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Código Logístico
57937
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6462-5
9 788538 764625
Direitos humanos
e relações étnico-raciais
IESDE BRASIL S/A
2018
Gisele Echterhoff
Claudia Amorim
Marcos Dias de Araújo
Mariana Paladino
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D635
Direitos humanos e relações étnico-raciais / Gisele Echterhoff ... 
[et al.]. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2018.
246 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6462-5
1. Direitos humanos. I. Echterhoff, Gisele. II. Título.
18-5014 CDU:347.2
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Evgeny Gromov/iStockphoto.
Gisele Echterhoff
Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista 
em Direito Civil pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar. Graduada em Direito pela PUCPR. 
Assessora no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Professora de graduação e pós-graduação 
em Direito e autora de artigos e livros.
Claudia Amorim
Pós-doutora em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo 
(USP). Doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 
Mestre em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especialista em 
Literatura Portuguesa e graduada em Letras Português – Literaturas de Língua Portuguesa pela 
UFRJ. Professora do ensino superior e autora de livros sobre literatura africana.
Marcos Dias de Araújo
Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduado em 
História pela UFPR. Professor de História do Brasil, Relações Internacionais e História da Arte em 
cursos de graduação e pós-graduação. Autor de artigos e livros. 
Mariana Paladino
Doutora em Antropologia e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal 
do Rio de Janeiro (UFRJ). Graduada em Antropologia pela Universidad Nacional de La Plata, 
Argentina. Atua nos seguintes temas: educação, interculturalidade, ações afirmativas, políticas in-
digenistas e relações interétnicas.
Sumário
Apresentação 9
1 Noções gerais de direitos humanos 11
1.1 A evolução histórica dos direitos humanos 11
1.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos e os organismos internacionais 
de proteção aos direitos humanos 19
1.3 Os direitos humanos no âmbito nacional: da Constituição Federal de 1988 aos 
sistemas de proteção aos direitos humanos 24
2 Dos direitos das crianças e dos adolescentes 31
2.1 A proteção dos direitos da criança e do adolescente em âmbito 
internacional 31
2.2 ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente 36
2.3 Combate ao trabalho infantil e à pedofilia 41
3 Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 55
3.1 Pessoas com deficiência: inclusão social, acessibilidade, planos e 
programas 55
3.2 Pessoas idosas: o estatuto do idoso, qualidade de vida e proteção 60
3.3 Cuidados especiais e combate à violência 66
4 Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 75
4.1 Preconceito, racismo e desigualdades no Brasil – questões étnico-raciais 75
4.2 Diversidade religiosa: o direito à liberdade de consciência, crença e religião 83
4.3 Equidade de gênero, direitos da mulher e Lei Maria da Penha 88
4.4 Direitos da população LGBT, enfrentamento e combate ao preconceito, à 
discriminação e à violência 95
5 Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 105
5.1 Direitos para todos e políticas públicas 105
5.2 Defesa dos direitos humanos e combate às violações 112
5.3 Combate ao trabalho escravo 116
6 Direitos humanos e sua correlação com a bioética 123
6.1 Conceitos elementares: biotecnologia, bioética e biodireito 123
6.2 Reprodução artificial e alguns aspectos polêmicos 127
6.3 O código genético humano 131
Gabarito 141
Referências 149
7 Conceitos de raça, etnia e identidade cultural e nacional 161
7.1 Raça 161
7.2 Etnia 165
7.3 Identidade nacional e múltiplas identidades 167
7.4 A identidade nacional brasileira 172
8 A África lusófona: um pouco de história 175
8.1 Breve panorama histórico da África lusófona 175
8.2 A colonização das ilhas do Atlântico e da Costa africana 176
8.3 O Império Colonial português nas ilhas e nas terras africanas 177
8.4 A independência dos cinco países africanos lusófonos 178
8.5 A República portuguesa e o golpe militar de 1926 178
8.6 A criação dos movimentos pela independência das colônias na África 
portuguesa 180
9 A África lusófona e o Brasil: laços e letras 183
9.1 Os africanos no Brasil: um pouco de história 183
9.2 Identidades e diferenças entre as culturas do Brasil e dos países africanos 
lusófonos 190
9.3 Estudos afro-brasileiros na contemporaneidade 193
10 História e historiografia indígena 197
10.1 O sistema colonial e missionário (1549-1755) 197
10.2 Descobrimento, encontro ou conquista? 198
10.3 Os aldeamentos e a escravização indígena 199
10.4 As imagens sobre os índios nos séculos XVIII, XIX e XX 206
11 Situação contemporânea dos povos indígenas 211
11.1 Quem são e quantos são os povos indígenas hoje no Brasil 211
11.2 Diversidade linguística e cultural 215
11.3 Formas de organização social e parentesco 216
11.4 Economias indígenas 217
11.5 Religiões indígenas 218
12 Políticas de ações afirmativas, políticas curriculares e currículo 221
12.1 As questões demográficas e raciais do Brasil 221
12.2 Ações afirmativas no mundo 226
12.3 Ações afirmativas no Brasil 228
12.4 Políticas curriculares 229
12.5 Currículo 233
Gabarito 237
Referências 241
9
Apresentação
Você está iniciando a leitura de um livro que é muito importante para a sua formação acadê-
mica e, principalmente, para a construção de sua condição de cidadão. Estudar direitos humanos e 
relações étnico-raciais é de extrema relevância para a formação de um verdadeiro cidadão, já que 
vivemos em sociedade e precisamos aprender a conviver em harmonia, respeitando as diferenças.
O objetivo desta obra é fornecer uma noção geral sobre esses temas, procurando aprofundar 
alguns assuntos específicos e indispensáveis, como os direitos das crianças e dos adolescentes, dos 
idosos, das pessoas com deficiência e discutir questões relacionadas à diversidade étnico-racial, 
religiosa, de gênero e LGBT.
A obra está dividida em duas partes: a primeira (capítulos 1 a 6) trata sobre os direitos hu-
manos de forma mais ampla, já a segunda (capítulos 7 a 12) trata, especificamente, das relações 
étnico-raciais. 
No Capítulo 1 são dadas noções gerais sobre os direitos humanos e apresentada um pouco da sua 
história, além das leis e dos sistemas de proteção aos direitos humanos. O Capítulo 2 foca nos direitos 
das crianças e dos adolescentes, no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e no combate ao traba-
lho infantil e à pedofilia. Os direitos das pessoas com deficiência e dos idosos são tratados no Capítulo 3, 
que discute a importância da inclusão social e de programas de acessibilidade. Na sequência, o Capítulo 
4 aborda de forma ampla a diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT. São tratados temas 
como preconceito, racismo, diversidade religiosa, equidade de gênero e direitos da população LGBT. 
O combate às violações e ao trabalho escravo são temas do Capítulo 5. Por fim, o Capítulo 6 discute 
aspectos polêmicos da bioética, como a reprodução artificial.
O Capítulo 7, que inicia a segunda parte deste livro, problematiza os conceitos de raça, etnia 
e identidade cultural e nacional, com o objetivo de discutir o que seria a identidade nacional brasi-
leira. Os Capítulos 8 e 9 tratam sobre a história e cultura da África lusófona, procurando relacionar 
a cultura dos povos africanos com a do povobrasileiro. Já a história e a cultura dos povos indígenas 
são apresentadas nos Capítulos 10 e 11. Fechando o livro, o Capítulo 12 discute as políticas de ações 
afirmativas e as políticas curriculares relacionadas às questões étnico-raciais.
Bons estudos!
1
Noções gerais de direitos humanos
Gisele Echterhoff
Não raro, ao iniciar uma disciplina que não seja diretamente relacionada ao curso, os alunos 
ouvem de seus professores a importância da interdisciplinaridade. Isso não será diferente em rela-
ção a essa obra, tendo em vista a importância do conhecimento de noções gerais de direitos huma-
nos, que vai muito além da necessidade decorrente do exercício profissional, pois está diretamente 
relacionada ao exercício da cidadania.
Este capítulo examinará noções gerais sobre o tema e adentrará em aspectos históricos de 
maior relevância, além de analisar alguns diplomas e organismos internacionais que visam à pro-
teção desses direitos para, ao final, analisar a legislação nacional.
1.1 A evolução histórica dos direitos humanos
Qualquer estudo sobre a concepção de direitos se inicia pela ideia central 
da origem da sociedade e da consequente necessidade de se estabelecer regras de 
conduta para convivência.
Por diversas vezes ouvimos a afirmação de que o ser humano é, por nature-
za, um ser social, e como tal, sente a necessidade de viver em grupos. A vida em 
sociedade se torna cada vez mais necessária quando se constata que é mais fácil dividir tarefas e 
congregar esforços para conquistar qualidade de vida.
Porém, a vida em sociedade, por menores que sejam esses grupos sociais, gera conflitos. Nas 
civilizações mais antigas e rudimentares, esses conflitos, em regra, eram solucionados por meio da 
força bruta, gerando ainda mais desavenças e violência. Aos poucos – até mesmo em razão da com-
plexidade da vida em sociedade – o ser humano percebeu a necessidade de se estabelecer regras de 
conduta para uma melhor convivência.
Por esta breve contextualização se visualiza o nascedouro do Direito, aqui tomando a pala-
vra pelo seu sentido mais leigo, como sinônimo de leis, regras e normas de conduta.
Continuando, como que criando uma história em quadrinhos, podemos imaginar que, cer-
tamente, alguém tomou as rédeas da criação dessas normas, e de forma justa ou injusta, correta 
ou não, legítima ou não, passou a estabelecer as regras de convivência de determinada sociedade.
Ainda – como não é impossível de acontecer –, esse alguém (um soberano, um impera-
dor, um governante etc.) passou a, inevitavelmente, atender aos seus próprios interesses e aos de 
seus semelhantes, provocando situações de exploração dos demais indivíduos, suscitando revolta 
e, possivelmente, situações de violência e opressão.
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais12
Essa historinha, aparentemente simples, demonstra com clareza situações de abuso de 
poder que são a primeira fonte dos direitos humanos (também chamados direitos humanos 
de primeira geração), que surgem exatamente como forma de limitar o poder dos soberanos e 
garantir direitos mínimos ao restante da população. Após essa contextualização, passemos a 
uma análise mais técnica.
Iniciar o estudo sobre os direitos humanos exige uma conceituação da expressão. De acordo 
com a ONU Brasil: “Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, inde-
pendentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição”. 
Incluem-se “o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao traba-
lho e à educação, entre e muitos outros. Todos e todas merecem estes direitos, sem discriminação”.
Os direitos humanos são considerados aqueles essenciais ao ser humano, que existem em 
razão da natureza humana.
João Baptista Herkenhoff (1994, p. 30) assim conceitua direitos humanos:
Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos 
aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por 
sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos 
que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são 
direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir.
Embora a expressão direitos humanos seja a mais utilizada, é necessário observar que há 
outras denominações. É comum usar expressões como direitos naturais, direitos públicos subjetivos, 
liberdades públicas, direitos morais, direitos dos povos, direitos do homem, direitos fundamentais, 
dentre outros.
As terminologias mais utilizadas são direitos humanos e direitos fundamentais. Todavia, mes-
mo que a distinção não seja tão relevante na atualidade, estas expressões não são consideradas, em 
si, como sinônimas. A expressão direitos humanos se refere àqueles direitos no âmbito da ordem 
internacional, independentemente do reconhecimento por um ordenamento jurídico específico, 
possuindo caráter supranacional. A par disso, a denominação direitos fundamentais “se aplica para 
aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional po-
sitivo de determinado Estado” (SARLET, 2005, p. 35-36).
Partindo para a evolução histórica dos direitos humanos como direitos essenciais à proteção 
do ser humano, por evidência que estes não surgiram todos somente em um momento da histó-
ria, tendo sido frutos da evolução da civilização humana e, em especial, em razão da limitação do 
poder político.
Da mesma forma, não se pode afirmar que a teoria dos direitos humanos já era concebida 
na Antiguidade, pelo contrário, a sua concepção tal qual conhecemos na atualidade é muito mais 
produto dos acontecimentos decorrentes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Todavia, a proteção da pessoa humana já era conhecida na Antiguidade, sendo, em especial, 
tratada por filósofos como Zaratustra, na Pérsia; Buda, na Índia; Confúcio, na China; Dêutero- 
-Isaías, em Israel, além de Platão e Aristóteles, na Grécia. No âmbito normativo, também é possí-
vel apontar várias legislações que já demonstravam preocupação com a proteção desses direitos, 
Noções gerais de direitos humanos 13
dentre eles, por exemplo, o Código de Hammurabi (1792-1750 a.C.), considerado o primeiro códi-
go de normas de condutas, preceituando esboços de direitos como o direito à vida, à propriedade e 
à honra; além da Lei das Doze Tábuas na República Romana, que veio estipular uma lei escrita 
como regente das condutas. O direito romano também consagrou vários direitos, como o da pro-
priedade, da liberdade, da personalidade jurídica, entre outros (RAMOS, 2015, p. 32-34).
Segundo Ramos (2015), o cristianismo teve grande influência na proteção da pessoa huma-
na, em especial ao apregoar que o homem é criado à imagem e semelhança de Deus. Necessário 
lembrar também os filósofos católicos, como São Tomás de Aquino, que defendia a igualdade dos 
seres humanos e a aplicação justa da lei.
Foi na Idade Média que se iniciou a luta pela limitação do poder político, pois na Europa o 
poder dos governantes ainda era ilimitado e fundado na vontade divina. Foi nessa época que surgi-
ram os primeiros movimentos de reivindicação de liberdades, dos quais provêm a Declaração das 
Cortes de Leão, adotada na Península Ibérica em 1188 e a Magna Carta inglesa, de 1215.
André de Carvalho Ramos ressalta que a Magna Carta continha um ingrediente “essencial 
ao futuro do regime jurídico dos direitos humanos: o catálogo de direitos dos indivíduos contra o 
Estado” (RAMOS, 2015, p. 36-37). Claro que o documento possuía um caráter elitista, pois prote-
gia o baronato inglês contra os abusos do monarca João Sem-Terra, mas já era o início da luta pela 
limitação do poder político. Salienta o autor que, embora seu foco seja a elite fundiária, a Magna 
Carta já traz a ideia de governo representativo, além de reconhecer direitos como o de ir e vir em 
situação de paz, de ser julgado pelos seus pares, de acesso à Justiça e proporcionalidade entre o 
crime e a pena.
Após a criseda Idade Média e o questionamento dos estados absolutistas, o poder soberano 
do rei se tornou cada vez mais limitado. Exemplo disso é a Petition of Right (Petição de Direitos), de 
1628, por meio do qual o baronato inglês novamente impõe limites ao poder do rei em relação à co-
brança de impostos, tornando-o dependente de autorização do Parlamento. Esse documento ainda 
estabeleceu que “nenhum homem livre podia ser detido ou preso ou privado dos seus bens, das 
suas liberdades e franquias, ou posto fora da lei e exilado ou de qualquer modo molestado, a não 
ser por virtude de sentença legal dos seus pares ou da lei do país” (RAMOS, 2015, p. 37-38), sendo 
o embrião do devido processo legal. Também na Inglaterra, surge a Declaração de Direitos (a Bill 
of Rights de 1689) da Revolução Gloriosa, que reduziu o poder dos reis ingleses de forma definitiva. 
Essa declaração estabeleceu a necessidade de respeito à vontade da lei – superior em relação à von-
tade do soberano – e reafirmou o poder do Parlamento, cujos membros eram livremente eleitos.
Entre os filósofos mais importantes que debateram o tema, Ramos (2015) cita Hobbes, 
Grócio, John Locke, Rousseau e, em especial, Kant (já no final do século XVIII), que defendeu a 
existência da dignidade intrínseca a todo ser racional, que não tem preço ou equivalente, não po-
dendo o ser humano ser tratado como um meio, mas, sim, como um fim em si mesmo – concepção 
atualmente importante para o regime jurídico dos direitos humanos.
Foram as revoluções liberais inglesa, americana e francesa e as suas respectivas declarações 
de Direitos que trouxeram a afirmação histórica dos direitos humanos.
Direitos humanos e relações étnico-raciais14
Já falamos da Revolução Inglesa e do Bill of Rights de 1689. A Revolução Americana, por sua 
vez, deu origem ao processo de independência das colônias britânicas na América do Norte, com a 
Declaração de Independência dos Estados Unidos de 04 de julho de 1776, estipulando que “todos 
os homens são criados iguais, sendo-lhes conferidos pelo seu Criador certos Direitos inalienáveis. 
Que para garantir estes Direitos, são instituídos Governos entre os Homens, derivando os seus 
justos poderes do consentimento dos governados” (RAMOS, 2015, p. 42).
Foi a partir da independência dos Estados Unidos da América que surgiu a primeira constituição 
do mundo, a Constituição Norte-Americana de 1787 e, com ela, a era do constitucionalismo liberal.
A Revolução Francesa fez surgir a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
adotada pela Assembleia Nacional Constituinte francesa em 27 de agosto de 1789, sendo conside-
rada o marco para a proteção dos direitos humanos no plano nacional. A realidade social de desi-
gualdade, o privilégio das castas e a insensibilidade das elites fizeram surgir motins populares que 
resultaram na tomada da Bastilha em 14 de junho de 1789. A Assembleia Nacional Constituinte, 
formada por representantes dos três estamentos, sendo, de um lado, as elites religiosas (clero) e 
a nobreza e, de outro, o chamado terceiro estado (a grande e pequena burguesia além da camada 
urbana sem posses), adotou a Declaração em 27 de agosto de 1789, consagrando a igualdade e a 
liberdade como direitos inatos de todos os indivíduos. Aboliram-se privilégios, direitos feudais e 
imunidades de várias castas, em especial a da aristocracia de terras (RAMOS, 2015, p. 42-43).
A principal premissa da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 
– todos os homens nascem livres e com direitos iguais –, influenciou a Constituição Francesa de 
1791, assim como várias constituições e tratados de direitos humanos posteriores. Essa premissa 
consagra a ideia de universalidade dos direitos humanos, a qual seria definitivamente estabelecida 
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.
As revoluções liberais fizeram surgir uma categoria própria de direitos humanos: aquela 
exercida contra o poder do Estado. Essa visão é própria do momento histórico vivido e da ne-
cessidade da classe burguesa detentora do poder econômico, mas desprestigiada em relação ao 
reconhecimento de direitos na esfera jurídica. Ainda, demonstrou a pretensão de limitação do 
poder estatal em relação ao poder econômico, consagrando direitos como a liberdade e a igualdade 
sempre com enfoque voltado à proteção do patrimônio.
Obviamente, tais movimentos somente agradaram a parcela da população que não pos-
suía os privilégios da elite, ou seja, somente aqueles detentores do poder econômico: a burguesia. 
Consequentemente, passaram a surgir movimentos sociais visando a ampliação do rol de direitos 
humanos para abarcar os direitos sociais, como o direito à educação e à assistência social.
Assim afirma Giuseppe Tosi (2001):
A tradição liberal dos direitos do homem domina o período que vai do Século 
XVII até a metade do Século XIX, quando termina a era das revoluções burgue-
sas. Nesta época, irrompe na cena política o socialismo, que encontra suas raízes 
naqueles movimentos mais radicais da Revolução Francesa que queriam não 
somente a realização da liberdade, mas também da igualdade.
O socialismo, sobretudo a partir dos movimentos revolucionários de 1848 
(ano em que foi publicado o Manifesto da Partido Comunista, de Marx e 
Noções gerais de direitos humanos 15
Engels), reivindica uma série de direitos novos e diversos daqueles da tradi-
ção liberal. A egalité da Revolução Francesa era somente (e parcialmente) a 
igualdade dos cidadãos frente à lei, mas o capitalismo estava criando novas 
grandes desigualdades econômicas e sociais e o Estado não intervinha para 
pôr remédio a esta situação.
Os movimentos revolucionários de 1848 constituem um acontecimento chave 
na história dos direitos humanos, porque conseguem que, pela primeira vez, o 
conceito de “direitos sociais” seja acolhido na Constituição Francesa, ainda que 
de forma incipiente e ambígua. [...] Estava assim aberto o longo e tortuoso ca-
minho que levaria progressivamente à inclusão de uma série de direitos novos e 
estranhos à tradição liberal: direito à educação, ao trabalho, à segurança social, 
à saúde etc. que modificam a relação do indivíduo com o Estado.
Na sua longa luta contra o absolutismo, o liberalismo considerava o Estado 
como um mal necessário e mantinha uma relação de intrínseca desconfiança. 
A questão central era a garantia das liberdades individuais contra a intervenção 
do Estado nos assuntos particulares. Agora, ao contrário, tratava-se de obrigar o 
Estado a fornecer um certo número de serviços para diminuir as desigualdades 
econômicas e sociais e permitir a efetiva participação de todos os cidadãos à 
vida e ao “bem-estar” social.
Surge o chamado Estado de bem-estar social, que passa a ser consagrado nas cartas consti-
tucionais (Constitucionalismo Social) por meio de diversos direitos sociais ao lado dos direitos 
políticos e civis.
George Sarmento ensina que:
Muitos foram os textos precursores dos direitos sociais, econômicos e culturais. 
Entre eles, a Constituição Francesa de 1848, a Constituição Mexicana de 1917, 
a Declaração Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado (1918) e o 
Tratado de Versailles, de 1919. Mas foi a Constituição alemã de 1919, mais co-
nhecida como Constituição de Weimar, que primeiro os sistematizou, criando 
um catálogo de direitos que exerceu forte influência sobre os países democráti-
cos. (2011, p. 5-6)
A par disso – claro que não de forma uniforme e/ou linear, mas tentando se estabelecer 
uma breve noção histórica dos pontos mais marcantes da história dos direitos humanos – não se 
pode esquecer a relevância da Segunda Guerra Mundial para a internacionalização desta categoria 
de direitos.
Somente após as barbáries ocorridas na Segunda Guerra Mundial é que o discurso de pro-
teção dos direitos humanos tomou uma dimensão universal e passou a ser alvo de preocupação 
internacional.
Por isso, Fábio Konder Comparato sustenta:
após três lustros de massacres e atrocidades de toda sorte, iniciados como for-
talecimento do totalitarismo estatal nos anos 30, a humanidade compreendeu, 
mais do que em qualquer outra época da história, o valor supremo da dignidade 
humana. O sofrimento como matriz da compreensão do mundo e dos homens, 
segundo a lição luminosa da sabedoria grega, veio a aprofundar a afirmação 
histórica dos direitos humanos. (2005, p. 54)
Direitos humanos e relações étnico-raciais16
Poderíamos ficar aqui por diversas páginas analisando a influência dos acontecimentos de-
correntes da Segunda Guerra Mundial na evolução dos direitos humanos, mas apenas recordar 
as atrocidades praticadas pelo nazismo durante aquele período já faz lembrar o total desrespeito 
à condição do ser humano pelos regimes totalitaristas, que tiveram a capacidade de, legalmente, 
transformar as pessoas em displaced persons – seres supérfluos.
Como ensina Flávia Piovesan (2015, p. 196), “o legado do nazismo foi condicionar a titula-
ridade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência de determinada raça – a 
raça pura ariana”. Portanto, fundado numa legalidade estrita, o Estado Nazista conseguiu restringir 
a condição de sujeito de direitos apenas àqueles sujeitos da raça pura ariana, negando o valor da 
pessoa humana como valor fonte do direito.
Com o término da guerra surgiu uma necessidade de reconstrução dos direitos humanos. 
Por isso, Piovesan afirma que “se a Segunda Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, 
o pós-guerra deveria significar sua reconstrução” (PIOVESAN, 2015, p. 196-197), mas em um 
âmbito internacional, não se restringindo ao âmbito estatal.
Nesse contexto, Piovesan afirma que o Tribunal de Nuremberg, em 1945-1946, foi um signi-
ficativo impulso ao movimento de internacionalização dos direitos humanos, por meio da criação 
de um Tribunal Militar Internacional com o fim de julgar os criminosos de guerra, bem como 
consolidando a ideia de limitação da soberania nacional, reconhecendo-se que os indivíduos têm 
direitos protegidos pelo Direito Internacional.
A vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial introduziu uma nova ordem com im-
portantes transformações no Direito Internacional: a criação das Nações Unidas, em 1945, com a 
assinatura da Carta das Nações Unidas em 26 de junho de 1945, em São Francisco.
As Nações Unidas (chamadas de Organização das Nações Unidas – ONU) são organi-
zadas em diversos órgãos, sendo que os seis principais são a Assembleia Geral, o Conselho de 
Segurança, a Corte Internacional de Justiça, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela 
e o Secretariado.
É a carta das Nações Unidas de 1945 que “consolida, assim, o movimento de internacio-
nalização dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses 
direitos a propósito e finalidade das Nações Unidas” (PIOVESAN, 2015, p. 209).
A Carta das Nações Unidas faz expressa referência aos direitos humanos nos arts. 1º (3), 
13 (1 e 2), 55, 56 e 62 (2 e 3). Num exame detido da Carta das Nações Unidas se constata que esse 
documento, embora faça expressa referência aos direitos humanos, não define o seu conteúdo, o 
que somente veio a ser feito três anos depois, com o advento da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos (DUDH).
Obviamente, essa breve análise histórica dos direitos humanos não foi capaz de abranger 
todos os fatos históricos, mas os mais relevantes até o advento da DUDH foram examinados, o que 
é suficiente para o objetivo proposto. Com base nesse exame histórico, constata-se que os direitos 
humanos surgem de acordo com a necessidade de sua consagração: primeiro surgiram direitos 
Noções gerais de direitos humanos 17
civis e políticos vinculados à necessidade de limitação do poder do Estado, e em seguida, surgiram 
direitos econômicos, sociais e culturais, decorrentes da noção do Estado de bem-estar social.
Como bem adverte Norberto Bobbio (1992, p. 6):
Os direitos humanos não nascem todos de uma só vez, nascem quando devem 
ou podem nascer. Nascem quando o aumento do poder do homem sobre o ho-
mem – que acompanha inevitavelmente o progresso técnico, isto é, o progresso 
da capacidade do homem de dominar a natureza e os outros homens – ou cria 
novas ameaças à liberdade do indivíduo, ou permite novos remédios para as 
suas indigências: ameaças que são enfrentadas através de demandas de limita-
ções de poder; remédios que são providenciados através da exigência de que o 
mesmo poder intervenha de modo protetor.
Assim, surge a Teoria das Gerações ou Dimensões dos Direitos Humanos, lançada pelo ju-
rista francês de origem tcheca, Karel Vasak, que, em 1979, classificou os direitos humanos em três 
gerações, cada uma com características próprias, sendo que atualmente outros autores defendem a 
ampliação destas categorias para quatro e até cinco gerações (RAMOS, 2015, p. 55).
Karel Vasak vinculou cada uma das gerações a um dos componentes do dístico da Revolução 
Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade (RAMOS, 2015, p. 55). São considerados direitos de 
primeira geração os direitos de liberdade, os direitos vinculados às liberdades públicas e direitos 
políticos, referindo-se aqueles direitos às prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a 
esfera de autonomia do indivíduo, limitando a esfera de poder do Estado.
Dentre estes direitos, George Sarmento (2011, p. 3-4) cita a liberdade de expressão, a pre-
sunção de inocência, a inviolabilidade de domicílio, a proteção à vida privada, a liberdade de loco-
moção, os direitos da pessoa privada de liberdade, o devido processo legal, entre outros. No campo 
dos direitos políticos, podem ser indicados: o direito ao voto (tanto de votar, como de ser votado), 
o direito de ocupar cargos públicos, o direito à filiação partidária, entre outros.
Os direitos humanos de segunda geração são aqueles que passam a exigir um papel ativo 
do Estado, visando garantir os chamados direitos sociais, econômicos e culturais, nascidos do 
chamado Estado de bem-estar social. Dentre estes direitos, George Sarmento (2011, p. 7) cita:
a) Direitos sociais: educação, saúde, trabalho, moradia, lazer segurança, pre-
vidência social, assistência aos desamparados, proteção à maternidade e à 
infância [...].
b) Direitos econômicos: valorização do trabalho, livre iniciativa, função social da 
propriedade, livre concorrência, defesa do consumidor, redução das desigualda-
des regionais e sociais etc. [...].
c) Direitos culturais: acesso às fontes da cultura nacional, valorização e difu-
são das manifestações culturais, proteção às culturas populares, indígenas e 
afro-brasileiras; proteção ao patrimônio cultural brasileiro, que são os bens de 
natureza material e imaterial portadores de referência à identidade, à ação, à 
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
Os direitos de terceira geração, conhecidos como direitos de fraternidade ou de solidarie-
dade, têm como pressuposto a proteção da coletividade ou de um grupo social vulnerável. George 
Sarmento menciona, entre esses direitos, o direito ao desenvolvimento, à paz, à propriedade 
Direitos humanos e relações étnico-raciais18
sobre o patrimônio comum da humanidade, o direito de comunicação, o de autodeterminação 
dos povos, à defesa de ameaça de purificação racial e genocídio, à proteção contra as manifesta-
ções de discriminação racial, à proteção em tempos de guerra ou qualquer outro conflito armado. 
No âmbito nacional, o autor cita os direitos decorrentes da proteção ambiental, do direito do con-
sumidor, da criança e adolescente, dos idosos, dos portadores de deficiência, bem como a proteção 
dos bens que integram o patrimônio artístico, histórico, cultural, paisagístico, estético e turístico 
(SARMENTO, 2011, p. 8-9).
Atualmente, alguns autores afirmam que há uma quarta geração de direitos humanos, de-
correntes das inovações das ciências biomédicas “referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos 
da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”(BOBBIO, 1992, p. 6).
Nesse sentido, Salvador Darío expõe:
Toda uma série de novos direitos – alguns já consolidados e outros em processo 
de se consolidarem, como o direito à proteção do genoma humano contra prá-
ticas contrárias à dignidade do indivíduo, à autodeterminação genética, à pri-
vacidade genética, à não discriminação por razoes genéticas, ao consentimento 
livre e informado para a realização de estudos genéticos etc. – configuram uma 
nova dimensão dos Direitos Humanos, categoria histórica que permanente-
mente em seu caminho se adapta às exigências e às necessidades do momento, 
para proteger o homem em sua dignidade e em sua liberdade. (BERGEL, 2002, 
p. 329, tradução nossa1)
George Sarmento (2011, p. 12), advertindo que não existe consenso na existência da quar-
ta geração (quem dirá nas espécies de direitos que estariam inclusas nessa categoria), entende 
que dentre esses direitos estariam, também, os direitos de informática, oriundos da Sociedade 
de Informação.
Embora não haja concordância em relação às dimensões dos direitos humanos ou à forma 
de sua classificação, há consenso em relação ao seu fundamento axiológico (referente a um con-
ceito de valor), sendo que, seja doutrinariamente, seja normativamente, os direitos humanos são 
extraídos, em essência, da noção de dignidade da pessoa humana, das exigências consideradas 
imprescindíveis e inescusáveis a uma vida digna e da proteção do ser humano.
Conceituar a dignidade da pessoa humana é uma tarefa difícil, sendo mais fácil se constatar 
no caso concreto a ofensa à dignidade do que definir o que é viver com dignidade. Porém, é inegá-
vel que a dignidade é um conceito a priori, anterior a própria existência do ordenamento jurídico; 
é um dado prévio, uma qualidade integrante e irrenunciável da própria condição humana e que 
está em constante processo de desenvolvimento de acordo com o momento histórico e cultural da 
sociedade (SARLET, 2002, p. 40).
1 Tradução livre da autora, referente ao trecho original: “Toda una seria de nuevos derechos – algunos ya consolidados 
y otros en proceso de serlo-tales como el derecho a la protección del genoma humano contra prácticas contrarias a la 
 dignidad del individuo, a la autodeterminación genética, a la privacidad genética, a la no-discriminación por razones genéti-
cas, al consentimento libre e informado para la realización de estudios genéticos, etc., conforman uma nueva dimensión de 
los Derechos Humanos, categoría histórica que permanentemente en su camino fue adaptándose a los requerimientos y a 
las necesidades del momento, para proteger al hombre en su dignidad y en su libertad” (BERGEL, 2002. p. 329).
Noções gerais de direitos humanos 19
1.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos e os organismos 
internacionais de proteção aos direitos humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é considerada um 
marco na proteção dos direitos humanos, tendo sido aprovada de forma unânime 
pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948.
Ela foi elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e cultu-
rais de todas as regiões do mundo, tendo sido a primeira organização internacional que abrangeu 
a quase totalidade dos povos da Terra.
A declaração é composta por 30 artigos, sendo que no seu primeiro artigo, o documento já 
demonstrou a que veio:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. 
São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos ou-
tros com espírito de fraternidade” (ONU, 1948).
Flavia Piovesan (2015, p. 215) ressalta que “a Declaração consolida a afirmação de uma éti-
ca universal ao consagrar um consenso sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos 
Estados”, o que é observado desde o seu preâmbulo ao afirmar a consagração da dignidade humana 
como valor universal.
A autora demonstra com clareza as razões históricas da necessidade de a Declaração ressal-
tar expressamente a característica de universalidade desses direitos:
A Declaração Universal de 1948 objetiva delinear uma ordem pública mundial 
fundada no respeito à dignidade humana, ao consagrar valores básicos uni-
versais. Desde seu preâmbulo, é afirmada a dignidade inerente a toda pessoa 
humana, titular de direitos iguais e inalienáveis. Vale dizer, para a Declaração 
Universal a condição de pessoa é o requisito único e exclusivo para a titularida-
de de direitos. A universalidade dos direitos humanos traduz a absoluta ruptura 
com o legado nazista, que condicionava a titularidade de direitos à pertinência à 
determinada raça (a raça pura ariana). A dignidade humana como fundamento 
dos direitos humanos e valor intrínseco à condição humana é concepção que, 
posteriormente, viria a ser incorporada por todos os tratados e declarações de 
direitos humanos, que passaram a integrar o chamado Direito Internacional dos 
Direitos Humanos. (PIOVESAN, 2015, p. 216)
Entre os direitos que disciplinam a declaração, alguns fazem expressa referência aos direitos 
civis (exemplos: art. XVII e XVIII) e políticos (exemplo: o artigo XXI), além dos direitos econô-
micos (exemplo: art. XXIII, também exemplo de direito social), sociais (exemplo: artigo XXV) 
e culturais (exemplo: artigo XXVII), o que demonstra com clareza a adequação dos momentos 
históricos decorrentes do discurso liberal e social, evidenciando as diferentes gerações de direitos 
humanos e demonstrando a sua inter-relação e interdependência, sem que uma geração venha a 
substituir a outra.
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais20
A doutrina jurídica muito discutiu sobre a eficácia da DUDH diante do fato de ter sido ado-
tada sob a forma de uma Resolução, que, no âmbito do ordenamento jurídico, não possui força de 
lei em sentido estrito. A posição majoritária é que a Declaração possui, sim, força jurídica vincu-
lante como fonte de direito, seja por integrar o direito costumeiro internacional e/ou os princípios 
gerais de direito.
Assim, leciona Flávia Piovesan:
Para este estudo, a Declaração Universal de 1948, ainda que não assuma a forma 
de tratado internacional, apresenta força jurídica obrigatória e vinculante, na 
medida em que constitui a interpretação autorizada da expressão “direitos hu-
manos” constante dos arts. 1.º (3) e 55 da Carta das Nações Unidas. Ressalta-se 
que, à luz da Carta, os Estados assumem o compromisso de assegurar o respeito 
universal e efetivo aos direitos humanos.
Ademais, a natureza jurídica vinculante da Declaração Universal é reforçada 
pelo fato de – na qualidade de um dos mais influentes instrumentos jurídicos e 
políticos do século XX – ter-se transformado, ao longo dos mais de cinquenta 
anos de sua adoção, em direito costumeiro internacional e princípio geral do 
Direito Internacional. (PIOVESAN, 2015, p. 225-226)
É inegável a força vinculante da DUDH quando se examina diversos outros textos de trata-
dos e documentos internacionais relacionados aos direitos humanos, bem como, e em essência, ao 
se pesquisar as Constituições Nacionais e se constatar que aqueles mesmos direitos humanos foram 
incorporados no âmbito nacional, inclusive em decisões judiciais de tribunais locais.
Em razão dessa discussão sobre a força vinculante da DUDH, iniciou-se uma ampla discussão 
internacional com o objetivo de juridicização2 da Declaração em forma de tratado internacional. 
Esse processo foi concluído em 1966 com a elaboração de dois tratados internacionais – o Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais 
e Culturais – que incorporaram os direitos constantes na DUDH (PIOVESAN, 2015, p. 238).
A união desses pactos e da DUDH deu origem à Carta Internacional dos Direitos Humanos, 
International Bill of Rights, formando, assim, o sistema global de proteção dos direitos humanos, que 
vem sendo ampliado constantemente com tratados multilaterais de direitos humanos, pertinentes 
a determinadas e específicas violações de direitos, como, porexemplo, a violação dos direitos das 
crianças, das mulheres, discriminação racial, entre outras (PIOVESAN, 2015, p. 238-239).
Portanto, além da DUDH e dos Pactos já indicados, podemos citar, dentre outras:
• Convenção para Prevenção e Repressão ao Crime de Genocídio;
• Convenção Internacional contra a Tortura;
• Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial;
• Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher;
• Convenção sobre os Direitos da Criança;
• Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
2 Juridicização significa o ingresso de determinado documento, no caso a DUDH, no mundo jurídico, deixando de ser 
mera carta de intenções e passando a ter conteúdo de norma jurídica, de lei em sentido estrito.
Noções gerais de direitos humanos 21
À ONU, por meio de seus diversos órgãos, cabe também a proteção aos direitos humanos, 
conforme já examinamos antes. Por isso, em 1946, foi criada a Comissão de Direitos Humanos, a 
qual, após mais de 50 anos de trabalho, em 24 de março de 2006 teve sua última sessão, sendo abo-
lida em 16 de junho de 2006 e substituída pelo Conselho de Direitos Humanos.
A criação do Conselho de Direitos Humanos objetivou dar maior credibilidade à temática 
no âmbito da ONU, pois, ao contrário da comissão anterior, este não se submete ao conselho de 
direito econômico e social, sendo subsidiário da Assembleia Geral. O Conselho passa a gozar de 
uma natureza semipermanente, possuindo reuniões várias vezes ao ano e não somente uma, como 
ocorria anteriormente (VIEGAS, SILVA, 2013, p. 104).
O conselho é formado por 47 Estados-membros, eleitos diretamente pela Assembleia Geral 
da ONU com base no princípio do escrutínio universal3 e da não seletividade política, observando-
-se a distribuição geográfica equitativa entre os grupos regionais, sendo: 13 membros dos Estados 
africanos; 13 membros dos Estados asiáticos; 6 membros dos Estados do Leste Europeu; 8 mem-
bros dos Estados da América Latina e Caribe; e 7 membros dos Estados da Europa Ocidental e 
demais Estados.
Conforme afirma Flávia Piovesan (2015, p. 212), a composição do Conselho aponta novo 
critério para a formação das maiorias, pois os países com reduzido e médio graus de desenvolvi-
mento contarão com expressiva maioria de 40 membros.
Entre as suas principais atribuições, o Conselho tem como vocação institucional “promover 
o respeito universal pela proteção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de to-
das as pessoas, sem distinções de nenhum tipo e de forma justa e equitativa” (Assembleia Geral, 
Resolução 60/251, parágrafo 2, apud BORGES, 2011).
E, ainda, o Conselho se ocupará de:
[...] situações em que se violem os direitos humanos, incluídas as violações 
graves e sistemáticas; coordenar e incorporar os direitos humanos à atividade 
geral do sistema da ONU; impulsionar a promoção e a proteção de todos os 
direitos humanos, incluído o direito ao desenvolvimento; promover a educação 
em direitos humanos e prestar serviços de assessoria técnica por solicitação e de 
acordo com os Estados interessados; servir de fórum para o diálogo sobre ques-
tões temáticas referentes a todos os direitos humanos; contribuir para o desen-
volvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos; promover o pleno 
cumprimento das obrigações em matéria de direitos humanos contraídas pelos 
Estados; facilitar o acompanhamento dos objetivos e compromissos sobre direi-
tos humanos emanados das conferências e cúpulas das Nações Unidas; realizar 
um exame periódico universal, baseado em informação objetiva e fidedigna, 
sobre o cumprimento por cada Estado de suas obrigações e compromissos em 
matéria de direitos humanos, de uma forma que garanta a universalidade do 
exame e a igualdade de tratamento em relação a todos os Estados, baseado num 
diálogo interativo, com a plena participação do país de que se trate e levará em 
consideração suas necessidades em relação ao fomento da capacidade; prevenir 
as violações de direitos humanos e responder com prontidão às situações de 
3 Escrutínio significa a forma como o exercício do direito ao voto se realiza. Ao se falar em escrutínio universal se dá a ideia 
de que o direito ao voto será exercido por todos, sem restrições como as advindas de raça, credo ou sexo, por exemplo.
Direitos humanos e relações étnico-raciais22
emergência em matéria de direitos humanos; cooperar estreitamente em ma-
téria de direitos humanos com os governos, as organizações regionais, as insti-
tuições nacionais de direitos humanos e a sociedade civil; e assumir as funções 
e atribuições da Comissão de Direitos Humanos em relação ao Escritório do 
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. (Assembleia 
Geral, Resolução 60/251, parágrafo 2-5, apud BORGES, 2011)
A grande novidade trazida pelo Conselho de Direitos Humanos foi a Revisão Periódica 
Universal (RPU), que é um mecanismo por meio do qual se realiza um exame da situação de direi-
tos humanos da totalidade dos Estados-membros da ONU em ciclos de quatro anos (no primeiro 
ciclo) e quatro anos e meio (a partir do segundo ciclo).
Ressalta Marisa Viegas e Silva (2013, p. 113):
Observe-se que o objetivo da RPU não é de duplicar o trabalho já exercido 
pelos órgãos para fiscalizar a aplicação dos tratados de direitos humanos e os 
procedimentos especiais, mas complementá-lo. Neste sentido, a RPU distin-
gue-se desses outros mecanismos por algumas características, como seu caráter 
essencialmente interestatal, o fato de que as recomendações emanam do Estado 
individualmente e não do Conselho como órgão; a possibilidade de aceitação 
ou rejeição da recomendação por parte do Estado examinado, com a conse-
quência de que somente as recomendações aceitas devem ser implementadas; a 
universalidade da revisão e dos direitos objetos da revisão. Ainda a este respeito, 
durante os primeiros anos de atividade há registros de intercâmbio positivo 
de informação entre a RPU e os demais mecanismos – por exemplo, algumas 
recomendações formuladas durante o RPU foram utilizadas pelos órgãos encar-
regados de verificar o cumprimento dos tratados de direitos humanos ou pelos 
procedimentos especiais e, por outro lado, muitos Estados utilizaram sua par-
ticipação na RPU para comentar suas atividades perante aqueles mecanismos, 
ou para realizar recomendações a terceiros países relativas a tais mecanismos. 
Podemos afirmar, inclusive, que em certo sentido a Revisão Periódica Universal 
tem funcionado como ferramenta de estímulo à implementação das obrigações 
dos procedimentos especiais e dos órgãos estabelecidos em virtude dos tratados.
Portanto, o Estado-membro que passa pela revisão periódica universal participa da avalia-
ção e assume compromissos voluntários relacionados às recomendações decorrentes da RPU.
A par do Conselho de Direitos Humanos, o Pacto de Direitos Civis e Políticos determinou 
a constituição do Comitê de Direitos Humanos, que é integrado por 18 membros que exercem a 
sua função a título pessoal. Esses membros são indicados pelos Estados-partes do Pacto e devem 
ser pessoas de elevada reputação moral e reconhecida competência em matéria de direitos huma-
nos. Cada Estado-parte pode indicar duas pessoas que devem ser naturais do país que as indicou, 
passando-se por eleição que se dá mediante votação secreta entre os Estados-partes em reunião 
convocada pelo Secretário-Geral da ONU, não podendo ser eleito mais de um nacional do mesmo 
Estado (RAMOS, 2015, p. 288).
O Comitê tem competência de examinar os relatórios sobre as medidas adotadas para tor-
nar efetivos os direitos reconhecidos no Pacto; emitir recomendações aos Estados-partes; rece-
ber e examinar comunicações em que um Estado-parte alegue que outro não vem cumprindo as 
Noções gerais de direitos humanos 23
obrigações previstas no Pacto; e comunicações de indivíduos que aleguem ser vítimas de violação 
de qualquer dos direitos previstos no Pacto (RAMOS, 2015, p. 289-290).
Podemos citar, ainda, entreorganismos vinculados à proteção dos direitos humanos, o 
Conselho Econômico e Social, órgão das Nações Unidas responsável por coordenar assuntos inter-
nacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, de saúde e conexos; e o seu respectivo 
Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (RAMOS, 2015, p. 291-292).
Mencionamos, ainda, o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial, o Comitê para 
a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, o Comitê contra a Tortura, o Comitê para os 
Direitos da Criança, o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o Comitê contra 
Desaparecimentos Forçados.
Finalmente, não podemos esquecer do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos 
Humanos, criado por meio da Resolução n. 48/141 da Assembleia Geral da ONU, de 20 de dezem-
bro de1993, cujo objetivo é unir todos os esforços das Nações Unidas no que tange a proteção dos 
direitos humanos. O Alto Comissário é alguém de elevada idoneidade moral e integridade pessoal, 
devendo ser expert no campo dos Direitos Humanos, sendo indicado pelo Secretário-Geral da 
ONU e aprovado pela Assembleia Geral, tendo em conta uma alternância geográfica (RAMOS, 
2015, p. 317-319).
Ao lado desses organismos vinculados à ONU, temos órgãos regionais, decorrentes de um 
sistema regional de proteção aos direitos humanos. Entre eles, podemos citar o sistema regional 
americano da Organização dos Estados Americanos (OEA), que é o mais antigo organismo regio-
nal do mundo, tendo sido fundado em 1948, com a aprovação da Carta da OEA e a Declaração 
Americana de Direitos e Deveres do Homem.
A Declaração Americana anterior, inclusive, à Declaração Universal, já reconhecia a 
universalidade dos direitos humanos e, juntamente com a Carta da OEA, trazia disposições 
sobre direitos humanos.
Dentre os saltos de desenvolvimento do sistema interamericano de proteção de direitos hu-
manos, deve ser citada a aprovação do texto da Convenção Americana de Direitos Humanos (assi-
nada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José – Costa 
Rica, em 22 de novembro de 1969), que criou órgãos como a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A Convenção Americana veio aprimorar a redação dos direitos enunciados na Declaração 
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, mas vinculando os Estados membros da OEA e tra-
zendo um extenso rol de direitos protegidos, dentre os quais direitos civis, políticos, econômicos, 
sociais e culturais (RAMOS, 2015, p. 251-262).
Finalmente, somente para esclarecer a adoção, pelo Brasil, dos principais documentos inter-
nacionais de proteção dos direitos humanos, trazemos, a seguir, uma relação desses documentos 
com a correspondente data de adoção e ratificação pelo nosso país:
Direitos humanos e relações étnico-raciais24
Quadro 1 – Os instrumentos globais de direitos humanos ratificados pelo Estado brasileiro
Instrumento
internacional
Data de adoção
Data da 
ratificação
Carta das Nações Unidas
Adotada e aberta à assinatura pela Conf. de São 
Francisco em 26/05/1945
21/09/1945
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Adotada e proclamada pela Res. 217 A (III) 
da Assembleia Geral das Nações Unidas em 
10/12/48
Assinada em 
10/12/1948
Pacto Internacional dos Direitos Civis 
e Políticos
Adotado pela Res. 2.200-A (XXI) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 16/12/1966
24/01/1992
Pacto Internacional dos Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais
Adotado pela Res. 2.200-A (XXI) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 16/12/1966
24/01/1992
Convenção contra a Tortura e outros 
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos 
ou Degradantes
Adotado pela Res. 39/46 da Assembleia Geral 
das Nações Unidas em 10/12/1984
28/09/1989
Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
formas de Discriminação contra a Mulher
Adotada pela Res. 34/180 da Assembleia Geral 
das Nações Unidas em 18/12/1979
01/02/1984
Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação Racial
Adotada pela Res. 2.106-A (XX) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 21/12/1965
27/03/1968
Convenção sobre os Direitos da Criança
Adotada pela Res. L.44 (XLIV) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 20/11/1989
24/09/1990
Fonte: PIOVESAN, 1997, p. 335-337, apud DHNET, 2018.
Com relação aos documentos regionais, podemos citar:
Quadro 2 – Os instrumentos regionais de direitos humanos ratificados pelo Estado brasileiro 
Instrumento 
internacional
Data de adoção
Data da 
ratificação
Convenção Americana de Direitos Humanos
Adotada e aberta à assinatura na Conf. Especia-
lizada Interamericana sobre Direitos Humanos, 
em São José, Costa Rica, em 22/11/1969
25/09/1992
Convenção Interamericana para Prevenir e 
Punir a Tortura
Adotada pela Assembleia Geral da OEA em 
09/12/1985
20/07/1989
Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
Adotada pela Assembleia Geral da Organização 
dos Estados Americanos em 06/06/1994
27/11/1995
Fonte: PIOVESAN, 1997, p. 337, apud DHNET, 2018.
1.3 Os direitos humanos no âmbito nacional: da Constituição Federal 
de 1988 aos sistemas de proteção aos direitos humanos
É claro que a Constituição Federal de 1988 é o marco da legislação brasileira 
quando se fala em direitos humanos, no respeito à pessoa humana e na restauração 
do ser humano como o centro do ordenamento jurídico, ainda mais quando se 
examina em que momento e condições históricas a nossa Carta Magna surgiu: logo 
após mais de 20 anos de Ditadura Militar.
Vídeo
Noções gerais de direitos humanos 25
Todavia, é necessário observarmos que as Constituições anteriores já previam, mesmo que 
formalmente, um rol de direitos a serem assegurados pelo Estado, embora não se reconhecia apli-
cabilidade imediata da norma constitucional.
Inclusive, a Constituição de 1967, em plena Ditadura Militar, trazia em seu artigo 150 um rol de 
direitos e garantias individuais, fazendo referência a outros direitos decorrentes do regime e dos princí-
pios constitucionais no artigo 150, §35. Contudo, o artigo 151 da Constituição de 1967 trazia uma ameaça 
explícita aos inimigos do regime, determinando que aquele que abusar dos direitos individuais previstos 
nos §§ 8º, 23, 27 e 28 do artigo anterior e dos direitos políticos, para atentar contra a ordem democrática 
ou praticar a corrupção, incorrerá na suspensão desses últimos direitos pelo prazo de dois a dez anos. A 
Emenda 1 de 1969 seguia o mesmo caminho da Constituição de 1967 (RAMOS, 2015, p. 366).
Com o fim da Ditadura Militar, o surgimento da “Constituição Cidadã” foi uma reação a 
mais de vinte anos do regime ditatorial, com uma forte inserção de direitos e garantias no texto 
constitucional, além da mudança do perfil do Ministério Público que deixou de ser vinculado ao 
Poder Executivo e ganhou autonomia, independência funcional e a missão de defesa de direitos 
humanos, ao lado da Defensoria Pública, que foi mencionada pela primeira vez na norma consti-
tucional também comprometida com a defesa desses direitos (RAMOS, 2015, p. 366).
A Constituição Federal de 1988 traz em seu bojo, como fundamento do Estado democrático 
de direito, o princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III), reestabelecendo o ser huma-
no como o centro do ordenamento jurídico.
Flademir Jerônimo Belinati Martins (2003, p. 47-51) ressalta que a primeira Constituição 
brasileira a tratar o princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento da República e 
do Estado democrático de direito foi a de 1988, sob influência das Constituições alemã, espanhola 
e portuguesa.
Há certa unanimidade acadêmica ao afirmar que esse princípio é um “valor-guia” de toda 
a ordem jurídica, social, política e cultural, sendo substrato axiológico (valor base) de todo o 
nosso sistema jurídico, razão pela qual assinala Martins que “os conceitos de Estado, República e 
Democracia são funcionalizados a um objetivo, a uma finalidade, qual seja, a proteção e promoção 
dadignidade da pessoa humana” (2013, p. 63).
Lembrando que o princípio da dignidade da pessoa humana é o fundamento dos direitos 
humanos, vislumbra-se a importância de sua consagração na Constituição Federal de 1988 como 
fundamento da República Federativa do Brasil. E antes mesmo de iniciar a apresentação do rol de 
direitos humanos e/ou fundamentais, a Constituição brasileira traz, em seu artigo 3º, os objetivos 
fundamentais da República Federativa do Brasil:
Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais 
e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988)
Direitos humanos e relações étnico-raciais26
O artigo 4º, inciso II, faz, pela primeira vez, expressa referência aos direitos humanos: “pre-
valência dos direitos humanos” (BRASIL, 1988).
Quanto ao rol de direitos humanos, a Constituição de 1988 é considerada um marco na 
história constitucional brasileira, pois “introduziu o mais extenso e abrangente rol de direitos das 
mais diversas espécies, incluindo os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, além 
de prever várias garantias constitucionais, algumas inéditas, como o mandato de injunção e o 
habeas data” (RAMOS, 2015, p. 369).
Entre os direitos expressamente reconhecidos no texto constitucional, há uma extensa relação 
de direitos individuais e coletivos (Capítulo I, art. 5°), de direitos sociais (Capítulo II, art. 6° a 11), de 
direitos de nacionalidade (Capítulo III, art. 12 e 13) e de direitos políticos (Capítulo IV, art. 14 a 16).
E, como se não bastasse, a Constituição brasileira estabelece expressamente que o rol nela 
existente não é exaustivo: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a 
República Federativa do Brasil seja parte” (BRASIL, 1988, art. 5º, §2º).
Não se pode, em hipótese alguma, deixar de ressaltar que as normas que estabelecem direi-
tos e garantias individuais são cláusulas pétreas (art. 60, §4º, IV da CF), ou seja, não podem ser 
objeto de emenda constitucional, nem sofrer qualquer espécie de alteração legislativa.
Buscando a implementação de todas as espécies de direitos humanos, a Conferência Mundial 
de Viena, de 1993, organizada pela Organização das Nações Unidas, promulgou a Declaração e o 
Programa de Ação, estabelecendo, inclusive, o dever dos Estados de adotar planos nacionais de 
direitos humanos (RAMOS, 2015, p. 420).
Em 13 de maio de 1996, foi editado pela Presidência da República o Decreto n. 1.904, que 
criou o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) cuja meta era realizar um diagnóstico 
da situação desses direitos no país e medidas para a sua defesa e promoção. Esse PNDH foi deno-
minado de PNDH-1 e estava voltado à garantia de proteção dos direitos civis, com especial foco no 
combate à impunidade e à violência policial (RAMOS, 2015, p. 421-422).
O PNDH-2, aprovado pelo Decreto n. 4.229/2002, dava ênfase aos direitos sociais em senti-
do amplo e de grupos vulneráveis, como os direitos dos afrodescendentes, dos povos indígenas, de 
orientação sexual, consagrando o multiculturalismo (RAMOS, 2015, p. 422).
Já o PNDH-3, aprovado em 2009, adotou eixos orientadores:
• Interação democrática entre Estado e Sociedade Civil;
• Desenvolvimento e direitos humanos;
• Universalização de Direitos em um Contexto de Desigualdades;
• Segurança Pública, acesso à Justiça e Combate à Violência;
• Educação e Cultura em Direitos Humanos;
• Direito à Memória e à Verdade. (RAMOS, 2015, p. 423)
O PNDH-3 propõe a atuação conjunta do governo federal, governos estaduais, municipais 
e da sociedade civil para a proteção dos direitos humanos. Para sua implementação foi criado o 
Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3, integrado por 21 representantes de 
Noções gerais de direitos humanos 27
órgãos do Poder Executivo e presidido pelo Secretário de Direitos Humanos, responsável por de-
signar os demais representantes (RAMOS, 2015, p. 424-425).
Com o objetivo de intensificar a proteção dos direitos humanos – e levando em considera-
ção a diversidade regional e cultural –, vários estados brasileiros adotaram programas estaduais de 
direitos humanos, sendo o primeiro deles o estado de São Paulo, pelo Decreto n. 42.209/97, que 
criou o PEDH, designando a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania para coordenar as ini-
ciativas governamentais ligadas ao PEDH.
Entre as principais instituições de defesa dos direitos humanos na esfera do executivo fede-
ral, temos:
a) Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República;
b) Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos;
c) Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Secretaria de 
Políticas para as Mulheres;
d) Conselho de Direitos Humanos;
e) Conselho Nacional dos Direitos da Criança e Adolescentes – Conanda;
f) Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência – Conade;
g) Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI;
h) Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de 
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – CNCD-LGBT;
i) Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – CEMDP;
j) Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo – Conatrae;
k) Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos – CNEDH;
l) Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR;
m) Conselho Nacional dos Direitos da Mulher – CNDM. (RAMOS, 2015, 
p. 429-459)
No âmbito do Poder Legislativo Federal temos a Comissão de Direitos Humanos e Minorias 
da Câmara dos Deputados (CDHM). É necessário, ainda, citar o Ministério Público Federal e a 
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, que também têm como função a proteção dos di-
reitos humanos (art. 127 da CF), além da Defensoria Pública da União (art. 134 da CF).
No plano estadual, temos o Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública do Estado, 
além dos Conselhos Estaduais de Direitos Humanos. Alguns estados possuem secretarias próprias 
de defesa e promoção dos direitos humanos, da mesma forma que existem municípios que criam 
secretarias municipais com tais objetivos, como em Recife (PE) e Porto Alegre (RS).
No âmbito do estado do Paraná temos a Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos 
Humanos, que tem por finalidade a definição de diretrizes para a política governamental focada no 
respeito à dignidade humana, bem como a coordenação de sua execução. Dentro da estrutura da 
Secretaria foi criado o Departamento de Direitos Humanos e Cidadania (DEDIHC), que “responde 
pela promoção, proteção, defesa e implementação dos direitos humanos, em consonância com os 
ordenamentos e documentos nacionais e internacionais que regem o tema” e tem como competên-
cias (PARANÁ, 2018):
Direitos humanos e relações étnico-raciais28
• a formulação, articulação e divulgação de políticas públicas assecuratórias 
dos direitos humanos;
• o recebimento de representações que evidenciem a violação dos direitos hu-
manos e a adoção das providências necessárias;
• a proposição, ao poder executivo estadual de medidas destinadas à preserva-
ção dos direitos humanos;
• a elaboração de planos, programas e projetos relacionados as questões de di-
reitos humanos e cidadania;
• a implementação de ações e projetos que visem o desenvolvimento integrado 
com respeito aos direitos humanos e cidadania.
O estado conta ainda com o COPED – Conselho Permanente dos Direitos Humanos do 
Estado do Paraná, “um órgão de caráter permanente, autônomo, deliberativo e paritário, que conta 
com a participação de representantes do Governo do Estado e de Organizações não Governamentais 
ligadas à defesa dos Direitos Humanos” (PARANÁ, 2018).
Além do COPED,também integra a estrutura do Departamento de Direitos Humanos e 
Cidadania – DEDIHC os seguintes conselhos (PARANÁ, 2018):
• Conselho Estadual de Proteção às Vítimas de Abuso Sexual – Copeas.
• Conselho Estadual de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais do Estado do Paraná 
– CPICT/PR.
• Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial – Consepir.
• Conselho Gestor do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de 
Morte – PPCAAM/PR.
• Conselho Deliberativo do Programa Estadual de Assistência às Vítimas e Testemunhas 
Ameaçadas – Provita/PR.
Citamos, também, o estado do Rio de Janeiro, que conta com a Secretaria de Estado de 
Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), “responsável pela gestão e coordenação da Política 
de Assistência Social, Segurança Alimentar, Transferência de Renda e Promoção da Cidadania e 
Direitos Humanos no Estado” (RIO DE JANEIRO, 2018).
Entre os estados que possuem secretarias específicas de proteção dos direitos humanos, tam-
bém podemos indicar o estado da Bahia, que possui a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e 
Desenvolvimento Social (SJDHDS), responsável por executar políticas públicas voltadas à proteção 
e promoção dos direitos humanos e ao desenvolvimento social (BAHIA, 2018).
Integram a estrutura da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social 
(SJDHDS) do estado da Bahia: Conselho Estadual de Assistência Social (Ceas); Conselho Estadual 
dos Direitos da Criança e do Adolescente (Ceca); Conselho Estadual de Defesa do Consumidor 
(CEDC/BA); Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen/BA); Conselho Estadual dos Direitos 
da População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT; Conselho Estadual 
dos Direitos dos Povos Indígenas do Estado da Bahia (Copiba); Conselho Estadual de Proteção 
dos Direitos Humanos (CEPDH); Conselho Estadual do Idoso (CEI); Conselho Estadual dos 
Direitos da Pessoa com Deficiência (Coede/BA); Conselho Gestor do Fundo Estadual de Proteção 
Noções gerais de direitos humanos 29
ao Consumidor (CGFEPC/BA); Conselho Estadual da Juventude (Cejuve); Conselho de Segurança 
Alimentar e Nutricional do Estado da Bahia (Consea/BA).
Sem adentrar ainda mais no âmbito estadual e municipal, percebemos, não só pelas dimensões 
de nosso país, mas em especial pela relevância da proteção desses direitos, que há a necessidade de 
uma ação conjunta entre os diversos entes federados para a promoção dos direitos humanos.
Atividades
1. Leia o texto a seguir:
Consciência Ambiental e os Catadores de Lixo do Lixão da Cidade do Carpina – PE
Analisando o texto de Manuel Bandeira, “Vi ontem um bicho Na imundície do pátio / Ca-
tando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava 
/ Engolia com voracidade. / O bicho não era um cão, Não era um gato / Não era um rato. / 
O bicho, meu Deus, era um homem.”, em que, de maneira poética, o autor traz à discussão 
os problemas sociais, podemos imaginar o grau de exclusão que ora assola uma parcela sig-
nificativa da sociedade brasileira.
O desemprego é um sério problema que afeta grande parcela da população, uma vez que atinge 
de forma especial àqueles que possuem baixa escolaridade, pouca ou nenhuma qualificação 
técnica, mulheres, negros, idosos e deficientes físicos. A resposta encontrada por esses atores, 
por não terem condições de competir por vagas no mercado formal, é o subemprego, a ocupa-
ção precária do espaço urbano resultando no “inchaço” da economia informal.
O que se encontra na coleta do lixo é uma alternativa de sobrevivência encontrada por al-
guns desses grupos. Como não atingem a qualificação exigida pelo mercado, veem nessa 
função uma estratégia de sobrevivência. Nesse sentido, Gonçalves (2001) afirma que o lixo é 
uma questão a ser abordada de forma complexa, pois envolvem, além de aspectos econômi-
cos, políticos e ambientais, também aspectos sociais e psicológicos. Os catadores dos lixões 
são pessoas que se encontram marginalizadas por desenvolverem uma atividade inferior no 
conceito da sociedade. Isso resulta em indivíduos com a autoestima baixa, e com conceito de 
cidadania distorcido. O lixo, matéria-prima das quais estes catadores sobrevivem é definida 
por Lima (1995, p. 9) como “todo e qualquer resíduo que resulte das atividades diárias do 
homem na sociedade.” A disposição final de lixo sem qualquer tratamento chama-se lixão. 
O lixo depositado a céu aberto em vários cenários das cidades brasileiras representa uma das 
principais fontes causadoras do desequilíbrio do ambiente. Uma das consequências marcan-
tes é a produção de chorume, líquido escuro resultante da decomposição de material orgâni-
co presente no lixo, e que ao ser absorvido pelo solo atinge diretamente os lençóis freáticos, 
contaminando-os com os mais variados micro-organismos patológicos. Outra consequência 
é o surgimento de vetores tais como: moscas, ratos, urubus e bichos peçonhentos que se 
instalam no local e se espalham pelas residências, depósitos e comunidades próximas aos 
lixões, além dos riscos constantes de incêndios e pequenas explosões provocadas pelos gases 
expelidos constantemente, dos aterros. Todavia, ainda que represente uma forma de tra-
Direitos humanos e relações étnico-raciais30
balho vista como degradante pela sociedade, os catadores fizeram do lixo uma maneira de 
obter a renda para o próprio sustento.
No entanto, estes catadores à medida que estão buscando seu sustento e ao mesmo tempo 
lutando contra a exclusão social, estão desenvolvendo uma atividade de grande importância 
ao meio ambiente e consequentemente à sociedade. Nesse sentido cabe destacar o papel 
do catador como agente disseminador de uma cultura ambientalista e analisar a sua pró-
pria consciência como importante agente ambiental. Neste contexto, e analisando a relação 
desses “trabalhadores” com o ambiente, pressupõe-se que estes catadores apresentam uma 
consciência ambiental.
(Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 19, jul./dez. 2007.)
Com base na análise do texto anterior, reflita quais gerações de direitos humanos, em espe-
cial, estão sendo violadas com a descrição retratada no texto.
2. (ENADE-2008, p. 5. Adaptado) DIREITOS HUMANOS EM QUESTÃO:
O caráter universalizante dos direitos do homem [...] não é da ordem do saber teórico, mas do 
operatório ou prático: eles são invocados para agir, desde o princípio, em qualquer situação dada.
(François JULIEN, filósofo e sociólogo)
No ano (2008) em que são comemorados os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, novas perspectivas e concepções incorporam-se à agenda pública brasileira. Uma 
das novas perspectivas em foco é a visão mais integrada dos direitos econômicos, sociais, 
civis, políticos e, mais recentemente, ambientais; ou seja, trata-se da integralidade ou indivi-
sibilidade dos direitos humanos. Dentre as novas concepções de direitos, destacam-se:
• a habitação como moradia digna e não apenas como necessidade de abrigo e proteção;
• a segurança como bem-estar e não apenas como necessidade de vigilância e punição;
• o trabalho como ação para a vida e não apenas como necessidade de emprego e renda.
Tendo em vista o exposto acima, selecione uma das concepções destacadas e esclareça por 
que ela representa um avanço para o exercício pleno da cidadania, na perspectiva da integra-
lidade dos direitos humanos. Seu texto deve ter entre 8 e 10 linhas.
3. Escolha um dos direitos humanos e disserte sobre o tema, analisando-o com base na DUDH 
e na Constituição Federal. 
2
Dos direitos das crianças e dos adolescentes
Gisele Echterhoff
Neste capítulo analisaremos especificamente os direitos humanos das crianças e dos 
adolescentes. Na atualidade, falar na proteção das crianças e adolescentes é algo extremamente 
comum, embora também seja bastante corriqueira a ocorrência de violações dos direitos dessa 
categoria de sujeitos.
Todavia, no desenvolvimento deste capítulo se verificará que a preocupação interna-
cional com aproteção das crianças e adolescente é recente, advinda dos acontecimentos da 
Segunda Guerra Mundial.
No exame da legislação nacional se perceberá que somente na década de 1990 o legislador 
deixou de se preocupar apenas com o menor abandonado e infrator para passar a proteger todas as 
crianças e adolescentes, reconhecendo-lhes direitos a serem garantidos.
2.1 A proteção dos direitos da criança e do adolescente em âmbito 
internacional
O reconhecimento da criança e do adolescente como um sujeito de direitos, 
ou seja, como pessoa, na acepção de ser titular de direitos a serem protegidos pela 
família, pelo Estado e pela sociedade (tal como concebemos na atualidade) é algo 
recente na história de nossa sociedade.
Na leitura de autores, sejam eles da área jurídica, sejam historiadores e/ou da área de ciências 
sociais, constatamos que a infância era tratada, antes do século XVI, como apenas uma fase transi-
tória para que se alcançasse a fase adulta, sendo que essa visão atual de preocupação e proteção da 
criança e do adolescente não estava presente (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013; FUZIWARA, 2013).
No decorrer da história se verifica que, no âmbito internacional, a preocupação legislativa 
com a proteção das crianças e dos adolescentes somente surgiu incipientemente com a Declaração de 
Genebra, no ano de 1924, após a Primeira Guerra Mundial. “Este documento, resultado da luta tra-
vada pela união internacional Salve as Crianças pelos direitos da infância, vislumbra que a proteção 
à infância deve abranger todos os aspectos da vida da criança (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013, p. 16).
Contudo, salientam os autores (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013) que esse documento, que 
não possuía força de lei, trazia uma concepção de infância passiva, carecedora de cuidados, na con-
dição, ainda, de objeto de proteção, estabelecendo os deveres dos adultos para com essa infância. 
Ainda, os autores advertem que “esta concepção de vulnerabilidade da infância que precisava ser 
protegida e socorrida era reflexo de uma época pós-guerra em que o grande número de crianças 
abandonadas constituía-se uma realidade” (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013, p. 16-17).
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais32
Foi após a Segunda Guerra Mundial que surgiu uma preocupação efetiva com a proteção 
das crianças e dos adolescentes. Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em 
1948, as Nações Unidas fizeram menção expressa a essa proteção, no artigo XXV, item 2: “A ma-
ternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas 
dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.” (ONU, 1948, grifos nossos).
Porém, antes mesmo dessa expressa referência pela DUDH foi criado, em 11 de dezembro 
de 1946, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o Fundo das Nações Unidas para a Infância 
(Unicef), cujos primeiros programas “forneceram assistência emergencial a milhões de crianças no 
período pós-guerra na Europa, no Oriente Médio e na China” (UNICEF BRASIL, 2018a).
Alguns países entenderam que a missão do Unicef teria sido alcançada com a reconstrução 
da Europa no pós-guerra, mas algumas nações mais pobres argumentaram que a ONU não poderia 
ignorar as condições das crianças ameaçadas pela fome e pela doença em outros países, o que fez com 
que o Unicef se tornasse órgão permanente do sistema das Nações Unidas em 1953, passando a ter 
como objetivo atender às crianças de todo o mundo em desenvolvimento (UNICEF BRASIL, 2018a).
Em 20 de novembro de 1959, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclama a Declaração 
dos Direitos da Criança, com uma visão bastante diferente da Declaração de Genebra. O discurso 
protetor é substituído por outro de reconhecimento da criança como sujeito titular de direitos, e 
não mais como objeto de proteção (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013).
Embora a Declaração de Direitos da Criança tenha demonstrado um significativo avanço 
ao assegurar um rol de direitos às crianças, essa declaração (da mesma forma que a Declaração de 
Genebra), por não ter força obrigatória nem qualquer coercibilidade, não passou de uma carta de 
intenções (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013, p. 17).
Em 20 de novembro de 1989 foi adotada pela Assembleia Geral da Organização das Nações 
Unidas a Convenção sobre os Direitos da Criança, destacando-se como o tratado internacional 
de proteção de direitos humanos com o mais elevado número de ratificações. Até o ano de 2014, 
contava com 193 Estados-partes (PIOVESAN, 2015).
Somente no ano de 1990 esse documento foi oficializado como lei internacional, passando a 
vigorar obrigatoriamente e possuindo força coercitiva (UNICEF BRASIL, 2018b). No seu primeiro 
artigo, a Convenção define quem é criança: “Para efeitos da presente convenção considera-se como 
criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, em conformidade com a 
lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes” (ONU, 1989).
Flávia Piovesan (2015) ressalta que a convenção adota um elenco extenso de direitos às 
crianças, incluindo na categoria de direitos, os civis, os políticos, os econômicos, os sociais e os 
culturais, acolhendo e dando ênfase especial ao desenvolvimento integral da criança como verda-
deiro sujeito de direitos.
Por isso se afirma que, com essa convenção, adota-se a doutrina da proteção integral à criança e 
ao adolescente, reconhecendo, com base na concepção do princípio da dignidade da pessoa humana, 
que a criança e o adolescente são como sujeitos titulares de direitos fundamentais e que precisam de 
proteção especial e com prioridade, diante de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 33
Dentro dessa concepção, o artigo 3º, item 1, da Convenção estabelece: “Todas as ações relati-
vas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, 
autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o melhor 
interesse da criança.” (ONU, 1989, grifos nossos).
A partir daí começaram a se estabelecer as bases do princípio The Best Interest (o melhor 
interesse, em inglês) como padrão quando se trata de questões relacionadas à proteção da criança 
e do adolescente. Esse princípio estabelece que, no caso concreto, devem sempre ser considerados 
os interesses da criança em detrimento dos interesses dos pais, interpretando-se a circunstância 
concreta com base na visão do princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento dos 
direitos humanos (AZAMBUJA, 2016).
A Convenção de 1989 estabeleceu um rol de direitos, entre eles: direito à vida (art. 6º); direito 
ao nome, à nacionalidade, a conhecer os pais e a ser cuidado por eles (art. 7º); direito à identidade 
(art. 8º), proteção ante a separação dos pais (art. 9º), à liberdade de expressão (art. 13), pensamento, 
consciência e crença (art. 14); proteção contra exploração e abuso sexual (art. 19); acesso a serviços 
de saúde e previdência social (art. 24, 25 e 26); direito à educação (art. 28); direito ao descanso e 
ao lazer (art. 31); proteção contra a exploração econômica, com a fixação de idade mínima para 
admissão em emprego (art. 32), entre outros.
A par da Convenção sobre os Direitos da Criança, visando fortalecer o rol de medidas prote-
tivas “no tocante à exploração econômica e sexual de crianças e no tocante à participação de crian-
ças em conflitos armados, foram adotados, em 25 de maio de 2000, dois Protocolos Facultativos 
à Convenção” (PIOVESAN; PIROTTA, 2015, p. 462), por meio da Resolução A/RES/54/263 da 
Assembleia Geral das Nações Unidas:
• Protocolo Facultativo sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis;
• Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados.
Com o objetivo de controlar e fiscalizar os direitos enunciados na Convenção e visando 
cumprir o disposto no seu artigo 43, foi instituído o Comitê sobre os Direitos da Criança, ao qual 
“cabe monitorar a implementação da Convenção,por meio do exame de relatórios periódicos en-
caminhados pelos Estados-partes” (PIOVESAN; PIROTTA, 2015, p. 462).
O Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos da Criança em 24 de setembro de 1990 e 
promulgou-a no âmbito interno por meio do Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de 1990, bem 
como ratificou os Protocolos Facultativos em 27 de janeiro de 2004.
Em 19 de dezembro de 2011 foi adotado o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os 
Direitos da Criança relativo ao procedimento de comunicações1, com o objetivo de instituir os 
child-sensitive procedures (procedimentos sensíveis à criança, em tradução livre). Esse protocolo 
habilita o Comitê de Direitos da Criança a:
apreciar petições individuais (inclusive no caso de violação a direitos econômi-
cos, sociais e culturais); a adotar “interim measures” quando houver urgência, e 
1 Para acesso ao texto do protocolo: <www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1187>. 
Acesso em: 7 jun. 2018.
Direitos humanos e relações étnico-raciais34
situações excepcionais e para evitar danos irreparáveis à(s) vítima(s) de viola-
ção; a apreciar comunicações interestatais; e a realizar investigações in loco, nas 
hipóteses de graves ou sistemáticas violações aos direitos humanos das crianças. 
(PIOVESAN, 2015, p. 297)
Esse protocolo entrou em vigor em 14 de abril de 2014, contando com 11 Estados-partes em 
2 de julho de 2014 (PIOVESAN, 2015, p. 297).
A importância desse Protocolo de Comunicação foi atestada pela Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA, 2014):
A implementação do Protocolo Facultativo amplia as possibilidades de proteção 
internacional dos direitos da infância, já que permite às crianças ou a seus re-
presentantes apresentar queixas ao Comitê dos Direitos da Criança das Nações 
Unidas, ante eventuais violações de seus direitos, quando não tenham obtido 
justiça e reparação em âmbito nacional. O Comitê dos Direitos da Criança será 
o órgão que analisará as comunicações que as crianças apresentem para de-
terminar se foram violados seus direitos reconhecidos na Convenção sobre os 
Direitos da Criança e seus dois protocolos adicionais sobre a participação de 
crianças em conflitos armados, e sobre a venda de crianças, prostituição infantil 
e utilização de crianças na pornografia. O Comitê também pode solicitar medi-
das provisórias aos Estados para proteger as crianças.
O Protocolo prevê também a possibilidade de que o Comitê dos Direitos da 
Criança, por iniciativa própria e sem necessidade da mediação de uma queixa, 
inicie um procedimento de investigação sobre supostas violações graves ou sis-
temáticas dos direitos enunciados na Convenção e em seus protocolos por um 
Estado-parte.
Esse instrumento internacional leva em especial consideração a importância da 
adaptação dos procedimentos para o acesso à proteção internacional das crian-
ças, de modo que se garanta sua efetiva participação na defesa de seus direitos.
O Brasil assinou esse protocolo em 28 de fevereiro de 2012 pela Ministra da Secretaria de 
Direitos Humanos da Presidência da República, na sede das Nações Unidas, em Genebra, onde se 
realizava a 19ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU (SDH, 2012).
Após analisar algumas questões relacionadas à normativa internacional, é interessante indi-
carmos algumas atuações do Unicef para demonstrar a importância de sua missão.
O Unicef atua em 191 países com o objetivo de ajudar a assegurar o respeito e proteção dos 
direitos da criança e do adolescente, trabalhando para (UNICEF BRASIL, 2018a):
• Garantir que cada criança tenha um início de vida com saúde, proteção e educação, pois 
é nessa fase que se desenvolvem as habilidades essenciais para o futuro.
• Promover a educação de garotas e assegurar a conclusão, pelo menos, da educação primária.
• Assegurar que todas as crianças sejam vacinadas e estejam bem-nutridas.
• Prevenir o avanço do HIV/aids entre crianças e adolescentes, oferecendo as ferramentas 
necessárias para que se protejam e protejam os outros, além de tratamento e cuidados 
adequados para aqueles afetados pelo vírus.
• Envolver toda a sociedade na construção de ambientes seguros para as crianças e os 
adolescentes.
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 35
• Estar presente nas ações emergenciais sempre que a infância estiver ameaçada.
• Garantir o cumprimento da Convenção sobre os Direitos da Criança.
• Combater qualquer tipo de discriminação, especialmente as sofridas por meninas 
e mulheres.
• Ajudar os países para que alcancem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
• Assegurar a paz e a segurança.
• Estimular a participação dos adolescentes nos processos de decisão em sua comunidade, 
em sua cidade, em seu estado e em seu país.
Especificamente na América Latina e no Caribe, a Unicef concentra os seus esforços na 
resposta a seis ameaças significativas à infância: disparidades, exclusão, desnutrição crônica, vio-
lência, HIV/aids e situações emergenciais decorrentes de desastres naturais (UNICEF BRASIL, 
2018c). A atuação no Brasil acontece desde 1950 e é de extrema relevância, sendo que já ajudou o 
nosso país em vários aspectos (UNICEF, 2017, p. 5):
Educação: acesso e permanência na escola - De 2012 a 2015, a taxa de abando-
no no ensino fundamental caiu 34% entre os municípios certificados pelo Selo 
UNICEF no Semiárido e 18,9% entre os da Amazônia. Além de desenvolver 
ações para garantir a permanência dos alunos nas salas de aula e a aprendiza-
gem, os municípios investiram na busca ativa de crianças e adolescentes que 
estavam fora da escola, realizando ações para garantir a inserção deles na rede 
pública de ensino.
Proteção: enfrentamento do trabalho infantil e da violência sexual - Entre 
todos os municípios participantes do Selo UNICEF, a superação da violên-
cia crescente que afeta crianças e adolescentes foi um ponto importante. No 
Semiárido, mesmo num contexto em que situações de trabalho infantil são 
percebidas como algo aceitável e casos de violência sexual são frequentemente 
tolerados, os 346 municípios que realizaram ações de prevenção ao trabalho 
de crianças e adolescentes e os 158 que implementaram algum programa para 
prevenção e acolhimento de meninos e meninas vítimas de violência domés-
tica e sexual merecem destaque. Na Amazônia, 147 municípios realizaram 
campanhas de combate ao trabalho infantil e 134 realizaram projetos voltados 
ao atendimento de medidas socioeducativas em meio aberto, incluindo capa-
citação de equipes e serviços de referência.
Saúde: redução da mortalidade infantil - De 2011 a 2014, a taxa de mortalidade 
infantil caiu 5,2% no Brasil. Nos municípios certificados pelo Selo UNICEF, a 
queda foi de 8,1% no Semiárido e 9,8% na Amazônia. A queda se deve a um 
conjunto de medidas adotadas por esses municípios, como o aumento do acesso 
ao pré-natal. No total, 334 crianças a menos morreram antes de completar 1 ano 
de idade nesse período.
PARTICIPAÇÃO SOCIAL: ENGAJAMENTO DE CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES
Ao todo, 525 municípios participantes do Selo UNICEF no Semiárido cria-
ram Núcleos de Cidadania dos Adolescentes (Nucas), envolvendo 11,5 mil me-
ninos e meninas, que se tornaram mobilizadores de outros adolescentes. Na 
Amazônia, foi criada a rede Juventude Unida pela Vida na Amazônia (Juva), 
que realizou quatro encontros regionais, mobilizando mais de 10 mil crianças 
e adolescentes.
Direitos humanos e relações étnico-raciais36
2.2 ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069/90, é a consagra-
ção do disposto no artigo 227 da Constituição Federal de 1988:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda formade negligência, discriminação, exploração, violência, cruel-
dade e opressão. (BRASIL, 1988, grifos nossos)
Foi a Constituição Federal de 1988 que consolidou os ideais da Convenção sobre os Direitos 
da Criança, sendo que a proteção estabelecida nos artigos do Capítulo VII da nossa Constituição 
foi regulamentada pela Lei n. 8.069/90.
O ECA foi sancionado em 13 de julho de 1990 e dispõe sobre a proteção integral à criança 
e ao adolescente, ou seja, foi consagrado no âmbito do Direito Brasileiro o princípio da proteção 
do melhor interesse da criança, estabelecendo expressamente no seu artigo 3º que a criança e o 
adolescente gozem de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo 
da proteção integral, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e as 
facilidades, a fim de facultar-lhes o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em 
condições de liberdade e de dignidade.
O ECA afasta (revoga) a ideia do Código de Menores (Lei n. 6.697/79) e do Código Civil de 
1916, que somente protegiam a criança e o adolescente em situação irregular, ou seja, aqueles que 
eram privados das condições essenciais para o seu desenvolvimento.
A partir da promulgação da CF/1988 e da sua regulamentação pela legislação estatutária, a 
criança deixa de ser objeto a ser protegido e passa a ser sujeito de direitos, detentora de dignidade 
a ser assegurada pelos pais, pela família, pelo Estado e por toda a sociedade. Reconhecendo essa 
mudança de perspectiva, Ana Carolina Figueiro Longo explica (2015, p. 416):
É relevante destacar que apenas a partir da promulgação da constituição vigente 
que se assegurou, na condição de direito subjetivo, a proteção da infância e ju-
ventude. Foi criado, pois, um microssistema de atenção especial, que assegura 
a proteção integral.
Esta é uma mudança de perspectiva importante, que viabiliza a mobilização das 
ações estatais para as condições especiais desta população de pessoas em desen-
volvimento. Veja-se que, antes, crianças e adolescentes que não estavam integra-
dos na proteção de um núcleo familiar eram vistos como um problema social 
e a política estatal estabelecida se voltava apenas para a proteção da sociedade.
Positivado um extenso rol de direitos fundamentais destinados a essa parcela da 
população a partir de 1988, elas passaram a ser reconhecidas como sujeitos de 
direitos e, portanto, objetos de políticas públicas especificamente voltadas para 
a proteção de seus interesses. Esta compreensão é uma conquista recente, visto 
que os primeiros atos normativos brasileiros que cuidavam da infância e juven-
tude ocupavam-se ora com uma concepção assistencialista aos “desamparados”, 
ora com o aspecto criminal de seu comportamento.
A autora continua esclarecendo como passou a ser a atuação do Estado a partir dessa nova visão:
Vídeo
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 37
Vale destacar a grande mudança que a nova Constituição causou para a pro-
teção da criança e do adolescente, visto que deixam de ser objeto da atenção 
do Estado apenas quando destituídos de suas famílias ou em situação de de-
linquência. A partir do reconhecimento constante do art. 227 da Constituição, 
passam as ser objetos de políticas públicas específicas, observando a responsa-
bilidade do Estado de zelar pela integridade de toda criança e adolescente, com 
máxima prioridade.
Assim, se abre espaço para uma série de readequações do Direito à sociedade 
brasileira em transformação, viabilizando a modificação desde o reconheci-
mento da criança e do adolescente, como sujeitos de direitos, como dito, até o 
reconhecimento que o próprio conceito de família se modifica sensivelmente.
Antes em uma situação de desamparo, e objeto de uma política assistencialista 
e de necessidade de controle social, a criança e o adolescente que estão fora de 
seu contexto familiar, agora, merecem proteção no texto constitucional como 
sujeitos de direitos.
Ao Poder Público se imbuiu o dever de zelar para que toda a criança e o ado-
lescente possa se desenvolver no âmbito familiar, ainda que se trate de famí-
lia substituta na ausência ou impossibilidade da família biológica acolhê-los. 
(LONGO, 2015, p. 429)
Portanto, a partir da vigência do ECA, essa legislação passa a regular a situação jurídica de 
todas as crianças e adolescentes até 18 anos de idade, independentemente da sua condição, não 
havendo mais a distinção ocorrida pelo Código de Menores, o qual somente era aplicável aos me-
nores em condições irregulares.
Assim, as crianças e os adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais garantidos à 
pessoa humana, tanto aqueles reconhecidos de forma expressa pela legislação nacional, quanto os 
previstos em tratados internacionais (PIOVESAN, PIROTTA, 2015).
Passemos a um exame superficial de alguns dos dispositivos do ECA. Primeiramente, 
ele define quem é criança e quem é adolescente, estabelecendo que se considera criança a 
pessoa de até doze anos de idade incompletos e adolescente aquela compreendida entre doze e 
dezoito anos. Porém, destaca a legislação estatutária que pode ser aplicada, excepcionalmente, 
às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade, nos casos expressos em lei, conforme o 
artigo 2º e parágrafo único.
O Estatuto da Criança e do Adolescente se estrutura em Parte Geral e Parte Especial. 
A primeira aponta os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes no Título II (art. 7º ao 
art. 69), dentre eles, o direito à vida e à saúde, à liberdade, ao respeito e à dignidade, à convivência 
familiar e comunitária, à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e à proteção 
no trabalho.
No artigo 7º expressamente, além de garantir o direito à vida e à saúde, estabelece que cabe 
ao Estado a efetivação de políticas públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio 
e harmonioso, em condições dignas de existência. Ou seja, determina ações positivas do Estado 
para assegurar aqueles direitos.
A legislação estatutária também assegura atendimento integral à saúde pelo Sistema Único 
de Saúde – SUS, não somente à criança e ao adolescente (art. 11 do ECA), mas também às gestantes 
Direitos humanos e relações étnico-raciais38
(arts. 8º e 9º do ECA), demonstrando a preocupação da legislação com a criança desde antes do 
seu nascimento.
Outra garantia (que dificilmente é de conhecimento da população) é a previsão do artigo 
12, que aponta que “os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições 
para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de 
criança ou adolescente”.
Para casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos, o artigo 13 do ECA estabelece a obri-
gatoriedade de comunicação ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, inclusive cominando 
penalidade administrativa (conforme sustenta o Título VII, Capítulo II, do ECA) para quem deixar 
de comunicar à autoridade competente estas circunstâncias:
Art. 245 – Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de 
atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar 
à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo sus-
peita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Pena – multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso 
de reincidência. (BRASIL, 1990)
No artigo 15 o ECA expressamente reconhece a condição de sujeito de direitos da criança e 
do adolescente, atribuindo-lhes direito à liberdade, ao respeito e à dignidade:
Art. 15 – A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à digni-
dade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujei-
tos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. 
(BRASIL, 1990)
O artigo 16 especifica os aspectos do direito à liberdade, incluindo a liberdade de ir e vir, de 
opinião e expressão, de crença e culto religioso, de brincar, praticar esportes e divertir-se,de parti-
cipar da vida familiar e comunitária sem discriminação, de participar da vida política e de buscar 
refúgio, auxílio e orientação.
O artigo 17 trata sobre o direito ao respeito, esclarecendo que consiste “na inviolabilidade 
da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da 
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais” 
(BRASIL, 1990). O ECA ainda cumpre alguns aspectos que vieram à tona pela Lei n. 13.010/2014, 
conhecida vulgarmente por Lei da Palmada e nascida como Lei Menino Bernardo, que incluiu os 
artigos 18-A e 18-B na legislação estatutária:
Art. 18-A. – A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados 
sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas 
de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pe-
los integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos 
executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de 
cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
I – castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da 
força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 39
b) lesão;
II – tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em 
relação à criança ou ao adolescente que:
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.
Art. 18-B – Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os 
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa 
encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou pro-
tegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como 
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão su-
jeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão 
aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
I – encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
III – encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
IV – obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;
V – advertência.
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo 
Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais. (BRASIL, 1990, 
incluído em 2014)
Em regra, a interpretação conferida aos referidos dispositivos é que, a partir de sua vigência, 
é vedado qualquer tipo de castigo físico (uso da força física que resulte em sofrimento ou lesão 
física), ou tratamento cruel e/ou degradante (conduta que humilhe, ameace gravemente ou ridi-
cularize), embora também se critique o fato de não haver qualquer medida penal a ser imposta ao 
agressor além de medidas socioeducativas (encaminhamento a programa oficial ou comunitário 
de proteção à família; encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; encaminhamen-
to a cursos ou programas de orientação; obrigação de encaminhar a criança a tratamento especia-
lizado; advertência).
Além dessas medidas incluídas pela referida lei, já poderiam ser impostas a perda da guarda, 
a destituição da tutela e a suspensão ou destituição do poder familiar (art. 129 do ECA). Contudo, 
não se pode esquecer que as medidas na esfera penal não dependem de qualquer alteração legisla-
tiva, sendo que o Código Penal de 1940 já previa o crime de maus tratos no seu art. 136:
Art. 136 – Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guar-
da ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer 
privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a 
trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou 
disciplina:
Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§1.º – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de um a quatro anos.
§2.º – Se resulta a morte:
Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
Direitos humanos e relações étnico-raciais40
§3.º – Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa 
menor de 14 (catorze) anos. (BRASIL, 1940)
Sem analisar o mérito da questão, cumpre ressaltar que alguns autores afirmam que a altera-
ção legislativa não impede o castigo disciplinar, aquele que tem como objetivo disciplinar a criança 
e o adolescente sem lhe infligir um mal grave, pois a mudança da lei (ao afirmar que castigo físico 
é a ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o 
adolescente que resulte em sofrimento físico) acaba por abrir ao subjetivismo do intérprete a análi-
se do caso concreto se o castigo imposto extrapolou os limites do aceitável e do objetivo disciplinar.
Na sequência da análise do ECA cumpre ressaltar que, em consonância com o artigo 227, §6º da 
CF/1988, o artigo 20 da legislação estatutária reconhece a igualdade entre todos os filhos, havidos ou 
não da relação de casamento ou por adoção, proibindo qualquer designação discriminatória.
Ainda no Capítulo III do Título II (arts. 19 a 52-D), o ECA vai tratar da adoção como me-
dida excepcional, quando não há mais possibilidade de convivência da criança ou do adolescente 
com a família natural ou extensa2. Dispõe também sobre a guarda3 , a tutela4 e sobre o exercício, 
suspensão e perda do poder familiar.
No Capítulo IV (do Título II), do artigo 53 ao 59, o Estatuto regula os direitos à educação, 
à cultura, ao esporte e ao lazer, regulamentando os artigos 205 a 217 da CF/1988. Na sequência, 
nos artigos 60 a 69, o ECA regulamenta os direitos à profissionalização e à proteção no trabalho.
O objetivo proposto para este capítulo era traçar um perfil dos direitos e garantias assegu-
radas pelo ECA. Evidentemente, essa legislação não trata apenas de prever direitos, mas também 
de estabelecer formas de prevenção e medidas de proteção e fiscalização desses direitos (exemplos: 
arts. 70 a 73 e arts. 95 a 97). Regula, por exemplo, a proibição de venda à criança e ao adolescente 
de alguns produtos prejudiciais a sua formação e sua educação, tais como armas, munições e ex-
plosivos, bebidas alcoólicas ou produtos cujos componentes possam causar dependência física ou 
psíquica ainda que por utilização indevida (art. 81 do ECA).
Por outro lado, o Estatuto também trata dos atos infracionais (condutas definidas como 
crime ou contravenção penal) praticadas por crianças ou adolescentes (art. 103 do ECA) e regula 
as correspondentes medidas socioeducativas a serem aplicadas aos respectivos infratores (art. 112 
do ECA)5.
2 Família extensa ou ampliada vem conceituada no parágrafo único do artigo 25 do ECA: “aquela que se estende para 
além da unidade pais e filho ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adoles-
cente convive e mantém vínculo de afinidade ou afetividade” (BRASIL, ECA/1990).
3 Guarda é “locução indicativa, seja do direito ou do dever, que compete aos pais ou a um dos cônjuges, de ter em sua 
companhia ou de protegê-los, nas diversas circunstâncias indicadas na lei civil. E ‘guarda’ neste sentido, tanto significa 
custódia como a proteção que é devida aos filhos pelos pais” (PLÁCIDO; SILVA, 2000, p. 365-366).
4 Tutela é o encargo legal ou judicial atribuído a alguém, que deverá administrar os bens ou a conduta do tutelado. De 
acordo com o artigo 1.728, do Código Civil será instituída a tutela a favor dos filhos menores nas seguintes hipóteses: 
“I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes; II - em caso de os pais decaírem do poder familiar”.
5 Para uma breve introdução sobre os atos infracionais e as medidas socioeducativas, recomendamos o seguinte 
artigo: AQUINO, Leonardo Gomes de. Criança e adolescente: o ato infracional e as medidas sócio-educativas. Âmbito 
Jurídico, Rio Grande, v. XV, n. 99, abr.2012. Disponível em: <www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_ 
leitura&artigo_id=11414>. Acesso em: 8 jun. 2018.
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 41
Apesar de várias críticas – em especial, da parcela da população mais leiga –, essa legis-
lação é reconhecida internacionalmente e foi elaborada por juristas de renome nacional e in-
ternacional. Ao completar 25 anos de sua promulgação, em 13 de julho de 2015, a Unicef apre-
sentou um relatório sobre os 25 anos da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, 
visando identificar os resultados obtidos no período e apontar a necessidade de criação de 
políticas diferenciadas, capazes de promover a inclusão de meninos e meninas que ainda têm 
seus direitos violados (UNICEF, 2015).
O relatório indica que o Brasil é uma das nações que têm se destacado por reduzir a mor-
talidade infantil, superando a meta de redução da mortalidade infantil prevista nos Objetivos de 
Desenvolvimento do Milênio (ODM) antes mesmo do prazo estabelecido. De 1990 a 2012, a taxa 
de óbito entre crianças menores de 1 ano foi reduzida em 68,4%, atingindo a marca de 14,9 mortes 
para cada 1.000 nascidos vivos (UNICEF, 2015, p. 14).
Aponta, também, que todos os indicadores sobre educação avançaram: de 1990 a 2013, o 
percentual de crianças com idade escolar obrigatória fora da escola caiu 64%, passando de 19,6% 
para 7% (Pnad). Outro indicador a ser celebrado é a queda na taxa média de analfabetismo entre 
brasileiros de 10 a 18 anos de idade. Essa taxa caiu 88,8%, passando de 12,5%, em 1990, para 1,4%, 
em 2013. A queda foi ainda mais significativa entre os adolescentes negros, com redução de 17,8% 
para 1,5%, e pardos, caindo de 19,4% para 1,7% no mesmo período. A queda foi de aproximada-
mente 91% em ambos os casos (PNAD apud UNICEF, 2015, p. 16).
O relatório acrescenta ainda que o Brasil é um “exemplo para outros países na estruturação 
e implementação de uma vigorosa rede de proteção social, com políticas de referência como o 
Sistema Único de Assistência Social (SUS) e o Bolsa Família” (UNICEF, 2015, p. 5).
A partir do ECA o direito ao registro civil de nascimento é garantido a 95% das crianças 
brasileiras, sendo que “de 1990 a 2013, o percentual de crianças registradas no mesmo ano de nas-
cimento subiu de 66% para 95% (Pnad)” (UNICEF, 2015, p. 20).
Todavia, embora tenham sido muitos os avanços, sendo somente alguns os citados acima, o 
Brasil tem muito a melhorar e o relatório indica como um retrocesso a possibilidade de redução da 
maioridade penal e como alarmante o fato de terem dobrado o número de homicídios de crianças 
e adolescentes (UNICEF, 2015, p. 28-34), entre tantos outros. O ECA, embora existente e vigente, 
ainda continua a ser desrespeitado.
2.3 Combate ao trabalho infantil e à pedofilia
2.3.1 Combate ao trabalho infantil
Neste item, iremos passar ao exame de dois temas de extrema relevância à 
proteção das crianças e dos adolescentes: a questão do trabalho infantil e do com-
bate à pedofilia, sendo que ambos são uma realidade nacional.
No que tange ao trabalho infantil, houve uma evolução positiva em nosso país, sendo que 
a redução desse tipo de trabalho foi uma das grandes conquistas dos 25 anos do ECA, segundo o 
relatório da Unicef feito na ocasião.
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais42
Figura 1 – Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade
30%
22,5%
15%
7,5%
0%
1992 2001 2011
5 a 9 anos 10 a 15 anos
2013
Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade
A incidência do trabalho infantil entre a população de 5 a 15 anos reduziu-se considera-
velmente nos últimos 20 anos. Entre os mais novos, de 5 a 9 anos, o trabalho infantil está 
próximo de zero. Região Nordeste foi a que mais avançou.
Fonte: UNICEF, 2015, p. 24.
Figura 2 – Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por região
18%
13,5%
9%
4,5%
0%
1992 2001 2011
SulNordeste Centro-OesteSudesteNorte
2013
Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por região
Redução aconteceu em todas as regiões. Na Região Nordeste, a queda foi de 75%.
Fonte: UNICEF, 2015, p. 24.
O relatório da Unicef aponta a situação econômica das famílias como uma das principais cau-
sas do problema do trabalho infantil, o que levou à criação, em 1996, do Programa de Erradicação 
do Trabalho Infantil (Peti), objetivando a complementação de renda e apoio aos pais de crianças e 
adolescentes que trabalhavam (UNICEF, 2015).
O trabalho infantil atinge diretamente a relação da criança e do adolescente com a escola, 
tirando-os da escola ou afetando o rendimento escolar. O referido relatório indica que “em 2013, 
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 43
3 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos estavam fora da escola no Brasil (PNAD, 
2013). Segundo o Censo Escolar de 2014, outros 8 milhões de meninos e meninas dos ensinos 
fundamental e médio encontravam-se em atraso escolar, correndo o risco de evadir” (UNICEF, 
2015, p. 23).
Outro ponto de relevância apontado pelo relatório é o trabalho doméstico, que acaba sendo 
aceito culturalmente. Esse documento indica que, entre 2008 e 2011, o número de casos de crianças 
e adolescentes ocupados no trabalho infantil doméstico diminuiu de 325 mil para 258 mil – uma 
redução de apenas 0,2 ponto percentual. Acrescenta-se a isso as crianças e adolescentes que aju-
dam seus pais e familiares no comércio informal, porém ambas as situações acabam sendo resul-
tado, muitas vezes, da falta de opções diante da ausência de creches e escolas em período integral 
(UNICEF, 2015, p. 23).
O artigo 7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal, dispõe sobre a questão do trabalho 
infantil nos seguintes termos:
Art. 7.º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que 
visem à melhoria de sua condição social:
XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição 
de aprendiz, a partir de quatorze anos. (BRASIL, 1988)
O ECA regulamenta a matéria entre seus artigos 60 a 69. Numa interpretação sistemática da 
CF/1988 e do ECA, pode ser entendido como o limite de idade os 16 anos, sendo que entre 14 e 16 
anos somente seria possível o trabalho na condição de aprendiz.
O artigo 67 proíbe, ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, 
aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não governamental, o trabalho:
• Noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia se-
guinte, visando garantir o bom desenvolvimento físico dos adolescentes diante da neces-
sidade de garantia de uma boa noite de sono.
• Perigoso, insalubre ou penoso. Perigoso é o trabalho que ameaça a integridade física da 
pessoa, podendo gerar risco de morte, como aqueles que colocam a pessoa em contato 
com produtos químicos, inflamáveis, equipamentos cortantes e explosivos. Insalubre é o 
trabalho que traz risco à saúde, como aquelas que, por sua natureza, condições ou méto-
dos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde. Trabalho penoso 
é o que gera desgaste físico ou psíquico. Todos são proibidos visando evitar prejuízo ao 
desenvolvimento físico do adolescente.
• Realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, 
psíquico, moral e social, como, por exemplo, os vinculados a jogos, sexo, violência 
ou drogas.
• Realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola, o que demons-
tra que a preocupação da legislação é maior com a educação do que com o trabalho.
A legislação estatutária estabelece, também, entre os artigos 62 e 65, a aprendizagem pro-
fissional vinculada à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – n. 9.394/96) e a garantia de 
Direitos humanos e relações étnico-raciais44
bolsa-aprendizagemao adolescente de até 14 anos, além dos direitos trabalhistas e previdenciários 
ao adolescente aprendiz, maior de 14 anos.
O ECA introduz também a modalidade de trabalho educativo no artigo 68, estabelecendo 
o que se entende como “trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas 
relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo” 
(BRASIL, ECA/1990).
Ensina Oris de Oliveira sobre o trabalho educativo:
Não uma atividade laborativa qualquer, mas a que se insere em projeto peda-
gógico que vise ao desenvolvimento pessoal e social do educando. Portanto 
o ritmo, desenrolar das atividades deverá ser ditado, sob pena de inversão de 
meios e fins, por um programa preestabelecido. Não uma produção qualquer, 
mas aquela cujo produto possa ser vendido dentro das exigências de qualidade 
e competitividade. Uma produção, pois, que implique custo e benefícios, capaz 
de remunerar quem a executa. (OLIVEIRA, 2009, p. 222)
A ideia é aliar um trabalho remunerado (§2º do art. 68 do ECA) ao desenvolvimento pessoal 
e social do adolescente, devendo sempre prevalecer o lado pedagógico6.
Não raro vemos situações de trabalho dito educativo que nada mais são do que a exploração 
de mão de obra barata, infelizmente, sem dar efetividade ao objetivo da norma inserida na legisla-
ção estatutária, o que demonstra a necessidade de uma fiscalização efetiva nessa área.
Todavia, Oliveira (2009) cita como exemplo de trabalho educativo aquele que dá cumpri-
mento à norma do ECA, o Projeto Escola de Fábrica7, aprovado pela Lei 11.180, de 2005, e exe-
cutado pelo Ministério da Educação, com a finalidade de ampliar as possibilidades de formação 
profissional básica, favorecendo o ingresso de estudantes de baixa renda no mercado de trabalho. 
Entre os projetos citados pelo autor, temos o Projeto Pescar, o Integrar e o Formare.
Outro exemplo seria o ProJovem, destinado a jovens de 15 a 29 anos de idade e que visa 
promover sua reintegração ao processo educacional, sua qualificação profissional e seu desenvol-
vimento humano (Lei n. 11.692/2008), com a criação de políticas públicas para garantir direitos 
sociais, em especial voltadas à manutenção do adolescente no sistema educacional.
No entanto, embora a ideia principal do trabalho como aprendiz ou do trabalho educativo 
seja dar ênfase ao conteúdo pedagógico, sabe-se os evidentes prejuízos que uma má condução 
desse ideal pode trazer à vida de uma criança ou adolescente, afetando seu desenvolvimento físico, 
social, psicológico e moral. A inserção precoce de adolescente e até de crianças no mercado de tra-
balho afasta-os da escola, atinge diretamente a sua formação pedagógica e seu futuro profissional.
6 Para mais informações sobre o trabalho educativo, além da bibliografia apresentada, indicamos também o se-
guinte texto: DINALI, Danielle de Jesus. Trabalho educativo de criança e adolescente: exploração de mão de obra 
de baixo custo? Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3808, 4 dez. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/ 
artigos/26057>. Acesso em: 20 jun. 2018.
7 Sobre o Projeto Escola de Fábrica, indica-se o seguinte artigo: RUMMERT, Sonia Maria. Projeto escola de fá-
brica – atendendo a “pobres e desvalidos da sorte” do século XXI. Perspectiva, Florianópolis, v. 23, n. 2, p. 303-322, 
jul./dez. 2005. Disponível em: <http://www.uff.br/ejatrabalhadores/artigos/projeto-escola-fabrica.pdf>. Acesso em: 
20 jun. 2018.
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 45
Por isso, existe uma preocupação nacional e internacional com a prevenção e erradicação do 
trabalho infantil, criando-se programas com esse objetivo, como, por exemplo, o IPEC – Programa 
Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil, implementado mundialmente pela OIT, em 
1992, inclusive no Brasil. O Programa envolve a atuação conjunta dos governos federal, estaduais 
e municipais, além das demais entidades do poder público, organizações de trabalhadores e em-
pregadores, entidades da sociedade civil organizada, movimentos sociais e organizações interna-
cionais, o que contribuiu para a retirada de mais de 800 mil crianças do trabalho desde então, 
tornando o Brasil referência na redução do trabalho infantil (OIT, 2016).
O programa está presente em todo o Brasil:
Figura 3 – Atuação do IPEC
Exploração sexual
Canaviais
Agrícola
Calçados
Sisal
Mineração
Tráfico de pessoas
Fumageiro
Trabalho doméstico
Narcotráfico
Tecelagem
Construção Civil
Hortifrúti
Erva-mate
Carvão
Olarias
Garimpo
Legenda:
Fonte: OIT, 2016.
A OIT assim descreve o desenvolvimento e a atuação do IPEC no Brasil:
Com mais de 100 programas de ação financiados pela OIT, mostrou-se que é 
possível não somente implementar políticas integradas de retirada e proteção 
da criança e do adolescente do trabalho precoce, como também desenhar ações 
preventivas junto à família, à escola, comunidade e a própria criança.
O sucesso do IPEC no Brasil em introduzir a questão da erradicação do traba-
lho infantil na agenda das políticas nacionais se traduz nos maiores índices de 
redução do número absoluto de crianças exploradas no trabalho formal que se 
tem notícia. Entretanto, a OIT/IPEC continuará cooperando com a socieda-
de brasileira para progressivamente retirar 5 milhões de crianças e adolescen-
tes restantes [...]. Essas encontram-se no trabalho informal, perigoso ilícito e 
Direitos humanos e relações étnico-raciais46
oculto, cujos desafios não são menores do que eram quando o IPEC se estabele-
ceu no Brasil há mais de 10 anos. (OIT [2004?])
Assim como o IPEC, podemos citar o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do 
Trabalho Infantil (FNPETI), criado em 1994 com o apoio da OIT e da Unicef, que é uma instância 
autônoma de controle social, tornando-se “uma estratégia da sociedade brasileira de articulação e 
aglutinação de atores sociais institucionais, envolvidos com políticas e programas de prevenção e 
erradicação do trabalho infantil no Brasil” (FNPETI, 2018).
Menciona-se ainda o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), do governo fede-
ral, que tem como objetivo retirar crianças e adolescentes menores de 16 anos do trabalho precoce 
(exceto na condição de aprendiz, a partir de 14 anos), assegurando transferência direta de renda às 
famílias e oferecendo a inclusão das crianças e dos jovens em serviços de orientação e acompanha-
mento, além de exigir a frequência à escola (MDS, 2015).
Por fim, criou-se a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (Conaeti), criada 
por intermédio da Portaria n. 365, de 12 de setembro de 2002 e coordenada pelo Ministério do 
Trabalho e Emprego. Essa comissão visa implementar a aplicação das disposições das Convenções 
n. 138 e 182 da OIT e possui, como uma de suas principais atribuições, o acompanhamento da 
execução do Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil, por ela elaborado em 2003.
2.3.2 Combate à pedofilia
Passemos ao segundo tema a ser analisado em relação aos direitos humanos da criança e do 
adolescente: o combate à pedofilia.
A pedofilia é tratada pelo Código Internacional de Doenças (CID 10 – F65.4) como trans-
torno de personalidade e transtorno de preferência sexual, sendo definida como sendo uma “pre-
ferência sexual por crianças, meninos ou meninas ou ambos, geralmente na idade pré-puberal ou 
no início da puberdade” (DATASUS, 2018).
A pedofilia inclui tanto a prática sexual do adulto com crianças como com adolescentes – 
sendo que esta última hipótese é também chamada de pederastia – quanto a captura de imagens 
envolvendo crianças e adolescente em atos sexuais, o que se chama de pornografia infantil ou pe-
dopornografia (CARDIN, BARRETO, 2009).
O pedófilo, em regra, age às escondidas, na surdina, e normalmente é uma pessoa que, apa-
rentemente, não levanta suspeitas, muitas vezes é uma pessoa conhecida, inclusive da família, que 
se aproxima da criança ou do adolescente, ganha confiança desta e dos familiares, com o objetivo 
de evitar que sejaconsiderado suspeito. Age de forma a atribuir a responsabilidade do abuso à pró-
pria criança ou, ainda, invoca “consequências prejudiciais à família (decepcionar a mãe, provocar 
a separação na família), ou a ele (ser preso) ou a ela própria (sofrer agressões físicas, ou ser morta 
por ele), caso revele o abuso” (TRINDADE, 2007, p. 25).
As consequências dessa prática para o desenvolvimento da criança e do adolescente são 
imensas e podem variar de criança para criança, de família para família, seja pelo apoio recebido 
ou não. O abuso pode afetar a aprendizagem da criança, criar fobias, rejeições a carinhos, tornar a 
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 47
criança mais retraída, agressiva, tímida, deprimida, causar pesadelos ou insônia, podendo, inclusi-
ve, gerar transtornos psicológicos mais graves.
Estatisticamente, o maior centro de atendimento de vítimas de violência sexual da 
América Latina, Hospital Pérola Byington, em São Paulo/SP, apresenta números que demons-
tram um aumento significativo dos atendimentos relativos a caso de violência sexual contra 
crianças e adolescentes:
Figura 4 – Principais estatísticas de atendimento
Hospital Pérola Byington
Núcleo AVS. Principais estatísticas de atendimento
18.740 casos de violência e abuso sexual entre 1994 e 2008
6.350
crianças (33,9%)
5.616
adolescentes (29,9%)
11.966 casos (63,8%)
6.774 mulheres adultas (36,2%)
Fonte: MPMG, 2012, p. 8.
Figura 5 – Distribuição anual dos casos novos de violência sexual
1200
1000
800
600
400
200
0
Distribuição anual dos casos novos de violência sexual
Grupo etário
Crianças
Adolescentes
Adultos
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
Grupo etário
Fonte: MPMG, 2012, p. 8.
Todos os dias são noticiados casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, de-
monstrando a importância da análise do tema e da efetivação de medidas de combate a tal prática.
A legislação brasileira não é omissa: desde a nossa Constituição Federal há expressa disposi-
ção sobre o assunto, mais precisamente no seu artigo 227, parágrafo 4º: “A lei punirá severamente o 
abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente” (BRASIL, 1988).
A legislação penal dispõe sobre o tema nos seguintes artigos, entre outros:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter 
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro 
ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§1.º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é me-
nor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Direitos humanos e relações étnico-raciais48
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§2.º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
[...]
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor 
de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§1.º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com al-
guém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário dis-
cernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode 
oferecer resistência.
§2.º (VETADO)
§3.º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§4.º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (BRASIL, 1940)
O ECA também regulamenta a matéria tendo por base as alterações produzidas pela Lei 
n. 11.829/2008:
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qual-
quer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou 
adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
[...]
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que conte-
nha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou 
divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou te-
lemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito 
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
[...]
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, ví-
deo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou porno-
gráfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
[...]
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo 
explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação 
de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, dis-
ponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou 
armazena o material produzido na forma do caput deste artigo.
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 49
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de co-
municação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explí-
cito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso;
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir 
criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.
Art. 241 E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo 
explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança 
ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição 
dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente 
sexuais. (BRASIL, ECA/1990)
Outra inovação surgida recentemente, é a chamada Lei Joanna Maranhão (Lei n. 12.650/2012), 
que alterou o artigo 111 do Código Penal, incluindo o inciso V:
Art. 111 – A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa 
a correr:
[...]
V – nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos 
neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 
(dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.
A partir da vigência dessa alteração legislativa (18/05/2012), o prazo de prescrição da pre-
tensão punitiva do réu nos crimes sexuais contra crianças e adolescentes somente começa a correr 
após a vítima completar 18 anos de idade.
Assim, Eduardo Luiz Santos Cabette exemplifica a contagem do prazo
A regra do início da contagem apenas após o completar dos 18 anos da vítima 
não é, contudo, absoluta. O novo inciso V do artigo 111, CP faz uma ressalva ao 
determinar que a contagem inicie somente aos 18 anos da vítima, “salvo se a esse 
tempo já houver sido proposta a ação penal”.
Então, há duas situações distintas dispostas na legislação:
a) Se, por exemplo, uma criança de 5 anos sofre abuso sexual e nunca narra o 
fato, de modo que não é instaurado processo para apuração, então o prazo pres-
cricional somente correrá quando ela completar 18 anos;
b) Se a mesma criança de 5 anos é abusada, mas entre o lapso temporal de seus 
5 anos de idade até os 18 ocorre a instauração de processo acerca do caso, o 
prazo prescricional passa a correr dessa instauração e não mais da data em que 
a vítima completa a maioridade.
De qualquer forma a lei adita o início da contagem do prazo prescricional, que 
não mais se contará pela regra geral da consumação (artigo 111, I, CP), mas 
pelo atingimento dos 18 anos da vítima ou pelo início do processo criminal. 
(CABETTE, 2013, p. 4)
Direitos humanos e relações étnico-raciais50
O propósito da legislação é dificultar a prescriçãodo crime e proteger a vítima, pois esta 
muitas vezes não possui consciência suficiente do fato criminoso ou não está preparada psicologi-
camente para enfrentar todas as consequências advindas da comunicação do fato.
Como bem ressalvou Talita Ferreira Alves Machado, a maioria dessas inovações legislati-
vas foi resultado da CPI da pedofilia: “Comissão Parlamentar de Inquérito criada nos termos do 
Requerimento 200, de 2008, conforme parágrafo 4º do artigo 145 do Regimento Interno do Senado 
Federal, para, no prazo de cento e vinte dias, apurar a utilização da internet na prática de crimes de 
‘pedofilia’” (MACHADO, 2013 p. 50).
Em dezembro de 2010 foi aprovado o relatório final da CPI da pedofilia, e nesse período 
de investigação a comissão logrou a aprovação de leis que “tornaram mais rígidas a punição de 
pessoas envolvidas em práticas pedofílicas, a exemplo dos crimes de estupro de vulnerável e de 
produção de material pornográfico envolvendo criança e adolescentes, bem como a inclusão do 
abuso sexual de menores no rol dos crimes hediondos” (MACHADO, 2013 p. 50).
Atividades
1. Analise o caso internacional abaixo:
Caso Villagrán Morales e outros vs. Guatemala
(STIVAL, 2015)
[...] também conhecido como “Meninos de Rua contra Guatemala”: “re-
fere-se ao sequestro, a tortura e o assassinato de jovens que viviam nas 
ruas, sendo que dois deles eram menores de idade. Neste caso, a dis-
cussão central é a omissão por parte dos mecanismos do Estado para 
enfrentar judicialmente essas violações e condenar os responsáveis. 
O processo demonstrou que quatro das vítimas foram enfiadas no porta-
-malas de um veículo. Diante deste fato, a Corte declarou que: ainda que 
não houvesse existido outros maus-tratos físicos ou de outra índole, essa 
ação por si só deve ser considerada claramente contrária ao respeito devido 
à dignidade inerente ao ser humano.
Em um detalhamento dos fatos, as vítimas foram sequestradas por po-
liciais em 1999. Após sequestrados e torturados, os cinco jovens foram 
mortos e tiveram seus corpos abandonados em um parque da cidade. 
Quando os corpos foram encontrados houve descaso das autoridades 
em identificá-los, assim como em notificar à família.
O caso foi levado à Comissão Interamericana e a mesma alegou que os 
crimes cometidos contra as cinco vítimas constituiu um exemplo das 
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 51
graves violações dos direitos humanos de que crianças de rua guatemal-
tecas foram vítimas durante o período coberto na petição relativas a este 
caso. Acrescentou que, embora seis anos se passaram desde o assassinato 
desses jovens, o Estado não “fez qualquer esforço sério para tomar ação 
em relação a tais crimes”.
O Estado da Guatemala alegou que o Tribunal não tem poderes juris-
dicionais para conhecer o presente caso, pois implica a criação de uma 
“quarta instância” de jurisdição de revisão. Apresentou uma exceção 
preliminar que alega falta de jurisdição deste Tribunal para examinar 
o julgamento proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça daquele país 
em 21 de julho de 1993, que confirmou a decisão do Tribunal Distrital 
do Estado da Guatemala, de 26 de dezembro de 1991, absolvendo o 
acusado do assassinato das vítimas indicadas pela Comissão, com uma 
decisão no mais alto nível judicial, que adquiriu a autoridade de um 
final julgamento.
A Comissão sustentou que estes argumentos não foram levantadas in 
limine litis e que, portanto, a objeção não deve ser autorizado a ser levan-
tada nesta fase adiantada do processo. Além disso, a Comissão sublinhou 
que o Estado nunca contestou a competência da Comissão. A Comissão 
salientou a importância da Corte em avaliar, à luz da Convenção, os atos 
de sequestro, tortura e assassinato, as deficiências da resposta àqueles 
atua e a impunidade resultante.
A Comissão afirmou que estava claramente demonstrado que o Estado 
violou a Convenção Americana, em relação ao sequestro, tortura e assas-
sinato de crianças de rua e que a justiça foi negada no processo interno. 
A Comissão afirmou que a investigação e o processo judicial interno 
realizado neste caso eram tão deficientes com a negativa às famílias das 
vítimas, do devido processo e da justiça. Assim, solicitou à Corte a rejei-
ção da referida preliminar.
A Corte considerou que a petição apresentada pela Comissão 
Interamericana não pretendia rever a sentença do Supremo Tribunal de 
Guatemala, mas sim um pronunciamento que o Estado violou vários 
preceitos da Convenção Americana através da morte das pessoas men-
cionadas acima e que atribui a responsabilidade aos membros do polícia 
daquele Estado, e que o Estado é, portanto, responsável.
O Tribunal considerou que esta exceção preliminar deve ser descartada 
como inadmissível, julgando por unanimidade a inadmissibilidade da 
exceção preliminar trazida pelo Estado da Guatemala. Observa-se que 
Direitos humanos e relações étnico-raciais52
durante o julgamento os responsáveis pelos fatos ainda se encontravam 
impunes. A Corte IDH observou que houve omissão da investigação dos 
delitos de sequestro e tortura e deixou de ordenar, praticar e valorar as 
provas necessárias para o devido esclarecimento dos homicídios. O tri-
bunal, ao decidir pelas reparações ordenou a realização de uma inves-
tigação efetiva para individualizar e sancionar as pessoas responsáveis 
pelas violações dos direitos humanos. O Estado da Guatemala informou 
que os acusados já tinham sido julgados, mas o Ministério Público com-
prometeu-se em continuar a investigação até determinar os responsáveis 
pelo fato.
Em sua última resolução de 2009, a Corte IDH decidiu manter em aber-
to o procedimento de supervisão de cumprimento de sentença até que 
o Estado encontre os responsáveis das torturas e sequestro das vítimas 
e identificasse todos os responsáveis pelos homicídios perpetrados, ade-
quasse seu direito interno aos padrões internacionais e informasse tam-
bém sobre as diligências que tem realizado para corrigir ou remediar as 
deficiências apontadas. O Estado cumpriu com o pagamento de indeni-
zações por dano material, emergente e moral aos familiares das vítimas, 
além do pagamento das custas e despesas em favor dos representantes 
dos familiares das vítimas.
Após a leitura e análise do caso acima descrito, estabeleça as semelhanças entre ele e o co-
nhecido caso da Chacina da Candelária, ocorrido no Rio de Janeiro, em 1993.
2. Você é diretor de uma Escola Municipal e tem acompanhado a história de João Pedro, ga-
roto de 10 anos, que reside com sua mãe, padrasto e três irmãos provenientes dessa união. 
A família parece ser harmoniosa, João Pedro é bom aluno, frequenta regularmente as aulas, 
é participativo e tem boas notas. Porém, há um ano você notou que João Pedro passou a agir 
de forma estranha, não participa mais das atividades escolares e apresenta hematomas nos 
membros inferiores. Como diretor, chamou a mãe de João Pedro para uma conversa e ela 
alega que está tudo bem com o filho e sua família. Mediante o exposto e tendo o ECA como 
referencial, o que você deveria fazer?
3. Um dos temas de maior embate no meio jurídico e leigo relacionado à proteção das crianças 
e adolescentes é a questão da redução da maioridade penal. Todavia, constata-se que, muitas 
vezes, a opinião externada pela maioria da população leiga se dá em razão de fatos crimino-
sos divulgados pela mídia, sem qualquer análise mais abrangente e científica do tema. Sem a 
pretensão de impor uma posição em relação ao assunto, propomos aqui que você faça uma 
análise, no mínimo, dos textos e notícias indicados no quadro a seguir e disserte sobre o 
tema, indicando as razões expostas como favoráveis e as contrárias à redução da maioridade 
penal. Ao final, exponha sua opinião fundamentada sobre o assunto.
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 53
Título Autor Link para acesso
“OAB é contra a redução da 
maioridade penal”
Ordem dos Advogados do 
Brasil. Conselho Federal
<www.oab.org.br/noticia/28231/oab-e-contra-a- 
reducao-da-maioridade-penal>“Veja cinco motivos a favor 
e cinco contra a redução da 
maioridade penal”
Leandro Prazeres
<http ://not ic ias.uol .com.br/cot id iano/ul t imas- 
noticias/2015/03/31/veja-cinco-motivos-a-favor-e- 
cinco-contra-a-reducao-da-maioridade-penal.htm>
“Reflexões sobre a redução 
da maioridade penal”
Rogério Greco <www.rogeriogreco.com.br/?p=2910>
“PEC da redução da 
maioridade penal é 
inconstitucional”
Dalmo Dallari – Entrevis-
ta a Anna Beatriz Anjos
<www.revistaforum.com.br/2015/04/02/dalmo- 
dal lar i -pec-da- reducao-da-maior idade-penal -e - 
inconstitucional/>
“Redução da maioridade 
penal: por que não?”
Cláudio da Silva Leiria
<www.cr ianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/ 
conteudo.php?conteudo=276>
3
Dos direitos das pessoas 
com deficiência e dos idosos
Gisele Echterhoff
Neste capítulo, passaremos a uma análise dos direitos humanos das pessoas com deficiência, 
examinando desde a legislação internacional até a legislação interna, bem como os programas de 
acessibilidade existentes. Na sequência, nosso estudo terá como enfoque os direitos humanos das 
pessoas idosas, demonstrando a importância do Estatuto do Idoso, sua abrangência e aplicabilida-
de. Ao final, examinaremos a questão da violência contra os idosos e conheceremos os programas 
de combate à violência.
3.1 Pessoas com deficiência: inclusão social, acessibilidade, planos e 
programas
Ao examinarmos a forma como as pessoas com deficiência foram tratadas ao 
longo da história, constatamos que esse tratamento passou por várias fases, desde 
a de eliminação, a do assistencialismo, a da integração, e finalmente, a da inclusão.
Na Antiguidade e na Idade Média, predominava a ideia da eliminação, tendo 
como base a aversão social a tudo que não fosse considerado normal. Muitas vezes, o problema físi-
co ou mental era ligado a um castigo divino ou era sinal de impureza, sendo perfeitamente normal 
a segregação e até mesmo a eliminação dessas pessoas (TISESCU; SANTOS, 2014).
Tisescu e Santos (2014) citam como exemplo a Lei das XII Tábuas, instituída pelos romanos, 
na qual havia previsão de que o filho “monstruoso” fosse morto de forma imediata. A eliminação 
era defendida por filósofos como Platão e Aristóteles.
Tal prática esteve presente nos primeiros anos da Idade Moderna, sendo comum essas pessoas 
serem jogadas ao mar. No século XIX surgem movimentos eugênicos, inclusive com práticas de este-
rilização nos EUA e em alguns países da Europa. E não podemos ignorar que a eugenia foi defendida 
pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Na busca da raça pura ariana, várias pessoas foram 
exterminadas, seja por questões religiosas, físicas ou culturais (TISESCU; SANTOS, 2014).
Embora ainda vivenciemos situações de exclusão – claro que muito mais social, econômica 
e educacional –, essa fase extrema se esmaeceu. Sob a influência da doutrina cristã, surge a fase do 
assistencialismo, na qual o deficiente era visto como uma pessoa inferior, carente de favores, reco-
nhecendo-se a necessidade de auxílio para diminuir o sofrimento dessas pessoas.
Flávia Piovesan ressalta que essa fase assistencialista era pautada por uma “perspectiva mé-
dica e biológica de que a deficiência era uma ‘doença a ser curada’, sendo o foco centrado no indi-
víduo ‘portador da enfermidade’” (2015, p. 302).
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais56
Essa fase acaba por manter a ótica da exclusão, mas mudando a sua forma de física para 
visual: “Os membros da sociedade, por ter piedade das pessoas com deficiência e, em razão da ca-
ridade apregoada pelo cristianismo como virtude a ser perseguida, prestam assistência a essas pes-
soas, desde que em locais reservados, longe dos olhos da sociedade em geral” (TISESCU; SANTOS, 
2014, p. 373).
Com o avanço nas ciências biomédicas, dissociou-se a deficiência da punição religiosa, pro-
porcionando uma transformação na sociedade, pois esta passou a enfrentar o problema e buscar a 
integração dessas pessoas (TISESCU; SANTOS, 2014). Passa-se a conceber o portador de deficiên-
cia como parte da sociedade, devendo, por isso, ser integrado a ela, o que gerou um avanço com o 
reconhecimento de direitos e garantias a estas pessoas.
Todavia, a ideia central era normalizar primeiro para depois integrar, ou seja, não era a so-
ciedade que deveria se adaptar ao deficiente, mas, sim, estes que deveriam se adaptar para integrar 
o grupo social. A sociedade permanecia numa postura de tolerância em relação àquela circunstân-
cia, o que não permitia a concretização efetiva da noção de dignidade dessas pessoas (TISESCU; 
SANTOS, 2014).
A entrada na quarta fase da história de evolução dos direitos humanos das pessoas com defi-
ciência – fase da inclusão – foi resultado, em especial, dos efeitos das duas Grandes Guerras Mundiais, 
em virtude do grande número de mutilados advindos do combate e da necessidade de sua reabili-
tação (TISESCU; SANTOS, 2014). Essa nova realidade mudou a mentalidade social, não somente 
em relação às pessoas mutiladas pela guerra, mas também em relação aos deficientes, “a diversidade 
social passa a ser objeto de aceitação social. Não se busca mais a ‘cura’ para as deficiências nem se 
imputa o ônus da adaptação apenas ao com deficiência” (TISESCU; SANTOS, 2014, p. 377).
Aqui se inicia a elaboração de normas internacionais e nacionais voltadas à proteção dos 
deficientes. Flávia Piovesan (2015, p. 303) ressalta que “de ‘objeto’ de políticas assistencialistas e 
de tratamentos médicos, as pessoas com deficiência passam a ser concebidas como verdadeiros 
sujeitos, titulares de direitos”.
Na década de 1950, vários foram os documentos internacionais aprovados que visavam à 
proteção das pessoas com deficiência. Dentre eles, Damasceno (2014) cita a Recomendação 99 da 
Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1955, que trata da reabilitação das pessoas defi-
cientes, e a Convenção n. 111, de 1958, acerca da discriminação em matéria de emprego e profissão.
Na década de 1970, a ONU iniciou a aprovação da Declaração dos Direitos do Retardado 
Mental (1971), que “trouxe a importante afirmação de que as pessoas com deficiência intelectual 
devem gozar dos mesmos direitos que os demais seres humanos, advertindo ainda que a mera in-
capacidade para o exercício pleno dos direitos não pode servir de mote para supressão completa de 
seus direitos” (DAMASCENO, 2014).
Em 1975, a ONU promulgou a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes e, poste-
riormente, em 1976, foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU uma resolução que proclamou 
o ano de 1981 como o Ano Internacional da Pessoa Deficiente pela ONU. Luiz Rogério da Silva 
Damasceno (2014) afirma que a ONU, visando à preparação para o referido ano, criou um Comitê 
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 57
Consultivo “formado por 23 países que tinha por finalidade preparar uma minuta de um plano 
de ação mundial sobre este tema para atuação das nações”. Acrescenta o autor que esse comitê 
elaborou um relatório que indicou entre os principais obstáculos enfrentados pelas pessoas com 
deficiência as barreiras físicas, os preconceitos e as atitudes discriminatórias.
Na sequência, o decênio 1983 a 1992 foi declarado pela ONU a Década das Nações Unidas 
para as Pessoas com Deficiência, com a finalidade de executar ações do Programa de Ação Mundial 
relativo a Pessoas com Deficiência, baseado no seguinte tripé: prevenção, reabilitação e equipara-
ção de oportunidades (DAMASCENO, 2014).
Em 1999, a Organização dos Estados Americanos (OEA) editou a Convenção Interamericana 
para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de 
Deficiência, a chamada Convenção da Guatemala, que se caracterizou “por sua originalidade na 
definição de pessoa com deficiência com base no modelo social de direitos humanos e foi o primei-
ro documento regional que assumiu o caráter vinculante no tocante aos direitos das pessoas com 
deficiência” (DAMASCENO, 2014).
Damasceno ainda cita que, em 2001, mudoua concepção de deficiente, deixando de lado 
uma visão meramente biomédica para expressar “um fenômeno multidimensional resultante da 
interação entre as pessoas e seus ambientes físicos e sociais, ou seja, adota de forma explícita o 
modelo social de deficiência” (DAMASCENO, 2014).
Podemos visualizar essa mudança conceitual ao examinar a definição de deficiente para a 
Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, de 1975, bem como a que surge com 
a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2006.
A Declaração, de 1975 assim conceitua deficiente: “1 – O termo pessoas deficientes refere-se a 
qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma 
vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas 
capacidades físicas ou mentais” (ONU, 1975).
A Convenção de 2006, também chamada de Convenção de Nova York sobre os Direitos da 
Pessoa com Deficiência, surge com o objetivo de mudar essa perspectiva meramente biomédica. 
De acordo com o artigo 1º da desse documento, “pessoas com deficiência são aquelas que têm 
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em 
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em 
igualdades de condições com as demais pessoas” (ONU, 2006). Ou seja, como bem observa Débora 
Diniz (2009), pessoa com deficiência vai muito além do problema médico, passa por barreiras so-
ciais impostas em razão da desigualdade.
Lais de Figueirêdo Lopes esclarece que esse conceito adotado pela Convenção teve partici-
pação direta de uma proposta brasileira:
A partir dessa nova visão, e com base nos direitos humanos, foi que se elaborou 
no tratado a conceituação de pessoa com deficiência. A maior preocupação era 
garantir, por meio do acordo em torno de uma definição geral, a identificação 
dos sujeitos de direitos da Convenção. Para chegar ao consenso final, os países 
tiveram que ser flexíveis.
Direitos humanos e relações étnico-raciais58
[...]
A proposta levada pelo Brasil era de definir pessoa com deficiência como aquela 
cujas limitações físicas, mentais ou sensoriais, associadas a variáveis ambientais, 
sociais, econômicas e culturais, tem sua autonomia, inclusão e participação 
plena e efetiva na sociedade impedidas ou restringidas. A ideia era enfatizar 
a combinação entre os aspectos descritivos da deficiência, com os efeitos das 
características sociais, culturais e econômicas encontradas em cada indivíduo.
“O correto equacionamento dessas variáveis e combinações pode proporcionar, 
restringir ou impedir o exercício e o gozo de direitos. Daí a importância da 
opção por definir pessoa com deficiência ao invés de focar a definição na defi-
ciência em suas características”, era o que dizia o relatório oficial emitido pela 
Câmara Técnica do Brasil, quando da elaboração de propostas para a última 
sessão, na ONU. (LOPES, 2014, p. 27)
Flávia Piovesan afirma que essa definição é inovadora porque reconhece explicitamente 
que o meio econômico e social pode ser causa ou fator de agravamento da deficiência, e destaca 
que “a própria Convenção reconhece ser a deficiência um conceito em construção, que resulta 
da interação de pessoas com restrições e barreiras que impedem a plena e efetiva participação na 
sociedade em igualdade com os demais” (2015, p. 303).
A Convenção enuncia direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, entre eles: o direito 
à igualdade e não discriminação (art. 5º); há expressa referência aos direitos da mulher (art. 6º) e da 
criança com deficiência (art. 7º); direito à vida (art. 10); ao igual reconhecimento perante a lei (art. 12); 
de acesso à justiça (art. 13); à liberdade e segurança da pessoa (art. 14); a não ser submetido a tortura 
ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes (art. 15); à liberdade de movimentação e naciona-
lidade (art. 18); à vida independente e inclusão na comunidade (art. 19); à liberdade de expressão e de 
opinião e acesso à informação (art. 21); ao respeito à privacidade (art. 22); ao respeito pelo lar e pela 
família (art. 23); à educação (art. 24); à saúde (art. 25); ao trabalho e emprego (art. 27); à participação na 
vida política e pública (art. 29) e na vida cultural e em recreação, lazer e esporte (art. 30).
Flávia Piovesan afirma que “o propósito maior da Convenção é promover, proteger e assegu-
rar o pleno exercício dos direitos humanos das pessoas com deficiência” (2015, p. 304), o que exige 
“dos Estados-Partes medidas legislativas, administrativas e de outra natureza para a implemen-
tação dos direitos nela previstos” (PIOVESAN, 2015, p. 304). Ressalta a autora que a Convenção 
garante a oportunidade de participação ativa das pessoas com deficiência nos “processos decisórios 
relacionados a políticas e programas que a afetem” (PIOVESAN, 2015, p. 304).
A Convenção institui o Comitê para os Direitos das Pessoas com Deficiência (art. 34) vi-
sando a monitorar os direitos previstos na Convenção, por meio de relatórios a serem elaborados 
periodicamente pelos Estados-partes (art. 35). O Comitê deve ser integrado por 12 especialistas 
que devem atuar a título pessoal e não governamental, devendo ser observada a representação 
geográfica equitativa, a representação dos distintos sistemas jurídicos e o equilíbrio de gênero e a 
participação de peritos em deficiência (item 2 a 4 do art. 34).
Até 18 de dezembro de 2012, a Convenção já tinha sido ratificada por 126 países e 155 países 
são signatários. O Brasil assinou a Convenção em 30 de março de 2007, sendo que o Congresso 
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 59
Nacional a ratificou pelo Decreto Legislativo n. 186/2008, tendo sido promulgado pelo Decreto 
n. 6.949, de 25 de agosto de 2009 (DAMASCENO, 2014).
Importante ressaltar que essa Convenção foi a primeira sobre direitos humanos a ser incor-
porada com status de Emenda Constitucional, por ter cumprido o disposto no §3º do artigo 5º da 
Constituição Federal/88 (DAMASCENO, 2014).
No âmbito nacional, a nossa própria Constituição Federal trata expressamente da proteção 
das pessoas com deficiência, dentre outros artigos:
Art. 7.º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que 
visem à melhoria de sua condição social:
[...]
XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de 
admissão do trabalhador portador de deficiência;
[...]
Art. 37. [...]
VIII – a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as 
pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; 
(BRASIL, 1988)
Podemos apontar, ainda, dentre as medidas legislativas já tomadas pelo Brasil, as seguintes 
(além de outras indicadas no site da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República):
• Lei n. 7.853/89 – Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração 
social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência 
– Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, dis-
ciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências.
• Lei n. 8.899/94 – Concede passe livre às pessoas portadoras de deficiência no sistema de 
transporte coletivo interestadual.
• Lei n. 10.226/01 – Acrescenta parágrafos ao art. 135 da Lei 4.737, de 15 de julho de 1965, 
que institui o Código Eleitoral, determinando a expedição de instruções sobre a escolha 
dos locais de votação de mais fácil acesso para o eleitor deficiente físico.
• Lei n. 11.133/05 – Institui o Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficiência.
O governo federal lançou, em 17 de novembro de 2011, “o Viver sem Limite – Plano Nacional 
dos Direitos da Pessoa com Deficiência, como resultado do firme compromisso político com a 
plena cidadania das pessoas com deficiência no Brasil” (Decreto n. 7.612) (BRASIL, 2018). É um 
programa voltado à efetivaçãodos direitos das pessoas com deficiência, o qual consiste em um 
“conjunto de políticas públicas estruturadas em quatro eixos: Acesso à Educação; Inclusão social; 
Atenção à Saúde e Acessibilidade” (BRASIL, 2018).
Em 6 de janeiro de 2016, entrou em vigor o chamado Estatuto da Pessoa com Deficiência 
(Lei n. 13.146/2015), que adotou o mesmo conceito de deficiência da Convenção da ONU:
Art. 2.º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento 
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em 
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena 
Direitos humanos e relações étnico-raciais60
e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 
(BRASIL, 2015)
O Estatuto estabelece conceitos elementares, como o de acessibilidade, o de barreiras, o de 
pessoa com mobilidade reduzida, entre outros (art. 3º da Lei n. 13.146/2015). Institui, entre os 
direitos fundamentais: o direito à vida (arts. 10 a 13); à habilitação e à reabilitação (arts. 14 a 17); à 
saúde (arts. 18 a 26); à educação (arts. 27 a 30); à moradia (arts. 31 a 33); ao trabalho (arts. 34 a 38); 
à assistência social (arts. 39 e 40); à previdência social (arts. 41); à cultura, ao esporte, ao turismo e 
ao lazer (arts. 42 a 45); ao transporte e à mobilidade (arts. 46 a 52); à informação e à comunicação 
(arts. 63 a 73); e à participação na vida pública e política (arts. 76). O Estatuto também prevê um 
rol de crimes relacionados à ofensa aos direitos das pessoas com deficiência (arts. 88 a 91).
Em 2010, conforme Censo do IBGE (2015), 23,9% da população brasileira era portadora de 
deficiência, o que demonstra a importância da adoção de políticas públicas voltadas à proteção e 
promoção dessas pessoas, sem esquecer de um ponto de extrema importância que é a proteção das 
pessoas com deficiência em relação a atos de violência.
3.2 Pessoas idosas: o estatuto do idoso, qualidade de vida e proteção
A preocupação com a pessoa idosa, como objetivo legislativo, é algo muito 
recente, pois até há pouco tempo se entendia que a moral e os bons costumes da-
riam conta dessa proteção.
Não é incomum ouvirmos os mais velhos afirmarem que antigamente havia 
mais respeito ao idoso, que, por exemplo, eram os mais velhos os primeiros a se sen-
tarem à mesa para comer, enquanto hoje nos preocupamos em primeiro alimentar as crianças. Claro 
que esse é um exemplo banal, quem dirá sem significação, mas a sociedade mudou a sua visão da 
velhice: se antes os mais idosos eram tratados com respeito por uma questão moral, por se entender 
que a sua experiência e os anos de vida eram importantes para a nova geração, aos poucos a velhice 
passou a ser um fardo, pois os jovens não precisariam mais de sua experiência, tendo em vista toda a 
evolução tecnológica que permite o acesso a uma amplitude de conhecimentos e informações.
Portanto, constatou-se que a moral e os bons costumes se tornaram insuficientes para 
garantir o respeito e a proteção dos mais idosos e passou a ser necessária a intervenção do 
ordenamento jurídico.
Tal preocupação não poderia ser diferente diante da constatação de que o envelhecimento da 
população mundial é um fato. Estatisticamente, em 2012 existiam “aproximadamente 810 milhões 
de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos em todo o mundo e a tendência é ultrapassar 
a cifra de 2 bilhões em 2050, quando as pessoas mais velhas irão ultrapassar o número dos mais 
jovens (menores de 14 anos), pela primeira vez na história” (MAIO, 2013, p. 33).
No âmbito internacional, embora as normas relacionadas aos direitos humanos em geral se-
jam perfeitamente aplicáveis – como a própria Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 
–, Iadya Maio (2013) afirma ter sido somente em 1998 – por meio do Protocolo de San Salvador 
(Protocolo Adicional à Convenção Americana [Pacto de San José da Costa Rica, de 1969], referente 
Vídeo
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 61
aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais) – o surgimento de uma preocupação internacional 
na adoção de normas especiais sobre o tema.
Esse Protocolo dedicou o artigo 17 à proteção de pessoas idosas:
Toda pessoa tem direito à proteção especial na velhice. Nesse sentido os Estados 
Partes comprometem-se a adotar de maneira progressiva as medidas necessá-
rias a fim de pôr em prática este direito e, especialmente, a:
a) Proporcionar instalações adequadas, bem como alimentação e assistência 
médica especializada, as pessoas de idade avançada que careçam dela e não 
estejam em condições de provê-las por meios próprios;
b) Executar programas trabalhistas específicos destinados a dar a pessoas idosas 
a possibilidade de realizar atividade produtiva adequada às suas capacidades, 
respeitando sua vocação ou desejos;
c) Promover a formação de organizações sociais destinadas a melhorar a quali-
dade da vida das pessoas idosas. (PROTOCOLO DE SAN SALVADOR, 1998)
Esse Protocolo é o único instrumento internacional vinculativo, de conteúdo obrigatório, 
que trata do tema dos direitos dos idosos (MAIO, 2013).
Em uma análise da atuação da ONU em relação ao tema, percebe-se que não há uma 
Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas Idosas; porém, mesmo assim há uma atuação 
efetiva na consolidação de direitos e garantias dos seus direitos.
Em 1982, a Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento aprovou o Plano de Ação 
Internacional de Viena sobre o Envelhecimento, contendo 62 recomendações (muitas das quais 
têm uma relevância direta para o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais), 
sendo a base da política para a pessoa idosa, no plano internacional (ONU, 2002).
Esse Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento estabelece como obje-
tivos concretos:
a) Fomentar a compreensão nacional e internacional das consequências econô-
micas, sociais e culturais que o envelhecimento da população tem no processo 
de desenvolvimento;
b) Promover a compreensão nacional e internacional das questões humanitárias 
e de desenvolvimento relacionadas com o envelhecimento;
c) Propor e estimular políticas e programas orientados à ação e destinados 
a garantir a segurança social e econômica às pessoas de idade, assim como 
lhes dar oportunidades de contribuir para o desenvolvimento e comparti-
lhar de seus benefícios;
d) Apresentar alternativas e opções de política que sejam compatíveis com os 
valores e metas nacionais e com os princípios reconhecidos internacionalmente 
em relação ao envelhecimento da população e às necessidades das próprias 
pessoas de idade;
e) Estimular o desenvolvimento de ensino, capacitação e pesquisa que respon-
dam adequadamente ao envelhecimento da população mundial e fomentar o in-
tercâmbio internacional de aptidões e conhecimento nesta esfera. (ONU, 1982)
Direitos humanos e relações étnico-raciais62
Em 1991, a Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução 46/91, “instituiu 
carta contendo alguns princípios aplicáveis à proteção e promoção dos direitos das pessoas idosas: 
independência, participação, cuidados especiais e dignidade” (MAIO, 2013, p. 35). Por meio desse 
mesmo instrumento, foi instituído o dia 1.° de outubro como o Dia Internacional do Idoso e o ano 
de 1999 como o Ano Internacional das Pessoas Idosas.
Assim, a publicação da ONU descreve os princípios acima indicados:
• “Independência” inclui o acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuá-
rio e aos cuidados de saúde adequados. Direitos básicos a que se acrescentam a 
oportunidade de um trabalho remunerado e o acesso à educação e à formação.
• Por “Participação” entende-se que as pessoas idosas deveriam participar ati-
vamente na formulação e aplicação das políticas que afetem diretamente o seu 
bem-estar e poder partilhar os seus conhecimentos e capacidades com as gera-
ções mais novas bem como poder formar movimentos ou associações.
• A secção intitulada “Cuidados” afirma que as pessoas idosas deveriam poder 
beneficiar dos cuidadosda família, ter acesso aos serviços de saúde e gozar os 
seus direitos humanos e liberdades fundamentais, quando residam em lares ou 
instituições onde lhes prestem cuidados ou tratamento.
• No que se refere à “Autorrealização”, os “Princípios” afirmam que as pessoas de 
idade deveriam poder aproveitar as oportunidades de desenvolver plenamente 
o seu potencial, mediante o acesso aos recursos educativos, culturais, espirituais 
e recreativos da sociedade.
• Por fim, a secção intitulada “Dignidade” afirma que as pessoas de idade deve-
riam poder viver com dignidade e segurança, e libertas da exploração e maus 
tratos físicos ou mentais, ser tratadas dignamente, independentemente da idade, 
sexo, raça ou origem étnica, deficiência, situação econômica ou qualquer outra 
condição, e ser valorizadas independentemente do seu contributo econômico. 
(ONU, 2002, p. 2-3)
No ano de 1992 a Conferência Internacional sobre o Envelhecimento reuniu-se para dar 
seguimento ao Plano de Ação, adotando a Proclamação do Envelhecimento. No ano de 2002, 
a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento foi realizada em 
Madrid. Com o objetivo de desenvolver uma política internacional para o envelhecimento para 
o século XXI, a Assembleia adotou uma Declaração Política e o Plano de Ação Internacional 
sobre o Envelhecimento de Madrid, chamado de Segundo Plano de Ação Internacional sobre o 
Envelhecimento (PIAE).
Esse plano foi adotado por todos os países membros das Nações Unidas presentes na Assembleia 
Mundial de Madrid, representando “compromisso internacional em resposta a um dos maiores de-
safios sociais do século XXI: o rápido envelhecimento populacional ora em curso em quase todos os 
países” (DHNET, 2018). Três são as áreas prioritárias de atuação do segundo plano de ação:
1) como colocar envelhecimento populacional na agenda do desenvolvimento; 
2) importância singular e global da saúde e 3) como desenvolver políticas de 
meio ambiente (tanto do ponto de vista físico quanto social) que atendam às ne-
cessidades de indivíduos e às sociedades que envelhecem. Em cada uma dessas 
áreas de ação, o PIAE prioriza as questões de gênero e de desigualdade social. 
(DHNET, 2018)
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 63
Entre as metas, os objetivos e os compromissos do plano de ação, são relacionados os 
seguintes:
a) Plena realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de 
todos os idosos;
b) Envelhecimento em condições de segurança, o que implica reafirmar o ob-
jetivo da eliminação da pobreza na velhice com base os Princípios das Nações 
Unidas em favor dos idosos;
c) Capacitação de idosos para que participem plena e eficazmente na vida eco-
nômica, política e social de suas sociedades, inclusive com trabalho remunerado 
ou voluntário;
d) As oportunidades de desenvolvimento, realização pessoal e bem-estar do 
indivíduo em todo curso de sua vida, inclusive numa idade avançada, por exem-
plo, mediante a possibilidade de acesso à aprendizagem durante toda a vida e 
a participação na comunidade, ao tempo que se reconhece que os idosos não 
constituem um grupo homogêneo;
e) Garantia dos direitos econômicos, sociais e culturais dos idosos assim como 
de seus direitos civis e políticos, e a eliminação de todas as formas de violência 
e discriminação contra idosos;
f) Compromisso de reafirmar a igualdade dos sexos para as pessoas idosas, en-
tre outras coisas mediante a eliminação da discriminação por motivos de sexo;
g) Reconhecimento da importância decisiva que têm as famílias para o desen-
volvimento social e a interdependência, a solidariedade e a reciprocidade entre 
as gerações;
h) Assistência à saúde, apoio e proteção social dos idosos, inclusive os cuidados 
com a saúde preventiva e de reabilitação;
i) Promoção de associação entre governo, em todos os seus níveis, sociedade 
civil, setor privado e os próprios idosos no processo de transformar o Plano de 
Ação em medidas práticas;
j) Utilização das pesquisas e dos conhecimentos científicos e aproveitamento do 
potencial da tecnologia para considerar, entre outras coisas, as consequências 
individuais, sociais e sanitárias do envelhecimento, particularmente nos países 
em desenvolvimento;
k) Reconhecimento da situação dos idosos pertencentes a populações indíge-
nas, suas circunstâncias singulares e a necessidade de encontrar meios de terem 
voz ativa nas decisões que diretamente lhes dizem respeito. (ONU, 2002 apud 
BRASIL, 2003, p. 30)
No âmbito nacional, o Brasil prevê expressamente, na Constituição Federal, a proteção dos 
direitos do idoso:
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas 
idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignida-
de e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
§1.º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente 
em seus lares.
§2.º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transpor-
tes coletivos urbanos. (BRASIL, 1988)
Direitos humanos e relações étnico-raciais64
Em vários outros dispositivos constitucionais se constata a preocupação do texto constitu-
cional com os direitos dos idosos, por exemplo, o artigo 3º, inciso IV, que determina a não discri-
minação em razão da idade e o artigo 5.°, inciso XLVIII, que determina que a pena seja cumprida 
em estabelecimentos distintos, sendo a idade um dos critérios de distinção. Verifica-se também 
a proteção no âmbito das relações de trabalho diante da previsão do artigo 7º, inciso XXX, que 
proíbe a diferença de salários, exercícios de funções e de critério de admissão por motivo de idade. 
Cita-se, ainda, os dispositivos relacionados ao exercício do direito ao voto (art. 14, §1º, inciso II, 
alínea “b”) e os que se referem à previdência e à assistência social (art. 201, inciso I e 203, inciso V).
Em 1994, foi sancionada a Lei Federal n. 8.842, que dispõe sobre a Política Nacional do 
Idoso e cria o Conselho Nacional do Idoso, estabelecendo que se considera idosa a pessoa maior 
de 60 anos de idade. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto n. 1.948/96, dispondo sobre a Política 
Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (PNDPI).
Iadya Gama Maio (2013, p. 38) afirma que essa legislação tinha como objetivo assegurar os 
direitos sociais a essa classe de pessoas, criando condições para promover sua autonomia, integra-
ção e participação efetiva na sociedade, mas ainda não a protegia de forma integral.
Podemos indicar, ainda, conforme relaciona Modena (2009), entre as legislações que tratam 
da matéria:
• Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, a LOAS, que dispõe sobre a Organização da 
Assistência Social e que configura a garantia de percebimento de um salário mínimo ao 
idoso com 70 anos ou mais, desde que o mesmo comprove que não possui meios de pro-
ver a própria subsistência e não encontra na família esse amparo.
• Lei n. 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dispõe sobre a prioridade no atendimento 
do idoso, maior de 60 anos, em todos os bancos, órgãos públicos e concessionários de 
serviço público.
• Lei n. 10.173, de 8 de janeiro de 2001, que promoveu significativa mudança no Código 
de Processo Civil, permitindo a prioridade na tramitação de processos judiciais a idosos, 
maiores de 65 anos, em qualquer instância ou tribunal.
Finalmente, o marco legislativo no âmbito nacional foi o Estatuto do Idoso, por meio da san-
ção da Lei n. 10.741, de 2 de outubro de 2003. “O Estatuto do Idoso, não só foi um marco jurídico 
e político importante, como também mostrou ser uma lei amplamente inovadora, ousada e avan-
çada, além de protetiva deste grupo vulnerável” (MAIO, 2013, p. 38), assegurando, com absoluta 
prioridade, vários direitos humanos a eles.
Dentre os direitos assegurados, cumpre citar os direitos: à vida (arts. 8º e 9º); à liberdade, ao 
respeito e à dignidade (art. 10); a alimentos (arts. 11 a 14); à saúde (arts. 15 a 19); à educação, cul-
tura, esporte e lazer (arts. 20 a 25); à profissionalização e ao trabalho(arts. 26 a 28); à previdência 
social (arts. 29 a 32); à assistência social (arts. 33 a 36); à habitação (arts. 37 a 38); e ao transporte 
(arts. 39 a 42).
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 65
Destaca-se o artigo 8º, que estabelece que o envelhecimento é um direito personalíssimo e 
sua proteção é um direito social. Personalíssimo porque é inerente à condição de ser humano, todas 
as pessoas têm esse direito em razão somente de sua natureza. Esse termo também nos remete à 
condição de direito irrenunciável, indisponível, absoluto, entre outras características.
Sobressai, também, o direito à saúde, em relação ao qual é possível verificar as seguintes previsões:
No que tange à saúde, o artigo 15 e seguintes do Estatuto do Idoso estabelecem 
o acesso universal do idoso à saúde plena, garantida pelo Sistema Único de 
Saúde mediante prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde. Prevê 
que planos de saúde não poderão tarifar valores diferenciados em razão da 
idade. Na rede hospitalar, os idosos internados poderão exigir a permanência 
de acompanhantes em tempo integral, podendo o idoso optar pelo tratamento 
mais favorável a sua saúde. Deverá o Estado fornecer a todos medicação gratui-
ta, especialmente as de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros 
recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação. Dá-se prioridade 
ao atendimento para os idosos portadores de deficiência ou limitação incapa-
citante, prevendo critérios mínimos de atendimento às necessidades do idoso, 
bem como a obrigatoriedade de treinamento e capacitação dos profissionais da 
saúde para tratarem com este segmento da população. (SANTIN, 2009, p. 521)
A par de estabelecer um extenso rol de direitos à população idosa, o Estatuto do Idoso tam-
bém instituiu medidas de proteção desses direitos quando estes forem violados ou ameaçados por 
ação ou omissão da sociedade, do Estado, da família, do curador ou entidade de atendimento ou 
até mesmo em razão da condição pessoal do idoso (artigo 43 do Estatuto).
Entre as medidas específicas que podem ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, a legis-
lação prevê, em seu art. 45:
I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospi-
talar ou domiciliar;
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tra-
tamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou 
à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação;
V – abrigo em entidade;
VI – abrigo temporário. (BRASIL, 2003)
O Estatuto também se ocupa da política de atendimento por meio da regulação e do con-
trole das entidades de atendimento ao idoso (arts. 46 a 68); do direito de acesso à justiça (arts. 69 
a 71); de estabelecer expressamente a competência do Ministério Público no âmbito da proteção 
dos direitos dos idosos (arts. 73 a 77); bem como dos crimes vinculados à violação dos direitos dos 
idosos (arts. 93 a 108).
Direitos humanos e relações étnico-raciais66
3.3 Cuidados especiais e combate à violência
Estatisticamente, sabe-se que o número de pessoas idosas cresce de forma 
exponencial:
De acordo com projeções das Nações Unidas (Fundo de Populações), “uma em 
cada 9 pessoas no mundo tem 60 anos ou mais, e estima-se um crescimento 
para 1 em cada 5 por volta de 2050”. [...] Em 2050 pela primeira vez haverá mais 
idosos que crianças menores de 15 anos. Em 2012, 810 milhões de pessoas têm 
60 anos ou mais, constituindo 11,5% da população global. Projeta-se que esse 
número alcance 1 bilhão em menos de dez anos e mais que duplique em 2050, 
alcançando 2 bilhões de pessoas ou 22% da população global”. (BRASIL, 2018, 
p. 1)
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD apud FRASÃO, 
2015), houve aumento da expectativa de vida da população, que passou de 71,2 anos para 74,9 
anos, entre 2003 e 2013. Indicadores da Agência da Saúde definem que
esse crescimento se deve às medidas de combate à desnutrição, redução da 
mortalidade materna e infantil, ampliação do acesso a vacinas e medicamen-
tos gratuitos, melhoria do atendimento às mães e bebês, enfrentamento das 
doenças crônico-degenerativas e das chamadas mortes violentas, entre outras 
medidas promovidas pelo governo federal em parceria com estados e municí-
pios. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD 2013), 
do IBGE, o Brasil possui hoje aproximadamente 26,1 milhões de pessoas idosas, 
número que corresponde a 13% da população total. (FRASÃO, 2015)
O estudo sobre o envelhecimento realizado pela Secretaria Nacional de Promoção e Defesa 
dos Direitos Humanos indica que, no Brasil, há uma feminilização da velhice:
Tabela 1 – Feminilização da velhice
2000 2010 2020
Masculina Feminina Masculina Feminina Masculina Feminina
Proporção de população 
idosa (60 ou mais)
7,8% 9,3% 8,4% 10,5% 11,1% 14,0%
Proporção de população
Grupos de idades
60-64 46,8% 53,2% 46,4% 53,6% 45,6% 54,4%
65-69 45,8% 54,2% 45,2% 54,8% 44,5% 55,5%
70-74 44,8% 55,2% 43,2% 56,8% 42,8 57,2%
75-79 43,9% 56,1% 40,2% 59,8% 39,9% 60,1%
80 ou mais 39,9% 60,1% 34,7% 65,3% 33,8% 66,2%
População Idosa 6.533.784 8.002.245 7.952.773 10.271.470 11.328.144 15.005.250
Fonte: Brasil, 2018, p. 1.
Vídeo
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 67
Esse mesmo estudo indica que, em 20 anos, o número de idosos dobrou (segundo dados do 
IBGE), enquanto a quantidade de crianças, de até quatro anos de idade caiu nos últimos 10 anos:
Gráfico 1 – Envelhecimento no Brasil
Crianças de até 4 anos
Fonte: Pnad/IBGE 
Observação: Dados de 1990 não disponíveis
Fonte: Pnad/IBGE
Idosos com 60 anos ou maisCrianças de até 4 anos Idosos com 60 anos ou mais
milhões de pessoas
1999 2011
16
12
8
4
0
milhões de pessoas
1990 1999 2011
Pnad/IBGE
Fonte: Pnad/IBGE Observação: Dados de 1990
 não disponíveis
24
20
16
12
8
4
0
Crianças de até 4 anos Idosos com 60 anos ou mais
milhões de pessoas
1999 2011
16
12
8
4
0
milhões de pessoas
1990 1999 2011
Pnad/IBGE
Fonte: Pnad/IBGE Observação: Dados de 1990
 não disponíveis
24
20
16
12
8
4
0
1999
16
24
20
16
12
8
4
0
12
8
4
0
2011 1990 1999 2011
milhões de pessoas milhões de pessoas
Fonte: Brasil, 2018, p. 2.
Esses dados só comprovam a necessidade de efetivação dos direitos já estabelecidos, por 
meio de políticas públicas a serem engendradas pelo Estado, a fim de garantir cuidados especiais 
para essa parcela da população.
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República aponta as seguintes políti-
caspúblicas e planos setoriais propostos de forma conjunta com a sociedade nesse tema:
• Política Nacional de Prevenção a Morbimortalidade por Acidentes e Violência (2001);
• Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (2004);
• Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006);
• II Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (2007).
O governo federal implantou, em 2011, o módulo Idoso no Disque Direitos Humanos (DDH 
– 100), sendo que os dados demonstram um crescimento vertiginoso no uso desse instrumento en-
tre os anos de 2011 e 2012 no que tange ao tema dos direitos dos idosos:
Tabela 2 – Uso do Disque Direitos Humanos
Módulo Temático
Janeiro a novembro 
de 2011
Janeiro a novembro 
de 2012
% de aumento
Idoso 7.160 21.404 199%
LGBT 2.537 7.527 197%
Pessoa com deficiência 997 2.830 184%
Outros 1218 2.742 125%
Criança e adolescente 75.464 120.344 59%
População em situação de rua 388 489 26%
Total 87.764 153.336 77%
Fonte: Brasil, 2018, p. 4.
Direitos humanos e relações étnico-raciais68
Entre os tipos de violações registradas pelo DDH – 100 em relação aos idosos, a negligência, 
a violência psicológica, o abuso econômico e financeiro e a violência física são as situações maiscorriqueiras:
Gráfico 2 – Tipos de abuso relatados por idosos
68,7%
59,3%
40,1%
34,0%
1,1%
0,9%
0,8%
0,4%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 0,0% 60,0% 70,0% 80,0%
Negligência
Violência Psicológica
Abuso �nanceiro e econômico /
Violência Patrimonial
Violência Física
Violência Sexual
Violência Institucional
Discriminação
Outras Violações
Fonte: Brasil, 2018, p. 4.
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República elaborou, em 2014, o Manual 
de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa. Esse Manual apresenta dados estatísticos 
alarmantes. Aponta, por exemplo, que em 2011 morreram 24.669 pessoas idosas por acidentes e 
violências no país, significando por dia 68 óbitos:
Entre as pessoas acima de 60 anos, as seis primeiras causas gerais de morte hoje 
no Brasil são: em primeiro lugar, as doenças do aparelho circulatório (35,6%); 
em segundo lugar, as neoplasias ou tumores cancerosos (16,7%); em terceiro, 
as enfermidades respiratórias (14,0%); em quarto, as doenças endócrinas, me-
tabólicas e nutricionais, particularmente as diabetes (7,9%); em quinto, as en-
fermidades do aparelho digestivo (4,7%) e em sexto, as causas externas (3,4%). 
(BRASIL, 2014, p. 45)
Por causas externas o Manual enquadra as “agressões físicas, psicológicas, acidentes e maus-
-tratos que provocam adoecimento ou levam à morte de uma pessoa” (SDH/PR, 2014, p. 39). 
O Manual também apresenta as proporções de óbitos por causas externas:
Gráfico 3 – Proporções de óbitos por causas externas relativas ao óbito geral, 2011, Brasil.
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
%
2,7 2,8 2,6 2,6 2,6 2,7 2,7 2,7 2,8 3,0 2,9 3,0
3,2 3,2 3,4 3,4
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
ANO
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Fonte: Brasil, 2014, p. 45.
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 69
O gráfico apresentado a seguir indica predominância de mortes violentas entre os homens:
Gráfico 4 – Taxa de mortalidade por causas externas em idosos segundo sexo, Brasil – 1995 a 2001.
180,0
160,0
140,0
120,0
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
Ta
xa
 p
or
 1
00
.0
00
 h
ab
. 153 154 151 154
136
147 147 152 160 164 162 148 155 154 162 166
105 105 104 105
92
98 101
105 110 113 114
104
110 110 115 119
64 64 64 63 57 59 63
66 70 71 74 69 73 75 77 81
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
ANO
TOTAL
MASCULINO
FEMININO
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Fonte: Brasil, 2014, p. 47.
O Manual aponta também uma mudança das principais causas de mortes violentas:
Gráfico 5 – Taxa de mortalidade por causas externas específicas em idosos, Brasil – 1996 a 2011.
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Ta
xa
 p
or
 1
00
.0
00
 h
ab
.
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
ANO
1 - Acidentes de transporte
2 - Agressões
3 - Quedas
4 - Demais causas
5 - Lesões autoprovocadas voluntariamente
6 - Eventos cuja intenção é indeterminada
7 - Afogamento e submersão acidentais
6
5
7
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
3
1
4
2
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Ta
xa
 p
or
 1
00
.0
00
 h
ab
.
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
ANO
1 - Acidentes de transporte
2 - Agressões
3 - Quedas
4 - Demais causas
5 - Lesões autoprovocadas voluntariamente
6 - Eventos cuja intenção é indeterminada
7 - Afogamento e submersão acidentais
6
5
7
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
3
1
4
2
Fonte: Brasil, 2016.
O Manual ainda cita que: “Em 2012, foram realizadas 169.673 internações de pessoas idosas 
por violências e acidentes, sendo que 50,9% se deveram a quedas; 19,2% a acidentes de trânsito; 
6,5% a agressões e 0,3% a lesões autoprovocadas, além de outros agravos” (BRASIL, 2014, p. 57).
Desses dados, foram apontados aqueles que utilizaram serviços públicos, sendo que 51.902 
eram mulheres e 34.517 eram homens. Indica o documento que, dentre as internações femininas, 
das causas de internamento,
o fator mais importante foram as quedas, cujos percentuais foram maiores em 
todos os grupos de idade, quando comparados aos homens: nos de 60 a 69 
anos os percentuais quase se assemelham (50,6% contra 49,4%) e a partir daí se 
distanciam: de 70 a 79 anos (56,0% contra 44,0%) e de 80 anos ou mais (63,4% 
contra 36,6%). (BRASIL, 2014, p. 57)
Com base nesses dados, o Plano de Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa pela 
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República mapeou vários tipos de violência 
contra idosos: “As violências contra a pessoa idosa podem ser visíveis ou invisíveis: as visíveis são 
Direitos humanos e relações étnico-raciais70
as mortes e lesões; as invisíveis são aquelas que ocorrem sem machucar o corpo, mas provocam 
sofrimento, desesperança, depressão e medo. A maioria dessas últimas é incontável” (BRASIL, 
2014, p. 37).
Entre os tipos de violência a que estão expostos os idosos, está o abuso econômico-financei-
ro e patrimonial, que vai desde as disputas familiares em relação aos bens dos idosos até dificul-
dades dos próprios familiares em arcar com as despesas geradas com a manutenção do idoso. São 
citadas situações corriqueiras de familiares forçando os idosos a assinarem procurações para que 
lhes deem acesso aos bens patrimoniais, incluindo aqui o confinamento do idoso em um cômodo 
ínfimo enquanto o restante da família usufrui do imóvel de sua propriedade, ou, ainda, o obrigan-
do-o à alienação dos bens. Também é de conhecimento público e notório as situações em que os 
benefícios previdenciários são apropriados indevidamente pelos familiares. Evidentemente, essas 
circunstâncias estão associadas a outras violências (como a psicológica), podendo, ainda, gerar 
situações de maus-tratos e violência física, quando não causar a morte.
Podemos citar, também, abusos físicos, que constituem a forma mais visível de violência, 
caracterizando-se por “empurrões, beliscões, tapas, ou por outros meios mais letais como agressões 
com cintos, objetos caseiros, armas brancas e armas de fogo” (BRASIL, 2014, 39-40). Ao lado dos 
abusos físicos, temos abusos psicológicos, que correspondem “a todas as formas de menosprezo, 
de desprezo e de preconceito e discriminação que trazem como consequência tristeza, isolamento, 
solidão, sofrimento mental e, frequentemente, depressão” (BRASIL, 2014, p. 40).
O Manual ainda aponta atos de violência relacionados a violência sexual, enquadrando tan-
to aqueles voltados ao abuso sexual como aqueles que impedem os idosos de relações amorosas. 
Tem-se também o abandono e a negligência: o abandono pode ser gerado pelos familiares, pelos 
cuidadores e até pelos órgãos públicos. Dentre os atos de negligência, o manual cita ainda os pra-
ticados na área da saúde, como o desleixo e a inoperância dos órgãos de vigilância sanitária em 
relação aos abrigos e clínicas.
Podemos indicar, também, a violência autoinfligida e a autonegligência: nesses casos não é o 
outro que abusa, mas a própria pessoa que se maltrata. O Manual cita, como exemplo de autonegli-
gência, a atitude de se isolar, de não sair de casa e de se recusar a tomar banho, de não se alimentar 
direito e de não tomar os medicamentos, manifestando clara ou indiretamente a vontade de morrer.
Os idosos também estão sujeitos aos abusos econômicos praticados pelo Estado, por enti-
dades particulares e até por criminosos. No primeiro caso, quando são frustrados os benefícios 
previdenciários a que têm direito; no segundo, quando são obrigados a arcar com valores vultosos 
em planos de saúde ou, ainda, quando há negativa do plano na cobertura de determinado trata-
mento. A fragilidade dos idosos os tornam vítimas frequentes de crimes, desde os mais sorrateiros 
(estelionato e furto) até os violentos (roubo). Estão sujeitos, também, ao péssimo atendimento nas 
agências bancárias, lojas, caixas eletrônicos etc.
Há, ainda, outro problema que vitimiza os idosos: a desigualdade social, que resulta na 
chamada violência estrutural. Apenas 25% dos idosos vivem com três salários mínimos ou mais 
(BRASIL, 2014),mesmo sendo as suas necessidades básicas ainda maiores diante da fragilidade de 
sua condição de saúde e de dependência.
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 71
A violência estrutural reúne os aspectos resultantes da desigualdade social, da 
penúria provocada pela pobreza e pela miséria e das discriminações que os 
desprovidos de bens materiais mais sentem. A desigualdade não é privilégio da 
população idosa, pois em geral, os mais pobres o foram durante a vida toda. Mas 
nessa etapa da vida, a indigência ou a falta de recursos materiais castiga mais. 
(BRASIL, 2014, p. 59)
Além disso, os idosos também enfrentam o abandono familiar, passando a viver em 
abrigos ou instituições de longa permanência, onde também são vítimas de abusos, maus-tratos 
e negligências.
Finalmente, está entre as principais causas de violência aquela sofrida no ambiente familiar, 
a chamada violência intrafamiliar.
Pesquisas revelam que cerca de 2/3 dos agressores são filhos, parentes e cônju-
ges. São particularmente relevantes os abusos e negligências que se perpetuam 
por choque de gerações, por problemas de aglomeração de pessoas nas residên-
cias ou por falta condições e de disponibilidade para cuidá-los. A isso se soma, 
em muitas famílias, o peso do imaginário social preconceituoso que concebe as 
pessoas idosas como seres humanos decadentes e descartáveis. (MINAYO, 2005; 
DEBERT, 1999). (BRASIL, 2014, p. 64)
As conclusões, em relação à violência familiar, são aterrorizantes:
Mas é no ponto de vista relacional que a falta de preparação ou os preconceitos e 
as negligências tornam-se mais gritantes. Hoje, já se tem um perfil do abusador 
de idosos. Por ordem de frequência estão em primeiro lugar, os filhos homens 
mais que as filhas; em segundo lugar, as noras e os genros e, em terceiro, o côn-
juge. A caracterização do agressor revela alguns perfis e circunstâncias: (1) ele 
vive na mesma casa que a vítima; (2) é um filho(a) dependente financeiramente 
de seus pais de idade avançada; (3) é um familiar que responde pela manutenção 
do idoso sem renda própria e suficiente; (4) é um abusador de álcool e drogas, 
ou alguém que pune o idoso usuário dessas substâncias; (5) é alguém que se 
vinga do idoso que com ele mantinha vínculos afetivos frouxos, que abandonou 
a família ou foi muito agressivo e violento no passado; (6) é um cuidador com 
problema de isolamento social ou de transtornos mentais. (BRASIL, 2005, p. 18)
Lembrando que esses dados estatísticos decorrem de notícias ou informações que chegam 
aos agentes públicos (hospitais, redes de saúde, delegacias especializadas, Ministério Público etc.), 
sendo evidente que o número deve ser muito maior, pois boa parte das situações de violência 
sequer é levada ao conhecimento da autoridade competente, em especial por medo do abusador.
A violência contra a pessoa idosa pode assumir várias formas e ocorrer em dife-
rentes situações. Por diferentes motivos, entretanto, é impossível dimensioná-la 
em toda a sua abrangência: ela é subdiagnosticada e subnotificada. A Lei 12.461 
de 26 de julho de 2011 que reformula o artigo 19 do Estatuto do Idoso (Lei 
10.741, de 1 de outubro de 2003) ressaltou a obrigatoriedade da notificação dos 
profissionais de saúde, de instituições públicas ou privadas, às autoridades sani-
tárias quando constatarem casos de suspeita ou confirmação de violência contra 
pessoas idosas, bem como a sua comunicação aos seguintes órgãos: Autoridade 
Policial; Ministério Público; Conselho Municipal do Idoso; Conselho Estadual 
do Idoso; Conselho Nacional do Idoso. Falamos, pois, de violências visíveis e 
invisíveis. (BRASIL, 2014, p. 37)
Direitos humanos e relações étnico-raciais72
O Estatuto do Idoso apresenta 14 tipos penais, ou seja, crimes visando à tutela dos direitos 
dos idosos, sendo alguns novos e alguns adaptações de crimes já existentes. A seguir, os crimes 
novos são relacionados:
• ao combate à discriminação (art. 96);
• à punição da negativa por entidades em realizar o acolhimento na tentativa de obrigar a 
outorga de procuração (art. 103);
• à retenção do cartão magnético de conta bancária com o objetivo de recebimento ou res-
sarcimento de dívida (art. 104);
• à exibição ou veiculação de informações ou imagens depreciativas ou injuriosas em rela-
ção à pessoa do idoso (art. 105);
• à indução da pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins 
de administração de bens ou disposição (art. 106);
• ao ato de lavrar ato notarial (ex.: escritura pública de compra e venda de imóvel) que 
envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos e sem a devida representação legal 
(art. 108).
Como mencionado, o Estatuto adaptou outros crimes já existentes para a condição de víti-
ma idosa, por exemplo, no caso de omissão de socorro, prevendo, no artigo 97: “Art. 97. Deixar de 
prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente 
perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, 
nesses casos, o socorro de autoridade pública” (BRASIL, 2003).
Outro exemplo é o disposto no artigo 98, que penaliza a prática do abandono do idoso em 
hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência ou congêneres, assim como a negligên-
cia às suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado.
A figura típica de maus-tratos contra os idosos é disposta no artigo 99:
Art. 99 – Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, 
submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de ali-
mentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a 
trabalho excessivo ou inadequado:
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
§1.° Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§2.° Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 
(BRASIL, 2003)
Além de outros crimes previstos (mas de menor relevância), aponta-se a criação de tipo 
específico de apropriação indébita cuja vítima é idoso: “Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, 
proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua 
finalidade: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa” (BRASIL, 2003).
Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 73
Cita-se, ainda, uma variante do crime de constrangimento ilegal que visa coibir as disputas 
familiares, em especial, em relação ao patrimônio dos idosos: “Art. 107. Coagir, de qualquer modo, 
o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração: Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) 
anos.” (BRASIL, 2003).
O Estatuto realizou outras alterações de relevância no Código Penal para o combate à vio-
lência contra o idoso, segundo apontam Souza e Carboni (2013):
• A substituição da palavra velho por maior de 60 (sessenta) anos nas circunstâncias agra-
vantes da parte geral (art. 61, II, “h”, do Código Penal).
• No homicídio doloso, a pena foi aumentada de 1/3 quando for praticado contra pessoa 
maior de sessenta anos (art. 121, §4º, do Código Penal).
• No crime de abandono de incapaz, criou-se uma causa especial de aumento de pena 
quando a vítima for maior de sessenta anos (art. 133, §3º, III, do Código Penal).
• No crime de injúria, a utilização de elementos referentes à condição de pessoa idosa ou 
portadora de deficiência passou a ser incluída entre aquelas previstas como qualificadoras 
(art. 140, §3º, do Código Penal).
• Os crimes de calúnia e difamação passam a ter sua pena aumentada em 1/3 quando 
cometidos contra pessoa maior de sessenta anos ou portadora de deficiência (art. 141, 
IV, do Código Penal).
• O crime de sequestro e cárcere privado, quando praticado contra pessoa maior de 
sessenta anos, fica apenado com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos (art. 148, §1º, I, 
do Código Penal).
• O crime de extorsão mediante sequestro fica apenado com reclusão de 12 (doze) a 20 
(vinte) anos tambémquando o sequestrado for maior de sessenta anos (art. 159, §1º, do 
Código Penal).
• Os crimes praticados nas circunstâncias do artigo 182 do Código Penal passaram a ser de 
ação penal pública incondicionada, sempre que (praticado sem violência ou grave amea-
ça) seja em detrimento de pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos (artigo 183, 
III, do Código Penal).
• Passa a ser considerado crime deixar de prover a subsistência de pessoa maior de sessenta 
anos (art. 244, do Código Penal).
• Aumenta-se a pena de 1/3 até metade quando a vítima for maior de sessenta 
anos, nas hipóteses de contravenções penais (art. 21, parágrafo único, da Lei de 
Contravenções Penais).
• A pena no crime de tortura fica aumentada de 1/6 até 1/3, se for praticado contra pessoa 
maior de sessenta anos (art. 1º, §4º, II, da Lei n. 9.455/97).
Direitos humanos e relações étnico-raciais74
É claro que o combate à violência contra o idoso não passa somente pelo âmbito da penali-
zação das condutas, muito menos pela efetivação destas penas pelo agente público. Vai muito além! 
São necessárias políticas públicas de atendimento aos direitos humanos dos idosos para evitar que 
eles fiquem em situação de risco, assegurando-lhes os direitos básicos. São indispensáveis ações 
educacionais voltadas à conscientização da população em relação a esses direitos (inclusive dos 
próprios idosos e de seus familiares) e a capacitação dos agentes públicos, tanto no âmbito da saúde 
pública, da assistência social, como de todo o funcionalismo público.
É possível passar horas e horas a tecer comentários em relação às práticas necessárias para a 
efetivação das medidas de respeito aos direitos dos idosos, mas, ao que parece, tudo passa por uma 
reviravolta moral, no restabelecimento de valores morais de proteção da pessoa humana, naquela 
visão de proteção do mais fraco, em especial, de respeito ao próximo e àquele que eventualmente 
já cuidou de você.
Atividades
1. Realize uma pesquisa e disserte sobre a questão do abandono afetivo do idoso, a necessidade 
de previsão legal de obrigações de cuidado dos familiares em relação aos idosos e a imposi-
ção de punições civis e penais em caso de descumprimento dessas disposições.
2. O Brasil já foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por violação dos 
direitos das pessoas com deficiência, tendo esse fato ocorrido em 2006, no caso Damião 
Ximenes Lopes (Acesse em: <www.conectas.org/pt/acoes/sur/edicao/15/1000169-caso- 
damiao-ximenes-lopes-mudancas-e-desafios-apos-a-primeira-condenacao-do-brasil-pela- 
corte-interamericana-de-direitos-humanos>. Acesso em: 7 jun. 2018). Após pesquisa sobre 
a questão, relate o caso e descreva quais os direitos que foram violados.
3. Disserte sobre um dos direitos humanos dos idosos consagrados no Estatuto do Idoso.
4
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT
Gisele Echterhoff
Neste capítulo, iremos abordar a questão do preconceito étnico-racial, de gênero e os direi-
tos LGBT. O estudo se inicia pela noção de igualdade, da extensão e dimensões desse direito, da 
análise do direito internacional e do direito brasileiro, para, posteriormente, examinar especifica-
mente os temas indicados.
O objetivo não é esgotar os assuntos – até porque seria impossível –, mas apenas repassar uma 
noção geral sobre cada um deles e despertar o interesse em relação ao debate sobre a discriminação.
4.1 Preconceito, racismo e desigualdades no Brasil – questões 
étnico-raciais
Antes de começar qualquer análise sobre temas como preconceito, racismo, 
desigualdades e diversidade étnico-racial, devemos iniciar o estudo com o conceito 
de direito à igualdade.
“A igualdade consiste em um atributo de comparação do tratamento 
dado a todos os seres humanos, visando assegurar uma vida digna a to-
dos, sem privilégios odiosos” (RAMOS, 2015, p. 479).
A busca pela igualdade foi o principal objetivo das primeiras declarações de Direitos 
Humanos do século XVIII, como uma resposta aos privilégios de determinada casta ou categoria 
social (nobreza, castas religiosas etc.).
No entanto, a pretensão de igualdade era meramente formal, ou seja, igualdade somente pe-
rante a lei (isonomia), exigindo-se um tratamento idêntico para todas as pessoas submetidas à lei, 
não se reconhecendo a existência de condições desiguais que precisam ser supridas por medidas 
públicas para superar a desigualdade.
Além do mais, o objetivo não era um reconhecimento efetivo de igualdade para todos, pois 
parcela da população ainda se encontrava em condições de desigualdade e sem reconhecimento de 
direitos, como era o caso das mulheres e dos escravos.
André de Carvalho Ramos cita os seguintes exemplos de declarações daquela época:
A primeira Declaração de Direitos dessa época, a Declaração de Virgínia, de 
12 de junho de 1776, reconheceu que todos os homens são, pela sua natureza, 
iguais e todos possuem direitos inatos. A Declaração de Independência dos 
Estados Unidos da América, aprovada no Congresso Continental de 4 de julho 
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais76
de 1776 (data da comemoração da independência dos Estados Unidos), en-
fatizou que ‘todos os homens são criados iguais’. A Declaração Francesa dos 
Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, foi na mesma di-
reção, proclamando que ‘os homens nascem e são livres e iguais em direitos’ 
(art. 1º). A Constituição americana de 1787 não contava com um rol de direitos 
(entendendo-os como de competência dos Estados da Federação), e a igualdade 
não constou da lista de direitos incluídos nas emendas de 1791. A escravidão 
nos Estados Unidos só foi completamente abolida após a Guerra de Secessão 
(1861-1865), conflito no qual morreram quase 620 mil soldados. Em 1868, foi 
incluído o direito de ‘igual proteção da lei’ a todos (Emenda XIV). (RAMOS, 
2015, p. 480)
Com a ascensão do Estado Social, a noção de igualdade ganha uma nova concepção: a de 
igualdade material em complementação à formal, que “busca ainda a erradicação da pobreza e de 
outros fatores de inferiorização que impedem a plena realização das potencialidades do indivíduo. 
A igualdade, nessa fase, vincula-se à vida digna” (RAMOS, 2015, p. 480).
Ramos (2015) afirma que, atualmente, o fundamento do direito à igualdade é a universali-
dade dos direitos humanos, pois este reconhece a todos os seres humanos a titularidade desses di-
reitos, tal qual concebe o artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: “Todos 
os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (ONU, 1948).
Com base nessa noção histórica, podemos passar ao exame das três vertentes do direito à 
igualdade:
a) a igualdade formal, reduzida à fórmula “todos são iguais perante a lei” (que, 
ao seu tempo, foi crucial para abolição de privilégios); b) a igualdade material, 
correspondente ao ideal de justiça social e distributiva (igualdade orientada pelo 
critério socioeconômico); e c) a igualdade material, correspondente ao ideal de 
justiça enquanto reconhecimento de identidades (igualdade orientada pelos 
critérios gênero, orientação sexual, idade, raça, etnia e outros). (PIOVESAN, 
2015, p. 328)
De outro lado, Ramos (2015) cita a existência de duas dimensões da igualdade, a primeira 
que visa à proibição de discriminação indevida, chamada de vedação da discriminação negativa, e a 
segunda que prevê o dever de impor uma determinada discriminação para a obtenção da igualdade 
efetiva, chamada de discriminação positiva (ou ação afirmativa).
Flávia Piovesan (2015) demonstra nitidamente que as duas dimensões são complementares, 
ressaltando que a estratégia repressiva-punitiva – que visa proibir, punir e eliminar a discriminação 
– é medida de urgência, porém, insuficiente, devendo ser complementada pela estratégia promo-
cional, a qual tem por objetivo promover, fomentar e avançar a igualdade.
Assim, exemplifica seu entendimento a autora:
Faz-se necessário combinar a proibição de discriminação com políticas com-
pensatóriasque acelerem a igualdade enquanto processo. Isto é, para assegurar a 
igualdade não basta apenas proibir a discriminação, mediante legislação repres-
siva. São essenciais as estratégias promocionais capazes de estimular a inserção 
e inclusão de grupos socialmente vulneráveis nos espaços sociais. Com efeitos, a 
igualdade e a discriminação pairam sob o binômio inclusão-exclusão. Enquanto 
a igualdade pressupõe formas de inclusão social, a discriminação implica a 
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 77
violenta exclusão e intolerância à diferença e à diversidade. O que se percebe 
é que a proibição da exclusão, em si mesma, não resulta automaticamente na 
inclusão. Logo, não é suficiente proibir a exclusão, quando o que se pretende é 
garantir a igualdade de fato, com a efetiva inclusão social de grupos que sofre-
ram e sofrem um consistente padrão de violência e discriminação.
As ações afirmativas devem ser compreendidas não somente pelo prisma re-
trospectivo – no sentido de aliviar a carga de um passado discriminatório -, mas 
também prospectivo – no sentido de fomentar a transformação social, criando 
uma nova realidade. (PIOVESAN, 2015, p. 331)
Em relação à previsão internacional do direito à igualdade, temos (além do disposto no arti-
go I da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, já citado) os artigos II e VII:
Artigo II
1 – Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades esta-
belecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, 
sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou 
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2 – Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, 
jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer 
se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer 
sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
[...]
Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual pro-
teção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação 
que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discrimina-
ção. (ONU, 1948)
Comentando esses artigos, Piovesan afirma (2015, p. 312):
Portanto, se o primeiro artigo da Declaração afirma o direito à igualdade, o 
segundo artigo adiciona a cláusula da proibição da discriminação de qualquer 
espécie, como corolário e consequência do princípio da igualdade. O binômio 
da igualdade e da não discriminação, assegurado pela Declaração, sob a inspi-
ração da concepção formal de igualdade, impactará a feição de todo sistema 
normativo global de proteção dos direitos humanos.
A par da DUDH, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966 também faz 
expressa referência ao direito à igualdade:
Artigo 2.º
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar e a garantir 
a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a 
sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação 
alguma por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião política ou outra natu-
reza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer 
outra condição.
[...]
Artigo 4.º
1. Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam pro-
clamadas oficialmente, os Estados partes do presente Pacto podem adotar, na 
Direitos humanos e relações étnico-raciais78
estrita medida exigida pela situação, medidas que suspendam as obrigações 
decorrentes do presente Pacto, desde que tais medidas não sejam incompatíveis 
com as demais obrigações que lhes sejam impostas pelo Direito Internacional e 
não acarretem discriminação alguma apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, 
religião ou origem social.
Artigo 26
Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação algu-
ma, a igual proteção da lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma 
de discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra 
qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião 
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, 
nascimento ou qualquer outra situação. (grifos nossos)
Flávia Piovesan ressalta que o Comitê de Direitos Humanos, em sua Recomendação Geral 
18, a respeito do artigo 26 do Pacto, “entende que o princípio da não discriminação é um princípio 
fundamental previsto no próprio Pacto, condição e pressuposto para o pleno exercício dos direitos 
humanos nele enunciados”. Afirma a autora que, “no entender do Comitê, ‘A não discriminação, 
assim como a igualdade perante a lei e a igual proteção da lei sem nenhuma discriminação, consti-
tuem em princípio básico e geral, relacionado à proteção dos direitos humanos’” (2015, p. 312-313).
De forma bastante semelhante é a previsão do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais, de 1966, no seu artigo 2º:
2.º Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a garantir que os 
direitos nele enunciados e exercerão em discriminação alguma por motivo de 
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem 
nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação.
No âmbito da legislação interna – novamente numa análise dos dispositivos gerais em rela-
ção ao direito à igualdade – verificamos que já no preâmbulo da Constituição Federal há expressa 
referência a esse direito:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional 
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-es-
tar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma 
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e 
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das 
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição 
da República Federativa do Brasil. (BRASIL, 1988, grifos nossos)
O artigo 3º da Constituição Federal estabelece, entre os diversos objetivos do Estado brasileiro:
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais 
e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988)
No artigo 5º, caput da Constituição Federal, há o reconhecimento da igualdade como di-
reito fundamental (“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garan-
tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, 
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”), além de, em vários incisos, estabelecer 
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 79
direitos relacionados à igualdade, como o inciso I (“homens e mulheres são iguais em direitos e 
obrigações”), inciso XLI (“a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades 
fundamentais”) e o inciso XLII (“a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, 
sujeito à pena de reclusão”) (BRASIL, 1988).
Além desses dispositivos gerais, há, também, outros específicos em relação ao racismo, à 
discriminação contra a mulher, contra os deficientes, entre outros; porém, estes serão examinados 
quando falarmos especificamente de cada um desses assuntos.
Baseando-se nessa análise geral sobre o direito à igualdade, passemos ao exame das questões 
étnicos-raciais, do preconceito racial.
A sociedade brasileira é bastante plural, sendo constituída de diversos grupos étnico-raciais. 
Esse fator é de extrema relevância para a nossa riqueza cultural; porém, também é um fator que nos 
caracteriza como uma sociedade marcada por grandes desigualdades e discriminações em razão 
dessa diversidade, em especial em relação aos negros e indígenas.De acordo com o Censo de 2010, o Brasil “contava com uma população de 191 milhões de 
habitantes, dos quais 91 milhões se classificaram como brancos (47,7%), 15 milhões como pretos 
(7,6%), 82 milhões como pardos (43,1%), 2 milhões como amarelos (1,1%) e 817 mil indígenas 
(0,4%)” (IBGE, 2011, p. 75-76).
Constatou-se uma diferença em relação ao censo de 2000, pois houve uma redução da pro-
porção de pessoas que se declararam brancas e crescimento das que se declararam pretas, pardas 
ou amarelas (IBGE, 2011).
Gráfico 1 – Distribuição percentual da população residente, segundo cor ou raça – Brasil, 2000-2010.
53,7
%
Branca Preta Parda Amarela Indígena Sem
declaração
47,7
2000
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000/2010.
Nota: Em 2010, foram considerados os resultados da amostra.
6,2 7,6
38,5
43,1
0,5 1,1 0,4 0,4 0,7
0,0
2010
Fonte: IBGE, 2011, p. 76.
Considerando alguns dados mais recentes, a Síntese de Indicadores Sociais de 2015, também 
do IBGE, apresenta os seguintes dados:
Direitos humanos e relações étnico-raciais80
Uma característica relevante para se analisar na população é sua distribuição 
por cor ou raça. No país, em 2014, mais da metade (53,6%) das pessoas se de-
claravam como de cor ou raça preta ou parda, enquanto as que se declaravam 
como brancas foi 45,5%. Em 2004, o cenário era diferente, pouco mais da me-
tade se declarava como branca (51,2%), enquanto a proporção de pretos ou 
pardos era 48,2%. (IBGE, 2015, p. 12)
Embora frequentemente mascarado, o racismo é algo presente em nosso dia a dia, sendo que 
a condição racial ligada à condição socioeconômica faz com que a desigualdade seja ainda mais 
surpreendente e gere constantes violações de direitos humanos.
O brasileiro tem um problema em aceitar a sua condição de racista, mas os números não 
enganam:
Nesse contexto de racismo institucional, que se nutre de uma ideologia persis-
tente e velada em sua origem, mas explícita em seus efeitos, a melhor estratégia 
há de ser o enfrentamento dos indicadores socioeconômicos, quando o racismo 
institucional aparece bem evidenciado:
Finalmente, o levantamento da presença das pessoas negras nos cargos de di-
reção e gerência das 500 maiores empresas do país reforça todas as análises 
anteriores. Em 2003, no nível mais elevado das hierarquias dessas companhias, 
apenas 1,8% dos funcionários era negro. Na esfera intermediária, as pessoas 
negras representavam 13,5% dos supervisores e, em todo o quadro funcional, 
23,4%.Como essas organizações são as que oferecem maiores possibilidades de 
progressão na carreira, pode-se concluir que as mulheres e os homens negros 
não só têm dificuldade de acesso a cargos de decisão no mercado de trabalho 
como enfrentam obstáculos para simplesmente trabalhar nessas companhias, 
que frequentemente oferecem melhores empregos em termos de remuneração, 
proteção e benefícios. (PNDU BRASIL, s.d., p. 51). (SILVA; SOARES FILHO, 
2011, p. 12)
Não é por outra razão que existem tratados internacionais que visam eliminar todas as for-
mas de discriminação para com essa minoria étnico-racial.
Cita-se a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, de 
1965, que, já no preâmbulo, prescreve “que qualquer doutrina de superioridade baseada em dife-
renças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em 
que, não existe justificação para a discriminação racial, em teoria ou na prática, em lugar algum” 
(ONU, 1965).
O art. 1º dessa Convenção define expressamente discriminação racial:
1. Nesta Convenção, a expressão “discriminação racial” significará qualquer dis-
tinção, exclusão restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou 
origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o re-
conhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano, (em igualdade de condição), 
de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político econômico, 
social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida pública. (ONU, 1965)
Piovesan (2015), comentando esse dispositivo, afirma que discriminação significa sempre 
desigualdade. E ressalta a autora que a própria Convenção estabelece a possibilidade de ações afirma-
tivas com vistas a promover sua ascensão na sociedade até um nível de equiparação com os demais:
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 81
4. Não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas 
com o único objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais 
ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser necessária 
para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos 
humanos e liberdades fundamentais, contando que, tais medidas não conduzam, 
em consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos ra-
ciais e não prossigam após terem sidos alcançados os seus objetivos. (ONU, 1965)
De forma sintética, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de 
Discriminação Racial foi subscrita pelo Brasil em 7 de março de 1966 e aprovada pelo Congresso 
Nacional em 21 de julho de 1967, pelo Decreto Legislativo 23/67 (SILVA; SOARES FILHO, 2011). 
Todavia, a declaração facultativa prevista no artigo 14 da convenção somente veio a ser aprovada 
pelo Brasil em 26 de abril de 2002, com o Decreto Legislativo 57/2002, sendo depois promulgada 
em 12 de junho de 2003, por meio do Decreto 4.783/2003.
No âmbito interno, especificamente sobre a questão étnica-racial, há expressa previsão cons-
titucional estabelecendo o racismo como crime inafiançável1 e imprescritível2 (art. 5º, inciso XLII).
Porém, a legislação nacional não passou de práticas legislativas repressivas até bem pouco 
tempo atrás, deixando de lado as políticas promocionais, como bem ressaltam Eliezer Gomes da 
Silva e Almiro Sena Soares Filho:
Nesse longo interregno, de décadas de indiferença do Brasil aos sistemas regio-
nal e internacional de direitos humanos (mesmo após a superação do período 
ditatorial), recusou-se o Brasil (pela demora em firmar as declarações de aceita-
ção de competência) em submeter seu sistema nacional de garantia e proteção 
de direitos humanos aos mecanismos formais de accountability dos fóruns in-
ternacionais. Em tema de promoção da igualdade racial, o Brasil contabilizava, 
até a edição da Lei 12288, em 20 de julho de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial), 
apenas respostas legislativas simbólicas (ainda que o simbolismo tenha lá sua 
importância), mais voltadas à censura e à punição, em tese, da discriminação 
racial explícita, do que a um eficaz engajamento jurídico e político da superação 
da desigualdade racial. [...]
Essas deficiências formais e operacionais do sistema jurídico brasileiro, no que 
tange ao reconhecimento e combate à discriminação racial, já foram minuden-
temente apontadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (do-
ravante CIDH) da OEA, ao aprovar, em 21 de outubro de 2006, o Relatório n. 
66/06, no caso Simone André Diniz [...]. No relatório da Comissão são citados 
[...] entre outros, um estudo – [...]sobre as crônicas imperfeições técnicas das 
sucessivas leis antirraciais brasileiras – e um estudo – [...] sobre os não menos 
crônicos despreparo e insensibilidade dos operadores do sistema jurídico brasi-
leiro em lidar com casos envolvendo alegações de discriminação racial.
[...] ao aprovar o relatório, a CIDH reiterou recomendações ao governo brasi-
leiro, [...] das quais merecem destaque, para os propósitos do presente artigo, 
as Recomendações de n. 5, 7, 8, 10 e 11, relacionadas ao aperfeiçoamento no 
sistema jurídico-penal:
1 Insuscetível de concessão de fiança. “A fiança é um direito subjetivo constitucional do acusado, que lhe permite, 
mediante caução e cumprimento de certas obrigações, conservar sua liberdade até a sentença condenatória irrecorrível” 
(MIRABETE, 2008, p. 415).
2 Que não submete a prazo prescricional.
Direitos humanos e relações étnico-raciais82
5. Realizar asmodificações legislativas e administrativas necessárias para que a 
legislação antirracismo seja efetiva, com o fim de sanar os obstáculos demons-
trados nos parágrafos 78 e 94 do presente relatório;
[...]
7. Adotar e instrumentalizar medidas de educação dos funcionários de justiça e 
da polícia a fim de evitar ações que impliquem discriminação nas investigações, 
no processo ou na condenação civil ou penal das denúncias de discriminação 
racial e racismo;
[...]
8. Organizar Seminários estaduais com representantes do Poder Judiciário, 
Ministério Público e Secretarias de Segurança Pública locais com o objetivo de 
fortalecer a proteção contra a discriminação racial e o racismo;
10. Solicitar aos governos estaduais a criação de delegacias especializadas na 
investigação de crimes de racismo e discriminação racial;
11. Solicitar aos Ministérios Públicos Estaduais a criação de Promotorias 
Públicas Estaduais Especializadas no combate ao racismo e a discriminação 
racial; [...] (SILVA; SOARES FILHO, 2011, p. 4)
Essa perspectiva mudou com a edição da Lei n. 12.288, de 20 de julho de 2010, conheci-
da como Estatuto da Igualdade Racial, que tem por objetivo “garantir à população negra a efeti-
vação da igualdade de oportunidades, a defesa de direitos étnicos e o combate à discriminação” 
(PIOVESAN, 2015, p. 335).
O Estatuto estabelece a possibilidade de adoção de ações afirmativas consistentes em “po-
líticas públicas destinadas a reparar as distorções e desigualdades sociais e demais práticas discri-
minatórias adotadas, nas esferas pública e privada, durante o processo de formação social do país” 
(parágrafo único do art. 4º).
O artigo 42, por exemplo, indica a possibilidade de adoção de critérios para o provimento de 
cargos da administração pública federal e estadual destinados a ampliar a participação de negros. 
Conduta de promoção semelhante à da Lei n. 10.558/2002, chamada Lei de Cotas para o ingresso 
no ensino superior.
O Estatuto assegura vários direitos fundamentais, como saúde, educação, cultura, esporte, 
lazer, liberdade de consciência e de crença, livre exercício dos cultos religiosos, acesso à terra e à 
moradia adequada e ao trabalho. Traz, também, algumas previsões bem específicas, como:
• valorização da herança cultural afrodescendente na história nacional;
• estímulo à participação de afrodescendentes em propagandas, filmes e programas;
• estímulo à adoção de programas de ações afirmativas pelo setor privado;
• programas de ações afirmativas para afrodescendentes e povos indígenas em universida-
des federais.
Além disso, esse Estatuto institui o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial 
(Sinapir) como forma de organização e de articulação voltadas à implementação do conjunto de 
políticas e serviços destinados a superar as desigualdades étnicas existentes no Brasil, prestados 
pelo poder público federal (art. 47).
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 83
4.2 Diversidade religiosa: o direito à liberdade de consciência, 
crença e religião
A liberdade de consciência, conforme André de Carvalho Ramos (2015, p. 
530-531), “consiste no direito de possuir, inovar, expressar ou até desistir de opi-
niões e convicções, assegurando-se o direito de agir em consonância com tais va-
lores”. A liberdade de pensamento inclui a liberdade de consciência; porém, o fato 
de a Constituição expressamente se referir à liberdade de consciência “realça a importância de se 
assegurar a livre formação e exteriorização de convicção e valores” (RAMOS, 2015).
Diretamente correlacionada à liberdade de consciência encontramos a liberdade de crença 
e religião como uma de suas facetas. A liberdade de crença e religião consiste “no direito de adotar 
qualquer crença religiosa ou abandoná-la livremente, bem como praticar seus ritos, cultos e mani-
festar sua fé, sem interferências abusivas” (RAMOS, 2015, p. 532).
Explicando a correlação entre ambos, Ingo Wolfgang Sarlet afirma:
A liberdade de consciência assume, de plano, uma dimensão mais ampla, con-
siderando que as hipóteses de objeção de consciência, apenas para ilustrar com 
um exemplo, abarcam hipóteses que não têm relação direta com opções religio-
sas, de crença e de culto. Bastaria aqui citar o exemplo daqueles que se recusam 
a prestar serviço militar em virtude de sua convicção (não necessariamente 
fundada em razões religiosas) de participar de conflitos armados e eventual-
mente vir a matar alguém. Outro caso, aliás, relativamente frequente, diz com a 
recusa de médicos a praticarem a interrupção da gravidez e determinados pro-
cedimentos, igualmente nem sempre por força de motivação religiosa. Assim, 
amparados na lição de Konrad Hesse, é possível afirmar que a liberdade de 
crença e de confissão religiosa e ideológica aparece como uma manifestação 
particular do direito fundamental mais geral da liberdade de consciência, que, 
por sua vez, não se restringe à liberdade de “formação” da consciência (o foro 
interno), mas abarca a liberdade de “atuação” da consciência, protegendo de tal 
sorte para efeitos externos a decisão fundada na consciência, inclusive quando 
não motivada religiosa ou ideologicamente. (SARLET, 2015, p. 92-93)
Os direitos à liberdade de crença e religião estão enquadrados entre os direitos de 1ª gera-
ção, demandando uma prestação negativa do Estado, um abster-se de qualquer violação (BREGA 
FILHO; ALVES, 2008). Mas devemos ressaltar que a liberdade religiosa também exige ações posi-
tivas do Estado, a fim de garantir o exercício desse direito, como, por exemplo, o previsto no inciso 
VII do artigo 5º da Constituição Federal, que assegura “nos termos da lei, a prestação de assistência 
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva”.
E mais: a liberdade religiosa engloba tanto direitos individuais quanto os coletivos:
pois além dos direitos individuais de ter, não ter, deixar de ter, escolher uma 
religião (entre outras manifestações de caráter individual), existem direitos co-
letivos, cuja titularidade é das Igrejas e organizações religiosas, direitos que di-
zem com a auto-organização, autodeterminação, direito de prestar o ensino e a 
assistência religiosa, entre outros, aspectos que, por sua vez, são relacionados ao 
problema da titularidade e dos destinatários do direito fundamental. (SARLET, 
2015, p. 96-97)
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais84
Embora seja comum usarmos as expressões liberdade de crença e liberdade religiosa como si-
nônimas, José Afonso da Silva indica que existem diferenças entre ambas, embora sejam correlatas. 
O autor sustenta que na liberdade de crença se inclui “a liberdade de escolha da religião, a liberdade 
de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, mas também 
compreende a liberdade de não aderir a religião alguma” (2000, p. 251-256 apud BREGA FILHO; 
ALVES, 2008, p. 3573-3574). Afirma o autor que
a religião não é apenas sentimento sagrado puro. Não se realiza na simples ado-
ração a Deus. Ao contrário, ao lado de um corpo de doutrina, sua característica 
básica se exterioriza na prática dos ritos, no culto, com suas cerimônias, mani-
festações, reuniões, fidelidades aos hábitos, às tradições, na forma indicada pela 
religião escolhida. (SILVA, 2000, p. 251-256)
Ingo Wolfgang Sarlet afirma que a liberdade religiosa desdobra-se na liberdade de crença, 
“faculdade individual de optar por uma religião ou de mudar de religião ou de crença” (2015, p. 
96), e na liberdade de culto, que “guarda relação com a exteriorização da crença”, por meio dos “ri-
tos, cerimônias, locais e outros aspectos essenciais ao exercício da liberdade de religião e de crença” 
(2015, p. 96).
A violação da liberdade religiosa tem origens muito remotas. Não é de hoje que a intolerân-
cia religiosa é motivo para preocupação da sociedade, já passamos por situações em que a religião 
se tornou fundamento para atrocidades, como na época da Inquisição. Infelizmente, em razão de 
questões religiosas, ainda vemosguerras e conflitos civis em várias regiões do mundo, em especial, 
os conflitos entre cristãos e muçulmanos.
Embora o Brasil seja um país com grande variedade cultural e étnica, consequentemente, 
religiosa, tal circunstância, por si só, não é capaz de afastar as graves violações à liberdade religiosa. 
Conforme um artigo publicado pelo Jornal do Senado, de Juliana Steck, o número de denúncias no 
Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República cresceu mais de sete 
vezes em 2012 em relação a 2011 (um aumento de 626%). E não se deve esquecer que estes núme-
ros não representam a real dimensão do problema, fato este reconhecido pela própria Secretária 
de Direitos Humanos, pois “o serviço telefônico gratuito da secretaria não possui um módulo es-
pecífico para receber esse tipo de queixa” (STECK, 2013). Consequentemente, “muitos casos não 
chegam ao conhecimento do poder público. A maior parte das denúncias é apresentada às polícias 
ou órgãos estaduais de proteção dos direitos humanos e não há nenhuma instituição responsável 
por contabilizar os dados nacionais” (STECK, 2013).
A Associação SaferNet demonstra em números que a maioria das agressões são cometidas 
via internet:
Muitas agressões são cometidas pela internet. Segundo a associação SaferNet, 
em 2012, a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos recebeu 
494 denúncias de intolerância religiosa praticadas em perfis do Facebook. 
O mundo virtual reflete a situação do mundo real. De 2006 a 2012, foram 
247.554 denúncias anônimas de páginas e perfis em redes sociais que conti-
nham teor de intolerância religiosa. (STECK, 2013)
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 85
E o artigo do Jornal do Senado ainda divulga dados estatísticos relacionados às restrições 
religiosas no mundo:
Uma pesquisa mundial feita em 2009 e 2010 indicou o aumento da intolerân-
cia religiosa. Segundo o Instituto Pew Research Center, com sede nos Estados 
Unidos, 5,2 bilhões de pessoas (75% da população mundial) vivem em locais 
com restrições a crenças.
No período, passou de 31% para 37% a proporção de países com nível elevado 
ou muito alto de restrições. Entre os países com as maiores restrições governa-
mentais (leis, políticas e ações para limitar práticas religiosas), estavam Egito, 
Indonésia, Arábia Saudita, Afeganistão, China, Rússia e outros que somaram 
6,6 pontos ou mais em um índice de máximo 10. O Brasil aparece, junto com 
Austrália, Japão e Argentina, em nível baixo, entre os países com 0 a 2,3 pontos.
Mesmo nos países com nível moderado ou baixo de restrições, houve aumento 
da intolerância. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve uma proposta – rejei-
tada pela Justiça – de declarar ilegal a lei islâmica. Na Suíça, foi proibida a cons-
trução de novos minaretes (torres em mesquitas). O aumento dessas restrições 
foi atribuído a fatores como crescimento de crimes e violência motivada por 
ódio religioso. (STECK, 2013)
Existem casos emblemáticos dentro do território nacional que demonstram a que nível che-
ga a intolerância religiosa. O Mapa da Intolerância Religiosa, de Marcio Alexandre M. Gualberto 
(2011), cita, por exemplo, casos como o do cartunista Glauco Villas-Boas e seu filho, Roani, em 
que o assassino, Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, afirma expressamente que praticou o crime 
cumprindo um chamado de Deus, referindo-se à Crença do Santo Daime, seita esta adotada pelo 
cartunista, que era fundador da Igreja Céu de Maria.
Esse documento cita, ainda, os ataques comuns às imagens sacras das Igreja católica, como o 
praticado pelo bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Von Helder, que, em 12 de outubro de 
1995, em rede nacional, chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Dentre vários outros casos, o documento cita, também, o suicídio, em novembro de 2010, da 
jovem Larissa Rafaela Kondo de Lima, de 15 anos, em Cafelândia/SP, que havia sido agredida pelos 
pais, evangélicos, para que obedecesse às “regras da igreja e do respeito à família” (GUALBERTO, 
2011, p. 64-65).
Necessário, ainda, apontar o caso da Mãe Gilda, que faleceu logo após ter sua “foto estam-
pada no Jornal Folha Universal em matéria extremamente desrespeitosa às religiões de matriz afro” 
(GUALBERTO, 2011, p. 111-112). O dia da morte da Mãe Gilda, 21 de janeiro, passou a ser consi-
derado o Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa pela Lei n. 11.635/2007.
Sem dúvida, os números e as histórias de violação são assustadores, demonstrando a neces-
sidade de atuações de toda a sociedade em prol da garantia de liberdade religiosa, tanto em âmbito 
internacional como no direito interno.
Em termos internacionais, a Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra expres-
samente a liberdade religiosa:
Direitos humanos e relações étnico-raciais86
Art. 18. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de 
religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, 
assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em 
comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo 
culto e pelos ritos.
Esse documento foi seguido pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966):
Artigo 18
1. Toda pessoa terá direito a liberdade de pensamento, de consciência e de re-
ligião. Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma 
crença de sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença, indivi-
dual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do culto, da 
celebração de ritos, de práticas e do ensino.
2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam restringir 
sua liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crença de sua escolha.
3. A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita apenas à 
limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, 
a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais 
pessoas.
4. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberda-
de dos países e, quando for o caso, dos tutores legais de assegurar a educação 
religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com suas próprias convicções.
No âmbito interamericano, tem-se a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos 
(Pacto São José da Costa Rica), de 1969:
Artigo 12 – Liberdade de consciência e de religião
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito 
implica a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar 
de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua 
religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como 
em privado.
2. Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que possam limitar sua 
liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou 
de crenças.
3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita 
apenas às limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a 
segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades 
das demais pessoas.
4. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus filhos e pupilos 
recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias 
convicções.
Em razão de necessidade evidente, a Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Intolerância e Discriminação fundadas na Religião ou nas Convicções, de 1981, veio dispor espe-
cificamente sobre o assunto:
Artigo 1.º
§1.º Toda pessoa tem o direito de liberdade de pensamento, de consciência 
e de religião. Este direito inclui a liberdade de ter uma religião ou qualquer 
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 87
convicção a sua escolha, assim como a liberdade de manifestar sua religião ou 
suas convicções individuais ou coletivamente, tanto em público como em priva-
do, mediante o culto, a observância, a prática e o ensino.
§2.ºNinguém será objeto de coação capaz de limitar a sua liberdade de ter uma 
religião ou convicções de sua escolha.
§3.º A liberdade de manifestar a própria religião ou as próprias convicções es-
tará sujeita unicamente às limitações prescritas na lei e que sejam necessárias 
para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral pública ou os direitos e 
liberdades fundamentais dos demais.
A Declaração de 1981 exemplifica quais liberdades estariam incluídas no direito à liberdade 
de pensamento, de consciência, de religião ou de convicções (art. 6º):
a) A de praticar o culto e o de celebrar reuniões sobre a religião ou as convic-
ções, e de fundar e manter lugares para esses fins.
b) A de fundar e manter instituições de beneficência ou humanitárias adequadas.
c) A de confeccionar, adquirir e utilizar em quantidade suficiente os artigos e 
materiais necessários para os ritos e costumes de uma religião ou convicção.
d) A de escrever, publicar e difundir publicações pertinentes a essas esferas.
e) A de ensinar a religião ou as convicções em lugares aptos para esses fins.
f) A de solicitar e receber contribuições voluntárias financeiras e de outro tipo 
de particulares e instituições;
g) A de capacitar, nomear, eleger e designar por sucessão os dirigentes que cor-
respondam segundo as necessidades e normas de qualquer religião ou convicção.
h) A de observar dias de descanso e de comemorar festividades e cerimônias de 
acordo com os preceitos de uma religião ou convicção.
i) A de estabelecer e manter comunicações com indivíduos e comunidades so-
bre questões de religião ou convicções no âmbito nacional ou internacional.
Na legislação nacional, a liberdade de consciência, de crença e de religião está expressamente 
prevista na Constituição Federal:
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabi-
lidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes:
[...]
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre 
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais 
de culto e a suas liturgias;
VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas 
entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de 
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação 
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em 
lei; [...]
Direitos humanos e relações étnico-raciais88
Dentre as legislações infraconstitucionais voltadas à garantia da liberdade religiosa, em sen-
tido amplo, podemos citar:
• Lei n. 7.716/89, modificada pela Lei n. 9.459/97, que penaliza a prática de crimes resultantes 
de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional (art. 20).
• Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que reco-
nhece que o ensino terá como base a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a 
cultura, o pensamento, a arte e o saber, bem como garantir o respeito à liberdade e apreço 
à tolerância (art. 3º, inciso IV e II). Essa lei também reconhece o ensino religioso, de ma-
trícula facultativa, como parte integrante da formação básica do cidadão, assegurando a 
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
• Lei n. 11.635/07, que instituiu o dia 21 de janeiro como o “Dia Nacional de Combate à 
Intolerância Religiosa”.
• Lei n. 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial), que, em seus arts. 24 e 26, assegura o 
direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos de 
matriz africana, exigindo atuação estatal para combate à intolerância e à discriminação 
em relação às religiões de matriz africana.
Necessário acrescentar (mesmo que de forma breve) a existência de conflitos entre o direito 
à liberdade religiosa e outros direitos humanos. Podemos citar como exemplo o conflito entre a 
liberdade de expressão e a liberdade religiosa, quando se discute a possibilidade de, fundamentado 
na liberdade de expressão, realizar críticas às religiões e crenças. Claro que a própria Constituição 
Federal reconhece a liberdade de expressão como direito fundamental, porém não é possível que, 
fundamentado em tal garantia, se incorra em manifestações preconceituosas que venham a ofen-
der a honra ou imagem de alguém.
Outro exemplo bastante comum nas discussões relacionadas à liberdade religiosa é o seu 
conflito com o direito à vida e à saúde, no caso das Testemunhas de Jeová, cujo credo proíbe trans-
fusões de sangue.
Várias outras questões podem ser levantadas, como a questão do ensino religioso em escolas 
públicas, as discussões relacionadas às religiões que guardam o sábado e as consequências em rela-
ção à realização de provas de concurso público, à frequência escolar e laboral.
4.3 Equidade de gênero, direitos da mulher e Lei Maria da Penha
Neste item trataremos de outro assunto inquietante quando se fala sobre 
ofensa ao direito à igualdade: a questão da discriminação de gênero e da afronta 
aos direitos das mulheres.
Somente para demonstrar a importância da questão, é necessário trazer à 
tona alguns números: “Até o primeiro semestre de 2012, foram feitos 47.555 re-
gistros de atendimento na Central de Atendimento à Mulher. Durante todo o ano de 2011, foram 
74.984 registros, bem inferior aos 108.491 de 2010” (IBGE, 2012). Esses números foram somente os 
registrados pela Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, que é “um serviço de atendimento 
Vídeo
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 89
telefônico que recebe denúncias de maus-tratos contra as mulheres oferecido pela a Secretaria de 
Políticas para as Mulheres da Presidência da República” (IBGE, 2012).
Especificamente esses registros se referem a vários tipos de violência:
Tabela 1 – Registros de atendimentos da Central de Atendimento à mulher, segundo o tipo de relato – 
Brasil, 2009-2012.
Tipo de relato
Registros de atendimentos da Central 
de Atendimento à Mulher
2009 2010 2011 2012
Total 40857 108 491 74 984 47 555
Violência física – lesão corporal leve, grave e gravíssi-
ma, tentativa de homicídio e homicídio
22 006 63 838 45 953 26 939
Violência psicológica – ameaça, dano emocional, perse-
guições, assédio moral no trabalho
13 555 27 440 17 987 12 941
Violência moral – difamação, calúnia e injúria 3 595 12 608 8 176 5 797
Violência patrimonial 807 1 840 1 227 750
Violência sexual – estupro, exploração sexual e assédio 
no trabalho
576 2 318 1 298 915
Outros tipos de violência 308 447 343 213
Fonte: IBGE, 2012.
Em relação à taxa de homicídios femininos, verificamos números assustadores apresen-
tados no Mapa da Violência 2015 – Homicídio de Mulheres no Brasil, do autor Julio Jacobo 
Waiselfisz. O número de vítimas passou de 1.353 mulheres em 1980, para 4.762 em 2013, um 
aumento de 252%. A taxa, que em 1980 era de 2,3 vítimas por 100 mil, passa para 4,8 em 2013, 
um aumento de 111,1%. Estes são os números apresentados pelo Mapa:
Tabela 2 – Número e taxas (por 100 mil) de homicídio de mulheres – Brasil, 1980-2013.
Ano n. Taxas Ano n. Taxas
1980 1.353 2,3 2001 3.851 4,4
1981 1.487 2,4 2002 3.867 4,4
1982 1.497 2,4 2003 3.937 4,4
1983 1.700 2,7 2004 3.830 4,2
1984 1.736 2,7 2005 3.884 4,2
1985 1.766 2,7 2006 4.022 4,2
1986 1.799 2,7 2007 3.772 3,9
1987 1.935 2,8 2008 4.023 4,2
1988 2.025 2,9 2009 4.260 4,4
1989 2.344 3,3 2010 4.465 4,6
1990 2.585 3,5 2011 4.512 4,6
(Continua)
Direitos humanos e relações étnico-raciais90
Ano n. Taxas Ano n. Taxas
1991 2.727 3,7 2012 4.719 4,8
1992 2.399 3,2 2013 4.762 4,8
1993 2.622 3,4 1980/2013 106.093
1994 2.838 3,6
Δ% 
1980/2006
197,3 87,7
1995 3.325 4,2
Δ% 
2006/2013
18,4 12,5
1996 3.682 4,6
Δ% 
1980/2013
252,0 111,1
1997 3.587 4,4Δ% aa. 
1980/2006
7,6 2,5
1998 3.503 4,3
Δ% aa. 
2006/2013
2,6 1,7
1999 3.536 4,3
Δ% aa. 
1980/2013
7,6 2,3
2000 3.743 4,3
Fonte: WAISELFISZ, 2015, p. 11.
Gráfico 2 – Evolução das taxas de homicídios de mulheres (por 100 mil) – Brasil, 1980-2013.
1980, 2,3 
1996, 4,6 
2003, 4,4
2006, 4,2
2007, 3,9 
2010, 4,6 
2013, 4,8 
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004 2007 2010 2013
Ta
xa
s 
de
 h
om
ic
íd
io
 (
po
r 1
00
 m
il)
 
Fonte: WAISELFISZ, 2015, p. 12.
Importante ressaltar a queda do número de homicídios após a promulgação da Lei Maria da 
Penha (Lei n. 11.340/2006): “no período anterior à Lei o crescimento do número de homicídios de 
mulheres foi de 7,6% ao ano; quando ponderado segundo a população feminina, o crescimento das 
taxas no mesmo período foi de 2,5% ao ano” (WAISELFISZ, 2015, p. 11). Examinando o período 
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 91
após a lei, entre 2006 e 2013, “o crescimento do número desses homicídios cai para 2,6% ao ano e 
o crescimento das taxas cai para 1,7% ao ano” (WAISELFISZ, 2015, p. 11).
Este estudo apresenta uma alarmante comparação do Brasil em relação a outros países:
Com sua taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, o Brasil, num grupo de 
83 países com dados homogêneos, fornecidos pela Organização Mundial da 
Saúde, ocupa uma pouco recomendável 5ª posição, evidenciando que os índices 
locais excedem, em muito, os encontrados na maior parte dos países do mundo.
Efetivamente, só El Salvador, Colômbia, Guatemala (três países latino-america-
nos) e a Federação Russa evidenciam taxas superiores às do Brasil, mas as taxas 
do Brasil são muito superiores às de vários países tidos como civilizados:
• 48 vezes mais homicídios femininos que o Reino Unido;
• 24 vezes mais homicídios femininos que Irlanda ou Dinamarca;
• 16 vezes mais homicídios femininos que Japão ou Escócia.
Esse é um claro indicador que os índices do País são excessivamente elevados. 
(WAISELFISZ, 2015, p. 27)
E não para por aí: o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério 
da Saúde, que registra os atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) no campo das violên-
cias, aponta que, em 2014, foram atendidas 223.796 vítimas de diversos tipos de violência, sendo 
que “duas em cada três dessas vítimas de violência (147.691) foram mulheres que precisaram de 
atenção médica por violências domésticas, sexuais e/ou outras. Isto é: a cada dia de 2014, 405 
mulheres demandaram atendimento em uma unidade de saúde, por alguma violência sofrida” 
(WAISELFISZ, 2015, p. 42).
Ao se identificar quem foi o agressor, constata-se que:
• 82% das agressões a crianças do sexo feminino, de <1 a 11 anos de idade, que 
demandaram atendimento pelo SUS, partiram dos pais – principalmente da 
mãe, que concentra 42,4% das agressões.
• Para as adolescentes, de 12 a 17 anos de idade, o peso das agressões divide-se 
entre os pais (26,5%) e os parceiros ou ex-parceiros (23,2%).
• Para as jovens e as adultas, de 18 a 59 anos de idade, o agressor principal é o 
parceiro ou ex-parceiro, concentrando a metade do todos os casos registrados.
• Já para as idosas, o principal agressor foi um filho (34,9%).
• No conjunto de todas as faixas, vemos que prepondera largamente a violência 
doméstica. Parentes imediatos ou parceiros e ex-parceiros [...] são responsáveis 
por 67,2% do total de atendimentos. (WAISELFISZ, 2015, p. 48)
O estudo ainda indica os tipos de violência, apontando que a violência física é mais frequen-
te, a par da psicológica e sexual:
Direitos humanos e relações étnico-raciais92
Tabela 3 – Número e estrutura (%) de atendimentos de mulheres pelo SUS, segundo tipo de violência e 
etapa do ciclo de vida – Brasil, 2014.
Tipo de 
violência
 Número %
Cr
ia
nç
a
A
do
le
sc
en
te
Jo
ve
m
A
du
lta
Id
os
a
To
ta
l
Cr
ia
nç
a
A
do
le
sc
en
te
Jo
ve
m
A
du
lta
Id
os
a
To
ta
l
Física 6.020 15.611 30.461 40.653 3.684 96.429 22,0 40,9 58,9 57,1 38,2 48,7
Psicológica 4.242 7.190 12.701 18.968 2.384 45.485 15,5 18,9 24,5 26,6 24,7 23,0
Tortura 402 779 1.177 1.704 202 4.264 1,5 2,0 2,3 2,4 2,1 2,2
Sexual 7.920 9.256 3.183 3.044 227 23.630 29,0 24,3 6,2 4,3 2,4 11,9
Tráfico 
humano 20 16 28 30 3 97 0,1 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0
Econômica 115 122 477 1.118 601 2.433 0,4 0,3 0,9 1,6 6,2 1,2
Negligência/
abandono
7.732 2.577 436 593 1.837 13.175 28,3 6,8 0,8 0,8 19,0 6,7
Trabalho 
infantil 140 133 273 0,5 0,3 0,0 0,0 0,0 0,1
Intervenção 
legal 75 94 64 90 29 352 0,3 0,2 0,1 0,1 0,3 0,2
Outras 649 2.359 3.228 4.978 684 11.898 2,4 6,2 6,2 7,0 7,1 6,0
Total 27.315 38.137 51.755 71.178 9.651 198.036 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: WAISELFISZ, 2015 p. 50
Não restam dúvidas da necessidade de combate ao preconceito de gênero e da adoção de 
medidas de promoção dos direitos das mulheres.
No âmbito internacional, as Nações Unidas aprovaram, em 1979, a Convenção sobre a 
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, impulsionada pela proclamação 
de 1975 como o Ano Internacional da Mulher, no México (PIOVESAN, 2015).
Já no artigo 1º, a Convenção estabelece o que significa discriminação contra a mulher:
Artigo 1.º Para fins da presente Convenção, a expressão “discriminação contra 
a mulher” significará toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e 
que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo 
ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na 
igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades funda-
mentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer 
outro campo.
Flávia Piovesan (2015) ressalta que a Convenção se fundamenta na dupla obrigação de eli-
minar a discriminação e de assegurar a igualdade, tratando o princípio da igualdade tanto como 
uma obrigação vinculante, como um objetivo a ser atingido. A autora ressalta, ainda, que, da mes-
ma forma que a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, essa 
Convenção também permite a discriminação positiva, ou seja, por meio da adoção de medidas 
promocionais, além das repressivas, “com vistas a acelerar o processo de igualização de status entre 
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 93
homens e mulheres” (PIOVESAN, 2015, p. 366). Salienta que essas medidas são “compensatórias 
para remediar as desvantagens históricas, aliviando as condições resultantes de um passado discri-
minatório” (PIOVESAN, 2015).
O artigo 18 da Convenção cria a sistemática de relatórios como forma de exame da imple-
mentação pelos Estados-partes dos direitos ali assegurados, o que será realizado pelo Comitê sobre 
a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (art. 17).
No entanto, Piovesan (2015) ressalta que essa Convenção foi o instrumento internacional 
que mais recebeu reservas entre as convenções de direitos humanos, “pois ao menos 23 dos 100 
Estados-partes fizeram, no total, 88 reservas substanciais” (2015, p. 367). Destaca a autora que a 
maioria das reservas se concentrou na cláusula relativa à igualdade entre homens e mulheres na 
família, estando justificada em argumentos de ordem religiosa, cultural ou mesmo legal.
E explica:
Isso reforça o quanto a implementação dos direitos humanos das mulheres está 
condicionada à dicotomia entre os espaços público e privado, que, em muitas 
sociedades, confina a mulher ao espaço exclusivamente doméstico da casa e da 
família. Vale dizer, ainda que se constate, crescentemente, a democratização do 
espaço público, com a participação ativa de mulheres nas mais diversas arenas 
sociais, resta o desafio da democratização do espaço privado – cabendo pon-
derar que tal democratização é fundamental para a própria democratização do 
espaço público. (PIOVESAN, 2015, p. 367)
Por fim, a autora afirma que a Conferência de Direitos Humanos de Viena de 1993 “rea-
firmou a importância do reconhecimento universal do direito à igualdade relativaao gênero, cla-
mando pela ratificação universal da Convenção” (PIOVESAN, 2015, p. 368), cabendo ao Comitê 
continuar a revisar as reservas à Convenção, convidando os Estados-partes a eliminar reservas que 
sejam contrárias aos propósitos da convenção.
O Brasil ratificou a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação 
contra a Mulher em 1º de fevereiro de 1984. Também ratificou, em 1995, em âmbito regional, a 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção 
de Belém do Pará), editada no âmbito da OEA (Organização dos Estados Americanos) em 1994.
Piovesan ressalta que a Convenção de Belém do Pará é o primeiro tratado internacional a 
reconhecer “a violência contra a mulher como um fenômeno generalizado, que alcança, sem dis-
tinção de raça, classe, religião, idade ou qualquer outra condição, um elevado número de mulheres” 
(2015, p. 371).
Já no seu preâmbulo, a Convenção destaca que a violência contra a mulher constitui ofensa 
contra a dignidade humana e representa manifestação das relações de poder historicamente desi-
guais entre mulheres e homens. A Convenção define que violência contra a mulher é “qualquer ato 
ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico 
à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada” (art. 1º).
De acordo com Piovesan (2015), com essa Convenção que surgem valiosas estratégias para 
a proteção internacional dos direitos humanos das mulheres, destacando, especificamente, o 
Direitos humanos e relações étnico-raciais94
mecanismo das petições à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, prevista no artigo 12 
da Convenção.
Na legislação nacional, além das previsões constitucionais – que asseguram a igualdade de 
gênero, tanto como direito fundamental (art. 5º, inciso I) como no âmbito familiar (art. 226, §5º) –, 
temos previsões específicas, como as relacionadas:
• à proibição de discriminação no mercado de trabalho (art. 7º, regulamentado pela Lei 
n. 9.029/95);
• à proteção da mulher no mercado de trabalho mediante incentivos específicos (art. 7º, 
regulamentado pela Lei n. 9.799/1999); e
• ao dever do Estado de coibir a violência no âmbito das relações familiares (art. 226, §8º 
da CF/88).
Contudo, até 2006 o Brasil ainda não contava com uma legislação específica a respeito da 
violência contra a mulher, tendo sido ensejada a ocorrência de um caso emblemático para a pro-
mulgação da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, também denominada Lei Maria da Penha.
Maria da Penha foi vítima de duas tentativas de homicídio praticadas pelo seu companheiro, 
no seu próprio domicílio, em Fortaleza, em 1983, tendo ficado paraplégica aos 38 anos. Após 15 
anos, o réu ainda permanecia em liberdade, em razão da interposição de vários recursos da decisão 
condenatória proferida pelo Tribunal do Júri. Essa situação foi levada à Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos (OEA), por meio de petição conjunta das entidades CEJIL-Brasil (Centro 
para a Justiça e o Direito Internacional) e CLADEM-Brasil (Comitê Latino-Americano e do Caribe 
para a Defesa dos Direitos da Mulher), de modo que, em 2001, a Comissão Interamericana conde-
nou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação à violência doméstica (PIOVESAN, 
2015, p. 384-385). Piovesan ressalta que essa foi “a primeira vez que um caso de violência domés-
tica leva à condenação de um país, no âmbito do sistema interamericano de proteção dos direitos 
humanos” (2015, p. 388).
Cumprindo as recomendações da decisão da Comissão Interamericana, em 31 de outubro 
de 2002, houve a prisão do réu.
Esse caso emblemático deu origem à Lei n. 11.340/2006, que criou mecanismos para coibir 
a violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecendo medidas de prevenção, assistência 
e proteção às mulheres em situação de violência.
Piovesan (2015) destaca sete inovações introduzidas pela Lei Maria da Penha:
• Mudança de paradigma de enfrentamento da violência contra a mulher, pois deixam de 
ser crimes de menor potencial ofensivo, tratados pela Lei n. 9.099/95, passando a ser con-
cebidos como uma violação a direitos humanos, sendo expressamente vedada a aplicação 
da Lei n. 9.099/95.
• Incorporação da perspectiva de gênero para tratar da violência contra a mulher, exi-
gindo o reconhecimento da especial condição das mulheres, com, por exemplo, a cria-
ção dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e de Delegacias de 
Atendimento à Mulher.
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 95
• Incorporação da ótica preventiva, integrada e multidisciplinar, com a criação de medidas de 
prevenção a serem adotadas pela União, estados, Distrito Federal, municípios e entidades 
não governamentais. A legislação também prevê medidas multidisciplinares nas áreas de 
segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação, além de realçar 
a importância da promoção e realização de campanhas educativas para a prevenção da vio-
lência doméstica e familiar.
• Fortalecimento da ótica repressiva ao proibir a aplicação de penas de cesta básica ou outras 
de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique no pagamento 
isolado de multa.
• Harmonização com a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a 
Violência contra a Mulher, de Belém do Pará, criando mecanismos para coibir a violência 
doméstica e familiar, ampliando o conceito de violência contra a mulher, compreendendo 
tal violência como “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, le-
são, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial” (art. 5º da Lei 
n. 11340/2006), que ocorra no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família ou em 
qualquer relação íntima de afeto.
• Consolidação de um conceito ampliado de família e visibilidade ao direito à livre orientação 
sexual, reiterando que não importa a orientação sexual, classe, raça, etnia, renda, cultura, 
nível educacional, idade ou religião: todas as mulheres têm o direito de viver sem violência.
• Estímulo à criação de bancos de dados e estatísticas com informações relevantes, com a 
perspectiva de gênero, raça e etnia, indicando a causa, as consequências e a frequência da 
violência.
A autora conclui que a adoção da Lei Maria da Penha rompeu o silêncio legislativo do Estado 
brasileiro ao reconhecer a violência contra a mulher como um crime, deixando assim de violar as 
obrigações jurídicas contraídas quando da ratificação de tratados internacionais.
Outra modificação legislativa adveio da Lei n. 11.106, de 28 de março de 2005, que revogou 
o inciso VII do artigo 109 do Código Penal, que previa como causa da extinção da punibilidade o 
casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos capítulos I, II e 
III do Título VI da Parte Especial daquele Diploma.
Recentemente, foi sancionada a Lei n. 13.104/2015 (Lei do Feminicídio), que altera o artigo 
121 do Código Penal (para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de 
homicídio) e o art. 1º da Lei n. 8.072/90 (para incluir o feminicídio no rol de crimes hediondos).
4.4 Direitos da população LGBT, enfrentamento e combate ao 
preconceito, à discriminação e à violência
Com base na noção do direito à igualdade e na análise das diversas viola-
ções sofridas por minorias sociais em razão da ofensa a esse direito, não se pode 
deixar de analisar a questão da população LGBT, que é a sigla para Lésbicas, Gays, 
Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais96
Citamos, anteriormente, o posicionamento de André de Carvalho Ramos (2015), que afirma 
que, atualmente, o fundamento do direito à igualdade é a universalidade dos direitos humanos, 
pois esta reconhece a todos os seres humanos a titularidade desses direitos, tal qual concebe o ar-
tigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948: “Todos os sereshumanos nascem 
livres e iguais em dignidade e direitos” (ONU, 1948).
Portanto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos veio “inovar a gramática dos di-
reitos humanos, ao introduzir a concepção contemporânea de direitos humanos, marcada pela 
universalidade e indivisibilidade desses direitos” (PIOVESAN, 2015, p. 442), sob o pressuposto de 
que a condição de ser humano é o único requisito para a titularidade dos mesmos.
O direito à igualdade e a proibição da discriminação foram consagrados não só pela 
Declaração Universal de Direitos Humanos, mas também pelo Pacto Internacional dos Direitos 
Civis e Políticos e pelo Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Assim, 
dispõe o artigo II da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Artigo II
1.º Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades esta-
belecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, 
sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou 
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2.º Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, ju-
rídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se 
trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito 
a qualquer outra limitação de soberania. (ONU, 1948, grifos nossos)
No mesmo sentido, o artigo 2º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de 1966, 
prevê que:
Artigo 2.º
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar e a garantir 
a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua 
jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação algu-
ma por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião política ou outra natureza, 
origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra 
condição. (ONU BRASIL, 1966a, grifos nossos)
E o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, também de 1966, no 
seu artigo 2º, ressalta:
2. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a garantir que os 
direitos nele enunciados e exercerão em discriminação alguma por motivo 
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, ori-
gem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra 
situação. (ONU BRASIL, 1966b, grifos nossos)
Embora não haja expressa referência à orientação sexual nesses documentos, há con-
senso de que a não discriminação e a igualdade decorrente da orientação sexual podem ser 
extraídas das cláusulas gerais, em especial pelas expressões: ou qualquer outra condição e ou 
qualquer outra situação.
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 97
Essa foi a posição adotada pelo Comitê dos Direitos Humanos, em 1994, no caso Toonen 
versus Austrália3, quando sustentou que os Estados estão obrigados a proteger os indivíduos da 
discriminação baseada em orientação sexual (PIOVESAN, 2015). Também foi a posição adotada 
pelo Comitê dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturas, pela Recomendação Geral 20, quando 
observou que a expressão outra situação, constante do artigo 2º do Pacto, inclui orientação se-
xual e “realçou o dever dos Estados-partes de assegurar que a orientação sexual de uma pessoa 
não signifique um obstáculo para a realização dos direitos enunciados no Pacto” (PIOVESAN, 
2015, p. 445).
Em 26 de setembro de 2014, o Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou uma reso-
lução em relação ao tema da orientação sexual e identidade de gênero “com 25 votos a favor, 14 
contra e sete abstenções – na qual expressou ‘grave preocupação’ com atos de violência e discrimi-
nação, em todas as regiões do mundo, cometidos contra indivíduos por causa de sua orientação 
sexual e identidade de gênero” (ONU BRASIL, 2014).
Essa resolução, que teve o Brasil como um dos países que apresentou projeto, “pede ao Alto 
Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) que atualize seu relatório sobre as 
‘leis e práticas discriminatórias e atos de violência contra indivíduos com base em sua orientação 
sexual e gênero identidade’” (ONU BRASIL, 2014). O objetivo da resolução é “‘compartilhar boas 
práticas e maneiras de superar a violência e a discriminação’ na aplicação do direito internacio-
nal dos direitos humanos e das normas existentes”, visando “apresentá-lo ao Conselho de Direitos 
Humanos durante sua vigésima nona sessão” (ONU BRASIL, 2014).
Ainda no âmbito internacional, Piovesan (2015) cita um vasto repertório jurisprudencial 
da Corte Europeia de Direitos Humanos envolvendo a livre orientação sexual. A autora indica 
casos relativos à proibição da criminalização de práticas homossexuais consensuais no final da 
década de 1980. Depois, passa para o exame de casos de discriminação baseados em orienta-
ção sexual no final da década de 1990, em que cita demissões de oficiais das forças armadas 
do Reino Unido em razão das suas orientações sexuais, demonstrando que a Corte Europeia 
reconheceu a violação ao direito e ao respeito à vida privada e à proibição de discriminação da 
Convenção Europeia.
Em seguida, a autora menciona, ainda, casos relativos a reconhecimentos de direitos de 
transexuais no Reino Unido, no âmbito da Corte Europeia de Direitos Humanos, como direito 
à mudança de sexo após a realização de cirurgia, tratamento diferenciado na esfera trabalhista, 
seguridade social, pensão e casamento. Piovesan (2015) examina, também, os casos submetidos à 
Corte em relação à adoção por homossexuais, reconhecendo a possibilidade de adoção por uma 
homossexual solteira, no caso de E. B. versus France4.
No âmbito da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a autora cita o leading case Atala 
Riffo y niñas versus Chile, decidido em 24 de fevereiro de 2012, como sendo o primeiro caso julgado 
3 Sobre o caso Toonen versus Austrália, assista ao vídeo da ONU: ONU prepara estudo inédito sobre violações de direitos 
humanos da comunidade LGBT. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=NUqPo5Oa7Hs>. Acesso em: 7 jun. 2018.
4 Sobre o caso E. B. versus França, consulte o item 6.2 do material disponível no link: <https://eces.revues.org/1658# 
tocto2n13>. Acesso em: 7 jun. 2018.
Direitos humanos e relações étnico-raciais98
pela corte concernente à violação aos direitos da diversidade sexual. Após intenso litigio judicial 
no Chile, a Sra. Atala perdeu a custódia das três filhas para o pai, sob o argumento de que ela não 
poderia manter a custódia por conviver com pessoa do mesmo sexo após o divórcio. “No entender 
unânime da Corte Interamericana, o Chile violou os artigos 1º, parágrafo 1º e 14 da Convenção 
Americana, por afrontar o princípio da igualdade e da proibição da discriminação” (PIOVESAN, 
2015, p. 454).
E conclui sobre esse precedente:
À luz de uma interpretação dinâmica e evolutiva compreendendo a 
Convenção como um living instrument, ressaltou a Corte que a cláusula do 
art. 1.º, parágrafo 1.º, é caraterizada por ser uma cláusula aberta de forma 
a incluir a categoria da orientação sexual, impondo aos Estados a obriga-
ção geral de assegurar o exercício de direitos, sem qualquer discriminação. 
(PIOVESAN, 2015, p. 454)
Após examinar os casos jurisprudenciais no âmbito da Corte Europeia e Interamericana de 
Direitos Humanos, Piovesan ressalta que a evolução histórica do combate à discriminação fundada 
em orientação sexual tem como marco a década de 1990 e seus avanços estão centrados na arena 
jurisprudencial tanto no âmbito global como regional, o que revela “a ausência de um consenso 
normativo global e regional concernente aos direitos da diversidade sexual” (2015, p. 456).
Por outro lado, a autora salienta a importância de se expandir, otimizar e densificar a força 
catalisadora da jurisprudência protetiva global e regional, em especial no que toca ao reconheci-
mento de que a igualdade e a proibição da discriminação constituem cláusulas gerais a abarcar o 
critério de orientação sexual.
Passemos àanálise da questão no Brasil, iniciando pela análise da realidade vivida por essa 
minoria social.
No Relatório de Violência Homofóbica no Brasil, relativo ao ano de 2013, a Secretaria 
Especial de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos 
Humanos, em sua apresentação inicial, relata:
O Brasil vive, atualmente, um movimento contraditório em relação aos direitos 
humanos da população de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis – 
LGBT. Se por um lado conquistamos direitos historicamente resguardados e 
aprofundamos o debate público sobre a existência de outras formas de ser e se 
relacionar, por outro acompanhamos o continuo quadro de violência e discri-
minação que a população LGBT vive cotidianamente.
Vemos que ser LGBT, infelizmente, ainda configura uma situação de risco. 
Violações de direitos são cometidas com frequência e por motivações diversas. 
Porém, frear essas progressões de modo que um LGBT possa sentir cada vez 
mais segurança em ser quem é, é um compromisso a ser firmado. Só será possí-
vel fazer algo frente a essa situação por meio de informações que sejam capazes 
de traduzir essa realidade. Informações estas que este relatório esperar prover e, 
cada vez mais, aprimorar. (BRASIL, 2016, p. 4)
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 99
De acordo com dados colhidos na Ouvidoria do SUS entre 2013 e 2014, dos 40.852 questio-
nários respondidos, 952 pessoas indicaram sua orientação sexual como diferente de heterossexual, 
e, destas, a distribuição por identidade sexual foi a seguinte:
Gráfico 3 – Identidade sexual ou identidade de gênero dos usuários da Ouvidoria SUS, 2013-2014.
44,0%
21,0%
18,0%
13,0%
3,0%
1,0%
Gay Outros Bissexual Lésbica Transexual Trans-bi
Fonte: BRASIL/SEDH, 2016, p. 4.
Esse relatório indica que, em 2013, foram registradas 1965 denúncias pelo Disque Direitos 
Humanos, “de 3.398 violações relacionadas à população LGBT, envolvendo 1.906 vítimas e 2.461 
suspeitos. Em relação a 2012, houve uma queda dos registros ao Disque 100 de 44,1%” (BRASIL, 
2016, p. 11).
Gráfico 4 – Denúncias, por mês em 2013
11,6%
9,6
13,1%
9,6% 9,9%
7,7% 7,8%
6,8% 6,5%
7,1%
5,6%
4,7%
jan. fev. mar. abr. mai. jun. jul. ago. set. out. nov. dez.
Fonte: BRASIL, 2016, p. 11.
O mesmo documento ressalta que a
redução das denúncias não necessariamente tenha como única variável explica-
tiva a não ligação. Variáveis como a falta de manutenção de campanhas de di-
vulgação pelos entes federativos e o alcance restrito desse meio de denúncia que 
possui dificuldades de acessar municípios de menor porte são causas possíveis 
de flutuação na taxa de denúncia. (BRASIL, 2016, p. 10)
Direitos humanos e relações étnico-raciais100
O perfil das violações demonstra que a maioria decorre de violência psicológica, de discri-
minação ou violência física:
Gráfico 5 – Distribuição das violações, por tipo em 2013
40,1%
36,4%
14,4%
3,6%
5,5%
Violência
Psicológica
Discriminação Violência
Física
Negligência Outros
Fonte: BRASIL, 2016, p. 24.
Conforme o relatório, dentro do tipo violência psicológica se enquadram as humilhações 
(36,4%), as hostilizações (32,3%) e as ameaças (16,2%). Já no caso da discriminação, 77,1% decor-
rem de orientação sexual e 15,1% por identidade de gênero. No caso da violência física, 52, 5% do 
total das ocorrências reportadas são lesões corporais, seguido de 36,6% de casos de maus tratos. 
São citadas também as tentativas de homicídios, totalizando “4,1%, com 28 ocorrências, enquanto 
homicídios reportados ao poder público federal contabilizaram 3,8% do total de violências físicas 
denunciadas, com 26 ocorrências” (BRASIL, 2016, p. 26).
O Relatório também traz dados retirados de relatos da mídia sobre violações de direitos 
humanos contra a população LGBT: “Em 2013, foram divulgadas nos principais canais midiáticos 
brasileiros 317 violações contra a população LGBT. Entre as violações noticiadas encontram-se 251 
homicídios” (BRASIL, 2016, p. 30).
Analisando esses dados – porém lembrando inicialmente que eles indicam apenas os que são 
efetivamente formalizados, havendo inúmeros outros casos de violência que sequer são registrados 
e outros tantos que são registrados, mas não como caso de violência homofóbica –, constata-se que 
a violência contra a comunidade LGBT é uma realidade a ser combatida.
Passando para um exame de nossa legislação interna, primeiramente vislumbra-se que a 
nossa Constituição Federal, embora não contenha expressa referência a não discriminação por 
orientação sexual, prevê expressamente o direito à igualdade (art. 5º, caput) e a proibição de qual-
quer forma de discriminação (art. 3º, inciso IV e art. 5º, inciso XLI).
Considerando o princípio da dignidade da pessoa humana e as previsões acima indicadas, 
não há como negar que, numa interpretação principiológica e sistêmica, a nossa Constituição 
Federal proíbe qualquer conduta discriminatória em razão da orientação sexual, assegurando os 
mesmos direitos humanos previstos em seu corpo a toda a comunidade LGBT.
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 101
Não é por outra razão que tanto o Supremo Tribunal Federal (ADIn5 4277 e ADPF6 132) 
como o Superior Tribunal de Justiça (Resp7 1.183.348) reconheceram a união homoafetiva como 
entidade familiar, atribuindo-lhes direitos decorrentes ou da união estável ou do casamento, de-
pendendo do caso.
A evolução no reconhecimento de direitos aos homossexuais tem sido maior no âmbito ju-
risprudencial, seguindo a ótica internacional. Por exemplo, no que tange à adoção, não há previsão 
legislativa reconhecendo essa possibilidade, embora uma interpretação principiológica e sistêmica 
permita tal conclusão; mesmo assim, já verificamos posições jurisprudenciais favoráveis a essa 
hipótese de adoção (exemplo de jurisprudência no STJ: REsp 1.281.093/SP e REsp 889.852/RS).
Com relação às legislações infraconstitucionais, podemos citar:
• Lei n. 9.612/98 – define, no seu artigo 4º, que as emissoras deverão atender em sua pro-
gramação alguns princípios, entre eles, no inciso IV, o da não discriminação por raça, 
sexo, preferências sexuais etc.
• Lei n. 10.2016/2001 – assegura direitos e proteção às pessoas acometidas de transtorno 
mental, sem qualquer discriminação, inclusive por orientação sexual.
• Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) – faz referência expressa à orientação sexual no 
artigo 2º.
• Decreto 4/2010 – institui o dia 17 de maio como Dia Nacional de Combate à Homofobia.
• Lei n. 12.414/2011 – disciplina a formação e consulta a bancos de dados com informações 
de adimplemento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico 
de crédito, proibindo, expressamente, no artigo 3º, §3º, inciso II, anotações de informa-
ções sensíveis, assim consideradas aquelas pertinentes à origem social e étnica, à saúde, à 
informação genética, à orientação sexual e às convicções políticas, religiosas e filosóficas.
• Resolução n. 12 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos 
Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais – visa garantir, pelas instituições e redes 
de ensino, o reconhecimento e a adoção do nome social às pessoas cuja identificação civil 
não reflita adequadamente sua identidade de gênero, mediante solicitação do interessado.
5 ADI significa Ação Direta de Inconstitucionalidade, “ação que tem por finalidade declarar que uma lei ou parte dela é 
inconstitucional, ou seja, contraria a Constituição Federal. A ADI é um dos instrumentos daquilo que os juristas chamam 
de “controle concentrado de constitucionalidade das leis”. Em outras palavras, é a “contestação direta da própria norma 
em tese” (STF. Glossário jurídico. Disponível em: <www.stf.jus.br/portal/glossario/verVerbete.asp?letra=A&id=124>. Aces-
so em: 5 abr. 2016).
6 ADPF significa Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, “é um tipo de ação, ajuizada exclusivamente 
no STF, que tem por objeto evitar ou reparar lesão a preceitofundamental, resultante de ato do Poder Público. Nesse caso, 
diz-se que a ADPF é uma ação autônoma. Entretanto, esse tipo de ação também pode ter natureza equivalente às ADIs, 
podendo questionar a constitucionalidade de uma norma perante a Constituição Federal, mas tal norma deve ser muni-
cipal ou anterior à Constituição vigente (no caso, anterior à de 1988). A ADPF é disciplinada pela Lei Federal 9.882/99” 
(STF. Glossário jurídico. Disponível em: <www.stf.jus.br/portal/glossario/verVerbete.asp?letra=A&id=481>. Acesso em: 
5 abr. 2016).
7 Resp significa Recurso Especial, um “recurso ao Superior Tribunal de Justiça, de caráter excepcional, contra decisões 
de outros tribunais, em única ou última instância, quando houver ofensa à lei federal. Também é usado para pacificar a 
jurisprudência, ou seja, para unificar interpretações divergentes feitas por diferentes tribunais sobre o mesmo assunto. 
Uma decisão judicial poderá ser objeto de recurso especial quando: 1 – contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes 
vigência; 2 – julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face de lei federal; 3 – der à lei federal interpreta-
ção divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal” (STF. Glossário jurídico. Disponível em: <www.stf.jus.br/portal/ 
glossario/verVerbete.asp?letra=R&id=206>. Acesso em: 5 abr. 2016).
Direitos humanos e relações étnico-raciais102
• Resolução do Conselho Federal de Medicina n. 1.955/2010, que dispõe sobre a cirurgia 
de transgenitalismo.
As ações do Poder Executivo em relação ao desenvolvimento de políticas públicas de enfren-
tamento ao preconceito e à discriminação contra a comunidade LGBT são de responsabilidade da 
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), por meio da Coordenação 
Geral de Promoção dos Direitos LGBT e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e 
Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT).
Em maio de 2009, a SDH/PR apresentou o Plano Nacional de Promoção da Cidadania 
e Direitos Humanos de LGBT, como resultado da 1ª Conferência Nacional LGBT, ocorrida em 
Brasília de 5 a 8 de junho de 2008. Esse plano tem como objetivo geral “orientar a construção de 
políticas públicas de inclusão social e de combate às desigualdades para a população LGBT, pri-
mando pela intersetorialidade e transversalidade na proposição e implementação dessas políticas” 
(BRASIL/SEDH, 2009, p. 10). E como objetivos específicos:
3.2.1. Promover os direitos fundamentais da população LGBT brasileira, de 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro-
priedade, dispostos no art. 5.º da Constituição Federal;
3.2.2. Promover os direitos sociais da população LGBT brasileira, especialmente 
das pessoas em situação de risco social e exposição à violência;
3.2.3. Combater o estigma e a discriminação por orientação sexual e identidade 
de gênero.
Embora existam no Brasil vários projetos de leis que visam regulamentar os direitos da co-
munidade LGBT, o objetivo deste capítulo foi examinar os principais aspectos normativos relacio-
nados ao assunto, demonstrando que, embora obrigatório o reconhecimento da proteção desses 
direitos por uma interpretação constitucional, ainda estamos muito aquém do necessário em rela-
ção a medidas legislativas, repressivas e promocionais.
Atividades
1. (ENADE-2015) A paquistanesa Malala Yousafzai, de dezessete anos de idade, ganhou o Prê-
mio Nobel da Paz de 2014, pela defesa do direito de todas as meninas e mulheres de estudar. 
“Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas. A educação é a única solução, a 
educação em primeiro lugar”, afirmou a jovem em seu primeiro pronunciamento público na 
Assembleia de Jovens, na Organização das Nações Unidas (ONU), após o atentado em que 
foi atingida por um tiro ao sair da escola, em 2012. Recuperada, Malala mudou-se para o 
Reino Unido, onde estuda e mantém o ativismo em favor da paz e da igualdade de gêneros.
(Disponível em: <http://mdemulher.abril.com.br>. Acesso em: 18 ago. 2015. Adaptado.)
Com base nessas informações, redija um texto dissertativo sobre o significado da premiação 
de Malala Yousafzai na luta pela igualdade de gêneros.
Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 103
2. (ENADE-2006) Sobre a implantação de “políticas afirmativas” relacionadas à adoção de “sis-
temas de cotas” por meio de Projetos de Lei em tramitação no Congresso Nacional, leia os 
dois textos a seguir.
Texto I
“Representantes do Movimento Negro Socialista entregaram ontem no Congresso um mani-
festo contra a votação dos projetos que propõem o estabelecimento de cotas para negros 
em Universidades Federais e a criação do Estatuto de Igualdade Racial. As duas propostas 
estão prontas para serem votadas na Câmara, mas o movimento quer que os projetos sejam 
retirados da pauta. [...] Entre os integrantes do movimento estava a professora titular de 
Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Yvonne Maggie. ‘É preciso fazer o 
debate. Por isso ter vindo aqui já foi um avanço’, disse.” (Folha de S.Paulo, Cotidiano, 30 jun. 
2006, com adaptação.)
Texto II
“Desde a última quinta-feira, quando um grupo de intelectuais entregou ao Congresso 
Nacional um manifesto contrário à adoção de cotas raciais no Brasil, a polêmica foi reacesa. 
[...] O diretor executivo da Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), 
frei David Raimundo dos Santos, acredita que hoje o quadro do país é injusto com os negros e 
defende a adoção do sistema de cotas.” (Agência Estado-Brasil, 3 jul. 2006.)
Ampliando ainda mais o debate sobre todas essas políticas afirmativas, há também os que ado-
tam a posição de que o critério para cotas nas universidades públicas não deva ser restritivo, 
mas que considere também a condição social dos candidatos ao ingresso.
Analisando a polêmica sobre o sistema de cotas “raciais”, identifique, no atual debate social
• um argumento coerente utilizado por aqueles que o criticam;
• um argumento coerente utilizado por aqueles que o defendem.
3. Disserte sobre o direito à orientação sexual e à adoção por homossexuais.
5
Direitos para todos e combate 
às violações e ao trabalho escravo
Gisele Echterhoff
No decorrer do estudo sobre os direitos humanos, constatamos que a característica mais 
significativa é a universalidade, que demonstra que, na atualidade, o único requisito para ser titular 
de tais direitos é a condição de ser humano.
Por outro lado, foi possível também verificar que, entre as medidas previstas para proteger 
esses direitos, a legislação internacional e nacional prevê não somente medidas repressivas, mas tam-
bém medidas de promoção social. A partir deste capítulo, vamos analisar justamente essas medidas 
de proteção dos direitos humanos e, por fim, passaremos a examinar a questão do trabalho escravo.
5.1 Direitos para todos e políticas públicas
É importante ressaltar, novamente, a condição universal dos direitos hu-
manos, a qual foi expressa e consagrada pela Declaração Universal dos Direitos 
Humanos e pela internacionalização desses direitos.
Os direitos humanos são universais, ou seja, são garantidos a todos os seres 
humanos, independentemente de qualquer condição ou qualidade, seja ela decor-
rente de nacionalidade, seja de raça, orientação sexual, religião etc.
Não se reconhece direitos a uma categoria específica, excluindo outra, como já ocorreu em 
outros tempos, quando era autorizada a escravidão ou, mais recentemente, quando os nazistas só 
reconheciam como sujeitos de direitos aqueles que tinham origem racial ariana.
Sobre a universalização, Ramos leciona:
A universalidade dos direitos humanos consiste na atribuição desses direitos a 
todos os seres humanos, não importando nenhuma outra qualidade adicional, 
como nacionalidade, opção política, orientação sexual, credo, entre outras.
A universalidade possui vinculo indissociável com o processo de internacio-
nalização dos direitos humanos. Atéa consolidação da internacionalização em 
sentido estrito dos direitos humanos, com a formação do Direito Internacional 
dos Direitos Humanos, os direitos dependiam da positivação e proteção do 
Estado Nacional.
Por isso, eram direitos locais.
A barbárie do totalitarismo nazista gerou a ruptura do paradigma da proteção 
nacional dos direitos humanos, cuja insuficiência levou à negação do valor do 
ser humano como fonte essencial do Direito. Para o nazismo, a titularidade de 
direitos dependia da origem racial ariana. Os demais indivíduos não mereciam 
a proteção do Estado. Os direitos humanos, então, não eram universais nem 
ofertados a todos.
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais106
Os números dessa ruptura dos direitos humanos são significativos: foram en-
viados aproximadamente 18 milhões de indivíduos a campos de concentração, 
gerando a morte de 11 milhões deles, sendo 6 milhões de judeus, além de ini-
migos políticos do regime, comunistas, homossexuais, pessoas com deficiência, 
ciganos e outros considerados descartáveis pela máquina de ódio nazista. Como 
sustenta Lafer, a ruptura trazida pela experiência totalitária do nazismo levou a 
inauguração do tudo é possível. Esse “tudo é possível” levou as pessoas a serem 
tratadas, de jure e de facto como supérfluas e descartáveis.
Este legado nazista de exclusão exigiu a reconstrução dos direitos humanos após 
a Segunda Guerra Mundial, sob uma ótima diferenciada: a ótica da proteção 
universal, garantida, subsidiariamente e na falha do Estado, pelo próprio Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. Ficou evidente para os Estados que orga-
nizaram uma nova sociedade internacional ao redor da ONU – Organização 
das Nações Unidas – que a proteção dos direitos humanos não pode ser tida 
como parte do domínio reservado de um Estado, pois as falhas na proteção local 
tinham possibilitado o terror nazista. A soberania dos Estados foi, lentamente, 
sendo reconfigurada, aceitando-se que a proteção de direitos humanos era um 
tema internacional e não meramente um tema da jurisdição local. (RAMOS, 
2015, p. 89-90)
Foi com a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, que a univer-
salidade dos direitos humanos se consagrou. “Para a Declaração Universal a condição de pessoa é 
o requisito único e exclusivo para a titularidade de direitos” (PIOVESAN, 2015, p. 215-216). Essa 
declaração “consolida a afirmação de uma ética universal ao consagrar um consenso sobre valores 
de cunho universal a serem seguidos pelos Estados” (PIOVESAN, 2015, p. 215-216), o que é obser-
vado desde o seu preâmbulo, ao afirmar a consagração da dignidade humana como valor universal.
A proteção desses direitos se dá de duas formas: por meio de medidas repressivas, que visam 
a combater as violações dos direitos humanos, e/ou por meio de medidas da promoção desses di-
reitos, as chamadas ações afirmativas, que têm como medida garantir o amplo acesso e a efetivação 
dos direitos humanos.
A partir deste momento iremos abordar alguns programas de políticas públicas adotados 
pelo governo federal, em especial, com o objetivo de gerar a concretização dos direitos humanos. 
Mas o que são políticas públicas?
Segundo Eduardo Appio, “as políticas públicas podem ser conceituadas como 
instrumentos de execução de programas políticos baseados na intervenção esta-
tal na sociedade com a finalidade de assegurar igualdade de oportunidades aos 
cidadãos, tendo por escopo assegurar as condições materiais de uma existência 
digna a todos os cidadãos”. Continuando, Appio esclarece que “as políticas pú-
blicas no Brasil se desenvolvem em duas frentes, quais sejam, políticas públicas 
de natureza social e de natureza econômica, ambas com um sentido comple-
mentar e uma finalidade comum, qual seja, de impulsionar o desenvolvimento 
da Nação, através da melhoria das condições gerais de vida de todos os cida-
dãos”. (apud GONÇALVES, 2018, p. 5)
Podemos, então, partir de um conceito básico de política pública como programa de ação 
governamental que visa à concretização dos direitos humanos.
Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 107
Nunca é demais ressaltar que a garantia constitucional ou internacional dos direitos huma-
nos de forma expressa, mas apenas representada pela letra fria da lei, é insuficiente enquanto não 
se dá voz e garantia efetiva a esses direitos por meio da ação por parte da administração pública.
De acordo com Ramos (2015), não há como se falar em política pública de promoção dos 
direitos humanos sem relembrar o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), adota-
do pela Presidência da República em cumprimento às proposições da Conferência Mundial de 
Viena de 1993, organizada pela Organização das Nações Unidas, que promulgou a Declaração e 
o Programa de Ação, e estabeleceu, inclusive, o dever dos Estados de adotar planos nacionais de 
direitos humanos.
Ramos (2015) ainda menciona que, em 13 de maio de 1996, foi editado pela Presidência da 
República o Decreto 1.904, que criou o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), que 
tinha como meta realizar um diagnóstico da situação desses direitos no país e medidas para a sua 
defesa e promoção. Esse PNDH foi denominado de PNDH-1 e estava voltado à garantia de prote-
ção dos direitos civis, com especial foco no combate à impunidade e à violência policial.
O PNDH-2, aprovado pelo Decreto 4.229/2002, enfatizou os direitos sociais em sentido am-
plo e os de grupos vulneráveis, como os direitos dos afrodescendentes, dos povos indígenas, de 
orientação sexual, consagrando o multiculturalismo (RAMOS, 2015).
Ramos (2015) menciona também o PNDH-3, que foi aprovado em 2009 e adotou os seguin-
tes eixos orientadores:
1. Interação democrática entre Estado e sociedade civil.
2. Desenvolvimento e direitos humanos.
3. Universalizar direitos em um contexto de desigualdades.
4. Segurança pública, acesso à justiça e combate à violência.
5. Educação e cultura em direitos humanos.
6. Direito à memória e à verdade.
O primeiro eixo, voltado à interação democrática entre Estado e sociedade civil, visa fortale-
cer a democracia participativa, trazendo para a elaboração das políticas públicas a sociedade civil 
como um todo. O Programa assim ressalta a importância desse eixo:
Aperfeiçoar a interlocução entre Estado e sociedade civil depende da imple-
mentação de medidas que garantam à sociedade maior participação no acom-
panhamento e monitoramento das políticas públicas em Direitos Humanos, 
num diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais e deles com o 
Estado. (PNDH-3, 2009, p. 27)
No eixo de desenvolvimento e direitos humanos, o objetivo é correlacionar a ideia de desen-
volvimento sustentável com a proteção dos direitos humanos:
O tema “desenvolvimento” tem sido amplamente debatido por ser um concei-
to complexo e multidisciplinar. Não existe modelo único e preestabelecido de 
desenvolvimento, porém, pressupõe-se que ele deva garantir a livre determina-
ção dos povos, o reconhecimento de soberania sobre seus recursos e riquezas 
Direitos humanos e relações étnico-raciais108
naturais, respeito pleno à sua identidade cultural e a busca de equidade na dis-
tribuição das riquezas.
[...]
Alcançar o desenvolvimento com direitos humanos é capacitar as pessoas e as 
comunidades a exercerem a cidadania, com direitos e responsabilidades. É in-
corporar, nos projetos, a própria população brasileira, por meio de participação 
ativa nas decisões que afetam diretamente suas vidas. É assegurar a transparên-
cia dos grandes projetos de desenvolvimento econômico e mecanismos de com-
pensação para a garantia dos Direitos Humanos das populações diretamente 
atingidas. (PNDH-3, 2009, p. 41-43)
O terceiro eixo, universalizar direitos em um contexto de desigualdades, tem como principal 
objetivo garantir a universalidade dos direitos humanos, assegurando a cidadania plena, comba-
tendo as desigualdades estruturais:
O acesso aos direitos fundamentais continua enfrentandobarreiras estruturais, 
resquícios de um processo histórico, até secular, marcado pelo genocídio indí-
gena, pela escravidão e por períodos ditatoriais, práticas que continuam a ecoar 
em comportamentos, leis e na realidade social.
[...]
Definem-se, neste capítulo, medidas e políticas que devem ser efetivadas para 
reconhecer e proteger os indivíduos como iguais na diferença, ou seja, valorizar 
a diversidade presente na população brasileira para estabelecer acesso igualitá-
rio aos direitos fundamentais. Trata-se de reforçar os programas de governo e 
as resoluções pactuadas nas diversas conferências nacionais temáticas, sempre 
sob o foco dos Direitos Humanos, com a preocupação de assegurar o respeito 
às diferenças e o combate às desigualdades, para o efetivo acesso aos direitos. 
(PNDH-3, 2009, p. 63-64)
O quarto eixo – segurança pública, acesso à justiça e combate à violência – pretende incen-
tivar a democratização e modernização do sistema de segurança pública, garantir o acesso à justiça 
com a garantia e a defesa de direitos, além de, por exemplo, garantir os direitos das vítimas de cri-
mes e a proteção das pessoas ameaçadas:
O PNDH-3 apresenta neste eixo, fundamentalmente, propostas para que o 
Poder Público se aperfeiçoe no desenvolvimento de políticas públicas de pre-
venção ao crime e à violência, reforçando a noção de acesso universal à Justiça 
como direito fundamental, e sustentando que a democracia, os processos de 
participação e transparência, aliados ao uso de ferramentas científicas e à profis-
sionalização das instituições e trabalhadores da segurança, assinalam os roteiros 
mais promissores para que o Brasil possa avançar no caminho da paz pública. 
(PNDH-3, 2009, p. 129-130)
O quinto eixo orientador do PNDH-3 está voltado à educação e cultura em direitos huma-
nos e pretende garantir a promoção da educação em direitos humanos, o acesso à informação para 
a consolidação de uma cultura em direitos humanos:
A educação e a cultura em direitos humanos visam à formação de nova men-
talidade coletiva para o exercício da solidariedade, do respeito às diversidades 
e da tolerância. Como processo sistemático e multidimensional que orienta 
a formação do sujeito de direitos, seu objetivo é combater o preconceito, a 
Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 109
discriminação e a violência, promovendo a adoção de novos valores de liberda-
de, justiça e igualdade. (PNDH-3, 2009, p. 185)
O último eixo orientador está voltado ao direito à memória e à verdade, reconhecendo que:
A investigação do passado é fundamental para a construção da cidadania. 
Estudar o passado, resgatar sua verdade e trazer à tona seus acontecimentos, 
caracterizam forma de transmissão de experiência histórica que é essencial para 
a constituição da memória individual e coletiva.
[...]
A história que não é transmitida de geração a geração torna-se esquecida e si-
lenciada. O silêncio e o esquecimento das barbáries geram graves lacunas na ex-
periência coletiva de construção da identidade nacional. Resgatando a memória 
e a verdade, o País adquire consciência superior sobre sua própria identidade, 
a democracia se fortalece. As tentações totalitárias são neutralizadas e crescem 
as possibilidades de erradicação definitiva de alguns resquícios daquele período 
sombrio, como a tortura, por exemplo, ainda persistente no cotidiano brasileiro. 
(PNDH-3, 2009, p. 207)
O PNDH-3 propõe a atuação conjunta o governo federal, os governos estaduais e munici-
pais e a sociedade civil para a proteção dos direitos humanos. Para sua implementação, foi criado 
o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3, integrado por 21 representantes 
de órgãos do Poder Executivo, presidido pelo Secretário de Direitos Humanos, que designará os 
demais representantes (RAMOS, 2015).
Sobre a importância dos PNDH, disserta Susana Sacavino:
[...] A criação do Programa Nacional de Direitos Humanos inaugurou uma 
nova dinâmica na promoção dos direitos humanos no Brasil colocando am-
bos atores, o governo e a sociedade civil respeitando a mesma gramática de 
proteção de direitos e articulando esforços comuns. A partir desse momento 
o Programa passava a ser um marco referencial para as ações governamentais 
e para toda a sociedade na perspectiva da construção de novos espaços de 
democracia. (SACAVINO, 2008, p. 4)
Dentre os programas de ação governamental podemos citar a Promoção do Registro Civil de 
Nascimento que faz parte da Mobilização Nacional pela Certidão de Nascimento que visa erradicar 
o sub-registro civil de nascimento e ampliar o acesso à documentação.
Segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, tal mobilização 
permite o acesso ao exercício de direitos pela população em situação de pobreza extrema, sendo 
que esse esforço conjunto da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/
PR) apresentou resultados significativos: “a média nacional de crianças sem registro de nascimento 
caiu mais de 50% em cinco anos. O índice era de 20,9% em 2002, recuou para 12,2% em 2007 e caiu 
para 6,6% em 2010. Entre 2009 e 2010 a redução foi de 19,5%, ou seja, uma das maiores da série 
histórica” (SDH/PR, s.d.).
Lembrando que a formalização do registro civil é o início do exercício pleno da cidadania, 
pois é nele que estão anotados todos os dados importantes da pessoa, como nacionalidade, nome, 
filiação, naturalidade etc., e é por meio dele que a pessoa poderá obter os demais documentos civis 
indispensáveis ao exercício de direitos civis (como casamento, registro de óbito, registro dos filhos 
Direitos humanos e relações étnico-raciais110
etc.), econômicos (emitir CTPS, abrir conta bancária etc.) e sociais (obter benefícios previdenciá-
rios, receber certificação escolar etc.).
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República cita, também, programas 
diretamente ligados à promoção dos Direitos Humanos e a Saúde Mental, com o aumento no nú-
mero de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de 148 unidades em 1998 para 1.803 em 2012. 
Ainda houve o aumento no número de Residências Terapêuticas (SRT) de 85 em 2002 para 779 em 
2012. Ainda sobre programas relacionados a Direitos Humanos e Saúde Mental, o site da Secretaria 
de Direitos Humanos aponta o programa “De volta para casa”, cujo número de beneficiários au-
mentou de 206 pessoas em 2003 para 4.085 em 2012, sendo este “um auxílio-reabilitação psicos-
social, para assistência, acompanhamento e integração social, fora das unidades hospitalares, com 
pessoas acometidas de transtornos mentais, com história de longa internação psiquiátrica (dois 
anos ou mais de internação)” (SDH/PR, s.d.).
A Secretaria de Direitos Humanos também menciona os Centros de Referência em 
Direitos Humanos, esclarecendo que “atuam como mecanismos de defesa, promoção e acesso 
à justiça e estimulam o debate sobre cidadania influenciando positivamente na conquista dos 
direitos individuais e coletivos” (SDH/PR, s.d.). A própria Secretaria explica no que consistem 
estes Centros de Referência:
Os Centros de Referência em Direitos Humanos deverão ser uma Casa de 
Direitos, de convivência entre pessoas. Um espaço físico onde são implementa-
das ações que visam à defesa e a promoção dos direitos humanos.
As equipes envolvidas nos Centros de Referência em Direitos Humanos têm 
como ponto de partida, atividades que visam à humanização, à emancipação 
do ser humano, à transformação social, construindo realidades mais justas e 
igualitárias. (SDH/PR, s.d.)
E indica quais são seus objetivos:
– Mobilizar, em torno de uma unidade física baseada no desenho universal de 
acessibilidade, instituições governamentais, não governamentais e particulares 
com o objetivo de gerar conhecimento, propor políticas públicas e desenvol-
ver ações de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos de modo a efetivar o 
Programa Nacional de Direitos Humanos 3 – PNDH 3.
– Desenvolver capacidades, promovendo o empoderamento pertencimento a 
uma comunidade e o exercícioda cidadania.
Os Centros de Referência, ao implementar ações que tem como base a cultura 
dos direitos humanos, como direitos adquiridos que devem ser assegurados 
plenamente na linha de dar condições para que as pessoas, em todas as fases 
da sua vida, possam estar resguardadas e desenvolver suas potencialidades 
humanas e sociais, pretendem levar as pessoas encontrarem projetos de vida, 
visões de mundo, praticar sociabilidades diferentes daquelas apontadas natu-
ralmente pela vida cotidiana. Essas ações devem apontar valores e linguagens 
capazes de atrair àqueles que são o público alvo, para uma realidade marcada 
pela autoestima, pertencimento, dignidade e valorização individual e coletiva. 
(SDH/PR, s.d.)
Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 111
Além de prestar informações sobre direitos e serviços enquanto cidadãos, esses centros também 
prestam serviços de atendimento jurídico, social e psicológico, além de capacitar lideranças locais, agen-
tes públicos e estudantes em assuntos relacionados a direitos humanos, dentre outros serviços.
A Secretaria de Direitos Humanos ainda instituiu, por meio do Decreto 5.174/2004, a 
Coordenação Geral de Educação em Direitos Humanos, que, dentre as várias ações que desen-
volve, estão:
[...] disseminação dos referenciais do Plano Nacional de Educação em Direitos 
Humanos – PNEDH apoio ao funcionamento do Comitê Nacional de Educação 
em Direitos Humanos; execução de Projetos de Cooperação Internacional, 
com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e a Organização das 
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); implanta-
ção de Comitês de Educação em Direitos Humanos nos Estados e Municípios; 
apoio às instituições de educação superior para o desenvolvimento de estudos 
e pesquisa na área da Educação em Direitos Humanos; implantação de Núcleos 
de Estudos e Pesquisas em Educação em Direitos Humanos em Universidades 
e apoio para publicações e produção de materiais relativos à Educação em 
Direitos Humanos; operacionalização do Prêmio Direitos Humanos e do 
Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos. Recentemente, ocupa-se 
sobretudo com a implementação das Diretrizes Nacionais para a Educação em 
Direitos Humanos e com a efetivação da transversalidade da temática em rela-
ção às demais áreas da SDH/PR. (SDH/PR, s.d.)
Até o momento citamos apenas algumas das políticas públicas relacionadas à promoção dos 
direitos humanos; porém, devemos ressaltar outro instrumento de elaboração de políticas públicas, 
os chamados conselhos de direitos, também denominados conselhos de políticas públicas ou conse-
lhos gestores de políticas setoriais (ARZABE, 2001, p. 33). Podemos conceituá-los como “órgãos 
colegiados, permanentes e deliberativos, incumbidos, de modo geral, da formulação, supervisão e 
avaliação das políticas públicas, em âmbito federal, estadual e municipal” (ARZABE, 2001, p. 33).
Esses conselhos contam com a participação de diversos segmentos da sociedade, desde o 
próprio poder público até entidades de classe, associações, clubes de serviço etc., os quais “contri-
buem para o diagnóstico das prioridades do ente público nas áreas correspondentes aos direitos 
sociais, formulando projetos, encaminhando sugestões e requerimentos ao Poder Executivo no 
sentido de que sejam implementados” (GONÇALVES, p. 10).
Patrícia Helena Massa Arzabe afirma que a grande novidade deste instrumento é a gestão 
compartilhada, passando do caráter meramente estatal, para a participação da sociedade civil:
Trata-se de fato de uma nova institucionalidade da perspectiva de sua consti-
tuição, no sentido de configurar um arranjo institucional com feições novas, 
porque eles não são meramente comunitários são distintos dos fóruns con-
gregadores de entidades e associações da sociedade civil e não são meramente 
estatais. E sua novidade é ainda mais significativa pelo caráter compartilhado na 
formulação, gestão, controle e avaliação das políticas públicas. Esta participação 
com igualdade de poderes é inteiramente nova para o Estado, em especial para 
a Administração Pública, habituada à centralização das decisões e pelo uso des-
cabido do argumento do poder discricionário mesmo em matéria de direitos 
humanos, especialmente de direitos sociais. (ARZABE, 2001, p. 34)
Direitos humanos e relações étnico-raciais112
Cita-se, dentre estes conselhos, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente 
– Conanda (Lei n. 8.242/91), o Conselho Nacional de Assistência Social (Lei n. 8.742/93), o 
Conselho Nacional de Saúde (Lei n. 8.142/90) e o Conselho do Idoso (Lei n. 8.842/94).
5.2 Defesa dos direitos humanos e combate às violações
O combate às violações decorre expressamente da proteção do direito à inte-
gridade física e moral que está consagrado expressamente na Declaração Universal 
de Direitos Humanos de 1948, no seu artigo V: “Ninguém será submetido à tortura 
nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”.
A Convenção Americana de Direitos Humanos também dispõe:
Artigo 5º - Direito à integridade pessoal
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e 
moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desu-
manos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com 
o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
[...]
6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma 
e a readaptação social dos condenados.
A par desses dois documentos internacionais, temos também a Convenção contra a Tortura 
e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela ONU em 28 de 
setembro de 1984, que em janeiro de 2014 já contava com 154 Estados-partes (PIOVESAN, 2015). 
A Convenção traz a definição de tortura:
1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tortura” designa qualquer ato 
pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos inten-
cionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, infor-
mações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha 
cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou 
outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer 
natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário 
público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, 
ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura 
as dores ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legíti-
mas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.
Flavia Piovesan afirma que configurar tortura como crime grave contra a ordem interna-
cional justifica-se na medida em que sua prática revela a perversidade do Estado, haja vista que 
“garante de direitos, passa a ter em seus agentes brutais violadores de direitos” (2015, p. 289-290). 
A autora afirma que a definição de tortura envolve três elementos essenciais:
a) a inflição deliberada de dor ou sofrimentos físicos ou mentais; b) a finalidade 
do ato (obtenção de informações ou confissões, aplicação de castigo, intimida-
ção ou coação e qualquer outro motivo baseado em discriminação de qualquer 
natureza); c) a vinculação do agente ou responsável, direta ou indiretamente, 
com o Estado. (PIOVESAN, 2015, p. 289-290)
Vídeo
Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 113
Como sistema de monitoramento, a Convenção estabelece o mecanismo de petições indivi-
duais, os relatórios e as comunicações interestatais, por meio do Comitê contra a Tortura. O Comitê 
tem também o poder de iniciar uma investigação própria, quando recebe informações com indica-
dores da prática de tortura de forma sistemática por determinado Estado-parte (PIOVESAN, 2015).
Ramos (2015) afirma que “a Convenção de 1984 é criticada por ter adotado uma definição 
estrita de tortura, dando a entender que a tortura não pode sercometida por omissão e negligên-
cia” (2015, p. 514). Ele cita ainda a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 
9 de dezembro de 1985, que define tortura no artigo 2º:
Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual 
são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou 
mentais, com fins de investigação criminal, como meio de intimidação, como 
castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro 
fim. Entender-se-á também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de 
métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua ca-
pacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica. 
(RAMOS, 2015, p. 514)
Examinando ambas as convenções, o autor aponta as convergências e divergências entre os 
diplomas internacionais:
Convergências:
a. ambas considerando tortura como sofrimentos físicos e mentais;
b. para fins de investigação penal, intimidação, castigo penal.
Divergências:
a. só a Convenção da ONU exige que a tortura seja feita por agente público ou 
com sua aquiescência;
b. só a Convenção da ONU exige que o sofrimento seja agudo;
c. a Convenção Interamericana tipifica como tortura o ato de imposição de so-
frimento físico e psíquico com ‘qualquer fim’;
d. a Convenção Interamericana admite que pode ser tortura determinada pena 
ou medida preventiva;
e. a Convenção Interamericana criou a ‘figura equiparada’, ou seja, são equipa-
radas a tortura medidas que não infligem dor ou sofrimento, mas diminuem a 
capacidade física ou mental. (RAMOS, 2015, p. 514-515)
No âmbito nacional, a Constituição Federal de 1988 trata especificamente da integridade 
física e moral no artigo 5º, incisos:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
[...]
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a 
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo 
e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os 
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
[...]
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
Direitos humanos e relações étnico-raciais114
A matéria é regulamentada pela Lei n. 9.455/97 que define os crimes de tortura no art. 1º:
Art. 1.º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-
-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de 
terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de 
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma 
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§1.º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de 
segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não 
previsto em lei ou não resultante de medida legal.
§2.º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evi-
tá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
§3.º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclu-
são de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
§4.º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público;
II - se o crime é cometido contra criança, gestante, deficiente e adolescente;
II - se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, 
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
III - se o crime é cometido mediante sequestro.
§5.º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a 
interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
§6.º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
§7.º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará 
o cumprimento da pena em regime fechado.
Ramos (2015) afirma que a Lei n. 9.455/97 é mais próxima da Convenção Interamericana 
para Prevenir e Punir a Tortura, pois é mais geral que a Convenção da ONU, que considera essen-
cial ser a tortura cometida por agente público ou com sua aquiescência.
A Lei n. 9.455/97 prevê expressamente que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de 
graça e anistia, reproduzindo o artigo 5º, XLIII da Constituição Federal.
Ainda no âmbito da legislação infraconstitucional, devemos citar a Lei n. 9.140/95 que re-
conheceu como mortas as pessoas desaparecidas durante a ditadura militar (1964-1985), conce-
deu indenização àqueles que foram vítimas ou familiares das vítimas da ditadura militar e criou a 
Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. E a Lei n. 10.559/02 que regulamentou 
as reparações econômicas para as pessoas que foram afastadas ou demitidas durante a Ditadura 
Militar, por terem se engajado em atividades políticas contrárias ao período. Essa mesma lei criou 
a Comissão de Anistia para reunir e julgar os pedidos de reparação (SDH/PR, s.d.).
Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 115
Dentre as políticas públicas voltadas ao combate à tortura, a Secretaria de Direitos Humanos 
da Presidência da República “realizou a Campanha Nacional Permanente Contra a Tortura em 
parceria com a organização não governamental Movimento Nacional dos Direitos Humanos em 
2002”, bem como “criou a Coordenação-Geral de Combate à Tortura (CGCT) por meio da Portaria 
22 da Secretaria Especial de Direitos Humanos de 22 de fevereiro de 2005” (SDH/PR, s.d.).
Em 2006, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em conjunto com 
especialistas, representantes da sociedade civil e outros representantes do governo federal publicou 
o Plano de Ações Integradas de Prevenção e Combate à Tortura (PAIPCT), que propõe:
(1) a criação, a ampliação e o fortalecimento de comitês estaduais de combate à 
tortura, (2) a formação de agentes para o acompanhamento e a detecção pericial 
de práticas de tortura nos quadros dos governos federal e estadual e na socieda-
de civil organizada, (3) criação de comitês estaduais, (4) criação de corregedo-
rias específicas do Sistema Policial e do Sistema Penitenciário e (5) ampliação e 
aperfeiçoamento das redes e dos serviços de acolhimento a vítimas, entre outras 
ações. (BRASIL, 2006)
A Secretaria de Direitos Humanos indica os seguintes dados estatísticos:
Entre fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012, o Disque Direitos Humanos (100) 
registrou 111.837 denúncias de violações de direitos humanos, sendo 94.394 
(84,4%) denúncias de violações de direitos de crianças e adolescentes, 9.935 
(8,9%) de idosos, 3.764 (3,4%) de pessoas com deficiência, 1.488 (1,3%) denún-
cias de violações contra a população LGBT, 424 (0,4%) população em situação 
de rua e 1.834 (1,6%) relacionadas a Outros Grupos Sociais Vulneráveis.
Ressalta-se que, no módulo “Outros Grupos Sociais Vulneráveis”, registram-se 
denúncias de violações contra comunidades tradicionais quilombolas, indí-
genas, violência policial e denúncias de tortura e maus tratos. É importante 
pontuar que mais de 50% da demanda é relacionada a denúncias de tortura (no 
total, 1.007 denúncias).
Recentemente, em inspeção das prisões no Brasil, o relator da ONU sobre Tortura, Juan 
Méndez”, afirmou que a prática está enraizada no Estado e é generalizada nos presídios brasileiros” 
(CONECTAS, 2013).
Em 2 de agosto de 2013, entrou em vigor a Lei n. 12.847/2013, que instituiu o Sistema 
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, criando o Comitê Nacional de Prevenção e Combate 
à Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, como resultado da assunção 
pelo Brasil da responsabilidade perante a ONU de criar mecanismos de prevenção à tortura.
Esse Sistema vincula três órgãos (o Conselho Nacionalde Política Criminal e Penitenciária 
e o Depen, ambos ligados ao Ministério da Justiça, e o Comitê Nacional de Prevenção e Combate 
à Tortura da Secretaria de Direitos Humanos) e cria um novo órgão, o Mecanismo Nacional de 
Prevenção e Combate à Tortura. Esse novo órgão é “responsável por fazer visitas a locais de priva-
ção de liberdade, solicitar a instauração de inquéritos, fazer perícias, elaborar relatórios, sistemati-
zar dados e sugerir políticas públicas” (CONECTAS, 2013).
Como uma das condutas mais significativas para combate à tortura no Brasil temos a cria-
ção da Comissão Nacional da Verdade, por meio da Lei 12.528/2011 e instituída em 16 de maio 
Direitos humanos e relações étnico-raciais116
de 2012, a qual tem por finalidade examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos 
praticadas no período entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. Entre os objetivos da 
Comissão Nacional da Verdade, o artigo 3º, inciso II, da Lei n.12.528/2011 indica “promover o es-
clarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação 
de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior”.
O relatório final da CNV, entregue em 10 de dezembro de 2014 à Presidente Dilma Rousseff, 
indica 434 mortes e desaparecimentos de vítimas; entre estas, 210 são desaparecidas. O texto indica 
que esses números decorreram da “prática sistemática de detenções ilegais e arbitrárias e de tortu-
ra, assim como o cometimento de execuções, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres 
por agentes do Estado brasileiro” (CANES, 2014).
Conforme a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o combate às vio-
lações também engloba outras questões que não somente o combate à tortura, incluindo, a prote-
ção das vítimas e testemunhas de crimes, a proteção da população em situação de rua e a proteção 
aos defensores dos direitos humanos.
5.3 Combate ao trabalho escravo
Embora desde 1888 se possa afirmar que nosso país está livre da escravatura, 
com a assinatura da Lei da Abolição da Escravatura pela Princesa Isabel, não se 
pode afirmar que a exploração do trabalho escravo se extinguiu no exato momento 
da assinatura dessa lei, pois até hoje há notícias da violação das leis trabalhistas e da 
necessidade de combate a qualquer forma de escravidão.
De acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência Social:
Considera-se trabalho realizado em condição análoga à de escravo a que resulte 
das seguintes situações, quer em conjunto, quer isoladamente: a submissão de 
trabalhador a trabalhos forçados; a submissão de trabalhador a jornada exausti-
va; a sujeição de trabalhador a condições degradantes de trabalho; a restrição da 
locomoção do trabalhador, seja em razão de dívida contraída, seja por meio do 
cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, 
ou por qualquer outro meio com o fim de retê-lo no local de trabalho; a vigi-
lância ostensiva no local de trabalho por parte do empregador ou seu preposto, 
com o fim de retê-lo no local de trabalho; a posse de documentos ou objetos 
pessoais do trabalhador, por parte do empregador ou seu preposto, com o fim 
de retê-lo no local de trabalho. (BRASIL, 2015)
A questão do trabalho escravo é uma realidade evidente da nossa sociedade, e o Disque 100 
– Direitos Humanos indica que ainda é uma violação constante nos dias atuais, conforme dados a 
seguir apontados:
Vídeo
Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 117
Tabela 1 – Disque 100 – Ano 2011 – Denúncias de trabalho escravo, por grupo vulnerável e violação.
Violação
Crianças e 
adolescentes
Outros
Pessoa 
idosa
Pessoas com 
deficiência
População em 
situação de rua
Total
Aprisionamento 
do trabalhador
2 2 3 7
Condições 
degradantes de 
trabalho
3 7 8 8 3 29
Jornada 
excessiva de 
trabalho
10 5 6 8 1 30
Outros 6 2 1 8 17
Retenção de 
salários
3 8 14 8 2 35
Total 24 24 32 32 6 118
Fonte: BRASIL, 2011/2012.
Tabela 2 – Disque 100 – Ano 2012 – Denúncias de trabalho escravo, por grupo vulnerável e violação
Violação
Crianças e 
adolescentes
LGBT Outros
Pessoa 
idosa
Pessoas com 
deficiência
População em 
situação de rua
Total
Aprisionamento 
do trabalhador
3 8 6 3 20
Condições 
degradantes de 
trabalho
16 2 17 20 16 1 72
Jornada 
excessiva de 
trabalho
38 3 17 26 15 1 100
Outros 13 4 3 10 30
Retenção de 
salários
8 15 20 16 59
Total 78 5 61 75 60 2 281
Fonte: BRASIL, 2011/2012.
Esse é um problema de reconhecido interesse internacional: “em 1926, foi assinado o primei-
ro tratado internacional proibindo a escravidão, firmado pela Liga das Nações Unidas. Em 1956, 
foi instituída a Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos 
e das Instituições e Práticas Análogas à Condição de Escravo” (DELGADO; NOGUEIRA; RIOS, 
2008, p. 2.986-2.987).
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) também instituiu convenções visando erra-
dicar o trabalho escravo no mundo. Entre elas, citamos a Convenção 29, denominada Convenção 
sobre o Trabalho Forçado ou Obrigatório, aprovada na 14ª reunião da Conferência Internacional do 
Trabalho (Genebra, 1930), a qual entrou em vigor no plano internacional em 1º de maio de 1932.
Direitos humanos e relações étnico-raciais118
Temos, ainda, a Convenção 105, denominada Abolição do Trabalho Escravo, aprovada na 
40ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho (Genebra, 1957), a qual entrou em vigor no 
plano internacional em 17 de janeiro de 1959.
Em 1998, “a OIT definiu, na 86ª sessão da Conferência Internacional do Trabalho, alguns 
princípios e condutas que devem ser adotadas por todos os países, independentemente da ratifi-
cação de suas convenções”, definindo, entre outros, a obrigatoriedade de eliminação de todas as 
formas de trabalho forçado e obrigatório (DELGADO; NOGUEIRA; RIOS, 2008, p. 2.987).
Não é diferente a posição da Declaração Universal de Direitos Humanos, em seu artigo 5º, 
afirmando que “ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de es-
cravos serão proibidos em todas as suas formas” (ONU, 1948).
No âmbito nacional, partimos da análise das normas constitucionais:
Art. 5.º [...]
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante;
[...]
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei estabelecer;
[...]
XLVII - não haverá penas:
[...]
c) de trabalhos forçados; (BRASIL, 1988)
Seguindo essa orientação constitucional de proibição de trabalhos forçados, a Consolidação 
das Leis do Trabalho também regulamenta a questão, como bem esclarecem Delgado, Nogueira 
e Rios:
A Consolidação das Leis do Trabalho também proíbe a fixação de condições 
degradantes de trabalho ao estabelecer multa ao empregador que mantiver em-
pregado não registrado (art.47) ou que não identificá-lo por meio da assinatura 
da Carteira de Trabalho e Previdência Social (art. 55). Ainda impõe a fixação 
de multa quando o empregador infringir qualquer dispositivo concernente ao 
salário mínimo (art. 120), à jornada de trabalho (art.75) e às férias anuais remu-
neradas (art. 153). (2008, p. 2.988)
O Código Penal (Lei n. 2.848/1940) também regulamenta a questão, prevendo como crime a 
redução de alguém à condição análoga à de escravo (art. 149), além de também criminalizar quem 
atentar contra a liberdade de trabalho (art. 197), frustrar direito assegurado por lei trabalhista (art. 
203) ou aliciar trabalhadores de um local para outro do território nacional1 (art. 207) (DELGADO; 
NOGUEIRA; RIOS, 2008).
A par das previsões de combate ao trabalho escravo, não podemos negar que a nossa legis-
lação reconhece o direito fundamental a um trabalho digno, por uma interpretação do princípio 
1 Aliciar, nesse caso, significa seduzir, convencer, atrair trabalhadores para que exerçam labor em outro local do ter-
ritório nacional.
Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo119
da dignidade da pessoa humana (art. 3º, inciso III da CF/88), seja por meio de um exame mais 
específico do art. 6º da CF/88, que reconhece o trabalho como direito social.
Nesse sentido está a doutrina de Darléa Carine Palma e Elizabete Geremias:
O trabalho foi adquirindo o status de instrumento de concretização da dignida-
de da pessoa humana ao longo de sua própria história, até atingir, nos tempos 
atuais, a natureza de direito fundamental social do cidadão brasileiro, nos ter-
mos do artigo 6º, da Constituição da República.
O princípio da dignidade humana, também insculpido constitucionalmente, 
possui, por sua vez, inquestionável força normativa, configurando-se num re-
gulador de todas as relações intersubjetivas disciplinadas pelo Direito, nota-
damente em âmbito trabalhista. Verifica-se, assim, que, sendo a dignidade da 
pessoa humana um princípio geral do Direito, deve ser fonte inesgotável à qual 
deve recorrer todo legislador e operador do Direito nos processos de elabora-
ção, aplicação e integração do ordenamento jurídico.
No Direito do Trabalho, como corolário dessa norma-princípio fundamental, as 
relações jurídico-trabalhistas devem sempre preservar e resguardar a dignida-
de do trabalhador – até porque o trabalho digno é, indiscutivelmente, um dos 
principais instrumentos de solidificação da dignidade do ser humano. Todavia, 
não são raros, infelizmente, no cotidiano, os vários exemplos de afronta a esse 
princípio geral fundamental, como acontece nos casos de trabalho escravo.
O constituinte, ao erigir a dignidade da pessoa humana a fundamento da 
República Federativa do Brasil, buscou, na verdade, enfatizar que os pilares do 
Estado Democrático de Direito se apoiam nessa noção. Dessa maneira, a dig-
nidade, enquanto bem jurídico inerente à própria condição humana, revela-se 
inestimável objeto de tutela do intérprete e aplicador do Direito do Trabalho. 
Por isso, o direito ao labor deve ser entendido como o direito ao trabalho em 
condições decentes, de forma a assegurar a valorização social do próprio traba-
lho, assim como o efetivo respeito à dignidade da pessoa humana do trabalha-
dor. (2015, p. 238-239)
Portanto, nesse contexto do reconhecimento do direito fundamental ao trabalho digno, da 
necessidade de se combater o trabalho escravo, exigível se faz a adoção de medidas para a imple-
mentação e efetividade desse direito, além de medidas repressivas e fiscalizatórias.
A própria Consolidação das Leis do Trabalho regulamenta a atuação do Ministério Público 
do Trabalho e Emprego, em sua atuação preventiva e repressiva, fiscalizando o fiel cumprimento 
das normas de proteção ao trabalho (art. 626).
A Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República criou, em 31 de julho de 
2003, a Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), presidida pelo 
Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, e 
“tem como objetivo coordenar e avaliar a implementação das ações previstas no Plano Nacional 
para a Erradicação do Trabalho Escravo”, além de “acompanhar a tramitação de projetos de lei no 
Congresso Nacional e avaliar a proposição de estudos e pesquisas sobre o trabalho escravo no país” 
(SDH-PR).
A Conatrae produziu o 2º Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (2º 
PNETE), lançado em 2008, como atualização do 1º PNETE, aprovado em 2003, sendo referência 
nacional para o enfrentamento e a erradicação do trabalho escravo no país.
Direitos humanos e relações étnico-raciais120
Darléa Carine Palma e Elizabete Geremias (2015) afirmam que o Plano Nacional para a 
Erradicação do Trabalho Escravo tem como objetivo traçar ações gerais de melhoria na estrutura 
administrativa do grupo de fiscalização móvel, da ação policial, do Ministério Público Federal e do 
Ministério Público do Trabalho, ações específicas de promoção da cidadania e combate à impuni-
dade além de ações específicas de conscientização, capacitação e sensibilização.
O Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) foi criado em 1995 e se constitui em um 
dos principais instrumentos do governo federal para reprimir o trabalho escravo. É composto por 
auditores-fiscais do trabalho, com a presença de membros do Ministério Público do Trabalho, da 
Polícia Federal e, em alguns casos, da Polícia Rodoviária Federal.
Maria da Conceição Maia Pereira afirma que essa “composição interinstitucional objetiva 
dificultar ingerências e corrupção, uma vez que os integrantes dos diversos órgãos sempre atuam 
juntos”. Aduz, também, que “com essa composição, os GEFMs reúnem as competências necessárias 
para que a fiscalização realizada acarrete para o infrator consequências nas esferas administrativa, 
trabalhista e criminal” (PEREIRA, 2015, p. 564).
O Ministério do Trabalho e Emprego e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência 
da República, por intermédio da Conatrae e por meio da Portaria Interministerial 2, de 31 de 
maio de 2015 (que revogou a Portaria Interministerial 2, de 12 de maio de 2011), criaram o 
Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de es-
cravo, conhecida como Lista Suja, disciplinando os meios de inclusão e de exclusão dos nomes 
dos infratores no Cadastro. Seguindo esse parâmetro, o ministro da Integração Nacional, por 
meio da Portaria 1.150/2003, no seu artigo 2º, recomenda aos agentes financeiros que se abs-
tenham de conceder financiamentos para as pessoas físicas e jurídicas que venham a figurar 
no Cadastro de Empregadores que tenham mantido trabalhadores em condições análogas à de 
escravo (PEREIRA, 2015).
Outra ação prevista no Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (PNETE) 
era a busca pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 57A/99, pelo Senado 
Federal, conhecida como PEC do Trabalho Escravo, que previa “a expropriação de todas as pro-
priedades onde forem encontrados trabalhadores reduzidos à condição análoga à de escravo” 
(BRASIL, 2016). Essa emenda foi acolhida após mais de dez anos de tramitação:
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde fo-
rem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de tra-
balho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária 
e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário 
e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o 
disposto no art. 5.º (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 81, de 2014)
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em de-
corrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de 
trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação 
específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 81, 
de 2014)
Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 121
Segundo Staffen e Blau (2015), apesar da importância da Emenda Constitucional para fins 
de combate ao trabalho escravo, até o momento não houve regulamentação da medida, o que de-
monstra desinteresse na efetivação da medida.
Atividades
1. Disserte sobre a Comissão Nacional da Verdade e seu combate às violações.
2. O dia 28 de janeiro, no Brasil, é conhecido como o Dia Nacional de Combate ao Trabalho 
Escravo. Essa data foi escolhida em homenagem aos auditores fiscais do trabalho Eratóstenes 
de Almeida, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e ao motorista Ailton Pereira de 
Oliveira, assassinados quando investigavam denúncias de trabalho escravo em Unaí (MG). 
Disserte sobre as possíveis causas para a existência e a permanência do trabalho análogo à 
condição de escravo no Brasil.
3. Disserte sobre os Conselhos de Direitos ou Conselhos de Políticas Públicas.
6
Direitos humanos e sua 
correlação com a bioética
Gisele Echterhoff
Neste capítulo, examinaremos os chamados direitos humanos de quarta geração, ou seja, 
aqueles decorrentes das inovações das ciênciasbiomédicas “referentes aos efeitos cada vez mais 
traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada 
indivíduo” (BOBBIO, 1992, p. 6).
Iniciaremos trazendo conceitos elementares, como biotecnologia, bioética e biodireito, cor-
relacionando-os e demonstrando sua importância em relação ao assunto. Entre os diversos direitos 
que podem ser incluídos nessas categorias, vamos analisar aqueles que dizem respeito à reprodu-
ção artificial e, também, os vinculados ao código genético humano.
6.1 Conceitos elementares: biotecnologia, bioética e biodireito
As grandes inovações decorrentes da revolução das ciências biomédicas – en-
tre elas, mapeamento genético1, terapia gênica2, clonagem humana, modernas téc-
nicas de procriação artificial, possibilidade de utilização de células embrionárias na 
cura de doenças graves (mal de Parkinson) etc. – geraram a consolidação de novos 
direitos humanos: os direitos humanos de quarta geração (ECHTERHOFF, 2007)3.
Os direitos da quarta geração têm como tema a proteção do ser humano diante dessas inova-
ções decorrentes das ciências biomédicas. Preocupam-se com os limites do uso dessas “novidades” 
em prol do ser humano, evitando assim a violação de seus direitos.
Sobre tais direitos, Samuel Antonio Merbach de Oliveira leciona (2010b, p. 21-22):
A quarta geração dos direitos do homem se refere à manipulação genética, 
à biotecnologia e à bioengenharia, abordando reflexões acerca da vida e da 
morte, pressupondo sempre um debate ético prévio. Através dessa geração 
se determinam os alicerces jurídicos dos avanços tecnológicos e seus limi-
tes constitucionais.
1 A genética é a ciência que estuda os genes em todos os níveis, ou seja, “estuda a hereditariedade e os mecanismos 
e leis da transmissão dos caracteres dos progenitores aos descendentes, bem como a formação e evolução das espé-
cies animais e vegetais” (BARBAS, 1998, p. 17).
2 A terapia gênica é uma nova forma de tratamento das doenças de herança genética, na qual, por meio de inter-
venções no DNA do paciente, ou seja, especificamente nas causas das doenças genéticas, pode-se buscar a sua cura 
(SIQUEIRA; DINIZ, 2003, p. 226).
3 “Pela teoria geracional dos direitos do homem, se estuda como os direitos do homem pela análise cronológica 
passaram a integrar os ordenamentos jurídicos dos diversos Estados, isto é, como acontece a positivação dos direitos 
do homem, a priori naturais universais, em direito positivo (fases dos direitos do homem), à medida em que foram sendo 
reconhecidos como essenciais a uma sociedade democrática” (OLIVEIRA, 2010b, p. 17).
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais124
Devido ao grande desenvolvimento da biotecnologia o direito foi surpreendido 
por questões até aquele momento não conhecidas, tais como: quais são os limi-
tes à intervenção do homem na manipulação da vida e do patrimônio genético 
do ser humano? Como o direito regula a utilização das novas tecnologias gené-
ticas respeitando os valores bioéticos?
Diante dos avanços da revolução tecnológica e da nova ordem mundial, a quar-
ta geração vem suscitando controvérsias em relação aos direitos e obrigações 
decorrentes da manipulação genética ou do controle de dados informatizados 
que muitas vezes podem ser acessados via internet de qualquer lugar do mun-
do. Também denominados “direitos difusos”, colocam em evidência os direitos 
concernentes à evolução biogenética e tecnológica.
Como forma de exemplificar a questão dos direitos humanos relacionadas ao acesso e à 
manipulação das informações genéticas, é evidente que o mau uso dessas informações pode lesio-
nar os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à privacidade, à intimidade, entre outros, inclusive 
gerando uma nova forma de discriminação que tenha como fundamento as informações genéticas 
(ECHTERHOFF, 2010).
Maria Celeste Cordeiro Leite Santos, analisando as possíveis ofensas aos direitos hu-
manos em razão do mau uso das informações genéticas, explica que bens de caráter coletivo 
também são alvos:
Perfilam-se outros de caráter coletivo: a inalterabilidade e intangibilidade do patri-
mônio genético do ser humano, para garantir a própria integridade e diversidade 
da espécie humana; a identidade genética e irrepetibilidade característica do ser 
humano, como garantia de sua individualidade; a dupla dotação genética, de linha 
genética masculina e feminina; a sobrevivência da espécie humana enquanto tal. 
Além destes, os bens jurídicos de natureza difusa (interesses difusos) se referem 
à sociedade como um todo, de forma que os indivíduos não têm disponibilidade 
sem afetar a coletividade. Para Giampaolo Poggio Smanio, esses bens “trazem 
uma conflituosidade social que contrapõe diversos grupos dentro da sociedade, 
como na proteção ao meio ambiente, que contrapõe, por exemplo, os interesses 
econômicos industriais e o interesse na preservação ambiental”, ou na proteção da 
saúde pública enquanto referente a produção de remédios [...]. É a manutenção do 
equilíbrio ecológico da própria espécie humana. (SANTOS, 2001, p. 318)
Outro exemplo de violação de direitos humanos vinculados às inovações das ciências bio-
médicas pode ser indicado pela restrição ao direito à reprodução humana assistida, com a negativa 
do Estado de promover e garantir às pessoas de baixa renda o acesso às novas técnicas de reprodu-
ção humana assistida.
Constatamos, por meio desses exemplos, que com a concepção dessa quarta geração de di-
reitos humanos não se pretende apenas a proteção de direitos individuais, mas, acima de tudo, a 
proteção da coletividade, dos interesses e valores da humanidade, tendo por base o reconhecimen-
to de que o homem é membro de uma espécie (OLIVEIRA, 2010b).
Mas para entendermos com profundidade essa questão, é indispensável contextualizar o 
tema, identificando o que é a biotecnologia e quais são os principais avanços advindos dessas ino-
vações, bem como demonstrar a necessidade de se estabelecer limites éticos e jurídicos a essas 
novidades fundamentando-se na bioética e no biodireito.
Direitos humanos e sua correlação com a bioética 125
Comecemos conceituando biotecnologia como:
conjunto de técnicas e processos biológicos que possibilitam a utilização da 
matéria viva para degradar, sintetizar e produzir outros materiais. Engloba a ela-
boração das próprias técnicas, processos e ferramentas as espécies, via seleção 
natural. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 1997. p. 251)
De acordo com a ONU, “Biotecnologia significa, qualquer aplicação tecnológica que utilize 
sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou 
processos para utilização específica.” (1992, art. 2).
É com o trabalho da biotecnologia que a humanidade está se defrontando com novidades 
como:
a) alimentos transgênicos;
b) tratamentos médicos decorrentes do uso dessas tecnologias, como a questão das 
células-tronco;
c) conhecimentos e possíveis tratamentos relacionados ao genoma humano e à 
terapia genética;
d) desenvolvimento de organismos vivos e geneticamente modificados para tratamento da água;
e) desenvolvimento de novos medicamentos e novas vacinas;
f) demais avanços na área de biomedicina, como o aperfeiçoamento das técnicas tradicio-
nais da reprodução humana, entre outros.
No entanto, essas novas tecnologias trazem em seu âmago inúmeras possibilidades de viola-
ção dos direitos humanos, como:
a) uso indiscriminado de informações genéticas;
b) alterações no patrimônio genético que afetem de forma imprevisível as gerações futuras;
c) violações decorrentes de técnicas como clonagem humana, inovações no campo da repro-
dução humana assistida, entre outras.
Por isso, é indispensável uma rediscussão dos valores éticos da sociedade, a fim de estabe-
lecer limites para os progressos das ciências biotecnológicas, sempre tendo em vista seu objetivo 
maior, que é a proteção do ser humano.
Quando se constatou que a ética médica ou profissional não era mais suficiente para exami-
naresses avanços e estabelecer limites éticos para seu uso, surgiu a bioética.
O termo bioética, conforme Elton Dias Xavier (2000), surgiu na década de 1970, em um tra-
balho do oncologista Van Rensselder Potter, da universidade americana de Wisconsin, intitulado 
Bioética: uma ponte para o futuro. Sobre a importância da contribuição de Van Rensselder Potter, 
pode-se afirmar:
Potter diagnosticou com seus escritos o perigo que representa para a sobre-
vivência de todo o ecossistema a separação entre duas áreas do saber, o saber 
científico e o saber humanista. A clara distinção entre os valores éticos (ethical 
values), que fazem parte da cultura humanista em sentido lato, e os fatos bio-
lógicos (biological facts) está na raiz daquele processo científico-tecnológico 
Direitos humanos e relações étnico-raciais126
indiscriminado que, segundo Potter, põe em perigo a humanidade e a própria 
sobrevivência da vida sobre a terra. O único caminho possível de solução para 
essa iminente catástrofe é a constituição de uma ‘ponte’ entre as duas culturas, a 
científica e a humanístico-moral. (SGRECCIA, 2002, p. 24-25)
Com essas considerações, podemos afirmar que bioética é o ramo da ética filosófica que se 
ocupa do “estudo das condições de possibilidade dos valores, normas e princípios, que procuram 
ordenar o avanço científico e tecnológico” (BARRETO, 1998).
Léo Pessini e Christian de Paul de Barchifontaine afirmam que a bioética “é um neologismo 
derivado das palavras gregas bios (vida) e ethike (ética)” (2000, p. 17). Definem-na como “o estudo 
sistemático das dimensões morais – incluindo visão, decisão, conduta e normas morais – das ciên-
cias da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto 
interdisciplinar” (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2000, p. 17).
Portanto, com a bioética4 se pretende estabelecer uma discussão ética em torno das ino-
vações decorrentes das ciências biotecnológicas, impondo limites éticos e morais ao uso desses 
conhecimentos, visando proteger direitos como a vida, integridade física, intimidade, privacidade, 
igualdade, entre outros.
Embora a função da bioética seja importante para se estabelecerem limites éticos e morais 
em relação às novidades decorrentes das ciências biotecnológicas, diante da sua condição de ciên-
cia do dever moral, é desprovida de medidas coercitivas que se fazem necessárias em algumas cir-
cunstâncias nas quais apenas valores morais não são suficientes, sendo indispensável a intervenção 
de mecanismos estatais para que sejam cumpridos esses valores.
Surge, então, a função do biodireito, que visa estabelecer limites fundados não somente em va-
lores éticos e morais, mas sobretudo baseados em normas jurídicas, com poder coercitivo e punitivo.
Jussara Maria Leal de Meirelles afirma que a norma moral é insuficiente porque somente 
opera no plano interno da consciência, sendo indispensável, assim, a existência e atuação de nor-
mas jurídicas “não somente éticas, pois somente o caráter coercitivo daquelas impedirá ao cientí-
fico sucumbir à tentação experimentalista e à pressão de interesses econômicos” (2001, p. 90-91). 
Conclui a autora que o objeto do biodireito “é a fundamentação e pertinência das normas jurídicas, 
de maneira a adequá-las aos princípios e valores relativos à vida e à dignidade humanas trazidos 
pela ética.” Isso equivaleria a afirmar a “existência do Biodireito como novo ramo do conhecimento 
e sua adequação com a Bioética” (MEIRELLES, 2001, p. 96).
Portanto, está no campo do biodireito a obrigatoriedade de respeito aos direitos humanos 
quando do estudo e da aplicação dos avanços das ciências biomédicas ou biotecnológicas. Por isso, 
Renata Furtado de Barros afirma que o biodireito busca um equilíbrio entre as necessidades huma-
nas advindas do progresso científico e os direitos humanos correlatos. E afirma:
4 Das considerações acima perpetradas, já se dimensionam os princípios da bioética: o da autonomia (“ou do res-
peito às pessoas por suas próprias opiniões e escolhas, segundo valores e crenças pessoais”), o da beneficência (“que 
se traduz na obrigação de não causar dano e de extremar os benefícios e minimizar os riscos”), o da justiça (“ou impar-
cialidade na distribuição dos riscos e dos benefícios, não podendo uma pessoa ser tratada de maneira distinta de outra, 
salvo haja entre ambas alguma diferença relevante”) e o da não maleficência (“segundo o qual não se deve causar mal a 
outro”) (BARBOSA, 2000 apud ECHTERHOFF, 2010, p. 100).
Direitos humanos e sua correlação com a bioética 127
Os problemas éticos oriundos das pesquisas científicas, que se utilizam da vida 
humana, serão solucionados em cada caso prático, bastando haver, deste modo, 
uma análise de como melhor viabilizar a obediência dos direitos humanos, na 
prática médica e científica. (BARROS, 2011, p. 12)
Descobertas a função e a importância do papel desempenhado pela bioética e pelo biodireito no 
campo dessas inovações biotecnológicas, é necessário observar a existência de um princípio comum a 
ambas disciplinas e de igual importância para os direitos humanos: o princípio da dignidade da pessoa 
humana.
Anteriormente já havíamos afirmado que o princípio da dignidade da pessoa humana é o fun-
damento axiológico dos direitos humanos, sendo que, seja doutrinariamente, seja normativamente, são 
extraídos, em essência, da noção de dignidade da pessoa humana, das exigências consideradas impres-
cindíveis e inescusáveis a uma vida digna e da proteção do ser humano.
Não é por outra razão que há consenso doutrinário de que esse princípio é o limite ético-jurídico 
essencial dos avanços advindos das ciências biotecnológicas. Sem dúvida, “quaisquer análises dos diver-
sos aspectos jurídicos dos avanços biotecnológicos deve ser efetivada com embasamento ético-jurídico 
no princípio da dignidade da pessoa humana” (ECHTERHOFF, 2007, p. 114).
Ausente legislação específica, seja no âmbito internacional, seja no exame da legislação nacio-
nal, “obriga que toda investigação ou análise no campo das Biomedicinas sejam feitas sob o alicerce 
ético-jurídico do princípio da dignidade da pessoa humana, conclamando a sua ampla normatividade” 
(ECHTERHOFF, 2007, p. 114).
É evidente que um exame detalhado dos avanços das ciências biomédicas ou biotecnológicas 
mostra as grandes possibilidades de ofensa aos direitos humanos; porém, não é possível se aprofundar 
em todas as suas nuances neste trabalho, razão pela qual se optou por dois temas de extrema relevância:
a) procriação artificial e alguns aspectos polêmicos;
b) código genético humano e possível uso indiscriminado das informações genéticas.
6.2 Reprodução artificial e alguns aspectos polêmicos
Quando se falam em técnicas de reprodução humana assistida e em direitos 
humanos, várias questões podem ser levantadas, desde o reconhecimento do di-
reito à reprodução como direito humano, passando pelas questões relacionadas ao 
direito à identidade genética e à filiação, o direito de herança no caso de uso das téc-
nicas após a morte do genitor e até mesmo por temas vinculados à coisificação do 
ser humano, ou seja, pela busca da procriação como realização de um sonho, independentemente 
do reconhecimento da filiação como uma relação de afeto e busca do desenvolvimento da perso-
nalidade de todos os indivíduos vinculados, em especial do filho. Evidentemente, não poderemos 
examinar cada um dos temas relacionados às técnicas de reprodução humana assistida, pois a aula 
vai se restringir ao direito à reprodução como direito humano.
O surgimento das técnicas de reprodução humana assistida decorreu da necessidade de dar 
um alento a casais ou pessoas com problemas reprodutivos. Entre as técnicas atualmente existen-
tes, as mais utilizadas são:
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais128
• Inseminação artificial (I.A.): expressão proposta pelos franceses Donay, Devraigne e 
Seguy que designa a técnica que consiste em ser inseminada a mulher com esperma inje-
tado pelo médico,na cavidade uterina ou no canal cervical, no período em que óvulo se 
encontra suficientemente maduro para ser fecundado (MEIRELLES, 2004).
• Fertilização in vitro (F.I.V.): consiste na obtenção de óvulos que são fertilizados em la-
boratório, sendo os embriões posteriormente transferidos diretamente para a cavidade 
uterina (MEIRELLES, 2004).
Tais técnicas podem ser chamadas de heterólogas, quando se utiliza o esperma de um doador 
fértil (geralmente provindo de bancos de sêmen), ou homólogas, quando a técnica é a realizada com 
sêmen do companheiro.
Essas técnicas têm um custo financeiro altíssimo, o que impede que pessoas de baixa 
renda tenham acesso a elas, visto que não são asseguradas pelo Sistema Único de Saúde (SUS)5.
Porém, será que devemos negar o direito de esses homens e essas mulheres alcançarem a 
realização do sonho de se tornarem pais? Será que é possível reconhecer a existência de um direito 
à reprodução humana, visando assim assegurar a essas pessoas o atendimento de suas necessidades 
de saúde reprodutiva por parte do Estado? Essas são as questões a serem analisadas na sequência, 
com base nas legislações internacional e nacional.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a liberdade de reprodução como 
um direito humano, protegendo a família como elemento natural e fundamental da sociedade (art. 
16) e, em seguida, dispondo:
Art. 25
[...].
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. 
Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma 
proteção social.
José Leocádio da Cruz leciona sobre o assunto:
A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a atual concepção 
dos direitos reprodutivos não se limita à simples proteção da reprodução, mas 
defende um conjunto de direitos individuais e sociais, que devem interagir em 
busca do pleno exercício da sexualidade e reprodução humana. Essa nova con-
cepção tem como ponto de partida uma perspectiva de igualdade e equidade 
nas relações pessoais e sociais e a ampliação das obrigações do Estado quanto à 
implementação, promoção e efetivação desses direitos. (2008, p. 44)
Ainda no âmbito internacional, Piovesan (2015) cita a Conferência do Cairo sobre População 
e Desenvolvimento, de 1994, que estabeleceu relevantes princípios éticos concernentes aos direitos 
reprodutivos, reconhecendo-os como direitos humanos, “concebendo o direito a ter controle sobre 
5 “Em virtude dos altos custos dos tratamentos de reprodução assistida, o Ministério da Saúde instituiu, por meio da 
Portaria 426/GM, de 22 de março de 2005, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Atenção 
Integral em Reprodução Humana Assistida, assegurando o acesso a todas as pessoas aos serviços de atenção básica, 
média complexidade e alta complexidade relacionadas à reprodução assistida, inclusive fertilização in vitro e insemina-
ção artificial. No entanto, a referida Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida foi extinta 
pela Portaria MS 2.048, de 3 de setembro de 2009, deixando aparentemente desprotegidos casais de baixa renda inca-
pazes de arcar com os custos do tratamento de reprodução assistida.” (RESENDE; MEIRELLES, 2015, p. 3).
Direitos humanos e sua correlação com a bioética 129
as questões relativas à sexualidade e à saúde sexual e reprodutiva, assim como a decisão livre de 
coerção, discriminação e violência, como um direito fundamental” (PIOVESAN, 2015, p. 411).
José Leocádio da Cruz (2008) afirma que a Conferência também reconheceu que o Estado 
deve proporcionar a todo indivíduo a oportunidade de procriar, a partir da informação quanto à 
saúde reprodutiva, aos meios de decisão e métodos disponibilizados pela ciência para que se possa 
satisfazer essa necessidade humana.
Assim, dispõe o Relatório da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento que:
7.2 A saúde reprodutiva é um estado de completo bem-estar físico, mental e 
social e não simples a ausência de doença ou enfermidade, em todas as maté-
rias concernentes ao sistema reprodutivo e a suas funções e processos. A saúde 
reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual 
segura e satisfatória, tenha a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir 
sobre quando, e quantas vezes o deve fazer. Implícito nesta última condição está 
o direito de homens e mulheres de serem informados e de ter acesso a métodos 
eficientes, seguros, permissíveis e aceitáveis de planejamento familiar de sua 
escolha, assim como outros métodos, de sua escolha, de controle da fecundi-
dade que não sejam contrários à lei, e o direito de acesso a serviços apropriados 
de saúde que dêem à mulher condições de passar, com segurança, pela gestação e 
pelo parto e proporcionem aos casais a melhor chance de ter um filho sadio. De 
conformidade com definição acima de saúde reprodutiva, a assistência à saúde 
reprodutiva é definida como a constelação de métodos, técnicas e serviços que 
contribuem para a saúde e o bem-estar reprodutivo, prevenindo e resolvendo pro-
blemas de saúde reprodutiva. Isto inclui também a saúde sexual cuja finalidade 
é a intensificação das relações vitais e pessoais e não simples aconselhamento e 
assistência relativos à reprodução e a doenças sexualmente transmissíveis.
[...]
7.6 Todos os países devem o mais cedo possível e não depois de 2015, envidar 
esforços para tornar acessível, por meio de um sistema primário de assistência à 
saúde, a saúde reprodutiva a todos os indivíduos em idades adequadas. (CRUZ, 
1994, grifos nossos)
Augusto César Leite de Resende e Jussara Maria Leal de Meirelles ressaltam que essa 
Conferência foi particularmente importante no que tange aos direitos reprodutivos, pois nos ter-
mos do Princípio 8:
Toda pessoa tem direito ao gozo do mais alto padrão possível de saúde física e 
mental, motivo pelo qual os estados devem tomar todas as devidas providências 
para assegurar, na base da igualdade de homens e mulheres, o acesso universal 
aos serviços de assistência médica, inclusive os relacionados com a saúde repro-
dutiva, que inclui planejamento familiar e saúde sexual. (2015, p. 15)
De acordo com Piovesan, a Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, que deu ense-
jo à Declaração de Beijing, reitera os conceitos de saúde reprodutiva e direitos reprodutivos da 
Conferência de Cairo, afirmando que “os direitos sexuais e reprodutivos constituem em parte ina-
lienação dos direitos humanos universais e indivisíveis” (PIOVESAN, 2015, p. 416).
Examinando as plataformas de ação dessas duas conferências, Piovesan afirma que os direi-
tos sexuais compreendem:
Direitos humanos e relações étnico-raciais130
a) o direito a decidir livre e responsavelmente sobre sua sexualidade; b) o di-
reito a ter controle sobre seu próprio corpo; c) o direito a viver livremente sua 
orientação sexual, sem sofrer discriminação, coação ou violência; d) o direito 
a receber educação sexual; e) o direito à privacidade; f) o direito de acesso às 
informações aos meios para desfrutar do mais alto padrão de saúde sexual; e 
g) o direito a fruir do progresso cientifico e a consentir livremente à experi-
mentação, com os devidos cuidados éticos recomendados pelos instrumentos 
internacionais. (2015, p. 417)
No âmbito nacional, em uma análise sistemática da Constituição Federal de 1988 se constata 
o reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos, seja a partir da consagração do princípio da 
dignidade da pessoa humana (art. 3º, inciso III), seja num exame dos direitos e garantias funda-
mentais. O artigo 5º, caput, consagra o direito à vida digna, e os incisos II e III, o direito à integri-
dade física e psicológica (OLIVEIRA, 2010a).
No que tange às relações familiares, é possível citarmos o artigo 5º, inciso I, do direito à 
igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres, em geral, e o artigo 226, na sociedade 
conjugal, em particular. Indicam-se também o direito à igualdade entre os filhos (art. 227, parágra-
fo 6º)e o direito ao reconhecimento de várias formas de família (art. 226, parágrafos 3º e 4º), além 
do artigo 6º, que reconhece o direito à proteção da maternidade na esfera da seguridade social e do 
trabalho e, em conjunto, o disposto no artigo 196, que prevê o direito à saúde com acesso universal 
e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (OLIVEIRA, 2010a).
Não se pode esquecer do disposto no artigo 226, parágrafo 7º, que assegura o direito ao 
planejamento familiar, fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade 
responsável, sendo expressamente referido como “livre decisão do casal, competindo ao Estado 
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma 
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas” (OLIVEIRA, 2010a, p. 8).
Na esfera da legislação infraconstitucional, cita-se a Lei n. 9.263/96, que regulamenta o dis-
posto no artigo 226, §7º da CF em relação ao planejamento familiar e estabelece as ações estatais a 
serem praticadas para a efetividade do direito à saúde reprodutiva (OLIVEIRA, 2010a).
Via de consequência, inegavelmente se reconhece a consagração de um direito à reprodução 
humana assistida, que deve ser assegurado pelo Poder Público,
que deverá disponibilizar, por meio do Sistema Único de Saúde, materiais e pro-
cedimentos necessários para o tratamento da infertilidade, inclusive o acesso às 
técnicas de reprodução assistida com a finalidade precípua de dar plena efeti-
vidade ao referido direito fundamental. (RESENDE; MEIRELLES, 2015, p. 24)
Outra não é a lição de Maria Claudia Crespo Brauner:
A incorporação dos direitos sexuais e reprodutivos no elenco dos direitos hu-
manos, assegura às pessoas o direito ao planejamento familiar, incluindo-se o 
recurso a toda descoberta científica que possa via a garantir o tratamento de 
patologias vinculadas à função reprodutiva, desde que considerados seguros 
e não causadores de riscos aos usuários e usuárias. É nessa perspectiva que se 
debruçará um olhar específico sobre a concepção e o direito de gerar. (apud 
OLIVEIRA, 2010a, p. 8)
Direitos humanos e sua correlação com a bioética 131
E identificando na Constituição Federal de 1988 o fundamento legal no artigo 5º, caput, 
(direito à vida), nos artigos. 196 a 198 (direito à saúde) e no artigo 226, parágrafo 7º (direito ao pla-
nejamento familiar), assim como no artigo 3º, parágrafo único, inciso I, da Lei Federal n. 9263/96, 
Patricia Fonseca Carlos Magno de Oliveira reconhece:
há um dever estatal de prestar assistência à saúde reprodutiva que engloba o 
acesso aos melhores recursos científicos de concepção e ao qual corresponde o 
direito subjetivo do homem à saúde reprodutiva, no aspecto do direito de gerar. 
(OLIVEIRA, 2010a, p. 29-30)
Do exame das questões já apresentadas, constata-se que as polêmicas éticas e jurídicas re-
lacionadas à reprodução humana assistida não se restringem somente ao direito à reprodução as-
sistida. Várias são as questões, e a maioria delas não possui solução jurídica, dependendo, ainda, 
de muitas discussões doutrinárias e jurisprudenciais até que seja definida uma solução legislativa.
Entre essas questões, podemos citar a própria definição de filiação (em algumas hipóteses já 
solucionadas pelo Código Civil6), outras ainda de grande repercussão, como o estabelecimento da 
filiação no caso de gestação por substituição (vulgarmente chamada de barriga de aluguel).
No caso da gestação por substituição, há outras discussões, como a própria autorização para 
que terceiro realize o procedimento, além das questões financeiras vinculadas.
Outro tema de amplo debate é relacionado ao direito de herança no caso de uso das técnicas 
de reprodução humana assistida após a morte do genitor: se caberia ou não direito à herança, con-
siderando que o filho foi concebido após a morte do autor da herança.
A maioria dessas discussões demanda aprofundamento em questões jurídicas que extra-
polam os limites deste estudo, por isso, optou-se pela restrição à questão do direito à reprodução 
humana assistida como integrante do rol de direitos humanos.
6.3 O código genético humano
Ao estudar os avanços das ciências biomédicas ou biotecnológicas, depara-
mo-nos com frequência com a questão do código genético humano, dos respec-
tivos dados genéticos e da sua aplicação para fins de diagnóstico e tratamento de 
doenças tidas como de origem genética. E nesse caso não se pode deixar de lado 
uma abordagem, mesmo que breve, do chamado Projeto Genoma Humano, que 
tinha como objetivo identificar todos os genes humanos, bem como as suas funções.
O Projeto Genoma Humano foi criado nos EUA, em um consórcio público formado 
pelo Departamento de Energia (United States Department of Energy – DOE) e pelos Institutos 
Nacionais de Saúde (National Institutes of Health – NIH). Foi formalmente iniciado em meados 
6 Código Civil Brasileiro:
“Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
[...]
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.”
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais132
de 1990 e finalizado em 26 de junho de 2000, com a publicação dos dados obtidos (o qual contou, 
também, com apoio internacional por parte de agências análogas às americanas que coordenaram 
esses estudos em outros países, como Inglaterra, França, Itália, Canadá, Japão e Brasil).
O alcance do mapeamento do genoma humano traz vários benefícios para a sociedade, como 
a possibilidade de, conhecendo diretamente os mecanismos de certas doenças, desenvolverem-se 
os meios necessários para seu tratamento, com a criação de novas tecnologias farmacêuticas, novas 
vacinas gênicas estudos que visem à produção de plantas ou animais transgênicos que melhor se 
adaptem ao meio ambiente, buscando o aumento de produção agrícola e pecuária.
Outro benefício advindo desse conhecimento é o desenvolvimento da chamada medicina pre-
ditiva, que busca “através de testes de diagnósticos genéticos, verificar a possibilidade de o paciente 
desenvolver uma doença de origem, eminentemente, genética” (ECHTERHOFF, 2010, p. 44).
Cite-se, ainda, o desenvolvimento dos diagnósticos pré-natais e pré-implantatórios:
Ponto de extrema importância quando se aborda a questão dos diagnósticos 
genéticos se relaciona com os diagnósticos pré-natais e pré-implantatórios e as 
suas consequências, dentre elas o aborto eugênico.
O exame pré-natal “é realizado num período determinado do desenvolvimento 
fetal, sobre o próprio feto, para confirmar se ele está afetado por malformações 
ou defeitos que possam influir em sua vida futura”. Ou seja, através do diagnós-
tico pré-natal se pode confirmar a existência de malformações ou de doenças 
genéticas antes mesmo do nascimento do feto.
Já o exame pré-implantatório são aqueles diagnósticos que visam detectar as 
anomalias genéticas antes mesmo da implantação do embrião no caso de fecun-
dação assistida. Ainda é possível o diagnóstico “sobre o embrião obtido após a 
lavagem do útero para extração de embrião precoce, sucessivamente, reimplan-
tado após o exame genético (washing out)” visando também detectar eventuais 
deformações genéticas. (ECHTERHOFF, 2010, p. 46-47)
Contudo, é evidente que essas novidades decorrentes do conhecimento do genoma huma-
no podem gerar diversos dilemas éticos e jurídicos. O ponto de convergência dessas questões é a 
possibilidade de redução do “ser humano à sua dimensão exclusivamente biológica, ou, até mesmo 
à sua expressão genética” (SIQUEIRA; DINIZ, 2003, p. 226), esquecendo-se da complexidade da 
natureza e do comportamento humano.
Alguns autores chamam tal circunstância de genetização da vida. Tom Wilkie a exemplifica 
alertando que:
Outra possível consequênciado Projeto Genoma Humano decorre não de al-
guma possível descoberta, mas da própria existência do projeto. Poderemos 
desenvolver uma visão cada vez mais “atomística” dos seres humanos e mesmo 
da própria vida.
Sob o impacto de um número crescente de descobertas sobre a genética hu-
mana, podemos passar a definir a nós mesmos e às nossas vidas em termos 
reducionistas – reduzindo nossas vidas a seus componentes supostamente fun-
damentais –, deixando assim de olhar as coisas holisticamente, deixando de 
perceber a complexidade e a riqueza da vida em seu todo. (1994, p. 195)
Direitos humanos e sua correlação com a bioética 133
Partindo dessa ideia, podemos nos questionar: será possível a reafirmação da pretensão de 
determinismo genético, da redução do ser humano às suas características e informações genéticas, 
esquecendo-se da importância do meio ambiente não somente para estabelecer o comportamento 
das pessoas, mas, em especial, suas condições de saúde?
Evidentemente, “o caminho que liga as ideias do determinismo genético à eugenia7 é bas-
tante estreito, senão inexistente, como se pôde constatar no decorrer da história” (ECHTERHOFF, 
2010, p. 56). Não se pode negar que “a consequência lógica é que tais ideias deterministas acarre-
tem na busca pelo aperfeiçoamento genético da raça humana, ou seja, pela afirmação da doutrina 
eugênica” (ECHTERHOFF, 2010, p. 56).
Se não bastasse os riscos advindos do fortalecimento dos ideais eugênicos, temos, ainda, a 
possibilidade do uso discriminatório das informações genéticas por terceiros:
Carteira genética. A carteira de identidade poderá incluir um código de barra 
que expresse o genoma do portador. A pessoa será como cristal, totalmente 
transparente, ao menos no seu aspecto biológico-genético. A carteira genética 
poderá ser colocada a serviço de uma prática de contratação de empregos que 
estigmatiza pessoas portadoras de herança genética anômala. O fator genético 
poderá tornar-se um elemento de estratificação e discriminação social ao lado 
do fator racial, étnico, sexual e socioeconômico. Também os convênios privados 
de saúde e de aposentadoria e as apólices de seguro de vida poderão usar os 
testes. Essas instituições querem diferenciar as quotas de pagamento de acordo 
com o baixo ou alto risco de contrair determinadas doenças de tratamento lon-
go e custoso. (BARCHIFONTAINE, 2004, p. 165)
Ou seja, a par dos benefícios advindos desse conhecimento, constatamos a presença da pos-
sibilidade de violação inúmeros direitos humanos, o que exige uma atuação determinada dos cam-
pos da bioética e do biodireito.
Certa vez, o filósofo Hans Jonas chamou a atenção para o dilema da técnica 
moderna, que consiste na dificuldade de se determinar as tecnologias benéficas 
e as prejudiciais. A engenharia genética não é exceção a essa regra. De um lado, 
há grandes expectativas quanto aos seus possíveis benefícios; de outro, muito 
receio. Segundo Schramm, as possibilidades de prevenção e de intervenção nos 
organismos vivos abertas pela engenharia genética despertam, ao mesmo tem-
po, sentimentos de fascínio e espanto. Por exemplo, alguns autores alertam para 
a existência, nos dias atuais, de práticas eugênicas camufladas pela promessa de 
cura ou com vistas à resolução de problemas orgânicos da espécie – mas, muitas 
vezes, atendendo a interesses econômicos e políticos. (CACIQUE, 2012, p.61)
Depois dessa breve introdução dos benefícios e malefícios do conhecimento advindo do 
código genético humano, passaremos a examinar alguns instrumentos internacionais que visam à 
proteção dos possíveis direitos humanos ameaçados por essas inovações.
7 “A Eugenia, ciência que estuda as condições mais propícias para o melhoramento da raça humana, pode distinguir-
-se em duas espécies, de acordo com o objetivo que se propõe: a eugenia negativa e a positiva.
A eugenia negativa busca extirpar os defeitos genéticos, através da esterilização ou recolhimento dos defeituosos em 
instituições fechadas, impedindo a transmissão de defeitos genéticos. [...]
A eugenia positiva conclama a reprodução de ‘pessoas sadias’ ou de ‘qualidade superior’ e ainda a criação de ‘traços 
desejáveis’ (VARGA, 1990, p. 78). A eugenia positiva pode ser conseguida buscando encorajar a reprodução entre seres 
humanos “superiores”, através dos métodos de reprodução artificial, através de manipulações genéticas sem fins tera-
pêuticos ou até mesmo através da clonagem de seres humanos.” (ECHTERHOFF, 2010, p. 57-58).
Direitos humanos e relações étnico-raciais134
Realizando um apanhado histórico de documentos jurídicos internacionais voltados à prote-
ção desses direitos, podemos citar, segundo aponta Echterhoff (2010), os seguintes acontecimentos:
• Em 1992, foi celebrado o Convênio das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica, que 
tratou da diversidade genética da humanidade.
• No ano seguinte, 1993, surgiu a Declaração de Bilbao8, que ressaltava a importância dos 
novos conhecimentos advindos das pesquisas genéticas e advertia sobre alguns proble-
mas surgidos desse conhecimento. Essa declaração é fruto da Reunião Internacional 
sobre “O Direito ante o Projeto Genoma Humano”, “promovida e organizada pela 
Fundación Banco Bilbao Vizcaya, com a colaboração da Diputación Foral de Bizkaia e 
da Universidad de Deusto” (CASABONA, 1999).
• Em 1994, foi elaborada, por membros da Unesco, a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos das Gerações Futuras.
• Em 1995, foi redigido o Projeto de Convênio de Bioética do Conselho da Europa, que foi 
considerado pioneiro no Direito Internacional, pois tinha como objeto a investigação não 
terapêutica do embrião in vitro.
• Em 1996, surgiu a Declaração Ibero-Latino-Americana sobre Ética e Genética, revisada 
em 1998 em Buenos Aires.
• Em 11 de novembro de 1997, foi aprovada pela XXIX Conferência da Unesco a Declaração 
Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, elaborada pelo Comitê 
Internacional de Bioética da Unesco.
Foi essa Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos que mate-
rializou o trânsito da bioética para o biodireito, com a consagração dos princípios da bioética. Para 
o Vicente de Paulo Barreto (1998), essa Declaração nada mais é do que
[...] mais uma etapa no processo de inserção de valores morais na construção de 
uma ordem jurídica, pois estabelece princípios bioéticos e normas de biodireito, 
às quais aderiram os estados, e que servirão como patamar ético-jurídico da 
pesquisa e da tecnologia da biologia contemporânea.
Com base no mesmo autor, podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que é com essa de-
claração que se cria uma categoria nova de direitos humanos: “o direito ao patrimônio genético e a 
todos os aspectos de sua manifestação” (BARRETO, 1998).
Esse diploma internacional proclama o genoma humano, e a informação nele contida, como 
patrimônio comum da humanidade, ao afirmar que o genoma é a “unidade fundamental de todos 
os membros da família humana” (art. 1.º).
A Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos é composta por 
25 artigos, divididos em sete grupos temáticos, assim distribuídos:
8 Como bem ressalta Carlos María Romeo Casabona (1999, p. 44), essa declaração teve “a virtude de haver sido o 
primeiro texto internacional que aborda, de forma global e específica, os diversos aspectos relacionados ao genoma 
humano, fundamental desde o ponto de vista do Direito”.
Direitos humanos e sua correlação com a bioética 135
1. Dignidade humana e os direitos humanos (arts. 1º ao 4º);
2. Direitos dos indivíduos (arts. 5º ao 9º);
3. Pesquisa sobre o genoma humano (arts. 10 ao 12);
4. Condições para o exercício da atividade científica (arts. 13 ao 16);
5. Solidariedade e cooperação internacional (arts. 17 ao 19);
6. Divulgação dos princípios estabelecidos na Declaração (arts. 20 e 21);
7. Implementação da Declaração (arts. 22 ao 25).
Sobre essa Declaração, José Antonio Peres Gediel leciona:
A Declaração Universal do Genoma Humano e Direitos Humanoscontempla, 
com exemplar riqueza, as três dimensões regulatórias que compõem o modelo 
jurídico ocidental moderno, renovando e pondo em destaque a função ou di-
mensão comunitária do Direito atual, mas, nem por isso, prescinde de aprofun-
damento de sua análise conceitual e de acompanhamento de sua aplicação às 
situações concretas advindas do uso e do acesso ao genoma humano.
O título da Declaração a identifica, desde logo, com sua raiz iluminista e huma-
nista, a qual se evidencia, também, porque se endereça à totalidade dos homens, 
buscando sobrepor-se à particularidade das ordens jurídicas nacionais, para 
atingir uma comunidade ideal-universal.
A visão universalista da Declaração apresenta, sem dúvida, traços inovadores e 
peculiares em relação às demais Declarações Universais de Direito, pois não se 
apoia apenas na noção filosófica abstrata da igualdade entre todos os homens 
(fundada na presença da racionalidade e da autonomia humanas), mas se apoia, 
também, na identidade biológica traçada a partir do genoma.
[...]
Ao lado dessa feição universalista e conceitual, a Declaração tem por finalidade 
estabelecer parâmetros para a regulação jurídica internacional, comunitária e 
estatal, no que se refere ao estabelecimento de regras para a fixação da titulari-
dade do genoma e estabilizar seu acesso e uso. (GEDIEL, 2000, p. 2)
Outrossim, verifica-se que a Declaração também se preocupou com a questão das infor-
mações genéticas. Destacam-se os artigos 2º e 6º, que preveem o princípio da não discriminação 
com fundamento nas características genéticas do indivíduo, bem como o artigo 7º, que trata sobre 
a proteção da confidencialidade dos dados genéticos, e o artigo 12, que regulamenta a questão do 
direito à privacidade. Portanto, “a Declaração demonstra, mesmo que indiretamente ao analisar 
a questão da discriminação genética e da confidencialidade, que a informação genética, além de 
identificar o indivíduo, revela suas características genéticas” (ECHTERHOFF, 2010, p. 187-188).
Necessário citar outros documentos internacionais, como a Declaração Internacional sobre 
os Dados Genéticos Humanos, que, em 16 de outubro de 2004, na 32ª sessão da Conferência Geral 
da Unesco, foi aprovada por unanimidade e aclamação. Essa Declaração reafirmou os princípios 
anteriormente consagrados pela Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos 
Humanos, bem como visou:
Direitos humanos e relações étnico-raciais136
Garantir o respeito da dignidade humana e a proteção dos direitos humanos 
e das liberdades fundamentais na recolha, tratamento, utilização e conservação 
dos dados genéticos humanos9, dos dados proteômicos humanos10 e das amostras 
biológicas11 a partir das quais eles são obtidos, daqui em diante denominadas 
“amostras biológicas”, em conformidade com os imperativos de igualdade, justiça 
e solidariedade e tendo em devida conta a liberdade de pensamento e de ex-
pressão, incluindo a liberdade de investigação; definir os princípios que deverão 
orientar os Estados na formulação da sua legislação e das suas políticas sobre estas 
questões; e servir de base para a recomendação de boas práticas nestes domínios, 
para uso das instituições e indivíduos interessados. (UNESCO, 2004, p. 4)
Seguindo com a abordagem dos documentos internacionais relacionados ao tema, ressal-
tamos que em 2005 foi elaborada, pela Unesco, a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos 
Humanos, que teve como conteúdo:
Uma bioética muito mais democrática e preocupada com a atuação da ciência 
em prol de uma igualdade social, sendo inclusive determinado como um dos 
seus principais objetivos, a facilitação de acesso igualitário a todos os países e 
indivíduos, em especial, os países em desenvolvimento que são mais carentes 
de ajuda, aos novos avanços científicos, médicos e biotecnológicos. (BARROS, 
2011, p. 22)
A par do reconhecimento de acesso universal às conquistas biotecnológicas, a Declaração 
Universal sobre Bioética e Direitos Humanos tutela:
• a dignidade humana e direitos humanos (arts. 2º e 3º);
• a beneficência e a não maleficência (art. 4º);
• a autonomia e responsabilidade individual (art. 5º);
• o consentimento livre e esclarecido (art. 6º);
• o respeito pela vulnerabilidade humana e pela integridade individual (art. 8º);
• a privacidade e confidencialidade (art. 9º);
• a igualdade formal e material, a justiça e a equidade (art. 10);
• a não discriminação e a não estigmatização (art. 11);
• o respeito pela diversidade cultural e pelo pluralismo (art. 12);
• a solidariedade e a cooperação (art. 13);
• a responsabilidade social e a saúde (art. 14);
• o compartilhamento de benefícios (art. 15);
• a proteção das gerações futuras (art. 16);
• a proteção do meio ambiente, da biosfera e da biodiversidade (art. 17).
9 No seu artigo 2º, a Declaração traz a definição de dados genéticos humanos: “informações relativas às caracterís-
ticas hereditárias dos indivíduos, obtidas pela análise de ácidos nucléicos ou por outras análises científicas.” (UNESCO, 
2004, p. 4).
10 Também o referido diploma internacional define dados proteômicos: “informações relativas às proteínas de um indi-
víduo, incluindo a sua expressão, modificação e interação.” (UNESCO, 2004, p. 4).
11 A mencionada Declaração assim define amostras biológicas: “qualquer amostra de material biológico (por exemplo 
células do sangue, da pele e dos ossos ou plasma sanguíneo) em que estejam presentes ácidos nucleicos e que contenha 
a constituição genética característica de um indivíduo.” (UNESCO, 2004, p. 4).
Direitos humanos e sua correlação com a bioética 137
Atividades
1. (FUMARC-2013, Concurso do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais)
Eutanásia
É uma forma de apressar a morte de um doente incurável, sem que esse 
sinta dor ou sofrimento. A ação é praticada por um médico com o con-
sentimento do doente, ou da sua família. A eutanásia é um assunto mui-
to discutido tanto na questão da bioética quanto na do biodireito, pois 
ela tem dois lados, a favor e contra. Do ponto de vista a favor, ela seria 
uma forma de aliviar a dor e o sofrimento de uma pessoa que se encon-
tra num estado muito crítico e sem perspectiva de melhora, dando ao 
paciente o direito de dar fim a sua própria vida.
Já do ponto de vista contra a eutanásia seria o direito ao suicídio, tendo 
em vista que o doente ou seu responsável teria o direito de dar fim a sua 
vida com a ideia de que tal ato aliviaria sua dor e sofrimento.
No Brasil, a eutanásia é considerada homicídio, já na Holanda é permi-
tida por lei.
Um dos casos mais recentes de eutanásia é o da americana Terri Schiavo: 
seu marido entrou com um pedido na justiça para que os aparelhos que 
mantinham Terri viva fossem desligados.
Esse caso chamou a atenção do mundo todo, muitas pessoas se ma-
nifestaram contra, as igrejas se revoltaram com tal situação, a família 
da paciente era contra, os pais dela entraram na justiça tentando im-
pedir tal ação. No fim, a justiça e o governador da Califórnia, Arnold 
Schwarzenegger, decidiram pelo desligamento dos aparelhos que a man-
tinham viva.
(Disponível em: <www.brasilescola.com/sociologia/eutanasia.htm>. 
Acesso em: 14 mar. 2013.)
Utilizando o texto acima para motivar suas reflexões e levando em consideração seus co-
nhecimentos acerca do assunto, escreva um texto dissertativo-argumentativo, de 100 a 120 
palavras (de 20 a 25 linhas), em conformidade com a norma-padrão da Língua Portuguesa, 
sobre o tema:
A eutanásia deve ser permitida no Brasil?
Direitos humanos e relações étnico-raciais138
2. O filme Gattaca: experiência genética se passa em um futuro, talvez bem próximo, no qual as 
técnicas de engenharia genética seriam capazes de orientar a produção de filhos “perfeitos”.
“Mesmo que um pouco ficcionista o filme Gattaca (Dir. Andrew Niccol, 1997. 101 min. 
Estados Unidos) relata uma nova ordem social, fruto de uma “matemática genética esta-
belecida ao nascer: predisposições genéticas a desordens caracterizavam os inválidos, ao 
passo que osválidos eram aqueles com altos índices de ‘quociente genético’, um conceito 
eficientemente criado pelo filme para resumir o conjunto de expectativas sociais condensa-
das pela biologia.” (DINIZ, 2001, p. 97). Gattaca representa uma nova ordem social porque 
se estabelecem castas não sobre fundamentos étnicos, raciais ou econômicos, mas sim sobre 
características genéticas, as quais estabelecem a ponte entre válidos e inválidos. Como bem 
adverte Débora Diniz (2001, p. 97), “a lição profética do filme é aquela que aponta para o 
risco de que o desenvolvimento da genética e sua conversão na mais poderosa das religiões 
transformem-se em uma força totalitária inquestionável: a força de uma suposta natureza 
imutável, que sempre esteve encoberta e que, agora, miraculosamente vem sendo descorti-
nada pela ciência.”
Certamente há um pouco de ficção na história que nos relata o filme Gattaca, porém, não 
seria nada surpreendente que a nossa sociedade, já acostumada em estabelecer castas sobre 
diversos fundamentos, use do conhecimento que as ciências biotecnológicas nos têm pro-
porcionado para a fundação de uma nova ordem social. Já se tem notícia de que razões bio-
lógicas ou médicas têm formado categorias sociais de excluídos, por exemplo, os portadores 
de HIV.” (ECHTERHOFF, 2010, p. 74).
Com base nas ideias apresentadas pelo filme Gattaca: experiência genética, disserte, correla-
cionando os temas eugenia e diagnósticos pré-natais e/ou pré-implantatórios.
3. (ENADE-2004)
A Reprodução Clonal do Ser Humano
A reprodução clonal do ser humano acha-se no rol das coisas preocu-
pantes da ciência juntamente com o controle do comportamento, a en-
genharia genética, o transplante de cabeças, a poesia de computador e o 
crescimento irrestrito das flores plásticas.
A reprodução clonal é a mais espantosa das perspectivas, pois acarreta 
a eliminação do sexo, trazendo como compensação a eliminação me-
tafórica da morte. Quase não é consolo saber que a nossa reprodução 
clonal, idêntica a nós, continua a viver, principalmente quando essa vida 
incluirá, mais cedo ou mais tarde, o afastamento provável do eu real, en-
tão idoso. É difícil imaginar algo parecido à afeição ou ao respeito filial 
por um único e solteiro núcleo; mais difícil ainda é considerar o nosso 
novo eu autogerado como algo que não seja senão um total e desolado 
Direitos humanos e sua correlação com a bioética 139
órfão. E isso para não mencionar o complexo relacionamento interpes-
soal inerente à auto-educação desde a infância, ao ensino da linguagem, 
ao estabelecimento da disciplina e das maneiras etc. Como se sentiria 
você caso se tornasse, por procuração, um incorrigível delinquente juve-
nil na idade de 55 anos?
As questões públicas são óbvias. Quem será selecionado e de acordo 
com que qualificações? Como enfrentar os riscos da tecnologia erronea-
mente usada, tais como uma reprodução clonal autodeterminada pelos 
ricos e poderosos, mas socialmente indesejáveis, ou a reprodução fei-
ta pelo Governo de massas dóceis e idiotas para realizarem o trabalho 
do mundo? Qual será, sobre os não reproduzidos clonalmente, o efeito 
de toda essa mesmice humana? Afinal, nós nos habituamos, no decor-
rer de milênios, ao permanente estímulo da singularidade; cada um de 
nós é totalmente diverso, em sentido fundamental, de todos os bilhões. 
A individualidade é um fato essencial da vida. A ideia da ausência de um 
eu humano, a mesmice, é aterrorizante quando a gente se põe a pensar 
no assunto.
[...]
Para fazer tudo bem direitinho, com esperanças de terminar com genuí-
na duplicata de uma só pessoa, não há outra escolha. É preciso clonar o 
mundo inteiro, nada menos.
(THOMAS, Lewis. A Medusa e a Lesma. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 59.)
Em, no máximo, dez linhas, expresse a sua opinião em relação a uma (e somente uma) das 
questões propostas no terceiro parágrafo do texto.
Gabarito
1 Noções gerais de direitos humanos
1. Da análise do texto em questão, verifica-se que o fato descrito traz em seu âmago a violação aos 
direitos humanos de segunda geração, os chamados direitos sociais, econômicos e culturais, nas-
cidos do chamado Estado de bem-estar social.
Esses direitos exigem uma atuação positiva do Estado visando assegurar aos seus cidadãos qualida-
de de vida, educação, saúde, acesso a um trabalho digno e à assistência social, dentre outros direitos.
2. Nessa questão do Enade, é possível explorar qualquer um dos temas chaves:
• a habitação como moradia digna e não apenas como necessidade de abrigo e proteção;
• a segurança como bem-estar e não apenas como necessidade de vigilância e punição;
• o trabalho como ação para a vida e não apenas como necessidade de emprego e renda.
Deve-se partir do próprio princípio da dignidade da pessoa humana, ao iniciar qualquer um dos 
temas, examinando, inclusive, a Constituição Federal de 1988.
O conceito de moradia digna, para a Agenda Habitat,
[...] é aquela que oferece condições de vida sadia, com segurança, apresen-
tando infraestrutura básica, como suprimento de água, saneamento básico 
e energia, e contando com a prestação eficiente de serviços públicos urba-
nos, tais como saúde, educação, transporte coletivo, coleta de lixo. Ainda, 
pressupõe a segurança da habitação: é possível ir e vir em segurança e o 
local não é suscetível a desastres naturais. Quanto à acessibilidade, é preciso 
que a infraestrutura viária permita o acesso decente e seguro à habitação. 
(DIAS, 2012)
Esse direito é expressamente previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, 
que garante que “toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua 
família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação [...]” (artigo XXV, item 1).
E está consagrado na Constituição Federal de 1988, no seu artigo 6.º, como direito social (defi-
nindo, também, como competência de todos os entes da Federação) a promoção de programas 
de construção de moradias e de melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico 
(CF, art. 23, IX).
3. Deve-se escolher um dos direitos humanos e realizar uma breve dissertação a respeito, exami-
nando-o com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Federal. 
Escolhemos o direito à privacidade.
O núcleo do direito à privacidade é
a faculdade concedida ao indivíduo, a todos oponível, de subtrair à intro-
missão alheia e ao conhecimento de terceiros certos aspectos da sua vida 
que não deseja participar a estranhos, ou seja, de decidir o que vai desnudar 
aos outros, de que forma e em que circunstâncias. (CARVALHO, 2003)
142 Avaliação do impacto e licenciamento ambiental142142142
O primeiro texto internacional a proteger a intimidade foi a Declaração Americana dos Direitos e Deve-
res do Homem, aprovada em Bogotá, no dia 2 de maio de 1948, no seu artigo 5.º (FARIAS, 1996, p. 111).
A nossa Constituição Federal prevê, expressamente, em consonância com os valores por ela consa-
grados, a proteção do direito à privacidade (incluindo o direito à intimidade e à vida privada) no seu 
artigo 5.º, inciso X, 71, bem como em diversos outros dispositivos que buscam resguardar aspectos 
particulares da vida dos indivíduos, assegurando a inviolabilidade da casa (inciso XI), do sigilo de da-
dos, da correspondência e das comunicações (inciso XII), entre outros dispositivos, alguns dos quais 
preveem instrumentos processuais para assegurar o direito à privacidade.
2 Dos direitos das crianças e dos adolescentes
1. “Cerca de 50 meninos e meninas de rua, com idades entre 11 e 19 anos, dormem em frente à Igreja da 
Candelária, no centro do Rio, quando são atacados por seis policiais que abrem fogo contra o grupo. 
Oito morrem e muitos ficam feridos. O episódio teve grande impacto e forte repercussão internacio-
nal” (INSTITUTO LULA, Memorial da Democracia, 2016). Assim podemos descrever como ocorreu 
a Chacina da Candelária, na madrugada do dia 23 de julho de 1993.
De igual forma, no caso Villagrán Morales eoutros vs. Guatemala, a chacina foi praticada por policiais, o 
que gera ainda mais insegurança e desafia o mecanismo estatal. Todavia, ao contrário do caso Villagrán 
Morales, em que foi necessária a intervenção da Corte Internacional (pois o Estado da Guatemala não 
tinha tomado medidas judiciais para investigar os fatos e punir os autores do crime), no Brasil isso ocor-
reu muito mais pela pressão da opinião pública e de organizações brasileiras e estrangeiras.
As investigações apontaram que “seis policiais militares planejaram friamente o massacre. Três deles 
foram condenados, dois absolvidos e um morreu durante as investigações. Os policiais Marcus Vi-
nícius Borges Emmanuel e Marcos Aurélio Dias Alcântara foram condenados a mais de 200 anos de 
prisão; Nélson Oliveira dos Santos Cunha, a 45.”. Todos cumpriram parte da pena em regime fechado 
e foram posteriormente beneficiados por indultos ou liberdade condicional.
2. Como diretor, por expressa previsão do ECA (art. 13), você deverá obrigatoriamente comunicar o 
caso de suspeita de maus-tratos ao Conselho Tutelar da localidade, sob pena de responder adminis-
trativamente pela omissão, nos termos do art. 245 do ECA.
3. Primeiramente, analisando os textos, apontamos as seguintes razões contrárias à redução da maiori-
dade penal:
• o dispositivo constitucional que prevê a maioridade aos 18 anos (art. 228 da CF) é 
uma cláusula pétrea (art. 60, §4.º da CF) e, como tal, não pode ser modificada por 
emenda constitucional;
• os crimes cometidos por adolescentes estão ligados a uma questão social, a qual deve 
ser primeiramente solucionada pelo Estado, devendo este assumir o seu papel ativo no 
cumprimento das políticas públicas e na garantia dos direitos fundamentais assegurados 
pela CF/1988;
• “o simples aumento do número de encarcerados, e a consequente ampliação da lotação 
dos presídios, em nada irá diminuir a violência” (OAB, 2016);
• o sistema carcerário brasileiro não recupera sequer os adultos, quem dirá os adolescentes;
Gabarito 143
• “segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública, jovens entre 16 e 18 anos são res-
ponsáveis por menos de 0,9% dos crimes praticados no país. Se forem considerados os 
homicídios e tentativas de homicídio, esse número cai para 0,5%” (PRAZERES, 2015);
• deve haver investimentos em educação e no combate ao trabalho infantil como solução 
para a criminalidade;
• em vez de reduzir a maioridade penal devemos dar efetividade ao ECA em relação às me-
didas socioeducativas, e não tratar os jovens como meros delinquentes, sem lhes garantir 
a reeducação e reinserção social.
Da análise dos argumentos favoráveis, podemos citar os seguintes:
• a alteração da maioridade penal não acabaria com direitos e garantias individuais, apenas 
iria impor novas regras, o que não geraria a ofensa ao art. 60, §4.º da CF, que estabelece 
as cláusulas pétreas;
• a impunidade dos jovens gera mais violência: por terem consciência de que não serão 
punidos continuam a cometer crimes;
• a redução da maioridade iria proteger os jovens do aliciamento pelo crime organizado;
• o Brasil precisa alinhar a sua legislação ao dos países desenvolvidos, como os “EUA, onde, 
na maioria dos Estados, adolescentes acima de 12 anos de idade podem ser submetidos a 
processos judiciais da mesma forma que adultos” (PRAZERES, 2015);
• a maioria da população brasileira é favorável à redução da maioridade penal. Pesquisa do 
instituto CNT/MDA indicou que 92,7% dos brasileiros são favoráveis a medida;
• se o jovem tem consciência aos 16 anos para votar, tem consciência para responder por 
seus atos criminosos.
3 Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos
1. No decorrer do texto e das pesquisas se constatou que as violências contra os idosos têm como princi-
pal agente causador os familiares. E quando se fala em violência, não se está a indicar apenas a violên-
cia física, mas também a psicológica – aquela resultante do abandono do idoso pelos entes familiares 
–, que gera consequências maléficas para a saúde física e mental dessas pessoas.
Não há razões para não admitir que o abandono afetivo por parte dos familiares (em especial pelos 
filhos) pode gerar responsabilização penal. Exemplos disso são os arts. 98 e 99 do Estatuto do Idoso e 
o Código Civil, com a condenação dos agentes pelos danos morais sofridos pelos idosos, nos termos 
dos arts. 186 e 927.
Já que não é possível obrigar o amor, critério subjetivo, é possível obrigar os cuidados mínimos 
– este, sim, critério objetivo. Em caso de descumprimento, devem ser reparados todos os danos 
sofridos pelo idoso.
2. Damião Ximenes Lopes tinha 30 anos quando, em outubro de 1999, foi internado por sua mãe Alber-
tina Viana Lopes na única clínica psiquiátrica do município de Sobral, no Ceará, em razão de um qua-
dro de sofrimento mental. Quatro dias depois, a sua genitora, ao tentar realizar visita, foi impedida, 
porém mesmo assim conseguiu adentrar na clínica, onde encontrou seu filho com as mãos amarradas 
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para trás, sangrando pelo nariz, com a cabeça toda inchada, com os olhos quase fechados, com vários 
machucados pelo corpo e cheirando a excrementos e urina. Após exigir que o desamarrassem a mãe 
pediu ajuda dos profissionais da clínica para limpá-lo, sendo que o único médico ali existente lhe teria 
receitado remédios sem sequer realizar exames. Após a mãe deixar a clínica, quando chegou em casa, 
a genitora havia recebido recado da clínica, e ao retornar, teve a notícia que seu filho havia morrido.
Após realizar exame no IML pelo mesmo médico da Clínica, este conclui por “morte real de causa 
indeterminada”, mesmo havendo sinais de prática de tortura (ROSATO; CORREIA, 2011).
Além de ajuizar ação criminal e ação civil indenizatória contra o proprietário da Clínica, a famí-
lia peticionou contra o Estado brasileiro perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
(CIDH). Após as conclusões da Comissão, diante do não cumprimento integral por parte do Brasil 
das recomendações (foi recomendado que o Estado brasileiro fizesse “uma investigação completa, im-
parcial e efetiva dos fatos relacionados com a morte de Damião Ximenes Lopes e reparasse adequada-
mente seus familiares pelas violações [...] incluído o pagamento de uma indenização”), tanto a família 
como a própria Comissão encaminhou o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Em 2006, a Corte Interamericana de Direitos Humanos apresentou sua sentença, condenando o Bra-
sil pela primeira vez em um caso de violação de direitos humanos, “pela violação dos direitos consa-
grados nos artigos 4 (direito à vida); 5 (direito à integridade pessoal); 8 (direito às garantias judiciais) 
e 25 (direito à proteção judicial) da Convenção Americana, em relação à obrigação estabelecida no 
artigo 1.1 (obrigação de respeitar os direitos) da mesma, em prejuízo de Damião Ximenes, pelas con-
dições inumanas e degradantes de sua hospitalização, em um clínica psiquiátrica que operava dentro 
do marco legislativo do SUS no Brasil” (ROSATO; CORREIA, 2011).
A Corte condenou o Brasil, ainda, a reparar moralmente e materialmente a família Ximenes, me-
diante o pagamento de uma indenização e outras medidas não pecuniárias. “Dentre elas, o Brasil 
foi instado a investigar e identificar os culpados da morte de Damião em tempo razoável e também 
promover programas de formação e capacitação para profissionais de saúde, especialmente médicos/
as psiquiatras, psicólogos/as, enfermeiros/as e auxiliares de enfermagem, bem como para todas as 
pessoas vinculadas ao campo da saúde mental” (ROSATO; CORREIA, 2011).
3. Não raro as pessoas passam a vida lutando pela aquisição da casa própria, chegam à velhice sem ao 
menos ter garantido o direito à moradia, submetendo-se à ajuda de familiares ou até mesmo tendo 
que continuar a trabalhar mesmo após a aposentadoria, pois o valor do benefício não é suficiente para 
as despesas básicas e o aluguel de uma moradia digna.O Estatuto do Idoso, entre os diversos direitos consagrados, também prevê (ao menos em tese) o 
direito à moradia, estabelecendo, no seu artigo 37, que “o idoso tem direito à moradia digna, no seio 
da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, 
ainda, em instituição pública ou privada”.
A regra é o exercício desse direito com sua família natural ou substituta, e, excepcionalmente, quando 
inexistente grupo familiar, casa-lar, em casos de abandono ou carência de recursos financeiros pró-
prios ou da família. Esse direito será exercido no âmbito de entidades de longa permanência (§1.º do 
art. 37). Essas entidades devem manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades dos 
idosos, provendo-os de alimentação regular e higiene (§3.º do art. 37).
Gabarito 145
O Estatuto também prevê a obrigatoriedade de o governo criar programas habitacionais para dar 
prioridade aos idosos na aquisição da casa própria:
Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos 
públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia pró-
pria, observado o seguinte:
I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades habitacionais resi-
denciais para atendimento aos idosos;
II - implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso;
III - eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de aces-
sibilidade ao idoso;
IV - critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposenta-
doria e pensão.
Parágrafo único. As unidades residenciais reservadas para atendimento a idosos 
devem situar-se, preferencialmente, no pavimento térreo.
4 Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT
1. Chega a ser inacreditável que em pleno ano de 2012 uma menina seja alvo de um ataque covarde em 
razão de sua pretensão de estudar e alcançar o mesmo patamar de educação dos homens.
Mas, infelizmente, esta é a realidade de alguns países do Oriente em razão de sua cultura e da sua 
religião. As mulheres são relegadas ao espaço privado e destinadas exclusivamente aos afazeres do-
mésticos, sem que se reconheça o direito à igualdade e a possibilidade de inclusão social.
Malala Yousafzai não precisou pegar em armas para mostrar a sua luta contra um regime terrorista 
e desigual: apenas continuou a lutar pelo exercício de um direito, o direito à educação, o que foi sufi-
ciente para ser quase assassinada pelo talibã e hoje ser obrigada a morar fora de seu país para poder 
conquistar seus sonhos e viver em paz.
No entanto, mesmo tendo passado por tudo o que passou, Malala ainda defende o exercício de seu 
direito e pretende lutar para que outras jovens e mulheres também o alcancem; inclusive, tem a pre-
tensão de se tornar uma política para retornar ao seu país e lutar pela igualdade de gêneros.
2. 
a) Estão entre os argumentos utilizados pelos que criticam o sistema de cotas:
• que a previsão do sistema de cotas feriria o princípio constitucional da igualdade, sendo 
que diferença baseada tão somente na cor da pele não é um critério razoável e um fim 
legítimo para um tratamento desigual;
• políticas instituídas com base no critério de raça em nome da justiça social não eliminam 
o racismo, podendo produzir efeito contrário, acirrando a intolerância;
• há dificuldade para se definir quem é negro no Brasil, devido à miscigenação;
• o acesso à universidade deve se basear num único critério – o mérito –, sob pena de amea-
çar a qualidade acadêmica.
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b) Entre os argumentos utilizados pelos que defendem o sistema de cotas, podemos citar:
• o sistema de cotas é a concretização do princípio da igualdade material, promovendo a 
igualdade por meio da desigualdade como forma de reparar décadas de exclusão dessa 
parcela da população do reconhecimento e efetivação de direitos;
• a adoção do sistema de cotas reconhece as diferenças decorrentes de décadas de exclusão 
social e não significa a inferiorização de determinado grupo social;
• a alegação de que é difícil se definir quem é negro não procede, pois não faltam agentes 
sociais versados em identificar os negros quando o intuito é discriminá-los;
• pesquisas revelam que, entre as universidades que adotaram os sistemas de cotas, não há 
diferença de rendimentos entre os alunos cotistas e os não cotistas, inclusive verificando-
-se que os cotistas são mais assíduos.
3. Quando se fala em orientação sexual no âmbito da legislação brasileira, verifica-se que a nossa 
Constituição Federal, embora não venha abordar expressamente a questão, traz em seu âmago 
princípios e valores que não permitem negar o reconhecimento ao direito da comunidade LGBT, 
em especial quando examinamos o princípio da dignidade da pessoa humana, o direito à igual-
dade e à liberdade sexual.
Analisando a legislação civil em relação à adoção também não se vislumbra nenhum dispositivo legal 
relacionado ao tema; porém, também não há qualquer proibição da adoção por casais homossexuais 
ou até mesmo pessoas solteiras com orientação sexual diversa de heterossexual.
Num exame atento da jurisprudência sobre o assunto, embora ainda exista posicionamento contrário, 
verifica-se uma tendência à permissão da adoção por homossexuais, em especial ao se verificar que 
o pressuposto da adoção é o melhor interesse da criança, sendo que estando este assegurado na com-
panhia do homossexual, o qual lhe atende as necessidades básicas, seja econômicas, seja em relação à 
educação e carinho, não haveria motivos para a não permissão.
Ademais, considerando a quantidade de crianças disponíveis para adoção sem oportunidade de al-
cançar um lar e uma família – porque os pretendentes à adoção heterossexuais, em regra, têm prefe-
rências em relação à idade ou se negam a aceitar crianças deficientes –, a jurisprudência não vislum-
bra razões em se preferir deixar que essas crianças permaneçam até a maioridade em entidades de 
acolhimento em vez de lhes dar um lar e uma família, mesmo que de orientação homossexual.
5 Direito para todos e combate às violações e ao trabalho escravo
1. A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Lei n. 12.528/2011 e instituída em 16 de maio de 
2012, tendo como finalidade apurar graves violações de direitos humanos ocorridas no período da 
Ditadura Militar. É considerada um dos instrumentos de políticas públicas que visa ao combate às 
violações, pois tem como um dos seus principais objetivos “promover o esclarecimento circunstan-
ciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria” 
(art. 3.º, II da Lei n. 12.528/2011).
O relatório final da CNV, entregue em 10 de dezembro de 2014 à presidente Dilma Rousseff, indica 
434 mortes e desaparecimentos de vítimas (210 são consideradas desaparecidas). O texto indica que 
esses números decorreram da “prática sistemática de detenções ilegais e arbitrárias e de tortura, assim 
como o cometimento de execuções, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres por agentes 
Gabarito 147
do Estado brasileiro” (EBC AGÊNCIA BRASIL, 2014).
A Comissão Nacional da Verdade recomendou a adoção de um conjunto de dezessete medidas insti-
tucionais e de oito iniciativas de reformulação normativa de âmbito constitucional ou legal, além de 
quatro medidas de seguimento das ações e recomendações da CNV.
Entre as medidas institucionais, há a recomendação de reconhecimento por parte das Forças Arma-
das de sua responsabilidade institucional pela ocorrência de graves violações de direitos humanos du-
rante a Ditadura Militar (1964-1985). Recomendou, ainda, a determinação, pelos órgãos competen-
tes, da responsabilidade jurídica – criminal, civil e administrativa – dos agentes públicos que deram 
causa às graves violações de direitos humanos ocorridas no período investigado pela CNV, afastando, 
em relação a esses agentes, a aplicação dos dispositivos concessivos de anistia, inscritos nos artigos 
da Lei 6.683,

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