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CLÍNICA MÉDICA, CIRÚRGICA E TERAPÊUTICA EM ANIMAIS SILVESTRES SUMÁRIO 1. ÉTICA VETERINÁRIA .......................................................................................... 3 1.1 Princípios da Ética Médica Veterinária ........................................................... 4 2. BIOÉTICA E MEDICINA VETERINÁRIA .............................................................. 6 3. CIRÚRGIA E TERAPÊUTICA EM ANIMAIS SILVESTRES ................................ 10 4. ANIMAIS SILVESTRES ...................................................................................... 12 5. O MÉDICO VETERINÁRIO DE ANIMAIS SELVAGENS .................................... 16 1. ÉTICA VETERINÁRIA Ética médica veterinária é um sistema de princípios morais que se aplicam valores e julgamentos para a prática da medicina veterinária. Como uma disciplina acadêmica, a ética médica veterinária engloba sua aplicação prática na clínica, bem como o trabalho em sua história, filosofia, teologia e sociologia. A ética médica veterinária combina medicina veterinária profissional ética e o tema da ética animal. Isto pode ser interpretado como uma reflexão crítica sobre a prestação de serviços veterinários em apoio das responsabilidades da profissão para a espécie animal e para a humanidade O Bem-estar Animal tem sido um assunto estudado em profundidade; ele examina as maneiras que um animal pode sofrer em circunstâncias especiais ou como sua vida pode ser enriquecida. Ética Animal é outro assunto bem documentado em que os filósofos, desde Aristóteles, têm ressaltado sua importância. Muitas vezes, referido como "o problema animal", as questões que parecem ser feitas neste campo são, em sua fundação, para tentar determinar qual a diferença relevante moral entre animais e seres humanos: se não há nenhuma diferença, como podemos justificar o tratamento de animais de uma determinada maneira e, por outro lado, se há uma diferença, qual é essa diferença que nos permite tratar os animais em uma determinada maneira. Ética médica veterinária é um assunto moderno e que não tem definido seu ponto de início. Ela combina o estudo do bem-estar animal e da ética animal, bem como sua raiz e usa informações como dados para suas deliberações. Poderia ser dito que possui uma longa história, no entanto, como uma disciplina acadêmica, só recentemente os trabalhos sobre o tema têm sido publicados. Os dois maiores acadêmicos que escrevem sobre ética médica veterinária são Bernard Rollin (Colorado State University) e Jerrold Tannenbaum (Universidade da Califórnia, em Davis), podendo ser vistos como os fundadores do assunto em ética médica veterinária. Atualmente, a maioria dos cursos de medicina veterinária possuem a disciplina de ética médica veterinária e, muitas vezes, combinam também o ensino sobre bem-estar animal e sobre as leis. os últimos anos, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), após um trabalho de construção conjunta com os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs) aprovou, no final de 2016, uma nova versão do código de ética médica https://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_veterin%C3%A1ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia https://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_animal https://pt.wikipedia.org/wiki/Bem-estar_animal https://pt.wikipedia.org/wiki/Aristotle https://pt.wikipedia.org/wiki/Animais https://pt.wikipedia.org/wiki/Homo_sapiens https://pt.wikipedia.org/wiki/Colorado_State_University veterinária. A Resolução CFMV nº 1138 de dezembro de 2016, que aprova o Código de Ética do Médico Veterinário, foi publicada no Diário Oficial da União em 25/01. O novo Código de Ética entrou em vigor no dia 09 de setembro de 2017, Dia do Médico Veterinário 1.1 Princípios da Ética Médica Veterinária A American Veterinary Medical Association (AVMA), regulariza revisões e atualizações de políticas e procedimentos, incluindo um documento considerado o princípios da ética. O Conselho Judicial da AVMA atua como o grupo encarregado de garantir que os princípios são atuais. Muito parecido com o código médico humano, é esperado dos médicos veterinários a adesão a um progressivo código de conduta ética, conhecido como os Princípios de Ética Médica Veterinária (PVME)". Em fevereiro de 2015, a AVMA aprovou a versão mais recente dos "Princípios da Ética Médica Veterinária", que foi aprovada pela câmara dos representantes do AVMA . O conteúdo dos princípios "foi modelado após o Código de Ética da Associação Médica Americana. No geral existem oito princípios fundamentais, que são: Um médico veterinário deve se dedicar a fornecer cuidado médico veterinário cuidado competente, com compaixão e respeito para o bem-estar animal e a saúde humana Um médico veterinário deve fornecer atendimento clínico médico veterinário sob os termos de um relacionamento veterinário-cliente-paciente (VCPR). Um médico veterinário deve manter os padrões de profissionalismo, ser honesto em todas as interações profissionais e reportar os veterinários que são deficientes em caráter ou competência para as entidades competentes. Um médico veterinário devem respeitar a lei e também reconhecer a responsabilidade de buscar mudanças, normas e leis que são contrárias aos melhores interesses do paciente e de saúde pública. Um médico veterinário deve respeitar os direitos dos clientes, colegas e outros profissionais de saúde, e devem salvaguardar a informação médica dentro dos limites da lei. Um médico veterinário deve continuar a estudar, aplicar e avançar o conhecimento científico, manter um compromisso com a educação da medicina veterinária, disponibilizar informação relevante para os clientes, colegas, público, e obter consulta ou referência, quando indicado. Um médico veterinário deve, na provisão de cuidados de saúde, exceto em situações de emergência, ser livre para escolher a quem atender, com quem se associar e o ambiente no qual fornece atendimento médico veterinário. Um médico veterinário deve reconhecer a responsabilidade de participar de atividades que contribuam para a melhoria da comunidade e a melhoria da saúde pública. 2. BIOÉTICA E MEDICINA VETERINÁRIA Bioética não é considerado mais um neologismo desconhecido. Após três décadas do seu surgimento nos EUA, a bioética vêm destacando-se em influência como importante ramo da ética aplicada. Isto tem sido demonstrado através do crescimento constante da literatura sobre o tema, debates e congressos, além do surgimento da mesma como disciplina em diversos cursos acadêmicos. Mas, qual a importância da bioética para a Medicina Veterinária? Para discutirmos esta questão é necessário rever a trajetória da ciência, ou ainda da biotecnociência nas últimas décadas, que fez surgir novas perspectivas sobre as possibilidades biotecnológicas. Além disso, rever conceitos éticos que suscitam debates sobre o que devemos fazer, impondo reflexões sobre novas e velhas questões no âmbito de atuação do médico veterinário. A medicina veterinária encontrou-se então, seriamente envolvida com estas questões, uma vez que muitas das novas possibilidades biotecnológicas envolvem o poder de intervenção do homem sobre a natureza e dos animais e, em particular sobre o começo e o fim da vida. Nos anos 60, com o aparecimento de novos recursos científicos como o surgimento de máquinas de diálise, a possibilidade de transplantes, técnicas de reprodução assistida, aprimoramento das técnicas cirúrgicas e outras, a sociedade civil sofreu mudanças intensas e passou a reivindicar direitos e propor mudanças de valores e costumes. O movimento feminista, protestoscontra a guerra no Vietnã, movimentos das minorias étnicas, dentre outros, começaram a permitir uma maior conscientização da sociedade, inclusive sobre as questões científicas e ecológicas. A preocupação da relação do homem com os outros seres vivos e suas intervenções no meio ambiente tornaram-se uma preocupação cada vez maior na década de 70. Com o movimento hippie de filosofia “paz e amor” e a crise ambiental surge o terreno onde nasce a bioética. Em 1970, Van Rensselaer Potter utilizou pela primeira vez o termo “bioética” em seu artigo “Bioethics, the science of survival” (POTTER,1970), sendo ele médico oncologista, pode estudar a relação do câncer e a ação do homem sobre o meio ambiente. Logo surgiram propostas de que os homens precisavam garantir sua sobrevivência, num meio ambiente que cada vez mais vinha se tornando deteriorado em conseqüência destes mesmos. Assim para este pesquisador, a bioética seria esta nova ciência da sobrevivência, ou seja, uma ponte entre ciências biológicas e valores morais com a finalidade de garantir a sobrevivência humana em um ambiente saudável (POTTER,1971). Outros estudiosos começaram a utilizar o neologismo meses após Potter, porém com um sentido diferente. A bioética seria então um novo campo interdisciplinar da própria filosofia moral, voltado mais especificamente para os dilemas biomédicos, envolvendo os direitos e deveres dos pacientes e dos profissionais de saúde e pesquisa de modo geral. Hoje a bioética é sobretudo uma disciplina voltada para dilemas concretos que demandam análise e propostas de solução. Vários são os temas da bioética, tais como : aborto, eutanásia, experimentação em humanos, manipulação genética, transplantes, distribuição de recursos em saúde, e mais atualmente, depois da “Dolly” (WILMUT et al.,1997), a clonagem dos animais e a clonagem humana. BERLINGUER (1993) distingue uma bioética cotidiana (relacionada às questões de saúde pública) e uma bioética de fronteira (relacionada às questões surgidas com as novas propostas da biotecnociência). A bioética também mantém o desafio de buscar uma resposta sobre quais são as nossas obrigações para com os animais, já que a partir de uma definição mais abrangente entende-se que a mesma se ocupa dos atos humanos que alteram irreversivelmente os processos da vida (KOTTOW, 1995). Desde a década de 70, as questões envolvendo animais mostraram-se crescentes. Surgem movimentos em prol dos “direitos dos animais” (REGAN,1983) e cresce a preocupação com o que se denominou “bem-estar animal” (PAIXÃO & SCHRAMM,1999). Daí surge a importância do médico veterinário como peça chave na promoção do bem-estar animal, reconhecido em estatuto da Associação Mundial de Veterinária na década de 90 (WVA,1993). Com o avanço da biotecnociência, a partir do advento da engenharia genética estas questões tomaram maior importância. Destacam-se a produção de animais transgênicos que teve início em 1980, e mais recentemente, na década de 90, a técnica de clonagem. O processo de produção de um animal transgênico pode ser definido como a introdução de DNA exógeno no genoma de um animal, de tal forma que suas células tornam-se geneticamente alteradas (DZIADEK,1996). Isto faz com que a engenharia genética apresente aspectos diferentes da biotecnologia tradicional : a possibilidade de atravessar a barreira das espécies, a modificação do espaço temporal em que ocorrem as alterações e a possibilidade de utilização de um número cada vez maior de espécies de seres vivos para múltiplas finalidades. A utilização destes animais geneticamente modificados varia desde a possibilidade de se obter conhecimentos sobre os processos genéticos e fisiológicos a possíveis aplicações na área biotecnológica em medicina e agropecuária. Os animais obtidos a partir da engenharia genética podem se destinar à pesquisa básica, a modificações destinadas ao emprego na atividade agropecuária, à produção de modelos de doenças, a doadores de órgãos, a biorreatores, isto é, animais modificados geneticamente para produzirem proteínas com emprego farmacêutico. Essas novas tecnologias expõem os animais a fatores de risco adicionais que terão implicações em seu bem-estar, tal como tem sido apontado por vários autores (MORTON et al.,1993; MOORE & MEPHAN,1995; BALLS,1998; ECVAM,1998). Tais riscos adicionais podem ser categorizados em : a) efeitos de mutações, b) efeitos de expressão, c) efeitos metodológicos, d) efeitos sistemáticos (MOORE & MEPHAN,1995). Os efeitos de mutação não só podem gerar conseqüências imprevisíveis, como os problemas podem se tornar aparentes somente algumas gerações depois. Os efeitos de expressão podem ser considerados potencialmente variáveis, resultando em modificações fisiológicas que afetem o bem-estar animal e também ocasionar grandes desperdícios de animais, uma vez que estes podem se tornar inadequados aos propósitos para os quais foram desenvolvidos até que se chegue a uma modificação desejada, resultante de várias testagens de combinações. Os efeitos metodológicos resultam daqueles gerados durante o processo tecnológico, que muitas vezes produzem animais com graves anormalidades e sofrimento antes de sua morte. Quando se fala de efeitos sistemáticos, questiona-se como estes animais em pesquisa serão mantidos e tratados, já que dependendo do propósito para o qual foram criados, eles podem ser submetidos a situações ambientais e de manejo que comprometem o seu bem-estar. É preciso considerar que a prioridade dada a produtividade animal sobre o bem- estar animal é um problema ético da produção animal como um todo, mesmo antes da engenharia genética. Um outro aspecto relevante da biotecnociência é representado pela possibilidade de xenotransplantes, isto é, a utilização de animais como fonte de órgãos para transplantes em humanos. Atualmente, com a de utilização de drogas imunossupressoras mais eficientes, para diminuir a rejeição, assim como a possibilidade de serem realizadas alterações genéticas em animais “doadores” , aumentaram as chances de compatibilidade dos transplantes. Além de certas considerações éticas que podem ser colocadas em relação à qualidade de vida dos seres humanos envolvidos em xenotransplantes, os principais aspectos que se destacam no debate ético é o risco da transmissão de doenças infecciosas para a população e a questão dos danos impostos aos animais “doadores” em prol dos benefícios humanos. Como exemplo disto poderíamos considerar a necessidade de se manter estes animais livres de agentes patogênicos, o que pode requerer um isolamento e uma alteração genética que venham a comprometer o bem estar destes animais (HUGHES,1998). Apesar de todos os avanços na biotecnologia, as questões éticas advindas deste avanço ainda são pouco discutidas, e pouca atenção tem sido dada ao aspecto do sofrimento animal. Para a abordagem destas questões tem se observado uma tendência mundial de atuação : a formação de comissões de ética e de bem-estar no uso de animais, uma política de classificação da dor animal e o ensino da bioética e bem-estar animal. Entende-se sobre política de classificação da dor, uma estratégia para se reconhecer, estabelecer e reduzir a dor a que são submetidos aos animais. No Brasil, ainda são raras as manifestações de ensino do bem-estar animal durante a graduação no curso de Medicina Veterinária. Na última década surgiram algumas manifestações de preocupação com este paradigma ético e científico. Assim, esperamos que estas novas posturas que levaram a uma maior consciência científica, ao estudo da ética da vida, não resultem em maiores impedimentos burocráticos ou um patrulhamento fanático à liberdade de condução de pesquisas médicas, mas sim, um avanço no processo de evolução do ser humano com relação ao respeito queas outras espécies que compartilham conosco a vida neste planeta merecem. 3. CIRÚRGIA E TERAPÊUTICA EM ANIMAIS SILVESTRES Difere em aspectos essenciais da clínica de animais domésticos. Aspectos como biologia (particularidades de cada espécie), local onde são mantidos, comportamento, doses de medicamentos, são cruciais para o sucesso e a pronta recuperação do animal atendido. A globalização tem promovido o incremento significativo dos animais silvestres como pets, levando assim a necessidade do atendimento clínico e cirúrgico a esses pacientes aumentar. Algo importante a se salientar é que para o manejo, cuidado, diagnóstico e tratamento desses pets, é necessário se especializar profundamente, pois cada espécie é provida de variáveis anatômicas e fisiológicas importantes. De tal forma fazendo com que esse profissional seja amplamente conhecedor dessas variáveis, promovendo a melhor e exata abordagem de cada indivíduo, minimizando o estresse e mortalidade dessas espécies. O veterinário especialista em animais silvestres tem capacidade de abordar classes como mamíferos, répteis, aves, anfíbios e peixes. Além de orientar os tutores desses pets quanto a manejo alimentar, especificidades comportamentais e cuidados necessários para viverem com qualidade em residências e com convívio com humanos. De maneira geral, a fauna é considerada uma verdadeira riqueza para a humanidade por seu notável valor ecológico, científico, econômico e cultural. Lamentavelmente, uma parcela considerável da sociedade não reconhece, de forma condigna, a magnitude desses valores. O Brasil é responsável pela gestão do maior patrimônio de biodiversidade do mundo: são mais de 100 mil espécies de invertebrados e aproximadamente 8.200 espécies de vertebrados (713 mamíferos, 1826 aves, 721 répteis, 875 anfíbios, 2.800 peixes continentais e 1.300 marinhos), das quais 627 estão listadas como ameaçadas de extinção, sendo, uma obrigação do poder público e da sociedade não permitir que, de fato, essas espécies sejam extintas (ICMBIO, 2012). Ao longo do tempo, os animais selvagens, estão se tornando mais populares como animais de companhia, o que coloca o Médico Veterinário em uma posição importante enquanto da orientação e esclarecimento ao proprietário sobre o correto manejo e cuidados sanitários da espécie em questão. A clínica médica e cirúrgica de animais selvagens vem adquirindo crescente importância na prática veterinária moderna devido à preocupação com a saúde desses animais. A necessidade dos profissionais da área de veterinária em instruírem-se a respeito de tais animais se torna, deste modo, crucial (SCHULTE e RUPLEY 2004). O objetivo do atual trabalho foi realizar um estudo retrospectivo das intervenções cirúrgicas dos animais atendidos no Ambulatório de Animais Silvestres (AAS) do Hospital Veterinário Mário Dias Teixeira (HOVET) da Universidade Federal Rural da Amazônia, identificando os atendimentos com intervenção cirúrgica, referindo as ocorrências e distribuição de frequência segundo a classe, ordem e espécies acometidas e comparar os resultados obtidos com os descritos na literatura. Justifica-se a realização do estudo retrospectivo de atendimento cirúrgico dos animais atendidos no ambulatório de animais silvestres devido ao aumento da ocorrência dessas espécies como animais de companhia, bem como a sua importância para a manutenção da saúde de animais silvestres cativos ou de vida livre, de maneira que possa ser exposto a necessidade do aprimoramento profissional do Médico Veterinário para que este esteja apto para realizar tais procedimentos, bem como, salientar a importância da aquisição de materiais e na implementação de equipamentos adequados para o atendimento nas mais diferentes espécies de animais silvestres e exóticos atendidos pelo Ambulatório de Animais Silvestres com o apoio das demais áreas e especialidades que existem no Hospital Veterinário Mário Dias Teixeira da Universidade Federal Rural da Amazônia. 4. ANIMAIS SILVESTRES Os animais silvestres são aqueles animais que não estão acostumados com a presença dos seres humanos. Eles se diferem de animais como o cachorro, o gato e cavalo, pois não passaram pelo processo de domesticação. Assim, podem reagir de diferentes maneiras quando retirados da natureza, inclusive de maneira agressiva, uma vez que não estão acostumados com a presença humana. Os animais silvestres apresentam dificuldade em viver com os seres humanos, como cachorros e gatos convivem. São comuns casos em que animais silvestres não sejam capazes, por exemplo, de se reproduzir e de se alimentar em cativeiro. Figura 1 Fonte: escolakids.uol As araras são exemplos de animais silvestres. Exemplos de animais silvestres Como sabemos, os animais silvestres não são domesticados, portanto, a lista desses animais é longa. Como exemplos, podemos citar o lobo-guará, cobras, https://escolakids.uol.com.br/ciencias/os-animais.htm https://escolakids.uol.com.br/ciencias/reproducao-dos-animais.htm https://escolakids.uol.com.br/ciencias/alimentacao-dos-animais.htm macacos, ursos, onças, tucano e a jaguatirica. Além dos exemplos citados, devemos destacar que animais como papagaios, jabutis e araras, apesar de serem criados por algumas pessoas, são também de animais silvestres. Leia também: Diferenças entre animais silvestres e domésticos → Tráfico de animais silvestres Quando falamos de tráfico de animais silvestres, falamos do comércio ilegal desses animais, os quais são retirados da natureza e vendidos para diversas finalidades, como para coleção e vendas em pet shops. Essa atitude ilegal envolve uma grande quantidade de dinheiro, sendo estimado que cerca de 10 a 20 bilhões de dólares sejam movimentados por traficantes anualmente. O Brasil ocupa uma posição de destaque quando o assunto é tráfico de animais. Isso se deve ao fato de que os traficantes veem no nosso país uma fonte promissora de recursos, uma vez que apresentamos uma grande biodiversidade, sendo muitas espécies exclusivas do nosso país. Figura 2 Fonte: escolakids.uol https://escolakids.uol.com.br/ciencias/animais-domesticos-e-silvestres.htm https://escolakids.uol.com.br/ciencias/o-que-e-biodiversidade.htm O tráfico de animais causa desequilíbrio no meio ambiente. Como a retirada da natureza e a comercialização desses animais são crimes no Brasil, os traficantes fazem uso de várias técnicas para garantir o transporte desses animais. Muitos são dopados e colocados escondidos em malas e caixas, por exemplo, o que comumente leva esses animais à morte. De acordo com a Renctas, uma organização não governamental que luta pela conservação da biodiversidade em nosso país, de cada 10 animais traficados, 9 morrem antes mesmo de chegar ao seu destino final. A Lei N° 5.197, de 3 de janeiro de 1967, dispõe sobre a proteção à fauna. De acordo com o artigo 1º: “Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.” Esses animais sofrem ainda com os maus-tratos que são necessários para sua venda. Algumas aves, por exemplo, têm suas asas cortadas impedir o voo, outros animais podem ter suas garras aparadas para evitar danos aos donos, entre várias outras mutilações. Percebemos, portanto, que se trata de um mercado cruel e que visa exclusivamente ao lucro. Os traficantes não se preocupam com o bem-estar desses animais e nem com o destino que eles receberão. Assim sendo, mesmo que uma pessoa pretenda cuidar e amar o animal traficado, eles não devem ser comprados. Ao fazera compra de um animal de forma ilegal, você contribui para que esse triste comércio continue ocorrendo. O tráfico de animais silvestres também é responsável por afetar negativamente o ecossistema de onde esse animal foi retirado. Muitas vezes a exploração de determinada espécie é tão grande que acaba por dizimar a população do local, afetando o equilíbrio do ecossistema. → É possível comprar animais silvestres de maneira legal? Sabemos que a comercialização de animais silvestres é considerada crime caso esses animais sejam retirados da natureza. Entretanto, se o animal silvestre é proveniente de um criadouro legalizado, a compra pode ser realizada. Figura 3 Fonte: escolakids.uol Para comprar um animal silvestre, é essencial garantir que o animal seja proveniente de um criadouro legalizado. Entretanto, antes de adquirir um animal silvestre, é fundamental que se tenha em mente que esse animal não é domesticado, portanto, sua interação com os seres humanos é diferente do que se espera de animais domésticos. Não é incomum que as pessoas se arrependam da compra e abandonem esses animais, que muitas vezes morrem por não conseguirem sobreviver no novo ambiente. Assim sendo, lembre-se: animal não é brinquedo! Isso vale tanto para animais domésticos quanto para os silvestres. Só adquira animais se você tiver a intenção de amar e cuidar deles bem. Além disso, não se esqueça de que os animais domésticos já estão acostumados com a interação com seres humanos, sendo a opção mais sensata quando o assunto é animal de estimação. 5. O MÉDICO VETERINÁRIO DE ANIMAIS SELVAGENS A medicina veterinária é a ciência biológica aplicada à saúde animal, com desdobramentos na saúde humana. Com efeito, dividimo-la em duas grandes áreas, a clínica animal em todas as suas modalidades e a produção animal, e sua interferência na saúde e na economia humana. Incidindo sobre as duas áreas, numa importantíssima intersecção, está o meio ambiente. Neste ínterim, o médico veterinário de animais selvagens executa seu mister de forma preponderante. Seu rol de atuação dentro da conservação da fauna ocorre ex-situ, nos zoológicos, aquários, criadouros, centros de reabilitação, como in situ, desenvolvendo e participando de projetos na natureza onde o fator doença ou a contenção farmacológica se fazem necessários, como nos processos de translocação de fauna. Sua ação vida impedir que enfermidades de natureza infecciosa ou infecto- contagiosa possam veicular entre os animais, protegendo a vida individual e coletiva, impedindo a propagação de agentes patogênicos no meio ambiente, zelando pelo bem-estar e pela ética na manutenção de fauna; impedindo que enfermidades de caráter zoonótico possam ser transmitidas às pessoas nos empreendimentos de fauna (técnicos, tratadores e ao público visitante) e por fim, salvaguardar a perenidade dos serviços públicos, impedindo ações judiciais trabalhistas devido manipulações insalubres de funcionários que ficam adequadamente protegidas por um sistema de medidas sanitárias protegendo o administrador e o erário público. Para a avaliação de ações e tomada de medidas mitigatórias é fundamental a identificação dos riscos biológicos mais prováveis, em função do possível táxon envolvido, considerando: fontes de exposição e reservatórios; vias de transmissão e de entrada; transmissibilidade, patogenicidade e virulência do agente; persistência do agente biológico no ambiente e estudos epidemiológicos ou dados estatísticos. Médicos veterinários de selvagens podem ainda participar de comitês e planos de manejo (ex-situ e in-situ) de espécies potencialmente ameaçadas, atuando não somente mitigando os riscos de enfermidades por propagação de agentes biológicos, mas também exercendo seu mister na proliferação dos animais, utilizando biotécnicas de reprodução, como inseminação artificial, fecundação in vitro, etc. Ao expor sua área de atuação, desejamos, desta forma, não somente enaltecer suas responsabilidades inerentes à fauna, mas com a própria saúde dos ecossistemas e dos biomas, aonde a saúde humana está também inserida. Lembremo-nos do comportamento ético que deve permear toda a nossa atuação, nossas relações com os colegas e da necessidade de criarmos mecanismos salutares de comunicação, de edificação da nobre profissão, com vistas à educação continuada, para a própria evolução e perenidade da medicina de animais selvagens no nosso país. A Associação Brasileira de Médicos Veterinários de Animais Selvagens se engalana e congratula os colegas médicos veterinários pelo dia 09 de setembro. Desejamos que nossas relações com os colegas sejam as mais respeitosas e profícuas possíveis. A importância da preservação dos animais tem sido cada vez mais discutida na atualidade. Com o aumento da preocupação com o meio ambiente e com os impactos da ação do homem na natureza, os estudos têm apontado que as consequências das extinções prematuras de espécies incidem diretamente sobre seus habitats e sobre a qualidade de vida das populações. A ação do homem, por meio da poluição, do desmatamento de habitats nativos, da introdução de espécies exóticas e até mesmo pela caça e comércio de animais silvestres, tem causado desequilíbrios nos biomas. De acordo com a Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) Artigo 29, Parágrafo 3º, a definição de animais silvestres é: “são espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras”. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta. O país contabiliza cerca de 20% do número total de espécies da Terra. Mas um grande problema avança no mundo inteiro: essa biodiversidade do planeta vem diminuindo num ritmo alarmante. De acordo com um relatório do The Living Planet Report 2016 (Planeta Vivo, em tradução livre), divulgado a cada dois anos pela Zoological Society of London (ZSL) e da organização ambiental WWF, a população de animais silvestres caiu 58% desde 1970. Pensando na linha da medicina veterinária que trata da conservação de animais silvestres, a professora da Faculdade Murialdo (FAMUR) Miuriel Goulart participou em Curitiba (PR), no mês de outubro, do XXVI Encontro da ABRAVAS. O congresso tratou da temática: “A medicina veterinária na conservação da biodiversidade”. Durante o evento, ela envolveu-se em diversas palestras e workshops sobre o manejo, o cuidado e a preservação dos animais silvestres. Miuriel destacou que o congresso é uma ferramenta enriquecedora de conhecimentos. “O encontro nos ajuda a ampliar a visão, é uma boa troca de experiências. Temos a vivência de todos os colegas médicos veterinários que trabalham nas mais diferentes áreas, pois o Brasil conta com mais de 20 mil espécies de animais silvestres”, contou. Mas como entender a diferença entre animais silvestres e animais domésticos? A professora explica que silvestres são animais que vivem em vida livre. Já os domésticos são os que vivem junto aos seres humanos. Assim, os animais silvestres não são animais para se ter em casa, eles são protegidos por lei como explica Miuriel. A única exceção a isso, é quando esse animal é criado em um cativeiro comercial autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Dessa forma, quando as pessoas compram esse animal autorizado, com ele vem uma autorização e nota fiscal. Por ser rico em biodiversidade, o Brasil enfrenta diversos problemas com o tráfico ilegal de animais silvestres. De acordo com a professora Miuriel, o tráfico de animais é o terceiro maior do mundo, só perde para o de pessoase armas. Ela ainda destaca que o Brasil também esbarra em problemas com a fiscalização, pela vastidão do país e falta de investimento. “Isso facilita o processo para o tráfico dos animais e torna o nosso país um alvo fácil”. Figura 4 Como é de se esperar, uma faculdade de veterinária não ensina seus estudantes a tratarem apenas de cães e gatos. Na verdade, a Medicina Veterinária abrange uma série de conhecimentos que vão desde a anatomia de diferentes espécies até a relação dos animais com a sociedade. No entanto, assim como os médicos para humanos se especializam em determinada área, um veterinário também pode optar por aprofundar seus estudos em um segmento específico ou em diferentes espécies de animais, como é o caso do veterinário de animais silvestres. Por exemplo, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o corte de asas em pássaros, com relação a criação e o clima ideal para alguns répteis ou até mesmo a respeito das melhores formas de se cuidar de pequenos roedores. Nesses e em mais diversos casos, um especialista na área, é mais do que essencial! Além de possuírem um conhecimento maior e mais aprofundado sobre esses pets, a atuação do médico veterinário em animais selvagens e silvestres, é focada nas necessidades e no bem-estar de aves, répteis, coelhos e roedores e alguns outros animais. Nesse sentido, a Dra. Mariana Pestelli, médica-veterinária da Petz, cita como exemplo a presença de sistemas antifuga para as aves nos consultórios, o uso de balanças de precisão e até salas de espera em que esses pets, que são presas na https://www.petz.com.br/blog/especies/aves/asas-de-passaros-cortar-ou-nao-cortar-as-penas-descubra/ https://www.petz.com.br/blog/especies/aves/asas-de-passaros-cortar-ou-nao-cortar-as-penas-descubra/ natureza, não ficam no mesmo ambiente que predadores, como cachorros e bichanos. Figura 5 Quando levar o pet para uma consulta? Uma das vantagens de ter um animal silvestre é que, em geral, eles dispensam cuidados como vacinação e vermifugação. No entanto, assim como ocorre com cães e gatos, a Dra. Mariana alerta que o ideal é levá-los para uma consulta no veterinário de animais silvestres ao menos uma vez por ano, e não somente quando eles estiverem doentes. Aliás, quando o assunto é a identificação de sintomas, a Dra. Mariana alerta que nem sempre é fácil reconhecer quando um desses bichinhos está doente. Isso porque, por serem presas, eles instintivamente tendem a esconder ao máximo quando não estão bem, para não chamar a atenção de predadores. No entanto, fique atento a sinais e a mudanças de comportamento, como falta de apetite, pet mais quietinho que o normal, prostração, entre outros. Ao notar qualquer um desses sintomas, agende o quanto antes uma consulta com um veterinário especializado! https://www.petz.com.br/blog/wp-content/uploads/2019/01/veterinario-de-animais-silvestres-iguana.jpg Figura 6 A quem recorrer em caso de emergência Caso o objetivo seja levar o pet somente para uma consulta de rotina, buscar um veterinário de animais silvestres. Já em caso de emergência, dependendo da cidade onde você mora, pode ser difícil encontrar uma clínica de pronto atendimento 24 horas especializada. Nessas situações, a Dra. Mariana orienta o tutor a levar o pet na clínica de confiança mais próxima. “Todo veterinário, independentemente de ser especialista ou não, pode fazer um atendimento emergencial”, diz. O Brasil é o país de maior biodiversidade do Planeta sendo o primeiro signatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) no mundo. Os biomas e ecossistemas brasileiros estão sofrendo com os impactos ambientais provocados principalmente pelas ações antrópicas (CERQUEIRA et al., 2005). Eles são representados por Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Campos Sulinos e Costeiros (mares, estuários, ilhas, manguezais, restingas, dunas, praias, falésias, costões rochosos e recifes de corais) (IBAMA, 2008). Neste resumo sugere-se a classificação das ações antrópicas em indiretas e https://www.petz.com.br/blog/wp-content/uploads/2019/01/veterinario-de-animais-silvestres-passaros.jpg diretas. As indiretas referem-se às ações gerais tais como desmatamento, poluição, queimadas e comércio extrativista. Já a ação direta pode ser representada pela ação nos indivíduos tais como caça, tráfico e captura para criação em cativeiro. Neste contexto, pretende-se incitar uma discussão sobre a promoção do bem-estar dos animais silvestres na conservação “in situ” e “ex situ”. O processo de fragmentação do ambiente existe naturalmente, mas tem sido intensificado pela ação humana. E considerando a fragmentação como a alteração de habitats, o resultado deste processo é a criação, em grande escala, de habitats ruins, ou negativos, para um grande número de espécies (CERQUEIRA et al., 2005). As florestas e oceanos também sofrem conseqüências danosas da ação humana. Segundo Harrison et al. (1988) existem três principais categorias de mudanças que têm se tornado freqüentes nas florestas do mundo: 1. A redução na área total da floresta; 2. A conversão de florestas, naturalmente estruturadas, em plantações e monoculturas e; 3. A fragmentação progressiva de remanescentes de florestas naturais em pequenas manchas, isoladas por plantações ou pelo desenvolvimento agrícola, industrial ou urbano. Figura 7 REFERÊNCIAS BALCOMBE,J. Animals & Society Courses : a growing trend in post-secondary education. Society & Animals, v.7, n º 3, 1999. BALLS,M. The production of genetically modified animals and humans : na inescapable moral challenge to scientists and laypeople alike. ATLA, v.26, p.1-2.1998. BERLINGUER,G. Questões da vida. Ética, Ciência, Saúde. São Paulo : Hucitec, 1993. CHRISTIANSEN,S.B.; SANDAE,P. Bioethics : limits to the interference with life. Animal Reproduction Science, v.60-61, p.15-29, 2000. COSTA, S.I.F.; DINIZ,D. Mídia, clonagem e bioética. Cadernos de Saúde Pública, v.16, n.1, p.155-162, 2000. DZIADEK,M. Transgenic animals: how they are made and their role in animal production and research. 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