Prévia do material em texto
FILOSOFIA JURÍDICA ________________ Profa. Thayná Gava Borges thayna.borges@unibr.edu.br Direito na Era Moderna • Esse período tem início com a tomada de Constantinopla pelos turcos – 1453 – e a Revolução Francesa – 1789 (marca o início da era Contemporânea) • Mas antes... Vamos recordar: – "De fato, a Era Medieval se caracterizou, politicamente, pela descentralização do poder entre os senhores feudais. Em um reino a autoridade máxima era representada pelo rei. Este tinha jurisdição sobre o seu próprio feudo e autoridade sobre os demais senhores feudais, que geralmente possuíam jurisdição própria e pessoal sobre as suas terras. Quem resolvia as questões judiciais dentro de um feudo era o senhor feudal, mas de sua decisão cabia recurso à autoridade real, em segunda instância. – Em matéria de filosofia de vida, a Idade Média se caracterizou pelo teocentrismo, ou visão do universo em que Deus ocupa o centro. Como projeção dessa concepção no campo religioso, tínhamos a supremacia do Papado e, no campo artístico, a arte gótica, expressa pela harmonia, luminosidade e integridade dos elementos componentes da obra de arte" (CICCO, 2017, p.242) Direito na Era Moderna • A visão teocêntrica de mundo vai dando espaço ao humanismo ou antropocentrismo, em que o homem se localiza no centro de tudo. – Essa forma de compreender o mundo leva a novas organizações sociais e instituições, que substituem os modelos medievais. • "A opção antropocêntrica produzia a longo prazo o individualismo e o egocentrismo, injustamente atribuíveis a um retorno ou “renascimento” de “ideias naturalistas”." (CICCO, 2017, p.244) • RENASCIMENTO – Movimento que ilustrava a rejeição ao espírito da Idade Média, desejando um retorno às instituições Gregas e Romanas antigas. • Absolutismo – Direito Divino dos Reis – Cicco (2017) destaca que no período medieval entendia-se que todo o poder vinha de Deus. Entretanto, este poder real do homem foi sendo substituído pela influência indireta da igreja nas questões “mundanas”. Direito na Era Moderna • Enquanto os nobres estavam ocupados em conflitos armados, principalmente as cruzadas, as lideranças (reis) passaram a agregar mais terras, iniciando o processo de formação do Estado – centralização do poder. • "O absolutismo não aceitava a soberania parcelada do feudalismo e considerava que somente o rei era detentor da soberania, como chefe do Estado e senhor da nação. Isto se projetou antes de tudo no direito, pois houve uma liquidação dos costumes jurídicos locais e uma imposição do Direito das Ordenações do Rei, ou lei escrita, transcrevendo leis romanas para o território politicamente unificado." (CICCO, 2017, p.259- 261) • Outros movimentos concomitantes: – Unificação da moeda – Abolição de privilégios do clero – Influência de Maquiavel – teoria política desassociada da ética. O mais importante é a manutenção no poder e não o bem comum. Direito na Era Moderna • REFORMA PROTESTANTE – O renascimento e sua exaltação do humanismo, com a consequente abolição da tradição medieval pavimentaram o caminho da reforma protestante. – Assim como o absolutismo, com a exclusão de privilégios eclesiásticos. • Martinho Lutero – Frade que, em 1510, ao viajar para Roma, ficou descontente com a prática da venda das indulgências. – "Em julho de 1520, Lutero concitou os nobres alemães a se apoderarem dos bens eclesiásticos. Em dezembro do mesmo ano deu-se o rompimento formal com Roma: o frade revoltoso queimou em praça pública a bula papal que o condenava." (CICCO, 2017, p.266) – Fez sua própria tradução da Bíblia, instituindo uma nova doutrina religiosa que tinha como fundamento a justificação pela fé, independentemente das obras. – Defendia uma interpretação livre dos textos sagrados. Direito na Era Moderna • CONTRARREFORMA – Movimento liderado pela Igreja Católica para se opor ao protestantismo. • Companhia de Jesus: ideia era formar uma juventude católica, ensinando seus preceitos, bem como catequizar as novas terras descobertas. • GUERRAS DE RELIGIÃO • De um lado: Felipe II, comprometido a combater a reforma • Os países baixos, que aceitaram a reforma, tentavam cortar os laços com a Espanha. – Deu briga! • As províncias dos países baixos protestantes unificaram-se em um único Estado Holanda – liderada por Guilherme de Orange. • As províncias ligadas à Felipe II formaram a Bélgica. • Na França, que também foi palco de disputas religiosas, os ânimos se acalmaram apenas com a edição do Édito de Nantes, em 1598, igualando católicos e protestantes. Direito na Era Moderna • O Leviatã de Thomas Hobbes. – O homem é o lobo do homem. • "Dessa premissa, sem dúvida resultante do quadro social e político em que vivia seu autor, tirava a consequência lógica de que a “guerra de todos contra todos” só cessaria se surgisse um Estado tão forte que fosse capaz de domar o egoísmo de cada um, um monstro de grandeza e poder inaudito, o “Leviatã”, nome tirado de uma espécie de grande cetáceo, citado na Bíblia." (CICCO, 2017, p.301) • Tese que lança as bases do Positivismo: justificação da supremacia da norma criada pelo Estado. Juspositivismo/Normativismo- Hans Kelsen • TEORIA PURA DO DIREITO • "os sociólogos postulavam ser o direito mero ramo da sociologia, negando sua autonomia como ciência. Diante dessa tendência, teria ele procurado elaborar uma teoria de um direito puramente jurídico, sem nenhuma vinculação nem com a sociologia, nem com a moral, nem com a política." (CICCO, 2017, p.548) • O DIREITO • Concebido como um sistema de normas encadeadas de forma lógica, que deveria ser observado de forma neutra, sem conteúdo moral ou político. – Estado possui o monopólico da criação das normas e de sua aplicação. • SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Correntes Juspositivistas • Essa Escola ou Corrente busca afastar o direito de qualquer valor moral, político, religioso ou filosófico do direito, entendendo que este deve ser compreendido a partir de um ponto de neutralidade. • Em resumo, por Positivismo Jurídico entende-se aquela teoria do direito segundo qual não existe outro direito a não ser o positivo, que é aquele observado de fato num determinado grupo social”. Pirâmide de Chichen Itza Correntes Juspositivistas • O positivismo jurídico é uma ramificação do positivismo filosófico – Augusto Comte (século XIX) criou a sociologia, buscando aplicar às ciências sociais os métodos científicos que até então eram utilizados apenas nas ciências exatas/ciências da natureza. – O método então utilizado por ele possuía três fases: a) observação; b) formulação de hipótese; c) experimentação, • Assim como fez Comte em seu tempo, as diversas vertentes juspositivistas têm em comum a rejeição a conceitos que não sejam concretos. Excluem, portanto, do objeto de estudo do direito, a moral, a filosofia, o direito natural, passando a se preocupar apenas com os fenômenos normativos e observáveis. • Direito = direito existente = norma jurídica = dever ser • A única ordem jurídica existente é a decorrente do Estado. • O reconhecimento da validade das normas não leva em conta o conteúdo delas e sim suas formas de produção => legalidade/ racionalidade formal Correntes Juspositivistas • O direito positivo é a expressão do poder do Estado. • A nova forma de dominação, agora não se fundamenta mais simplesmente no carisma, na tradição ou na vontade de Deus, se baseia no poder burocrático e abstrato do Estado, através de suas regras e procedimentos (legitimidade decorre da legalidade). • Assim, a liberdade será aquilo que o soberano disser, ou a sobra de todas as proibições trazidas pelo soberano pelas leis; • Parte de uma noção de Direito tecnicizada, esvaziada de conteúdo axiológico (valores), voltado mais para a compreensão da ideia de que o Direito só pode ser entendido como Direito positivo (ius positum) e o que está fora dele, ou é invenção ou é idealismo relativista. CorrentesJuspositivistas • Trata-se de um movimento teórico-científico que descreve a natureza do Direito a partir de suas manifestações normativas, decorrentes do poder de decisão do legislador. • Só existe uma forma e uma manifestação do Direito possível, aquele definido como sendo o Direito do Estado, ou o Direito Oficial; o resto, ou não existe, ou é julgado à conta de elementos estranho ao Direito. Correntes Juspositivistas • As características do sistema jurídico, que se passa a descrever a partir de então são: – Coerência e ausência de lacunas, contradições e antinomias; – Racionalidade legal; – Cientificização; – Escala de produção procedimental; – Controle prévio do lícito em face do ilícito; – Objetividade da avaliação dos comportamentos; – Segurança jurídica pela oferta de garantias ao capitalismo ascendente; – Triunfo da sistematização jurídica; – Nacionalização do direito e consolidação dos direitos civis dos cidadãos nacionais; – Aplicação do direito por meio de um método dedutivo. Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen • Hans Kelsen consegue expulsar a questão da justiça como sendo um algo externo ao universo de compreensão do Direito, exatamente porque o seu relativismo conceitual conduz à sua impossibilidade de se constituir uma ciência precisa do Direito, para fora da esfera das preocupações do jurista como sendo uma questão própria para filósofos. • Surge aqui uma noção de direito como forma para um conteúdo (qualquer), o Direito como forma que tudo comporta e tudo suporta (democracia, oligarquia, tirania), o Direito como conjunto de relações entre normas, dentro de esquemas abstratos de validade. • Quando a Teoria Pura empreende delimitar o conhecimento do Direito em face destas disciplinas, fá-lo não por ignorar ou, muito menos, por negar essa conexão, mas porque intenta evitar um sincretismo metodológico que obscurece a essência da ciência jurídica e dilui os limites que lhe são impostos pela natureza do seu objeto” (Kelsen) Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen Teoria Pura do Direito Investigação do funcionamento descritivo do direito, eliminando sua subjetividade Pirâmide normativa hierarquizada Formalismo Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen Formalismo A validade da norma tem relação com a forma pela qual foi criada A norma será válida se emanada de um ato legítimo de autoridade Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen X X “A ordem de um gângster para que lhe seja entregue u ma determinada soma de Dinheiro tem o mesmo sentido subjetivo q ue a ordem de um funcionário de finanças, a saber, que o indivíduo a quem a ordem é dirigida deve entregar uma determinada soma de dinheiro. No entant o, só a ordem o funcionário de finanças, e não a ordem do gângster, tem o sentid o de uma norma válida, vinculante para o destinatário; apenas o ato do primeiro, e não o do segundo, é um ato produtor de uma norma, pois o ato do funcionário de finanças é fundamentado numa lei fiscal, enquanto que o ato do gângster se não a póia em qualquer norma que para tal lhe atribua competência” (Kelsen). Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen • PRÁTICA JURÍDICA – Campo do SER – Sabe-se que, na prática, o direito se mistura a outros fenômenos sociais, tais como política e subjetividade dos julgadores • CIÊNCIA DO DIREITO – Campo do DEVER SER – Não se deve levar em conta questões econômicas, políticas, sociais ou subjetivas – As normas jurídicas inferiores retiram sua validade das superiores – O objeto da ciência do direito é a norma jurídica – O direito é uma ordem normativa da conduta humana Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen Constituição Federal; Emendas Constitucionais Tratados de Direitos Humanos desde que aprovados de acordo com o rito de EC Tratados Internacionais - Status Infralegal; Leis (ordinárias, complementares, delegadas), resoluções, tratados internacionais, medidas provisórias) Decretos Regulares Normas Individuais (Contratos, sentenças, declarações unilaterais de vontade) Outras normas (Portarias e circulares. NHF Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen • Estrutura hierarquizada com de graus sucessivos em que as normas emanam umas das outras até chegar em uma norma hipotética fundamental (grundnorm) constitui o último fundamento de validade do ordenamento jurídico. • A validade de uma norma jurídica depende sempre de uma norma superior, que estabelece a competência e o processo para se editar as normas inferiores. • CONSTITUIÇÃO: está no topo do ordenamento jurídico, conferindo validade a todas as demais normas do sistema. Sendo assim, nenhuma outra norma poderá ser contrária a ela. • -Mas como a Constituição também é uma norma, sua validade tem que ser fundada em uma norma fundamental, que determina o poder e o processo pressupostos pela constituição efetivamente existentes. • - Desta forma, Kelsen criou o conceito de Norma Fundamental Hipotética, a partir de uma construção lógico-formal. Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen • A Norma Fundamental Hipotética (grundnorm) não é uma norma criada pelo Estado, trata-se de um conceito filosófico, um pressuposto teórico criado por Kelsen: • Ela é o ponto de partida de um processo: do processo da criação do Direito positivo.Ela própria não é uma norma posta, posta pelo costume ou pelo ato de um órgão jurídico, não é uma norma positiva, mas uma norma pressuposta, na medida em que a instância constituinte é considerada como a mais elevada autoridade e por isso não pode ser havida como recebendo o poder constituinte através de outra norma, posta por uma autoridade superior”(Kelsen). • PRESSUPOSTO? • - Circunstância ou fato considerado um antecedente necessário de outro. • Algo que que se supõe antecipadamente, ou seja, aquilo que se imagina e pensa sobre determinada coisa ou situação antes mesmo de ter contato ou conhecimento sobre ela. Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen • LEIS: são válidas desde que criadas de acordo com o procedimento previsto na Constituição Federal – Norma Primária: é aquela que prescreve uma sanção para aquele que a descumpre – tipicamente aquelas da parte especial do Direito Penal. – Norma Secundária: é aquela que não prevê uma sanção em caso de descumprimento. • NORMAS INDIVIDUAIS: Serão válidas desde que criadas de acordo com os procedimentos previstos nas leis e CF