BAde%20com%20o. Ocorre que há indicativos de que países com desenvolvimento econômico aproximado podem ter indicadoressanitários diferentes. Essa constatação é observada na premissa de ter ou não um sistema nacional de saúde baseado na APS (ROSEN, 1994). Outros dados informativos são encontrados: menor gasto per capita em saúde, ou maior grau de satisfação do usuário e, ainda, menor quantidade de 61 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 medicamentos consumidos. Em outra pesquisa, o mesmo autor citado acima, estipulou que quanto maior a quantidade de médicos de APS por população e menor a proporção de especialistas, favorecendo assim as chances de vida, sem considerar o efeito de outros determinantes de infl uência, como a renda per capita. Os EUA não dispõem um sistema de saúde organizado na APS e, mesmo sendo considerado o país que apresenta gastos no setor saúde, exibe indicadores de saúde mais pobres do que outros 12 países, comparativamente. Alta taxa de baixo peso ao nascer, elevada taxa de mortalidade infantil e ainda em anos potenciais de vida perdidos (STARFIELD, 2002). A acessibilidade aos serviços de saúde projetados e estruturados na APS potencializa o indicador sanitário. Tanto a privação do acesso quanto a retirada dos serviços ofertados são efetivadas, em um espaço de momento relativamente curto, por decadência da saúde (STARFIELD, 2002). Em suma, é surpreendente observar que, a despeito da relevância do determinante social e dos condicionantes ecológico-ambientais no desencadeamento dos procedimentos de adoecimento, a APS pode dar uma resposta aceitável, aprimorando esses indicadores. Pode-se notar ainda: • menor taxa de mortalidade pós-natal; • melhor sobrevivência à meningite bacteriana; • menores taxas de hospitalização por complicações pela diabetes; • menores índices de gravidez na adolescência; • maior cobertura vacinal; • maior expectativa de vida; e • maior disponibilidade de tratamento efetivo. 2.2 O QUE É A ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE E A SUA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA: PRINCÍPIOS E DIRETRIZES Neste subtópico, você vai ter a oportunidade de estudar a constituição histórica da atenção básica, e ainda a formação da PNAB – Política Nacional de Atenção Básica – em 2006, depois a sua reformulação em 2011, e, fi nalmente, registraremos as críticas à última reforma da PNAB que se deu no ano de 2017. 62 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Em 1994, a instituição do Programa Saúde da Família (PSF) possibilitou ampliar a cobertura em saúde, em um movimento preliminarmente voltado unicamente para a parte da população brasileira em situação de maior vulnerabilidade. Surgiu um modo de compor a equipe e de ordenar o processo de trabalho, com suporte territorial e comprometimento sanitário, orientações alicerçadas pelas contínuas políticas. Com a introdução da Norma Operacional Básica do SUS de 1996 (NOB/96), o PSF assumiu a condição de estratégia de reorientação da APS, substituindo assim as modalidades tradicionais (MOROSINI et al., 2018). De acordo com os teóricos Morosini et al. (2018), com a NOB/96 defi niu-se os componentes fi xo e variável do Piso da Atenção Básica (PAB) e estabeleceu incentivos fi nanceiros aos municípios que implantassem o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o PSF, tornando automática e regular a transferência de recursos federais para o fi nanciamento desses programas. Essa priorização passou por impactos concretos e, em 1998, foi defi nido o primeiro Pacto de Indicadores da Atenção Básica, processo que se renovou sistematicamente por meio da negociação intergestores de metas para a avaliação e o monitoramento da AB no SUS. Desenvolveu-se, também, em outros dispositivos de fortalecimento da AB, como por exemplo, a constituição do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), portanto, em 1998, substituindo o Sistema de Informação do Programa de Agente Comunitário de Saúde (SIPACS) (MOROSINI et al., 2018). Você sabe que a agenda política de fortalecimento da APS por meio da ESF consolidou-se gradativamente e, em 2006, tornou-se uma das dimensões prioritárias do Pacto pela Vida? Naquele mesmo ano, foi publicada a PNAB, revisada em 2012, buscando preservar a centralidade da ESF para consolidar uma APS forte, ou seja, capaz de estender a cobertura, prover cuidados integrais e desenvolver a promoção da saúde, confi gurando-se como porta de entrada principal do usuário no SUS e eixo de coordenação do cuidado e de ordenação da Rede de Atenção à Saúde –RAS. 63 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 Essa dinâmica contou com um amplo escopo de ações, movimentando instituições e sujeitos sociais para fazer frente aos desafi os colocados para a formação de trabalhadores, a organização do processo de trabalho, o relacionamento com a comunidade, o entendimento e apropriação do território e as relações entre os entes federados. De acordo com Magalhães e Pinto (2014), existe, pelo menos, dois indicadores importantes da centralidade dada à PNAB no setor federal das políticas de saúde. São eles: • O aumento superior a 100% dos recursos repassados aos municípios para o fi nanciamento da AB, entre 2010 e 2014. • A aplicação de recursos para a qualifi cação e a ampliação da estrutura das unidades, através de um projeto específi co, o Requalifi ca SUS, lançado em 2011. Especialmente em 2011, foi instituído o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQAB), que introduziu elementos da AMQ e ampliou as vertentes de avaliação, tendo como objetivo a certifi cação das EqSF. Se você quiser conhecer mais sobre os assuntos abordados, vamos deixar a indicação do livro da Política Nacional de Atenção Básica – PNAB – publicado pelo ministério da saúde – MS, que se articula completamente com o assunto tratado neste subtópico e que está disponível para baixar: Referência: MINISTÉRIO DA SAÚDE. PNAB – Política Nacional de Atenção Básica. 2012. Brasília – DF. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf. Acesso em: 22 jun. 2021. 64 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Esse Programa possibilitou vincular modos de transferência de recursos do PAB variável aos resultados originários da avaliação, constituindo-se em um meio de indução de novas práticas. Em relação à cobertura, informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde (MS) apontam que a ESF atingia 58% da população, em outubro de 2017, e menciona-se que essa cobertura chegou a atingir 100% em alguns municípios. Tudo isso por intermédio de novos serviços, modalidades e arranjos, estruturações de equipes multiprofi ssionais, com notoriedade para as equipes ampliadas pela saúde bucal e pelos Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. Mesmo compreendendo a persistência de problemas na acessibilidade, na qualidade e na continuidade da atenção, vários estudos mencionam avanços resultantes das políticas de APS na diminuição de internações evitáveis e dos custos hospitalares, e para o avanço no desenvolvimento das condições de vida e saúde da população brasileira. 1) (2020 - BANCA Crescer consultoria- Prefeitura de Brejo de Areia MA) A Portaria nº 2436/2017 aprova a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Sobre a Saúde da Família e a Atenção Básica, é incorreto afi rmar que: a) ( ) Todos os estabelecimentos de saúde que prestem ações e serviços de Atenção Básica, no âmbito do SUS, serão denominados Unidade Básica de Saúde (UBS). b) ( ) A Atenção Básica é caracterizada como porta de entrada obrigatória do SUS, possui um espaço privilegiado de gestão do cuidado das pessoas e cumpre papel estratégico na rede de atenção, servindo como base para o seu ordenamento e para a efetivação da integralidade.c) ( ) A PNAB tem na Saúde da Família sua estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica. d) ( ) A Equipe de Saúde da Família deve ser composta no mínimo por médico, preferencialmente da especialidade medicina de família e comunidade, enfermeiro, preferencialmente especialista em saúde da família; auxiliar e/ou técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde (ACS). 65 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 2) (2020 MS CONCURSO Prefeitura de Chupinguaia – GO) Qual alternativa completa, na sequência correta, as lacunas do seguinte texto? Objetivo ________________ é orientar sobre a prevenção de doenças, solucionar os possíveis casos de agravos e direcionar os mais graves para níveis de atendimento superiores em complexidade. ________________ funciona, como um fi ltro capaz de organizar o fl uxo dos serviços _______________, dos mais simples aos mais complexos. a) ( ) do Sistema Único de Saúde / A Unidade Básica de Saúde / nas redes de saúde b) ( ) da atenção básica / A rede de saúde / no Sistema Único de Saúde c) ( ) da atenção básica / A atenção básica / nas redes de saúde d) ( ) da rede de saúde / A Estratégia Saúde da Família / na Unidade Básica de Saúde A atuação na Atenção Primária aponta desafi os e, para resolvê-los, é fundamental que você observe que seus princípios e diretrizes estão sendo formatados e discutidos desde a Declaração de Alma-Ata em 1978 (BRANCO, s.d). FIQUE ATENTO: A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, reunida em Alma-Ata aos doze dias do mês de setembro de mil novecentos e setenta e oito, expressando a necessidade de ação urgente de todos os governos, de todos os que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da comunidade mundial para promover a saúde de todos os povos do mundo, formulou a referida declaração. Deste modo, a Declaração de Alma-Ata em 1978 é o resultado da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde que conclamou os países a implantarem a Atenção Primária, particularmente, os países em desenvolvimento (WHO, 1978). Para que você possa conhecê-la, disponibilizamos o link a seguir para que possa acessar, baixar e ler na íntegra esse 66 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família importante documento a respeito do cuidado primário em saúde: http://bioeticaediplomacia.org/wp-content/uploads/2013/10/alma-ata. pdf. Um marco legal que constituiu a missão da Atenção Primária no Brasil foi a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) de 2006, reestruturada em 2011 e que no presente passa por nova e criticada reformulação. Objetivamos mostrar os princípios e diretrizes do Serviço Único de Saúde (SUS) e das Redes de Atenção à Saúde (RAS) a serem operacionalizados na Atenção Primária e utilizados na Portaria da PNAB de 2017. Paralelamente, a fi m de oportunizar uma melhor compreensão sobre esses princípios, o texto também se remete à fundamentação teórica a respeito do tema. No país, a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) defi ne a Atenção Primária como termo análogo à Atenção Básica e a determina como: A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualifi cada, realizada com equipe multiprofi ssional e dirigida à população em território defi nido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária (BRASIL, 2017, p. 2). Em 2006, o Ministério da Saúde Brasileiro aprova a PNAB (BRASIL, 2006), ela é revisada em 2011 através da Portaria 2488 de 21/10/2011, cuja fi nalidade é de fortalecer a Atenção Primária à Saúde (APS), compreendida como porta de entrada ao Sistema Único de Saúde e coordenadora do cuidado nas Redes de Atenção. Estabeleceu, também, uma reorientação na formatação de atenção, empregando a Estratégia de Saúde da Família (ESF) como estratégia principal de ampliação, consolidação e qualifi cação da APS (BRASIL, 2012). A reformulação da PNAB em 2017, através da Portaria 2423 de 21/09/2017, estabelece as Redes de Atenção à Saúde (RAS) como tática para a estruturação do SUS e evidencia a Atenção Básica como porta de entrada preferencial ao sistema. 67 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 A referida reformulação reconhece, além da ESF, demais estratégias de organização da Atenção Primária, com indefi nidos parâmetros populacionais de adscrição e carga horária profi ssional (BRASIL, 2017). No entanto, diversos setores organizados e envolvidos com a Atenção Primária e o SUS mostraram retrocessos nessa nova PNAB (MOROSINI et al., 2018). São princípios e diretrizes do SUS e da RAS a serem operacionalizados na Atenção Básica e utilizados na Portaria da PNAB de 2017 (BRASIL, 2017): 1. Princípios: a universalidade, a equidade e a integralidade. 2. Diretrizes: regionalização e hierarquização, territorialização, população adscrita, cuidado focado na pessoa, resolutividade, longitudinalidade do cuidado, coordenação do cuidado, ordenação da rede e participação da comunidade. A universalidade, estabelecida como o acesso universal e continuado aos serviços de saúde, é executada na Atenção Primária pelo acolhimento de todos/ as que procuram seus serviços, disponibilizando fácil acesso e sem distinções, da mesma forma, procura responder às necessidades da população. Para entender o princípio da equidade, observe que as iniquidades no campo da saúde possuem origem social. Conforme Whitehead (1985, p. 2), as perversidades são “desigualdades de saúde entre grupos populacionais que, além de sistemáticas e relevantes, são também evitáveis, injustas e desnecessárias”. Na PNAB (BRASIL, 2017), equidade é reconhecida como a oferta de cuidado, levando em consideração as diferenças nas condições de vida e saúde em engajamento com as necessidades dos indivíduos e famílias, tendo como princípio norteador que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais e necessita acolher à diversidade. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2008), equidade é uma etapa primordial para a cobertura universal. A integralidade é efetuada na ocasião em que as redes de atenção acolhem às necessidades de saúde da população adscrita, conservando sua autonomia. Na PNAB (BRASIL, 2017), a integralidade necessita atender aos campos da promoção, prevenção, tratamento, reabilitação, redução de danos e cuidados paliativos. As diretrizes são normas que precisam ser adotadas pelos âmbitos federados para a Atenção Primária. 68 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família No meio destas, a regionalização é o modelo de organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS), tendo assim a Atenção Primária como porta de entrada ao sistema. O planejamento, a gestão e o atendimento das necessidades de saúde da população na Atenção Primária necessitam de delimitação de território, estabelecido na PNAB (BRASIL, 2017, p. 6) como “unidade geográfi ca única, de construção descentralizada do SUS no cumprimento dos atos destinados à vigilância, promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde”. A fi xação da unidade geográfi ca estipulara uma referência com a população e o determinado território e o engajamento da equipe de saúde pelo cuidado dessa população adscrita, promovendo o estabelecimento de vínculo com a equipe e longitudinalidade do cuidado. Outro fator signifi cativo da PNAB foi a implementação de um método de abordagem na Atenção Primária, para ser empregado pelos profi ssionais de saúde, que se refere ao respeito ao cuidado centralizado no indivíduo. O método citado possui como pressuposto o compartilhamento de poderna relação médico-paciente e defi nido a partir de quatro elementos: QUADRO 1 – MÉTODO DE ABORDAGEM NA ATENÇÃO PRIMÁRIA Explorar a saúde, a doença e a experiência da doença. Entender a pessoa como um todo. Elaborar um plano conjunto de manejo dos problemas. Intensifi car a relação entre a pessoa e o médico. FONTE: A autora A atenção primária, a forma similar com que os serviços de saúde se dispõem em alcançar a resolutividade, esta possui por base, o acordo com a PNAB, é a clínica ampliada, proposta que busca incorporar os diversos saberes em uma abordagem transdisciplinar, cujos eixos são (BRASIL, 2009): • O entendimento mais abrangente do processo saúde-doença, incluindo os determinantes sociais. • Construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas, tendo por base um projeto terapêutico singular, para indivíduos ou coletivos, utilizando o apoio matricial e a rede de atenção. • Ampliação do “objeto de trabalho”, impossibilitando a quebra e a fragmentação na abordagem de pessoas e coletivos. 69 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 • Transformação dos “meios” ou instrumentos de trabalho, por ação da escuta e da empatia. • Suporte e apoio para os profi ssionais de saúde, pois problemas decorrentes do processo de trabalho da equipe podem desencadear adoecimento em seus membros. Starfi eld (2002), ao infl uenciar os princípios e diretrizes da PNAB, estipulou as singularidades primordiais da Atenção Primária como: atenção ao primeiro contato; integralidade; longitudinalidade; e coordenação do cuidado. A longitudinalidade do cuidado, na PNAB, à similitude do que pensava Starfi eld (2002), é a atenção direcionada e focada na pessoa, ao longo do tempo, e diz respeito ao vínculo com os profi ssionais da atenção primária. De acordo com Starfi eld (2002), a coordenação do cuidado é efetiva para abeirar-se em outros três atributos, e requisita um fl uxo de dados adequado dos consequentes atores; o médico da Atenção Primária e os especialistas enfocais nas RAS, fazendo uso da atenção compartilhada, prontuários eletrônicos devidamente preenchidos e protocolos de encaminhamentos. A coordenação requer continuidade da atenção, através de meios que apontem a sucessão sequenciada de eventos entre as consultas e o reconhecimento e valorização das informações presentes a respeito dos problemas do paciente (STARFIELD, 2002). Sobre a coordenação do cuidado, a PNAB defi ne que a Atenção Primária seja a articuladora das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais, estabelecendo a centralidade do cuidado por meio da Atenção Primária (BRASIL, 2017). A obrigação de ordenar a RAS, em consonância com a PNAB (BRASIL, 2017), supõe-se o reconhecimento e a organização das necessidades de saúde da população, diante do compromisso da equipe, no planejamento de ações e na programação dos serviços, na universalidade da Rede. A OMS informa que os serviços de saúde necessitam se voltar para as necessidades e expectativas dos indivíduos e famílias e para políticas públicas que assegurem a saúde das comunidades, no sentido da equidade, reduzindo a exclusão social, e ainda, deter interesses corporativos ou comerciais prejudiciais às reais necessidades da população (WHO, 2008). Na intenção de atender aos interesses da coletividade, no tocante às decisões políticas de saúde, que diz respeito ao controle social, no âmbito da saúde, surgiu 70 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família após a redemocratização do país nos anos 1980, se fi rmou fortemente na VIII Conferência Nacional de Saúde e foi normatizado como Direito Constitucional pela participação efetiva no SUS dos setores organizados da sociedade (BRAVO; CORREIA, 2012). A participação social no SUS foi decretada mediante as Conferências de Saúde efetuadas regularmente no âmbito das três esferas de Governo e também por intermédio dos Conselhos de Saúde, que são órgãos colegiados, deliberativos permanentes nos níveis Municipal, Estadual e Federal (BRASIL, 2013). Na compreensão do controle social, a PNAB (BRASIL, 2017) determina que as equipes, no que diz respeito à participação da comunidade, dessa forma, devem incentivar a participação dos indivíduos referente à orientação comunitária das ações de saúde na Atenção Básica e a competência cultural no cuidado, de modo a ampliar sua autonomia e capacidade na elaboração do cuidado a sua saúde e das pessoas e coletividades do território. Deve-se levar em consideração ainda o enfrentamento dos determinantes e condicionantes de saúde, por meio de articulação e integração das ações intersetoriais na estruturação e orientação dos serviços de saúde, com bases e lógicas mais focadas nos indivíduos e famílias no exercício do controle social. Mesmo que tenham ocorrido difi culdades na implantação dos Princípios e Diretrizes defi nidos pela PNAB, é essencial que você observe a necessidade de mantê-los como guias das práticas. Você, como profi ssional que trabalha no sistema, possui um papel importante nesse processo, na fi nalidade com que os avanços conquistados na Atenção Primária, desde a implantação do SUS, não sejam simplesmente mantidos, mas ampliados independentemente das perspectivas de retrocessos. 2.2.1 Notas soBre a conJuntura e o teXto da Política Nacional de Atenção Básica 2017 Verifi cou-se, pouco tempo atrás, a reorganização das forças políticas conservadoras no Brasil, resultado do impedimento de Dilma Rousseff e no comando do seu vice, Michel Temer, à Presidência. Paralelamente, nota-se o rápido fortalecimento de uma pauta antidemocrática e autoritária, orientada para o aprofundamento da mercantilização dos direitos sociais brasileiros (MOROSINI et al., 2018). 71 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 Ainda segundo Morosini et al. (2018), seguiu-se a aprovação de medidas ditas racionalizantes, sob a justifi cativa da necessidade de enfrentar o desequilíbrio fi scal, designando o descontrole das contas públicas provenientes de ‘políticas paternalistas’, que teriam agravado a crise econômica. A recomendação efetuada é alterar a destinação dos recursos do fundo público, reduzindo as políticas sociais, favorecendo a redução da perspectiva pública do Estado e fortalecendo a participação do setor privado. Os mesmos autores mencionam que essa prerrogativa ofensiva não difere contra a classe trabalhadora, desmontando conquistas básicas e fundamentais, como os direitos trabalhistas e previdenciários (MOROSINI et al., 2018). Relaciona-se de um agrupamento de reformas supressoras de direitos sociais, em uma represália desproporcional ainda calculadas, do capital contra o trabalho. No meio dessas alterações legislativas que favorecem tal processo, se destaca a promulgação da Emenda Constitucional nº 95/2016, afamada como a emenda do ‘Teto dos Gastos’, que fi xa por 20 anos seguidos a aplicação de recursos públicos e causa efeitos nas diversas políticas, especialmente no fi nanciamento do SUS. Essas determinações rebatem sobre uma relação vulnerável entre o SUS e a sociedade brasileira, que vão em paralelo ao revigoramento ideológico da esfera privada como escolha de qualidade para o atendimento das necessidades de saúde (MOROSINI et al., 2018). Conforma-se, assim, o campo favorável para continuar em direção à desconstrução do SUS, do qual o fi nanciamento jamais teve um grau de sufi ciência e solidez, pois as empresas privadas de planos de saúde sempre fi guraram como objeto de fortalecimento, através de destinação de incentivos fi nanceiros contínuos (MOROSINI et al., 2018). Nesse cenário, as tendências que direcionaram a revisão da PNAB 2011 já estavam sendo avisadas, desde outubro de 2016, na ocasião que foi realizado o VII Fórum Nacional de Gestão da Atenção Básica, cujos indicativos para tal revisão foram divulgadosem um documento-síntese. Nisso, já se pronunciava uma perspectiva regressiva, particularmente preocupante, levando-se em consideração a correlação de forças desvantajosas aos que defendem e admitem a saúde como um direito universal (MOROSINI et al., 2018). 72 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família A partir de então, as informações a respeito da revisão da PNAB foram aumentando, no entanto, sua produção foi pouco anunciada ofi cialmente e sua discussão conservou-se em espaços restritos, como a Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e as reuniões entre os técnicos do MS. Em 27 de julho de 2017, a redação preliminar foi revelada na CIT e seguiu para consulta pública no período de dez dias. Apesar de ser um prazo curto, a consulta atingiu a mais de 6 mil contribuições, sem a obtenção, entretanto, mudanças expressivas no texto original ou sequer tenham sido divulgados os seus resultados (MOROSINI et al., 2018). A nova PNAB foi aprovada em 30 de agosto de 2017, mais ou menos um mês após tornar-se ofi cialmente pública. Uma característica que chama atenção no texto da nova PNAB é a explicitação de expectativas para a estrutura e implementação da AB, traduzindo-se em uma presumida fl exibilidade, apoiada no argumento da necessidade de cumprir especifi cidades locorregionais (MOROSINI et al., 2018). Supostamente, expande-se o poder de escolha dos gestores do SUS, o que poderia ser compreendido como positivo por responder às demandas de um processo de descentralização mais efetivo. No entanto, esse processo somente se completaria com o deslocamento de recursos indispensáveis à autonomia de gestão pelos municípios, e com os mecanismos de controle social e participação popular (MOROSINI et al., 2018). A mencionada análise não atesta o raciocínio otimista, principalmente porque é produto de uma leitura divulgada pela atual conjuntura, que aparenta limites precisos, a partir deles, essa política e suas possibilidades se realizarão (MOROSINI et al., 2018). Os mesmos autores afi rmam que o discurso da PNAB se constrói de forma ambivalente, acolhendo as expressões como sugerir e recomendar, que esvaziam o signifi cado indutor e intencional da política e transmitem e externam a desconstrução no sentido de um compromisso com a ampliação da saúde da família e do sistema público (MOROSINI et al., 2018). Morosini et al. (2018) nos convidam a entender, ainda, que essa organização textual possui a fi nalidade de blindá-lo à crítica, baseado no que estão escritas suas proposições de mais fácil absorção, já que, com base no que está escrito, muitas opções seriam possíveis. Essa ambiguidade é um meio que torna possível a omissão de escolhas prévias (ideológicas), que aparentam defi nir o processo de revisão da PNAB no momento político atual. 73 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 Essas tendências destinam-se a uma concepção de Estado ordenada com a racionalidade neoliberal, que mostra o sentido contrário a uma maior presença do Estado, solicitada para o prosseguimento do SUS como projeto e da AB como estratégia primordial na garantia da saúde como direito universal (MOROSINI et al., 2018). A Atenção Básica (AB), no entendimento dos autores mencionados, mostra- se com a face mais destacada de um sistema de saúde norteado por princípios de universalidade, integralidade e equidade. Em comparação com fundamentos vinculados aos programas focalizantes e compensatórios, elaborados a partir da racionalidade neoliberal hegemônica, a ESF tem se apresentado como forma de expansão do acesso e de realização do direito à saúde. Existem alguns sites acadêmicos que reúnem publicações de artigos acadêmicos de várias revistas eletrônicas acadêmicas, dentre eles deixamos como indicação o site da Scielo. Sendo assim, segue o site para que você possa acessar e navegar: • https://scielo.org/ • https://scholar.google.com.br/?hl=pt Alçada à condição de estratégia de reorientação do modelo de atenção à saúde, existe um vasto caminho a trilhar e empecilhos a atravessar, antes que se tenha concretizado o objetivo de implementar uma clínica ampliada, que vincule os mais variados saberes, trabalhadores e setores da política pública, no objetivo de compreender e enfrentar os determinantes sociais do processo saúde-doença. Você sabia que existem críticas na contemporaneidade em relação à última alteração na PNAB promovida pelo Governo Federal em 2017? Sendo assim, para aquecer o debate, consulte o artigo a seguir: Política Nacional de Atenção Básica no Brasil: uma análise do processo de revisão (2015-2017), dos autores: ALMEIDA, Erika Rodrigues et al. (2018). Disponível em: https://www.scielosp.org/ article/rpsp/2018.v42/e180/. 74 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Converse com sua equipe de trabalho, seus colegas de turma sobre a relevância da compreensão a respeito da crítica que cada uma/um de vocês possam ter alcançado a respeito do quanto essas alterações possam impactar na vida da população. Percebe-se que há muito a ser reorganizado e transformado em face dos resultados que as pesquisas e avaliações têm mostrado a respeito das avaliações sobre a AB (MOROSINI et al., 2018). A qualifi cação de trabalhadores de todos os níveis de formação integram o quadro das ESF, focados no trabalho do território; a agregação entre prevenção, atenção e promoção da saúde; a estruturação de processos de trabalho mais democráticos e participativos, nos quais os trabalhadores tenham papéis relevantes no planejamento das ações que estabeleçam; as metas e prioridades das equipes, a gestão pública do trabalho e dos serviços de AB, e a regularização dos vínculos contratuais que devem ser priorizados. São prioridades que requerem debates e discussões, e nesses espaços, os trabalhadores devem ter ampla participação (MOROSINI et al., 2018). As alterações inseridas na PNAB 2017 indicam uma direção diferente. Em um breve inventário, Morosini et al. (2018) chamam nossa atenção, pois fi cam claros alguns mecanismos da nova política que favorece a relativização da cobertura universal, a ordenação de padrões variados de serviços, a reconstituição das equipes e a reorganização do processo de trabalho na AB, sem mencionar as mudanças relevantes, que também devem ser consideradas. Ainda de acordo com Morosini et al. (2018), a revisão formulada atinge preferivelmente as conquistas alcançadas na ESF e os seguimentos em curso, que apoiam a base para os caminhos na efetivação de uma APS forte, parte fundamental de redes de atenção em um sistema universal de atenção integral à saúde. Em prol de uma presumida autonomia maior dos municípios, o MS desconsidera a sua responsabilidade de coordenação e indução de bases nacionais para a PNAB, algo deveras arriscado em um país que apresenta realidades locorregionais diversas e com um processo de descentralização que carece de aprimoramentos (MOROSINI et al., 2018). Essa conjuntura suscita preocupação, e aqui se destacam as consequências do possível desacordo dos gestores com a oferta universal dos serviços de AB; 75 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 a desintegração na acessibilidade ao cuidado; a desvinculação das equipes dos territórios; e a desqualifi cação do trabalho de ACS e ACE, atenuando a natureza utilitarista de suas atividades e a contribuição à privatização (MOROSINI et al., 2018). Essas questões alinhadas aumentam o risco de desassistência de grande parte da população, bem como de perda na qualidade dos serviços da AB. Esses eventos tornam-se especifi camente graves em uma ocasião de ruptura das relações e instituições democráticas, e de naturalização no tocante a um processo crescente e persistente na subtração de direitos e aprofundamento da desigualdade (MOROSINI et al.,2018). Estabelece-se um processo anticivilizatório do capital, que aspira cada vez mais se mercantilizar, avolumam-se progressivamente espaços de produção e reprodução da vida humana. Desassistir segmentos da classe trabalhadora com um certo poder de comprar serviços de saúde – é o que se prenuncia no horizonte formatado pela PNAB 2017 – reforçando, o Estado brasileiro atua, novamente, cooperando com a ampliação da participação do setor privado na saúde, em detrimento de um sistema que nunca pôde ser inteiramente público (MOROSINI et al., 2018). Entretanto, em contraposição, como projeto de luta e transformação, fundamenta-se os princípios do SUS, democraticamente elaborados e defi nidos por lei, deveriam ser apropriados como valores éticos, que originam e direcionam a reconfi guração das políticas de saúde. Nesse sentido, não devem e também não podem ser infringidos ou muito menos fl exibilizados, em consequência da supracitada crise econômica atual, muito menos em atenção às necessidades do mercado (MOROSINI et al., 2018). 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, buscamos explicitar acerca de conhecimentos que são de fundamental importância para sua especialização na área da saúde preventiva. Apresentamos a você, as concepções de Atenção Primária da Saúde, o conceito e sua relevância para a política pública de saúde no Brasil, que se admite a denominação de Atenção Básica de Saúde. Você também estudou características, eixos e diretrizes da Atenção Primária da Saúde. Nosso propósito foi oportunizar uma refl exão sobre o conceito, as 76 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família características, os eixos e as diretrizes da Atenção Primária da Saúde e sua conexão com o modelo brasileiro da ABS, que se organiza a partir da Estratégia Saúde da Família. Asseguramos, assim, o destaque desse estudo que teve como objetivo apreender a respeito da relevância da atenção primária da saúde para a sistematização do SUS. Entender sobre a dimensão da atenção básica nas ações de promoção e prevenção em saúde e poder conhecer a política nacional de atenção básica PNAB e sua estrutura de organização e princípios, e ainda, acerca da alteração mais atual que esta perpassou no ano de 2017 e demais implicações no atendimento à população que ela abarca em seu bojo. E, por fi m, mediante a esses processos de mudanças que são sinais de desarticulação dos princípios basilares do SUS é imprescindível o envolvimento, comprometimento e empenho de todos/as profi ssionais na contraposição dessa ordem na saúde pública e fortalecer o SUS para a sociedade brasileira. REFERÊNCIAS BRANCO, S. C. Política Nacional de Atenção Básica (PNAB): princípios e diretrizes. In: Curso de especialização em saúde da família – Produção do cuidado e da atenção integral. UNA SUS, s.d. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Ofi cial da União - DOU, v. 183, n. Seção 1, p. 67- 76, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ prt2436_22_09_2017.html. Acesso em: 7 jun. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselhos de saúde: a responsabilidade do controle democrático do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/conselhos_saude_responsabilidade_ controle_2edicao.pdf. Acesso em: 17 jun. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. v. I. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/ publicacoes/geral/pnab.pdf. Acesso em: 7 jun. 2021. BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Atenção à Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 152 p. (Caderno de Atenção Básica n. 27). 77 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 BRASIL. Ministério da Saúde. PNH: Clínica ampliada e compartilhada. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/clinica_ampliada_compartilhada.pdf. Acesso em: 26 jun. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. v. 5. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/ acervo/html/ARES/13429/1/POL%C3%8DTICA%20NACIONAL%20DE%20 ATEN%C3%87%C3%83O%20B%C3%81SICA%20%28PNAB%29%20 PRINC%C3%8DPIOS%20E%20DIRETRIZES.pdf. Acesso em: 18 jun. 2021. BRASIL. Saúde da Família: uma estratégia para reorientação do modelo assistencial. Brasília, 1997. BRASIL. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Disponível em: http://www6. senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=134238. Acesso em: 29 jun. 2021. BRASIL. Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Disponível em: http://www6. senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=134561. Acesso em: 10 jun. 2021. BRASIL. Constituição da República. Artigos 194, 196. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/. Acesso em: 10 maio. 2021. BRAVO, M. I. S. A política de saúde na década de 90: projetos em disputa. Revista Superando Desafi os – Cadernos do Serviço Social do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, n. 4, UERJ /HUPE, 1999. BRAVO, M. I. S.; CORREIA, M. V. C. Desafi os do controle social. Serv. Soc. Soc., v. 109, p. 126-150, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/a/ NkpLbcXZf5mPHkHrksGGXnf/?lang=pt. Acesso em: 17 jun. 2021. BUSS, P. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: CZERESNIA, D. F. C. M. (Org.). Promoção da saúde: conceitos, refl exões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 15-38. CAMARGO JR., K. R. Biomedicina, Saber e Ciência: uma abordagem crítica. São Paulo: Hucitec, 2003. 78 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família CAMPOS, C. E. A. O desafi o da integralidade segundo as perspectivas da Vigilância da Saúde e da Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 569-584, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/ kKSVP8p46sNFLPG43Pfbf8B/abstract/?lang=pt. Acesso em: 25 maio 2021. CORBO, A. M.; MOROSINI, M. V. G. Saúde da família: história recente da reorganização da atenção à saúde. In: EPSJV (Org.) Textos de Apoio em Políticas de Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. CUTOLO, L. R. A. Estilo de pensamento em educação médica: um estudo do currículo do curso de graduação em Medicina da UFSC. 2001. 208 f. Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. CZERESNIA, D. O conceito de saúde e a diferença entre promoção e prevenção (versão revisada e atualizada do artigo "The concept of health and the difference between promotion and prevention Cadernos de Saúde Pública, 1999). In: CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. (Org.) Promoção da Saúde: conceitos, refl exões e tendências. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2003. p. 39-53. Disponível em: http://143.107.23.244/departamentos/social/saude_coletiva/AOconceito.pdf. Acesso em: 26 maio 2021. DA ROS, M. A. A ideologia nos cursos de Medicina. In: MARINS, J. J. N. et al. Educação médica em transformação: instrumentos para a construção de novas realidades. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 245-266. LAVRAS, C. Atenção Primária à Saúde e a Organização de Redes Regionais de Atenção à Saúde no Brasil. In: Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 20, n. 4, p. 867-874, 2011. MATTA, G. C.; MOROSINI, M. V. G. Atenção à Saúde. Modelo biomédico, modelo sanitarista – FIOCRUZ, s.d. MAGALHÃES JR., H. M.; PINTO, H. A. Atenção básica enquanto ordenadora da rede e coordenadora do cuidado: ainda uma utopia? Divulg. Saúde debate [internet]. 2014, out. 51:14-29. Disponível em: » http://cebes.org.br/site/wp-content/uploads/2014/12/Divulgacao-51.pdf. Acesso em: 22 jun. 2021. MENDES, E. V. Distrito Sanitário: o processo social de mudança das práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/ Abrasco, 1993. 79 A ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE – APS – E A ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE Capítulo 2 MERHY, E. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: MERHY, E.; ONOCKO, R. (Orgs.). Agir em saúde: um desafi o para o Público. São Paulo: Hucitec, 1997. cap. 2. MOROSINI, M. V. G. C. et al. Política Nacional de Atenção Básica 2017: retrocessos e riscos para o Sistema Único de Saúde. In: Revista saúde debate, Rio de Janeiro, v. 42, n. 116, p. 11-24, jan./mar. 2018. OMS – Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial da Saúde 2008: Cuidados de Saúde Primários - Agora mais que nunca. Genebra: OMS, 2008. ROSEN, G. Uma História da Saúde Pública. São Paulo: Hucitec/Editora da Universidade Estadual Paulista, 1994. SILVA JUNIOR, A. G. Modelos Tecnoassistenciais em Saúde: o debate no campo da saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 1998. STARFIELD, B. Atenção Primária: equilíbrio entre a necessidade de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: Unesco, 2002. UNICEF – Brasil. Organização Mundial de Saúde e do Fundo das Nações Unidas para a Infância. Relatório da Conferência internacional sobre Cuidados. Primários de Saúde Alma-Ata, URSS, 6-1 2 de setembro de 1978. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/39228/9241800011_por. pdf;jsessionid=E6EB6D1CE667E4D103C570A26FB6D8CE?sequence=5. Acesso em: 22 jun. 2021. VERDI, M. I. M.; DA ROS, M. A.; SOUZA, T. T. Saúde e sociedade [Recurso eletrônico]. Universidade Federal de Santa Catarina. 2. ed. rev. e ampl. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012. WHITEHEAD, M. The concepts and principles of equity and health. Copenhagen: [s.n.], 1985. WHO. Relatório Mundial de Saúde 2008. Cuidados de saúde primários - Agora mais que nunca. Lisboa: World Health Organization, 2008. Disponível em: https:// www.who.int/eportuguese/publications/whr08_pr.pdf. Acesso em: 25 maio 2021. WHO. Declaração de Alma-Ata de 1978. Disponível em: https://www.who.int/ teams/social-determinants-of-health/declaration-of-alma-ata. Acesso em: 25 maio 2021. 80 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família CAPÍTULO 3 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • conhecer a construção e os conceitos da estratégia de saúde da família como modelo de atenção básica; • identifi car como deve ser o desenvolvimento da prática das equipes de Estratégia de Saúde da Família; • reconhecer a relevância do trabalho articulado entre Estratégia Saúde da Família e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família. 82 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família 83 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo intitulado Estratégia de Saúde da Família – ESF e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF – abordamos como se constituiu o Estratégia de Saúde da Família, bem como seus conceitos fundamentais e a relevância desse trabalho no âmbito da atenção básica de saúde, além disso, procuramos explicitar as atribuições de forma geral das equipes de saúde da família. Discorreremos a relação entre as UBSs, ESFs e os NASFs, e como se desenvolve essa atuação no cotidiano de atendimento, bem como saber a respeito das atribuições que compete a cada profi ssão dentro da equipe de saúde da família. E, em seguida, vamos estudar as Unidades Básicas de Saúde – UBS, Estratégia Saúde da Família – ESF e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF: legislação, e conhecer quais são as profi ssões que compõem a equipe NASF. Junto a isso, buscamos contribuir para que, no decorrer dos estudos, você possa analisar e, ainda, criar o seu próprio mapa conceitual sobre as informações que norteiam a prática profi ssional, fazendo o exercício da relação teoria e prática. Portanto, sugerimos que você verifi que os assuntos aqui abordados e alinhe com a sua realidade profi ssional e/ou o que almeja desenvolver em sua prática quando estiver inserido em algum espaço sócio-ocupacional. Assim, compomos um conjunto de possibilidades de abordagem do tema proposto neste capítulo que corrobora com os estudos a respeito da Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia Saúde da Família. Fique atento/a e vamos juntos em busca do conhecimento e aprimoramento profi ssional. Bons estudos! 2 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA COMO ATENÇÃO BÁSICA DA SAÚDE AMPLIADA, EQUIPES E SUAS ATRIBUIÇÕES Conforme estudos de Lacerda et al. (2010), o ministério da saúde apreende o Estratégia Saúde da Família (ESF) enquanto um conjunto de atos de caraterística particular e/ou coletivo, localizadas no coefi ciente de atenção básica do sistema de saúde. Desse modo, esses atos são voltados: 84 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família • à conscientização da população sobre as principais enfermidades; • à organização do acesso ao sistema; • à ampliação da cobertura e melhoria da qualidade do atendimento; • à integralidade do atendimento; • ao incentivo à participação da população no controle do sistema de saúde. A saúde da família encontra-se no elementar coefi ciente de atenção no Sistema Único de Saúde (SUS) e é estimada enquanto uma tática primordial para o preparo e o fortalecimento da atenção básica. A partir do acompanhamento de um número acentuado de famílias, situadas em um espaço geográfi co demarcado, em que devem ser desenvolvidas atividades de promoção e prevenção da saúde, recuperação, reabilitação de enfermidades e agravos mais reiterados (FIOCRUZ, s.d.). Ainda conforme a Fiocruz (s.d.), para concretizar esses atos é imprescindível o trabalho de equipes multiprofi ssionais nas unidades básicas de saúde (UBS), constituídas por exemplo, por: médico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde, cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário ou técnico de higiene dental. As equipes de saúde da família (ESF) devem constituir conexão com a população associada ao território, permitindo o acordo e a corresponsabilidade dos profi ssionais com a referida população do território, com o desafi o de expandir as terminações de desempenho e resolubilidade da atenção. O Ministério da Saúde (MS) para o implemento das respectivas imputações e direções estabelece a Portaria Ministerial 648/2006 e, desse modo, o referido Ministério da Saúde recomenda a composição multiprofi ssional da equipe, o que estabelece uma das diretrizes mais relevantes da Estratégia Saúde da Família. O trabalho profi ssional em equipe, nesse ponto de vista, necessita extrapolar a prática profi ssional baseada no tradicionalismo de meramente partilhar o ambiente físico (LACERDA, et al., 2010). 85 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 FIGURA 1 – ATRIBUIÇÕES DAS EQUIPES DE SAÚDE E OS IMPACTOS DELAS QUANDO BEM ELABORADAS E IMPLANTADAS FONTE: A autora As estratégias de trabalho da ESF consistem em apreciar o fato das famílias pelas quais é responsável, através de cadastramento e análise de seus predicados sociais, demográfi cas e epidemiológicas; além disso, observar e reconhecer as basilares difi culdades de saúde e ocasiões de precipitação às quais a população que ela acompanha está exposta; e apresentar assistência integral, estabelecendo o fl uxo de encaminhamento para os demais coefi cientes de acolhimento, quando se bancar indispensável (FIOCRUZ, s.d.). Dentre as suas imputações, osprofi ssionais pertencentes às equipes de saúde da família precisam delinear ações, idealizar a saúde como um procedimento de encargo dividido e regularizar suas atividades apreendendo a família enquanto espaço social. Vejamos a seguir, as responsabilidades imputadas aos profi ssionais da equipe de estratégia de saúde da família de acordo com os estudos de Lacerda et al. (2010): • Esquematizar ações que lancem impactos no que faz referência às condições de saúde da população de seu espaço de abrangência, dirigidas por um diagnóstico participativo apropriado para verifi car a realidade da localidade e a potencialidade da comunidade na resolutividade das difi culdades de saúde. • Idealizar saúde enquanto um procedimento de encargo que precisa ser partilhada entre diversos âmbitos institucionais e a participação social, o que sugere procurar desenvolver articulações intersetoriais e sensibilizar as pessoas enquanto sujeitos ativos no procedimento de vigilância em saúde. 86 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família • Regularizar as intervenções percebendo a família como recinto social, reverenciando seus potenciais e limitações socioeconômicos e culturais, além de procurar, nessa totalidade, táticas de otimização às abordagens terapêuticas e médicas habituais. Diante das práticas informadas acima, quais você consegue desempenhar? Quais são os fatores que você considera que podem se levantar como pontos limitadores a essa atuação? E quais são os fatores que você considera ser possibilidades para o desenvolvimento desse atendimento? Para aquecer o debate, consulte o artigo a seguir: Os desafi os de se trabalhar em equipe na estratégia de saúde da família, dos autores: PERUZZO, H. E. et al. (2018). Disponível em: https://www. scielo.br/j/ean/a/z3wYmgZ93bGtBMD8HVKRtVt/?lang=pt. Converse com sua equipe de trabalho e seus colegas de turma sobre a relevância da compreensão a respeito dos distintos modelos de atenção à saúde e a importância de conhecer as atribuições da equipe de estratégia de saúde da família, conhecendo os limites/ desafi os, mas também buscando desenvolver estratégias de possibilidades para contrapô-los. Analisamos que se faz indispensável que exista a perspectiva da interdisciplinaridade na constituição da equipe de saúde para que ela constitua uma adequada integração elaboradora de serviços, com um desempenho multiprofi ssional (LACERDA et al., 2010). Assim, ainda segundo os mesmos autores, as responsabilidades características de cada profi ssional precisam encontrar-se regressadas para os desígnios triviais da equipe, e sua prática profi ssional necessita ser determinada pela efi cácia, efetividade e efi ciência do trabalho a ser desenvolvido. 87 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 Caro estudante, para contribuir ainda mais com o seu conhecimento, deixamos como sugestão de leituras os seguintes livros: Referência: VASCONCELOS, E. M. Complexidade e pesquisa interdisciplinar: epistemologia e metodologia operativa. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. O referido livro promove uma refl exão a respeito de avaliação sistemática dos debates mais recentes sobre a crise dos paradigmas científi cos, pós-modernismo, complexidade e interdisciplinaridade, com uma perspectiva de claro engajamento social e ético desenvolvendo um manual extremamente didático e operativo de pesquisa e de escrita de trabalhos acadêmicos, científi cos ou aplicados à gestão concreta de serviços e organizações. O livro refere-se a um importante tema que apresentamos aqui neste capítulo, que é sobre a intersetorialidade. Os diversos capítulos desta coletânea centram-se na análise dos mais diversos campos de políticas sociais, com ênfase na política de saúde e de assistência social. Aproveite e clique no link a seguir e baixe gratuitamente o livro. Referência: BELLINI, Maria Isabel Barros; FALER, Camília Susana. Intersetorialidade e políticas sociais: interfaces e diálogos 88 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família QUADRO 1 – CRITÉRIOS PARA ATUAÇÃO PROFISSIONAL Competência técnica Criatividade Senso crítico Práticas de atendimento humanizadas e resolutivas Capacitação para atuar no planejamento e avaliação das ações e na articulação intersetorial FONTE: A autora O trabalho em equipe no Estratégia de Saúde da Família, desse modo, estabelece uma prática profi ssional em que o diálogo entre os profi ssionais necessita impetrar parte do exercício habitual do trabalho. Ao discorrer em equipe com caráter interdisciplinar, e tendo como desígnio o desempenho absoluto em saúde, as atuações e sugestões precisam considerar a observação recorrente das obrigações, riscos pessoal e social, bem como vulnerabilidades da população sob seu cargo, de forma a contrapor de contorno correspondente e resolutivo (LACERDA et al., 2010). Ao arrazoarmos a respeito da interdisciplinaridade, segundo os autores acima, apreende-se o procedimento de infl uência mútua em meio às disciplinas em que existe colaboração a respeito do conhecimento, através de sua ação ordenada. A multidisciplinaridade se diferencia por uma ação simultânea de diferentes disciplinas em volta de um assunto, sem que exista compartilhamento e auxílio entre elas. A esse respeito, solicita-se dos profi ssionais, bem como da população enredada, desenvolturas para além das práticas clássicas, visto que a intensidade e a complicação das difi culdades são relacionadas a cada localidade (LACERDA et al., 2010). Nesse compasso, ainda segundo Lacerda et al. (2010), a resolução dessas difi culdades extrapola as demarcações da intervenção clínica e atribui, além das atividades de assistência, ações de promoção, prevenção e manutenção de saúde, ajustados conforme o coefi ciente de complicação de cada difi culdade que possa ser encontrada. Deste modo, os técnicos da equipe de estratégia de saúde da família (ESF) necessitam exibir os consequentes critérios: [recurso eletrônico]. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014. 224 p. Disponível para baixar gratuitamente: https://editora.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/ Ebooks//Pdf/978-85-397-0573-3.pdf. 89 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 Desse modo, a constituição das equipes de saúde da família, de forma multiprofi ssional e interdisciplinar, vem concretizando uma performance em saúde integral, atenta em responder às circunstâncias de saúde observadas nas comunidades (LACERDA et al., 2010). Os mesmos autores informam que esse movimento é admissível, especialmente, por razão da composição da equipe. É salutar minutar o desempenho dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) que, reunindo outros profi ssionais que não compõem a equipe de estratégia de saúde da família como, por exemplo: assistente social, fonoaudiólogo, entre outros; e atuando de forma multiprofi ssional e interdisciplinar, permitem melhorias em direção à integralidade da atenção em saúde (LACERDA et al., 2010). Há ponderação a respeito da atuação da equipe, em que cada profi ssional coopera com diferentes nuances do conhecimento em saúde e expede ao debate do caráter orientador do cuidado terapêutico profi ssional característico. Nesse compasso, Vasconcelos (2002) adverte que cada profi ssional necessita se dispor contra a preparação de ambientes de atenção particular à saúde, em que os conhecimentos enredados nas aptidões e desenvolturas profi ssionais são exibidos de contorno estanque, evitando a articulação com diversos saberes. É relevante ressaltar que, quando se discursa a respeito do cuidado terapêutico profi ssional peculiar, além disso necessitam ser arquitetados os ambientes de justaposição dessa prática com o cuidado multiprofi ssional interdisciplinar. A complexidade social, econômica,cultural e biológica emaranhada na determinação dos problemas de saúde solicita o incremento de uma inovação no modo de fazer saúde (LACERDA et al., 2010). Portanto, por meio do trabalho interdisciplinar, são descritas as probabilidades de constituição de um ambiente de cuidado que agencie modifi cações estruturais no procedimento de trabalho, suscitando sintonia, desenvolvimento mútuo dos profi ssionais e horizontalidade das relações de poder dentre os vários âmbitos do conhecimento (VASCONCELOS, 2002). Por fi m, agenciar a discussão a respeito da probabilidade de aproximar a atenção à saúde nos ambientes que irrompem com o espectro clínico habitual, prosseguindo em direção ao cuidado integral à saúde, somente constituirá admissível quando uma verifi cada circunstância de saúde for tratada a partir da complicação dos dados que a compõem. A apreensão dos dados que causam o procedimento saúde-doença remete a discussões na arena do conhecimento interdisciplinar (LACERDA et al., 2010). Após aludirmos sobre a interdisciplinaridade no trabalho de atenção à saúde, destacamos agora, outro assunto relevante para ser reforçado nesse debate, 90 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família se acena para o estilo de trabalho no aspecto intersetorial. Dessa forma, a saúde necessita ser apreendida como um problema social que não pode ser abordado em extensão setorial, devido à saúde estar interligada e condicionada aos demais aspectos que estruturam a sociedade (LACERDA et al., 2010). Cabe ressaltar que os problemas sociais se despontam e são observados setorialmente, entretanto, a dissolução está sujeita ao desempenho de mais de uma política pública social setorial. Logo, a complexidade do âmbito da saúde não consente uma abordagem fragmentada dos problemas (PAULI, 2007). FIQUE ATENTO: A abordagem intersetorial de problemas sociais incorpora a ideia de integração, de território, de equidade, e considera o cidadão na sua totalidade, numa clara relação com a concepção de integralidade em saúde. Isto é, uma atenção integral à saúde, cujos determinantes extrapolam o setor, só é possível a partir de uma ação articulada com os demais setores sociais (JUNQUEIRA et al., 2004; PAULI, 2007). Assim, a efetividade da atividade intersetorial estar sujeita à análise criteriosa de uma atuação proferida cujos desígnios e estratégias de operacionalização abarquem participação e organização de múltiplos atores sociais e a troca de conhecimento, o que, em si, potencializa o efeito da ação (LACERDA et al., 2010). A intersetorialidade não é um procedimento instintivo, estar sujeito a uma ação determinada, também não é prontamente implementada. Compõe uma nova compreensão de operar em saúde, que mexe com interesses de grupos, dentro e fora do domínio. De outra forma, com a conexão de saberes e experiências, os profi ssionais e os grupos populacionais calham a ser acatados como sujeitos adequados para entender os seus problemas de maneira integrada e identifi car dissoluções correspondentes à realidade social (LACERDA et al., 2010). Perante as difi culdades de articulação com outros setores, do ponto de vista macro da gestão, Pauli (2007) recomenda que, de início, a intersetorialidade em pequenas parcerias, nos projetos comuns, exatos e, portanto, paulatinamente, se expanda à potencialidade resolutiva (LACERDA et al., 2010). Ao apreender a respeito da atenção básica enquanto uma tática fl exível, assinalada por meio do primeiro contato entre paciente e equipe de saúde, que avaliza uma atenção integral admissível, ordenada e ininterrupta e que é responsável pela articulação dos diferentes pontos da atenção dos prestadores de 91 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 cuidados, dentro e fora do setor saúde, não podemos abstrair da intersetorialidade enquanto um eixo estrutural de nossa ação (LACERDA et al., 2010). Corroboramos com a análise dos autores Paula, Palha e Protti (2004) de que a atenção básica tem competência de proferir os diversos campos presentes, em tão alto grau no coefi ciente mais operacional de ações de saúde absolutamente oferecidas à população, bem como nos coefi cientes regional e central. Sendo assim, a partir de uma perspectiva de planejamento ascendente e com potencial de proferir âmbitos basilares, pode-se desencadear transformações mais efi cazes e duradouras para o âmbito da saúde. Entretanto, determinadas informações são basilares para que esse potencial se concretize deste modo. Vejamos a seguir, algumas questões que são necessárias: QUADRO 2 – QUESTÕES NECESSÁRIAS QUE AUXILIAM A SUPERAÇÃO DE VISÃO FRAGMENTADA NO ÂMBITO DA SAÚDE FONTE: Adaptado de Lacerda et al. (2010) Superar a fragmentação e a compartimentalização do processo de trabalho dentro do setor saúde, centrado no modelo biomédico, e incorporar uma cultura de cooperação e de complemen- taridade dos diferentes saberes. Adotar a intersetorialidade como um processo integrado de transformação da assistência, articu- lado com a população. Entender que Saúde da Família é um projeto novo e vem enfrentando difi culdades na formação, capacitação e articulação dos sujeitos, além de haver pouca articulação entre as políticas sociais em prol de um objetivo único. 1) A respeito do trabalho na perspectiva da intersetorialidade, assinale a alternativa que apresenta o principal objetivo do trabalho intersetorial para que de fato ele possa se materializar: a) ( ) Formação de rede. b) ( ) Formação de equipe. c) ( ) Formação de território. d) ( ) Formação de conselho. 2) A construção das equipes de saúde da família, de forma multiprofi ssional e interdisciplinar, vem consolidando qual tipo de atuação e perspectiva em relação ao processo de saúde da população nos territórios? 92 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Refere-se a um procedimento que está sendo arquitetado e agencia a compreensão de uma rede de suporte. Esse debate destaca que um dos desígnios da intersetorialidade é a concepção de uma rede conceito que supera a articulação apenas do trabalho em equipe ou setorial, para que por meio dessa rede, possa agenciar uma articulação de indivíduos e instituições que, de estilo compartilhado, procuram dissoluções para a superação de problemas sociais (LACERDA et al., 2010). Assim como procedimento articulado e integrado de formulação de políticas públicas sociais, a intersetorialidade implica a conexão de estruturas, soluções e procedimentos organizacionais, e assinalar-se pela corresponsabilidade de díspares atores sociais e governamentais. Desse modo, a promoção da saúde, como imputação do SUS (Sistema Único de Saúde), somente poderá ser implementada se entendermos o setor saúde como estratégico para o desenvolvimento de novas alianças. Nesse sentido, precisamos incorporar com maior clareza as discussões a respeito da intersetorialidade na prática cotidiana dos profi ssionais da saúde, sem que isso se decomponha em responsabilidade característica dos trabalhadores e sem perder de vista a potencialidade que eles têm (LACERDA et al., 2010). FIGURA 1 – INTERSETORIALIDADE NA SAÚDE FONTE: A autora Para sumarizarmos esse item, mas longe de encerrarmos o debate, visto que é um tema que deve ser constantemente dialogado no cotidiano de trabalho profi ssional, bem como ser sempre estudado. Queremos reforçar que nenhum 93 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 profi ssional e serviço trabalha a atenção integral à saúde por completo sem que se desenvolva em seu trabalho cotidiano ações de articulação com vistas ao aprimoramento de práticas interdisciplinares; e que reforcem a importância do debate em torno do trabalho intersetorial, assim como a compreensão das atribuições que competemaos profi ssionais que atuam ou desejam atuar no âmbito da ESF. Isso posto, compreenderemos que nenhuma política pública por si é capaz de gerar respostas cabais às necessidades e problemas sociais de toda a população pertencentes às comunidades que atuamos e/ou iremos atuar, mas precisamos desenvolver no cotidiano ações que impulsionem nosso trabalho a ser de modo interdisciplinar e que incite a necessidade de se desenvolver a intersetorialidade através de diferentes mecanismos das variadas políticas públicas sociais. 3 AS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE – UBS –, ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF – E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF: LEGISLAÇÃO E DIRETRIZES Neste tópico, você vai ter o ensejo de estudar a respeito das unidades de saúde de forma basilar, e, na sequência, aludiremos sobre a Estratégia Saúde da Família (ESF) com seus objetivos, destaque para cada profi ssional com suas principais responsabilidades, além de conceitos e fi nalidades a respeito da ESF para que assim possamos abordar sobre os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) e apresentar suas diretrizes e demais documentos ofi ciais pertinentes a sua sistemática. Referente às unidades básicas de saúde (UBS), compete reforçar que este é um serviço de saúde composto por equipe multiprofi ssional responsável por um conjunto de ações de saúde, de domínio individual e coletivo, que compreende a promoção e a proteção da saúde, a atenção e prevenção de agravos, exame de saúde, tratamento, reabilitação, diminuição de danos e a conservação da saúde com o desígnio de desenvolver a atenção integral que impacte na condição de saúde e autonomia dos indivíduos e nos categóricos e condicionantes de saúde do coletivo (MPPR, s.d.). Ainda, cabe acrescentar a responsabilidade de planejar e implementar atividades de promoção de saúde mental, prevenção e cuidado no que tange 94 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família à situação de transtornos mentais, atividades desenvolvidas para sujeitos com demandas decorrentes do uso de alguns entorpecentes, tais como: crack, álcool e outros tipos de drogas, partilhadas, sempre que imprescindível, com os demais serviços da rede. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é uma das basilares táticas, alvitradas pelo Ministério da Saúde no Estado brasileiro, para reorientar o modelo assistencial do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da atenção básica (AB). Tem por fi nalidade reordenar os serviços e reorientar as práticas profi ssionais na perspectiva da promoção da saúde, prevenção de doenças e reabilitação, por fi m, da promoção da qualidade de vida da população usuária, estabelecendo-se em uma sugestão com extensões administrativa inovadoras, técnica e política (FIGUEIREDO, s.d.). Ela pressupõe o começo da Vigilância à Saúde, a inter e multidisciplinaridade e a integralidade do cuidado a respeito da população que convive no campo de circunscrição das unidades de saúde (BRASIL, 1998). A expansão desse tipo de atendimento auferiu impulso com a sistematização da NOB-96 – Norma Operacional Básica (BRASIL, 1997b), que operacionalizou a descentralização de soluções e a municipalização da saúde, oferecendo às direções para o repasse, bom emprego e organismos de controle e acompanhamento dos recursos fi nanceiros que compõem o Piso da Atenção Básica (PAB). Portanto, com a responsabilidade dos municípios enquanto gestores (COIMBRA et al., 2005). A Estratégia Saúde da Família (ESF) incorpora os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e se organiza a partir da Unidade Saúde da Família (USF). Vejamos a seguir, conforme Brasil (2006), como se estabelece essa organização: • Integralidade e hierarquização: a Unidade de Saúde da Família está inserida na atenção primária à saúde. As equipes necessitam alcançar o diagnóstico de saúde do território adscrito, observando o perfi l epidemiológico e sociodemográfi co das famílias, perfi lhando as difi culdades de saúde prevalentes e os riscos a que este grupo populacional está exposto, organizando, com a sua participação, um plano local para o enfrentamento das difi culdades de saúde. A execução dos referidos princípios mencionados acima implica que os profi ssionais inseridos nas equipes de saúde entendam que seus serviços se encontram sistematizados em coefi cientes de complexidade crescentes, desde o coefi ciente local de assistência, até coefi cientes mais especializados. Esse sistema é alcunhado por referência e contrarreferência, sendo que a referência se contorna do nível de menor para o de maior complexidade, opostamente à contrarreferência (FIGUEIREDO, s.d.). 95 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 Ainda de acordo com Figueiredo (s.d.), a articulação entre esses dois sistemas é demasiadamente complexa, visto que a necessidade de serviços mais complicados extrapola ao apontador de requerimentos por parte da atenção básica, atrapalhando alcançar dignidade no atendimento aos usuários que precisam de serviços especializados. • Territorialização e adscrição dos usuários atendidos: de acordo com Figueiredo (s.d.), a USF trabalha com território de abrangência acentuado, sendo responsável pelo cadastramento e acompanhamento da população de cada território. Aconselha-se que a equipe multiprofi ssional se constitua responsável por, no máximo, 4000 (quatro mil) indivíduos de cada território. • Equipe multiprofi ssional: é combinada por um enfermeiro, um médico generalista ou de família, um auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS). Além destes, odontólogos, assistentes sociais e psicólogos, dentre outros, poderão fazer parte das equipes ou formar equipes de apoio, em conformidade com as demandas de cada território (FIGUEIREDO, s.d.). • Caráter substitutivo: se refere à substituição das práticas clássicas de assistência, com enfoco nas enfermidades, por um novo método de trabalho situado na Vigilância à Saúde, desse modo, a operacionalização dos desígnios da Estratégia de Saúde da Família acontece através da acepção territorial dos usuários, a compreensão da família como enfoco da assistência, o trabalho em equipe interdisciplinar e multiprofi ssional e a conexão entre famílias assistidas e os profi ssionais (COSTA; CARBONE, 2009). De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 1997a), a territorialização versa a respeito do diagnóstico dos atributos sociais, demográfi cas e epidemiológicas, e necessita impactar, de modo aderente, às situações de saúde da população adscrita. Para tanto, as equipes de saúde necessitam conseguir o cadastramento das famílias através de visitas domiciliares. VOCÊ SABIA? É na equipe multiprofi ssional que as situações levantadas no diagnóstico de saúde devem ser enfrentadas, valorizando-se a soma de olhares dos distintos profi ssionais que compõem esta equipe, obtendo-se, desta forma, um maior impacto sobre os diferentes fatores que interferem no processo saúde-doença. 96 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Para isso, é imprescindível que a estruturação do trabalho, na ESF, consolide-se nos princípios da vigilância à saúde, rompendo com a dinâmica médico-centrada. As questões de saúde e enfermidade no Brasil são desiguais e, de tal modo, a par das enfermidades acentuadas pelo aspecto epidemiológico da população e outras que, perante à globalização, insurgem e reinsurgem fazendo com que a população exiba uma pluralidade de agravos à saúde, passando a existir difi culdades relacionadas à violência, de saúde mental, condição de pobreza e extrema pobreza, uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, entre outras. Essa realidade tão intricada precisa de uma análise multifacetada, em que distintos profi ssionais possam amparar a inserção da Estratégia Saúde da Família na rede de serviços, afi ançando a assiduidadee a integralidade da atenção. Note que, para um número amplo de indivíduos, disseminado nos territórios, às vezes de contorno disperso e mais concentradas, assim é conciso desenvolver um trabalho colaborativo e próximo, submergindo todos os componentes da equipe, quanto a trabalhos peculiares, adotando as instalações legais que regulamentam a prática profi ssional de cada uma das profi ssões. Debateremos a respeito das atribuições de todos os profi ssionais, do ponto de vista organizacional: • participar do procedimento de territorialização, observando situações de risco e vulnerabilidade; • desenvolver a busca ativa e informando doenças e agravos de notifi cação compulsória; • cadastrar famílias e indivíduos, avalizando a qualidade dos documentos coletados e a fi dedignidade do diagnóstico de saúde do grupo populacional do campo adscrito de maneira interdisciplinar, com reuniões sistemáticas, organizados de modo compartilhada, para planejamento e análise das atividades. Conexas a estas, outras ações de cuidado à população devem ser desenvolvidas, a fi m de promover atenção integral, contínua e organizada da população adscrita, como podemos citar a acolhida dos usuários, escuta qualifi cada e ter um direcionamento nas ações de modo resolutivo para que o vínculo, uma das peças-chave da ESF, aconteça de confi guração ativa. Importante recomendar que a precaução ao usuário necessita ser efetivada não exclusivamente no domínio da Unidade de Saúde, entretanto, em domicílio, em 97 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 locais do território, quando as visitas se revolverem efi cazes para a direção do cuidado (BRASIL, 2011). Contudo, é imprescindível que esse mesmo indivíduo, que atualmente precisa de cuidados, seja adequado, em um momento posterior, de gerir sua forma de conduzir sua vida e a de sua família, de forma autônoma e saudável. Ações educativas, que interfi ram no processo saúde-doença, devem ser incrementadas, bem como o incentivo à mobilização e à participação da comunidade, com o intuito de efetivar o controle social (BRASIL, 2011). Tendo por conhecimento as atividades triviais a todos os profi ssionais inseridos na equipe de ESF, cada um deles tem função específi ca, sendo assim, cada cargo não se satisfaz em si próprio, logo, um aprofundamento é necessário para que cada um se distinga e perfi lhe ainda a atividade do outro colega profi ssional de outra área do conhecimento e não se perca o trabalho compartilhado. Iniciaremos explanando a respeito da atuação do profi ssional de enfermagem (profi ssional que desempenha privativamente o comando dos órgãos de enfermagem e agrega a estrutura básica de instituições de saúde, pública ou privada, e a chefi a de serviço de enfermagem, coordenando a atuação do auxiliar e do técnico (BRASIL, 2011). Ao profi ssional de enfermagem compete acolher os sujeitos e famílias cadastradas, desenvolvendo consulta de enfermagem, atividades em grupo e, segundo protocolos, requerer análises clínicas complementárias, preceituar medicamentos e gerenciar insumos e encaminhar as pessoas atendidas a outros serviços. Incumbem a esses profi ssionais, ainda, as ações de educação constante da equipe de enfermagem, assim como o gerenciamento e a avaliação das atividades da equipe, de modo privado do ACS (agente comunitário de saúde), que ocupa papel basilar na ESF para a conservação do vínculo entre as pessoas atendidas e a Unidade de Saúde. Outro profi ssional com destaque é o médico, que tem por encargo cuidar da saúde humana, agenciando saúde, prevenindo, diagnosticando e tratando enfermidades, com aptidão e resolutividade, responsabilizando-se pelo acompanhamento do plano terapêutico do paciente usuário do serviço (BRASIL, 2011). Para que possa acolher à necessidade dos sujeitos que está sob sua responsabilidade, necessita executar atividades planejadas e de atenção à 98 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família demanda que se confi gura espontânea, de modo comum, atendimentos clínicos e pequenos procedimentos cirúrgicos, quando recomendado na unidade de saúde, na habitação do usuário ou em ambientes comunitários no próprio território, assumindo a responsabilidade pela internação hospitalar ou domiciliar e pelo acompanhamento do usuário. Ademais, o profi ssional de medicina necessita desenvolver seu trabalho profi ssional em conjunto com o profi ssional de enfermagem, implementar e executar parte das ações de educação permanente dos componentes da equipe e participar do gerenciamento dos insumos. A partir desse parágrafo, mencionamos que, segundo Fortes e Spinetti (2004), o ACS (agente comunitário de saúde) desempenha a função de ligação entre a equipe e a comunidade adscrita do território. Este necessita ser morada da extensão de desempenho da equipe em que fora vinculado, pois dessa forma vivenciará o dia a dia das famílias e sujeitos do território com mais magnitude em analogia aos demais profi ssionais. Conforme Martines e Chaves (2007), os agentes comunitários de saúde são habilitados para agrupar dados a respeito das pessoas que vivem no território e precisam desenvolver suas atividades com carga horária de 08 (oito) horas diárias. Suas atividades profi ssionais consistem em desenvolver visitas domiciliares na sua extensão adscrita, de modo que produzam informações adequadas a fi m de dimensionar as basilares difi culdades de saúde pertinentes no território e na sua área de atuação. Compete aos profi ssionais agentes comunitários de saúde cadastrar todos os indivíduos do território e, também, conservar esses registros continuamente atuais, guiando as famílias quanto ao uso dos serviços de saúde disponíveis no território. Precisam acompanhar as famílias e indivíduos rotineiramente através das visitas nos domicílios, além de ações educativas individuais e coletivas, procurando ininterruptamente a conexão entre a equipe de saúde e a população adscrita à Unidade Básica de Saúde. Ainda em relação às atividades profi ssionais que são de responsabilidade desses profi ssionais, estes precisam executar ações de promoção da saúde, de prevenção das enfermidades e agravos e de vigilância à saúde, e principalmente ponderando a respeito dos critérios de risco e vulnerabilidade, em número máximo. Por fi m, a esses profi ssionais pertence desenvolver o acompanhamento das condicionalidades de saúde do Programa Bolsa Família (PBF) ou de qualquer outro programa análogo de transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilidades sociais e econômicas implantado pelos governos nas três esferas, sempre em conformidade com o planejamento da equipe e os agentes comunitários de saúde, além disso, são responsáveis por cobrir toda a população 99 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 cadastrada, com um máximo de 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 2011). Sob a supervisão do profi ssional de enfermagem de nível superior, mencionaremos os profi ssionais técnico e auxiliar de enfermagem, estes têm por responsabilidade executar procedimentos regulamentados no desenvolvimento de sua profi ssão tanto na Unidade de Saúde quanto em domicílio e outros espaços da comunidade, educação em saúde e educação permanente (BRASIL, 2011). A respeito do profi ssional de odontologia, o cirurgião-dentista deve executar atividades alusivas à saúde bucal junto aos demais componentes da equipe, agregando ações de saúde de modo a contemplar a multidisciplinaridade. A esse profi ssional compete, em atividade em conjunto com o técnico em saúde bucal (TSB), deliberar o perfi l epidemiológico da população para o desenvolvimento de planejamento e a programação em saúde bucal, com o objetivo de dar atenção especial e atenção coletivadirecionadas à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais, de contorno incondicional e resolutiva. Sempre que imprescindível, enquanto suas atribuições profi ssionais, deve desenvolver os procedimentos clínicos, contendo atendimento das urgências, pequenas cirurgias no ambulatório e procedimentos conexos com a etapa clínica da acomodação de próteses dentárias elementares, além de executar ações delineadas e de atenção à necessidade espontânea e ao controle de insumos (BRASIL, 2011). E, por fi m, os profi ssionais de odontologia são responsáveis ainda por desenvolver a supervisão técnica dos profi ssionais: técnico em saúde bucal (TSB) e do auxiliar em saúde bucal (ASB) (BRASIL, 2011). A respeito do profi ssional técnico em saúde bucal (TSB), como já fora mencionado acima, este desenvolve suas ações a partir de uma supervisão técnica do cirurgião-dentista, e desse modo, suas atividades consistem em acolher cada paciente nos serviços de saúde bucal, além de fazer a conservação e zelar pelo bom funcionamento dos equipamentos e ferramentas odontológicas, a retirada do biofi lme e as fotografi as adotadas de uso odontológicos, a lavagem e a antissepsia do campo operatório, antes e após atos cirúrgicos, e as medidas de biossegurança de produtos e restos odontológicos (BRASIL, 2011). Importa salientar que esse profi ssional agregue atividades de saúde em caráter multidisciplinar, ofertando apoio e educação constante ao Auxiliar de Saúde Bucal, bem como ao Agente Comunitário de Saúde e aos agentes multiplicadores das atividades de promoção à saúde nas ações de prevenção e promoção da saúde bucal. 100 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família O auxiliar em saúde bucal (ASB) também é supervisionado pelo cirurgião- dentista, e suas ações consistem em desenvolver procedimentos regulamentados na sua prática profi ssional, como, por exemplo: • limpeza; • assepsia; • desinfecção e esterilização do instrumental, dos equipamentos odontológicos e do ambiente de trabalho; • processa fi lme radiográfi co; • seleciona moldeiras; • prepara modelos em gesso; • além de outras atividades que podem ser atribuídas ao Técnico de Saúde Bucal (BRASIL, 2011). Após aludirmos sobre a ESF (Estratégia Saúde da Família) com seus objetivos, e destacarmos cada profi ssional que compõe essa equipe informando quais são suas principais responsabilidades a partir de sua área de formação e conhecimento, iremos abordar sobre os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. Com o desígnio de sobrepujar os desafi os relacionados ao atendimento à saúde no estado brasileiro, o Ministério da Saúde (MS), em 2008, cunhou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF (BRASIL, 2009) para expandir a circunscrição e as ações da Atenção Básica, avigorando o procedimento de territorialização e regionalização em saúde (FIGUEIREDO, s.d.). Os NASF foram criados dentro do escopo, tem em sua equipe a composição de profi ssionais de díspares campos do saber e devem atuar em prol de integrar suas ações junto aos profi ssionais das Equipes de Saúde da Família, além de se articularem com as equipes de Atenção Básica para populações específi cas e com o Programa Academia da Saúde, constituindo o desígnio deste último, a inauguração de polos para a orientação de exercícios corporais e atividade física e de lazer e estilos de vida saudável (BRASIL, 2011). Os NASF devem agir absolutamente no suporte matricial e, quando indispensável, no cuidado partilhado unido às equipes das unidades nas quais o Núcleo de Apoio à Saúde da Família estiverem ligados, compreendendo o apoio ao manejo de circunstâncias pertinentes à angústia e/ou transtorno mental, e as questões relacionadas ao uso abusivo de substâncias etílica, o crack, bem como o uso de outras substâncias ilícitas. 101 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 FIQUE ATENTO: É importante lembrar que o NASF, não obstante de estar ligado à Atenção Básica, não se estabelece enquanto porta de entrada do sistema único de saúde para os usuários, e sua função é ofertar suporte técnico e operacional ao trabalho das Equipes de Saúde da Família. Ele, à afi nidade desta, leva em consideração a territorialização, a educação constante em saúde, a participação social, a promoção da saúde e a integralidade – esta última, a principal diretriz do SUS a ser praticada por esse núcleo de atenção à saúde da família (BRASIL, 2009). Desse modo reforçamos, a partir de Figueiredo (s.d.), que o NASF não é uma estrutura desvinculada da atenção primária à saúde e, como esta, tem entre suas pressuposições: • integralidade; • promoção da saúde e humanização; • educação permanente em saúde; • participação social; • territorialização. Assim, podemos afi rmar que o NASF busca expandir, completar a atenção e a gestão da saúde na Estratégia de Saúde da Família, sobrepujando uma lógica de fragmentação e de análise superfi cial e linear, privilegiando a constituição de redes de cuidado e atenção, estabelecendo-se enquanto base às equipes de saúde da família. O basilar princípio do SUS a ser perpetrado por este núcleo de atenção à saúde da família (NASF) é a integralidade e necessita estar presente na atitude de cada profi ssional no encontro com os usuários do sistema de saúde. Além deste, outros princípios e diretrizes necessitam dirigir às atividades a serem constituídas pelo NASF, como o território onde precisa ser desenvolvida a atuação dos profi ssionais, como, por exemplo, podemos mencionar (BRASIL, 2009): • a educação permanente em saúde buscando à transformação das práticas profi ssionais e da organização do trabalho; • a interdisciplinaridade – em que distintas atividades, saberes e práticas se complementam; 102 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família • a humanização, a partir de construções coletivas entre gestores, trabalhadores e usuários e promoção da saúde que procura eleger formas de vida mais saudáveis; • a educação em saúde da população; • a participação social com foco na gestão participativa das ações em saúde. É importante ressaltarmos que os municípios e o Distrito Federal (DF), ao implantar um NASF, necessita desenvolver um projeto de implantação, e nesse projeto precisa conter informações que são estimadas como basais para esse processo, como, por exemplo, citamos a seguir: QUADRO 3 – COMPOSIÇÃO DO PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO NASF FONTE: A autora Território de atuação que deve ser formado por áreas contíguas de equipes de atenção básica e saúde da família. Identifi cação das ESF: Equipes de Saúde Família vinculada ao NASF. Agenda compartilhada – planejamento com previsão de agenda compartilhada entre as diferentes equipes de saúde da família e a equipe dos NASF, desde que excluam ações individuais e inclu- am ações coletivas de assistência, de apoio pedagógico tanto da estratégia de saúde da família quanto da comunidade e as ações de visita domiciliar. Formato de integração do sistema de saúde, incluindo fl uxos e mecanismos de referências e contrarreferências aos demais serviços da rede assistencial, prevendo mecanismos de retorno da informação e a coordenação do acesso pela estratégia de saúde da família – ESF. Inúmeras e difíceis são as responsabilidades conferidas aos profi ssionais do NASF, entre elas: • a acepção de indicadores e metas que afi ram suas atuações; • a acepção de uma agenda de trabalho que privilegie as ações pedagógicas e assistenciais; • além de ações administradas e contíguas com a Estratégia de Saúde da Família, no território (FIGUEIREDO, s.d.). 103 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 Se você quiser conhecer mais sobre os assuntos abordados, vamos deixar a indicação de alguns livros que se articulam com o assuntotratado neste tópico: REFERÊNCIA: QUIRINO, Túlio Romério Lopes; MARQUES, Fabiana Maria de Aguiar Bello; OLIVEIRA, Vick Brito; SILVA, Evelyn Siqueira da. O Nasf e o trabalho na atenção básica à saúde: apontamentos práticos e experimentações. Editora FIOCRUZ, 2019. 157 p. O referido livro aborda o cotidiano das equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em Recife, Pernambuco, é a base desta obra, que acena para o leitor e o leva à refl exão a respeito do lugar fundamental da Atenção Básica à Saúde na organização do cuidado e nos procedimentos criativos e inovadores que circundam os profi ssionais de saúde pública. Organizado por professores e pesquisadores da área de Saúde Coletiva, a coletânea agrupa sete artigos, que exibem feitios legais e normativos de implantação dos NASF, advindo por questões ligadas às estratégias, ferramentas tecnológicas, desafi os, territorialização, planejamento e avaliação dos núcleos. O segundo referido livro pondera o Estratégia de Saúde da Família como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde, a Estratégia Saúde da Família tem se comprovado possível para provocar um importante movimento de reordenação do modelo vigente de atenção. 104 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família REFERÊNCIA: PAULINO, I.; BEDIN, L. L.P.; PAULINO, L. V. Estratégia Saúde da Família. Editora Ícone, 2008. Suas diretrizes abalizam para uma nova dinâmica na forma de organização dos serviços e ações de saúde, possibilitando maior racionalidade no emprego dos níveis de mais complexidade assistencial e decorrências favoráveis nos indicadores de saúde da população assistida. Tendo realizado vários treinamentos, e nesse fazer devotado, arquitetado diversas apostilas dirigidas à formação continuada multiprofi ssional das Equipes Saúde da Família, passa a existir o referido livro, que sem maiores ambições, dirige-se para ocasionar dados embasados nas diretrizes e programas do Ministério da Saúde, trazendo num único compêndio, informações múltiplas, úteis para aqueles que trabalham e/ou procuram conhecimentos a respeito da Estratégia Saúde da Família. Queremos reforçar, ainda, a respeito da integralidade, que esta se concretiza especialmente pela ampliação da aptidão de apreciação e de intervenção dos problemas e demandas de saúde – tanto relacionada à condição clínica quanto sanitária, através da responsabilização partilhada entre as equipes de Saúde da Família e a equipe do NASF e das populações peculiares, afi ançando-lhes encaminhamento, com embasamento nos procedimentos de referência e contrarreferência, e agindo no fortalecimento do seu desempenho de coordenação do cuidado nas redes de Atenção à Saúde. 105 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 É importante refl etir que cada ação, ou todas elas, analisadas no conjunto da obra, pressupõem ações a serem desenvolvidas em parceria com as equipes de Saúde da Família e a comunidade, com vista à vigilância à saúde. Até aqui, aprendemos sobre as atribuições de modo geral das equipes de saúde da família, além de termos tido a oportunidade de saber o que compete a cada membro da equipe de saúde da família. Agora, no que diz respeito às responsabilidades da equipe, atribuídas a todos os profi ssionais que compõem o NASF, iremos conhecer o que é determinado às equipes profi ssionais que operam o NASF (BRASIL, 2009): • verifi car as atividades adotadas em cada um dos campos de circunscrição territorial; • identifi car o público prioritário a cada uma das atividades; • agir de modo planejado, integrado e nas atividades desenvolvidas pelas Estratégia de Saúde da Família e de internação domiciliar, quando esta houver; • atender de forma empática e atenciosa e humanizada aos usuários; • implementar e implantar ações na perspectiva intersetorial de modo a associar as ações da política social de saúde às demais políticas sociais, a citar: assistência social, habitação, trabalho, educação, cultura, lazer, esporte, entre outras; • agenciar a gestão integrada, bem como a participação dos usuários nas tomadas de decisões da política de saúde, através dos conselhos municipais de saúde como também dos conselhos de saúde local; • organizar e delinear táticas de diálogo para divulgação e sensibilização das ações dos NASF, assim como material educacional e orientativo em seu campo de atuação; • aferir, articulado com as equipes de Estratégia de saúde da Família e também os conselhos de saúde, o incremento e a prática das ações e o alcance de seu impacto a respeito da situação de saúde, através dos indicadores antecipadamente constituídos; • e, por fi m, organizar e executar projetos terapêuticos individuais, alcançando ações multiprofi ssionais e transdisciplinares, pelas Estratégias de Saúde da Família e os NASF, desenvolvendo a responsabilidade em caráter dividido. 106 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família 1) Sobre a criação do NASF – Núcleos de Apoio à Saúde da Família –, através de qual portaria e em que ano o Ministério da Saúde instituiu o respectivo programa? 2) (ADAPTADO – BANCA QUADRIX 2014 ÓRGÃO CRN 3ª Região SP - MS) Para a implantação dos NASF, os municípios e o Distrito Federal precisam desenvolver um projeto e nele deve conter itens imprescindíveis na sua constituição. Dentre as opções listadas a seguir, apenas um item não deve fazer parte do projeto de implantação do NASF. Desse modo, assinale a alternativa que apresenta o item que não faz parte da composição do projeto de implantação do NASF: a) ( ) Território de atuação que deve ser formado por áreas contíguas de equipes de atenção básica e saúde da família. b) ( ) Identifi cação das ESF: Equipes de Saúde Família vinculada aos NASF. c) ( ) Agenda compartilhada – planejamento com previsão de agenda compartilhada entre as diferentes equipes de saúde da família e a equipe dos NASF, desde que excluam ações individuais e incluam ações coletivas de assistência, de apoio pedagógico tanto das estratégia de saúde da família quanto da comunidade e as ações de visita domiciliar. d) ( ) Código do CNES: da Unidade de Saúde em que será credenciado o serviço NASF, que deve estar inserida no território das ESF vinculadas. Importa também destacar que existem algumas ferramentas de trabalho que são empregadas pelas equipes NASF para a sistematização de todo o procedimento de trabalho no âmbito do NASF. Vejamos na fi gura a seguir (BRASIL, 2009): 107 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 FIGURA 2 – FERRAMENTAS DE TRABALHO UTILIZADAS PARA SUBSIDIAR O PROCESSO DE TRABALHO NO ÂMBITO DE ATUAÇÃO DO NASF FONTE: A autora Sobre o apoio matricial, a expressão apoio signifi ca como elemento essencial na sugestão do NASF, e expede à apreensão de uma tecnologia de gestão designada apoio matricial NASF, que se completa com o método de trabalho em equipes de referência de saúde da família, que procuram modifi car o modelo predominante de responsabilidade nas organizações. No lugar dos sujeitos se responsabilizarem por ações e métodos, assinalados como tecnologia dura e leve-dura, o que se ambiciona é levantar a responsabilidade de sujeitos para sujeitos, qualifi cado pelas tecnologias leves. Desse modo, o apoio matricial acrescenta tanto a extensão leve-dura, assinalada pela assistência, responsável por dar ato clínico direto com as pessoas atendidas, quanto da tecnologia leve, qualifi cada pela atividade técnico-pedagógica que desenvolve suporte educativo com e para a equipe. No que tange à sugestão de clínica ampliada, se dirige a todos os profi ssionais que desenvolvem clínica, isto é, os profi ssionais de saúde na sua prática profi ssional de atenção aos usuários dos serviços de atenção à saúde. 108Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Toda profi ssão deve proceder com um recorte, ou seja, uma proeminência de sintomas e dados, cada qual em conformidade com seu núcleo profi ssional. Destarte, expandir a clínica constitui acordar os recortes teóricos de cada profi ssão às demandas dos usuários. O estudo de caso em equipe, especialmente em analogia àqueles que se contornam enquanto os mais complexos, se conforma enquanto uma solução clínica e gerencial extraordinaríssima. A existência desse espaço de estudo e construção da clínica é elevada para o apoio matricial e, desse modo, para o desenvolvimento do trabalho dos profi ssionais da equipe do NASF. Em relação ao projeto terapêutico singular (PTS), conforme Figueiredo (s.d.), estabelece-se em um conjunto de sugestões de procedimentos terapêuticos articulados, direcionados a um indivíduo ou a uma coletividade, concretizada por uma equipe interdisciplinar, com apoio matricial se mandatório. Comumente, o projeto terapêutico singular é aplicado a circunstâncias mais intricadas. O referido projeto concebe um período em que a equipe como um todo partilha apreciações e conhecimentos no experimento de ajudar a apreender o sujeito com determinada necessidade de cuidado em saúde e, por conseguinte, para acepção de sugestões de atividades. No que diz respeito ao projeto de saúde no território (PST), apetece em se constituir enquanto uma tática das equipes de saúde de família e do NASF, para executar atividades efetivas na produção da saúde nos territórios relacionados, articulando os serviços de saúde com os demais programas, projetos e serviços das demais políticas públicas sociais, de modo a investir na qualidade de vida e na autonomia das famílias e sujeitos que vivem nos territórios. O referido projeto necessita começar pela identifi cação do território, e entendemos que seja importante identifi car a população em condição de vulnerabilidade social e/ ou aquela que já se encontra em situação de risco social e pessoal do referido território (FIGUEIREDO, s.d.). Necessita também ter enfoco na participação popular, promoção da saúde, e intersetorialidade, com o desenvolvimento de ambientes grupais de debates, em que sejam avaliados a priorização das demandas de saúde, os seus respectivos determinantes sociais, as táticas e os desígnios alvitrados para a sua abordagem. É no ambiente coletivo em que a comunidade do território, suas respectivas lideranças e ainda componentes de outras políticas públicas sociais, existentes no referido território, terão condições de tomar nota, reformular, colocar responsabilidades, compactuar e aferir o projeto de saúde para a comunidade em sua totalidade. 109 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 Por fi m, o projeto de saúde no território auxilia ainda o fortalecimento da integralidade do cuidado à medida que trabalha com ações vinculadas à clínica, à vigilância e promoção da saúde. 1) Julgue a sentença a seguir: São ferramentas de trabalho utilizadas para subsidiar o processo de trabalho no âmbito de atuação do NASF: apoio matricial, clínica ampliada, projeto terapêutico singular e projeto de saúde no território. ( ) CERTO ( ) ERRADO 2) Julgue a sentença a seguir: Projeto Terapêutico Singular (PTS) – Pretende ser uma estratégia das equipes de SF e do NASF, para desenvolver ações efetivas na produção da saúde em um território articulando os serviços de saúde com outros serviços e políticas sociais, de forma a investir na qualidade de vida e na autonomia das comunidades. Ele deve iniciar-se pela identifi cação de uma área e/ou população vulnerável ou em risco. ( ) CERTO ( ) ERRADO Sobre o processo de organização do Núcleo de Apoio à Saúde da Família, ele constitui-se e está estruturado em duas modalidades: NASF 1 e NASF 2. Essa formação distingue-se entre si pelo coefi ciente de profi ssionais com formação educacional de nível superior envolvidos, assim como o número de equipes a que estão acoplados. Vejamos a seguir, como se distribui essa organização: 110 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Duas modalidades de NASF NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – FORMAÇÃO NASF 1 PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS Necessita conter no mínimo cinco profi ssionais com formação acadêmica universitária. Carece estar vinculado a, no mínimo, de oito, e máximo de 20 (vinte) equipes de saúde de família, menos nos estados da região Norte, onde o número mínimo passa a ser cinco. Psicólogo; assistente social; farmacêutico; fi sioterapeuta; fonoaudiólogo; médico gineco- logista; profi ssional da educação física; médico homeopata; nutricionista; médico acupunturista; médico pediatra; médico psiquiatra; terapeuta ocupacional. NASF 2 PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS Necessita conter no mínimo três profi ssionais com formação superior. Deve estar vinculado a, no mínimo, três equipes de saúde da família. Psicólogo; assistente social; farmacêutico; fi sioterapeuta; fonoaudiólogo; profi ssional da educação física; nutricionista; terapeuta ocupacional. QUADRO 4 – SISTEMATIZAÇÃO DAS DUAS MODALIDADES DE NASF FONTE: Adaptado de Figueiredo (s.d.) Para a implementação e, por conseguinte, a implantação das díspares modalidades do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) são acentuados determinados juízo crítico e responsabilidades, competindo ao gestor municipal a acepção de quais profi ssionais farão parte da equipe de cada NASF, necessitando constituir o seu procedimento de trabalho com enfoco nos territórios de sua responsabilidade, em conjunto com as equipes de saúde da família. Desse modo, o atendimento dividido entre os profi ssionais do NASF e os da ESF deve ser priorizado, com troca de saberes, capacitação e responsabilidades mútuas, devendo o atendimento individualizado pelo NASF se dar apenas em situações extremamente necessárias, sempre respeitando os territórios sob sua responsabilidade (BRASIL, 2009). Existem alguns sites que são ofi ciais, ou seja, são do governo, quer seja em nível municipal, estadual e federal. Desse modo, orientamos que são sites seguros para que você possa ter acesso a informações e materiais para subsidiar o trabalho profi ssional cotidiano. Assim, a seguir estão os sites para que você possa acessar e navegar: • https://aps.saude.gov.br/ape/esf/ 111 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 • https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/estrategia-saude-da-familia • https://www.informasus.ufscar.br/afi nal-o-que-e-a-estrategia-de-saude- da-familia-e-qual-o-seu-papel-no-enfrentamento-a-pandemia/ É salutar notar, de acordo com Figueiredo (s.d.), que não existe distinção entre o NASF 1 e 2 no que diz respeito aos profi ssionais que os compõem, tendo por distinção exclusivamente a carga horária de atividade laboral semanal e no contingente de equipes de saúde da família e/ou equipes de atenção básica para populações peculiares. Esses núcleos necessitam trabalhar em horário de trabalho coincidente com o das aludidas equipes que apoiam, além de estar ligados aos polos do programa academia da saúde de seu território de circunscrição. O trabalho em equipe se estabelece enquanto um dos desafi os que se coloca para os profi ssionais tanto da ESF quanto do NASF. Esse trabalho necessita ser concretizado em ambientes coletivos e com acordos bem acentuados de funcionamento, com fi ança de sigilo, visto que por sua vez, nesses encontros, todos os contextos precisam ser acertados e os julgamentos necessitam ser desenvolvidos e recebidos de modo apropriado, em um exercício consecutivo de gerenciamento de confusões de modo prosaico (FIGUEIREDO, s.d.). É importante destacarmos que um dos desafi os que se colocam para os profi ssionais do NASF e da ESF é o trabalho em equipe,pois cada qual dentro das equipes precisa compreender muito bem as suas atribuições inerentes ao seu trabalho profi ssional dentro das respectivas equipes, dessa forma irão contribuir na totalidade do atendimento dentro da execução do programa. Outro ponto que evidenciamos é que se contorna fundamental que os profi ssionais tenham compreensão e conhecimento em profundidade da constituição da história de saúde pública no Brasil, compreensão de como se desenvolveu o Sistema Único de Saúde – SUS –, bem como a relevância do movimento da reforma sanitária para que pudéssemos de fato ter uma saúde que não fosse regulada pelo trabalho, mas sim como direito de todos e dever exclusivo do Estado. 112 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família Por fi m, essa compreensão se contorna fundamental para que os profi ssionais possam desempenhar seus papéis com dedicação e assiduidade e com comprometimento com a sociedade, bem como com a manutenção da política de saúde em caráter universal de direito de todos os cidadãos. 4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, procuramos explicitar os conhecimentos que são de suma importância para seu processo de especialização em saúde preventiva. Como estudante, você foi orientado a conhecer acerca da Estratégia de Saúde da Família, enquanto uma estratégia primordial para o preparo e o fortalecimento da atenção básica. Pôde estudar e conhecer as principais atribuições do ESF, além de saber quais são as profi ssões que compõem a equipe de saúde da família e também suas atribuições dentro da equipe. Ainda, pôde estudar a respeito da importância dos NASF como equipe de apoio à Estratégia de Saúde da Família, bem como aprender as diretrizes e ações que o NASF tem como incumbência de serem desenvolvidas. Relembramos que seu objetivo de aprendizagem foi conseguir apreender a respeito da construção e os conceitos da estratégia de saúde da família como modelo de atenção básica, bem como auxiliamos você a identifi car como deve ser o desenvolvimento da prática do trabalho profi ssional de cada profi ssão dentro das equipes de Estratégia de Saúde da Família. Por fi m, buscamos promover o reconhecimento da relevância do trabalho articulado entre Estratégia Saúde da Família (ESF) e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Confi rmamos, assim, a importância desse estudo para os profi ssionais que já atuam no âmbito da saúde no nível da atenção básica, bem como aqueles que desejam atuar, visto que somente através da busca pelo aprimoramento contínuo é possível fortalecermos nossas práticas profi ssionais. Assim, poderemos atender com qualidade aos usuários do SUS e contribuir para o fortalecimento deste importante sistema de saúde pública do Brasil que emanou da população e de profi ssionais preocupados com as demandas da população brasileira. Este deve ser sempre o nosso compromisso. 113 A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E OS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF Capítulo 3 REFERÊNCIAS ANDRADE, L. O. M. de. Do surgimento da medicina social ao surgimento da intersetorialidade. [s.d.]. AROUCA, S. Reforma Sanitária. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998. Disponível em: http://bvsarouca.icict.fi ocruz.br/sanitarista05.html. Acesso em: 11 abr. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde na escola. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da família: uma estratégia para a reorganização do modelo assistencial. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Coordenação de Saúde da Comunidade. Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial. Brasília. Ministério da Saúde, 1997a. BRASIL. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde/SUS. Brasília, 1997b. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. COIMBRA, V. C. C. et al. A atenção em saúde mental na estratégia da saúde da família. Revista eletrônica de Enfermagem, v. 7, p. 113-117, 2005. COSTA, E.; CARBONE, M. Saúde da família: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Editora Rubio, 2009. FIGUEIREDO, E. N. A Estratégia de Saúde da Família na atenção básica do SUS. UMA - SUS – UNIFESP. [s.d.]. Disponível em: https://www.unasus.unifesp. br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Unidade_5.pdf. Acesso em: 8 jul. 2021. FIOCRUZ. Saúde da Família. [s.d.] Disponível em: Saúde da família: O que é? Leia mais no Pense SUS | Fiocruz. Acesso em: 8 jun. 2021. FORTES, P. A. C.; SPINETTI, S. O agente comunitário de saúde e a privacidade das informações dos usuários. Cad. Saúde Pública, v. 20, n. 5, p. 1328-1333, 2004. 114 Saúde Preventiva e Promoção da Saúde com Ênfase na Estratégia-Saúde da Família JUNQUEIRA, L. A. P. et al. A gestão intersetorial das políticas sociais e o terceiro setor. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 25-36, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/ndN8rgZC7mzXdrFL39q7VSC/?lang=pt. Acesso em: 8 jul. 2021. LACERDA, J. T. de et al. Processo de trabalho e planejamento na estratégia saúde da família. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Centro de ciências em saúde. Especialização em saúde da família – modalidade a distância. Florianópolis – SC, 2010. MARTINES, W. R.; CHAVES, E. C. Vulnerabilidade e sofrimento no trabalho do Agente Comunitário de Saúde no Programa Saúde da Família. Rev Esc Enferm USP, v. 41, n. 3, p. 426-433, 2007. MPPR – Ministério Público do Paraná. Unidade Básica de Saúde. [s.d.]. Disponível em: https://site.mppr.mp.br/pagina-35.html. Acesso em: 8 jul. 2021. PAULA, K. A.; PALHA, P. F.; PROTTI, S. T. Intersetorialidade: uma vivência prática ou um desafi o a ser conquistado? Revista Interface, São Paulo, v. 8, p. 331-348, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/ a/8W8qSDQQfWY8LYNTVJFSdjh/abstract/?lang=pt. Acesso em: 8 jul. 2021. PAULI, L. T. S. A integralidade das ações em saúde e a intersetorialidade municipal. 2007. 211 f. Tese (Pós-graduação em Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6135/tde-02122008-195835/publico/ Liane.pdf. Acesso em: 8 jul. 2021. SANTANA, M. L.; CARMAGNANI, M. I. Programa Saúde da Família no Brasil: um enfoque sobre seus pressupostos básicos, operacionalização e vantagens. Saúde e Sociedade, v. 10, n. 1, p. 33-53, jan./jul. 2001. VASCONCELOS, E. M. Os conceitos e os tipos de práticas interdisciplinares e interparadigmáticas. In: VASCONCELOS, E. M. Complexidade e pesquisa interdisciplinar: epistemologia e metodologia operativa. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. cap. 3.