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Saúde, Sociedade e Fundamentos em Pesquisa VII Políticas Públicas e Organização dos Serviços de Saúde Professora Clauceane Zell Aluna Irene Souza Política Nacional de Atenção Básica A nova política de atenção básica pode colocar em risco a organização dos serviços de saúde? Potencialmente sim. Em relação ao papel da ESF, o texto da PNAB 2017 apresenta uma posição ambígua. Mesmo que mantém a ESF como prioritária no discurso, admite e incentiva outras estratégias de organização da AB, nos diferentes territórios: Art. 4º - A PNAB tem na saúde da família sua estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica. Contudo, reconhece outras estratégias de organização da Atenção Básica nos territórios, que devem seguir os princípios, fundamentos e diretrizes da Atenção Básica e do SUS descritos nesta portaria, configurando um processo progressivo e singular que considera e inclui as especificidades locorregionais, ressaltando a dinamicidade do território. Essa ambiguidade torna-se mais visível quando se analisam, em conjunto, certos elementos dessa política. Destacam-se, principalmente, alterações nas regras de composição profissional e de distribuição da carga horária dos trabalhadores nas equipes de AB. Além disso, uma característica marcante do texto da nova PNAB é a explicitação de alternativas para a configuração e implementação da AB, com maior flexibilidade, justificada pela necessidade de atender especificidades locorregionais. Na teoria, amplia-se a liberdade de escolha dos gestores do SUS, o que possibilitaria responder às demandas de um processo de descentralização mais efetivo. Entretanto, esse processo só se completaria com a transferência de recursos necessários à autonomia de gestão pelos municípios, e com os mecanismos de controle social e participação popular. Outro ponto a ser considerado é que o programa Saúde na Hora, primeiro a ser lançado pelo MS no governo Bolsonaro, explicita a prioridade dada ao cuidado individual e ao atendimento à demanda espontânea. Nesta proposta, as UBS com no mínimo três equipes poderão oferecer atendimento de 60 horas semanais com flexibilização e redução de carga horária dos profissionais. Os incentivos para o Saúde na Hora apontam para a transformação das UBS, nos municípios de médio e grande porte, em unidades de pronto-atendimento. O acolhimento ao adoecimento agudo na APS certamente precisa ser garantido. Todavia, esta iniciativa descaracteriza o processo de trabalho e organização das ações. A abertura à contratação de plantonistas pode comprometer atributos da APS como a longitudinalidade e coordenação do cuidado. Referências Giovanella, L. et al Política Nacional de Atenção Básica: para onde vamos?. Ciência & Saúde Coletiva. 2020, v. 25, n. 4, p. 1475-1482. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-81232020254.01842020>. https://doi.org/10.1590/1413-81232020254.01842020 Morosini, M. V. G. C. et al Política Nacional de Atenção Básica 2017: retrocessos e riscos para o Sistema Único de Saúde. Saúde em Debate. 2018, v. 42, n. 116, p. 11-24. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0103-1104201811601>. https://doi.org/10.1590/0103-1104201811601
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