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Sociedade_e_contemporaneidade_pdf

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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-7638-731-2
Sociedade e
Contemporaneidade
Paulo g. m. de moura
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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-3090-3
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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mais informações www.iesde.com.br
Paulo G. M. de Moura
Sociedade e Contemporaneidade
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
__________________________________________________________________________________
M889s
 
Moura, Paulo G. M. de 
 Sociedade e contemporaneidade / Paulo G. M. de Moura. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR : 
IESDE Brasil, 2012. 
 112p. : 28 cm
 
 Inclui bibliograia
 ISBN 978-85-387-3090-3
 
 1. Sociologia 2. Movimentos sociais. I. Título. 
12-6745. CDD: 306
 CDU: 316.7
17.09.12 02.10.12 039215 
__________________________________________________________________________________
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
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Sumário
As sociedades como sistemas | 7
As partes e o todo | 7
Interfaces e mútua dependência entre as partes | 9
As partes e suas funções | 10
Estabilidade e ruptura do sistema | 10
Aplicação do modelo ao objeto de estudo | 11
Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade | 13
Para entender como a sociedade muda | 13
A Pré-história | 16
A sociedade agrícola | 16
A sociedade industrial | 17
A sociedade pós-industrial | 17
A sociedade agrícola | 21
A civilização grega | 22
A civilização romana | 23
O cristianismo | 24
A ordem feudal | 25
O im da era agrícola | 25
A sociedade industrial | 29
A lógica do sistema de produção | 29
A lógica do sistema social | 30
A lógica do sistema político | 31
Capitalismo e socialismo: dois modelos e um sistema | 33
Crise e ruptura do sistema | 34
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A história da globalização | 37
O que é globalização? | 37
Antecedentes da globalização | 39
Formação do mercado mundial | 39
O impacto da Revolução Industrial sobre a economia mundial | 42
O surgimento do capital inanceiro | 43
A ordem internacional pós-Segunda Guerra | 47
Antecedentes da ordem internacional pós-Guerra | 47
Consolidação de um sistema político-econômico mundial | 48
A falência do socialismo e a ruptura do sistema | 51
Revolução Tecnológica e novo ciclo de expansão do capitalismo | 53
A sociedade pós-industrial | 55
A natureza da mudança | 55
Sentido e rumo das mudanças | 57
Conhecimento e velocidade | 59
Riqueza intangível e economia simbólica | 61
Trabalhar e empreender na nova economia | 62
Identidades em transformação | 67
O mundo virtual mudando nossa vida real | 67
Espelho, espelho meu: onde estou, quem sou eu? | 68
De onde viemos? Onde estamos? | 69
Para onde vamos? | 71
Signiicados e representações no mercado de símbolos | 75
Representações e identidades | 75
Participação imaginária | 78
O poder de ininitas caras: realidade ou imaginação? | 78
O poder na sociedade pós-industrial | 81
Os sistemas de poder ao longo da história | 82
O poder na sociedade industrial | 84
Crise e transformação do sistema de poder da sociedade industrial | 85
As causas de crise | 87
A democracia do futuro | 89
A sociedade brasileira como sistema | 91
O Estado-nação como um sistema | 91
A formação da nação | 93
O subsistema dominante | 94
A crise do sistema e o imperativo da mudança | 98
O voo da galinha: o jeito brasileiro de mudar sem mudar | 98
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As chances da democracia no Brasil | 101
Um conceito de democracia | 101
A democracia no contexto atual | 103
A teoria da democracia aplicada ao caso brasileiro | 106
A realidade põe a teoria em xeque | 107
Referências | 109
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As sociedades 
como sistemas
Paulo G. M. de Moura
As Ciências Sociais surgiram muito recentemente, a partir de um longo processo de especializa-
ção do trabalho, que marcou a evolução do sistema de produção de riquezas e a forma de organização 
segmentada do conhecimento humano. As revoluções Francesa e Industrial cooperaram para o surgi-
mento dessas ciências e o pensamento positivista do século XIX possibilitou sua solidiicação. 
Por ser uma nova área do conhecimento cientíico, suas teorias e metodologias foram formuladas 
depois das outras ciências e se fundamentaram em modelos e representações igurativas, tomadas de 
empréstimos dos sistemas teórico-metodológicos das ciências que as precederam, para construir seus 
próprios conceitos, categorias, metodologias e teorias. A construção de analogias com sistemas mecâ-
nicos ou com os corpos de organismos vivos, tomadas emprestadas das ciências exatas ou biológicas, 
tornou-se recorrente nas Ciências Sociais.
Nesta aula, recorreremos à analogia do corpo de organismos vivos, entendidos como sistemas, 
para compreender a estrutura e o funcionamento dos sistemas sociais que a civilização humana, em ge-
ral, e cada Estado-nação, de modo particular, desenvolveram ao longo da história.
As partes e o todo
Para melhor entender os signiicados implícitos à ideia de sistema, recorremos ao dicionário 
Aurélio e destacamos algumas de suas deinições. Essas deinições poderão ser úteis para a compreen-
são da aplicação que faremos a seguir:
* Doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestre em Ciência Política pela Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduado em Ciências Sociais pela UFRGS.
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8 As sociedades como sistemas
Sistema:
[Do gr. sýstema, ‘reunião’, ‘grupo’, pelo lat. tard. systema.]
S. m.
1. Conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou deinir alguma relação (5).
2. Disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura orga-
nizada: 2 2
3. Reunião de elementos naturais da mesma espécie, que constituem um conjunto intimamente relacionado: 2 2
4. Conjunto de instituições políticas ou sociais, e dos métodos por elas adotados, encarados quer do ponto de vista te-
órico, quer do de sua aplicação prática:
5. O conjunto das entidades relacionadas com determinado setor de atividade: 2
6. Reunião coordenada e lógica de princípios ou ideias relacionadas de modo que abranjam um campo do conheci-
mento: 2 2
7. Conjunto ordenado de meios de ação ou de ideias, tendente a um resultado; plano, método: 2 2 2
8. Técnica ou método empregado para um im precípuo: 2 2 
9. Modo, maneira, forma, jeito: 2
10. Complexo de regras ou normas: 2 2
11. Qualquer método ou plano especialmente destinado a marcar, medir ou classiicar alguma coisa: 2 2
12. Hábito particular; costume, uso: 2
13. Anat. Conjunto de órgãos compostos dos mesmos tecidos e que desempenham funções similares: 2 [Cf., nesta 
acepção, aparelho (6).]
14. Biol. Coordenaçãohierarquizada dos seres vivos em um esquema lógico e metódico, segundo o princípio de subor-
dinação dos caracteres. [É um produto da inteligência humana derivado da necessidade de compreender a natureza o 
mais próximo possível da realidade.]
15. Comun. Conjunto particular de instrumentos e convenções adotados com o im de dar uma informação: 2 2 2
16. E. Ling. Conjunto de elementos linguísticos solidários entre si: 2 2
17. E. Ling. A própria língua quando encarada sob o aspecto estrutural. [As duas últimas acepç. vêm sendo adotadas a 
partir de Ferdinand de Saussure (v. saussuriano).]
18. Filos. Totalidade (2).
19. Fís. Parte limitada do Universo, sujeita à observação imediata ou mediata, e que, em geral, pode caracterizar-se por 
um conjunto inito de variáveis associadas a grandezas físicas que a identiicam univocamente.
20. Geol. Conjunto de terrenos que corresponde a um período geológico.
21. Inform. Conjunto de programas destinados a realizar funções especíicas.
22. Mús. Qualquer série determinada de sons consecutivos.
Observando atentamente essas deinições, encontramos categorias aplicáveis à análise e ao estu-
do de qualquer sistema, tais como: 
relação entre as partes de um todo e do todo com as partes; ::
espécies diferentes de sistemas; ::
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As sociedades como sistemas 9
aplicação do conceito de sistema a diferentes dimensões da realidade (teoria, anatomia, iolo-::
gia, método de combinação de informações, estrutura, organização e funcionamento de for-
mas de comunicação, organização espacial, entre outras); 
relação entre objetivos, meios e ins; ::
técnicas, métodos; ::
conjunto de normas ordenadoras das relações internas entre as partes de um todo;::
hábitos e costumes de organizações, grupos e/ou sociedades determinados.::
Diante das diferentes deinições e das categorias a elas relacionadas, veremos a seguir alguns as-
pectos relevantes para sua aplicação às Ciências Sociais.
Interfaces e mútua dependência entre as partes
Segundo os pensadores sociais que recorrem a essas analogias, a organização dos sistemas que 
caracterizam as sociedades ou civilizações é formada por diversas partes, que se equivaleriam aos ór-
gãos de um ser vivo. Para que o conjunto possa existir e funcionar, todos os organismos vivos, assim 
como os sistemas de qualquer tipo, necessitam que suas diferentes partes funcionem de forma integra-
da e interdependente. As noções de funcionamento, de função das partes, de integração, de harmonia 
e de interdependência, além da ideia das partes vistas como órgãos de um sistema, também são recur-
sos importantes para as analogias entre organismos vivos e sistemas sociais. Dessa forma, a noção de 
harmonia, equilíbrio e estabilidade dos órgãos de um corpo equivaleriam, na teoria social, às noções 
de ordem pública, paz social, segurança e eiciência, entre outros conceitos recorrentes aos pensadores 
das ciências humanas quando analisam sociedades e/ou organizações sociais determinadas. No senti-
do contrário, a desordem, os conlitos, a violência, a insegurança pública e a ineiciência das instituições, 
seriam doenças do sistema.
Assim como acontece com os organismos vivos, suas partes não apenas se relacionam, mas tam-
bém se expõem ao contato e à troca de inluências mútuas com o ambiente externo a elas. Além disso, 
ambos os sistemas biológico e social possuem história, passado e memória. Aplicando um raciocínio in-
verso, isto é, se levarmos os conceitos das ciências humanas para as ciências biológicas, não estaremos 
errando se admitirmos que os organismos vivos, de forma análoga ao que acontece com os indivídu-
os e as sociedades e civilizações humanas, possuem história, experimentam processos de desenvolvi-
mento especíicos, são passíveis de inluências e adaptáveis às circunstâncias impostas pela realidade, 
transformando-se e evoluindo, ou involuindo, conforme reagem às pressões e trocas com o ambiente 
externo ao sistema.
Subjacentes às ideias anteriormente desenvolvidas, podem estar conceitos como os de harmo-
nia, coesão, integridade e totalidade do sistema, mútua relação e dependência das partes entre si e com 
o todo, adaptabilidade, progresso, estagnação ou retrocesso. Todos esses conceitos são aplicáveis à aná-
lise de sistemas sociais e aos organismos vivos, entendidos, também, como sistemas.
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10 As sociedades como sistemas
As partes e suas funções
Seguindo a mesma linha de raciocínio, podemos recorrer à analogia da função que o cérebro 
exerce nos seres humanos à noção da função que um governo exerce em relação a uma sociedade. 
Segundo o cientista político Francisco Ferraz (2007, p. 1-2):
A concepção orgânica da sociedade e da política, portanto, sempre revelou-se atraente para os governantes que pre-
tendiam enfatizar aquelas características nos seus governos. A forma de governo mais harmônica e compatível com 
esta concepção foi, e é, a monarquia. Grande parte dos teóricos da monarquia usaram esta analogia, praticando muitas 
vezes uma interpretação literal das semelhanças entre os dois organismos. De acordo com esta concepção de monar-
quia, o Rei equivalia à cabeça no corpo humano (dotada de razão e vontade), sede da sabedoria, e, por consequência, 
o órgão de comando do corpo físico ou político. Esta a razão para a escolha da decapitação como a punição extrema 
aplicada aos reis. Decapitar é separar a cabeça do corpo, eliminando o seu poder de comandar o corpo. Decapitar um 
Rei foi sempre a maneira simbólica de remover a ”cabeça do reino”, o seu governante, rompendo todos os vínculos de 
hierarquia e comando que dele partiam para a sociedade.
Mediante outros raciocínios análogos, pode-se dizer que o governo equivale ao cérebro de um 
sistema político, o parlamento ao órgão do sistema Estado, que pulsa conforme a inluência dos luxos 
de pressão popular. Os luxos de pressão popular, nesse caso, podem ser entendidos como equivalen-
tes funcionais ao papel que a corrente sanguínea exerce no organismo humano, especialmente em re-
lação ao papel do subsistema cardiovascular para o corpo humano. Da mesma forma, os partidos, os 
sindicatos e os grupos de pressão podem ser vistos como as veias por meio das quais o luxo sanguíneo 
da pressão popular chega ao parlamento (coração) e, a partir dele, chegam ao cérebro, que responde 
ao estímulo da irrigação sanguínea com o atendimento da demanda social. Isso, é claro, pressupondo-
-se um sistema saudável.
Estabilidade e ruptura do sistema
O recurso a esse artifício nem sempre permite um alto grau de precisão analógica entre os órgãos 
ou organismos vivos e as partes de um sistema e/ou a um sistema social como um todo. O cientista po-
lítico Francisco Ferraz (2007, p. 2) identiica o problema, ao airmar que:
[...] o organismo, seja ele qual for, está sujeito à dinâmica da homeostasis, isto é, a retornar a um ponto de equilíbrio na-
tural. O princípio da homeostasis, portanto, implica a existência de um estado de equilíbrio natural no organismo, que 
corresponde ao satisfatório funcionamento dos seus órgãos. Qualquer distúrbio que altere este equilíbrio provoca mu-
danças adaptativas para recuperá-lo. No organismo humano, este ponto de equilíbrio corresponderia ao estado de saú-
de do corpo. Já na sociedade, este ponto de equilíbrio tenderia a valorizar, de maneira excessiva, a estabilidade sobre 
a mudança. Em outras palavras, a concepção organicista da sociedade e da política tende a privilegiar uma visão con-
servadora, onde a homeostasis funciona para a preservação do status quo. Mudanças de maior porte, assim como cria-
ção de novos órgãos, ou remanejo de funções entre órgãos, acomodam-se com diiculdade dentro desta concepção. 
Será outra analogia, a mecânica, preponderante durante os séculos XVI e XVII, que será usada pelos homens que vão 
construir novas nações (Revolução Americana)ou reformar profundamente as estruturas políticas de nações antigas, 
como a Inglaterra e a França.
As noções de equilíbrio, estabilidade, harmonia, entre outras, podem servir às teorias sociais 
que têm como foco a preservação da ordem social e do bom funcionamento de uma sociedade de-
terminada e existente. Esse pressuposto implica a identiicação da posição ideológica e do enfoque do 
cientista social que aplica esse modelo, com a preservação do status quo (estado que existia antes) vi-
gente nesse sistema social determinado.
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As sociedades como sistemas 11
As teorias que adotam esse tipo de enfoque entendem que os eventuais processos de mudança social 
devem ter caráter reformista, isto é, servem como processos de adaptação a novas exigências do ambiente 
interno e/ou externo ao sistema. Essa adaptação deve ocorrer obedecendo às regras previstas e vigentes, de-
inindo formas pacíicas pelas quais – de maneira gradual e num ritmo condizente com o equilíbrio do todo 
– as mudanças podem e devem acontecer, sem a desestabilização ou a ruptura do todo. 
No entanto, existem algumas correntes de pensamento da teoria social que entendem a evolução 
da história por meio de conlitos e rupturas, descartando, portanto, as analogias orgânicas como recurso 
adequado à compreensão dos fenômenos relacionados à ação dos seres humanos em sociedade. 
Aplicação do modelo ao objeto de estudo
Aplicaremos o conceito de sistema a duas situações distintas: a primeira se relaciona à ideia de 
Alvin Toler sobre as três Ondas Civilizatórias que marcaram o desenvolvimento da humanidade ao lon-
go da história; a segunda aplica o conceito de sistema à análise da sociedade brasileira como Estado- 
-nação. Nos dois casos, o conceito de sistema aplica-se à ideia de que uma civilização, ou uma socieda-
de nacional qualquer, pode ser vista como um sistema composto por partes ou subsistemas. As partes 
que compõem o todo – o grande sistema – seriam o subsistema econômico, social, político, cultural, e 
assim por diante. Todos funcionando de forma inter-relacionada e interdependente. 
As Ondas Civilizatórias de Toler correspondem ao sistema de produção de riqueza predominan-
te em cada um dos períodos descritos respectivamente como: civilização agrícola; civilização industrial e 
civilização pós-industrial, deinidos pelo autor como Primeira Onda, Segunda Onda e Terceira Onda, res-
pectivamente. O conceito de subsistema econômico aplicado à análise da sociedade de base agrícola 
pressupõe o modo de produção baseado no método artesanal de produção, tanto na agricultura como 
na confecção de utensílios para uso pessoal, familiar ou troca, que vigorou em nossa civilização desde o 
tempo em que saímos das cavernas (pré-história) para entrarmos na história, até o im da era feudal. 
As sociedades com esse sistema de produção possuíam subsistemas sociais especíicos (organi-
zação comunitária baseada em aldeias, organização familiar baseada em grandes núcleos de convivên-
cia necessários ao trabalho braçal nas unidades de produção rural familiar etc.). Da mesma forma, as 
relações de poder (subsistema político baseado na mistura entre religião e liderança, baixa complexida-
de e poucos níveis hierárquicos entre líderes e liderados) dessas sociedades possuem formas próprias 
de organização e funcionamento, ocorrendo o mesmo com o subsistema cultural (religião, costumes, 
valores e rituais correlatos).
A matriz conceitual implícita à ideia de sistema apresentará sua aplicação correspondente quan-
do usada para o estudo da civilização, cujo subsistema econômico estava baseado no industrialismo 
tradicional. A indústria de tipo tradicional usava, predominantemente, tecnologias mecânicas, trabalho 
especializado, produção em massa e seriada por meio de métodos de padronização e sincronização da 
produção fabril, na qual o trabalho braçal repetitivo predominava como impulsionador da produtivida-
de do sistema. Sob a vigência desse sistema, desenvolveram-se formas de organização social (cidades, 
núcleo familiar reduzido devido à mobilidade urbana do trabalhador fabril), política (democracia repre-
sentativa, Estado-nação, burocracia etc.) e cultural, correspondentes; típicas e distintas daquelas que 
existiam sob a sociedade de base agrícola. 
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12 As sociedades como sistemas
O mesmo esquema teórico-metodológico permite aplicar-se a analogia orgânica ao estudo da 
sociedade pós-industrial emergente, cujo sistema produtivo baseia-se em tecnologias e conhecimento 
(subsistema econômico), que por sua vez concebe seus correlatos, subsistema social, político, cultural e 
assim por diante. A sociedade pós-industrial está em processo inconcluso de formação, mas, como sis-
tema, já insinua a formação de seus subsistemas social, político, cultural, que são objeto de análise, de-
bate e estudo central das Ciências Sociais contemporâneas.
Finalmente, o modelo também se aplica aos casos de sociedades nacionais. Todas os Estados- 
-nações, tal como as diferentes civilizações, agrícola, industrial e pós-industrial da teoria de Toler, po-
dem ser vistas como sistemas cujos subsistemas social, econômico, político e cultural combinam-se de 
forma especíica e distinta, como se tivessem uma ”personalidade” e um ”código genético”, à imagem e 
semelhança dos seres humanos.
Atividades
1. Além das analogias entre organismos vivos, apresentadas nesta aula, quais outras analogias equi-
valentes você conseguiria fazer entre sistemas biológicos e/ou mecânicos e sistemas sociais?
2. Sob o enfoque de um sistema social comparado a um organismo vivo, quais fatos sociais atuais 
poderiam ser utilizados como exemplos de ”doenças” da sociedade contemporânea?
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Grandes ciclos 
de transformação 
sistêmica da sociedade
Para entender como a sociedade muda
A sociedade contemporânea experimenta um ciclo de transformações de grande intensidade, 
enormes implicações e consequências sobre o presente, o futuro da humanidade e as condições de 
vida no planeta. A humanidade, mais numerosa agora do que nunca, controla tecnologias de produ-
ção e destruição soisticadas e poderosas. Nunca antes a organização e o funcionamento da sociedade 
humana foram tão complexos. Ao acompanharmos o noticiário, vemos diante dos nossos olhos fatos 
que parecem anunciar a iminência do im do mundo: guerras, terrorismo, fanatismo religioso, crime or-
ganizado, corrupção, falência dos serviços públicos e do sistema de previdência social, manifestações 
violentas de insatisfação com governantes, catástrofes ambientais de grandes proporções, alterações 
climáticas, entre outros.
Para entender o que está acontecendo vamos conhecer a abordagem teórica de um dos auto-
res que tem se destacado no estudo das transformações da sociedade contemporânea, o cientista 
social norte-americano Alvin Toler1. A teoria inovadora de Toler é a principal referência para a expli-
cação aqui desenvolvida. Segundo esse autor, as turbulências que varrem os quatro cantos do plane-
ta não prenunciam o im do mundo como muitos podem pensar, mas indicam disputas pelos novos 
1 Nascido em 3 de outubro de 1928, Alvin Toler é economista e cientista social, autor de best sellers como O Choque do Futuro, A Terceira Onda 
e Powershift: as Mudanças do Poder, criador da disciplina de Sociologia do Futuro na New School for Social Research de Nova York. Toler é 
conhecido como pesquisador de novas tendências de transformação da sociedade contemporânea e por seus estudos sobre o impacto da 
revolução tecnológica sobre a sociedade atual; é consultor de grandes empresas e governantes em todo o mundo; editor associado da revista 
Fortune; hoje vive em Los Angeles, EUA.
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14 Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade
espaços de poder que se abrem em função da falência das instituições sociais e políticas atuais e da 
emergência de um novo sistema social.
Toler defende a ideia de que essas mudanças obedecem a um padrão passível de ser identiica-
do, são cumulativas e contribuem para uma gigantesca transformação na maneira como vivemos. Seu 
ponto de vista é de que a nova civilização que está emergindo traz consigo novos estilos de família, mo-
dos de trabalhar e viver, uma nova economia, novos conlitos políticos e uma nova forma de pensar e 
perceber a realidade que se descortina (TOFFLER, 2001, p. 23).
O esforço de Toler orienta-se para a tentativa de educar nosso olhar para a percepção dos sinais 
que revelam o sentido e o padrão das transformações em curso, que ele considera a chave para a com-
preensão do que nos espera no futuro. O sistema teórico desenvolvido por ele pressupõe a existência 
de relações de inluência mútua entre os subsistemas (econômico, social, político e cultural) de cada 
onda civilizatória, expressão usada para deinir os três períodos evolutivos pelos quais nossa socieda-
de passou e passa. Para ele, a base dos sistemas sociais de cada civilização assenta-se sobre o sistema 
de produção de riqueza – ou subsistema econômico – de cada um desses períodos da história da hu-
manidade. A produção de riqueza, por sua vez, apoia-se em tecnologias determinadas. Por tecnologias 
entendem-se não apenas os instrumentos (ferramentas, máquinas etc.) utilizados na produção daquilo 
que a sociedade necessita para se sustentar e se desenvolver, mas os métodos de organização, funcio-
namento e gestão da produção em cada uma dessas etapas históricas.
O desencadeamento dos processos de transformação da matriz sistêmica de uma onda em outra, isto 
é, da transformação da civilização agrícola em industrial e da civilização industrial em pós-industrial, parte 
da descoberta de novas tecnologias. Essas descobertas desencadeiam mudanças na organização dos siste-
mas de produção que vão, gradativamente, tendo seu uso expandido até ganhar escala predominante so-
bre a matriz produtiva anterior. À medida que a escala de uso das novas tecnologias se amplia e impulsiona 
mudanças na organização da produção, começam, simultaneamente, a se processar transformações com-
portamentais, individuais e coletivas na vida dos indivíduos envolvidos com as atividades do sistema produ-
tivo emergente. Com o tempo, essas transformações extrapolam o âmbito da produção e passam a provocar 
transformações sociais e culturais em proporções cada vez mais abrangentes, pois o trabalho ocupa a maior 
parte do nosso tempo e inluencia o modo de vida dos indivíduos em todas as sociedades.
Como consequência, as mudanças nos subsistemas econômico, social e cultural impulsionam alte-
rações nas relações de poder nos âmbitos micro e macropolítico do tecido social. Aos poucos vai se esta-
belecendo um conlito de interesses entre a elite emergente, ligada ao novo sistema em expansão, e a elite 
decadente, que conquistou posições de poder e inluência no seio do sistema de produção e está se deterio-
rando e cedendo lugar às novas relações sociais e de produção. Toler propõe que a análise seja voltada para 
o que ele chama de frente da onda (a ponta mais avançada dos processos de mudança) de modo a direcionar 
o foco do observador, não tanto para as ”continuidades históricas”, mas para as ”descontinuidades”, ou seja, 
para as inovações e interrupções que possibilitam identiicar os padrões-chave da mudança para se torna-
rem nítidos e agirmos sobre e a partir deles (TOFFLER, 2001, p. 27). Para ele, toda vez que uma onda de mu-
dança passa a predominar em uma determinada sociedade, torna-se relativamente fácil identiicar o padrão 
de desenvolvimento futuro (projetar tendências), o que permite aos indivíduos, empresas e governos esco-
lher ou construir os caminhos que querem percorrer e as posições que querem ocupar no novo sistema.
Entender simultaneamente o velho e o novo, sob um ponto de vista teórico inédito é o que pro-
põe o autor. Para ele, as teorias desenvolvidas no passado para a compreensão do velho sistema tam-
bém se tornam obsoletas com a decadência do sistema social superado. Esse é um prerrequisito para 
quem quiser se tornar beneiciário e não vítima das transformações em curso. Para uma correta com-
preensão da teoria de Toler, é importante entender que esses processos de transformação não se dão 
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Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade 15
de forma mecânica e linear. Segundo seu ponto de vista, as diferentes ondas civilizatórias podem com-
partilhar o mesmo espaço-tempo, de tal forma que em determinadas nações, sociedades ou regiões do 
mundo, é possível que convivam indivíduos, organizações e setores econômicos ligados ao sistema de 
produção agrícola tradicional, ao sistema industrial da ”era das chaminés” e/ou aos setores de alta tec-
nologia, típicos da sociedade pós-industrial emergente.
Para Toler, boa parte dos conlitos e das crises sociais e políticas da sociedade atual se explicam 
pela incompatibilidade entre os paradigmas sistêmicos (interesses, mentalidades, cultura, regras e or-
ganizações) das diferentes ondas civilizatórias. Nesse contexto, o ambiente social torna-se conlituoso, 
pois a elite decadente não quer perder o poder e as vantagens que adquiriu no passado, e luta para im-
pedir a mudança, ao passo que aqueles que estão ligados ao novo sistema de produção de riqueza e 
sua lógica lutam para impor seus interesses e para fazer valer suas posições nas novas relações de poder. 
Nesse processo, os graus de inserção de indivíduos, organizações, empresas, regiões e nações depen-
dem da intensidade com que estão envolvidos pelas novas tecnologias de produção e pelas relações 
sociais que elas delineiam.
A civilização, assentada sobre o sistema de produção agrícola-artesanal, teve início há cerca de 10 
mil anos com a descoberta da agricultura. A civilização industrial durou, aproximadamente, 300 anos. 
Hoje, a história move-se mais rapidamente e avalia-se que a terceira onda civilizatória leve poucas déca-
das para completar seu ciclo de mudanças, ou seja, trata-se de um conjunto de mudanças que já são, e 
serão ainda mais, sentidas no decorrer dos anos (TOFFLER, 2001, p. 24).
A velocidade das transformações é outra dimensão desse processo que precisamos incorporar à 
nossa percepção sistêmica, pois a rapidez com que novas tecnologias são descobertas e postas a serviço 
da sociedade torna a mudança veloz e constante, uma característica estrutural intrínseca e permanente 
do novo sistema. Eventualmente, não estamos conseguindo perceber a abrangência e a profundidade 
dessas mudanças. Podemos citar como exemplos as estruturas familiares do casamento estável e mo-
nogâmico – que estão sendo substituídas por inúmeras outras formas e conigurações de organização 
familiar, causando impacto direto sobre o sistema de crenças e valores que predominou no período pre-
cedente da história –, as crises econômicas e políticas localizadas – que se expandem rapidamente pelo 
planeta por meio de redes de comunicação que interligam pessoas e instituições em todas as dimen-
sões da sociedade mundial –, os novos combustíveis, as novas fontes renováveis de energia, as novas 
matérias-primas, os métodos inovadores de gestão da produção que varrem as máquinas e as linhas de 
montagem obsoletas das fábricas tradicionais. Empresas quebram, surgem novas empresas, novas ati-
vidades econômicas e novos postos de trabalho. A economia de serviços se sobrepõe à produção fabril. 
O trabalho braçal e algumas atividades produtivas que requerem conhecimento especíico são automa-
tizados e robotizados. Os empregos do antigo sistema desaparecem. Impérios desmoronam da noite 
para o dia, fronteiras se desmancham, nações se fundemdiluindo fronteiras e construindo novas insti-
tuições, inspiradas no paradigma estrutural das redes2.
O futuro promissor não está garantido. A humanidade já experimentou o retrocesso em seu pa-
drão civilizatório. Podemos comparar o tipo de vida e desenvolvimento cultural que se atingiu no apo-
geu das civilizações grega e romana com as condições sociais que se viviam na era feudal, que sucedeu 
a decadência do Império Romano. Todavia, Toler acredita que, mesmo com os avanços e benefícios 
sociais que a transformação da sociedade agrícola em sociedade industrial proporcionou à humanida-
de (aumento da expectativa de vida e das condições gerais de sobrevivência do homem sobre a Terra), 
nem todos os problemas da sociedade foram resolvidos e novos problemas, resultantes do impacto do 
2 Para saber mais sobre esse tema, leia a trilogia do sociólogo espanhol Manuel Castells, indicada nas referências.
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16 Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade
sistema de produção de riquezas baseado no modelo fabril, surgiram. Nosso futuro, estruturado pelo 
paradigma sistêmico das redes tecnológicas, nos oferecerá uma vida melhor do que a que tivemos sob 
a vigência da sociedade industrial.
A Pré-história
Na Pré-história, nossa subsistência (subsistema econômico) estava baseada na caça, na pesca, 
na coleta de frutos da natureza e no saque de outros grupos humanos. Nossos ancestrais viviam em 
bandos nômades (subsistema social). Dentro desses bandos, as relações de poder (subsistema político) 
eram simples e pouco hierarquizadas. Vigorava o poder da força do líder, que se impunha sobre os de-
mais pelo uso da violência. O sistema social apresentava baixo grau de complexidade. A natureza domi-
nava o homem, impunha suas regras e provocava medo.
A vida em grupos nômades era consequência direta da forma de subsistência. O grupo facilitava 
a defesa contra animais, contra as adversidades impostas pela natureza e contra outros grupos huma-
nos. A condição de nômades, isto é, de indivíduos obrigados a se deslocar pelo território de tempos em 
tempos, era imposta pela escassez de alimentos, pelas mudanças do clima, ou pela ameaça de animais 
e outros bandos. A agricultura surgiu para modiicar a maneira de viver existente nesse período, dando 
ao homem a capacidade de coletar grande quantidade de sementes, preparando a terra, plantando, co-
lhendo e armazenando alimentos para consumir no inverno e tornando a vida melhor. Essa prática le-
vou muito tempo para acontecer e se generalizar, criando uma nova forma de produção de riqueza, cuja 
base passou a ser a agricultura tradicional.
A sociedade agrícola
Durante os 10 mil anos subsequentes, a agricultura tradicional e o artesanato foram as principais 
formas de produção de riqueza. A sociedade, durante esse longo período, assumiu forma de organiza-
ção (subsistema social), de crenças e valores (subsistema cultural), e de algumas relações de poder (sub-
sistema político), que tinham ligação direta com o fato de a agricultura e o artesanato serem a base do 
subsistema econômico.
Para viver da agricultura foi preciso se ixar no território e criar outro tipo de organização social, 
baseada em aldeias e grandes famílias, dando im aos bandos nômades. A sociedade ensaiava os pri-
meiros passos na longa jornada para domar a natureza e pô-la a seu serviço. Os deuses e demônios da 
época eram as forças da natureza que o homem temia ou admirava: a tempestade, o raio e o trovão, os 
vulcões, os terremotos, enchentes e secas, o Sol e a Lua, as estações do ano. Os sacerdotes, que se ”co-
municavam” com os deuses (conheciam as forças da natureza) detinham poder e exerciam inluência 
sobre comunidades ignorantes. Os templos religiosos eram ediicações robustas, melhor localizadas e 
que, por isso, serviam para armazenar alimentos, protegidos pelos poderes mágicos dos feiticeiros que 
pediam aos deuses proteção e boas safras. O exercício do poder na civilização agrícola nascia ligado à 
religião. O conhecimento religioso explicava e justiicava a ordem social e política e fornecia as regras 
morais necessárias à preservação da unidade e harmonia do sistema. A organização da sociedade agrí-
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Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade 17
cola era mais hierarquizada e complexa do que na fase anterior. Na aldeia, existiam indivíduos que iam 
à roça todo dia, outros que permaneciam no local de moradia preparando alimentos para os que foram 
trabalhar e, ainda, um destacamento armado para proteger a aldeia e o lugar onde eram guardados os 
alimentos que garantiam a sobrevivência nas adversidades.
Dessa forma, a mudança no subsistema econômico, impulsionada pela descoberta e difusão da tec-
nologia agrícola gerou mudanças no subsistema social e cultural e, também, no subsistema político.
A sociedade industrial
Um longo período passou antes de novas descobertas serem realizadas. A invenção das máqui-
nas combinada com o trabalho especializado em linha de produção gerou um novo ciclo de grandes 
transformações, que os historiadores e cientistas sociais chamam de Revolução Industrial. A mecaniza-
ção da produção agrícola combinada com o surgimento das fábricas produziu o fenômeno da industria-
lização (subsistema econômico). A partir de então, massas humanas abandonaram o campo e passaram 
a se concentrar no entorno das fábricas, dando origem às cidades. A industrialização impulsionou a ur-
banização. A família encolheu, pois os operários deslocavam-se de uma cidade para outra em busca de 
emprego, carregando esposa e ilhos. Sob essas circunstâncias, as grandes famílias necessárias à agricul-
tura tradicional devido à importância do trabalho braçal para a produtividade do trabalho na terra não 
tinham como sobreviver e começaram a desaparecer (subsistema social). Com o povo concentrado nas 
cidades, em torno das catedrais e das sedes do poder, não tardou para que a política sofresse o impacto 
das transformações provocadas pela emergência da sociedade industrial e seu sistema de poder.
Aos poucos, todos os povos europeus que possuíam algum tipo de identidade cultural, proximi-
dade territorial ou interesses econômicos comuns foram se agrupando. A era feudal, caracterizada por 
seus feudos (formações políticas, sociais e as unidades de produção do último estágio da sociedade 
agrícola), deu lugar aos Estados nacionais. Em seguida, os Estados-nações foram experimentando revo-
luções políticas que deram origem às democracias modernas, baseadas na separação entre o Estado e 
a Igreja, na Ordem Constitucional, na separação dos poderes e nos regimes de governo parlamentarista 
ou presidencialista (subsistema político) que vigoram até hoje, em substituição à ordem política vigen-
te na Idade Média, na qual a aristocracia e o clero controlavam o poder e na qual o povo não participa-
va da política. O industrialismo organizou a sociedade à sua imagem e semelhança, pelo menos até o 
im da Segunda Guerra Mundial.
A sociedade pós-industrial
As pesquisas cientíicas que se desenvolveram para atender às necessidades da guerra, em tem-
pos de paz deram origem a três novas descobertas revolucionárias: o avião a jato, a televisão e o com-
putador. Da década de 1950 até a década de 1970, essas invenções se desenvolveram, ganharam escala, 
sendo, desde então, usadas de forma generalizada como verdadeiros motores do novo subsistema eco-
nômico da sociedade pós-industrial.
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18 Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade
O impacto de seu uso em escala na economia deu origem a um novo ciclo de transformações estru-
turais no sistema de produção de riqueza da sociedade. Surgiram as telecomunicações e as redes, interli-
gando sistemas de troca de imagens, sons, dados etexto em tempo real, por toda superfície do planeta. O 
avião a jato, antes usado para ins militares, transformou-se num meio de transporte usado em larga esca-
la para ins comerciais. Contingentes enormes de pessoas e riquezas tangíveis e intangíveis passaram a se 
deslocar de um lado para outro em alta velocidade e num volume jamais antes experimentado.
Nasceu a sociedade pós-industrial, baseada nas altas tecnologias e no paradigma das redes. A 
economia de serviços passou a predominar sobre a produção fabril. A informação e o conhecimento 
passaram a ser os fatores-chave para a aquisição de poder político e econômico na sociedade das redes. 
As redes de comunicação revolucionaram a produção. A sincronização e a padronização, típicas da pro-
dução na linha de montagem do chão da fábrica, foram substituídas pela assincronia e pela segmenta-
ção da produção e do consumo (subsistema econômico). O trabalho deixou de ser prisioneiro da fábrica 
e do escritório. Podemos trabalhar em casa conectados em rede com a empresa. Podemos trabalhar na 
hora que quisermos. Podemos morar fora da cidade que a tecnologia nos permite a proximidade virtual, 
a conexão em tempo real, mesmo com a distância física. As fábricas saíram das cidades. As cidades vira-
ram centros de serviços. A família se libertou do padrão papai-mamãe e novos tipos de família estão sur-
gindo (subsistema social). As velhas estruturas de poder da sociedade industrial estão ruindo. Líderes 
políticos, ideologias e partidos não funcionam mais. Burocracia, ineiciência, corrupção e falência inan-
ceira e administrativa contaminam o aparato do Estado em todos os países do mundo. Governos nacio-
nais veem seus poderes serem deslocados para novas instituições globais. Comunidades regionais se 
insurgem contra governos nacionais exigindo autonomia para o poder local. Agir localmente e pensar 
globalmente é o lema da nova era.
Apesar de os tentáculos do novo sistema estarem se expandindo e revolucionando a vida na 
Europa, nos Estados Unidos, no Japão e em algumas outras partes do planeta, em pouco tempo se com-
pararmos com a velocidade de expansão das revoluções agrícola e industrial, a reverberação das rela-
ções sociais e de poder da velha ordem industrial ainda continua a se espalhar em certas regiões do 
mundo. Os vestígios da sociedade agrícola já se estabilizaram. No entanto, muitos países, de acordo 
com Toler (2001, p. 26), ainda ”se apressam a construir siderúrgicas, fábricas de automóveis, fábricas de 
têxteis, estradas de ferro e fábricas de processamento de comidas, revelando que a Segunda Onda ain-
da não esgotou sua força”, mesmo que os ventos da Terceira Onda já impulsionem mudanças estrutu-
rais em todas as regiões do mundo.
Países como o Brasil, por exemplo, experimentam o impacto simultâneo de três ondas civiliza-
tórias, ”movendo-se de forma diferente, por razões diferentes, com velocidades diferentes e com di-
ferentes graus de força” (TOFFLER, 2001 p. 28). Em um escritório na Avenida Paulista, um televisor LCD 
transmite notícias, com tecnologia digital, para executivos de corretoras que operam investimentos nas 
principais bolsas de valores do planeta como imagens de uma manifestação de trabalhadores sem-terra 
reivindicando um pedaço de chão para plantar batatas, ao lado de sindicalistas que protestam contra a 
ameaça de desemprego causada pela transferência da empresa na qual trabalham para a China.
Segundo Toler, a Primeira Onda ocorreu mais ou menos a 8 000 a.C e predominou sobre nossa civi-
lização entre 1650 e 1750 d.C., quando a Segunda Onda tomou impulso atingindo seu apogeu entre as dé-
cadas de 1955 a 1965. Para ele, o marco central da transição aconteceu nessa década, nos EUA, quando ”os 
trabalhadores de colarinho branco e os prestadores de serviço excederam em número os trabalhadores 
de macacão” (TOFFLER, 2001 p. 28), ou seja, quando as estatísticas socioeconômicas oiciais do governo 
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Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade 19
norte-americano revelaram que a economia de serviços começava a predominar sobre a economia indus-
trial tradicional, coincidindo com a expansão do uso dos computadores e dos aviões a jato.
A compreensão dos conlitos produzidos pela colisão de interesses entre os defensores da Onda 
emergente contra os da Onda decadente ilumina a estrada que nos conduz ao futuro, oferecendo-nos a 
oportunidade valiosa de escolher caminhos, deinir nossas opções de inserção social, identiicar as for-
ças e interesses que se movem na sociedade querendo levar-nos para um lado ou para outro.
Uma vez que compreendamos que atualmente está se travando uma luta violenta entre os que procuram preservar o 
industrialismo e os que procuram suplantá-lo, teremos uma poderosa chave nova para compreender o mundo. Mais 
importante – quer estejamos estabelecendo normas para uma nação, estratégias para uma empresa, ou objetivos para 
nossa vida pessoal – teremos um instrumento novo para mudar esse mundo. (TOFFLER, 2001 p. 31)
Síntese esquemática da teoria das ondas civilizatórias
Pré-história
Primeira Onda
Rev. Agrícola
10 000 anos
Segunda Onda
Rev. Industrial
300 anos
Terceira Onda
Rev. Tecnológica
50 anos
Símbolo de 
poder
Uso da força (violência). Propriedade da terra.
Propriedade das
máquinas e do 
dinheiro.
Conhecimento.
Sistema de 
produção
Caça, pesca, coleta, 
saque.
Agricultura, artesanato. Fábricas.
Redes, economia de 
serviços, economia sim-
bólica, transnacionais.
Sistema 
social
Bando nômade. Aldeia, família tradicional. Cidade, núcleo familiar.
Megacidades como 
centros de serviços, 
descentralização urbana, 
ausência de padrão 
familiar.
Sistema de 
poder
Dois níveis hierárquicos 
(líder e bando), sucessão 
pela violência.
Fusão religião/poder 
(Estado/Igreja), justiica-
ção pelo direito divino, 
sucessão por herança 
consanguínea.
Estado-nação, Repúbli-
ca, separação Estado/
Igreja, democracia 
representativa, buro-
cracia.
Megablocos, Estado 
em rede, democracia 
cibernética.
Atividades
1. A partir dos conteúdos estudados descreva, com suas palavras, a forma como se processam as 
transformações estruturais das sociedades.
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20 Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade
2. Segundo Toler, que fator desencadeou a emergência da Segunda Onda e de que forma esse fa-
tor, ao se generalizar e se transformar num fenômeno abrangente, inluenciou o comportamento 
social, as formas de vida em sociedade e da organização jurídica e política da civilização humana?
3. No seu entender, por que o avião a jato e o uso da informática combinada com as telecomuni-
cações, são as tecnologias que estão revolucionando a economia e causando impacto sobre as 
demais dimensões da vida na sociedade contemporânea (comportamento, cultura, estruturas so-
ciais e políticas)?
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A sociedade agrícola
A sociedade agrícola durou, aproximadamente, dez mil anos: das primeiras aldeias primitivas que 
foram se formando muito lentamente após a Pré-história até a Idade Média, que foi para o mundo oci-
dental o apogeu da era agrícola. Ao longo desse período, a evolução do processo civilizatório aconte-
ceu lentamente e assumiu formas diferenciadas conforme os povos do mundo viviam suas experiências 
especíicas. Em momentos distintos, em lugares diferentes do planeta, sociedades diversas desenvolve-
ram-se e construíram civilizações culturalmente soisticadas. Incas, maias, astecas, egípcios, árabes e os 
povos orientais acumularam muito conhecimento e criaram sistemas sociais complexos e hierarquiza-
dos, com graus variados de institucionalização das suas estruturas sociais e de poder.
No entanto, para ins de aplicação do conceito de sistema social e seus subsistemas (econômi-co, político e cultural), a estrutura básica de todas essas sociedades mostrou-se invariável. Todas elas ti-
nham na agricultura e no método artesanal de produção seu subsistema econômico. As bases sociais 
e culturais de todas essas sociedades apresentavam similaridades em sua organização e sistemas de 
crenças e valores (subsistema cultural). A vida isolada no campo e o misticismo religioso como base dos 
valores morais formadores da vida social foram marcas de todas elas. O poder exercido por líderes que 
eram, ao mesmo tempo, chefes militares e religiosos, caracterizava também seus subsistemas políticos. 
Porém, foi no berço das civilizações grega e romana que se constituíram as experiências civilizatórias, a 
partir das quais nasceu e loresceu a sociedade ocidental. Foi nessa sociedade – mais precisamente na 
Europa, onde se difundiu o modelo hegemônico de sociedade no mundo moderno – que se desenvol-
veram processos especíicos, que possibilitaram o surgimento do sistema de produção de riquezas ba-
seado no modelo fabril, a partir do qual se constituiu a civilização industrial.
A civilização grega, o Império Romano e o cristianismo – que se difundiu no mundo ocidental 
com as conquistas romanas dos territórios – plantaram as sementes do sistema social vigente até hoje 
em todo o mundo ocidental. A noção de democracia – sociedade hierarquizada, organizada e governa-
da por instituições verticais de poder, mediada por regras escritas, valores morais e base da separação 
da religião e do poder de Estado – nasceu e se desenvolveu a partir do período clássico da história da 
Grécia Antiga, atravessou mil anos de dominação romana sobre o mundo e atingiu seu apogeu no inal 
da Idade Média, às vésperas da formação dos Estados absolutistas.
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22 A sociedade agrícola
Entender as formas de desenvolvimento dessas experiências civilizatórias é o primeiro passo para 
compreendermos como se estruturou o sistema complexo da sociedade industrial moderna, em que foi 
inventada a tecnologia de produção de riqueza que permitiu a superação da civilização agrícola e sua 
conversão em civilização industrial.
A civilização grega
Na Grécia, no período anterior ao século V a.C. – chamado pelos historiadores de período feudal 
– a sociedade se estratiicava em dois grandes segmentos: grandes famílias proprietárias de terra – que 
exerciam autoridade sobre o povo composto por artesãos, agricultores e pescadores – e, nos demais 
territórios da Europa e adjacências, povos bárbaros sobre os quais déspotas impunham dominação 
apoiados em castas religiosas, administrativas e militares. Desde cedo, os gregos revelaram caracterís-
ticas culturais que os diferenciavam dos povos bárbaros: a valorização do conhecimento e a propensão 
para dirimir conlitos entre seus membros de forma não violenta. Na Grécia Feudal, anterior ao século 
V a.C., surgiram os nomotetas, espécie de embrião daquilo que, muitos séculos depois, transformou-se 
nas instituições dos poderes Legislativo e Judiciário. Os nomotetas eram indivíduos escolhidos pela co-
munidade em função de seu reconhecido conhecimento, para enunciar os critérios de julgamento dos 
conlitos entre membros da comunidade, em uma época da história da humanidade em que inexistiam 
a lei escrita e os tribunais.
No período clássico da história da Grécia Antiga, que vai do século V a.C. até o nascimento de 
Cristo, os gregos deram os primeiros e decisivos passos na direção da constituição daquilo que enten-
demos por civilização, ou seja, uma sociedade na qual os conlitos de poder e interesse são mediados 
sem violência, como acontecia entre os povos bárbaros e entre os bandos pré-históricos. Nesse período 
da história, a Grécia testemunhou uma onda de expansão do comércio, que deu origem ao surgimento 
de cidades (pólis) como Esparta, Atenas e outras. É nessa época que ilósofos como Platão e Aristóteles 
deixaram suas marcas no pensamento político da sociedade ocidental.
Aristóteles, por exemplo, entendia que a família tradicional e a aldeia, características do período 
feudal da história grega antiga eram formas rudimentares de organização social. Vivendo isolados no 
campo, no âmbito familiar e em aldeias, os homens existem para a sobrevivência, não são senhores do 
seu destino, mas escravos dos acontecimentos. Desse modo, não é o homem que conduz sua vida, é a 
vida, como sucessão de acontecimentos casuais, que conduz o indivíduo isolado até o im de sua exis-
tência. Para esse pensador grego, a pólis é uma forma superior de organização social, a cidade é o lu-
gar da realização da virtude humana (logos: conhecimento, inteligência) que nos diferencia dos animais 
(CHÂTELET, 1994, p. 14-15). A vida na cidade impõe aos cidadãos a necessidade de pensar e deliberar 
sobre seu destino coletivo e, consequentemente, obriga-os a raciocinar e agir estrategicamente, proje-
tando o futuro desejado, estabelecendo metas e caminhando na direção desses objetivos coletivos, en-
im, fazendo política.
Nesse sentido, a política é entendida como a ação coletiva dos cidadãos, visando deinir o destino 
coletivo da sua comunidade. Para os gregos, a escolha do destino a ser seguido deveria se dar pelo voto 
direto da maioria dos cidadãos reunidos em assembleias populares, em praça pública. Por esse moti-
vo, os gregos são considerados os inventores da Democracia. A ideia de Democracia, como princípio de 
processamento das decisões coletivas da sociedade, irá ressurgir com o im da Idade Média, na esteira 
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A sociedade agrícola 23
do renascimento das cidades, impulsionadas pela Revolução Comercial nos séculos que marcaram o 
nascimento do capitalismo. Essa maneira de processar decisões coletivas através da persuasão pela re-
tórica e pelo voto da maioria, inventada pelos gregos, é chamada de democracia direta, pois na Grécia 
de então não existiam lei escrita, governo, tribunais e parlamento. Essa forma de democracia estabele-
ce relações de igualdade entre os cidadãos.
A ideia de igualdade entre os cidadãos, juntamente com a ideia de democracia, também norteou 
os princípios fundadores do Estado moderno, após o im da Idade Média, vários séculos depois. Entre os 
cidadãos gregos não havia hierarquia de poder, visto não haver estruturas políticas e institucionais, me-
canismos de representação e mediação social ou diferentes níveis de autoridade, como as que se esta-
belecem entre governantes e governados em sociedades com outro tipo de organização política.
Os princípios ilosóicos implícitos às ideias de deliberação coletiva apoiada no voto da maioria 
e de igualdade entre os membros da sociedade com direito de decidir, no caso dos gregos, devem ser 
entendidos em sua dimensão histórica e evolutiva, comparada ao padrão de desenvolvimento social 
humano da época. De fato, se comparada à compreensão dos conceitos de democracia e de igualdade 
entre os membros da sociedade hoje em dia, não poderemos considerar a sociedade grega igualitária e 
democrática. Apenas os homens tinham direito de voto nas assembleias populares, ou seja, jovens, mu-
lheres e escravos não votavam. Para os gregos, o homem possui natureza divina, porém em alguns ho-
mens – os escravos, que em geral, eram adversários derrotados em guerras – o divino está ausente.
A ideia de liberdade que vigorava entre os gregos, tão cara à sociedade ocidental moderna e aos 
princípios das revoluções libertárias que varreram a Europa na esteira da Revolução Industrial, também 
precisa ser compreendida no contexto especíico da época. A vida na pólis grega, como organização ca-
paz de defender seus cidadãos na guerra – logo, de impedir sua escravização pelos vencedores – era a 
garantia de sua liberdade. Portanto, para o cidadão grego, participar do processo de deliberação coleti-
va de sua pólis, isto é, fazer política, era uma imposição, uma necessidade,uma obrigação, não uma livre 
opção, como é atualmente. A ideia de liberdade (já usada pelos gregos, mas em outro contexto e com 
outro signiicado) também ressurgiu como combustível das transformações políticas que as revoluções 
Comercial e Industrial provocaram na Europa após o im da Idade Média.
Para uma análise do processo de evolução civilizatória da humanidade, o que interessa é a reali-
dade de direito e não a realidade de fato. Os gregos, diferentemente dos povos bárbaros, decidiram que 
os conlitos internos à comunidade seriam equacionados pelo voto da maioria, e não pelo uso da força. 
Essa ideia, como princípio, é que inspirou as formas democráticas de poder que a humanidade desen-
volveu, notadamente, após as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII.
Se dermos um passo adiante na história, veremos que os romanos trouxeram novas contribuições 
ao processo civilizatório, que também serviram de base para a constituição do sistema político da socie-
dade industrial moderna, nas suas dimensões social e política.
A civilização romana
A construção do Império Romano teve início por volta de 250 a.C., com a invasão da Grécia. Dos 
gregos, os romanos absorveram as ideias e as transformaram para a formação de um novo tipo de so-
ciedade, dotado de outro subsistema político.
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24 A sociedade agrícola
A lei escrita e a constituição de uma ordem militar e administrativa verticais surgiram na socieda-
de romana. Pela primeira vez, cria-se um mecanismo de democracia representativa, no qual um senado 
– composto de indivíduos eleitos pelos cidadãos romanos – representava o povo perante a república 
romana. Nasce aqui a ideia de res publica, entendida como esfera de atuação política dos indivíduos, se-
parada da esfera de seus interesses privados, que também inspirou a constituição do subsistema políti-
co da sociedade industrial (CHÂTELET, 1994, p. 25).
Dessa forma, surge na sociedade romana o mecanismo de representação política a terceiros, isto 
é, de delegação de poder pelos cidadãos (os senadores) para que esses legislassem e representassem 
suas demandas junto ao governo. As eleições romanas, guardadas certas imposições das circunstâncias 
históricas, não eram muito diferentes das eleições de hoje em dia.
A expansão do Império Romano, que durou cerca de mil anos, por tudo que se conhecia como 
mundo à época, propiciou a difusão dos valores culturais e do modelo de organização institucional da 
República Romana por todo mundo ocidental. Mesmo que separado por um período de cerca de mil 
anos em que durou o feudalismo – que se sucedeu à decadência do Império Romano alterando pro-
fundamente as relações sociais e de poder no mundo ocidental – esse legado do modelo republicano 
nascido em Roma é que inspirou, em boa parte, o padrão de organização institucional e do Estado no 
mundo moderno, que emergiu na Europa a partir do século XVII.
O cristianismo
Na sociedade romana, as funções e a autoridade do Imperador eram, simultaneamente, tempo-
rais (administração, política e guerra) e espirituais. Isto é, não havia separação entre política e religião, 
característica essa que marcou as sociedades humanas durante todo o período de duração do sistema 
social assentado na agricultura. Foi o cristianismo que legou à sociedade ocidental a ideia de separação 
da autoridade temporal (Potestas), da autoridade sobre assuntos morais e religiosos (Auctoritas), à me-
dida que a ascensão política da Igreja correspondeu à decadência do Império Romano e ao surgimento 
da instituição religiosa com atribuições separadas das funções de governo (CHÂTELET, 1994, p. 31-33).
Curiosamente, o islamismo, cuja raiz é a mesma do cristianismo (o Velho Testamento), não pro-
vocou esse fenômeno da separação entre Estado e Igreja no Oriente, pois, no mundo muçulmano não 
existe uma religião institucionalizada e hierarquizada como a Igreja Católica. A Jihad Islâmica, guerra 
santa pela conversão dos pagãos à fé em Alá no mundo muçulmano, é função atribuída aos governan-
tes. Por essa razão, a cultura política dos países de tradição islâmica resiste até os dias de hoje à ado-
ção do modelo político/institucional de democracia predominante no mundo ocidental judaico/cristão 
(CHÂTELET, 1994, p. 30-31). Os ideais da liberdade, da igualdade e da deliberação coletiva do destino da 
comunidade, com base na vontade da maioria, são legados da civilização ocidental antiga à civilização 
industrial e pós-industrial posteriores.
Durante os mil anos de feudalismo, a Igreja airmou a separação entre o princípio de autori-
dade correspondente às funções do Papa e o princípio de autoridade correspondente às funções do 
Imperador e dos reis, detendo o poder político de fato, compartilhando-o com a aristocracia feudal e, 
por vezes, sobrepondo seu poder ao poder do Estado. Como se vê, religião e poder prosseguiram de 
mãos dadas, embora sob forma original, por mais um logo período histórico.
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A sociedade agrícola 25
Com o tempo, o legado teórico desse princípio de separação da autoridade do Papa e do 
Imperador terminou alimentando o processo de separação deinitiva entre a Igreja e o Estado nos sécu-
los XVII e XVIII e consolidando o modelo de organização política e institucional da sociedade industrial 
ocidental (subsistema político) até os dias de hoje.
A ordem feudal
A sociedade feudal tinha a propriedade da terra como elemento-chave do seu sistema social. 
Com a decadência do Império Romano, desapareceram gradativamente as instituições de poder inspi-
radas no modelo republicano instituído em Roma. Com a fragmentação do Império, também se frag-
mentou o poder. Os feudos passaram a ser a base do sistema social e, a partir deles, estabeleceram-se 
os subsistemas político, econômico e cultural que predominaram ao longo da Idade Média. O exercício 
do poder em todos os seus sentidos (deinição de leis, impostos, punição de crimes, guerra, entre outras 
funções), era atribuição de cada senhor de terras, no interior de suas propriedades. Para a nobreza e o 
clero, não existia liberdade, igualdade e poder de participação do povo no governo. O povo (agriculto-
res, artesões e serviçais), ignorante e desgarrado pelo território, tinha o ”direito” de viver nas proprieda-
des dos nobres em troca de parte da produção, da prestação de serviços e de proteção.
Com o im do Império Romano, a Igreja Católica compartilhou o poder com a aristocracia e era a 
única instituição mundial presente em toda a Europa e adjacências, com exceção das regiões em que 
os povos pagãos se afastaram da inluência cristã. Suas funções sociais, do ponto de vista formal, iam 
da condição de guardiã da moral e dos costumes à de legitimadora do poder dos reis, em uma época 
em que a condição de governante era vista como desígnio divino e transmitia-se por herança consan-
guínea. De fato, os bispos exerciam grande inluência política sobre as decisões da aristocracia. A cobi-
ça moveu a expansão do Ocidente sobre o Oriente. Em nome de Deus, nobres e padres partem para o 
Oriente e, a pretexto de reconquistar a sepultura de Cristo para o controle da Igreja de Roma, cometem 
as maiores atrocidades.
A partir das Cruzadas, depois das grandes descobertas marítimas, desenvolveu-se um processo de 
expansão do comércio e de ressurgimento das cidades na Europa. As riquezas acumuladas proporciona-
ram o inanciamento da Revolução Industrial. O uso intensivo de máquinas e do trabalho especializado na 
linha de produção impulsionou a expansão do novo subsistema econômico e, a partir daí, do novo siste-
ma social, que ao ganhar escala desencadeou a erosão gradativa da civilização agrícola.
O im da era agrícola
Os feudos, unidades econômicas básicas dessa etapa inal da era agrícola na Europa, se conver-
teram em empecilhos à expansão do comércio. A fragmentação do território em milharesde proprie-
dades rurais no interior das quais eram falados dialetos distintos, vigoravam regras distintas, governos 
distintos, forças armadas distintas e referenciais de valor de troca distintos (unidades de medida de 
comprimento e peso, por exemplo), diicultaram o comércio em uma época em que não havia mercado 
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26 A sociedade agrícola
interno capaz de absorver uma produção em grande escala, muito menos de prover o novo sistema de 
produção de riqueza em ascensão, de matérias-primas e mão de obra abundantes e baratas.
Essa contradição impulsionou a formação dos Estados nacionais modernos na versão Absolutista. À 
força, as nações europeias foram, uma a uma, formando-se a partir da uniicação dos feudos. Espaços terri-
toriais mais amplos, no interior dos quais as trocas comerciais puderam acontecer sem barreiras, começa-
ram a reconigurar o sistema social da época, criando as bases da matriz produtiva da sociedade industrial 
emergente. Um território, um rei, uma lei, um exército, uma moeda, um único e padronizado sistema de 
medida para cumprimento e peso, um único e grande mercado nacional. Os Estados-nações, dessa forma, 
converteram-se em espécie de incubadoras das empresas que impulsionaram o lorescimento do capita-
lismo industrial, inicialmente na Inglaterra e na França, e, em seguida, no resto do mundo.
Atividades
1. Por que a coniguração estrutural subjacente a todas as civilizações existentes na era agrícola não se 
alterou ao longo do tempo, apesar de terem se formado civilizações soisticadas culturalmente?
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A sociedade agrícola 27
2. Quais foram os quatros princípios ilosóicos que a civilização ocidental moderna herdou das ci-
vilizações grega, romana e do cristianismo que servem até hoje como base do sistema de valores 
que norteia a organização sociopolítica dos países ocidentais?
3. Por que o sistema feudal passou a ser um empecilho à expansão do Capitalismo após as Revoluções 
Comercial e Industrial?
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28 A sociedade agrícola
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A sociedade industrial
A teoria das Ondas Civilizatórias, de Alvin Toler, parte de um pressuposto-chave. Trata-se da ideia 
de que existe uma relação de inluência mútua entre os subsistemas econômico, político, cultural e so-
cial que compõem todas as sociedades. Toler aplica esse modelo à análise da coniguração estrutural 
das ondas civilizatórias agrícola, industrial e pós-industrial, entendidas como sistemas integrados por 
partes interligadas: os subsistemas. No entanto, a relação de mútua inluência entre os subsistemas, isto 
é, o desencadeamento de mudanças no equilíbrio geral do sistema, provocado por eventuais alterações 
em uma de suas partes, não é mecânica nem determinista.
A observação empírica dos processos de transformação das matrizes sistêmicas da sociedade, 
na passagem da Pré-história para a era agrícola, da era agrícola para a era industrial e, agora, da era 
Industrial para a era pós-industrial, revela que o impacto da descoberta de novas ferramentas e técnicas 
na produção, organizadas a partir de um paradigma tecnológico revolucionário – no momento em que 
passam a ser usadas em larga escala, superando o paradigma tecnológico antecedente – desencadeia 
transformações no mundo do trabalho.
A vida de todos os membros de quaisquer sociedades depende, direta ou indiretamente, do tra-
balho produtivo, sem o qual não há sobrevivência, não há progresso social. Mudanças introduzidas nes-
sa esfera da atividade humana tendem a provocar alterações no modo de vida, nas crenças e valores, 
na organização social e nas relações de poder assentadas sobre o modelo de sociedade da fase ante-
rior da história e que se erigiu sobre a matriz produtiva que se encontra em processo de substituição. 
Portanto, a mudança nos sistemas de produção de riqueza das sociedades exerce papel extremamen-
te importante para o desencadeamento da transformação de uma onda civilizatória em outra, tal como 
nos revela a teoria de Toler.
A lógica do sistema de produção
Na sociedade agrícola, o método de produção era artesanal. Não havia divisão do trabalho vis-
to que os indivíduos ou núcleos de produção rural familiar controlavam todas as etapas do processo 
produtivo. Tanto na agricultura como na produção de artefatos, ao término do processo de plantio ou 
fabricação de utensílios, o resultado do trabalho pertencia integralmente ao indivíduo ou à família que 
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30 A sociedade industrial
o havia gerado. A produtividade do trabalho sob as técnicas e ferramentas da agricultura tradicional re-
quer muito trabalho braçal, o que demandava famílias numerosas nas quais várias gerações conviviam 
na mesma propriedade. Os resultados da produção também dependiam do conhecimento acumulado 
sobre o impacto da natureza nos ciclos de desenvolvimento do que era plantado. As chuvas, o Sol, as fa-
ses da Lua e as estações do ano inluenciam a vitalidade das plantas. Em uma época na qual o conheci-
mento era transmitido oralmente, os anciãos, detentores de mais experiência e sabedoria acumulados 
com o tempo e transmitidos de geração para geração, eram valorizados e respeitados devido à impor-
tância estratégica que seus conhecimentos representavam para a vida das famílias.
A civilização agrícola, como se pode ver, enquadra-se no modelo teórico de Toler ao constituir, a 
partir da unidade produtiva básica desse tipo de sociedade – a propriedade rural familiar tradicional – 
os seus correspondentes subsistemas, social, cultural e político.
Se a base da matriz sistêmica da civilização agrícola é o método artesanal de trabalho e a pro-
priedade rural familiar como unidade produtiva, seu equivalente na sociedade industrial é a fábrica, no 
interior da qual se opera um sistema de produção que combina o uso intensivo de equipamentos mecâ-
nicos com o método de gestão da produção baseado no trabalho especializado na linha de montagem. 
Com essa nova tecnologia – máquinas e o novo método de gestão –, toda a lógica do sistema de pro-
dução de riquezas muda. Se o artesão era generalista, o operário é especialista. Se a produção artesa-
nal gera produtos personalizados em pequena escala, a produção industrial gera grandes quantidades 
de produtos padronizados. Se a vida e o trabalho na sociedade agrícola eram dispersos no território, a 
sociedade industrial concentra trabalhadores em fábricas e cidades. Se o trabalho artesanal permite ao 
trabalhador administrar com relativa lexibilidade seu tempo, o trabalho industrial submete o trabalha-
dor à ditadura do relógio – despertador, de pulso, de controle de ponto –, pois a padronização e a sincro-
nização das tarefas na linha de montagem é essencial à eiciência do método. Se o trabalhador artesanal 
era seu próprio chefe, o trabalhador industrial é apenas uma peça em uma estrutura piramidal, que tem 
em seu topo uma elite cuja especialidade é pensar pelos outros integrantes da estrutura e mandar fa-
zer (TOFFLER, 2001, p. 59-72).
A lógica do sistema social
Se a fábrica é a ”célula-mãe” da sociedade industrial, nada mais lógico do que enxergarmos suas 
”criaturas” também como fábricas. As escolas como fábricas de operários, as universidades como fábri-
cas de reposição de peças da elite do sistema. Todos são ”matérias-primas brutas” que, submetidas a 
processos rotineiros de montagem, viram produtos da sociedade industrial.
A fábrica demanda trabalhadores livres e disponíveis, que vão atrás do trabalho onde ele estiver. 
Logo, a família precisa encolher. A família multigeracional da era agrícola migra do campo para a cida-
de dandolugar à família ”papai-mamãe”, na qual o pai vai para a fábrica e a mãe cuida da casa e dos i-
lhos (TOFFLER, 2001, p. 41-43).
Se o sistema produz grandes quantidades de produtos iguais, com publicidade veiculada em 
canais de divulgação de mensagens padronizadas, seus receptores-compradores ao consumi-los se 
transformam num exército uniformizado de iguais. Se a fábrica impõe a sincronização das tarefas espe-
cializadas, a linha de montagem precisa se estender para além dos seus muros, pondo a cadeia de supri-
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A sociedade industrial 31
mentos, o sistema de transportes e comunicações e a vida das pessoas na esteira sincrônica do tempo 
controlado por milhões de relógios dispostos aos olhos de todo mundo. Controlando a luz artiicial e 
cronometrando a passagem do tempo, a sociedade das fábricas também alterou essa dimensão psíqui-
ca da nossa percepção. Antes não era assim. Os seres humanos dormiam, despertavam e adaptavam a 
dinâmica do seu trabalho e de sua vida cotidiana conforme a alternância do dia e da noite, das fases da 
Lua e das estações do ano (TOFFLER, 2001, p. 59-72).
A lógica do sistema político
No clã agrícola, o chefe da família era o avô, respeitado por ser útil. No núcleo familiar operário, o 
chefe é o pai, provedor do lar. Muda a família, mudam os valores e as crenças. Sem utilidade econômica, os 
idosos são mandados para os asilos, autênticos depósitos de ”peças obsoletas” (TOFFLER, 2001, p. 41).
O poder também mudou de mãos fora da unidade familiar. A vida do camponês medieval 
era simples, rotineira, previsível. O poder tinha endereço, cabeças cobertas por coroas e solidéus e 
mãos que portavam cetros e báculos. O poder era fisicamente próximo do local de trabalho ou mo-
radia dos homens do povo, que sabiam que deviam submissão àqueles que habitavam os castelos 
e catedrais próximos dali: os senhores das terras nas quais vivia e os senhores da moral e das regras 
de obediência que permitiam aos donos do poder manter vivas a harmonia, a estabilidade e a co-
esão do sistema. Com a emergência da sociedade industrial o poder deslocou-se para ”mãos invi-
síveis”, ainda que na aparência ele parecesse continuar nos palácios governamentais ou nas mãos 
dos proprietários dos meios de produção, como pensava Karl Marx. Os ”donos” do dinheiro da so-
ciedade industrial tinham nos administradores das suas empresas ”sócios” que detinham, de fato, o 
poder (TOFFLER, 2001, p. 73-74).
A divisão do trabalho nas fábricas fragmentou o sistema de produção em milhares de partes es-
pecializadas, gerando a necessidade de um novo trabalhador, especialista em integrar, coordenar, sin-
cronizar e padronizar o funcionamento das peças e das engrenagens. Quando o trabalho era apenas 
artesanal, simples, pouco hierarquizado e gerador de pequenas quantidades de produtos consumidos 
ou trocados no círculo comunitário próximo, cada trabalhador era administrador do seu ”negócio”.
Com as hierarquias complexas da sociedade industrial, os organogramas, as planilhas, os luxos, 
os ciclos, os ritmos, os deslocamentos e os processos precisam ser controlados, organizados e adminis-
trados. Recursos, tempo, insumos e meios precisam ser avaliados e direcionados para os locais onde são 
necessários ao sistema. Milhões de tarefas complexas e especializadas dão origem a novas proissões, 
que ocupam o espaço intermediário entre a base e a cúpula do organograma padrão. Na base das pirâ-
mides das organizações icam os trabalhadores braçais, encarregados de obedecer e fazer sem pensar. 
No topo estão os encarregados de pensar e mandar. E nas posições intermediárias estratégicas estão 
aqueles de quem têm o poder de fazer (ou não) os comandos da cúpula chegarem à base. Aí estão os 
burocratas, ”detentores dos meios de integração” que, segundo Toler (2001, p. 73), são os verdadeiros 
donos do poder nas organizações hierarquizadas da sociedade industrial.
À medida que avançava a implantação da nova matriz tecnológica no sistema produtivo, 
expandia-se sua transposição para as outras dimensões da vida social, cultural e política da civiliza-
ção industrial. Assim como as fábricas criaram suas pirâmides do poder com seus departamentos ad-
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32 A sociedade industrial
ministrativos, a sociedade criou o Estado, com suas enormes corporações de burocratas encarregados 
de administrar a alocação dos recursos públicos e processar as decisões que o comando do sistema 
gera para sua base. Nessa máquina, o governo central encabeça uma autêntica ”máquina integracional” 
(TOFFLER, 2001, p. 76-77). Aos poucos, a corporação dos integradores ganha vida própria. Com corpo 
escorregadio e mãos invisíveis, a hidra burocrática estende seus tentáculos e começa a crescer e se mul-
tiplicar, fazendo-se parte estratégica na hierarquia intermediária de quaisquer organizações modernas, 
sejam elas privadas ou públicas, sejam elas capitalistas ou socialistas.
Com as organizações se tornando cada vez mais complexas, novas ferramentas de controle e ges-
tão se tornavam necessárias e novos e soisticados sistemas contábeis, de controles orçamentários e 
técnicas de gerenciamento de pessoas e da produção, aperfeiçoaram o poder de expansão do sistema. 
As ”elites integradoras”, na economia e na política lutavam por sua expansão, buscando dominar mais 
territórios para controlar mais riquezas e obter mais poder (TOFFLER, 2001, p. 92).
A integração política das nações europeias foi uma imposição determinada pela lógica da inte-
gração econômica. As Revoluções Comercial e Industrial aumentaram a produtividade do trabalho e o 
volume de mercadorias em circulação. Era preciso mais mercados para tantos produtos. Surgiu a inter-
dependência econômica a partir da integração dos mercados nacionais num sistema mundial de im-
portação de matérias-primas e exportação de manufaturados.
A serviço da expansão do sistema, desenvolveram-se os meios de comunicação e de transportes. 
Na era agrícola, a maioria dos indivíduos, inclusive os da elite, nascia, crescia e morria sem ir muito lon-
ge do território onde nascera. O industrialismo ampliou os horizontes físicos, a mentalidade e a visão de 
mundo de uma parcela signiicativa da humanidade.
A expansão dos meios de comunicação e de transporte transcontinentais representou a consoli-
dação dos mercados nacionais como atores econômicos e políticos do mercado mundial, consolidando 
o Estado-nação como uma estrutura-chave da civilização industrial. No entanto, as tentativas de ex-
pansão dos mercados e da autoridade política dos governos encontrava obstáculos nas fronteiras dos 
Estados nacionais. O surgimento de um sistema monetário foi o passo seguinte na integração da matriz 
da sociedade industrial em escala mundial (TOFFLER, 2001, p. 93).
O princípio da especialização galgou para as relações entre as nações. Com a consolidação do 
mercado em âmbito mundial, as nações foram assumindo suas funções na cadeia produtiva, tal como 
a especialização do trabalho na linha de montagem. Produtores, intermediadores, fornecedores, com-
pradores e assim por diante. Da mesma forma que a linha de montagem gerou a necessidade de seus 
administradores, a divisão internacional do trabalho criou a irreversível necessidade de formação das 
estruturas de gestão do mercado mundial, com sua correspondente ”elite integradora” concentrada nas 
poucas nações que assumiram a frente da Revolução Industrial e hegemonizaram as relações comer-
ciais do sistema de trocas desiguais que se formou entre colonizadores e colonizados (TOFFLER, 2001, 
p. 98).
O luxo das riquezas do sistema corria do Hemisfério Sul para o Norte ou das nações da primeira 
onda em direção às nações da segunda onda (TOFFLER, 2001, p. 98). Em busca de matérias-primas, mão 
de obra e mercados, os Estados do norte lançaram-se numa corrida desenfreada pela ocupação territo-

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