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• R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 1 Renila Lacerda Bragagnoli Lei n.º 13.303/2016: reflexões pontuais sobre a Lei das Estatais Renila Lacerda Bragagnoli Lei n.º 13.303/2016: reflexões pontuais sobre a Lei das Estatais Curitiba, 2019. Ficha Catalográfica Editada e distribuída em todo território nacional por: Editora JML. Rua Mandaguaçu, 534 – Sobre Loja – Bairro Emiliano Perneta CEP 83324-430 - Pinhais – PR. Telefone (41) 3595 9999 - Fax (41) 3595 9998. Portal: www.jmlgrupo.com.br Projeto Gráfico & Diagramação: Marcela Grassi Mendes de Faria - Studio Bild Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B813 Bragagnoli, Renila Lacerda Lei n.º 13.303/2016: reflexões pontuais sobre a lei das estatais [livro eletrônico]. / Renila Lacerda Bragagnoli. - Curitiba: Editora JML, 2019. 2,2 Mb, PDF ISBN 978-85-93826-07-8 1. DIREITO. CDD 340 • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 4 A Deus, razão de tudo; Aos meus pais, pela demonstração de que a educação é o caminho para a independência; A Flora, por todos os dias me mostrar que o amor é fonte inesgotável; A Igor, por tudo que somos. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 5 As pessoas têm medo da mudança. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.” Chico Buarque • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 6 | PREFÁCIO O modelo de Administração Pública brasileira optou pela criação de pessoas jurídicas, com personalidade jurídica de direito privado, para o exercício de atividades econômicas em sentido estrito, seja em regime de concorrência com o mercado privado, em atividade econômica monopolizada ou na prestação de alguns serviços públicos. São as nossas estatais, que ordinariamente assumem a forma de empresas públicas ou sociedades de economia mista, atuando em relevantes áreas da vida social. Os desafios enfrentados pelas estatais brasileiras são gigantescos! Tanto pela complexidade e diversidade das atividades econômicas exercidas, como pelos desafios de compatibilização da sua vocação econômica com os rigores advindos do regime jurídico de direito público, que afeta, mesmo que parcialmente, sua existência e atuação. Nas últimas décadas, nada obstante a ampliação da complexidade, diversidade e desafios acima indicados, as estatais ainda foram afetadas pela incidência de um regime jurídico licitatório e contratual exageradamente detalhista e burocrático, limitador de sua eficiência, sendo também prejudicada por efeitos deletérios do desvirtuamento da política, indutores de práticas corruptas e prejudiciais à profissionalização e à atuação escorreita de alguns de seus dirigentes. Esses elementos prejudicaram a eficiência econômica dessas estatais, municiando o discurso crítico, muitas • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 7 vezes desconhecedor dos desafios vivenciados, da função social exercida por cada estatal e do fato de que, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, as estatais são instrumentos fundamentais para a atuação estatal no desenvolvimento econômico. Mas algo de novo aconteceu nos últimos anos. Escândalos nacionais incentivaram, finalmente, a aprovação de um novo estatuto jurídico para as estatais brasileiras, através da Lei federal nº 13.303/2016, o qual preocupou-se com o estabelecimento de um modelo de governança para as estatais e com um novo regime jurídico licitatório e contratual. Em relação à Governança, busca-se construir modelos que resguardem a integridade da gestão e a profissionalização da atuação empresarial. Em relação ao regime jurídico licitatório e contratual, foram apresentadas relevantes alterações que, em apertada síntese, permitem modelos licitatórios mais flexíveis, com maior grau de liberdade discricionária para a definição de procedimentos e uso de “ferramentas”, além de um regime contratual mais horizontal, despido de grande parte das denominadas prerrogativas contratuais extraordinárias, inerentes aos tradicionais contratos administrativos. Todas essas alterações objetivam evitar desvios e ampliar a eficiência econômica de nossas estatais. Nesta relevante obra, Renila Bragagnoli enfrenta o novo regime jurídico das estatais, sob uma perspectiva teórica e prática. Com excelente lastro teórico e o raciocínio arguto de quem convive, no dia a dia, com os problemas que assolam nossas estatais, a • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 8 autora concebeu um texto didático e objetivo, mas que não se furta ao enfrentamento de questões sensíveis e complexas na aplicação da nova Lei. No primeiro capítulo, a obra adentra as questões relacionadas às relevantes regras de governança dispostas pela nova Lei das Estatais, trazendo reflexões sobre as mudanças que assolaram os modelos de Estado, desde sua compleição mais liberal, passando pela expansão de suas atividades no Estado Social e a crise deste modelo, geradora do debate sobre uma nova forma de atuação estatal, influenciada pela agenda ligada ao movimento New Public management, com a absorção de conceitos do setor privado, nos órgãos e entidades da Administração Pública, entre eles o de accountability e de compliance. Firmada tais premissas, o texto avança sobre elementos basilares relacionados ao compliance, explica a influência estrangeira sobre a abordagem que nosso país vem tendo sobre o tema nos últimos tempos e a necessidade de se perceber tais programas como instrumentos modernos de aperfeiçoamento do controle, na atuação administrativa. Em seu segundo capítulo, a autora traça linhas sobre importante tema, a função social das estatais, buscando, com suporte na doutrina, delinear quais os pressupostos para identificação da função social a ser exercida por cada empresa pública ou sociedade de economia mista. Nesse intuito, a obra, sintonizada com a correta percepção da atuação empresarial do Estado, no Brasil e no mundo, sustenta que a realização do interesse coletivo deverá ser orientada para o alcance do bem-estar econômico e para a alocação socialmente eficiente dos recursos geridos pela estatal, o que • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 9 deve estar alinhado ao desenvolvimento sustentável e tecnológico no país, respeitando os preceitos constitucionais para a ordem econômica, como o respeito à livre concorrência, aos direitos dos consumidores, ao meio ambiente e ao direito do trabalho. Em seu capítulo terceiro, a obra volta seu enfoque para os administradores das estatais. Peculiaridades sobre o mandato dos administradores, fazendo análise comparativa à Lei das Sociedades Anônimas e pontuando as principais novidades do novo regime da Lei nº 13.303/2016, com luzes sobre pontos polêmicos, como aquelesrelacionados aos mandatos desses administradores e à possibilidade de contratação de seguro para cobertura de eventuais danos causados por atos culposos praticados por gestores das estatais. Nos capítulos quatro e cinco são abordados o planejamento das empresas estatais e a normatização com publicidade e patrocínio. Em relação ao planejamento, buscou-se traçar uma visão ampla e seu desafio de implantação, diante da complexidade da atuação das estatais. No que tange à normatização das despesas com publicidade e patrocínio, o livro trata sobre os dispositivos da Lei nº 13.303/2016 que buscaram disciplinar esse tipo de contratação, apresentando paralelamente o entendimento jurisprudencial acerca do tema. Nos capítulos seis, sete e oito, a obra volta seu fôlego para abordar a disciplina do regime jurídico licitatório e contratual da nova Lei das Estatais. Inicialmente, no capítulo sexto, são abordadas questões • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 10 relevantíssimas, algumas vezes com perspectiva diferenciada, especialmente interessante e instigante para aqueles que convivem com a complexidade e sinuosidade das contratações públicas e se deparam com um regime jurídico flexível como da Lei federal nº 13.303/2016. Diante desse desafio, Renila desenvolve interessante estudo sobre temas importantes, como: as potencialidades dos regulamentos internos das estatais, a mudança paradigmática de inexistência de modalidades estáticas (como costumou-se adotar- se no regime licitatório da Lei nº 8.666, de 1993), questões afetas à contratação direta e à nova hipótese de exceção à obrigatoriedade de licitar disposta pelo §3º do artigo 28 da Lei federal nº 13.303/2016. Enfrentou, ainda, outras inovações que caracterizam o novo texto legal, como: orçamento sigiloso, regime de contratação semi-integrada, novos critérios de desempate, o procedimento de Manifestação de Interesse Privado (PMI) e o inovador modelo de habilitação proposto pela novel legislação, insuficientemente compreendido por tantos agentes públicos e privados. A autora consegue transitar por esses temas com leveza e objetividade, sem abrir mão da oportunidade de posicionar-se de forma arrojada, sem apegos à arcaica perspectiva da legislação anterior, pecado cometido por muitos intérpretes, que tentam compreender a nova legislação e os caminhos por ela indicados, sem tirar seus olhos do retrovisor, apontado para a legislação antiga. No sétimo capítulo a obra adentra o regime contratual das estatais, outra importante alteração jurídico-estrutural proporcionada pelo novel legislador, suscitando reflexão sobre o modelo tradicional de contrato administrativo, responsável por • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 11 uma posição autoritária que amplia os custos transacionais e milita sistemicamente contra a economicidade dos pactos negociais firmados pelo próprio Poder Público. No bojo desse tema, ela avança sobre as principais regras de disciplinamento da Lei nº 13.303/2016, em relação ao regime jurídico contratual, como: novo modelo de vigência, alteração (despido da faceta unilateral optada pela Lei 8.666/93) e matriz de riscos, além do pertinente regime sancionatório, irrefletidamente inspirado no antiquado texto da Lei nº 8.666/93. Por fim, no derradeiro capítulo, a obra mostra sua atualidade, analisando a diretriz de adoção preferencial da modalidade pregão e destrinchando diversos pontos do recentemente publicado Decreto federal nº 10.024/2019 e de sua aplicação, no que couber, às estatais. Trata-se de um excelente livro, que permitirá ao leitor conhecer as principais novidades da nova Lei das Estatais. A autora Renila Bragagnoli presenteia os leitores com uma elogiável obra, que consegue a façanha de tratar intrincados temas de forma objetiva, sem abrir mão de farta pesquisa doutrinária e jurisprudencial, para enfrentar pontos polêmicos na aplicação do novo regime. Boa leitura. Ronny Charles L. de Torres • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 12 | Apresentação Publicada em junho de 2016, a Lei n.º 13.303/2016 observou vacatio legis de dois anos, entrando em vigor a partir de 1º de julho de 2018 e, atualmente, com pouco mais de ano de vigência plena, é necessário analisar como a Lei das Estatais está reverberando no ordenamento jurídico do país. Mais do que cumprir o que determina o art. 173, §1º da Constituição Federal, a Lei n.º 13.303/2016, ao dispor sobre o estatuto jurídico das empresas estatais, inaugurou um regime jurídico administrativo próprio para essas entidades, promovendo alterações profundas em suas organizações, passando pelos requisitos mais qualificados para composição da diretoria, pelo planejamento estratégico, a latente luta contra a corrupção e seus modernos instrumentos de combate, bem como na forma como elas cumprem sua função social, mediante um procedimento peculiar de licitações e contratos, desenvolvido, em grande monta, a partir da absorção de posições doutrinárias construídas e entendimentos jurisprudenciais consolidados ao longo do tempo. Acompanhando o desenvolvimento da regulamentação das empresas estatais, especialmente no que tange ao seu regime jurídico, “Lei n.º 13.303/2016: reflexões pontuais da Lei das Estatais” analisa pontos destacados desta inovação legislativa, não apenas por intermédio de conceituação jurídica • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 13 teórica, mas essencialmente sobre a repercussão prática que tem sido a aplicação da Lei n.º 13.303, sob a perspectiva de um novo paradigma para as empresas públicas e sociedades de economia mista, trazendo novos entendimentos desenvolvidos e defendidos para que seja dado o fiel cumprimento da mens legis de tornar as empresas estatais mais eficientes, à luz de quem conhece e vive a realidade diária de uma empresa estatal. A autora • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 14 | SUMÁRIO 1. A ADERÊNCIA DA LEI DAS ESTATAIS AOS CONCEITOS DE GOVERNANÇA ..................................................................... 18 1.1 O compliance e a transparência como elementos modernos do controle administrativo ......................................................................27 1.2 As empresas estatais no Brasil e os desafios do seu controle ..28 1.3 O compliance e a sua compulsoriedade .......................................40 1.4 A efetivação do controle social por meio da transparência .....54 1.5 Perspectivas de resultados práticos ................................................62 2. A FUNÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS ESTATAIS ................. 66 3. UM OLHAR SOBRE OS ADMINISTRADORES DAS EMPRESAS ESTATAIS ................................................................................... 73 3.1 O mandato dos administradores das empresas estatais: do provimento e destituição dos membros da diretoria e do Conselho de Administração das empresas estatais ....................74 3.1.1 O mandato com prazo fixo em prol da profissionalização da gestão pública ......................................................................................82 3.2 O seguro paradirigentes das empresas estatais .........................93 4. UMA ANÁLISE SOBRE O PLANEJAMENTO DAS EMPRESAS ESTATAIS ............................................................................ 102 4.1 Planejamento: uma visão ampla .......................................................102 4.2 O plano de negócios e a estratégia de longo prazo ....................107 5. A NORMATIZAÇÃO DAS DESPESAS COM PUBLICIDADE E PATROCÍNIO ........................................................................ 113 • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 15 6. A EVOLUÇÃO LEGISTATIVA E A POSITIVAÇÃO DOS ENTENDIMENTOS DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO SOBRE LICITAÇÕES PÚBLICAS ........................................... 118 6.1 O regulamento interno de cada estatal .........................................119 6.1.1 As minutas-padrão .............................................................................123 6.2 A extinção das modalidades de licitação ......................................124 6.3 Os princípios licitatórios específicos ............................................126 6.3.1 Economicidade ....................................................................................127 6.3.2 O desenvolvimento nacional sustentável .....................................128 6.3.3 Competitividade ..................................................................................132 6.3.4 Eficiência ..............................................................................................133 6.4 A (ausência de) indicação da fonte orçamentária como requisito obrigatório e as disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal 136 6.5 Sobrepreço e superfaturamento ......................................................137 6.6 O novo critério de julgamento da melhor destinação dos bens alienados ................................................................................................141 6.7 A dispensa de licitação em razão do valor: majoração do valor de referência ...............................................................................................143 6.8 Aspectos práticos sobre à exceção ao dever de licitar do art. 28 ... 144 6.8.1 O atendimento das previsões do §3º do art. 28 ...........................145 6.9 Da omissão do conceito de singularidade .....................................153 6.10 A expressa possibilidade de indicação de marca, modelo, exigência de amostra e certificação de qualidade .......................155 6.11 O orçamento sigiloso .........................................................................159 6.12 Uma novidade chamada contratação semi-integrada ................161 6.13 Critérios de desempate e a avaliação do desempenho contratual como diferenciador .............................................................................164 6.14 Fase recursal única ..............................................................................166 6.15 As estatais e o sistema de registro de preços ...............................168 6.16 Do sistema de habilitação: as disposições do art. 58 .................174 6.16.1As certidões (in)exigíveis como requisitos de habilitação na Lei das Estatais ............................................................................................178 6.17 Procedimento de Manifestação de Interesse ...............................192 • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 16 7. A NOVA SISTEMÁTICA DE CONTRATAÇÃO NA LEI N.º 13.303/2016 .......................................................................... 196 7.1 Da ressignificação das cláusulas exorbitantes .............................197 7.2 Duração dos contratos das estatais ................................................207 7.3 As alterações consensuais: um destaque para as alterações de valor .........................................................................................................210 7.4 Da ausência de previsão da sanção de declaração de inidoneidade .........................................................................................212 7.5 Da expressa abrangência da penalidade de suspensão temporária de participar em licitação e impedimento de contratar ...........214 7.6 Da extinção das modalidades de rescisão contratual .................216 7.7 Matriz de riscos ....................................................................................219 8. O PREGÃO ELETRÔNICO E SUA UTILIZAÇÃO PELAS EMPRESAS ESTATAIS ......................................................... 224 8.1 A adoção preferencial da modalidade pregão eletrônico ..........224 8.2 O Decreto n.º 10.024/2019 e sua aplicação às empresas estatais.......227 REFERÊNCIAS .............................................................................. 239 A ADERÊNCIA DA LEI DAS ESTATAIS AOS CONCEITOS DE GOVERNANÇA • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 18 1. A ADERÊNCIA DA LEI DAS ESTATAIS AOS CONCEITOS DE GOVERNANÇA A configuração de um Estado responsável por garantir direitos, garantias individuais e prestar serviços públicos a toda população mesmo que, inicialmente, sob forma de Estado mínimo, com ausência de intervenção especialmente na propriedade e na economia, foi uma das primeiras consequências da Revolução Francesa, que extinguiu o absolutismo e colocou o Estado como ator e gestor da coisa pública, figurando a sociedade como beneficiária diretamente interessada, mas que também poderia, doravante, cobrar resultados satisfatórios. A atuação estatal foi evoluindo e acompanhando o desenvolvimento da ideia política e social de cada país, notadamente quando a ausência de intervenção do Estado na economia e a livre concorrência culminou com a Revolução Industrial e os conflitos sociais dela decorrentes, forçaram o Estado a atuar com mais afinco na seara econômica, visando pôr fim às hostilidades e a garantir o mínimo existencial aos trabalhadores. Nesse momento, surge o Estado social como forma de apoiar o desenvolvimento da economia de mercado e • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 19 prover minimamente as necessidades básicas de seus cidadãos com saúde e educação. Diversas teorias foram desenvolvidas visando estudar e explicar os modelos de gestão, uma vez que o Estado foi adquirindo cada vez mais responsabilidades e competências dentro do seu mister em prover o bem-estar social, principalmente durante do Século XX. Superado o modelo de gestão burocrático desenhado por Weber, as mais recentes formas de otimizar a atuação do Estado buscam fomentar uma participação holística e interdisciplinar, agregando os mais variados atores, não só para definir a sua agenda, mas também a maneira de atingi-la, mediante o uso racional e eficiente dos recursos públicos, tendo em mente que o erário não é fonte inesgotável. A dificuldade econômica suportada por grande parte dos países na década de 1970, fez com que nascesse a crença de que a intervenção do Estado deveria ser menor do que a intervenção já existente, herança do modelo gerencial de gestão à época propagada. O Estado contemporâneo lida com condições contextuais complexas que impõem desafios e novas perspectivas. Nessa esteira, visando modernizar as práticas administrativas de gestão, tendo como finalidade precípua a diminuição de gastos e a otimização da Administração Pública, oNew Public Management (NPM) surge na Europa como saída à crise fiscal instalada, na Inglaterra de maneira mais pujante, pautando seus valores na eficiência, eficácia e competitividade. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 20 A mudança de paradigma trazida pelo NPM residiu na alteração da atuação do Estado que deixa de intervir para apenas regular. Nesse contexto, a busca por melhores resultados legitimou a utilização de práticas intrinsecamente relacionadas à iniciativa privada, tais como: desempenho verificado através de análise de indicadores, organizações mais enxutas e, teoricamente, mais especializadas, além da visão que a população, enquanto usuária de serviços públicos, é equiparada ao cliente da iniciativa privada. Assim, a eficiência é o grande fim que almejou o NPM. Foi dentro desse cenário que o Brasil, recém-saído de um regime totalitário, iniciou a Reforma do Estado1 usando basicamente os conceitos do NPM, modelo já bem desenvolvido, principalmente na Europa. Podemos ver claramente esse modelo de gestão quando há a criação das agências reguladoras e quando se iniciam as ações de privatização, ocorridas contemporaneamente às reformas realizadas no Estado com o fito de modernizá-lo, notadamente a partir de 1995. Não é despiciendo acrescentar que as características do New Public Management são justamente seu calcanhar de Aquiles, à medida que trazem como solução para a gestão pública o corte de gastos, a especialização e eficiência a todo 1 A Reforma Gerencial de 1995 – a reforma gerencial do Estado brasileiro – foi iniciada pelo MARE (Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado) que existiu entre 1995 e 1998. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 21 custo, sem considerar as especificidades de cada governo, além de enxergar a sociedade apenas como cliente, mera usuária dos serviços estatais. Como evolução do modelo acima retratado, um estilo de gestão alinhado com a ideia de que as particularidades estatais são variáveis, que devem compor a formulação do modelo de gestão, a Governança Pública surge como alternativa às limitações do NPM, reconhecendo a necessidade de envolvimento de diferentes atores na gestão pública, congregando não apenas o Estado, mas a iniciativa privada e, principalmente, a sociedade que passa a ser vista como cidadã e não mais como cliente da administração. A Governança Pública pode ser definida como um processo de fomento de valor público a partir de capacidades específicas e qualidades institucionais, através da colaboração entre agentes públicos e privados, visando a coprodução de serviços e de políticas públicas e melhoria do desempenho estatal, atualmente insculpido com os elementos de capacidade e autonomia, sem contudo, ser um conceito que se esgota em si, pois, como bem advertiu Karl Max, governança pública comporta um conceito amorfo, em razão de “uma série de diferentes pontos de partida para uma nova estruturação das relações entre o Estado e as suas instituições nos níveis federal, estadual e municipal por um lado, e as organizações privadas, com e sem fins lucrativos, bem como os atores da sociedade civil (coletivos e individuais) por outro”, como pontuou Kissler e Heidemann2. 2 KISSLER, Leo; HEIDEMANN, Francisco G. Governança pública: novo modelo • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 22 É na Governança Pública que a sociedade e as organizações sociais são entendidas como parceiras ou stakeholders, construindo com a Administração Pública modelos horizontais de relacionamento e coordenação. A Constituição Federal de 1988 criou vários mecanismos de controle para as estatais, abarcando desde o controle político- administrativo a cargo do Congresso Nacional, o controle administrativo a cargo dos Tribunais de Contas, o controle de caráter judicial até a previsão de controle social. Ainda há o controle interno realizado pelos meios existentes dentro de cada entidade, que tem como escopo, não apenas a lisura e correção dos atos, mas também garantir o efetivo cumprimento de sua missão institucional. Dentro dessa concepção de sociedade cidadã, o controle que o Estado passa a suportar faz com que haja participação democrática na formulação e implantação de políticas públicas, culminando com uma Administração Pública mais efetiva e legítima, além da crescente necessidade de implementação de instrumentos de accountability, transparência e compliance. As previsões de controle propostas pela Constituição Federal, aliadas com os canais de controle social e espaços de prestação de contas, foram ainda fortalecidas pela agenda internacional ligada ao New Public Management ao longo dos anos 1990. A ideia central era a necessidade de ampliação regulatório para as relações entre Estado, mercado e sociedade? Disponível em http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122006000300008 Acesso em jul/19. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 23 da transparência e responsabilização dos agentes estatais, elementos imprescindíveis para que o Estado atuasse de maneira mais condizente com um contexto democrático através da nova perspectiva chamada de accountability. Accountability parte do pressuposto de que a implementação de uma política pública exige do gestor um alto grau de discricionariedade, para atingir os resultados almejados. Dessa maneira, a sua atuação deve ser verificada e avaliada não a partir dos processos, mas sim pelos resultados gerados. O Compliance, por sua vez, é um termo originário do verbo inglês to comply, cujo sentido é agir de acordo com uma regra, um pedido ou um comando. Compliance é o dever de cumprir, de estar em conformidade e fazer cumprir regulamentos internos e externos impostos às atividades da organização. Nos países da Europa e principalmente nos Estados Unidos, a adoção de programas de compliance é mais que uma forma de “atenuar” uma punição por atos de corrupção praticados por pessoa jurídica. Nesses países, o compliance é uma necessidade decorrente da exigência do mercado no âmbito, especialmente, das grandes organizações. A contrario sensu do Brasil, o assunto compliance já vem sendo tratado há anos em outros países, como a edição da FCPA – Foreign Corrupt Practices Act, a Lei de Prevenção à Corrupção Estrangeira do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, datada de 1977. Nos termos da FCPA, uma empresa não pode • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 24 dar, oferecer, prometer ou autorizar que se dê qualquer coisa de valor a funcionário de governo estrangeiro, quer diretamente ou por meio de um intermediário, a fim de influenciar a ação do funcionário para obter vantagens impróprias. Essa proibição, na prática, visa impedir que se dê não apenas dinheiro, mas qualquer coisa de valor, incluindo presentes, entretenimento, doações, patrocínios, ofertas de emprego e outras vantagens que possam beneficiar pessoalmente o funcionário público ou membros de sua família. A FCPA criou sanções penais e civis para funcionários, administradores e representantes de empresas que pratiquematos de corrupção no estrangeiro, quer tais atos sejam realizados pela matriz ou por suas subsidiárias, de maneira que a organização possuir um programa de mitigação de riscos é um fator de confiança nas relações organizacionais e contribui de maneira positiva para a imagem da pessoa jurídica perante os seus stakeholders. Discutir compliance é compreender a natureza e a dinâmica da corrupção e fraude nas organizações, independentemente da sua área de atuação. Contudo, para as organizações que possuem suas atividades controladas pelo Poder Público, por se tratarem de atividades de prestação de serviço ao público, há uma série de exigências legais que devem cumprir, sob pena de até mesmo serem impedidas de exercerem tais atividades, sofrerem danos à sua imagem, ou ainda, sanções às organizações e aos indivíduos. No centro das ações de compliance, portanto, • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 25 está a preocupação da quebra da confiança no relacionamento econômico e social das organizações, funcionários e parceiros. No Brasil, o compliance ainda é um instituto novo, após a edição da Lei Anticorrupção, o termo passou a ser amplamente citado e conhecido no meio empresarial privado. Na referida lei, a previsão encontra-se no seu artigo 7º, inciso VIII, dispõe que será levada em consideração na aplicação das sanções a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica. Com efeito, a previsão de compliance atrelada às definições da Lei Anticorrupção, ainda em 2013, buscava incentivar as empresas a investir em políticas de controle interno para cumprimento de normas e regulamentos, a fim de mitigar riscos, assim, evitando o envolvimento da instituição com condutas ilícitas e fortalecendo a sua imagem diante da sociedade de um modo geral. Dentro deste cenário, o controle destinado às estatais necessitou de aprimoramento decorrente do incremento de suas atuações, da flexibilização de sua gestão e a importância em prol do alcance de sua função social, pois o controle atrela-se à utilização por parte das estatais de recursos públicos somado ao fato de que muitas destas empresas são envolvidas em casos de corrupção.Há que ser frisado, como bem destacou Octaviani • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 26 e Nohara3, que ainda na década de 1990 “houve, no Brasil, a intensificação do debate sobre a necessidade de delimitação de parâmetros mais rigorosos de governança corporativa para as empresas estatais” e, ainda sob a influência do modelo do New Public Management, inaugura práticas de governança, de modo que o Tribunal de Contas da União edita seu Referencial Básico de Governança4, donde define-se a governança pública como um sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sociedade, alta administração, servidores ou colaboradores e órgãos de controle. Define-se também, a governança corporativa como o sistema pelo qual as organizações são dirigidas e controladas. Com efeito, como bem sintetizado pela Corte de Contas, em seu Referencial acima citado, “a boa governança pública tem como propósitos conquistar e preservar a confiança da sociedade, por meio de conjunto eficiente de mecanismos, a fim de assegurar que as ações executadas estejam sempre alinhadas ao interesse público.” Sob a perspectiva de necessidade de maior controle sobre as estatais, o Congresso Nacional movimentou-se com o PLS 555/2015, consolidando várias iniciativas parlamentares sobre o tema, sendo aprovado pelo Senado em março de 2016. Em junho, a Câmara dos Deputados aprovou substitutivo - PL 4918/2016, que foi rejeitado em partes pelo Senado no mesmo 3 OCTAVIANI, Alessandro; NOHARA, Irene Patrícia. Estatais. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 170. 4 Disponível em https://portal.tcu.gov.br/governanca/governancapublica/ • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 27 mês, enviando o PLS 555 para sanção presidencial, que sanciona a Lei n.º 13.303, em 30 de junho de 2016. É imperioso afirmar que, não obstante a relevância do tema, o assunto emergiu em decorrência da pressão popular e tramitou com muita velocidade e pouca discussão, o que inegavelmente trará embaraços na implementação de suas disposições. Foi esse contexto evolutivo, detidamente alinhado com o modelo de governança de gestão, que movimentou a edição da Lei n.º 13.303/2016, haja vista que a dimensão social negativa decorrente das operações conhecidas como Lava-Jato e o Mensalão, ambas envolvendo empresas estatais, Petrobrás e Correios, respectivamente, demandaram ação estatal, à medida que o combate à corrupção ingressou na agenda política do país, especialmente envolvendo a administração indireta. 1.1 O compliance e a transparência como elementos modernos do controle administrativo A edição da Lei n.º 13.303/2016 decorreu, além dos fatos acima expostos, da delegação constitucional do art. 173 à lei ordinária para o estabelecimento do estatuto jurídico das estatais, devendo dispor sobre a função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade, a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 28 também sobre os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores. Pode-se afirmar que a lei atendeu todos os elementos designados pela Constituição Federal, criando órgãos e critérios para o seu funcionamento, impondo capacidades técnicas para posse em cargos, além de instituir um regime próprio de licitações e contratos. O controle administrativo é matéria que ainda apresenta desafios a superar no Estado de Direito, porém busca-se soluções contemporâneas para fiscalizar os atos e a gestão das empresas estatais, objetivando garantir a eficiente prestação dos serviços públicos, não por outra razão a Lei das Estatais em comento, traz uma série de inovações em questões societárias, governança, integridade à gestão administrativa e publicidade. Em relação aos mecanismos de controle, majorou as intervenções que podem ser realizadas dentro do procedimento de regulação já existente e inovou, no sentido de inserir de forma muito clara, como formas de controle, o compliance e a transparência, especialmente por desencadearem a capacidade de fiscalização por parte da sociedade, por meio de um controle social que se torna eficaz ante ao acesso às informações, ao planejamento e aos gastos orçamentários. 1.2 As empresas estatais no Brasil e os desafios do seu controle O surgimento das empresas estatais no Brasil remonta à vinda da Família Real Portuguesa para o país, em 1808, e à • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 29 imediata criação do Banco do Brasil. Porém, seu desenvolvimento e expansão só ocorreram por volta da décadade 1930, com as ferrovias controladas por empresas estatais, a criação do Instituto de Resseguros do Brasil – IRB e da Companhia Siderúrgica Nacional5. Em 1970, o período em que o Estado intervia na economia mais ativamente em razão da euforia desenvolvimentista das décadas de 1960 e 1970, as estatais proliferaram-se no Brasil e, em 1978, o Tribunal de Contas da União ao apreciar as contas do governo Geisel, ressalvou que as contas se referiam apenas a cerca de 4% das despesas da União e que os outros 96% diziam respeito às empresas estatais que, à época, não se submetiam ao controle daquela Corte6. No Direito Positivo, as estatais surgiram no país com a edição do Decreto-Lei n.º 200, de 25 de fevereiro de 1967, compreendendo descentralização da Administração Federal e tendo duas espécies: empresas públicas e sociedades de economia mista. Deve ser dito, ainda, que o Decreto-Lei n.º 200/67 previu formalmente uma das primeiras visões de controle administrativo em seu artigo 257 e, segundo Bandeira de Mello8, este 5 SCHIRATO, Vitor Rhein. As empresas estatais no Direito Administrativo Econômico Atual. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 21-23. 6 BEMQUERER, Marcos. O regime jurídico das empresas estatais após a Emenda Constitucional n.º 19/98. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 17. 7 Art. 25. A supervisão ministerial tem por principal objetivo, na área de competência do Ministro de Estado (...) 8 ROMERO, William. Fiscalização interna pelo Estado das empresas estatais com personalidade jurídica de direito privado. In. JUSTEN FILHO, Marçal (Org.). • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 30 Será abrangente dos aspectos administrativo, orçamentário, patrimonial e financeiro, tendo por principais objetivos assegurar, em cada Ministério, a observância da legislação e dos programas do Governo, coordenar as atividades dos distintos órgãos e harmonizá-las com as dos demais Ministérios, avaliar a atuação dos órgãos supervisionados, fiscalizar a aplicação dos recursos públicos e sua economicidade. Embora da década de 1960, o Decreto-Lei n.º 200 continua válido, porém o Direito Administrativo contemporâneo já ultrapassou as estipulações dessa legislação, de maneira que a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 173, §1º9, já prevê que as empresas estatais podem não apenas explorar atividade econômica de produção ou comercialização de bens como previsto no Decreto-Lei, mas também realizar a prestação de serviços públicos. Hodiernamente, empresas estatais são “todas as entidades, civis ou comerciais, de que o Estado tenha o controle acionário, abrangendo a empresa pública, a sociedade de economia mista e outras empresas que não tenham essa Estatuto jurídico das empresas estatais: Lei 13.303/2016. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 599. 9 Art. 173[...] § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: [...] • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 31 natureza e às quais a Constituição faz referência”10, podendo executar atividade econômica ou prestar serviço público e se dividem em empresas públicas, sociedades de economia mista, as empresas controladas por essas duas e as demais empresas que são controlas pelo Estado, mas que não têm sua criação autorizada por lei prévia. O Decreto n.º 8.945, de 27 de dezembro de 2016, regulamentador da Lei das Estatais, formalmente definiu que empresa estatal como sendo a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, cuja maioria do capital votante pertença direta ou indiretamente à União; empresa pública como empresa estatal cuja maioria do capital votante pertença diretamente à União e cujo capital social seja constituído de recursos provenientes exclusivamente do setor público e, por sua vez, sociedade de economia mista como uma empresa estatal cuja maioria das ações com direito a voto pertença diretamente à União, cujo capital social admite a participação do setor privado, conceitos expressos no artigo 2º, incisos I, II e III, respectivamente. Por ser matéria em constante atualização e evolução, em razão da função social cada vez mais rebuscada das estatais e, não obstante os sistemas de controle previstos na Constituição, o controle e fiscalização ainda apresentam desafios a serem superados.Sobre os desafios do controle administrativo, 10 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 26 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 504. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 32 Osório11 já discorreu: De um lado, tal realidade desafia novas e criativas políticas públicas, porque se percebem a magnitude e a veloz expansão de atores e processos corruptos e corruptores, de modo multifacetário. De outro, a mesma realidade, no evidenciar uma concentração de esforços em torno a uma patologia específica, indica a indevida limitação do olhar sobre uma complexa situação, multifacetária e sofisticada, que certamente não se encaixa numa terminologia unitária e ideológica, cultural e normativa. Conforme leciona a melhor doutrina sobre o tema, dois grandes desafios podem ser atrelados à ideia de controle: o primeiro reflete a necessidade de um sistema de controle e o segundo concerne em fazer com o que o controle se concentre nos resultados das ações das estatais, não se prendendo a meios e formas12. A necessidade de um sistema de controle moderno e eficiente para as estatais é imperiosa, pois atualmente o controle é um fim em si mesmo, posto que seu objeto é incerto e o método de realização do trabalho indefinido, gerando conflito 11 OSÓRIO, Fábio Medina. Teoria da Improbidade administrativa: má gestão pública, corrupção, ineficiência. 3.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 28. 12 SCHIRATO, Vitor Rhein. As empresas estatais no Direito Administrativo Econômico Atual. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 145. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 33 de funções e atribuições, somados a falta de clareza acerca do que deve ser realmente controlado e fiscalizado13. A incerteza do objeto reside na dificuldade de saber o que controlar: o resultado, o meio utilizado, ou a eficiência no uso dos recursos. Ante a esta incerteza, o método de trabalho também apresenta lacunas procedimentais, haja vista não haver clareza sobre qual resultado busca-se com a fiscalização. Pelas mesmas linhas caminha o raciocínio de Aragão14, quando admite que o controle Por mais essencial que ele seja, deve ser sempre acessório e só aceitável quando não for um fim em si mesmo, mas um instrumento para fazer com que a Administração atinja melhor seus objetivos, sem sobreposições de instâncias e sem imposição de meros formalismos. Por tais dificuldades, Marques Neto15 entende que mais do que buscar regras e controle em excesso, o objetivo a ser alcançado é um sistema de controle eficiente, sem que isso 13 BRAGAGNOLI, Renila. A lei nº 13.303/2016 e o (velho) compliance das empresas estatais. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n.5228, 24 out. 2017b.Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/61227>. Acesso em: mai. 2018. 14 ARAGÃO,Alexandre Santos de. Empresas estatais: o regime jurídico das empresas públicas e sociedades de economia mista. São Paulo: Forense, 2017, p. 316. 15 MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Os grandes desafios do controle da Administração Pública. Fórum de Contratação Pública – FCGP, Belo Horizonte, ano 9, n. 100, abr. 2010. Disponível em <http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006. aspx?pdiCntd=66621> Acesso em: fev. 2018. https://jus.com.br/revista/edicoes/2017 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017/10/24 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017/10/24 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017/10 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017 • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 34 corresponda a um engessamento do bom funcionamento da Administração, à medida que estruturas duplicadas, superdimensionadas ou desperdício de recursos públicos em procedimentos de controle inócuos também configuram desvios que devem ser coibidos e controlados. Como já salientado por Bragagnoli16, O controle das empresas estatais deve voltar-se não exclusivamente para a verificação da legalidade do ato, é imprescindível que foque também para os resultados obtidos com a ação administrativa, notadamente no que concerne à eficácia, eficiência e, principalmente, boa destinação de recursos públicos. Especialmente em relação às estatais, a sua característica híbrida soma-se às dificuldades de controle, pois, independentemente do grau de relevância pública do serviço prestado ou do desenvolvimento de atividade econômica em regime concorrencial, as estatais mantêm sua natureza de direito privado, o que conclama, por evidente, a utilização de meios de controle de empresas privadas, por intermédio de instrumentos capazes de alcançar atos finalísticos de gestão que 16 BRAGAGNOLI, Renila. A lei nº 13.303/2016 e o (velho) compliance das empresas estatais. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n.5228, 24 out. 2017b.Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/61227>. Acesso em: mai. 2018. https://jus.com.br/revista/edicoes/2017 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017/10/24 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017/10/24 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017/10 https://jus.com.br/revista/edicoes/2017 • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 35 os sistemas eminentemente públicos não atingem, em razão de limitações de competências e dificuldades burocráticas. Sobre essa dicotomia, em certos pontos conflituosas, Bandeira de Mello17 afirmou: Ditas criaturas, pois, ainda quando modeladas sob o figurino privado, não são, portanto, da mesma cepa que as demais pessoas jurídicas de direito privado. A razão de existir, os fins em vista dos quais são criadas, os recursos econômicos que manejam, os interesses a que servem (e podem servir) são manifestamente distintos e, sob muitos aspectos, até mesmo diametralmente opostos daquel’outras. Bastaria esta evidência para perceber-se que não poderiam estar submetidas a igual disciplina jurídica. Aliás, as próprias entidades em causa também comportam diversidade de regimes, conforme sejam prestadores de serviço público ou exploradoras da atividade econômica. Com efeito, é preciso distinguir as sociedades de economia mista e empresas públicas em duas distintas espécies, a saber, prestadoras de serviços 17 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Sociedades mistas, empresas públicas e regime de direito público. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico (REDAE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, n. 10, maio/jun./jul. 2007. Disponível em <http://www.direitodoestado.com.br/codrevista.asp?cod=197> Acesso em: jul. 2018. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 36 públicos e exploradoras de atividade econômica, pois o regime de uma e outra não é idêntico. Ambas, pelas razões já expostas, não obstante sejam constituídas sob a forma de direito privado, sofrem o impacto de regras de direito público. As primeiras, entretanto, são alcançadas por estes preceitos com uma carga mais intensa do que ocorre com as segundas, o que é perfeitamente compreensível. Deveras, as prestadoras de serviço público desenvolvem atividades em tudo e por tudo equivalente em seus misteres típicos do Estado e dos quais este é senhor exclusivo. Dessa forma, criadas como braços do Estado para a prestação de serviços públicos e exploração de atividades econômicas de interesse público, as empresas estatais apresentam peculiaridades que se confundem com as dificuldades decorrentes do seu regime jurídico híbrido, haja vista a complexidade em controlar de maneira equivalente as empresas prestadoras de serviços públicos das que atuam no mercado e buscam, evidentemente, aferir lucro. Convém ressair, ainda, que não obstante a todas estas dificuldades da hibridez do regime jurídico (público e privado) e da natureza das ações desenvolvidas (prestação e serviços públicos ou exploração de atividade econômica), as estatais suportam a interferência política na indicação de pessoas • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 37 sem qualificação ou formação técnica para cargos da alta direção, servindo como barganha ou moeda de troca para a governabilidade do presidencialismo de coalizão existente no país. Como bem pontuado por Schirato18, A rigor, como se depreende da legislação societária (arts. 138 e seguintes da Lei n. 6.404/76), a nomeação e a exoneração dos administradores de uma sociedade são livres. Contudo, daí não se pode depreender que qualquer indivíduo possa ser nomeado para administrar uma empresa estatal apenas em razão dos acordos políticos subjacentes ao exercício do poder de controle de referida empresa. [...] A influência política na gestão das empresas estatais é, certamente, o maior risco existente com relação à existência e ao funcionamento de tais empresas. É imperioso, para se garantir o funcionamento adequado de referidas instituições e a efetiva realização de suas atividades precípuas, que sua gestão seja empresarial, voltada à realização de seus objetivos sociais, e não à satisfação de meros interesses políticos, os quais, não raro estão a léguas de distância do 18 SCHIRATO, Vitor Rhein. As empresas estatais no Direito Administrativo Econômico Atual. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 185-187. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 38 interesse público efetivamente subjacente à existência da empresa estatal em questão. Dentro deste cenário, o controle destinado às estatais necessitou de aprimoramento decorrente do incremento de suas atuações e da flexibilização de sua gestão em prol do atingimento de sua função social, pois este controle atrela-se à utilização por parte das estatais de recursos públicos, somado ao fato de que muitas destas empresas, em algum momento, estão envolvidas em casos de corrupção19. Neste contexto de dificuldades para controlar as empresas estatais e com vistas ao combate à corrupção e à improbidade administrativa, editou-se a Lei n.º 13.303, em 30 de junho de 2016, prevendo que a função social da empresa estatalé a realização do interesse coletivo ou de atendimento ao imperativo da segurança nacional expressa no instrumento de autorização legal para a sua criação20, buscando orientar por uma diretriz objetiva os dirigentes para a realização do atos de gestão ou mesmo quando da elaboração e implementação do seu planejamento estratégico21, o que acentua, sobremaneira, a necessidade de controlar os fins para os quais a estatal foi criada. 19 MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Os grandes desafios do controle da Administração Pública. Fórum de Contratação Pública – FCGP, Belo Horizonte, ano 9, n. 100, abr. 2010. Disponível em <http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006. aspx?pdiCntd=66621> Acesso em: fev. 2018. 20 Art. 27 da Lei n.º 13.303/2016. 21 GUIMARÃES, Edgar; SANTOS, José Anacleto Abduch. Leis das Estatais: Comentários ao regime jurídico licitatório e contratual da Lei n.º 13.303/2016 – Leis das Estatais. Belo Horizonte: Fórum, 2017, p. 36. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 39 Além de inovar ao dispor sobre a função social, a Lei foi adiante e traçou as premissas que compõem o conceito de interesse público da empresa estatal, sendo definido nos dizeres do artigo 8º, §1º, como o meio do alinhamento entre seus objetivos e as políticas públicas, na forma explicitada na carta anual, devendo ser observadas as razões que motivaram a sua criação. Com efeito, resta assente, portanto, que para controlar e fiscalizar a atual configuração das empresas estatais, os métodos existentes mostraram-se ineficientes. Não por outra razão, a Lei n.º 13.303/2016 contém significativo viés normativo direcionado ao controle, à integridade e à transparência em âmbito interno, buscando produzir efeitos no plano da gestão e das contratações das empresas públicas e sociedades de economia mista22. Neste diapasão, a Lei das Estatais previu o controle dos atos administrativos com o uso de modernos instrumentos, advindos do conceito e dos reflexos da governança em desenvolvimento do país, instituindo o controle aos atos de gestão mediante o compliance, enquanto política de integridade e a efetivação do controle social, por meio da transparência na administração, haja vista que atualmente instrumentos de controle do tipo budgetting, auditing, controles de gestão e controles internos de eficiência demonstram-se mais eficazes23. 22 BRAGAGNOLI, Renila. A lei nº 13.303/2016 e o (velho) compliance das empresas estatais. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5228, 24 out. 2017b. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/61227>. Acesso em: mai. 2018. 23 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Empresas estatais: o regime jurídico das empresas públicas e sociedades de economia mista. São Paulo: Forense, 2017, p. 316. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 40 1.3 O compliance e a sua compulsoriedade A instituição de um programa de integridade pela Lei das Estatais introduziu no ordenamento jurídico uma pluralidade de mecanismos jurídicos, que restringem severamente a autonomia dos governantes e, em especial, dos gestores na condução das atividades das empresas estatais. O artigo 9º determina que a estatal adotará regras de estruturas e práticas de gestão de riscos e controle interno, sendo este o meio pelo qual o órgão fiscaliza sua própria atuação, visando confirmá-la ou desfazê-la, e a Lei determinou que, caso inexistente, o controle interno deve ser implementado e, uma vez já criado, aperfeiçoado mediante regulamento próprio. Deve ser concreto e eficiente, abrangendo “além da edição de normas, a capacitação plena dos recursos humanos, a implementação de mecanismos efetivos de fiscalização e a aferição da compatibilidade das ações administrativas com a legalidade e economicidade”. É, portanto, um controle qualificado e para que atinja seu fim, “as estruturas e práticas devem ser incorporadas e disseminadas entre todos os recursos humanos da estatal”, já que há disciplina expressa e objetiva das regras e condições de “controle que são esperadas e exigíveis, sob pena de responsabilidade”, tanto do gestor quanto do empregado, e sua aferição será realizada mediante à designação de uma área • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 41 responsável para esta verificação24, conforme artigo 9º25. Ainda sobre o controle interno, a Lei determinou a criação, caso ainda não exista, da auditoria interna e do Comitê de Auditoria Estatutário, além da elaboração do Código de Conduta e Integridade. O Comitê de Auditoria Estatutário é órgão auxiliar do Conselho de Administração, composto por três a cinco membros com competência para opinar sobre a contratação e destituição de auditor independente; supervisionar as atividades dos auditores independentes, avaliando sua independência, a qualidade dos serviços prestados e a adequação de tais serviços às necessidades da empresa pública ou da sociedade de economia mista; supervisionar as atividades desenvolvidas nas áreas de controle interno, de auditoria interna e de elaboração das demonstrações financeiras da empresa pública ou da sociedade de economia mista; monitorar a qualidade e a integridade dos mecanismos de controle interno, das demonstrações financeiras e das informações e medições divulgadas pela empresa pública ou pela sociedade de economia mista; avaliar e monitorar exposições de risco da empresa pública ou da sociedade de 24 GUIMARÃES, Edgar; SANTOS, José Anacleto Abduch. Leis das Estatais: Comentários ao regime jurídico licitatório e contratual da Lei n.º 13.303/2016 – Leis das Estatais. Belo Horizonte: Fórum, 2017, p. 284-285. 25 Art. 9o A empresa pública e a sociedade de economia mista adotarão regras de estruturas e práticas de gestão de riscos e controle interno que abranjam: I - ação dos administradores e empregados, por meio da implementação cotidiana de práticas de controle interno; II - área responsável pela verificação de cumprimento de obrigações e de gestão de riscos; III - auditoria interna e Comitê de Auditoria Estatutário. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 42 economia mista, podendo requerer, entre outras, informações detalhadas sobre políticas e procedimentos referentes a remuneração da administração; utilização de ativos da empresa pública ou da sociedade de economia mista; gastos incorridos em nome da empresa pública ou da sociedade de economia mista; avaliar e monitorar, em conjunto com a administração e a área de auditoria interna, a adequação das transações com partes relacionadas; elaborar relatório anual com suas informações sobre as atividades, os resultados, as conclusões e as recomendações, registrando, se houver, as divergências significativas entre administração, auditoria independente e o Comitê em relação às demonstrações financeiras; avaliar a razoabilidade dos parâmetros em que se fundamentam os cálculos atuariais, bem como o resultado atuarial dos planos de benefícios mantidos pelo fundo de pensão, quando a empresa pública ou a sociedade de economia mista for patrocinadora de entidade fechada de previdência complementar26. É um órgão auxiliar, à medida que nem sempre o Conselho de Administração ou a Presidência das empresas estatais possuem disponibilidade para enfrentar as questões daárea de gestão de riscos, de modo que, mediante as ações do Comitê, organiza as demandas da área de compliance para apreciação da autoridade competente, podendo, inclusive, recomendar ações específicas para o atendimento do setor de riscos. A instituição do Comitê de Auditoria Estatutário confirma a intenção do legislador em, nas palavras de Cardoso, 26 Lei n.º 13.303/2016, art. 24. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 43 “estabelecer estruturas sucessivas e superpostas de controle e fiscalização da atuação das empresas estatais e de seus dirigentes e empregados”27 e, embora extenso o seu hall de competências, o estatuto de cada estatal pode majorar suas atribuições e sua composição foi prevista no Decreto n.º 8.945/201628, estipulando, entre outras normas de organização e funcionamento, que os membros devem possuir experiência profissional ou formação acadêmica compatível com o cargo (preferencialmente contabilidade, auditoria ou na área de atuação da estatal), além de fixar mandato de dois ou três anos, não coincidente para cada membro, admitida uma reeleição. Andou bem, indubitavelmente, a Lei ao impor critérios mínimos de habilitação para os membros deste colegiado. É importante salientar que a inclusão do Comitê de Auditoria Estatuário nas disposições legais atende uma orientação que já vinha sendo feita por parte do Tribunal de Contas da União, Acórdão 2.322/2015 e Acórdão 2.063/2016, ambos do Plenário, expressos ao determinar a instalação do comitê de auditoria, precedentes jurisprudenciais em consonância com a recomendação contida no Código das Melhores Práticas de Governança do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa29, com o objetivo de garantir a 27 CARDOSO, André Guskow. Governança corporativa, transparência e compliance nas empresas estatais: o regime instituído pela Lei 13.303/2016. In. JUSTEN FILHO, Marçal (Org.). Estatuto jurídico das empresas estatais: Lei 13.303/2016. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 114. 28 Artigo 39, §2º a §11. 29 Disponível em http://www.ibgc.org.br/userfiles/2014/files/ codigoMP_5edicao_web.pdf • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 44 transparência e a adequada gestão das empresas estatais por intervenção do Comitê de Auditoria Estatuário, enquanto mecanismo de controle interno. Por seu turno, o Código de Conduta e Integridade insculpido no artigo 9º, §1º, da Lei das Estatais, compõe elemento do moderno e precípuo controle interno, tendo natureza de documento institucional, fundamentado na missão, visão, valores e cultura da empresa, tendo como objetivo disciplinar e orientar o comportamento do público interno e externo30. Deve dispor sobre princípios, valores e missão da empresa pública e da sociedade de economia mista, bem como orientações sobre a prevenção de conflito de interesses e vedação de atos de corrupção e fraude; instâncias internas responsáveis pela sua atualização e aplicação; canal de denúncias que possibilite o recebimento de denúncias internas e externas relativas ao seu próprio descumprimento e das demais normas internas de ética e obrigações; mecanismos de proteção que impeçam qualquer espécie de retaliação a pessoa que utilize o canal de denúncias; sanções aplicáveis em caso de violação às regras por ele transcritas; previsão de treinamento minimamente anual e periódico sobre suas disposições, destinado a empregados e administradores e sobre a política de gestão de riscos, direcionado aos administradores. Dentro do Código de Conduta e Integridade merece destaque o mecanismo de proteção ao denunciante, que deve 30 CASTRO, Rodrigo Pironti Aguirre de; GONÇALVES, Francine Silva Pacheco. Compliance e gestão de riscos nas empresas estatais. Belo Horizonte: Fórum, 2018: p. 109. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 45 resguardá-lo de retaliações de quaisquer espécies. O espírito da norma é estimular as denúncias de descumprimentos das determinações éticas institucionais, cabendo frisar que a proteção deve ser direcionada ao denunciante de boa-fé, sob pena de frustrar a efetividade da proteção insculpida na Lei31. Portanto, por meio de um ambiente ético, reduz-se a disposição para desvios de condutas e formação de conluios, além de aumentar a propensão para denúncias, sendo conveniente acrescentar que a “alta administração deve entender e assumir que é o principal vetor de promoção da cultura ética e da integridade da organização por meio de suas ações e decisões”32, medida imposta pela Lei das Estatais em seu art. 14, inciso I33. Em relação à auditoria interna, a Lei não inova em sua acepção, porém instituí a sua competência e vinculação, quando, em seu artigo 9º, §3º, determina que será vinculada ao Conselho de Administração diretamente ou por meio do Comitê de Auditoria Estatutário, sendo responsável por aferir a 31 CARDOSO, André Guskow. Governança corporativa, transparência e compliance nas empresas estatais: o regime instituído pela Lei 13.303/2016. In. JUSTEN FILHO, Marçal (Org.). Estatuto jurídico das empresas estatais: Lei 13.303/2016. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 116. 32 UNIÃO, Tribunal de Contas da. Referencial de combate a fraude e corrupção: aplicável a órgãos e entidades da Administração Pública. Brasília: TCU, Coordenação-Geral de Controle Externo dos Serviços Essenciais ao Estado e das Regiões Sul e Centro-Oeste (Coestado), Secretaria de Métodos e Suporte ao Controle Externo (Semec), 2017. 33 Art. 14. O acionista controlador da empresa pública e da sociedade de economia mista deverá: I - fazer constar do Código de Conduta e Integridade, aplicável à alta administração [...] • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 46 adequação do controle interno, a efetividade do gerenciamento dos riscos e dos processos de governança e a confiabilidade do processo de coleta, mensuração, classificação, acumulação, registro e divulgação de eventos e transações, visando ao preparo de demonstrações financeiras. Na vanguarda e de maneira compulsória, a Lei criou a área de compliance34, conceito que engloba a unidade responsável pela verificação de cumprimento de obrigações e de gestão de riscos35, devendo se reportar diretamente ao Conselho de Administração em situações em que se suspeite do envolvimento do diretor-presidente em irregularidades ou quando este se furtar à obrigação de adotar medidas necessárias em relação à situação a ele relatada. Convêm destacar que a Lei Anticorrupção assegurou que violações ao patrimônio público ou contra os princípios da Administração Pública podem repercutir em responsabilização administrativa e/ou judicial, de modo que as empresas estatais já poderiam implementar práticas de integridade por ocasião da Lei n.º 12.846/2013, haja vista que esta legislação tem via dupla: as estatais compõem a Administração Pública enquanto sujeito passivo de atos lesivos, bem como são pessoas jurídicas de direito privado que também poderiam observar as boas práticas entabuladas pelo normativo, que já previa em seu art. 7º, inciso VIII, a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades 34 Artigo 9º, §4º da Lei n.º 13.303/2016. 35 Lei n.º 13.303/2016,art. 9º, inciso II. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 47 e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica como atenuante quando da aplicação de sanções. Não se deve olvidar que foi por ocasião do Decreto n.º 8.420/201636, editado para regular a Lei Anticorrupção, que se definiu compliance como um conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a Administração Pública, nacional ou estrangeira. Acrescente-se, ainda, as previsões do Guia de Implantação de Programa de Integridade nas Empresas Estatais37 editado em dezembro de 2015 pela, à época, Controladoria Geral da União, com a finalidade de auxiliar na elaboração e manutenção de um padrão mínimo de compliance dirigido às estatais federais e que também estimulava a estruturação e implantação de padrões 36 Art. 41. Para fins do disposto neste Decreto, programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Parágrafo Único. O programa de integridade deve ser estruturado, aplicado e atualizado de acordo com as características e riscos atuais das atividades de cada pessoa jurídica, a qual por sua vez deve garantir o constante aprimoramento e adaptação do referido programa, visando garantir sua efetividade. 37 Disponível em http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/ arquivos/guia_estatais_final.pdf • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 48 de conduta, código de ética, políticas e procedimentos de integridade aplicáveis a todos os empregados e administradores, independente de cargo ou função exercido, canais de denúncias adequados e suficientes e política de incentivo às denúncias e proteção aos denunciantes, monitoramento contínuo do programa de integridade visando seu aperfeiçoamento na prevenção, detecção e combate à ocorrência de atos lesivos, à semelhança do que a Lei das Estatais previu, conforme alhures exposto. Com efeito, a previsão de compliance atrelada às definições da Lei Anticorrupção, ainda em 2013, conforme afirma Hijaz, buscava “incentivar as empresas a investir em políticas de controle interno para cumprimento de normas e regulamentos, a fim de mitigar riscos, evitando, assim, o comprometimento da instituição com condutas ilícitas”, além de fortalecer sua “imagem perante a sociedade em geral e, em especial, diante de seus consumidores clientes, parceiros e colaboradores”38. No cotejo com a legislação anticorrupção e orientação da Controladoria Geral da União, percebe-se que a Lei n.º 13.303/2016, ainda que se reconheça a importância e relevância do tema para a gestão, atuação e controle das empresas estatais, apenas tornou o compliance compulsório, considerando que 38 HIJAZ, Tailine Fátima. A importância do compliance para a efetivação de medidas anticorrupção no contexto da sociedade de risco e do Direito Penal Econômico. Boletim Científico ESMPU, Brasília, a. 15 – n. 48, p. 155-190 – jul./dez. 2016. Disponível em http://escola.mpu.mp.br/publicacoes/boletim-cientifico/ edicoes-do-boletim/boletim-cientifico-n-48-julho-dezembro-2016/a-importancia- do-compliance-para-a-efetivacao-de-medidas-anticorrupcao-no-contexto-da- sociedade-de-risco-e-do-direito-penal-economico Acesso em março/2018. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 49 as regras gerais estão postas na Lei n.º 12.846/2013 e, mais objetivamente, após o Decreto n.º 8.420/2015, usadas como fonte subsidiária à legislação em comento, não criando, portanto, um sistema de integridade especialmente moldado para as boas práticas das empresas estatais, o que está a cargo do estatuto de cada organização. É imperioso ressaltar a necessidade da autorregulação do compliance no âmbito interno de cada organização, haja vista que os requisitos gerais trazidos pelo art. 42 do n.º 8.420/2015 não são contemplados integralmente nas disposições da Lei das Estatais, que expressamente replica a necessidade do comprometimento da alta direção, a elaboração de código de ética e programa de integridade, realização de treinamentos periódicos, a independência do órgão responsável pelo compliance, a existência de canal de denúncia e proteção ao denunciante, as medidas disciplinares e o monitoramento do programa de integridade, previstos no incisos I, II, III, IV, IX, X, XI, e XV do artigo referido, sendo basicamente relacionados às disposições do Código de Conduta Ética e Integridade e às competências do Comitê de Auditoria Estatutário. Oportunamente registro que, muito embora o art. 4039 disponha sobre os elementos essenciais do regulamento 39 Art. 40. As empresas públicas e as sociedades de economia mista deverão publicar e manter atualizado regulamento interno de licitações e contratos, compatível com o disposto nesta Lei, especialmente quanto a: I - glossário de expressões técnicas; II - cadastro de fornecedores; III - minutas-padrão de editais e contratos; IV - procedimentos de licitação e contratação direta; V - tramitação de recursos; VI - formalização de contratos; VII - gestão e fiscalização de contratos; VIII - aplicação de penalidades; IX - recebimento do objeto do contrato. • R EN IL A L A C ER D A B R A G A G N O LI • L EI N .º 1 3 .3 0 3 /2 0 16 : R EF LE X Õ ES P O N TU A IS S O B R E A L EI D A S ES TA TA IS 50 interno de licitações e contratos, a Lei n.º 13.303/2016 perdeu a valorosa oportunidade de prever, como elemento obrigatório do compliance, procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito de processos licitatórios e na execução de contratos administrativos, à semelhança do que dispões o art. 42, VIII do Decreto n.º 8.420/201540, dado que, sem embargo, são nessas relações que se desenvolvem desvios éticos, práticas antidemocráticas e antieconômicas, por vezes, sendo berço da corrupção e da improbidade nas empresas estatais. Reconhece-se, no entanto, que embora a Lei Anticorrupção e seu Decreto tenham inserido no arcabouço jurídico pátrio os parâmetros de um programa de integridade, seu atendimento configurava meramente como atenuante em uma eventual imposição de multa decorrente de ação fraudulenta, possuindo menos característica de controle e mais natureza jurídica de causa de diminuição de pena, ao passo que a Lei das Estatais elevou o compliance ao nível de controle interno essencial, verificado não após a realização dos eventos danosos, mas a priori da prática de todo e qualquer ato, administrativo ou de gestão. A função primordial do programa de integridade é a de “garantir que a própria pessoa jurídica atinja a sua função social, 40 Art. 42. Para fins do disposto no § 4º do art. 5º, o programa de integridade será avaliado, quanto a sua existência e aplicação, de acordo com os seguintes parâmetros: [...] VIII - procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos
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