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FARMACOLOGIA APLICADA II - LIVRO 01

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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FARMACOLOGIA APLICADA II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Adriana de Oliveira Christoff 
 
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TEMA 1 – FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 
O sistema nervoso autônomo (SNA), também conhecido como sistema 
vegetativo ou involuntário, é responsável pela regulação de toda e qualquer 
função autônoma que ocorre sem controle consciente, como os batimentos 
cardíacos e o movimento dos músculos periféricos respiratórios. O SNA faz 
parte de um amplo sistema denominado sistema nervoso periférico, que ainda 
integra o sistema nervoso entérico e o sistema esquelético. 
1.1 Histórico 
Os estudos sobre o sistema nervoso autônomo (SNA) começaram a ser 
realizados em 1869. Nessa época, foi demonstrado que uma molécula exógena 
era capaz de estimular funções periféricas e que outra substância, hoje 
conhecida por atropina, era capaz de inibir tais reações (Rang et al., 2016). 
Perceba que, historicamente, os estudos em fisiologia já eram realizados com o 
uso de drogas para estabelecer um conhecimento fisiológico. 
Em 1877, um pesquisador chamado Du Bois-Reymond foi o primeiro a 
descrever mecanismos envolvendo estímulos do sistema nervoso. Após muitos 
anos, em 1904, outro pesquisador e renomado professor de Cambridge, 
conhecido como o pai da farmacodinâmica e cujo nome era Langley, 
descreveu com perfeição como ocorria o estímulo da musculatura esquelética. 
De forma sintética, sabe-se que o sistema nervoso autônomo simpático 
foi descoberto em 1860 e que, naquela época, ele foi descrito como o sistema 
que controlava as funções orgânicas. Mais tarde, foi descoberto um sistema que 
ficava anatomicamente ao lado do simpático e que, por essa razão, foi chamado 
de parassimpático. Havia a ideia de que esse sistema era essencial para a vida. 
Essa ideia foi tirada de experimentos em que eram interrompidas as 
transmissões parassimpáticas de indivíduos, que morriam após tal interrupção. 
Hoje, sabemos que ambos os sistemas são importantes para garantir as funções 
orgânicas e vitais de nosso organismo e que eles trabalham de maneira 
complementar para garantir o bom funcionamento de nosso sistema. 
Um experimento que muito contribuiu para tal conhecimento foi realizado 
em 1921, na Alemanha, por um pesquisador chamado Loewi. Ele conseguiu 
demostrar a estimulação do tronco vagossimpático conectado ao coração de 
uma rã. Ele percebeu que após o estímulo ocorria a liberação de uma substância 
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para o interior de uma cânula, e que essa mesma substância, quando transferida 
para o coração, provocava inibição da resposta. Após repetições dos mesmos 
experimentos ele concluiu que: 
 A estimulação do nervo vago promovia a produção de uma substância 
capaz de produzir efeito inibitório no coração da rã; 
 A estimulação do sistema nervoso autônomo simpático (SNAS) promovia 
a produção de uma substância capaz de estimular o coração da rã. 
Anos mais tarde, outro pesquisador descobriu que a acetilcolina (Ach) 
também é uma substância neurotransmissora que participa dos estímulos no 
músculo esquelético, e em 1946 foi desvendada a estrutura de uma molécula 
semelhante à adrenalina, com ações semelhantes, chamada de noradrenalina 
(NE) (Rang et al., 2016). 
Todo esse conhecimento histórico foi importante para definir o que é uma 
neurotransmissão e como funciona o SNA. 
1.2 Anatomia e funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA) 
O sistema nervoso autônomo (SNA) conduz todas as informações 
provenientes do sistema nervoso central (SNC) para a periferia. Grande parte 
desse controle não é voluntário e, de maneira geral, esse sistema controla a 
contração e o relaxamento das musculaturas lisa, esquelética, cardíaca e de 
vasos sanguíneos; controla também as secreções de vesículas, o metabolismo 
energético e os batimentos cardíacos. 
O SNA é dividido em sistema nervoso autônomo simpático (SNAS) e 
sistema nervoso autônomo parassimpático (SNAP). Esses dois sistemas 
apresentam diferenças em relação à sua localização, tamanho de fibras e tipo de 
neurotransmissor que é liberado pelas fibras. 
Tanto as fibras do SNAS quanto as do SNAP consistem em um neurônio 
pré-glanglionar – também chamado de pré-sináptico – que apresenta o corpo 
celular dentro do SNC e um neurônio pós-ganglionar (pós-sináptico), com o 
corpo celular em um gânglio autônomo. 
Basicamente, as fibras pré-ganglionares do SNAP partem da região do 
crânio ou sacral da coluna espinhal, sendo que a fibra pré é mais longa e a fibra 
pós, mais curta. Já para o SNAS, as fibras pré-ganglionares partem da região 
torácica lombar, e a fibra pré é mais curta e a fibra pós, mais longa. 
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Em relação ao tipo de neurotransmissor, sabe-se que o SNAS libera 
acetilcolina (Ach) pela fibra pré-ganglionar e noradrenalina (NE) pela fibra pós-
ganglionar. Já no SNAP, ambas as fibras, pré e pós, liberam Ach. 
O que foi descrito anteriormente é a regra, mas, como você deve 
imaginar, para toda a regra existe uma exceção. Existe um grupo de neurônios 
pré-ganglionares que partem da região lombar, e as fibras pré e pós liberam 
Ach. Qual seria a classificação desse sistema? 
Um ponto muito importante a ser estudado é que o SNA deve atuar de 
maneira complementar. Isso significa que as ações do SNAS devem ser 
complementares às ações do SNAP. Essa ação integradora é essencial para a 
manutenção da homeostasia (Brunton; Lazo; Parker, 2012). 
TEMA 2 – SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO 
A noradrenalina (NE) é o neurotransmissor do sistema nervoso autônomo 
simpático (SNAS) que é liberado pelas fibras pós-ganglionares. A NE é uma 
catecolamina produzida pelos neurônios adrenérgicos a partir de um aminoácido 
essencial chamado de tirosina. Esse aminoácido está presente em muitos 
alimentos, mas, principalmente, em queijos amarelos e no fígado de boi. A 
tirosina é transportada para dentro do neurônio noradrenérgico e passa por 
várias reações até formar a dopamina. A dopamina é encaminhada para dentro 
de uma vesícula, na qual ocorre a transformação de dopamina em NE. A NE fica 
armazenada até ocorrer um potencial de ação para que seja liberada. 
Lembre-se: para a saída da NE, bem como de qualquer neurotransmissor, 
é importante a entrada de cálcio. Isso porque o cálcio atua na ativação de 
proteínas localizadas na membrana do neurônio e da própria vesícula, e, quando 
elas estão ativas, ocorre a exocitose do neurotransmissor, nesse caso, a NE. 
Após a sua liberação, a NE se ligará a seus receptores para produzir seus 
efeitos. Basicamente, ela atua promovendo o aumento da excitação do sistema 
nervoso central (SNC), como o aumento do foco em determinada atividade e a 
redução da sensação de fome. Dentre as ações periféricas, destaca-se o 
aumento da pressão arterial, ação que se dá por meio da ligação direta da NE 
em receptores localizados no miocárdio, elevando, dessa forma, a força e a 
frequência cardíaca, e por meio da atuação em receptores localizados no vaso 
sanguíneo, promovendo a vasoconstrição. Além disso, a NE promove dilatação 
da musculatura lisa, contração de esfíncteres, redução da liberação de 
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secreções como a saliva. Ainda, a NE promove o aumento da atividade da 
lipase, o que, por sua vez, provoca o aumento da quebra de triglicerídeos e o 
aumento da glicogenólise e da glicólise, aumentando a oferta de energia para a 
célula. 
Como ocorre com todo neurotransmissor, a degradação da noradrenalina 
é rápida e as enzimas responsáveis peladegradação são a monoaminoxidase 
(MAO), enzima que se encontra dentro do neurônio noradrenérgico, e pela 
catecol-orto-metiltransferase (COMT), a qual está localizada principalmente nos 
gânglios e no fígado. 
2.1 Receptores da noradrenalina 
Conhecer e compreender os tipos de receptores adrenérgicos é 
fundamental para o entendimento da farmacologia do sistema nervoso autônomo 
(SNA). Os receptores da NE são classificados em dois tipos: α e β. Os 
receptores β foram subdivididos em β1, encontrado no miocárdio, β2, músculo 
liso, e β3, encontrado nos adipócitos (Brunton; Lazo; Parker, 2012). Todos eles 
são acoplados a proteína Gs e, portanto, estão relacionados à ativação do AMPC 
e, consequentemente, à formação da PKA. 
É importante destacar que as ações da NE decorrentes em β1 levam a um 
aumento da força e da frequência cardíaca; em β2, ao relaxamento do músculo 
liso (broncodilatação, redução do tônus da bexiga, útero, TGI); em β3, a uma 
resposta termogênica. 
Já os receptores α são subdivididos em α1, encontrado em neurônios pós-
sinápticos e em muitos órgãos e tecidos periféricos, como vaso sanguíneo, 
próstata, pulmões, coração, dentre outros; α2, que é encontrado nos neurônios 
pré-sinápticos e atuam controlando a liberação de NE, podendo também ser 
encontrado em diversos tecidos periféricos. 
Os receptores α1 são acoplados à proteína Gq, enquanto α2, em Gi. 
2.2 Drogas simpatomiméticas de ações direta e indireta 
Os medicamentos conhecidos como simpatomiméticos podem também 
ser chamados de agonistas adrenérgicos. Portanto, são aqueles que 
apresentarão afinidade e atividade intrínseca com os receptores da NE, porém, 
com graus de afinidade e potência diferentes. Historicamente, os primeiros 
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agonistas que surgiram apresentaram carência de seletividade pelos receptores. 
Como esse fato determina, em parte, o aparecimento de efeitos colaterais, com 
o passar do tempo foram desenvolvidas drogas mais seletivas. 
Iniciaremos tratando daquelas pouco seletivas. 
2.2.1 Adrenalina e isoproterenol 
A adrenalina, também conhecida como epinefrina, é um estimulador 
potente dos receptores adrenérgicos. As suas ações em receptores α e β 
consistem no aumento de: 
 Frequência cardíaca, e volumes sistólicos e do débito cardíaco; 
 Pressão arterial; 
 Resistência periférica do vaso; 
 Fluxos sanguíneos renal, cerebral, hepático, cutâneo e esplênico; 
 Metabolismo; 
 Atenção e foco. 
As ações da adrenalina em receptores α e β também promovem a 
redução da fome. 
Seu uso na clínica limita-se a algumas condições clínicas devido à sua 
falta de seletividade pelos receptores, e, consequentemente, ao grande aumento 
do número de reações colaterais. É usado no infarto agudo do miocárdio (IAM), 
no choque anafilático e em crises asmáticas agudas. 
A forma de administrá-la varia de acordo com a gravidade das reações, 
mas limita-se aos usos endovenoso, subcutâneo e respiratório por meio de 
inalação em doses diluídas em soro fisiológico. 
Em geral, está contraindicada para pacientes que fazem uso de 
antagonistas betabloqueadores devido ao risco de efeitos antagônicos e 
hipertensão arterial e hemorragia cerebral grave. 
O isoproterenol é um potente agonista β usado em casos graves para 
estimular a frequência cardíaca em pacientes com bradicardia ou bloqueio 
atrioventricular. É usado em situações de colocação de marca-passo ou em 
pacientes com arritmia ventricular (Brunton; Lazo; Parker, 2012). É administrado 
via parenteral ou na forma de aerossol. 
 
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2.2.2 Fármacos seletivos 
Dentre os fármacos seletivos, destacam-se a fenilefrina, a nafazolina, a 
oxmetazolina e a tetraidrozolina (agonistas α1). Todos esses podem ser usados 
como descongestionantes nasais de forma oral ou nasal, e em colírios para 
produção de midríase (Golan et al., 2016). 
A clonidina é um agonista seletivo α2, o qual é utilizado para o tratamento 
da hipertensão arterial. 
A metildopa é um dos medicamentos mais prescritos para tratamento da 
hipertensão gestacional. Trata-se de uma pró-droga, que dá origem à 
metilnoradrenalina. Essa substância substitui as vesículas de NE e, após o 
potencial de ação, é liberada para atuar como agonista parcial dos receptores α 
e β. Também pode atuar como agonista α2 e, dessa forma, reduzir a liberação 
de NE. Seu uso está associado ao risco de reações hemolíticas e à 
hepatotoxicidade (Rang et al., 2016). 
A dobutamina é um análogo sintético da dopamina e atua como agonista 
parcial dos receptores α e β. É utilizado em pacientes com bradicardia grave. 
Exerce efeito ionotrópico mais proeminente do que efeitos cronotrópicos, e por 
essa razão também é utilizada em pacientes com insuficiência cardíaca (ICC). 
Outro grupo de medicamentos simpatomiméticos de ação direta é o dos 
broncodilatadores, os quais apresentam seletividade em receptores β2. Dentre 
eles, destacam-se o metaproterenol, a terbutalina e o fenoterol, os quais 
apresentam rápida e duradoura ação e estão disponíveis para uso inalatório, 
além do salbutamol, que pode ser usado vias inalatória e oral, e o salmeterol, o 
formoterol e o arfomoterol, que apresentam meia-vida longa. O salbutamol, em 
especial, além de ser usado como broncodilatador, pode ser prescrito para o 
tratamento de parto prematuro, pela facilidade de estar disponível para uso oral 
e por promover a dilação da musculatura uterina e, dessa forma, impedir o parto 
prematuro. 
Um ponto importante a ser destacado é que os medicamentos seletivos β2 
podem provocar taquicardia e aumento da pressão arterial como principal efeito 
colateral. Isso ocorre devido à atividade em receptores β1. Esses efeitos podem 
variar de indivíduo para indivíduo, mas estão muito relacionados à dose. 
Quando, em uma inalação, é usada uma dose errada por erro de prescrição, por 
exemplo, as reações cardíacas tornam-se mais evidentes e perigosas. 
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TEMA 3 – DROGAS SIMPATOLÍTICAS 
Os antagonistas dos receptores α e β (simpatolíticos) são os 
medicamentos mais utilizados na prática clínica, e a maioria apresenta 
seletividade. Os usos clínicos dos simpatolíticos limitam-se ao tratamento de 
hipertensão grave, hipertrofia prostática e tratamento do feocromocitoma (tumor 
na glândula adrenal). 
Dentre os antagonistas não seletivos dos receptores α, encontram-se a 
fenoxibenzamina e a fentolamina. A primeira promove ligação covalente com o 
alvo e, portanto, apresenta longa duração de ação. Já a fentolamina é mais 
seletiva e de curta duração. Esses medicamentos são utilizados em pacientes 
com feocromocitoma, especialmente no preparo cirúrgico. Seu efeito consiste 
em promover a queda da pressão arterial por sua ação antagonista em α1. 
Porém, ocorre uma taquicardia reflexa em resposta à atividade antagonista em 
α2, o que promove uma maior liberação de noradrenalina (NE), além de uma 
resposta reflexa em receptores β. 
TEMA 4 – SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO 
A farmacologia do sistema nervoso parassimpático aborda as 
propriedades de uma neurotransmissão colinérgica, ou seja, ela trata do estudo 
das ações da acetilcolina (Ach) em dois subgrupos de receptores: os 
muscarínicos e os nicotínicos (Golan et al., 2016). As funções das vias 
colinérgicas são complexas e envolvem a junção neuromuscular, ações no 
sistema nervoso central (SNC) e no sistema nervoso periférico. 
A Ach é um neurotransmissor produzido pelos neurônios colinérgicos a 
partir de uma substância chamada de colina. A colina é transportada para o 
interior do neurônio colinérgico por meio de uma proteína transportadora e lá 
sofre a açãode uma enzima chamada colina acetiltransferase, a qual transfere a 
colina para a molécula de acetil-CoA, formando a Ach. 
A Ach fica armazenada em vesículas e, após a chegada de um potencial 
de ação, ela é liberada. A Ach não sofre processo de recaptação. Toda ela é 
degradada por meio da ação de duas enzimas: a acetilcolinesterase (presente 
nos gânglios), que possui grande importância para a farmacologia por se tratar 
de um alvo para a ação de medicamentos, e a butirilcolinesterase, presente nos 
vasos sanguíneos. 
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4.1 Parassimpatomiméticos 
Os medicamentos classificados como parassimpatomiméticos são os 
agonistas colinérgicos, os quais podem ser seletivos ou não. Ainda, nesse 
tópico, a seletividade é mais complicada quando comparada ao sistema 
adrenérgico, porque aqui temos dois tipos diferentes de receptores: os 
muscarínicos, que são acoplados à proteína G, e os receptores do tipo canal 
iônico permeáveis ao sódio, chamados de nicotínicos. Portanto, temos 
medicamentos que são agonistas seletivos de muscarínicos e outros de 
nicotínicos, e ainda temos os que não apresentam seletividade. 
Dentre os agonistas muscarínicos e nicotínicos, destacam-se a Ach, 
betanecol, carbacol, os quais são ésteres da colina, e os alcaloides 
parassimpatomiméticos representados pela muscarina e pilocarpina. Esses 
medicamentos, de uma forma geral podem ser usados para reduzir o débito 
cardíaco e a frequência cardíaca, e provocar vasodilatação, miose e aumento da 
secreção salivar (tratamento da xerostomia). Os alcaloides parassimpáticos 
podem ser usados para aumentar o trânsito intestinal e provocar esvaziamento 
da bexiga. A seletividade entre os subtipos de receptores muscarínicos e 
nicotínicos varia, e é conforme essa afinidade que uns são escolhidos para 
determinados tratamentos. Por exemplo, o betanecol apresenta uma preferência 
por receptores muscarínicos em vez de nicotínicos. Por essa razão, ele pode ser 
a opção para promover a redução da frequência cardíaca em pacientes com 
hipertensão grave ou em taquicardia. Como o betanecol afeta menos os 
receptores nicotínicos, promove menos efeitos colaterais como espasmos 
musculares (efeito provocado pela estimulação dos receptores nicotínicos da 
placa motora). 
De maneira complementar, o betanecol, assim como os demais agonistas 
muscarínicos, provocam redução da frequência cardíaca por sua atuação em 
M2, receptor acoplado à proteína Gi, que, quando ativo, inibe a formação do 
AMPc e consequentemente da PKA, o que reduz a entrada de cálcio no 
miocárdio e reduz a frequência cardíaca. Ainda, o betanecol atua no trato 
urinário e no TGI, sendo útil no tratamento da retenção urinária e do 
esvaziamento inadequado da bexiga quando não há obstrução orgânica, como 
na retenção urinária pós-cirúrgica e neuropatia diabética (Wein, 1991). 
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A cevimelina é um derivado da Ach, agonista muscarínico que vem sendo 
utilizado no tratamento da xerostomia por apresentar alta afinidade pelos 
receptores M3 localizados nas glândulas salivar e lacrimal. Parece apresentar 
menos efeitos colaterais se comparado à pilocarpina. A sua dose usual é de 30 
mg, três vezes ao dia. 
Todos os parassimpatomiméticos apresentam como reações colaterais 
mais comuns: sudorese, salivação, cólicas abdominais, sensação de aperto na 
bexiga, dificuldade de acomodação visual, broncoconstrição, bradicardia e 
hipotensão. Todos esses efeitos estão relacionados à ativação dos receptores 
muscarínicos e nicotínicos. 
É importante relatar que há um crescente interesse no papel dos 
receptores muscarínicos nas questões da cognição. A utilidade potencial de 
agonistas M1 no tratamento de doenças cognitivas evolui constantemente 
(Brunton; Lazo; Parker, 2012). 
4.2 Anticolinesterásicos 
Como vimos anteriormente, a acetilcolinesterase (AchE) é a principal 
enzima relacionada à degradação da Ach. Conhecer a importância de sua ação 
sobre o controle dos níveis de Ach fez com que pesquisadores desenvolvesses 
drogas capazes de inibir sua atividade com a intenção de aumentar os níveis 
circulantes de Ach. É claro que esse propósito está relacionado ao fato do uso 
de inibidores de acetilcolinesterase (anticolinesterásicos) para tratar doenças 
relacionadas à falta de Ach ou problemas nos receptores de Ach, como o 
Alzheimer e a miastenia grave. 
TEMA 5 – PARASSIMPATOLÍTICOS E DROGAS QUE ATUAM NA JUNÇÃO 
NEUROMUSCULAR 
Os parassimpatolíticos são aquelas drogas que atuam como antagonistas 
dos receptores colinérgicos. Já as drogas que atuam na junção neuromuscular 
podem apresentar efeitos excitatórios sobre os receptores nicotínicos, 
aumentando os níveis de acetilcolina (Ach) ou inibindo a sua liberação, ou 
mesmo atuando como antagonistas na placa motora. Iniciaremos a nossa 
discussão sobre esse tema pelas drogas que atuam na junção neuromuscular. 
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5.1 Drogas que atuam na junção neuromuscular 
O receptor nicotínico da Ach está relacionado com a neurotransmissão 
pós-sináptica na placa motora. A ligação da Ach no receptor nicotínico da placa 
motora inicia o potencial da placa terminal, primeiro processo que ocorre para 
desencadear a contração muscular. Veja a figura a seguir: à direita, sob 
“physiology”, são descritos todos os passos para desencadear a contração, 
desde a anatomia da placa motora terminal e toda a sequência de eventos que 
iniciam com a liberação de Ach pelo potencial de ação até a contração da fibra 
muscular. 
Figura 1 – Processo de contração da musculatura esquelética 
 
Fonte: Brunton et al., 2016. 
Dentre os fármacos que atuam na junção neuromuscular, encontram-se 
agentes bloqueadores neuromusculares, fármacos estimulantes ganglionares e 
fármacos bloqueadores ganglionares. 
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5.2 Agentes bloqueadores neuromusculares 
Atualmente, os bloqueadores neuromusculares são classificados em dois 
grupos: os bloqueadores despolarizantes e os não despolarizantes. 
Na classe dos despolarizantes, o único com utilização clínica é o 
suxametônio. A ação primária dessa classe é promover uma despolarização 
intensa da membrana, o que leva a um período breve de excitação repetitiva 
que, consequentemente, leva a um bloqueio da placa. Isso acontece porque os 
canais de sódio se fecham e não reabrem enquanto a placa terminal não 
repolarizar. O suxametônio tem ação rápida e é utilizado para realizar intubação 
traqueal (Brunton; Lazo; Parker, 2012). 
Já na classe dos não despolarizantes, encontram-se mais exemplos de 
medicamentos utilizados na clínica. São eles: tubocurarina, pancurônio, 
vecurônio, rocurônio e mivacúrio. Todos esses fármacos são derivados do 
curare. Esses fármacos se ligam nos receptores nicotínicos na placa terminal 
promovendo seu bloqueio. Normalmente são aplicados vias intramuscular e 
endovenosa e, além disso, possuem um início de ação rápida. 
A seleção do melhor fármaco leva em conta o perfil farmacocinético de 
cada fármaco para minimizar o comprometimento cardiovascular. Além desses 
efeitos, muitas outras respostas indesejadas podem aparecer, como apneia, 
colapso cardiovascular, aumento da liberação de histamina e anafilaxia (Golan et 
al., 2016; Brunton; Lazo; Parker, 2012). 
5.3 Fármacos estimulantes ganglionares 
Os agonistas ganglionares possuem uso terapêutico bastante limitado 
devido à gama de efeitos colaterais que podem provocar. Dentre os 
estimulantes, encontram-se a nicotina e seus derivados, como a lobelina, o 
tetrametilamônio e o 1,1-dimetil-4-fenilpiperazínio.A nicotina destaca-se pela importância de seus efeitos tóxicos e pelo fato 
de ser uma das drogas psicotrópicas mais consumidas no Brasil e no mundo. A 
nicotina provoca uma ação de ativação dos receptores nicotínicos, mas logo 
após seguem efeitos de dessensibilização dos alvos e o resultado final é a soma 
dos efeitos excitatórios e inibitórios da nicotina. Suas ações no sistema nervoso 
central (SNC) são decorrentes de uma estimulação, como o aumento da 
excitabilidade respiratória, mas na sequência ocorre um quadro de depressão e 
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paralisia central. A nicotina pode causar vômitos por atuar na zona CTZ 
(chemoreceptor trigger zone, a zona deflagradora do vômito). A sua ação 
relacionada ao estímulo de prazer parece decorrer do aumento da liberação de 
outros neurotransmissores, como a dopamina e outras aminas biogênicas 
(Brunton; Lazo; Parker, 2012). 
A exposição crônica leva a mudanças na densidade dos receptores, o que 
gera a tolerância farmacológica, o que leva o indivíduo a se expor a quantidades 
maiores de nicotina para obter o efeito inicial de pequenas doses. 
5.4 Fármacos bloqueadores ganglionares 
Os bloqueadores ganglionares têm com função realizar o bloqueio de 
canais iônicos ou competir com a Ach pelo receptor. Destacam-se o 
hexametônio, o trimetafano e a mecamilamina. O bloqueio dos gânglios 
simpáticos leva à supressão do controle adrenérgico promovendo, por exemplo, 
vasodilatação e redução da pressão arterial. Em um nível parassimpático, esses 
fármacos podem provocar taquicardia, midríase, constipação e redução do tônus 
muscular. 
5.5 Fármacos que atuam no sistema pré-sináptico 
Para finalizar, é importante discutir algumas drogas que atuam em nível 
pré-sináptico, como o hemicolíneo, o vesamicol e a toxina botulínica. O uso 
clínico da toxina vem aumentando gradativamente. Atualmente ela é usada no 
tratamento de distonias, cefaleias crônicas, sialorreia, sudorese e na estética 
para reduzir as linhas de expressão. Todos esses usos estão relacionados à 
inibição da exocitose da vesícula contendo Ach, o que promove uma redução da 
sua liberação. A Ach é responsável pela contração da musculatura da pele e, se 
a sua liberação for reduzida, há redução da contração da musculatura abaixo da 
pele. 
A figura a seguir contém um resumo de todas as drogas que atuam na 
junção neuromuscular. 
 
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Figura 2 – Drogas que atuam na junção neuromuscular 
 
Fonte: Brunton et al., 2016. 
 
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REFERÊNCIAS 
BRUNTON, L. L. et al. Goodman & Gilman: as bases farmacológicas da 
terapêutica. 12. ed. Rio de Janeiro: Mc Graw Hill, 2016. 
BRUNTON, L. L.; LAZO, J. S.; PARKER, K. L. Goodman & Gilman: as bases 
farmacológicas da terapêutica. 12. ed. Rio de Janeiro: McGraw Hill, 2012. 
GOLAN, D. E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da 
farmacoterapia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 
LÜLLMANN, H. et al. Farmacologia: textos e atlas. 7. ed. São Paulo: Artmed, 
2016. 
RANG, H. P. et al. Rang & Dale: farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 
2016. 
WEIN, A. J. Practical uropharmacology. Urologic Clinics of North America, v. 
18, n. 2, p. 269-281, 1991. 
 
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