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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH
Licenciatura em História - EAD
UNIRIO/CEDERJ
AVALIAÇÃO AD 2
Jediel José Soares Filho
Matrícula: 14216090202
Polo: Piraí
DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL III
O empresariado e a ditadura empresarial-militar (1964-1988)
Após a leitura cuidadosa do texto e do documento em anexo, o(a) aluno(a) deverá fazer uma análise crítica da fonte, contextualizar e desenvolver um debate entre posição de diferentes autores que discutem o tema. A fonte trata-se de uma ata de reunião produzida pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), que aponta as articulações do empresariado.
Resposta analítica: crítica das fontes
O documento a ser analisado é uma reunião plenária do comitê executivo datado de 08 de abril de 1963, começando às 14:45h. Os presentes nesta reunião foram relatados com abreviaturas dos nomes a saber: JBLF, P.AIRES, HCP, GLY, GCS, HRF, HH e H. GOMIDE. A reunião foi presidida por GLY.
O primeiro tema tratado foi a questão da agenda de São Paulo e suas demandas, pois segundo a discussão, havia pouca mão-de-obra para o que eles chamam de “Reforma tocada contra os “brizolas” e contra os reacionários” e também a longo prazo Cuba e problemas sindicais.
Ainda sobre a agenda, tratava-se nessa reunião de publicação de resultado do IBOPE, o estudo das causas e consequências da inflação. Além desses estudos estava em pauta a criação de uma pós graduação para a formação política de economistas para servirem ao IPES nos governos estaduais e federal.
O documento também fala da campanha por novos sócios, inclusive de americanos e o desejo de cada dia obter um número maior, relatando que o IPES já nesta data era considerado de interesse público. Ainda sobre os novos sócios, parece haver uma lista de prioridades que começa dos engenheiros, passa pelos médicos e advogados, mas que contempla os educadores também, o que dá a entender, as classes que podem ajudar na divulgação de seus planejamentos.
Outro assunto é a divulgação de seus pensamentos a partir dos meios de comunicação da época, tais como, jornais e rádio, e a importância da divulgação dos discursos de deputados alinhados ao IPES.
Outra preocupação do IPES é a doutrinação dos empresários. Deseja-se uma ligação com a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas. Estes ficariam com a função de ajudar com as relações humanas. As estratégias para os empresários seriam palestras para doutrinamento fazendo-os a largar as cúpulas, ir aos sindicatos e cumprir com suas tarefas frente à sociedade, que é um senso missiológico.
A sessão é interrompida às 16:50h para um intervalo e quando volta, às 17:30h estão presentes outros componentes além dos que estavam presentes. Somam-se aos outros os nomes trazidos em suas iniciais: ATAA, CGPM, JOMF, JDG, DN, GT e GH. A presidência nessa nova sessão foi presidida por HCP.
O primeiro assunto a discutir foi a assessoria em Brasília, com o pensamento de uma assessoria administrativa, para a construção de uma base que ajuntasse mais pessoas e instituições para o planejamento específico da pauta IPES. Percebe-se a organização que o IPES faz de modo que, em sua pauta estão falando de representatividade no senado, visto que, já tem representatividade na câmara dos deputados.
O documento termina com as preocupações, especialmente com o movimento sindical que poderia se manifestar.
Depois de examinar a ata pode-se examinar o que a historiografia diz sobre este movimento.
Segundo o material didático do CEDERJ, o Instituto de Pesquisas e Estudos Superiores (IPES), criado em 1962, tinha como objetivo “defender a liberdade pessoal e da empresa ameaçada pelo plano de socialização dormente no seio do governo João Goulart, através de um aperfeiçoamento de consciência cívica e democrática do povo” (LAMARÃO, 2001, p. 2.789 apud DE BRITO & BORGES, Aula 11). Ainda segundo a aula 11, o IPES se utilizou da mídia e dos recursos vigentes para campanha de oposição ao governo de João Goulart. E de maneira ativa participou do Golpe de 1964, vindo a desaparecer em 1972.
Na literatura de René Armand Dreifuss, (1964: A Conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe), pode-se perceber que o IPES, junto com outros movimentos, foi formado no final do governo de Juscelino Kubtschek, que, entre os descontentamentos estavam os excessos inflacionários e o modo populista de governo. Se fortaleceu durante o mandato de Jânio Quadros, onde se depositava esperança de cunho moralista. Esse movimento, segundo Dreifus, começou suas conversas em 1960, com Paulo Ayres Filho (descrito como P. Ayres no Documento) empresário e ex-diretor do Banco do Brasil no governo de Jânio Quadros e alguns jovens executivos de São Paulo e Rio de Janeiro. Gilbert Huber Jr, americano residente no Rio de Janeiro(GH segundo o registro da ata) foi o responsável por entrar em contato com P. Ayres, pois sua missão seria recrutar homens de São Paulo. P. Ayres foi o responsável pelo recrutamento de João Batista Leopoldo Figueiredo (JBLF segundo registro em ata), importante empresário e ex-presidente do Banco do Brasil no governo de Jânio Quadros. Este veio a se tornar o líder do IPES de São Paulo. Com a renúncia de Jânio Quadros o grupo foi ativado em agosto de1961.
Dentro da perspectiva da ata, pode-se perceber com Dreifuss que eles não estavam de brincadeira. Começaram a arregimentar forças, e o americano GH, o empresário multinacional Antônio Gallotti, os tecno-empresários Glycon de Paiva (GLY segundo registro em ata) e José Garrido Torres (GT como registrado em ata) e o empresário Augusto Trajano Azevedo Antunes (ATAA como registrado em ata) e outros estavam engajados a obtenção de novos adeptos do IPES, recrutando diversos oficiais da reserva, tais como Golbery do Couto e Silva (GCS conforme registro em ata), indicado pelo General Heitor Herrera (HH segundo registro em ata). Esse grupo se reuniu informalmente e decidiu ser a voz empresarial no Brasil, tendo contudo, o cuidado de ser o mais popular possível.
O que unia o IPES eram os ideários de relações econômicas multinacionais, objeção ao comunismo e o desejo de reformulação do Estado. Em 29 de novembro de 1961 o IPES passou a existir oficialmente, despertando logo interesse das mídias e de personagens religiosos e intelectuais.
Ainda segundo Dreifuss, o IPES assumiu vida dupla na política. A primeira foi a questão intelectual, fazendo dele uma agremiação apartidária com objetivos específicos na área educacional e cívica. Por outro lado, coordenava uma sofisticada e multifacética campanha política, ideológica e militar.
O IPES se difundiu pelo Brasil, tendo a abrangência de mais de 500 empresas, prosseguindo para os Estados Unidos, na pessoa de GH, buscando novos empresários para aderir à ideologia política e econômica.
Conforme a ata analisada, pode-se perceber, que o IPES foi um grupo de organização político/militar, onde a elite orgânica dos interesses multinacionais e associado alcançava o que Gramsci chamava de “ a fase genuinamente política” quando “ideologias previamente desenvolvidas se tornam partidos” (apud DREIFUSS, 1981). Consequentemente, como partido de novos interesses, faziam movimentos públicos e privados, nas áreas civis e militares, e num momento auge do movimento, onde foi aderido pelas forças armadas, sendo o IPES considerado uma força militar e paramilitar, o General Golbery de Couto e Silva se afirma como chefe do estado maior do bloco de poder multinacional e associado, colocando o problema do Estado como prioridade, buscando efetivo comando político do aparelho do Estado.
Quando da datação da ata, essas eram as demandas do IPES, que mantinham-se popularmente na demanda de ser um grupo intelectual para produzir ferramentas de benefício ao Estado, o que contudo em suas entrelinhas, mantinham todo um artefato de ideologias de atividades político-militares da elite orgânica, que a posteriori veio a desencadear no Golpe de 1964.
Referência bibliográfica
DREIFUSS, René Armand. 1964: A Conquista do Estado. Açãopolítica, poder e golpe de classe, 1981; pp. 162-209.
BRITO, Leonardo Leonidas de; BORGES, Vera Lúcia Bogéa. Aula11 Ditadura militar (1ª parte), CEDERJ.

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