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CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 5 Profª Cassiana Bortoli 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos tratar dos seguintes temas sobre ferramentas de planejamento, gestão e governança em PME’s: Administrando finanças e riscos; Administrando marketing e vendas; Administrando pessoas; Qualidade e produtividade; A implementação e os órgãos de governança nas empresas familiares. Após o estudo dos temas abordados, faça os exercícios para aumentar a fixação do conteúdo. CONTEXTUALIZANDO Para constituir uma empresa, primeiramente é necessário realizar um planejamento desse negócio, definindo atividade e campo de atuação, entre outros aspectos que devem ser pensados desde a intenção de abertura. O planejamento possibilita a maximização da utilidade da empresa, fazendo com que o investimento retorne em menor prazo e, assim, os valores excedentes (capital gerado internamente) seja replicado. Os sócios devem compreender que poderão retirar lucros somente após um período em que a empresa esteja bem organizada e com capacidade de manutenção, de modo a não desapropriar valores necessários à sobrevivência dela. Muitos negócios fracassam devido a essa falta de compreensão e organização dos sócios, que descapitalizam a empresa antes de torná-la autossustentável. Nesse sentido, pode-se compreender a importância da organização inicial da abertura de uma empresa por meio de um plano de negócios. Lemes Júnior e Pisa (2010) conceituam o plano de negócio pela formalização das ideias, das oportunidades, dos riscos, e de como minimizá-los, das condições, das estratégias competitivas, bem como de todo planejamento (finanças, marketing, vendas, pessoal, produção, inovação, qualidade, compras e distribuição) para visualizar e manter o negócio. Assim, o plano de negócios fica descrito em papel, servindo de norte para as atitudes do empreendedor para concretizar a abertura do empreendimento. A Figura 1 apresenta o esquema sobre as informações necessárias ao 3 desenvolvimento do plano de negócios, de forma a transmitir confiabilidade aos stakeholders. Figura 1 – Esquema do planejamento empresarial Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2010. Lemes Júnior e Pisa (2010) destacam a importância de se pensar em abrir negócios inovadores, pois estes possuem maior chance de obterem sucesso, já que existem muitas atividades saturadas de empreendimentos. Apesar do destaque dado aos negócios inovadores, todas as atividades necessitam implementar controles. Nesse sentido, destaca-se a importância de administrar: as finanças e riscos, marketing e vendas, pessoas, qualidade e produtividade, e implementação e os órgãos de governança nas empresas familiares. TEMA 1 – ADMINISTRANDO FINANÇAS E RISCO Para a adequada administração de uma empresa, há uma série de controles que necessitam ser efetuados: em momentos anteriores ao exercício, realizam-se projeções e, em períodos seguintes, realizam-se as avaliações do alcance ou não destas. Vale destacar que as empresas devem se preocupar com a gestão patrimonial, econômica e financeira, de forma que é necessário efetuar a análise de diferentes demonstrações para o acompanhamento da situação empresarial, ou seja, traçar objetivos a curto, médio e longo prazo, traçar metas e estratégias para atingi-las e, posteriormente, acompanhar e comparar os 4 resultados alcançados dos projetos. A situação patrimonial da empresa pode ser acompanhada pelo Balanço Patrimonial, a econômica pela Demonstração do Resultado e a financeira pela Demonstração do Fluxo de Caixa. Lemes Júnior e Pisa (2010) apresentam uma figura que trata da necessidade de interação econômica e financeira, uma vez que essas diferenças se refletem no descompasso no fluxo de caixa de uma empresa. A situação econômica refere-se à geração de receitas, gastos e, por fim, resultados, considerando-os no momento em que ocorrem (regime de competência). A situação financeira refere-se a considerar as receitas, gastos e, por fim, resultados, apenas no momento em que estes impactarem no caixa (regime de caixa), ou seja, entradas e saídas. Veja a Figura 2. Figura 2 – Gestão econômico-financeira e de fluxo de caixa Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2010. A manutenção atualizada das projeções e os registros dos fluxos de caixa podem ser utilizados como instrumento de gestão e auxiliar na tomada de decisões empresariais. Lemes Júnior e Pisa (2010, p. 117) sugerem utilizar o fluxo de caixa para: 1. Comparar os totais de entradas e saídas de caixa de determinado período. 2. Permitir visualização antecipada quanto a se haverá escassez ou sobras de dinheiro. 3. Identificar antecipadamente falta de capital de giro, permitindo negociação de taxas melhores do que aquelas obtidas em casos de urgência. 4. Planejar as aquisições da empresa de tal modo que primeiro se receba dos clientes e, depois, se pague aos fornecedores (situação ideal). 5. Possibilitar ou não a concessão de prazos maiores de pagamento aos clientes. 6. Identificar problemas de formação de preço de venda, caso as entradas do período não cubram os pagamentos respectivos. 5 7. Identificar os melhores períodos para realizar as compras, em função dos prazos e capacidade de pagamento. 8. Possibilitar aquisições à vista com melhores preços ou aplicações financeiras dos excedentes. De modo geral, pode-se dizer que são coerentes as sugestões desses autores. Contudo, deve-se entender que não são decisões tidas como inquestionáveis para todas as situações apresentadas por cada uma das empresas. Veja alguns pontos que merecem atenção, considerando a literatura expressa por Assaf Neto (2016), Gitman (2010) e Cherobim, Lemes Júnior e Rigo (2010): No item “3”, visualizar antecipadamente a falta de capital de giro para um determinado momento não implica, necessariamente, a aquisição de um empréstimo, podendo ser analisadas outras alternativas, como promoções ou redução do prazo concedido ao cliente, oferecendo-lhe outras vantagens, entre outras possibilidades. Em relação ao item “4”, reconhece-se que essa é a situação ideal de compra e venda, contudo há de se avaliar cada uma das possibilidades (de compra e venda em relação às condições de pagamento e recebimento) e avaliar o retorno obtido em cada uma. No item “5” há de considerar outras análises por trás do que se está escrito, por exemplo, as consequências dos afrouxamentos dos prazos (inadimplência e demais custos colaterais) e condições de investimento na conta de clientes a receber. Em relação ao item “6”, considera-se que é possível a observância do quesito no fluxo de caixa, mas que a formação do preço de venda não pode ser avaliada apenas dessa forma. Deve ser feito em momento anterior e recalculado com certa periodicidade. Em relação aos itens “7” e “8”, a aquisição de estoques deve-se realizar em função da necessidade de reposição ou acréscimo das vendas, de forma que a compra em excessos possa provocar queda de rentabilidade, pois a empresa pode necessitar da elevação de quantidade de outro item que não aquele em que a compra foi realizada, e o armazenamento possui custo, de forma que o custo do tempo de estocagem não pode consumir os rendimentos esperados. Com base nessas ressalvas, realizadas levando-se em conta a literatura e as situações individuais de cada empresa, é possível perceber a existência de 6 condições de incerteza, o que se refere à chance futura de um determinado item não ocorrer conforme o esperado. A administração de empresas convive com riscos: 1. financeiro; 2. operacional; 3. de mercado; 4. ambiental; 5. de acidentes; e 6. naturais (Lemes Júnior; Pisa, 2010, p. 120). Esses mesmos autores (Lems Jr.; Pisa, 2010) apresentam, ainda, formas de prever e reduzir os riscos de perdas:1 contratar seguros; 2. fazer aplicações seguras e de liquidez; 3. pagar os tributos em dia; 4. atuar em conformidade à legislação trabalhista; 5. atender aos itens de saúde, higiene e segurança no trabalho necessário às atividades de seus funcionários; e 6. atuar de acordo com as políticas de responsabilidade social e ambiental adotadas. Apesar do entendimento sobre a importância da avaliação dos riscos, poucas empresas efetuam o levantamento e a mensuração destes. Os riscos mais evidentes e de maior impacto às MPE’s relacionam-se aos de não vender e de não receber. O primeiro é causado, principalmente, pela falta de uma pesquisa de mercado, desenvolvida na fase de planejamento estratégico. E, o segundo risco, é causado, muitas vezes, por uma inadequada política de crédito e de análise e concessão desse. Lemes Júnior e Piza (2010, p. 121) apresentam, ainda, um esquema interessante sobre a avaliação de riscos: 7 Figura 3 – Avaliação de riscos Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2010, p. 121. TEMA 2 – ADMINISTRANDO MARKETING E VENDAS O mercado é grande e complexo demais para ser abrangido como um todo por uma MPE. Há muitos perfis de clientes que não necessariamente irão se interessar pelo produto ou serviço oferecido por ela. Assim, a MPE deve preocupar-se em definir seu público-alvo, ou seja, encontrar potenciais consumidores para o produto ou serviço que oferece. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o marketing não se restringe a suprir a necessidade de publicidade e propaganda de um produto, mas compõe-se de “inúmeras estratégias de comunicação, tecnologia, preço, promoção, distribuição, localização, ou seja, toda e qualquer ação que vise a atração da clientela e resume em sucesso para o negócio” (Lemes Júnior; Pisa, 2010). Nesse sentido, o marketing é indispensável para um bom plano de negócios. É necessário que a empresa compreenda o mercado em que está inserida. Para tanto, compreender o ambiente interno e externo, em um primeiro momento, é ideal. O ambiente interno da empresa cria suas forças e fraquezas, de forma que o sucesso ou fracasso está centrado no gerenciamento dos recursos financeiros, materiais, pessoal, estratégias para conquistar e reter os clientes, precificação, política de crédito e promoções e/ou descontos. O 8 ambiente externo dita algumas regras à empresa, de modo que esta necessita conhecer o ambiente em que está inserida, monitorar e adequar-se às mudanças para conseguir sobreviver a esse ambiente, pois nele estão inseridos os seus concorrentes e clientes, os quais sofrem, igualmente, influências econômicas, políticas, sociais e culturais. Ao determinar um segmento do mercado, a MPE deve conhecer as características próprias de seu cliente e as características deste em relação aos produtos e serviços ofertados, a fim de definir, nesse último, alguns pontos do produto, por exemplo, a qualidade, benefícios, valor, utilização, satisfação e a marca (Lemes Júnior; Pisa, 2010). Sobre as características dos consumidores, esses mesmos autores destacam alguns pontos a serem considerados, conforme observamos na Figura 4: Figura 4 – Características dos consumidores Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2010. Conhecer as características dos consumidores de seu produto, pode deixar a MPE ao lado ou à frente de seus concorrentes (caso esses não fizerem uso dessas informações). Pode-se compreender como concorrentes todos os demais empreendimentos que oferecem produtos e serviços semelhantes ao da sua empresa e que disputam os mesmos consumidores. Conhecer os concorrentes e monitorar as estratégias de ação adotados por esses pode 9 manter a empresa em alerta em relação às mudanças necessárias aos produtos ou para manter os clientes. Ou seja, é preciso conhecer os preços praticados, as promoções, estratégias de comunicação com os clientes, a reação destes às publicidades e propagandas e o profissionalismo do pessoal. Uma vez que se conhece e compreende a concorrência, a MPE pode posicionar-se em relação ao mercado e demonstrar aos clientes o seu diferencial, o que agrega valor ao seu produto. Ao agregar valor a um produto, é possível alterar o seu preço. Sob o ponto de vista financeiro, o preço é definido com base no mark-up, que leva em consideração os custos, despesas e lucro desejado pelos sócios. Contudo, há necessidade de se considerar a viabilidade de aquisição do cliente, considerando o público-alvo e as características deste, assim como os preços praticados pelos concorrentes. É possível que a MPE tenha condições de elevar o seu preço, tendo em vista esses dois pontos levantados, mas, na maior parte das vezes, a questão está relacionada à inviabilidade de se praticar o preço determinado pelos clientes e/ou concorrência. Nesse sentido, a MPE deve ter bem claro o seu diferencial, o que agrega valor ao produto ou serviço e a permite vender por um valor superior ao praticado pelo mercado. Essa situação ocorre, especialmente quando uma MPE é obrigada a concorrer com empresas de maior porte, que conseguem operar com menores níveis de custos e despesas, seja pela quantidade adquirida, seja pelo rateio dos gastos à quantidade e variedade de produtos e sérvios oferecidos. Veja a Figura 5, que trata do nível do preço em função às características de mercado: 10 Figura 5 – Preço de venda x Características do mercado Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2010. TEMA 3 – ADMINISTRANDO PESSOAS Há uma classificação do porte da empresa de acordo com a quantidade de pessoal ocupado, em que são menos de 10 para as ME, menos de 50 para as EPP e menos de 250 para as EMP (Silva; Marion, 2013). Independentemente do porte da empresa, a gestão de pessoas é imprescindível para o sucesso da organização. Antes de fazer um anúncio de vaga de emprego, o empresário deve avaliar a quantidade de pessoal necessário em cada área de atuação, bem como as respectivas funções do cargo e os custos da contratação (Lemes Júnior; Pisa, 2010). Segundo Lemes Júnior e Pisa (2010, p. 173), o “orçamento de pessoal representa os recursos que devem ser reservados para pagamentos dos salários, benefícios e encargos com empregados, mais os valores para treinamento e capacitação”. A Tabela 1 pode ser utilizada para dimensionar a quantidade de funcionários necessários, os respectivos valores de salários e o total do gasto: Tabela 1 – Modelo de dimensionamento e previsão de salários Nome da empresa: 11 Cargo nº Nome do cargo Quantidade Salário por pessoal previsto em R$ Salário total previsto em R$ 1 2 3 Total Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2010. Destaca-se que, além do valor de salário que a empresa deve pagar a um funcionário que vier a ocupar um determinado cargo, esta deve considerar outros gastos, por exemplo, o INSS patronal, seguro acidente de trabalho (SAT), Sistema S (salário-educação, SESC, SENAC, SEBRAE e INCRA), décimo terceiro salário, férias, 1/3 de férias, insalubridade, periculosidade, vale-refeição, vale-transporte, seguro de vida e demais possíveis benefícios. Para tanto, é necessário consultar as leis do trabalho e prestar atenção nas especificidades de algumas áreas de atuação (Brasil, 1943). É recomendado que, nos anúncios de emprego, constem informações claras sobre cargo, nível de escolaridade, capacitação técnica, carga horária semanal, horário de trabalho, salário e demais benefícios oferecidos pela organização (Lemes Júnior; Pisa, 2010). Essas especificações auxiliam os interessados pela vaga, bem como a empresa, tendo em vista as necessidades requeridas para exercer com êxito as funções do cargo. Ao receber os currículos dos interessados, as empresas devem efetuar a análise do cumprimento dos requisitos e, assim, selecionar candidatos ao processode entrevista. Nessa fase, de entrevista, é importante que o entrevistador avalie os pontos positivos e negativos do candidato e decida qual melhor atende às expectativas da empresa. Também, nesse momento, é importante que fiquem claras todas as cláusulas do contrato, explícitas e implícitas (muitas vezes), ou seja, revelar as “regras do jogo” para que ambos os interessados possam avaliar as condições estabelecidas e, assim, se possam evitar problemas de conflitos de interesses no futuro. Além da formação técnica que pode ser exigida para a contratação, é interessante que as empresas promovam treinamento e capacitação de pessoal. Tanto um quanto o outro podem ser desenvolvidos interna ou externamente, no entanto, em pequenas empresas, considera-se que o ideal seja o treinamento interno (a fim de acertar alguns procedimentos e estreitar o diálogo entre empregador e empregado) e sejam complementado os conhecimentos técnicos com capacitações, as quais podem ser oferecidas por órgãos de classe, escolas 12 técnicas ou até mesmo via internet. Assim, a empresa deverá melhorar a qualidade do produto ou serviço oferecido e, como consequência, seu desempenho. Nesse sentido, considera-se importante a avaliação de desempenho do quadro de pessoal, de forma individualizada. Para que essa avaliação seja realizada, é necessário estabelecer critérios “claros e objetivos, sob os quais o desempenho de todos os empregados será avaliado, com a finalidade de promoção ou melhoria” (Lemes Júnior; Pisa, 2010, p. 181), ou, ainda, ambos. Esses mesmos autores sugerem uma ficha de avaliação, conforme verificamos a seguir: Tabela 2 – Modelo de fixa de avaliação de desempenho Ficha de avaliação de desempenho anual Nome: ________________________________________________________ Data: __/__/__. Cargo: _________________ Salário: R$________________ Avaliador: ________________ FATORES Categorias de Avaliação Ótimo Bom Regular Fraco Sempre ultrapassa as exigências Frequentemente ultrapassa as exigências Satisfaz as Exigências Incapaz de atingir as exigências Qualidade de trabalho Iniciativa Aptidão técnica Produtividade Capacidade de atingir as metas Responsabilidade Flexibilidade/Adaptabilidade Disponibilidade/Disposição Integração Cooperação Pontualidade Comprometimento Organização Apresentação pessoal Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2010. TEMA 4 – QUALIDADE E PRODUTIVIDADE Uma boa gestão de pessoal tende a impactar na qualidade da atividade desempenhada e, consequentemente, na produtividade. Com base nos conhecimentos de Joseph Moses Juran sobre qualidade, Lemes Júnior e Pisa (2010, p. 184) destacam dez passos para a melhoria da qualidade: 1. Conscientizar da necessidade e oportunidade de melhorias. 2. Estabelecer metas de melhoria. 3. Criar planos para alcançar essas metas. 4. Dar treinamento a todos. 5. Executar projetos para resolver problemas. 13 6. Relatar e divulgar o processo. 7. Reconhecer o sucesso (meritocracia). 8. Comunicar resultados. 9. Conservar os dados obtidos. 10. Manter o entusiasmo trazendo da melhoria uma parte integrante dos processos. Para Joseph Moses Juran, a qualidade total se dá pelo planejamento, controle da qualidade e melhoria da qualidade (Lemes Júnior; Pisa, 2010). Lemes Junior e Pisa (2010) frisam que “o custo de fazer as coisas duas vezes é bem maior do que o custo de fazer da forma correta da primeira vez”. A decisão empresarial de fazer os procedimentos de forma correta diminui a chance de erros e perdas e, concomitantemente, aumenta a produtividade. O valor gasto com a melhoria contínua da qualidade, por outro lado, se ganha com a redução de custos (relacionados ao desperdício de material e tempo) e com a fidelização de clientes. Além disso, empresas que oferecem produtos e serviços de qualidade ganham com a mais eficiente propaganda (além de gratuita): a divulgação “boca a boca” daqueles que conhecem a seriedade da empresa para com seus clientes. A qualidade de um produto precisa atender a alguns requisitos, por exemplo, as características do produto serem capazes de satisfazer as necessidades que os clientes buscam nele e que este não apresente deficiências. Para tanto, as empresas devem adotar formas de prevenção e detecção de defeitos, quando não for possível prevenir, de forma que a empresa calcule o custo das peças/serviços defeituosos. Assim, os sistemas de qualidade adotados pela organização irão atuar para a melhoria da qualidade em cada uma das etapas de fabricação, comercialização ou, ainda, prestação de serviço. Para que uma empresa avalie sua qualidade, pode valer-se de indicadores, por exemplo, calcular o número de itens defeituosos em termos percentuais. Lemes Junior e Pisa (2010, p. 186) listam algumas formas de melhoria de processos: acreditar que existem melhores processos de produção do que aquele adotado atualmente; procurar sanar um problema em vez de tentar justificá-lo;, corrigir erros no momento em que surgirem; aceitar sugestões de melhoria e aplicá-las; tudo pode ser melhorado ainda mais. A melhoria da qualidade dos processos impacta na produtividade, a qual “pode ser entendida como produzir mais gastando menos, com menor quantidade de refugos e defeitos” (Lemes Júnior; Pisa, 2010, p. 186). Nesse 14 sentido, é possível compreender uma interação entre os quatro temas abordados até este ponto da aula: a administração de finanças e riscos, de marketing e vendas, de pessoal e, por fim, a qualidade e a produtividade. A forma de mensuração da produtividade pode se dar por indicadores, podendo ser: unidades produzidas por unidade de tempo, volume produzido por área ocupada, receita por empregado, tempo de produção, recursos gastos por unidade de tempo, número de reclamações por unidades vendidas, número de refugos por unidades produzidas, entre outros. A empresa deve escolher utilizar um ou mais indicador para sua autoavaliação de produtividade, mas deve ser coerente em relação aos processos adotados e ao ramo de atividade. Esses indicadores, demonstram a eficiência dos processos de produção, e quando se observam melhorias nos indicadores, isso significa dizer que a empresa está aumentando sua competitividade (Lemes Júnior; Pisa, 2010). TEMA 5 – A IMPLEMENTAÇÃO E OS ÓRGÃOS DE GOVERNANÇA NAS EMPRESAS FAMILIARES No Brasil, 99% das empresas são enquadradas como ME e EPP (Sebrae, 2018); e 80% das empresas (desde as pequenas até as grandes) são consideradas familiares, seja na concentração de capital, na gestão, seja em ambos (Lemes Júnior; Pisa, 2010). Nesse sentido, existe uma grande preocupação na qualificação desses empreendedores e, por esse motivo, diversos órgãos são apoiadores das micro e pequenas empresas (MPE) e empresas familiares. Segundo o Sebrae (2018), 80% das MPE não conseguem sobreviver aos primeiros cinco anos, pelos mais diversos motivos, por exemplo, a falta de planejamento antes da abertura, problemas na gestão, falta de políticas de apoio e conjuntura econômica retraída. Lemes Júnior e Pisa (2010) propõem pontos a se pensar em estratégias de gestão para a continuidade da empresa. Observe a Figura 6: Figura 6 – Gestão para continuidade da empresa 15 Fonte: Lemes Júnior; Pisa, 2010. Nesse sentido, introduzir a ideia de governança corporativa em empresas familiares e de pequeno porte pode ser uma estratégia, além dos pontos apresentados por Lemes Júnior e Pisa (2010) para aumentar a sobrevivência desses empreendimentos. O principal objetivo para a introdução da governança corporativa nessas instituições é a separação da ideia de propriedade em relação à família e à gestão. Ou seja, o fato de uma pessoa ser da família e ter direito à herança não significa, necessariamente, que possui direito degestão sobre a empresa; é necessário que esta tenha qualificação para desempenhar essa função. É comum, em empresas familiares, que, por vezes, os interesses individuais de cada ente da família sejam distintos dos interesses da organização, acaba atrapalhando o seu desempenho desta. Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC, S.d.), a governança corporativa pode ser compreendida como a forma de uma empresa ser gerida e monitorada. A governança corporativa possui quatro princípios: equidade, transparência, accountability e responsabilidade corporativa. A equidade diz respeito ao tratamento justo e igualitário para com os stakeholders. A transparência trata do repasse da informação produzida aos interessados. A accountability diz respeito à prestação de contas dos gestores aos sócios. A responsabilidade corporativa trata da consideração de aspectos sociais do empreendimento, como a geração de emprego e renda. Ao considerar os 16 princípios de governança corporativa recomendados pelo IBGC, a tendência de a empresa sobreviver e competir pode elevar-se consideravelmente. TROCANDO IDEIAS Antes desta aula, você conseguia compreender a importância da administração de finanças e risco, marketing e vendas, de pessoal, qualidade e produtividade e sobre a implementação de governança corporativa em empresas familiares? Considerava todos os tópicos apresentados dentro de cada um dos temas tratados em sua empresa? Conseguia compreender a interação entre esses assuntos? E, a partir desta aula, considera implementar a avaliação e controle em sua empresa para que aumentem as chances de sobrevivência frente ao mercado competitivo? A compensação dos temas tratados nesta aula possibilita você dar um passo à frente de seus concorrentes que ainda não planejaram, avaliaram e controlarem esses e outros procedimentos necessários. Ao formular, avaliar e reformular estratégias, você pode reduzir significativamente a chance de sua empresa ou empresa que você gere fazer parte das 80% que não resistem ao quinto ano de atividade. Além disso, o Sebrae (2018) divulgou que a maior parte dessas empresas não sobrevivem à terceira geração quando se trata de empresas familiares, sendo que essas representam 80% das empresas brasileiras. Nesse sentido, fique atento(a) ao processo sucessório. Você pode ter um diferencial competitivo compreendendo sobre esses temas, uma vez que possa colocá-los em prática. 17 NA PRÁTICA 1. Relacione as demonstrações com os respetivos tipos de informações geradas: a. Balanço Patrimonial (b) Situação econômica b. Demonstração do Resultado (a) Situação patrimonial c. Demonstração do Fluxo de Caixa (c) Situação financeira 2. Relacione o nível de preço de venda com as características do mercado: a. Preços altos b. Preços médios c. Preços baixos (a) Sem concorrência (c) A marca não é importante (b) Muitas opções de orçamento e marcas (b) Exigência relativa de qualidade (a) Novidades e novas tecnologias (c) Pouca exigência quanto à excelência da empresa 3. Assinale a alternativa INCORRETA: ( x ) Equidade é o equilíbrio entre o resultado econômico e financeiro. ( ) Transparência é a divulgação da informação aos interessados. ( ) Accountability é a prestação de contas. ( ) Responsabilidade corporativa é a preocupação da empresa para com aspectos sociais. FINALIZANDO Nesta aula, pudemos aprofundar alguns pontos específicos sobre ferramentas de planejamento, gestão e governança em PME’s, especificamente sobre a: 1. administração de finanças e risco; 2. administração de marketing e vendas; 3. administração de pessoas; 4. qualidade e produtividade; e 5. implementação dos órgãos de governança nas empresas familiares. 18 Esses assuntos são muito pertinentes à administração de micro e pequenas empresas em especial, pois possuem elevada dificuldade de sobrevivência frente ao mercado competitivo. Contudo, após esta aula, compreendemos que muitos dos casos de falência precoce podem ser prevenidos, adotando-se algumas estratégias. Microempresas e empresas de pequeno porte nascem, em muitos casos, porque muitos gestores familiares têm dificuldade de encontrar emprego e renda. Nesse sentido, são muitos os casos em que não há qualquer planejamento antes da abertura da empresa, o que é crucial para sua sobrevivência e competitividade, sendo essa uma das principais causas que levam as empresas a fecharem as portas nos seus primeiros anos de vida. É necessário obter uma visão de mercado, encontrar um público-alvo, oferecer produtos adequados a esse público, com as características e qualidades necessárias para o uso a um preço condizente à realidade do público. Já compreendemos a importância da formação do preço de venda, considerando os custos e despesas e a lucratividade exigida pelos sócios, mas nesta aula, aprendemos que o preço do nosso produto será comparado aos dos concorrentes pelos nossos clientes, de modo que, para praticar um preço superior, é necessário agregar valor ao produto ou serviço. Cada vez mais o mercado exige novas tecnologias e maior qualidade, e a empresas precisam adequar-se com a rapidez necessária para manter-se no mercado. 19 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943. CHEROBIM, A. P. M. S.; LEMES JÚNIOR, A. B.; RIGO, C., M. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Pearson, 2010. IBCG – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. O que é governança corporativa. IBCG, S.d. Disponível em: <https://ibgc.org.br/conhecimento/governanca-corporativa>. Acesso em: 8 out. 2019. LEMES JÚNIOR, A. B.; PISA, B. J. Administrando micro e pequenas empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SEBRAE. Pequenos negócios em números. Portal Sebrae, 7 jun. 2018. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/sp/sebraeaz/pequenos- negocios-em-numeros,12e8794363447510VgnVCM1000004c00210aRCRD>. Acesso em: 8 out. 2019. SILVA, A. C. R. ; MARION, J. C. Manual de contabilidade para pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas, 2013.
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