Prévia do material em texto
FACULDADE ALPHAVILLE CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL RIVANDO JOSÉ CONCEIÇÃO DOS SANTOS VÍCIOS DE CONSENTIMENTO EM NEGÓCIOS JURÍDICOS: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DO NOVO CÓDIGO CIVIL Alagoinhas – Bahia 2022 https://faculdadealphaville.com.br/ FACULDADE ALPHAVILLE CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL VÍCIOS DE CONSENTIMENTO EM NEGÓCIOS JURÍDICOS: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DO NOVO CÓDIGO CIVIL Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade Alphaville como requisito para obtenção do diploma do Curso de Pós-graduação em Direito Civil e Processual Civil, sob orientação do professor Sandro Silva. Alagoinhas - Bahia 2022 https://faculdadealphaville.com.br/ DEDICATÓRIA ‘ Dedico esse trabalho a minha esposa, Evany Santos e a minha filha Rayane Santos, pelo incentivo, carinho e apoio irrestrito, propiciando mais uma vitória nesta minha caminhada. https://faculdadealphaville.com.br/ AGRADECIMENTOS À Deus, pela minha vida e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos encontrados ao longo do curso, além de todas as conquistas que possibilitou na minha vida! Aos meus pais, que me permitiram a vida. Aos irmãos, pelo processo interativo. Aos colegas, pelas trocas de experiências, pelo convívio, pelas alegrias e incertezas, por todos esses momentos vividos juntos e partilhados. Aos professores, pela disponibilidade de passar os conteúdos, subsidiando na minha formação profissional. Por fim, a todos que de alguma forma me ajudaram a vencer mais uma etapa da minha vida. https://faculdadealphaville.com.br/ “Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo.” [ Rui Barbosa ] https://faculdadealphaville.com.br/ SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7 1. BREVE REFLEXÃO SOBRE DEFEITOS DO NEGÓCIO JURIDICO ................... 11 1.1 A incidência do erro como um vicio de consentimento . Error! Bookmark not defined. 2. DESMONTANDO O CONCEITO DOS DEFEITOS JURIDICOS INTENCIONAIS .................................................... Error! Bookmark not defined. 2.1 Dolo como vicio de consentimento .................. Error! Bookmark not defined. 2.2 Coação como defeito juridico .......................................................................... 21 3. PROTEÇÃO JURIDICA PERPETRADA PELO NOVO CÓDIGO CIVIL ......... Error! Bookmark not defined. 3.1 Estado de Perigo: uma obrigação demasiadamente onerosa ...................... 27 3.2 Lesão como fator preponderante de nulidade................................................30 3.3 Invalidade do negócio juridico ......................................................................... 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 35 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36 https://faculdadealphaville.com.br/ RESUMO A presente monografia trata de um trabalho de conclusão do Curso da Pós-Graduação em Direito Civil e Processual Civil, para isso, se debruça sobre o tema: “Vícios de Consentimento em Negócios Jurídicos: Uma Análise sob a Perspectiva do Novo Código Civil”, para tanto, perpassa pelos vícios de consentimento ressaltando os defeitos jurídicos como: erro ou ignorância, dolo, coação, estado de perigo e lesão, apontando-os como elementos capazes de causar um desequilíbrio na consumação dos negócios jurídicos, haja vista o entendimento da possibilidade de interferência na manifestação da vontade real do agente por meio de fatores adversos da livre vontade. Nessa esteira pontua-se que o negócio jurídico válido é aquele que tem sua origem na dinâmica da vontade pratica do agente com fulcro no objetivo de produção de efeitos de acordo com a vontade das partes. Sendo assim, para a construção desse trabalho ressalta-se que foram tomados como referência a Legislação do Direito Civil hodierno brasileiro através de livros, artigos científicos, monografias e decisões proferidas nos tribunais superiores para o enfrentamento das demandas sociais contemporânea. Palavras-chave: Vícios de Consentimento. Defeitos Jurídicos. Novo Código Civil. Livre vontade. https://faculdadealphaville.com.br/ https://ava.faculeste.com.br/course/docencia-do-ensino-superior-e-teologia/ 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho visa discorrer sobre os vícios de consentimento em negócios jurídicos através de um olhar sob a perspectiva do Novo Código Civil, tendo em vista a percepção da existência da vontade espontânea para a real consolidação das atividades jurídicas, atentando para isso, o fato de que a vontade é tida como elemento indispensável para a consolidação dos atos e negócios jurídicos, além da necessidade de se observar os critérios da espontaneidade e da liberdade do sujeito. Nesse sentido pode-se perceber que o Novo Código Civil pontua de forma taxativa os vícios de consentimento exemplificando-os como: erro ou ignorância, dolo, coação, estado de perigo e lesão. Portanto, apontando-os como defeitos jurídicos capazes de causar desequilíbrios na consumação dos negócios lícitos, tendo em vista o poder de interferência na manifestação volitiva do agente negociador divergindo assim da vontade real do sujeito. Nesse aspecto, cabe ressaltar a existência de um fato jurídico, haja vista a percepção de uma ocorrência, seja de forma natural ou humana capaz de modificar ou extinguir direitos e obrigações, haja sabido que este: Abrange não apenas os acontecimentos naturais (fatos jurídicos em sentido estrito), mas também as ações humanas lícitas e ilícitas (ato jurídico em sentido amplo e ato ilícito), bem como aqueles fatos que, embora haja a atuação humana, esta é desprovida de manifestação de vontade, mas mesmo assim produz efeitos jurídicos (ato-fato jurídico). (NETO, 2016, p.01) Desse modo, pode-se afirmar que esse trabalho busca perpassar pela configuração dos vícios de consentimento nos negócios jurídicos, tendo em vista a questão das mudanças ocorridas no novo Código Civil que fora celebrado no ano de 2002, para tanto busca-se analisar os possíveis defeitos jurídicos que pode existir em um contrato celebrado. Ainda cabe ressaltar a existência dos vícios sociais como defeito jurídico, entretanto aqui por questões didáticas será reportado apenas aos vícios de consentimentos que podem ser percebidos através da simples constatação da análise de negócios jurídicos celebrados que não respeita a livre vontade do agente. Tendo em vista que: 8A ilicitude ocorre quando in concreto a pessoa se comporta fora desses padrões. Em sentido lato, sempre que alguém se afasta do programa de comportamento idealizado pelo direito positivo, seus atos voluntários correspondem, genericamente, a atos ilícitos (fatos do homem atritantes com a lei). Há, porém, uma idéia mais restrita de ato ilícito, que se prende, de um lado ao comportamento in jurídico do agente, e de outro ao resultado danoso que dessa atitude decorre para outrem. Fala-se, então, em ato ilícito em sentido estrito, ou simplesmente ato ilícito, como se faz no art. 186 do atual Código Civil. (JUNIOR, 2003, p.18) Por conseguinte, cabe ressaltar que o presente trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro capítulo intitulado Uma Breve Reflexão sobre Defeitos do Negócio Jurídico com o objetivo de apresentar, de forma breve, sob o olhar do Código Civil de 2002, os possíveis defeitos existentes no ordenamento jurídico vigente, possuindo como subdivisão o seguinte tópico: a incidência do erro como um vício de consentimento. Pois esse vício de consentimento incide sobre a falsa percepção da realidade produzida por tal defeito jurídico, além de perpassar pela questão da “ignorância” em que o agente não tem conhecimento algum da realidade, para tanto se debruça sobre o artigo 138 do Código Civil. Já o segundo capítulo tem como título, Desmontando o conceito dos Defeitos Jurídicos Intencionais com os seguintes desdobramentos: dolo como vicio de consentimento e coação como defeito jurídico. Contudo, acerca do dolo, por tratar-se também de uma falsa percepção da realidade, entretanto, tendo sua diferença pautada na percepção de ser desviada por outra pessoa. Sendo assim, sobre esse instituto, esse capitulo discorre sobre o fato de que o agente é assessorado por outra pessoa, assim levado a ter uma falsa percepção da realidade. Todavia, no caso do defeito jurídico “coação” tem-se sua característica pautada sobre, em um caso concreto, tem sua aplicabilidade recheada de pressão psicológica, além de possibilitar a probabilidade de progressão para ameaças físicas e com isso forçando o agente a celebrar negócios jurídicos contra a vontade, assim anulando a espontaneidade do sujeito, para tanto far- se-á menção ao artigo 151 do código civil de 2002. Enquanto no terceiro capítulo será apresentado ao leitor uma discursão sólida com o título de Proteção Jurídica perpetrada pelo Novo Código Civil, 9 tendo como subdivisão: Estado de Perigo: Uma Obrigação Demasiadamente Onerosa, Lesão como fator preponderante de nulidade em negócios jurídico e invalidade do negócio jurídico. De tal modo, que será arrazoado sobre a questão do defeito jurídico “estado de perigo” através de uma análise sobre o fato do agente ser impelido a realizar um negócio jurídico com fito em salvar ou resguardar sua vida ou de alguém da sua família, nesse caso, será voltado o olhar para artigo 156 do código civil. Além disso, o capitulo também discorre sobre a “lesão” que também se pauta na questão da realização de negócio jurídico, no entanto, nesse caso, verifica-se que tal ato se dá por inexperiência ou por necessidade, tornando-se extremamente dispendioso em conferição com a contraprestação que receberá, como discorre o artigo 57 do código civil. Diante do exposto, percebe-se que o Novo Código Civil traz em seu bojo institutos singulares com o objetivo de proteger as partes envolvidas em um negócio jurídico de possíveis abusos que possam advir na celebração de um contrato, portanto trazendo a possibilidade de nulidades a negócios jurídicos que porventura contenha vícios de consentimento. Destarte, pode-se afirmar que essa monografia tem como objetivos fazer uma reflexão da grande importância dos defeitos que podem afetar os negócios jurídicos, tendo em vista que o tema aqui discutido alcança as relações jurídicas patrimoniais que permeia o cotidiano da sociedade. Desse modo, ficando perceptível a relevância de se conhecer as normas legais que gerem tais institutos através do Código Civil 2002, para que assim, haja maior segurança jurídica. Portanto: Nesse sentido, a criação de deveres jurídicos anexos e recíprocos que perpassam as obrigações principais fixadas pelas partes é consentânea com a imposição de condutas pautadas pela ética, lealdade, informação e cooperação, exigido que as partes adotem práticas que cumpram o escopo do contrato e evitando aspirações não legítimas por quaisquer dos contratantes. (Konder; Oliveira, 2020, p.17) Sendo assim, será trabalhado a problemática do pensamento pós- moderno no que se reporta a licitude no negócio jurídico pela superação dos defeitos positivados no Código Civil, fator que ainda desafia tanto a 10 jurisprudência como também os doutrinadores, tendo em vista a grande capacidade desses vícios comprometerem as relações negociais. Desse modo, essa pesquisa se justifica pela necessidade cogente de conhecer a legislação que rege o país e suas atualizações para que se possa ter maior segurança nas relações jurídicas sociais, tendo em vista as constantes transformações da humanidade, de tal modo que para buscar responder a essa inquietação foi-se lançado mão da pesquisa exploratória, através de levantamento bibliográfico e cientifico. Para tanto, buscou-se investigar a legislação brasileira do Direito Civil hodierno através de livros, artigos científicos, monografias e decisões proferidas nos tribunais superiores para o enfrentamento das demandas sociais hodierna. Por fim, tem-se as considerações finais, onde busca-se deixar em evidência o fato de que se pode ainda ampliar a discussão sobre o tema em questão e que as conclusões aqui chegadas são, também, inconclusivas visto que a sociedade contemporânea sofre constantes mutações e o entendimento do direito busca-se molda-se a realidade da sociedade em transformação. Ainda cabe informar ao amigo (a) leitor (a), que essa monografia, diante da complexidade do contexto pesquisado, não tem a pretensão de esgotar o assunto, portanto, ressalta-se que por questões metodológicas de delimitação, para que fosse possível dá conta desse trabalho, buscou se ater aos principais episódios dos defeitos em negócios jurídicos, através dos principais teóricos encontrados sobre o assunto. 11 1. BREVE REFLEXÃO SOBRE DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO A partir de uma análise sobre a eficácia do negócio jurídico observa-se de início a necessidade da real existência da declaração da vontade, posteriormente busca-se saber se essa declaração seguiu o rito legal do ordenamento jurídico, portanto verifica-se se para isso não sofreu interferências no sentido de examinar possíveis coercibilidades ou ambiguidades no contrato, tendo em vista a percepção de que a manifestação da vontade de forma espontânea e livre em um negócio jurídico representam elementos essenciais para a efetivar a legalidade de uma relação negocial. Portanto, cabe dizer que: O conceito de negócio jurídico é, na interessante observação de um autor, “o momento final de uma sequência que parte da mais ampla categoria do fato jurídico e, procedendo por classificações sucessivas, chega primeiramente à subcategoria do ato jurídico e, em seguida, àquela do negócio jurídico”. (GOMES,1983, p. 79) Sendo assim, percebe-se a necessidade de clareza nas relações negociais para que possa ter validade incontestável e livre de vícios, haja vista que os defeitos no negócio jurídico podem causar invalidade na transação comercial, já que é sabido que um negócio jurídico viciado pode alterar os efeitos desejados afastando, dessa forma, as partes do princípio da legalidade que aprecia a autonomia do agente. Pois: Agarantia constitucional da autonomia privada dirige-se àqueles atos de iniciativa particular que implicam relações com outros sujeitos na esfera patrimonial e se praticam através de negócios jurídicos, designadamente de contratos, tal como disciplinados nos Códigos e em algumas leis especiais. (GOMES, 1983, p. 83) Nesse sentido, pode-se afirmar que os defeitos jurídicos também podem ser chamados de vícios jurídicos por trata-se de imperfeições que podem ocorrer devido às aberrações na construção da vontade do agente ou até mesmo na declaração da vontade de uma das partes, fator esse, que tem capacidade de tornar-se um negócio jurídico relativamente ou absolutamente nulo. 12 Nessa perspectiva, podem-se apontar dois tipos ou espécies de vícios ou defeitos jurídicos, assim podendo ser nomeados como: vícios de consentimento e vícios sociais, em que os vícios de consentimento são tidos como aqueles voltados a questão da vontade das partes, portanto quando a manifestação da vontade não é vista de forma plenamente livre e espontânea, nesse caso, são tidas como sendo: erro ou ignorância, dolo, coação, estado de perigo e lesão. Enquanto, os vícios sociais são vistos como aqueles relacionados com a questão da boa-fé, portanto existe nesse caso a manifestação da vontade, embora esta se encontre diversa dos princípios legais preestabelecidos no nosso ordenamento jurídico, logo pode-se afirmar que os vícios sociais estão permeados de intenções ruins, por conseguinte podendo ser classificados como: fraude contra credores e simulação. Sendo a assim, pode-se afirmar que para o direito positivado, retificado e ratificado pelo Novo Código Civil (NCC) o que de fato interessa sobre o negócio jurídico é a questão de ser considerado válido ou invalido, para isso, devendo ser observado as condições em que aconteceu tal ato, para então poder produzir seus efeitos em obediência ao que se espera como efeito jurídico. 13 1.1 A INCIDÊNCIA DO ERRO COMO UM VÍCIO DE CONSENTIMENTO No que se refere a questão do erro como vicio de consentimento pode-se afirmar que no direito civil tal instituto é tido como uma falsa percepção da realidade, assim sendo, nesse caso, não há uma terceira pessoa, já que o agente não é levado a falsa percepção da realidade por ninguém ou seja engana-se. No entanto, embora seja esse instituto um vício com previsão legal nos artigos 138 a 144 do Código Civil, verifica-se que não existem muitas demandas de ação em juízo anulatórias, tendo em vista a questão da dificuldade de construção de provas que demonstre tal ato, tendo em conta trata-se de algo muito íntimo do agente, portanto não sendo assim externado o que se passou na mente do agente quando da celebração negocial, tendo em vista a sua capacidade de participar em um negócio jurídico. No entanto, é sabido que: A capacidade de ser parte, permitida a toda pessoa natural, foi diferenciada da capacidade processual (ou capacidade de estar em juízo) e da legitimação ad causam. O pedido, considerado pelos italianos como l’oggetto dell’azione, assume, também, um papel de grande relevância como um dos elementos identificadores da ação, já que é nos seus exatos limites que o julgador deverá decidir a causa. (CHEKER, 2014, p. 10) Assim sendo, pode-se afirmar que não existe diferença entre erro e ignorância, pois a distinção acontece simplesmente de forma doutrinária pautando o erro como o desconhecimento de forma parcial enquanto a ignorância é tida como o desconhecimento total, porém os efeitos na prática não diferem. Desse modo: O erro difere-se de alguns institutos como a ignorância, (por mais que sejam equiparados seus efeitos) vício redibitório, falso motivo e interesse negativo. Para a nova teoria do erro, não se avalia mais o critério da escusabilidade mas sim o da cognoscibilidade. O grande equívoco da nova teoria é que o erro é confundido com o dolo, que são institutos diferentes por mais que ambos tornem o negócio anulável. Portanto, o critério que o nosso código civil de 2002 adotou foi da escusabilidade e não da cognoscibilidade, no qual é consagrado em seu artigo 138. (OLIVEIRA; TEBAR, 2015, p. 14) 14 Nesse sentido, pode-se até afirmar que para se ter um negócio jurídico em uma situação anulatória é preciso ser substancial, escusável e real, assim nesse caso verifica-se a necessidade de se ponderar nos citados quesitos, portanto no instituto substancial recai sobre o fato da incidência da causa do negócio jurídico que se pratica, visto que sem a qual o negócio jurídico não teria sido realizado, ou seja, o fato da existência de uma compra de um objeto com a crença de ser outro ou ser de outra constituição, mas ainda: Assim, a possibilidade de o autor ter a sua demanda acolhida, como bem destaca Leonardo Greco, “é aferida a partir dos fatos afirmados pelo autor, in statu assertionis, porque se desses fatos categoricamente não puder vir a resultar o acolhimento do pedido, o autor deverá ser julgado carecedor da ação”. (CHEKER, 2014, p. 29) Já no quesito escusável pode-se afirmar que se trata de uma comparação a respeito da atitude do agente em relação a conduta do padrão do homem médio, logo se busca analisar a percepção da maioria das pessoas em relação ao fato concreto. “Este “homem médio”, portanto, representa uma abstração criada pelo Direito, para que sirva de parâmetro quanto à realização/concretização ou não do dever objetivo de cuidado e quanto à ocorrência ou não da culpa imputável. “ (GRANT, (2010?) p. 1615). Enquanto no quesito real refere-se ao fato do erro ter, de certo modo, produzido um prejuízo de forma concreta ao sujeito. Entretanto, percebe-se que o vício no negócio jurídico pode ter convalescimento, ou seja, se o erro não produzir prejuízo no negócio jurídico que fora acertado, tal vicio não causará anulabilidade a situação concreta, fato que pode ser visto no artigo 144 do Código Civil que diz: “O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. ” No entanto, cabe pontuar que o código civil de 1916 rezava a possibilidade de invalidar uma declaração de vontades destinadas a um efeito jurídico, pois no caso de anulabilidade de um negócio jurídico o erro precisava ser escusável, embora o texto positivado não possuísse tal exigência expressamente, contudo a doutrina recaia sobre essa compreensão, entretanto o erro esdrúxulo não causava anulabilidade. Portanto, se tem o entendimento que: 15 O Código Civil de 1916 era omisso quanto ao erro de direito, gerando controvérsia na doutrina. CLÓVIS BEVILÁQUA, dentre outros, refutava essa espécie de erro, com base no art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657/42): ninguém pode se escusar de descumprir a lei alegando seu desconhecimento. (FERREIRA, (2010?), p.06) Nesse sentido o código civil de 2002 reforça esse entendimento quando traz no artigo 138 a declaração de escusabilidade desse defeito jurídico, dizendo que “ São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. ” Ainda sobre esse assunto o artigo 140 do código civil esclarece que quando expresso como razão determinante o falso motivo vicia a declaração da vontade no negócio jurídico, tendo em vista a seguinte redação do artigo, preceituando que “O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. ”16 2. DESMONTANDO O CONCEITO DOS DEFEITOS JURÍDICOS INTENCIONAIS No que concerne a questão dos defeitos jurídicos intencionais, nesse capitulo, referir-se, tão somente, ao dolo e a coação, tendo em vista, que o Código Civil conduz o agente ao entendimento conceitual de que tais institutos são tidos como vícios de consentimentos, portanto capazes de contaminar um negócio jurídico válido, podendo advir de uma relação negocial formada por duas ou mais pessoas com intuito de adquirir, alterar ou até mesmo abolir direitos e obrigações. Portanto, cabe dizer que, embora na elaboração de um negócio jurídico haja a necessidade do respeito a manifestação da vontade das partes envolvidas, sendo desse modo, tidas em via de regra, como bilaterais ou plurilaterais, entretanto, pode-se afirmar que esses defeitos jurídicos induzem, de certo modo, a formação negocial através da manifestação unilateral de vontade, por meio de anulação da espontaneidade da outra parte por fatores reprováveis juridicamente. Nesse sentido percebe-se que há anulabilidade da vontade de uma das partes, embora se saiba que a vontade plena e espontânea das partes sejam elementos indispensáveis na efetividade legal do negócio jurídico, haja vista o apontamento da necessidade da manifestação idônea da vontade na atividade jurídica, logo qualquer contaminação é tida como verdadeiras anomalias. Destarte, tem-se a divisão desses defeitos jurídicos, porquanto o dolo é tido como um artificio malicioso usado para induzir o agente a concluir um negócio jurídico desvantajoso, por isso pode ser classificado como: dolo principal e dolo acidental. De tal modo, que pode-se afirmar que o dolo principal (dolus causans dans contratui) trata-se do instituto que é a causa peremptória da ratificação do negócio jurídico, enquanto o dolo acidental refere-se a situação em que o negócio jurídico seria realizado independente desse vicio, embora o comportamento do outro tenha influenciado na concretização negocial. Portanto, cabe afirmar que: 17 A boa fé é princípio que, mesmo em relações desequilibradas como as de consumo, se aplica a ambas as partes, e assim seria abusivo, por sua vez, impugnar um negócio pela ausência de uma informação que não estivesse diretamente vinculada ao negócio ou que já devesse ser de conhecimento da outra parte. Neste sentido, já a doutrina tradicional indicava uma distinção entre dois tipos de dolo: o dolus bônus e o dolus malus. Enquanto este seria idôneo, de fato, a permitir a anulação do negócio, aquele não importaria perturbação no negócio jurídico. O dolus bônus seria um dolo admissível, a simples solércia, a astucia usual que, na vida real, faz parte dos negócios jurídicos. (OLIVEIRA et al, 2011, p. 622) Enquanto a coação é tida como um certo tipo de pressão, seja física, seja psicológica, portanto, “Cabe recuperar aqui a distinção tradicional entre vis absoluta e vis compulsiva. A primeira é a violência física, em que o agente é literalmente forçado a assina, falar ou sinalizar, de qualquer forma, a sua declaração. ” (OLIVEIRA et al, 2011, p. 625) Assim sendo, “A vis compulsiva é que caracteriza a coação defeito do negócio jurídico, diante da pressão exercida para que concorde, a declaração é perturbada, mas sem que haja a total aniquilação da vontade. ” (OLIVEIRA et al, 2011, p.625) Desse modo, fica evidente que a coação tem por finalidade obrigar a vítima a praticar atos jurídicos indesejáveis, ou seja, forçada a realização de negócio jurídico, cuja classificação pode-se também receber o nome de: coação absoluta e de coação relativa ou moral. Sendo assim, “Exige-se ainda, para caracterizar a coação que vicio do negócio jurídico, que o dano ameaçado seja iminente e considerável. Iminente seria o dano prestes a acontecer e que, portanto, não haveria como evitá-lo, a não ser celebrando o negócio indesejado. (OLIVEIRA et al, 2011, p. 627) 18 2.1 DOLO COMO VICIO DE CONSENTIMENTO Acerca desse defeito do negócio jurídico percebe-se que o Código Civil não traz em seu bojo um conceito taxativo no rol dos seus artigos, posto isso, fica perceptível que nesse documento positivado, tão somente, indica as pressuposições de negócios jurídicos que podem ser anulados. No entanto é sabido que o dolo no direito civil se trata de estratagemas com o objetivo de induzir o sujeito ao erro, visando obter vantagem pessoal ou para terceiro na realização do negócio jurídico. Dessa forma, percebe-se que o dolo se diferencia de o erro pelo fato desse defeito ser motivado por um terceiro com o objetivo de obtenção vantajosa, enquanto o erro se pauta, tão somente, em um equívoco do agente através de uma interpretação errônea, portanto sem motivação de uma terceira pessoa. Assim, cabe pontuar que “O dolo também pode ser dividido em dolus malus e dolus bonus. O dolus malus é a regra, é o dolo que gera anulabilidade.” (FERRREIRA, (2010?), p. 12) Além dessa diferenciação pode-se pontuar também como um outro fator preponderante para o aparecimento do dolo através do erro é a questão do silêncio propositado, ou seja, a percepção do erro por uma das partes de um negócio jurídico sem, contudo, alertar a outra parte envolvida sobre o percebido equívoco, tendo em conta a necessidade da livre vontade, de forma consciente, está presente na realização do negócio jurídico. Tendo em vista que: A vontade é a mola propulsora dos atos e dos negócios jurídicos. Essa vontade deve ser manifesta ou declarada de forma idônea para que o ato tenha vida normal na atividade jurídica e no universo negocial. Se essa vontade não corresponder ao desejo do agente, o negócio jurídico torna-se susceptível de nulidade ou anulabilidade. (AQUINO, 1013, p. 01) Portanto, cabe dizer que o dolo é tido como um tipo de conduta eivada de malicias por uma das partes ou até mesmo de uma terceira pessoa com finalidade diversa dos basilares legais, portanto capaz de conduzir o outro a erro fazendo despontar na parte uma vontade desfavorável, ou seja enganando-o. 19 No entanto, a doutrina tende a atentar para a análise do caso concreto. É preciso que o dolo induza o consumidor em erro. Se o vendedor afirma que o produto é o melhor do mundo, tal afirmação não deve ser apta a induzir o consumidor em erro, configurando-se o dolus bonus. Por outro lado, se o vendedor afirma que o produto tem 92% de aceitação popular, quando ele possui apenas 20%, o consumidor pode ser induzido em erro, configurando-se dolus malus. (FERRREIRA, (2010?), p. 12) Nesse aspecto tem-se o Novo Código Civil com a previsão desse defeito jurídico e suas possíveis consequências como pode ser visto no artigo 186 que preceitua dizendo assim, “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. ” Assessorado pelo artigo 171 que preceitua: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Além de regular a obrigatoriedade de reparação do dano no caso do dolo, como se vê: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmentedesenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Desse modo, verifica-se nitidamente a diferença entre o erro e o dolo, tendo em vista que esse último é resultante de um comportamento maldoso de um indivíduo, portanto, o Código Civil vigente buscou pautar seus preceitos na ética e na lealdade, assim trazendo em seus artigos a possibilidade do reconhecimento do negócio válido, tão somente, pela manifestação real da livre vontade do sujeito. Assim sendo, tornando anuláveis os negócios jurídicos que não satisfazerem esses requisitos, como pode ser visto nos artigos 145 aa 150: Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. 20 Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. Ficando perceptível a possibilidade de invalidação do negócio jurídico até mesmo por dolo diminuto, tendo em vista o prejuízo da liberdade de escolha de forma consciente, devido a distorção da realidade intencionalmente, assim fazendo com que a vontade seja manifestada de forma inconsciente. No entanto, diante do exposto fica perceptível que: Nem sempre é o beneficiário que pratica o dolo, mas sim um terceiro. No caso de dolo de terceiro, a determinação se o negócio jurídico será anulável ou não dependerá do conhecimento do beneficiário: Beneficiário conhecia – Negócio Jurídico Anulável Beneficiário não conhecia – Negócio Válido, mas o terceiro que praticou o dolo responderá pelas perdas e danos. (MENDONÇA, 2014, p. 05) Além disso, percebe-se que em um negócio jurídico há uma exigência da atuação da boa-fé objetiva, ou seja, há existência da intolerância ao comportamento ilícito em um negócio jurídico como pode se ver no artigo 423 do Código Civil que prescreve dizendo: “Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. ”. 21 2.2 COAÇÃO COMO DEFEITO JURÍDICO No caso da coação pode-se afirmar que esse vício jurídico é caracterizado por pressão, seja ela de ordem psicológica ou de ordem moral, nessa perspectiva a coação pode ainda ser vista como ameaças ao sujeito ou a um membro familiar visando forçar o agente a praticar determinado negócio jurídico. Diante dessa análise pode-se classificar a coação como absoluta ou relativa em que a absoluta debruça seu olhar sobre a coação física, assim retirando do sujeito toda e qualquer possibilidade de escolha de forma espontânea, portanto contaminando o negócio jurídico, logo dando origem a nulidade absoluta. Já a coação relativa trata-se da coação moral que é praticada de forma psicológica, portanto, nesse caso causando grande influência sobre o indivíduo, entretanto, a vontade do sujeito não é totalmente eliminada, consequentemente cabendo ao agente decidir praticar o ato jurídico ou enfrentar a possibilidade de torna-se vítima de ameaças intimidatórias. Vejamos o entendimento jurisprudencial sobre a existência da coação moral na hipótese de superendividamento do agente, diante da sua hipossuficiência, tomando por base o acórdão do Tribunal de Justiça do Rio grande do Sul: APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE NULIDADE DE DÉBITO CUMULADA COM PEDIDO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS. QUANTUM. SUPERENDIVIDAMENTO. HIPOSSUFICIÊNCIA. CONCESSÃO DE CRÉDITO IRRESPONSÁVEL. DEVER DO CREDOR DE MITIGAR OS PRÓPRIOS PREJUÍZOS. - SENTENÇA ULTRA PETITA - questão de ordem pública reconhecida, desconstituindo-se parcialmente a decisão de ofício. Reconhece-se que a sentença é ultra petita ao extinguir os contratos objeto da presente demanda, pois tal pedido não foi formulado na inicial. Sendo vedado ao julgador o reconhecimento de abusividade ou legalidade de cláusulas, de ofício, em contratos bancários, sendo necessária a especificação das cláusulas tidas por abusivas. Exegese da Súmula n. 381 do STJ. Redução aos limites em que a ação foi proposta, ficando prejudicada a análise quanto à extinção do contrato. Inteligência dos arts. 128 e 460 do CPC. - SUPERENDIVIDAMENTO: Superendividamento caracterizado no caso concreto. Situação de hipossuficiência da autora devidamente comprovada e da concessão, por parte da ré, de crédito de forma irresponsável. Nulidade de contratações sucessivas para cobrir saldo devedor, realizadas sob o manto da coação moral. Instituição bancária que concede crédito sem averiguação da capacidade econômica do consumidor, contrata sob a égide da temeridade ou alto risco, devendo arcar com os prejuízos daí resultantes. Culpa in iligendo e in vigilando 22 que de forma flagrante e incontroversa qualifica a relação contratual das partes litigantes. Concessão de crédito a quem não tem condições de realizar sua prestação obrigacional, importa em contratação viciada principalmente em razão de simular e induzir em erro o cliente fazendo parecer que terá ele condições de pagamento. Situação de lesão irreversível ao consumidor. Conduta contratual das instituições bancárias que estabelecem extrema facilidade na concessão de crédito de consumo, sem quaisquer exigências de garantia. O Estado- Juiz tem a responsabilidade de dar os parâmetros para as contratações, no sentido de apresentar limitações ao direito de contratar das instituições bancárias, que devem ser responsabilizadas na medida de sua conduta imprudente de propor crédito com tantas facilidades, colocando em risco a própria perfectibilização do contrato, diante da incapacidade flagrante de pagamento do contratante. Dever de mitigar os próprios danos não observado. Enunciado n. 169 da III Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal. - DO QUANTUM INDENIZATÓRIO: o montante fixado pelo juízo singular está de acordo com os parâmetros estabelecidos por este Tribunal em casos semelhantes, devendo ser mantida a indenização ali arbitrada. - DANOS MATERIAIS E DEVOLUÇÃO DE VALORES: a cobrança indevida enseja repetição do valor pago em dobro quando não há prova de erro justificável. Aplicação do parágrafo único do art. 42 do CDC. - SUCUMBÊNCIA: mantidos os ônus sucumbenciais. DESCONSTITUÍDA EM PARTE A SENTENÇA, FOI PROVIDO PARCIALMENTE O RECURSO DA AUTORA E, POR MAIORIA, PROVIDO EM PARTE O RECURSO DO RÉU.(Apelação Cível, Nº 70060010568, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Paula Dalbosco, Julgado em: 25-11-2014) (grifo nosso). No entanto, há possibilidade de exige-se para o reconhecimentoda existência da coação relativa e assim poder, de certo modo, anular o negócio jurídico algumas características como, por exemplo: deve ser causa determinante do negócio; ser grave; ser injusta; dizer respeito ao dano atual e iminente; e/ou ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoa de sua família. Contudo, pela teoria tradicional, que persiste ao lado da tese kelseniana, a coação é nódoa que pode macular até irremediavelmente o ato jurídico em qualquer dos ramos do Direito, nacional e internacional, seja público ou privado, tanto substantivo como processual. (VASCONCELOS, 2010, p. 396) Nesse aspecto, tem-se a coação como um dos defeitos jurídico mais gravoso, haja vista a possiblidade de, em alguns casos, existir agressão física, pois prevalece o entendimento que uma vontade manifestada devido a algum tipo de coação não corresponde a livre vontade. Portanto, pode-se afirmar que: 23 Em relação à causa determinante do ato, deve haver uma relação de causalidade entre a coação e o ato extorquido, ou seja, o negócio deve ter sido realizado somente por ter havido grave ameaça ou violência, que provocou na vítima fundado receio de dano à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens. Sem ela, o negócio não se teria concretizado. (SOUZA; JOBIM, 2020, p. 10) Ainda cabe pontuar que além dos possíveis efeitos jurídicos que pode advir desse tipo de vicio de consentimento há também de se mencionar a questão das consequências nocivas ao psicológico da vítima, já que se trata de um tipo de ameaça aos direitos individuais do sujeito. Nessa esteira, em análise a um caso concreto, pode-se aqui fazer menção ao acórdão também do Tribunal de justiça do Rio Grande do Sul, que acabou por entender a existência de coação moral exercida por uma certa igreja evangélica sobre uma determinada fiel para que esta dizimasse, ou seja, fizesse doações em prejuízo ao patrimônio, portanto, considerado como um vício de consentimento. Assim, apontando a inaceitabilidade da prestação do dizimo em decorrência de sanções religiosas através de discursos subliminares ameaçador, portanto para melhor compreensão vejamos o acordão: “Responsabilidade civil. Doação. Coação moral exercida por discurso religioso. Ameaça de mal injusto. Promessa de graças divinas. Condição psiquiátrica preexistente. Cooptação da vontade. Dano moral configurado. Indenização arbitrada. 1. Análise do artigo 152 do Código Civil. Critérios para avaliar a coação. A prova dos autos revelou que a autora estava passando por grandes dificuldades em sua vida afetiva (separação litigiosa), profissional (divisão da empresa que construiu junto com seu ex-marido), e psicológica (foi internada por surto maníaco, e diagnosticada com transtorno afetivo bipolar). Por conta disso, foi buscar orientação religiosa e espiritual junto à Igreja Universal do Reino de Deus. Apegou-se à vivência religiosa com fervor, comparecia diariamente aos cultos e participava de forma ativa da vida da igreja. Ou seja, à vista dos critérios valorativos da coação, nos termos do art. 152 do Código Civil, ficou claramente demonstrada sua vulnerabilidade psicológica e emocional, criando um contexto de fragilidade que favoreceu a cooptação da vontade pelo discurso religioso. 2. Análise dos arts. 151 e 153 do Código Civil. Prova da coação moral. Segundo consta da prova testemunhal e digital, a autora sofreu coação moral da igreja que, mediante atuação de seus prepostos, desafiava os fiéis a fazerem doações, fazia promessa de graças divinas, e ameaçava-lhes de sofrer mal injusto caso não o fizessem. No caso dos autos, o ato ilícito praticado pela igreja materializou-se no abuso de direito de obter doações, mediante coação moral. Assim agindo, violou os direitos da dignidade da autora e lhe casou danos morais. Compensação arbitrada em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), à vista das circunstâncias do caso concreto. 3. Multa por 24 litigância de má-fé afastada. 4. Redefinida a sucumbência. Recurso da autora conhecido em parte, e nessa parte, provido parcialmente. Prejudicado o recurso da ré. Unânime” (TJRS, Apelação Cível 583443- 30.2010.8.21.7000, Esteio, Nona Câmara Cível, Rel.ª Des.ª Iris Helena Medeiros Nogueira, j. 26.01.2011, DJERS 11.03.2011) (grifo nosso). Entretanto cabe ressaltar que não é considerada coação pelo ordenamento jurídico brasileiro quando se trata do exercício regular do direito, portanto pode-se afirmar que uma ameaça pode ser considerada dentro do princípio da legalidade, sendo possível exemplificar nesse caso quando alguém ameaça acionar a justiça para dirimir uma lide, pois esse tipo de ameaça é considerada justa. Isso pode ser percebido na leitura do artigo 153 do código civil que diz “Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. ”. Dessa forma verifica-se que a coação é tida como um vício de manifestação diversa da natureza do vício do erro e do dolo. Sendo assim, na questão da coação verifica-se que esse defeito afeta a autonomia do sujeito através do medo e do temor em que evidencia algum tipo de violência como instrumento norteador de maculação da declaração da vontade. Vejamos o artigo 51 do Código Civil: Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Ainda cabe mencionar o dispositivo na lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002 com a instituição do Código Civil prescrevido pelo artigo 171, ll, para melhor compreender essa questão da anulabilidade que diz: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Nesse sentido, pode-se ser percebido que a coação moral na atual legislação é também chamada de vis compulsiva cuja característica é tida como qualquer tipo de amaças contra um sujeito, seja contra a honra ou contra os bem 25 materiais, portanto pode-se até afirmar a existência de uma certa dubiedade quanto a questão de tê-la como um simples vício de consentimento por ser resultando em um negócio jurídico sobre pressões físicas ou morais, assim anulando a vontade do sujeito. Diante do exposto, pode-se destacar que a coação como defeito jurídico implica na possibilidade de anulação de um negócio jurídico que pode ser combatida pela parte molestada em um prazo decadencial de quatro anos, haja vista a percepção do vicio por meio de ameaças coercitivas. 26 3. PROTEÇÃO JURÍDICA PERPETRADA PELO NOVO CÓDIGO CIVIL É certo afirmar que diante da busca preponderante por segurança jurídica, tendo ciência do surgimento de possíveis defeitos jurídicos numa celebração negocial, em que se tem várias facetas apresentadas em um negócio jurídico que podem se formar através de divergências da livre manifestação da vontade real, afastando-os as partes da essência do efeito desejado, deu-se origem ao novo Código Civil através da Lei 10.406/2002. Portanto, pode-se pontuar, no que se refere a questão da limitação contratual no novo Código Civil, que embora essa nova norma admita um certo tipo de liberdade aos contraentes, no entanto impõe-vos a observação dos princípios como: da probidade e da boa-fé e assim se adequando a novadinâmica do direito positivado. Assim, a antiga norma norteada pelo princípio “pacta sunt servanda” expressão em latim significa “os contratos devem ser cumpridos” disciplinando a obrigatoriedade dos pactos dos negócios jurídicos considerando-os lei para as partes foi aprimorado na hodiernidade, assim podendo-se afirmar que atualmente os contratos são disciplinados pelo princípio “rebus sic standibus”, expressão em latim pode ser traduzido como “estando assim as coisas”. Portanto, pode-se afirmar sobre essa cláusula que disciplina os negócios jurídicos atuais que trata tal questão pelo entendimento de que as obrigações, somente terão validade, enquanto a coisa ou situação estiverem nas mesmas condições que deram origem ao ato jurídico. Entretanto, cabe ressaltar que essa teoria norteadora está intimamente ligada a teoria da imprevisão, já que é sabido que tal proposição visa a proteção dos contratantes em situações inesperadas, tendo em vista a existência de contrato longos em que fica susceptível a mudanças durante a validade de um contrato. Assim sendo, pode-se afirmar que a cláusula rebus sic stantibus comporta a resolução de situações que foram, pelo passar do tempo alteradas, e, portanto, não eram previstas quando o negócio jurídico fora formalizado, podendo então ser revisados pelas partes para que desse modo seja possível garantir o acordado. “Consequentemente, a imprevisão tende a alterar ou a excluir a força obrigatória dos contratos. ” (LYNCH, 2009, p. 14) 27 3.1 ESTADO DE PERIGO: UMA OBRIGAÇÃO DEMASIADAMENTE ONEROSA O defeito jurídico “estado de perigo” é percebido quando o agente realiza negócio jurídico visando livrar-se de um dano muito grave por estar em condições excessivamente onerosas. Pois, nesse caso, o agente está influenciado por tamanha circunstância antagônica capaz de induzir o sujeito a praticar negócio jurídico por grande pressão psicológica. Destarte: Não se pode esquecer, entretanto, que, atualmente, o negócio jurídico deixa de ser instrumento exclusivo da liberdade individual e passa a ser encarado como importante fator de equilíbrio social, no sentido de que só os atos de iniciativa privada, considerados idôneos, podem compor o suporte fático da espécie negocial que tem validade na tutela da ordem jurídica e de que os vícios de consentimento foram ampliados para a proteção dos contratantes hipossuficientes por meio do estado de perigo (art. 156) e da lesão (art. 157). (FARIAS, 2004, p. 241) Nesse sentido, pode-se pontuar como elementos característicos do estado de perigo o surgimento das seguintes características: perigo de dano grave e atual; obrigação excessivamente onerosa; perigo deve ter sido a causa do negócio e que a parte contrária tenha ciência da situação de perigo e dela se aproveita. Portanto, “Torna-se importante esta análise, pois o disposto no art. 156 da Lei 10.406/ 2002 constrói-se pela prática do Direito, por tratar-se de cláusula geral. Mostra-se fundamental a apreciação de outras fontes além da legislativa. ” (FARIAS, 2004, p. 239) Diante disso, pode-se afirmar que a diferença principal entre o estado de perigo e a coerção é o fato de, no caso de estado de perigo, não haver constrangimento, conquanto nesse último ser evidente tal característica, portanto confirmado a situação de estado de perigo o negócio jurídico pode ser considerado nulo ou ser anulado de forma relativa. Entretanto, cabe ressaltar que esse instituto era discutido juntamente com o instituto de coação, porém com o advento no novo código civil de 2002 ocorreu a separação, tendo para isso uma definição própria no artigo 156: 28 Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Sendo assim, pode-se perceber que a aplicabilidade desse instituto se apresenta carregado de compromisso extravagante, cuja situação não comporta uma atitude diferente do agente, embora tal comprometimento com a respectiva situação possa acarreta-lhe a consolidação de um determinado dano, ou seja, a situação compele o sujeito a praticar o negócio jurídico exorbitante. Destarte, conclui-se que o agente, diante das condições apresentadas, viu-se obrigado a contratar prestação de obrigação demasiadamente desfavorável, portanto capaz de viciar a exposição da sua livre vontade de forma consciente que em situação comum não teria sido praticada. No entanto, cabe ressaltar que “o estado de perigo é duplo, exigindo a combinação de elementos objetivos e subjetivos, porquanto somente a situação de periclitância não pode atrair sua força anulatória sobre os negócios entabulados entre as partes. ” (HSIAO et al, 2021, p. 903) Assim sendo, pode-se afirmar que se trata de um vício de consentimento em que a parte não deseja de fato praticar o negócio jurídico de forma errada e onerosa, contudo diante da situação apresentada, não teve outra alternativa, diante disso, a legislação concorre para invalidar tal atitude negocial, tendo em vista o entendimento que não houve a livre manifestação da vontade. Assim sendo: Com efeito, não se pode admitir que se tire proveito do desespero alheio das pessoas em busca do lucro excessivo, sob pena de incidência dos vícios do consentimento acima mencionados, capazes de gerar a anulação posterior do contrato, sua revisão e a condenação por ressarcimento pelos danos materiais e morais causados às verdadeiras vítimas do oportunismo e dos abusos cometidos. (HSIAO et al, 2021, p. 905, 906) Nesse contexto há o entendimento que esse defeito do negócio jurídico é formado diante de situações em que o agente avoca obrigações demasiadamente onerosa com vista a salvar-se ou até mesmo visando salvar um integrante da sua família de possíveis danos gravosos, nesse caso, se tem 29 o entendimento que esse negócio jurídico está com anomalias na expressão de vontade do agente. 30 3.2 LESÃO COMO FATOR PREPONDERANTE DE NULIDADE No que tange a questão do defeito jurídico “lesão” pode-se afirmar que se trata de um vício que possui como característica a aquisição de um ganho excessivo de um dos lados em um negócio jurídico, seja devido a questão da inexperiência ou seja pela questão da necessidade econômica. Diante da questão relativa a necessidade econômica pode-se afirmar que: A lesão vai se passara no negócio puramente patrimonial. É ainda um estado de necessidade, mas um estado de necessidade econômico. A vítima da lesão é aquele que precisa de dinheiro e, para isso, se submete a uma venda, por exemplo, de uma bem a baixíssimo custo ou a aquisição de um bem com excesso de ônus para se sair de uma situação de carência econômica. (JUNIOR, 2002, p. 138) Portanto, pode-se afirmar que esse vício jurídico tem seu florescimento pautado na questão da existência de uma grande necessidade, como também pode ser decorrente de inexperiência do agente que é seduzido a realizar uma relação negocial inteiramente desproporcional, assim causando-lhe real prejuízos financeiros a uma das partes. Nesse aspecto pode-se pontuar dois tipos de requisitos que gera a lesão, o subjetivo e o objetivo, assim como requisito subjetivo tem-se a questão da possibilidade de existência de uma deficiência ou um certo desequilíbrio psicológico por parte de um dos agentes que compõem a constituição do negóciojurídico ou até mesmo impulsionado por uma pressagia necessidade econômica, enquanto o requisito objetivo desponta na desproporção entre as prestações. Desse modo, percebe-se que o novo Código Civil admite a lesão como um vício de consentimento no intuito de gerar anulabilidade quando enxerga a existência desse instituto e para tanto, analisa-se se está pautado na extrema necessidade ou na inexperiência de uma das partes envolvidas em um negócio jurídico acrescido por uma evidente desproporcionalidade. Nesse sentido o Novo Código Civil no seu artigo 156 conceitua esse instituto da seguinte forma, dizendo que “ Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua 31 família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. ”. No entanto, cabe ressaltar a existência de juristas que tem uma visão diferente sobre o instituto lesão como vicio de consentimento: Portanto, mesmo que o Código Civil de 2002 tenha positivado a lesão como “defeito do negócio jurídico”, uma leitura atenta da obra de Fernando Noronha possibilita inferir que, na sua visão, trata-se mais de uma questão de justiça substancial que de vício de consentimento. (VEIGA, 2016, p. 56) Todavia pode-se destacar que o Código Civil de 2002 institui sobre a ocorrência da lesão dizendo que: Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Diante do exposto pode-se afirmar que a aplicabilidade desse instituto recai sobre o contrato de um negócio jurídico entre duas ou mais pessoas, entretanto cabe pontuar que não se aplica a contratos gratuitos e nem tão pouco a contratos unilaterais, dessa forma fica perceptível que os pressupostos para o devido reconhecimento da aplicação desse instituto recai sobre os contratos bilaterais, onerosos e comutativo. Nesse sentido, no que se refere ao instituto da lesão, convém afirmar que: Pode situar-se na fase pré-contratual (como quando a empresa entrevistadora de um candidato lesa a honra deste ao divulgar que o mesmo não foi admitido, por algum defeito específico físico ou de personalidade ou de criação ou orgânico; na fase contratual, quando a empresa descumpre normas referentes à higiene e segurança no trabalho e na fase pós-contratual, quando o empregado foi despedido por fato extremamente grave e tal fato não foi provado. (HUSEK, 2009, p. 85) Portanto, cabendo ressaltar que o elemento objetivo, nesse caso, é a desproporcionalidade exorbitante capaz de afetar aos princípios éticos e morais, no entanto cabe dizer que para seja possível a percepção desse elemento é 32 necessária que essa desproporcionalidade tenha ocorrido na época em que o contrato fora celebrado, tendo em vista que possíveis surgimento de desproporção exorbitante após ao contrato celebrado estaria conectado a fatores externos. Logo, é importante destacar que para haver o reconhecimento desse instituto entre a prestação e contraprestação em um contrato celebrado é necessário a percepção da existência da necessidade contratual, bem como a inexperiência da parte lesionada. Portanto, entende-se que o agente que age na celebração de um negócio jurídico eivado pelo instituto da lesão como vicio de consentimento atua impelido por iminente necessidade ou por inexperiência, portanto é decerto que, nesse caso, a vontade que fora declarada está desvirtuada do seu verdadeiro intento. Logo: Assim, a desproporção deve ser – consoante previsão legal – manifesta, sob pena de ser entendida como o justo lucro advindo da negociação, sendo certo que não é este que a lei visa coibir, não viciando o negócio. Em verdade o elemento objetivo da lesão não reside na desigualdade das prestações, mas sim na manifesta, aguda, demasiada desproporção entre elas, que, presente, torna anulável o negócio jurídico. (SOUZA, 2012, p. 295) Enfim, embora anulável, não se pode afirmar que o negócio jurídico celebrado, nesse caso, é inexistente, haja vista que, ainda que não preencha os requisitos necessários para que se tenha o princípio da legalidade atendido devido a percepção da presença da inexperiência ou da necessidade, ainda assim, verifica-se a existência do consentimento, portanto vê-se a existência de um negócio jurídico. 33 3.3 INVALIDADE DO NEGOCIO JURIDICO No que concerne a validade de um negócio jurídico cabe pontuar que comumente se utiliza o termo nulo ou anulável para descrever a validade do ato. Nesse sentido, o termo nulo geralmente é usado quando a relação negocial é integralmente inválida, enquanto o termo anulável é usado quando o negócio jurídico é visto como parcialmente inválido. Portanto, é sabido que a validade ou invalidade de um negócio jurídico está pautado sobre a observância do atendimento aos requisitos previsto em lei. Desse modo, pode-se afirmar que a ausência de elementos que são expressos em lei e que não perpasse pela vontade humana, nem pela idoneidade do objeto e tão pouco pela finalidade negocial torna o negócio jurídico inexistente. Nesse aspecto a manifestação da vontade é imprescindível para a construção do negócio jurídico e para isso é necessário que não esteja eivada de erro, dolo ou até mesmo coação. Outra situação que pode ser tida como um negócio jurídico nulo é a questão da relação negocial em que uma das partes seja um agente absolutamente incapaz. Logo, embora exista a relação negocial e que haja manifestação da vontade sem erro, dolo ou coação, ainda assim o negócio jurídico não pode ser concretizado devido a questão de o agente ser absolutamente incapaz. Assim, percebe-se que o negócio jurídico é nulo por contrariar os preceitos considerados de ordem pública, nesse sentido a sociedade rechaça os atos que de certo modo é capaz de lesar o interesse público, portanto impedindo de tal ato produzir o efeito esperado pelo sujeito. Por fim, a nulidade pode ser reconhecida a qualquer tempo (art. 169, 2ª parte, do Código Civil). Esta é a chamada “imprescritibilidade do ato nulo”. O Código Civil de 1916, omisso, gerava controvérsia. Havia o entendimento predominante na época no sentido de que a nulidade prescrevia em vinte anos (prazo residual de prescrição), já que a prescrição (assim como a nulidade) também é tema de ordem pública. O Código Civil de 2002 adotou a corrente minoritária à época do código anterior, prevendo a sua imprescritibilidade. Por conta disso, há entendimento doutrinário no sentido de que o reconhecimento da nulidade é imprescritível, mas os reflexos patrimoniais decorrentes da nulidade prescrevem. Assim, se o sujeito pleiteia a nulidade de contrato cumulado com perdas e danos, as perdas e danos prescrevem. Esse entendimento tende a ser dominante na jurisprudência, de forma a preservar a mínima segurança jurídica nas relações privadas. (FERREIRA, (2014?), p. 03) 34 Nesse sentido o Código Civil possui artigos que falam sobre a questão da nulidade, como pode ser visto no artigo 166 e no artigo 167. Assim no artigo 166 está positivado que: É nulo o negócio jurídico quando:I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV – não revestir a forma prevista em lei; V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI – tiver por objetivo fraudar a lei imperativa; VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Enquanto, no artigo 167 institui que “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”. Sendo assim, pode-se perceber que o dispositivo nulidade trata-se de, certo modo, sobre um tipo de sanção que está positivado no ordenamento jurídico visando a proteção da lisura dos atos jurídicos, para isso não se admite prescrição por tratar de uma agressão a ordem pública. Nesse sentido, pode-se mencionar a nulidade de forma absoluta quando o negócio jurídico é atingido no todo e consequentemente falar de nulidade relativa quando atinge parte da transação negocial, ou seja, somente aquela que estão contaminados de vícios, além disso que pudesse ser textual em que a lei traz positivado e virtual em que embora não esteja de forma expressa na lei pode-se facilmente ser deduzida. Portanto, é sabido que a anulabilidade pode atingir atos jurídicos efetivados por pessoas relativamente incapaz ou aqueles atos eivados de algum tipo de vicio de consentimento ou até mesmo de vicio social. Para tanto, o Código Civil traz em seu bojo especificamente no artigo 171 hipóteses de anulabilidades de um negócio jurídico dizendo que “é anulável o negócio jurídico, além dos casos expressamente declarados na lei, por incapacidade relativa do agente e por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. ” 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto nesse trabalho percebe-se que a discursão ocorreu perpassando pelos vícios de consentimentos pontuando como verdadeiros defeitos jurídicos, para tanto debruçou-se nos vícios da vontade classificados no Novo Código Civil como: erro ou ignorância, dolo, coação, estado de necessidade e lesão, que por serem detentores de peculiaridades teve atenção singular nesta monografia. No entanto ficou notório que embora tais assuntos não seja novo no instituto civilista, exigem do operador do direito uma atenção diferenciada devido a sua constante incidência no cotidiano da sociedade hodierna que por ser volúvel evidencia verdadeiros desafios, provocando até entre os doutrinadores divergências de opiniões, assim dando origem a correntes diversas a respeito do tema. Portanto, viu-se que o negócio jurídico perpassa pela imperatividade da livre declaração da vontade humana que é tida como resultado da pretensão de um sujeito capaz, levando em consideração que o objeto seja licito e que tenha previsão em lei, podendo assim ser percebida pela exteriorização dos anseios individuais. Nesse sentido, viu-se que estando presente os pressupostos dos vícios de consentimento o negócio jurídico poderá ser anulado devido a contaminação da manifestação da livre vontade, portanto viciando o negócio jurídico, fator que viola os preceitos legais. Por fim, podemos concluir que os vícios do consentimento no negócio jurídico são de extrema importância para a validade e eficácia do negócio, já que sendo realizado de forma viciada poderá ser anulado e os efeitos produzidos poderão ser inviabilizados mediante a provocação daquele que se viu prejudicado. Dessa forma, percebe-se que a responsabilidade civil está baseada no princípio da boa-fé para aplicabilidade das relações obrigacionais visando proteção do agente. 36 REFERÊNCIAS AQUINO, Leonardo Gomes de. Guia dos defeitos do negócio jurídico e suas repercussões. Disponível em: https://www.direitodefamilia.adv.br/2020/wp-content/uploads/2020/07/leonardo- gomes-guia-dos-defeitos.pdf. Acesso em: 05/11/2022. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002. CHEKER, Monique. Reflexões sobre a causa de pedir: no direito processual brasileiro. Brasília: ESMPU, 2014. Disponível em: https://escola.mpu.mp.br/publicacoes/obras-avulsas/e-books/reflexoes-sobre-a- causa-de-pedir-no-direito-processual- brasileiro/@@download/arquivo/Reflex%C3%B5es%20sobre%20a%20causa% 20de%20pedir%20no%20direito%20processual%20brasileiro.pdf. Acesso em: 04/11/2022. BRASIL, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível, Nº 70060010568, Vigésima Terceira Câmara Cível, Relator: Ana Paula Dalbosco, Julgado em: 25-11-2014. Disponível em: https://tj- rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/904069465/apelacao-civel-ac-70060010568- rs. Acesso em: 13/11/2022. BRASL, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível 583443- 30.2010.8.21.7000, Esteio, Nona Câmara Cível, Rel.ª Des.ª Iris Helena Medeiros Nogueira, j. 26.01.2011, DJERS 11.03.2011. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-rs/22931597. Acesso em: 13/11/2022. FARIAS, Paulo José Leite. O estado de perigo no novo Código Civil e os seus reflexos no endividamento por contas hospitalares. Rev. Minist. Público, Rio de Janeiro, RJ, (19), 2004. Disponível em: https://www.mprj.mp.br/documents/20184/2791465/Paulo_Jose_Leite_Farias.p df. Acesso em: 06/11/2022. FERREIRA, Rafael Medeiros Antunes. Defeitos dos Negócios Jurídicos (Parte 1): Erro, Dolo e Coação. Disponível em: https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_07_- _defeitos_dos_negocios_juridicos_parte_1.pdf. Acesso em: 05/11/2022. FERREIRA, Rafael Medeiros Antunes. Invalidade dos Negócios Jurídicos. Disponível em: https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_09_- _invalidade_dos_negocios_juridicos.pdf. Acesso em:14/11/2022. GOMES, Orlando. Novos Temas de Direito Civil. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Forense, 1983 GRANT, Carolina. A Manipulação Discursiva e a Figura do “Homem https://www.direitodefamilia.adv.br/2020/wp-content/uploads/2020/07/leonardo-gomes-guia-dos-defeitos.pdf https://www.direitodefamilia.adv.br/2020/wp-content/uploads/2020/07/leonardo-gomes-guia-dos-defeitos.pdf https://escola.mpu.mp.br/publicacoes/obras-avulsas/e-books/reflexoes-sobre-a-causa-de-pedir-no-direito-processual-brasileiro/@@download/arquivo/Reflex%C3%B5es%20sobre%20a%20causa%20de%20pedir%20no%20direito%20processual%20brasileiro.pdf https://escola.mpu.mp.br/publicacoes/obras-avulsas/e-books/reflexoes-sobre-a-causa-de-pedir-no-direito-processual-brasileiro/@@download/arquivo/Reflex%C3%B5es%20sobre%20a%20causa%20de%20pedir%20no%20direito%20processual%20brasileiro.pdf https://escola.mpu.mp.br/publicacoes/obras-avulsas/e-books/reflexoes-sobre-a-causa-de-pedir-no-direito-processual-brasileiro/@@download/arquivo/Reflex%C3%B5es%20sobre%20a%20causa%20de%20pedir%20no%20direito%20processual%20brasileiro.pdf https://escola.mpu.mp.br/publicacoes/obras-avulsas/e-books/reflexoes-sobre-a-causa-de-pedir-no-direito-processual-brasileiro/@@download/arquivo/Reflex%C3%B5es%20sobre%20a%20causa%20de%20pedir%20no%20direito%20processual%20brasileiro.pdf https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/904069465/apelacao-civel-ac-70060010568-rs https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/904069465/apelacao-civel-ac-70060010568-rs https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/904069465/apelacao-civel-ac-70060010568-rs https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-rs/22931597 https://www.mprj.mp.br/documents/20184/2791465/Paulo_Jose_Leite_Farias.pdf https://www.mprj.mp.br/documents/20184/2791465/Paulo_Jose_Leite_Farias.pdfhttps://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_07_-_defeitos_dos_negocios_juridicos_parte_1.pdf https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_07_-_defeitos_dos_negocios_juridicos_parte_1.pdf https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_09_-_invalidade_dos_negocios_juridicos.pdf https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_09_-_invalidade_dos_negocios_juridicos.pdf 37 Médio” no Direito Penal. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/salvador/caroli na_grant_pereira.pdf. Acesso em: 04/11/2022. HSIAO, Marcelo. Análise do Estado de Perigo no Contrato de Prestação de Serviços Médico-Hospitalares. Empreendedorismo, Gestão e Negócios - Edição Especial, v. 10, n. 10, Mar. 2021, p. 899-911. Disponível em: https://fatece.edu.br/arquivos/arquivos- revistas/empreendedorismo/volume10/Marcelo%20Hsiao%20et%20al.pdf. Acesso em:06/11/2022. HUSEK, Carlos Roberto. A Vontade Contratual/Vícios do Consentimento/Fraude. Revista do TRT da 2ª Região, São Paulo, n. 3/2009, p. 71-111. Disponível em: https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/78801/2009_husek_c arlos_vontade_contratual.pdf?sequence=1. Acesso em: 07/11/2022. JÚNIOR, Humberto Theodoro. Comentários ao Novo Código Civil: Dos defeitos do negócio jurídico ao final do livro III. Rio de Janeiro: Forense, 2003. JUNIOR, Humberto Theodoro. Os Contratos e os Vícios de Consentimento. Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” 2002. Disponível em: https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/anais_onovocodigocivil /anais_especial_1/Anais_Parte_I_revistaemerj_129.pdf. Acesso em: 07/11/2022. KONDER, Carlos Nelson; OLIVEIRA, Williana Nayara Carvalho de. A interpretação dos negócios jurídicos a partir da Lei de Liberdade Econômica. Belo Horizonte, ano 9, n. 25, p. 13-35, set./dez. 2020. Disponível em: http://konder.adv.br/wp-content/uploads/2021/03/CNK-e-WNCO-A- interpretacao-dos-negocios-juridicos-a-partir-da-LLE.pdf. Acesso em: 14/10/2022. LYNCH, Maria Antonieta. Da cláusula rebus sic stantibus à Onerosidade excessiva. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 46 n. 184 out./dez. 2009. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/194943/000881699.pdf?se quence=3&isAllowed=y. Acesso em: 13/11/2022. MENDONÇA, Rafael da Motta. Defeitos do Negócio Jurídico: Erro, Dolo, Coação, Fraude contra Credores. Master//Juris, 2014. Disponível em: http://tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp- content/uploads/2014/12/08183238/CAM-Flex-A-Civil-Parte-Geral-Aula-13.pdf. Acesso em: 05/11/2022. NETO, Paulo Byron Oliveira Soares. Direito Civil: Atos, Fatos e Negócios Jurídicos. Disponível em https://paulobyron.jusbrasil.com.br/artigos/448747103/direito-civil-atos-fatos-e- negocios-juridicos. Acesso em: 11/11/2022. http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/salvador/carolina_grant_pereira.pdf http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/salvador/carolina_grant_pereira.pdf https://fatece.edu.br/arquivos/arquivos-revistas/empreendedorismo/volume10/Marcelo%20Hsiao%20et%20al.pdf https://fatece.edu.br/arquivos/arquivos-revistas/empreendedorismo/volume10/Marcelo%20Hsiao%20et%20al.pdf https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/78801/2009_husek_carlos_vontade_contratual.pdf?sequence=1 https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/78801/2009_husek_carlos_vontade_contratual.pdf?sequence=1 https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/anais_onovocodigocivil/anais_especial_1/Anais_Parte_I_revistaemerj_129.pdf https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/anais_onovocodigocivil/anais_especial_1/Anais_Parte_I_revistaemerj_129.pdf http://konder.adv.br/wp-content/uploads/2021/03/CNK-e-WNCO-A-interpretacao-dos-negocios-juridicos-a-partir-da-LLE.pdf http://konder.adv.br/wp-content/uploads/2021/03/CNK-e-WNCO-A-interpretacao-dos-negocios-juridicos-a-partir-da-LLE.pdf https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/194943/000881699.pdf?sequence=3&isAllowed=y https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/194943/000881699.pdf?sequence=3&isAllowed=y http://tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2014/12/08183238/CAM-Flex-A-Civil-Parte-Geral-Aula-13.pdf http://tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2014/12/08183238/CAM-Flex-A-Civil-Parte-Geral-Aula-13.pdf https://paulobyron.jusbrasil.com.br/artigos/448747103/direito-civil-atos-fatos-e-negocios-juridicos https://paulobyron.jusbrasil.com.br/artigos/448747103/direito-civil-atos-fatos-e-negocios-juridicos 38 OLIVEIRA, Alexandre Miranda et al. Manual de Teoria Geral do Direito Civil. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora: Del Rey, 1 janeiro 2011. OLIVEIRA, Marina Santos; TEBAR, Wilton Boigues Corbalan. Para uma Nova Interpretação do Erro. Programa de Iniciação Científica 2015. Disponível em: http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/5064/47 57. Acesso em: 12/11/2022. SOUZA, Rafael Menegazzi de; JOBIM, Marco Félix. A Invalidação dos Negócios Jurídicos Processuais por Coação: Aplicação Analógica do Artigo 151, do Código Civil C/C Artigo 190, Parágrafo Único, do Código de Processo Civil. Disponível em: https://www.pucrs.br/direito/wp- content/uploads/sites/11/2021/01/rafael_souza.pdf. Acesso em: 06/11/2022. SOUZA, Wendell Lopes Barbosa de. A Lesão como Defeito do Negócio Jurídico. Revista de Direito Brasileira, 2012. Disponível em: https://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/2665. Acesso em: 07/11/2022. VASCONCELOS, Arnaldo. Sobre a Coação Jurídica: Verbete para um Dicionário de Filosofia do Direito. Pensar, Fortaleza, v. 15, n. 2, p. 385-400, jul./dez. 2010. Disponível em: https://ojs.unifor.br/rpen/article/download/2132/1730/0. Acesso em: 06/11/2022. VEIGA, Paulo Bernardo Cunha Pereira da. A Lesão no Código Civil de 2002. Monografia de Ciências Jurídicas, Curitiba 2016. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/45873/21.pdf?sequence=1&i sAllowed=y. Acesso em: 07/11/2022. http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/5064/4757 http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/5064/4757 https://www.pucrs.br/direito/wp-content/uploads/sites/11/2021/01/rafael_souza.pdf https://www.pucrs.br/direito/wp-content/uploads/sites/11/2021/01/rafael_souza.pdf https://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/2665 https://ojs.unifor.br/rpen/article/download/2132/1730/0 https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/45873/21.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/45873/21.pdf?sequence=1&isAllowed=y SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1. BREVE REFLEXÃO SOBRE DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 1.1 A INCIDÊNCIA DO ERRO COMO UM VÍCIO DE CONSENTIMENTO No que se refere a questão do erro como vicio de consentimento pode-se afirmar que no direito civil tal instituto é tido como uma falsa percepção da realidade, assim sendo, nesse caso, não há uma terceira pessoa, já que o agente não é levado a falsa p... No entanto, embora seja esse instituto um vício com previsão legal nos artigos 138 a 144 do Código Civil, verifica-se que não existem muitas demandas de ação em juízo anulatórias, tendo em vista a questão da dificuldade de construção de provas que dem... No entanto, é sabido que: A capacidade de ser parte, permitida a toda pessoa natural, foi diferenciada da capacidade processual (ou capacidade de estar em juízo) e da legitimação ad causam. O pedido, considerado pelos italianos como l’o... Assim sendo, pode-se afirmar que não existe diferença entre erro e ignorância, pois a distinção acontece simplesmente de forma doutrinária pautando o erro como o desconhecimento de forma parcial enquanto a ignorância é tida como o desconhecimento tota... Desse modo: Nesse sentido, pode-se até afirmar que para se ter um negócio jurídico em uma situaçãoanulatória é preciso ser substancial, escusável e real, assim nesse caso verifica-se a necessidade de se ponderar nos citados quesitos, portanto no instituto subst... Assim, a possibilidade de o autor ter a sua demanda acolhida, como bem destaca Leonardo Greco, “é aferida a partir dos fatos afirmados pelo autor, in statu assertionis, porque se desses fatos categoricamente nã... Já no quesito escusável pode-se afirmar que se trata de uma comparação a respeito da atitude do agente em relação a conduta do padrão do homem médio, logo se busca analisar a percepção da maioria das pessoas em relação ao fato concreto. “Este “homem m... Entretanto, percebe-se que o vício no negócio jurídico pode ter convalescimento, ou seja, se o erro não produzir prejuízo no negócio jurídico que fora acertado, tal vicio não causará anulabilidade a situação concreta, fato que pode ser visto no artigo... No entanto, cabe pontuar que o código civil de 1916 rezava a possibilidade de invalidar uma declaração de vontades destinadas a um efeito jurídico, pois no caso de anulabilidade de um negócio jurídico o erro precisava ser escusável, embora o texto pos... Portanto, se tem o entendimento que: O Código Civil de 1916 era omisso quanto ao erro de direito, gerando controvérsia na doutrina. CLÓVIS BEVILÁQUA, dentre outros, refutava essa espécie de erro, com base no art. 3º da Lei de Introdução às Normas d... Nesse sentido o código civil de 2002 reforça esse entendimento quando traz no artigo 138 a declaração de escusabilidade desse defeito jurídico, dizendo que “ São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substa... Ainda sobre esse assunto o artigo 140 do código civil esclarece que quando expresso como razão determinante o falso motivo vicia a declaração da vontade no negócio jurídico, tendo em vista a seguinte redação do artigo, preceituando que “O falso motivo... 2. DESMONTANDO O CONCEITO DOS DEFEITOS JURÍDICOS INTENCIONAIS Sendo assim, “Exige-se ainda, para caracterizar a coação que vicio do negócio jurídico, que o dano ameaçado seja iminente e considerável. Iminente seria o dano prestes a acontecer e que, portanto, não haveria como evitá-lo, a não ser celebrando o neg... 2.1 DOLO COMO VICIO DE CONSENTIMENTO 2.2 COAÇÃO COMO DEFEITO JURÍDICO 3. PROTEÇÃO JURÍDICA PERPETRADA PELO NOVO CÓDIGO CIVIL 3.2 LESÃO COMO FATOR PREPONDERANTE DE NULIDADE No que tange a questão do defeito jurídico “lesão” pode-se afirmar que se trata de um vício que possui como característica a aquisição de um ganho excessivo de um dos lados em um negócio jurídico, seja devido a questão da inexperiência ou seja pela qu... Diante da questão relativa a necessidade econômica pode-se afirmar que: A lesão vai se passara no negócio puramente patrimonial. É ainda um estado de necessidade, mas um estado de necessidade econômico. A vítima da lesão é aquele que precisa de dinheiro e, para isso, se submete a u... Portanto, pode-se afirmar que esse vício jurídico tem seu florescimento pautado na questão da existência de uma grande necessidade, como também pode ser decorrente de inexperiência do agente que é seduzido a realizar uma relação negocial inteirament... Nesse aspecto pode-se pontuar dois tipos de requisitos que gera a lesão, o subjetivo e o objetivo, assim como requisito subjetivo tem-se a questão da possibilidade de existência de uma deficiência ou um certo desequilíbrio psicológico por parte de um ... Desse modo, percebe-se que o novo Código Civil admite a lesão como um vício de consentimento no intuito de gerar anulabilidade quando enxerga a existência desse instituto e para tanto, analisa-se se está pautado na extrema necessidade ou na inexperiên... Nesse sentido o Novo Código Civil no seu artigo 156 conceitua esse instituto da seguinte forma, dizendo que “ Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela ... No entanto, cabe ressaltar a existência de juristas que tem uma visão diferente sobre o instituto lesão como vicio de consentimento: Portanto, mesmo que o Código Civil de 2002 tenha positivado a lesão como “defeito do negócio jurídico”, uma leitura atenta da obra de Fernando Noronha possibilita inferir que, na sua visão, trata-se mais de uma... Todavia pode-se destacar que o Código Civil de 2002 institui sobre a ocorrência da lesão dizendo que: Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 3.3 INVALIDADE DO NEGOCIO JURIDICO No que concerne a validade de um negócio jurídico cabe pontuar que comumente se utiliza o termo nulo ou anulável para descrever a validade do ato. Nesse sentido, o termo nulo geralmente é usado quando a relação negocial é integralmente inválida, enqua... Portanto, é sabido que a validade ou invalidade de um negócio jurídico está pautado sobre a observância do atendimento aos requisitos previsto em lei. Desse modo, pode-se afirmar que a ausência de elementos que são expressos em lei e que não perpasse ... Nesse aspecto a manifestação da vontade é imprescindível para a construção do negócio jurídico e para isso é necessário que não esteja eivada de erro, dolo ou até mesmo coação. Outra situação que pode ser tida como um negócio jurídico nulo é a questão... Logo, embora exista a relação negocial e que haja manifestação da vontade sem erro, dolo ou coação, ainda assim o negócio jurídico não pode ser concretizado devido a questão de o agente ser absolutamente incapaz. Assim, percebe-se que o negócio jurídico é nulo por contrariar os preceitos considerados de ordem pública, nesse sentido a sociedade rechaça os atos que de certo modo é capaz de lesar o interesse público, portanto impedindo de tal ato produzir o efeit... Nesse sentido o Código Civil possui artigos que falam sobre a questão da nulidade, como pode ser visto no artigo 166 e no artigo 167. Assim no artigo 166 está positivado que: CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS