Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AVISO LEGAL Caso esta Obra na versão impressa possua quaisquer materiais complementares, tais como: CDs e/ou DVDs ou recursos on-line, estes serão disponibilizados na versão adquirida a partir da Biblio- teca Digital através do ícone "Recursos Extras" dentro da própria Biblioteca Digital. Fundamentos de Microbiologia e Imunologia na Odontologia 4ª EDIÇÃO Lakshman Samaranayake DSc(h.c.) FDSRCSE(Hon), DOS (Glas), FRCPath (UK), FHKCPath, FCDSHK, FHKAM(Path) FHKAM(DSurg) Dean of Dentistry, Tam Wah-Ching Endowed Professor in Dental Science, Chair Professor of Oral Microbiology, Faculty of Dentistry, The University of Hong Kong, Hong Kong Honorary Professor, Eastman Dental lnstitute for Oral Health Care Sciences, University of London, UK Advisory Professor, Shanghai Jiao Tong University, School of Medicine, China Visiting Professor, Guanghua College of Stomatology, Sun Yat-sen University, Guangzhou, China Adjunct Professor, Faculty of Dentistry, Universitas lndonesia, Jakarta, lndonesia CHURCHILL LIVINGSTONE ELSEVIER ·O 2013 Else~·ie.r EdilOra LI.da. Tradução aulori,zada do idio1r1a inglêc.l da edição publicada l)Or Churd1iJI Li'9i"SSLOl)C.. u1n seJo edi1.0rial E.l.s~'ie.r Ltd. Tod0$ 0$ direitos re.ser~'<'ldos e 1)rote.gidos i)ela lei 9.610 de 19/02/1998. Ncnhuo1a i)arte deste li~·ro, sem auLOriução 1)ré°9ia por e.~rito da OOiwra, poderá ser rcprodtJ2.ida ou transmitida sejan1 qua.is f"oren1 O..'!i n1eios eo11)regados: eleuô1li<.'.O..'li, 1neclni<.'.O..'li, foLOgráfi<.'.O..'li, gra~-ação ou quaisquer ouLro..'!i. ISBN: 978-85-352-6832-4 Copyright <i 2012 by Etse«icr Ud. This edilioo of"&se:nLiaJ tvticrobiolog)• f"or De.11tisuy, 4 '" E.dilion, b:y laksho1an Sao1arana)rakc is pul>lishOO by arra11gen1cnL 'i\•ilh Else\•ier LLd. ISBN: 978-0-7020-3484-ll Capa lr,1.Crf"ace - Scrgio Uuzzi Editoração E.lelrônica Thornson Digital Else'9"ic-t Editora LA.da. Conl1ocir11e.i1to se1t1 Fronleiras Rua.SetedeSetenll)rO, nº 111-16º andar 20050-006 - CenLro - Rio de janeiro - RJ Rua. Quiotana, nº 7$3 - 8 ° andar 04569-0U - Brooklin - Silo Paulo - SP Serviço de A1.endin1enl0 ao Clie11te 0800 026 53 40 sac@el~·ier.c:on1.br ConsuJle U1.ml'lé1n ll0$SO caui.logo com1)le.to, os úllimos lar)Q\DlCnl.0$ e os se.rviço..'!i exdu.'!ii'9'0$ no siLC \'il\"l\v.cl.se9ier.oon1.br NCYD\ Como as no~'<'IS pesquisas e a experiência am1)JJa1t1 o 1)0..'!iSO ronhcíimenlO, J)ode ha~<er "eressidadc de al1.eração do..'!i métodos de 1)esquisa, das práLicas profissionais ou do Lral:lmcnlo n1Mico. Ta"lô n1édicos qua11to 1)e.'!iqui.sadom d~Jtl sen11)re basear-se cm sua pró1)ria C:XJ)Cri~1cia e c.or,hecin1cnLO J)ara a\raliar e en1pregar quaisquer informa(,'ÕCS. n1étOd0$, suh.<!ilãnc-jas ou e:x-pcrime.11tos dc.'!ic:ritos ncsLC leitto. Ao utilizar qualquer inforn1ação ou n1étodo, deven1 ser cri1.Cri0$0$ com relação a sua.1)r6pria se:guran(,'a ou a seguran(,'.a de outras l~'lisoa.s, i"cluindo aquelas sol)re as quais le"hanl res1wnsal)ilidade 1)rofissiooaL Com relação a qualquer fárn1ac:o ou produLO farn1acêutico cspcci6c:ado, aconselha-se o leitor a rercar-se da mais aluai inforn1ação fornecida ( i) a respeito dos proc:edimcnLOs descritos, ou (ii) 1)elo fabrica" lê de cada J)rodulO a ser ad1ni1,is1.rado, de n1odo a c:erti6c:ar-sc sobre a do..'!ie recomendada ou a f6rn1ula, o 1nél0do e a duração da adn1inisuação, e as con1.raindica(,'õe.s. É responsabilidade. do n1édioo, c:on1 ba.se cm sua. experiência pe.~'!ioa l e no conhechner'lô de seus pacientes, delerminar as iwsologias e o n1clhor tratamento i)ara cada pacie.tlte. individualmente, e ado1.ar lôdas as i)rcauçôcs de segurao(,'.a apropriadas. Para todos 0$ efeitos legais, nen1 a Edilorn, nen1 autore.'!i, "e1n edil.Ores, 11c111 1.raduLOres, nem re~·isores ou colaboradores, assu1t1e1n qualquer respo1lsal)Uidade por qualquer efeito danoso e/ou 111alefrcio a pe.ssoa.'!i ou l)fôl)riedade.'!i C11,.•ol"\it>:l)dO fCS"J)Onsabilidade, negligência etc-_ de produlôs, ou adviodos de quaJqucr uso ou en1prego de quaisquer n1éLOdo..'!i, produtos, i.nstru(,'ões ou ideia.s cootidos oo 1naterial aqui i)ublic.ado. Sl79f Sa1t1aranayakc, Lak.<!ihn1an P. CW-BRASIL. C\TAlOGAÇ\0-NA-FONTE SINDICATO NACTONAL DOS EDITORES Dll LIVROS, RJ O Edltor Fwldan1enlôs de n1icrobiologia e imwlologia na odontologia/ [lak.~h1nan San1aranayake); [ uadu(,'.ão Adriana Paulino do Nascime11to ... et al.J.- Rio de Jaociro: Else~·ie.r, 2012. 382p.: il.; 28cm Tradução de: Esscnlial n1icrol>iology for dcnlisuy, 41.h ed. ISBN 978-85-352-6832-4 l. Boca - tvtic:rol)iologia. l Tfwlo. 12-1871. CDD: 617.522 CDU: 616.31 Revisão Científica e Tradução Revisão Científica Antonio Olavo Cardoso Jorge Professor Titular de Microbiologia e In1unologia da Faculdade de Odontologia de São Jose dos Campos, Universidade Estadual Pauli~ta (UNESP) Tradução Adriana Paulino do Nascimento (Caps. 24 e 26) Mestre en1 Morfologia pela Universidade do E.~tado do Rio de Janeiro (UERJ) Doutora em Biologia Humana e Experimental pela UERJ Adriana Pittella Sudré (Caps. 13, 19 e 20) Professora Assistente de Parasitologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Mestre en1 Patologia pela UFF Alessandra Mattos Saliba (Caps. 5 e 23) Professora Adjunta do Depanan1ento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Faculdade de Ciências lvlédicas da UERJ Doutora em Ciências Ana Cláudia de Paula Rosa ( Caps. 15 a 17) Professora Adjunta do Depana1nento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Faculdade de Ciências lvlédicas da UERJ Doutora em Ciências pela U1úversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Claudia Coana (Cap. 18 e Glossário) Bacharel em Letras/fradução pelo Centro Universitário Ibero-Americano (UNlBBRO) Felipe Piedade Gonçalves Neves (Caps. 6, 31 a 33) Professor Adjunto do Departamento de lvticrobiologia e Parasitologia do lnstituto Biomédico da UFF José Augusto Adler Pereira (Caps. 1, 2, 25 e 27) Professor Associado de lvlicrobiologia e Imunologia do Departamento de Patologia e Laboratório da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ José de Assis Silva Júnior (Cap. 22) Especialista en1 Eston1atologia pela UFRJ Mestre e Doutor en1 Patologia pela UFF Lucimar Gonçalves Milagres (Cap. 30) Professora Adjunta do Depanan1ento de Patologia e Laboratório da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ Sarah Aparecida Ferreira Antero ( Caps. 34 e 35) Especialista en1 Cirurgia e Trawnatologia Bucomaxilofaciais e E.~omatologia Staff dos serviços de CIBMF do Hospital Geral de Bonsucesso (HGB-RJ) e Hospital E.~tadual Getulio Vargas (J-JEGV-RJ) Sergio Eduardo Longo Fracalanzza (Caps. 12 e 14) Doutor e Professor Associado N do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes da UFRJ. iv Revisão Científica e Tradução Silvia Paula de Oliveira (Caps. 36 e 37) Coordenadora do curso de especialização em Eston1atologia da OCEx Especialista en1 Eston1atologia pela OCEx Especialista en1 Odontologia do Trabalho pela ABO-Niterói Mestre e Doutora en1 Patologia Bucodental pela UFF Tatiana Ferreira Robaina (Caps. 21, 29 e Índice) Odontóloga pela Universidade Federal de Pelota.~ (UPPEL) Mestre en1 Patologia pela UFF Doutora em Ciências pela UFRJ Vânia Lúcia Carreira Merquior (Caps. 3, 7 e li) Professora Associada do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UERJ Vinicius Farias Ferreira (Cap. 28) Especialista en1 Prótese Dentária pela PUC-Rio Mestre en1 Clínica Odontológica (Petiodontia) pela UFF Doutorando em Petiodontia pela UERJ Viveca Antonia Giongo Galvão (Caps. 4, 8 ao 10) Professora da Universidade Castello Branco (UCB) Pesquisadora do Departamento de Biologia Celular e Molecular - Virologia Molecular da UFF Mestre en1 ln1unologia pela USP Doutora em Bioquín1ica Médica pela UFRJ Bem-vindo à 4" edição de Fundamentos de MicrolYiologia e Imu- nologia na Odontologia! Já são 15 anos desde que a prin1eira edição deste volume foi publicada enl 1996 e, desde então, a ciência das doenças uúec- ciosas avançou1uuito. As duas plincipais razões para essas nlu- danças transformacionais foraiu a explosão de novas tecnologias que ofereceran1 novas ferramentas para os pesquisadores reali- :zarem a identificação e a reclassificação dos micro-organisn1os e o descobrüuento de novos 1uicro-organimnos, particulaimente novos ví1us que mudaraiu o panoraina da prática odontológica e 1nédica. Por exemplo, a nova tecnologia de pirossequencia- mento te1u revolucionado o campo da taxonomia microbiana e a identificação, em particular de bactélias não cultiváveL~, levando a repensar radicaJn1ente a quantidade e a qualidade da microbiota que habita o orgarus1uo hun1ano, incluindo a ca- vidade oral. Assbu, nesta edição, tento u1corporar os novos dados, tanto quanto possível, enquanto 1uantenho sua popular formatação concisa porém abrai1gente. O fato de você estar lendo agora a 4" edição é a confi1n1ação da sua populalidade, com mais de 25.000 cópias vendidas em todos os cinco continentes; as traduções e1u polonês e coreano do livro já têm ta1ubé1u en1 versão impressa. Por isso, estou profundamente agradecido aos professores de microbiologia das faculdades de odontologia e aos alunos de graduação e de pós-graduação que são ávidos fãs, em todo o inundo. Na compilação desta ediç.ão con1pletamente revisada, nlan- tive as características populares das últin1as edições. U1ua característica principal desta ediç.ão é uma nova seção sobre o siste1ua iiuunológico oral, adequadamente escrita pelo Dr. Glen C. Ulett, do Centre for lvledicine and Oral J-lealth, da Griffith University, Austrália. Alé1u disso, o Dr. Ulett 1ue ajudou na revisão de outras partes do texto, pelo que sou verdadeiramente grato. Outras novas características do livro incluen1 novas mformações sobre bactérias não cultiváveis e novas fenamentas moleculares; biofilmes e doença sistênlica; microbiologia da peri-m1plantite (gentiln1ente escrito pela Prefácio Ora. LL~a Heitz-Mayfield); diretrizes atuais sobre profilaxia antilnicrobiana; e recomendações atualizadas sobre procedi- mentos de controle de infecção. Claro, u1u volume dessa natureza não pode ser produzido sen1 a ajuda de muitos amigos e colegas. Os colaboradores origiluis para a seção de imunologia mcluíram o Dr. Brian Jones e o Dr. Lfw·ei lu, do Departn1ent of Pathology, University of Hong Kong, e o últi1uo revisou mais uma vez o texto com a ajuda do Dr. Ulett, co1uo mencionado anteiionnente. lvlais uma vez, sou grato aos seguil1tes colegas em todo o mundo, que graciosamente pein1itiran1 a reprodução de seus trabalhos: professor H. Jenkinson, University of Biistol, Reino Unido (Fig. 3.9); Dr. Be1nard Lo\'l, Malásia (Fig. 5.1); Dra. Annette /vlotte, Free Uruversity of Berlin, Alen1anha (Fig. 31.6); Dra. Leanor J-laley, CDC, Atlanta, B.mdos Unidos; e professor MAO Lewis, University of\Nales, Reino Unido (Fig.~. 34.1 e 34.3). As Figuras 37.4 e 37.8 são reproduzidas do UK Health Tecb1úcal Memorandun1 N. 01-05, 2009, com pern1issão do Crown Copylight. Como sempre, a equipe editoiial da Elsevier, liderada por Frances Affleck e Carole McMurray, 1ue levou à difícil tarefa de vencer os prazos, apesar de meus outros múmeros deveres. Seu profissionalL~mo e paciência tên1 minha ad1uiração e gratidão. Por últin10, mas não menos @portante, I-lemamali, Dil;uú e Asanka, por terem perdido algum tempo de qualidade com a fanúlia, por causa deste volun1e, e sou etenumente grato por sua tolerância e compreensão. Concluindo, VOCÊ, leitor, é o nleu amigo e crítico mais importante! As nluitas características desta edição são devidas ao seu feedback ao longo de 1uuitos anos, e sinceran1ente espero que a edição atual seja o melhor produto até agora. Porém, nenhu1u livro é perfeito; por isso, continue a enviar seus comentários, bons ou maus, para Jakshman@hku.hk. Lakshman San1aranayake Hong Kong /vlaio de 2011 Esta página foi deixada intencionalmente em branco Sumário 1. introdução 1 Parte 1: Microbiologia geral 5 2 Estrutura bacteriana e taxonomia 6 3 Fisiologia e genética bacteriana 14 4 Vírus e príons 26 5 Patogênese da doença microbiana 35 6 Diagnóstico mia·obiológico e métodos laboratoriais 47 7 Quimioterapia antimicrobiana 64 Parte 2: Imunologia básica 77 8 O sistema imune e a cavidade oral 78 9 A resposta imune 95 10 imunidade e infecção 104 Parte 3: Micro-organismos relevantes em odontologia 113 1 1 Estreptococos, estafilococos e micrococos 114 12 Lactobacilos, corinebactérias e propionibactél.ias 122 13 Actinomicetos, dostrídios e espécies de Bacillus 125 14 Neisseriaceae, Veillonel/a, paivobactél.ia e Capnocytophaga 130 15 Enterobactérias 136 16 Vibrio, Campylobacter e Wolinella 141 17 Bacteroides, Tannerel/a, Porphyromonas e Prevotella 144 18 Fusobactél.ias, Leptot1ichia e espiroquetas 147 19 Micobactérias e legionelas 152 20 Clamídias, iiquétsias e micoplasmas 156 21 Vírus de relevância para odontologia 159 22 Fungos de relevância para odontologia 170 Parte 4: Infecções de relevância para a odontologia 177 23 infecções do n·ato respiratório 178 24 infecções do sistema cardiovascular 188 25 infecções dos sistemas neivoso central e locomotor 194 26 infecções do n·ato gastrointestinal 200 27 infecções do n·ato geniturinário 208 28 infecções de pele e de ferimentos 215 29 Hepatites virais 220 30 infecções pelo vírus da imunodeficiência, AIDS e infecções em pacientes comprometidos 231 Sumário Parte 5: Microbiologia oral 243 31 Microbiota oral residente, ecossistema oral e biofilme dentário 244 32 Microbiologia da cárie dentária 258 33 Microbiologia da doença periodontal 266 34 infecções dentoalveolares 277 35 infecções da mucosa bucal e das glândulas salivares 284 Parte 6: Controle da infecção cruzada 299 36 Prindpios do controle de infecção 300 37 Procedimentos de controle de infecção na odontologia 304 Glossário de termos e abreviaturas 325 lndice 335 viii Introdução A núcrobiologia (do grego mikros, pequeno) é assim denon1i- nada porque estuda organis1nos muito pequenos para un1a observação à vista desarmada ("olho nu"). Envolve o estudo de orga1úsmos que causam doença, a resposta do hospedeiro contra a infecção e as fonuas de prevenção de infecções. Para os nossos propósitos, o assunto pode ser classificado em microbiologia geral, médica e oral. Estudantes de odontologia necessitan1 tanto de conhe- ci1nento básico da microbiologia geral e 1uédica quanto de um detalhado conhecimento da 1uicrobiologia oral que permita o diagnóstico de infecções orais 1nicrobianas, intimamente relacionadas ao plano geral de tratan1ento de seus pacientes. Além disso, as duas maiores enfermidades orais - cárie e doença periodontal - que o profissional é frequentemente chan1ado a tratar são devidas a alte- rações no ecossisten1a microbiano oral, e o don1ínio da con1preensão desses processos é essencial para condutas adequadas. O in1pacto dessas infecções na saúde e ben1-estar da co- n1unidade é assustador. EstiJna-se que, por exemplo, a cárie e a doença periodontal seja1u as mais dispendiosas doenças con1 que a maioria da população tem de lutar durante a vida e que o número de horas de trabalho perdido devido a essas infecções e os custos relativos ao tratamento den- tário atingem, mundialmente, bilhões de dólares por ano (p. ex., mais de 81 bilhões de dólares nos Estados Unidos, em 2006). Isso não surpreende quando se reconhece que a doença periodontal é a 1uais comum afecção da espécie hu1uana. O advento da infecção pelo vírus da imw1odeficiência hwnana (HIV) no início dos anos de 1980 e o subsequente reconhecimento das infecções cruzadas via sangue e ins- tru1uentos contanúnados resultou en1 crescente regulamen- tação de práticas de controle de infecção na odontologia. Mais ainda, vários pacientes são constantemente alertados sobre a possível transmissão de infecção em ambientes clínicos por causa da intensa, e muitas vezes não confiá- vel, publicidade dada aesses assuntos pelos veículos de con1unicação. O dentista na atividade profissional deve, dessa fonua, estar familiarizado com todos os aspectos do controle de infecções no an1biente clínico, não somente para a in1plementação de medidas de controle, mas tam- bém para alertar a equipe odontológica (assistentes de cirurgia dental, higienistas e pessoal auxiliar) e desfazer n1edos infundados dos pacientes. Por essas e muitas outras razões, o estudante descobrirá neste texto que a disciplina de n1icrobiologia está intimamente entrelaçada à prática da odontologia e constitui fundamental co1uponente do currículo da odontologia. CAPÍTU LO 1 Deve-se ta1ubém conceber que as doenças microbianas einergem incessantemente (devido a razões apresentadas a seguir); dessa forma, o livro de que você dhpõe é fundan1ental para entender e se conduzir em cenários futuros, especialn1en- te no contexto do controle de infecções. Nota sobre infecções emergentes e reemergentes Os agentes infecciosos tên1 sido adversários dos seres huma- nos há milênios. Foi postulado que doenças como a peste exterminara1u civilizações nos ten1pos antigos; entretanto, a hu1ua1údade venceu a batalha contra os n1icro-organismos em anos mais recentes (p. ex., com a erradicação da varíola). Às novas doenças têm-se dado o no1ue de infecções emer- gentes ou reemergentes (Fig. 1.1 ), categotizadas, de fonua geral, como: • infecções novas, con10 a síndron1e respiratória aguda grave (SARSCoV), causadas por novos agentes co1uo os coronavfn1s • infecções "velhas" - doenças conhecidas para as quais os agentes etiológicos foram recentemente identificados através de avanços tecnológicos (p. ex., T-Ielicobacter pylori causando úlcera gástrica) • infecções reemergentes - doenças que reapareceram co1u Ílnpeto devido a U-ansfonnações genéticas e eslluturais, resultando em elevada virulência do orgaoomo (p. ex., J\4ycobacterium tuberculosis con1 sua "bagage1u de novos truques"). A~ razões para tal emergência são 1uúltiplas e incluen1: • eventos da sociedade - en1pobrecin1ento econôn1ico, especialmente em países en1 desenvolvúnento, guerras e conflitos civis, assin1 como os grandes movúnentos n1igratórios • assistência de saúde - novos equipan1entos médicos, transplantes de órgãos/tecidos, in1unossupressão, abuso dos antibióticos e sangue ou derivados contamúudos • comportamento humano - crescente pro1uiscuidade sexual, abuso de drogas ú1jetáveis • alterações ambientais - devastação de florestas, secas, inundações e aquecimento global • adaptação microbiana - e1nergência de novas espécies a partir das selvagens (p. ex., HIV), alterações na virulência, 113 produção de toxinas e desenvolvimento de resistência a drogas. 2 Introdução S. nurcus rcsislcntc à vancomicina Vfrus da imuno· ' deí~nc:i.a sfmia E.c<>li0157117 V1rus While water Arroyo f Slndrome 1es-plratórta I oguda grave / E co/i (SAllS) / 0157 H7 ........ ~ - / "---Malária resistenlé Fabra amarela Cólera L ~ drogos Febre hemorrágica pelo virus Ebola -- Febre hemorrágica de rvlarburg l::nte1oviru1 /1 Fig. 1.1 Prevalência mundial de algumas doenças emergentes e reemergentes.S. aureus,Staphy/ococcus aureus;E. coll, Escherichía co/I; vCJD, variante da doença de Creutzfeld·Jakob; SARS, sfndome respiratótia aguda grave; HIV, vfrus da imunodeficiência humana. Sobre este livro Este livro é dividido em se.is panes com o inruito de enfatizar as diferentes caraaerfsticas da microbiologia relativa à odon- tologia, mas deve ser lembrado que tais divisões são didáticas, sendo meramente uma tentativa de simplificar o processo de aprendizagem. Os primeiros capítulos da Parte 1 descrevem essenáal- mente características microbiológicas gerais de bactérias e vírus, e como eles causam infecções humanas (patogênese). A microbiologia diagnóstica pela qual os microbiologistas buscam determinar a natureza dos agentes causadores de várias infecções é descrita no Capítulo 6. Nesse assunto fas- ánante. a atividade do laboratório é análoga ao trabalho de wna agência de investigaç.ão criminal! Quando uma amos- tra clínica (p. ex., pus, urina) de um paáente com infecção é enviada ao laboratório para a iden tificação do agente agressor, o microbiologista cifnico utiliza vários 1nétodos e téalicas, assi1n co1no considerável dose de reflexão e con- templação, para identificar o organismo patogênico ou orga- nis1nos escondidos na a1nostra clínk.a. Em várias situações, o organismo pode estar morto, circunst'lncia na qual os indícios indiretos deve.111 ser investigados por técnicas de biologia molecular para incriminar o patógeno sob suspeição. Logo que um agente agressor é identifi cado, a terapia anti111icro- biana é fundamental no tratamento; assim, uma descrição de agentes quirnioterápicos e como os memos são escolhidos no Laboratório são apresentados no Capítulo 7. O hospedeiro reage à infecç.ão produzindo uma resposta imunológica. Uma abordagem sumária sobre a imunologia básica é realizada na Parte 2; leituras adicionais são neces- sárias para enriquecer o material, e o leitor é apresentado a essa lista de textos recomendados com esse propósito. A nomenclatura imunológica é complexa e frequentemente difíál: por conseguinte. um glossário de termos e abreviações é fomeádo como apêndice. Embora existam centenas de patógenos agressores, somente alguns são de imponânáa direta para a prática odontológica e para a compreensão dos mecanismos de doença; estes são descritos na Pane 3. Essa seção pode parecer a mais ame- drontadora do livro por causa da complexa nomendarura dos micro-0rganismo; por isso, somente os gêneros baaerianos mais relevantes - alguns dos quais são mais estreitamente relaáonados à prática odontológica (p. ex., estreptococos) do que outros (p. ex., legionela) - são abordados. Similar- mente. os capítulos sobre vfrus e fungos são relativamente concisos, com curtas abordagens, somente dos organismos mais relevantes. As prinápais infecções de cada siste1na orgânico são dis- cutidas na Parte 4, co1n ênfase naqueles que são ntais impor- tantes para a odontologia. O estudante é fonemente aconse· lbado a correlaáonar os orga1lismos a suas características (descritas na Pa1te 3), quando do estudo dessa seção, para compreender que as características e as doenças que c-.ausam forma1n um si1nples contirmu111. A Parte 5 aborda espeáfica1neote as interações microbia· nas na região craniofaáal, tanto na saúde quanto na doença. Essa seção deve ser particularmente útil para os estudantes mais adiantados no currículo de odontologia, para reforçar os estudos na odontologia conse!Vlltiva, periodontia, árurgia (oral e maxilofaáal) e na mediána oral . Por último, mas não nlenos in1portante ten1a, a infecção cruzada e seu controle estão contidos na Parte 6. F...<aa fon1ece wn acessível su1uário dos procedimentos rotineiros de con- trole de infecção que deven1 ser implementados en1 toda e qualquer prática odontológica. Não é possível desconsiderar a importância desse tipo de informação na rotina da prática clútica, e um completo entendimento desse material deve render altos dividendos nos anos futuros. Como o estudante vai constatar, a natureza deste texto deve ton1ar quase todas as matérias significativas. Dessa for- n1a, o leitor será desafiado intelectualmente a aprender um novo conceito ou tenninologia em quase toda sentença ou frase. Adicionalmente, foi feita uma tentativa de sumarizar a informação como fatos-cl1ave, para servir de aide-mémo-íre, ao fi1u de cada capítulo. É iiuportante, entretanto, que o nlaterial temático seja enriquecido por leituras adicionais, e com esse intuito fon1ecen1os uma lL~ta de textos recomen- dados. Uma nova caracte1istica desta edição é a inclusão de autoavaliação ao final de cada capítulo. En1bora as ques- tões não cubraJu todos os aspectos de cada um, pode1u ajudar o leitor a atingir a assimilação de conheci1uento em áreas-cllave.Leituras sugeridas Introdução Finahuente, na maior parte dos capítulos, o texto é disposto de acordo com as seguintes características da microbiologia, que o estudante deve compreender a fim de lidar com as doenças infecciosas: • Epidemiologia: dL~senunação, distribuição e prevalência de infecções na comu1udade • Patogênese: os meios pelos quais os micro-organis1uos causan1 doença en1 humanos, e o entendi1uento do que é crítico para o sucesso do diagnóstico e da conduta na infecção • Diagnóstico: detecção da iiúecção, a qual depende da obtenção de espéciJne adequado da forma maL~ correta e da subsequente interpretação dos resultados laboratoriais • Tratamento: terapia antibacteriana, antifúngica ou antivirai combinada à terapia de suporte permite a cura da maioria das infecções • Prevenção (profilaxia): as imill1Ízações são as mais úteis fo1n1as de prevenir doenças con10 o tétano e a hepatite B; entretanto, crescente conscientização pública sobre as doenças e suas fonnas de dL~se1uinação ajudam significativanlente a limitar a dL~se1uinação de infecções na con1unidade (p. ex., uúecção pelo HIV}. Coggan, D., Rose,(;., & Barl<er, O. J. l'. ( 1997). Epidemiolog)' for tlw w1initiated (4th ed.) . London: BMJ Publishing Group. Beilder, "I'., & t·1emming, T. E (2011 ). Oral biofilm-associated diseases: uends and implications for quality oflife.. systemic healtl1 and expendirures. Periodontology, 55, 2000, 87-103. Morse, S. S. ( 1995). l'actors in the emergence of i11fectious diseases. En1ergi11s Jnfr.ctious Diseases, 1, 7-LS. 3 Esta página foi deixada intencionalmente em branco t Microbiologia geral O objetivo desta seção é apresentar (1) as características esuuturai~ dos 1nicro-organfamos, como os mesmos causan1 doença e (2) as perspectivas dos métodos laboratoriafa de diagnóstico para explicar as relações entre as bases áentíficas da núcrobiologia e sua aplicação no cuidado dos paáentes. • Estrutura bacteriana e taxoooo1ia • Fisiologia e genética bacteriana • Vírus e príons • Patogêoese da doença microbiana • Diagnóstico microbiológico e métodos laboratoriais • Quimioterapia antinlicrobiana CAPÍTULO 2 Estrutura bacteriana e taxonomia Ao longo de muitos séculos, tem-se buscado uma classificação de todos os seres vivos, incluindo os núcro-organismos (Tabela 2 .1 ). Embora, inicialmente, todos os seres vivos tenbam sido classificados e1u dois reinos, plantas e anin1ais, a classificação era arbiu"á!ia e baseada em características morfológicas e de crescin1ento. Con1 o desenvolvuuento de novas técnicas, a classificação anterior foi estendida para incluir cú1co reinos: 01onera, protista, plantae, fungi e animaLia. Entretanto, a compreensão atual, baseada nas relações genéticas, é que todas as fo1mas de vida são classificadas en1 três dommios: Archaea, Bacteria e Eucarya. As principais diferenças entre Arcl1aea, Bacteria e Eucarya estão listadas na Tabela 2.2 . Note que Arcl1aea e Bacteria, em conjunto, são conhecidas co1uo procariontes (veja a seguir). Os vírus não são incluídos nessa classificação porque constituem organismos excepcionais, acelulares e metabo- licamente u1ertes, que se 1uuJtiplicam son1ente em céluJas vivas. Incluem-se outras diferenças entre ví111s e organis1nos celulares: • Estrutura. As células possuem um núcleo ou, no caso das bactélias, u1u nucleoide contendo DNA. Ele é circundado por citoplasma no qual a energia é gerada e as proteínas são sintetizadas. Nos vírus, a região nuclear 01ais central é o material genético, DNA ou RNA, mas eles não possuem citoplasn1a e por isso suas proteínas e energia dependen1 do hospedeiro (são metabolicamente inertes). • Reprodução. A.~ bactérias se reproduzen1 por divisão binária (un1a célula parental se divide em duas células sin1ilares), n1as os vírus se desn1ontam, produzem cópias de seus 01ateliais genéticos e proteínas e, depois, são montados para produzir outra geração de vírus. Os vírus são metabolicamente inertes, devendo se multiplicar no unerior de céluJas do hospedeiro. As bactérias podem, entretanto, se 1uultiplicar extracelularmente (exceto as riquétsias e clan1ídias, que são bactélias que também requerem céluJas vivas para a 01ultiplicação ) . Eucariontes e procariontes Con10 foi 01encionado, outra n1odificação da classificação dos organismos é dividi-los en1 procariontes (Arcl1aea e Bacteria) e eucariotontes (do grego harion: núcleo). Os fungos, pro- tozoários e céluJas humanas, por exen1plo, são eucariontes, enquanto as bactérias são procariontes. Nos procaliontes, o genoma bacteriano, ou cron1osson10, é único, constituído por uma molécuJa de DNA circuJar, sem presença de men1- brana nuclear (1nolécuJas de DNA circular, únicas ou múlti- plas, denominadas plasmídios poden1 estar presentes e1u bactélias), entretanto as céluJas eucadontes contên1 núcleo verdadeiro co1u múltiplos cromosson1os envolvidos por uma 1uembrana nuclear. A.~ bactélias co1upreendem a grande 1uaioda dos pató- genos para humanos, enquanto as arcl1aea parecem rara- 1uente causar doença hu1uana e vivem em condições ex- tremas (altas ten1peraturas ou altas concentrações de sal) . A.~ arc11aea receberan1 pouca atenção, tradicionahuente, porque não podem ser faciln1ente cultivadas em laborató- rio. É u1teressante que estudos recentes, en1pregando novas técnicas, como o pirossequencia1uento, têm descoberto a presença desses nücro-organismos na cavidade oral. Alguns estudos 1nostraram que certas espécies de arcl1aea são mais frequenten1ente encontradas em biofilmes subgengivais, na doença pedodootal . Morfologia Forma e tamanho A fo1ma de uma bactéda é determinada por sua parede celular rígida. A.~ bactérias são classificadas pela forma e1u três grupos fuodan1entai~ (Fig. 2. l A e B): 1. cocos (esféricos) 2. bacilos (bastonete) 3. espiroquetas (espirilos). Algumas bactérias com várias fonuas que ocorrem tanto em fonna de coco co1uo em forma de bacilo são denon1inadas pleomórficas (pleo: várias; mérfica: fo1n1a). O tan1anbo das bactérias varia de cerca de 0,2-5 µ.m. A menor bactélia tem tamanho próximo ao dos maiores vírus (poxvírus ), enquanto as mais longas bactédas atingen1 o tan1anho de algumas leveduras e hemácias humanas (7µ.m). Arranjos As bactélias, a despeito do tamanho, se arranjan1 ( comumente em função do plano das sucessivas divisões celulares) como pares (diplococos), cadeias (estreptococos), semelhantes a cachos de uva ( estafilococos) ou em pares angulosos ou em paliçada ( corinebactéda). Tabela 2.1 características diferenciais dos principais grupos de organismos Bactérias Mlcoplasmas Rlquétslas Clamfdlas Vírus• Fungos Visível por microscopia óptica + + + Capaz de crescimento livre + + Presença de DNA e de RNA + + + Âcido muramico na parede celular + + + Parede celular ngida + + Sensível à penicilina Variável Sensível à tetraciclina Variável + + Reprodução essencial por divisão binária + + + •f.>tíons (a9éntes (éSpóf'ISáveis péll) doer\Çél de Oéutlfeldt~Jakob) não são incluídos pêlo stiJtus aindtl não definido. Tabela 2.2 Principais diferenças entre os domínios da vida Bactéria • • • • • • . . ONA livre no citoplasma Cromossomo único ONA associado a proteínas semelhantes a histonas . . . i\~uitas contém elementos extracromossômicos denominados plasmídios fntrons ausentes no RNAm Divisão celular por fissão binária - somente divisão assexuada Transferência de material genético ocotre por conjugação, transdução e transformação (Cap. 3) • • • i\•1embrana celular contém hopanoides Presença de lipopolissacarideos e de ácido teicoico i\•1etabolismo energético associado à membrana celular Fotossíntese associada a sistemas de membrana e vesículas no citoplasma Flagelo constituído de uma proteína, flagelina Ribossomo - 705 Parede celular de peptidoglicano Archaea ' . DNA livre no citoplasma Cromossomo único DNA associado a ptotefnassemelhantes a histonas Plasmídios podem estar presentes introns ausentes na maioria dos genes Reprodução assexuada e esporos ausentes Processo similar à conjugação bactefiana permite transferência de material genético fvlembranas contêm isoptenos Ausênáa de lipopofissacarídeose de ácido teicok:o Contém flagelos que obtêm energia a partir de bombas de prótons Ribossomo se comporta mais como Eucarya quando exposto a inibidores Parede sem peptidoglicano + + + + + + + \/ariável + + + Eucarya DNA é contido em um núcleo limitado por uma membrana Mais de um cromossomo. Duas cópias de cada cromossomo podem estar presentes {diploide) DNA complexado a proteínas histonas Plasmídios ocorrem somente em leveduras introns presentes em todos os genes Divisão celular por mitose Transferência de informação genética ocorre durante a reprodução sexual. A meiose detetmina a produção de células haploides (gametas), que podem se fundir Membrana citoplasmática contém esteróis Mitocôndrias ptesentes na maioria dos casos Cloroplastos presentes em algas e plantas Membranas internas, retículo endoplasmático e complexo de Golgi, associados à síntese e ao endereçamento de ptote(nas. Presença de vesículas membranosas como os lisossomos e os peroxissomos Presença de citoesqueleto de microtúbulos Flagelos apresentam estrutura complexa com arranjo 9+ 2 microtúbulos Ribossomo - BOS (na mitocôndria e no cloroplasto são 7US) Parede celular polissacarídica, quando presente, de celulose ou de quitina 7 8 A B e 1 Miaobiologla geral o @) <@(á} E F H Fig. 2.1 Formas bacterianas comuns. (A) Coco; (B) diplococo encapsulado; (C, D) cocos em cadeia (p. ex., estreptococos) e em cacho (p. ex .. estafilococos); (E) bacilo: (F, G) bacilos encapsulados e flagelados (p. ex., fscherichia co/1); (H) bacilo encurvado (p. ex .. Vibrio spp.); (0 bacilo produtor de espeto (p. ex., CJostridium teran1); (J) espiroqueta. I Ribossomo/ Membrana Cápsula ' Parede celular Fig. 2.2 Esquema de célula bacteriana. 1 citoplasmática Nucleoide ·-;;---..._ / Flagelo Características da coloração pelo Gram Na nlicrobiologia clínica, as bactérias podem ser classificadas e1u doL~ subgrupos principai~ de acordo co1u as características de suas paredes celulares. A coloração empregada, denonlina- da coloração de Gram (desenvolvida pelo médico dinamar- quês Christian eram), divide as bactérias em Gram-positivas (violeta) e Gram-negativas (ve1melho). A propriedade de coloração pelo Gra1u é útil, tanto na identificação quanto para a terapia das infecções bacterianas, já que, em geral, as bactérias eram-positivas são maL~ sensíveis à penicilina do que as Gram-negativas. Estrutura A estrutura de uma bactéria típica é mostrada na Figura 2.2. A bactélia apresenta parede celular rígida, protegendo o proto- plasma, que é fluido, membrana celular e un1a variedade de outros componentes (descritos a seguir). • , fig. 2.3 Fotomicrografia de bactéria apresentando flagelos peritríquios. Observe o comprimento relativo do flagelo quando comparado ao tamanho do organismo. Estruturas externas à parede celular Flagelo Os flagelos são filamentos semelhantes a chicotes que atuam como propulsores e conduze1u as bactérias en1 direção a nutlientes e a outros recursos (Fig. 2.3}. Os filamentos são co1upostos de várias subunidades de uma proteína simples, a flagelina. Os flagelos podem estar localizados e1u uma extremidade ( monotrfquio, um único flagelo; lofotriquio, vários flagelos) ou por toda a superfície extenu da bactélia (peritriquio) . Vários bacilos (bastonetes) possuen1 flagelos, n1as a maioria dos cocos não os possui, sendo assim irnóveL~. Os espiroquetas se movem empregando uma estrutura se1ue- lhante ao flagelo chamada de filamento axial, que se enrola em volta da célula produzindo movi1uentos ondulatórios. Fímbria e pifi As fimbrias e os pili são filainentos finos, capilares, 1uais curtos que os flagelos, que se projetam da superfície celular. Os pt1i, encontrados principaln1ente nos orgaiú~mos eram-negativos, são con1postos de subunidades de proteína, a pilina, e atuam na adesão da bactéria a receptores na superfície das células humanas - prin1eiro passo necessálio para o processo de infecção. Um tipo especializado de píl.us, o pilus sexual, forma a ligação entre a bactéria n1acho (doadora) e a fêmea (recep- tora), durante a conjugação, quando genes são transferidos de uma bactélia para outra. Glicocálice (camada limosa) O glicocálice é u1ua capa polissacarídica que recobre as su- perfícies extenus de várias bactérias e pe1nlite que a bactéria adira firmemente a várias estruturas, por exemplo, mucosa oral, dente, valvas cardíacas e cateteres, e contribui para a for- n1açào de biofil1ues. Isto é especialn1ente verdadeiro no caso de Streptocxcus mutans, um importante micro-orgailismo cario- gê1lico que tem a capacidade de produzir grande quantidade de polissacarídeos extracelulares na presença de açúcares da dieta principalmente da sacarose. Cápsula Camada amorfa e gelatinosa (cornamente mais substancial do que o glicocálice) que envolve inteiramente a bactéria; é co1uposta de polissacarídeos e, ocasionalmente, de proteínas (p. ex., baálo Antrax) . Os açúcares co1nponentes do polissa- carídeo variam en1 diferentes espécies de bactédas e frequen- te1uente determina1u o tipo sorológico no âmbito de uma espécie (p. ex., 84 diferentes tipos de Streptococcus pneumoniae podem ser distinguidos por diferenças antigênicas de açúcares da cápsula polL~sacarídica). A cápsula é in1portante porque: • Atua na adesão bactedana a tecidos humanos ou próteses, como nas próteses totais e implantes - um pré-requisito para a colonização e a infecção. • Impede ou inibe a fagoótose; por isso, a presença de cápsula se correlaciona à virulência. • Ajuda na identificação laboratodal dos micro-organismos (na presença de antissoros contra polissacarídeos capsulares ocoLTe intumescimento e1~dente da cápsula, um fenômeno chamado de reação de q11ell1mg). • Seus polissacaiideos são utilizados como antígenos em detenuinadas vaónas porque induzen1 a produção de anticorpos protetores (p. ex., vacina polissacarídica de S. pneumoniae). Parede celular A parede celular confere rigidez à célula bacteriana. É uma estru- tura de múltiplas auuadas, externa à membrana celular. A parede é porosa e peru1eável a con1postos de baixo peso molecular. A ca1uada mais interna da parede celular é composta de peptidoglicano e é coberta por un1a me1ubrana externa que varia em espessura e na co1uposição química, dependendo das características de coloração pelo eram da bactéria (Fig. 2.4). O tenuo "peptidoglicano• é derivado de pepódeos e açúcares (glicano) que compõem a 1uolécula ( mureína e mucopeptídeo são sinônin1os para peptidoglicano ) . As paredes celulares de bactérias eran1-positivas e Gram- negativas apresentaiu importantes diferenças químicas (Fig. 2.5); • • • A camada de peptidoglicano é comu1u às bactédas eran1-positivas e eram-negativas, 1uas é 1uais espessa nas eram-positivas. En1 contraste, os organisn1os eram-negativos possuem uma 1uen1brana externa con1plexa composta de lipopolissacarídeo (LPS), lipoproteína e fosfolipídeo. Elas fonuam porinas, através das quai~ 1uoléculas hidrofílicas são transportadas para dentro e para fora do organismo. O LPS e seus componentes, o anógeno O e o lipídeo A, estão embebidos na membrana exten1a. O espaço periplasmático se localiza entre a n1en1brana exten1a e a n1embrana citoplasn1ática das bactérias eram-negativas. É nesse espaço que algumas espécies bacteriaJ1as produzem enzimas que atuaJU en1 antinúcrobiaJ1os como as penicilinas (p. ex., 13-lactaJuase.~). O LPS das bactérias era1u-negativas, que é extren1amente tóxico, é cba1uado de endotoxina. (Assin1, por definição, endotoxinas não poden1 ser produzidas por bactédas eram-positivasporque estas não possuem LPS em suas Cadeia peptídica Q N·acetilglico· samina ~- Ponte peptidica O Acid_o N- _ . ~ acet1lmuram1co Fig. 2.4 Estrututa química de ligação cruzada do peptidoglicano componente de parede celular, comum às bactérias Gram-positivas e Gram-negativas.1$egundo Sharon, N (/969). The bacterial cel/ wall. Scientific Ametican 220,92.) parede.~ celulares.) O LPS é ligado à supetfície celular e somente é liberado quaJ1do a bactéria sofre lise. É responsável por várias consequências da doença, como febre e choque (Cap. 5). • As paredes celulares de algun1as bactédas (p. ex., Mycobacteríum tu.berculosis) contê1u lipídios denominados áádos núcólicos, que não poden1 ser corados pelo eran1, por isso são chamados de áádos resistentes (eles resL~ten1 à descoloração pelo álcool ácido após teren1 sido corados pela carbofucsina). Bactérias com paredes celulares defectivas Algumas bactédas podem sobreviver com paredes celulares defectivas. Entre elas se incluem os micoplasmas, as formas l, os esferoplastos e os protoplastos. Os núcoplasmas não possuem parede celular e não necessi- tan1 de 1ueios hipertônicos para sobreviver. Ocorrem na natu- reza e podem causar doença hun1ana (p. ex., pneumonia) . As formas l são co1uumente produzidas no laboratório e podem ser despro,idas, total ou parcialmente, de parede celular. Essas fo1n1as podem ser produzidas em paóentes tratados co1u peniálina e, como os 1uicoplasn1as, podem se n1ultiplicar en1 meios de cultura con1uns. Thnto os esferoplastos (derivados da~ bactérias Gt-an1-negativas) quanto os protoplastos (derivados das bactérias era111- positivas) são desprovidos de paredes celulares, não podem se n1ultiplicar en1 n1eios de cultura laboratodai~, são instáveL~ e to 1 Miaobiologla geral __.-Pilus-._ ----- ---- Membrana Membrana externa Lípoproteina --- Espaço periplasmàtico i;::;...---- --------------citoplasmática-------==:'..... ___ _ -----Citoplasma ----- Gram-positivo Gram-negativo Fig. 2.S Características estruturais de paredes celulares Grarn-positivas e Gram-negativas. os1uoticamente frágeis. Requeren1 condições hipertô1úcas para se manterem, sendo produzidos em laboratório pela ação de enziluas e antibióticos. Membrana citoplasmática A nlembrana citoplasmática se encontra justaposta à ca1nada nlais interna do peptidoglicano da parede celular e é uma 'unidade de membrana• con1posta por bicamada fosfolipí- dica similar, enl aparência, à presente em células eucarióticas. Entretanto, as 1neinbranas eucarióticas contêm esteróis, ao contrário das procarióticas (a única exceção são os nlicoplas- n1as ) . A membrana tem as seguü1tes funções principais: • transpo1te ativo e difusão seletiva de moléculas e solutos, para o mterior e para o exterior da célula • transpo1te de elétrons e fosforilação oxidativa, em espécies aeróbias • síntese de precursores de parede celular • secreção de enzimas e toxinas • supone de receptores e de outras proteínas dos sistemas de transdução, quinliotáticos e sensoriais. Mesossomo Representa un1a mvagmação convoluta da menlbrana citoplasmá- tica e arua como origem do septo transverso que separa a célula em duas durante a divisão celular. É tan1bém o sítio de ligação do DNA que se toma o nlaterial genético de cada célula filha. Citoplasma O citoplasma con1preende mna região 1uais interna, a nu- deoide (composta de DNA), que é envolvida porUllla matriz amorfa contendo ribossomos, grânulos nutrientes, metabó- litos e vários íons. Material nuclear e nucleoides O citoplas1ua co1upreende rm1 cro1uosson1a ártico, circular, condensado, que contén1 cerca de 2.000 genes, com aproxi- n1adamente 1 nlm de con1primento quando descondensado (análogo a un1 simples cro1uossoma haploide). Durante a divisão celular, sofre duplicação se1uiconservativa, bidirecio- nal, a partir de rm1 ponto fixo. Ribossomos Os ribosso1uos são os locai~ de síntese proteica. Os ribosso- n1os bacterianos diferem daqueles das células eucarióticas, tanto no tan1anho quanto na con1posição quüuica. São orga- nizados e1u unidades de 70S, diferentemente dos ribossomos eucarióticos, que são 808. Essas diferenças são a base para a toxicidade seletiva de alguns antibióticos que iiúbem a síntese proteica bacteriana, mas não a hU1113na. Inclusões citoplasmáticas O citoplasma contém diferentes tipos de mdusões que serve1u como fontes de energia armazenada; exen1plos inclue1u o poliJ11etafosfato e o 13-hidroxibutirato. Esporos bacterianos Os esporos são formados em resposta a condições adversas por bactérias, algun1as de in1po1tância 1uédica pertencentes ao gênero Bacillus (que inclui o agente do Antrax) e do gênero Closrridium (que inclui os agentes do tétano e do botulisn10 ). Essas bactérias esporulam (fo1man1 esporos) quando os nu- trientes, como as fontes de carbono e 1útrogênio, são escassos (Fig. 2.6). Os esporos se desenvolven1 às expensas da célula vegetativa e contên1 DNA bacteriano, reduzida quantidade de citopla.~ma, me1ubrana celular, peptidoglicano, nluito pouca água e, o mais imponante, espessa capa se1nelhante à quera- tina. E.~sa capa, que conté1u alta concentração de dipicolinato de cálcio, é extraordiI1aria1uente resistente ao calor, à desi- dratação, à radiação e a agentes químicos. Uma vez fo1n1ado, o esporo é metabolicamente inei<e e pode penuanecer latente por muitos anos. Os esporos são denommados terminais ou subteroúnais, dependendo da posição em relação à parede celular do bacilo a partir do qual ele se desenvolve Quando as condições a1ubientais se tornam apropriada.~ (água, nutrientes), ocorre a degradação enzimática da capa e o esporo se transfom1a, nova1nente, en1 uma célula bacteriana ativa nletabolican1ente e capaz de se reproduzir (Fig. 2.6). Relevância clínica dos esporos bacterianos A in1portância dínica dos esporos reside na extraord inária resistência ao calor e aos agentes quío1icos. E1u decorrên- cia dessa resistência, a esterilização não é adequadamente atingida pela fen'1.lfa; outros métodos mais eficientes, como o vapor sobre pressão ( autodavação ), são necessários para assegurar a esterilidade de itens utilizados com fins cirúr- gicos (Cap. 3 7). Essa propriedade dos esporos bacterianos pode ser explorada quando eles são utilizados para avaliar a eficácia da esterilização por autoclaves; os esporos de Ba- cillus stearothen11ophilus e de outras espécies são empregados con1 esse fi1u. Condi_çÕ&$/ favoráveis Parede celular 1 Membrana plasmática ~( =l=;::,t' A Nucleoide F @ Endósporo ~hv1e Córtex t Capa queratinica do esporo Peptidoglicano D Fig. 2.6 Ciclo de esporulação. (A) Célula vegetativa; (8) crescimento da membrana citoplasmática para dentro; (C) desenvof\rimento do pré-espeto; {D) pté-esporo completamente separado do citoplasma; {E) desenvol\1imento do córtex e da capa queratfnica do esporo: (F) liberação do espeto e conversão ao estado vegetativo em condições favotáveis. Taxonomia A dassificação sistemática e a caracterização dos organismos dentro de grupos ordenados é denominada taxonomia. Um conhecimento aplicado de taxonomia é útil para o diagnós- tico microbio lógico e para os estudos de epidemiologia e de patogenicidade. Co1uo mencionado no início do capítulo, os organisn1os estudados na microbiologia médica enquadrao1-se nos do- 01ínios Bacteria, Archaea e Eud1arya. Embora esse sL~terna de dassificação seja baseado nas relações evolutivas ou homoge- neidade genética das espécies representadas en1 cada domínio, u1ua maneira mais utilizada de dassificação é empregada nos laboratórios de microbiologia clínica. Tal dassificação é un1 tanto artificial, na 1uedida en1 que as bactérias são das- sificadas de acordo com características fenotípicas (oposto a genotípico ), o que facilita a identificação das me.~mas. Essas características compreenden1: • morfologia (cocos, bacilos, espiroquetas) • propriedades de coloração (Gran1-positiva,Gran1-negativa) • exigências culturais ( aeróbia, anaeróbia facultativa, anaeróbia) • reações bioquímicas (sacarolíticas e assacarolíticas, de acordo com as reações de fermentação de açúcares) • estrutura antigênica ( sorotipos) Algun1as bactérias de huportância médica podeo1 ser clas- sificadas de acordo com sua 1uorfologia, características da coloração pelo Gram e exigências atmosféricas. Uma classifi- cação simples de bactérias de importância médica é dada nas Figuras 2.7 e 2.8. Taxonomia genotípica Em contraste con1 os métodos de dassificaç.ão fenotípica rela- tados, a classificação genotíp ica dos organismos en1 e.~pécies toma-se de importância crescente e útil. A taxonon1ia genotípica explora as características genéticas que são 1uai~ estáveis do que as feootípicas, que poden1 ser transitórias. E.~ses métodos ava- liam essencialmente os graus de homologia do DNA dos micro- organismos, com a finalidade de classificá-los em espécies. -e (Cachos) Staphylococcus •• •• •• • • •••• $. aureus ,--Aeróbios S. epicfermidis (Cadeias/pares)----- Streptococcus ••••••••••••••$. pneumoniae, S. pyogenes Grupo Viridsns "---Anaeróbios ----(Cadeias/cachos>----- Peptostreptococcus •••• • • • •• P. anaerobius ---1("'-- (Esporulados) ------ Baci/lus •• •• ••••• •• • • •• •• •• • 8. anthracis ,,---Aeróbios - (N ão esporu lattos) ---- Corynebaclerium • • ••• • • •••• C. diphtheriae l actobaci/Jus•• •• •• • • •• • • •• • l . acidophilus Nocardia • •• ••• • ••• •• • • • • •• N. asteroides -e (Esporuladosl Clostridium•••••••••••••••• C. tetani '---Anaeróbios C. welcllii (perfri11ge11si (Não esporulados)----Propionibacteriwn • •••• • • ••• P. acnes Actinomyces•••••••••••••• •A. israe/ii Fig. 2.7 Classificação simples das bactérias Gram-positivas. 12 1 Miaobiologla geral ---i(""-- Aeróbios-------------- Neisseria • •••• •• ••••••• •••• N. n1e11ingitidis Coco~ - N. yo11orrl1ueae Anaeróbios------------- Veil/01>efla ••••••••••••••••• V. 1>arvus ,..-- Aeróbios -------------- Pseudomonas •••••••••••••• P. aeruginosa ,--a. Pa1vobactéria - p. ex., Haert1op/)i/us •••••• •• •• •• •• H. i1lfluezae Bruce/la 8. aborrus Borderel/a 8. perwssís Pasteurella, Yersínía P. mu/tocida, Y. pesris 1-- b. Enterohacteria - p. ex., EschRricllia Klebsiella Aeróbiosou Bacilos --+--- anaeróbios --1 • • ••••• • ••••••• E. colí K. aerogenes P. mirabilis facul tativos Pro teus Serratía Salmonel/a Shige//a S. marcescens $. typl>i S. sonnei 1-- e. Víbrios ---·p. ex., Vi brio ••• ••• • ••••••• •••••• V. cltoleroc Campylobacter C. jejuni -- d. LRgionella --p. ex., LRginr>11/la •••••••••••••••• L. p1>R1Jmo1.1hila '--- Anaeróbios ------------- Bacteroides •••••••••••••••• 8. fragi/is Porphyromonos P. gingii,,a/is Prevotel/a P. intermedia ---t(""-- AP.róbios -------------- LRJ>fD!õ/lÍra •••• ••••• •••••• •• L. ictRrol1aRmorrhagiat+ Espiroquetas . Anaeróbios------------- Trcponema •••••••••••••••• T. pal/idum T. denticola Fig. 2.8 Classificaçã-o simples das bactérias Gram-negativas. São utilizados, por exen1plo, métodos como determinação de conteúdo molecular de guanina e citosina (CG), tibotipagen1, análises de polimorfismo de an1plificação randônúca (RAPO) e eletroforese em géis de agarose e1u campo alten1ado (PFGE). Novos métodos de tipagem bacteriana baseados nas sequên- cias de nucleotídeos de RNA ribosson1al (RNAr) se tomaram seguros para deternlinar a identidade bacteriana. Detalhes adicionais sobre esses métodos são dados no Capítulo 3. Adicionabuente, as pesqui'k!s recentes indicam que luibitats de baaérias endógenas em humanos, incluindo a cavidade oral, abri- gan1 1uicro-organismos que não podem ser cultivados utilizando- se téalicas laboratotiais rotineiras. A~ espécies não cultiváveis correspondem tanto a Baaeiia quanto a Archaea, e só podem ser detectadas por técnicas moleatlares ou por metagenômica (p. ex., por aJuplificação direta de RNA 16.5). O papel desses nol"os filo tipos de bactérias na saúde e na doença carece de elucidação. Tanto os organi~mos cultiváveis quanto os não cultiváveis presentes na cavidade oral são atualmente denon1inados "microbioma central". As aná!L~es desse nlicrobion1a central tê1u sido grandemente facilitadas pelo desenvolviiuento de técnicas denominadas pirossequenciamento (um método de sequencian1ento de DNA). Os resultados dos estudos de piros- sequencia1uento têm revelado que a cavidade oral pode conter nlais de 1.000 espécies baaerianas diferentes (Cap. 31)! Como os organismos recebem seus nomes? Os organis1uos são no1ueados de acordo con1 um sistema hierárquico, começando com a posição taxonômica domúlio, Tabela 2.3 Posições hierárquicas na classificação dos organismos Posição taxon6mlca Domínio Reino Filo Classe Ordem Família Género Espécie Exemplo Bacteria Bacteria Firmicutes Bacilli Lactobacillales Lactobacillaceae lactobadl/us lactobadl/us acidoji111u.s seguida por reino, filo, classe, ordem, fumília, gênero e espécie (Tabela 2.3). O nome científico de u1u organisn10 é classica- 1uente un1 binônúo das duas últimas posições taxonômicas, ou seja, uma combinação do nome do gênero seguido pelo nome da espécie; por exe1uplo, Streptococcus salivarius (note que os nomes das espécies não con1eçam con1 letra maiúscula) . O nome é comumente escrito e1u itálico, com o non1e do gênero abreviado (p. ex., S. salivarius). QuaJ1do os nomes das baaéiias são usados cmuo adjetivo ou con10 coletivo, não aparecem e1u itálico nem se iniciam com leua maiúscula (p. ex., enzhuas estafilocócicas, laaobacilos) . FATOS-CHAVE Not.a: fatos e aspectos práticos clinicamente relevantes estão em itJ/ico; palavras fundamentais estão em n@grito. • O peptid.aglicano da parede celular é comum às bactérias Gram-positivas e Gram-nagativas, sendo mais espesso nas primeiras; determina rigidez e forma ao organismo. • A palavra micro-organismo é usada para descrever um organismo que não pode ser visto sem o emprego de um microscópio. • Os principais grupos de micro-organismos são algas, protozoários, fungos, bactérias e vírus, com tamanhos progressivamente decrescentes. • O peptideoglicano compreende longas cadeias de ácido N-acetilmurâmico e N-acetilglicosamina, ligados cruzadamente por cadeias peptídicas laterais e outras ligações cruzadas. • Todas as células vivas são procarióticas (Archeae e Bacteria) ou eucarióticas. • Os /ipopolissacarfdeos (LPS) s.Jo componentes integrais da membrana externa de bactérias Gram-negativas (mas não de bactérias Gram-positivas); os LPS são endotoxinas e, dess.ã forma, as bactérias Gram-positivas não podem produzir endotoxina. • Os procariontes como as bactérias são células simples desprovidas de membranas internas ou organelas. • Os eucariontes têm núcleo, organalas como as mitocôndrias e m&mbranas internas complexas (p. ex.,, fungos, células humanas). • As paredes celulares de bactérias como as micobactérias contêm lipídios (ácidos micólicos) que são resistentes à coloração pelo Gram; essas bactérias são chamadas de organismos ácido-resirtentes. • As bactérias são divididas em duas classes principais de acordo com as características de coloração: Gram~positiva (azul-violeta) e Gram-negativa (vermelha). • O citoplasma bacteriano contém material nuclear cromossómico - nucll!Oide, ribossomos, grânulos de inclusão/armazenamento. • A formação de esporos ou esporulação é uma resposta a condiçOas adversas dos Badllus spp. e Clostridium spp. • São estruturas externas à parede celular o flagaJo (filamentos semelhantes a chicote), fímbrias ou pili (finos, curtos, capilares), glicocálice {camada limo.sa) e cápsula. • Os flagelos são usados para o movimento, as fímbrias e os pili para adesão e o glicocálice para ade.são, proteção e formação de biofilmes. A taxonomia (classificação sistemática de organismos em grupos) pode ser realizada de acordo com morfologia, coloração, exigências culturais, reações bioquímicas,estrutura antigênica e composição do DNA. Leituras sugeridas G'rielaard, VV. {2008). Pyr<>-sequencing analysis of the oral microflora of healthy adults. )oun111/ of Dental Research, 87, !Ol 6-l020. Mims, C., Playfair, J., Roitt, 1., \'\'akelin, O., & Williams, R. ( l 998). Microbe.• and parasites; and the ho.~t-parnsite response. ln Medic<Jl microbiolog)' (2nd ed.). Chs 1 and 2. London: Mosby. lndJque quaJs respostas do ~dadelras e quajs são f.a1sa.i. 2.1 Os procariontes são diferentes dos eucariontes pelo fato de: A contercn1 ri()()S:Son1os B pos.~ufreill complexo de ('.,o)gi e apresentaren1 seu 111aterial genético organizado no cjcoplasma O se repmduzire1ll SOllleJlte por divisão binária n não oooteren1 fntrons en1 seus RN.'\1n 2.2 A cápsula bacteriana: A medeja a adesão a superfícies B in11)ede a ati\lidade dos fagócitos • • d íl ,, y sa AO " a $ ~) A :) ,, ~) ' . A g ,, . ·~ l. ~ l V AV oi V . ·' r-t t"t l"t Murray, P. R., R0-"'1lthal, K. S., l<obayashi, G. S., & Pfuller, M. A. (l998). Baaerial morphology and c.ell wall souaure and S}rnthe.~is; and bactetiaJ 1netabolism and growth. ln Medical microbinlog)' (3rd ed. ). Cl1s 3 a11d 4. St Louis: tvtosh}r Year l:kJol<. Parahitiytil\1<l, N., Scully, C., Leung, \1\ 1. , Yam, W., Jin, L., & Samaranayake, L P. (20LO). E>.."Plori11g tl1e oral bacterial flora: current 23 C auxilia na identificação D é ar~tigênica n en1 todas as c.o;1)écics é C.Olllf)OSUl J)Or l)ôlissacarfdeos A partir da seguinte lista de componentes de estrutu ras bacterianas (A-G) correlacione a mais adequada associação aos descritores (1 - 8) dados a seguir: A meJt\J)rar\a ciLOplasmátic:a B ribo..~omos e inclusões citoplasn1ácica.~ D es1)oros E r\uclooide F fímbria st:atu~ and furure directions. <>ral Di.~eases, J 6, l36-l45. Raoult, D. (2005). The joumey from Rickettsia to nli1ni\ri1us. ASM Netvs, 71, 278-284. Villareal, L. P. (2005). Virusru a11d the evolution oflife. Washington, DC: ASM Press. \'l'ade, W. G. {2004). Non-culturable bacteáa i11 oomplex commensal populations. Advances in Applied Microbiolog)', 54, 93-106. G Oagelo 1. associado à fosforilação O'xidativa 2. n1ed.eia a mobilidade celular 3. fonle de energia arn1azenada 4. sfnce.~ de proteína 5. possillili-ta a sobrevivêr\cia e111 cor~djções aJlllliencais dcsfavor~eis 6. n1ed.eia a ade.~o ao 11ospedeiro 7. permite a transferência seletiva de n1olérula-s para o i1lterior e llara o exterior da célula 8. i)arece u1n c.romosson10 individual 113 CAPÍTULO 3 Fisiologia e genética bacteriana Fisiologia bacteriana Crescimento As bactérias, como todos os demais organismos, necessitam de nutrientes para atividades metabólicas e para divisão ce- lular, e crescem melhor em um ambiente que satisfaça essa.~ necessidades. Qui1nicamente. as células bacterianas são cons- tituídas de polissacarfdeos, proteínas, lipídios, ácidos nu- cleicos e peptideoglicano, os quais são sintetizados para un1 crescimento bem-sucedido. Necessidades nutricionais Oxigênio e hidrogênio O oxigênio e o hidrogênio são obtidos da água; assim, a água é essencial para o crescimento bacteriano. Adicionalmente, a tensão de oxigênio correta é necessária para um crescimento equilibrado. Enquanto o crescimento de bactéria.~ aeróbia.~ está limitado à disponibilidade de oxigênio, bactérias anae- róbias podem ser inibidas até mesmo em condições de baixa tensão de oxigênio. Carbono O carbono é obtido pelas bactérias de duas forma.~ principais: 1. Autotrófica, pelas bactérias de vida livre, que não vivem em associação com outros organismos e utilizam dióxido de carbono como fonte de carbono. 2.. Heterotrófica, pelas bactérias que vivem em associação com outros organismos, utilizam substãnóas orgânicas complexas, tais como açúcares, como fonte de dióxido de carbono e energia. lons inorgânicos Nitrogênio, enxofre. fosfato, magitésio, potássio e diversos ele- mentos traço são necessários para o cresómento bacteriano. Nutrientes orgânicos Nutrientes orgânicos são essenciais e1n diferentes quantidades, dependendo da espécie bacteriana: • Carboidratos são utilizados co1no fonte de energia e como substrato inicial para a biossíntese de muitas substâncias. • Aminoácidos são cruciais para o cresómento de alguma.~ bactérias. • Vitaminas, purinas e pirimidinas em quantidades traço são necessárias para o crescimento. Reprodução As bactérias se reproduzem por um processo chamado de divisão binária, no qual a célula parental se divide para for- mar uma progênie de duas células. Isso resulta em uma taxa de cresómento logarítmica - uma bactéria vai produzir 16 bactérias após quatro gerações. A duplicação ou ten1po n1édio de geração das bactérias pode varíar (por exemplo, 20 min para Escherichia coli, 24 h para Mycobacterlum tuberculosis); quanto 01enor o ten1po de duplicação, mais rápida é a taxa de 01ultiplicação. Outros fatores que afeta1n o tempo de du- plicação incluem a quantidade de nutrientes, a teinperatura e o pJ-1 do an1biente. Ciclo de crescimento bacteriano O ciclo de crescimento de uma bactéria cem quatro fases principais (Fig. 3.1 ): 1. Fase lag: pode durar alguns minutos ou muitas horas, pois as bactérías não se dividem imediatamente e passam por um período de adaptação com intensa atividade metabólica. 2. Fase Iog (logarítmica, exponencial): ocorre rápida divisão celular, determinada pelas condições ambientais. 3. Fase estacionária: é atingida pelo esgotamento de nutrientes ou acúmulo de produtos tóxicos. o crescimento é lento até que o número de novas células, que são produzidas, fique equilibrado com o número de células que morrem. Nesse momento, as bactérias atingiram a densidade celular máxima ou rendimento. 4. Fase de decl!nio ou de mone. é marcada pelo declínio no número de células vivas. Regulação do crescimento O crescimento bacteriano é essencialmente regulado pelos nutrientes no ambiente. Entretanto, eventos regulatórios in- tracelulares e el.tracelulares podem modificar a taxa de cres· cimento. Fatores intracelulares induein: • uúbição do produto final : a prímeira enzima em uma via metabólica é inibida pelo produto final da via • repressão catabólica: a sfntese enzimática é. inibida pelos catabólitos. Fatores extracelulares que podem 111odificar o crescimento bacteriano são: • Temperatura: temperatura ótima é necessária para atividade eficiente de muitas enzimas bacterianas, Estacio1)ária ,_...-11:""'---célu las "'-.,_ totais ' .... ,, Células viáveis .__ , __ _.__, __ ,__, _ _.__ 1_ 1_ 1 _ _,__, Fig. 3.1 Cunra de crescimento bacteriano. Lag, fase fag do crescimento; Log, fase logarítmica do crescimento. entretanto as bactérias podem crescer em un1a vasta faixa de temperatura. Por consequênàa, as bactérias podem ser classificadas como: • mesófilas, que crescetn bem entre 25-40 º C, cotupreendendo a maioria das bactérias de importânàa médica (que crescem melhor na temperatura do corpo) • tenuófilas, que crescem entre 55-80 º C (11ien111is aquaticus, por exetuplo, crescem em nascentes de águas termais, e suas enzimas, tais con10 Taq polimerase, são, portanto, resistentes ao calor, um fato explorado pelos biólogos n1oleculares na reação em cadeia da polunerase (PCR) (veja adiante)) • psicrófilas, que crescem a temperaturas abaixo de 20ºC. • pH: para o cresàtuento bacteriano ótimo, a concentração de íon hidrogêtúo no atubiente deve ser em to1uo de pJ-I 7,2-7,4 (ou seja, pH fisiológico)- Entretanto, algumas bactérias (p. ex_, lactobaàlos) evoluíram para habitar nichos ecológicos, tais co1uo as cavidades das cáties, onde o pI-1 pode ser tão baixo quanto 5,0. Crescimento aeróbico e anaeróbico Un1a boa oferta de oxigênio aumenta o metabolisn10 e o cresàmento da nuioria das bactétias. O oxigênio atua como aceptor de hidrogênio nas etapas finais de produção de ener- gia, gerando duas moléculas: peróxido de hidrogêtúo(J-I,O,) e radicais livres superóxido (O,). Alubos são tóxicos e por isso precisan1 ser destruídos. Duas enzimas são utilizadas pelas bactérias para descartar esses compostos tóxicos; a primeira é a superóxido dismutase, que catali~a a reação: 202 + 2f-I '~ J-120 2 + 0 2 e a segunda é a catalase, que converte o peróxido de hidro- gênio em água e oxigênio: 21-1,0, ~ 21-1,0+02 As bactérias também podem ser classificadas de acordo com a sua capaàdade de viver em u1u ambiente repleto de oxigênio ou livre de oxigênio (Fig. 3 .2, Tabela 3 .1) . Isso tem impor- tantes implicações práticas, pois espécin1es clínicos devem ser ---------··--------............... ................ .'.':.' . .'.'. :. :.·. :.'. ··:·:·:·: ·:·:·:·:•: ·-: 1 ' .. : : .... :. ' 2 ' ' ' ...... ·.·:.·:;;,,:.°i:r:~· : ................ : .. . .. ......... . . '- , 3 4 ----- ·'J.~·'J. ~·:.:·:.::: .: ... ............................. _ .. ................ ........... -:.•::.•:.•. : ·:·:·:·:·: ·::·:·:·:·:·:·: :·:: ........................ 5 Fig. 3.2 Exigências atmosféricas das bactérias, como demonstrado em culturas mantidas sob agitação. (1) aeróbio obrigatório; (2) anaeróbio obrigatório; (3) anaeróbio facultativo; (4) microaerófilo; (5) micro-organismo capnofflico (crescimento em atmosfera enriquecida com dióxido de carbono). (Veja tõmbém a Tabela 3.1.) Tabela 3 .1 Efeito do oxigênio no cNscimento bamriano Grau de oxigenação Oxigênio é essencial para o crescimento Cresce bem sob baixas concentrações de oxigênio Cresce na presença ou ausência de oxigênio Cresce apenas na ausência de oxigênio Termlnologla Aeróbio obrigatótio Wiicroaer6filo Anaeróbio facultati,1cf Anaeróbio obrigatório Exemplo Pseudomonas aeruginosa Camp~obacter fetus Streptococcus mifleri Porphyromonas gingivalis ~AAàe(óbios fac:uhatiVôs podem Sér subí)Qrupados em capnofilic:os se aescerem bem n:i pc'éser\Çêl de a..101Jú de dióxido decarbooo (p. éX., Le9ionella p.rieumó{ilili'J}. incubados no laboratório sob condições gasosas adequadas para o crescimento da bactélia patogênica_ Assim, as bactérias poden1 ser classificadas como: • aeróbias obrigatórias (estritas), que necessitam de oxigênio para crescer porque seu sistema de geração de adenosina trifosfato ( ATP) é dependente de oxigênio co1uo aceptor de lúdrogênio (p. ex., M. tuberculosis) • anaeróbias facultativas, que utilizan1 o oxigênio para gerar energia pela respiração, caso presente, mas podem tatubém usar a via fermentativa para sintetizar ATP na ausência de oxigênio suficiente (p. ex., bactérias orais co1uo estreptococos do grupo mutatts, R coli) • anaeróbias obrigatórias (estritas), que não podem crescer na presença de oxigênio porque não têm superóxido dis1uutase, catalase ou an1bas (p. ex., Porphyrotnonas gingivalis) • microaerófilas, que crescetu melhor em baixas concentrações de oxigênio (p. ex., Campylobacrer fetus). Genética bacteriana Genética é o estudo da hereditariedade e da variabilidade_ Todas as características hereditálias estão codificadas no DNA, exceto en1 vírus RNA_ !is 16 1 Miaobiologla geral 5' 3' 5' Citosina Guanina 3' N 1 H '\ ,- H11111111110\ /N~C/ .t- c t --c / li '\ j \~ __.N H-C N•11111111H-N C \ / \ / N-C~ /C=N .~ o 11 11u1111H --N \H A /H H Cl:l3 O 111111111 H -f\j N :::,..._ / \ / \ / ~e 'Esqueleto de desoxirribose-fosfato 1c-c\ 1c-c\ --~ H- C N - H1u111111N C ........._ \ Í \ / N-C~ ;=N O H fimina Adenina 3' Esqueleto de desoxirribose-fosfato 5' 3' G, C, T, A = Bases --/ __ ,,.111111111 = Pontes cje hidrogênio Fig. 3.3 Estrutura do ONA. O cromossomo bacteriano O cromossomo bacteriano contém a húo1n1ação genética que define todas as características do tnicro-orgarusmo. É único e constituído de fitas contínuas de DNA (Fig. 3.3), cotu un1a estrutura circular e fechada, e está ligado à membrana celular do n1icro-orgarusmo. O cron1osson10 bacteriano tem, "etu n1édia", peso n1olecular de 2 X 109 . Replicação A replicação do cron1osso1uo é um processo acurado que ga- rante que as células descendentes recebaru cópias idênticas da célula mãe. O processo de replicação é húciado em um sítio es- peáfico no cromossmuo (sítio oriC), onde as duas fitas de DNA são desnaturadas. Un1 complexo de proteínas se liga nesse sítio, protuove a abe1tura da hélice e a replicação ten1 ilúcio. Cada uma das fitas serve cmuo tnolde para un1a rodada con1pleta da síntese de DNA, que ocoLTe em arnbas as direções (bidirecional) e em an1bas as fitas, fom1ando uma bolha de replicação (Fig. 3.4). Os doi~ sítios em que ocorre a replicação são chan1ados de forquilhas de replicação. À medida que a replicação prossegue, as forquilhas de replicação n1ovitue.ntam-se pela tnolécula, em direções opostas, abrÍl1do as fitas de DNA e sil1tetizando duas novas fitas compleme.ntares. No final, as duas forquilhas de replicação e.ncontram-se e.n1 um sítio de témm10. Das quatro fitas de DNA agora dispotúveis, cada célula filha recebe un1a fita parental e uma recém-sintetizada. E.%e processo é chamado de replicação semiconservativa. A replicação cromossôn1ica é sincro1úzada cotu a di\~são celular, de modo que cada célula recebe um conjunto comple.n1ento do DNA da célula tnãe. Forquilhas de replicação (sitios de síntese de DNA) oriC !origem da repl icação) -~...----Bolha de replicação ~---,~ oriC '---Término da replicação f ig . 3.4 Replicação biditecional de um cromossomo bacteriano circular. A ptincipal enzima que medeia a replicação do DNA é a DNA polimerase DNA-dependente. Entretanto, diversas outras enzimas também participatu do processo. Quando ocorretu e1Tos durante a replicação do DNA, n1ecanisn1os de reparo retiran1 a sequência de nudeotídeos incorreta, cotu nudeases, substitumdo-os pelos nudeotídeos corretos e reli- gando a sequência. As bactérias desenvolveram tnecanismos para retnover DNA "estranho' do seu genoma. Enzimas de restrição são usadas para essa finalidade e clivam sequências específicas do DNA de fita dupla . Os fragiuentos de DNA que são produzidos por ação das enzimas de restrição apresentan1 peso molecular vatiado e podem ser evidenciados no laboratótio por eletro- forese em gel. Consequente1uente, essas enzimas de restrição são usadas em muitas témicas laboratoriais analíticas para clivar o DNA e caractetizar bactétias e ví1us (veja adiante). Genes O código genético de bactétias está contido em uma sétie de unidades denon1inadas genes. Co1no as bactétias no1mal- n1ente apresenta1u um cron1ossomo co1u um conjunto de genes, são chamadas de organis1uos haploides (em oposição aos organismos supei.iores que apresentam dois conjuntos do nún1ero de cromossomos e são denominadas d iploides ). Um gene é uma cadeia de nucleoúdeos fonnados por ba- ses purú1icas e pirimidínicas. A informação genética está codificada em giupos de três nucleoúdeos adjacentes ou có- dons. Cada códon, ou código de nucleotideos en1 ttipletes, corresponde a wn anunoácido específico ou u1ua sequência reguladora, por exen1plo, código de início e de término. Dessa forma, os genes estruturais determinam a sequência de an1i- noácidos que forma a protema, que é o produto do gene. O material genético de u1ua bactétia úpica (p. ex., E. coli) con1preende um DNA único, circular, co1u peso molecular de cerca de 2 X 109 e cmuposto de aproximadamente 5 X 106 pares de base, que por sua vez codificam cerca de 2.000 proteínas. Variabilidade genética em bactérias A variabilidade genética pode ocorrer como resultado de n1utação ou transferência de genes. Mutação A mutação é u1ua modificação na sequência de bases do DNA, que tem con10 consequência a incorporação de a1uinoácidos diferentes em un1a proteína, resultando em um fenótipo alterado. As n1utações são o resultado de três tipos diferentes de n1odificações, con10 descrito a seguir. Subst ituição de bases Ocorre durante a replicação do DNA quando un1abase é inserida no lugar de outra. Quando a substituição da base resulta em u1u códon que determina a inserção de u1u ami- noácido diferente, é chamada de n1utação missense. Quando a substituição da base gera um códon de te1n1inação e ocorre finalização da síntese proteica pre1uaturamente, é mamada de mutação sem sentido (nonsense). Esta últin1a gera u1ua protema in1completa. Mutações por mudança do quadro de leitura Ocorren1 quando un1 ou mais pares de base são adicio1iados ou excluídos, o que altera o quadro de leitura nos tibosson1os, resultando na incorporação de u1u aminoácido errado e na produção de uma proteúia inativa. Inserção A inserção de sequências de DNA (p. ex., transposons) ou de urna base adicional pode causar alterações significativas nas sequências de leitura e nos genes adjacentes (Fig. 3 .5). As n1utações podem ser induzidas por agentes químicos, radiações ou vírus. Transferência de genes A transferência de informação genética pode ocorrer por: • • • • conjugação transdução transfo1mação transposição . Cli11icainente, a consequência n1ais in1portante da transferên- cia de DNA é a disseminação de wna célula bactetiana para outra, dos genes de resistência aos antinUcrobianos. Conjugação Ocorre pelo contato entre duas células bacterianas, durante o qual o DNA é transferido da célula doadora para a receptora (Fig. 3 .6A). O processo de traJ1sferência é controlado por W11 plasnúdeo F (fertilidade), que carreia os genes necessários pai-a promover o contato entre as células, incluindo a expressão da proteí1ia pilina, que fomia o püi sexual (tubo de conjugação). Durante a união, o pili da bactéria doadora, que carreia o fator F (F +) liga-se à superfície da célula bacteriaJ1a receptora. Esta última é desprovida de plasmídeo F (F- ). As células, então, entra1n e1n contato direto devido ao 'recolhhuento" do pili sexual. Então, o DNA do fator Fé clivado enzimaticamente, e uma fita é transferida para dentro da célula receptora, através da fomiação de uma 'ponte'. O processo se completa pela síntese da fita complen1entar e formação do plasnúdeo F, de fita dupla, e1u ambas as células, doadora e recepto1-a. Nesse 1uo1uento, a receptora passa a ser uma célula F +, que te1u a capacidade de transmitir o plasnúdeo para outras células. O novo DNA pode se integrar ao DNA da bactéria receptora e passar a ser um componente estável do seu material genético. A transferência completa do DNA bacteriai10 dura cerca de 100 min. Transdução 1Tai1sdução é um processo de trai1sferência de DNA por meio de un1 vírus bacte1iano - um bacteriófago (fago) . Durante a replicação do fago, u1u fragmento do DNA bacteriano é incorporado, acidentalmente, a uma partícula de fago e é ca1Teado para dentro da célula receptora no momento da infecção (Fig. 3 .68). Existem dois tipos de transdução: 1. TTansdução generalizada oco1Te quando o fago carreia um segmento de qualquer parte do cromossomo bacteriaJ1o. Isso pode ocorrer quando o DNA bacteriano é fragn1entado após a infecção pelo fago, e segmentos do mesmo tanianbo do DNA fágico são incorporados dentro dessas parúculas. 2. TTansdução especializada ocorre quando o DNA do fago que já tenlia sido integi-ado ao DNA bacteriano é excisado. Durante esse processo, carreia com ele partes adjacentes do DNA bactetiaJ1o. Genes do fago poden1 causar n1odificações no fenótipo da bactéria hospedeira; por exemplo, a produção de toxina por C01ynebacterium diphteriae é controlada por un1 gene fágico. Essa propriedade desaparece assim que o DNA do fago venha a ser perdido eD1 sucessivos ciclos reprodutivos. Plasmídeos também podem ser transfetidos para outra bac- téria por transdução. Entretanto, o plasmídeo doado pode funcionar de fonna independente, sem ocorrer recombinação com o DNA bacteriano. A capacidade de produzir u1ua enzima que destrói a penicilina (J3-lactamase) é mediada por plasn1í- deos que são tJ-ansferidos por trai1sdução entre estafilococos. 18 1 Miaobiologla geral Normal Sequência de bases doDNA i -~-~- 1 GAG 1 -~-I AGT 1- Fig. 3.5 Eventos que acarretam mut:ação: efeito da defeção e inserção de uma única base na sequência de aminoácidos (e na qualidade da proteína assim produzida). Transcrição i Tradução i t t t Sequência de aminoácidos - his --- thr --- glu --- vai - da proteína Mutação por deleção -~- AT GTT Nova sequência de bases -~-1ATG 1 - 1 AGG 1 -~- Nova sequência de aminoácidos - his ---met--- arg --- leu - Mutação por inserção Nova sequência de bases Nova inserção ~ Nova sequência de aminoácidos - glu --- tyr --- cys --- gly - Transformação É a U-ansferência de DNA bactedano exógeno de uma célula para outra . Ocorre na natureza quando bactérias que n1orren1 Liberam seu DNA, que é capturado pelas células receptoras onde sofre recon1binação. Esse processo parece dese1upenbar um papel insignificativo para as doenças (Fig. 3.6C). Transposição Ocorre quando ele1uentos transponíveis (transposons, veja adiante) se movem de un1 sítio no DNA para outro, dentro do genoma de un1 n1esn10 núcro-organfamo (p. ex., E. colí). Os elen1entos transponíveis mais simples, chamados "sequências de inserção", são menores do que 2 kilobases e1u tamanho e codifica1n a enzin1a (transposase) necessáda para 'saltar" de um local para o outro (Fig. 3.60). Recombinação Quando o DNA é transfeddo de uma célula doadora para uma receptora, por um dos 1necaoomos a seguir, ele se integra no genonu hospedeiro por um processo chamado recon1binaçâo. Existem dois tipos de reco1ubinação: 1. Recombinação homóloga, na qual doL~ segmentos de DNA que apresentam extensas regiões de ho1nologia pareiam e troca1u fragmentos pelos processos de quebra e junção. 2. Recombinação não homóloga, na qual pouca homologia é necessáda para que haja recombinação. Diversas enzin1as (p. ex., endonucleases, li gases) estão envolvidas no processo de recon1binação. Plasmídeos Plas1uídeos são moléculas de DNA extracromossônúco, cir- cular, de fita dupla e com tamanho variando de 1-200 t.IDa. São capazes de replicar independentemente do cromossomo bactedano (ou seja, são replicons). Plasmídeos oco1Tem em an1bos os grupos bacterianos, Gran1-positivos e Gram-negati- vos, e diferentes plasnúdeos poden1, frequentemente, coexistir em uma célula. ·~) :E1 Cromossomo Pili o + ÓO 11---+1 ~ ~ F' F- Plasmf deo Capsídeo varo Fago de ONA 'Ó ~+ . ~ago _/,, - ~-jl Fragmentos deONA ~;// ll~'=\ -@=- ~~- F{gocom o · o -·~ F• (x2) o Fig. 3.6 Transferência de genes. (A) Conjugação: transferência de um gene plasmidial por conjugação (veja texto); (B) transduçáo: transferência de gene. de uma bactéria para outra, mediada por lago; (C) transformação: transferência de gene por capt:ação do ONA bacteriano exógeno por outra bactéfia que esteja próxima (não é mediada por plasm(deo ou lago); (D) transposição: transposons (genes saltadores) podem se mover de um sítio no DNA para outro, inativando assim o gene receptor e conferindo novas características, como resistência aos antimicrobianos. / fragmento inserido l ise celular Boctér10 con1 ÍI a91r1enlo ins~r ido 11-) •:0 GeneA Fragmentos de UNA ~ptoç5o O ~ \\·~· I -~ f== Lise natural Bactéria com da célula fragmento inserido Seq uência de inserção con1 repetições r invertidas l -1 l L 1- (p. ex., genes para resistência aos antirnicrobianos) Gene l:l Gene I! o Gene C -l~~~~~~~~-...CJ ...... ~~~--11L_..i~~~~~~~~:~ 1-Transposon-I Plasnúdeos transnússíveis (conjugativos) poden1 ser trans- feridos célula a célula por conjugação. Eles contêtn cerca de 10-12 genes responsáveis pela síntese do p'ili sexual e por enzimas necessárias para a txansferênáa; devido ao seu tan1a- nho grande, apenas poucas cópias (uma a três) por célula estão, normalmente, presentes. Plasmídeos não transnússíveis são pequenos e não apre- sentam genes para a sua transferênáa.
Compartilhar