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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA GESTÃO PÚBLICA 2 1 Sumário 1- INTRODUÇÃO ............................................................................. 5 1.1- METODOLOGIA .................................................................. 6 2- SINERGIA: SIGNIFICADO, SINÔNIMOS, IMPORTÂNCIA E IMPACTOS. ................................................................................................ 8 3- SÍMBOLOS E SOCIEDADE .................................................. 10 4- AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS E O ESTADO ........ 14 5- AS POLÍTICAS, CAMBIAL E MONETÁRIA ........................... 18 6- A ADMINISTRAÇÃO FISCAL KEYNESIANA ........................ 22 7- CONCEITOS DE PLANEJAMENTO E ESTRATÉGIA .......... 23 6.1- PLANEJAMENTO .............................................................. 24 6.2- ESTRATÉGIA .................................................................... 25 8- PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ....................................... 28 9- PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO SETOR PÚBLICO ... 30 10- ETAPAS DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ........................................................................................ 32 11- PROCESSO DE FORMAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIA ........................................................................................... 34 12- MODELOS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMUMENTE UTILIZADAS NO SETOR PÚBLICO ................................ 36 12.1- Método Grumbach ............................................................. 36 12.2- Balanced Scorecard ........................................................... 38 3 12.3 Gerenciamento pelas diretrizes .......................................... 40 13- AS POLÍTICAS ECONÔMICAS PARA DESENVOLVIMENTO 42 14- ORIGEM, ASCENSÃO, QUEDA E RESSURGIMENTO ....... 43 15- CRÍTICAS AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ............... 49 16- BENEFÍCIOS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO .......... 55 17- PLANEJAMENTOS ............................................................... 56 18- UM ESTADO QUE FUNCIONA MAL PORQUE PLANEJA MAL............. ............................................................................................. 58 19- GASTOS PÚBLICOS, DÉFICITS E DESEMPREGO ............ 60 20- JUSTIÇA SOCIAL E ORGANIZAÇÃO DO ORÇAMENTO .... 64 21- AS PERSPECTIVAS PARA O PRÓXIMO GOVERNO ......... 67 22- PARA SABER MAIS .............................................................. 70 23- CONCLUSÃO ........................................................................ 70 24- REFERÊNCIAS: .................................................................... 72 4 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação.Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 5 1- INTRODUÇÃO “Nenhuma questão me obcecou tanto como esta: por que eles encontraram o caminho certo, o desenvolvimento, e nós o errado, o do subdesenvolvimento.” (Celso Furtado) Grande parte da sociedade organizada não tolera mais a realidade brasileira de país não-desenvolvido, de país em que o cidadão comum não tem qualidade de vida e que muitos não têm sequer as condições mais básicas de sobrevivência. A intolerância está acentuada pela falta de perspectiva: estamos onde não desejamos e não sabemos para onde estamos caminhando. Muitos se envolvem em debates acalorados sobre problemas conjunturais: são tensas as discussões sobre a inflação, a alta taxa de juros e valorização cambial. 6 Contudo, as decisões de políticas macroeconômicas estão desassociadas, pelo menos de forma explícita, de uma estratégia de longo prazo, seja ela qual for: de construção de um país de bem-estar social ou de um país de economia primarizada com renda e patrimônio concentrados. O governo atua, age, inaugura obras... tenta fazer o melhor, mas isto é pouco. O que precisamos é de um projeto de futuro para que possamos sonhar. E, também, para que possamos estabelecer os links entre ações presentes e o futuro desejado. A era neoliberal que predominou nos últimos 25 anos acabou. O Brasil e tantos outros países que adotaram o receituário neoliberal não obtiveram o resultado prometido. Não houve desenvolvimento, não houve melhora significativa na qualidade de vida. As reformas de inspiração neoliberal desestruturantes do Estado e da sociedade não entregaram o que prometeram. A realidade derrotou o neoliberalismo, mas muitos de seus adeptos repetem suas idéias por falta do que dizer. É a inércia que predomina em momentos de transição. As poderosas entidades multilaterais que foram símbolos e instrumentos do neoliberalismo se encontram falidas, principalmente do ponto de vista de sua reputação, autoridade intelectual e capacidade de intervenção política. Estamos vivendo um vácuo histórico: faltam discursos e projetos. O neoliberalismo acabou e o desenvolvimentismo não nasceu ainda enquanto realidade social. Uma estratégia de desenvolvimento para o Brasil deve ser composta de três partes. A primeira é o ponto final, ou seja, para onde se quer levar a sociedade. A segunda é a trajetória macroeconômica que deve facilitar a 7 chegada ao ponto final. E a terceira são políticas públicas que devem objetivar, por um lado, fazer justiça social e, por outro, auxiliar a continuidade do desenvolvimento – por exemplo, políticas educacionais, políticas ambientais, políticas de redução das desigualdades de renda e de riqueza. Uma estratégia de desenvolvimento, entretanto, para ser factível, deve, acima de tudo, emular o imaginário da sociedade, transformando-o em sonho, em utopia e orgulho. As palavras de Carvalho (1990) são ilustrativas: “É por meio do imaginário que se podem atingir não só a cabeça, mas de modo especial, o coração, isto é, as aspirações, os medos e as esperanças de um povo. É nele que as sociedades definem suas identidades e objetivos, definem seus inimigos, organizam seu passado, presente e futuro (op.cit., p.10).” Portanto, políticas sociais, políticas macroeconômicas, instrumentos, objetivos, metas, desafios, riscos e mecanismos de avaliação devem, de forma inescapável, compor uma estratégia de desenvolvimento, um planejamento estratégico. 1.1- METODOLOGIA Para a construção deste material, foi utilizada a metodologia utilizada de pesquisa descritiva, com o intuito de proporcionar um levantamento de maior conteúdo teórico a respeito dos assuntos abordados. O conceito de pesquisa descritiva pode ser definido como aquela que descreve uma realidade, como o próprio nome diz. O sucesso de uma uma 8 pesquisa descritiva é confrontar as hipóteses e correlacionar as variáveis para obter as respostas e analisá-las. De modo geral, a pesquisa descritiva parte de um amplo grau de generalização.Para a obtenção das respostas é necessário utilizar o princípio da naturalidade, que implica no estudo dos fatos em seu modo natural, quer dizer: sem influências. Ainda, outro aspecto importante da pesquisa descritiva é que ela se debruça sobre sistemas em permanente movimento de mudança. Outra metodologia utilizada é a de pesquisa bibliográfica em diversas fontes, o estudo se desenvolve com base na opinião de diversos autores, concluindo que a formação e a motivação são energias que conduzem a atividade humana para o alcance dos objetivos de excelência na prestação de serviços públicos e podem também se converter nos principais objetivos da gestão de pessoas no setor público e no fundamento de sua existência. Segundo Gil, a pesquisa bibliográfica consiste em um levantamento de informações e conhecimentos acerca de um tema a partir de diferentes materiais bibliográficos já publicados, colocando em diálogo diferentes autores e dados. Entende-se por pesquisa bibliográfica a revisão da literatura sobre as principais teorias que norteiam o trabalho científico. Essa revisão é o que 9 chamamos de levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica, a qual pode ser realizada em livros, periódicos, artigo de jornais, sites da Internet entre outras fontes. Com tudo, o intuito deste modelo é possibilitar os estudos e contribuir para a aprendizagem de forma eficaz, clara e objetiva, sobre os conhecimentos de aprendizagem organizacional e gerencial. 2- SINERGIA: SIGNIFICADO, SINÔNIMOS, IMPORTÂNCIA E IMPACTOS Como muitas das palavras do nosso idioma, sinergia tem origem grega. Ela pode ser traduzida como cooperação. Representa a união de diversas valências que buscam sempre o bem comum e a satisfação geral. É como um grupo de pessoas remando sempre no mesmo sentido, visando a um só objetivo. Estranhou o uso do termo grupo de pessoas? Pois é isso mesmo. Para desenvolver a sinergia, é necessário ter no mínimo dois participantes. Afinal, a expressão implica em união e, como falamos lá no início, em coletividade. Essa cooperação, apesar de ser muito citada no âmbito profissional, também oferece benefícios na esfera pessoal. Por exemplo, um casal que caminha junto em busca da felicidade conjugal está sendo sinérgico. Da mesma forma, uma equipe de funcionários que trabalha em conjunto em prol do bem-estar da companhia está atuando de maneira colaborativa, o que é próprio da sinergia. https://www.sbcoaching.com.br/blog/colaboradores/felicidade-o-que-e/ 10 Por fim, para encerrarmos este tópico, é bom reforçar que o alcance de resultados não é algo que deva priorizar o lado individual. Afinal, de que adianta você cumprir sua meta se o seu colega não consegue fazer o básico? Equilíbrio é fundamental, portanto. O ganho deve ser global e a eficiência precisa partir de todos. Logo, sinergia e trabalho em equipe estão sempre interligados e são ações indissociáveis. Se você não conhecia sinergia por esse nome, certamente já teve contato com o seu significado a partir alguns termos sinônimos. É o caso, por exemplo, das palavras cooperação, colaboração, contribuição e união, muito mais comumente usadas no dia a dia. Então, caso não queira usar um jargão do mundo corporativo, pode optar por alguns dos vocábulos citados acima. Todos eles possuem um significado bastante próximo. Nas organizações: https://www.sbcoaching.com.br/blog/atinja-objetivos/a-importancia-de-cumprir-metas/ https://www.sbcoaching.com.br/coaching/trabalho-equipe-liderar https://www.sbcoaching.com.br/coaching/trabalho-equipe-liderar https://www.sbcoaching.com.br/coaching/trabalho-equipe-liderar 11 A sinergia é também grande catalisadora de forças e, assim, permite o desenvolvimento e a evidência de sentimentos como coletividade, comprometimento, doação e compartilhamento de ideias. Um corpo de funcionários que é dotado de todas essas características pode alcançar qualquer objetivo em conjunto. Para isso, no entanto, é preciso haver a real compreensão de que a coletividade é a saída para a solução dos problemas. Além disso, é fundamental que esses ideais não fiquem restritos a um grupo específico de colaboradores, mas atinjam a todos, da base ao ápice da pirâmide de pessoal. A importância da cooperação já está bastante clara? Vamos seguir nesse caminho para deixar ainda mais evidente sua necessidade. Para atingir todas as metas organizacionais é preciso, entre outras coisas, foco, dedicação, autonomia e trabalho em equipe. E tudo isso é obtido a partir da presença da sinergia no ambiente de trabalho. Às vezes, uma alteração no ritmo de produção é necessária e essa capacidade de pensar globalmente é que vai ditar o compasso. Seja a https://www.sbcoaching.com.br/blog/colaboradores/vamos-trocar-ideias-criativas/ https://www.sbcoaching.com.br/blog/carreira/manter-foco/ 12 frequência alucinada, um recuo estratégico ou uma pausa prevista. Com um plano bem traçado, os erros diminuem. Afinal, qualquer um passa a ter fácil acesso aos passos necessários para chegar aonde se deseja. As expectativas ficam alinhadas com todos pensando da mesma forma.Isso também colabora com uma circulação maior de informações e trocas de conhecimento nas quais um ajuda o outro a superar seus próprios limites. É uma relação de ganha-ganha, onde todos crescem pessoal e profissionalmente, individual e coletivamente. 3- SÍMBOLOS E SOCIEDADE Indivíduos têm percepções diferenciadas sobre a realidade presente, o passado e o futuro. Muitos aspectos podem explicar estas percepções diferenciadas: grau de formação, de informação, acesso à cultura, ao lazer, inserção social, infortúnios, processos psicológicos singulares etc. A forma mais conhecida de aglomeração de indivíduos – que são e devem continuar sendo heterogêneos, com diferentes interpretações sobre a realidade – no interior de mobilizações sociais tem sido aquela que se dá por intermédio da criação símbolos. Estes sintetizam sensações, emoções e idéias que são a base da adesão e da movimentação de aglomerados sociais. A sociedade desejada deve ser sonhada. Por vezes, a sociedade sonhada situa-se no passado ou em outro lugar; sonhá-la significa imaginála e desejá-la. O que faz os sonhos e as atitudes emergirem é a sensação de “unidade rompida” (BERLIN, 1991, p.32), é a indignação com a falta de alguma coisa idealizada (e desejada) que se contrapõe à realidade presente não- desejada (“a vida como ela é”, usando a expressão consagrada por Nelson Rodrigues). https://www.sbcoaching.com.br/blog/tudo-sobre-coaching/10-frases-de-superacao-poderosas-para-encarar-os-desafios/ https://www.sbcoaching.com.br/blog/tudo-sobre-coaching/10-frases-de-superacao-poderosas-para-encarar-os-desafios/ https://www.sbcoaching.com.br/blog/tudo-sobre-coaching/10-frases-de-superacao-poderosas-para-encarar-os-desafios/ 13 Os símbolos substituem momentaneamente a realidade desejada, mas ainda não alcançada. Um símbolo nítido, ou seja, que tem um significado muito claro é capaz de absorver múltiplas dimensões dos sentimentos e desejos. Esta capacidade de absorção social é a magia dos símbolos, que permite aglomerar milhões de indivíduos heterogêneos. Símbolos convergem os diferentes em busca do comum. Símbolos são imagens, slogans ou coisas assemelhadas. Símbolos sintetizam sonhos, isto é, a realidade invisível e desejada. Enfim, símbolos são sínteses de idéias, de projetos, de futuro esperado. Símbolos são também necessários porque são formas de substituição de líderes únicos. O slogan “O petróleo é nosso”, que movimentou grande parte da sociedade brasileira para a criação da Petrobras no início dos anos 1950, é um exemplo de símbolo que representou uma utopia que envolvia soberania e nacionalismo. A Petrobras foi criada para ser monopolista de alguma coisa que à época inexistia: era purosonho que se tornava realidade a cada dia, a cada ano – e cada vez mais. O movimento pelas “Diretas já”, em 1984, sumariou sonhos de milhões de brasileiros por um país democrático. Os estudantes “caras pintadas” que tomaram as ruas do país em 1992 exigindo o impeachment do presidente Fernando Collor representaram um movimento contra a corrupção e pelo aprofundamento da democracia. “O Petróleo é nosso”, as “Diretas já” e os “caras pintadas” foram símbolos construídos pelo movimento dos movimentos da sociedade. 14 15 Uma estratégia de desenvolvimento deve prescindir da ação de um líder, com suas idiossincrasias e desejos particulares, o que torna idéias e ideais em movimentos sintetizados por símbolos – algo absolutamente imprescindível, portanto, buscar romper com qualquer tipo de conformismo e mostrar que um futuro melhor é factível por meio da ação da sociedade. Há, portanto, um elemento importante de uma estratégia de desenvolvimento: os símbolos – que podem não ser criados em laboratórios ou gabinetes. O slogan “Diretas já” não teve dono. Apreendido por milhões de brasileiros passou a ser uma marca coletiva. E quem imaginou que “caras pintadas” poderiam representar a indignação de milhares de jovens? Símbolos resultam da mobilização em torno do debate amplo e organizado sobre a rejeição do velho e a construção do novo. Assim, uma estratégia de desenvolvimento não é um plano de governo detalhado, bem como não deve conter respostas para a lista infindável de questões que afligem a todos os cidadãos brasileiros. Uma estratégia de desenvolvimento deve ser construída no debate com a sociedade organizada a partir de linhas gerais, que descrevam: i) O objetivo final – um país em que questões materiais não sejam barreiras instransponíveis à felicidade; e ii) A trajetória – políticas públicas, procedimentos e regras para se formatar e re-formatar continuamente um novo país. Um outro elemento essencial de uma estratégia de desenvolvimento é a perspectiva nacional. O nacionalismo é o sentimento que emerge da forma pela qual o mundo moderno se organizou territorialmente: emerge da forma Estado-nação. O indivíduo, membro de uma sociedade organizada dentro de limites geográficos limitados, tem a sensação de pertencimento àquele espaço 16 nacional. Ele sente necessidade e orgulho de defender o seu território e de participar de “competições” – bélicas (quando necessárias), esportivas e econômicas – enfrentando outros Estadosnação. No caso do Brasil, o sentimento nacionalista de cunho desenvolvimentista talvez tenha aflorado de forma genuína nos anos 1950, quando o país ganhou a primeira Copa do Mundo e quando o governo de Juscelino Kubitscheck liderava o processo de fazer cinqüenta anos de progresso em cinco anos de governo. O povo cantava: “a Copa do Mundo é nossa... com brasileiro não há quem possa”. Como descreve Chauí (2000): “Sob o governo de Juscelino Kubitscheck, vivia-se sob a ideologia do desenvolvimentismo, isto é, de um país que se industrializava para o mercado interno, para „o brasileiro‟ e que incentivava a vinda do capital internacional como condição preparatória para, conseguido o desenvolvimento, competir com ele em igualdade de condições (op. cit., p.31).” Em uma estratégia de desenvolvimento civilizatória, as perspectivas individual e nacional devem caminhar juntas. Enquanto a primeira preserva as diferenças, a segunda une, transforma todos em iguais. Ambas são essenciais. Por um lado, valorizar o indivíduo reforça a idéia de liberdade que não leva em conta os demais; por outro, a perspectiva nacional reforça a idéia de defesa do coletivo, que leva necessariamente em conta todos. O nacionalismo é o momento em que o indivíduo está superado, em que grupos, corporações, segmentos, classes e castas sociais (e todos os seus interesses particulares) também estão superados pela união. Nesse sentido, o nacionalismo dentro de uma estratégia de desenvolvimento deve representar a solidariedade de interesses entre trabalhadores e empresários na defesa de seus mercados e na busca de novos 17 espaços econômicos, visando a mais empregos e maiores salários – esta é a genuína disputa dentro da competição global com outros, EstadosNações. 4- AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS E O ESTADO As políticas macroeconômicas formam o pavimento necessário, mais básico, de uma estratégia de desenvolvimento. Políticas macroeconômicas adequadas podem promover o crescimento e a industrialização (tecnologicamente sofisticada), que são os itens mais essenciais da cesta do futuro de bem-estar social. O crescimento e a industrialização estão muito longe de ser tudo, mas sem eles nada haverá. Políticas são ações conscientes e planejadas. No caso de políticas macroeconômicas, são ações planejadas por governantes de Estado que utilizam os três caminhos clássicos disponíveis: a política cambial, a política monetária e a administração fiscal. A necessidade de o Estado participar ativamente da vida econômica de uma sociedade não está relacionada às especificidades de certo período histórico ou a alguma falha do sistema capitalista que pode ser corrigida. Uma abordagem teórica é capaz de mostrar a necessidade do Estado ativo para que a economia possa prover um ambiente de bem-estar social e dinamismo nos mercados. O ponto central é que as ações (que são racionais) da iniciativa privada são pró-cíclicas – tendem a agravar situações. Turbulências econômicas são da natureza do sistema, surgem no seu interior e de forma repentina, mesmo em tempos de céu de brigadeiro. E tais turbulências tendem a se transformar em crises quando não há a intervenção anticíclica do Estado. Situações de crise ou de semi-estagnação podem permanecer por tempos indefinidos, porque não existem mecanismos de correção automática. 18 Não se trata de ter paciência para esperar, ainda que este fosse o caso, pois o custo social do tempo de espera seria alto demais. Um rápido exame da realidade é capaz de provar esta inseparabilidade entre Estado e mercado para que se possa promover uma vida em sociedade com felicidade. A chamada “época de ouro” do crescimento econômico e do desenvolvimento social, principalmente na Europa, se deu no período de maior interação entre a sociedade organizada, os empresários e os governos – o que ocorreu no final dos anos 1940 até o final dos anos 1960. A alta inflação no Brasil permaneceu por décadas até que houvesse um plano de governo antiinflacionário no ano de 1994. As tradicionais intervenções do Fundo Monetário Internacional (FMI), durante as crises cambiais-financeiras do final dos anos 1990 e início deste século, foram feitas por um agente externo à economia, quando o Estado, por meio de seus governantes, já tinha esgotado as suas forças. As intervenções do FMI são a maior prova de que quando um Estado está enfraquecido, está impotente, é preciso se realizar uma super- intervenção que vem de fora para recolocar preços macroeconômicos de volta a determinada posição. É também parte constituinte de uma estratégia de desenvolvimento a idéia de que o governo deve implementar políticas macroeconômicas capazes de gerar sensação de segurança tal aos empresários que estes se sintam estimulados a empreender grandes investimentos, lucrativos e geradores de renda e empregos. O governo deve também fazer aquilo que a iniciativa privada não faz. Em essência, os preços estratégicos macroeconômicos de uma economia devem favorecer o investimento, a geração de renda e empregos. Sob estas condições favoráveis, se as forças de mercado não realizarem os investimentos necessários, deve entrar em campo a mão visível do Estado realizando o investimento. Em princípio, o Estado 19 não faz melhor ou pior que a iniciativa privada; ele é necessário para fazer o que elanão faz, e deve fazê-lo bem. É falácia que a iniciativa privada é mais capaz por definição que o setor público para gerenciar grandes atividades econômicas. Afinal, são inúmeros os impérios econômicos empresarias e financeiros que já ruíram, assim como existem grandes e sólidos negócios gerenciados pelo setor público mundo afora. Argumenta-se que a preferência tomada a priori pelos negócios privados se sustenta porque, quando uma empresa privada é improdutiva ou quebra, quem paga a conta é o empresário. E que impropriedades no setor público são pagas pelo contribuinte. Ledo engano: sempre é o cidadão quem paga a conta. No caso do setor público, pagam-se as falências com mais impostos e, no caso do setor privado, as quebras são pagas com preços mais elevados, devido à redução da concorrência. As políticas macroeconômicas devem favorecer o investimento visando à geração de empregos, renda e à industrialização sofisticada. Deve-se buscar, por intermédio de diversos mecanismos, a industrialização em segmentos densos de tecnologia. A busca incessante por um modelo de industrialização sofisticada (eletrodomésticos, automóveis etc.) possui um aspecto essencial. A especialização na produção de commodities e a industrialização que gera baixo valor agregado (um modelo de economia 20 primarizada) constituem um modelo bastante propício para a consolidação de um esquema concentrador de renda e de riqueza. O modelo primarizado gera altos lucros, empregos com baixa remuneração e ocupações não formalizadas de acordo com a legislação trabalhista. O modelo de economia industrializada gera muitos empregos, de remuneração mais elevada, e favorece o estabelecimento de relações formais de trabalho. Esta é uma opção crucial: primarização ou industrialização sofisticada? A possível primarização da economia brasileira equivaleria a uma volta ao passado, semelhante àquilo que Chauí (2000) chamou de “colônia de exploração” ou que Paul Singer (apud CHAUÍ, 2000) chamou de “dependência consentida”. Nas suas palavras: “Depois que a América Latina se tornou independente, os donos das terras, das minas, do gado etc. tornaram-se em cada país, a classe dominante, tendo ao seu lado uma elite de comerciantes e financistas que superintendia os canais que ligavam atividades agrícolas e/ou extrativas. A nova classe dominante via na dependência de seus países dos países capitalistas avançados (...) o elo que os ligava à civilização, da qual se acreditavam os únicos e autênticos representantes (...). Assim, é justo apelidar esta situação que se criou com a independência e que durou, em geral, até a Primeira Guerra Mundial de dependência consentida. Ela se caracterizava pela ausência de qualquer dinâmica interna capaz de impulsionar o desenvolvimento (op. cit., p.34).” “Desenvolvimento” no modelo da primarização é sinônimo de expansão das atividades agropecuárias e extrativistas. A ausência de competição com os países centrais é a outra marca deste modelo. Muito pelo contrário, o Brasil forneceria o insumo e os países avançados fariam o serviço do beneficiamento. As características naturais e a extensão territorial do Brasil teriam determinado a única opção de desenvolvimento nacional plausível. 21 Este modelo propiciaria progresso e novas oportunidades para os ricos, que poderiam adquirir bens de luxo, fazer viagens internacionais e comprar produtos eletrônicos importados sofisticadíssimos. Os ricos poderiam mostrar à sociedade, portanto, que tudo está disponível para todos, bastando apenas esforço, estudo e qualificação para que se obtenha uma renda elevada e acesso aos produtos e serviços dos países centrais. 5- AS POLÍTICAS, CAMBIAL E MONETÁRIA A política cambial que favorece o investimento e a industrialização mais sofisticada é aquela capaz de estabelecer uma taxa de câmbio competitiva para a produção e a exportação de bens manufaturados. Uma taxa cambial neste patamar, por um lado, favorece a realização de megasuperávits comerciais e, portanto, o acúmulo de reservas não-voláteis. Por outro, é uma proteção contra crises cambiais de desvalorização abrupta pelo simples fato de que uma taxa desvalorizada tem uma chance menor de se desvalorizar (ainda mais) do que uma taxa valorizada. Uma política de administração cambial – de uma taxa que deve ser flutuante – em que o Banco Central compra e vende reservas, realizando um verdadeiro processo de sintonia fina, é capaz não só de manter a taxa de câmbio em patamar competitivo para as exportações de manufaturados, mas também de reduzir a volatilidade cambial – enfraquecendo, em decorrência, a atividade especulativa no mercado de moeda estrangeira. A defesa do equilíbrio externo requer atenção não somente com a balança comercial (ou a conta de transações correntes), mas também com a conta de investimentos financeiros internacionais. Capitais financeiros que têm por finalidade financiar o investimento e a produção são bem-vindos, sejam eles domésticos ou estrangeiros. Capitais financeiros que têm o mero objetivo 22 de sua capitalização, sem que este processo traga benefícios à produção ou ao investimento, não são bem-vindos. Estes capitais somente provocam pressão valorizativa sobre o câmbio no momento da sua entrada e pressão desvalorizativa no momento da sua saída: nada mais! A corrente dos capitais financeiros que buscam apenas a sua capitalização via movimentos especulativos e de arbitragem deve ser desestimulada. A primeira e principal medida nesse campo é o estabelecimento de uma taxa de juros básica da economia em patamar semelhante ao da americana. Uma taxa de juros muito elevada em relação à taxa de juros americana é maléfica para a economia em três aspectos: i) atrai capitais financeiros especulativos para o país; ii) eleva demasiadamente o custo de carregamento de reservas por parte do Banco Central; e iii) desestimula o investimento produtivo. Se uma taxa de juros relativamente baixa não for capaz de evitar os males dos movimentos especulativos dos capitais, outras medidas devem ser adotadas, como, por exemplo, a cobrança de impostos sobre a movimentação financeira internacional, ou outras medidas administrativas a serem definidas. Tais medidas devem necessariamente auxiliar na recuperação do sistema econômico nacional, ou seja, aquilo que segundo Celso Frutado é apresentado nos dias de hoje como um anacronismo: A perda de controle dos fluxos de liquidez pelos bancos centrais e a rápida integração dos sistemas monetários e financeiros deram lugar a uma situação nova que a própria idéia de sistema nacional passou a ser chamada de anacrônica (Furtado, 1992, p.13). A política monetária que favorece o investimento e a industrialização mais sofisticada é aquela que é totalmente consistente com a política cambial descrita. Não se pode determinar uma política monetária independentemente da política cambial (e vice-versa), ainda que o regime de câmbio seja flutuante, 23 porque um regime de altas taxas de juros está necessariamente associado a um regime de câmbio valorizado, quando a economia está financeiramente aberta. Esta é uma conhecida gangorra da macroeconomia. Uma política monetária de taxas de juros baixas é consistente, portanto, com uma política cambial de taxa competitiva. Conforme colocado aqui, uma política de taxas de juros elevadas determina uma taxa de câmbio valorizada e impõe custos elevadíssimos de carregamento de reservas ao setor público, o qual recebe a taxa de juros americana e paga a taxa de juros doméstica por cada dólar retido no Banco Central. A taxa de juros é, assim, fundamental para manter o equilíbrio externo, que deve ser entendido como: transações com o exterior facilmente financiadas e blindagem contra movimentos de capitais financeiros que são maléficos. Mas é também fundamentalpara manter o equilíbrio macroeconômico interno, que significa: alto crescimento com inflação baixa. Nesse sentido, uma nova concepção deveria governar a determinação da taxa de juros. Todo poupador cujos recursos não financiam algum tipo de gasto doméstico (consumo ou investimento) é um gerador de desemprego. Quanto 24 maior a taxa de juros maior é o estímulo para a poupança e, portanto, maior é o desemprego causado pelo poupador. Logo, a taxa de juros deveria ser pensada como um instrumento capaz de punir aqueles que não querem gastar, ou seja, como um instrumento que pune o gerador de desemprego. Por conseguinte, a taxa de juros deveria ser sempre baixa, muito baixa. A taxa de juros, por ser um instrumento capaz de controlar a demanda agregada, já se mostrou um instrumento plenamente eficaz de controle da inflação. Contudo, é preciso entender que sua funcionalidade depende de sua perversidade, isto é, gerar desemprego – para que haja uma suficiente redução de demanda relativamente à oferta para inibir o reajuste de preços. Mas como a sociedade de bem-estar que se deseja construir deve possuir uma economia de emprego para todos, estabelece-se aqui uma contradição: de um lado um instrumento antiinflacionário eficaz que gera desemprego e, de outro, a obrigação estratégica social e funcional permanente de gerar mais empregos. A alternativa não pode ser abandonar a taxa de juros, um instrumento antiinflacionário eficaz, mas sim reduzir ao máximo possível a utilização antiinflacionária da taxa de juros, sem que o objetivo da estabilidade de preços seja relegado a um segundo plano. Para tanto, o objetivo da estabilidade de preços deveria ser um objetivo de todos os órgãos públicos. Logo, mais instrumentos estariam disponíveis para este fim. Se a inflação estivesse sendo causada pelo aumento do feijão ou da soja, seria o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que deveria apresentar um diagnóstico do problema e apontar soluções. Se a inflação estivesse sendo causada pelo aumento de margem de lucro de forma excessiva por parte da indústria automobilística, seria o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior que deveria apresentar um diagnóstico do problema e apresentar soluções. O Banco Central deveria ser 25 o controlador de última instância da inflação, e não o primeiro e único órgão do governo preocupado com um problema que é amplo, complexo e com muitas especificidades. Deixar somente o Banco Central responsável por tratar da estabilidade de preços é o mesmo que solicitar a um médico clínico geral para solucionar ora um problema do coração, ora um problema de pele, ora um problema do estômago. Manter a inflação sob controle é algo tão importante que deveria haver uma câmara formada por diversos organismos do governo – inclusive o Banco Central – e dirigida pelo ministro da Economia para deliberar sobre o assunto. Observe mais sobre as explicações acima nos quadros abaixo: 26 A administração fiscal que favorece o investimento e a industrialização mais sofisticada é aquela que busca: Manter a economia em estado de semi-boom permanente – para usar uma expressão de Keynes – por meio de uma política de gastos sempre visando ao pleno emprego; 6 - A ADMINISTRAÇÃO FISCAL KEYNESIANA 27 Promover justiça social ao estabelecer um sistema tributário progressivo e solidário no qual a renda e o patrimônio sejam a base da arrecadação – e o consumo, a produção e o investimento sejam desonerados; Equilibrar o orçamento para que o governo tenha em suas mãos uma política de gastos que possa ser utilizada na sua plenitude, sem restrições orçamentárias importantes a qualquer momento; Desenvolver mecanismos democráticos de decisão de gastos, assim como desburocratizar os processos de gastos do governo para que o gasto público possa ser feito com melhor qualidade, ou seja, sem desperdício e com preços menores; e Desenvolver mecanismos mais simples de arrecadação e fiscalização da arrecadação – que são procedimentos necessários para que a carga tributária tenha o tamanho compatível com as necessidades da sociedade de bem-estar que se pretende construir. 7- CONCEITOS DE PLANEJAMENTO E ESTRATÉGIA Para analisar a ferramenta planejamento estratégico no setor público, compete introduzir e delinear, antes, os conceitos teóricos de planejamento e estratégia. Além disso, para o entendimento do objeto estudado, devem-se prover as definições de planejamento estratégico encontrados na literatura. Em seguida foi realizada uma visão geral da ferramenta, bem como as suas críticas e seus benefícios, por fim, levantaram-se as barreiras do PE no setor público indicadas pelos principais autores sobre o tema. 28 6.1- PLANEJAMENTO Planejamento pode ser compreendido por tudo aquilo que estruturamos antes da ação ser realizada (ACKOFF, 1976). Assim, para o autor, o planejamento é o processo de formular o que fazer e como fazer. O planejamento pode ser conceituado como uma forma racional de organizar os meios para alcançar os objetivos e metas desejados (ACKOFF, 1976). Planejamento é algo intrinsecamente ligado à natureza humana, visto que é por meio deste que o ser humano consegue identificar e preparar-se para enfrentar ameaças que possam surgir durante o trajeto rumo a um objetivo/meta traçado. Como um instrumento corporativo, o planejamento é um meio que define um futuro desejado pela organização, ou seja, é uma projeção de onde a organização gostaria de estar e quando ela deseja atingir esse estado (ACKOFF, 1976). Por isso, é um processo de avaliação e tomada de decisão, antes da realização da ação, com o objetivo de tornar mais provável um estado futuro desejado. Portanto, é o ato de pensar e avaliar as ações para mudar um cenário no qual se acredita que, a menos que se tome uma atitude, não irá acontecer (ACKOFF, 1976). O planejamento é utilizado nas organizações como um processo racional de intervenção na realidade atual com vistas a atingir uma situação futura ideal (PINTO, 1982). Neste sentido, o planejamento é um processo integrado de decisões que formaliza e explicita a estratégia visando à produção de um resultado articulado, ou seja, é o controle do futuro da organização por meio de análise racional (MINTZBERB, 1994). 29 Segundo Ackoff (1976), o planejamento pode ser decomposto em três níveis: estratégico, tático e operacional. Enquanto o planejamento no nível estratégico realiza a formulação de um plano de visão geral para a organização objetivando o crescimento de longo prazo, o planejamento tático é a decomposição dos objetivos estratégicos em orientações mais detalhadas para cada departamento de forma separada, com horizonte temporal de médio prazo suficiente para avaliar a desempenho da organização, portanto, com foco na eficiência. Por fim, o planejamento operacional lida com as ações cotidianas com foco na sobrevivência de curto prazo. 6.2- ESTRATÉGIA Mintzberg et al. (2000, p. 17) advertem para ter cuidado com o uso da palavra estratégia uma vez que “é uma dessas palavras que inevitavelmente definimos de uma forma, mas frequentemente usamos de outra”. O termo estratégia deriva da palavra grega stratègós, de origem militar, que significa a habilidade de combate do general, no que concerne a inteligência de utilização eficiente dos seus recursos para derrotar o inimigo (SANTIAGO et al., 2004). Este conceito de origem bélica foi transferido para a administração, relacionando a estratégia diretamente ao ato de planejar e executar as ações com a finalidade de alcançar ou manter posições relativas (MOTTA, 2001). Portanto, para este mesmo autor, a estratégia corporativa deve inicialmente fixar os objetivos e, a partir destes, definir os meios para alcançá-los.30 Ao longo da história, o termo estratégia recebeu diversas definições. Um dos primeiros a transferir o termo de origem militar para as corporações foi Chandler em 1962. O autor faz uma analogia ao termo militar definindo a estratégia no meio corporativo como a determinação das metas e objetivos de longo prazo, da estrutura organizacional e da alocação dos recursos necessários para o alcance dos objetivos desejados (CHANDLER, 1962). Posteriormente, Ansoff (1965) forneceu outra perspectiva sobre estratégia em organizações. Para este autor, a estratégia lida com o estabelecimento da medida da capacidade de resposta da firma em relação ao seu ambiente externo, isto é, define a posição da empresa no mercado no qual está inserida e quais mercados a empresa deseja entrar. Portanto, a estratégia deve definir: os objetivos e metas da empresa; como a empresa deve desenvolver e explorar o posicionamento dos seus produtos no mercado; e em quais mercados deve desejar entrar e com qual nível de intensidade em cada um (ANSOFF, 1965, 1990). Nesta mesma linha, Ackoff (1990) complementa que a estratégia de uma organização consiste nas deliberações do mais alto nível decisório, as quais afetam a organização como um todo. As decisões estratégicas orientam a seleção dos meios para a consecução dos objetivos globais a serem perseguidos no longo prazo pela organização como um todo. Neste sentido, as decisões estratégicas ocorrem antes do fato, uma vez que determina os objetivos globais e antecipam as possíveis ameaças e oportunidades, já o ato de selecionar os meios e instrumentos em si é uma decisão tática. 31 A estratégica, conforme Andrews (1971), pode ser caracterizada como o padrão de objetivos, propósitos ou metas e de políticas e planos para consecução das finalidades estabelecidas, este padrão define em quais mercados a companhia está ou em quais pretende se inserir, bem como determina que tipo de companhia é ou deverá ser. De acordo com Porter (1987), a estratégia é um processo de escolha racional e análise de ameaças externas para a formatação de uma posição singular e diferenciada da organização no mercado, fornecendo à empresa um diferencial competitivo em relação às demais organizações. Segundo o autor, a estratégia é decidir o que fazer e - de acordo com o autor - principalmente o que não fazer (trade off) entre as múltiplas opções existentes. Na visão de Prahalad e Hamel (2005), estratégia é um conjunto de medidas concebidas no presente visando capturar oportunidades no futuro. Para isso, a estratégia identifica e propõe meios para o domínio das competências necessárias para o alcance dos objetivos desejados. Os autores denominam esse pensamento de arquitetura estratégica. Na visão dos autores, a estratégia vai além da preocupação com a adequação total entre metas e recursos: a estratégia deve ser formulada de tal forma a desafiar e a estimular os funcionários a superarem metas aparentemente impossíveis, bem como contornarem de forma criativa as limitações de recursos. Mintzberg et al. (2000) propõem cinco situações nas quais a palavra estratégia é empregada, denominadas de 5P: plan, ploy, pattern, position e perspective. O primeiro P, de plan, define a estratégia como um plano de ação, ou seja, uma linha mestra a ser seguida pela organização, um olhar para 32 frente. O P, de ploy, é a visão da estratégia como um truque para enganar o seu oponente, induzir o concorrente a uma conclusão equivocada para provocar uma situação favorável. O terceiro P, de pattern, é a constatação do fluxo de ações realizadas até o presente momento, independente de ter sido previamente planejada ou não, um olhar para o comportamento ao longo de período passado. O P, de position, é como a organização se posiciona de forma a se distinguir no mercado, isto é, está relacionado à coordenação do ambiente interno e externo. O último P, de pespective, compreende a estratégia como conceitual, ou seja, corresponde a um conjunto de valores compartilhado entre os membros da organização. Bryson (2004) descreve que as organizações desenvolvem estratégias para lidar com as questões que são identificadas. Por outro lado, Mintzberg (1994) alerta para o fato de que os planos esquematizam apenas as estratégias desejadas, porém que não são necessariamente efetivadas. Neste sentido, Mintzberg (1994) identificou duas origens para a estratégia realizada por uma organização: deliberada e emergente. As estratégias deliberadas são aquelas ações frutos do exercício do planejamento. Por outro lado, as estratégias emergentes são as ações realizadas, mas que não foram explicitamente pretendidas e discutidas durante o processo formal de planejamento. 8- PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Existem diversas definições para o conceito de planejamento estratégico. Ansoff (1990) descreve o planejamento estratégico como um processo analítico com o objetivo de tomar as decisões estratégicas ótimas, tendo como base as variáveis empresariais, econômicas e tecnológicas. Com 33 isso, o autor define o planejamento estratégico como um processo que orienta a escolha do que se deve fazer. Neste sentido, o processo de planejamento estratégico compreende análise racional dos pontos fortes e fracos internos da empresa compatibilizando os objetivos da organização com as oportunidades oferecidas e as ameaças existentes no meio externo (ANSOFF, 1990). Para Drucker (1998), o planejamento estratégico também é um processo contínuo de tomada de decisão, realizado a partir da sistematização das atividades necessárias à execução das decisões e com a maior quantidade de informação possível. Ainda segundo Drucker (1998), o planejamento estratégico esquematiza o agir agora com a finalidade de produzir um futuro desejado, na qual cada decisão tomada tem um risco envolvido. Neste sentido, o autor afirma que a realimentação do processo ocorre de forma organizada e sistematizada, isso permite medir o resultado das decisões minimizando os riscos. O planejamento estratégico, para Motta (1979), consiste em um processo sistemático de olhar para fora e para frente na construção de uma visão de futuro, isto é, a habilidade de adaptação, flexibilização e transformação da organização frente às rápidas mudanças no ambiente externo, bem como a capacidade de conviver com a ambiguidade. Na visão de Ackoff (1990), o planejamento estratégico deve ser elaborado de tal forma que a sua implementação e resultados esperados possam ser monitorados, mas isso exige a especificação das variáveis de acompanhamento. 34 Para Mintzberg (1994) o planejamento estratégico é um processo no qual a organização realiza a programação de quais recursos deve possuir e como serão empregados. Ainda segundo o autor, o planejamento estratégico é um processo formalizado da estratégia criada pelos planejadores. Na visão de Vinzant e Vinzant (1996a) o planejamento estratégico é o elemento central da gestão estratégica de uma organização. Para os autores, o planejamento estratégico é um processo racional que determina os objetivos e a estratégia organizacional. Nosowski (1994) salienta que o objetivo principal do planejamento estratégico é assegurar que as políticas sejam desenvolvidas a fim de viabilizar a consecução dos objetivos estratégicos, além de garantir a sustentação financeira no longo prazo. Hopkins e Hopkins (1997) descrevem o planejamento estratégico com um processo que faz uso de critérios sistematizados e investigação rigorosa para formulação, implementação e controle da estratégia. Além disso, para os autores, o planejamento estratégico é um documento formalizador das expectativas da organização. Para Poister e Streib (2005) planejamento estratégico é uma junção entre pensamento futuro, análise de objetivos e avaliação subjetivade metas e prioridades com vistas a assegurar a efetividade e a sobrevivência da organização no longo prazo. 35 Bryson (2004) sintetiza que o planejamento estratégico é um esforço disciplinado para a produção de decisões e ações que modelam e guiam o que uma organização é, faz e por que o faz. Neste sentido, para o autor, o objetivo principal do planejamento estratégico é o desenvolvimento de um pensamento estratégico que crie valor para o cliente ou consumidor final. 9- PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO SETOR PÚBLICO Diversas foram às organizações privadas que adotaram o processo de planejamento no mundo inteiro. Muitas delas, porque bem feita a sua formulação, execução e controle, alcançaram resultados positivos (HEROLD, 1972; MARCOVITCH; RADOSEVICH, 1978; MARIN, 2012). Da mesma forma que no setor privado, devido às frequentes e rápidas mudanças no ambiente, além do contexto de transformações radicais da sociedade e do Estado, impôs-se, também, a modernização do setor público (DARÓS, 2009). Diversos autores (OSBORNE; GAEBLER, 1996; PETERS; PIERRE, 1998; MILWARD; PROVAN, 2000) enfatizaram a necessidade de mudanças nos governos, tendo em vista as transformações que vêm se perpetrando nas últimas décadas enquanto os Estados continuam estáticos. Destarte, a partir da década de 1990, no contexto das reformas dos órgãos do Estado brasileiro, sob o foco da administração gerencial, passou a ser relevante a capacidade de gerenciamento (CAVALCANTI, 2005). A gestão na atividade pública tornou-se tão importante quanto no setor privado (MARIN, 2012), caracterizando-se por uma despolitização da administração, aliada à ênfase no conceito de eficiência governamental (FLEURY, 2005). Osborne e Gaebler (1996), importantes autores do corpo de 36 ideias conhecido como New Public Management (NPM), a partir da década de 1980 influenciaram e incentivaram reformas administrativas em diversos governos nacionais. Para os autores, o governo poderia se apropriar do modelo de fornecimento de serviços do setor privado, como, por exemplo, a flexibilidade de gestão, o foco na qualidade dos serviços e a prioridade às demandas dos consumidores. Desta forma, na gestão pública, a introdução do planejamento estratégico faz referência ao movimento da New Public Management (SHICK, 1996), validando-o como referência para a tomada de decisões sobre como estruturar e gerir os serviços públicos (BARZELAY, 2001). A administração gerencial tem suas premissas voltadas para a eficiência, agilidade, qualidade e flexibilidade da gestão além da preocupação com o aumento da responsabilização da administração pública (CAMPOS, 1990; DROR, 1999; POLLIT; BOUCKAERT, 2004; ABRUCIO, 2005; CAVALCANTI, 2005; ABRUCIO; SANO, 2008; CUNHA, 2010), fortalecimento do gerenciamento estatal e imputação de resultados (COSTIN, 2010). Tais conceitos e práticas passariam a nortear o modelo gerencial público, direcionando a adaptação e a transferência dos conhecimentos desenvolvidos nas empresas para a seara governamental (PECI, PIERANTE; RODRIGUES, 2008). Em síntese, prevalecia a ideia de maior eficiência das organizações privadas que necessitavam se desenvolver intensamente para sobreviver no ambiente competitivo. Considerando que em toda gestão, privada ou pública, existem desafios semelhantes, as técnicas e conceitos que auxiliaram as empresas a se tornarem ágeis e eficientes poderiam, 37 consequentemente, ser utilizadas também no setor público (FREDERICKSON, 1989; OSBORNE; GAEBLER, 1996). Todavia, a NPM recebeu muitas críticas, dentre as quais podem-se destacar a pretensão de se constituir numa prática universal, aplicável às diversas realidades, independentemente, das especificidades de cada local; a supressão de valores como a cidadania, equidade e bem-estar público ao deslocar a atenção para conceitos mais restritos como o de eficiência e produtividade; e a desconsideração das diferenças essenciais existentes entre a administração pública e privada (DIEFENBACH, 2009), Apesar das teorias e conceitos de planejamento fornecerem algumas diretrizes gerais, as circunstâncias de cada organização (tanto as públicas quanto as privadas) são tão específicas que a administração precisa adaptar estas generalizações quando da aplicação do planejamento estratégico. A adoção de um processo prescritivo, sem a devida adequação para a realidade organizacional de cada tipo de instituição, pode corresponder a um desperdício de tempo e recursos (MARCOVITCH; RADOSEVICH, 1978). 10- ETAPAS DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 38 Conforme Schendel e Hofer (1979 apud, WOLF & FLOYD, 2013), o processo de planejamento estratégico é composto por uma sequência lógica de ações que incluem: a definição de missão; estabelecimento dos objetivos de longo prazo; análise de ambiente interno e externo; e formulação, implementação e controle da estratégica. No caso específico de organizações públicas, Joyce (1999), com base em Eadie, (1983) identifica que o processo de PE deve conter os seguintes passos: formulação de missão e objetivos estratégicos; avaliação do ambiente externo para identificação das oportunidades e ameaças; avaliação dos recursos internos para determinar pontos fortes e fracos; identificação de ideias para ações estratégicas; realização de análises de custo benefício para avaliar e selecionar as ações estratégicas; realização de análises de risco para identificar os perigos para o plano estratégico; elaboração de metas, cronograma e indicadores de desempenho; e a incorporação em planos operacionais com indicadores. 39 Neste mesmo sentido, Bryson (2004) propõe 10 passos para o ciclo de mudança estratégica em organizações públicas ou sem fins lucrativos: (1º) acordar com as partes interessadas o início do processo de planejamento estratégico; (2º) identificar as atribuições/obrigações formais (leis/normas e outros) e informais na organização (objetivos de governo e promessas eleitorais); (3º) clarificar a missão e os valores organizacionais; (4º) avaliar o ambiente externo e interno; (5º) identificar as principais questões estratégicas enfrentadas pela organização; (6º) formular estratégias para gestão das questões levantadas; (7º) rever e adotar uma estratégia ou plano estratégico; (8º) estabelecer uma visão de futuro efetiva; (9º) desenvolver um plano de ação4 ; e (10º) reavaliar a estratégia e o processo de planejamento estratégico preparando-se para o novo ciclo. O autor observa que os oito primeiros passos correspondem especificamente ao processo de formulação do planejamento estratégico, enquanto que os dois últimos são relativos ao processo de implementação e de gestão estratégica. Bryson (2004) explica que os 10 passos formam um processo participativo, deliberativo e ordenador de ações, ou seja, foi desenvolvido para organizar a participação, criar ideias para a intervenção estratégica, construir coalizões, e facilitar a implementação da estratégia. 11- PROCESSO DE FORMAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIA O processo de formação de estratégias é uma combinação de fatores externos e internos da organização, que, segundo Nicolau (2001), pode ser racional e formal; pode ser um processo negociado; ou pode ser um processo em construção permanente, mencionando que 40 “A concepção predominante na literatura entende a formação da estratégia como um processo que se desenvolve através de uma série de etapas seqüenciais, racionais e analíticas e envolve um conjunto de critérios objetivos baseados na racionalidade econômica para auxiliar os gestores na análise das alternativas estratégicas e tomada de decisão (NICOLAU, 2001, p. 9).” Diversos autores são favoráveis à ideia de que a formalização de um plano estratégico é um instrumento fundamental para uma gestão de sucesso, promovendoo desempenho superior (ANSOFF; McDONNELL, 1993; PORTER, 1989). Nesses escritos, defendem a ideia de que um plano formal é necessário para as organizações atingirem melhores resultados, através do direcionamento de esforços para o alcance dos objetivos comuns almejados por elas. Quanto a tipologias de estratégia, Nicolau (2001) propõe também três diferentes ocorrências: planejadas x realizadas; implícitas x explícitas; deliberadas x emergentes. As estratégias que são traçadas em um plano muitas vezes não correspondem àquelas que foram possíveis de serem implementadas, pois o ambiente sofre mutações constantes, causando, assim, uma disparidade entre planejado e realizado. A explicitação das estratégias em planos formais nem sempre ocorre nas organizações; portanto, algumas empresas não deixam de ter atuação estratégica, porém esta é implícita. Em continuação, Mintzberg et al. (2003, p. 25) afirmam que “[...] podemos distinguir estratégias deliberadas nas quais as intenções que existiam previamente foram realizadas, das estratégias emergentes, nas quais os modelos se desenvolveram sem intenções, ou apesar delas”. Existe uma linha de autores que defende a ideia de que a formulação da estratégia segue uma visão deliberada, afirmando que Sob o ponto de vista normativo, a estratégia formal pode representar importante elemento de legitimação para um grupo de referência, para uma rede 41 interorganizacional de um ramo, setor ou campo, até mesmo no nível societário como o Estado e a sociedade civil. (MACHADO-DA-SILVA; VIZEU, 2007, p. 4). Entretanto, existe outra linha de pensamento, que defende a estratégia como um processo emergente, não planejado, “no sentido de uma linha de ação que só é percebida como estratégica pela organização à medida que ela vai se desenrolando ou até mesmo depois que já aconteceu.” (MARIOTTO, 2003, p. 79). Isso entra em concordância com os argumentos de Whittington (1996), para quem a estratégia é vista como um prática cotidiana do convívio social de agentes em processo contínuo de formulação e implementação de ajustes de condutas e recursos. Afirma que é um processo laboral construtivista no tempo presente da ação, portanto sempre emergente. Os dirigentes fazem estratégia em ato contínuo, formulando estratégias baseadas no conhecimento adquirido em suas rotinas de trabalho. Em se tratando de estratégias emergentes e deliberadas, Mariotto (2003, p. 91) declara que “A maneira tradicional de desenvolver estratégia, com um processo periódico e formal de Planejamento Estratégico, já não é mais suficiente para lidar com a nova situação”. Acrescenta ainda que a formação da estratégia deve ser um processo contínuo, ao afirmar que as intencionadas estratégias correntes estarão sendo constantemente desafiadas por novas estratégias emergentes, que poderão acabar se tornando as novas estratégias intencionais ou então virem a ser acomodadas dentro da estratégia intencionada em curso (MARIOTTO, 2003, p. 81). Complementarmente, Belmiro (2001) defende a ideia de que é necessário desenvolver o pensamento estratégico antes de se formular planos, envolvendo a criatividade e intuição de qualquer participante da organização. 42 O pensamento estratégico diz respeito a entender as constantes mudanças e incertezas que pairam sobre a empresa. “Se o pensamento estratégico estiver enraizado, o planejamento poderá ser iniciado. Planejamento é a prática de sinergia. [...] Planejamento é a metodologia e práticas que criam estruturas para o cumprimento das ideias” (BELMIRO, 2001, p. 295). 12- MODELOS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMUMENTE UTILIZADAS NO SETOR PÚBLICO Através de revisão bibliográfica realizada, apontou-se que várias instituições públicas iniciam o processo de formulação do Planejamento Estratégico usando as seguintes metodologias: Método Grumbach, Balanced Scorecard e Gerenciamento pelas Diretrizes. A seguir, serão apresentadas mais informações sobre cada modelo. 12.1- Método Grumbach O Método de Planejamento Estratégico com apoio de Cenários Prospectivos – Método Grumbach - foi desenvolvido por Raul Grumbach em 1996. O modelo é fundamentado em outras técnicas, como brainstorming, Método Delphi, Método de Impactos Cruzados, Teorema de Bayes, situação de Monte Carlo (análise da interdependência de variáveis e construção de diversos cenários), Teoria dos Jogos (análise de parcerias estratégicas) etc. Esse modelo foi usado por instituições como Banco do Brasil, Exército Brasileiro, Ministério Público do Estado da Bahia e de Goiás, Ministério Público do Trabalho, Polícia Federal etc. (GRUMBACH, 2000). O método, segundo Grumbach (2000), contempla três elementos fundamentais – decisor estratégico, grupos de controle e peritos – e é composto por quatro fases, sendo as duas primeiras identificação do sistema e diagnóstico estratégico. A terceira fase, visão estratégica, se desdobra em visão do presente e do futuro, sendo que a primeira busca definir ações de curto e médio prazo 43 baseadas no cenário atual e a segunda foca medidas de médio e longo prazo tendo em vista a geração e interpretação de cenários prospectivos. Nessa fase, primeiro são levantados e discutidos os eventos ou questões estratégicas que podem impactar a organização. A ocorrência ou não dos eventos resulta na quantidade de cenários possíveis, calculados por 2n, em que n é o número de eventos. Os cenários são avaliados pelos peritos em relação à probabilidade de ocorrência dos eventos, ao impacto que estes causariam e à probabilidade condicionada de um evento em relação aos demais. Esta fase é realizada com auxílio do software Puma, em virtude da grande quantidade de cenários que podem ser gerados. Também é utilizado o software Lince, que auxilia no processo de Simulação e Construção de Futuro. Ainda na fase 3, há a etapa de avaliação de medidas (que podem ser agrupadas em objetivos, política, metas) e gestão de resistência, buscando ações que aumentem a probabilidade de ocorrência de cenários favoráveis. Por fim, na quarta fase, Consolidação do Planejamento, são revisadas as informações obtidas nas fases anteriores e é elaborado o plano estratégico, que pode ser desdobrado em planos setoriais. 12.2- Balanced Scorecard O Balanced Scorecard (BSC) é uma metodologia de gestão estratégica desenvolvida por Kaplan e Norton em princípios da década de 1990 para resolver problemas de monitoramento do desempenho das estratégias implantadas. No modelo geral, a análise da estratégia é agrupada em quatro grandes perspectivas abstracionais: financeira, clientes, processos de negócio interno e aprendizagem/crescimento, incluindo, assim, os ativos tangíveis e intangíveis. Kaplan e Norton (2001) descrevem quais temas são abordados em cada uma: (i) a perspectiva financeira engloba objetivos de crescimento, fontes 44 de crescimento, produtividade, controle de custos etc.; (ii) a perspectiva clientes aborda o valor que a organização proporcionará aos mesmos para se diferenciar da concorrência, garantir fidelização e, assim, obter crescimento de receita; (iii) a perspectiva processos internos define as atividades da empresa que necessitam ser implementadas ou aprimoradas, para se garantir os objetivos de criação de valor aos clientes; (iv) a perspectiva aprendizagem e crescimento contempla qual infraestrutura, habilidades e conhecimentos dos empregados são necessários para uma atuação de forma inovadora e diferenciada. A modelagem do BSC pode ser entendida como um painel mímico em que a alta direção corporativa pode se ater no comando da organização, consultando poucas variáveis agregadas e sem produzir excesso de informações para tomada de decisão. Em sentido estrito, é um modelo top down do Planejamento Estratégico. A arquitetura original do BSC foi ajustada para aplicação às entidadesgovernamentais, uma vez que a perspectiva financeira, originariamente no topo da hierarquia, não é prioritária para estas, podendo ser substituída pela perspectiva cidadão (KAPLAN; NORTON, 2001). O modelo originalmente elaborado pelos autores foi sofrendo ajustes como a inclusão da mensuração no sistema gerencial, uma vez que a mensuração dos indicadores, além de mostrar o comportamento do passado, fornece subsídios para a atuação futura da organização. “Assim, refinamos o conceito do Balanced Scorecard e mostramos como seria possível convertê-lo de sistema de mensuração do desempenho em referencial organizacional do sistema gerencial estratégico.” (KAPLAN; NORTON, 2001, p. 34). A figura abaixo demonstra esse sistema. 45 Os objetivos da organização são agrupados nas perspectivas e conectados por setas, que demonstram as relações de causa e efeito, elaborando, assim, um mapa estratégico. “O mapa estratégico do Balanced Scorecard explicita a hipótese da estratégia. Cada indicador do Balanced Scorecard se converte em parte integrante de uma cadeia lógica de causa e efeito, que conecta os resultados almejados da estratégia com os vetores que induzirão a essas consequências.” (KAPLAN, NORTON, 2001, p. 81). Esse mapa facilita a comunicação da estratégia para toda empresa e o entendimento pelos funcionários de que os objetivos são interligados e impactam uns nos outros. Também permite, de forma fácil, a compreensão pelos colaboradores de como podem contribuir para execução da estratégia. Várias são as instituições públicas no mundo que utilizam o BSC, sendo a cidade de Charlotte (Estados Unidos) e o estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, cases de sucesso apresentados por Kaplan (2011). Outros exemplos no Brasil são: Embrapa (GALAS; FORTE, 2004), Inmetro (GODINHO, 2005), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (FRESNEDA, 2011) e Tribunal de Contas da União (2008). 46 12.3 Gerenciamento pelas diretrizes Outro modelo de implementação do Planejamento Estratégico também utilizado no setor público, em instituições como o Tribunal de Justiça de Minas Gerais e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG) (2011), é a metodologia Gerenciamento pelas Diretrizes (GPD), que Campos (2004, p. 32) define como Uma atividade voltada para solucionar os problemas relativos aos temas prioritários da organização [...]; é um sistema de gestão que conduz o estabelecimento e a execução do Plano Anual. As metas anuais da empresa são o ponto de partida concreto do Gerenciamento pelas diretrizes. Gerenciamento pelas diretrizes é uma tradução largamente utilizada para a expressão original Hoshin Kanri, que surgiu no Japão, por volta de 1960, como resultado da prática de empresas japonesas ganhadoras do prêmio Deming de qualidade (gerenciamento pela qualidade total ou Total Quality Management (TQM)). O método de gerenciamento do GPD é o ciclo PDCA (em inglês, PlanDo-Check-Act), que aborda o planejamento (estabelecimento das diretrizes e metas), execução dos planos de ação, monitoramento dos resultados alcançados e análise dos desvios entre estes e as metas propostas. Dessa forma, são determinadas as causas e medidas a serem tomadas. Segundo Campos (2002), o GDP só mostrará eficiência completa quando o gerenciamento da rotina do dia a dia estiver bem entendido e for amplamente praticado, uma vez que este é a base do trabalho das organizações. Dentro desse gerenciamento, é defendida a exibição em quadros Gestão à vista do monitoramento dos indicadores, de forma que os 47 resultados atingidos pelos departamentos são exibidos para toda a organização (CAMPOS, 2004). O gerenciamento pelas diretrizes e o gerenciamento da rotina são conduzidos simultaneamente e se relacionam através de padronização. Para Campos (2002), o Planejamento Estratégico consta de três níveis: Plano de Longo Prazo, que pode durar de cinco a dez anos, em que são traçadas as estratégias para atingir a visão de futuro; Plano de Médio Prazo – três anos –, em que são definidas as metas sobre as estratégias dos planos de longo prazo; e Plano Anual, que contém o detalhamento dos planos de longo e médio prazos para o período de um ano. Este último deve detalhar metas concretas, que serão atingidas através de planos de ação (5W1H). Campos (2002, p. 56) também discorre sobre o desdobramento de diretrizes: “Desdobrar uma diretriz significa dividi-la em várias outras diretrizes sob responsabilidade de outras pessoas. Cada diretriz estabelecida no desdobramento está intimamente ligada à diretriz original, num relacionamento meio-fim.”. O autor também descreve os dois métodos de desdobramento de diretrizes: no método A, para cada meta, são estabelecidas medidas prioritárias e destas são estabelecidas novas metas para os níveis hierárquicos inferiores; no método B, o desdobramento ocorre em todos os níveis, para depois serem estabelecidas medidas em cada nível. Constatou-se que o GPD também pode ser aplicado em conjunto com o BSC, de forma complementar, como exemplo do Tribunal de Contas da União (2008) e da Secretaria de Estado da Fazenda do Rio Grande do Sul (2011). O BSC é usado para formulação do plano de longo prazo e, complementarmente, o GPD atua no desdobramento de objetivos institucionais em individuais para todos os membros da organização no plano anual. Redi (2005, p. 63) estudou a combinação dos dois modelos e concluiu que “O 48 balanced scorecard é um sistema poderoso para a explicitação, discussão e alinhamento da estratégia, enquanto o gerenciamento pelas diretrizes viabiliza a implantação dos programas escolhidos como estratégicos por toda a organização.” 13- AS POLÍTICAS ECONÔMICAS PARA DESENVOLVIMENTO A políticas macroeconômicas que podem abrir caminho para o desenvolvimento do país são descritas a seguir: 1) Política monetária: deve administrar uma taxa de juros baixa, capaz de estimular o investimento produtivo e desestimular o investimento financeiro que pode ser gerador de desemprego; uma taxa de juros baixa que reduza o custo de carregamento de reservas por parte do Banco Central; e uma taxa de juros tal que não atraia capitais especulativos de curto prazo para o sistema financeiro doméstico. 2) Política cambial: deve administrar uma taxa de câmbio desvalorizada ou competitiva para a exportação de produtos manufaturados – taxas neste nível são geradoras de megasuperávits comerciais sustentáveis no tempo. Uma taxa de câmbio desvalorizada é também uma proteção contra ataques especulativos, pois uma taxa já desvalorizada tem menor chance de ser ainda mais desvalorizada. Uma política de administração cambial deve também objetivar regular o movimento de capitais financeiros especulativos que tem se mostrado maléfico para as economias não desenvolvidas – tal como evidenciado na experiência brasileira entre os anos 1995 e 2002. 49 3) Administração fiscal: deve ser capaz de estabelecer um sistema tributário progressivo e com uma carga compatível com as necessidades de financiamento do estado de bem-estar social. Ademais, deve controlar o nível de gastos públicos com o objetivo de manter o pleno emprego e elevar a qualidade de vida em sociedade. Deve ainda buscar o equilíbrio orçamentário como resultado do vigor econômico alcançado. Obter equilíbrio fiscal é fundamental para deixar o governo em condições confortáveis para realizar políticas de combate ao desemprego e melhorar a qualidade dos programas sociais. Por último, a administração fiscal deve ser remodelada para assumir a concepção de que gastos de investimento são gastos de atividades-fim – por exemplo, educação, saúde etc. –, e gastos correntes são aqueles que sustentam a realização das atividades finalísticas. 14- ORIGEM, ASCENSÃO, QUEDA E RESSURGIMENTOO planejamento estratégico teve altos e baixos ao longo da sua história (WILSON, 1990). O PE teve início na década de 1950, após a Segunda Guerra Mundial, como uma forma de lidar com o ambiente externo cada vez mais globalizado e competitivo e internamente com estruturas mais complexas – em função do aumento do número de departamentos e da variedade e escala dos produtos produzidos por uma mesma organização – e havendo maior competição interna por recursos (ANSOFF, 1990; WILSON, 1990). De acordo com Mintzberg (1994), uma das primeiras propostas de formalizar o processo de elaboração da estratégia em organizações modernas remonta de 1957 no livro Leadership in Administration de Philip Selznick. Ainda segundo o autor, o livro de Selznick sistematizou o planejamento da 50 organização em função da análise de fatores externos e internos, isto é, a formulação da estratégia por meio do diagnóstico dos pontos fortes e fracos inerentes ao ambiente interno e análise das oportunidades e ameaças oriundas do ambiente externo, modelo conhecido mundialmente como análise SWOT (MINTZBERG, 1994). Entretanto, foi com os estudos de Chandler (1962), Gilmore e Brandenburg (1962), Ansoff (1965) e outros autores que houve um aprofundamento nas observações de como a organização planeja e estrutura a sua estratégia, consolidando, assim, como um campo de estudo na área de administração (MINTZBERG, 1994). De acordo com Wilson (1990), a grande virada para a popularização do planejamento estratégico no meio corporativo foi o emprego da ferramenta pela General Eletric (GE) em 1970. Na GE, o planejamento estratégico era conduzido por uma unidade organizacional formal com staff destacado exclusivamente para essa ação, a Strategic Business Unit (SBU), que era uma estrutura descentralizada com autonomia para definir a estratégia da organização. 51 A adoção da GE atraiu a atenção de gestores de outras companhias para a ferramenta, estimulando ainda mais a sua disseminação no ambiente corporativo e pesquisas no meio acadêmico (WILSON, 1990). Isso consolidou de vez o planejamento estratégico como uma prática ortodoxa entre as grandes corporações atingindo o seu auge no final dos anos 70 (ANSOFF & MCDONNELL, 1993; WILSON, 1994; VINZANT & VINZANT, 1996a). Neste período, a sua elaboração consistia em uma análise ostensiva e manipulação de dados financeiros internos, bem como na realização de longos exercícios conduzidos por um staff próprio de PE, sem contudo, ter grande envolvimento da alta administração nesse processo. (WILSON, 1994) Na academia, muitos estudos empíricos foram conduzidos para relacionar a utilização do planejamento estratégico com o resultado organizacional (ver mais em WOLF & FLOYD, 2013). Entretanto, no início da década de 1980, a ferramenta começou a ser criticada pelos gestores por não apresentar resultados efetivos (WILSON, 1990; GLAISTER & FALSHAW, 1999). Assim, como não obteve sucesso em antecipar as variações de mercado ocasionadas pela crise financeira – decorrente da oscilação do preço do barril de petróleo – bem como ao falhar por não prover os mecanismos para mitigar os impactos em organizações oriundas de mudanças no ambiente externo (GLAISTER & FALSHAW, 1999), o planejamento estratégico foi gradativamente abandonado pelos gestores. Em uma síntese do momento, Porter (1987) concluiu que o planejamento estratégico na maioria das companhias, onde era aplicada, não 52 contribuiu para o desenvolvimento de um pensamento estratégico. Mas como aponta o próprio Porter (1987), a resposta não é abandonar completamente o planejamento, mas sim repensar e refazer as técnicas de planejamento. Wilson (1990), Mintzberg (1994) e outros autores listam as razões para o declínio e o posterior abandono do planejamento estratégico, os quais são mais amplamente abordados na seção Críticas ao planejamento estratégico deste estudo. No final dos anos 80 e início dos anos 90, houve uma reavaliação da ferramenta quanto ao seu conteúdo (dando maior ênfase para as ideias estratégicas) e readequação de processos (ajustes na metodologia para maior participação da alta gestão, planejamento de cenários, gestão pela qualidade total, entre outros), em função da contínua busca pela efetividade do planejamento. (WILSON, 1994; GLAISTER & FALSHAW, 1999). De acordo com Wilson (1990), a experiência com o planejamento estratégico adquirida com a utilização no setor privado gerou cinco lições aprendidas: o pensamento estratégico é um fator crítico para o sucesso; necessidade de liderança dos executivos e direção para a condução do planejamento estratégico; integração entre os sistemas de operação e de planejamento em um único sistema de gestão; o planejamento estratégico deve estar coerente com a cultura organizacional; e a formulação da estratégia deve ter uma visão abrangente da organização em relação ao mercado (saber dosar entre defesa dos interesses da organização na competição de mercado e a adequação da organização às mudanças no ambiente externo). Desta forma, o sistema de planejamento sofreu uma transformação se tornando mais sofisticado em função de: evidente mudança da responsabilidade de planejamento do staff para a alta gestão; descentralização do planejamento estratégico para as unidades corporativas; maior atenção 53 para as mudanças externas no mercado, na competitividade e nos avanços da tecnologia; maior ênfase na cultura organizacional como elemento crítico para o sucesso da implementação da estratégia. Na década de 80, o planejamento estratégico começou a ganhar adeptos no setor público (EADIE, 1983; GIACOBBO, 1997). Porém, foi a partir da década de 1990 em um contexto de crise econômica e reforma de estado, que as organizações públicas espelharam-se nas experiências do setor privado e em uma iniciativa do movimento do New Public Management6 (HEYER, 2010), o qual postulava a adoção de práticas e ferramentas de gestão das organizações privadas para a melhora da eficácia e eficiência da administração publica. Assim, as organizações públicas começaram a implementar ferramentas de gestão para elaborar a sua estratégia organizacional (BRYSON, 2004). Como o PE é uma ferramenta que auxilia as organizações a lidarem com as mudanças de ambiente; aumenta a capacidade de pensar estrategicamente; possibilita a clarificação e priorização de objetivos; racionaliza a distribuição de recursos e coordena o estabelecimento de objetivos estratégicos, de ações e de recursos, por possibilitar a realização de todas essas ações, ele começou a ser mais amplamente utilizado no setor público (STREIB, 1992; BERRY et al., 1995; JOYCE, 1999; BRYSON, 2004). A partir da experiência em diversas organizações públicas, Bryson (2004) identificou que há especificidades nas organizações públicas que a diferenciam das organizações privadas e, por isso, o processo de planejamento estratégico também deveria ter um modelo próprio mais adequado. Esta análise resultou no livro Stategic Planning for Public and Nonprofit Organizations, com a primeira edição lançada em 1988, contendo 10 54 passos para a implementação do planejamento estratégico, os quais foram mais profundamente abordados na seção Etapas do planejamento estratégico. A popularidade dessa ferramenta continuou em alta. Em 1996, 89% dos entrevistados de uma pesquisa sobre a popularidade das ferramentas de gestão realizada pela Bain & Company com 784 executivos de diversos setores econômicos dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia responderam que empregavam o planejamento estratégico em suas organizações (HSM MANAGEMENT, 1998). A década seguinte até os dias atuais deu continuidade ao processo de (re) expansão da ferramenta de gestão, sempre entre as ferramentas mais utilizadas pelos executivos (RIGBY & BILODEAU, 2013).
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