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ANGELO MACHADO LUCIA MACHADO HAERTEL %4- **# ÂtÂtkeneer biv# &' NEURONATOMH Neuroanatomia Funcional ANGELO B. M. MACHADO Ex-Professor de Neuroanatomia do Departamento de Morfologia do lnstÍtuto de ciências Biológicas da universidade Federar de Minas Gerais (uFMG) LUCIA MACHADO HAERTEL Neurologista Infantil prefácio GI LBERTO BELISARIO CAMPOS Ex-Professor do Departamento de Neurorogia e psiquiatria da Faculdade de Medicina da universídade Federar de Minas Gerais (uFMG) 611"8 lMí49n 3.ed. iltIililililIIilililIilt <5s473> 03616320 AAth*r*u Desde a última edição deste livro houve um enorme avanco nos conhecimentos sobre o sistetrra ner\.oso central, Íiuto do aparecirlento ou aperfleiçoamento cle técnicas para pesquisa e dlagnóstico. destacancio-se entre elas a neuroimagem Íuncional. Selecionar á que der eria constar nesta nova edicão nào Íbi Íácil. Como principal critério Ier ou-se eur conta a l6lportâr- cia lirnciorral e clínica clas infbrmações. Estas Íbrarn obtidas por meio de consultas a artigos ori-qinais e aos mais recelltes livros cle neurociências que são relacionados ao flnal desta edi- ção' Este livro destina-se aos estudantes cle gradr-raçàoem meclicina, mas contém tambe,r os conteúdos necessários para os cursos cle psicologia. Íisioterapia, terapia ocupacional e fonoau-diologia' Sua recouhecida clidática se deve ao Iàto de ter sido elaborado a partir das aulas docurso de tletlroanatot]lia ministradas por urr dcls alltores (ABMM). Segue. pois. a orientação dada nesse cLlrso no qual os alunos inicialmente tinham Lnra semana de práticas intensi'as c1e anatomia tnacroscópica enl peças anatôrricas de medula e enceÍalo estr:daclas utilizanclo- -se como roteiro os capítLrlos'1 a 9 do livro. Conhecicla a anatorlia rnaeroscópica clo sistema nervoso central' os alunos estào aptos a estuclar e entencler a estrlltlrra. Íunçôes e correlacÕes anatornoclínicas das r'árias partes clesse sistema. Isso é Íêito em atLlas teóricas cprL. tê, o iirrtrcollo apoio didático' Na nlaioria dos capítulos. especiahnente na parte lnacroscgpica. plirr ocorreram mltitas tludanças nesta ecliçâo. Entretanto. mudanças signiÍicatirss Íbrà1r tbitas nos Capítu1os20,24,26"27 e 18. etn Ílncão de no'os conhecirnentos obtidos em suas áreas.A neuroatlatomia e parte integrante clo conjLrnto cle disciplinas que compÕem a neurociência. uma das áreas do conhecinlento científico de maior plestígio hoje no mundo. Dentro dasneurociências ela e uma disciplina básica e pre-requisito pàra qualcluer estudo que se fizerno sistema ner\oso central' A leittn'a deste lirro coLocará o aluno na posiçào de entender aspesqltisas nrais avallçadas da neurociência. alénT cle possibilitar o conhecimento da localizacào das lesões do sistema ner\'oso ccntral. A atualização deste livro f-oi trabalhosa, mas muito agra- dár'el porque Í-oi Í-eita por dois autores, Lln-r com experiência didática, o outr.o com experiência c lín ica em neurolo-eia. Os autores agradecem a Dra. l-eonor B. Guerra. prolêssora de Ne,roaratorria cltrDepartamento de Morlologia do Institltto de crências Biolã-eicas da unirersiclacle Fu.cleral tle Minas Gerais (UFMG) por críticas e sugestôes feitas durante a rer.isão clesie Iir.ro. Nossos agradecimentos ao saucloso desenhista Fernanclo val Moro e à bióloga N.fr.rian Morato Duarte pelas ilLrstrações deste livro. Aucgro B. M. Macnaoo Lucm Macsaoo FIaeRlsL t. Apresentação dos autores ai#1#,.& Wffi A terceira edição de Neuroanatomia Funcional de autoria do Professor Angelo Machado e da doutora Lúcia Machado Haertel apresenta modificações importantes em seu conteúdo e mantém, ao mesmo tempo, a forma objetiva e didática das edições anteriores, escritas por Angelo Machado e fruto da sua longa experiência no ensino de Neuroanatomia para alunos do curso médico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A coautora, Lúcia Machado Haertel, neurologista infantll, fllha de Angelo Machado, trouxe maior ênfase aos aspectos anatomoclínicos relacionados aos vários capítulos da neu- roanatomia, tornando o assunto em estudo mais atraente e interessante, correlacionado com exemplos do mundo real que muito ajudarão o estudante a fixar amatéria. Esta edição foi enriquecida, ainda, com novas ilustrações, esquemas, tabelas e neuroi- magens. Novos conhecimentos surgidos na última década são abordados e apresentados de maneira essencialmente clara e de leitura agradável, apesar de a matéria ser tida como difícil e árida. O livro apresenta 32 capítulos didaticamente elaborados, e no último deles encontra-se um Atlas de secções do cérebro que permite a visualizaçáo rápida das estruturas e suas relações topográflcas com estruturas vizinhas. Foram acrescidas imagens de tractotomia, demonstran- do flbras de conexões obtidas com o auxílio da Ressonância Magnética (RM). As estruturas, cujos conhecimentos funcionais foram modificados em tazão de recentes conhecimentos incluem: órgão subfornicial (não citado na segunda edição), habênulas, ínsula, giro d.o cíngulo, amigdala, núcleo reticular do tálamo, glândula pineal, sistema dopaminérgico mesolímbico e barreiras.encefálicas. No estudo do córtex cerebral, sua estrutura foi simpliflc ada paradar lugar a novas infor- mações obtidas pela Ressonância Magnética Funcional. As áreas de associações visuais, hoje são pelo menos quatro e não apenas uma. No estudo das áreas corticais motoras, introduziu-se o conceito de neurônios-espelho. A ínsula, nesta edição, recebeu destaque devido aos conhe- cimentos recentes, sendo dividida em duas paftes: a anterior, pertencente ao sistema límbico, e a posterior, uma área gustativa. O giro do cíngulo foi dividido em duas partes: a anterior, pertencente ao sistema límbico e às emoções, e a posterior, relacionada com a memória. Ao discutir o hipocampo, introduziu-se o conceito de neurônio de lugar. As tecnologias desenvolvidas para exploração das estruturas e das funções cerebrais, nota- damente aquelas não invasivas, têm demonstrado constante evolução na obtenção da qualidade das imagens e, entre esses avanços, destaca-se a Ressonância Magnética. O desenvolvimento de protocolos mais sofisticados e aparelhos de Ressonância Magnética de elevado campo magnético (até sete teslas) tem propiciado progressivos conhecimentos. Entre esses protoco- los destaca-se a Ressonância Magnética associada à Espectroscopia, o que permite dãtectar e quantificar os elementos químicos de determinada região do encéfalo in vivo. ARM tem sido o exame que mais tem fornecido informações do SistemaNervoso Central (SNC) em estados normal e patológico. A cada dia, novas aplicações e novos protocolos são desenvolvidos para esclarecimentos de estágios de maturação, doenças degenerativas, 1esões expansivas e inflamatórias, doenças desmielinizantes e rupturas da barreira hematoencefálica. Tomografia Cerebral, que precedeu a Ressonância Magnética, continua contribuindo para o coúecimento do SNC, pois, de custo mais baixo erapidez no exame, além de modernos aparelhos, podem produzir imageng cada vez mais detalhadas e nítidas, com reconstruções tridimensionais que auxiliam o diagnóstico e os planejamentos terapêu$o,s. Neuroanatomia Funcional Íem leitura agradâvel e extremamente didática e aítalizada, com a inclusão de novos conceitos sobre o funcionamento do SNC, e certamente contribuirá paÍa o ensino e o conhecimento da neuroanatomia e será de grande utilidade para o estudo das neurociências de maneira geral. Esta edição foi elaborada por dois autores que aliaram o conhecimento da neuroanatomia com a experiência pré,irica de várias décadas, agora ampliflcados com correlações anatomoclí- nicas, orientadas por uma neurologista clínica, vivenciando, pois, a manifestação clínica de seus pacientes. Certamente, novos conhecimentos sobre a complexa função do cérebro serão desenvol- vidos com o auxílio de novas tecnologias, e estudantes terão acesso a esses conhecimentos através das redes científicas da internet e da consulta a revistas especializadas, cujo acesso é cada vez mais fácil. Issopermitirá atuahzaçáo constante dos temas tratados nesta nova edição da Neuroanatomia Funcional de Angelo Machado eLícia Machado Haertel. No intervalo entre a segunda e a terceira edição desta obra, Angelo Machado, além de suas muitas atividades de cientista, incursionou também na literatura infanto-juvenil, com 37 livros publicados, granjeando vários prêmios. Dada sua versatilidade, ainda escreveu peças teatrais, algumas de grande sucesso, além de continuar atuando nas áreas de zoologia e ecologia. Con- tinua sendo o mesmo Angelo Machado dos tempos da escola de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dos "shows Medicina", completando mais de meio século de sua formatura, sempre inteligente, simples, didático, super bem-humorado, e um exemplo paÍa a nova geração de cientistas. Suas palestras e sua criatividade, têm sido uma constante, mesmo nas horas de reveses pessoais. Na realidade, é uma honra ter sido convidado pelos autores para escrever este Prefácio de Neuroanatomia Funcional, q.ue, com certeza, terá a mesma receptividade e o sucesso das edições anteriores. GLr.sr.n lo BsrrsÁnio Centpos x NEUROANATOMIA FUNCIONAL Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 CapítuÍo 4 Capítulo 5 Capítulo ó Capítulo 7 Capítulo I Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 1ó Alguns Aspectos da Filogênese do Sistema Nervoso.... ...........1 Embriologia, Divisões e organização Gelal do sistema Nervoso .............-7 Tecido Nervoso..... ,....,...19 Anatomia Macroscópica da Medula Espinhal e seus Envoltórios .............37 Anatomia Macroscópica do Tronco Encefálico e do Cerebe1o............ .....45 1 Anatomia Macroscópica do Diencéfalo .................53 Anatomia Macroscópica do Telencéfalo ._..............51 Meninges - Liquor .:................ .............71 Vascularização do sistema Nervoso centrar e Barreiras Encefálicas .........g3 Nervos em Geral - Terminações Nervosas - Nervos Espinhais .................g5 Nervos Cranianos ............ 1 13 Sistema Nervoso Autônomo: Aspectos Gerais .....123 sistema Nervoso Autônomo: Anatom,ia do simpático, parassimpático e dos Estrutura da Medula Espinhal.... ........143 Estrutura do Bulbo... ........155 Estrutura da Ponte... ........1ó3 Capítulo 17 Estrutura do Mesencéfa1o.......... 169 Sumário L _, I Capítulo 't I Núcleos dos Nervos Cranianos - Alguns Reflexos lntegrados no Tronco Encefálico. ......17 5 Capítulo 19 Considerações Anatomoclínicas sobre a Medula e o Tronco Encefálico .................' 1 85 Capítulo 20 Formação Reticular. Sistemas Modulatórios de Projeção Difusa '......'...'195 Capítulo 21 Estrutura e Funções do Cerebelo....'......... """""205 Capítulo 22 Estrutura e Funções do Hipotá1amo.....'.... ......."'217 Capítulo 23 Estrutura e Funções do Tálamo, Subtálamo e Epitá1amo............ ...........227 Capítulo 24 Estrutura e Funções dos Núcleos da Base .........'235 Capítulo 25 Estrutura da Substância Branca e do Córtex Cerebral .......,.241 Capítulo 2ó Anatomia Funcional do Córtex Cerebral .........."'249 Capítulo 27 Areas Encefálicas Relacionadas com as Emoções. Sistema Límbico.........................261 Capítulo 28 Areas Encefálicas Relacionadas com a Memória .................',269 Capítulo 29 Grandes Vias Aferentes ............ .........275 Capítulo 30 Grandes Vias Eferentes............ ..........297 Capítulo 31 Neuroimagem............ ......307 Capítulo 32 Atlas de Secções de Cérebro ............313 Relação dos Livros Utilizados ...........'.......325 Índice Remissivo ...327 xii NEUROANATOMIA FUNCIONAL L :-:= ?@: vr:T#: ffiw FÉ Alguns Aspectos da Filogênese do Sistema Nervoso 1.0 FILoGÊrursr Do SISTEMA NERVoSo - ORIGEM DE ALGUNS REFLEXOS Os seres vivos, mesmo os mâis primitivos, devem continuamente se ajustar ao meio ambiente para sobre- viver. Para isso, três propriedades do protoplasma são especialmente importantes: iruitabilidode, condutibili- dode e contratilidctde. Airritabilidade, ou propriedade de ser sensível a um estímulo, permite a uma célula de- tectar as modificações do meio ambiente. Sabemos que uma célula é sensível a um estímulo quando ela reage a ele, por exemplo, dando origem a um impulso que é conduzido através do protoplasma (condutibilidade), determinando uma resposta em outra parte da célula. Esta resposta pode se manifestar por um encurtamento da célula (contratilidade), visando fugir de um estímulo nocivo. Um organismo unicelular, como a ameba, apre- senta todas as propriedades do protoplasma, inclusive as três propriedades acima mencionadas. Assim, quan- do tocamos uma ameba com a agulha de um microma- nipulador, vemos que lentamente ela se afasta do ponto onde foi tocada. Ela é sensível e conduz informações sobre o estímulo a outras partes da célula, determinando retração de um lado e emissão de pseudópodes do ou_ tro. Tendo todas as propriedades do protoplasma, uma célula como a ameba não se especializou em nenhuma delas e suas reações são muito rudimentares. Em se- res um pouco mais complicados como as esponjas (filo Porifera), vamos enco\ar células em que uma parte do citoplasma se especializouparaa contração e outra, situada na superficie, desenvolveu as propriedades da initabilidade e da condutibilidade (Figura 1.1). Estas células musculares primitivas são encontradas no epité- lio que reveste os orificios que permitem a penetração da águ;a no interior das esponjas. Substâncias irritantes colocadas na ág:ua são detectadas por estas células, que se contraem, fechando os orificios. Com o aparecimento de metazoários mais compli- cados, as células musculares passaram a ocupar posi- ção mais interna, perdendo o contato direto com o meio externo. Surgiram, então, na superficie, células que se diferenciam para receber os estímulos do meio ambien- te, transmitindo-os às células musculares subjacentes. Estas células especializadas em initabilidade (ou exci- tabilidade) e condutibilidade foram os primeiros neu- rônios, que provavelmente surgiram nos celenterados. Assim, no tentáculo de uma anêmona do mar (Figura 1.2), existem células nervosas unipolares, ou seja, com um só prolongamento denominado axônio, o qual faz contato com células musculares situadas mais interna- mente. Na extremidade destas células nervosas loca- Célulo musculor primitivo FIGURA l.l Célulo musculor primitivo de umo esponio 1 1 * FIGURA I.2 Esquemo de um dispositivo neuromusculor no tenióculo de um celenterrodo. lizadas na superÍicie, desen,r,olveu-se uma Íbrmação especial denominada receptctr'. O receptor transÍbrma vários tipos de estímulos Íísicos ou químicos em itn- pr"rlsos nervosos. qlle podem. então, ser transmiticlos ao efettrotlor. músculo ou glândula. No decorrer da evolução, apareceram receptores mnito complexos para os estímulos mais variados. O dispositivo neuromuscular do tentácuio da anêmo- na do mar permite respostas apenas locais, no caso. relacionadas com deslocamento de partícuias de ali- mento em direçào à boca do animal. Em outras partes do corpo dos celenterados, existe uma rede de fibras nervosas, fbrrnadas sobretudo por ramificações dos neurônios da superÍicie, permitindo dillsão dos im- pulsos nervosos em várias direçôes. E,ste tipo de sis- terra nervoso dituso Íbi substituido nos plateimintos e anelídeos por uut sistema uervoso mais avançado, no qual os elementos nervosos tendem a se agrupal erx ur.t.t sislenia nervoso cenÍral (centralização do sistema nen'oso). Nos anelídeos, como a minhoca, o sistcma ner\ oso e segnrentado, sendo formado por um par de _uânglios cerebroides e ulna serie de gânglios unidos por Llma corda ventral. correspondendo aos segmentos do animal. O estudo do arranjo dos neurônios em um destes segmentos mostra dispositivos nervosos bem mais complexos do que os já esturdados nos celentera- dos. No epitelio da superfície do animal, há neurônios que. por meio de seu axônio, estão ligados a outros neurônios cr"rjos corpos encontram-se em urn gânglio do sistema nervoso central. Estes. porsLla vez, pos- slrem um axônio que faz conexão com os músculos (Figura 1.3). Os neurônios sitr"rados na superÍicie são especializados em recebeqos estímulos e conduzir os impulsos ao sistema nervoso central. Por isto são de- nonrinados nettrônio,s sensiÍivcts ou neurônicts aferen- Íes. Os neurônios situados no gânglio e especializados na condução do in,pulso do sistema nervoso central 2 NEUROANATOMIAFUNCIONAL Axônio do neurônio eferente\ \ \ Axônio do neurônio oferente FIGURA 1.3 Esquemo de um orco reflexo simples em um segmento de onelídeo. até o efetuador, no caso, o músculo, denominam-se neurônios moÍores ol eferentes. Osttermos aferente e eferente, que aparecem pela primeira vez, serão largamente usados e devem, pois, ser conceituados. São aferentes os neurônios, fibras ou feixes de flbras que trazem impulsos a uma determina- da írea do sistema nervoso, e eferentes os que levam impulsos desta área. Portanto, aferente se refere ao que entra, e eferente ao que sai de uma determinada área do sistema nervoso. Assim, neurônios, cujos corpos estão no cérebro e terminam no cerebelo, são eferentes do cérebro e aferentes ao cerebelo. Deve-se, pois, sempre especiflcar o órgão ot a íLÍea do sistema nervoso em relação à qual os termos são empregados. Quando isto não é feito, entende-se que os termos foram emprega- dos em relação ao sistema nervoso central, como nos dois neurônios da minhoca acima descritos. A conexão do neurônio sensitivo com o neurônio motor, no exemplo acima, se faz atraves de uma sinap- se localizada no gânglio. Temos, assim, em um seg- mento de minhoca, os elementos básicos de um qrco reflexo simples, ou seja, um neurônio aferente com seu receptor, um centÍo, no caso o gânglio, onde ocorre a sinapse, e um neurônio eferente que se liga ao efetua- dor, no caso os músculos. Ta1 dispositivo permite à mi- nhoca contrair a musculatura do segmento por estímulo no próprio segmento, o que pode ser útil para evitar determinados estímulos nocivos. Este arco refiexo é intrassegmentari visto que a conexão entre o neurônio aferente e o eferente envolve apenas um segmento. Devemos considerar, entretanto, que a minhoca é um animal segmentado e que, às vezes, paÍa que ela possa evitar um estímulo nocivo aplicado em um segmento, pode ser necessário que a resposta se faça em outros seg- mentos. Existe, pois, no sistema neryoso deste animal, um terceiro tipo de neurônio, denominado netrõnio de Estímulo associaÇão (ou, internuncial), qlue faz a associação de um segmento com outro, conforme indicado na Figura 1.4. Assim, o estímulo aplicado em um segmento dá origem a um impulso, que é conduzido pelo neurônio sensitivo ao centro (gânglio). O axônio deste neurônio faz sinapse com o neurônio de associação, também lo- calizado no gânglio cujo axônio, passando pela corda ventral do animal, estabelece sinapse com o neurônio motor do segmento vizinho. Deste modo, o estímulo se inicia em um segmento e a resposta se faz em outro. Temos um arco reflexo intersegmentar; pois envolve mais de um segmento e é um pouco mais complicado que o anterior, uma yez quLe envolve duas sinapses e três neurônios, sensitivo, motor e de associação. A cor- Neurônio de ossocioçõo da ventral de um anelídeo é percorrida por grande nú- mero de axônios de neurônios de associação que ligam segmentos do animal, poÍ vezes distantes. 2.0 ALGUNS REFLEXOS DA MEDULA ESPIN HAL DOS VERTEBRADOS O conhecimento das conexões dos neurônios no sistema nervoso da minhoca nos permite entender algumas das conexões da medula espinhal dos ver- tebrados, inclusive do homem. Também aí vamos en- contrar arcos reflexos simples, semelhantes aos que vimos na minhoca. Temos um exemplo no reflexo patelar (Figura 1.5), frequentemente testado pelos neurologistas. Quando o neurologista bate com seu martelo no joelho de um paciente, a perna se proje- ta para frente. O martelo produz estiramento do ten- dão que acaba por estimular receptores no músculo quadríceps, dando origem a impulsos nervosos que sêguem pelo neurônio sensitivo. O prolongamento central destes neurônios penetra na medula e termi- na fazendo sinapse com neurônios motores aí situa- dos. O impulso sai pelo axônio do neurônio motor e volta ao membro inferior, onde estimula as flbras do músculo quadríceps, fazendo com que a perna se pÍo- jete para frente. Na medula espinhal dos vertebrados existe uma segmentação, embora não tão nítida como na corda ventral dos anelídeos. Esta segmentação é evidenciada pela conexão dos vários pares de neryos espinhais. Existem reflexos na medula dos vertebra- dos nos quais a parte aferente do arco reflexo se liga à Receptor (fuso neuromusculor) / / Músculo \/\/ Neurônio oferentes l Estímulo nocivo FIGURA.I .4 Esquemo de porte de um onimol segmentodo, mostrondo um orco reflexo intersegmentor. Coluno onterior do medulo I Coluno posterior do medulo I Gônglio sensiiivo Corpo do neurônio eferente ,/ Nervo espinhol / Corpo do neurônio oferente / / Músculo Term inoçôo nêrvoso motoro FIGURA I.5 Esquemo de um orco reflexo simples no homem: reflexo potelor. r CAP|TULO I ALGUNS ASPECTOS DA FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO 3 -f - ---. ()j,) I ..'' parte eferente no mesmo segmento ou em segmentos adjacentes.t Estes reflexos são considerados intras- segmentares, sendo um exemplo o reflexo patelar. Entretanto, grande número de reflexos medulares são intersegmentares, ou seja, o impulso aferente chega à medula em um segmento e a resposta eferente se origina em segmentos às vezes muito distantes, loca- lizados acima ou abaixo. Na composição destes arcos reflexos há neurônios de associação que, na minhoca, associam níveis diferentes dentro do sistema nerYoso. IJm exemplo clássico de reflexo intersegmentar é o chamado "reflexo de coçar" do cão. Em um cão pre- viamente submetido a uma secção da medula cervical para se eliminar a interferência do encéfalo, estimula- -se a pele da parte dorsal do tórax puxando-se ligei- ramente um pelo. Obserua-se que a pata posterior do mesmo lado inicia uma série de movimentos rítmicos semelhantes aos que o animal executa quando coça, por exemplô, o local onde é picado por uma pulga. Sabe-se que este arco reflexo envolve os seguintes elementos: a) neurônios sensitivos ligando a pele ao segmento correspondente da parle torácica da medula espinhal; b) neurônios de associação com um longo axônio descendente ligando esta parte da medula espi- nhal aos segmentos que dão origem aos nervos para a pata posterior; c) neurônios moteres para os músculos da pata posterior. 3.0 EVOLUÇÃO DOS TRÊS NEURÔNIOS FUNDAMENTAIS DO SISTEMA NERVOSO Vimos como apareceram durante a filogênese os três neurônios fundamentais já presentes nos anelídeos, ou seja, o neurônio aferente (ou sensitivo), o neurônio eferente (ou motor) e o neurônio de associação. Todos os neurônios existentes no sistema nervoso do homem, embora recebendo nomes diferentes e variados em di- ferentes setores do sistema nervoso central, podem, em última análise, ser classificados em um destes três tipos fu ndamentais. Vej amo s al gumas modifi caçõe s sofridas por estes três neurônios durante a evolução. 3.1 NEURÔNIO AFERENTE (ou SENSIIVO) Surgiu na filogênese com a função de levar ao sis- tema nervoso central informações sobre as modifica- Na realidade e possír'el que arcos relleros rigorosamettte intrassegmentares não existam nos ntantíleros. Assitl. r eri- flcou-se no gato que a menor porçào de medula espinhai que se pode isolar. mantendo-se sua atil idade reflera, cortténi dois ou três segmentos. NEUROANATOMIA FUNCIONAL ções ocorridas no meio externo, estando inicialmente em relação com a superficie do animal. O aparecimento de metazoários mais complexos, com várias camadas celulares, trouxe como consequência a formação de um meio interno. Em virlude disso, alguns neurônios aferentes passaram a levar ao sistema nervoso informa- ções sobre as modificações deste meio interno. Muito interessantes foram as mudanças na posi- ção do corpo do neurônio sensitivo ocorridas durantea evolução (Figura 1.6). Em alguns anelídeos, este corpo está localizado no epitélio de revestimento, por- tanto, em contato com o meio externo, e o neurônio sensitivo é unipolar. Nos moluscos, existem neurônios sensitivos cujos corpos estão situados no interior do animal, mantendo um prolongamento na superfície. O neurônio sensitivo é bipolar. Já nos vertebrados, a quase totalidade dos neurônios aferentes tem seus corpos em gânglios sensitivos situados junto ao sis- tema nervoso central, sem, entretanto, penetrar nele. I Tivemos, assim, durante a fllogênese, uma tendência de centralização do corpo do neurônio sensitivo. Esta tendência provavelmente resultou da seleção natural, já que a posição do corpo de um neurônio na super- fície não é vantajosa. Ele fica mais sujeito a lesões e, ao contrário dos axônios, que podem se regenerar, as lesões do corpo de um neurônio são irreversíveis. Em relação com a extremidade periférica dos neurônios sensitivos, surgiram estruturas às vezes muito elabo- radas, os receptores, capazes de transformar os vários tipos de estímulos físicos ou químicos em impulsos nervosos, os quais são conduzidos ao sistema nervoso central pelo neurônio sensitivo. FIGURA I.ó Esquemo mostrondo os modificoçôes no posi- çõo do corpo do neurônio sensitivo duronte o evoluçõo: (A) corpo no superfície; (B) corpo entre o superfície e o sistemo nervoso centrol; (C) corpo próximo oo sistemo nervoso cen- trol. 4 o C o0 o o oc E o v) L r.à í 3.2 NEURônro EFERENTE (ou MoroR) A função do neurônio eÍ-erente ou motor é con- duzir o impulso nervoso ao órgão efetuador que. nos mamíÍ-eros. é um músculo ou uma glândula. O impul- so eÍêrente determina, assim, uma contraçào ou uma secreção. O corpo do neurônio efêrente surgiu dentro do sistema nervoso central e a maioria deles permane- ceu nesta posição durante toda a evolução. Contudo, os neurônios eferentes que inervam os ntúsculos lisos, músculos cardíacos ou glândulas têm seus corpos fora do sistema nervoso central, em estruturas que são os gânglios viscerais. Estes neurônios pertencem ao siste- ma nervoso autônomo e serão estudadoS com o noÍle de neurônios pós-ganglionares. Já os neurônios eferen- tes. que inervam ntúsculos estriados esqueléticos, têm seu corpo sempre dentro do sistema nervoso central e são, por exernplo, os neurônios motores situados na parte anterior da medula espinhai. 3.3 NEURÔNrOS DE ASSOCIAÇÃO O aparecimento dos neurônios de associação trouxe considerável aumento do nÍrmero de sinapses, aumentando a complexidade do sistema nervoso e permitindo a realização de padrões de comportamen- to cada r ez mais elaborados. O corpo do neurônio cie associação permaneceu sempre dentro do sistema ner\ oso central e seu número aumentou muito du- rante a evoluçào. Este aumento foi maior na extre- midade anterior dos animais. A extremidade anterior de uma minhoca, ou mesmo de animais mais evoluí- dos, é aquela que primeiro entra em contato com as mudanças do ambiente, quando o animal se desloca.2 Esta extremidade se especializou para exploração do ambiente e alimentação, desenvolvendo um apare- lho bucal e órgãos de sentido mais complexos, como olhos, ouvidos, antenas etc. Paralelamente houve, nesta extremidade, uma concentração de neurônios de associação, dando origem aos inúmeros tipos de gânglios cerebroides dos invertebrados ou ao encéfalo dos vertebrados. O encéfalo aumentou consideravel- mente durante a filogênese dos vertebrados (encefa- lização), atingindo o máximo de desenvolvimento no encéfalo humano. Os neurônios de associação cons- tituem a grande maioria dos neurôíios existentes no sistema nervoso central dos vertebrados, e recebem vários nomes. Alguns têm axônios longos e fazem conexões com neurônios situados em áreas distantes. Outros possuem axônios curtos e ligarrl-se apenas com neurônios vizinhos. Estes são chamados neurô- nios internunciais ot interneurônios. Emrelação com os neurônios de associação localizados no encéfalo, surgiram as funções psíquicas superiores. Chegamos, assim, ao ápice da evolução do sistema nervoso, que é o cérebro do homem, com cerca de 86 bilhões de neúrônios,3 e a estrufura mais complexa do universo biológico conhecido. Entre o sistema nervoso da es- ponja e o do homem decorreram 600 milhões de anos. 2 A única exceção é o homem, que é rigorosamente bípede e tem o corpo em posição vertical. 3 Baseado em Herculano-Hor-rzel, 5: 2009 The human brain in numbers: a lineariy scaled-up primate brain. Human Neuroscien- ce 3(3 1 ): 1-1 1 r CÂPITULÕ I ALGUNS ASPECTOS DA FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO 5 Embriologia, Divisões e Org anização Geral do Sistema Nervoso A _ EMBRIOLOGIA 1.0 tNTRoDUÇÂo O estudo do desenr,olvimento embrionário (orga- no*eênese) do sistema ner\roso é intportante. ufira vez clLre pemite entender rnuitos aspectos de sua auatomia. I)irersos terrnos largamcnte usados para clenominar partes do encelàlo do adulto baseiam-se na embriolo- gia. No estudo da embriologia do sistema nervoso. tra- iarentos sobretudo daqueles aspectos que interessarl à conrpreensào cla disposição anatôrnica do sisterna ner- r oso do adulto e das malf'ormaçôes clue podem ocorrer ell recém-nascidos. 2.0 DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA N ERVOSO Yintos qr,re. durante a el,olução. os primeiros ner-r- i.,-rr.uOs surgirant na superticie externa dos organisrnos, lrrto este signiÍicatir,o. tendo em vista a Íunção primor- clial do sistema nervoso de relacionar o animal com o .rmbiente. Dos três Íblhetos embrionários. ó o ectocler- nra acluele clue está etn contato colx o meio cxterno e e rleste tblheto qLle se origina o sistema nervoso. O pri- meiro inclício cle formaçào do sistema ltervoso consiste L-nl ull] espessamento do ectclderma" situado acima da irotocorda. Íbtmando a chamada p lucu nem.alpor volta c1o 10" dia de gestação (Figura 2.1 r\). Sabe-se que. para a Íbn.nação desta placa e a subsequcnte Íbrrnação e dr-sen\ol\.intento do lubo neural, tem importante papel a açào indutora da notocorda. Notocordas irnplantadas na parede abdominal de embriões de anÍíbios induzen-r aí a fornraçào de tubo neural. A notocorda se degenera quase completarnente. persistinclo Lrnta pequena partc que lbma o núcleo pulposct das l,ertebras. A placa neural crescc progressir slllente. torlta-sc n.tais espessa e adquire LLt.t-r sulco Iongitudinal denonti- nadcr .ralco ne'urql (Figura 1.1 tl), qrle se aprotiutcla para ftrrnrar a goteira neurql(Figur* 2.1 C). Os lábios da goteira neural se tirndem para Íbrmar o tllbo neural (I,'igura 2.1 t)). O ectoderma, não diÍbrenciado. entào se Í-eclra sobre o Íubo netrrol, isolando-o, assim, do r-neio externo. No ponto em clue este ectoder[ra en- contra os lábios da goteira neural. desenvolverr-se célr"rlas que fbrmam de cada lado uma lâmina longr- tudinal denominacla c:ristu neurul, situada dorsolatc- ralrente ao tubo nei-rral (Figurl :.1). O tubo ner-rral dá origem a elementos do sistema ncrvoso central. ao passo que a crista clá origem a elemerrtos do sisterla nervoso periférico. alem de elementos nào perteilcelt- tes ao sistema nervoso. A seguir. esturlarerlos as ntrr- diflcaçires que estas dtlas ÍbrntaçÕes soiler.r.t cluranre tr desenvolr,,imento. 2.1 CRiSTA NEURAL Logo após sua tbrmação. as cristas neurais são contínuas no sentido craniosaudal (i'igura 2.1 C). Ra- pidarnente. entretanto. elas se dilidem. dando origem a diversos liagmentos que r'ão fbrmar os gârrglios es- pinlrais. situados na raiz dorsal dos nervos espinhais (lrigurn 2.1 D). Neles se dil-erenciam os neurônios Sulco neurol Ploco neurol i l I i Goteiro neurol Gônglio espinhol Tubo neurol D Fl§U* 2"1 Formoçõo do tubo neurol e do cristo neurql. sensiti\ros. pscudounipolares, cujos prolongamentos centrais se ligam ao tllbo neural. enquanto os prolon- gamentos periÍéricos se ligarn aos demátomos dos so- rnitos. Várias celulas da crista neural migralx e vão dar ori-cem a células em tecidos situados longe do sistet.na nervoso central. Os elementcls derivados da crista tteu- ral são os seguintes:gânglios sensitivos; gânglios do sistclna ner\oso autônomo (viscerais); medula da glân- cluli'r suprarrenal, r.nelanócitos, células dc Schwann; an- hcrtt-rs: odontoblastos. Sabe-se hoje que as meninges. chl'a-rráter e aracnoide também são derivadas da crista ner\ osa. 2"2 TUBO NEURAL O fechamento da goteira neural e, concolxitante- lrente" a fusão do ectoderma não diÍ-erenciado é utl processo qlre se inicia no r-neio da goteira neural e é rnais lento em suas ertremidades. Assim, em uma de- terminada idade. temos tubo neural llo meio do etrbrião e goteira nas extremidades (Figura 2.2). Mesmo em fases mais adiantadas, permanecem nas extremidades cranial e cauclal do embrião dois pequenos oriÍicios que são denominados, respectivamente, netrróporo rosÍral e neLrróporo cturclul. Estas são as últimas partes do sis- tema nervoso a se fechar. 8 NEUROANATOMIAFUNCIONAL I Tubo neurol Goteiro neurol FIGURA 2,2 Visto dorsol de um embriõo humono de 22 mm, mostrondo o fechomenio do tubo neurol. 2.2.1 Paredes do tubo neural O crescimento das paredes do tubo neural e a dife- renciação de célr-rlas nesta parede não são uniformes. dando origem às segLrintes fbrmações (Figura 2.3): E E Lômino do teto Lômino do ossoolho Lômino olor -.- Sulco limitonte Lômino bosolLuz do tubo neurol FIGURA 2.3 Secçõo tronsversol de tubo neurol. ',,.1 duas lâminas alares. , duas lànriuas basris: i:, uma lâmina do assoaiho: .,1 z ruxa lâmina do teto. Separando. de cada lado, as lâminas alares das lâminas basais, há o chamacio sulco limitonÍe. Das lâ- minas alares e basais clerivam neurônios e grllpos de neurônios (nÍrcleos) ligados. respectivamente. à sensi- bilidade e à motricidade. situados na rnedllla e no tron- co enceÍálico. A 1âmina do teto, ern algulnas áreas do sistema ner- voso, permanece muito flna e dá origem ao epêndirna da Íela corioicle e dos plero.s corioicles. que serão estu- dados a propósito dos ventrículos encefálicos. A lâmina do assoalho. em algurnas árreas, permanece no aclulto. Íbrmando um sulco. como o sr-rlco mediano do assoalho do lV ventrícLrlo (Frgura 5.2). Prosencéfolo Mesencéfolo Rombencéfolo 2.2.2 Dilatações do tuha neural Desde o início de sua l'ormação, o calibrc do tttbo neural não é unitbrme. A parte cranial. que dá origem ao encéfalo do adulto. torna-se dilatada e constitui r./ encélàlo printitit:tt. ou arquencefolo, a parte caudal. que dá origem à medula do adulto, permanece co1.n calibre uniforme e constitui a medula primiÍit'u do ernhrião. No arcluencéÍàlo distinguem-se iniciahnente três dilatações. que são as vesículos encelLiliccr,s primiti- vas, denominadas prosencéfalo, nte.sencé/àlo e rctm- hent:éJàlo. Com o subsequente desenvolvimento do ernbrião, o prosenceÍàlo dá origern a duas vcsículas. telencéJàlo e cliencéfalo. O mesenceÍàlo nào se ttio- dilica. e o rombencéÍàlo origina o nteÍetttefolr) c rr rnielencéfulo. Estas rrodificações sào mostradas ttas Figuras 2.4 e 2.5 e esquematizadas na chave qr,re se segLre: dilotoções do tubo neurol ielencefolo prose nceto I o diencéfolo mesencéfolo encéfolo primitivo (orquencéfolo) medulo primitivo rombencéfolo Meienceío ic Mielencéfolo Telencéfolo DiencéÍolo Mesencéfolo Metencéfolo Mielencéfolo FIGURA 2.4 Subdivisões do encéfolo primitivo: possogem do fose de três vesículos poro o de cinco vesiculos. r CÀPITL,'L* ? EMBRTOLOGTA, D|VrSÕES E ORGANTZAÇÃO CrnnL DO STSTEMA NERVOSO ç -F" .€t.,.- , _1, ffi ffi,'- # E. "á a au rE 'z i tz i z a:. *-.- Mesencéfolo * Mielencéfolo lnf undíbulo Nervo óptiço FIGUR 2.5 Visto loterol do encéfolo de embriõo humono de 50 mm. O telenceÍalo cot'npreende uma parte mediana, na qual se evaginam duas porções laterais, as t:esícu- le.; relence.Íalictts laÍerais (Figura 2.1). A parte me- diana é fechada anteriormcnte por uma lâlllira que constitlri a porção mais cranial do sistema ner\roso e se denomina lârnino Íerntinal . As vesículas telence- Íá[cas laterais crescem ntuito para lorrnar os hemis- férios cerebrais e escondem quase completamente a parte rnediana e o diencefalo (Figura 2.5). O estudo dos derivados das vesículas primordiais será feito rlais adiante. 2.2.3 Cavidades do tubo neural .\ lLLz do tubo neural pel'manece no sistema ner- roso do adulto, soflrendo. em algumas partes, várias n-rodificações (Figura 9.5). A luz da meclula prin'riti- va Íbrma, no adulto. o cqnal c:entral dcr medulct, ou conol do epêndirna, que no homem e muito estteito e parcialmente obliterado. A cavidade dilatada do rombencéfalo lbrma o I'[/ venÍrículo. As cavidades do diencéÍàlo e da parte mediana do telencefalo Íbrmam o III t,entríctrlo. A luz do mesencéfalo permanece es- treita e constitui o aquedttlo cerebral que une o III ao lV ventrícu1o. A luz das vesículas telencefálicas laterais Íbrn,a, de cada lado, os ventríutlos laterqis, uniclos ao III ventrículo pelos dois.forames inÍerven- lricttlares. Todas estas cavidades são revestidas por um epité1io cuboidal denominado epêndirna e. colll exceção c1o canal central da ntedula. contêm o deno- minado líquiclo cerebro-espínhal, ou liclurtr''. IO NEUROANATOMIA FUNCIONAL 3"0 DTFERENChÇÃo E oRGANIZAÇÃO N EU RO NAL No en,brião de quatro meses, as principais estrutu- ras anatômicas já estào forrradas. Entretanto, o córtex cerebral e cerebelar é liso. Os giros e sulcos são Íbr- mados em razão da alta taxa de expansão da superÍicie cortical. O cortex cerebral humano mede cerca de 1 . 100 cmr e de-n,e dobrar-se para caber na cavidacle craniana. Após o conhecimento das principais transtbrma- çõe: morÍblógicas do Sistema Nervoso Central (SNC) durante o desenvolvimento, Yamos estudar as etapas dos processos de dit'erenciação e organizaçào do teci- do. São elas: Prolif-eração neuronall Migração neuronal; DiÍ-erenciação neuronal ; Sinaptogênese e Íbtmação de circuitos; Mielinizaçào: Elimrnação programada de neurônios e sinap- SCS. 3.1 Proliferação e migração neuronal A prolifêração neuronal se intensiÍrca após a for- mação do tubo neural e ocorre paralelamente às trans- Íbrrnações anatônticas. A partir de certo tnomento, as células precursoras do neurônio passam a se dividir de Íbrma assimétrica. Íbrmando outra célula precllrsora e r-m neurônio jovem qr.re inicia. entào. t'r processo de mi- il. ts * F ts Diencéfolo .'1 "'1 Telencéfo lo tt - --* !<* -sraçào da região proliferativa periventricular para a re- giào mais externa, para tbrmar o córtex cerebral e suas clrnada: tFigura 2.óy. A migração é um processo complexo. Precocemen- te. na slrperÍície ventricular da parede do tubo neural existe uma fileira de celulas justapostas da glia. cujos prolongamentos estendem-se da superficie ventricular até a sr"rperfície externa. Estas células são chamadas cle glia radial, precursoras dos astrócitos. Os neurônios mi- gram aderidos a prolongamentos da glia radial, como se estes fossem trilhos ao longo dos quais desiizam os neurônios migrantes. Os neurônios migrantes de cada camada param após ultrapassar a camada antecedente. Sinais moleculares secretados pelos neurônios já mi- grados determinam o momento de parada. 3.2 DIFERENCIACÃO NEURONAL Após a migração, os neurônios jovens irat adquirir as características morfológicas e bioquímicas próprias da função que irão exercer. Começam a emitir seu axô- nio que tem que alcançar seu alvo às vezes em locais distantes e aí estabelecer sinapses. A diferenciação em um ou outro tipo de neurônio depende da secreção de fatores por determinados grupos de neurônios que irão influenciar outros grupos a expressar determinados ge- nes e desligar outros. Fatores indutores, ativando genes diferentes em diversos níveis, aos poucos vão tornando diferentes as células que inicialmente eram iguais. Os axônios têm que encontrar o seu alvo correto para poder exercer sua função. Por exemplo: os neurô- nios motores situados na âtea motora do córtex cerebral referente à flexão do hálux têm que descer por toda a medula e fazer sinapse com o motoneurônio específico, que inerva o músculo responsávelpor esta função. E as- sim ocorre com todas as funções cerebrais e os trilhões de contatos sinápticos existentes que têm que encontrar o alvo correto. A extremidade do axônio, chamada de cone de crescimento, é especializada em "tatear o am- biente" e conduzir o axônio até o alvo correto, por meio do reconhecimento de pistas químicas presentes no mi- croambiente neural e que irão atrailo ou repeli-lo. Ao chegar próximo à região alvo, a extremidade do axônio ramiflca-se e começa a sinaptogênese. Assim, axônios de bilhões de neurônios devem encontrar seu alvo cor- reto, o que resultará nos trilhões de contatos sinápticos envolvidos nas mais diversas funções cerebrais 3.3 MORTE NEURONAL PROGRAMADA E ELTMTNAÇAO DE StNAPSES Todas as etapas da embriogênese descritas até o momento acabam resultando em um número maior de neurônios e sinapses do que caracteriza o ser humano após o nascilnento. Ocorre, então, uma mofte neuronal programada. que é regulada pela quantidade de tecido- -alvo presente. O tecido-alvo e também os aÍ-erentes produzem uma série de Íàtores neurotróficos que são captados pelos neurônios.rAtuando sobre o DNA r-reu- ronal, os fatores neurotrópicos bloqueiam um processo ativo de morte celular por apoptose (o próprio neurônio secreta substâncias cuja função é matar a si próprio). Diversos neurônios podem se projetar para o mesmo tecido-alvo. Ocorre uma competição entre eles e aque- les que conseguem estabilizar suas sinapses e assegurar quantidade suficiente de fatores tróficos sobreviverr, enquanto os demais entram em apoptose e morrem. Ocorre também a eliminação de sinapses r-rào utilizadas ou produzidas eln excesso. Em caso de lesões. ueurô- nios que notmalmente morreriam podem ser utilizaclos para recuperá-las. Portanto, esta reserva neuronal e de sinapses determina o qlle e conhecido como plastrci- dade neuronal. existente em crianças. e que vai dimi- nuindo com a idade, tendo em vista que cada lunção cerebral possni o seu períoclo crítico. É em razào da plasticidade que, quanto mais nova a criança, melhor o prognóstico em termos de recuperação de lesões. E, também por isso que crianças têm maior Íacilidade de aprendizado. O cérebro está em constante transÍbnnação" novas sinapses estão continuamente sendo fonladas. Estuclos recentes demonstraram que o cérebro continua crescen- do até o início da puberdade. Este crescimento nào se deve ao aumento do número de neurônios e sim do nú- mero de sinapses. A parlir daí começa um processo de eliminação de sinapses desnecessárias e não utilizadas. É um processo de refinamento funcional, tendo em vis- ta qlre cada região tem um período de máxiuro cresci- mento e posterior eliminação de sinapses responsáveis pelas funçôes psíquicas superiores. 3.4 MTELTNTZAÇÃO O processo de mielinização e considerado o final da rnaturação ontogenética do sistema nervoso e sera descrito no próximo capítulo. Ele se cornpleta eni epo- cas diferentes e em áreas diÍêrentes do sisterla ner\ o- so central. A última região a concluir este processo é o cófiex da região anterior do lobo frontal do cérebro (área pré-frontal), responsável pelas Íunções psíquicas 1 O prirneiro fator neurotrófico isolado lbi o NGF (nen,e grov,th .fttctor-) pela neurocientista italiana Rita Lei.,i-Mon- talcini a partir de tumores e de veneno de cobra, ent 1 956. A cientista recebeu o prêmio Nobel err, 1986 pela descobena. A partir daí, várjas outras neurotroÍlnas Íbram descobefias. r CAFíTULO ? EMBRIOLOGIA, DIVISÕES E ORGANIZACÃO GERAL DO SISTEMA NERVOSO I I superiores. Ela cresce até os 16, 17 anos, quando inicia o processo de eliminação de sinapses. O processo de mielinização no lobo frontal só está concluído próximo aos 30 anos, ou seja, a maioridade do cérebro ocoÍre bern mais tarde que a maioridade legal! 4.0 CORRELAÇÕES ANATOMOCLíNICAS O período fetal é importantíssimo para a forma- ção e desenvolvimento do sistema nervoso central. Fatores externos como substâncias teratogênicas, irra- diação, alguns medicamentos, álcool, drogas e infec- ções congênitas podem at-etar diretamente as diversas etapas deste desenvolvimento. Quando ocorrem no primeiro trimestre de gestação poden, af-etar a proli- feração neuronal, resultando na redução do nÚtmero de neurônios e microcefalia. No segundo ou tercei- ro trimestres podem intert-erir na fase de organização neuronal, redução do número de sinapses e ocasionar quadros de atraso no desenvolvimento neuropsicomo- tor e retardo mental. A desnutrição materna ou nos pritneiros anos de vida da criança, agravada pela falta de estímr-rlos clo Superfície externo terminol gliol Zono corticol Zono intermediório Zono veniriculor Processo do glio rodiol Corpo celulor do glio rodiol Superfície ventricu lor FIGUR 2.ó Desenho esquemótico mostrondo o migroçõo de neurônios iovens otrovés do glio rodiol do zono germinotivo ventriculor poro o zono corticol. L t .17 NEUROANATOMIA FUNCIONAL ambiente, pode interferir de maneira direta no processo de mielinização. Esta etapa está diretamente relacio- nada à aquisição de habilidades e ao desenvolvimento neuropsicomotor normal da criança, a qual poderá so- frer atrasos muitas vezes ireversíveis. 4.1 DEFEITOS DE FECHAMENTO O fechamento da goteira neural para formar o tubo neural é uma etapa importante para o desenvolvimen- tó do sistema nervoso, e ocoÍre muito precocemente na gestação (22 dias). Os defeitos do fechamento do tubo neural são relativamente comuns, um em 500 nascimentos, ocasionando grave comprometimento funcional. Falhas no fechamento da porção posterior ocasionam malformações, tais como as espinhas bífidas e as mielomeningoceles. Na espinha bíflda, a meninge dura-máter e a medula são normais. A porção\dorsal da vér1ebra, no entanto, não está fechada. Este quadro é frequentemente assintomático. Nas meningoceles ocorre um déflcit ósseo maior. A dura-máter sobressai como um balão e necessita de correção ciúrgica. Na mielomeningocele, além da dura-máter, parle da medu- la e das raízes nervosas é envolvida. Mesmo após a cor- reção cirúrgica, irão permanecer déf,cits neurológicos variáveis de acordo com o nível e extensão da lesão. Podem ocorrer desde distúrbios no controle vesical até a paraplegia. O fechamento da porção anterior do tubo neural é bastante sensível a teratógenos ambientais. Sua ação pode dar origem a defeitos de fechamento muito gra- ves, como a anencefalia, com incidência aproximada de 1:1.000 nascimentos. Caracteriza-se pela ausência do prosencéfalo e do crânio, e é sempre fatal. O uso de ácido fólico de rotina nas mulheres com intenção de engravidar vem reduzindo a incidência dos disúrbios de fechamento do tubo neural. 4.2 DISTIJRBIOS DE MIGRACÃO NEURONAL Em algumas situações, alguns neurônios não ter- minam sua migração ou o fazem de forma anômala. Isto gera grupos de neurônios ectópicos (Figura 2.7) que tendem a apresentar alta excitabilidade e potencial epileptogênico. As epilepsias decorentes de distúrbios de migração tendem a ser de difícil controle, muitas vezes intratáveis com medicamentos. podem ter como último recurso terapêutico a intervenção cirúrgica (ver também Capítulo 3, item 5.4). Em alguns casos, graves distúrbios de migração envolvendo grandes áreas cerebrais podem ocasionar quadros de retardo mental ou paralisia cerebral. B - DIVISÕE§ DO §ISTEMA NERVOSO A seguir será feito um estudo das divisões do siste- ma netvoso de acordo com critérios anatômicos, embrio- lógicos e funcionais, bem como segundo a segmentação ou metameria. O conhecimento preciso de cada termo e dos critérios usados para sua caracterização é básico para a compreensão dos demais capítulos deste livro. 1.0 DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO COM BASE EM CRITÉRIOS ANATÔVIICOS Esta divisão é a mais conhecida e encontra-se es- quematizada na chave abaixo e na Figura 2.7: Sistemo Nervoso Centrol Sistemo Nervoso Periférico l- t I tncefolo , cérebro1iI I cerebelolr I ltron.o ,mesencéfolo i.medulo espinhol lenc"fólico I ffi "' " " i lesr:inho,s , bulbo j nervos i I ^ . crontonosI oonoÍros I i",.rlno.ô", I nervosos FIGURA 2.7 Ressonôncio mognético mostrondo um distúr- bio de migroçõo neuronol, heteiotopio em bondo. Vê-se umo fino comodo corticol formondo poucos sulcos e giros e opós pequeno foixo de substôncio bronco ,ro gro*o comodo de neurônios ectópicos que nõo terminorom s=eu processo de migro.Çõo. {Gentilezo Dr. Morco Antônio Rodocki) r CAPíTULO 2 EMBRIOLOGIA, DIVISÕES E ORGANIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA NERVOSO I3 F. Sisterna nervoso cenÍral e aquele que se locali- za dentro do esqueleto axial (cavidade craniana e canal vertebral); .sistema nervoso perilérico á aquele que se encontra Íbra deste esqueleto. Esta distinção, embora geralmente utilizada. não é perfeitamente exata, pois como é óbvio, os nervos e raízes nen/osas, para fazer cone- xão com o sistema nervoso central, penetram rTo crânio e no canal verlebral. Alérn disso, al- guns gânglios localizam-se dentro do esqtieleto arial. Encé/ato e a parte do sistema nervoso central situada dentro do crânio: a ruedulct se localiza dentro do canal r.'ertebral. EnceÍalo e medula constituem o sislemtt rtervoso cenÍral. No en- cefalo ternos cérebro, cerebelo e lronco ence- ./álico (Figura 2.8). A ponte separa o bulbo-, situado caudalmente, do mesenceÍàltt, situado cranialrnente. Dorsalmente à ponte e ao bulbo, localiza-se o cerebelo (Figura 2.8). P ,\eno,s são cordões esbranquiçados que uLnem o sistema nervoso central aos órgãos periÍéri- cos. Se a união se faz cotn o encefalo, os nervos são c:roniqnos,' se cot-tl a medula, espinhais. Em relaçào com alguns nervos e raízes Íler\rosas existem dilatações cot'tstituídas sobretudo cle corpos de neurônios, que são os grirzglio,s. Do ponto de vista Íuncional, existem gônglios sen- silivos e gânglios ntotrtres viscerai,s (do sistema ner\roso autônomo). Na extremidade das Írbras que constituem os ller\ os situaln-se as lct'rttinct- ções nen,oso,s que, do ponto de vista funcional, sào de dois tipos: sensitivqs (ou aferentes) e m otoro s ( ou el-erentes). ,rarr^ra I /r/t_, llelencetolo cÉREBRo { Di"n."Íoro -- L Bulbo - - --/ MEDULA CEREBELO - -*-/ FIGURA 2.8 Portes componentes do sistemo nervoso centrol. I4 NEUROANATOMIA FUNCIONAL Divisõo Embriológico prosencéfolo 1.1 DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO COM BASE EM CRITÉRIOS EMBRIOLOGICOS Nesta dir isào. as pafies do sistema nervoso central do adulto recebem o nolne da vesícula encefálica pri- mordial que thes deu origem. Cabe, pois. um estudo da correspondência entfe as vesículas primordiais e os componentes do sistema nervoso central, estudado anterionnente a propósito de sua divisão anatômica, a qual pode ser r ista no esquerna a seguir: mos no sistema nen/oso visceral uma pafie aferente e ou- tra eferente. O componente aÍ-erente conduz os impulsos nervosos originados err receptores das vísceras (viscero- cepÍores) a áreas específicas do sistema nervoso central. O componente eÍêrente leva os impr-rlsos originados enr certos centros nervosos até as vísceras, tenxinando en.r glândulas, músculos lisos ou músculo cardíaco. O com- ponente eferente do sistema nen'oso visceral e denomi- nado sisterua nerloso atttônomo e pode ser subdividido em sirupáíico e pu'assintpático, de acordo com diversos critérios que serão estudados no Capítulo 12. O esquema abaixo reslrrre o que foi exposto sobre a divisão fun- cional do sistema nervoso (SN). Esta drvisão tuncional do SN tem valor didático, mas não se aplica às áreas de associação terciárias do córtex cerebral, relacionadas às funções cognitivas como linguagem e pensamentos abs- tratos (Veja esquema abaixo). 1.3 DIVISÃO OO SISTEMA NERVOSO COM BASE NA SEGMENTAÇÃO OU METAMERIA Pode-se dividir o sistema nervoso em si,yÍema ner- voso segmentar e sistema neryoso suprassegmentar. A segmentação no sistema nervoso e evidenciada pela conexão com os nervos. Pertence. pois. ao sisterna nervoso segmentar todo o sistema nervoso periÍérico. mais aquelas partes do sistema nervoso central que estão em relação direta com os ner\-os típico'. t,Lr .ej.r. a medula espinhal e o tronco encefá1ico. O cérebro e o cerebelo pertencem ao sisterna ner\ oso suprasse_q- mentar. Os nervos olfatório e óptico se ligam direta- mente ao cérebro, mas veremos que não são nervos típicos. Esta divrsão põe em evidência as semelhanças estruturais e Íuncionais existentes entre a rnedula e o tronco enceÍálico, órgãos do sistema nervoso segnten- tar, em oposição ao cerebro e ao cerebelo. órgãos do sistema nervoso suprassegmentar. Assim, nos órgãos do sistema nervoso suprassegrnentar existe córtex, or-r seja, uma camada fina de substância cinzenta situada fora cia substância branca. Já nos órgàos cio stst.'ma nervoso segmentar não há córtex, e a substância cin- zenta pode localizar-se dentro da branca. corno ocorre na medula. O sistema nervoso segmentar surgiu. na evolução, antes do suprassegmentar e. funcionalmen- Divisõo Anotômico mesencéfolo ltelencéfolo ... I > cérebro ldienreÍolo / i mesencéfolo rombencéfolo 1.2 DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO COM BASE EM CRITÉRIOS FUNCIONAIS Pode-se dividir o sistema nervoso em sistema ner- voso da vida de relação, ot somático, e sisÍema nervo- so da vida vegetativa, ot yisceral. O sistema net voso da vida de relação é aquele que relaciona o organismo com o meio ambiente. Apresenta um componente afe- rente e outro eferente. O componente aferente conduz aos centros nervosos impulsos originados em receptores periféricos, informando-os sobre o que se passa no meio ambiente. O componente eferente leva aos músculos estriados esqueléticos o comando dos centros nervosos, resultando, pois, em movimentos voluntários. Sistema netyoso visceral é aquLele que se relaciona com a iner- vação e controle das esíuturas viscerais. É muito impor- Íante para a integração das diversas vísceras no sentido da manutenção da constância do meio intemo. Assim como no sistema nervoso da vida de relação, distingui- sistemo nervoso somótico Divisõo funcionol do sistemo nervoso sistemo nervoso viscerol I oferente I uf",."ntu |. oferente l"r",."ntu = SN outônom. lHffilTu',.. lmetencefolo cerebelo e pontel- I r tr t -tImrerencerolo buloo EMBRIOLOGIA, DIVISÕES E ORGANIZACÃO GERAL DO SISTEMA NERVOSO I5a t&?íTLlLCã te, pode-se dizer que lhe é subordinado. Assim, de modo geral, as comunicações entre o sistema nervoso suprassegmentar e os órgãos periféricos, receptores e efetuadores, se fazem através do sistema nervoso seg- mentar. Com base nesta divisão, pode-se classificar os arcos reflexos em suprassegmentares, quando o componente aferente se liga ao eferente no sistema nervoso suprassegmentar, e segmentares, quando isto ocoÍre no sistema nervoso segmentar. 2.0 oRGANTZAÇÃO GERAL DO SISTEMA NERVOSO Com base nos conceitos já expostos, podemos ter uma ideia geral da organizaçáo geral do sistema ner- voso (Figurt2.9). Os neurônios sensitivos, cujos cor- pos estão nos gânglios sensitivos, conduzem à medula ou ao tronco encefálico impulsos nervosos originados em receptores situados na superficie (por exemplo, na pele) ou no interior (vísceras, músculos e tendões) do animal. Os prolongamentos centrais destes neurônios ligam-se diretamente (reflexo simples), ou por meio de neurônios de associação, aos neurônios motores (somá- ticos ou viscerais), os quais levam o impulso a múscu- los ou a glândulas, formando-se, assim, arcos reflexos mono ou polissinápticos. Por este mecanismo, pode- mos rápida e involuntariamente retirar a mão quando tocamos em uma chapa quente. Neste caso, entretanto, é conveniente que o cérebro seja "informado" do ocor- rido. Para isto, os neurônios sensitivos ligam-se a neu- rônios de associação situados na medula. Estes levam o impulso ao cérebro, onde o mesmo é interpretado, tornardo-se consciente e manifestanclo-se como dor. C'onr ét.t.t letrtbrar que. no exemplo c1ado, a retirada re- llera da mão é automática e independe da sensação c1e dor. Na reahdade. o movimento reflexo se faz tnesmo quanclo a uredLtla está secciottada. o que obviamente irlpecle qualquersensaçào abaixo do nível da lesão. As fibras que levau ao sistema ner\oso stlprassegmentar as informações recebidas no sistet.na nervoso segmen- tar constituem as grandes r"ias ascendentes do sistema ner\roso. No eremplo anterior. tornando-se consciente do que ocorrell. o indir,íduo, por meio de áreas de seu córtex cerelrr:al. irá decidiL se deve tomar algumas pro- viclências. como cuidar de sr-ta mão qucimada oLr desli- gar a chapa qLlelrte. Qr-ralquer dessas ações rrá ent'olt'er a erecução de um ato motor t'oluntário. Para isso. os netrrônios das áreas motoras do córter cerebral enr"iam uma "ordem". por meio de fibras clescendentes. aos neurônios motores situados no sistema nervoso seg- mentar. Estes "retransmitem" a ordenr aos músculos es- triados" de modo que os movimentos necessários ao ato seiam realizados. A coordenaçào destes movitnentos é Íeita por r'árias áreas do sistenta nervoso central, sendo o cerçbelo uua dos mais itttportantes. Ele recebe. por meio do sistema ner\roso segmelltar. informações so- bre o grau de contração dos músculos e cnvia, atraves de vias descendentes compleras, impulsos capazes de coordenirr a resposta lrcltora (Figura 2.8), que é tam- bem coordenacla por alguntas partes do cérebro. Por ser rele'vantc. a situaçào que produzilt a qtieimadura será arnrazenada em algumas partes do cérebro relaciona- das cor.r'r a met.uória. resultando em aprendizado que irá ajLrdar a evitar uovos acidcntes. Ió NEUROANATOMIA FUNCIONAL CEREBRO I I srsrr,ran L NERVOSO r SUPRA J SEGMENTARCEREBELO Fibro descendente do córtex cerebrol grondes vios descendentes \ Arco reflexo polissinó ptico (reflexo de retirodo) Arco reflexo viscero I Arco reflexo monossinóptico (reflexo simples) Neurônio motor viscerol ./ Neurônio motor somótico \ í-- Neurônios de ossociocôo Neurôn ios sensitivo Receptor no t ( Receptor nc \ musculo I j I *\ \ '-*- I , I I I I I I I I ,* Sinopse :\j (proprioceptor)lv*l ; \L) ___ l FIGURA 2.9 Esquemo simplificodo do orgonizoçõo gerol do sistemo nervoso de um momífero. I CAPITULO 2 EMBRIOLOGIA, DIVISÕES E ORGANIZAÇÃO OTNNL DO SISTEMA NERVOSO 17 \-r Receptor no I - víscero I {visceroceptor)f ^P# ffiL/= I I -.J Tecido Nervoso O tecido nt:rvoso compreende basicamente dois ti- pos celulares: os neurônios e as celuias gliais ou neu- róglia. O neurônio e sua unidade fundamental. con.r a função básrca de receber. processar e enviar infbr- mações. A neuróglia corrpreende celulas que ocllpam os espaços entre os neurônios, com Íunções de sus- tentação, revestimento ou isolamento, modulação da atividade nelrronal e de deÍ-esa. Após a diferenciação, os neurônios dos vertebrados não se dividem, ou seja, após o nascimento não são produzidos novos neurô- nios. Aqueles que morrem cono resultado de progra- maçào natural oll por eÍ-eito de toxinas. doenças ou traumatismos jamais serão substituídos. Isto é válic1o para a grande maioria dos neurônios do SNC (Siste- ma Nen,oso Central). Sabe-se hoje. entretanto que, em duas partes do cérebro, o bulbo olÍatório e o hipocam- po, neurônios novos são Íbrmados em grande número diariamente. mesmo em adultos.r.: 1.0 NEURÔruIOS São celr"rlas altamente excitár,eis. que se comu- nicar.n entre si oll com células e1-etuadoras (célLrlas r.r.rr.rsculares e secretoras), usando basicamente uma lin- guagem elétrica, qLLal seja, ntodificações do potencial de membrana. Como será visto no item 1.4. a maior parte dos neurônios possui três regiões responsár,eis por Íunções especralizadas: cot'po celulctr, denclriÍos 1 Este capítulo foi atualizado por A.B.M. Machado. 2 No liipocan.tpo, esses neurônios morrem em poucas sema- nas. Há evidência de que estes neurônios transitórios estão relacionados corn a capacidade do hipocampo de anrazena- mento transitório da nter.nória (Capítulo 28)" Conceiçõo R. S. Mochodo (do grego déndrctn : árvore) e o.rônio (do grego axon - eixo), conÍbrme esqLlematizado na Figura 3.1. 1,1 CORPO CELULAR Contem núcleo e citoplasrna. com as or_eaneias citoplasmárticas usualmente encontradas em or-rtras cé- lulas (Figura 3.2). O núrcleo e geralmente vesiculoso. conl Lln ou ntais nucléolos er,.identes (Figura 3.3 ). ,\las encontram-se tantbém neurônios corn núcleos densos. corro e o caso dos núcleos dos grânulos do cóftex ce- rebelar. O citoplasnra do corpo celular recebe o nome de pericario. No pericário, salientam-se a riqueza en.t ribossomas, retículo endoplasmático granular e agranu- lar e aparelho de Golgi, ou seja, as organelas envolvidas em síntese de proteínas (Figura 3.2). Os ribossomas podem concentrar-se em peqllenas áreas citoplasmáti- cas, onde ocorrem livres ou aderidos a cisternas do retí- cLrlo endoplasmático. Em consequência, à microscopia óptica veem-se grumos basóflios, conhecidos corno cotpúsculos de Nissl ou substância cromidial (Figura 3.3). Mitocôndrias. abundantes e geralmente pequenes. estão drstribuídas por todo o pericário, sobretudo ao redor dos corpúsculos de Nissl (Figura 3.2). Microtú- bulos e microfilamentos de actina são idênticos aos de células não neuronais. mas os filamentos intermediá- rios (de 8 pm a 11 pm cle diâmetro) diÍ-erern, por slta constituição bioquímica. dos das demais células; são específlcos dos neurônios. razão pela qual são denomi- nados rreurofi larnentos. O corpo celular é o centro metabólico do neurônio. t:esponsárrel pela síntese de todas as proteínas neuro- nais, bem como pela maioria dos processos de degra- capíturo i3 Coloterol Nódulos de Ronvier lnternódulo Neurilemo Ploco motoro Botões sinópticos FIGURA 3.I Desenho esquemótico de um neurônio motor, mostrondo o corpo celulor, dendritos e o oxônio que, opós o segmento iniciol, opresento boinho de mielino, formodo por cêfulo de Schwonn. O oxônio, opós romificoções, termino em plocos motoros nos fibros musculores esqueléticos; em codo ploco motoro, observom-se vÓrios botôes sinopticos. dação e renovação de constituintes celulares, inclusive de mernbranas. As tunções de degradaçào justiÍicam a riqlreza elr lisosson'tas. etttre os qLlais os chamados grânilos de lipotucsina. Estes são colpos lisossômicos residuais clue aumentatr eln número colll a idacle. A forma e o tamanho do cotpo celular são extre- mamente variár,eis, conforme o tipo de neurônio. Por 20 NEUROANATOMIA FUNCIONAL exemplo, nas células de Purhinje do cór1ex cerebeiar (Figura 22.2). os corpos celulares são pirilbnnes e grandes" com diâmetro medio de 50 pm a 80 pml nesse meslrlo cót1ex, nos grânulos do cerebelo, são esferoi- clais. com diârnetro de 4 ptln a 5 ptm. nos neurouios sen- sitivos clos gârrglios espinhais. sào tambem esÍ-eroidais, mas com 60 pim a 120 prm de diâr,Tetro (l-igura 3.4). Corpos celulares estrelados e piramidais (Figura 3.3) são tambétl colt.tuÍts. ocorrendo. por exemplo, no cór- te-x curcbral lFigirra 27. i). Do corpo celular partelll os prolongaurentos (clendritos e arônio), porenr as técni- cas histológicas de rotina (Figura 3.3) rr-rostram apenas o corpo l.teLl[onal e, nos lllaiores. rs pot'çtles iniciais de seus prolongalnentos. A visualização desses últirnos erige técnicas especiais cle coLoração. O corpo celular é, como os clendritos. local de re- cepçào de estírnulos, atrar'és de contatos sinápticos, conÍbrme será cliscr-rticlo no item 2.0. Nas áreas da lu-ler.nbl'ana piasmática do cotpo neuronal. que nào re- cebeln contatos s inápti ctts. apoialx-se elementos gli ai s. 1.2 DÊNDRITOS Geralmente são cllrtos (de algLrns micrômetros a algLrns rniIímetros de comprimetlto), rarr, iÍica1n-se pro- llszrmente. à maneira de galhos de uma árvore, origi- nando dendritos de menol' diârr,etro, e apresentam as lresÍ'nas organelas do pericário. No entanto. o aparelho de Ciolgi limita-se às porções mais calibrosas, próxi- mas ao pericário. .lá a substância cle Nissl penetra nos ramos rlais atàstados. ciirninuindo gradativamente até ser excluída das menores divisões. Caracteristicalnen- te. os t.nicrotÍrbulos são elementos predominalltes nas por'ções inrciais e ramificaçõesmais espessas. Os dendritos são especializados e1r receber estí- mi-rlos. traduzindo-os em alterações do potencial de repouso da mentbrana qLle se propagam em direção ao corpo do neurônio e deste en, diteção ao cone de im- plar-rtaçào c1o axônio, processo que será visto no iterlt l.4. Na estrutura dos dendritos. merecem destaque as espinhas denclríticas que existenl etn grande número em mr.ritos neurônios e estào sendo objetc de muitas pesclr-Lisas. Elas cor-rstituem expansões da mernbrana plasmática do neurônio com características especíÍicas' Cada espinha é constituída por um colllponente distal -{ioboso. ligado à superÍicic do dendrito por ttrna haste. A parte giobosa está conectada a um ou dois tetminais arônicos. Íbrmancio com eles sinapses axodendríticas, qr.re serão estudadas trais adiante. Veriflcou-se que o número de espinhas dendriticas, em algumas áreas do cérebro, alurellta quando ratos são coiocados em gaio- las enriclueciclas cotr objetos de cores e lbrmas diÍ-e- rentes e eletrentos t.nór'eis clue ativam a sensibilidade. § Corpúsculos de Nissi Célulo de Schwonn Dendritos Cone de implontoçôo Segmento iniciol do oxônio \ Boinho de mielino I t-?.'a' ]7tar^r,r, ','lt)',',' FIGURA 3.2 Eleckomicrogrofio de porte do corpo celulor de um neurônio do sistemo nervoso ouiônomo, mostrondo porcõo do r,ceo (N) com um nucléolo e citoplosmo onde se destocom um corpúsculo de Nissl (CN = concentroçõo de retículo endoplosmó- 'ico gronulore ribosomos), miiocôndrios (setos) eoporelhodeGolgi (G). Borro =O,2pn. Cortesio de Elizobeth R. S. Comorgos. FIGURA 3.3 Neurônios piromidois pequenos, médios e grondes do córtex cerebrol, à microscopio óptico. Em codo neurônio, observe o núcleo cloro com nucléolo evidente e o citoplosmo repleto de corpúsculos de Nissl. Entre os neurônios oporecem núcleos de oligodendrocitos (A), ostrócitos proioplos- móticos (B) e de microgliócitos (C) (segundo del Río Hortego). . .-:;:',,-:a,".:: FTGURA 3.4 Fotomicrogrofio mostrondo os corpos celulores esferoidois de neurônios de um gônglio sensitivo e núcleos de célulos sotéliÍes (setos). TECIDO NERVOSO 2I I # 'k t * # # Estndos de neurônios in viÍr'o ao microscópio confbcal mostraram o aparecimento ou desaparecimento de es- pinhas dendríticas e, consequentemente, das sinapses aí existentes. Esses resultados mostram qtte o ambiente pocle n-rodificar sinapses no sistema llen oso central. de- monstrando sua plasticidade. que pode estar relacionada à memória e aprendizagem. como será r'isto no Capítulo 28. Sabe-se tatlibém qLle as espinhas dendríticas estão climinuídas em crianças corr deficiência mental, como a Síndron,e de Dou'n. 1.3 AXÔNIO A grande maioria dos neurônios possui um axônio. prolongamento longo e fino que se origina do corpo ou cle um dendrito principal. em região clenominada corre cle ímplantuçâo. praticamente desprol'ida de substân- cia cromidial (Figura 3.1). O arônio apresellta cotnpri- mento muito variávcl. deper-rdendo do tipo de neurônio, podendo ter" na especie humana. de alguns rrilímetros a nrais de ut.n metro. colllo os axônios que, da medula, inerr ar.r.r Lnr músculo n«r pe. O citoplasma dos axônios conttrlm microtúrbulos. ner.trofilanlentos, microfilamen- tos. retículo endoplasrnático agranular, mitocôndrias e resícr-Llas. Os axônios. após emitir nÍtmero virriár'el de colaterais, geralt.ttente soÍiem arborização terminal' Atrar'és dessa porção terminal. estabelecem conerões com outros neurônios oLl col1-l células eÍ-etuadoras (Fi- gura 3.1), músculos e glândLrlas. Alguns neurônios. entretanto. especializam-se em secreçào. Seus axônios terminat-n prórimos a capilares sanguíncos. que captam o produto de secreção liberado. em geral urn polipep- tídio. Neurônios desse tipo são denominados neLll:osse- cretores (Figura 23.3) e ocorreln na região do cérebro denominada hipotálarro (Capítulo 23. item'1.2). 1.4 ATIVIDADE ELÉTRICA DOS NEURÔNIOS A membrana celular separa dois atrbientes que apre- sentam composições iônicas próprias: o meio intracelu- lar (citoplasrna), onde predominam íons orgânicos com cargas negativas e potássio (K ): e o meio extracelular. em que predominatl sódio (Na') e cloro (Cl ). As cargas elélricas dentro e Íbra cla célula sào responsáveis pelo estabelecirnento de utli potenciai elétrico de membrana' Na maioria dos neurônios. o potencial dc nrembrana em repouso está em torno de -60 nTV a -70mV com exces- so de cargas uegatirras dentro da célula. Movitlentos de íons através da melttbrana petmitem alteraçÔes deste po- tencial. Íons só atrat,essam a membrana atra\'és de ca- nais iônicos. obedecendo aos gradientes de cotlcentraçãcr e elétricos. Os canais iônicos são lomados por proteína e caracterizam-se pela seletividade e" algtrns deles" peia 22 NEUROANATOMIA FUNCIONAL capacrdade de Íêchar-se e abrir-se. Estes Írltimos podem ser controlados por diÍ-erentes mecanistlos. Assit.n, te- n.ros canais iônicos sensíveis: a voltagem. a neurotrans- missores. a fosf'orilação de sua porção citoplasrnática ou a estímulos mecânicos. como distensão e pressào' Os dendritos são especializados em receber estímu- los. traduzindo-os em alterações do potencial de repclttso da membrana. Tais alterações envolt'em entrada ott saída de determinados íons e podem expressar-se por pequena despolanzação ou lTiperpolarização. A despolarização e excitatriria e significa redução da carga negativa do lado citoplasmático da membrana. A hiperpolarizaçào é ini- bitória e significa aumento da carga negativa do lado de dentro da cé|-rla ou. então, allmento da positiva do lado de Íbra. ExempliÍicando, canais de C1 . sensiveis a tun dado neLlrotransmissor. abrem-se quando há ligação col.n este neurotransmissoq permitindo a entrada de íor,s cloro para o citoplasma. Em consequência. o potencial de membra- na pode, por exemplo, passar de -60 rnV para -90 mV ou seja. há hiperpolarização cla membrana. Já canais de Na . fêchados em situação de repouso da met-nbrana, ao se abrir causam entrada de íons Na-para dentro da célula. clin-rinuindo o potencial de menlbrana, que pode passar. por excmplo, para J5 mV. Neste caso há despolarizaçàcr cla mer.nbrana. Os disúrbios elétriccls que ocor-rem ao tlí- ve1 clos dendritos e do corpo celttlar constituenr potenciais graduâl'eis (podem somar-se), também chamados eletro- tônicos. c1e pequena an,plitucle (100 pV;-10 mV)' e que percorrelx pequenas distâncias (1 tnn-r a 2 mm no máxi- nro) ate clue se extingnatr. Esses potenciais propagam-se em direçào ao corpo e, neste. etn direção ao cone de im- plar-rtaçào do arônio até a charnadazona de disparo (ou de gatilho), onde eristeur canais de Na e de K- sensíveis à voltagem. A abeftura dos canais de Na- sensír'eis à r'olta- gem no segmento inicial do axônio (zona de disparo) gera alteração do potencial de membrana denominado poten- cial de ação ou impulso nenioso. ou seja, despolarização da membrana de grande amplitLrde (70 mV a 110 rnV), clo tipo "tudo ou nada", capaz de repetir-se ao longo do axônio, consenando sua amplinrde até atingir a terlllina- ção axônica. Pofianto. o axônio e especializado em gerar e conduzir o potencial de ação. Constitui o local onde o primeiro potencial de ação é gerado e a zona de disparo na qual concentratn-se canais de sódio e potássio sensí- veis à voltagem (Figura 3'5), isto e, canais iônicos que ficam Íêchados no potencial de repollso da nlembrana e se abrem cluando ciespolarizações de pequena ampli- tude (os potenciais g'aduár'eis refbridos acima) os atin- gerr,. O potencial de ação originado na zona de disparo repete-se ao longo do axônio, uma vez que ele próprio origina clisúrbio local eletrotônico qtte se propaga até no- vos locais ricos em canais de sódio e potássio sensíveis à r,oltagem. dispostos ao longo do axônio (Figura 3.6). i:: ,ao c a ^t"a ala . ' :' oco o O! oao lo ct at o oa oür* a aa a o t oa 0 aa a' a ú5 o1 t ç oo c a taao- a a taott o 6eoot li I c o a 3ct oo ^c-ca I 0 a 9O o looo - t) " o ooo^ ou o c oc oa^, o looo ooo oo t oo o ^o"ao; Membrono lsmo Membrono um dendrito e um arônio" Entre eles estào os neut'ô- nios bipolares da retina e do gânglio esplral do oul'ido interno. Nos neurônios pseudounipolares (Figura 1.6 C), cLrjos corpos celulares se localizant nos gânglios sensitilos. apenas ilm prolongamento deixa o corpo celular, logo diviclinclo-se" à mancira de Lrm T. em dois ramos. um peril'érico e oLltro central. O prirneiltr dirige-se à peril'eria. onde Íbrma terminoç'iirt net'\'o- so .\ensíÍivo: o segurldo dirige-sc ao sistelra ner\ oso central. onde estabelece contatos conr outl'os llcLLrLr- nios. Na neurogênese, os neurônios pseudoLrnipolair-s apresentam" de início. dois prolongallentos. hiir endtr Íirsão posterior c1e sr-ras porções iniciais. Antbos os prolongamentos têm estrutura de axônio. embora r:r rarno periférico conduza o impulso ner\.oso em dire- ção ao pericário, à nraneira de um dendrito. Como nr.r.r arônio. esse ramo é capaz de gerar potencial de açào. Nesse caso, entretanto. a zor.a gatilho situa-se perto da terminação nervosa sensitiva. E,ssa terrrinação re- cebe estímulos. orisinando potenciais graduár.eis que. ao alcançar a zona gatilho, provocam o aparecirnento cie potencial de ação. Este e conduzido centripetaulen- FIGURA 3.5 Desenho esquemótico de membrono oxônico, mostrondo conol de sódio e conol de potóssio sensível à voltogem e o bombo de sódio e potóssio (com setos), responsóvel pelo reconstituicõo dos concentroções corretos desses íons dentro e foro do célulo, opós o deflogroçõo do potenciol de oçõo. Os círculos vozios representom íons de sodio e os cheios, íons de potossio. +40 0 -70 No. +++++ +++++++++++++++++ +++++++++++++++ l^1 /\1/\1/\ J/I1/\--1 _-_J ---.-.....'----,E +++ ++ +Ê,," +i t+t + + t i++ ++++++ FIGURA 3.ó Desenho esquemótico de um segmento oxônico, mostrondo iocois (linhos porolelos) ricos em conois de sodio e polóssio sensíveis d voltogem, no membrono plosmótico. Nos locois ossinolodos pelo setos, estó ocorrendo despclor zccoc moior que 100mV seguido de repolorizoçõo, ou seio, um potenciol de ocõo representodo no conto superior esquerclo. A despolarização de 70 rnV a 11OmV deve-se à _srande elrtrada de Na': segue-se a repolarizacão por saída de po- tássio. atrar és dos canais c1e K sensíveis à voltagem que se abrem mais lentamente. A volta às condições de repou- so. no qlre diz resperto às concentrações iônicas dentro e tbra do netrônio, ocorre por ação da chamacla bomba de scidio c potássio.'r 1.s CLASS|F|CAÇÃO DOS NEURÔNIOS OUANTO A SEUS PROLONGAMENTOS -\ maioria dos neurônios possni l,ários dendritos e url axônio. por isso são chamados uTultipolares tFigura 3.1). Mas há, tambérn, neurônio.s bipolares e pseudounipolares. Nos neurônios bipolares (FrgLrra i.6 B). dois prolongamentos deixam o corpo celular. -i A bomba de sódio e potássio e uma proteít.ra grande que atravessa a membrana plastlática do axônio e bombeia o Na para fora e o K para dentro do arônio. utilizando a energia fornecicla pela hidrólise de ATP. r ,--É.::t::].i.-.].l No- TECIDO NERVOSO 23 te. passando diretamente do prolongamento periférico ao prolongamento central. 1.ó FLUXO AXOPLASMATICO Por não conter ribossomos, os axônios são inca- pazes de sintetizar proteínas. Portantcl, toda proteína necessária à manutenção da integridade axônica, bem col'no às tunções das tenninações axônicas, deriva do pericário. Por outro lado, as terminações axônicas ne- ccssitam tambem de organelas, como mitocôndrias e retícu1o endoplasmático agranular. Assim, é necessário rurn fluro contínuo de substâncias solúveis e de organe- las. do pericário à terrninação arônica. Para renovação dos componentes das terminaçôes. e imprescindível o fluxo de substâncias e organelas em sentido oposto, ou sc-ia, em direção ao pericário. Esse movimento de organelas e substâncias solúveis através do axoplasma é clenonrinado -flu.ro axoplasrutitico. Hâ dois tipos de fl r,Lro. que ocorretrr paralelamenÍe:.flux o axop I as ma t ico attÍerrigrtttlo.r em direção à terminação axônica, e.fttuo mr4tlosmtiÍico retrógraclo, em direção ao pericário. .\s terminações axônicas tên, capacidade endocíti- ca. Tal propriedade permite a captação de substâncias tróficas, como os fàtores de crescimento de neurônios, cluc são can'eadas ate o colpo celular pelo fluxo axo- plasmático retrógrado. A endocitose e o transporte retrógrado explicam tarnbém por que certos agentes patogênicos, como o vírus da raiva e toxinas, podem atingir o sistema nen'oso central, após captação pelas terminações axônicas periféricas. O fluro axoplasmático permitiu a realização de vá- rias técnicas neuroanatôruicas baseadas em captação e transporte de substâncias que, posteriormente, possam ser detectadas. Assim, por exemplo, um aminoácido radioativo introduzido em determinado ponto da área irotol'a do córtex cerebral é captado por pericários cor- ticais e. pelo fluxo axoplasmático anterógrado, alcança a rnedula, onde pode ser detectado por radioautografia. Pode-se, então, concluir que existe uma via corticoes- pinhal, ou seja, uma via Íbrmada por neurônios cujos pericários estão no córtex e os axônios ten.ninam na medula. Outro modo de se estudar esse tipo de proble- ma consiste no uso de macromoleculas que, após capta- ção pelas terminações nervosas, são transportadas até o pericário graças ao fluxo axoplasmático retrógrado. As- 4 O fluxo axoplasmático anterógrado compreende duas fases: rrma làse rápida. envolvendo transpofie de organeias deli- r.r.ritadas por membrana (mitocôndrias, vesículas e elemen- tos do retículo endoplasmático agranular). coni velocidade de 200 mr.n a 400 mm por dia; e outra lenta. corn velocidade de 1 n-rm a ,1 mm por dia, transportando proteínas do citoes- queleto e proteínas solúveis no citosol. sim. introduzindo-se a enzima peroxidase em determi- nadas áreas da medula, posteriormente ela poderá ser localizada, com técnica histoquímica. nos pericários dos neurônios corticais que formam a via cofiicoespi- nhal referida. O método de marcação retrógrada com peroxidase causou enorme avanço da neuroanatotnia nas últimas decadas do seculo passado. 1.7 SINAPSES Os neurônios, sobretudo através de sttas termi- nações axônicas, entram em contato com outros neu- rônios. passando-lhes informações. Os locais de tais contatos são denominados sinopses ou, mais precisa- mente, sinapse,s interneuronals. No sistema nervoso periférico, terminações axônicas podem relacionar-se tambem com células não neuronais ou efetuadoras, como células musculares (esqueléticas. cardíacas ou lisas) e celulas secretoras (em glândulas salivares. por eremplo), controlando suas funções. Os temos ,tinttp- .ses e junções neuroefetuadoras são usados para deno- minar tais contatos. Quanto à morfologia e ao modo de funcionamento, reconhecem-se dois tipos de sinapses: sinapses elétri- cas e sinapses qttímicas. 1.7.1 Sinapses elétricas Sào raras em vefiebrados e exclusivamente inter- neuronais. Nessas sinapses, as membranas plasmáticas dos neurônios envolvidos entram em contato em peque- na região onde o espaço entre elas é de apenas 2 pm a 3 pm. No entanto, há acoplamento iônico, isto é, ocorre comunicação entre os dois neurônios, através de canais iônicos concentrados em cada uma das membranas em contato. Esses canais projetam-se no espaÇo intercelu- lar, justapondo-se de modo a estabelecer comunicações intercelulares que permitem a passagem direta de pe- quenas moieculas, como íons, do citoplasma de uma das células para o da outra (Figura 3.7). Tais junções sel-v'em para sincronizar a atividade de grupos de neurô- nios. Elas existem, por exemplo, no centro respiratório situado no bulbo e permitem o disparo sincronizado dos neurônios aí localizados, responsáveis pelo ritmo respi- ratório. Ao contrário das sinapses químicas, as sinapses elétricas não são polarizadas, ou seja, a comunicação entre os neurônios envolvidos se faz nos dois sentidos. 1.7.2 Sinapses químicas Nos vertebrados, a grande maioria das
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