@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700); A vertente filosófica teria o poder de prejudicar a saúde mental, ou mesmo a sanidade do filósofo/estudante de filosofia?Entre filósofos temos sábios, loucos, sátiros e até suicidas. Então... "conjuntos de ideias não interferem na saúde mental de quem as estuda". Será mesmo?Escolhi um recorte de Emil Cioran para tentar abordar um pouco melhor este assunto:"Só na música e no amor existe a alegria de morrer, o espasmo voluptuoso de sentir que se morre por não poder mais suportar as vibrações internas. E nos regozija o pensamento de uma morte súbita que nos poupasse de sobreviver a esses momentos. A alegria de morrer, que não tem nenhuma relação com a ideia e a obsessiva consciência da morte, nasce nas grandes experiências de unicidade, quando se sente perfeitamente que esse estado não voltará mais. Na música e no amor só há sensações únicas; sentes com todo teu ser que estas não poderão mais voltar e lamentas com toda tua alma a vida cotidiana para a qual regressarás. Que admirável gozo gera a ideia de poder morrer em tais instantes, de que, por esse fato, não se perdeu o instante. Pois o retorno à existência cotidiana depois de tais instantes é uma perda infinitamente maior que a extinção definitiva. O desgosto por não morrer nos momentos culminantes do estado musical ou erótico nos ensina o quanto temos que perder vivendo. No momento em que concebamos a reversibilidade do estado musical e erótico, quando a ideia de uma possibilidade de reviver penetre em nosso organismo e quando a unicidade nos pareça uma simples ilusão, não poderemos mais falar da alegria de morrer, mas voltaríamos ao sentimento da imanência da morte na vida, que faz desta apenas um caminho em direção à morte. Teríamos que cultivar os estados únicos, os estados que já não podemos conceber nem sentir como reversíveis, para mergulharmos nos prazeres da morte.A música e o amor não podem vencer a morte porque, em sua essência, tendem a aproximar-se da morte à medida que ganham intensidade. Podem ser considerados como armas contra a morte só em suas fases menores. Uma música suave e um amor tranquilo constituem meios de luta contra ela. Não existe parentesco entre o amor e a morte, como tampouco o há entre a música e a morte; ao contrário, sua relação se estabelece através de um salto, que pode tratar-se apenas de uma impressão, mas que, interiormente, não é menos significativa que um salto. O salto erótico e o salto musical para a morte! O primeiro te arremessa pelo insuportável de sua plenitude; e o segundo, pela soma de suas vibrações, que quebram as resistências da individualidade. O fato de que haja alguns homens que se suicidem ante a impossibilidade de continuar suportando as loucuras do amor reabilita o gênero humano, assim como o reabilitam as loucuras que experimenta o homem na vivência musical.Quem não entende e nem sente a música é tão criminoso quanto aquele que não sente que, em tais momentos, poderia cometer um crime. Todos esses estados só têm valor e expressam uma extraordinária profundidade se conduzem a sentir pesar por não morrer. Quem a cada momento se sentisse morrer por causa deles seria o que alcançaria o sentimento mais profundo pela vida. Embora para todos a morte comece simultaneamente com a vida, nem todos têm o sentimento de morrer a cada instante".Dar sem cessar um salto musical e um salto erótico para a morte! Ou derivá-lo de tua solidão, que seja a solidão do ser, a solidão última. Como podem existir ainda outras solidões distintas destas e como podem existir ainda outras tristezas diferentes? O que seria de minhas alegrias sem minhas tristezas e de minhas lágrimas sem minhas tristezas e alegrias? E que seria de meu canto sem meus abismos e de minha missão sem meu desespero?"Ao escolher para este recorte do pensamento de Emil Cioran (niilista, pessimista, irracionalista e antinatalista), é possível notar, apesar de seu teor poético, que não faz uso do menor senso de realidade metafísica ou ética. Tudo para ele se torna um tipo de "culto a morte", até falando de música: Ao comparar a música com uma "pulsão de morte" não dá conta da necessidade do ser humano de precisar preencher seu vazio existencial. De onde veio a ideia de um Deus bom num universo hostil se não da indicação transcendente de uma verdade maior? Ou como diria C. S. Lewis:"Se o universo é tão mau, ou mesmo quase tão mau, como os seres humanos vieram a atribuí-lo à atividade de um Criador sábio e bom? Os homens são tolos, talvez; mas dificilmente todos a esse ponto".²Cioran acaba compondo menos uma filosofia e mais um tipo de "poesia hipócrita": ele, que era supostamente pró-suicídio, acaba por tentar convencer um engenheiro a não se matar se segurando na ideia da possibilidade de escape pela morte e continuar vivendo³ (assim como a cantora Pitty na música "Pulsos", ainda que eu não possa afirmar se direta, indiretamente ou por obra do inconsciente, remetendo a um bug de pensamento que pode ser rastreado até alguns antigos filósofos estóicos:\ud83c\udfa7"Tenta achar que não é assim tão mal, exercita a paciência. Guarda os pulsos pro final, saída de emergência.**").No canal do Youtuber e mestrando em Psicologia Tiago Azevedo*** temos uma confissão do mesmo contextualizando que desenvolveu uma depressão profunda após ler "As Dores do Mundo", de Schopenhauer e também obras de Nietzsche no ensino médio. O mesmo confessa que, embora tivesse "uma vida boa", passou a "não ver sentido em mais nada", o que fez com que, quando jovem, passasse uma fase de sua vida, segundo suas próprias palavras, "vegetando" numa crise de sentido existencial....Não pode ser coincidência esse negócio. \ud83e\udd26\ud83c\udffb\u200d\u2642REFERÊNCIAS:¹CIORAN, E. M. (Emile M.), 1911-1995. O livro das ilusões [recurso eletrônico]; tradução José Thomaz Brum. - 1. ed. Rio de Janeiro: Rocco Digital, 2014.²LEWIS, C. S. O Problema da Dor. Tradução de Francisco Nunes. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021.³BRAESCHER DE MOURA, Lucas Schardong. "O paradoxo do ateu-crente. Vinte e cinco anos da morte do filósofo romeno Emil Cioran". Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/600084-o-paradoxo-do-ateu-crente-vinte-e-cinco-anos-da-morte-do-filosofo-romeno-emil-cioran>. Acesso em 08 dez. 2021.*GALVÃO MAYA, Lúcia Helena. O que é Filosofia a maneira clássica? | Profa. Lúcia Helena Galvão Maya | TEDxFortaleza. Youtube, 27 ago. 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VR7ZlyZ2Zlw>. Acesso em: 05 dez. 2021.**PITTY. Pulsos (Ao Vivo). Youtube, 09 fev. 2008. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=wfitdSdp6gw>. Acesso em: 05 dez. 2021.***AZEVEDO, Tiago. Crise existencial | Psicologia, Filosofia e Neurociências. Youtube, 05 mai. 2021. Disponível em: <https://youtu.be/mRmMu2u-FqM?t=1160>. Acesso em: 05 dez. 2021.
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