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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.874.603 - DF (2020/0113971-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : J A G S RECORRENTE : M G DE O P E - MICROEMPRESA ADVOGADO : JHONATHAS APARECIDO GUIMARAES SUCUPIRA - PR042382A RECORRIDO : B DO B S ADVOGADO : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES - SP128341A RELATÓRIO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI: Cuida-se de recurso especial interposto por J A G S e M G DE O P E - MICROEMPRESA, fundamentado nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo TJDFT. Recurso especial interposto em: 07/11/2019. Concluso ao Gabinete em: 05/08/2020. Ação: de exigir contas, ajuizada por M G DE O P E – MICROEMPRESA, em desfavor do B DO B S, tendo em vista descontos supostamente injustificados e desconhecidos efetuados em sua conta corrente (e-STJ fls. 41-62). Decisão interlocutória: encerrou a primeira fase do procedimento – julgando procedente o pedido para condenar o recorrido a prestar as contas exigidas -, mas não fixou verba honorária em desfavor da instituição financeira (e-STJ fls. 29-33). Acórdão: negou provimento ao agravo de instrumento interposto pelos recorrentes, nos termos da seguinte ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE EXIGIR. PRIMEIRA FASE DO PROCEDIMENTO. DECISÃO PARCIAL DE MÉRITO. ENCERRAMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. DECISÃO MANTIDA. 1. A ação de exigir contas possui natureza especial consubstanciada no que se chama de rito bifásico. Tal nomenclatura advém do fato de que este procedimento pode se desenvolver em duas fases de conhecimento distintas. Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 1 de 13 Superior Tribunal de Justiça 1.1. A primeira fase, estágio atual dos presentes autos, consiste na análise judicial da existência do dever do réu de exibir contas, realizada por decisão interlocutória parcial de mérito, conforme se infere do atual artigo 550, § 5º, do CPC. 1.2. Julgada procedente a primeira fase e, portanto, reconhecido o dever de prestar contas, o mandatário será condenado a fazê-lo no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as contas que forem apresentadas pela parte adversa. 1.3. Na segunda fase, o juiz decidirá sobre as contas apresentadas, oportunidade em que poderá determinar a realização de exame pericial, se for cabível, sendo gerado daí, um título executivo judicial em favor do mandante. 2. O ato que encerra a primeira fase do procedimento de exigir contas não tem natureza jurídica de sentença, mas, sim, de decisão interlocutória, afastando-se, assim, a incidência de verbas sucumbenciais nessa fase processual. Precedentes. 3. Recurso conhecido e não provido. Decisão mantida (e-STJ fl. 977). Recurso especial: alegam violação do art. 85 do CPC/2015, bem como dissídio jurisprudencial. Sustentam que: i) a ação de exigir contas obedece a um procedimento especial, com duas fases distintas e autônomas. Na primeira fase, questiona-se o dever ou não do mandatário prestar as contas exigidas pelo requerente. Já na segunda fase, discute-se o mérito das contas prestadas e entrega-se o saldo final ao requerente; e ii) ainda que as mudanças legislativas tenham ensejado a tese de que a decisão que encerra a primeira fase da ação de exigir contas é interlocutória, a mesma deve ser considerada, em verdade, uma decisão parcial de mérito, porque o seu conteúdo entrega o provimento jurisdicional perquirido naquela fase da ação, razão pela qual deve ser atribuída sucumbência ao vencido (e-STJ fls. 984-1.014). Prévio juízo de admissibilidade: o TJDFT admitiu o recurso especial interposto por J A G S e M G DE O P E - MICROEMPRESA, determinando a Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 2 de 13 Superior Tribunal de Justiça remessa dos autos a esta Corte Superior (e-STJ fls. 1.065-1.066). É o relatório. Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 3 de 13 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.874.603 - DF (2020/0113971-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : J A G S RECORRENTE : M G DE O P E - MICROEMPRESA ADVOGADO : JHONATHAS APARECIDO GUIMARAES SUCUPIRA - PR042382A RECORRIDO : B DO B S ADVOGADO : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES - SP128341A EMENTA DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS. PRIMEIRA FASE. DECISÃO PARCIAL DE MÉRITO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO. 1. Ação de exigir contas, tendo em vista descontos supostamente injustificados e desconhecidos efetuados na conta corrente da autora. 2. Ação ajuizada em 09/05/2019. Recurso especial concluso ao gabinete em 05/08/2020. Julgamento: CPC/2015. 3. O propósito recursal é definir se é cabível a fixação de verba honorária na primeira fase da ação de exigir contas. 4. A ação de exigir contas ocorre em duas fases distintas e sucessivas – na primeira, discute-se sobre o dever de prestar contas; na segunda, declarado o dever de prestar contas, serão elas julgadas e apreciadas, se apresentadas. 5. À luz do CPC/2015, o ato judicial que encerra a primeira fase da ação de exigir contas possuirá, a depender de seu conteúdo, diferentes naturezas jurídicas: se julgada procedente a primeira fase da ação de exigir contas, o ato judicial será decisão interlocutória com conteúdo de decisão parcial de mérito, impugnável por agravo de instrumento; se julgada improcedente a primeira fase da ação de exigir contas ou se extinto o processo sem a resolução de seu mérito, o ato judicial será sentença, impugnável por apelação. 6. A despeito da alteração, pelo novo diploma processual civil, da natureza jurídica do provimento jurisdicional que encerra a primeira fase da ação de exigir contas quando há a procedência do pedido, não há razões para que seja alterada a forma da condenação ao pagamento das verbas da sucumbência antes admitida sob a vigência do anterior código, afinal, o conteúdo do pronunciamento jurisdicional permaneceu o mesmo. 7. Com a procedência do pedido do autor (condenação à prestação das contas exigidas), o réu fica vencido na primeira fase da ação de exigir contas, devendo arcar com os honorários advocatícios como consequência do princípio da sucumbência. 8. Recurso especial conhecido e provido. Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 4 de 13 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.874.603 - DF (2020/0113971-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : J A G S RECORRENTE : M G DE O P E - MICROEMPRESA ADVOGADO : JHONATHAS APARECIDO GUIMARAES SUCUPIRA - PR042382A RECORRIDO : B DO B S ADVOGADO : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES - SP128341A VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (RELATOR): O propósito recursal é definir se é cabível a fixação de verba honorária na primeira fase da ação de exigir contas. Aplicação do Código de Processo Civil de 2015 – Enunciado Administrativo n. 3/STJ. 1. DA FIXAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA NA PRIMEIRA FASE DA AÇÃO DE EXIGIR CONTAS (art. 85 do CPC/2015; e dissídio jurisprudencial) 1. A ação de prestação de contas – atualmente denominada de ação de exigir contas pelo novo CPC – é instrumento processual colocado à disposição daquele interessado em ver que o administrador de certos bens ou interesses dê satisfação de seus atos de gestão, a fim que se possa conferir a destinação dada ao patrimônio do administrado e a razoabilidade desenvolvida pelo administrador. Inclusive, não há necessidade de que o autor da demanda invoque algum suposto crédito existente ou desfalque efetuado pelo requerido, bastando que ostente o direito a ter as contas prestadas, para que a demanda seja procedente (MARINONI, Luiz Guilherme. Procedimentos especiais. 4 ed. rev. e atual. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2013, pp. 81-82). Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO- Site certificado Página 5 de 13 Superior Tribunal de Justiça 2. Em decorrência, tem-se que o procedimento da ação de exigir contas tem como característica, em regra, a existência de duas fases. A primeira delas existe para que o julgador decida sobre a existência ou não da obrigação de o réu prestar contas. Se o julgador decidir que não, o processo encerra-se nesta fase. Contudo, se decidir que sim, será aberta uma segunda fase, que servirá para que o réu propriamente preste as contas pleiteadas pelo autor e para que o julgador avalie se aquele o fez corretamente, reconhecendo a existência de saldo credor ou devedor. 3. Em suma, tem-se que a ação de prestação de contas ocorre em duas fases distintas e sucessivas – na primeira, discute-se sobre o dever de prestar contas; na segunda, declarado o dever de prestar contas, serão elas julgadas e apreciadas, se apresentadas (REsp 1.567.768/GO, 3ª Turma, DJe 30/10/2017). 4. No âmbito do CPC/73, o art. 975, § 2º, expressamente afirmava ser sentença o provimento jurisdicional que condenava o réu a prestar contas. Tal disposição tinha repercussões de enorme relevância prática, pois, sendo sentença, desafiava apelação a ser recebida no duplo efeito, o que tornava o procedimento extremamente moroso (BUENO, Cassio Scarpinella. Comentários ao código de processo civil – volume 3. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 35). 5. Todavia, o legislador modificou não apenas o nome da ação – de prestação de contas para exigir contas – mas, principalmente, o conteúdo do dispositivo correspondente ao antigo art. 915, §2º, do CPC/73, afirmando o novo art. 550, §5º, do CPC/15, que, na primeira fase da ação de exigir contas, “a decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar”, instaurando-se, a partir disso, controvérsia doutrinária acerca do recurso cabível contra a decisão que julga a primeira fase da ação de exigir contas. Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 6 de 13 Superior Tribunal de Justiça 6. Como mesmo anota a retrocitada doutrina de Cassio Scarpinella Bueno: Inicialmente, cumpre verificar que, no âmbito da própria regulação da ação de exigir contas, quando quis o legislador qualificar o ato do juiz como sendo sentença isto foi feito. É o que ocorreu, por exemplo, no art. 552. Entretanto, não se fez uso desta nomenclatura no caso do § 5º do art. 550, num primeiro e eloquente indicativo da opção da lei de qualificar a decisão aqui mencionada como interlocutória, posto não findar o processo (v. art. 203, § 2º). Assim sendo, tal decisão pode ser desafiada por agravo de instrumento (art. 1.015, II), recurso este não dotado de efeito suspensivo automático. Importante notar que esta é apenas mais uma situação em que o CPC prevê decisão de mérito qualificável como interlocutória, tipo de técnica legislativa cujo exemplo mais evidente se encontra no art. 356 (que trata do julgamento antecipado parcial do mérito). Salvo melhor juízo, pode-se afirmar que fica, assim, afastada a interpretação segundo a qual se teria aqui sentença, corroborando esta afirmação o que consta do art. 203, § 1º (Op. Cit. p. 36). 7. No que tange, especificamente ao recurso cabível em face do pronunciamento jurisdicional que decide a primeira fase da ação de exigir contas, esta 3ª Turma já teve a oportunidade de se manifestar, em recurso de minha relatoria, que: (i) se o julgamento na primeira fase da ação de exigir contas for de procedência do pedido, o pronunciamento jurisdicional terá natureza de decisão parcial de mérito e será impugnável por agravo de instrumento com base no art. 1.015, II, do CPC/2015; (ii) se, contudo, o julgamento da primeira fase da ação de exigir contas for de improcedência do pedido ou de extinção do processo sem resolução de mérito, o pronunciamento jurisdicional terá natureza de sentença e será impugnável por apelação (REsp 1.746.337/RS, 3ª Turma, DJe 12/04/2019). 8. Na oportunidade, contudo, sublinhou-se a possibilidade da aplicação do princípio da fungibilidade recursal, uma vez que existe dúvida objetiva razoável acerca do cabimento recursal, não configurando erro crasso que justifique o não Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 7 de 13 Superior Tribunal de Justiça conhecimento do recurso a interposição de apelação no lugar de agravo de instrumento. 9. Mais especificamente no que tange à verba sucumbencial – controvérsia versada no bojo dos presentes autos – tem-se que a questão não gerava maiores discussões no bojo do antigo diploma processual civil. É que, possuindo natureza jurídica de sentença o pronunciamento jurisdicional que definia a primeira fase da ação, entendia-se cabível a condenação do vencido ao pagamento de honorários advocatícios, acaso o mesmo apresentasse resistência. 10. Nesse sentido, citam-se precedentes jurisprudenciais desta Corte: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - PRIMEIRA FASE DA AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA DA AUTORA 1. Cabível na primeira fase da ação de prestação a condenação em honorários advocatícios. Precedentes. Pleito voltado à majoração dos honorários advocatícios fixados por este relator no valor de R$ 500,00. Verba fixada em valor razoável, considerando o trabalho do advogado, a natureza da causa e o tempo despendido na demanda. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1.578.998/RS, 4ª Turma, DJe 05/05/2016) (grifos acrescentados). AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. FORMA MERCANTIL. NÃO-ATENDIMENTO. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. EMBARGOS PROTELATÓRIOS. MANUTENÇÃO DA MULTA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO. I - Não há incongruência entre o fundamento consistente na falta de prequestionamento de dispositivo legal e a não violação, pelo Acórdão hostilizado, do artigo 535 do Código de Processo Civil, se não se reputa, referido comando normativo, ser essencial para a solução da questão. II - Não tendo havido manifestação, pelo Tribunal a quo, a respeito das questões tratadas no recurso especial, é inadmissível o especial pela ausência do indispensável requisito do prequestionamento. Incidência da Súmula 211/STJ. III- A convicção a que chegou o Acórdão a respeito das contas prestadas decorreu da análise do conjunto fático-probatório, e o acolhimento da pretensão recursal demandaria o reexame do mencionado suporte, obstando a admissibilidade do especial o enunciado 7 da Súmula desta Corte Superior. IV- A inexistência de vícios e o enfrentamento da matéria pelo Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 8 de 13 Superior Tribunal de Justiça Tribunal era suficiente para se evitar a interposição dos embargos de declaração que visava, apenas, a rediscussão da questão mérito, o que autoriza a aplicação da multa do art. 538, parágrafo único do CPC. V.- Cabível na primeira fase da ação de prestação a condenação em honorários advocatícios, vencido o réu que, ademais, se opôs insistentemente ao pedido inicial. Agravo regimental improvido (AgRg nos EDcl no Ag 816.750/MG, 3ª Turma, DJe 19/12/2008) (grifos acrescentados). DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIO EM REGIME DE ADMINISTRAÇÃO OU PREÇO DE CUSTO. PRESTAÇÃO DE CONTAS. LEGITIMIDADE DO ADQUIRENTE. O DEVER DO CONSTRUTOR E INCORPORADOR NÃO SE ESGOTA COM A APRESENTAÇÃO DAS CONTAS À COMISSÃO DE REPRESENTANTES DO CONDOMÍNIO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DEVIDOS NA PRIMEIRA FASE DA AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. (...) - Vencida a parte ré, que apresentou vigorosa resistência, cabível a fixação de honorários de advogadona primeira fase da ação de prestação de contas. Precedentes. Recursos Especiais não conhecidos (REsp 782.631/MG, 3ª Turma, DJe 23/10/2008) (grifos acrescentados). Ação de prestação de contas, primeira fase. Honorários de advogado. Precedente da Corte. 1. Vencida a parte ré, que apresentou vigorosa resistência, cabível a fixação de honorários de advogado na primeira fase da ação de prestação de contas. 2. Recurso especial conhecido e provido (REsp 258.964/PR, 3ª Turma, DJ 11/06/2001) (grifos acrescentados). 11. Inclusive, já decidiu este STJ, à luz do antigo Código de Processo Civil, que o vencedor nas duas fases da ação de prestação de contas tem direito à majoração da verba honorária que lhe foi deferida na primeira sentença, desde que não ultrapassado o limite máximo de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, estabelecido pelo art. 20, § 3º, do CPC/73 (REsp 154.925/SP, 4ª Turma, DJ 12/04/1999). 12. A dúvida surge, no entanto, sob a sistemática do novo diploma, pois, conforme anteriormente consignado, a pronunciamento judicial na primeira fase, a depender do conteúdo, poderá ter natureza jurídica de decisão Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 9 de 13 Superior Tribunal de Justiça interlocutória – como o é no presente caso, em que houve o encerramento da primeira fase da ação de exigir contas, com a procedência do pedido formulado pela autora. 13. Defendem os recorrentes que tal decisão, por encerrar uma fase do processo, é decisão parcial de mérito, aproximando-se, em verdade, da natureza de sentença. 14. O TJDFT, por sua vez, reconheceu ser “incabível a condenação em honorários advocatícios de sucumbência em decisões interlocutórias, conforme determina o art. 85, § 1º, do CPC” e que “o momento apropriado para a condenação em verbas sucumbenciais será na sentença” (e-STJ fl. 979). 15. Entretanto, a despeito da alteração da natureza jurídica do provimento jurisdicional que encerra a primeira fase da ação de prestação de contas, não há razões para que seja alterada a forma da condenação ao pagamento das verbas da sucumbência antes admitida sob a vigência do anterior código, afinal, o conteúdo do pronunciamento jurisdicional permaneceu o mesmo. 16. Com efeito, assim como no antigo CPC, o autor exige as contas e o réu pode contestar tal obrigação. Acaso a decisão da primeira fase condene o réu a prestá-las, encerrando, via de consequência, aquela fase, acaba por julgar parcialmente o mérito da pretensão. Por isso é que se entende que a decisão da primeira fase, acaso julgue procedente o pedido do autor, é decisão parcial de mérito, se assemelhando àquela sentença prevista no art. 915, § 2º, do CPC/73. 17. Compartilhando dessa orientação, cita-se a doutrina de Eduardo Arruda Alvim: A divisão do procedimento em duas fases suscita o problema da distribuição dos ônus da sucumbência. Já se assinalou as condições em que é emitida a decisão na primeira fase e que ela nem sempre se mostrará necessária. Todavia, uma vez emitida com teor desfavorável ao autor, seja definitiva (art. Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 10 de 13 Superior Tribunal de Justiça 487, I, do CPC/2015), seja terminativa (art. 485 do CPC/2015), nada há de peculiar: o vencido, no caso o autor, responderá integralmente pelos ônus da sucumbência. Se vencido o réu que contestou a pretensão do autor, controverteu-se a possibilidade de condená-lo, a teor do art. 85 do CPC/2015. Ora, inexiste razão plausível para descarta-la, pois vencido o réu, e, nesse sentido, orienta-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. À guisa de fundamentação de estilo, invoca-se a “vigorosa resistência” do réu. Sendo que resistir à pretensão é apresentar contestação e ficar vencido. Em tal matéria, o único cuidado avulta no montante a ser fixado. O Juiz precisa considerar que o processo prosseguirá, ao avaliar o trabalho desenvolvido, na fixação segundo a diretriz do art. 85, § 2º, do CPC/2015. No que tange à segunda fase, nada há de particular, exceto que poderá ocorrer recíproca sucumbência, na medida em que o valor definido, para o efeito do art. 552 do CPC;2015, se aproxime ou se afaste do defendido por esta ou aquela parte (Direito processual civil. Eduardo Arruda Alvim, Daniel Willian Granado e Eduardo Aranha Ferreira. 6 ed. São Paulo: Sariva Educação, 2019) (grifos acrescentados). 18. Ressalte-se que o Código de Processo Civil revogado tampouco continha previsão expressa sobre a fixação da verba honorária nas ações de prestação de contas, mas a doutrina e a jurisprudência consolidaram o entendimento acerca do cabimento da incidência da verba honorária sucumbencial ainda na primeira fase da ação. 19. É que, com a procedência do pedido do autor (condenação à prestação das contas exigidas), infere-se que o réu fica vencido na primeira fase da ação de exigir contas, devendo arcar com os honorários advocatícios como consequência óbvia do princípio da sucumbência. Inclusive, foi este o entendimento perfilhado no julgamento dos EDcl no REsp 1.746.337/RS, 3ª Turma, DJe 12/04/2019). 20. A propósito, transcreve-se, também, a lição de Elpídio Donizetti, que, por sua vez, faz remissão à doutrina de Theotonio Negrão: Em se reconhecendo, na primeira fase, a improcedência da pretensão de se exigirem contas, a questão é simples. O pedido será julgado Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 11 de 13 Superior Tribunal de Justiça improcedente e o demandante será condenado ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios em favor do demandado. Em caso de procedência da primeira fase, a solução é um pouco mais complicada. Isso porque o autor, até então vitorioso, pode não o ser após o julgamento da segunda fase, isto é, o autor pode, ao final, ser condenado a quitar saldo em aberto a favor do réu. A solução em tais casos é apontada por Theotonio Negrão: “Na primeira fase da ação de prestação de contas, a sentença condenará o vencido ao pagamento de honorários de advogado, conforme considere a ação procedente ou improcedente; na segunda fase, essa condenação dependerá da conduta das partes”. Julgada procedente a primeira fase, o réu já será condenado ao pagamento das respectivas custas e dos honorários advocatícios. Por não haver, ainda, condenação (que, na verdade, além de inestimável é também imprevisível), a verba honorária será fixada com base no § 8º do art. 8 5 . Na segunda fase do procedimento, a sucumbência dependerá da postura dos litigantes. Prestadas as contas, e não instaurada qualquer controvérsia, mantém-se a distribuição arbitrada na primeira fase. Havendo impugnação das contas e do saldo devedor pretendido, dando ensejo a um novo contraditório, com produção de provas, a sentença resolverá os pontos controversos e, então, fixará a verba de sucumbência. Poderá ocorrer, assim, acréscimo da condenação imposta na primeira fase ou imposição de encargos ao autor da ação, o que caracterizaria sucumbência recíproca (Novo Código de Processo Civil comentado – 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2017, pp. 734-735) (grifos acrescentados). 21. Convém frisar que, na espécie, a autora ajuizou a ação de exigir contas em desfavor do ora recorrido, que ofereceu contestação impugnando a própria obrigação de prestá-las, não se podendo negar, portanto, que o mesmo restou vencido quanto ao ponto. 22. O acórdão recorrido, portanto, merece reforma. Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial interposto por J A G S e M G DE O P E - MICROEMPRESA e DOU-LHE PROVIMENTO, para fixar a Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 12 de 13 Superior Tribunal de Justiça verba honorária em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), nos termos do art. 85, § 8º, do CPC/2015. Documento: 117392972 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificadoPágina 13 de 13