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.... . t' •• ASSOOAÇÃ" BRASll.ElRA llE DIREITOS REPROGRi.FICOS Resreite " direit" aut<iraf Grupo Editorial ------------- Nacional O GEN 1 Grupo Editorial Nacional reúne as editoras Guanabara Koogan, Santos, Roca, AC Farmacêutica, Forense, Método, LTC, E.P.U. e Forense Universitária, que publicam nas áreas científica, técnica e profissional. Essas empresas, respeitadas no mercado editorial, construíram catálogos inigualáveis, com obras que têm sido decisivas na formação acadêmica e no aperfeiçoamento de várias gerações de profissionais e de estudantes de Administração, Direito, Enferma gem, Engenharia, Fisioterapia, Medicina, Odontologia, Educação Física e muitas outras ciências, tendo se tornado sinônimo de seriedade e respeito. Nossa missão é prover o melhor conteúdo científico e distribuí-lo de maneira flexível e conveniente, a preços justos, gerando benefícios e servindo a autores, docentes, livrei ros, funcionários, colaboradores e acionistas. Nosso comportamento ético incondicional e nossa responsabilidade social e ambiental são reforçados pela natureza educacional de nossa atividade, sem comprometer o cres cimento contínuo e a rentabilidade do grupo. • 3ª edição Murilo S. Meneses Neurocirurgião. Mestre e Doutor, Université de Picardie, França. Professor do Departamento de Anatomia, Universidade Federal do Paraná. Chefe das Unidades de Neurocirurgia Funcional e Endovascular, Instituto de Neurologia de Curitiba - PR. GUANABARA KOOGAN • • O autor deste livro e a EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pelo autor até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica medicamentosa e reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se certificarem de que as informações contidas neste livro estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora. Adicionalmente, os leitores podem buscar por possíveis atualizações da obra em http://gen-io.grupogen.com.br. • O autor e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. • Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright© 2011 by EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. Uma editora integrante do GEN 1 Grupo Editorial Nacional Travessa do Ouvidor, 11 Rio de Janeiro - RJ - CEP 20040-040 Tels.: (21) 3543-0770/(11) 5080-0770 1 Fax: (21) 3543-0896 www.editoraguanabara.com.br 1www.grupogen.com.br1 editorial.saude@grupogen.com.br , • Reservados todos os direitos. E proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, dis tribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. • Capa: Bruno Sales Editoração Eletrônica: @ANTHAREs • Ficha catalográfica N414 3.ed. Neuroanatomia aplicada/ [elaborada sob a direção de] Murilo S. Meneses. - 3.ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. il. ISBN 978-85-277-1843-1 1. Neuroanatomia. 1. Meneses, Murilo S. 11-1940. CDD: 611.8 CDU: 611.8 Sobre o autor O professor Murilo S. Meneses é médico formado pela Universidade Federal do Paraná, onde ingressou classificado em primeiro lugar no concurso vestibular para Medicina, entre todos os candidatos. Especializou-se em Neurocirurgia nos hospitais universitários de Rouen e Lariboisiere de Paris, França, obten do o grande diploma da Sociedade Francesa de Neurocirurgia e tornando-se Membro Titular da Sociedade de Língua Francesa de Neurocirurgia e da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Cursou Pós-Graduação em Anatomia na Université de Picardie, França, obtendo os títulos de Mestre e de Doutor, com menção tres honorable, ambos revalidados no Brasil. Antes de retornar ao Brasil, o professor Murilo S. Meneses trabalhou como docente no de partamento de Anatomia da Faculté de Médecine des Saints-Peres, sob a chefia da professora Genévieve Hidden, que gentilmente escreveu o prefácio desta obra. O autor tornou-se membro da Société Anatomique de Paris, fundada por Henri Rouviere e com sede nesse departamento de Anatomia, e, mais tarde, da Sociedade Brasileira de Anatomia. Atualmente, o professor Murilo S. Meneses é Neurocirurgião e Chefe das Unidades de Neurocirurgia Funcional e Endovascular do Instituto de Neurologia de Curitiba e Professor, tendo sido chefe por duas gestões, do Departamento de Anatomia da Universidade Federal do Paraná. Com inúmeros trabalhos publicados e apresentados no Brasil e no exterior, o professor Murilo S. Meneses recebeu o título honorífico de Maitre Es Sciences Médicales, publicado no diário oficial da República Francesa. Entre seus diversos trabalhos, inclui-se o livro Doença de Parkinson, publicado também pela Guanabara Koogan. Colaboradores Dr. Adelmar Afonso de Amorim Junior Médico Veterinário. Doutor em Anatomia pela Universidade de São Paulo. Professor Associado IV da Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciências Biológicas - Departamento de Anatomia. Especialização em Neuropsicologia. Mestrado e Doutorado em Medicina Veterinária - Área de Concentração: Anatomia. Prof. Dr. Alfredo Luiz Jacomo Docente da disciplina Topografia Estrutural Humana do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Vice-Chefe do Laboratório de Investigação Médica - LIM-02 do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ora Ana Paula Bacchi de Meneses Médica Psiquiatra do Instituto de Neurologia de Curitiba. Drª Andrea Parolin Jackowski Professora Adjunta de Anatomia Humana da UNIFESP. Doutorado em Ciências Médicas na UFRGS. Pós-Doutorado em Neuroimagem na Yale University, New Haven, CT, EUA. Dr. Antonio Carlos Huf Marrone Professor de Neuroanatomia da UFRGS. Professor de Neurologia da Faculdade de Medicina da PUCRS. Doutor em Medicina - PUCRS. Neurologista do INCER. Dr. Ari Antonio Pedrozo Neurocirurgião dos Hospitais das Nações e Vita, Curitiba - PR. Dr. Ari Leon Jurkiewicz Professor Adjunto aposentado do Departamento de Anatomia da Universidade Federal do Paraná. Ex-Professor Titular das disciplinas Anatomia Humana e Neuroanatomia da Faculdade Evangélica do Paraná. Acadêmico Titular da Academia Paranaense de Medicina. ••• VIII Colaboradores Dr. Carlos Alberto Parreira Goulart Neurologista. Neurocirurgião e Neurotraumatologista. Professor Titular de Neuroanatomia e Professor Assistente de Neurologia e Neurocirurgia da PUCPR. Profª Drª Djanira Aparecida da Luz Veronez Biomédica, Docente da disciplina Neuroanatomia e Anatomia Humana do Departamento de Anatomia da Universidade Federal do Paraná - UFPR. Responsável pelo Laboratório de Estudos Morfológicos, Morfométricos e Estereológicos (LEMME) da Universidade Federal do Paraná - UFPR. Dr. �dison Luiz Prisco Farias Médico Veterinário. Professor de Anatomia dos Animais Domésticos e N euroanatomia Veterinária Aplicada - Departamento de Anatomia da UFPR. Dr. Emilio José Scheer Neto Médico Neurologista. Mestre em Educação. Diretor do Curso de Medicina da PUCPR, de 1999 a 2004. Professor de Neuroanatomia e N eurociências do Curso de Medicina da PUCPR. Dr. FranciscoCardoso Neurologista. Professor Adjunto de Neurologia, UFMG. Chefe de Clínica de Distúrbios de Movimentos, Departamento de Psiquiatria e Neurologia da Faculdade de Medicina da UFMG. Dr. Guilherme Carvalhal Ribas Professor Livre-Docente do departamento de Cirurgia da FMUSP. Neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein/SP. Dr. Hélio Afonso Gizone Teive MSc, Ph.D. Professor Adjunto de Neurologia da Universidade Federal do Paraná. Coordenador do Setor de Distúrbios do Movimento do Hospital de Clínicas da UFPR Chefe do Serviço de Neurologia do Hospital de Clínicas da UFPR. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Ciências da Saúde da UFPR. Dr. Hélio Augusto Godoy de Souza Biólogo. Mestre em Cinema. Doutor em Comunicação e Semiótica. Professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Dr. Henrique Carrete Jr. Médico Radiologista do Departamento de Diagnóstico por Imagem da UNIFESP/EPM. Mestre e Doutor em Radiologia pela UNIFESP/EPM. Dr. Henrique Mitchels Filho Professor de Anatomia da UFPR e da Faculdade Tuiuti de Curitiba. Dr. Jerônimo Buzetti Milano Médico, com especialização em Neurocirurgia e Cirurgia da Coluna Vertebral. Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Coluna. Dr. Juan C. Montano Médico - Universidade Federal do Paraná. Drª Leila Elisabete Ferraz de Paola Neurologista e Neurofisiologista do Hospital Vita, Curitiba - PR. Dr. Marcelo Heitor Ferreira Mendes Professor Adjunto de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Ph.D. em Neurobiologia, Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes - IBRAG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Mestre em Neurologia, Universidade Federal Fluminense - UFF. Fellowship em Epilepsia e N eurofisiologia, Epilepsy Research and Experimental Group, Institute ofNeurology, U niversity College of London - UCL. Coordenador dos Ambulatórios de Epilepsia do Hospital Universitário Pedro Ernesto - HUPE/UERJ. Dr. Maurício Coelho Neto Neuro cirurgião do Instituto de Neurologia de Curitiba - PR. Dr. Mauro Guidotti Aquini Professor de Neuroanatomia da UFRGS. Mestre em Neurociências. Neurocirurgião do Hospital Pronto-Socorro, Porto Alegre - RS. Prof. Dr. Paulo Henrique Ferreira Caria Dentista, Professor Livre-Docente e Responsável pela disciplina Anatomia Funcional da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. • Colaboradores IX Prof. Dr. Ricardo Ramina Título de Especialista em Neurocirurgia pelas Sociedades Brasileira e Alemã de Neurocirurgia. Mestrado pela UFPR e Doutorado em Medicina pela UNICAMP. Chefe do Serviço de Neuro cirurgia do Instituto de Neurologia de Curitiba. Professor de Pós-Graduação em Cirurgia pela PUCPR. Ex-Chefe de Clínica (Oberarzt) de Neurocirurgia, Hannover - Alemanha. Ex-Professor Associado de Neurocirurgia, Washington - EUA. Ex-Professor Colaborador da UNICAMP. Presidente do Capítulo de Cirurgia da Base do Crânio - Federação Latino-Americana de Neurocirurgia. Membro do Departamento de Cirurgia da Base do Crânio - W orld Federation ofNeurosurgical Societies. Chefe do Serviço de Neurocirurgia do Instituto de Neurologia de Curitiba (INC). Drª Rúbia F. Fuzza Pediatra da UFPR, Neonatologista da Maternidade Darcy Vargas, Joinvile - Santa Catarina. Dr. Walter Oleschko Arruda Neurologista do Instituto de Neurologia de Curitiba - PR. Professor de Neurologia da UFPR. Dedicatória Dedico este livro à minha mãe, Sra. Ana Luiza, que nos deixou um exemplo de alegria, generosidade e coragem para continuar em frente; ao meu pai, Sr. Amir, que nos mostrou o caminho da honestidade, do trabalho e da perseverança; às minhas filhas Cláudia e Carol, e à minha esposa, Ana Paula, que tanta felicidade têm me proporcionado. Com todo meu carinho, amor e afeto. Agradecimentos Aos amigos do Instituto de Neurologia de Curitiba, pelo apoio irrestrito. Aos colegas da Universidade Federal do Paraná, pelo incentivo constante. À Marisa A velar de Morais, que cuidou com muita atenção da interação entre os colaboradores, a Editora e este autor. À Adrielli Aparecida Marinelli Moreira pelo trabalho de elaboração gráfica desenvolvido para a realização desta 3ª edição. Aos funcionários e secretárias que tanto nos auxiliam. Aos estudantes e residentes, razão de ser deste trabalho. Prefácio Quando um estudante de Medicina, depois de estar familiarizado com o corpo humano, seus diversos aparelhos, órgãos ou regiões, aborda o estudo do sistema nervoso, ele se encon tra em frente a um outro mundo, inicialmente desconcertante. É verdade que a descrição da medula espinal e do encéfalo, suas relações com as estruturas vizinhas, seus envoltórios e sua vascularização são acessíveis, do mesmo modo que as diferentes partes do corpo humano. Mas, se é fácil entender a função a partir da forma de um músculo, de um osso ou de uma articula ção, aqui nada é comparável. Como encontrar, entre essas vias de condução entrecruzadas na substância branca, esses núcleos de substância cinzenta aferentes, eferentes ou coordenadores, esses centros hierarquizados que são somente distintos pelos seus conteúdos celulares? Os nervos periféricos, tão familiares durante as dissecações, recebem então um novo signi ficado: veículos coletivos de funções motoras, sensitivas diversas e de aferências e eferências vegetativas. A forma não representa mais a função. É um mundo abstrato que se apresenta sob o olhar do estudante, às vezes fascinado, mas frequentemente desorientado e inquieto. O sistema nervoso é realmente fascinante, como nos mostra, nos seres vivos, o progresso da imagem médica, morfológica, cada vez mais funcional. Essas magníficas imagens, ilus trando as doenças degenerativas, tumorais ou de origem vascular, não devem fazer esquecer que, antes de mais nada, é o exame clínico que determina o local da lesão e evoca a etiologia. Ter em mente o encaminhamento e as etapas percorridas por uma ordem vinda de uma área cortical específica em direção de uma extremidade do corpo é poder voltar no sentido inverso do problema funcional até sua origem. Muito grosseiramente, é agir como um eletricista que procura, com método, a origem de um defeito. Aqui, porém, o circuito é mais complexo. É natural que, após vários anos de ensino e de pesquisas anatômicas, um eminente médico neurocirurgião decida fornecer aos estudantes um guia completo para estudo de tão impor tante disciplina. O lugar dado à clínica em cada capítulo é uma das grandes qualidades desta obra: é lembrar, se fosse necessário, que o diagnóstico médico tem por fundamento o perfeito conhecimento da Anatomia. Esta obra, elaborada sob a direção e com a competência do Professor Murilo S. Meneses, constituirá, sem dúvida, um guia precioso para todos os futuros médicos. Professora Genévieve Hidden Ex-Chefe do Departamento de Anatomia Faculté de Médecine des Saints-Peres Paris - França Sumário 1 Introdução, 1 Murilo S. Meneses 2 O Neurônio e o Tecido Nervoso, 2 Walter Oleschko Arruda 3 Conceitos Básicos de Embriologia do Sistema Nervoso, 27 Murilo S. Meneses 4 Anatomia Comparada do Sistema Nervoso, 34 Édison Luiz Prisco Farias 5 Nervos Periféricos, 46 Walter O. Arruda e Murilo S. Meneses 6 Plexos Nervosos, 61 Alfredo Luiz Jacomo, Djanira Aparecida da Luz Veronez e Paulo Henrique Ferreira Caria 7 Meninges, 72 Murilo S. Meneses e Ricardo Ramina 8 Liquor, 80 Murilo S. Meneses e Ana Paula Bacchi de Meneses 9 Medula Espinal, 88 Murilo S. Meneses e Ari L. Jurkiewicz 1 O Tronco do Encéfalo, 106 Henrique Mitchels Filho, Leila E. Ferraz de Paola e Jerônimo Buzetti Milano 1 1Formação Reticular, 124 Adelmar Afonso de Amorim Junior 1 2 Nervos Cranianos, 132 Carlos Alberto Parreira Goulart e Emilio José Scheer Neto 1 3 Sistema Nervoso Autônomo, 157 Maurício Coelho Neto e Jerônimo Buzetti Milano 1 4 Cerebelo, 168 Walter Oleschko Arruda 1 5 Diencéfalo - Epitálamo e Subtálamo, 189 Francisco Cardoso 1 6 Tálamo, 193 Murilo S. Meneses 1 7 Hipotálamo, 202 Ari Antonio Pedrozo 1 8 Sistema Piramidal, 209 Antonio Carlos Huf Marrone 1 9 Núcleos da Base, Estruturas Correlatas e Vias Extrapiramidais, 216 Hélio A. G. Teive 20 Telencéfalo, 228 Guilherme Carvalhal Ribas 21 Sistema Límbico, 260 Walter Oleschko Arruda 22 Vias da Sensibilidade Especial, 280 Antonio C. H. Marrone, Mauro G. Aquini e Murilo S. Meneses • XVI Sumário 23 Vascularização do Sistema Nervoso Central, 295 Murilo S. Meneses e Andrea P. Jackowski 24 Cortes de Cérebro (Técnica de Barnard, Robert & Brown), 316 Murilo S. Meneses, Juan C. Montafio e Rúbia F. Fuzza 25 Imagens em 3 Dimensões, 327 Murilo S. Meneses e Hélio Augusto Godoy de Souza 26 Imagens de Ressonância Magnética, 330 Andrea Parolin Jackowski, Marcelo Heitor Ferreira Mendes e Henrique Carrete Jr. Índice alfabético, 341 Introdução Murilo S. Meneses A compreensão da anatomia do sistema nervoso de pende de dedicação, pois suas estruturas são complexas. Pesquisas em neuroanatomia e em campos correlatos têm sido realizadas continuamente, trazendo novos co nhecimentos de modo muito rápido. Apesar do grande número de informações, é possível tornarmos interes sante, e mesmo agradável, o estudo da neuroanatomia, revelando descobertas excitantes do funcionamento do sistema mais fascinante do mundo biológico. As diferentes áreas da neurobiologia (anatomia, fisio logia, biologia celular, química etc.) devem ser estudadas em conjunto, uma vez que as pesquisas e o conhecimento encontram-se associados. O estudo, porém, sem um obje tivo de aplicação torna-se desinteressante e cansativo. O desenvolvimento de técnicas de neuroimagem e o uso rotineiro da tomografia computadorizada e da ressonância , . . . . magnet1ca tornaram a neuroanatom1a mmto importante para os profissionais da área da saúde. Atualmente, um exame rápido por esses métodos possibilita a visualização das estruturas do sistema nervoso e o diagnóstico de um número considerável de patologias. Para esse fim, o co nhecimento da neuroanatomia é indispensável. Este livro é destinado ao curso de graduação, servindo como referência para a disciplina de N euroanatomia e como introdução ao estudo de outras disciplinas, como Clinica Médica, Neurologia, Neurocirurgia e Psiquiatria. Existe uma tendência lógica na educação de ciências da saúde em evitar um volume muito grande e desnecessário de informações, que tornam o estudo confuso, desinte ressante e extenuante. Por essa razão, tivemos o objetivo de apresentar um conteúdo claro, evitando controvér sias e descrições detalhadas de estudos experimentais. Os capítulos específicos iniciam com a apresentação da macroscopia, seguida pelos estudos das vias e conexões. Por outro lado, julgamos indispensável uma discussão da aplicação clínica desses conhecimentos. Não é obje tivo desta obra ensinar Neurologia ou outras disciplinas, mas servir como introdução a elas - demonstrando o que causa diferentes alterações nas estruturas do sistema nervoso - e estimular o interesse pela Neuroanatomia. Finalmente, selecionamos em cada capítulo a Bibliogra fia complementar, indicando trabalhos da literatura para aqueles que desejam empreender estudo detalhado. A anatomia em geral e a neuroanatomia em particu lar devem ser estudadas de modo progressivo, possibili tando uma memorização adequada e uma sedimentação dos conhecimentos. O sistema nervoso apresentou uma evolução, chamada filogenética, com as espécies na escala animal. O estudo da anatomia comparada permite me lhor análise da função das estruturas neuroanatômicas, demonstrando o desenvolvimento desse sistema e, inclu sive, uma verdadeira hierarquia nas vias e conexões. Da mesma maneira, o estudo da embriologia é importante para a compreensão do desenvolvimento do sistema ner voso, ao explicar diversos fenômenos anatômicos, sendo ainda utilizado na determinação de uma divisão chama da embriológica. Uma revisão de anatomia comparada e outra de embriologia foram incluídas no início do livro para facilitar o estudo dos demais capítulos. Para facilitar a identificação das estruturas do sistema ner voso, aparecem, nos diferentes capítulos, ilustrações por de senhos e fotos. Separadamente, no final do livro, encontram se cortes de encéfalo nos planos coronal e horizontal. Nesta terceira edição, procedeu-se a uma revisão am - pla dos capítulos. Seguindo sugestões de professores, de diferentes profissionais da área da saúde e de estudantes, várias modificações no texto, nas ilustrações e, mesmo, na estrutura do livro foram feitas. Os capítulos 12, Nervos Cranianos; 14, Cerebelo; 19, Núcleos da Base, Estrutu ras Correlatas e Vias Extrapiramidais, e 21, Sistema Límbico, foram modificados e atualizados. Com esse mesmo objetivo, foi incluído um capítulo independente para os Plexos Nervosos (Capítulo 6). Em razão da utili zação ampla da ressonância magnética na prática clínica, um novo capítulo, com imagens obtidas por esse método em diferentes planos, permite a identificação de várias estruturas descritas na obra, reforçando a importância da neuroanatomia aplicada (Capítulo 26). 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso Walter Oleschko Arruda .... 1 ntrod ução O tecido nervoso é formado por dois componentes principais: (1) os neurônios, células que apresentam ge ralmente longos prolongamentos, e (2) vários tipos de células da glia ou neuróglia que, além de sustentarem os neurônios, participam da atividade neural, da nutrição dos neurônios e de processos de defesa do sistema nervoso. No sistema nervoso central (SNC), há uma certa segre gação entre os corpos celulares dos neurônios e os seus prolongamentos. Isso faz com que sejam reconhecidas no encéfalo e na medula espinal duas porções distintas, denominadas substância branca e substância cinzenta (Figura 2.1). Existem componentes estruturais no SNC, e seu co nhecimento é fundamental para o entendimento da neu roanatomia e neurofisiologia. Vejamos: Comissura. Conjunto de fibras nervosas que cruzam o plano mediano sagital de forma perpendicular unindo o córtex de ambos os hemisférios cerebrais. Exemplo: comissura anterior. Decussação. Formação neuroanatômica constituída por fibras nervosas que cruzam o plano mediano de forma oblíqua. Exemplo: decussação motora ou das pirâmides. Fascículo. Basicamente, um trato formado por fibras mais compactadas. Esse termo é consagrado em algumas estruturas e não há distinção funcional com trato. Funículo. Termo utilizado para a substância branca da medula espinal. Um funículo é composto por tratos ou fascículos. Gânglio. Grupo de corpos celulares de neurônios no sistema nervoso periférico com aproximadamente a mes ma estrutura e conexões funcionais. Exemplo: gânglio sensorial dorsal. Lemnisco. Conjunto de fibras aferentes que levam impulsos ao tálamo. 2 Núcleo. Grupo de corpos celulares de neurônios do sistema nervoso central com aproximadamente a mesma estrutura e conexões funcionais. Trato. Feixe de fibras nervosas com a mesma origem, trajeto, função e destino. As fibras podem ser mielínicas ou amielínicas. A substância cinzenta é assim chamada porque mostra essa coloração quando observada macroscopicamente. É formada sobretudo por corpos celulares dos neurônios e células da glia, contendo também prolongamentos de A • neuron1os. A substância branca não contém corpos celulares de neurônios, sendo constituída por prolongamentos de neurônios e por células da glia. Seu nome origina-se da presença de grande quantidade de um material esbranquiçado, a mielina, que envolve os prolongamentos dos A • A • neuron1os, os axon1os. Os neurônios têm a propriedade de responder a alte rações do meio em que se encontram (estímulos) com modificações da diferença de potencial elétrico que existe entre as superfícies externa e interna da membrana celu lar. (É o chamado potencial de membrana.) As células que exibem essa propriedade, neurônios, células musculares e de algumas glândulas, são ditas excitáveis. Os neurônios reagem prontamente aos estímulos, e a modificação do potencial elétrico pode restringir-se ao local do estímulo ou propagar-se ao restante da célula, através da membra na. Essa propagação constitui o que se denomina impulso nervoso, cuja função é transmitir informações a outros neurônios, a músculos ou a glândulas. Os impulsos nervo sos originados no corpo celular do neurônio propagam-se através do axônio, enquanto os dendritos transmitem os impulsos em direção ao corpo celular. A transmissão, recepção e integração dos sinais elétri cos são essenciais para o processamento da informação no sistema nervoso central nos seus graus mais variados de complexidade, que vão de um arco reflexo simples a Substância branca Córtex cerebral (substância cinzenta) Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 3 Tálamo Núcleo ( caudado (' --+-- Corpo caloso Cápsula interna Corpo estriado (putame + globo pálido) Trato piramidal Cerebelo Decussação das pirâmides Ponte Bulbo Núcleo---�. cuneado Núcleo grácil Fascículo cuneado Lemnisco medial Fibras "f---- arqueadas internas ___ Substância branca Substância cinzenta Trato corticoespinal lateral Trato corticoespinal anterior Gânglio sensorial dorsal Fascículo grácil Figura 2.1 Visão macroscópica do encéfalo e da medula espinal. funções integrativas complexas, como, por exemplo, os processos cognitivos. Os neurônios apresentam um potencial de membra na, à semelhança de outros tipos de células, cujo interior é eletricamente negativo em relação ao meio externo. As células nervosas têm a capacidade de utilizar esse poten cial de membrana para a transmissão intercelular de si nais elétricos. No seu estado em repouso, esse potencial é chamado potencial de repouso, e situa-se geralmente entre 70 e 90 milivolts. Os estímulos excitatórias des polarizam a membrana celular, enquanto os inibitórios hiperpolarizam-na. A despolarização, hiperpolarização, repolarização e restauração do potencial de membrana de repouso se fazem a expensas de trocas de íons (sódio, po- tássio, cloro, cálcio) através de canais iônicos voltagem dependentes ou ionóforos (Figura 2.2). Canais iônicos são estruturas especializadas proteicas que atravessam a membrana celular e permitem a passagem seletiva ou não dos diferentes íons, levando a diferentes gradientes iôni cos e, em consequência, a diferentes estados de potencial elétrico. O potencial de ação é um estímulo excitatório forte o bastante para provocar a propagação de uma onda de despolarização que se desloca, por exemplo, ao longo de um axônio (Figura 2.3). Quando o potencial de ação atinge o botão sinápti co, há a liberação de neurotransmissores na fenda si náptica, que irão fixar-se aos receptores específicos pós sinápticos. As interações neurotransmissor-receptor 4 Neuroanatomia Aplicada Membrana celular Extracelular Intracelular 142 mM Despolarização ...._ Na+------------------!'------------------�------....;.----....;..--�� 1 0 mM Despolarização Repolarização 101 mM Repolarização c1- ---------------r-1 ------�• c1-�•1t---------::�:---���f·------� Despolarização 5 a 30 mM 4 mM Repolarização 155 mM Figura 2.2 Canais iônicos ou ionóforos. Existem 5 tipos principais de canais iônicos que determinam o potencial de membrana. A concentração dos íons é expressa em mil imoles (mM). O gradiente iônico desses diversos íons estabelece o potencial de membrana final. A entrada de sódio e cálcio na célu la provoca despolarização, enquanto a saída de potássio leva à repolarização. A B • • • • • • ' • ( • •• • • • • ' ' • • • • Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 5 Potencial da membrana Despolarização mV Repolarização Na+ Hiperpolarização Potencial de repouso :1-- • • • • • • - ) w • " .. f • • . ' . • • ) • • • • . ' • . .. • r • "' .. . . '", . . ' • • • • • 1i. � - • • , • • • • 1 • • ��---, • . • • • . ' - , • \...._ ___ _! • • . . ... . • • • • . ' . ' • • • • • • . • • • • • • •• • • • • • • • • j • • • • • • • o 1 2 3 ms Na+� -- - -+++++++++ ++ ++- - - .... ---- - - Na+� +++ +++ -- - - - - -- - - -- - �- - - ---- Na� +++++++++ - -++ - - -- -.. - - -- - - - Bainha de mielina Na+ . : : -�' . �'-X .... ..f-+ + +_ !" T- ! + + + + -f. "+. + • - -------� + + ,... ________ .... • • 1 • • • • • ' • • ' • • • Figura 2.3 O potencial de ação. (A) Condução de impulso nervoso em uma fibra não mielinizada. (B) Condução saltatória do impulso nervoso na fibra miel in izada. 6 Neuroanatomia Aplicada provocam alterações locais do potencial de membrana pós-sináptico, produzindo um potencial de membrana pós-sináptico excitatório ou um potencial de membra na pós-sináptico inibitório, dependendo da natureza do receptor envolvido. Os neurônios, por meio de seus prolongamentos, ge ralmente longos e numerosos, formam circuitos. Da mesma maneira que os circuitos eletrônicos, os circui tos neurais são combinações de diversos tamanhos e complexidade. O circuito neural pode ser simples, po rém, na maioria das vezes, trata-se da combinação de dois ou mais circuitos que interagem para executar uma função. Muitos circuitos elementares se comunicam em grau crescente de complexidade para executar funções cada vez mais complexas. As funções básicas do sistema nervoso são: a) detectar, transmitir, analisar e utilizar as informa ções processadas pelos estímulos sensoriais repre sentados por calor, luz, energia mecânica e modifi cações químicas dos ambientes externo e interno; b) organizar e coordenar, direta ou indiretamente, o funcionamento de quase todas as funções do orga nismo, entre as quais as funções motoras, viscerais, endócrinas e psíquicas. � Neurônio As células nervosas ou neurônios formam-se por um corpo celular ou pericário, que contém o núcleo e do qual partem os prolongamentos. Em geral, o volume total dos prolongamentos de um neurônio é maior do que o volume do corpo celular. Os neurônios têm morfologia complexa, porém quase todos apresentam três componentes (Figura 2.4): a) dendritos, prolongamentos numerosos, especiali zados na função de receber os estímulos do meio ambiente, de células epiteliais sensoriais ou de ou- A • tros neuron1os; b) corpo celular, que representa o centro trófico da célula e que é também capaz de receber estímulos - é constituído pelo núcleo e pelo citoplasma que o envolve, denominado pericário; c) axônio, prolongamento único, especializado na condução de impulsos que transmitem informa ções do neurônio a outras células (nervosas, mus culares, glandulares); a porção final do axônio, em geral muito ramificada (telodendro), termina na célula seguinte do circuito, por meio de botões ter minais, que fazem parte da sinapse. Em geral, as informações são recebidas pelos dendritos e pelo corpo celular, e são emitidas pelos axônios. As dimensões e a forma das células nervosas e seus prolongamentos são extremamente variáveis. O corpo celular pode ser esférico, piriforme ou anguloso. Em ge- ral, as células nervosas são grandes, podendo o corpo celular medir até 150 µm. Uma célula com essa dimen são, quando isolada, é visível a olho desarmado. Toda via, algumas células nervosas, como as células granulosas do cerebelo, estão entre as menores células encontradas nos mamíferos, medindoseu corpo celular 4 a 5 µm de diâmetro. De acordo com o tamanho e a forma de seus prolon gamentos, a maioria dos neurônios pode ser classificada em um dos seguintes tipos (Figura 2.5): a) neurônios multipolares: apresentam mais de dois prolongamentos celulares; b) neurônios bipolares: apresentam um dendrito e A • um axon10; e c) neurônios pseudounipolares: apresentam, próxi mo ao corpo celular, prolongamento único, mas este logo se divide em dois, dirigindo-se um ramo para a periferia e outro para o SNC. Os neurônios pseudounipolares aparecem na vida em brionária sob a forma de neurônios bipolares, com um axônio e um dendrito nascendo de extremidades opostas do pericário. Durante o desenvolvimento, os dois prolon gamentos se aproximam e se fundem por um pequeno , . . , . percurso, proxrmo ao per1car10. Os dois prolongamentos das células pseudounipola res, por suas características morfológicas e eletrofisio lógicas, são axônios, mas as arborizações terminais do ramo periférico recebem estímulos e funcionam como dendritos. Nesse tipo de neurônio, o estímulo captado pelos dendritos transita diretamente para o terminal axô nico, sem passar pelo corpo celular. A grande maioria dos neurônios no SNC é multipo lar. Seus corpos celulares são relativamente grandes, até 135 µm, mas podem ser pequenos, com apenas 4 µm de diâmetro. Neurônios bipolares são encontrados nos gânglios coclear e vestibular, na retina e na mucosa olfa tória. Neurônios pseudounipolares são encontrados nos gânglios espinais, que são gânglios sensoriais, situados nas raízes dorsais dos nervos espinais. Os neurônios podem ainda ser classificados segundo sua função. Os neurônios motores ou eferentes con trolam órgãos efetores, tais como glândulas exócrinas e endócrinas e fibras musculares. Os neurônios sensoriais ou aferentes recebem es tímulos sensoriais do meio ambiente e do próprio or ganismo. Os interneurônios ou neurônios de asso ciação estabelecem conexões entre outros neurônios, formando circuitos complexos. Sua principal função é a coordenação complexa das funções de regiões au tônomas dentro do SNC, principalmente na região cefálica, na qual os interneurônios são abundantes e compreendem a maior parte do cérebro. Os interneu rônios de axônios longos (células tipo 1 de Golgi) podem estabelecer conexões entre regiões distantes � -e: � o !/J � .... Q) e: cu E Q) - !/J ü5 8 ·;:: •Q) - ·- .... Q) o. o !/J � Q) e: cu E Q) -!/J ·- cn • • • • . . . - Bainha de mielina central Bainha de mielina periférica Corpo neuronal o ----- Nó de Ranvier Célula de Schwann Axônio Vesícula sináptica • • Aparelho de Golgi Vesícula sináptica Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 7 Dendrito Núcleo • Retículo endoplasmático Oligodendrócito .. - - Junção neuromuscular Figura 2.4 O neurônio. O axônio pode ser ou não envolto por uma bainha de miel ina. 8 Neuroanatomia Aplicada l Bipolar Multipolar Pseudounipolar Figura 2.5 Tipos de neurônios. no SNC, enquanto os interneurônios de axônios cur tos (células tipo II de Golgi) formam conexões locais (Figura 2.6). Durante a evolução dos mamíferos, ocorreu grande aumento no número e complexidade dos interneurô nios. As funções mais complexas de mais alto nível do sistema nervoso não podem ser atribuídas a circuitos simples, formados por poucos neurônios, mas depen dem das complexas interações dos prolongamentos de ' A ' muitos neuron1os. No SNC, os corpos celulares dos neurônios localizam se somente na substância cinzenta. A substância bran - ca não apresenta corpos celulares neuronais, mas ape nas seus prolongamentos citoplasmáticos (axônios). No SNP, os corpos celulares são encontrados em gânglios e em alguns órgãos sensoriais, como a mucosa olfatória. O corpo celular do neurônio contém o núcleo e o cito plasma perinuclear que, além de ser primariamente um centro trófico, exerce também uma função receptora e integradora de estímulos. Os corpos celulares da maioria dos neurônios recebem numerosas terminações nervosas, que trazem estímulos excitatórias ou inibitórios gerados em outras células nervosas. • Núcleo Na maioria dos neurônios, o núcleo é esférico e apa rece pouco corado nos preparados histológicos, pois seus cromossomos acham-se muito distendidos, indicando a alta atividade sintética dessas células. Cada núcleo tem, em geral, um nucléolo único, grande e central. Próximo ao nucléolo ou à membrana nuclear, observa-se, no sexo feminino, a cromatina sexual, sob a forma de um grâ nulo esférico bem distinto. A cromatina sexual corres ponde a um cromossomo X inativado, que permanece condensado na interfase. Dendrito A>cônio A Dendrito B Figura 2.6 lnterneurônios: (A) tipo I; (8) tipo li. • Retículo endoplasmático rugoso A>cônio colateral Retículo endoplasmático rugoso é muito abundante nas células nervosas e forma agregados de cisternas para lelas, entre as quais ocorrem numerosos polirribossomos livres. Esses conjuntos de cisternas e ribossomos, quando convenientemente corados, apresentam-se ao microscó pio óptico como manchas basófilas espalhadas pelo cito plasma, os corpúsculos de Nissl (Figura 2.4). Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 9 A quantidade de retículo endoplasmático rugoso va ria com o tipo e o estado funcional dos neurônios, sendo mais abundante nos neurônios maiores, particularmente A ' nos neuron1os motores. • Aparelho de Golgi e mitocôndrias O aparelho de Golgi localiza-se exclusivamente no pericário, em torno do núcleo. Consiste em membranas lisas que constituem vesículas achatadas e dispostas pa ralelamente entre si, formando grupos que, por sua vez, são paralelos à membrana nuclear. Além das vesículas achatadas, encontram-se também vesículas menores e esféricas. Nos preparados por impregnação argêntica ou ósmi ca, técnicas clássicas de demonstração do aparelho de Golgi, este aparece como uma rede de filamentos irregu lares. Esse aspecto é consequência da impregnação das membranas do aparelho de Golgi e sua deformação pela técnica empregada. As mitocôndrias existem em pequena quantidade nos dendritos e axônios. São um pouco mais abundantes no pericário e estão presentes em grande quantidade no ter minal axônico. • Neurofilamentos e microtúbulos Os filamentos intermediários de 1011m de diâmetro, chamados neurofilamentos, são abundantes tanto no pericário como nos prolongamentos. Em certos prepa rados, esses neurofilamentos se aglutinam por impreg nação argêntica, e sobre eles ocorre uma deposição de prata metálica, o que torna as neurofibrilas visíveis ao microscópio. Em condições favoráveis, essas neurofibri las podem ser vistas em neurônios vivos mantidos em cultivo de tecido. Provavelmente, isto se deve à disposi ção paralela e muito próxima dos neurofilamentos, cujo diâmetro, na verdade, está abaixo do limite de resolução do microscópio óptico. O citoplasma do pericário e dos prolongamentos também apresenta microtúbulos de 24 11m de diâmetro, semelhantes aos encontrados em outros tipos celulares. Além da manutenção da citoarquitetura dos corpos neuronais, os neurofilamentos exercem papel fundamental no fluxo axoplasmático (ver adiante). • Inclusões e dendritos Em determinados locais do SNC, os pericários contêm grânulos de melanina, pigmento de significado funcional ainda desconhecido nesse tipo celular. Outro pigmento às vezes encontrado nos corpos celulares é a lipofusci na, de cor parda e que contém lipídios. Esse pigmento se acumula com o decorrer da idade e consiste, prova velmente, em resíduos de material parcialmente digerido pelos lisossomos. A maioria das células nervosas contém numerosos dendritos, que aumentam consideravelmente a super- 1 O Neuroanatomia Aplicada fície celular, tornando possível receber e integrar impul sos trazidos por numerosos terminais axônicos. Calcula se queaté 200.000 terminações de axônios estabelecem contato funcional com os dendritos de um tipo celular encontrado no cerebelo, denominado célula de Purkin je. Em outras células nervosas, esse número pode ser até maior. Os neurônios que apresentam um só dendrito (neurônios bipolares) são pouco frequentes e localizam se somente em regiões específicas. Ao contrário dos axô nios (fibras nervosas), que mantêm o seu diâmetro re lativamente constante ao longo de seu comprimento, os dendritos tornam-se mais finos à medida que se rami ficam. A estrutura dos dendritos é muito semelhante à do corpo celular, mas não apresenta, aparelho de Golgi. Cor púsculos de Nissl estão presentes, exceto nos dendritos mais finos. Neurofilamentos de 1011m são também en contrados, mas em menor número do que nos axônios. Em geral, os dendritos são curtos e se ramificam como os galhos de uma árvore. Em alguns casos, tomam con - figurações características, como nas células de Purkinje do cerebelo (Figura 2.7). Nessas células, os dendritos se ramificam extensamente, porém todos os ramos se man têm no mesmo plano, formando um leque. • Axônio Cada neurônio contém apenas um único axônio, que é um cilindro de comprimento e diâmetro variáveis con forme o tipo de neurônio. O diâmetro de um axônio, que pode variar de 0,2 a 20 µm, permanece constante ao longo de seu trajeto. Alguns axônios são curtos, mas, na maioria dos casos, o axônio é mais longo do que os den dritos da mesma célula. Os axônios das células motoras da medula espinal que inervam os músculos do pé, por exemplo, têm cerca de 1 m de comprimento. Geralmente, o axônio nasce de uma estrutura pirami dal do corpo celular, denominada cone de implantação. Em alguns casos, pode originar-se de um dendrito. O cone de implantação é pobre em retículo endoplasmáti co rugoso e em ribossomos. Nos neurônios cujos axônios são mielinizados, a parte do axônio entre o cone de implantação e o início da bai nha de mielina é denominada segmento inicial. Esse seg mento recebe muitos estímulos, tanto excitatórias como inibitórios, do que pode originar-se um potencial de ação cuja propagação é o impulso nervoso. O segmento inicial ' ' • • • A • • contem varios canais ionicos, importantes para gerar o impulso nervoso. Os axônios não se ramificam abundantemente, ao contrário do que ocorre com os dendritos. Os axônios podem dar origem a ramificações em ângulo reto de nominadas colaterais. São mais frequentes no SNC. A membrana celular que reveste o axônio chama-se axo lema. O citoplasma do axônio ou axoplasma apresen - ta-se muito pobre em organelas. Contém poucas mito- côndrias e microtúbulos, porém os neurofilamentos são frequentes. Quando um axônio é estimulado artificialmente, o impulso nervoso é conduzido em ambas as direções, a partir do ponto estimulado. O impulso que se transmite em direção ao corpo celular, atravessando-o e se encami nhando até as porções finais dos dendritos, não é capaz de excitar outros neurônios. Essa excitação só ocorre com o impulso que se dirige à arborização final do axônio. Pode-se dizer que, geralmente, cada neurônio transmite impulsos apenas por meio de seu axônio e só os recebe de axônios de outros neurônios. Essa transmissão dinâmica do impulso nervoso de um neurônio para outro depende de estruturas altamente especializadas, as sinapses. O movimento de organelas e substâncias através do axoplasma é denominado fluxo axoplasmático e se faz em duas direções: do pericário para a periferia (fluxo anterógrado) e da periferia para o soma (fluxo retrógra do). Substâncias tróficas são captadas perifericamente e levadas ao corpo celular. O mesmo ocorre com substân cias tóxicas e vírus, que podem atingir o sistema nervoso central após a sua captação pelas terminações axonais periféricas. Um exemplo é a infecção do sistema nervo so central pelo vírus da raiva, quando partículas virais são transportadas do local da mordida pelo cão afetado, através das fibras nervosas, para o sistema nervoso cen - tral. Peptídios são produzidos no soma neuronal e le vados para a periferia, onde podem exercer a função de neurotransmissores. • Sinapses As sinapses são os locais de contato de um axônio com os dendritos ou pericário de outros neurônios. Esse complexo juncional é composto por uma terminação pré-sináptica geralmente de um axônio e uma mem brana pós-sináptica, ou superfície receptora, separada pela fenda sináptica, de 200 a 300 A de largura. Embo ra a maioria das sinapses se estabeleça entre o axônio e o dendrito (axodendrítica) ou entre o axônio e o corpo celular (axossomática), há também sinapses entre den dritos (dendrodendríticas) e entre axônios (axoaxôni cas) (Figura 2.9). A sinapse em cadeia é uma forma de sinapse axoaxônica em que as duas terminações sináp ticas fazem também contato com uma mesma superfí cie receptora pós-sináptica. Há uma tendência recente de considerar também como uma sinapse a terminação nervosa em células efetoras, tais como células glandula res e musculares. Existem diversas variedades morfológicas de sinapses. O terminal axônico pode formar expansões em forma de bulbo, em forma de cesto ou em clava. Essas expansões são chamadas boutons terminaux. Mais frequentemente, o axônio estabelece várias sinapses ao longo do seu curso terminal. Nesse caso, observam-se varicosidades ao longo do axônio chamadas boutons en passage. Neurônio motor do corno anterior da medula - . �-=�···®;; Músculo Neurônio central do sistema nervoso autônomo (SNA) • Neurônio ganglionar (SNA) Neurônio sensorial Neurônio secretor da hipófise Pele lnterneurônio de projeção Neurônio da área óptica Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 1 1 lnterneurônio local Célula neuroendócrina Célula de Purkinje (cerebelo) Capilar Célula piramidal do córtex motor Figura 2.7 Alguns tipos de neurônios. 1 2 Neuroanatomia Aplicada Fluxo axonal anterógrado Maturação e liberação • 1 co2 • • • • • •• • •• • • • • . ' • • • •• • 1 • • .. • Núcleo • • • :o • �· • • •• • • • • • • AT • • • • • • • • • • • • • •• • .:· .. ' � � • GLICOSE • I • • � • º • :· · ·· Transcrição Neurofilamentos Reciclagem Fluxo axonal retrógrado Metabolismo aeróbico Microtúbulo • • Sinapse • Figura 2.8 Representação diagramática do fluxo axoplásmico. Observa-se a síntese de substâncias estruturais e neurotransmissoras no corpo celu lar neuronal. Substâncias da periferia (p. ex., toxinas, vírus) podem ser levadas da periferia para o corpo celu lar. Sinapse A ' • Sinapse --axoespinhosa o o� • • • • • Sinapse axossomática • o Q o • o e. o <> ... � .... -- axoaxon1ca • o o Sinapse não direcional • Figura 2.9 Tipos de sinapses. Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 1 3 • o • • o 1 . > Sinapse axodendrítica Sinapse do segmento inicial • � . • .. �=- · ' • Sinapse elétrica • " • • � • Sinapse em cadeia 1 4 Neuroanatomia Aplicada O estudo da sinapse ao microscópio eletrônico mos tra que ela é, na realidade, uma porção especializada de contato entre duas células. A fenda sináptica é delimitada pelas membranas pré sináptica (do terminal axônico) e pós-sináptica (de um dendrito, pericário, axônio ou célula efetora). Essas duas membranas estão firmemente aderidas entre si e, em al guns casos, verificou-se a existência de filamentos for mando pontes entre as duas membranas. As membranas pré- e pós-sinápticas acham-se espessadas, porque existe um acúmulo de material proteico elétron -denso aderen te às superfícies internas dessas membranas, no qual se baseiam os filamentos citoplasmáticos. As terminações sinápticas contêm numerosas vesí culas sinápticas; os neurofilamentos são raros, porém as mitocôndrias são frequentes. As vesículassinápticas apresentam no seu interior substâncias denominadas neurotransmissores, que são mediadores químicos res ponsáveis pela transmissão do impulso nervoso através das sinapses. Esses mediadores são liberados na mem brana pré-sináptica e aderem a moléculas receptoras da membrana pós-sináptica, promovendo a condução do impulso nervoso por meio do intervalo sináptico. As membranas das vesículas sinápticas que se incorporam à membrana pré-sináptica sofrem um processo de en docitose nas regiões laterais do terminal axônico e são reutilizadas para formar novas vesículas sinápticas. Além das sinapses químicas descritas anteriormente, nas quais a transmissão do impulso nervoso é mediada pela liberação de certas substâncias, existem ainda as si napses elétricas. Nestas, as células nervosas unem-se por junções comunicantes, que permitem a passagem de íons de uma célula para outra, promovendo, assim, sua cone xão elétrica e a transmissão dos impulsos. As sinapses elé tricas são raras nos mamíferos, sendo mais encontradas nos vertebrados inferiores e nos invertebrados. � Tecido glial ou neuróglia Sob a designação geral de neuróglia ou glia, incluem se vários tipos celulares presentes no sistema nervoso central ao lado dos neurônios. Nos preparados corados pela hematoxilina e eosina (H & E), os elementos da glia não se destacam bem, aparecendo apenas os seus núcleos espalhados entre os núcleos de dimensões maiores dos neurônios. Com essa coloração, o citoplasma e os pro longamentos das células da neuróglia não são visíveis, pois se confundem com os prolongamentos das células nervosas. Para o estudo da morfologia das células da neu róglia, usam-se métodos especiais de impregnação pela prata ou pelo ouro. Calcula-se que existam no sistema nervoso central 10 células da glia para cada neurônio, mas, em virtude do menor tamanho das células da neu róglia, elas ocupam aproximadamente metade do volume do tecido nervoso. Distinguem-se na neuróglia os seguintes tipos de célu las: astrócitos (astróglia), oligodendrócitos (oligoden dróglia), micróglia e células ependimárias. As células da neuróglia não produzem impulsos ner vosos nem formam sinapses, mas participam do controle do meio químico em que estão localizados os neurônios. As células gliais apresentam na superfície receptores para moléculas neurotransmissoras, têm em seu interior cer tas proteínas que também ocorrem nos neurônios. Ao contrário desses, as células da neuróglia são capazes de multiplicação mitótica, mesmo no adulto. • Astrócitos Os astrócitos apresentam prolongamentos citoplas máticos longos ou curtos e podem ser morfologicamente divididos em dois tipos de células: astrócitos protoplas máticos e astrócitos fibrilares (Figura 2.10). Os pro cessos citoplasmáticos dos astrócitos prolongam-se em todas as direções e cobrem quase toda a superfície exter na dos capilares do SNC, formando uma barreira físico química que regula a permeabilidade de substâncias do interior dos capilares para o interstício do tecido neu ral. Esses processos astrocitários desempenham ainda a função de captar os neurotransmissores liberados no interstício e, assim, evitam o potencial efeito neurotóxico dessas substâncias sobre os neurônios. Outra importante função é a homeostasia do potássio extracelular, crucial para a manutenção da excitabilidade neuronal. No SNC não existe tecido conjuntivo. Assim, proces sos cicatriciais se fazem a expensas da proliferação de células gliais. Esse processo de cicatrização denomina-se gliose, e as células que compõem o tecido cicatricial são descritas como astrócitos reativos ou hipertrofiados, de tamanho maior do que os astrócitos comuns. • Oligodendrócitos Os oligodendrócitos apresentam poucos prolonga mentos citoplasmáticos, e seu corpo celular frequente mente está localizado nas proximidades dos corpos neu ronais. Daí sua outra denominação de células satélites. Os oligodendrócitos também são encontrados enfileira dos ao longo das fibras mielínicas da substância branca. São responsáveis pela formação da bainha de mielina no SNC, em contraposição às células de Schwann, que pro duzem a bainha de mielina do sistema nervoso periférico (Capítulo 5, Nervos Periféricos). Cada oligodendrócito pode formar segmentos de bainha mielínica de várias fibras situadas em sua vizinhança (Figura 2.1 1). No encéfalo humano, a mielina começa a ser formada pelos oligodendrócitos a partir da 14ª semana de desen - volvimento fetal. Esse processo acelera-se durante o últi mo trimestre de gestação e estende-se por vários anos até se completar. Existem três classes de oligodendrócitos: claros, médios e escuros. Os três tipos ocorrem nas crian- 1 - A 5\ - B Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 1 5 Figura 2.1 O (A) Astrócito protoplasmático. (B) Astrócito fibrilar. ças, mas o tipo escuro predomina na fase adulta. Cada um desses tipos representa uma fase de maturação do oligodendrócito. Mesmo após o término do crescimen to, na fase adulta, oligodendrócitos claros podem surgir de células-tronco primitivas ainda existentes no SNC, o que permite a renovação constante e lenta dessas células durante toda a vida. Iniciada a mielinização dos axônios, os oligodendrócitos não mais se dividem. • Micróglia e células ependimárias A micróglia é formada por pequenas células fagoci tárias distribuídas na substância branca e cinzenta do SNC e constitui 5 a 20% de todas as células gliais. A ori gem da micróglia ainda é discutida, mas pode-se aceitar que parte dela deriva-se do neuroectoderma, nas fases iniciais do desenvolvimento do SNC, enquanto um se gundo componente da micróglia origina-se dos monó citos do sangue periférico que migram para o SNC, onde podem transformar-se em macrófagos. Essa invasão do SNC pelos monócitos parece ocorrer no período de mor te celular, quando o contingente excessivo de neurônios inicialmente formados durante o desenvolvimento do SNC é destruído. As células ependimárias são células gliais que revestem os ventrículos encefálicos e o canal da medula espinal. Elas formam um epitélio cuboide ou colunar baixo com cílios e microvilos em sua superfície livre. As células que revestem o plexo coroide, as quais exercem uma atividade especializada de produção do líquido cefalorraquidiano, formam o epitélio do plexo coroide. • Mielina Os nós de Ranvier são segmentos sem revestimento do axônio que se interpõem entre os segmentos revesti dos por bainha de mielina (segmentos internodais) (Fi gura 2.12). Essa região sem mielina apresenta uma grande concentração de canais de sódio voltagem-dependentes, o que é essencial para a condução saltatória do poten - cial de ação (Figura 2.3A e B). As etapas sucessivas de mielinização de uma fibra nervosa podem ser visualiza das na figura. Cada oligodendrócito no SNC ou célula de Schwann no SNP forma uma goteira ou sulco inicial que contém o axônio. O fechamento dessa goteira leva à formação do mesaxônio. O mesaxônio enrola-se em torno do axônio várias vezes, e a aposição das membra nas com sua fusão constitui a linha densa principal ou periódica. As faces externas da membrana do mesaxô nio também ficam aderidas uma à outra e formam a li nha densa menor ou interperiódica. O citoplasma e o núcleo das células mielinizantes formam o neurilema. O mesaxônio em contato com o axônio é denominado mesaxônio interno, ao passo que a parte externa, do lado do neurilema, chama-se mesaxônio externo. Nos pontos dentro da membrana mielínica, em que o cito plasma persiste, formam-se as incisuras de Schmidt Lantermann (Figura 2.13). Existe uma zona de transição entre o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico, com configuração diferente em se tratando de nervos cranianos emergindo do tronco cerebral ou de raízes nervosas espinais (Fi gura 2.14). Basicamente, essa zona de transição é com- 1 6 Neuroanatomia Aplicada Nó de Ranvier � Bainha deOligodendrócito _...-� ,,,-.-.:!'!,. ����:::��z:E=����-=-=/ielina A Axônio Célula formadora de bainha de mielina B Axônio e D Mesaxônio externo • . ' Mesaxônio interno Figura 2.1 1 Processo de miel inização. Há uma migração in icial pela célula formadora de miel ina (aqui, o oligodendrócito) (A, B, C, D) ao longo do axônio e posterior formação da bainha de mielina. posta por um compartimento axial, composto pelo SNC e envolto pelo componente periférico do próprio SNP. Esse compartimento não tem endoneuro no componen te central, mas apenas presente no setor periférico. Um exemplo da importância dessa zona de transição: são os neurinomas do VIII par que se localizam com predile- - , çao nessa area. ..,.. Estruturas e circuitos nervosos O funcionamento do SNC depende não somente da transmissão de um impulso nervoso de uma célula para outra, como também da forma com que vários grupos de células neuronais (núcleos) se interconectam por meio de um sistema de vias como tratos e lemniscos. O neu rônio constitui a unidade funcional do SNC, mas so mente o conjunto de interconexões é que determina a realização de diversas funções com graus variáveis de complexidade. Os arcos reflexos são exemplos de formas de inter conexão ao nível do SNC de uma resposta externa (via eferente), frente a um estímulo do ambiente, recebido por uma via aferente. O reflexo patelar (Figura 2.15) é um exemplo de um arco reflexo extremamente simples, - . • Bainha de mielina Bainha de mielina • •• ... • • • • · Axônio • • • • • Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 1 7 - - • • • • • • • • • • • • Nó de Ranvier Citoplasma da célula formadora de mielina Figura 2.12 Estrutura do nó de Ranvier. Axolema . - - • • • • Axônio - . • � • - • • • • • - • • . . .. ... � f .. .. • • • • • • • • • .. lncisura de Schmidt-Lantermann Figura 2.13 Estrutura de uma fibra miel in izada. 1 8 Neuroanatomia Aplicada A B 1 2 3 4 1 2 3 4 • Figura 2.14 Áreas de transição observadas na medula espinal (A) e no tronco cerebral (8), mostrando sua disposição distinta. Os cortes trans versais (1, 2, 3, 4) mostram a transição progressiva, com o elemento central ocupando a parte mais interna e, progressivamente, dando lugar ao componente periférico. denominado monossináptico, por envolver uma única sinapse, entre o neurônio sensorial que traz informações do órgão tendinoso no tendão do quadríceps e a respos ta efetora, motora, produzida pelo estímulo de neurônio motor localizado no corno anterior da medula. A maio ria de outros reflexos é polissináptica, ou seja, envolve mais de uma sinapse. Os próprios arcos reflexos são na verdade mais complexos, pois, ao mesmo tempo que eles ocorrem, outras conexões se estabelecem. Assim, ficamos conscientes da percussão da tensão e do movimento da perna durante o teste, pelas conexões aferentes senso riais que as estruturas supraespinais recebem. Por outro lado, o reflexo pode ser voluntariamente inibido, o que demonstra a influência de vias supraespinais sobre o arco reflexo por meio de conexões internas entre estruturas supraespinais e os neurônios da medula espinal. Existem dois sistemas básicos de organização do pro cessamento de informações dentro do SNC: um sistema de convergência e um sistema de dispersão dos impul sos nervosos (Figura 2.16). No primeiro, determinado Via sensorial 1 ascendente lnterneurônio inibitório Neurônio motor anterior Músculo antagonista Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 1 9 Córtex sensorial Tálamo Córtex motor Trato corticoespinal Músculo agonista Fuso muscular Patela 1 J 1) J Reflexo patelar Figura 2.15 Reflexo patelar. O arco reflexo monossináptico estabelece também conexões aferentes sensoriais talamocorticais (percepção consciente da percussão patelar). Igualmente, o mesmo reflexo pode sofrer influências supraespinais por meio do trato corticoespinal e do sistema motor gama, aqui não representado. 20 Neuroanatomia Aplicada Núcleo A Núcleo B A Pele e t Víscera - > > - ..,, Núcleo A Núcleo B B Córtex Trato .,....- espinotalâmico Figura 2.16 (A) Sistema de divergência. (B) Sistema de convergência de impulsos nervosos. (C) Convergência de vias aferentes sensoriais viscerais e somáticas (pele) pode explicar a dor referida. O cérebro é incapaz de distinguir a fonte real do estímulo doloroso e o identifica erro neamente como de origem periférica (p. ex., a dor referida na angina pectoris). neurônio recebe vários impulsos, ou excitatórios ou ini bitórios, oriundos de outras células neuronais. O balanço final dessas atividades excitatórias ou inibitórias é que determina o estado final desse neurônio, que pode ser sua inibição ou sua excitação. No segundo sistema, de dispersão ou divergência, a ativação de uma célula leva a uma resposta que atinge várias outras células distribuí das anatômica e funcionalmente. Existem várias formas de circuitos inibitórios, tão essenciais quanto os sistemas excitatórios (Figura 2.17). A B Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 21 Na inibição por feedback, um ramo colateral axônico do neurônio pós-sináptico estimula um interneurônio inibitório, que passa a inibir o neurônio pós-sináptico excitado. O neurônio pré-sináptico também pode esti mular o interneurônio inibitório e levar a uma inibição pós-sináptica. A inibição lateral ocorre quando um po tencial excitatório é transmitido a um neurônio pós-si náptico ao mesmo tempo que ramos colaterais axônicos pré-sinápticos estimulam interneurônios inibitórios, que, por sua vez, inibem neurônios pós-sinápticos adjacen- �>--""--......�ec�---==-1 .....-.==-=====-=-1 e Figura 2.17 Circuitos in ibitórios. (A) Inibição por feedback. (8) O interneurônio in ibitório é excitado pela primeira célula, levando à inibição pós-sináptica da segunda célula. (C) In ibição lateral - seu efeito é aumentar o contraste do sinal projetado. A B e 22 Neuroanatomia Aplicada tes. Diversos exemplos desse tipo de circuito ocorrem nas vias sensoriais ascendentes, em que a inibição dos neurônios adjacentes aumenta o contraste do sinal exci tatório projetado, como, por exemplo, o mecanismo de antagonismo centroanular que ocorre na retina. No reflexo patelar, as células de Renshaw, interneu rônios inibitórios da medula espinal, desempenham um papel importante ao inibirem os motoneurônios alfa dos músculos antagonistas da perna, permitindo a contração sem oposição do músculo agonista (Figura 2.15). � Aplicação clínica Quando um neurônio é destruído, outras células em conexão com ele sofrem poucas alterações, exceto nos casos em que um neurônio receba impulsos principal mente dessa outra célula neuronal destruída. Nessa si tuação, o neurônio que deixa de receber impulsos de um outro neurônio destruído sofre um processo chamado degeneração transneuronal. · - Substância de Nissl Mielina Cromatólise Quando uma fibra nervosa ( axônio) é lesada, ocorre uma série de alterações proximais e distais à lesão. O cor po celular do axônio lesado sofre dissolução dos corpús culos de Nissl (cromatólise), há aumento do volume do corpo celular e deslocamento do núcleo para a periferia da célula. Distalmente à lesão, há destruição do axônio e desintegração da bainha de mielina, quando se tratar de fibra mielínica. A esse processo denominamos degene ração walleriana ou degeneração anterógrada (Figura 2.18). O mesmo processo ocorre proximalmente à área de lesão, mas geralmente interrompe-se ao nível do pri meiro nó de Ranvier proximal (degeneração retrógrada). Esse processo ocorre tanto no SNC como no SNP. Contudo, no SNP há preservação de uma matriz de tecido conjuntivo (endoneuro) dentro dos nervos peri féricos, fazendo com que as células de Schwann perma neçam numa forma de canal que orienta o crescimentodo axônio em regeneração. Na fase de regeneração, sur gem vários brotos ou sprouts que emergem da porção proximal do axônio e dirigem -se à bainha neural distal. Nó de Ranvier .D Degeneração walleriana Alterações primárias Degeneração transneuronal (retrógrada) Degeneração transneuronal ( anterógrada) Figura 2.18 (A) A relação pré- e pós-sináptica simplificada. (B) Após axonotomia, há degeneração walleriana distal à lesão. (C) Também pode ocorrer degeneração transneuronal a montante da axonotomia. Somente os brotos que atingem seus alvos tornam-se funcionais, enquanto os demais se degeneram. Em con dições normais, um axônio pode crescer, em média, 3 a 4 mm por dia. No SNC, esse processo não ocorre prin cipalmente devido à presença do tecido glial. Em relação aos neurotransmissores, existem dois gran des grupos químicos a considerar: o primeiro, composto pela acetilcolina e outras aminas ou aminoácidos, como noradrenalina, dopamina, serotonina, histamina, glu tamato, aspartato, ácido gama-aminobutírico (GABA) (Figura 2.19). Dependendo do receptor envolvido, as diversas monoaminas, como epinefrina, norepinefrina, serotonina e histamina, podem ter efeitos excitatórias ou inibitórios. Assim, existem receptores D 1 (ativação) e D2 (inibição) de dopamina, além de outros tipos (D3, D4 e DS), receptores a e � para epinefrina e norepine frina, vários tipos de receptores para serotonina e ace tilcolina (muscarínicos; Ml, M2, M3, M4) e receptores tipo cainato (K), quiscualato (Q) e NMDA para o gluta- CH 3 Acetilcolina 1 CH _ +N-CH - CH 0 - C - CH 3 1 2 2 l i 3 HO CH3 O OH CH3 1 / ...--. .._ CH-CH - N 2 ' HO Epinefrina H Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 23 mato. GABA é o principal neurotransmissor inibitório no SNC, enquanto o glutamato é o protótipo do neuro- . . , . transmissor exc1tator10. O glutamato e seus receptores têm recebido grande atenção devido à sua implicação potencial na patogê nese das lesões neuronais causadas por hipoxia-anoxia ou em algumas doenças neurodegenerativas, como, por exemplo, a esclerose lateral amiotrófica, em que há per da neuronal de neurônios motores corticais (neurônio motor superior) e da medula espinal (neurônio motor inferior). O excesso de atividade excitatória poderia le var ao dano neuronal e à morte celular - esta é a base da teoria da neurotoxicidade excitatória. Com base nessa teoria, foi desenvolvido um fármaco específico para o tratamento da esclerose lateral amiotrófica - o riluzol, um bloqueador glutamatérgico que retarda a evolução da doença. O segundo grupo é formado pelos neuropeptídios (Quadro 2.1), que, de modo geral, se localizam nas termi- HO N Serotonina (5-hidroxitriptamina, 5-HD HO HO Norepinefrina H2C- NH2 COOH 1 1 CH2 -CH2- NH2 CH2 - CH2 - NH2 1 1 o CH2 HC-NH2 H N �N 1 1 HO CH2 CH2 Dopamina Histamina 1 1 CH2 HO COOH 1 COOH Gaba Glutamato Figura 2.19 Neurotransmissores. 24 Neuroanatomia Aplicada • Quadro 2.1 Peptídios neurotransmissores Hormônios liberadores do hipotálamo Hormônio liberador de tireotrofina (TRH) Hormônio liberador de hormônio luteinizante (LHR) Somatostatina Peptídios hipofisários Adrenocorticotrofi na (ACTH) J3-endorfina Hormônio a-melanócito estimulante Vasopressina Oxitocina Peptídios intestino-cérebro Polipeptídio intestinal vasoativo (VIP) Colecistocinina Substância P Neurotensina Encefalina Neuropeptídio 'Y nações em conjunto com os neurotransmissores clássicos do primeiro grupo. Por exemplo, as células gabaérgicas do corpo estriado com receptores tipo Dl contêm a en cefalina, enquanto as células com receptores D2 contêm a substância P. Existem dois grupos de receptores colinérgicos: re ceptores muscarínicos, que podem ser inibidos pela atropina e que ocorrem nos músculos lisos e no sistema nervoso central, e receptores nicotínicos, que ocorrem predominantemente no músculo esquelético (placa mo tora) e, em menor proporção, no SNC, sendo inibidos pelo curare, e não pela atropina. Os neurotransmissores aparecem em diversas partes do SNC com funções e localização variadas. Assim, po dem ocorrer efeitos variados de uma mesma substância que pode inibir ou facilitar um sistema de neurotransmis sor, dependendo do seu local de atuação. Por exemplo, substâncias neurolépticas (p. ex., haloperidol) utilizadas no tratamento de doenças mentais (psicoses) têm efeitos motores pelo seu efeito antidopaminérgico (parkinso nismo secundário), ao passo que o uso de agonistas do paminérgicos (p. ex., bromocriptina) em pacientes com doença de Parkinson pode desencadear um quadro psi- , . cot1co. Algumas doenças neurodegenerativas caracterizam - se pelo envolvimento relativamente seletivo de um gru po de neurônios. Na demência de Alzheimer, há a per da neuronal predominante de células colinérgicas, em especial do núcleo basal de Meynert, ao passo que, na doença de Parkinson, a perda neuronal de células do paminérgicas da pars compacta da substantia nigra é o padrão básico neuropatológico. Nessas duas doenças, são ainda observadas outras alterações neuropatológicas, que, apesar de não patognomônicas, são características: as placas neuríticas e os emaranhados neurofibrilares, na doença de Alzheimer, e os corpos de Lewy, na doen ça de Parkinson. Doenças adquiridas da bainha de mielina no sis tema nervoso central ou periférico são denominadas desmielinizantes. A esclerose múltipla é um exemplo de doença desmielinizante de caráter inflamatório que envolve predominantemente o sistema nervoso cen tral. Por outro lado, a síndrome de Guillain-Barré e a polirradiculoneurite inflamatória crônica são exem - plos de doença desmielinizante inflamatória aguda e crônica, respectivamente, do sistema nervoso perifé- • rico. Existem doenças da bainha de mielina de caráter ge nético. A mais comum é a doença de Charcot-Marie Tooth ou neuropatia hereditária sensório-motora tipo I (hipertrófica) e tipo II (neuronal). A doença de Dejerine-Sottas e a predisposição familiai às parali sias por compressão nervosa são exemplos de outras doenças hereditárias que envolvem a mielinização dos nervos periféricos. Algumas doenças metabólicas levam a alterações pre dominantes da substância branca (mielina) do sistema nervoso e são denominadas leucoencefalopatias. Um exemplo de leucoencefalopatia metabólica de caráter hereditário é a leucodistrofia metacromática, por de ficiência de arilsulfatase. Já a leucoencefalopatia pro gressiva multifocal é um exemplo de doença adqui rida de substância branca. Ela ocorre em indivíduos imunodeprimidos e é causada pela reativação de um papovavírus, o vírus JC, que infecta predominante mente os oligodendrócitos. Finalmente, a mielinólise pontina central é um exemplo de doença desmielini zante focal adquirida, que atinge preferencialmente as fibras nervosas do tronco cerebral e que é causada por distúrbios hidreletrolíticos (p. ex., correção rápida de hipernatremia). Respostas autoimunes anormais podem atingir po pulações seletivas de células nervosas. Na coreia de Sydenham, observa-se a presença de anticorpos anti neuronais contra neurônios colinérgicos do estriado. Síndromes paraneoplásicas são outro exemplo dessa situação, em que anticorpos anticélula de Purkinje e anticorpos anticélulas sensoriais do gânglio dorsal le vam, respectivamente, a um quadro de ataxia cerebe lar e neuronopatia sensitiva. Essas síndromes paraneo plásicas geralmente estão associadas a neoplasias de pulmão e ovário. Todos os elementos celulares anteriormente descri tos podem sofrer transformação neoplásica e levam à formação de neoplasias primárias do sistema nervoso (Quadro 2.2). Com o desenvolvimento de exames de neu roimagem (tomografia computadorizada e ressonância magnética), o seu diagnóstico tornou-se bem mais fácil (Figura 2.20). Capítulo 2 1 O Neurônio e o Tecido Nervoso 25 • Quadro 2.2 Neoplasias primárias do sistema nervosoTipo de célula --- � Neoplasia ---- · Neurônio 1 : Neurocitoma · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - · 1 Astrócito : Astrocitoma : Glioblastoma · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - · Oligodendrócito 1 : Oligodendroglioma · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - · Micróglia 1 : Reticulossarcoma · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - · Células ependimárias Ventrículos e canal medular 1 : Ependimoma 1 · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - · Plexo coroide 1 : Carcinoma de plexo coroide · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - · 1 Célula de Schwann Schwannoma Figura 2.20 Imagem de ressonância magnética de crânio no plano horizontal mostrando um tumor (setas) do tecido nervoso. O aspecto heterogêneo e a presença de edema são compatíveis com lesão maligna. O exame anatomopatológico confirmou essa impressão com diag nóstico de glioblastoma. ...,. Bibliografia complementar Ackerman MJ, Clapham DE. Ion channels: basic science and clinica! disease. N Engl J Med 1997, 336:1575-1586. Adams JH, Duchen LW. Greenfield's Neuropathology. Oxford, 5th ed, 1992. Albert ML, Knoeffel JE. Clinicai Neurology of Aging. Oxford, 2nd ed, 1994. Beal M. Aging, energy and oxidative stress in neurodegenera tive diseases. Ann Neurol 1995, 38:357-366. Coelho MN, Ramina R, Meneses MS, Arruda WO, Milano JB. Peritoneal dissemination from central neurocytoma. Arq Bras Neuropsiquiatr 2003, 61(4): 1030-1034. Dickson DW. Neurodegenerative diseases with cytoskeletal pathology: a biochemical classification. Ann Neurol 1997, 42:541-544. 26 Neuroanatomia Aplicada During M, Spencer D. Extracellular hippocampal glutama te and spontaneous seizure in the conscious human brain. 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Nesse momento, o estágio inicial de gastrulação está comple to e o embrião passa a apresentar 3 folhetos: ectoder ma, mesoderma e endoderma. A notocorda é um cordão com eixo craniocaudal, situado na região posterior do embrião, responsável pelo desenvolvimento da coluna vertebral. No adulto, os discos intervertebrais e outras estruturas, como a sincondrose esfeno-occipital do clivo, são resquícios da noto corda. No embrião, a notocorda tem função indutora na formação de um espessamento do ectoderma, chamado placa neural (Figura 3.1). Essa placa neural, situada posteriormente à notocorda, vai apresentar progressivamente uma invaginação que for mará um sulco e, então, a goteira neural (Figura 3.2). Esse processo, chamado neurulação, leva ao fechamento posterior da goteira, criando o tubo neural (Figura 3.3), responsável pela origem do sistema nervoso central, que, após sua formação definitiva, será protegido pelas cavi dades ósseas do canal vetebral e do neurocrânio. O ec- Placa neural toderma se fecha posteriormente, separando-se do tubo neural por mesoderma, que dará origem aos músculos e aos ossos. O início do fechamento do tubo neural ocorre ao nível da futura medula espinal cervical e progride nos sentidos cranial e caudal. Os polos superior e inferior são chamados neuróporos anterior e posterior. Células neuroectodérmicas primitivas do tubo neural vão proliferar e diferenciar-se nos neurônios, astrócitos, oligodendrócitos e células ependimárias. Seguindo o có digo genético, essas células vão se dirigir aos seus locais predeterminados e formar suas conexões. A parede do tubo neural (Figura 3.4) é dividida, no plano transver sal, pelo sulco limitante, que separa as lâminas alares, dorsal ou posteriormente, das lâminas basais, anterior ou ventralmente. Entre as lâminas alares, encontra-se a lâmina do teto, que é mais fina. Da mesma forma, entre as lâminas basais encontra-se a lâmina do assoalho. Os neurônios situados nas lâminas alares dão origem a estruturas sensitivas que formam vias aferentes. Ao ní vel das lâminas basais, os neurônios formam estruturas motoras e vias eferentes. As regiões próximas ao sulco limitante, tanto na lâmina alar como na lâmina basal, contêm neurônios relacionados com funções vegetativas, --._, . ���- Ectoderma Figura 3.1 Placa neural. 27 28 Neuroanatomia Aplicada • • o 1 Crista neural Goteira neural Figura 3.2 Goteira neural. TN E 1 -._ Figura 3.3 Micrografia de corte transversa l de embrião mostrando na fase somítica a notocorda (N) e o tubo neural (TN) formado, relacionando se externamente com o ectoderma (E) e o mesoderma paraxial (M1 ), intermediário (M2), somático (M3) e esplâncnico (M4). (Imagem cedida gentilmente pelo Professor Leonel Schutzenberger, da Universidade Federal do Paraná.) Capítulo 3 1 Conceitos Básicos de Embriologia do Sistema Nervoso 29 Dorsal - - · Ectoderma Crista neural Sulco limitante Lâmina alar Ventral Lâmina basal Figura 3.4 Tubo neural (corte transversal). isto é, que controlam o meio interno do organismo, sen do responsáveis pela homeostase. Os neurônios situados a distância do sulco limitante originam estruturas res ponsáveis pela vida de relação, ou somática, que mantém o indivíduo em relação com o meio ambiente. Do ponto de vista filogenético, os neurônios localiza dos próximo à cavidade central do tubo neural relacio nam-se, em geral, com funções mais antigas, apresentan do conexões difusas ou multissinápticas. Os neurônios localizados a distância da cavidade central são, em geral, filogeneticamente recentes e apresentam conexões mais diretas. Esses conhecimentos têm grande importância, pois essa disposição é encontrada em diferentes partes do sistema nervoso de um adulto. Ao nível da união posterior da goteira para formar o tubo neural, uma formação existente em cada lado, cha mada crista neural, vai dar origem ao sistema nervoso periférico. ...,. Crista neural As duas projeções originadas posteriormente ao tubo neural, uma de cada lado, vão se fragmentar e formar estruturas do sistema nervoso periférico. Os gânglios sensoriais dos nervos espinais e dos nervos cranianos têm origem na crista neural. Os neurônios dos gânglios dos nervos espinais são chamados pseudounipolares e fazem a união entre o nervo periférico e a medula espi nal. Os axônios distais dirigem-se a diferentes partes do organismo para receber informações sensitivas que serão transmitidas pelos axônios proximais às estruturas deri vadas das lâminas alares. Os gânglios viscerais do siste ma nervoso autônomo derivam das cristas neurais. Eles contêm neurônios multipolares e células de sustentação chamadas anfícitos. Esses neurônios, denominados pós ganglionares, fazem a conexão entre o sistema nervoso central e as vísceras.
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