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1 Disciplina: Educação, tecnologia e cultura das mídias Autora: M.e Patricia Affonso Gaspar Revisão de Conteúdos: Esp. Luis Gabriel Venâncio Souza Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Patricia Affonso Gaspar Educação, tecnologia e cultura das mídias 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.r Gilian Cristina Barros / D.r Jefferson Zeferino / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.r Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Luis Gabriel Venânvio Souza Parecerista Técnico Luis Gabriel Venânvio Souza Designer Instrucional Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Alexandre Kramer Morgenterm Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA GASPAR, Patricia Affonso. Educação, tecnologia e cultura das mídias / Patricia Affonso Gaspar. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 58 p. ISBN: 978-85-5475-449-5 1. Conceito e Tecnologia. 2. Educação e Cultura. 3. Recursos Midiáticos. Material didático da disciplina de Educação, tecnologia e cultura das mídias – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio ......................................................................................................... 06 Aula 1 – Conceitos de tecnologia, educação e cultura das mídias ................. 07 Apresentação da Aula 1 ................................................................................ 07 1.1 - A ideologia dos sistemas tecnológicos ............................................ 07 1.2 - Desenvolvimento da tecnologia digital ............................................ 11 1.2.1 - Cultura das mídias digitais ........................................................... 15 1.3 - As tecnologias digitais e a exclusão social ...................................... 17 Conclusão da aula 1 ...................................................................................... 20 Aula 2- Relações entre tecnologia e educação .............................................. 21 Apresentação da aula 2 ................................................................................. 21 2.1 - Educação e cultura digital ............................................................... 21 2.2 - A utilização das TIC na educação brasileira .................................... 24 2.2.1 - A apropriação das TICs pelos docentes ....................................... 27 2.2.2 - Os professores e os nativos digitais ............................................. 29 Conclusão da aula 2 ...................................................................................... 32 Aula 3 - A mídia-educação e a formação de professores ............................... 33 Apresentação da Aula 3 ................................................................................ 33 3.1 - Educação para e por meio das mídias ............................................ 33 3.2 - Mídia educação na formação de professores ................................. 38 Conclusão da aula 3 ...................................................................................... 44 Aula 4 - Recursos midiáticos na educação .................................................... 45 Apresentação da aula 4 ................................................................................. 45 4.1 - A interatividade na aprendizagem .................................................. 45 4.1.1 - Formas de aprender e formas de ensinar .................................... 46 4.2 - A internet e os games na educação ................................................ 50 Conclusão da aula 4 ...................................................................................... 55 Índice Remissivo ........................................................................................ 56 Referências ............................................................................................... 57 6 Prefácio Nesta disciplina serão colocados os conceitos centrais, buscando relacionar as Tecnologias da Informação e da Comunicação no contexto da Educação contemporânea. Também abordaremos um pouco mais sobre a questão das desigualdades no contexto da Educação e também sobre o papel das TICs no ensino contemporâneo. Será discutido a necessidade de integrar a cultura das mídias à educação para que a escola possa ser um espaço de formação crítica para a emancipação das pessoas, falando sobre o papel da interatividade na aprendizagem e na utilização de Internet e jogos em atividades educativas. 7 Aula 1 – Conceitos de tecnologia, educação e cultura das mídias Apresentação da aula 1 Olá alunos e alunas! Sejam bem-vindos à disciplina de Educação, Tecnologia e Cultura das Mídias! Nesta aula introduziremos os conceitos centrais da disciplina, buscando relacionar as Tecnologias da Informação e da Comunicação no contexto da Educação contemporânea. Veremos que as novas tecnologias da informação e comunicação são centrais para o acesso aos novos meios de circulação de informação e conhecimento científico. Iniciaremos a aula lançando um olhar crítico sobre o desenvolvimento dos sistemas tecnológicos, buscando caracterizar novas formas de exclusão decorrentes da falta de acesso à cultura digital. 1.1 A ideologia dos sistemas tecnológicos A tecnologia tem assumido um papel de extrema importância na sociedade, fazendo parte do cotidiano das pessoas, sendo também fundamental para os sistemas de produção, seja no setor primário, secundário, terciário, público ou privado, na medida em que molda os modos de produzir das empresas e nos modos de trabalhar das pessoas. Para Luz e Muzi (2014), a tecnologia é um “conhecimento quetransforma a vida dos seres humanos em aspecto educacional, social, econômico, cultural e pessoal”. A tecnologia precisa ser compreendida de forma ampla, não somente como artefato, mas como conhecimento científico. A seguir, discutiremos alguns importantes aspectos da tecnologia. Em primeiro lugar, devemos abandonar a ideia de que “a ciência produz e a tecnologia aplica o conhecimento científico”. Tecnologia e conhecimento científico estão diretamente ligados; são, portanto, termos indissociáveis. Em segundo lugar, precisamos compreender a tecnologia enquanto um reflexo de contextos socioculturais. A tecnologia é construída a partir de um contexto cultural e social de uma determinada época, e, muitas vezes, ela reproduz os modos dominantes de pensar a sociedade. Portanto, ao contrário 8 do que diz o senso comum, a tecnologia não é neutra; ela é impregnada de ideologia, na medida em que é construída a partir de visões altamente políticas de como o mundo deveria funcionar. Ainda que tenham contribuído para o aumento do bem-estar das pessoas, os avanços tecnológicos muitas vezes reproduzem desigualdades e o domínio de alguns grupos sobre os outros. Autores dos estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) afirmam que avanços tecnológicos que incluam democraticamente os diversos atores sociais só podem ser realizados em oposição à ordem dominante. Filme Tempos Modernos satiriza a produção em massa Fonte: https://radiopeaobrasil.com.br/wp-content/uploads/2018/03/tempos-modernos- filme-charlie-chaplin-home.jpg Saiba mais Vocês podem estar se perguntando de que forma a tecnologia pode fazer mal às pessoas. A poluição e o esgotamento dos recursos naturais são um bom exemplo disso. Assista ao vídeo disponível no link: https://www.youtube.com/wa tch?v=7qFiGMSnNjw As tecnologias dos sistemas de produção (de produtos e mercadorias) são desenvolvidas a partir da ideologia capitalista que valida os interesses de empresários e consumidores ávidos por novidades. Atualmente, a maior parte dos sistemas produtivos está orientada para a produção em larga escala que depende, basicamente, do aumento quantitativo da produção e da redução contínua de custos. Trata-se de um sistema tecnológico que prioriza a obtenção de lucros no curto prazo, mesmo que isso signifique prejudicar a segurança e a saúde dos trabalhadores, ou mesmo o tempo de recuperação do meio ambiente. 9 Curiosidade Ok! Mas será que as novas tecnologias também seguem essa lógica? Sim! No livro Design for the real world, Papanek (1972) afirma que a aceleração artificial dos desejos do consumidor trouxe danos severos para as pessoas e para o meio ambiente durante o século XX. De acordo com Papanek (1972), a obsolescência programada, ou planejada, é uma estratégia introduzida no design industrial para reduzir a vida útil dos produtos, tornando-os obsoletos em intervalos cada vez menores. O objetivo dessa estratégia é acelerar o consumo e impulsionar a lucratividade das empresas. Esse autor explica que há três tipos de obsolescência: A tecnológica: em que são desenvolvidas formas melhores ou mais elegantes de se fazer as coisas; A material: quando as matérias primas se desgastam naturalmente; A artificial: quando o desgaste é planejado, seja pela escolha de matérias primas menos duráveis ou pela existência de componentes que não podem ser substituídos ou reparados. A obsolescência programada e o lixo eletrônico Fonte: https://img.olhardigital.com.br/uploads/acervo_imagens/2016/08/r16x9/2016082 2182501_1200_675_-_smartphones_reciclagem_lixo.jpg Segundo Papanek (1972), desde o término da Segunda Guerra Mundial, o maior compromisso do design industrial tem sido o de promover a aceleração 10 da obsolescência artificial e estética, que vem provocando uma série de efeitos negativos para a sociedade e para o meio ambiente. Portanto, é necessário abandonar a visão reducionista de que a tecnologia está descontextualizada da sociedade, como se o desenvolvimento tecnológico fosse autônomo e neutro. Também é necessário evitar a visão determinista de que a “tecnologia provoca mudanças sociais”, como se não houvesse uma série de negociações e decisões humanas que precedem o desenvolvimento tecnológico. Um sistema tecnológico não é composto apenas de máquinas, processos produtivos e de informação, mas também de pessoas e organizações que refletem a economia, a política e a cultura de uma determinada época. Podemos afirmar, portanto, que um sistema tecnológico possui uma dimensão social e histórica. Compreender que a tecnologia é moldada por aspectos sociais e culturais é fundamental para pensarmos o desenvolvimento tecnológico para além do reducionismo técnico. Saiba mais Poucos conceitos evocam com tanta clareza as incertezas da condição humana nesta mudança de milênio quanto os de ciência, tecnologia e sociedade. Leia mais sobre o assunto, disponível no link: https://www.oei.es/historico/salactsi /Livro_CTS_OEI.pdf Precisamos ter em mente que os sistemas tecnológicos estão em constante desenvolvimento, portanto, não podemos apenas aceitar a forma como eles nos são apresentados, sem uma reflexão crítica. A disciplina de Educação, Tecnologia e Cultura das Mídias é uma oportunidade de lançar uma visão crítica acerca da construção e do consumo das novas tecnologias. As tecnologias devem ser desenvolvidas de forma a incluir democraticamente todos os grupos que são impactados pela ação técnica. Para conciliar as demandas econômicas, sociais e ambientais, é necessário que o desenvolvimento tecnológico esteja orientado para produzir “qualidade social”, em que o bem-estar de cada grupo (empresários, acionistas, consumidores) esteja atrelado às condições de bem-estar de todos os outros grupos envolvidos (trabalhadores, comunidades, meio ambiente). 11 A inclusão democrática de todos os atores sociais Fonte: https://videohive.net/item/social-network-connection-background/21532137 1.2 Desenvolvimento da tecnologia digital De acordo com Lúcia Santaella (2007), o desenvolvimento da tecnologia é marcado por cinco fases: Reprodutível; Difusão; Disponível; Acesso; Conexão contínua. A tecnologia do reprodutível surge na transição do século XIX para o século XX com recursos eletromecânico e voltada aos mercados de massa. Exemplos dessa tecnologia são o jornal, a fotografia e o cinema. A tecnologia da difusão surge a partir da década de 1920 com recursos eletrônicos. Essa tecnologia é caracterizada pelos meios de difusão da comunicação em massa, como o rádio e a televisão. A tecnologia do disponível surge a partir do final dos anos 1970 e início dos anos 1980, possibilitando que o usuário selecione a recepção do conteúdo que seja consumir. Exemplos dessa tecnologia são o walkman, o fone de ouvido, a televisão a cabo e o controle remoto. 12 A tecnologia do acesso dos anos 1990, se caracteriza pelo início da convergência entre os computadores e as telecomunicações: mouse, modem e software. Enquanto as tecnologias da informação envolvem recursos de computação que servem para produzir, armazenar e transmitir informações, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) são um sistema que integra hardwares, softwares, rede e dispositivos móveis para processar a informação e auxiliar a comunicação. Em resumo, as TICs são um resultado da convergência entre as tecnologias da computação com as tecnologias da comunicação. Dessa forma, a informática, o audiovisual e as telecomunicações convergem para uma rede de comunicação mundial, sendo a Internet seu principal exemplo. A tecnologia de conexão contínua se inicia no final dos anos 1990 e se difunde no início do século XXI, em decorrência da internet de alta velocidade. Essa tecnologiaé representada pelos smartphones e tablets. As linguagens que envolvem esses dispositivos móveis de conexão contínua são cada vez mais fluidas e hipertextuais. O hipertexto é constituído por nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens, sequências musicais etc.) e de links entre esses nós, referências, notas, ponteiros, ‘botões’ indicando a passagem de um nó a outro. (LÉVY, 1999, p 56). Conectando usuários a conhecimentos, lugares e culturas de uma forma sem precedente. De acordo com Levy (1993), essas tecnologias, denominadas tecnologias da inteligência, produzem um mundo digital, virtual e instantâneo; um gigantesco sistema composto por informações conectadas a outras informações que formam uma rede na qual as pessoas transitam, pesquisam, produzem conteúdos interagindo e trocando informações. Curiosidade Web é uma palavra inglesa que significa teia ou rede. O significado de web ganhou outro sentido com o aparecimento da internet. A web passou a designar a rede que conecta computadores por todo mundo, a World Wide Web (WWW). Web pode ser uma teia de aranha ou um tecido e também se utiliza para designar uma trama ou intriga. A web significa um sistema de informações ligadas por meio de hipermídia (hiperligações em forma de texto, vídeo, som e outras animações digitais) que permitem ao usuário acessar uma infinidade de conteúdos por meio da internet. Para tal é necessária ligação à internet e um 13 navegador (browser) onde são visualizados os conteúdos disponíveis. São exemplos de navegadores: Google Chrome, Safari, Mozilla Firefox, Internet Explorer, Opera, entre outros. Também é necessário compreender a diferença entre as chamadas Web 1.0, Web 2.0 e Web 3.0. Em primeiro lugar, é preciso destacar que as diferentes fases da internet são marcadas não somente pelos avanços tecnológicos e pela ampliação da velocidade de conexão, mas, principalmente, pelas formas de interação entre os usuários e a própria web. Na Web 1.0, a conexão era discada por meio de uma linha telefônica. A web era constituída de sites corporativos e portais de notícias, de conteúdo estático, em HTML. Vocabulário HTML é a sigla de HyperText Markup Language, expressão inglesa que significa Linguagem de Marcação de Hipertexto. Consiste em uma linguagem de marcação utilizada para produção de páginas na web, que permite a criação de documentos que podem ser lidos em praticamente qualquer tipo de computador e transmitidos pela internet. As empresas enxergaram na internet uma oportunidade de promover seus produtos e serviços para além da comunicação veiculada na mídia tradicional, ou seja, TV, jornais e revistas. Os portais de notícias eram vinculados a jornais já tradicionais no meio off-line, com exceção dos portais de provedores como Terra e UOL que, antes de firmarem parcerias com veículos de comunicação off- line, passaram a desenvolver conteúdo próprio. Nesses portais de notícias, propagandas de produtos e serviços eram expostas em banners que seguiam a mesma lógica de um outdoor de rua, que é exposto a um grande número de pessoas, sem muita segmentação. Na Web 1.0 as pessoas selecionavam o conteúdo que queriam consumir, mas, a exemplo do que acontecia na mídia off- line, não passavam de meras receptoras de informação. 14 Web 1.0, 2.0 e 3.0 Fonte: https://www.idealmarketing.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/10/o-que-e- web-3-0-impacto.jpg A Web 2.0, também chamada de web social, foi marcada pela ampliação da interatividade dos usuários. Mais do que meros receptores, os usuários passaram a ser produtores de conteúdo. Os portais passaram a ter chats e fóruns de discussão e as primeiras mídias sociais começaram a se popularizar. A presença das empresas na internet deixou de ser optativa e passou a ser praticamente obrigatória. Mais do que portais corporativos, era necessário desenvolver e-commerces que levaram as empresas a alcançar um novo padrão de logística e operações. De acordo com Tonéis (2017), o termo Web 2.0 foi criado pelo especialista Tim O’Reilly, que classificou essa nova forma de utilizar a internet em “web como plataforma”. Na Web 2.0, as empresas passaram a entender que, ao invés de investir nas velhas fórmulas de propaganda, era necessário desenvolver conteúdos interessantes e compartilháveis para estabelecer espaços de diálogo com o público consumidor. A Web 3.0, por sua vez, é uma internet que surge com a convergência de várias tecnologias que já existem e que estão sendo utilizadas ao mesmo tempo para satisfazer as necessidades do usuário de forma mais personalizada. A Internet não está presente somente nos computadores e smarthphones, mas em nossas smart TVs, relógios e outros objetos de uso diário. 15 Nuvem de palavras para o termo Web 3.0 Fonte: acervo do autor (2019). Há uma série de discussões entre os especialistas sobre a necessidade de se distinguir a Web 2.0 da Web 3.0, já que as novas tecnologias possibilitam a intensificação do uso das ferramentas e não necessariamente novas formas de utilização. Em pouco tempo, acredito que já será possível identificar com mais clareza as características que marcam essa evolução. Saiba mais A internet 4.0 intensificou ainda mais a comunicação e armazenamento de dados. Foi por meio dessa evolução, a comunicação sem fio (wireless) passou a se proliferar. Em qualquer hora, em qualquer lugar do planeta, a Integração e interação acontece em tempo real. Uma era em que a inteligência artificial fará parte do cotidiano dos internautas. Para mais informações acesse o link disponível: https://usemobile.com.br/web-4-0-quais-sao-as-expectativas-para- o-futuro-da-rede/ 1.2.1 Cultura das mídias digitais Podemos definir como cultura os modos de agir, de pensar e todo conhecimento tácito e científico que é produzido, cultivado e transmitido de uma geração a outra. A cultura das mídias corresponde à cultura proveniente dos 16 meios de comunicação. São exemplos da cultura das mídias as novelas, os programas, as séries e animações produzidas para a TV; filmes exibidos no cinema e na televisão; jogos de videogame, música e informações veiculadas em rádio. As vivências dos usuários na Web produzem a chamada cultura das mídias digitais, ou somente Cultura Digital, que reorganizou as relações sociais mediadas pelas tecnologias digitais, provocando mudanças na vida das pessoas nas mais diversas dimensões. A cultura digital modificou os costumes, as formas de se comunicar e até de namorar das pessoas. Além disso, com a chegada Web 2.0, produtores e consumidores de mídia que antes ocupavam posições distintas passam a interagir e a participar ativamente do desenvolvimento do conteúdo das novas mídias. O smartphone é um aparelho móvel que faz uso de tecnologias que permitem acesso à internet e que comportam a convergência das mídias Fonte: https://pplware.sapo.pt/wp-content/uploads/2018/03/facebook-aplicacoes_conta ctos_Maps_apps.jpg A convergência é um dos aspectos mais centrais da cultura digital. De acordo com Jenkins (2009) a convergência representa uma “transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos”. As convergências ocorrem em diferentes momentos: desde a convergência dos computadores com as telecomunicações até a convergência, ainda em progresso, das tecnologias de distribuição. As formas de distribuição de música e filmes são um bom exemplo das tecnologias de distribuição: algumas delas convergem, enquanto que outras declinam e se tornam obsoletas, como fitas e 17 vídeo cassetes, CDs e DVDs. Por fim, a terceira convergência ocorre nos conteúdos midiáticos e no próprio cérebro das pessoas. Hoje é possível assistir a um concerto em tempo real, sem queseja necessário sair de casa. É importante notar que os velhos meios de comunicação (cinema, teatro, rádio e TV) não estão sendo substituídos, e sim sobrepostos. As tecnologias não estão anulando os meios tradicionais, estão multiplicando as formas de acesso e de consumo desse conteúdo. A cultura digital é constantemente alimentada pelas diferentes modalidades de comunicação off-line, pela cultura das artes, da música, da TV e do cinema, ao mesmo tempo em que cria uma linguagem e um sistema de referências próprio, que é fruto da vivência dos usuários. Atualmente, a cultura digital é um universo de códigos próprios que produz alguns usuários eruditos e outros analfabetos, às vezes morando sob o mesmo teto. 1.3 As tecnologias digitais e a exclusão social Desde a Revolução Industrial, a economia global vem passando por um processo de intensificação das relações sociais e comerciais entre os países. O termo globalização, nascido no meio jornalístico, passou a ser utilizado em diversos campos do conhecimento para caracterizar, de modo generalizado, a disseminação global de processos sociais e econômicos. A globalização pode ser definida como a “intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa” (GIDDENS, 1991). O processo da globalização não seria possível sem as TIC´s (Tecnologia da informação e comunicação), sendo abordado mais à frente, que foram centrais na disseminação da informação e do conhecimento científico das diversas ciências. Para Giddens (1991), o resultado desse processo não se caracteriza em um conjunto generalizado de mudanças que atuam em uma direção uniforme, mas em tendências mutuamente opostas. O que isso quer dizer? Quer dizer que, se por um lado, a globalização produz uma certa massificação cultural, unificando os modos de agir, de pensar e de consumir, por outro, estimula as 18 pessoas a valorizarem singularidades e características típicas das culturas locais. Ao mesmo tempo que aproxima e unifica, a globalização produz contrastes e divisões. É um fenômeno que age de forma desigual conforme a região e o estrato da população. Somente as pessoas que dispõem de internet e de dispositivos inteligentes como computadores e smarthphones podem usufruir dos benefícios desse fluxo de informação internacional. De acordo com o geógrafo Milton Santos, a globalização estrutura um novo espaço geográfico que concentra ciência, tecnologia e informação. Santos denomina esse novo território como meio técnico-científico-informacional, que abrange grandes áreas da Europa, dos Estados Unidos e do Japão, e que se manifesta em pequenas áreas de países em desenvolvimento, como o Brasil. Trabalho infantil nas minas de cobalto, material usado na elaboração de smarthphones Fonte: https://www.greenme.com.br/images/viver/especial-crianca/trabalho-infantil-con go.jpg Com a globalização, surge uma oposição entre as áreas adaptadas às exigências econômicas e políticas do mercado internacional e áreas desconectadas desse novo sistema tecnológico. Essas áreas desconectadas podem se localizar no interior dos Estados Unidos, em áreas rurais da Europa Oriental, ou mesmo nas periferias de grandes cidades brasileiras. Os novos fluxos do capital financeiro ocorrem nessas redes mundiais de circulação e consumo que são altamente dependentes das tecnologias digitais. Por consequência, as áreas que não têm acesso a esse meio técnico-científico- informacional tornam-se cada vez mais isoladas, sendo incorporadas pela 19 economia globalizada apenas como fornecedoras de matérias-primas e de mão de obra barata. Importante No Brasil, segundo o IBGE, mais de 190 cidades do Norte e do Nordeste sofrem com a falta de infraestrutura nesse sentido. Em Prainha, no Pará, apenas 0,01% possui algum tipo de conexão com a web. Segundo a pesquisa da UIT, as guerras, os climas extremos e a desigualdade social são alguns dos fatores que impossibilitam que a internet se estabeleça em algumas regiões. Investimentos no mercado de ações são acessíveis a “todos” que saibam operar um home broker a partir de um smarthphone Fonte: https://abrilexame.files.wordpress.com/2019/02/sd_2702.jpg?quality=70&strip= info&resize=680,453 A intensificação do uso das TICs, a velocidade das inovações tecnológicas e as transformações socioeconômicas que elas produzem ampliam ainda mais as distâncias entre aqueles que dominam daqueles que não dominam as ferramentas informacionais. Como consequência, há um agravamento da exclusão e do subdesenvolvimento nos países periféricos à globalização. Portanto, ao mesmo tempo que ampliam a produção e a difusão de informações, as Tecnologias da Informação e da Comunicação também são centrais para o isolamento e a exclusão de uma parcela significativa da população mundial. De acordo com dados publicados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel, 2016), o Brasil possui mais de 250 milhões de linhas ativas na telefonia móvel, o que representa 1,2 linhas de smartphone por habitante. O smartphone está presente em 93% dos lares brasileiros. Entretanto, 20 o uso do smartphone ainda não é tão abrangente. Pessoas mais idosas ou que possuem baixa renda familiar e menor grau de instrução são as que menos acessam a Internet. Considerando a estratificação etária, 40% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos conseguem acessar a internet pelo menos uma vez ao dia. Conclusão da aula 1 Chegamos ao termino desta aula, pode-se ver que a tecnologia deve ser compreendida de forma ampla, não somente como artefato, mas como conhecimento científico. A tecnologia não é neutra, já que, na maioria das vezes, reproduz os modos de pensar de grupos dominantes, podendo contribuir para o aprofundamento das desigualdades sociais. Pensar criticamente o desenvolvimento tecnológico pode ser uma boa forma de evitar a repetição desses erros. A inclusão democrática de todos os grupos que são impactados pela tecnologia pode ser uma oportunidade para reorientar o desenvolvimento tecnológico na direção da qualidade compartilhada, ou qualidade social. As novas tecnologias devem conciliar as demandas econômicas, sociais e ambientais, buscando produzir valor para a sociedade como um todo. Você viu também a respeito da cultura das mídias digitais que é constituída de uma linguagem e de um sistema de referências próprio, que advém da convergência das culturas dos meios de comunicação off line adicionada pela vivência dos usuários no ambiente online. Atualmente, a cultura digital é um universo de códigos próprios que produz, ao mesmo tempo, um novo tipo de erudição e de analfabetismo. Atividades de aprendizagem Reflita a respeito de quatro situações corriqueiras em que pessoas idosas ou com baixo nível de instrução têm dificuldade de realizar por não terem acesso às ferramentas digitais. Como você acredita que essas situações poderiam ser solucionadas? 21 Aula 2- Relações entre tecnologia e educação Apresentação da aula 2 Nessa segunda aula, abordaremos um pouco mais sobre a questão das desigualdades no contexto da Educação e também sobre o papel das TICs no ensino contemporâneo. Veremos que o acesso às novas tecnologias e o domínio da Cultura Digital são fundamentais para a redução das desigualdades no Brasil. Além disso, apresentaremos uma pesquisa que revela que ainda é baixa a utilização das TICs na educação brasileira. Há professores que não dominam tão bem as ferramentas digitais, gerando uma visão de tecnologia como se fosse uma etapa consecutiva e não como um elemento integrado ao conteúdo didático. Enquanto as TICs forem utilizadas apenas como uma ferramenta de formataçãoe transmissão de conteúdo, veremos apenas a reprodução do modelo tradicional de ensino, na qual o professor fala e os alunos apenas ouvem. Modificar antigos paradigmas e implementar novos métodos requer mudança de atitudes e uma forma de pensar completamente diferente do modelo tradicional. 2.1 Educação e cultura digital Diante dos avanços tecnológicos das últimas décadas, precisamos pensar o papel da tecnologia e da cultura das mídias na educação, nos processos de aprendizagem e na prática docente. Mais do que somente estudar a utilidade da tecnologia na Educação, é necessário compreender, de forma crítica, as novas formas de ensinar e aprender com tecnologias, bem como os desafios decorrentes dessa transformação nas relações de ensino e aprendizagem. Encerramos a aula anterior falando sobre as distâncias que separam aqueles que têm daqueles que não têm acesso às novas ferramentas tecnológicas. Corroborando as reflexões de Milton Santos sobre a globalização, foi visto que as Tecnologias da Informação e da Comunicação são centrais tanto para a produção e a difusão de conhecimento técnico/científico, quanto para exclusão de uma parcela significativa da população, que se vê cada vez mais isolada do universo digital. 22 Quanto à questão das desigualdades no contexto da Educação e também sobre o papel das TICs no ensino contemporâneo, Bourdieu (2007) elabora os conceitos de capital cultural e capital social para explicar as desigualdades do desempenho escolar de crianças provenientes de diferentes classes sociais. Para o sociólogo, o sucesso ou o fracasso escolar dependem muito mais do capital cultural investido na criança do que nas ditas aptidões naturais do indivíduo. Basicamente, o capital cultural consiste nos ativos ou recursos sociais de um indivíduo. O termo abrange a educação escolar e, principalmente, a educação familiar, de onde o indivíduo herda seus modos, seu intelecto, seu estilo de vestir, o estilo da linguagem oral e escrita. São ativos que permitem ao indivíduo ascender socialmente em uma sociedade estratificada, herdando assim essas características, não sendo inatas e sim aprendidas culturalmente. Para Bourdieu (2007), o sucesso do desempenho escolar é resultante muito mais do capital cultural que a família investiu na criança, do que da educação formal que ela recebe no sistema de ensino escolar. Além disso, terão maiores rendimentos econômicos os alunos que não somente detém um capital cultural elevado, mas que também dispõem de um capital social também herdado da família de pessoas bem relacionadas que podem abrir acesso às melhores oportunidades no mercado de trabalho. O capital cultural existe sob três formas: No estado incorporado: em que a acumulação do capital cultural está ligada ao corpo, ao indivíduo, como resultado do tempo que a pessoa investe em si mesma. São os conhecimentos, hábitos e gostos que são adquiridos com o tempo; No estado objetivado: derivado do acúmulo de bens culturais. A posse de um bem cultural, como um quadro ou uma obra de arte, pressupõe a existência do capital econômico (condições financeiras para adquirir a obra) e do capital cultural (gosto e domínio da linguagem) que legitima a apropriação simbólica do objeto. Bourdieu também classifica a posse de máquinas e tecnologias como parte do capital cultural objetivado; 23 No estado institucionalizado: é o capital cultural sob a forma de certificados e diplomas. O acesso às novas tecnologias e o domínio da Cultura Digital também podem ser classificados nos termos do capital cultural elaborado por Bourdieu, na medida em que potencializam a apropriação e a produção de informação que são compartilhadas socialmente. Desfrutam desse novo capital cultural aqueles que possuem domínio dessas ferramentas tecnológicas e sabem colocá-las a serviço da própria ascensão econômica e social. Fluência em Cultura digital Fonte: http://www.unama.br/sites/unama.br/files/fields/imagemLateral/noticias/2017/07 /pbl-blog-da-engenharia.png Para Tufte e Christensen (2009) ser alfabetizado na Cultura Digital significa: Acesso: a alfabetização, para a internet, é um requisito para o acesso tanto aos equipamentos quanto aos conteúdos e serviços online, bem como para regular as condições desse acesso; Compreensão: a alfabetização para a internet é crucial para uma avaliação efetiva e criteriosa das informações disponíveis online; Criação: a alfabetização para a internet transforma o usuário em um produtor de conteúdo, permitindo a interatividade e a participação online. 24 Note que a compreensão e o saber utilizar as TICs, são aspectos cruciais para a alfabetização digital. Em uma época em que o conteúdo pode ser produzido por qualquer pessoa que tenha acesso a artefatos digitais que possam auxiliar nesse processo, como smarthphones e computadores, é necessário que as pessoas saibam filtrar e selecionar o conteúdo que será consumido e, por vezes, apropriado por elas. Mídias Assista ao vídeo para entender mais a respeito das fake news, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=MSJRfJf5Z-s Nesse contexto, a rápida disseminação de notícias falsas, por exemplo, é um sintoma de que falta às pessoas a vivência da Cultura Digital. É por meio dessa vivência que desenvolvemos a nossa visão crítica e aprendemos a filtrar informações de qualidade diante de um volume cada vez maior de informações difusas. Portanto, ser fluente em Cultura Digital significa não somente saber usar os diversos dispositivos digitais, mas dominar os códigos e as linguagens da Cultura Digital, para uma apropriação crítica do conteúdo disponível online. Para reduzir as desigualdades sociais e promover a autonomia das camadas menos favorecidas é necessário, portanto, que os atores sociais estejam alinhados em torno do desenvolvimento de políticas públicas que favoreçam a disseminação do acesso às novas tecnologias da informação e comunicação. Para Luz e Muzi (2014) as TICs e sua utilização por meio das diferentes mídias como internet, filmes, rádio, televisão, games e outros, são ferramentas indispensáveis “para o desenvolvimento da vida intelectual do ser humano, pois elas estimulam a formação de comunidades com um grande potencial cultural, informacional, comercial e educacional a ser explorado”. 2.2 A utilização das TIC na educação brasileira As recentes transformações no campo da tecnologia modificam o saber ensinar e o saber aprender das pessoas. Como já nos disse Jenkins no livro Cultura da Convergência (2015), as tecnologias afetam o modo de pensar, agir, 25 de se apropriar e de produzir informações. De acordo com Luz e Muzi (2014), a informação tem o poder de transformar “a vida de homens e mulheres, alunos e alunas, sendo responsabilidade pedagógica de professoras e professores pensar como utilizá-la em sala de aula para construção do conhecimento com mais qualidade”. Diante dessa realidade, o acesso rápido a informações atualizadas provenientes de fontes éticas e seguras são fundamentais, tanto para o aprendizado quanto para a prática docente. Ao longo dos últimos 30 anos, a utilização das TIC na Educação vem evoluindo de uma concepção instrumental para uma concepção de comunicação educacional integradora que considera tanto a dimensão instrumental quanto a dimensão conceitual. Para Sousa (2016), a questão em torno da utilização das TIC na educação não é necessariamente decorrente da EaD. O desenvolvimento da EaD e de suas diferentes modalidades de interlocução e distribuição é que estão historicamente ligados ao desenvolvimento das tecnologias. Saiba mais Para mais informação a respeito da história da EaD no Brasil, acesse o vídeo disponível no link: https://blog.raleduc.com.br/2016/05/13/infografico-ead-historia-no-brasil/ Devido à maior capacidade de armazenamento, maior velocidade no processamento, e também maior compatibilidade entre diversos sistemas operacionais, as novas ferramentas digitais fazem com que o acesso à informação seja mais fácil. Entretanto, as desigualdades no acesso às novas tecnologias têm sido um problema central na formação de cidadãos. De acordo com os resultados da pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras (2017), a utilização nas TIC varia consideravelmente de acordo com a localização da escola. Para se ter uma ideia, de acordo com a mesma pesquisa, apenas 36% das escolas localizadas em zonas rurais têm acesso à Internet. Dessas, 3% não dispõe de computadores para que os alunos possam acessar a rede. Apenas 18% das escolas da região Norte e 30% das escolas da região Nordeste têm acesso à Internet. 26 De acordo com os resultados da pesquisa TIC Educação (2017), podemos concluir que um dos problemas centrais da educação brasileira é a falta de investimento em infraestrutura nas escolas. Além disso, muitas das escolas que dispõem de acesso à internet possuem conexões muito lentas que inviabilizam o uso da Internet em sala de aula. Saiba mais Para uma melhor compreensão dos princípios fundamentais de ser tecnológico, leia na íntegra o livro TIC Educação, Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras, disponível no link: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/tic_edu_2017_livro_eletronico .pdf O smartphone é o único dispositivo de acesso à Internet para muitos estudantes brasileiros Fonte: https://escoladainteligencia.com.br/wp-content/uploads/2017/11/137273-celular- na-sala-de-aula-como-gerir-o-uso-604x270.jpg “Apesar de 85% dos estudantes de escolas localizadas em áreas urbanas serem usuários de Internet”, 22% daqueles que frequentam escolas públicas acessam a Internet exclusivamente por meio do celular. Nas escolas particulares localizadas em zonas urbanas, apenas 2% dos alunos tem no smartphone seu único meio de acesso à Internet. O smartphone é o único dispositivo de acesso à Internet para 32% dos estudantes da região Norte; para 29% na região Nordeste; para 15% Centro-Oeste; para 14% no Sudeste e 10% na região Sul. (TIC EDUCAÇÃO, 2017). Quando se observam os dados de uso das tecnologias pelos alunos no ambiente escolar, o cenário é ainda pior. “Apenas 39% dos alunos de escolas 27 públicas de áreas urbanas e 50% daqueles que estudam em escolas particulares afirmaram acessar a Internet na escola”. (TIC EDUCAÇÃO, 2017). Para reduzir as desigualdades, é necessário ampliar e melhorar as opções de conectividade. Na medida em que o acesso à informação está diretamente relacionado ao desenvolvimento econômico, é necessário que o governo construa e amplie a infraestrutura tecnológica, sendo este um elemento central para a aprendizagem móvel. É fundamental também que os governos busquem fornecer acesso equitativo à conectividade móvel. Um estudante que não pode usar uma rede móvel, seja por razões econômicas ou geográficas, permanecerá excluído dos novos espaços técnicos-informacionais que abrem acesso a oportunidades de aprendizagem e ao futuro profissional (Unesco, 2014). Além disso, há uma forte desigualdade de gênero no acesso às TICs. De acordo com a Unesco (2014) existem aproximadamente 300 milhões de homens a mais do que mulheres que possuem telefones celulares nos países de baixa renda. Devido às características culturais dos países pobres, os homens têm mais acesso e facilidade para utilizar melhor as tecnologias móveis do que as mulheres. A Unesco recomenda que os governos façam um diagnóstico da atual infraestrutura de TIC e tracem metas realistas para melhorá-la. É necessário também baratear o acesso as redes, especialmente em instituições educacionais como escolas, universidades e bibliotecas, mesmo que isso signifique fornecer subsídios integrais ou parciais, para o acesso a serviços móveis de dados e banda larga. Para reduzir as desigualdades de gênero, os formuladores de políticas públicas devem elaborar estratégias que estimulem as meninas a utilizar smartphone e outros artefatos tecnológicos. 2.2.1 A apropriação das TICs pelos docentes A questão da conectividade é sensivelmente melhor nas zonas urbanas. Ainda assim, a pesquisa revelou que ainda é baixa a apropriação das TICs pelos docentes nas atividades de ensino. Os resultados mostram que menos da metade dos professores que lecionam em escolas urbanas utilizam as TICs na realização das atividades diárias. 28 Percentual de professores que realizam atividades com o uso das TICs Fonte: https://www.cetic.br/media/analises/tic_educacao_2017_coletiva_de_imprensa .pdf A apropriação das TICs por meio da prática pedagógica e da gestão escolar também varia consideravelmente na comparação entre as escolas públicas e privadas nas zonas urbanas. O gráfico a seguir revela as orientações passadas pela coordenação pedagógica aos professores e alunos, envolvendo a Internet e o uso das TICs. Orientações da coordenação pedagógica quanto ao uso da Internet Fonte: https://www.cetic.br/media/analises/tic_educacao_2017_coletiva_de_imprensa .pdf O Gráfico 3 compara professores da rede pública e privada na utilização das TICs nas atividades docentes. 29 Comparação entre professores de escolas públicas e privadas para o uso das TIC´s Fonte: https://www.cetic.br/media/analises/tic_educacao_2017_coletiva_de_imprensa .pdf Como podemos observar, ainda é baixa a utilização das TICs na educação brasileira. É importante destacar que só poderemos nos beneficiar das TICs nos processos de ensino e aprendizagem quando houver, além da infraestrutura necessária, profissionais capacitados para lidar com as ferramentas e utilizá-las em diversas situações-problemas. Luz e Muzi (2014) reforçam a importância da escola no processo de aprendizagem e ressaltam que as crianças devem ser educadas para o futuro, ou seja, devem ser educadas a partir de um processo integrado ao contexto tec- nológico dos tempos atuais e futuros. A educação com as mídias e a educação para as mídias busca a formação de cidadãos ativos e críticos em relação às TIC. 2.2.2 Os professores e os nativos digitais Os alunos da nova geração são nativos digitais, ou seja, fazem parte de uma geração que possui contato com objetos e signos do universo digital já nos primeiros anos de vida. São crianças falantes da linguagem digital na medida em que crescem em meio a computadores, internet e games. De acordo com Tonéis (2017), os nativos digitais estão acostumados a receber informações de forma rápida e imediata. Realizam diversas tarefas ao mesmo tempo e preferem consumir informações na forma de hipertexto, sem precisar seguir uma 30 sequência linear; preferem gráficos a textos. São jovens movidos pelo prazer instantâneo e pelas recompensas frequentes. Nativos digitais Fonte: https://meumundopersonalizado.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/02/6918 0-uso-da-tecnologia-e-crianca-como-criar-uma-sinergia-saudavel-604x270.jpg Para Tonéis (2017), aqueles que não nasceram no mundo digital, mas em algum momento foram inseridos nesse universo, são chamados imigrantes digitais. São pessoas que tiveram que adaptar-se às novas ferramentas digitais, seu modo de trabalhar e de se relacionar com o mundo. Podemos concluir que muitas das tensões que se observam no ambiente escolar derivam dessa dissonância entre imigrantes e nativos digitais no que se refere à linguagem, aos modos de pensar e de agir. Muitas vezes, professores e coordenadores pedagógicos só conseguem inserir as tecnologias digitais na estrutura do sistema escolar que eles conhecem: como um canal de transmissãode informação. Sabemos que a maior preocupação dos professores, fora da sala de aula, recai sobre o planejamento e a elaboração do conteúdo a ser ministrado. As novas tecnologias são empregadas de forma puramente instrumental na formatação e na transmissão de conteúdo. Isso explica porque a tecnologia é vista como uma etapa consecutiva e não como um elemento integrado ao conteúdo didático. Na medida em que são vistas como uma ferramenta de formatação e transmissão de conteúdo, as TICs são utilizadas apenas para 31 reproduzir a forma tradicional de ensinar, na qual o professor fala e os alunos apenas ouvem. Para Luz e Muzi (2014) os professores tendem a resistir à inovação tecnológica e demonstram-se pouco favoráveis a uma formação tecnológica. Ao mesmo tempo que faltam aos docentes a capacitação e a fluência necessárias para a utilização das TICs, observamos os alunos cada vez mais desinteressados no modelo clássico baseado na transmissão de informação. Perde-se a oportunidade de utilizar as TICs como espaços de diálogo de ensino- aprendizagem e de modificar o cotidiano da sala de aula por meio de diferentes práticas pedagógicas. Modificar antigos paradigmas e implementar novos métodos requer mudança de atitudes e uma forma de pensar completamente diferente do modelo dominante. Educar, portanto, não pode se basear somente na transmissão de informações. O que importa, na verdade, é garantir que os alunos sejam capazes de assimilar e processar a informação de forma crítica, para poder utilizá-la na solução de problemas. É importante, entretanto, que não percamos o foco: a tecnologia deve ser utilizada na educação não como um recurso motivador e ilustrativo, mas como potencializadora do conhecimento. As aulas não devem perder o seu significado científico, objetivo, dialógico e crítico na construção do conhecimento. (BARROS, 2008). A sala de aula e os novos espaços de diálogo abertos pelas TICs devem ser vistas como oportunidades de interação e de construção de conhecimento. É necessário abandonar a ideia de que o professor é o único detentor do conhecimento e de que a informação deve fluir em uma única direção; o professor é, na verdade, o facilitador do acesso ao conhecimento, tanto ele quanto o aluno assumem simultaneamente o papel de emissor e receptor de informação. A resistência à utilização das tecnologias em sala de aula alimentam ações antipedagógicas que desmotivam os alunos. É necessário que as práticas educacionais acompanhem o ritmo das transformações que vivemos em nossa sociedade, fazendo com que a prática docente seja transformadora e atraente para professores e alunos (LUZ; MUZI, 2014). As TICs representam assim, oportunidades de atender à necessidade dos alunos por aulas mais interessantes e interativas, e de romper com um sistema já desgastado. 32 Conclusão da aula 2 Vimos nessa aula que é necessário pensar o papel da tecnologia e da cultura das mídias na educação, nos processos de aprendizagem e na prática docente. Para reduzir as imensas desigualdades sociais enfrentadas no Brasil, é necessário que professores, coordenadores pedagógicos e o governo estejam alinhados em torno do desenvolvimento de políticas que favoreçam a disseminação do acesso às novas tecnologias da informação e comunicação. Os alunos devem ser educados para o futuro e isso significa que eles devem dominar e se apropriar da cultura digital. As TICs são ferramentas indispensáveis para o desenvolvimento da vida intelectual do ser humano, na medida em que estimulam a formação de comunidades com um grande potencial cultural e informacional. A informação tem o poder de transformar a vida das pessoas, sendo responsabilidade de docentes saber utilizá-la em sala de aula para construção de um conhecimento de qualidade. Vimos que ainda é baixa a utilização das TICs na educação brasileira. Segundo a Pesquisa TIC Educação (2017) falta infraestrutura de acesso à Internet para grande parte das escolas brasileiras. Além disso, muitas das escolas que dispõem de acesso à internet possuem conexões muito lentas que inviabilizam o uso da Internet em sala de aula. Além dos problemas infra estruturais, há uma resistência ao uso das TICs por boa parte dos professores. Os alunos só poderão ser beneficiados pelas TICs no ambiente escolar se houver em sala de aula profissionais capacitados para lidar com as ferramentas e utilizá-la em diversas situações-problema. Atualmente, professores e coordenadores pedagógicos só conseguem inserir as tecnologias digitais na estrutura do sistema escolar que eles conhecem: como uma ferramenta para formatar o conteúdo e como um canal de transmissão de informação. A sala de aula e os novos espaços de diálogo abertos pelas TICs devem ser vistas como oportunidades de interação e de construção de conhecimento. É necessário que as práticas educacionais acompanhem o ritmo das transformações que vivemos em nossa sociedade, fazendo com que a prática docente seja transformadora e atraente para professores e alunos. Portanto, é preciso abandonar a ideia de que o professor é o único detentor do conhecimento 33 e de que a informação deve fluir em uma única direção. As TICs representam uma ótima oportunidade de romper com o velho sistema e atender aos anseios dos alunos por aulas mais interessantes e interativas. Atividades de aprendizagem Compare a aula que você teve com a última aula presencial que você teve na escola e em outra universidade. Quantas tecnologias e mídias foram utilizadas em cada aula e de que forma elas foram utilizadas? De que forma as TICs foram utilizadas em cada aula? Para transmitir informações ou foram integradas ao conteúdo didático? Aula 3 - A mídia-educação e a formação de professores Apresentação da aula 3 Na aula anterior vimos que as desigualdades de acesso e do uso das TICs representam um desafio à formação de alunos. Nessa aula, discutiremos a necessidade de integrar a cultura das mídias à educação para que a escola possa ser um espaço de formação crítica para a emancipação das pessoas. Discutiremos as diferenças entre educar com, para as mídias e por meio das mídias. Veremos que os indivíduos constroem o conhecimento nas suas relações com o mundo e que a interatividade é fundamental nesse processo. A interatividade depende da comunicação bidirecional e dialógica, que adquire força na era da informação, na medida em que as TICs fornecem uma interface de diálogo e não somente de recepção de informação. 3.1 Educação para e por meio das mídias Sabemos que os novos sistemas de comunicação possibilitam novas formas de aprender, de construir o pensamento e de se expressar por meio de diversas linguagens. Entretanto, na contramão da rápida evolução tecnológica, 34 a educação continua presa a um sistema em que prevalece o rigor da linguagem escrita por meio de livros, artigos e exposição oral da informação. Saiba mais Em 2014, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) publicou as Diretrizes de políticas da Unesco para a Aprendizagem Móvel (Unesco, 2014), em que recomenda aos países que repensem suas políticas de utilização de dispositivos móveis em sala de aula, disponível no link: http://www.bibl.ita.br/UNESCO-Diretrizes.pdf A aprendizagem móvel envolve o uso de tecnologias móveis, isoladamente ou em combinação com outras tecnologias de informação e comunicação (TIC), a fim de permitir a aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar. A aprendizagem pode ocorrer de várias formas: as pessoas podem usar aparelhos móveis para acessar recursos educacionais, conectar-se a outras pessoas ou criar conteúdo, dentro ou fora da sala de aula. A aprendizagem móvel também abrange esforços em apoio a metas educacionais amplas, como a administração eficaz de sistemasescolares e a melhor comunicação entre escolas e famílias (UNESCO, 2014). O documento recomenda que as escolas não proíbam a tecnologia móvel em sala de aula, defendendo que a utilização de celulares e de outras TICs devem ser de escolha de professores, alunos e escolas, de modo que as mídias possam ser utilizadas no contexto da Educação (Unesco, 2014). Saiba mais De acordo com o projeto de lei 2.247 de 2007, é vedada o uso de aparelhos eletrônicos portáteis sem fins educacionais em salas de aula ou quaisquer outros ambientes em que estejam sendo desenvolvidas atividades educacionais nos níveis de ensino fundamental, médio e superior nas escolas públicas no País, disponível no link: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mos trarintegra?codteor=517286 A Unesco reconhece que o conhecimento não pode ser expresso somente pela linearidade da palavra escrita. É necessário compreender que diferentes modalidades de comunicação integram a prática pedagógica, os chamados multiletramentos. Ser alfabetizado no século XXI significa ser fluente no idioma pátrio e também dominar as linguagens e os códigos da Cultura Digital. http://www.bibl.ita.br/UNESCO-Diretrizes.pdf 35 No novo contexto social, a integração da educação com as TICs torna-se um importante fator para a formação de pessoas que exercem ativamente a sua cidadania. A alfabetização possibilita a consciência, a compreensão do mundo e a participação cidadã. A inclusão digital deve garantir que todas as pessoas possam se apropriar das TICs de forma crítica, para buscar a emancipação e a construção da cidadania. A mídia educação deve, portanto, atender a essa necessidade de afluência da educação para a cidadania. Além disso, é importante frisar que estamos educando nossos alunos para serem produtores da informação e não apenas receptores críticos. Educar, portanto, não se limita somente à transmissão e repetição de informações, para que elas fiquem retidas na memória do aluno. É necessário que a cultura das mídias seja integrada à educação para que a escola possa ser um espaço de formação crítica para a emancipação do sujeito. Mais do que educar com as mídias, em que a mídia é utilizada apenas como instrumento de apoio para o professor, é necessário pensar na educação para e por meio da mídia. A educação com as mídias trata a tecnologia de forma puramente instrumental. Nesta perspectiva, a mídia é vista como um recurso a ser utilizado pelos professores para otimizar o tempo que seria gasto com a escrita na lousa e também para enriquecer a ilustração do conteúdo. É importante notar que mesmo em ambientes que dispõem da tecnologia mais atual, podem existir docentes que privilegiam uma educação transmissiva, em que eles falam e os alunos apenas ouvem. Já a educação para as mídias, também conhecida como mídia- educação, tem como objetivo desenvolver competências para a análise crítica de mensagens, seja em notícias ou entretenimento, a fim de reforçar as capacidades dos indivíduos autônomos e usuários ativos (Unesco, 2007, p. 2). Em outras palavras, a educação para a mídia diz respeito à apropriação crítica das tecnologias e do conteúdo informativo das mídias. Nessa perspectiva, estamos rompendo com a lógica de proibição da utilização das TICs nos processos de ensino e aprendizagem, e, ao mesmo tempo, propondo o desenvolvimento de um olhar crítico sobre as tecnologias e as mídias. A educação para as mídias envolve analisar o conteúdo e a forma dos textos midiáticos, e refletir sobre os contextos sociais em que eles são produzidos e consumidos (FANTIN, 2013). Quando Fantin fala em “refletir sobre 36 os contextos sociais em que eles são produzidos e consumidos”, significa, por exemplo, esclarecer que as tecnologias e as mídias não são neutras, já que elas são desenvolvidas a partir de visões altamente ideológicas de como a sociedade deveria funcionar. Educação para as mídias – a análise crítica Fonte: https://www.geledes.org.br/escola-de-frankfurt-critica-sociedade-de-comunicaca o-de-massa/ Na educação para as mídias, cabe ao professor fazer com que os alunos reflitam sobre as relações entre o consumo desenfreado de novas tecnologias, o ciclo de vida do produto e a necessidade de desenvolvermos soluções mais sustentáveis. Como dissemos anteriormente, o desenvolvimento de novas tecnologias está fortemente ancorado sobre uma base econômica voltada para o lucro, favorecendo o interesse de determinados grupos em detrimento dos interesses da maioria (comunidades locais, trabalhadores e meio ambiente). Mídias Recomendo que você assista ao documentário Além do cidadão Kane, produzido pela BBC de Londres, sobre a hegemonia da Rede Globo de Televisão no Brasil, publicado em 3 de maio de 2012. Além de fazer os alunos pensarem sobre a questão da tecnologia, é fundamental que eles desenvolvam um olhar crítico sobre o conteúdo das mídias, que, muitas vezes, tende a naturalizar as desigualdades e legitimar o domínio de alguns grupos sobre outros. Para evitar que nossos alunos se tornem receptores passivos, sem qualquer capacidade de reflexão ou de julgamento sobre as mensagens que recebem, é necessário estimulá-los para que eles 37 possam desenvolver sua própria visão crítica. Na educação para as mídias, as mídias são vistas como uma oportunidade de expandir o potencial da própria educação. Por fim, a educação por meio da mídia significa “incentivar a produção, a criatividade e interatividade nas diferentes áreas da mídia e comunicação” (Unesco, 2007, p. 2). Essa última dimensão diz respeito, sobretudo, à habilidade de produção na escola, onde a educação acontece. Nessa dimensão, os alunos aprendem a usar as TICs para pesquisar, processar, desenvolver e criar um conhecimento alinhado à nossa realidade social, cultural e econômica, que tenha como objetivo principal a formação cidadã. Um modelo de sucesso na América do Norte “vira as salas de aula de cabeça para baixo”, pedindo aos estudantes que assistam às aulas expositivas fora da escola – normalmente em aparelhos móveis que eles possam levar para todos os lugares. Isso torna possível que mais tempo em sala de aula seja dedicado à aplicação de conceitos referentes às matérias, ao invés de sua mera transmissão. Tarefas que antes eram realizadas na escola, tornam-se deveres de casa, e o trabalho em sala de aula enfatiza mais os aspectos sociais da aprendizagem. (UNESCO, 2014, p.18). Podemos concluir que a educação para a mídia é um pré-requisito indispensável para a educação por meio da mídia. Estamos formando cidadãos ou números para o consumo de massa? Fonte: https://canaltech.com.br/entretenimento/admiravel-mundo-novo-previsoes-para- um-mundo-contemporaneo-67205/ Diante da velocidade das mudanças tecnológicas e culturais, não há como prever quais serão os conhecimentos necessários para viver em sociedade e inserir-se no mundo do trabalho daqui a alguns anos (FANTIN, 2013). Os alunos 38 devem ser preparados para administrar o processo de construção do conhecimento, não somente no ambiente escolar. Esse processo de aprendizagem deve ser pensado como uma ação continuada que acompanha os indivíduos ao longo da vida. Mídias Assista ao vídeo sobre alguns fatos surpreendentes sobre o mundo digital, a evolução da tecnologia da informação e as mudanças na sociedade e nos negócios do mundo. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=b TM06NZOyDQ 3.2 Mídia educação na formação de professores Diante da necessidade de educar as pessoas para as mídias, a Unesco, em 1982, adotou uma Declaração comum que reconhece a enorme importância das mídias, tanto na cultura contemporânea quanto na vida cotidiana, na medida em que promove participação ativa do cidadão na sociedade. Na Declaração de Grünwald (Unesco, 1982),a mídia-educação é definida como uma formação para a compreensão crítica das mídias, em que se reconhece o papel potencial das mídias na promoção da expressão criativa e da participação dos cidadãos (BÉRVOT; BELLONI, 2009). Este documento considera que as pessoas precisam se apropriar do conteúdo informativo das mídias de forma crítica e utilizá-las como meios de expressão de opinião e de criatividade. A partir dessa época, começa a se construir a noção da mídia-educação como: Formação para a apropriação e uso das mídias; Ferramenta de expressão pessoal e participação política para todos os cidadãos; Ferramenta pedagógica para o professor (BÉRVOT; BELLONI, 2009). 39 Criada em 2007 para promover a mídia-educação, a Agenda de Paris, elaborou uma série de recomendações de ações prioritárias, sendo cinco delas voltadas à formação de professores: Integrar a mídia-educação à formação inicial dos professores, buscando abordar as dimensões conceituais e os saberes práticos, e basear-se no conhecimento das práticas midiáticas dos alunos; Desenvolver métodos pedagógicos apropriados e ativos, sem receitas prontas, que ampliem o papel do professor e promovam uma maior participação dos alunos e mais conexões entre a escola e o mundo exterior; Mobilizar atores do sistema escolar para que todos assumam a responsabilidade de promover a mídia-educação; Mobilizar atores da esfera pública, pois a mídia-educação não se limita aos espaços escolares, mas diz respeito também às famílias, associações e profissionais de mídia; Inscrever a mídia-educação no quadro da educação ao longo da vida, pois ela diz respeito também aos adultos, podendo ser vetor de uma melhor qualidade da educação continuada (BÉRVOT; BELLONI, 2009). O papel do professor Fonte: https://blog.conexiaeducacao.com.br/conheca-os-pros-e-contras-da-tecnologia- na-sala-de-aula/ Diante do fato de que, ainda hoje no Brasil, as escolas apresentam dificuldades para a inserção das TICs e da cultura midiática nas práticas 40 educativas, é necessário, além do investimento em infraestrutura, desmistificar o uso das tecnologias em sala de aula. Entretanto, deve-se buscar um equilíbrio na utilização dos recursos midiáticos, evitando tanto a tecnofilia quanto a tecnofobia: Pode-se usar o termo “tecnofilia” para quem aprecia em excesso, e o termo “tecnofobia” para quem aprecia de menos. A questão mais árdua será definir o que seria excesso, bem como o que seria uma posição equilibrada. Não pretendo resolver essa pendenga, mas apenas discutir posicionamentos mais e menos oportunos perante as novas tecnologias, em especial no campo da educação. (DEMO, 2009, p. 5). A Unesco (2014) recomenda o desenvolvimento das seguintes políticas para o treinamento dos professores: Priorizar o desenvolvimento profissional dos professores. O sucesso da aprendizagem móvel depende da capacidade dos professores em utilizar e ampliar as vantagens educacionais dos aparelhos móveis; Fornecer treinamento técnico e pedagógico introduzindo soluções e oportunidades de aprendizagem móvel. Alguns professores ainda não sabem como utilizar as ferramentas disponíveis nos smartphones; Estimular os institutos de formação de professores a incorporar a aprendizagem móvel em seus programas e currículos; Fornecer oportunidades para que educadores compartilhem estratégias para a integração efetiva de tecnologias em instituições com recursos e necessidades semelhantes; Oferecer parte da formação de professores via tecnologias móveis. Essa abordagem pode complementar, mas não deve substituir a formação presencial. 41 É necessário, portanto, repensar a formação de professores para que estes possam desenvolver competências e habilidades, tanto na formação inicial quanto na continuada. As competências podem ser definidas como uma mobilização de conhecimentos e esquemas que são utilizados pelo indivíduo para desenvolver soluções inéditas para diferentes problemas. A habilidade está ligada ao saber fazer. Compreender fenômenos, analisar, processar e relacionar informações são exemplos de habilidades. É necessário, portanto, que os professores desenvolvam uma competência que lhes permita trabalhar com as tecnologias com ações que potencializem a reflexão diante de novas situações- problema. A ideia é a de que tanto a formação inicial quando a formação continuada preparem os professores para desenvolverem competências e habilidades integradas ao atual contexto social, cultural e tecnológico. De acordo com Fantin (2012), o currículo da formação de professores deve contemplar a comunicação, a cultura das mídias e as novas tecnologias, para que o profissional possa desenvolver uma relação emancipatória com as mídias. É necessário que o professor se sinta capacitado para educar os alunos para as mídias e por meio das mídias, a partir de uma abordagem crítica, instrumental e expressivo- produtiva (RIVOLTELLA, 2002). Na atualidade, os alunos tendem a ser mais questionadores e menos satisfeitos em relação ao que é imposto pelos moldes tradicionais da educação. É necessário que o professor, imigrante digital, conheça o percurso que o estudante faz para construir a aprendizagem. Nesse sentido, é importante ressaltar que muitos professores não possuem referências da cultura digital atual que os permita selecionar os estímulos para usar em aula. Entretanto, ainda que faltem referências em relação à games, animações e outros conteúdos que interessam aos alunos, grande parte dos professores transita com grande facilidade pelas novas mídias (Facebook, Youtube, Instagram) para uso pessoal. Para Fantin (2012), a formação inicial pode contribuir para problematizar essa questão, pois é necessário que o professor construa essa competência para ser utilizada no dia a dia. 42 Fragmentos da Cultura digital Fonte: https://startupi.com.br/2018/04/apps-precisam-ser-a-traducao-de-uma-experien cia-real/seo-apps/ É necessário criar condições para o desenvolvimento de uma competência em mídia-educação para que o professor possa selecionar fragmentos da cultura digital que possam ser utilizados em aula. A formação de professores deve exemplificar com casos reais a utilização de mídias de forma divertida em sala de aula. Essa perspectiva de mídia-educação implica a adoção de uma postura crítica e, ao mesmo tempo, criadora de capacidades comunicativas para poder avaliar ética e esteticamente o que está sendo oferecido pelas mídias (Fantin 2012). Professores devem poder interagir com o conteúdo, buscando produzir conteúdo e educar seus alunos para a cidadania. Criação de capacidades comunicativas Fonte: http://xalingo.com.br/conexao/2016/02/24/10-maneiras-simples-para-voce-ino var-na-sala-de-aula/ É importante enfatizar que a formação do docente não deve se restringir aos cursos de formação inicial, pois um curso não é a práxis do futuro professor. http://xalingo.com.br/conexao/2016/02/24/10-maneiras-simples-para-voce-inovar-na-sala-de-aula/ http://xalingo.com.br/conexao/2016/02/24/10-maneiras-simples-para-voce-inovar-na-sala-de-aula/ 43 Em outras palavras, um curso não é a prática docente, mas a teoria sobre a prática docente. A formação do professor deve conduzi-lo a uma prática social crítica, baseada na ação-reflexão-ação. Para Freire (1996), a ideia de formação continuada parte da “condição de inacabamento do ser humano e a consciência desse inacabamento”. Para esse autor, a formação continuada baseia-se em um processo contínuo do desenvolvimento profissional do professor perante a interligação entre sua formação inicial e sua vivência prática, ao longo do exercício da sua profissão. De acordo com Freire (1996), a formação continuada tem como objetivo incentivar a apropriaçãode saberes rumo a uma autonomia que o leve de fato a uma prática crítico-reflexiva como podemos ver: Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente sobre a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de tal modo concreto que quase se confunde com a prática. (FREIRE, 1996, p.39). Em outras palavras, a reflexão crítica sobre a prática é saber pensar a própria profissão. Mais do que compreender a relação entre o consumismo, a poluição e o esgotamento dos recursos naturais, é importante que o professor seja capaz de refletir sobre as relações entre a tecnologia e a educação em uma dimensão mais profunda. Ele deve saber identificar, por exemplo, situações em que a tecnologia é utilizada no ensino não com a intenção de ampliar o caráter científico da aula, mas para servir aos interesses econômicos de grupos que desejam apenas intensificar a comercialização do uso da tecnologia na educação. Como foi dito anteriormente, as tecnologias não são neutras, podendo promover desigualdades e o domínio de determinados grupos sobre outros. Alguns desses grupos são claramente motivados a usar a educação, prejudicando a qualidade do ensino para produzir melhores resultados financeiros. Além da questão da comercialização do uso da tecnologia na educação, devemos ter em mente que o uso intensificado da tecnologia pode promover desigualdades, considerando que nem todos os alunos tem a mesma facilidade de acesso às mídias digitais fora do ambiente escolar. Sem reforçar o caráter 44 ideológico da educação, corremos o risco de achar que a tecnologia é solução para tudo, sem considerar problemas e limitações profundamente enraizados na educação brasileira. A formação de professores deve, portanto, estimular debates na esfera ideológica que busquem reforçar os objetivos e as prioridades da educação. A atividade docente requer consciência e posicionamento crítico em relação à utilização dos recursos midiáticos. Para Rosa e Silva (2016), a inserção de recursos midiáticos deve ser definida de acordo com os planejadores das políticas educacionais, mas, sua concretização se faz na prática, no campo da ação de professores e alunos. Conclusão da aula 3 Vimos nessa aula que a inclusão digital deve garantir que todas as pessoas possam se utilizar das TICs de forma crítica, para buscar a emancipação e a construção da cidadania. Estamos educando nossos alunos para serem produtores da informação e não apenas receptores críticos. É necessário que a cultura das mídias seja integrada à educação para que a escola possa ser um espaço de formação crítica para a emancipação do sujeito. Mais do que educar com as mídias, em que a mídia é utilizada apenas como instrumento de apoio para o professor, é necessário pensar na educação para e por meio da mídia. A educação para a mídia diz respeito à apropriação crítica das tecnologias e do conteúdo informativo das mídias. Na educação por meio das mídias, os alunos aprendem a usar as TICs para pesquisar, processar, desenvolver e criar um conhecimento alinhado à nossa realidade social, cultural e econômica. Terminamos a aula falando sobre a importância de se inserir a mídia- educação na formação dos professores. A ideia é a de que tanto a formação inicial quando a formação continuada prepare os professores para desenvolver competências e habilidades integradas ao atual contexto social, cultural e tecnológico. É necessário que o professor se sinta capacitado para educar os alunos para as mídias e por meio das mídias, a partir de uma abordagem crítica, instrumental e expressivo-produtiva. 45 Atividades de aprendizagem Sabemos que os novos sistemas de comunicação possibilitam novas formas de aprender, de construir o pensamento e de se expressar por meio de diversas linguagens. Entretanto, na contramão da rápida evolução tecnológica, a educação continua presa a um sistema em que prevalece o rigor da linguagem escrita, por meio de livros, artigos e exposição oral da informação. Com base em seu conhecimento próprio e o adquirido nas aulas faça uma dissertação argumentativa referente ao assunto abordado. Aula 4 - Recursos midiáticos na educação Apresentação da aula 4 Vimos anteriormente que é necessário que a cultura das mídias seja integrada à educação para que a escola possa ser um espaço de formação crítica para a emancipação do sujeito. Mais do que educar com as mídias, em que a mídia é utilizada apenas como instrumento de apoio para o professor, é necessário pensar na educação para e por meio das mídias. Também falamos sobre a formação de professores quanto às competências que devem dialogar com a realidade dos alunos e integradas ao atual contexto social, cultural e tecnológico. Nesta aula, falaremos sobre o papel da interatividade na aprendizagem e na utilização de Internet e jogos em atividades educativas. 4.1 A interatividade na aprendizagem As mídias desempenham um papel cada vez mais importante na cultura contemporânea. Sua apropriação crítica e criativa é imprescindível para o exercício da cidadania (BÉRVOT; BELLONI, 2009). Segundo V. Reding, da Comissão Européia, “a mídia-educação é hoje tão necessária ao exercício completo de uma cidadania ativa quanto era no início do século 19, o domínio da leitura e da escrita” (disponível em: <www.euromedialiteracy.eu>). 46 Além disso, as mídias possibilitam novos modos de perceber a realidade, de aprender, de produzir e difundir conhecimentos e informações. São importantes para as novas gerações, na medida em que funcionam como instituições de socialização, uma espécie de “escola paralela” (BÉRVOT; BELLONI, 2009). A seguir, iremos discutir a interatividade no aprendizado e veremos que não existe apenas uma, mas diversas formas de aprender. 4.1.1 Formas de aprender e formas de ensinar A maneira como cada pessoa compreende, assimila e retém informações diz respeito ao seu tipo de aprendizagem. O planejamento do ensino deve considerar diferentes tipos de aprendizagem para elevar a qualidade dos resultados. Compreender os diferentes estilos de aprendizagem pode ampliar a motivação, a concentração e a retenção do conhecimento. Mídias Existem diversas metodologias para identificar os estilos de aprendizagem, disponível no link: http://vark-learn.com/the-vark-questionnaire/the-vark-questio nnaire-for-younger-people/ Por meio do método Vark, é possível identificar quatro estilos predominantes de aprendizagem: Visual: quem possui um perfil de aprendizado predominantemente visual prefere absorver imagens, cores, vídeos e livros com gráficos, figuras e um bom layout. Para obter melhores resultados nos estudos, os alunos com essa característica devem utilizar diferentes cores para a memorização, elaborar fluxogramas, gráficos, fazer anotações e desenhar figuras. Leitura e escrita: quem prefere aprender lendo e escrevendo absorve informações por meio de textos e da exposição oral dos professores. Para obter melhores resultados nos estudos, esses http://vark-learn.com/the-vark-questionnaire/the-vark-questionnaire-for-younger-people/ http://vark-learn.com/the-vark-questionnaire/the-vark-questionnaire-for-younger-people/ 47 alunos precisam fazer anotações escrever e reescrever o que aprenderam, e formular resumos. Aural: é a pessoa que memoriza a palavra falada. Esse é um aluno que aprende assistindo a aula, ouvindo a exposição oral dos professores, participando de seminários e discussões, e explicando verbalmente o que aprendeu. Cinestésico: é o aluno que prefere aprender fazendo. Para essas pessoas, as informações adquirem valor quando podem ser vivenciadas em experiênciaspráticas. É preciso fazer/praticar para que se possa compreender. Tipos de aprendizagem Fonte: https://medicina10blog.wordpress.com/2016/12/15/estilos-de-aprendizagem-des cubra-qual-e-o-seu/ Esses são os quatro perfis identificados pelo questionário Vark. A maioria das pessoas, entretanto, é multimodal, ou seja, prefere aprender somando dois ou mais estilos. De acordo com Mattar (2010), as pessoas mais velhas têm preferência pelo estilo escrita e leitura, enquanto as mais jovens preferem o estilo cinestésico. https://medicina10blog.wordpress.com/2016/12/15/estilos-de-aprendizagem-descubra-qual-e-o-seu/ https://medicina10blog.wordpress.com/2016/12/15/estilos-de-aprendizagem-descubra-qual-e-o-seu/ 48 Conhecer o estilo de aprendizagem predominante do aluno permite ao professor não somente utilizar os recursos certos para potencializar a assimilação e a retenção da informação, mas também estimular o desenvolvimento dos outros estilos de aprendizagem menos predominantes ou com os quais os alunos possuem maior dificuldade. É importante ressaltar que o aluno pode utilizar estilos diferentes dependendo da situação ou do objeto de estudo. Cabe também lembrar que esses estilos não são a única variável a ser considerada no processo de aprendizagem; não podem, portanto, ser o único elemento a ser considerado no planejamento da educação. De acordo com Antônio Junior (2015), o conhecimento pode ser definido como uma construção social realizada a partir das capacidades cognitivas do ser humano e da sua interação com o meio. As relações entre a pessoa e o meio implicam num processo de construção permanente que resulta na formação de estruturas de pensamento. Em outras palavras, o sujeito constrói seu conhecimento em interação com o meio a partir de suas próprias ações. Entretanto, as relações entre homem e mundo não ocorrem diretamente, mas são mediadas por instrumentos ou signos fornecidos pela cultura. De acordo com Vygotsky (2000) o sistema simbólico fundamental na mediação sujeito- objeto é a linguagem humana, instrumento de mediação verbal que tem na palavra a sua unidade básica. Mediação verbal Fonte: https://www.educamundo.com.br/blog/comunicacao-linguagem-curso-online Para Papert (1985), o conhecimento não é transmissível, mas construído pelo indivíduo de modo único. Cada indivíduo reconstrói o conhecimento baseado em suas relações com o mundo, com os objetos e em suas https://www.educamundo.com.br/blog/comunicacao-linguagem-curso-online 49 experiências (ANTONIO JUNIOR, 2015). Dessa forma, podemos concluir que a criança não aprende pelo que é dito/transmitido a ela, mas pela relação que ela faz entre aquilo que ela vê/ouve/lê e sua própria experiência com o mundo. Isso nos faz pensar na questão da interatividade. Para Antônio Junior (2015), as características da aprendizagem e o uso da tecnologia são inter-relacionados, são interativos e interdependentes. A interatividade pressupõe a comunicação bidirecional, dialógica, e não a comunicação unidirecional que separa emissores e receptores. O aprendizado por meio da interatividade adquire força na “era da informação”, na medida em que as TICs fornecem uma interface de diálogo e não somente de recepção de informação. Aprendizado dialógico Fonte: https://lehliimarslp.wordpress.com/category/sem-categoria/ A interatividade pressupõe uma ação de troca de informações, mensagens e opiniões. Os espaços criados com a novas tecnologias potencializam essa troca, possibilitando múltiplas janelas de comunicação dialógica que, devido à crescente velocidade de acesso, acontece cada vez mais em tempo real. É por este caminho que a mídia se insere na sala de aula: abrindo espaço para novas formas de interação. Para dar conta da complexidade da sociedade atual, a sala de aula precisa recuperar o lúdico, o simbólico, o corpo em movimento e o contato com a natureza, buscando utilizar cinema, fotografia, TV, internet, celular, videogame e redes sociais na construção de um pensamento crítico (FANTIN, 2012). O objetivo não é transformar a sala de aula em um acumulado de experiências https://lehliimarslp.wordpress.com/category/sem-categoria/ 50 midiáticas desconexas que não permitem ao aluno uma construção de sentido, pelo contrário, as mídias devem ser utilizadas para potencializar o aspecto científico, objetivo, dialógico e crítico que uma aula deve ter. 4.2 A internet e os games na educação As crianças de hoje tendem a ser multimodais, somando estilos de aprendizagem que dependem muito mais dos estímulos visuais, auditivos e táteis do que da palavra escrita. A retenção do conhecimento tende a ser mais baixa quando os alunos são colocados como meros receptores de uma informação que, muitas vezes, está distante da realidade deles. Quando os alunos têm a oportunidade de aplicar o que são obrigados a estudar, especialmente quando é reduzido o tempo entre a descoberta e sua aplicação, as possibilidades de assimilação e retenção se ampliam. Além disso, as experiências e informações atreladas a uma emoção tendem a ficar mais facilmente retidas na memória. Como dissemos, é mais fácil aprender por meio da interatividade do que apenas decorando palavras. O aprendizado por meio da interatividade adquire força com as TICs, que fornecem uma interface não somente de recepção de informação, mas também de diálogo e de interação. Além disso, as TICs favorecem a construção interdisciplinar de informações e o desenvolvimento colaborativo de projetos de alunos que não necessariamente residem na mesma região. A Internet dispõe da vantagem incomparável de ser uma mídia interativa com conteúdo que, se bem selecionados, podem ser educativos, lúdicos e vinculados à cultura digital. A utilização de games também pode representar uma ótima oportunidade para o aprendizado, na medida em que o aluno é estimulado a participar, a discutir e a compartilhar as descobertas com os colegas. Os jogos ajudam os alunos a desenvolverem habilidades essenciais como trabalhar em grupo, compartilhar informações, colaborar, criar, encontrar soluções e tomar decisões. De acordo com Tonéis (2017), há uma importante diferença entre uma atividade gamificada e um game em sala de aula. A base da gamificação está na fun theory, que significa acrescentar aspectos lúdicos ou divertidos a atividades cotidianas. 51 Mídias A teoria do divertimento: uma iniciativa de um fabricante de automóvel. Esta é uma de uma série de experimentos para uma nova campanha desta marca. Dê uma olhada, as escadas do piano são realmente engraçadas. A diversão pode obviamente mudar o comportamento para melhor, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=SByymar3bds Também como podemos fazer com que mais pessoas joguem lixo no lixo, tornando isso divertido? Veja os resultados aqui. A diversão pode obviamente mudar o comportamento para melhor, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=qRgWttqFKu8 Um exemplo da aplicação da fun theory foi a instalação da escadaria piano em uma estação de metrô de Estocolmo. Os degraus foram transformados em teclas de piano para estimular as pessoas a utilizarem mais a escadaria do que as escadas rolantes. Escada Piano Fonte: https://cdn4.ecycle.com.br/cache/images/materias/Atitude/2016-04/50-650-degr aus-escadas-transformam-teclas-piano.jpg A gamificação corresponde ao uso de mecanismos de jogos aplicados em situações que visam solucionar problemas práticos e engajar pessoas. Tonéis (2017) acredita que a gamificação pode ser aplicada em vários setores e atividades, tais como: saúde, políticas públicas, esportes e como treinamento nas empresas. Na sala de aula, a gamificação pode ser utilizada para produzir experiências que sejam engajadoras, divertidas ou prazerosas, como forma de manter os alunoscomprometidos e motivados. O autor alerta que a gamificação deve ser planejada para engajar os alunos e não para condicioná-los. https://www.youtube.com/watch?v=SByymar3bds https://www.youtube.com/watch?v=qRgWttqFKu8 52 O jogo, por sua vez, é diferente da atividade gamificada. O jogo é um processo e um conjunto específico de ações com metas, regras e sistemas de feedback. O sistema de feedback é necessário para que o jogador entenda o quanto ele está progredindo em relação à meta do jogo. O objetivo desse recurso é manter o jogador motivado e engajado. É importante ressaltar que a participação no jogo deve ser sempre voluntária. De acordo com Tonéis (2017), os games estão repletos de aprendizagens, com descobertas e resoluções de problemas. O autor defende que os alunos podem aprender com o game por meio da sua ação, pelo uso do raciocínio lógico e matemático, e pela avaliação das suas decisões, após receber o feedback do jogo. Os jogos digitais, quando utilizados sob orientação do professor, podem contribuir para a aprendizagem do aluno quando reproduzem lugares ou simulam situações que estimulam as crianças a exercitar a criatividade, o improviso e o raciocínio lógico. A interação com o jogo permite que o aluno explore caminhos, teste hipóteses e experimente possibilidades em situações que talvez ele não tivesse a oportunidade de vivenciar na vida real. De acordo com Tonéis (2017), mesmo os jogos digitais que não possuem objetivos educativos, também podem fornecer muitos elementos para reflexão e produção de conhecimentos. Há inclusive jogos roteirizados a partir de eventos históricos e que reproduzem lugares reais com uma incrível riqueza de detalhes. Simulação do interior da Catedral de Notre Dame. Fonte: https://inteng-storage.s3.amazonaws.com/images/APRIL/sizes/notre_dame_resi ze_md.jpg Já os games educativos (ou educacionais) são aqueles que possuem uma proposta pedagógica. Normalmente, a proposta pedagógica é multidisciplinar, aproximando os alunos do conhecimento científico e simulando a vivência de 53 situações que exigem raciocínio e tomada de decisões. Nesses casos, os alunos aprendem a lidar com regras que, muitas vezes, são baseadas em conhecimentos compartilhados socialmente, também a concentração, pois as situações exigem raciocínio, tomada de decisões e ações. Há também os jogos que reproduzem cenários reais e que contribuem para a memorização da informação. Desenvolvimento sustentável é a proposta de City rain, um jogo em que o jogador deve fazer escolhas rápidas para oferecer qualidade de vida para os moradores de uma cidade. O jogo, que parece uma mistura entre SimCity e Tetris, consiste em escolher e posicionar os prédios que caem do céu. Os prédios podem ser indústrias, lojas, hospitais, delegacias, escolas, residências, lixos, praças ou usinas dos tipos eólica, termoelétrica, nuclear, hidrelétrica e solar. City Rain Fonte: https://meiobit.com/uploads_legacy/walck_cr_09_02_09_2.jpg De acordo com Tonéis (2017), cada jogo possui desafios e complexidades próprias e cabe aos professores verificar as possibilidades que melhor se adequam a cada realidade. Para esse autor, a contextualização e multidisciplinariedade sempre serão o melhor caminho a seguir. Tonéis apresenta os tipos de jogos: Edutainment game: trata-se de um neologismo formado pelas palavras educação e entretenimento, em inglês. O objetivo desse tipo de jogo é equilibrar a diversão e o conteúdo. Aqui, Tonéis usa 54 como o exemplo o jogo (Where in the World Is Carmen Sandiego?), em que o jogador deve descobrir onde está a personagem da Carmen por meio de dicas sobre localização, clima ou características culturais. Advertise game ou jogos propaganda: são jogos mais curtos e geralmente contextualizados no branding de determinada marca. Trata-se de propaganda em forma de entretenimento. Recomendamos aos professores que sejam criteriosos em relação a esse tipo de jogo, mesmo que ele contenha atividades construtivas. Exergames ou jogos de exercício: são jogos que estimulam o exercício físico. Devido às tecnologias como Kinect, que capturam os movimentos do jogador, esses jogos dependem de movimentos sincronizados, como Guitar hero ou Just dance, ou de movimentos responsivos como Creed e Beat Saber. Simulations games ou jogos de simulação: são os jogos como Flight Simulator, utilizado nas escolas de pilotagem. Esses jogos tendem a ser fiéis na simulação de variáveis gravitacionais, peso, velocidade e outros elementos da física. Militainment game ou jogos militares: aliam algumas características dos jogos de simulação a situações de guerra que exigem estratégia. Epistemic games ou jogos epistêmicos: aliam algumas características dos jogos de simulação, porém contextualizados em profissões. O jogador assume o papel de um engenheiro, advogado, médico, eletricista, entre outros. Para Tonéis (2017), tanto os games quanto as atividades gamificadas exigem muito critério e planejamento por parte do professor. O autor também ressalta que os feddbacks são recursos essenciais para jogos utilizados com objetivos educativos. É necessário que os alunos tenham acessos aos feedbacks para que tenham a oportunidade de reconhecer o caminho percorrido e avaliar as decisões tomadas. 55 Conclusão da aula 4 Conforme vimos nessa última aula, o conhecimento pode ser definido como uma construção social realizada a partir das capacidades cognitivas do ser humano e da sua interação com o meio. O indivíduo não aprende pelo que é dito/transmitido a ele, mas pela relação que ele faz entre aquilo que ele vê/ouve/lê e sua própria experiência com o mundo. Isso nos faz pensar na questão da interatividade. A interatividade rompe como o modelo de comunicação unidirecional na medida em que se baseia na comunicação bidirecional e dialógica, que é potencializada pelo uso das TICs. Quando os alunos têm a oportunidade de aplicar o que são obrigados a estudar, especialmente quando é reduzido o tempo entre a descoberta e sua aplicação, as possibilidades de assimilação e retenção se ampliam. Além disso, as experiências e informações atreladas a uma emoção tendem a ficar mais facilmente retidas na memória. Como dissemos, é mais fácil aprender por meio da interatividade do que apenas decorando palavras. A Internet dispõe da vantagem incomparável de ser uma mídia interativa com conteúdo que, se bem selecionados, podem ser educativos, lúdicos e vinculados à cultura digital. Sejam os games ou as atividades gamificadas o processo de planejamento é fundamental, especialmente quanto aos feedbacks fornecidos aos jogadores. Atividades de aprendizagem O indivíduo não aprende pelo que é dito/transmitido a ele, mas pela relação que ele faz entre aquilo que ele vê/ouve/lê e sua própria experiência com o mundo. Com base nesta aula discorra com suas palavras como utilizar a tecnologia em favor do ensino/aprendizagem. 56 Índice Remissivo A apropriação das TICs pelos docentes ........................................................ (Conectividade; educação com e para as mídias; prática pedagógica) 27 A ideologia dos sistemas tecnológicos .......................................................... (Artificial e estética; CTS; design industrial) 07 A interatividade na aprendizagem ................................................................. (Cultura contemporânea; instituições de socialização; mídias) 45 A internet e os games na educação ............................................................... (Estilos de aprendizagem; interatividade; jogos educacionais) 50 A mídia-educação e a formação de professores ............................................ (Bidirecional; dialógica; interatividade) 33 A utilização das TIC na educaçãobrasileira .................................................. (Acesso equitativo; espaços técnicos informacionais; Unesco) 24 As tecnologias digitais e a exclusão social ..................................................... (Artifícios; globalização; manifestação cultural) 17 Conceitos de tecnologia, educação e cultura das mídias ............................... (Acesso à cultura digital; considerações; sistemas tecnológicos) 07 Cultura das mídias digitais ............................................................................. (Convergências; meios de comunicação; universo de códigos) 15 Desenvolvimento da tecnologia digital .......................................................... (Acesso; conexão contínua; difusão e disponível) 11 Educação e cultura digital .............................................................................. (Aptidão natural; capital cultural e social; universo digital) 21 Educação para e por meio das mídias ........................................................... (Cultura Digital; meios de comunicação; prática pedagógica) 33 Formas de aprender e formas de ensinar ...................................................... (Aural e cinestésico; leitura e escrita; visual) 46 Mídia educação na formação de professores ................................................ (Ferramentas pedagógicas; integrar a mídia-educação; tecnofobia) 38 Os professores e os nativos digitais .............................................................. (Antigos paradigmas; linguagem digital; métodos) 29 Recursos midiáticos na educação ................................................................. (Aprendizagem; interatividade; jogos em atividades educativas) 45 Relações entre tecnologia e educação .......................................................... (Educação e as TICs; ferramentas digitais; novos métodos) 21 57 Referências ANTONIO JUNIOR, W.; Educação, tecnologias e cultura digital – Bauru/SP: Edição do autor, 2015. BELLONI, M. L.; Mídia-educação: contextos, histórias e interrogações. Cultura digital e escolar: Pesquisa e formação de professores, p. 31-56, 2012. BÉRVOT, E.; BELLONI M. 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