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Biotecnologia e indústria Apresentação A biotecnologia tem revolucionado o dia a dia das pessoas com a disponibilização de produtos tecnológicos dos mais variados. Esses produtos são gerados por empresas que investem em biotecnologia e, desse modo, transformaram o mundo dos negócios. Além disso, grande parte da indústria está alinhada com a famosa "economia verde", que se caracteriza por produzir mais com menos, fazendo o melhor uso dos recursos naturais e minimizando os impactos ambientais. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer os principais benefícios da biotecnologia para o setor industrial, as aplicações da biotecnologia nos diferentes tipos de indústria e vai entender por que as empresas estão tão preocupadas com o chamado "desenvolvimento sustentável". Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os benefícios da biotecnologia industrial.• Reconhecer as aplicações da biotecnologia em diferentes tipos de indústria.• Relacionar a biotecnologia industrial com o crescimento sustentável.• Infográfico A biotecnologia tem gerado inúmeros benefícios para as indústrias, permitindo que estas empresas gerem produtos de maior qualidade, sem agredir tanto o meio ambiente. No Infográfico a seguir, veja um panorama dos principais benefícios que a biotecnologia proporciona ao setor industrial. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/247c08bb-9b27-497a-bb26-710b112a41bd/a11dc586-49f4-4f51-b5b4-9ce13b4c1116.jpg Conteúdo do livro A biotecnologia tem inúmeros benefícios para o setor industrial, pois permite produzir grande parte dos produtos que estão presentes no dia a dia da maioria das pessoas. Na obra Biotecnologia, leia o capítulo Biotecnologia e indústria, base teórica para esta Unidade de Aprendizagem, e saiba mais sobre a aplicação da biotecnologia na indústria. Além disso, saiba mais sobre sustentabilidade e como as empresas estão fazendo para gerir seus negócios de forma a preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, gerar lucro. Boa leitura. BIOTECNOLOGIA Isabele Cristiana Iser Marson Biotecnologia e indústria Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os benefícios da biotecnologia industrial. Reconhecer as aplicações da biotecnologia em diferentes tipos de indústria. Relacionar a biotecnologia industrial com o crescimento sustentável. Introdução A biotecnologia tem contribuído enormemente para o setor da indústria, permitindo que as empresas invistam em tecnologia e gerem novos produtos, agradando consumidores ao redor do mundo. Além disso, a biotecnologia permite que as empresas se alinhem a um novo modo de pensar que está em voga atualmente: proteger a natureza e nossos recursos naturais. Desse modo, as empresas estão investindo muito em desenvolvimento tecnológico aliado à sustentabilidade. Neste capítulo, você vai aprender quais são os principais benefícios trazidos pela biotecnologia ao setor industrial, vai entender como a bio- tecnologia pode ser aplicada nas indústrias, gerando os mais variados produtos, e vai saber mais sobre desenvolvimento sustentável aplicado na indústria. Os benefícios da biotecnologia para o setor industrial Para que um país permaneça competitivo no mercado econômico global, é imprescindível direcionar o seu desenvolvimento para o processo de inovação tecnológica. Os novos conhecimentos gerados a partir da biotecnologia industrial têm tornado as empresas mais produtivas, sustentáveis e proporcionado maior geração de emprego, renda, riqueza e bem-estar social para toda a população. A biotecnologia industrial compreende a aplicação da biotecnologia para o processamento sustentável e para a produção de diversos produtos no setor industrial. O processamento biotecnológico utiliza enzimas e microrganismos para aprimorar os processos industriais e gerar materiais e produtos de alto valor agregado a uma ampla gama de setores industriais, incluindo produtos químicos, farmacêuticos, agrícolas, de nutrição humana e animal, pasta e papel, têxteis, energia, materiais e polímeros, utilizando matérias-primas renováveis. O uso dessas biotecnologias em substituição aos processos existentes tem um potencial gigante para ajudar a resolver muitos problemas da sociedade, como a baixa produtividade na agricultura, degradação ambiental, dependência de combustíveis fósseis, problemas no setor da saúde, entre outros (P-BIO, 2018). A indústria da biotecnologia vem crescendo rapidamente nos últimos anos em todo o mundo. Para se ter uma ideia desse crescimento, a receita global de bens produzidos pela indústria de biotecnologia gira em torno de 50 bilhões de euros ao ano e a estimativa é de que, até 2030, o mercado global da indústria biotecnológica atinja 300 bilhões de euros (OECD, 2011). O Brasil tem um ambiente favorável à expansão do uso da biotecnologia na indústria, com condições privilegiadas para geração de matéria-prima: clima adequado, maior biodiversidade do planeta, agricultura forte e disponibilidade de terras. Em 2004, o mercado biotecnológico brasileiro atingiu 2,8% do PIB nacional, com investimentos, principalmente, na área de produção de biocombustíveis (BIOBLOG, 2017). No setor de agronegócios, graças ao avanço das pesquisas e ao aumento do investimento das empresas em biotecnologia, entre os anos de 1997 e 2013, foi observado um benefício de US$ 25 bilhões aos projetos ligados ao setor agrícola no país. As projeções futuras são ainda mais animadoras: espera-se que a biotecnologia gere ganhos para o país de aproximadamente R$ 91 bilhões até 2023 (ISTOÉ, 2015). No link a seguir, confira um relatório desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês), que traça o papel que a biotecnologia terá na economia global até 2030 e as políticas públicas que devem ser desenvolvidas para maximizar seus benefícios. https://goo.gl/YJaJPy Biotecnologia e indústria2 Entre os principais benefícios da biotecnologia na indústria, pode-se destacar: Aumenta a competitividade e a produtividade, elevando a eficiência e diminuindo o uso de matérias-primas fósseis, recursos naturais e processos de fabricação que prejudiquem o meio ambiente. Produz de alimentos de maior durabilidade, diminuindo o desperdício de comida. Pode chegar a evitar a emissão de até 2,5 bilhões de toneladas de CO2 por ano. Fornece ferramentas para a produção de novas fontes de energia renová- vel, como o biodiesel e o bioetanol, reduzindo a dependência do petróleo. Você sabe o que é energia renovável e não renovável? Energia renovável é aquela que vem de recursos naturais que são naturalmente reabastecidos, como sol (energia solar), vento (energia eólica), chuva (energia hídrica), mares, biomassa, etanol, biodiesel e energia geotérmica. É importante notar que nem todo recurso natural é renovável: por exemplo, urânio, carvão e petróleo são retirados da natureza, mas existem em quantidade limitada, sendo, por isso, considerados energia não renovável. Esse limite depende dos recursos existentes no nosso planeta, como é o exemplo dos combustíveis fósseis. Contribui para um futuro com segurança alimentar, reduzindo a quan- tidade de terras necessárias para o plantio, o uso de pesticidas e o consumo de água. Permite o surgimento de biorrefinarias e a produção de bioprodutos que possam substituir os petroquímicos, aumentando o valor agregado e a produção industrial sustentável. Substitui os produtos químicos tradicionais na produção de alimentos e bebidas, causando menos impacto sobre os sabores e cores dos ali- mentos, resultando em redução de resíduos e produtos mais saudáveis. Estimula a transição do país de uma economia pavimentada em proces- sos tradicionais para a bioeconomia,que, segundo a OECD, movimenta, no mercado mundial, cerca de 2 trilhões de euros e gera cerca de 22 milhões de empregos. Permite avanços significativos para a saúde humana e animal, tanto em termos de diagnóstico quanto de tratamento de doenças (ASSO- CIAÇÃO..., 2018; FIESP, 2018). 3Biotecnologia e indústria Aplicações da biotecnologia nos diferentes tipos de indústria Historicamente, as empresas de biotecnologia surgiram da associação entre pesquisadores acadêmicos, cientistas e gestores que aproveitaram as novas oportunidades tecnológicas para criar empresas para a comercialização dos seus resultados de pesquisa. Um exemplo disso são os pesquisadores das Universidades da Califórnia e de Stanford, nos Estados Unidos, que tiveram um importante papel no desenvolvimento da indústria no Vale do Silício, o mais famoso polo tecnológico do mundo. Desse modo, a colaboração entre universidades e indústrias, aliada ao empreendedorismo acadêmico e à política de patenteamento, encorajou o desenvolvimento comercial e industrial da biotecnologia (QUEIROZ, 2011). Segundo pesquisa da Fundação Biominas, em 2009, o setor de biotec- nologia no Brasil contava com, aproximadamente, 110 empresas atuando, principalmente, nas áreas de agricultura, bioenergia, insumos, saúde humana, saúde animal e meio ambiente. Entre os principais serviços e produtos, estão desenvolvimento e comercialização de kits de diagnóstico, vacinas, proteí- nas recombinantes, anticorpos, próteses, identificação de novas moléculas e fármacos, biossensores, desenvolvimento de sementes e plantas transgênicas, novos métodos para controle de pragas, produção de fertilizantes e inoculan- tes a partir de microorganismos, melhoramento genético, desenvolvimento de tecnologias para a produção de etanol e biodiesel, kits para extração de DNA, meios de cultura, biopolímeros, desenvolvimento e oferta de produtos e serviços para biorremediação, tratamento biológico de resíduos e recuperação de áreas degradadas (FUNDAÇÃO..., 2009). A biotecnologia permite a produção dos mais variados produtos e o setor produtivo está de olho nisso há alguns anos. A manipulação genética de organismos não ocorre somente na agricultura, com o uso de sementes trans- gênicas, mas em outras atividades, como a produção de biocombustíveis e até na fabricação de produtos aparentemente triviais, como o sabão em pó. Nesse último caso, bactérias geneticamente modificadas são usadas para produzir enzimas que removem manchas de gordura, com o objetivo de substituir os produtos sintéticos e minimizar o consumo de água e energia. O primeiro detergente contendo enzimas foi desenvolvido em 1913, na Alemanha, e era produzido a partir da enzima tripsina, retirada do pâncreas do porco. Em 1963, a empresa multinacional dinamarquesa Novozymes começou Biotecnologia e indústria4 a produzir diversas enzimas comercialmente — entre elas, um detergente enzimático à base de enzima lipase produzida por microorganismos geneti- camente modificados. Outras enzimas também são produzidas por essa empresa a fim de eli- minar gordura trans de óleos, para biocatálise, para a reidratação de couros secos (usado na indústria têxtil) e para melhorar o sabor do leite (indústria alimentícia) (ASSOCIAÇÃO..., 2018; NOVOZYMES, 2018). A DuPont, uma empresa de renome mundial no mercado de polímeros e biomateriais, possui uma linha de biomateriais, conhecida como “Sorona”, que tem revolucionado a indústria têxtil. Isso porque esse material é um polímero de base biológica altamente sustentável, usado para a fabricação de fibras de poliéster com desempenho superior ao das já existentes no mercado (LINGLE, 2017). A biotecnologia também está presente na área da saúde, atuando em di- versos segmentos. Um deles é a produção de biomarcadores para terapia e diagnóstico de doenças, como o câncer. Esses biomarcadores são extremamente úteis, pois podem ajudar a prever o curso da doença e auxiliar na escolha do melhor tratamento para cada paciente. A empresa belga Janssen, pertencente ao grupo Johnson & Johnson, tem-se empenhado em produzir esses biomar- cadores. Entre eles, estão biomarcadores associados à dependência de vias de sinalização para formação tumoral e biomarcadores relacionados com sensibilidade e resistência a tratamento, que ajudam a selecionar os pacientes mais responsivos a um determinado tratamento (JANSSEN, 2018). O setor de biofármacos também está em franca expansão — no Brasil, por exemplo, existem diversas empresas fabricantes. Entre elas, está a Libbs Farmacêutica, com sede na cidade de São Paulo e especializada na produção de medicamentos biológicos e biossimilares destinados ao tratamento de câncer, artrite reumatoide e outras doenças autoimunes. Entre os principais medicamentos biotecnológicos produzidos pela empresa, estão os anticorpos monoclonais (VASCONCELOS, 2016). É interessante notar que o mercado de biofármacos é um dos mais atraen- tes economicamente e está em constante expansão, recebendo investimento crescente de grandes multinacionais farmacêuticas, sendo que algumas delas já possuem mais da metade de seus faturamentos em biofármacos (Figura 1). As previsões futuras para o setor são animadoras. Acredita-se que, até o ano de 2030, 80% dos produtos farmacêuticos passarão a ser desenvolvidos com o uso de biotecnologia (OECD, 2009). 5Biotecnologia e indústria Figura 1. Porcentagem de faturamento em biofármacos (entre os anos de 2000-2012) das principais indústrias farmacêuticas do mundo. Fonte: Otto, Santagostino e Schrader (2014). Outras empresas farmacêuticas nacionais também têm investido na produ- ção de biofármacos, como é o caso do Instituto de Tecnologia em Imunobioló- gicos (Bio-Manguinhos), que investiu R$ 500 milhões no Centro Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos para Diagnósticos (CIPBR). O Centro irá produzir insumos como os biofármacos alfaepoetina humana recombinante (indicada contra anemia grave e outras doenças) e o antiviral alfainterferona 2b humana recombinante, além de reativos para diagnóstico laboratorial de diferentes doenças. Além disso, a empresa está realizando um projeto para identificar malária em bolsas de sangue de doadores e outro para produzir biofármacos a partir de uma tecnologia que usa células de cenoura como plataforma vegetal (INSTITUTO..., 2014; G1, 2018). A biotecnologia também é aliada de outras empresas que têm ganhado o reconhecimento do mercado. Com o apoio da fundação Bill & Melinda Gates, a empresa de biotecnologia Amyris desenvolveu uma levedura alterada geneti- camente, capaz de criar um precursor da artemisinina, o medicamento utilizado no tratamento da malária, doença que mata mais de meio milhão de pessoas Biotecnologia e indústria6 todos os anos. Em 2013, a empresa farmacêutica Sanofi iniciou a produção da artemisinina utilizando essa tecnologia, que substitui a produção tradicional dependente da planta artemísia (Artemisia annua), cuja colheita e extração está sujeita a sazonalidade e flutuações do preço de mercado (PESQUISA..., 2013). A Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, também possui vá- rios projetos interessantes utilizando biotecnologia. Um deles utiliza uma linhagem de levedura modificada geneticamente para expressar um gene para conversão de xilose a ácido xilônico. O ácido xilônico pode ser aplicado diretamente como dispersante em cimento, antibiótico, aditivo para melhorar a absorção de vitamina C, branqueamento de têxteis, biopesticida, entre outros. Outro projeto visa utilizar bactéria da biodiversidade brasileira para produzir lipases que podem ser aplicadas em diferentes indústrias, como na de alimentos, para modificação de gorduras, na fabricação de detergentes, nas indústrias farmacêutica, de cosméticos e têxtil e na síntese de biodiesel. Além desses, há projetos de produção de biofábricas, a partir de cianobactérias transgênicas, capazes de expressar enzimas beta-glicosidases utilizadas nosprocessos de fabricação de etanol celulósico, papel, alimentos e tecidos. Essas biofábricas ajudarão a reduzir os custos de produção dessas enzimas, bem como reduzir as emissões de carbono (EMBRAPA, 2018). O etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar, foi a alternativa econômica encontrada como combustível em meio à crise do petróleo mundial, sendo o exemplo de maior ê xito dentre os biocombustí veis. Hoje, mais de 90% dos carros fabricados no país utilizam etanol de maneira pura ou misturada à gasolina. Contudo, o aumento da demanda por esse combustí vel fez com que se procurasse aperfeiçoar e aumentar as possibilidades de produção do etanol a partir da biotecnologia, de modo que, assim, surgiu o etanol celuló sico. Uma das principais matérias-primas usadas para a produção do etanol celulósico é a biomassa, composta por lenha, bagaço de cana-de-açúcar, resíduos flores- tais, resíduos agrícolas, palha de milho, casca de arroz, entre outras matérias orgânicas que eram, até então, descartadas pelos agricultores (ALMEIDA, 2018; LIMA, 2009). A GranBio, empresa brasileira de biotecnologia, focada em biocombustível de segunda geração, construiu a primeira fábrica de etanol celulósico em escala comercial do Hemisfério Sul. A produção ocorre por meio de processos de hidrólise enzimática e fermentação, com a utilização de leveduras geneticamente modificadas, que permitem a transformação de palha e bagaço de cana-de-açúcar no etanol celulósico (GRANBIO, 2018). Outro setor industrial que cresce exponencialmente e gera um enorme lucro para as empresas envolvidas é o mercado dos transgênicos. Esse setor é domi- nado por multinacionais, como Monsanto, Syngenta, Dupont, Basf, Bayer e Dow. Apesar do domínio das multinacionais, a Embrapa tem direcionado muitos 7Biotecnologia e indústria esforços nas pesquisas com transgênicos, tornando-se referência mundial em pesquisas e tecnologias para a agricultura. Em relação ao desenvolvimento de plantas transgênicas, a Embrapa trabalha para gerar plantas resistentes a doenças e pragas da agricultura e também variedades tolerantes a estresses climáticos, como a seca, por exemplo (THUSWOHL, 2013; EMBRAPA, 2018). Biotecnologia industrial e o crescimento sustentável A sustentabilidade é um dos temas mais abordados na atualidade. A questão é tão importante que diferentes setores industriais estudam a melhor forma de combinar desenvolvimento com preservação de recursos naturais. Isso signifi ca que a biotecnologia pode proporcionar desenvolvimento tecnológico aliado à sustentabilidade, permitindo ao ser humano interagir com o mundo sem prejudicar o meio ambiente, de modo a preservar os recursos naturais das gerações futuras (NAVARRO, 2012). O tema sustentabilidade é tão importante que, no ano 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs o Pacto Global, a fim de encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade social, coorporativa e de sustentabilidade. O Pacto é uma iniciativa voluntária das empresas e visa a fornecer diretrizes para a promoção do crescimento sustentável, mobilizando a comunidade empresarial do mundo todo para a adoção de valores internacionalmente aceitos em suas práticas de negócios. Atualmente, são quase 13 mil empresas engajadas com o Pacto em mais de 160 países. Fazem parte pequenas, médias e grandes empresas, além de organizações da sociedade relacionadas ao setor privado. No Brasil, empresas como Natura, Eurofarma, o Boticário, Pão de Açúcar, Petrobrás e Banco do Brasil já fazem parte da iniciativa (PACTO GLOBAL, 2018). Minimizar os impactos ambientais também causa muitos benefícios para a indústria, pois a sustentabilidade gera reflexos na parte financeira da empresa e ajuda a construir uma imagem positiva no mercado. Os biocombustíveis, como o etanol, têm sido uma alternativa sustentável para diminuir a poluição nas cidades e reduzir a dependência do Brasil na importação de combustíveis fósseis, como o petróleo. Tudo isso porque os biocombustíveis possuem origem em matérias-primas biológicas renováveis, sendo possível produzir uma gama de opções: etanol, biodiesel, biogás, óleo vegetal, etc. (CARVALHO; BORTOLINI; BARCELLOS, 2014). A biomassa da cana-de-açúcar, além de ser utilizada para produzir com- bustíveis, pode gerar energia (bioeletricidade) elétrica. Para se ter uma ideia, Biotecnologia e indústria8 o Brasil produziu cerca de 177 milhões de toneladas de bagaço de cana e 101 milhões de toneladas de palha em 2015 — imagine quanta energia poderia ter sido gerada. O nosso país possui muito potencial para a produção de todas as fontes de energias renováveis, o que faltam são políticas para incentivar o setor (BIOMASSA, 2016). Uma boa notícia é que, em 2016, a biomassa foi a segunda fonte de geração de energia elétrica no Brasil, com o registro de participação de 8,8%, superando os 8,1% de participação do gás natural. Entretanto, o setor de energias renováveis ainda precisa desenvolver-se bastante (BRASIL, 2017). Uma das empresas que mais investe em biotecnologia e que está no ranking das 100 empresas mais sustentáveis do mundo é a empresa de cosméticos L’Oréal, que tem investido em ativos derivados de plantas e até criou uma unidade de biotecnologia na França baseada em cultura de células vegetais. A partir da cultura de células-tronco de uma espécie de rosa, os pesquisadores da L’Oréal conseguiram obter um extrato que age sobre a regeneração da pele. A empresa também desenvolveu um ingrediente ativo, a Stemoxidina, que imita o ambiente ideal das células-tronco nos folículos capilares e tem sido usado para o tratamento da calvície. Além disso, os cientistas conseguiram isolar um probiótico, o Lactobacillius paracasei ST11, que é capaz de reduzir significa- tivamente a caspa e os sintomas relacionados a ela (L'ORÉAL BRASIL, 2018; BARBOSA, 2016). Com todo o investimento em biotecnologia, a empresa foi capaz de reduzir em 67% as emissões de CO2 desde 2005 e também é conhe- cida por fazer uma gestão sustentável da água. Além disso, alguns dos novos produtos lançados em 2016, como shampoos e condicionadores, demonstraram níveis de biodegradabilidade superiores a 98% (L'ORÉAL BRASIL, 2017). A partir dessas iniciativas inovadoras, aliadas a práticas sustentáveis, marcas como a L’Oréal, acabam sendo pioneiras no seu segmento e conquistando uma ampla fatia do mercado. Isso também é impulsionado pelas novas tendências e pela visão estratégica, que incluem o desenvolvimento sustentável como diferencial e conquistam cada vez mais a preferência do consumidor. A empresa dinamarquesa Novozymes é outro exemplo de sustentabilidade. A partir de seus produtos biotecnológicos e práticas sustentáveis, a empresa ajudou a economizar, em 2016, cerca de 60 milhões de toneladas em emissões de gás carbônico e dióxido de carbono, contribuindo para a redução da produção de resíduos e a emissão de gases de efeito estufa. A economia alcançada equivale à retirada de cerca de 30 milhões de carros das estradas (BIOBLOG, 2017). 9Biotecnologia e indústria Em termos de sustentabilidade, a produção de plásticos de fontes renováveis é a próxima fronteira a ser explorada. Como o plástico é um material indispen- sável na vida moderna, tornar sua distribuição mais sustentável pode ter um impacto positivo muito importante para o meio ambiente. O consumo anual de plástico no mundo inteiro cresceu 20 vezes desde os anos 1950, totalizando 150 milhões de toneladas. Estima-se que a produção de 1 kg do plástico mais comum exija o equivalente a 2 kg de matéria-prima fóssil (petróleo) e de energia e libere aproximadamente 6 kg de dióxido de carbono. Os plásticos verdes ou não poluentes poderiam aliviar em grande medida esses impactos negativos. O plástico verde, também conhecido como bioplástico, é feito 100% de matéria-prima renovável (como o álcool de origem vegetal), tem as mesmas especificações dos plásticos petroquímicos e é 100% reciclável. Além disso, a produçãode plásticos verdes absorve CO2 durante a fotossíntese da cana- -de-açúcar. A cada 1 kg de plástico verde produzido, entre 2,1 kg e 2,5 kg de CO2 são eliminados da atmosfera. O Brasil não é o único país que fabrica o bioplástico. Nos EUA, essa tecnologia já existe há mais de uma década, sendo o milho a matéria-prima mais comumente utilizada. A empresa NatureWorks tem uma usina capaz de produzir 140.000 toneladas de plástico biodegradável de amido de milho em Nebraska, nos Estados Unidos. Outras empresas, como a Dupont e a Metabolix, também produzem plásticos de amido de milho. Há, também, diversos projetos em andamento na Europa (MORALES et al., 2010). No Brasil, também tem sido desenvolvido o amido termoplástico, que é produzido a partir do amido e tem atraído a atenção de empresas. Algumas empresas estrangeiras, como a Novamont, já estão produzindo e comercia- lizando filmes e peletes de blendas de amido termoplástico. As vantagens do amido termoplástico incluem o fato de ele ser renovável, possuir custo relativamente baixo e a possibilidade de ser convertido química, física e biologicamente em compostos úteis à indústria. Outro plástico revolucionário para reduzir a poluição no meio ambiente e que é produzido aqui no Brasil é o plástico fotodegradável, que se deteriora com a luz solar. Esse produto foi patenteado por cientistas do Instituto de Química da UNICAMP e é uma mistura de polietileno com um polímero orgânico que se decompõe pelo menos duas vezes mais rápido que o plástico comum, que se desfaz em 20 a 30 anos (DA ROZ; GIESSE, 2003). Biotecnologia e indústria10 ALMEIDA, R. R. Biocombustíveis no Brasil. 2018. Disponível em: <https://brasilescola.uol. com.br/geografia/biocombustiveis-no-brasil.htm>. Acesso em: 29 out. 2018. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL. Biotecnologia industrial. 2018. Disponível em: <http://www.abbi.org.br/pt/biotecnologia-industrial/>. Acesso em: 29 out. 2018. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUÍMICA. Enzimas que limpam a roupa. 2018. Disponível em: <https://abqrs.com.br/enzimas-que-limpam-roupa/>. Acesso em: 29 out. 2018. BARBOSA, V. 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Conhecer o perfil de atuação dessas empresas é fundamental para o seu trabalho. Na Dica do Professor, você vai conhecer um pouco mais sobre o perfil das empresas de biotecnologia brasileiras. Vai saber em quais estados elas são concentradas e quais as suas principais áreas de atuação. Assista. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/cfd15dd430b5969a97b83805f125eee8 Na prática Muitas empresas que estavam acostumadas com o antigo modelo de gestão, no qual não havia muita preocupação com o meio ambiente, estão tendo que se adaptar à nova realidade. O modelo sustentável de gestão tem ganhado espaço no meio empresarial e tem se mostrado um aliado para o bom desempenho e geração de lucros para a indústria. Veja a situação de Carlos, funcionário de uma empresa de cosméticos que é um modelo de sucesso e que investe em biotecnologia e sustentabilidade. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Teias de laboratório Saiba como cientistas brasileiros criaram teias de aranha sintéticas, por meio do uso de bactérias transgênicas, para serem utilizadas em um ampla variedade de produtos, como suturas cirúrgicas e até em para-choques de automóveis. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Bioeconomia: uma tendência global? Saiba como a biotecnologia tem sido explorada pelas empresas ao redor do mundo, a fim de se tornarem mais sustentáveis, e qual o futuro da economia baseada nesse modelo de gestão. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Novo biossensor atrai atenção de empresas e pesquisadores Saiba mais sobre o biossensor criado por pesquisadores brasileiros, capaz de detectar a presença de pesticidas na água, no solo e em alimentos contaminados. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.embrapa.br/documents/1355163/2088198/0214_00_revistaCiencia_teiasdeLaboratorio.pdf/8231c478-aae0-44a5-bfd9-d7bcae2e0e9f https://g1.globo.com/natureza/noticia/bioeconomia-uma-tendencia-global.ghtml http://muralvirtual-educaoambiental.blogspot.com/2013/07/novo-biossensor-atrai-atencao-de.html
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