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Resumo de bacteriologia: Bactérias de importância médica 2 SUMÁRIO 1. COCOS GRAM-POSITIVOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA ...................................... 3 1.1 STAPHYLOCOCCUS ............................................................................................. 3 a) Staphylococcus aureus ...................................................................................... 3 b) Staphylococcus coagulase-negativas ............................................................ 4 1.2 STREPTOCOCCUS ................................................................................................ 4 a) Streptococcus pyogenes (grupo A) ................................................................ 5 b) Streptococcus agalactiae ................................................................................ 5 c) Streptococcus pneumoniae ............................................................................. 6 1.3 ENTEROCOCCUS ................................................................................................. 7 a) E. faecalis e E. Faecium...................................................................................... 7 2. BACILOS GRAM-NEGATIVOS ................................................................................. 8 a) Vibrio cholerae O1 .............................................................................................. 8 b) Pseudomonas ...................................................................................................... 9 c) Helicobacter pylori............................................................................................ 11 3. SÉRIE BIOQUÍMICA ................................................................................................ 12 4. Mycobacterium .................................................................................................... 13 a) M. tuberculosis ................................................................................................... 13 b) M. leprae ............................................................................................................ 14 5. Treponema pallidum sub. pallidum .................................................................. 15 6. Neisseria gonorrhoeae......................................................................................... 17 7. Chlamydia trachomatis ...................................................................................... 18 3 1. COCOS GRAM-POSITIVOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA 1.1 STAPHYLOCOCCUS • Características gerais do gênero: - Fazem parte da microbiota humana normal e podem sobreviver por longos período em superfícies secas; -Apresentam arranjo em cachos de uva; - Mesófilo (temperatura ótima 37 °C); - Pouca exigência nutricional (cultivo em ágar nutriente); - Não produzem endósporo; - Anaeróbios facultativos; - Piogênicos; - As Principais enzimas (fatores de virulência) produzidas por eles são a catalase e a coagulase (só em S. aureus); - Contaminação ocorre pessoa a pessoa e pelo contato com superfícies contaminadas. a) Staphylococcus aureus • São responsáveis pela patogênese de infecções de pele. Não possuem tropismo por tecido específico. • São β-hemolíticos. • Resistentes a altas concentrações de sal. • Suas colônias são amarelo ouro. • Seus principais fatores de virulência são: - Componentes da superfície (peptidoglicano e proteína A); - Enzimas: coagulase (livre), catalase (catalisa peroxido de hidrogênio em água e oxigênio), hialuronidase, fibrinolisina (dissolve coágulos de fibrina) e beta-lactâmicos; - Toxinas: citolíticas e as esfoliativas, enterotoxinas, TSST-1 (superantígenos); - Componentes estruturais como a sua cápsula polissacarídica, adesinas (MSCRAMM – coagulase ligada). *Em geral a produção desses fatores ocorre em fases diferentes do crescimento bacteriano. Na fase log é produzido a maioria das enzimas e adesinas, enquanto na fase estacionária ocorre produção de hemolisinas e outras toxinas. • Dentre as principais doenças associadas ao Staphylococcus aureus estão aquelas mediadas por toxinas, como a intoxicação alimentar (enterotoxinas - autolimitada), a síndrome do choque tóxico, a síndrome da pele escaldada e as doenças piogênicas como impetigo, foliculite, furúnculos, carbúnculos, infecções de feridas e outras doenças sistêmicas. • As etapas da infecção são: 4 • O diagnóstico é feito por meio da coleta das amostras seguida de bacterioscopia pelo Gram → isolamento no ágar sangue para formação das colônias, das quais, posteriormente, é possível fazer a coloração de Gram, teste da catalase (+) e teste da coagulase (+) (caso não tenha esses testes é possível utilizar o ágar manitol salgado, que permite o crescimento diferencial de S. aureus). • O tratamento ocorre com a utilização de penicilinas (amoxicilina) e cefalosporinas. b) Staphylococcus coagulase-negativas • Staphylococcus epidermidis: infecções hospitalares (formação de biofilme em superfícies de polímeros). • Staphylococcus saprophyticus: infecções urinárias. • Ambos são catalase (+), mas coagulase (-), o que direciona a testagem de sucetibilidade para novobiocina (não suscetível = S. saprophyticus; suscetível = S. epidermidis). 1.2 STREPTOCOCCUS • Características gerais do gênero - Fazem parte da microbiota humana normal (exceto a espécie S. pyogenes); - São anaeróbios facultativos; - Exigentes nutricionalmente (cultivo em ágar sangue); - Diferentes dos Staphylococcus, não sintetizam a enzimas Catalase (-) (diferenciação); - São classificados de formas distintas: (1) propriedades sorológicas/separação nos grupos de Lancefield, A e B – antígenos específicos do carboidrato C; (2) padrões hemolíticos → hemólise completa (beta [β]), hemólise parcial (alfa [α]), e sem hemólise (gama [У]); (3) propriedades bioquímicas (fisiológicas). - De acordo com as propriedades sorológicas, pela separação nos grupos de Lancefield, os grupos A podem ser diferenciados pela presença de anticorpos antiestreptolisinas O (ASO), que indicam infecção recente. Penetração da bactéria na pele e mucosas infecção superficial multiplicação e disseminação local resposta inflamatória cura ou disseminação sistemica 5 a) Streptococcus pyogenes (grupo A) • Coloniza a orofaringe. • Os principais fatores de virulência são: - Evasão da fagocitose (mediado principalmente pela cápsula, proteínas M e tipo M, C5a peptidase); - Capacidade de aderir e de invadir as células epiteliais hospedeiras (proteína M, ácido lipoteicoico, proteína F); - Toxinas: exotoxina pirogênica estreptocócica – superantígeno; estreptolisina S – hemolisina ligada a célula (β-hemólise); estreptolisina O – hemolisina; e estreptoquinase - DNAses). • As principais consequências da infecção (aderência as mucosas) são faringite, lesões cutâneas, impetigo, erisipela, celulite e fasciíte necrosante/bacteremia. • Em geral, as infecções são ocasionadas por cepas recém-adquiridas que conseguem estabelecer infecção na faringe ou na pele, antes que anticorpos específicos sejam produzidos ou que micro-organismos competidores sejam capazes de se proliferar. As infecções dos tecidos moles (p.ex., piodermia, erisipela, celulite e fasciíte) são tipicamente precedidas da colonização inicial da pele integra por estreptococos do grupo A, seguida da introdução em tecidos superficiais ou profundos a partir de descontinuidades da pele. • A infecção segue as seguintes fases: • É transmitida pessoa a pessoa por gotículas respiratórias (faringite), ou através do contato direto entre pessoa suscetível (com descontinuidades na pele) e pessoainfectada, fômite ou vetores artrópodes. • O diagnóstico é feito por meio da coleta das amostras seguida de bacterioscopia pelo Gram → isolamento no ágar sangue (colônias brancas pequenas, com grandes zonas β-hemolíticas) → teste da catalase (-) (diferença entre Staphylococcus e Streptococcus) e teste da bacitracina (sensível). • S. pyogenes é muito sensível à penicilina. Assim, penicilina V oral ou amoxicilina podem ser usadas no tratamento da faringite estreptocócica. b) Streptococcus agalactiae (Grupo B) • Possui colônias brancas e grandes. • Habita o trato gastrointestinal inferior e o trato geniturinário. Penetração da bactéria na pele ou via respiratória adesão multiplicação e disseminação local resposta inflamatória faringite e lesões cutâneas 6 • É encapsulado (polissacarídeo capsular) e os anticorpos contra ele são protetores (não presentes em recém-nascidos. • Os fatores de virulência são: o fator CAMP – capacidade de ligar IgG e IgM; e a Hemolisina – atividade hemolítica. • As principais consequências da infecção são a doença neonatal (de início precoce e tardio), endometrite, infecções em feridas, infecções do trato urinário, bacteremia, pneumonia, infecções da pele e de tecidos moles. • A colonização com subsequente desenvolvimento de doença em recém- nascidos pode ocorrer ainda no útero, logo após o nascimento ou durante os primeiros meses de vida. • S. agalactiae é a causa mais comum de sepse e meningite bacteriana em recém-nascidos. • O diagnóstico é feito pela coleta de amostras (LCR) e coloração de Gram → inoculação em meio seletivo e posteriormente em ágar sangue → teste da bacitracina (resistente). • Os estreptococos do grupo B são suscetíveis à penicilina, que é o fármaco de escolha. Na terapia empírica devem ser selecionados antimicrobianos de amplo espectro. *O rastreamento deve ser feito principalmente em mulheres grávidas, pois o risco de doença invasiva é maior. As manifestações mais comuns nas mulheres grávidas são as infecções do trato urinário, amnionite, endometrite e infecções de ferida. c) Streptococcus pneumoniae • Normalmente coloniza a orofaringe, mas em situações específicas é capaz de se disseminar para os pulmões (pneumonia), seios paranasais (sinusite) ou para o ouvido médio (otite média). • São encapsulados, a morfologia da colônia é variável, mas são geralmente grandes, redondas e mucoides. Todas as colônias sofrem autólise com o tempo, a região central se desfaz e possuem reação α-hemolítica no ágar- sangue. • Os fatores de virulência são as adesinas de superfície, IgA protease, pneumolisina, a cápsula e a neuraminidase. • Ocorre doença quando os mecanismos de defesa naturais são sobrepujados (p.ex., reflexo da epiglote, aprisionamento das bactérias pelas células produtoras de muco que revestem os brônquios, remoção dos micro- organismos pelo epitélio ciliado e reflexo da tosse) permitindo que os micro- organismos que colonizam a orofaringe ganhem acesso aos pulmões. 7 • As principais doenças são pneumonias, meningite e bacteremia; as manifestações da doença são causadas muito mais pela resposta do hospedeiro à infecção, do que pela produção de fatores tóxicos específicos do micro-organismo. • O diagnóstico é feito pela coloração de Gram do escarro →cultura em meio ágar-sangue →teste da sensibilidade optoquina (+) e solubilidade na bile (+). • O tratamento consiste principalmente na vacina polivalente, as quais utilizam polissacarídeos capsulares purificados (pneumo 10 para crianças e pneumo 13 para idosos). 1.3 ENTEROCOCCUS a) E. faecalis e E. Faecium • Habitam o intestino • Anaeróbios facultativos; • Mesófilos; • Resistentes a altas concentrações de sódio e sais biliares, fermentam glicose, tendo o ácido lático como principal produto (frequentemente mencionados como bactérias láticas). As colônias em ágar-sangue são grandes, podendo se apresentar sem hemólise, alfa-hemolíticas, ou raramente ß-hemolíticas. • A virulência é mediada por duas propriedades gerais: capacidade de aderir a tecidos e formar biofilme; e resistência a antibióticos • Fatores de risco para infecções enterocócicas incluem uso de cateter urinário ou intravascular, hospitalização prolongada e uso de antibióticos de amplo espectro, especialmente aqueles que são inerentemente inativos contra o enterococo. • As infecções podem ser assintomáticas, cistite não complicada ou cistite associada a pielonefrite. • Diagnóstico é feito a partir do crescimento rapido em meios não seletivos como ágar-sangue e ágar-chocolate → Ainda que em materiais corados pelo Gram eles possam ser semelhantes a S. pneumoniae, podem ser prontamente diferenciados por meio de reações bioquímicas simples. Por exemplo, enterococos são resistentes à optoquina e não são solúveis na bile. • É difícil prevenir e controlar as infecções enterocócicas, mas a restrição de uso de antibióticos e a aplicação de práticas apropriadas de controle de infecção (p.ex., isolamento do paciente infectado, uso de luvas e jaleco por qualquer pessoa que tenha contato com ele) podem reduzir o risco de colonização, mas a eliminação completa de infecções é incomum. 8 • tratamento tradicional de infecções graves é baseado na combinação de um aminoglicosídeo e um antibiótico ativo contra a parede celular 2. BACILOS GRAM-NEGATIVOS a) Vibrio cholerae O1 • Características gerais: - São bacilos Gram-negativos fermentadores de glicose; - Anaeróbios facultativos; - Oxidase positiva; - Presença de flagelo polar e fimbrias; - Necessidades nutricionais simples; - Mesófilos; - Toleram uma ampla gama de pH (6,5 a 9,0), mas são sensíveis aos ácidos estomacais; - NECESSITAM DE CLORETO DE SÓDIO PARA O CRESCIMENTO; - Parede celular com lipopolissacarídeos, o qual é dividido em lipídeo A, núcleo polissacarídeo e uma cadeia lateral de polissacarídeo O. • Possuem dois cromossomos circulares e plamideos; • Seus mecanismos de virulência incluem a aquisição de sequencias de genes (ilha de patogenicidade) – como o piluscorregulado com toxina (TCP), o qual atua como receptor para bacteriófagos (adesão à camada de células mucosas) – e da infecção por um bacteriófago (genes para as duas subunidades da toxina colérica); • Seu principal fator de virulência é a toxina colérica, sua ação ocorre da seguinte forma: • É necessário um grande inóculo para que ocorra a doença (>108); Toxina (complexo A-B) subunidade B se liga a receptores GM1 nas celulas epiteliais do intestino subunidade A é internalizada ativação de proteína G, adelinato ciclase e AMpc hipersecreção de eletrólitos e água diarreia "água de arroz" 9 • A cólera é uma doença intestinal, cujo as fontes de infecção são água, alimentos contaminados, condições sanitárias inadequadas (ambiente marinho contaminado assim como moluscos com concha / portadores assintomáticos) • A maioria dos indivíduos expostos a cepas toxigênicas de V. cholerae (O1) apresentam infecções assintomáticas ou diarreia autolimitada. Entretanto, alguns indivíduos desenvolvem uma diarreia grave rapidamente fatal. As manifestações clínicas da cólera iniciam-se em média de 2 a 3 dias após a ingestão da bactéria (pode ser < 12 horas), com início abrupto de diarreia aquosa e vômito (gastroenterite e bacteremia), fraqueza, câimbras, acidose metabólicas e desidratação; • Esse micro-organismo é capaz de evadir a resposta imunológica do hospedeiro por induzir a apoptose de macrófagos e inibir a fagocitose pela expressão de uma cápsula de polissacarídeo. • O diagnóstico: exame microscópico direto dos micro-organismos presentes nas fezes →os víbrios crescem na maioria dos meios utilizados pelos laboratórios clínicos para cultura de fezese feridas, incluindo ágar-sangue e ágar MacConkey. Há também ágar seletivo especial para víbrios → os isolados são identificados com testes bioquímicos seletivos e são sorotipados utilizando-se antissoro polivalente. Em testes realizados para identificar víbrios halofílicos. Os meios para os testes bioquímicos devem ser suplementados com 1% de NaCl. • Tratamento: reposição rápida de fluidos e eletrólitos. A terapia antimicrobiana, embora tenha um valor secundário, pode reduzir a produção de toxinas e os sintomas clínicos, bem como reduzir a transmissão da doença por eliminar mais rapidamente os micro-organismos. Uma dose única de azitromicina é hoje em dia a terapia de escolha. b) Pseudomonas aeruginosas • Características principais: - São bacilos Gram-negativos não fermentadores de glicose; - Aeróbios; - Oxidase positiva; - Tolera temperaturas entre 4 e 42°C; - São móveis; - Dispostos em pares; - Exigências nutricionais simples; - OPORTUNISTAS; PRESENÇA DE CITOCROMO-OXIDASE • Estão presentes nos mais diversos lugares como solo, matéria orgânica deteriorada, na vegetação, na água e no ambiente hospitalar (resistentes a antibióticos e desinfetantes). 10 • É resistente a antibióticos, o que pode ser intrínseco ou associado a transferência horizontal/adaptativa (adaptação a exposição ao ambiente – quorum sensing). • Não fazem parte da microbiota humana normal. • A Virulência está associada ao quorum sensing (polissacarídeo capsular – mucóide), flagelos, pili, lipopolissacarídeo (lipídio A - endotoxina), exotoxina A (ETA) e aos pigmentos difusíveis (piocianina [azul], pioverdina [verde- amarelado], piorrubina [vermelho-amarronzado]). • Os pacientes com alto risco de desenvolver infecções incluem aqueles hospitalizados, com neutropenia ou imunocomprometidos, pacientes com FC, queimados e os indivíduos que receberam antibióticos de amplo espectro. • As síndromes clínicas associada a infecção são: Infecções do trato respiratório inferior - (variam em gravidade, desde a colonização assintomática ou inflamação benigna dos brônquios (traqueobronquite) até broncopneumonia necrotizante grave; Infecção primárias da pele – oportunistas de feridas (p.ex., queimaduras), infecções localizadas dos folículos pilosos (p.ex., associadas a imersão em águas contaminadas, assim como em banheiras de hidromassagem); Infecções do trato urinário - oportunistas em pacientes com sonda vesical de demora seguida de exposição a antibióticos de amplo espectro; Infecção do ouvido - podem variar de irritação leve no ouvido externo (“ouvido de nadador”) a destruição invasiva do crânio adjacente à infecção auricular; Bacteremia - disseminação da bactéria a partir da infecção primária (p.ex., pulmonar) a outros órgãos e tecidos; pode ser caracterizada por lesões necróticas da pele. • O diagnóstico: bacterioscopia para observação dos bacilos (não definitivo) →isolamento, em ágar-sangue ou ágar MacConkey. (Elas exigem incubação aeróbica a menos que nitrato esteja disponível) →a identificação ocorre devido a morfologia colonial, que nesse caso é plana com uma borda espalhada, ß-hemólise, pigmentação verde causada pela produção dos pigmentos azul e verde-amarelo), odor (doce, semelhante a uva) e resultados de alguns testes bioquímicos rápidos (p.ex., reação da oxidase positiva) →Nos testes bioquímicos (TSI) eles reagem como não fermentadores de glicose e oxidase positiva. • Tratamento: prevenção da contaminação dos equipamentos estéreis, tais como equipamentos de ventilação mecânica e máquinas de diálise, e da contaminação cruzada de pacientes pela equipe médica. O uso inadequado de antibióticos de amplo espectro também deve ser evitado, porque tal utilização pode suprimir a microbiota normal e permitir o crescimento excessivo de cepas resistentes de Pseudomonas. 11 c) Helicobacter pylori • Características gerais: -Bacilos Gram-negativos espiralados; - Presença de flagelos polares (altamente móveis); - Mesófilos; - Crescem somente em meio complexo suplementado com sangue, soro, carvão, amido ou gema de ovo; - Microaerofilia (diminuição de oxigênio e aumento de dióxido de carbono); - Produzem urease, catalase e oxidase; - Não fermentam carboidratos, mas podem metabolizar aminoácidos pela via fermentativa. • Afeta exclusivamente humanos. • A infecção pode evoluir da seguinte forma: • Eventualmente, a gastrite crônica leva à substituição da mucosa gástrica normal pela fibrose e proliferação de epitélio do tipo intestinal. Esse processo aumenta cerca de 100 vezes o risco de o paciente desenvolver câncer gástrico. • Virulência: a colonização inicial é facilitada pelo bloqueio da produção de ácidos por uma proteína bacteriana inibidora, e neutralização dos ácidos gástricos pela amônia produzida pela atividade da enzima urease. As bactérias efetivamente móveis podem atravessar o muco gástrico e aderir às células epiteliais gástricas através de várias proteínas de adesão. O gene cag PAI (fosforribosil antranilato isomerase) induz a produção de interleucina (IL)-8, que atrai neutrófilos. Acredita-se que a liberação de proteases e moléculas de oxigênio ativo pelos neutrófilos contribua para a gastrite e a úlcera gástrica. • A transmissão por via oral-fecal é a mais provável. • Diagnóstico: H. pylori é detectado por exames invasivos como biópsias de mucosa gástrica e histologia → identificação presuntiva dos isolados baseia- se em suas características de crescimento em condições seletivas, morfologia microscópica típica e detecção da atividade da oxidase, catalase e urease. • Os resultados mais satisfatórios na cura da gastrite ou úlcera péptica têm sido alcançados com a combinação de um inibidor da bomba de prótons (p.ex., omeprazol), um macrolídeo (p.ex., claritromicina) e um β-lactâmico (p.ex., amoxicilina), administrados inicialmente por 7 a 10 dias. gastrite úlceras pépticas adenocarcinoma gástrico e linfoma de células B do tecido linfoide (MALT). 12 3. SÉRIE BIOQUÍMICA Enterobactérias – bacilos Gram-negativos: • Fermentadores de glicose e oxidase (-); • Materiais biológicos (amostras): - Coprocultura (fezes); - Urocultura (urina); - Hemocultura (sangue); - Ágar TSI: fermentação de glicose (base amarelada +); fermentação da lactose e/ou sacarose (ápice amarelado +); produção de sulfato de hidrogênio (negro +) e produção de gás (bolhas); - Indol: degradação do aminoácido triptofano (reativo de Kovacs: anel vermelho (+), anel amarelo (-); - Vermelho de metila: fermentação da glicose com formação de ácido orgânico (fórmico, succiníco, acético) = vermelho. Fermentação da glicose sem formação de ácido orgânico = amarelo - Motilidade: crescimento fora do ponto de picada ou turbidez = positivo. Crescimento somente na zona de picada, sem turbidez = negativo; - Ágar citrato de Simmons (azul de bromotimol - pH): verificar se a bactéria é capaz de utilizar citrato como fonte de carbono e nitrogênio inorgânico como fonte de nitrogênio. (azul [+] = pH alcalino; verde [-] = pH neutro) -Ágar lisina: Fermentação de glicose com produção de ácido (positivo = purpura/ negativo= amarelo; -Ágar fenilalanina: Desaminação da fenilalanina (sim = verde; não = amarelada/inalterada). Bacterioscopia e coloração de Gram Cultura em meios seletivos Série bioquímica Série bioquímica 13 4. Mycobacterium • Características gerais - São micro-organismos álcool ácido resistentes (BAAR) (ricos em lipídio - ácido micólico na sua parede celular); - Formato de bacilos; - Gram-positivos; - Imóveis; - Não formadores de esporos; - Não produzem toxinas; - Não possuem cápsula; - Aeróbios estritos de crescimento lento. • Além da ácidoresistência também resistem a detergentes, a antibióticos antibacterianos comuns e a resposta imune do hospedeiro (principal fator para a doença). • Suas colônias apresentam-se como não pigmentadas ou com ligeira coloração marrom. (uma micobactéria pigmentada ou de crescimento rápido nunca deve ser confundida com M. tuberculosis). • São estritamente patogênicos. • Ricas em C e G em seu DNA. a) M. tuberculosis • Os humanos são seus únicos reservatórios. • É intracelular e capaz de estabelecer infecção crônica. • Geralmente a infecção ocorre pela entrada de aerossóis nas vias aéreas respiratórias, possibilitando a penetração de partículas pequenas (não removidas pelo movimento ciliar) nos alvéolos, onde as bactérias são fagocitadas pelos macrófagos alveolares (impedem a fusão do fagossoma com os lisossomas e catabolizam os oxidantes que são formados pelos macrófagos). • A infecção é geralmente assintomática, mas em casos sintomáticos a resposta é forte, ocasionando processo inflamatório mediado por células TH1 e consequente produção de granulomas (estrutura que prende as bactérias). Se uma pequena carga antigênica estiver presente quando os macrófagos são estimulados, o granuloma é pequeno e as bactérias são destruídas com dano tecidual mínimo. No entanto, se estiverem presentes muitas bactérias, os grandes granulomas necróticos ou caseosos tornam-se encapsulados com fibrina, que protege eficazmente as bactérias da morte pelos macrófagos. 14 • Os sinais e sintomas clínicos da tuberculose refletem o local da infecção, sendo a doença primária usualmente restrita ao trato respiratório inferior. É uma doença insidiosa no início. Os pacientes tipicamente apresentam queixas não específicas de mal-estar, perda de peso, tosse e suores noturnos. O escarro pode ser escasso ou sanguinolento e purulento. • Pode atingir outros órgãos além dos pulmões. *A probabilidade de a infecção progredir para doença ativa é uma função tanto da dose infecciosa quanto da competência imune do paciente. • O diagnóstico - Teste cutâneo da tuberculina: uma quantidade específica do antígeno (derivados de proteínas purificadas [PPD]) é inoculada na camada intradérmica da pele do paciente. A reatividade do teste cutâneo (definida pelo diâmetro da área de endurecimento) é medida 48 horas mais tarde. A reação positiva persiste por toda a vida (é uma doença crônica) - Microscopia: o espécime clínico é corado com carbolfucsina (métodos de Ziehl-Neelsen ou Kinyoun) ou com corantes fluorescentes auramina-rodamina (método fluorocromo de Truant), descorado com uma solução álcool ácido e, então, contracorado com azul de metileno. - Cultura: cresce lentamente, podendo ser ultrapassado por bactérias de crescimento rápido, que normalmente colonizam os indivíduos, possuem aspecto verrugoso (incubação até 45 dias). Sendo assim, espécimes como o escarro são inicialmente tratados com um reagente descontaminante (p.ex., hidróxido de sódio a 2%). - Identificação: sondas moleculares espécie-específicas, amplificação de genes alvo espécie-específicos (p.ex., gene 16S rRNA, gene SecA) e, mais recentemente, a espectrometria de massa. • O tratamento é complexo, feito com vários antibióticos por um longo período (p.ex., um mínimo de 6 a 9 meses), ou cepas resistentes aos antibióticos se desenvolverão. A maioria dos regimes terapêuticos inicia com 2 meses de isoniazida (isonicotinil-hidrazina [INH]), etambutol, pirazinamida e rifampicina, seguidos de 4 a 6 meses de INH e rifampicina, ou combinação de fármacos alternativos. As modificações para esse esquema de tratamento são determinadas pela suscetibilidade aos fármacos da cepa e pela população de pacientes. Além disso, existe a vacina BCG. b) M. leprae • A lepra é disseminada por contato pessoa a pessoa (frequente), pela inalação de aerossóis infecciosos ou pelo contato com exsudados de feridas (baixa patogenicidade). • Infecta as partes mais frias do corpo. 15 • Não pode ser cultivada. • O homem não é o único hospedeiro. • Seu período de incubação também é lento, sendo que os sintomas se desenvolvem até 20 anos após a infecção. • É a única bactéria patogênica que atinge o sistema nervoso central (perda da mielina das células de schuwann). • A resposta imune do hospedeiro é o principal fator para o início da doença. • A apresentação clínica da lepra varia da forma tuberculoide (paucibacilar) - forte reação imune celular às bactérias, com indução da produção de citocinas que medeiam a ativação de macrófagos - e a forma leprosa (multibacilar), a qual apresenta forte resposta dos anticorpos, com pouca resposta celular (muitas bactérias nos macrófagos e células de schwann). • A forma paucibacilar é caracterizada por máculas cutâneas hipopigmentadas e diagnosticada pela reatividade nos testes cutâneos aos antígenos micobacterianos (lepromina). Já a forma multibacilar está associada a lesões cutâneas deformadoras, nódulos, placas, espessamento da derme e envolvimento da mucosa nasal. • De modo geral, o diagnóstico é clínico, mas teste como baciloscopia (presença de BAAR), raspado intradérmico e a diferenciação de outras doenças de pele são essenciais; • A forma paucibacilar deve ser tratada com rifampicina e dapsona por um período de 6 meses, enquanto na forma multibacilar deve ter adicionada a clofazimina ao regime e o tratamento deve ser estendido por no mínimo 12 meses; 5. Treponema pallidum sub. pallidum • Características gerais: - São espiroquetas Gram-negativas, helicoidais e finas; - São anaeróbias (muito sensíveis a oxigênio – não possuem genes para catalase ou superóxido dismutase); - Não crescem em culturas sem células (depende dos mecanismos delas); - Não produzem toxinas; - É o agente etiológico da sífilis (doença exclusiva de seres humanos); • A sífilis é transmitida somente pelo conato sexual direto, principalmente durante as fases iniciais da doença; 16 • A doença pode permanecer ativa, mas também pode ser congênita (a transmissão congênita pode ocorrer em qualquer momento da gravidez e causa inúmeras malformações) ou adquirida por transfusão de sangue; em suma, é pouco contagiosa (30% de chance de adquirir); • O escape da resposta imunológica é decorrente da ausência de antígenos específicos na superfície da membrana externa; • A virulência está associada principalmente as lipoproteínas, capsula[...] • A sintomatologia associada a sífilis, como a destruição tecidual e as lesões observadas, são consequência da resposta imune do paciente à infecção. • Os sintomas podem ser divididos em três fases: - A fase inicial: uma ou mais lesões cutâneas (cancro duro) no local de penetração das espiroquetas, com presença de muitos micro-organismos; ocorre cicatrização (falsa sensação de cura) pouca sensibilidade para testes treponemicos; - A fase secundária: erupções cutâneas proeminentes dispersas por toda a superfície do corpo (também na boca e outras mucosas), assim como sintomas semelhantes a gripe e exantema mucocutêneo generalizado. Nessa fase a doença pode desaparecer, entrando na fase latente ou progredir para a fase tardia da doença; - Fase tardia: pode causar destruição devastadora em qualquer órgão (gomas) • O diagnóstico: - Testes sorológicos a) Não treponêmicos (não específicos - triagem) → o VDRL, o teste rápido de reagina plasmática (RPR) e o os teste rápido imunocromatográficos (TR) são os principais, eles medem as imunoglobulinas contra lipídeos da superfície de treponemas (reação de floculação). Também são usados para monitorar a eficácia do tratamento b) Treponêmicos (específicos – confirmação) → os mais comum São o FTA-abs e o TPPA, neles é utilizado o T. pallidum como antígeno para detectar anticorposant-T. pallium, - Microscopia de campo escuro ou testes de imunofluorescência direta (anticorpos antitreponemas + moléculas fluorescentes). *O FTA-abs é um teste de imunofluorescência indireta. Nesse caso o soro humano + extrato de treponema e misturado com anticorpos anti- humanos marcados por com fluorescenína. Já o RPR é um teste de aglutinação em microplaca, em que partículas de gelatina sensibilizadas com antígenos de T. pallidum são misturadas com diluições do soro do paciente. Na presença de anticorpos, as partículas aglutinam. • O tratamento é feito com penicilina. Uma única dose intramuscular de penicilina G benzatina de ação prolongada é utilizada nas fases iniciais da 17 sífilis e três doses em intervalos semanais são recomendadas para sífilis congênita e tardia. 6. Neisseria gonorrhoeae • Característica gerais: - São diplococos Gram-negativo (lados adjacentes achatados); - Não flagelados; - Anaeróbias facultativas; - Temperatura ótima de 35°C a 37°C; - Requer atmosfera úmida com 5% de dióxido de carbono (CO2); - Só cresce em ágar chocolate enriquecido e outros meios suplementados; - Oxidase-positivas e a maioria produz catalase; - Afetam somente humanos. • A presença de N. gonorrhoeae em um material clínico sempre é considerada significativa. • É transmitida pelo contato sexual. • Seus principais mecanismos de virulência são: - O pili: adesão as células epiteliais não ciliadas e mecanismos de variabilidade genética; - As proteínas Pili, PorB e Op: adesão e invasão; - Os lipo-oligossacarídeos: LOS – causa a liberação da citocina pró- inflamatória; - A protease imunoglobulina (IgA1). Além disso, como o ferro é essencial para o seu crescimento e metabolismo, competem pelo ferro do hospedeiro se ligando a transferrina da célula (possuem receptores de superfície). • Há ausência de imunidade para a reinfecção por N. gonorrhoeae, pois existe frequente variação antigênica das pilinas (molécula de compõe o pili), fator que dificulta o desenvolvimento de vacinas eficazes para gonorreia. • Os anticorpos contra pilina, Opa e LOS são rapidamente detectáveis. Além disso, anticorpos anti-LOS podem ativar o sistema complemento, liberando o componente C5a, que tem função quimiotática sobre os neutrófilos. • Geralmente as mulheres infectadas são assintomáticas ou apresentam infecções brandas, enquanto a maioria dos homens é sintomática no início da infecção. Em geral, os sintomas desaparecem em poucas semanas em pessoas não tratadas, o que estabelece o estado de portador assintomático (infecções retais e faringianas). • Em homens os sinais são primariamente restritos na uretra: como corrimento purulento e disúria (progressão: abscesso periuretral). Já em mulheres 18 sintomáticas a região primariamente afetada é o cérvix, com produção de corrimento vaginal, disúria e dor abdominal (progressão: doença inflamatória pélvica). Na infecção disseminada pode ocorrer septicemia, infecção da pele e articulações, as quais incluem febre, artralgia migratória, artrite supurativa nos punhos, joelhos e tornozelos e exantema pustular de base eritematosa sobre as extremidades, preservando a cabeça e o tronco. * Outras doenças ocasionadas são a peri-hepatite, conjuntivite purulenta, particularmente em recém-nascidos; gonorreia anorretal em homens homossexuais; e faringite. • O diagnóstico é feito pela microscopia (coloração de Gram e presença de diplococos no interior de polimorfonucleares) e por teste bioquímico. • Para o tratamento recomenda-se a terapia dupla com ceftriaxona associada ou à azitromicina ou à doxiciclina. * A infecção crônica pode levar à esterilidade. 7. Chlamydia trachomatis • Características gerais: - São intracelulares obrigatórios; - Não possuem flagelos; - São Gram-negativas; - Seu ciclo de desenvolvimento ocorre pela formação de corpúsculos elementares (CE), infecciosos e corpúsculos reticulares (CR) não infecciosos. • As principais características do CE são o núcleo denso central ovoide, membrana citoplasmática e exterior de camada dupla, LPS (gênero- específicos), proteína principal da membrana externa (MOMP – única de cada espécie), OMP 2 (comum a todos os membros da família). Eles não se replicam, sendo seu principal papel a invasão de células epiteliais, principalmente de mucosas, pelas quais são fagocitados e transformam-se em CR, que são grandes inclusões intracelular únicas (forma ativa), eles se multiplicam por fissão binária, alguns se organizam em CE menores que podem ser liberados. • As espécies de Chlamydia que infectam humanos estão divididas em dois biovares: tracoma e LGV (linfoma granuloma venero), os quais são divididos em sorovares com base nas diferenças antigênicas da MOOP. O LGV estimula resposta inflamatória intensa. • As manifestações clínicas de infecção por clamídias são causadas pela destruição de células durante a replicação e pela resposta de citocinas pró- inflamatória que elas estimulam. 19 • As principais doenças causadas são Linfoma granuloma Venéreo (LGV), tracoma ocular (causam perda de visão), doença oculogenital e pneumonia em bebês. As lesões podem se tornar necróticas, atrair leucócitos polimorfonucleares e fazer o processo inflamatório, e se espalhar para os tecidos adjacentes. • A maior parte das infecções em mulheres é assintomática (cerca de 80%), mas pode tornar-se sintomática. As manifestações clínicas incluem bartolinite, cervicite, endometrite, peri-hepatite, salpingite e uretrite. • A infecção não confere imunidade de longa duração, pelo contrário, a reinfecção produz forte resposta inflamatória, com subsequente dano tecidual. • Acredita-se que seja transmitida pela autoinoculação, contato oral-genital e por gotículas oculares, respiratórias e fecais. • O diagnóstico pode ser feito com base nos resultados citológicos (coleta na cérvix, da junção escamocolunar), sorológicos, pelo isolamento em cultura, por meio da detecção direta de antígenos em amostras clínicas, coloração de imunofluorescência direta (IFD – padrão ouro) com anticorpos monoclonais conjugados à fluoresceína e ensaio imunoabsorvente ligado à enzima [ELISA]). • Para o tratamento recomenda-se que pacientes com LGV sejam tratados com doxiciclina por 21 dias. O tratamento com eritromicina é recomendado para crianças com menos de 9 anos, mulheres grávidas e pacientes intolerantes à doxiciclina. 1. COCOS GRAM-POSITIVOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA 1.1 STAPHYLOCOCCUS a) Staphylococcus aureus b) Staphylococcus coagulase-negativas 1.2 STREPTOCOCCUS a) Streptococcus pyogenes (grupo A) b) Streptococcus agalactiae (Grupo B) c) Streptococcus pneumoniae 1.3 ENTEROCOCCUS a) E. faecalis e E. Faecium 2. BACILOS GRAM-NEGATIVOS a) Vibrio cholerae O1 b) Pseudomonas aeruginosas c) Helicobacter pylori 3. SÉRIE BIOQUÍMICA 4. Mycobacterium a) M. tuberculosis b) M. leprae 5. Treponema pallidum sub. pallidum 6. Neisseria gonorrhoeae 7. Chlamydia trachomatis
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