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MATERIAL FINAL - PENAL I

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Entenda o que é a teoria do crime: 
 
A Teoria do Crime é uma disciplina do Direito Penal que abrange vários conceitos, como crime, 
fato típico, ilicitude e culpabilidade. Serve para verificar se um fato é enquadrado como um 
crime previsto na lei penal. 
A teoria é, em resumo, o conjunto de regras e requisitos usados para determinar se o fato é um 
crime. Envolve aspectos relacionados ao conceito de crime e à atribuição de uma pena para a 
atitude. 
A teoria também é conhecida pelos seguintes nomes: Teoria Geral do Crime e Teoria Geral do 
Delito. 
 
 
O que é um crime? 
 
Saber o que é um crime é o primeiro conceito importante. Crime é um ato proibido pela 
legislação penal, que possui a determinação de uma pena como consequência, caso seja 
praticado. 
É um fato que tem como consequência um dano a um bem jurídico que é protegido por lei penal. 
Por exemplo: o crime de homicídio atinge o bem jurídico "vida", que é tutelado (protegido) pela 
lei. 
Por definição de seus elementos, um crime será todo fato que for típico, ilícito e culpável. 
Elementos do crime 
 
Um crime é formado por três componentes: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. 
 
 
 
 Tipicidade: inclui conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. 
 Ilicitude: pode incluir características como excludentes de ilicitude, legítima defesa, estado de 
necessidade, estrito cumprimento de um dever legal e exercício regular de um direito. 
 Culpabilidade: inclui os conceitos de imputabilidade (responsabilidade), exigibilidade de uma 
conduta diversa e a potencial consciência da ilicitude. 
 
Tipos de crimes 
 
Os crimes possuem uma classificação própria, de acordo com algumas características. Veja: 
 Crimes comissivos: o crime comissivo é definido pela prática de uma ação que a lei considera 
criminosa. 
Por exemplo: agredir uma pessoa durante uma discussão (crime de lesão corporal). 
 Crimes omissivos: o crime ocorre quando o indivíduo deixa de fazer uma ação que deveria. 
Nesse caso, é a omissão da conduta que caracteriza o crime. 
Exemplo: deixar de socorrer uma vítima de acidente (crime de omissão de socorro). 
 Crimes omissivos impróprios: o crime acontece quando o indivíduo tem a obrigação de evitar 
uma conduta (resultado) e não o faz. 
Por exemplo: uma pessoa é responsável pelos cuidados com uma criança que, por seu descuido, 
sofre um acidente. 
 
Crime e fato típico 
 
Os conceitos de crime e de fato típico são relacionados, já que o fato típico é considerado 
o primeiro elemento que caracteriza um crime. 
O fato típico é a indicação de que um ato praticado consiste em uma conduta que a lei 
considera como criminosa. É composto por quatro elementos: conduta, resultado, nexo causal 
(relação de causalidade) e tipicidade. 
A conduta é o comportamento (ação) praticado pela pessoa. Exemplos: agredir alguém, dirigir 
sob efeito de bebida alcoólica (e assumir o risco de causar um acidente de trânsito). 
O resultado é a modificação causada pela ação tomada. Por exemplo: lesão corporal causada 
na pessoa agredida, morte de uma pessoa por atropelamento. 
O nexo de causalidade é a comprovação da relação entre o ato e o resultado. Por exemplo: 
nas situações citadas, o nexo de causalidade é a comprovação da relação existente entre a 
agressão e as lesões causadas ou a comprovação de que o atropelamento aconteceu em razão 
da embriaguez ao volante. 
Já a tipicidade é o enquadramento da lei para conduta praticada. Exemplo: o crime de lesão 
corporal é determinado no artigo 129 do Código Penal (ofender a integridade corporal ou a saúde 
de outrem). O crime de homicídio na direção é enquadrado no artigo 302 do Código de Trânsito 
Brasileiro (praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor). 
 
O que significa ilicitude? 
 
 
 
 
Para compreender o que são os excludentes, é fundamental compreender o que significa 
ilicitude. Esse termo refere-se a algo que é considerado ilícito, ou seja, aquilo que é condenado 
pela lei, que é proibido/ilegal. De acordo com o especialista em direito penal, Guilherme Nucci, 
ilicitude é um termo utilizado em referência a contradição entre uma conduta e o que está previsto 
na lei. Ou seja, há ilicitude quando o comportamento/ação de uma pessoa desrespeita alguma 
lei. 
 
O que são excludentes de ilicitude? 
 
Excludente de ilicitude é um mecanismo previsto no Código Penal que estabelece a possibilidade 
de uma pessoa praticar uma ilicitude sem que considere-se isso uma atividade criminosa. Ou 
seja, o excludente é um mecanismo que permite que uma pessoa pratique uma ação que 
normalmente seria considerada um crime. 
 
Vejamos alguns exemplos: 
 
Seu vizinho vai viajar e você arromba a porta da casa dele e entra. Essa é uma atitude criminosa, 
mas será que em todos os casos? Não, há cenários em que isso seria permitido. Se você faz 
isso porque percebe um incêndio e escuta o cachorro de seu vizinho latindo, por exemplo, sua 
atitude é justificável. Logo, algo que normalmente seria considerado crime (como invadir a casa 
de seu vizinho e causar um dano à propriedade dele) nesse caso não será. 
Outro exemplo é o caso dos policiais. Se em cenário de necessidade um policial matar uma 
pessoa, ele não será punido por isso. 
Como esses exemplos demonstram, a exclusão de ilicitude se aplica a casos que são 
excepcionais, em que a ação – em tese, ilícita – se justifica. Há diversos cenários em que isso 
pode ocorrer e, por essa razão, o Código Penal descreve diferentes tipos de excludente de 
ilicitude: 
 
Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I – Em estado de necessidade; 
II – Em legítima defesa; 
III – Em estrito cumprimento legal de dever ou no exercício regular de direito. 
 
Vejamos mais detalhadamente cada um desses casos. 
 
Estado de necessidade 
Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar 
de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, 
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-
se. 
 
 
 
 
Traduzindo, considera-se estado de necessidade quando um indivíduo comum (ou seja, alguém 
que não é um profissional da segurança) sacrifica um bem protegido por lei em nome de outra 
coisa cuja proteção é mais importante. Voltando ao nosso exemplo anterior: o indivíduo julga que 
respeitar a propriedade de seu vizinho é menos importante do que salvar o cachorro que está 
preso no incêndio, logo ele sacrifica o primeiro para salvar o segundo. 
Para que uma situação seja considerada estado de necessidade e, dessa forma, o indivíduo não 
seja punido, é necessário que: 
 
a) o perigo não tenha sido provocado intencionalmente pelo indivíduo (digamos que o fogo na 
casa de seu vizinho foi voluntariamente iniciado por você, por exemplo); 
b) o indivíduo não seja um agente da segurança, ou seja, o agente não tem a responsabilidade 
de proteger; 
c) o perigo seja atual/esteja ocorrendo naquele momento. 
 
Legítima defesa 
Art. 25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios 
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
 
Esse é o tipo mais conhecido dentre os excludentes de ilicitude. Configura-se um caso de 
legítima defesa quando um indivíduo comete uma agressão contra outra pessoa para proteger a 
si próprio ou a um terceiro. O perigo precisa ser atual, mas não é necessário que o dano esteja 
ocorrendo, ele pode ser apenas iminente. Isso significa que a legítima defesa pode ser 
preventiva, mas apenas se o perigo for atual. Além disso, não é preciso que a ação seja em 
defesa própria, pode ser em defesa de outra pessoa. 
Por exemplo, se um indivíduo invade sua casa armado e você o agride para proteção própria 
e/ou de sua família, configura-se um caso de legítima defesa. Não é necessário que o indivíduo 
esteja prestes a atirar em alguém para que a ação seja justificada. 
Mas é importante ressaltar que para que a ação de legítima defesaseja considerada um 
excludente de ilicitude e o indivíduo não seja punido, é necessário ela seja proporcional à 
gravidade da ameaça. Ou seja, se uma pessoa que não está armada tenta te assaltar e você 
mata essa pessoa, sua resposta não configura legítima defesa, pois você atentou contra a vida 
de alguém que não ameaçava sua vida. Nesses casos, a pessoa pode ser responsabilizada 
(punida) por uma resposta excessiva. O que é considerada uma reação proporcional ou 
desproporcional será definido pela justiça em cada caso específico. 
 
Estrito cumprimento legal de dever e exercício regular de direito 
Este excludente de ilicitude é aplicável àqueles indivíduos que, geralmente em razão de sua 
profissão, possuem o dever de proteger. É esse tipo de excludente que garante aos policiais e 
outros agentes de segurança pública que não serão punidos caso seja necessário infligir 
agressões contra outra pessoa ou causar danos a algum bem. Evidentemente, isso não significa 
que qualquer agressão realizada por um agente de segurança pública não poderá ser punido. O 
Art. 23 do Código Penal enfatiza que excessos deverão ser penalizados. 
 
 
 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato. 
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá 
pelo excesso doloso ou culposo. 
 
Culpabilidade 
 
A culpabilidade é o juízo que será feito sobre a reprovabilidade da conduta do agente, 
considerando suas circunstâncias pessoais (ex. capacidade). 
Ainda, é importante notar que ao contrário do fato típico (fato estar previsto na lei) e da ilicitude 
(fato contrário ao ordenamento jurídico), que foca no fato, na culpabilidade o objeto está no 
agente. 
 
Teorias da culpabilidade 
Existem algumas teorias que buscam explicar a culpabilidade. Vejamos um esquema. 
 
Teorias da culpabilidade - Culpabilidade no Direito Penal 
Teorias da culpabilidade – Culpabilidade no Direito Penal 
Focaremos na teoria limitada, pois ela é adotada pelo Código Penal. 
 
A Teoria Limitada da Culpabilidade basicamente considera como elementos da culpabilidade a 
imputabilidade, o potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. 
Além disso, divide as descriminantes putativas em dois tipos, vejamos conforme os 
ensinamentos do Professor Renan Araújo. 
Erro sobre pressuposto fático da causa de justificação (ou erro de fato) – Neste caso, 
aplicam-se as mesmas regras previstas para o erro de tipo (tem-se aqui o que se chama de 
ERRO DE TIPO PERMISSIVO). 
Erro sobre a existência ou limites jurídicos de uma causa de justificação (erro sobre a 
ilicitude da conduta) – Neste caso, tal teoria defende que devam ser aplicadas as mesmas regras 
previstas para o erro de PROIBIÇÃO, por se assemelhar à conduta daquele que age consciência 
da ilicitude. 
Não confunda: 
Erro de tipo: o agente não sabe o que faz, se soubesse não faria -> incide sobre os elementos 
constitutivos do tipo legal do crime) 
Erro de proibição (erro sobre a ilicitude do fato): o agente age acreditando que sua conduta não 
é ilícita -> Sabe o que faz, mas ignora ser proibido (recai sobre a consciência da ilicitude do fato) 
 
 
 
 
Elementos da Culpabilidade 
Depreendemos da Teoria Limitada da Culpabilidade que os Elementos da Culpabilidade são: 
Imputabilidade penal 
Potencial consciência da ilicitude 
Exigibilidade de conduta diversa 
 
Imputabilidade penal 
A imputabilidade penal pode ser definida como a capacidade mental do agente de entender o 
caráter ilícito da conduta. Obviamente que existem hipóteses em que há exclusão da 
culpabilidade, vamos conhecê-las. 
 
Causas de inimputabilidade (exclusão da culpabilidade) 
Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (CP, Art. 26) 
Inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato -> Isento de pena; 
Não era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato -> redução 1/3 a 2/3 
Menores de 18 anos (CP, Art. 27) -> Critério Biológico (exceção no CP) 
O menor responderá perante ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e não ao CP. 
Obs. A imputabilidade penal deve ser aferida no momento do fato criminoso, atenção! 
Embriaguez (CP, Art. 28): 
Acidental – Proveniente de caso fortuito ou força maior + inteiramente incapaz de entender o 
caráter ilícito do fato -> Isento de pena 
Incompleta – Proveniente de caso fortuito ou força maior + não possuía plena capacidade de 
entender o caráter ilícito -> Redução de 1/3 a 2/3 
Obs. A embriaguez patológica também exclui a imputabilidade, nesse sentido será tratada como 
doença mental. 
 
Não excluem a imputabilidade penal 
Ainda, leve para prova que não excluem a imputabilidade penal a emoção/paixão e os casos de 
embriaguez que não sejam provenientes de caso fortuito ou força maior. 
 
Art. 28 – Não excluem a imputabilidade penal: 
 
 
 
I – a emoção ou a paixão; 
II – a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos 
análogos. 
 
Ainda, trata-se de uma circunstância agravante, a embriaguez preordenada. 
 
Art. 61 – São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem 
ou qualificam o crime: 
II – ter o agente cometido o crime: 
l) em estado de embriaguez preordenada. 
 
Potencial consciência da ilicitude 
 
A potencial consciência da ilicitude é a possibilidade de o agente, de acordo com suas 
características pessoais, conhecer o caráter ilícito do fato. 
Nesse sentido, o Professor Renan Araújo explica que um Advogado tem maior potencial 
consciência da ilicitude do que uma pessoa sem instrução, por exemplo. 
Assim, quando o agente age acreditando que sua conduta é lícita comete o erro de proibição. 
Erro sobre a ilicitude do fato 
 
Art. 21 – O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, 
se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 
 
Parágrafo único – Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem 
a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter 
ou atingir essa consciência. 
 
Exigibilidade de Conduta Diversa 
Para que haja culpabilidade não basta que a conduta seja típica e ilícita, ainda é necessário que 
existam condições do agente agir de forma diferente. Por isso trata-se de um elemento da 
culpabilidade, a Exigibilidade de Conduta Diversa. 
Caso se conclua que não havia outra forma de agir, o agente está acobertado por uma causa de 
exclusão da culpabilidade 
Vejamos a literalidade do CP. 
 
 
 
Coação irresistível e obediência hierárquica 
 
Art. 22 – Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a 
ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da 
coação ou da ordem. 
 
Vamos explorar essas duas causas. 
Causas de exclusão da culpabilidade 
 
Coação moral irresistível – Ocorre quando uma pessoa coage outra a praticar determinado 
crime, sob a ameaça de lhe fazer algum mal grave. 
Não confunda: 
Coação física irresistível -> Exclui o Fato Típico 
Coação moral irresistível -> Exclui apenas a Culpabilidade 
 
Obediência hierárquica – o agente pratica o fato em cumprimento a uma ordem proferida por 
um superior hierárquico. Atente-se que ser isento de pena, a ordem não pode ser 
manifestamente ilegal. 
Não confunda: 
 
Ordem manifestamente ilegal -> Agente e superior respondem juntos 
Ordem não manifestamente ilegal -> Apenas o superior responde 
Obs. A obediência hierárquica só se aplica aos funcionários públicos, não aos particulares! 
 
Causas de Inimputabilidade 
Vimos acima os elementos da culpabilidade e as causas de inimputabilidade associadas, apenas 
para facilitar, conheçamos um mnemônico que pode salvar pontos preciosos em sua prova. 
 
MEDECO -> O Medeco não é culpado 
 
Minoridade 
Embriaguez 
 
 
 
Doença mental 
Erro de proibição inevitável 
Coação moral irresistível 
Obediência hierárquicaCONCURSO DE PESSOAS 
 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, 
na medida de sua culpabilidade. 
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um 
terço. 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena 
deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais 
grave.

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