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AVALIAÇÃO E PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO W B A 04 13 _v 1. 0 2 Leonardo Ristow Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 AVALIAÇÃO E PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Marcio Teixeira Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) ________________________________________________________________________________________ Ristow, Leonardo. R597a Avaliação e periodização do treinamento/ Leonardo Ristow, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 41 p. ISBN 978-65-5903-036-1 1. Treinamento 2. Estímulos Tensionais 3. Avaliação I. Título. CDD 796.077 ____________________________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 6/2786 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Aspectos históricos da periodização de treinamento ________________ 05 Avaliação e prescrição do treinamento ______________________________ 21 Modelos de periodização de treinamento ___________________________ 38 Estímulos tensionais e metabólicos na musculação _________________ 54 AVALIAÇÃO E PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO 5 Avaliação e prescrição do treinamento Autoria: Leonardo Ristow Leitura crítica: Marcio Teixeira Objetivos • Conhecer a evolução histórica da periodização de treinamento. • Identificar os principais elementos que compõem os modelos de periodização. • Conhecer os principais modelos de periodização em cada período da história 6 1. Introdução Neste tema, conheceremos a história da periodização, desde sua origem até os modelos utilizados atualmente. Veremos como surgiram e quais fatores levaram ao desenvolvimento de diferentes modelos de periodização. Além disso, iremos nos familiarizar com alguns termos básicos utilizados. Apesar de existirem vários conceitos, todos parecem concordar que a periodização é a forma de planejar o treinamento. A organização e a estruturação do treinamento, por sua vez, têm como objetivo o máximo desempenho do atleta/equipe em um evento específico. Portanto, ao elaborar a periodização, o preparador físico ou personal trainer calcula as cargas de treinamento procurando melhorar o desempenho dos aspectos biomotores e funcionais. É evidente que o modo de organizar e planejar os treinos mudou muito desde a sua origem, da Grécia antiga até atualmente; por isso, existe uma divisão por períodos na história da periodização: • Período Empírico – da origem na Grécia Antiga até a década de 1950: surgem as primeiras ideias de sistematização e organização do treinamento de forma empírica, ou seja, baseada na experiência da tentativa e do erro. Nessa época, surgiram alguns princípios do treinamento, como o de progressão de treinamento. • Período Científico – entre as décadas de 1950 e 1970: momento em que algumas áreas da ciência forneciam dados bioquímicos referente às cargas de treinamento aplicadas; período em que surgiu o modelo clássico de periodização. • Período Moderno – da década de 1970 até os dias atuais: desenvolvimento do conhecimento científico, especificamente aquele voltado para o treinamento esportivo. Nesse período, 7 surgem modelos novos de periodização, mais alinhados com as necessidades do esporte contemporâneo. 1.1 Período empírico Inicialmente, a periodização era usada apenas com atletas, para que estes tivessem os melhores desempenhos esportivos. Com o passar dos anos, a “arte” de periodizar também tem sido utilizada por profissionais que prescrevem treinos para praticantes de exercício físico com diversos propósitos. De fato, nos dias de hoje, os Profissionais de Educação Física têm uma vasta gama de clientes, sejam atletas profissionais, atletas amadores e demais indivíduos com inúmeros objetivos. Para todos esses grupos, organizar os treinos de forma adequada é essencial e, por isso, conhecer os diferentes modelos de periodização possibilita otimizar os treinos. Embora seja uma discussão muito contemporânea no treinamento desportivo, a periodização já exista há muito tempo. Ainda nos Jogos Olímpicos da antiguidade, os gregos foram os primeiros a organizar e estruturar o treinamento. Segundo a mitologia grega, Milo de Cróton foi o primeiro atleta a usar o que conhecemos hoje por progressão de treinamento, ou seja, a cada período que se passava, a carga de treinamento aumentava (DIAS et al., 2016). Nessa época, Milo de Cróton utilizava como peso para o treino de força um bezerro. À medida que os dias iam passando, o bezerro crescia e ganhava peso, e, como consequência, o atleta precisava fazer mais força, havendo, assim, a progressão no treinamento. Esse “modelo” de periodização usado por ele parece ter sido eficiente, uma vez que era considerado o homem mais forte do mundo, vencendo os Jogos Olímpicos por diversas vezes (PRESTES et al., 2010). 8 Embora tenha tido início na Grécia Antiga, cabe aqui apresentar as contribuições desse período na periodização do jeito que a conhecemos hoje. Esse período se faz importante devido ao aumento do uso da ciência, uma vez que, inicialmente, a periodização era baseada na prática ou na experiencia de treinadores e atletas, com estes “testando” as melhores maneiras de treinar. Porém, a partir dos Jogos Olímpicos da era moderna, realizados em Atenas, em 1986, alguns estudos sobre treinamento esportivo e métodos de treinamento começaram a surgir. Esse período é considerado empírico, pois, se considerarmos em porcentagem o tipo de conhecimento usado para a prescrição, o conhecimento da prática ainda era superior ao científico. Com a especialização do esporte, principalmente olímpico, houve a necessidade de os países terem melhores desempenhos esportivos, levando a um maior investimento para compreender como esse desempenho podia melhorar (COSTA, 2013). De fato, no início do século 1920, estudos sobre a fisiologia e a biomecânica tiveram um aumento na qualidade e na quantidade, permitindo que treinadores usassem os resultados dessas investigações no planejamento. Foi nessa época, inclusive, que surgiu a divisão do treinamento em três períodos: geral, específico e competitivo, tendo sido proposta pelo soviético Kotov, na obra Olympic Sport (DIAS et al., 2016). Cabe ressaltar aqui a proposta da divisão do planejamento por períodos em que cada um dos períodos possui um objetivo para o desenvolvimento. A divisão do treinamento nesses três períodos contribuiu para que outras teorias fossem elaboradas, como a alternância entre o volume e a intensidade de treinamento e a especificidade das capacidades físicas de acordo com as exigências de cada modalidade. Nesseperíodo surgiu também o termo “carga de treinamento”, conceito ainda amplamente discutido na comunidade cientifica, tanto que cada 9 autor traz uma definição diferente e sugere diferentes elementos que compõem sua estrutura. O fato é que a carga é o elemento principal da periodização, pois é ela que atua sobre o organismo do atleta, o que gera adaptações agudas e crônicas. Nesse momento, não cabe discutir o que cada autor acredita ser necessário para gerar tais adaptações. O importante aqui é destacar que no período empírico surgem os conceitos de carga interna (relacionada ao efeito do treinamento do organismo do atleta), externa (referente ao estímulo do treinamento) e psicológica (que se refere à percepção do atleta quanto ao treinamento). Ainda há a distinção entre as cargas gerais e específicas, com as quais foi possível determinar os diferentes períodos do planejamento. Desse modo, para identificar as diferenças entre os modelos, é preciso conhecer sobre as cargas de treinamento e as suas influências em todo o planejamento. Para Bompa (2002), a carga externa de treinamento contém volume, intensidade e densidade: • O volume de treinamento é componente quantitativo da carga, ou seja, o tempo de duração da atividade ou o número de repetições. • A intensidade de treinamento é componente qualitativo da carga, ou seja, a velocidade ou o peso levantado. • A densidade de treinamento é a relação entre descanso e estímulo. A partir da variação desses três elementos, pode-se determinar a carga interna. Vejamos as diferentes séries a seguir: 1. 3 x 10 com 80% de 1RM, com 1 minuto de intervalo. 2. 3 x 15 com 80% de 1RM, com 1 minuto de intervalo. 10 A diferença entre as duas séries está no volume. Enquanto a intensidade (80% de RM) e o intervalo se mantêm os mesmos, o número de repetições da série de número 2 é maior do que a série de número 1. Nesse caso, pode-se afirmar que a segunda série estimula mais a resistência muscular localizada quando comparada com a primeira. Vejamos outra comparação: 1. 3 x 10 com 80% de 1RM, com 1 minuto de intervalo. 2. 3 x 10 com 80% de 1RM, com 15 segundos de intervalo. A diferença entre as duas séries está na densidade. Enquanto a intensidade (80% de RM) e o volume (3 x 10) se mantêm os mesmos, o tempo de descanso entre as séries no exemplo de número 2 é menor do que no de número 1. Nesse caso, pode-se afirmar que a segunda série estimula mais a resistência muscular localizada quando comparada com a primeira. Mais adiante, veremos como essa diferença influencia na carga interna. Em suma, podemos observar que no período empírico a evolução da periodização se deu por meio do uso do conhecimento prático para o início do uso da ciência. No entanto, mesmo hoje em dia, nas salas de musculação ainda vemos muitos praticantes com conhecimento empírico tentando justificar as suas práticas sem ter embasamento científico. 1.2 Período científico Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo estava divido em dois blocos, o Bloco Oriental (liderado pela antiga União Soviética) e o Bloco Ocidental (liderado pelos Estados Unidos). Esse período na história, conhecido como Guerra Fria, foi um momento importante para o desenvolvimento do treinamento esportivo. É importante ressaltar que essa guerra leva o nome de fria, pois os líderes de cada bloco não chegaram a combater com soldados e armas de fogo; na verdade, o 11 combate foi para demonstrar qual bloco tinha superioridade política e ideológica (ISSURIN, 2010). Assim, uma forma de mostrar ao mundo qual país ou bloco era mais forte era durante os eventos esportivos, mais especificamente os Jogos Olímpicos. Desse modo, o investimento em ciência e investigações para a melhora do desempenho esportivo teve um grande aumento. Nesse contexto, observa-se uma superioridade soviética, já que uma grande parcela das teorias e dos estudos ligados ao treinamento esportivo é de autores russos ou de países da antiga União Soviética, como Matveev, Verkoshaski, Platonov e Bompa. Uma das maiores contribuições desse período e que serve como base para os modelos de periodização é o conceito da Síndrome de Adaptação Geral (SAG), proposto por Hans Seyle em 1936, que descreve ou explica como o organismo reage aos estímulos. Posteriormente, Yakovlev apresenta em 1949 o fenômeno da supercompensação, relacionando a quebra da homeostase gerada pelo estímulo com o tempo de recuperação (DIAS et al., 2016). Assim, dependendo do volume, da intensidade e da densidade do treinamento (carga externa), é possível conhecer a influência no organismo (carga interna). Um treino com carga leve (intensidade leve, poucas repetições e tempo de descanso grande) provavelmente irá gerar uma pequena quebra da homeostase, sendo o tempo de recuperação, nesse caso, rápido. Já um treino com carga alta (alta intensidade, número de repetições até a falha e curto tempo de recuperação) provavelmente irá gerar uma grande quebra da homeostase e o tempo de recuperação será longo. Com base nesses dois achados (SAG e supercompensação), Matveev elabora, em 1955, um modelo de periodização cientificamente fundamentado, denominado de Modelo Clássico, considerado um dos episódios mais importantes da periodização, tanto que seu autor é considerado o pai da periodização do treinamento desportivo. 12 Esse modelo propõe um caráter ondulatório das cargas, assim como surgem os ciclos de treinamento: macrociclo (temporada), mesociclo e microciclo, adequando a organização do treinamento ao calendário esportivo da época. Portanto, a partir desse período, os modelos de periodização ou as propostas de treinamento somente são aceitos pela comunidade quando possuem embasamento científico. Os ciclos de treinamento terminam quando há um período de descanso (período de tempo destinado à recuperação do atleta), dando a característica ondulatória, aceitos mediante teorias cientificas. No modelo de Matveev, o macrociclo compreende de 12 a 20 semanas de treinamento; o mesociclo de 4 a 7 semanas; e o microciclo se refere à semana de treinamento (ISSURIN, 2010). A partir desse contexto, vejamos um exemplo: um atleta treina de segunda a sábado e descansa no domingo. Nesse caso, o microciclo se inicia na segunda e termina no domingo. A soma de quatro microciclos, sendo o último com cargas mais leves do que os anteriores, determina um mesociclo de um mês. Por fim, a soma de cinco mesociclos determina um macrociclo de cinco meses. O período transitório caracteriza o fim de um macrociclo, ou seja, um período recuperativo de pelo menos uma semana. O modelo proposto por Matveev tem um volume elevado no período preparatório, com o aumento da intensidade à medida que a competição principal se aproxima. Na prática, o início da temporada é caracterizado por treinos de alto volume e baixa intensidade, e, à medida que o tempo passa, o volume diminui e a intensidade aumenta. Além disso, a dinâmica das cargas acontece pela variação entre o volume e a intensidade; porém, os valores máximos de ambas nunca ocorrem no mesmo momento, ou seja, quando a intensidade aumenta, o volume baixa e vice-versa. Devido a essa dinâmica, o modelo clássico é considerado ondulatório, uma vez que as cargas estão constantemente oscilando (DIAS et al., 2016). 13 Embora tenha sido considerado um marco histórico, o modelo clássico recebeu inúmeras críticas, como: muito tempo destinado ao período de preparação geral; várias capacidades físicas desenvolvidas ao mesmo tempo; poucos picos de desempenho durante a temporada; e pouca importância aos estímulos específicos. Tais críticas estão relacionadas ao uso desse modelo para atletas de alto nível, já que o treinamento destes deve ter uma carga elevada (FORTEZA DE LA ROSA, 2009). Além disso, as exigências do calendário esportivo da época em que esse modelo foi elaborado vêm sofrendo mudanças. Desse modo, as competições esportivas dos anos 1950 são completamente diferentes das dosanos 1970, que por sua vez mudaram muito para as competições do Século 21. Para se ter uma ideia, um atleta de nível mundial de natação disputava em 1988 uma média 30 provas, enquanto em 1992 disputava cerca de 80 provas. Assim sendo, o planejamento e a dinâmica das cargas devem estar adequados ao calendário de competições do atleta (PLATONOV, 2008). As críticas relacionadas aos atletas de alto nível não são aplicadas aos atletas jovens, uma vez que, devido às características apresentadas, o modelo clássico é altamente recomendado para a formação de atletas. Voltando ao planejamento para atletas de alto rendimento, com o avanço científico, novas descobertas na fisiologia do exercício contribuíram para o surgimento de modelos contrários ao proposto por Matveev. Ainda no período científico, surgiram o modelo de Estrutura pendular, o Treinamento Modular e o Modelo Estrutural de Altos Rendimentos (DIAS et al., 2016). Cada modelo é adequado a uma necessidade ou modalidade. O modelo proposto por Arosiev e Kalinin em 1971, denominado de Estruturação Pendular, é um aperfeiçoamento do modelo clássico. Nele é proposto um planejamento para as modalidades de luta, envolvendo também os aspectos técnicos e táticos dos esportes. Embora mantenha a mesma divisão de preparação geral e específica, uma das melhoras desse 14 modelo é a possibilidade de ter maiores picos de rendimento nas competições, o que acontece devido à mudança na organização dos microciclos (FORTEZA DE LA ROSA, 2009). Nesse modelo de planejamento, existem dois tipos de microciclo: principais e reguladores, os quais respectivamente têm a função de aperfeiçoar uma capacidade específica e recuperá-la, enquanto desenvolvem as capacidades de forma geral. A denominação de “estrutura pendular” condiz com o movimento de pêndulo que os ciclos gerais e específicos fazem. Assim, enquanto a cada ciclo as cargas específicas aumentam, as cargas gerais diminuem, até desaparecerem (FORTEZA DE LA ROSA, 2009). Dessa forma, quanto maior a diferença entre as cargas gerais e as específicas, maior a amplitude do pêndulo e mais próximo às necessidades competitivas da modalidade o treinamento será. Porém, podem existir momentos em que as cargas gerais são maiores do que as cargas específicas, considerando-se, nesse caso, que houve um cruzamento dos pêndulos. Outra diferença do modelo clássico é que o período não é extensivo, ou seja, com as cargas de treinamento mais elevadas, causando consequentemente maior impacto no organismo do atleta, os períodos de treinamento são menores (FORTEZA DE LA ROSA, 2009). O modelo de Vorobiev, denominado Treinamento Modular, foi elaborado em 1973 para atletas de levantamento olímpico e se opõe ao modelo clássico, principalmente quanto ao uso de cargas gerais. Nele, são utilizadas cargas altas com grandes variações no volume de treino, não permitindo que o organismo se adapte aos estímulos. A ideia é a de que o calendário esportivo não possibilita tempo suficiente para a preparação geral, e, por isso, as cargas específicas são predominantes (DIAS et al., 2016). 15 Outro modelo que apresenta uma proposta diferente de Matveev é o Modelo Estrutural de Altos Rendimentos, proposto por Tschiene em 1977. Semelhante ao Treinamento Modular, utiliza uma grande variação entre volume e intensidade e tem como objetivo manter o desempenho do atleta elevado ao longo de uma temporada com muitas competições (DIAS et al., 2016). A grande diferença dele para os demais é a criação de intervalos profiláticos, ou seja, um microciclo inteiro de atividades regenerativas. Como a estrutura do treinamento é extremamente intensa e sem tempo para gerar a supercompensação, o autor sugere que é necessária ao menos uma semana de baixa intensidade (às vezes até sem treino) para que o corpo consiga se recuperar. Essa foi uma proposta inovadora para a época e permite que o atleta mantenha o alto nível durante toda a temporada (FORTEZA DE LA ROSA, 2009). Em suma, podemos observar que no período científico as propostas de periodização utilizam a ciência como base para organizar o treinamento. Além disso, começam a surgir propostas específicas para cada necessidade. Assim, podemos refletir aqui que não existe uma periodização única, e sim vários modelos para diferentes objetivos 1.3 Período moderno Este período é caracterizado pelo surgimento de propostas de periodização contemporâneas. Novamente, o avanço na fisiologia, juntamente com a ciência do treinamento esportivo, possibilitou o desenvolvimento de modelos mais adequados às necessidades esportivas atuais. De fato, os modelos desse período consideram o calendário e o sistema de competições essenciais para a prescrição dos treinos (PLATONOV, 2008). Assim, são contempladas as diferenças entre as modalidades: individuais e coletivas; cíclicas (ex. provas de pista no atletismo, natação, ciclismo de estrada) e acíclicas (ex. jogos e lutas); de força e de resistência; 16 entre outros fatores. Além disso, os aspectos psicológicos passaram a ter destaque. Os modelos contemporâneos possuem as seguintes características: o treinamento passou a ter cargas individualizadas; as cargas passaram a concentrar no máximo duas orientações; a duração dos períodos ficou mais curta; e as capacidades físicas passaram a ser desenvolvidas em sequência (DIAS et al., 2016). Enquanto os modelos anteriores desenvolviam várias capacidades físicas simultaneamente ao longo da temporada, alterando apenas a ênfase que se dava para cada uma (ex. desenvolver um pouco mais de resistência no início da temporada para desenvolver um pouco mais de força ao final), nos modelos desse período, desenvolve-se predominantemente uma capacidade física durante um curto período, depois se desenvolve outra capacidade e posteriormente outra (ex. primeiro desenvolve-se a força, depois a potência e por último a velocidade). A seguir são apresentados os aspectos característicos de cada modelo: Treinamento em Blocos, Modelo Integrador, Modelo ATR, Modelo de Bompa, Sinos estruturais e Cargas seletivas. Um dos modelos mais conhecidos é o Treinamento em Blocos, proposto por Verkhoshanski em 1979. A grande diferença desse modelo para os anteriores são as cargas concentradas e heterogêneas, ou seja, o desenvolvimento de uma capacidade física durante um curto tempo. O início da temporada é caracterizado por um declínio do desempenho do atleta, devido à concentração da carga. Porém, com o passar das semanas e com a mudança na capacidade física desenvolvida, ocorre a supercompensação. Essa supercompensação “demorada” é denominada de “efeito de acumulação retardada de treinamento” (ISSURIN, 2010). Em vez de mesociclos, Verkhoshanski divide o macrociclo em blocos (A, B e C), em que cada um desenvolve uma capacidade física específica e tem a duração de cinco semanas em média, permitindo que o atleta atinja o pico de desempenho a cada três ou quatro meses. O primeiro bloco (A) tem como objetivo desenvolver a força muscular, considerada a base 17 para qualquer modalidade esportiva; o bloco seguinte (B) tem como objetivo desenvolver as capacidades físicas e as demandas específicas da modalidade; e o último bloco (C) é composto pelas semanas pré-competitiva e de competição, sendo nesse bloco que ocorre a supercompensação (ISSURIN, 2010). Proposto em 1984, o Modelo Integrador é específico para modalidades em que é exigida do atleta uma grande potência muscular, como o lançamento de martelo. Para o seu autor, Bondarchuk, esse modelo permite que o atleta atinja o pico de desempenho entre dois e oito meses de treinamento. A individualidade biológica é a principal característica, já que há a necessidade de acompanhar as respostas fisiológicas dos atletas para planejar e organizar o treinamento. Assim como o modelo de Verkhoshanski, este também possui três fases, mas com denominações diferentes: desenvolvimento, manutenção e descanso (DIAS et al., 2016). Outromodelo muito semelhante ao de Verkhoshanski é o ATR, proposto por Issurin em 1985. Nele, a periodização também é organizada em blocos, denominados: Acumulação, Transformação e Realização. Embora tenha como base o efeito de acumulação retardada de treinamento, a grande diferença entre os modelos é que, no proposto por Issurin, o primeiro bloco deve priorizar cargas com maior efeito residual, seguido por blocos com cargas de menor efeito residual, não devendo necessariamente iniciar somente com o trabalho de força. O Modelo de Bompa, proposto em 1986, é uma adaptação do modelo clássico de Matveev. Para o autor, o modelo clássico não é adequado às demandas do esporte contemporâneo, tampouco supre as necessidades das modalidades de potência e velocidade. Assim, esse modelo utiliza a mesma organização da periodização clássica em período preparatório (geral e específico), competitivo e transitório. Como seu foco principal é o desenvolvimento da potência anaeróbica, Bompa (2002) estabelece 18 as capacidades físicas que devem ser priorizadas em cada etapa de treinamento: 1. Adaptação anatômica, com exercícios com intensidade de 60% de 1 RM, variando entre 10 e 15 repetições. 2. Fase de hipertrofia, com séries entre 8 e 12 repetições, com intensidade de 70% de 1 RM. 3. Desenvolvimento da força máxima, com intensidade de 85% de 1 RM e séries de 6 a 8 repetições. 4. Intensidade e volume são mantidos, o que muda é a velocidade de execução, transformando a força em potência. O Modelo dos Sinos Estruturais, proposto por Forteza De La Rosa em 1998, é muito semelhante à periodização pendular de Arosiev. Porém, no modelo mais contemporâneo não é permitido que a preparação geral seja maior que a preparação específica. Para isso, é essencial determinar as direções do treinamento, ou seja, ter bem claro quais são as necessidades dos atletas ou da equipe (FORTEZA DE LA ROSA, 2009). Desse modo, as cargas específicas, denominadas de direções condicionantes do rendimento, sempre serão maiores do que as cargas gerais ou de suporte, denominadas de direções determinantes de rendimento. Para o autor, cada início de macrociclo deve ter a proporção de 45% de carga geral e 55% de carga específica (FORTEZA DE LA ROSA, 2009). A Periodização de cargas seletivas foi proposta por Antônio Carlos Gomes em 2002. Esse modelo tem como objetivo suprir as demandas do longo e intenso calendário do futebol profissional. Diferentemente dos esportes individuais e cíclicos, em que o período competitivo é curto e são exigidos picos de desempenho, para o futebol e outros esportes coletivos, o período preparatório é curto e o competitivo é relativamente longo. Assim, esse modelo pode ser organizado em 52 semanas, com mesociclos de um mês de duração, com cada um selecionando uma capacidade física específica para ser desenvolvida. Além disso, as 19 sessões de treinamento devem ser separadas, com o treino físico não acontece o treino tático e vice-versa (DIAS et al., 2016). Ao longo da história da periodização e principalmente nesse último período, vimos o quão específico e detalhado é o planejamento. Assim, neste tema, pudemos conhecer a respeito da evolução histórica da periodização de treinamento e os principais (mas não todos) modelos de periodização. Desde a Grécia Antiga até o contexto atual, pode-se destacar o uso do conhecimento científico da fisiologia, bioquímica, biomecânica e de outras áreas no embasamento para a prescrição do treinamento. Especificamente no contexto atual, reconhece-se que cada modelo possui características que atendem a necessidades especificas. Portanto, cabe ao Profissional de Educação Física ter um conhecimento geral sobre os diferentes modelos para selecionar aquele que irá suprir as suas necessidades. Referências Bibliográficas BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. São Paulo: Phorte, 2002. COSTA, Ignacio Alejandro. Los modelos de planificación del entrenamiento deportivo del siglo XX. Revista Electrónica de Ciencias Aplicadas al Deporte, Buenos Aires, v. 6, n. 22, set. 2013. Disponível em: http://redi.ufasta.edu.ar:8080/ xmlui/bitstream/handle/123456789/367/116-370-1-PB.pdf?sequence=1. Acesso em: 29 set. 2020. DIAS, Helton Magalhães et al. Evolução histórica da periodização esportiva. Corpoconsciência, Cuiabá, v. 20, n. 1, p. 67-79, 2016. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/ view/4213. Acesso em: 29 set. 2020. FORTEZA DE LA ROSA, Armando. Treinamento desportivo: carga, estrutura e planejamento. São Paulo: Phorte, 2009. http://redi.ufasta.edu.ar:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/367/116-370-1-PB.pdf?sequence=1 http://redi.ufasta.edu.ar:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/367/116-370-1-PB.pdf?sequence=1 20 ISSURIN, Vladmir B. New horizons for the methodology and physiology of training periodization. Sports medicine, [s.l.], v. 40, n. 3, p. 189-206, mar. 2010. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20199119/. Acesso em: 29 set. 2020. PLATONOV, Vladimir. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo: Phorte, 2008. PRESTES, Jonato et al. Prescrição e periodização do treinamento de força em academias. São Paulo: Manole, 2010. 21 Avaliação e prescrição do treinamento Autoria: Leonardo Ristow Leitura crítica: Marcio Teixeira Objetivos • Conhecer as fases da prescrição do treinamento. • Identificar as variáveis de treinamento. • Aplicar os dados da avaliação física na prescrição do treinamento. 22 1. Introdução Neste tema, abordaremos sobre a prescrição do treinamento. O treinamento elaborado sem um planejamento prévio, com a definição de um cronograma com metas estipuladas por etapas, não terá uma garantia mínima de sucesso. Desse modo, no início do macrociclo, o preparador físico deve coletar dados sobre seus atletas para estipular as cargas que irão cumprir com os objetivos de cada etapa de treinamento. No caso do treinamento visando à melhoria de desempenho esportivo, o calendário deve ser organizado para que o pico de desempenho seja na competição mais importante, enquanto no que visa à melhora da composição corporal, seja para o emagrecimento ou para a hipertrofia, cabe ao profissional junto com o cliente definir quando será atingida essa meta. O ato de planejar envolve três fases: pré-projeto de treinamento, diagnóstico e planejamento propriamente dito. Assim, independentemente do objetivo, seja para melhora da capacidade funcional ou da composição corporal, a prescrição do treinamento deve seguir essas fases. 1.1 Fase de pré-projeto de treinamento Esta fase tem como objetivo recolher o maior número de informações a respeito do esporte e das competições a serem disputadas. Como a prescrição dos exercícios tem como base a periodização esportiva, alguns passos dessa fase não precisam ser cumpridos por aqueles que têm a meta de melhorar a composição corporal. Ao longo do texto, será enfatizada essa diferença entre os dois objetivos de treinamento. O primeiro passo é a familiarização com o esporte, devendo o profissional conhecer os aspectos físicos, técnicos e táticos. Para isso, deve analisar vídeos de jogos, ler artigos a respeito das exigências das 23 modalidades e conversar com atletas e treinadores mais experientes (DANTAS, 2003). Quanto aos aspectos técnicos e táticos, o preparador físico deve estar alinhado com o técnico da equipe, pois é ele quem irá definir o esquema tático, no qual irá determinar o nível de movimentação dos atletas. Embora cada esporte tenha pré-definidos os sistemas energéticos e as capacidades físicas envolvidas, a mudança no esquema tático pode mudar a hierarquia das necessidades. Por exemplo, uma equipe de basquete que joga no contra-ataque deve estar bem preparada para executar movimentos de velocidade de descolamento e ter resistência anaeróbica para realizar isso várias vezes durante o jogo; enquanto uma equipe que atua forte na marcaçãodeve priorizar a resistência aeróbica. O segundo passo é conhecer o calendário de competições. É comum ao longo de um macrociclo que os atletas (no caso de esportes individuais) ou as equipes participem de duas ou mais competições. Portanto, o preparador físico deve conhecer o local e suas condições geográficas (clima, altitude, fuso horário etc.), a data, os sistemas de competição e seus regulamentos e a logística (viagens, hospedagem etc.) (DANTAS, 2003). Após a definição do calendário, junto com a comissão técnica devem ser definidas as competições mais importantes, ou seja, aquelas em que os atletas deverão estar em melhores condições. Cabe salientar que esses dois primeiros passos devem ser realizados por aqueles profissionais que irão elaborar o planejamento para a melhora do desempenho. O terceiro passo da fase de pré-planejamento deve ser realizado pelos profissionais que possuem clientes com o objetivo de melhora da composição corporal. Aqui, devem ser levantados os recursos: local de treinamento, equipamentos, horários e dias de treino. Esse é um importante passo, pois influencia diretamente na prescrição das sessões e dos microciclos de treinamento (DANTAS, 2003). 24 O quarto passo é realizado para dois objetivos. O primeiro deles consiste em identificar as capacidades físicas que serão envolvidas. É essencial reconhecer cada uma delas, pois as variações entre os elementos da carga de treinamento (intensidade, volume e densidade) determinam o desenvolvimento direto de uma capacidade (GOMES, 2009). Assim, quando a sessão de treino é elaborada com exercícios de alta intensidade, baixo volume e pouco densidade (grandes intervalos), é desenvolvida a força máxima. De outra forma, quando são prescritos treinos de baixa intensidade, alto volume e muita densidade (pequenos intervalos), é desenvolvida a resistência de força. A relação entre essas capacidades físicas é ilustrada na figura a seguir. Figura 1 – Relação entre as capacidades físicas Fonte: elaborada pelo autor. Ao analisar essa figura, percebe-se certo antagonismo entre as capacidades, ou seja, quando é priorizado o treino de força, desenvolve- se menos resistência. Da mesma forma, quando é priorizado o treino de velocidade, desenvolve-se menos força. Porém, existem as capacidades físicas provenientes da junção dessas duas capacidades: força + Velocidade 25 resistência = resistência muscular localizada; força + velocidade = força explosiva; e velocidade + resistência = resistência anaeróbica (DANTAS, 2003). A seguir, descrevemos cada uma delas: • Força: capacidade de exercer tensão muscular contra uma resistência, sendo máxima ou não, com ou sem a produção de movimento. Nesse sentido, há a força dinâmica quando o movimento é produzido, também denominada de isotônica. Já a força estática acontece quando a força se iguala à resistência, não produzindo movimento, também denominada de isométrica. Por exemplo: levantar, puxar ou empurrar uma resistência (seja uma barra, peso do corpo, elástico, anilhas etc.). • Força explosiva: é a capacidade de executar movimento rápidos e que necessitam vencer uma resistência; alguns autores a denominam de potência muscular. É uma capacidade física determinante em modalidades como: levantamento de peso olímpico; saltos, arremessos e lançamentos no atletismo; e natação (provas de velocidade). • Resistência muscular localizada: capacidade de um grupo muscular de executar repetidos movimentos, sem fadigar e mantendo a qualidade. Por exemplo: séries de musculação com 30 repetições ou mais. • Resistência: capacidade física caracterizada pela execução de um movimento que envolva vários grupos musculares. Por exemplo: modalidades cíclicas (ciclismo, corrida, natação, remo etc.) realizadas com baixa intensidade e grande volume. • Resistência anaeróbica: capacidade física que envolve exercícios de alta intensidade e duração baixa a moderada (até um minuto). Por exemplo: um tiro de corrida de 200 metros ou uma série de musculação com 15 repetições. 26 • Velocidade: capacidade física que permite a realização de uma ação no menor tempo possível. Ao contrário da força explosiva, não possui grande resistência a ser vencida. Por exemplo: arremesso de uma bola de basquete ou ataque no vôlei. O último passo dessa fase é a definição dos procedimentos de avaliação, que está diretamente relacionado ao objetivo do treinamento. Portanto, se o objetivo for a melhora da composição corporal, devem ser estabelecidos como avaliação física protocolos que indiquem os níveis de gordura corporal e de massa muscular (bioimpedância, aferição de dobras cutâneas, DEXA etc.) (DANTAS, 2003). Caso seja a melhora do desempenho, deve-se selecionar o teste que avalie a capacidade a ser desenvolvida, como: força máxima (teste de 1RM); resistência aeróbica (teste de Cooper); resistência anaeróbica (teste de corrida de 40 segundos); resistência muscular localizada (teste de flexão de braços); força explosiva (teste de impulsão vertical); e velocidade (teste de corrida de 50 metros). Há dois pontos importantes aqui. O primeiro se refere às capacidades que não têm como objetivo serem desenvolvidas, mas sobre as quais os testes fornecerão informações importantes para o treinamento. Por exemplo, na prescrição de treinos para a melhora da composição corporal, o teste de Cooper fornece dados para a prescrição das zonas de intensidade das atividades aeróbicas, importantes na oxidação dos ácidos graxos. Já o segundo ponto são as modalidades que envolvem várias capacidades físicas, podendo ser elaboradas baterias de testes, em que são selecionados e aplicados três ou mais testes. Como podemos ver, são muitas as informações a que o profissional deve estar atento para a prescrição do treinamento, e essa ainda é a primeira fase da prescrição. Então, para não deixar passar nada, a seguir trazemos um resumo da fase de pré-projeto do treinamento (os dois primeiros passos são exclusivos da preparação física voltada para a melhora do desempenho esportivo): 27 1. Levantar informações sobre a modalidade. 2. Conhecer o calendário esportivo. 3. Levantar informações sobre os recursos. 4. Identificar as capacidades físicas envolvidas no treinamento. 5. Definir os procedimentos de avaliação. 1.2 Fase de diagnóstico Nesta fase, o objetivo é organizar no calendário os períodos e ciclos de treinamento. Após definir o calendário de competições na fase anterior, ou seja, quando deverá ocorrer o pico da performance, o primeiro passo é definir quanto tempo irão durar os períodos preparatório, competitivo e transitório. No caso do treinamento para a melhora da composição corporal, não raro pessoas colocam como meta estar com a composição corporal para um evento social (como casamento ou aniversário) ou o verão. Nesse caso, o pico de performance seria esse evento especial. O segundo passo é dividir o período preparatório em duas fases: geral e especial. O primeiro deve adaptar ou preparar o organismo para a próxima fase. Na musculação, corresponde ao período de adaptação, que é realizado antes do treino específico para hipertrofia. É importante ressaltar que esse período varia de acordo com as condições do atleta no início da temporada (GOMES, 2009). As condições do atleta são afetadas pela duração das férias e pelas atividades que realizou. Quando este se manteve ativo durante esse período, a preparação geral dura menos tempo. No caso da prescrição para a melhora do desempenho competitivo, essa fase não pode passar de cinco meses antes da competição (período determinado para a preparação especial) (DANTAS, 2003). Já na fase especial de preparação, a prioridade devem ser as capacidades físicas específicas da modalidade. Nesse caso, para os esportes de força, o atleta dedica-se para o treinamento da força; 28 para esportes de resistência, o foco deve ser na resistência; e assim sucessivamente. Quanto mais rápida for a preparação geral, maistempo haverá para a preparação especial, a qual, como já exposto, deve ser de pelo menos cinco meses (DANTAS, 2003). O período competitivo é composto por um período que antecede a competição, denominado tapering ou polimento, sendo utilizado principalmente em modalidades em que a duração da competição é menor do que uma semana, como no caso de esportes como natação, atletismo, triatlo etc. No polimento, a carga de treinamento baixa, os níveis fisiológicos dão um “salto” na melhora, e os elementos técnicos e táticos se tornam prioridade (MONTEIRO; LOPES, 2009). Já o período competitivo propriamente dito diz respeito ao período em que estiver ocorrendo a competição. No caso dos jogos coletivos, pode durar até nove meses (exemplo: futebol profissional). Por sua vez, o período transitório, como o próprio nome sugere, é a transição entre um macrociclo e outro, podendo estar entre as temporadas ou entre o pico de rendimento e o início de um novo ciclo (MONTEIRO; LOPES, 2009). Após a definição dos períodos, o próximo passo é definir os mesociclos, período entre três e seis semanas, sendo geralmente considerado o mês (quatro semanas). Os principais tipos de mesociclo são: incorporação, que acontece nas primeiras semanas de cada macrociclo e sua característica é ser de baixa intensidade, com aumento gradual do volume; desenvolvimento, que tem como característica o desenvolvimento das capacidades físicas e deve priorizar as capacidades especificas da modalidade; estabilizador, cujo objetivo, como o nome sugere, é consolidar os ganhos de desempenho; recuperativo, que se caracteriza por ter volume e intensidade baixos; e pré-competitivo, que diz respeito ao polimento (MONTEIRO; LOPES, 2009). Ao definir os mesociclos, o próximo passo é estabelecer a organização dos microciclos. Os principais tipos de microciclo são: choque, 29 caracterizado pelo desenvolvimento das capacidades físicas priorizadas; ordinário, também caracterizado pelo desenvolvimento, mas em menor nível; estabilizador, caracterizado pela manutenção das capacidades físicas; recuperativo, caracterizado por cargas relativamente baixas, com o objetivo de recuperar o organismo; e de controle, planejado para a realização de testes (DANTAS, 2003). Para determinar o tipo de mesociclo, é necessário analisar os microciclos que o compõem. Assim, o mesociclo de incorporação é basicamente estruturado por microciclos ordinários; o de desenvolvimento é composto basicamente por microciclos de choque; o estabilizador é composto basicamente por microciclos estabilizadores e ordinários; o recuperativo é composto por microciclos recuperativos; e o pré- competitivo é composto por microciclos regressivos, de choque até recuperativo. É importante destacar que cada mesociclo se encerra com um microciclo recuperativo (DANTAS, 2003). Então por que não são definidos primeiramente os microciclos no lugar dos mesociclos? De fato, essa é apenas uma proposta de elaboração, podendo ser realizada outra sequência de prescrição de treinamento. Conforme exposto, esse formato tende a ser mais fácil, pois, ao definir previamente o mesociclo, o preparador físico já sabe que este deve ser constituído por certos microciclos. Assim, acredita-se que esse passo a passo siga uma ordem lógica de prescrição. As denominações das etapas e fases de treinamento podem ser confusas no começo, porém, com a prática da elaboração da prescrição do treinamento, ficarão cada vez mais familiares. Para ficar mais simples de organizar o passo a passo do planejamento, apresentamos um resumo da fase de diagnóstico: 1. Definir a duração dos períodos de treinamento (preparatório, competitivo e transitório). 30 2. Definir a duração das fases do período preparatório (geral e específico). 3. Definir os mesociclos e suas durações. 4. Organizar os microciclos dentro dos mesociclos. Além das funções já descritas, é na fase de diagnóstico que as avalições físicas são realizadas. Lembrando que os dados coletados por meio dos testes selecionados devem fornecer informações importantes para a prescrição do treinamento. 1.3 Fase de planejamento do treinamento As fases descritas até o momento tinham como prioridade a sistematização e organização do calendário de treinamento. Já na terceira e última fase, é quando ocorre o planejamento propriamente dito. Assim, embora já tenham sido definidos os tipos de mesociclos e microciclos que serão utilizados, bem como as suas respectivas cargas de treinamento, é na fase de planejamento que é definido o quanto de volume e de intensidade será usado. Portanto, após realizar o passo a passo de cada fase, é hora de prescrever as sessões de treino. Para isso, é preciso definir os métodos de treino, tendo cada um um objetivo específico. De modo geral, na literatura clássica, é sugerido que, para o desenvolvimento de força, devam ser realizadas de uma a cinco repetições máximas, com intervalos de 5 minutos; para o desenvolvimento da hipertrofia, de 6 a 15 repetições máximas, com intervalos de no máximo 2 minutos; para o desenvolvimento da força explosiva, entre 6 e 12 repetições com velocidade, com intervalo de 5 minutos; e, para o desenvolvimento da resistência muscular localizada, acima de 15 repetições, com intervalo de no máximo 45 segundos. É evidente que existem diferentes fontes que podem indicar outros 31 números de repetições ou intervalos, mas a ideia aqui é mostrar que esses números não podem ser fixos, devendo-se, assim, compreender a relação entre eles (PRESTES et al., 2010). Portanto, para o treinamento de força máxima, compreende-se que a intensidade do treinamento deve ser próxima do máximo, variando entre 100% e 90% de 1 RM. Para que o indivíduo consiga realizar as repetições máximas com qualidade de movimento, é preciso um grande intervalo, a fim de que as reservas de ATP-CP sejam ressintetizadas. Da mesma forma deve acontecer no treino de força explosiva, em que o objetivo são a qualidade e a intensidade do movimento. Portanto, é sugerido baixo número de repetições, no máximo 12, para que o indivíduo consiga realizar o movimento com intensidade e velocidade. Para isso, são necessários grandes intervalos entre as séries (FORTEZA DE LA ROSA, 2009). Por outro lado, para o treino da resistência muscular localizada, o elemento mais importante da carga é o volume. Assim, devem ser priorizadas intensidades em que o indivíduo consiga realizar ao menos 15 repetições. Para essa proposta, o intervalo não pode ser muito longo, pois não há necessidade de recuperação total do organismo. Já para o treino de hipertrofia, assim como o de resistência, também não há necessidade de recuperação total do organismo entre as séries, mas a intensidade deve ser maior, para que ocorram as microlesões teciduais (PRESTES et al., 2010). Ao reconhecer a relação entre o objetivo do treinamento e o número de repetições, o primeiro passo na prescrição é determinar o volume de treino das séries. Aqui são descritos treinos básicos para indivíduos com no mínimo três meses de experiência, ou seja, aqueles que já tenham passado pelas adaptações fisiológicas e morfológicas. O objetivo não é apresentar “receitas” para serem seguidas, e sim propostas de treino para serem analisadas. 32 Para o objetivo do treinamento de força, as séries deverão ter no máximo cinco repetições; assim, a intensidade, ou seja, o peso deve ser ajustado para que o atleta não consiga realizar mais do que essas cinco repetições. Quanto ao número de séries por treino, o ideal é em torno de 10. Assim, um treino de força de membros superiores pode ser realizado da seguinte maneira: • 4 x 5 repetições com intensidade de 100% de 5 RM, com intervalo entre as séries de 5 minutos. Exercício: supino reto. • 3 x 5 repetições com intensidade de 100% de 5 RM, com intervalo entre as séries de 5 minutos. Exercício: desenvolvimento com barra. • 3 x 5 repetições com intensidade de 100% de 5 RM, com intervalo entreas séries de 5 minutos. Exercício: supino inclinado. • Números totais da sessão de treino: volume de 50 repetições; intensidade de 100% de 5 RM; e duração de aproximadamente 1 hora. Para o objetivo do treinamento de força explosiva, as séries variam entre 6 e 12 repetições. Quanto mais próximas de 6, maior será a intensidade, e quanto mais próximas de 12, maior será a resistência. Cabe ao preparador reconhecer as necessidades de cada semana de treino. Dessa maneira, um treino de força explosiva de membros inferiores pode ser realizado da seguinte maneira: • 4 x 10 repetições com intensidade de 70% de 10 RM, com intervalo entre as séries de 4 minutos. Exercício: extensor de joelhos. • 4 x 10 repetições com intensidade de 70% de 10 RM, com intervalo entre as séries de 4 minutos. Exercício: flexor de joelhos. • 4 x 10 repetições com intensidade de 70% de 10 RM, com intervalo entre as séries de 4 minutos. Exercício: leg press. 33 • 4 x 10 repetições com intensidade de 70% de 10 RM, com intervalo entre as séries de 4 minutos. Exercício: agachamento (na fase de extensão de joelho, o indivíduo pode realizar um pequeno salto). • Números totais da sessão de treino: volume de 120 repetições; intensidade de 70% de 10 RM; e duração de aproximadamente 1h10min. Para o objetivo do treinamento de resistência muscular, as séries devem ter no mínimo 15 repetições. Tudo leva a crer que, quanto maior o número de repetições, mais longa será a duração de cada série e menor será a intensidade. Desse modo, cabe ao preparador físico conhecer as necessidades de cada semana de treino. Um treino de resistência muscular localizada de membros superiores pode ser realizado da seguinte maneira: • 3 x 20 repetições com intensidade de 90% de 20 RM, com intervalo entre as séries de 45 segundos. Exercício: puxada aberta. • 3 x 20 repetições com intensidade de 90% de 20 RM, com intervalo entre as séries de 45 segundos. Exercício: remada no cabo. • 3 x 20 repetições com intensidade de 90% de 20 RM, com intervalo entre as séries de 45 segundos. Exercício: puxada fechada. • 3 x 20 repetições com intensidade de 90% de 20 RM, com intervalo entre as séries de 45 segundos. Exercício: remada curvada. • 3 x 20 repetições com intensidade de 90% de 20 RM, com intervalo entre as séries de 45 segundos. Exercício: rosca direta. • Números totais da sessão de treino: volume de 300 repetições; intensidade de 90% de 20 RM; e duração de aproximadamente 30 minutos. 34 Para o objetivo de hipertrofia muscular, o treino deve provocar microlesões teciduais, e, portanto, cada organismo reage de uma maneira diferente ao treinamento. Embora existam dezenas de métodos diferentes, neste momento, a ideia é apenas descrever alguns exemplos para a identificar as diferenças entre os tipos de treinamento. Desse modo, um treino para hipertrofia de peito e tríceps (para indivíduos com pouca experiência de treino) pode ser realizado da seguinte maneira: • 3 x 12 repetições com intensidade de 100% de 12 RM, com intervalo entre as séries de 1 minuto. Exercício: supino reto. • 3 x 12 repetições com intensidade de 100% de 12 RM, com intervalo entre as séries de 1 minuto. Exercício: crucifixo com halteres. • 3 x 12 repetições com intensidade de 100% de 12 RM, com intervalo entre as séries de 1 minuto. Exercício: peck deck ou voador. • 3 x 12 repetições com intensidade de 100% de 12 RM, com intervalo entre as séries de 1 minuto. Exercício: supino fechado. • 3 x 12 repetições com intensidade de 100% de 12 RM, com intervalo entre as séries de 1 minuto. Exercício: tríceps testa. • 3 x 12 repetições com intensidade de 100% de 12 RM, com intervalo entre as séries de 1 minuto. Exercício: tríceps na polia. • Números totais da sessão de treino: volume de 216 repetições; intensidade de 100% de 12 RM; e duração de aproximadamente 30 minutos). Para o objetivo da queima de gordura durante a sessão de treino, este deve ter um alto gasto energético. Para isso, é preciso que o indivíduo se mantenha ativo a maior parte do tempo. A sugestão é que seja realizado um treino em circuito, envolvendo grande parte dos músculos, baixa 35 intensidade e pouco (às vezes nenhum) intervalo entre os exercícios. Desse modo um treino para emagrecimento pode ser realizado da seguinte maneira: Os exercícios listados a seguir devem ser realizados em sequência. Ao todo, o circuito deve ser realizado três vezes e o intervalo entre os exercícios não pode passar de 20 segundos • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: puxada aberta. • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: flexão de joelhos. • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: supino reto. • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: extensão de joelhos. • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: rosca bíceps. • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: adutora. • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: tríceps na polia. • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: leg press. • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: desenvolvimento com halteres. 36 • 1 x 20 repetições com intensidade de 70% de 20 RM. Exercício: levantamento terra. • Números totais da sessão de treino: volume de 600 repetições; intensidade de 70% de 20 RM; e duração de aproximadamente 30 minutos. Como podemos perceber, para a prescrição desse treinamento, é preciso a aplicação do teste de repetições máximas (RM) em todos os exercícios que serão realizados. Durante muitos anos, o teste mais realizado para a prescrição da musculação era o Teste de 1 RM. Porém, este tem apresentado algumas limitações: exige do indivíduo uma certa experiência de treinamento; não é indicado para exercícios monoarticulares; e, devido aos procedimentos, não é viável para instrutores que atendem muitas pessoas no mesmo horário (PRESTES et al., 2010). Dessa forma, nos exemplos apresentados anteriormente, foram usadas as nomenclaturas 5 RM, 10 RM, 12 RM e 20 RM, o que quer dizer, respectivamente, 5 repetições máximas, 10 repetições máximas, 12 repetições máximas e 20 repetições máximas. Portanto, a partir da definição do objetivo do treino e consequentemente do volume, é possível determinar a intensidade do treinamento, que, ao longo da periodização, pode variar de acordo as necessidades de cada atleta. Essa forma de avaliar é positiva por dois motivos. Primeiro, é possível aplicar esse teste a qualquer treino, não necessitando de uma sessão ou um microciclo especial apenas para testes. O segundo motivo é que é possível monitorar em tempo real a melhora ou a piora do desempenho do atleta e usar sempre dados atuais para a prescrição dos próximos treinos (PRESTES et al., 2010). Neste tema, vimos as mais diversas formas de variar os estímulos e como organizá-las no planejamento. O processo de planejar envolve 37 várias etapas, que podem ser sistematizadas de outras formas; aqui apresentamos apenas sugestões. De qualquer forma, é preciso conhecer os atletas/clientes de forma integral, desde os resultados dos testes até a rotina e os objetivos. A partir disso, deve-se prescrever treinos de uma forma que seja possível controlar as cargas e pré-determinar quando o objetivo será atingido. Referências Bibliográficas DANTAS, Estélio Henrique Martin. A prática da preparação física. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003. FORTEZA DE LA ROSA, Armando. Treinamento desportivo: carga, estrutura e planejamento. São Paulo: Phorte, 2009. GOMES, Antonio Carlos. Treinamento desportivo: estruturação e periodização. Porto Alegre: Artmed, 2009. MONTEIRO, Artur; LOPES, Charles. Periodização Esportiva: estruturação do treinamento. Salvador: AG, 2009. PRESTES, Jonato et al. Prescrição e periodização do treinamento de força em academias. São Paulo: Manole, 2010. 38 Modelos de periodização de treinamento Autoria:Leonardo Ristow Leitura crítica: Marcio Teixeira Objetivos • Conhecer os diferentes tipos de periodização do treinamento de força. • Identificar as diferenças metodológicas entre os diferentes tipos de periodização do treinamento de força. • Compreender a relação entre os tipos de periodização e os objetivos de treinamento. 39 1. Introdução Durante mais de 50 anos, a periodização do treinamento vem evoluindo. Especificamente, no treinamento de força, não raro observamos praticantes utilizando o modelo não periodizado. Esse tipo de periodização, embora não tenha nenhuma base para a prescrição, tampouco para o controle, parece apresentar melhoras no desempenho, mas apenas pelo período limitado de quatro a cinco meses. Em outras palavras, aquele indivíduo que inicia o treinamento de força ajustando a carga do modo que bem entender de fato tem melhora no desempenho. Porém, o que se tem observado é que o treinamento quando organizado de forma lógica traz mais benefícios, tanto a curto quanto a longo prazo. Assim, no treinamento de força têm sido utilizados basicamente dois tipos de periodização: linear e ondulatório, que se diferenciam no modo em que as cargas são organizadas ao longo dos ciclos de treinamento. A periodização ondulatória é muito comum na preparação física de modalidades que envolvam duas ou mais capacidades físicas, as quais têm sido amplamente investigadas por pesquisadores de treinamento de força. Diante disso, são apresentados os tipos de periodização linear e ondulatória, assim como suas variações. 1.1 Periodização clássica ou linear O modelo de periodização clássica é o mais comum no treinamento de força. Nele, o treinamento inicia com grande volume e baixa intensidade, e com o passar das semanas a importância de cada elemento se modifica (PRESTES et al., 2010), ou seja, diminui o volume e aumenta a intensidade gradualmente. Assim, ao considerar um macrociclo de 16 semanas, composto por quatro mesociclos de quatro semanas, observa-se a seguinte configuração: 40 • 1ª a 4ª semanas: séries de 20 repetições com intensidade de 60% de 1 RM, com intervalo de 45 segundos. • 5ª a 8ª semanas: séries de 15 repetições com intensidade de 65% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto. • 9ª a 12ª semanas: séries de 12 repetições com intensidade de 70% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 20 segundos. • 13ª a 16ª semanas: séries de 8 repetições com intensidade de 80% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 30 segundos. No exemplo exposto, a cada mesociclo (quatro semanas), o número de repetições das séries diminui (meso 1, 20; meso 2, 15; meso 3, 12; e meso 4, 8), caracterizando uma diminuição no volume de treino. Por outro lado, a intensidade aumenta (meso 1, 60% de 1 RM; meso 2, 65% de 1 RM; meso 3, 70% de 1 RM; e meso 4, 80% de 1 RM); caracterizando o aumento do peso levantado a cada série. Essa forma de organizar o treino é considerada linear, pois não há variação na curva de intensidade ou volume, ou seja, elas estão em ascendência ou descendência, como se observa no Gráfico 1: Gráfico 1 – Relação entre volume e intensidade na periodização linear tradicional Fonte: elaborado pelo autor. 41 Esse tipo de periodização tem se demonstrado eficiente para promover alterações na composição corporal, tanto no aumento da massa magra quanto na diminuição da massa gorda, além da melhora dos índices de força máxima. Tais resultados são expressos em planejamentos de no mínimo três meses de treino. Um ponto importante para esse tipo de periodização é que não há um microciclo ou mesociclo de recuperação. Assim, os mesociclos se diferem pela mudança na intensidade e/ou no volume. A duração de cada mesociclo varia entre dois e seis microciclos (PRESTES et al., 2010). Há uma variação no modelo linear, o qual é proposto para a melhora na resistência muscular, denominado periodização linear reversa. Essa estrutura de treinamento é considerada reversa, pois inicia o planejamento com intensidade alta e volume baixo (PRESTES et al., 2010). Porém, a cada mesociclo, o volume aumenta e a intensidade abaixa gradualmente, como se observa no macrociclo composto por quatro mesociclos exposto a seguir: • 1ª a 4ª semanas: séries de 6 repetições com intensidade de 85% de 1 RM, com intervalo de 2 minutos. • 5ª a 8ª semanas: séries de 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 20 segundos. • 9ª a 12ª semanas: séries de 15 repetições com intensidade de 65% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto. • 13ª a 16ª semana: séries de 20 repetições com intensidade de 60% de 1 RM, com intervalo de 45 segundos. 1.2 Periodização ondulatória ou não linear O modelo de periodização ondulatória consiste em variar tanto o volume quanto a intensidade dentro do microciclo ou do mesociclo. Devido a 42 essa grande variação, esse modelo não é viável quando o profissional atende muitos alunos no mesmo horário. A periodização ondulatória é muito comum no treinamento esportivo; entretanto, começou a ser utilizada para o treinamento de força apenas no final dos anos 1980. A proposta da periodização ondulatória original é que fossem estimulados diferentes tipos de força (máxima, hipertrófica e resistência) em um mesmo ciclo de treinamento. Assim, considerando essa proposta, a seguir é apresentado um planejamento de três mesociclos de três semanas: Entre as semanas 1 e 3: • Segunda-feira: séries de 6 repetições com intensidade de 85% de 1 RM, com intervalo de 2 minutos. • Quarta-feira: séries de 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 20 segundos. • Sexta-feira: séries de 15 repetições com intensidade de 65% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto. Entre as semanas 4 e 6: • Segunda-feira: séries de 4 repetições com intensidade de 90% de 1 RM, com intervalo de 3 minutos. • Quarta-feira: séries de 20 repetições com intensidade de 60% de 1 RM, com intervalo de 30 segundos. • Sexta-feira: séries de 15 repetições com intensidade de 65% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto. 43 Entre as semanas 7 e 9: • Segunda-feira: séries de 2 repetições com intensidade de 95% de 1 RM, com intervalo de 4 minutos. • Quarta-feira: séries de 15 repetições com intensidade de 65% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto. • Sexta-feira: séries de 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 20 segundos. Ao contrário da periodização clássica, em que cada mesociclo desenvolvia-se basicamente uma capacidade física, nesse modelo existe a possibilidade de variar os estímulos, permitindo a alternância de volume e intensidade dentro de um microciclo. Existem ao menos quatro modelos de periodização ondulatória: flexível, parcial, semanal e diária (PRESTES et al., 2010). Na periodização ondulatória flexível, a proposta é variar a carga dependendo do estado físico e psicológico do praticante. Essa é uma forma de adaptar os benefícios da periodização ondulatória para a realidade das academias. Ela se caracteriza por permitir que as sessões de treino sejam trocadas de um dia para o outro, considerando alguns critérios: (a) nível de cansaço do praticante no início da sessão; (b) capacidade de desempenho durante a sessão; e (c) teste de força máxima (controle) no dia (KRAEMER; FLECK, 2001). Diante disso, são descritas as três situações: a. Considerando que um profissional tenha planejando uma periodização ondulatória segundo a qual na segunda-feira seriam séries de 15 repetições máximas, na quarta-feira seriam séries de 6 repetições máximas e na sexta-feira seriam séries de 10 repetições máximas. Porém, na noite de terça para quarta, o aluno não teve um sono de qualidade. Assim, alterna-se o treino de 44 sexta (relativamente mais leve) para quarta e o de quarta para a sexta. b. No início do treino, o praticante conseguia concluir com sucesso as séries prescritas. Porém, com o passar do treino, seu desempenho foi caindo. O treinador rapidamente percebe que, se mantiveras cargas, o treino não irá promover o estímulo adequado, decidindo ser importante uma modificação. c. Situação semelhante à anterior; porém, aqui, o treinador acreditar ser importante verificar o nível de desempenho físico do praticante. Para isso, ele aplica um teste de 1 RM como forma de controle. Caso o desempenho fique 20% abaixo do melhor resultado, é importante que o treino seja modificado para que a carga de treino fique adequada. Esse tipo de periodização, segundo Kraemer e Fleck (2001), possui algumas vantagens em relação aos outros tipos: possibilita uma melhor adequação das cargas de acordo com o estado físico e mental do praticante; uma maior variação nas sessões de treino, tornando-as mais dinâmicas; e a recuperação mais rápida dos sistemas energéticos. A periodização flexível é uma forma de olhar o treinamento sob uma perspectiva integral, considerando não somente o aspecto fisiológico do praticante, mas também o estado psicológico no início e durante o treino. Nesse sentido, McNamara e Stearne (2010) conduziram um estudo sobre a periodização flexível, no qual um grupo de praticantes escolhia no dia com qual intensidade preferia treinar, enquanto o outro grupo seguiu o planejamento rígido. Ao final do estudo, o grupo que realizou a periodização flexível teve uma melhora mais expressiva do que o grupo da periodização rígida. Esses resultados positivos indicam que reconhecer a condição do atleta antes dos treinos pode ser benéfico para o seu rendimento. 45 A periodização parcial é uma variação da periodização ondulatória tradicional no sentido de estimular apenas dois tipos de manifestação de força, ao contrário de três, justificando a nomenclatura “parcial”. Existem duas formas de prescrever esse tipo de periodização: usar duas zonas de intensidade para dois tipos de força ou usar três intensidade para dois tipos de força (PRESTES et al., 2010). Na primeira forma, são estabelecidos dois tipos de força para serem desenvolvidas dentro do microciclo; por exemplo, força máxima e força hipertrófica. Considerado duas sequências de exercícios diferentes, A e B, o planejamento semanal fica organizado da seguinte maneira: • Segunda-feira – Treino A: séries de 4 repetições com intensidade de 90% de 1 RM, com intervalo de 4 minutos. • Terça feira – Treino B: séries de 4 repetições com intensidade de 90% de 1 RM, com intervalo de 4 minutos. • Quarta-feira: descanso. • Quinta-feira – Treino A: séries de 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 30 segundos. • Sexta-feira – Treino B: séries de 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 30 segundos. A segunda forma se diferencia da primeira por usar cargas diferentes para a mesma manifestação de forma (PRESTES et al., 2010). Usando o exemplo anterior, seria possível alterar a série do treino de força máxima de terça para: Treino B com séries de 2 repetições com intensidade de 95% de 1 RM, com intervalo de 4 minutos. Assim como o treino de força hipertrófica de sexta para: treino B com séries de 12 repetições com intensidade de 70% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto. Dessa forma, dois tipos de força estariam sendo desenvolvidos com diferentes estímulos. 46 O terceiro modelo de periodização ondulatória é semanal, no qual as cargas de treino variam entre um microciclo e outro. Diferentemente dos anteriores, em que a carga varia dentro do microciclo, neste a proposta é que cada semana mantenha o volume e a intensidade fixos. Ao trocar de semana, troca-se o estímulo. A seguir é apresentado um exemplo de um mesociclo de quatro semanas: • 1ª semana: séries de 6 repetições com intensidade de 85% de 1 RM, com intervalo de 2 minutos. • 2ª semana: séries de 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 20 segundos. • 3ª semana: séries de 15 repetições com intensidade de 65% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto. • 4ª semana: séries de 20 repetições com intensidade de 60% de 1 RM, com intervalo de 45 segundos. O quarto modelo, a periodização ondulatória diária por grupamento muscular, envolve a alternância tanto das cargas de treinamento como do grupamento muscular. Esse modelo é vantajoso quando comparado aos demais, pois possibilita o estímulo intenso de um grupo muscular e o treino de outro grupo de força submáxima ou até diferentes tipos de força. Além disso, caso o estímulo seja muito intenso, necessitando de seis ou sete dias de descanso para a recuperação, é possível aplicar um treino com cargas moderadas (KRAEMER; FLECK, 2001). Considerando um microciclo composto por duas sequências de Treino A (peitoral, tríceps e deltoide) e Treino B (dorsais, bíceps e membros inferiores): • Segunda-feira – Treino A: séries de 4 repetições com intensidade de 90% de 1 RM, com intervalo de 4 minutos, para peitoral + séries de 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 30 segundos, para tríceps e deltoides. 47 • Terça-feira – Treino B: séries de 4 repetições com intensidade de 90% de 1 RM, com intervalo de 4 minutos, para dorsais + séries de 12 repetições com intensidade de 70% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 30 segundos, para bíceps e membros inferiores. • Quarta-feira: descanso. • Quinta-feira – Treino A: séries de 4 repetições com intensidade de 90% de 1 RM, com intervalo de 4 minutos, para deltoides + séries de 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 30 segundos, para tríceps e peitoral. • Sexta-feira – Treino B: com séries de 4 repetições com intensidade de 90% de 1 RM, com intervalo de 4 minutos, para membros inferiores + séries de 12 repetições com intensidade de 70% de 1 RM, com intervalo de 1 minuto e 30 segundos, para bíceps e dorsais. Como podemos ver, são inúmeras as possibilidades de organizar a periodização do treinamento de força, mas qual é a melhor? Para responder a essa pergunta, precisamos fazer a seguinte reflexão. Antes de mais nada, é preciso sempre avaliar a viabilidade de prescrever e monitorar o treinamento dos atletas/praticantes. Por isso, para selecionar o melhor tipo de periodização, deve ser considerada a realidade de cada profissional e de seu aluno. Considerando que todas sejam viáveis, a seguir são apresentados os tipos de periodização comparados de acordo com cada objetivo. 1.3 Comparação entre os tipos de periodização ondulatória ou não linear Diversos estudos têm sido realizados com o objetivo de comparar qual método é mais eficaz para determinado objetivo. De modo geral, referente à melhora da capacidade física, tanto de força máxima quanto 48 de resistência de força, a periodização ondulatória parece ser a mais eficiente quando comparada com o modelo linear. Já para a hipertrofia, parece não haver dados suficientes para afirmar qual tipo seria melhor. A seguir são apresentados alguns estudos para ilustrar cada objetivo de treinamento. Para a melhora do desempenho da força máxima, Simão et al. (2012) compararam dois tipos de periodização: linear e ondulatória. Participaram do estudo 30 homens com experiência em treinamento de força ao longo de 12 semanas, tendo sido submetidos ao teste de 1 RM antes e após o período de treinamento. Os autores concluíram que a periodização ondulatória teve resultados mais expressivos quando comparada à linear e ainda sugerem que esse tipo de periodização pode reduzir a monotonia do treinamento, além de resultar em uma maior adesão ao exercício físico. Para a melhora da resistência muscular, a periodização linear reversa parece ser mais benéfica, além disso, esse tipo de periodização não teve aumento significativo na massa muscular. Em um primeiro momento, não aumentar a massa muscular parece ser uma desvantagem, mas, em alguns esportes, ter que “carregar” mais peso, mesmo que seja músculo, é um gasto excessivo de energia, como corrida de longa distância, triatlo, ciclismo etc. Portanto, ter uma melhorana resistência muscular sem ganhar massa pode ser um ponto positivo (PRESTES et al., 2010). Nesse sentido, Rhea et al. (2003) compararam três tipos de periodização com o objetivo de ganho de resistência muscular: periodização linear (PL), periodização ondulatória diária (POD) e periodização linear reversa (PLR). Os protocolos de treinamento foram: Periodização linear • Semanas 1 a 5: séries de 3 x 25 RM. • Semanas 6 a 10: séries de 3 x 20 RM. 49 • Semanas 11 a 15: séries de 3 x 15 RM Periodização Linear Reversa • Semanas 1 a 5: séries de 3 x 15 RM. • Semanas 6 a 10: séries de 3 x 20 RM. • Semanas 11 a 15: séries de 3 x 25. Periodização Ondulatória Diária • Variou o estímulo por dia, durante 15 semanas. • Segundas e quintas: 3 x 25 RM. • Terças e sextas: 3 x 20 RM. • Quartas e sábados: 3 x 15 RM. Ao final do período investigado, os autores apontam que houve aumento da resistência de força em 55,9% para o grupo da PL, 54,5% para a POD e 72,8% para a PLR. Assim, eles afirmam que esse tipo de periodização é altamente recomendado para atletas de esportes de endurance. Para o aumento da hipertrofia, não é possível afirmar qual tipo de periodização é melhor. A grande dúvida está na comparação entre o ondulatório e o linear, visto que o linear reverso não produz ganhos significativos de massa muscular. Uma grande dificuldade das pesquisas é que, em boa parte dos estudos, a carga de treinamento não é equalizada, ou seja, existe uma grande diferença de protocolos de treinamento e não há a possibilidade de compará-los (PRESTES et al., 2010). 50 Portanto, a ciência ainda não consegue responder à seguinte pergunta: qual tipo de periodização é melhor para a hipertrofia? Apenas O que se tem são algumas possibilidades. Assim, para indivíduos que estão iniciando no treinamento, a periodização linear parece fornecer estímulos adequados para que ocorra o catabolismo e, na sequência, o anabolismo. Para essa população, não há necessidade de elaborar planejamentos mais complexos, como a periodização ondulatória. A partir do momento em que o indivíduo se adaptar ao treinamento, o que ocorre aproximadamente em seis meses, a periodização pode ser alterada para a ondulatória. Vale ressaltar que o indicado é a periodização com uma grande variação de cargas de treinamento, como a ondulatória, o que exige mais experiência do atleta. Existe uma frase muito utilizada no treinamento: “quanto mais treinado, menos treinável é o indivíduo” (PRESTES et al., 2010). Nesse caso, o planejamento de treinamento para praticantes avançados deve ser composto de variações mais frequentes na carga de treinamento, para que o organismo seja, de fato, estimulado. Em outras palavras, o indivíduo treinado se adapta rapidamente aos métodos de treino, e, por isso, a prescrição do treinamento com o objetivo de hipertrofia muscular deve variar o volume, a intensidade e a duração do intervalo. Os tipos de periodização apresentados até o momento foram elaborados com séries simples, em que o indivíduo executa o número de repetições pré-estabelecido por exercício. Para um indivíduo treinado, talvez esse estímulo não seja suficiente, e, assim, devem ser aplicados outros métodos de treinamento, como o Bi-Set, Tri-set e o Supersérie. O método Bi-Set consiste em realizar dois exercícios em sequência, com um intervalo de descanso após a execução do segundo exercício. Por exemplo, pensemos em um treino com foco no desenvolvimento da massa muscular do peitoral, em que são prescritos quatro exercícios com séries simples: séries de 3 x 10 repetições com intensidade de 75% 51 de 1 RM, com intervalo de 2 minutos, nos exercícios supino reto, voador (peck deck), supino inclinado com halteres e crucifixo na polia (KRAEMER; FLECK, 2001). No método Bi-Set, esse mesmo volume e essa mesma intensidade de treino ficariam da seguinte maneira: • Supino reto, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM; e voador (peck deck), 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM. Ao final da execução do segundo exercício, há um intervalo de 2 minutos, sendo contabilizada uma série. • Supino inclinado com halteres, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM; e crucifixo na polia, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM. Ao final da execução do segundo exercício, há um intervalo de 2 minutos, sendo contabilizada uma série. O método Tri-Set segue a mesma ideia do Bi-Set, mas com três exercícios em sequência. Por exemplo, pensemos em um treino com foco no desenvolvimento da massa muscular dorsal, em que são prescritos três exercícios com séries simples: séries de 3 x 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, com intervalo de 2 minutos, nos exercícios puxada aberta pela frente, remada curvada e remada na polia (KRAEMER; FLECK, 2001). No método Tri-Set, esse mesmo volume e essa mesma intensidade de treino ficariam da seguinte maneira: • Puxada aberta pela frente, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM; remada curvada, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM; e remada na polia, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM. Ao final da execução do terceiro exercício, há um intervalo de 3 minutos, sendo contabilizada uma série. O método Supersérie segue a mesma ideia que os métodos já descritos, mas com quatro exercícios na variação. Por exemplo, pensemos em um treino com foco no desenvolvimento da massa muscular dos membros inferiores, em que são prescritos quatro exercícios com séries simples: séries de 3 x 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM, 52 com intervalo de 2 minutos, nos exercícios leg press, agachamento, cadeira flexora e cadeira extensora (KRAEMER; FLECK, 2001). No método Supersérie, esse mesmo volume e essa mesma intensidade de treino ficariam da seguinte maneira: • Leg press, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM; agachamento, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM; cadeira flexora, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM; e cadeira extensora, 10 repetições com intensidade de 75% de 1 RM. Ao final da execução do quarto exercício, há um intervalo de 3 minutos, sendo contabilizada uma série. Esses métodos de treinamento podem ser compostos por exercícios antagonistas, como realizar o supino reto e na sequência realizar a puxada aberta pela frente; ou ainda pela combinação de exercícios que estimule a musculatura sinergista, como realizar a remada curvada com barra e na sequência realizar a rosca bíceps. Neste tema, conhecemos os tipos de periodização mais utilizados na musculação. Em relação ao desenvolvimento da força máxima e da resistência de força, parece haver um consenso na comunidade científica quanto aos tipos de periodização mais eficientes para esses objetivos, a ondulatória e a linear reversa, respectivamente. No entanto, para o desenvolvimento da massa muscular, ainda há muitas incógnitas, não permitindo que os pesquisadores afirmem qual tipo é mais eficaz. O que se sabe atualmente é que, para indivíduos iniciantes, todos os tipos de periodização geram resultados satisfatórios, mas a periodização linear parece ser mais indicada pela possibilidade de adaptação ao treinamento. Já para indivíduos treinados, acredita-se que a variação de estímulo é benéfica para a hipertrofia, sendo necessária a manipulação da carga por meio de diferentes métodos de treino. 53 Referências Bibliográficas KRAEMER, William J.; FLECK, Steven J. Treinamento de força para jovens atletas. São Paulo: Manole, 2001. MCNAMARA, John M.; STEARNE, David J. Flexible nonlinear periodization in a beginner college weight training class. The Journal of Strength & Conditioning Research, [s.l.], v. 24, n. 8, p. 2012-2017, 2010. PRESTES, Jonato et al. Prescrição e periodização do treinamento de força em academias. São Paulo: Manole, 2010. RHEA, Matthew R. et al. A comparison of linear and daily undulating periodized programs with equated volume and intensity for local muscular endurance. The Journal of Strength & Conditioning
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