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Direitos Humanos e Relações Étnico-Raciais

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Código Logístico
57937
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6462-5
9 788538 764625
Direitos humanos
e relações étnico-raciais
IESDE BRASIL S/A
2018
Gisele Echterhoff
Claudia Amorim
Marcos Dias de Araújo
Mariana Paladino
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D635
Direitos humanos e relações étnico-raciais / Gisele Echterhoff ... 
[et al.]. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2018.
246 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6462-5
1. Direitos humanos. I. Echterhoff, Gisele. II. Título.
18-5014 CDU:347.2
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Evgeny Gromov/iStockphoto.
Gisele Echterhoff
Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista 
em Direito Civil pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar. Graduada em Direito pela PUCPR. 
Assessora no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Professora de graduação e pós-graduação 
em Direito e autora de artigos e livros.
Claudia Amorim
Pós-doutora em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo 
(USP). Doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 
Mestre em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especialista em 
Literatura Portuguesa e graduada em Letras Português – Literaturas de Língua Portuguesa pela 
UFRJ. Professora do ensino superior e autora de livros sobre literatura africana.
Marcos Dias de Araújo
Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduado em 
História pela UFPR. Professor de História do Brasil, Relações Internacionais e História da Arte em 
cursos de graduação e pós-graduação. Autor de artigos e livros. 
Mariana Paladino
Doutora em Antropologia e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal 
do Rio de Janeiro (UFRJ). Graduada em Antropologia pela Universidad Nacional de La Plata, 
Argentina. Atua nos seguintes temas: educação, interculturalidade, ações afirmativas, políticas in-
digenistas e relações interétnicas.
Sumário
Apresentação 9
1 Noções gerais de direitos humanos 11
1.1 A evolução histórica dos direitos humanos 11
1.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos e os organismos internacionais 
de proteção aos direitos humanos 19
1.3 Os direitos humanos no âmbito nacional: da Constituição Federal de 1988 aos 
sistemas de proteção aos direitos humanos 24
2 Dos direitos das crianças e dos adolescentes 31
2.1 A proteção dos direitos da criança e do adolescente em âmbito 
internacional 31
2.2 ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente 36
2.3 Combate ao trabalho infantil e à pedofilia 41
3 Dos direitos das pessoas com deficiência e dos idosos 55
3.1 Pessoas com deficiência: inclusão social, acessibilidade, planos e 
programas 55
3.2 Pessoas idosas: o estatuto do idoso, qualidade de vida e proteção 60
3.3 Cuidados especiais e combate à violência 66
4 Diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT 75
4.1 Preconceito, racismo e desigualdades no Brasil – questões étnico-raciais 75
4.2 Diversidade religiosa: o direito à liberdade de consciência, crença e religião 83
4.3 Equidade de gênero, direitos da mulher e Lei Maria da Penha 88
4.4 Direitos da população LGBT, enfrentamento e combate ao preconceito, à 
discriminação e à violência 95
5 Direitos para todos e combate às violações e ao trabalho escravo 105
5.1 Direitos para todos e políticas públicas 105
5.2 Defesa dos direitos humanos e combate às violações 112
5.3 Combate ao trabalho escravo 116
6 Direitos humanos e sua correlação com a bioética 123
6.1 Conceitos elementares: biotecnologia, bioética e biodireito 123
6.2 Reprodução artificial e alguns aspectos polêmicos 127
6.3 O código genético humano 131
Gabarito 141
Referências 149
7 Conceitos de raça, etnia e identidade cultural e nacional 161
7.1 Raça 161
7.2 Etnia 165
7.3 Identidade nacional e múltiplas identidades 167
7.4 A identidade nacional brasileira 172
8 A África lusófona: um pouco de história 175
8.1 Breve panorama histórico da África lusófona 175
8.2 A colonização das ilhas do Atlântico e da Costa africana 176
8.3 O Império Colonial português nas ilhas e nas terras africanas 177
8.4 A independência dos cinco países africanos lusófonos 178
8.5 A República portuguesa e o golpe militar de 1926 178
8.6 A criação dos movimentos pela independência das colônias na África 
portuguesa 180
9 A África lusófona e o Brasil: laços e letras 183
9.1 Os africanos no Brasil: um pouco de história 183
9.2 Identidades e diferenças entre as culturas do Brasil e dos países africanos 
lusófonos 190
9.3 Estudos afro-brasileiros na contemporaneidade 193
10 História e historiografia indígena 197
10.1 O sistema colonial e missionário (1549-1755) 197
10.2 Descobrimento, encontro ou conquista? 198
10.3 Os aldeamentos e a escravização indígena 199
10.4 As imagens sobre os índios nos séculos XVIII, XIX e XX 206
11 Situação contemporânea dos povos indígenas 211
11.1 Quem são e quantos são os povos indígenas hoje no Brasil 211
11.2 Diversidade linguística e cultural 215
11.3 Formas de organização social e parentesco 216
11.4 Economias indígenas 217
11.5 Religiões indígenas 218
12 Políticas de ações afirmativas, políticas curriculares e currículo 221
12.1 As questões demográficas e raciais do Brasil 221
12.2 Ações afirmativas no mundo 226
12.3 Ações afirmativas no Brasil 228
12.4 Políticas curriculares 229
12.5 Currículo 233
Gabarito 237
Referências 241
9
Apresentação
Você está iniciando a leitura de um livro que é muito importante para a sua formação acadê-
mica e, principalmente, para a construção de sua condição de cidadão. Estudar direitos humanos e 
relações étnico-raciais é de extrema relevância para a formação de um verdadeiro cidadão, já que 
vivemos em sociedade e precisamos aprender a conviver em harmonia, respeitando as diferenças.
O objetivo desta obra é fornecer uma noção geral sobre esses temas, procurando aprofundar 
alguns assuntos específicos e indispensáveis, como os direitos das crianças e dos adolescentes, dos 
idosos, das pessoas com deficiência e discutir questões relacionadas à diversidade étnico-racial, 
religiosa, de gênero e LGBT.
A obra está dividida em duas partes: a primeira (capítulos 1 a 6) trata sobre os direitos hu-
manos de forma mais ampla, já a segunda (capítulos 7 a 12) trata, especificamente, das relações 
étnico-raciais. 
No Capítulo 1 são dadas noções gerais sobre os direitos humanos e apresentada um pouco da sua 
história, além das leis e dos sistemas de proteção aos direitos humanos. O Capítulo 2 foca nos direitos 
das crianças e dos adolescentes, no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e no combate ao traba-
lho infantil e à pedofilia. Os direitos das pessoas com deficiência e dos idosos são tratados no Capítulo 3, 
que discute a importância da inclusão social e de programas de acessibilidade. Na sequência, o Capítulo 
4 aborda de forma ampla a diversidade étnico-racial, religiosa, de gênero e LGBT. São tratados temas 
como preconceito, racismo, diversidade religiosa, equidade de gênero e direitos da população LGBT. 
O combate às violações e ao trabalho escravo são temas do Capítulo 5. Por fim, o Capítulo 6 discute 
aspectos polêmicos da bioética, como a reprodução artificial.
O Capítulo 7, que inicia a segunda parte deste livro, problematiza os conceitos de raça, etnia 
e identidade cultural e nacional, com o objetivo de discutir o que seria a identidade nacional brasi-
leira. Os Capítulos 8 e 9 tratam sobre a história e cultura da África lusófona, procurando relacionar 
a cultura dos povos africanos com a do povobrasileiro. Já a história e a cultura dos povos indígenas 
são apresentadas nos Capítulos 10 e 11. Fechando o livro, o Capítulo 12 discute as políticas de ações 
afirmativas e as políticas curriculares relacionadas às questões étnico-raciais.
Bons estudos!
1
Noções gerais de direitos humanos
Gisele Echterhoff
Não raro, ao iniciar uma disciplina que não seja diretamente relacionada ao curso, os alunos 
ouvem de seus professores a importância da interdisciplinaridade. Isso não será diferente em rela-
ção a essa obra, tendo em vista a importância do conhecimento de noções gerais de direitos huma-
nos, que vai muito além da necessidade decorrente do exercício profissional, pois está diretamente 
relacionada ao exercício da cidadania.
Este capítulo examinará noções gerais sobre o tema e adentrará em aspectos históricos de 
maior relevância, além de analisar alguns diplomas e organismos internacionais que visam à pro-
teção desses direitos para, ao final, analisar a legislação nacional.
1.1 A evolução histórica dos direitos humanos
Qualquer estudo sobre a concepção de direitos se inicia pela ideia central 
da origem da sociedade e da consequente necessidade de se estabelecer regras de 
conduta para convivência.
Por diversas vezes ouvimos a afirmação de que o ser humano é, por nature-
za, um ser social, e como tal, sente a necessidade de viver em grupos. A vida em 
sociedade se torna cada vez mais necessária quando se constata que é mais fácil dividir tarefas e 
congregar esforços para conquistar qualidade de vida.
Porém, a vida em sociedade, por menores que sejam esses grupos sociais, gera conflitos. Nas 
civilizações mais antigas e rudimentares, esses conflitos, em regra, eram solucionados por meio da 
força bruta, gerando ainda mais desavenças e violência. Aos poucos – até mesmo em razão da com-
plexidade da vida em sociedade – o ser humano percebeu a necessidade de se estabelecer regras de 
conduta para uma melhor convivência.
Por esta breve contextualização se visualiza o nascedouro do Direito, aqui tomando a pala-
vra pelo seu sentido mais leigo, como sinônimo de leis, regras e normas de conduta.
Continuando, como que criando uma história em quadrinhos, podemos imaginar que, cer-
tamente, alguém tomou as rédeas da criação dessas normas, e de forma justa ou injusta, correta 
ou não, legítima ou não, passou a estabelecer as regras de convivência de determinada sociedade.
Ainda – como não é impossível de acontecer –, esse alguém (um soberano, um impera-
dor, um governante etc.) passou a, inevitavelmente, atender aos seus próprios interesses e aos de 
seus semelhantes, provocando situações de exploração dos demais indivíduos, suscitando revolta 
e, possivelmente, situações de violência e opressão.
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais12
Essa historinha, aparentemente simples, demonstra com clareza situações de abuso de 
poder que são a primeira fonte dos direitos humanos (também chamados direitos humanos 
de primeira geração), que surgem exatamente como forma de limitar o poder dos soberanos e 
garantir direitos mínimos ao restante da população. Após essa contextualização, passemos a 
uma análise mais técnica.
Iniciar o estudo sobre os direitos humanos exige uma conceituação da expressão. De acordo 
com a ONU Brasil: “Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, inde-
pendentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição”. 
Incluem-se “o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao traba-
lho e à educação, entre e muitos outros. Todos e todas merecem estes direitos, sem discriminação”.
Os direitos humanos são considerados aqueles essenciais ao ser humano, que existem em 
razão da natureza humana.
João Baptista Herkenhoff (1994, p. 30) assim conceitua direitos humanos:
Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos 
aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por 
sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos 
que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são 
direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir.
Embora a expressão direitos humanos seja a mais utilizada, é necessário observar que há 
outras denominações. É comum usar expressões como direitos naturais, direitos públicos subjetivos, 
liberdades públicas, direitos morais, direitos dos povos, direitos do homem, direitos fundamentais, 
dentre outros.
As terminologias mais utilizadas são direitos humanos e direitos fundamentais. Todavia, mes-
mo que a distinção não seja tão relevante na atualidade, estas expressões não são consideradas, em 
si, como sinônimas. A expressão direitos humanos se refere àqueles direitos no âmbito da ordem 
internacional, independentemente do reconhecimento por um ordenamento jurídico específico, 
possuindo caráter supranacional. A par disso, a denominação direitos fundamentais “se aplica para 
aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional po-
sitivo de determinado Estado” (SARLET, 2005, p. 35-36).
Partindo para a evolução histórica dos direitos humanos como direitos essenciais à proteção 
do ser humano, por evidência que estes não surgiram todos somente em um momento da histó-
ria, tendo sido frutos da evolução da civilização humana e, em especial, em razão da limitação do 
poder político.
Da mesma forma, não se pode afirmar que a teoria dos direitos humanos já era concebida 
na Antiguidade, pelo contrário, a sua concepção tal qual conhecemos na atualidade é muito mais 
produto dos acontecimentos decorrentes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Todavia, a proteção da pessoa humana já era conhecida na Antiguidade, sendo, em especial, 
tratada por filósofos como Zaratustra, na Pérsia; Buda, na Índia; Confúcio, na China; Dêutero- 
-Isaías, em Israel, além de Platão e Aristóteles, na Grécia. No âmbito normativo, também é possí-
vel apontar várias legislações que já demonstravam preocupação com a proteção desses direitos, 
Noções gerais de direitos humanos 13
dentre eles, por exemplo, o Código de Hammurabi (1792-1750 a.C.), considerado o primeiro códi-
go de normas de condutas, preceituando esboços de direitos como o direito à vida, à propriedade e 
à honra; além da Lei das Doze Tábuas na República Romana, que veio estipular uma lei escrita 
como regente das condutas. O direito romano também consagrou vários direitos, como o da pro-
priedade, da liberdade, da personalidade jurídica, entre outros (RAMOS, 2015, p. 32-34).
Segundo Ramos (2015), o cristianismo teve grande influência na proteção da pessoa huma-
na, em especial ao apregoar que o homem é criado à imagem e semelhança de Deus. Necessário 
lembrar também os filósofos católicos, como São Tomás de Aquino, que defendia a igualdade dos 
seres humanos e a aplicação justa da lei.
Foi na Idade Média que se iniciou a luta pela limitação do poder político, pois na Europa o 
poder dos governantes ainda era ilimitado e fundado na vontade divina. Foi nessa época que surgi-
ram os primeiros movimentos de reivindicação de liberdades, dos quais provêm a Declaração das 
Cortes de Leão, adotada na Península Ibérica em 1188 e a Magna Carta inglesa, de 1215.
André de Carvalho Ramos ressalta que a Magna Carta continha um ingrediente “essencial 
ao futuro do regime jurídico dos direitos humanos: o catálogo de direitos dos indivíduos contra o 
Estado” (RAMOS, 2015, p. 36-37). Claro que o documento possuía um caráter elitista, pois prote-
gia o baronato inglês contra os abusos do monarca João Sem-Terra, mas já era o início da luta pela 
limitação do poder político. Salienta o autor que, embora seu foco seja a elite fundiária, a Magna 
Carta já traz a ideia de governo representativo, além de reconhecer direitos como o de ir e vir em 
situação de paz, de ser julgado pelos seus pares, de acesso à Justiça e proporcionalidade entre o 
crime e a pena.
Após a criseda Idade Média e o questionamento dos estados absolutistas, o poder soberano 
do rei se tornou cada vez mais limitado. Exemplo disso é a Petition of Right (Petição de Direitos), de 
1628, por meio do qual o baronato inglês novamente impõe limites ao poder do rei em relação à co-
brança de impostos, tornando-o dependente de autorização do Parlamento. Esse documento ainda 
estabeleceu que “nenhum homem livre podia ser detido ou preso ou privado dos seus bens, das 
suas liberdades e franquias, ou posto fora da lei e exilado ou de qualquer modo molestado, a não 
ser por virtude de sentença legal dos seus pares ou da lei do país” (RAMOS, 2015, p. 37-38), sendo 
o embrião do devido processo legal. Também na Inglaterra, surge a Declaração de Direitos (a Bill 
of Rights de 1689) da Revolução Gloriosa, que reduziu o poder dos reis ingleses de forma definitiva. 
Essa declaração estabeleceu a necessidade de respeito à vontade da lei – superior em relação à von-
tade do soberano – e reafirmou o poder do Parlamento, cujos membros eram livremente eleitos.
Entre os filósofos mais importantes que debateram o tema, Ramos (2015) cita Hobbes, 
Grócio, John Locke, Rousseau e, em especial, Kant (já no final do século XVIII), que defendeu a 
existência da dignidade intrínseca a todo ser racional, que não tem preço ou equivalente, não po-
dendo o ser humano ser tratado como um meio, mas, sim, como um fim em si mesmo – concepção 
atualmente importante para o regime jurídico dos direitos humanos.
Foram as revoluções liberais inglesa, americana e francesa e as suas respectivas declarações 
de Direitos que trouxeram a afirmação histórica dos direitos humanos.
Direitos humanos e relações étnico-raciais14
Já falamos da Revolução Inglesa e do Bill of Rights de 1689. A Revolução Americana, por sua 
vez, deu origem ao processo de independência das colônias britânicas na América do Norte, com a 
Declaração de Independência dos Estados Unidos de 04 de julho de 1776, estipulando que “todos 
os homens são criados iguais, sendo-lhes conferidos pelo seu Criador certos Direitos inalienáveis. 
Que para garantir estes Direitos, são instituídos Governos entre os Homens, derivando os seus 
justos poderes do consentimento dos governados” (RAMOS, 2015, p. 42).
Foi a partir da independência dos Estados Unidos da América que surgiu a primeira constituição 
do mundo, a Constituição Norte-Americana de 1787 e, com ela, a era do constitucionalismo liberal.
A Revolução Francesa fez surgir a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
adotada pela Assembleia Nacional Constituinte francesa em 27 de agosto de 1789, sendo conside-
rada o marco para a proteção dos direitos humanos no plano nacional. A realidade social de desi-
gualdade, o privilégio das castas e a insensibilidade das elites fizeram surgir motins populares que 
resultaram na tomada da Bastilha em 14 de junho de 1789. A Assembleia Nacional Constituinte, 
formada por representantes dos três estamentos, sendo, de um lado, as elites religiosas (clero) e 
a nobreza e, de outro, o chamado terceiro estado (a grande e pequena burguesia além da camada 
urbana sem posses), adotou a Declaração em 27 de agosto de 1789, consagrando a igualdade e a 
liberdade como direitos inatos de todos os indivíduos. Aboliram-se privilégios, direitos feudais e 
imunidades de várias castas, em especial a da aristocracia de terras (RAMOS, 2015, p. 42-43).
A principal premissa da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 
– todos os homens nascem livres e com direitos iguais –, influenciou a Constituição Francesa de 
1791, assim como várias constituições e tratados de direitos humanos posteriores. Essa premissa 
consagra a ideia de universalidade dos direitos humanos, a qual seria definitivamente estabelecida 
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.
As revoluções liberais fizeram surgir uma categoria própria de direitos humanos: aquela 
exercida contra o poder do Estado. Essa visão é própria do momento histórico vivido e da ne-
cessidade da classe burguesa detentora do poder econômico, mas desprestigiada em relação ao 
reconhecimento de direitos na esfera jurídica. Ainda, demonstrou a pretensão de limitação do 
poder estatal em relação ao poder econômico, consagrando direitos como a liberdade e a igualdade 
sempre com enfoque voltado à proteção do patrimônio.
Obviamente, tais movimentos somente agradaram a parcela da população que não pos-
suía os privilégios da elite, ou seja, somente aqueles detentores do poder econômico: a burguesia. 
Consequentemente, passaram a surgir movimentos sociais visando a ampliação do rol de direitos 
humanos para abarcar os direitos sociais, como o direito à educação e à assistência social.
Assim afirma Giuseppe Tosi (2001):
A tradição liberal dos direitos do homem domina o período que vai do Século 
XVII até a metade do Século XIX, quando termina a era das revoluções burgue-
sas. Nesta época, irrompe na cena política o socialismo, que encontra suas raízes 
naqueles movimentos mais radicais da Revolução Francesa que queriam não 
somente a realização da liberdade, mas também da igualdade.
O socialismo, sobretudo a partir dos movimentos revolucionários de 1848 
(ano em que foi publicado o Manifesto da Partido Comunista, de Marx e 
Noções gerais de direitos humanos 15
Engels), reivindica uma série de direitos novos e diversos daqueles da tradi-
ção liberal. A egalité da Revolução Francesa era somente (e parcialmente) a 
igualdade dos cidadãos frente à lei, mas o capitalismo estava criando novas 
grandes desigualdades econômicas e sociais e o Estado não intervinha para 
pôr remédio a esta situação.
Os movimentos revolucionários de 1848 constituem um acontecimento chave 
na história dos direitos humanos, porque conseguem que, pela primeira vez, o 
conceito de “direitos sociais” seja acolhido na Constituição Francesa, ainda que 
de forma incipiente e ambígua. [...] Estava assim aberto o longo e tortuoso ca-
minho que levaria progressivamente à inclusão de uma série de direitos novos e 
estranhos à tradição liberal: direito à educação, ao trabalho, à segurança social, 
à saúde etc. que modificam a relação do indivíduo com o Estado.
Na sua longa luta contra o absolutismo, o liberalismo considerava o Estado 
como um mal necessário e mantinha uma relação de intrínseca desconfiança. 
A questão central era a garantia das liberdades individuais contra a intervenção 
do Estado nos assuntos particulares. Agora, ao contrário, tratava-se de obrigar o 
Estado a fornecer um certo número de serviços para diminuir as desigualdades 
econômicas e sociais e permitir a efetiva participação de todos os cidadãos à 
vida e ao “bem-estar” social.
Surge o chamado Estado de bem-estar social, que passa a ser consagrado nas cartas consti-
tucionais (Constitucionalismo Social) por meio de diversos direitos sociais ao lado dos direitos 
políticos e civis.
George Sarmento ensina que:
Muitos foram os textos precursores dos direitos sociais, econômicos e culturais. 
Entre eles, a Constituição Francesa de 1848, a Constituição Mexicana de 1917, 
a Declaração Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado (1918) e o 
Tratado de Versailles, de 1919. Mas foi a Constituição alemã de 1919, mais co-
nhecida como Constituição de Weimar, que primeiro os sistematizou, criando 
um catálogo de direitos que exerceu forte influência sobre os países democráti-
cos. (2011, p. 5-6)
A par disso – claro que não de forma uniforme e/ou linear, mas tentando se estabelecer 
uma breve noção histórica dos pontos mais marcantes da história dos direitos humanos – não se 
pode esquecer a relevância da Segunda Guerra Mundial para a internacionalização desta categoria 
de direitos.
Somente após as barbáries ocorridas na Segunda Guerra Mundial é que o discurso de pro-
teção dos direitos humanos tomou uma dimensão universal e passou a ser alvo de preocupação 
internacional.
Por isso, Fábio Konder Comparato sustenta:
após três lustros de massacres e atrocidades de toda sorte, iniciados como for-
talecimento do totalitarismo estatal nos anos 30, a humanidade compreendeu, 
mais do que em qualquer outra época da história, o valor supremo da dignidade 
humana. O sofrimento como matriz da compreensão do mundo e dos homens, 
segundo a lição luminosa da sabedoria grega, veio a aprofundar a afirmação 
histórica dos direitos humanos. (2005, p. 54)
Direitos humanos e relações étnico-raciais16
Poderíamos ficar aqui por diversas páginas analisando a influência dos acontecimentos de-
correntes da Segunda Guerra Mundial na evolução dos direitos humanos, mas apenas recordar 
as atrocidades praticadas pelo nazismo durante aquele período já faz lembrar o total desrespeito 
à condição do ser humano pelos regimes totalitaristas, que tiveram a capacidade de, legalmente, 
transformar as pessoas em displaced persons – seres supérfluos.
Como ensina Flávia Piovesan (2015, p. 196), “o legado do nazismo foi condicionar a titula-
ridade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência de determinada raça – a 
raça pura ariana”. Portanto, fundado numa legalidade estrita, o Estado Nazista conseguiu restringir 
a condição de sujeito de direitos apenas àqueles sujeitos da raça pura ariana, negando o valor da 
pessoa humana como valor fonte do direito.
Com o término da guerra surgiu uma necessidade de reconstrução dos direitos humanos. 
Por isso, Piovesan afirma que “se a Segunda Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, 
o pós-guerra deveria significar sua reconstrução” (PIOVESAN, 2015, p. 196-197), mas em um 
âmbito internacional, não se restringindo ao âmbito estatal.
Nesse contexto, Piovesan afirma que o Tribunal de Nuremberg, em 1945-1946, foi um signi-
ficativo impulso ao movimento de internacionalização dos direitos humanos, por meio da criação 
de um Tribunal Militar Internacional com o fim de julgar os criminosos de guerra, bem como 
consolidando a ideia de limitação da soberania nacional, reconhecendo-se que os indivíduos têm 
direitos protegidos pelo Direito Internacional.
A vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial introduziu uma nova ordem com im-
portantes transformações no Direito Internacional: a criação das Nações Unidas, em 1945, com a 
assinatura da Carta das Nações Unidas em 26 de junho de 1945, em São Francisco.
As Nações Unidas (chamadas de Organização das Nações Unidas – ONU) são organi-
zadas em diversos órgãos, sendo que os seis principais são a Assembleia Geral, o Conselho de 
Segurança, a Corte Internacional de Justiça, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela 
e o Secretariado.
É a carta das Nações Unidas de 1945 que “consolida, assim, o movimento de internacio-
nalização dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses 
direitos a propósito e finalidade das Nações Unidas” (PIOVESAN, 2015, p. 209).
A Carta das Nações Unidas faz expressa referência aos direitos humanos nos arts. 1º (3), 
13 (1 e 2), 55, 56 e 62 (2 e 3). Num exame detido da Carta das Nações Unidas se constata que esse 
documento, embora faça expressa referência aos direitos humanos, não define o seu conteúdo, o 
que somente veio a ser feito três anos depois, com o advento da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos (DUDH).
Obviamente, essa breve análise histórica dos direitos humanos não foi capaz de abranger 
todos os fatos históricos, mas os mais relevantes até o advento da DUDH foram examinados, o que 
é suficiente para o objetivo proposto. Com base nesse exame histórico, constata-se que os direitos 
humanos surgem de acordo com a necessidade de sua consagração: primeiro surgiram direitos 
Noções gerais de direitos humanos 17
civis e políticos vinculados à necessidade de limitação do poder do Estado, e em seguida, surgiram 
direitos econômicos, sociais e culturais, decorrentes da noção do Estado de bem-estar social.
Como bem adverte Norberto Bobbio (1992, p. 6):
Os direitos humanos não nascem todos de uma só vez, nascem quando devem 
ou podem nascer. Nascem quando o aumento do poder do homem sobre o ho-
mem – que acompanha inevitavelmente o progresso técnico, isto é, o progresso 
da capacidade do homem de dominar a natureza e os outros homens – ou cria 
novas ameaças à liberdade do indivíduo, ou permite novos remédios para as 
suas indigências: ameaças que são enfrentadas através de demandas de limita-
ções de poder; remédios que são providenciados através da exigência de que o 
mesmo poder intervenha de modo protetor.
Assim, surge a Teoria das Gerações ou Dimensões dos Direitos Humanos, lançada pelo ju-
rista francês de origem tcheca, Karel Vasak, que, em 1979, classificou os direitos humanos em três 
gerações, cada uma com características próprias, sendo que atualmente outros autores defendem a 
ampliação destas categorias para quatro e até cinco gerações (RAMOS, 2015, p. 55).
Karel Vasak vinculou cada uma das gerações a um dos componentes do dístico da Revolução 
Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade (RAMOS, 2015, p. 55). São considerados direitos de 
primeira geração os direitos de liberdade, os direitos vinculados às liberdades públicas e direitos 
políticos, referindo-se aqueles direitos às prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a 
esfera de autonomia do indivíduo, limitando a esfera de poder do Estado.
Dentre estes direitos, George Sarmento (2011, p. 3-4) cita a liberdade de expressão, a pre-
sunção de inocência, a inviolabilidade de domicílio, a proteção à vida privada, a liberdade de loco-
moção, os direitos da pessoa privada de liberdade, o devido processo legal, entre outros. No campo 
dos direitos políticos, podem ser indicados: o direito ao voto (tanto de votar, como de ser votado), 
o direito de ocupar cargos públicos, o direito à filiação partidária, entre outros.
Os direitos humanos de segunda geração são aqueles que passam a exigir um papel ativo 
do Estado, visando garantir os chamados direitos sociais, econômicos e culturais, nascidos do 
chamado Estado de bem-estar social. Dentre estes direitos, George Sarmento (2011, p. 7) cita:
a) Direitos sociais: educação, saúde, trabalho, moradia, lazer segurança, pre-
vidência social, assistência aos desamparados, proteção à maternidade e à 
infância [...].
b) Direitos econômicos: valorização do trabalho, livre iniciativa, função social da 
propriedade, livre concorrência, defesa do consumidor, redução das desigualda-
des regionais e sociais etc. [...].
c) Direitos culturais: acesso às fontes da cultura nacional, valorização e difu-
são das manifestações culturais, proteção às culturas populares, indígenas e 
afro-brasileiras; proteção ao patrimônio cultural brasileiro, que são os bens de 
natureza material e imaterial portadores de referência à identidade, à ação, à 
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
Os direitos de terceira geração, conhecidos como direitos de fraternidade ou de solidarie-
dade, têm como pressuposto a proteção da coletividade ou de um grupo social vulnerável. George 
Sarmento menciona, entre esses direitos, o direito ao desenvolvimento, à paz, à propriedade 
Direitos humanos e relações étnico-raciais18
sobre o patrimônio comum da humanidade, o direito de comunicação, o de autodeterminação 
dos povos, à defesa de ameaça de purificação racial e genocídio, à proteção contra as manifesta-
ções de discriminação racial, à proteção em tempos de guerra ou qualquer outro conflito armado. 
No âmbito nacional, o autor cita os direitos decorrentes da proteção ambiental, do direito do con-
sumidor, da criança e adolescente, dos idosos, dos portadores de deficiência, bem como a proteção 
dos bens que integram o patrimônio artístico, histórico, cultural, paisagístico, estético e turístico 
(SARMENTO, 2011, p. 8-9).
Atualmente, alguns autores afirmam que há uma quarta geração de direitos humanos, de-
correntes das inovações das ciências biomédicas “referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos 
da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”(BOBBIO, 1992, p. 6).
Nesse sentido, Salvador Darío expõe:
Toda uma série de novos direitos – alguns já consolidados e outros em processo 
de se consolidarem, como o direito à proteção do genoma humano contra prá-
ticas contrárias à dignidade do indivíduo, à autodeterminação genética, à pri-
vacidade genética, à não discriminação por razoes genéticas, ao consentimento 
livre e informado para a realização de estudos genéticos etc. – configuram uma 
nova dimensão dos Direitos Humanos, categoria histórica que permanente-
mente em seu caminho se adapta às exigências e às necessidades do momento, 
para proteger o homem em sua dignidade e em sua liberdade. (BERGEL, 2002, 
p. 329, tradução nossa1)
George Sarmento (2011, p. 12), advertindo que não existe consenso na existência da quar-
ta geração (quem dirá nas espécies de direitos que estariam inclusas nessa categoria), entende 
que dentre esses direitos estariam, também, os direitos de informática, oriundos da Sociedade 
de Informação.
Embora não haja concordância em relação às dimensões dos direitos humanos ou à forma 
de sua classificação, há consenso em relação ao seu fundamento axiológico (referente a um con-
ceito de valor), sendo que, seja doutrinariamente, seja normativamente, os direitos humanos são 
extraídos, em essência, da noção de dignidade da pessoa humana, das exigências consideradas 
imprescindíveis e inescusáveis a uma vida digna e da proteção do ser humano.
Conceituar a dignidade da pessoa humana é uma tarefa difícil, sendo mais fácil se constatar 
no caso concreto a ofensa à dignidade do que definir o que é viver com dignidade. Porém, é inegá-
vel que a dignidade é um conceito a priori, anterior a própria existência do ordenamento jurídico; 
é um dado prévio, uma qualidade integrante e irrenunciável da própria condição humana e que 
está em constante processo de desenvolvimento de acordo com o momento histórico e cultural da 
sociedade (SARLET, 2002, p. 40).
1 Tradução livre da autora, referente ao trecho original: “Toda una seria de nuevos derechos – algunos ya consolidados 
y otros en proceso de serlo-tales como el derecho a la protección del genoma humano contra prácticas contrarias a la 
 dignidad del individuo, a la autodeterminación genética, a la privacidad genética, a la no-discriminación por razones genéti-
cas, al consentimento libre e informado para la realización de estudios genéticos, etc., conforman uma nueva dimensión de 
los Derechos Humanos, categoría histórica que permanentemente en su camino fue adaptándose a los requerimientos y a 
las necesidades del momento, para proteger al hombre en su dignidad y en su libertad” (BERGEL, 2002. p. 329).
Noções gerais de direitos humanos 19
1.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos e os organismos 
internacionais de proteção aos direitos humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é considerada um 
marco na proteção dos direitos humanos, tendo sido aprovada de forma unânime 
pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948.
Ela foi elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e cultu-
rais de todas as regiões do mundo, tendo sido a primeira organização internacional que abrangeu 
a quase totalidade dos povos da Terra.
A declaração é composta por 30 artigos, sendo que no seu primeiro artigo, o documento já 
demonstrou a que veio:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. 
São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos ou-
tros com espírito de fraternidade” (ONU, 1948).
Flavia Piovesan (2015, p. 215) ressalta que “a Declaração consolida a afirmação de uma éti-
ca universal ao consagrar um consenso sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos 
Estados”, o que é observado desde o seu preâmbulo ao afirmar a consagração da dignidade humana 
como valor universal.
A autora demonstra com clareza as razões históricas da necessidade de a Declaração ressal-
tar expressamente a característica de universalidade desses direitos:
A Declaração Universal de 1948 objetiva delinear uma ordem pública mundial 
fundada no respeito à dignidade humana, ao consagrar valores básicos uni-
versais. Desde seu preâmbulo, é afirmada a dignidade inerente a toda pessoa 
humana, titular de direitos iguais e inalienáveis. Vale dizer, para a Declaração 
Universal a condição de pessoa é o requisito único e exclusivo para a titularida-
de de direitos. A universalidade dos direitos humanos traduz a absoluta ruptura 
com o legado nazista, que condicionava a titularidade de direitos à pertinência à 
determinada raça (a raça pura ariana). A dignidade humana como fundamento 
dos direitos humanos e valor intrínseco à condição humana é concepção que, 
posteriormente, viria a ser incorporada por todos os tratados e declarações de 
direitos humanos, que passaram a integrar o chamado Direito Internacional dos 
Direitos Humanos. (PIOVESAN, 2015, p. 216)
Entre os direitos que disciplinam a declaração, alguns fazem expressa referência aos direitos 
civis (exemplos: art. XVII e XVIII) e políticos (exemplo: o artigo XXI), além dos direitos econô-
micos (exemplo: art. XXIII, também exemplo de direito social), sociais (exemplo: artigo XXV) 
e culturais (exemplo: artigo XXVII), o que demonstra com clareza a adequação dos momentos 
históricos decorrentes do discurso liberal e social, evidenciando as diferentes gerações de direitos 
humanos e demonstrando a sua inter-relação e interdependência, sem que uma geração venha a 
substituir a outra.
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais20
A doutrina jurídica muito discutiu sobre a eficácia da DUDH diante do fato de ter sido ado-
tada sob a forma de uma Resolução, que, no âmbito do ordenamento jurídico, não possui força de 
lei em sentido estrito. A posição majoritária é que a Declaração possui, sim, força jurídica vincu-
lante como fonte de direito, seja por integrar o direito costumeiro internacional e/ou os princípios 
gerais de direito.
Assim, leciona Flávia Piovesan:
Para este estudo, a Declaração Universal de 1948, ainda que não assuma a forma 
de tratado internacional, apresenta força jurídica obrigatória e vinculante, na 
medida em que constitui a interpretação autorizada da expressão “direitos hu-
manos” constante dos arts. 1.º (3) e 55 da Carta das Nações Unidas. Ressalta-se 
que, à luz da Carta, os Estados assumem o compromisso de assegurar o respeito 
universal e efetivo aos direitos humanos.
Ademais, a natureza jurídica vinculante da Declaração Universal é reforçada 
pelo fato de – na qualidade de um dos mais influentes instrumentos jurídicos e 
políticos do século XX – ter-se transformado, ao longo dos mais de cinquenta 
anos de sua adoção, em direito costumeiro internacional e princípio geral do 
Direito Internacional. (PIOVESAN, 2015, p. 225-226)
É inegável a força vinculante da DUDH quando se examina diversos outros textos de trata-
dos e documentos internacionais relacionados aos direitos humanos, bem como, e em essência, ao 
se pesquisar as Constituições Nacionais e se constatar que aqueles mesmos direitos humanos foram 
incorporados no âmbito nacional, inclusive em decisões judiciais de tribunais locais.
Em razão dessa discussão sobre a força vinculante da DUDH, iniciou-se uma ampla discussão 
internacional com o objetivo de juridicização2 da Declaração em forma de tratado internacional. 
Esse processo foi concluído em 1966 com a elaboração de dois tratados internacionais – o Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais 
e Culturais – que incorporaram os direitos constantes na DUDH (PIOVESAN, 2015, p. 238).
A união desses pactos e da DUDH deu origem à Carta Internacional dos Direitos Humanos, 
International Bill of Rights, formando, assim, o sistema global de proteção dos direitos humanos, que 
vem sendo ampliado constantemente com tratados multilaterais de direitos humanos, pertinentes 
a determinadas e específicas violações de direitos, como, porexemplo, a violação dos direitos das 
crianças, das mulheres, discriminação racial, entre outras (PIOVESAN, 2015, p. 238-239).
Portanto, além da DUDH e dos Pactos já indicados, podemos citar, dentre outras:
• Convenção para Prevenção e Repressão ao Crime de Genocídio;
• Convenção Internacional contra a Tortura;
• Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial;
• Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher;
• Convenção sobre os Direitos da Criança;
• Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
2 Juridicização significa o ingresso de determinado documento, no caso a DUDH, no mundo jurídico, deixando de ser 
mera carta de intenções e passando a ter conteúdo de norma jurídica, de lei em sentido estrito.
Noções gerais de direitos humanos 21
À ONU, por meio de seus diversos órgãos, cabe também a proteção aos direitos humanos, 
conforme já examinamos antes. Por isso, em 1946, foi criada a Comissão de Direitos Humanos, a 
qual, após mais de 50 anos de trabalho, em 24 de março de 2006 teve sua última sessão, sendo abo-
lida em 16 de junho de 2006 e substituída pelo Conselho de Direitos Humanos.
A criação do Conselho de Direitos Humanos objetivou dar maior credibilidade à temática 
no âmbito da ONU, pois, ao contrário da comissão anterior, este não se submete ao conselho de 
direito econômico e social, sendo subsidiário da Assembleia Geral. O Conselho passa a gozar de 
uma natureza semipermanente, possuindo reuniões várias vezes ao ano e não somente uma, como 
ocorria anteriormente (VIEGAS, SILVA, 2013, p. 104).
O conselho é formado por 47 Estados-membros, eleitos diretamente pela Assembleia Geral 
da ONU com base no princípio do escrutínio universal3 e da não seletividade política, observando-
-se a distribuição geográfica equitativa entre os grupos regionais, sendo: 13 membros dos Estados 
africanos; 13 membros dos Estados asiáticos; 6 membros dos Estados do Leste Europeu; 8 mem-
bros dos Estados da América Latina e Caribe; e 7 membros dos Estados da Europa Ocidental e 
demais Estados.
Conforme afirma Flávia Piovesan (2015, p. 212), a composição do Conselho aponta novo 
critério para a formação das maiorias, pois os países com reduzido e médio graus de desenvolvi-
mento contarão com expressiva maioria de 40 membros.
Entre as suas principais atribuições, o Conselho tem como vocação institucional “promover 
o respeito universal pela proteção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de to-
das as pessoas, sem distinções de nenhum tipo e de forma justa e equitativa” (Assembleia Geral, 
Resolução 60/251, parágrafo 2, apud BORGES, 2011).
E, ainda, o Conselho se ocupará de:
[...] situações em que se violem os direitos humanos, incluídas as violações 
graves e sistemáticas; coordenar e incorporar os direitos humanos à atividade 
geral do sistema da ONU; impulsionar a promoção e a proteção de todos os 
direitos humanos, incluído o direito ao desenvolvimento; promover a educação 
em direitos humanos e prestar serviços de assessoria técnica por solicitação e de 
acordo com os Estados interessados; servir de fórum para o diálogo sobre ques-
tões temáticas referentes a todos os direitos humanos; contribuir para o desen-
volvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos; promover o pleno 
cumprimento das obrigações em matéria de direitos humanos contraídas pelos 
Estados; facilitar o acompanhamento dos objetivos e compromissos sobre direi-
tos humanos emanados das conferências e cúpulas das Nações Unidas; realizar 
um exame periódico universal, baseado em informação objetiva e fidedigna, 
sobre o cumprimento por cada Estado de suas obrigações e compromissos em 
matéria de direitos humanos, de uma forma que garanta a universalidade do 
exame e a igualdade de tratamento em relação a todos os Estados, baseado num 
diálogo interativo, com a plena participação do país de que se trate e levará em 
consideração suas necessidades em relação ao fomento da capacidade; prevenir 
as violações de direitos humanos e responder com prontidão às situações de 
3 Escrutínio significa a forma como o exercício do direito ao voto se realiza. Ao se falar em escrutínio universal se dá a ideia 
de que o direito ao voto será exercido por todos, sem restrições como as advindas de raça, credo ou sexo, por exemplo.
Direitos humanos e relações étnico-raciais22
emergência em matéria de direitos humanos; cooperar estreitamente em ma-
téria de direitos humanos com os governos, as organizações regionais, as insti-
tuições nacionais de direitos humanos e a sociedade civil; e assumir as funções 
e atribuições da Comissão de Direitos Humanos em relação ao Escritório do 
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. (Assembleia 
Geral, Resolução 60/251, parágrafo 2-5, apud BORGES, 2011)
A grande novidade trazida pelo Conselho de Direitos Humanos foi a Revisão Periódica 
Universal (RPU), que é um mecanismo por meio do qual se realiza um exame da situação de direi-
tos humanos da totalidade dos Estados-membros da ONU em ciclos de quatro anos (no primeiro 
ciclo) e quatro anos e meio (a partir do segundo ciclo).
Ressalta Marisa Viegas e Silva (2013, p. 113):
Observe-se que o objetivo da RPU não é de duplicar o trabalho já exercido 
pelos órgãos para fiscalizar a aplicação dos tratados de direitos humanos e os 
procedimentos especiais, mas complementá-lo. Neste sentido, a RPU distin-
gue-se desses outros mecanismos por algumas características, como seu caráter 
essencialmente interestatal, o fato de que as recomendações emanam do Estado 
individualmente e não do Conselho como órgão; a possibilidade de aceitação 
ou rejeição da recomendação por parte do Estado examinado, com a conse-
quência de que somente as recomendações aceitas devem ser implementadas; a 
universalidade da revisão e dos direitos objetos da revisão. Ainda a este respeito, 
durante os primeiros anos de atividade há registros de intercâmbio positivo 
de informação entre a RPU e os demais mecanismos – por exemplo, algumas 
recomendações formuladas durante o RPU foram utilizadas pelos órgãos encar-
regados de verificar o cumprimento dos tratados de direitos humanos ou pelos 
procedimentos especiais e, por outro lado, muitos Estados utilizaram sua par-
ticipação na RPU para comentar suas atividades perante aqueles mecanismos, 
ou para realizar recomendações a terceiros países relativas a tais mecanismos. 
Podemos afirmar, inclusive, que em certo sentido a Revisão Periódica Universal 
tem funcionado como ferramenta de estímulo à implementação das obrigações 
dos procedimentos especiais e dos órgãos estabelecidos em virtude dos tratados.
Portanto, o Estado-membro que passa pela revisão periódica universal participa da avalia-
ção e assume compromissos voluntários relacionados às recomendações decorrentes da RPU.
A par do Conselho de Direitos Humanos, o Pacto de Direitos Civis e Políticos determinou 
a constituição do Comitê de Direitos Humanos, que é integrado por 18 membros que exercem a 
sua função a título pessoal. Esses membros são indicados pelos Estados-partes do Pacto e devem 
ser pessoas de elevada reputação moral e reconhecida competência em matéria de direitos huma-
nos. Cada Estado-parte pode indicar duas pessoas que devem ser naturais do país que as indicou, 
passando-se por eleição que se dá mediante votação secreta entre os Estados-partes em reunião 
convocada pelo Secretário-Geral da ONU, não podendo ser eleito mais de um nacional do mesmo 
Estado (RAMOS, 2015, p. 288).
O Comitê tem competência de examinar os relatórios sobre as medidas adotadas para tor-
nar efetivos os direitos reconhecidos no Pacto; emitir recomendações aos Estados-partes; rece-
ber e examinar comunicações em que um Estado-parte alegue que outro não vem cumprindo as 
Noções gerais de direitos humanos 23
obrigações previstas no Pacto; e comunicações de indivíduos que aleguem ser vítimas de violação 
de qualquer dos direitos previstos no Pacto (RAMOS, 2015, p. 289-290).
Podemos citar, ainda, entreorganismos vinculados à proteção dos direitos humanos, o 
Conselho Econômico e Social, órgão das Nações Unidas responsável por coordenar assuntos inter-
nacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, de saúde e conexos; e o seu respectivo 
Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (RAMOS, 2015, p. 291-292).
Mencionamos, ainda, o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial, o Comitê para 
a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, o Comitê contra a Tortura, o Comitê para os 
Direitos da Criança, o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o Comitê contra 
Desaparecimentos Forçados.
Finalmente, não podemos esquecer do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos 
Humanos, criado por meio da Resolução n. 48/141 da Assembleia Geral da ONU, de 20 de dezem-
bro de1993, cujo objetivo é unir todos os esforços das Nações Unidas no que tange a proteção dos 
direitos humanos. O Alto Comissário é alguém de elevada idoneidade moral e integridade pessoal, 
devendo ser expert no campo dos Direitos Humanos, sendo indicado pelo Secretário-Geral da 
ONU e aprovado pela Assembleia Geral, tendo em conta uma alternância geográfica (RAMOS, 
2015, p. 317-319).
Ao lado desses organismos vinculados à ONU, temos órgãos regionais, decorrentes de um 
sistema regional de proteção aos direitos humanos. Entre eles, podemos citar o sistema regional 
americano da Organização dos Estados Americanos (OEA), que é o mais antigo organismo regio-
nal do mundo, tendo sido fundado em 1948, com a aprovação da Carta da OEA e a Declaração 
Americana de Direitos e Deveres do Homem.
A Declaração Americana anterior, inclusive, à Declaração Universal, já reconhecia a 
universalidade dos direitos humanos e, juntamente com a Carta da OEA, trazia disposições 
sobre direitos humanos.
Dentre os saltos de desenvolvimento do sistema interamericano de proteção de direitos hu-
manos, deve ser citada a aprovação do texto da Convenção Americana de Direitos Humanos (assi-
nada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José – Costa 
Rica, em 22 de novembro de 1969), que criou órgãos como a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A Convenção Americana veio aprimorar a redação dos direitos enunciados na Declaração 
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, mas vinculando os Estados membros da OEA e tra-
zendo um extenso rol de direitos protegidos, dentre os quais direitos civis, políticos, econômicos, 
sociais e culturais (RAMOS, 2015, p. 251-262).
Finalmente, somente para esclarecer a adoção, pelo Brasil, dos principais documentos inter-
nacionais de proteção dos direitos humanos, trazemos, a seguir, uma relação desses documentos 
com a correspondente data de adoção e ratificação pelo nosso país:
Direitos humanos e relações étnico-raciais24
Quadro 1 – Os instrumentos globais de direitos humanos ratificados pelo Estado brasileiro
Instrumento
internacional
Data de adoção
Data da 
ratificação
Carta das Nações Unidas
Adotada e aberta à assinatura pela Conf. de São 
Francisco em 26/05/1945
21/09/1945
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Adotada e proclamada pela Res. 217 A (III) 
da Assembleia Geral das Nações Unidas em 
10/12/48
Assinada em 
10/12/1948
Pacto Internacional dos Direitos Civis 
e Políticos
Adotado pela Res. 2.200-A (XXI) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 16/12/1966
24/01/1992
Pacto Internacional dos Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais
Adotado pela Res. 2.200-A (XXI) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 16/12/1966
24/01/1992
Convenção contra a Tortura e outros 
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos 
ou Degradantes
Adotado pela Res. 39/46 da Assembleia Geral 
das Nações Unidas em 10/12/1984
28/09/1989
Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
formas de Discriminação contra a Mulher
Adotada pela Res. 34/180 da Assembleia Geral 
das Nações Unidas em 18/12/1979
01/02/1984
Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação Racial
Adotada pela Res. 2.106-A (XX) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 21/12/1965
27/03/1968
Convenção sobre os Direitos da Criança
Adotada pela Res. L.44 (XLIV) da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 20/11/1989
24/09/1990
Fonte: PIOVESAN, 1997, p. 335-337, apud DHNET, 2018.
Com relação aos documentos regionais, podemos citar:
Quadro 2 – Os instrumentos regionais de direitos humanos ratificados pelo Estado brasileiro 
Instrumento 
internacional
Data de adoção
Data da 
ratificação
Convenção Americana de Direitos Humanos
Adotada e aberta à assinatura na Conf. Especia-
lizada Interamericana sobre Direitos Humanos, 
em São José, Costa Rica, em 22/11/1969
25/09/1992
Convenção Interamericana para Prevenir e 
Punir a Tortura
Adotada pela Assembleia Geral da OEA em 
09/12/1985
20/07/1989
Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
Adotada pela Assembleia Geral da Organização 
dos Estados Americanos em 06/06/1994
27/11/1995
Fonte: PIOVESAN, 1997, p. 337, apud DHNET, 2018.
1.3 Os direitos humanos no âmbito nacional: da Constituição Federal 
de 1988 aos sistemas de proteção aos direitos humanos
É claro que a Constituição Federal de 1988 é o marco da legislação brasileira 
quando se fala em direitos humanos, no respeito à pessoa humana e na restauração 
do ser humano como o centro do ordenamento jurídico, ainda mais quando se 
examina em que momento e condições históricas a nossa Carta Magna surgiu: logo 
após mais de 20 anos de Ditadura Militar.
Vídeo
Noções gerais de direitos humanos 25
Todavia, é necessário observarmos que as Constituições anteriores já previam, mesmo que 
formalmente, um rol de direitos a serem assegurados pelo Estado, embora não se reconhecia apli-
cabilidade imediata da norma constitucional.
Inclusive, a Constituição de 1967, em plena Ditadura Militar, trazia em seu artigo 150 um rol de 
direitos e garantias individuais, fazendo referência a outros direitos decorrentes do regime e dos princí-
pios constitucionais no artigo 150, §35. Contudo, o artigo 151 da Constituição de 1967 trazia uma ameaça 
explícita aos inimigos do regime, determinando que aquele que abusar dos direitos individuais previstos 
nos §§ 8º, 23, 27 e 28 do artigo anterior e dos direitos políticos, para atentar contra a ordem democrática 
ou praticar a corrupção, incorrerá na suspensão desses últimos direitos pelo prazo de dois a dez anos. A 
Emenda 1 de 1969 seguia o mesmo caminho da Constituição de 1967 (RAMOS, 2015, p. 366).
Com o fim da Ditadura Militar, o surgimento da “Constituição Cidadã” foi uma reação a 
mais de vinte anos do regime ditatorial, com uma forte inserção de direitos e garantias no texto 
constitucional, além da mudança do perfil do Ministério Público que deixou de ser vinculado ao 
Poder Executivo e ganhou autonomia, independência funcional e a missão de defesa de direitos 
humanos, ao lado da Defensoria Pública, que foi mencionada pela primeira vez na norma consti-
tucional também comprometida com a defesa desses direitos (RAMOS, 2015, p. 366).
A Constituição Federal de 1988 traz em seu bojo, como fundamento do Estado democrático 
de direito, o princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III), reestabelecendo o ser huma-
no como o centro do ordenamento jurídico.
Flademir Jerônimo Belinati Martins (2003, p. 47-51) ressalta que a primeira Constituição 
brasileira a tratar o princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento da República e 
do Estado democrático de direito foi a de 1988, sob influência das Constituições alemã, espanhola 
e portuguesa.
Há certa unanimidade acadêmica ao afirmar que esse princípio é um “valor-guia” de toda 
a ordem jurídica, social, política e cultural, sendo substrato axiológico (valor base) de todo o 
nosso sistema jurídico, razão pela qual assinala Martins que “os conceitos de Estado, República e 
Democracia são funcionalizados a um objetivo, a uma finalidade, qual seja, a proteção e promoção 
dadignidade da pessoa humana” (2013, p. 63).
Lembrando que o princípio da dignidade da pessoa humana é o fundamento dos direitos 
humanos, vislumbra-se a importância de sua consagração na Constituição Federal de 1988 como 
fundamento da República Federativa do Brasil. E antes mesmo de iniciar a apresentação do rol de 
direitos humanos e/ou fundamentais, a Constituição brasileira traz, em seu artigo 3º, os objetivos 
fundamentais da República Federativa do Brasil:
Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais 
e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988)
Direitos humanos e relações étnico-raciais26
O artigo 4º, inciso II, faz, pela primeira vez, expressa referência aos direitos humanos: “pre-
valência dos direitos humanos” (BRASIL, 1988).
Quanto ao rol de direitos humanos, a Constituição de 1988 é considerada um marco na 
história constitucional brasileira, pois “introduziu o mais extenso e abrangente rol de direitos das 
mais diversas espécies, incluindo os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, além 
de prever várias garantias constitucionais, algumas inéditas, como o mandato de injunção e o 
habeas data” (RAMOS, 2015, p. 369).
Entre os direitos expressamente reconhecidos no texto constitucional, há uma extensa relação 
de direitos individuais e coletivos (Capítulo I, art. 5°), de direitos sociais (Capítulo II, art. 6° a 11), de 
direitos de nacionalidade (Capítulo III, art. 12 e 13) e de direitos políticos (Capítulo IV, art. 14 a 16).
E, como se não bastasse, a Constituição brasileira estabelece expressamente que o rol nela 
existente não é exaustivo: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a 
República Federativa do Brasil seja parte” (BRASIL, 1988, art. 5º, §2º).
Não se pode, em hipótese alguma, deixar de ressaltar que as normas que estabelecem direi-
tos e garantias individuais são cláusulas pétreas (art. 60, §4º, IV da CF), ou seja, não podem ser 
objeto de emenda constitucional, nem sofrer qualquer espécie de alteração legislativa.
Buscando a implementação de todas as espécies de direitos humanos, a Conferência Mundial 
de Viena, de 1993, organizada pela Organização das Nações Unidas, promulgou a Declaração e o 
Programa de Ação, estabelecendo, inclusive, o dever dos Estados de adotar planos nacionais de 
direitos humanos (RAMOS, 2015, p. 420).
Em 13 de maio de 1996, foi editado pela Presidência da República o Decreto n. 1.904, que 
criou o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) cuja meta era realizar um diagnóstico 
da situação desses direitos no país e medidas para a sua defesa e promoção. Esse PNDH foi deno-
minado de PNDH-1 e estava voltado à garantia de proteção dos direitos civis, com especial foco no 
combate à impunidade e à violência policial (RAMOS, 2015, p. 421-422).
O PNDH-2, aprovado pelo Decreto n. 4.229/2002, dava ênfase aos direitos sociais em senti-
do amplo e de grupos vulneráveis, como os direitos dos afrodescendentes, dos povos indígenas, de 
orientação sexual, consagrando o multiculturalismo (RAMOS, 2015, p. 422).
Já o PNDH-3, aprovado em 2009, adotou eixos orientadores:
• Interação democrática entre Estado e Sociedade Civil;
• Desenvolvimento e direitos humanos;
• Universalização de Direitos em um Contexto de Desigualdades;
• Segurança Pública, acesso à Justiça e Combate à Violência;
• Educação e Cultura em Direitos Humanos;
• Direito à Memória e à Verdade. (RAMOS, 2015, p. 423)
O PNDH-3 propõe a atuação conjunta do governo federal, governos estaduais, municipais 
e da sociedade civil para a proteção dos direitos humanos. Para sua implementação foi criado o 
Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3, integrado por 21 representantes de 
Noções gerais de direitos humanos 27
órgãos do Poder Executivo e presidido pelo Secretário de Direitos Humanos, responsável por de-
signar os demais representantes (RAMOS, 2015, p. 424-425).
Com o objetivo de intensificar a proteção dos direitos humanos – e levando em considera-
ção a diversidade regional e cultural –, vários estados brasileiros adotaram programas estaduais de 
direitos humanos, sendo o primeiro deles o estado de São Paulo, pelo Decreto n. 42.209/97, que 
criou o PEDH, designando a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania para coordenar as ini-
ciativas governamentais ligadas ao PEDH.
Entre as principais instituições de defesa dos direitos humanos na esfera do executivo fede-
ral, temos:
a) Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República;
b) Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos;
c) Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Secretaria de 
Políticas para as Mulheres;
d) Conselho de Direitos Humanos;
e) Conselho Nacional dos Direitos da Criança e Adolescentes – Conanda;
f) Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência – Conade;
g) Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI;
h) Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de 
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – CNCD-LGBT;
i) Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – CEMDP;
j) Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo – Conatrae;
k) Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos – CNEDH;
l) Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR;
m) Conselho Nacional dos Direitos da Mulher – CNDM. (RAMOS, 2015, 
p. 429-459)
No âmbito do Poder Legislativo Federal temos a Comissão de Direitos Humanos e Minorias 
da Câmara dos Deputados (CDHM). É necessário, ainda, citar o Ministério Público Federal e a 
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, que também têm como função a proteção dos di-
reitos humanos (art. 127 da CF), além da Defensoria Pública da União (art. 134 da CF).
No plano estadual, temos o Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública do Estado, 
além dos Conselhos Estaduais de Direitos Humanos. Alguns estados possuem secretarias próprias 
de defesa e promoção dos direitos humanos, da mesma forma que existem municípios que criam 
secretarias municipais com tais objetivos, como em Recife (PE) e Porto Alegre (RS).
No âmbito do estado do Paraná temos a Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos 
Humanos, que tem por finalidade a definição de diretrizes para a política governamental focada no 
respeito à dignidade humana, bem como a coordenação de sua execução. Dentro da estrutura da 
Secretaria foi criado o Departamento de Direitos Humanos e Cidadania (DEDIHC), que “responde 
pela promoção, proteção, defesa e implementação dos direitos humanos, em consonância com os 
ordenamentos e documentos nacionais e internacionais que regem o tema” e tem como competên-
cias (PARANÁ, 2018):
Direitos humanos e relações étnico-raciais28
• a formulação, articulação e divulgação de políticas públicas assecuratórias 
dos direitos humanos;
• o recebimento de representações que evidenciem a violação dos direitos hu-
manos e a adoção das providências necessárias;
• a proposição, ao poder executivo estadual de medidas destinadas à preserva-
ção dos direitos humanos;
• a elaboração de planos, programas e projetos relacionados as questões de di-
reitos humanos e cidadania;
• a implementação de ações e projetos que visem o desenvolvimento integrado 
com respeito aos direitos humanos e cidadania.
O estado conta ainda com o COPED – Conselho Permanente dos Direitos Humanos do 
Estado do Paraná, “um órgão de caráter permanente, autônomo, deliberativo e paritário, que conta 
com a participação de representantes do Governo do Estado e de Organizações não Governamentais 
ligadas à defesa dos Direitos Humanos” (PARANÁ, 2018).
Além do COPED,também integra a estrutura do Departamento de Direitos Humanos e 
Cidadania – DEDIHC os seguintes conselhos (PARANÁ, 2018):
• Conselho Estadual de Proteção às Vítimas de Abuso Sexual – Copeas.
• Conselho Estadual de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais do Estado do Paraná 
– CPICT/PR.
• Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial – Consepir.
• Conselho Gestor do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de 
Morte – PPCAAM/PR.
• Conselho Deliberativo do Programa Estadual de Assistência às Vítimas e Testemunhas 
Ameaçadas – Provita/PR.
Citamos, também, o estado do Rio de Janeiro, que conta com a Secretaria de Estado de 
Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), “responsável pela gestão e coordenação da Política 
de Assistência Social, Segurança Alimentar, Transferência de Renda e Promoção da Cidadania e 
Direitos Humanos no Estado” (RIO DE JANEIRO, 2018).
Entre os estados que possuem secretarias específicas de proteção dos direitos humanos, tam-
bém podemos indicar o estado da Bahia, que possui a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e 
Desenvolvimento Social (SJDHDS), responsável por executar políticas públicas voltadas à proteção 
e promoção dos direitos humanos e ao desenvolvimento social (BAHIA, 2018).
Integram a estrutura da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social 
(SJDHDS) do estado da Bahia: Conselho Estadual de Assistência Social (Ceas); Conselho Estadual 
dos Direitos da Criança e do Adolescente (Ceca); Conselho Estadual de Defesa do Consumidor 
(CEDC/BA); Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen/BA); Conselho Estadual dos Direitos 
da População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT; Conselho Estadual 
dos Direitos dos Povos Indígenas do Estado da Bahia (Copiba); Conselho Estadual de Proteção 
dos Direitos Humanos (CEPDH); Conselho Estadual do Idoso (CEI); Conselho Estadual dos 
Direitos da Pessoa com Deficiência (Coede/BA); Conselho Gestor do Fundo Estadual de Proteção 
Noções gerais de direitos humanos 29
ao Consumidor (CGFEPC/BA); Conselho Estadual da Juventude (Cejuve); Conselho de Segurança 
Alimentar e Nutricional do Estado da Bahia (Consea/BA).
Sem adentrar ainda mais no âmbito estadual e municipal, percebemos, não só pelas dimensões 
de nosso país, mas em especial pela relevância da proteção desses direitos, que há a necessidade de 
uma ação conjunta entre os diversos entes federados para a promoção dos direitos humanos.
Atividades
1. Leia o texto a seguir:
Consciência Ambiental e os Catadores de Lixo do Lixão da Cidade do Carpina – PE
Analisando o texto de Manuel Bandeira, “Vi ontem um bicho Na imundície do pátio / Ca-
tando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava 
/ Engolia com voracidade. / O bicho não era um cão, Não era um gato / Não era um rato. / 
O bicho, meu Deus, era um homem.”, em que, de maneira poética, o autor traz à discussão 
os problemas sociais, podemos imaginar o grau de exclusão que ora assola uma parcela sig-
nificativa da sociedade brasileira.
O desemprego é um sério problema que afeta grande parcela da população, uma vez que atinge 
de forma especial àqueles que possuem baixa escolaridade, pouca ou nenhuma qualificação 
técnica, mulheres, negros, idosos e deficientes físicos. A resposta encontrada por esses atores, 
por não terem condições de competir por vagas no mercado formal, é o subemprego, a ocupa-
ção precária do espaço urbano resultando no “inchaço” da economia informal.
O que se encontra na coleta do lixo é uma alternativa de sobrevivência encontrada por al-
guns desses grupos. Como não atingem a qualificação exigida pelo mercado, veem nessa 
função uma estratégia de sobrevivência. Nesse sentido, Gonçalves (2001) afirma que o lixo é 
uma questão a ser abordada de forma complexa, pois envolvem, além de aspectos econômi-
cos, políticos e ambientais, também aspectos sociais e psicológicos. Os catadores dos lixões 
são pessoas que se encontram marginalizadas por desenvolverem uma atividade inferior no 
conceito da sociedade. Isso resulta em indivíduos com a autoestima baixa, e com conceito de 
cidadania distorcido. O lixo, matéria-prima das quais estes catadores sobrevivem é definida 
por Lima (1995, p. 9) como “todo e qualquer resíduo que resulte das atividades diárias do 
homem na sociedade.” A disposição final de lixo sem qualquer tratamento chama-se lixão. 
O lixo depositado a céu aberto em vários cenários das cidades brasileiras representa uma das 
principais fontes causadoras do desequilíbrio do ambiente. Uma das consequências marcan-
tes é a produção de chorume, líquido escuro resultante da decomposição de material orgâni-
co presente no lixo, e que ao ser absorvido pelo solo atinge diretamente os lençóis freáticos, 
contaminando-os com os mais variados micro-organismos patológicos. Outra consequência 
é o surgimento de vetores tais como: moscas, ratos, urubus e bichos peçonhentos que se 
instalam no local e se espalham pelas residências, depósitos e comunidades próximas aos 
lixões, além dos riscos constantes de incêndios e pequenas explosões provocadas pelos gases 
expelidos constantemente, dos aterros. Todavia, ainda que represente uma forma de tra-
Direitos humanos e relações étnico-raciais30
balho vista como degradante pela sociedade, os catadores fizeram do lixo uma maneira de 
obter a renda para o próprio sustento.
No entanto, estes catadores à medida que estão buscando seu sustento e ao mesmo tempo 
lutando contra a exclusão social, estão desenvolvendo uma atividade de grande importância 
ao meio ambiente e consequentemente à sociedade. Nesse sentido cabe destacar o papel 
do catador como agente disseminador de uma cultura ambientalista e analisar a sua pró-
pria consciência como importante agente ambiental. Neste contexto, e analisando a relação 
desses “trabalhadores” com o ambiente, pressupõe-se que estes catadores apresentam uma 
consciência ambiental.
(Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 19, jul./dez. 2007.)
Com base na análise do texto anterior, reflita quais gerações de direitos humanos, em espe-
cial, estão sendo violadas com a descrição retratada no texto.
2. (ENADE-2008, p. 5. Adaptado) DIREITOS HUMANOS EM QUESTÃO:
O caráter universalizante dos direitos do homem [...] não é da ordem do saber teórico, mas do 
operatório ou prático: eles são invocados para agir, desde o princípio, em qualquer situação dada.
(François JULIEN, filósofo e sociólogo)
No ano (2008) em que são comemorados os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, novas perspectivas e concepções incorporam-se à agenda pública brasileira. Uma 
das novas perspectivas em foco é a visão mais integrada dos direitos econômicos, sociais, 
civis, políticos e, mais recentemente, ambientais; ou seja, trata-se da integralidade ou indivi-
sibilidade dos direitos humanos. Dentre as novas concepções de direitos, destacam-se:
• a habitação como moradia digna e não apenas como necessidade de abrigo e proteção;
• a segurança como bem-estar e não apenas como necessidade de vigilância e punição;
• o trabalho como ação para a vida e não apenas como necessidade de emprego e renda.
Tendo em vista o exposto acima, selecione uma das concepções destacadas e esclareça por 
que ela representa um avanço para o exercício pleno da cidadania, na perspectiva da integra-
lidade dos direitos humanos. Seu texto deve ter entre 8 e 10 linhas.
3. Escolha um dos direitos humanos e disserte sobre o tema, analisando-o com base na DUDH 
e na Constituição Federal. 
2
Dos direitos das crianças e dos adolescentes
Gisele Echterhoff
Neste capítulo analisaremos especificamente os direitos humanos das crianças e dos 
adolescentes. Na atualidade, falar na proteção das crianças e adolescentes é algo extremamente 
comum, embora também seja bastante corriqueira a ocorrência de violações dos direitos dessa 
categoria de sujeitos.
Todavia, no desenvolvimento deste capítulo se verificará que a preocupação interna-
cional com aproteção das crianças e adolescente é recente, advinda dos acontecimentos da 
Segunda Guerra Mundial.
No exame da legislação nacional se perceberá que somente na década de 1990 o legislador 
deixou de se preocupar apenas com o menor abandonado e infrator para passar a proteger todas as 
crianças e adolescentes, reconhecendo-lhes direitos a serem garantidos.
2.1 A proteção dos direitos da criança e do adolescente em âmbito 
internacional
O reconhecimento da criança e do adolescente como um sujeito de direitos, 
ou seja, como pessoa, na acepção de ser titular de direitos a serem protegidos pela 
família, pelo Estado e pela sociedade (tal como concebemos na atualidade) é algo 
recente na história de nossa sociedade.
Na leitura de autores, sejam eles da área jurídica, sejam historiadores e/ou da área de ciências 
sociais, constatamos que a infância era tratada, antes do século XVI, como apenas uma fase transi-
tória para que se alcançasse a fase adulta, sendo que essa visão atual de preocupação e proteção da 
criança e do adolescente não estava presente (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013; FUZIWARA, 2013).
No decorrer da história se verifica que, no âmbito internacional, a preocupação legislativa 
com a proteção das crianças e dos adolescentes somente surgiu incipientemente com a Declaração de 
Genebra, no ano de 1924, após a Primeira Guerra Mundial. “Este documento, resultado da luta tra-
vada pela união internacional Salve as Crianças pelos direitos da infância, vislumbra que a proteção 
à infância deve abranger todos os aspectos da vida da criança (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013, p. 16).
Contudo, salientam os autores (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013) que esse documento, que 
não possuía força de lei, trazia uma concepção de infância passiva, carecedora de cuidados, na con-
dição, ainda, de objeto de proteção, estabelecendo os deveres dos adultos para com essa infância. 
Ainda, os autores advertem que “esta concepção de vulnerabilidade da infância que precisava ser 
protegida e socorrida era reflexo de uma época pós-guerra em que o grande número de crianças 
abandonadas constituía-se uma realidade” (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013, p. 16-17).
Vídeo
Direitos humanos e relações étnico-raciais32
Foi após a Segunda Guerra Mundial que surgiu uma preocupação efetiva com a proteção 
das crianças e dos adolescentes. Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em 
1948, as Nações Unidas fizeram menção expressa a essa proteção, no artigo XXV, item 2: “A ma-
ternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas 
dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.” (ONU, 1948, grifos nossos).
Porém, antes mesmo dessa expressa referência pela DUDH foi criado, em 11 de dezembro 
de 1946, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o Fundo das Nações Unidas para a Infância 
(Unicef), cujos primeiros programas “forneceram assistência emergencial a milhões de crianças no 
período pós-guerra na Europa, no Oriente Médio e na China” (UNICEF BRASIL, 2018a).
Alguns países entenderam que a missão do Unicef teria sido alcançada com a reconstrução 
da Europa no pós-guerra, mas algumas nações mais pobres argumentaram que a ONU não poderia 
ignorar as condições das crianças ameaçadas pela fome e pela doença em outros países, o que fez com 
que o Unicef se tornasse órgão permanente do sistema das Nações Unidas em 1953, passando a ter 
como objetivo atender às crianças de todo o mundo em desenvolvimento (UNICEF BRASIL, 2018a).
Em 20 de novembro de 1959, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclama a Declaração 
dos Direitos da Criança, com uma visão bastante diferente da Declaração de Genebra. O discurso 
protetor é substituído por outro de reconhecimento da criança como sujeito titular de direitos, e 
não mais como objeto de proteção (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013).
Embora a Declaração de Direitos da Criança tenha demonstrado um significativo avanço 
ao assegurar um rol de direitos às crianças, essa declaração (da mesma forma que a Declaração de 
Genebra), por não ter força obrigatória nem qualquer coercibilidade, não passou de uma carta de 
intenções (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013, p. 17).
Em 20 de novembro de 1989 foi adotada pela Assembleia Geral da Organização das Nações 
Unidas a Convenção sobre os Direitos da Criança, destacando-se como o tratado internacional 
de proteção de direitos humanos com o mais elevado número de ratificações. Até o ano de 2014, 
contava com 193 Estados-partes (PIOVESAN, 2015).
Somente no ano de 1990 esse documento foi oficializado como lei internacional, passando a 
vigorar obrigatoriamente e possuindo força coercitiva (UNICEF BRASIL, 2018b). No seu primeiro 
artigo, a Convenção define quem é criança: “Para efeitos da presente convenção considera-se como 
criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, em conformidade com a 
lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes” (ONU, 1989).
Flávia Piovesan (2015) ressalta que a convenção adota um elenco extenso de direitos às 
crianças, incluindo na categoria de direitos, os civis, os políticos, os econômicos, os sociais e os 
culturais, acolhendo e dando ênfase especial ao desenvolvimento integral da criança como verda-
deiro sujeito de direitos.
Por isso se afirma que, com essa convenção, adota-se a doutrina da proteção integral à criança e 
ao adolescente, reconhecendo, com base na concepção do princípio da dignidade da pessoa humana, 
que a criança e o adolescente são como sujeitos titulares de direitos fundamentais e que precisam de 
proteção especial e com prioridade, diante de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Dos direitos das crianças e dos adolescentes 33
Dentro dessa concepção, o artigo 3º, item 1, da Convenção estabelece: “Todas as ações relati-
vas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, 
autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o melhor 
interesse da criança.” (ONU, 1989, grifos nossos).
A partir daí começaram a se estabelecer as bases do princípio The Best Interest (o melhor 
interesse, em inglês) como padrão quando se trata de questões relacionadas à proteção da criança 
e do adolescente. Esse princípio estabelece que, no caso concreto, devem sempre ser considerados 
os interesses da criança em detrimento dos interesses dos pais, interpretando-se a circunstância 
concreta com base na visão do princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento dos 
direitos humanos (AZAMBUJA, 2016).
A Convenção de 1989 estabeleceu um rol de direitos, entre eles: direito à vida (art. 6º); direito 
ao nome, à nacionalidade, a conhecer os pais e a ser cuidado por eles (art. 7º); direito à identidade 
(art. 8º), proteção ante a separação dos pais (art. 9º), à liberdade de expressão (art. 13), pensamento, 
consciência e crença (art. 14); proteção contra exploração e abuso sexual (art. 19); acesso a serviços 
de saúde e previdência social (art. 24, 25 e 26); direito à educação (art. 28); direito ao descanso e 
ao lazer (art. 31); proteção contra a exploração econômica, com a fixação de idade mínima para 
admissão em emprego (art. 32), entre outros.
A par da Convenção sobre os Direitos da Criança, visando fortalecer o rol de medidas prote-
tivas “no tocante à exploração econômica e sexual de crianças e no tocante à participação de crian-
ças em conflitos armados, foram adotados, em 25 de maio de 2000, dois Protocolos Facultativos 
à Convenção” (PIOVESAN; PIROTTA, 2015, p. 462), por meio da Resolução A/RES/54/263 da 
Assembleia Geral das Nações Unidas:
• Protocolo Facultativo sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis;
• Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados.
Com o objetivo de controlar e fiscalizar os direitos enunciados na Convenção e visando 
cumprir o disposto no seu artigo 43, foi instituído o Comitê sobre os Direitos da Criança, ao qual 
“cabe monitorar a implementação da Convenção,

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