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AULA 1 FARMACOLOGIA APLICADA II Profª Adriana de Oliveira Christoff A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 2 TEMA 1 – FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO O sistema nervoso autônomo (SNA), também conhecido como sistema vegetativo ou involuntário, é responsável pela regulação de toda e qualquer função autônoma que ocorre sem controle consciente, como os batimentos cardíacos e o movimento dos músculos periféricos respiratórios. O SNA faz parte de um amplo sistema denominado sistema nervoso periférico, que ainda integra o sistema nervoso entérico e o sistema esquelético. 1.1 Histórico Os estudos sobre o sistema nervoso autônomo (SNA) começaram a ser realizados em 1869. Nessa época, foi demonstrado que uma molécula exógena era capaz de estimular funções periféricas e que outra substância, hoje conhecida por atropina, era capaz de inibir tais reações (Rang et al., 2016). Perceba que, historicamente, os estudos em fisiologia já eram realizados com o uso de drogas para estabelecer um conhecimento fisiológico. Em 1877, um pesquisador chamado Du Bois-Reymond foi o primeiro a descrever mecanismos envolvendo estímulos do sistema nervoso. Após muitos anos, em 1904, outro pesquisador e renomado professor de Cambridge, conhecido como o pai da farmacodinâmica e cujo nome era Langley, descreveu com perfeição como ocorria o estímulo da musculatura esquelética. De forma sintética, sabe-se que o sistema nervoso autônomo simpático foi descoberto em 1860 e que, naquela época, ele foi descrito como o sistema que controlava as funções orgânicas. Mais tarde, foi descoberto um sistema que ficava anatomicamente ao lado do simpático e que, por essa razão, foi chamado de parassimpático. Havia a ideia de que esse sistema era essencial para a vida. Essa ideia foi tirada de experimentos em que eram interrompidas as transmissões parassimpáticas de indivíduos, que morriam após tal interrupção. Hoje, sabemos que ambos os sistemas são importantes para garantir as funções orgânicas e vitais de nosso organismo e que eles trabalham de maneira complementar para garantir o bom funcionamento de nosso sistema. Um experimento que muito contribuiu para tal conhecimento foi realizado em 1921, na Alemanha, por um pesquisador chamado Loewi. Ele conseguiu demostrar a estimulação do tronco vagossimpático conectado ao coração de uma rã. Ele percebeu que após o estímulo ocorria a liberação de uma substância A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 3 para o interior de uma cânula, e que essa mesma substância, quando transferida para o coração, provocava inibição da resposta. Após repetições dos mesmos experimentos ele concluiu que: A estimulação do nervo vago promovia a produção de uma substância capaz de produzir efeito inibitório no coração da rã; A estimulação do sistema nervoso autônomo simpático (SNAS) promovia a produção de uma substância capaz de estimular o coração da rã. Anos mais tarde, outro pesquisador descobriu que a acetilcolina (Ach) também é uma substância neurotransmissora que participa dos estímulos no músculo esquelético, e em 1946 foi desvendada a estrutura de uma molécula semelhante à adrenalina, com ações semelhantes, chamada de noradrenalina (NE) (Rang et al., 2016). Todo esse conhecimento histórico foi importante para definir o que é uma neurotransmissão e como funciona o SNA. 1.2 Anatomia e funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA) O sistema nervoso autônomo (SNA) conduz todas as informações provenientes do sistema nervoso central (SNC) para a periferia. Grande parte desse controle não é voluntário e, de maneira geral, esse sistema controla a contração e o relaxamento das musculaturas lisa, esquelética, cardíaca e de vasos sanguíneos; controla também as secreções de vesículas, o metabolismo energético e os batimentos cardíacos. O SNA é dividido em sistema nervoso autônomo simpático (SNAS) e sistema nervoso autônomo parassimpático (SNAP). Esses dois sistemas apresentam diferenças em relação à sua localização, tamanho de fibras e tipo de neurotransmissor que é liberado pelas fibras. Tanto as fibras do SNAS quanto as do SNAP consistem em um neurônio pré-glanglionar – também chamado de pré-sináptico – que apresenta o corpo celular dentro do SNC e um neurônio pós-ganglionar (pós-sináptico), com o corpo celular em um gânglio autônomo. Basicamente, as fibras pré-ganglionares do SNAP partem da região do crânio ou sacral da coluna espinhal, sendo que a fibra pré é mais longa e a fibra pós, mais curta. Já para o SNAS, as fibras pré-ganglionares partem da região torácica lombar, e a fibra pré é mais curta e a fibra pós, mais longa. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 4 Em relação ao tipo de neurotransmissor, sabe-se que o SNAS libera acetilcolina (Ach) pela fibra pré-ganglionar e noradrenalina (NE) pela fibra pós- ganglionar. Já no SNAP, ambas as fibras, pré e pós, liberam Ach. O que foi descrito anteriormente é a regra, mas, como você deve imaginar, para toda a regra existe uma exceção. Existe um grupo de neurônios pré-ganglionares que partem da região lombar, e as fibras pré e pós liberam Ach. Qual seria a classificação desse sistema? Um ponto muito importante a ser estudado é que o SNA deve atuar de maneira complementar. Isso significa que as ações do SNAS devem ser complementares às ações do SNAP. Essa ação integradora é essencial para a manutenção da homeostasia (Brunton; Lazo; Parker, 2012). TEMA 2 – SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO A noradrenalina (NE) é o neurotransmissor do sistema nervoso autônomo simpático (SNAS) que é liberado pelas fibras pós-ganglionares. A NE é uma catecolamina produzida pelos neurônios adrenérgicos a partir de um aminoácido essencial chamado de tirosina. Esse aminoácido está presente em muitos alimentos, mas, principalmente, em queijos amarelos e no fígado de boi. A tirosina é transportada para dentro do neurônio noradrenérgico e passa por várias reações até formar a dopamina. A dopamina é encaminhada para dentro de uma vesícula, na qual ocorre a transformação de dopamina em NE. A NE fica armazenada até ocorrer um potencial de ação para que seja liberada. Lembre-se: para a saída da NE, bem como de qualquer neurotransmissor, é importante a entrada de cálcio. Isso porque o cálcio atua na ativação de proteínas localizadas na membrana do neurônio e da própria vesícula, e, quando elas estão ativas, ocorre a exocitose do neurotransmissor, nesse caso, a NE. Após a sua liberação, a NE se ligará a seus receptores para produzir seus efeitos. Basicamente, ela atua promovendo o aumento da excitação do sistema nervoso central (SNC), como o aumento do foco em determinada atividade e a redução da sensação de fome. Dentre as ações periféricas, destaca-se o aumento da pressão arterial, ação que se dá por meio da ligação direta da NE em receptores localizados no miocárdio, elevando, dessa forma, a força e a frequência cardíaca, e por meio da atuação em receptores localizados no vaso sanguíneo, promovendo a vasoconstrição. Além disso, a NE promove dilatação da musculatura lisa, contração de esfíncteres, redução da liberação de A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 5 secreções como a saliva. Ainda, a NE promove o aumento da atividade da lipase, o que, por sua vez, provoca o aumento da quebra de triglicerídeos e o aumento da glicogenólise e da glicólise, aumentando a oferta de energia para a célula. Como ocorre com todo neurotransmissor, a degradação da noradrenalina é rápida e as enzimas responsáveis peladegradação são a monoaminoxidase (MAO), enzima que se encontra dentro do neurônio noradrenérgico, e pela catecol-orto-metiltransferase (COMT), a qual está localizada principalmente nos gânglios e no fígado. 2.1 Receptores da noradrenalina Conhecer e compreender os tipos de receptores adrenérgicos é fundamental para o entendimento da farmacologia do sistema nervoso autônomo (SNA). Os receptores da NE são classificados em dois tipos: α e β. Os receptores β foram subdivididos em β1, encontrado no miocárdio, β2, músculo liso, e β3, encontrado nos adipócitos (Brunton; Lazo; Parker, 2012). Todos eles são acoplados a proteína Gs e, portanto, estão relacionados à ativação do AMPC e, consequentemente, à formação da PKA. É importante destacar que as ações da NE decorrentes em β1 levam a um aumento da força e da frequência cardíaca; em β2, ao relaxamento do músculo liso (broncodilatação, redução do tônus da bexiga, útero, TGI); em β3, a uma resposta termogênica. Já os receptores α são subdivididos em α1, encontrado em neurônios pós- sinápticos e em muitos órgãos e tecidos periféricos, como vaso sanguíneo, próstata, pulmões, coração, dentre outros; α2, que é encontrado nos neurônios pré-sinápticos e atuam controlando a liberação de NE, podendo também ser encontrado em diversos tecidos periféricos. Os receptores α1 são acoplados à proteína Gq, enquanto α2, em Gi. 2.2 Drogas simpatomiméticas de ações direta e indireta Os medicamentos conhecidos como simpatomiméticos podem também ser chamados de agonistas adrenérgicos. Portanto, são aqueles que apresentarão afinidade e atividade intrínseca com os receptores da NE, porém, com graus de afinidade e potência diferentes. Historicamente, os primeiros A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 6 agonistas que surgiram apresentaram carência de seletividade pelos receptores. Como esse fato determina, em parte, o aparecimento de efeitos colaterais, com o passar do tempo foram desenvolvidas drogas mais seletivas. Iniciaremos tratando daquelas pouco seletivas. 2.2.1 Adrenalina e isoproterenol A adrenalina, também conhecida como epinefrina, é um estimulador potente dos receptores adrenérgicos. As suas ações em receptores α e β consistem no aumento de: Frequência cardíaca, e volumes sistólicos e do débito cardíaco; Pressão arterial; Resistência periférica do vaso; Fluxos sanguíneos renal, cerebral, hepático, cutâneo e esplênico; Metabolismo; Atenção e foco. As ações da adrenalina em receptores α e β também promovem a redução da fome. Seu uso na clínica limita-se a algumas condições clínicas devido à sua falta de seletividade pelos receptores, e, consequentemente, ao grande aumento do número de reações colaterais. É usado no infarto agudo do miocárdio (IAM), no choque anafilático e em crises asmáticas agudas. A forma de administrá-la varia de acordo com a gravidade das reações, mas limita-se aos usos endovenoso, subcutâneo e respiratório por meio de inalação em doses diluídas em soro fisiológico. Em geral, está contraindicada para pacientes que fazem uso de antagonistas betabloqueadores devido ao risco de efeitos antagônicos e hipertensão arterial e hemorragia cerebral grave. O isoproterenol é um potente agonista β usado em casos graves para estimular a frequência cardíaca em pacientes com bradicardia ou bloqueio atrioventricular. É usado em situações de colocação de marca-passo ou em pacientes com arritmia ventricular (Brunton; Lazo; Parker, 2012). É administrado via parenteral ou na forma de aerossol. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 7 2.2.2 Fármacos seletivos Dentre os fármacos seletivos, destacam-se a fenilefrina, a nafazolina, a oxmetazolina e a tetraidrozolina (agonistas α1). Todos esses podem ser usados como descongestionantes nasais de forma oral ou nasal, e em colírios para produção de midríase (Golan et al., 2016). A clonidina é um agonista seletivo α2, o qual é utilizado para o tratamento da hipertensão arterial. A metildopa é um dos medicamentos mais prescritos para tratamento da hipertensão gestacional. Trata-se de uma pró-droga, que dá origem à metilnoradrenalina. Essa substância substitui as vesículas de NE e, após o potencial de ação, é liberada para atuar como agonista parcial dos receptores α e β. Também pode atuar como agonista α2 e, dessa forma, reduzir a liberação de NE. Seu uso está associado ao risco de reações hemolíticas e à hepatotoxicidade (Rang et al., 2016). A dobutamina é um análogo sintético da dopamina e atua como agonista parcial dos receptores α e β. É utilizado em pacientes com bradicardia grave. Exerce efeito ionotrópico mais proeminente do que efeitos cronotrópicos, e por essa razão também é utilizada em pacientes com insuficiência cardíaca (ICC). Outro grupo de medicamentos simpatomiméticos de ação direta é o dos broncodilatadores, os quais apresentam seletividade em receptores β2. Dentre eles, destacam-se o metaproterenol, a terbutalina e o fenoterol, os quais apresentam rápida e duradoura ação e estão disponíveis para uso inalatório, além do salbutamol, que pode ser usado vias inalatória e oral, e o salmeterol, o formoterol e o arfomoterol, que apresentam meia-vida longa. O salbutamol, em especial, além de ser usado como broncodilatador, pode ser prescrito para o tratamento de parto prematuro, pela facilidade de estar disponível para uso oral e por promover a dilação da musculatura uterina e, dessa forma, impedir o parto prematuro. Um ponto importante a ser destacado é que os medicamentos seletivos β2 podem provocar taquicardia e aumento da pressão arterial como principal efeito colateral. Isso ocorre devido à atividade em receptores β1. Esses efeitos podem variar de indivíduo para indivíduo, mas estão muito relacionados à dose. Quando, em uma inalação, é usada uma dose errada por erro de prescrição, por exemplo, as reações cardíacas tornam-se mais evidentes e perigosas. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 8 TEMA 3 – DROGAS SIMPATOLÍTICAS Os antagonistas dos receptores α e β (simpatolíticos) são os medicamentos mais utilizados na prática clínica, e a maioria apresenta seletividade. Os usos clínicos dos simpatolíticos limitam-se ao tratamento de hipertensão grave, hipertrofia prostática e tratamento do feocromocitoma (tumor na glândula adrenal). Dentre os antagonistas não seletivos dos receptores α, encontram-se a fenoxibenzamina e a fentolamina. A primeira promove ligação covalente com o alvo e, portanto, apresenta longa duração de ação. Já a fentolamina é mais seletiva e de curta duração. Esses medicamentos são utilizados em pacientes com feocromocitoma, especialmente no preparo cirúrgico. Seu efeito consiste em promover a queda da pressão arterial por sua ação antagonista em α1. Porém, ocorre uma taquicardia reflexa em resposta à atividade antagonista em α2, o que promove uma maior liberação de noradrenalina (NE), além de uma resposta reflexa em receptores β. TEMA 4 – SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO A farmacologia do sistema nervoso parassimpático aborda as propriedades de uma neurotransmissão colinérgica, ou seja, ela trata do estudo das ações da acetilcolina (Ach) em dois subgrupos de receptores: os muscarínicos e os nicotínicos (Golan et al., 2016). As funções das vias colinérgicas são complexas e envolvem a junção neuromuscular, ações no sistema nervoso central (SNC) e no sistema nervoso periférico. A Ach é um neurotransmissor produzido pelos neurônios colinérgicos a partir de uma substância chamada de colina. A colina é transportada para o interior do neurônio colinérgico por meio de uma proteína transportadora e lá sofre a açãode uma enzima chamada colina acetiltransferase, a qual transfere a colina para a molécula de acetil-CoA, formando a Ach. A Ach fica armazenada em vesículas e, após a chegada de um potencial de ação, ela é liberada. A Ach não sofre processo de recaptação. Toda ela é degradada por meio da ação de duas enzimas: a acetilcolinesterase (presente nos gânglios), que possui grande importância para a farmacologia por se tratar de um alvo para a ação de medicamentos, e a butirilcolinesterase, presente nos vasos sanguíneos. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 9 4.1 Parassimpatomiméticos Os medicamentos classificados como parassimpatomiméticos são os agonistas colinérgicos, os quais podem ser seletivos ou não. Ainda, nesse tópico, a seletividade é mais complicada quando comparada ao sistema adrenérgico, porque aqui temos dois tipos diferentes de receptores: os muscarínicos, que são acoplados à proteína G, e os receptores do tipo canal iônico permeáveis ao sódio, chamados de nicotínicos. Portanto, temos medicamentos que são agonistas seletivos de muscarínicos e outros de nicotínicos, e ainda temos os que não apresentam seletividade. Dentre os agonistas muscarínicos e nicotínicos, destacam-se a Ach, betanecol, carbacol, os quais são ésteres da colina, e os alcaloides parassimpatomiméticos representados pela muscarina e pilocarpina. Esses medicamentos, de uma forma geral podem ser usados para reduzir o débito cardíaco e a frequência cardíaca, e provocar vasodilatação, miose e aumento da secreção salivar (tratamento da xerostomia). Os alcaloides parassimpáticos podem ser usados para aumentar o trânsito intestinal e provocar esvaziamento da bexiga. A seletividade entre os subtipos de receptores muscarínicos e nicotínicos varia, e é conforme essa afinidade que uns são escolhidos para determinados tratamentos. Por exemplo, o betanecol apresenta uma preferência por receptores muscarínicos em vez de nicotínicos. Por essa razão, ele pode ser a opção para promover a redução da frequência cardíaca em pacientes com hipertensão grave ou em taquicardia. Como o betanecol afeta menos os receptores nicotínicos, promove menos efeitos colaterais como espasmos musculares (efeito provocado pela estimulação dos receptores nicotínicos da placa motora). De maneira complementar, o betanecol, assim como os demais agonistas muscarínicos, provocam redução da frequência cardíaca por sua atuação em M2, receptor acoplado à proteína Gi, que, quando ativo, inibe a formação do AMPc e consequentemente da PKA, o que reduz a entrada de cálcio no miocárdio e reduz a frequência cardíaca. Ainda, o betanecol atua no trato urinário e no TGI, sendo útil no tratamento da retenção urinária e do esvaziamento inadequado da bexiga quando não há obstrução orgânica, como na retenção urinária pós-cirúrgica e neuropatia diabética (Wein, 1991). A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 10 A cevimelina é um derivado da Ach, agonista muscarínico que vem sendo utilizado no tratamento da xerostomia por apresentar alta afinidade pelos receptores M3 localizados nas glândulas salivar e lacrimal. Parece apresentar menos efeitos colaterais se comparado à pilocarpina. A sua dose usual é de 30 mg, três vezes ao dia. Todos os parassimpatomiméticos apresentam como reações colaterais mais comuns: sudorese, salivação, cólicas abdominais, sensação de aperto na bexiga, dificuldade de acomodação visual, broncoconstrição, bradicardia e hipotensão. Todos esses efeitos estão relacionados à ativação dos receptores muscarínicos e nicotínicos. É importante relatar que há um crescente interesse no papel dos receptores muscarínicos nas questões da cognição. A utilidade potencial de agonistas M1 no tratamento de doenças cognitivas evolui constantemente (Brunton; Lazo; Parker, 2012). 4.2 Anticolinesterásicos Como vimos anteriormente, a acetilcolinesterase (AchE) é a principal enzima relacionada à degradação da Ach. Conhecer a importância de sua ação sobre o controle dos níveis de Ach fez com que pesquisadores desenvolvesses drogas capazes de inibir sua atividade com a intenção de aumentar os níveis circulantes de Ach. É claro que esse propósito está relacionado ao fato do uso de inibidores de acetilcolinesterase (anticolinesterásicos) para tratar doenças relacionadas à falta de Ach ou problemas nos receptores de Ach, como o Alzheimer e a miastenia grave. TEMA 5 – PARASSIMPATOLÍTICOS E DROGAS QUE ATUAM NA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR Os parassimpatolíticos são aquelas drogas que atuam como antagonistas dos receptores colinérgicos. Já as drogas que atuam na junção neuromuscular podem apresentar efeitos excitatórios sobre os receptores nicotínicos, aumentando os níveis de acetilcolina (Ach) ou inibindo a sua liberação, ou mesmo atuando como antagonistas na placa motora. Iniciaremos a nossa discussão sobre esse tema pelas drogas que atuam na junção neuromuscular. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 11 5.1 Drogas que atuam na junção neuromuscular O receptor nicotínico da Ach está relacionado com a neurotransmissão pós-sináptica na placa motora. A ligação da Ach no receptor nicotínico da placa motora inicia o potencial da placa terminal, primeiro processo que ocorre para desencadear a contração muscular. Veja a figura a seguir: à direita, sob “physiology”, são descritos todos os passos para desencadear a contração, desde a anatomia da placa motora terminal e toda a sequência de eventos que iniciam com a liberação de Ach pelo potencial de ação até a contração da fibra muscular. Figura 1 – Processo de contração da musculatura esquelética Fonte: Brunton et al., 2016. Dentre os fármacos que atuam na junção neuromuscular, encontram-se agentes bloqueadores neuromusculares, fármacos estimulantes ganglionares e fármacos bloqueadores ganglionares. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 12 5.2 Agentes bloqueadores neuromusculares Atualmente, os bloqueadores neuromusculares são classificados em dois grupos: os bloqueadores despolarizantes e os não despolarizantes. Na classe dos despolarizantes, o único com utilização clínica é o suxametônio. A ação primária dessa classe é promover uma despolarização intensa da membrana, o que leva a um período breve de excitação repetitiva que, consequentemente, leva a um bloqueio da placa. Isso acontece porque os canais de sódio se fecham e não reabrem enquanto a placa terminal não repolarizar. O suxametônio tem ação rápida e é utilizado para realizar intubação traqueal (Brunton; Lazo; Parker, 2012). Já na classe dos não despolarizantes, encontram-se mais exemplos de medicamentos utilizados na clínica. São eles: tubocurarina, pancurônio, vecurônio, rocurônio e mivacúrio. Todos esses fármacos são derivados do curare. Esses fármacos se ligam nos receptores nicotínicos na placa terminal promovendo seu bloqueio. Normalmente são aplicados vias intramuscular e endovenosa e, além disso, possuem um início de ação rápida. A seleção do melhor fármaco leva em conta o perfil farmacocinético de cada fármaco para minimizar o comprometimento cardiovascular. Além desses efeitos, muitas outras respostas indesejadas podem aparecer, como apneia, colapso cardiovascular, aumento da liberação de histamina e anafilaxia (Golan et al., 2016; Brunton; Lazo; Parker, 2012). 5.3 Fármacos estimulantes ganglionares Os agonistas ganglionares possuem uso terapêutico bastante limitado devido à gama de efeitos colaterais que podem provocar. Dentre os estimulantes, encontram-se a nicotina e seus derivados, como a lobelina, o tetrametilamônio e o 1,1-dimetil-4-fenilpiperazínio.A nicotina destaca-se pela importância de seus efeitos tóxicos e pelo fato de ser uma das drogas psicotrópicas mais consumidas no Brasil e no mundo. A nicotina provoca uma ação de ativação dos receptores nicotínicos, mas logo após seguem efeitos de dessensibilização dos alvos e o resultado final é a soma dos efeitos excitatórios e inibitórios da nicotina. Suas ações no sistema nervoso central (SNC) são decorrentes de uma estimulação, como o aumento da excitabilidade respiratória, mas na sequência ocorre um quadro de depressão e A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 13 paralisia central. A nicotina pode causar vômitos por atuar na zona CTZ (chemoreceptor trigger zone, a zona deflagradora do vômito). A sua ação relacionada ao estímulo de prazer parece decorrer do aumento da liberação de outros neurotransmissores, como a dopamina e outras aminas biogênicas (Brunton; Lazo; Parker, 2012). A exposição crônica leva a mudanças na densidade dos receptores, o que gera a tolerância farmacológica, o que leva o indivíduo a se expor a quantidades maiores de nicotina para obter o efeito inicial de pequenas doses. 5.4 Fármacos bloqueadores ganglionares Os bloqueadores ganglionares têm com função realizar o bloqueio de canais iônicos ou competir com a Ach pelo receptor. Destacam-se o hexametônio, o trimetafano e a mecamilamina. O bloqueio dos gânglios simpáticos leva à supressão do controle adrenérgico promovendo, por exemplo, vasodilatação e redução da pressão arterial. Em um nível parassimpático, esses fármacos podem provocar taquicardia, midríase, constipação e redução do tônus muscular. 5.5 Fármacos que atuam no sistema pré-sináptico Para finalizar, é importante discutir algumas drogas que atuam em nível pré-sináptico, como o hemicolíneo, o vesamicol e a toxina botulínica. O uso clínico da toxina vem aumentando gradativamente. Atualmente ela é usada no tratamento de distonias, cefaleias crônicas, sialorreia, sudorese e na estética para reduzir as linhas de expressão. Todos esses usos estão relacionados à inibição da exocitose da vesícula contendo Ach, o que promove uma redução da sua liberação. A Ach é responsável pela contração da musculatura da pele e, se a sua liberação for reduzida, há redução da contração da musculatura abaixo da pele. A figura a seguir contém um resumo de todas as drogas que atuam na junção neuromuscular. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 14 Figura 2 – Drogas que atuam na junção neuromuscular Fonte: Brunton et al., 2016. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com 15 REFERÊNCIAS BRUNTON, L. L. et al. Goodman & Gilman: as bases farmacológicas da terapêutica. 12. ed. Rio de Janeiro: Mc Graw Hill, 2016. BRUNTON, L. L.; LAZO, J. S.; PARKER, K. L. Goodman & Gilman: as bases farmacológicas da terapêutica. 12. ed. Rio de Janeiro: McGraw Hill, 2012. GOLAN, D. E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. LÜLLMANN, H. et al. Farmacologia: textos e atlas. 7. ed. São Paulo: Artmed, 2016. RANG, H. P. et al. Rang & Dale: farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. WEIN, A. J. Practical uropharmacology. Urologic Clinics of North America, v. 18, n. 2, p. 269-281, 1991. A luno: JE F F E R S O N G O N Ç A LV E S LO P E S E m ail: jefferson.g.lopes@ gm ail.com
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