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Entenda o que é a teoria do crime: A Teoria do Crime é uma disciplina do Direito Penal que abrange vários conceitos, como crime, fato típico, ilicitude e culpabilidade. Serve para verificar se um fato é enquadrado como um crime previsto na lei penal. A teoria é, em resumo, o conjunto de regras e requisitos usados para determinar se o fato é um crime. Envolve aspectos relacionados ao conceito de crime e à atribuição de uma pena para a atitude. A teoria também é conhecida pelos seguintes nomes: Teoria Geral do Crime e Teoria Geral do Delito. O que é um crime? Saber o que é um crime é o primeiro conceito importante. Crime é um ato proibido pela legislação penal, que possui a determinação de uma pena como consequência, caso seja praticado. É um fato que tem como consequência um dano a um bem jurídico que é protegido por lei penal. Por exemplo: o crime de homicídio atinge o bem jurídico "vida", que é tutelado (protegido) pela lei. Por definição de seus elementos, um crime será todo fato que for típico, ilícito e culpável. Elementos do crime Um crime é formado por três componentes: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. Tipicidade: inclui conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. Ilicitude: pode incluir características como excludentes de ilicitude, legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento de um dever legal e exercício regular de um direito. Culpabilidade: inclui os conceitos de imputabilidade (responsabilidade), exigibilidade de uma conduta diversa e a potencial consciência da ilicitude. Tipos de crimes Os crimes possuem uma classificação própria, de acordo com algumas características. Veja: Crimes comissivos: o crime comissivo é definido pela prática de uma ação que a lei considera criminosa. Por exemplo: agredir uma pessoa durante uma discussão (crime de lesão corporal). Crimes omissivos: o crime ocorre quando o indivíduo deixa de fazer uma ação que deveria. Nesse caso, é a omissão da conduta que caracteriza o crime. Exemplo: deixar de socorrer uma vítima de acidente (crime de omissão de socorro). Crimes omissivos impróprios: o crime acontece quando o indivíduo tem a obrigação de evitar uma conduta (resultado) e não o faz. Por exemplo: uma pessoa é responsável pelos cuidados com uma criança que, por seu descuido, sofre um acidente. Crime e fato típico Os conceitos de crime e de fato típico são relacionados, já que o fato típico é considerado o primeiro elemento que caracteriza um crime. O fato típico é a indicação de que um ato praticado consiste em uma conduta que a lei considera como criminosa. É composto por quatro elementos: conduta, resultado, nexo causal (relação de causalidade) e tipicidade. A conduta é o comportamento (ação) praticado pela pessoa. Exemplos: agredir alguém, dirigir sob efeito de bebida alcoólica (e assumir o risco de causar um acidente de trânsito). O resultado é a modificação causada pela ação tomada. Por exemplo: lesão corporal causada na pessoa agredida, morte de uma pessoa por atropelamento. O nexo de causalidade é a comprovação da relação entre o ato e o resultado. Por exemplo: nas situações citadas, o nexo de causalidade é a comprovação da relação existente entre a agressão e as lesões causadas ou a comprovação de que o atropelamento aconteceu em razão da embriaguez ao volante. Já a tipicidade é o enquadramento da lei para conduta praticada. Exemplo: o crime de lesão corporal é determinado no artigo 129 do Código Penal (ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem). O crime de homicídio na direção é enquadrado no artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro (praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor). O que significa ilicitude? Para compreender o que são os excludentes, é fundamental compreender o que significa ilicitude. Esse termo refere-se a algo que é considerado ilícito, ou seja, aquilo que é condenado pela lei, que é proibido/ilegal. De acordo com o especialista em direito penal, Guilherme Nucci, ilicitude é um termo utilizado em referência a contradição entre uma conduta e o que está previsto na lei. Ou seja, há ilicitude quando o comportamento/ação de uma pessoa desrespeita alguma lei. O que são excludentes de ilicitude? Excludente de ilicitude é um mecanismo previsto no Código Penal que estabelece a possibilidade de uma pessoa praticar uma ilicitude sem que considere-se isso uma atividade criminosa. Ou seja, o excludente é um mecanismo que permite que uma pessoa pratique uma ação que normalmente seria considerada um crime. Vejamos alguns exemplos: Seu vizinho vai viajar e você arromba a porta da casa dele e entra. Essa é uma atitude criminosa, mas será que em todos os casos? Não, há cenários em que isso seria permitido. Se você faz isso porque percebe um incêndio e escuta o cachorro de seu vizinho latindo, por exemplo, sua atitude é justificável. Logo, algo que normalmente seria considerado crime (como invadir a casa de seu vizinho e causar um dano à propriedade dele) nesse caso não será. Outro exemplo é o caso dos policiais. Se em cenário de necessidade um policial matar uma pessoa, ele não será punido por isso. Como esses exemplos demonstram, a exclusão de ilicitude se aplica a casos que são excepcionais, em que a ação – em tese, ilícita – se justifica. Há diversos cenários em que isso pode ocorrer e, por essa razão, o Código Penal descreve diferentes tipos de excludente de ilicitude: Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato: I – Em estado de necessidade; II – Em legítima defesa; III – Em estrito cumprimento legal de dever ou no exercício regular de direito. Vejamos mais detalhadamente cada um desses casos. Estado de necessidade Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir- se. Traduzindo, considera-se estado de necessidade quando um indivíduo comum (ou seja, alguém que não é um profissional da segurança) sacrifica um bem protegido por lei em nome de outra coisa cuja proteção é mais importante. Voltando ao nosso exemplo anterior: o indivíduo julga que respeitar a propriedade de seu vizinho é menos importante do que salvar o cachorro que está preso no incêndio, logo ele sacrifica o primeiro para salvar o segundo. Para que uma situação seja considerada estado de necessidade e, dessa forma, o indivíduo não seja punido, é necessário que: a) o perigo não tenha sido provocado intencionalmente pelo indivíduo (digamos que o fogo na casa de seu vizinho foi voluntariamente iniciado por você, por exemplo); b) o indivíduo não seja um agente da segurança, ou seja, o agente não tem a responsabilidade de proteger; c) o perigo seja atual/esteja ocorrendo naquele momento. Legítima defesa Art. 25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Esse é o tipo mais conhecido dentre os excludentes de ilicitude. Configura-se um caso de legítima defesa quando um indivíduo comete uma agressão contra outra pessoa para proteger a si próprio ou a um terceiro. O perigo precisa ser atual, mas não é necessário que o dano esteja ocorrendo, ele pode ser apenas iminente. Isso significa que a legítima defesa pode ser preventiva, mas apenas se o perigo for atual. Além disso, não é preciso que a ação seja em defesa própria, pode ser em defesa de outra pessoa. Por exemplo, se um indivíduo invade sua casa armado e você o agride para proteção própria e/ou de sua família, configura-se um caso de legítima defesa. Não é necessário que o indivíduo esteja prestes a atirar em alguém para que a ação seja justificada. Mas é importante ressaltar que para que a ação de legítima defesaseja considerada um excludente de ilicitude e o indivíduo não seja punido, é necessário ela seja proporcional à gravidade da ameaça. Ou seja, se uma pessoa que não está armada tenta te assaltar e você mata essa pessoa, sua resposta não configura legítima defesa, pois você atentou contra a vida de alguém que não ameaçava sua vida. Nesses casos, a pessoa pode ser responsabilizada (punida) por uma resposta excessiva. O que é considerada uma reação proporcional ou desproporcional será definido pela justiça em cada caso específico. Estrito cumprimento legal de dever e exercício regular de direito Este excludente de ilicitude é aplicável àqueles indivíduos que, geralmente em razão de sua profissão, possuem o dever de proteger. É esse tipo de excludente que garante aos policiais e outros agentes de segurança pública que não serão punidos caso seja necessário infligir agressões contra outra pessoa ou causar danos a algum bem. Evidentemente, isso não significa que qualquer agressão realizada por um agente de segurança pública não poderá ser punido. O Art. 23 do Código Penal enfatiza que excessos deverão ser penalizados. Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato. Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. Culpabilidade A culpabilidade é o juízo que será feito sobre a reprovabilidade da conduta do agente, considerando suas circunstâncias pessoais (ex. capacidade). Ainda, é importante notar que ao contrário do fato típico (fato estar previsto na lei) e da ilicitude (fato contrário ao ordenamento jurídico), que foca no fato, na culpabilidade o objeto está no agente. Teorias da culpabilidade Existem algumas teorias que buscam explicar a culpabilidade. Vejamos um esquema. Teorias da culpabilidade - Culpabilidade no Direito Penal Teorias da culpabilidade – Culpabilidade no Direito Penal Focaremos na teoria limitada, pois ela é adotada pelo Código Penal. A Teoria Limitada da Culpabilidade basicamente considera como elementos da culpabilidade a imputabilidade, o potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. Além disso, divide as descriminantes putativas em dois tipos, vejamos conforme os ensinamentos do Professor Renan Araújo. Erro sobre pressuposto fático da causa de justificação (ou erro de fato) – Neste caso, aplicam-se as mesmas regras previstas para o erro de tipo (tem-se aqui o que se chama de ERRO DE TIPO PERMISSIVO). Erro sobre a existência ou limites jurídicos de uma causa de justificação (erro sobre a ilicitude da conduta) – Neste caso, tal teoria defende que devam ser aplicadas as mesmas regras previstas para o erro de PROIBIÇÃO, por se assemelhar à conduta daquele que age consciência da ilicitude. Não confunda: Erro de tipo: o agente não sabe o que faz, se soubesse não faria -> incide sobre os elementos constitutivos do tipo legal do crime) Erro de proibição (erro sobre a ilicitude do fato): o agente age acreditando que sua conduta não é ilícita -> Sabe o que faz, mas ignora ser proibido (recai sobre a consciência da ilicitude do fato) Elementos da Culpabilidade Depreendemos da Teoria Limitada da Culpabilidade que os Elementos da Culpabilidade são: Imputabilidade penal Potencial consciência da ilicitude Exigibilidade de conduta diversa Imputabilidade penal A imputabilidade penal pode ser definida como a capacidade mental do agente de entender o caráter ilícito da conduta. Obviamente que existem hipóteses em que há exclusão da culpabilidade, vamos conhecê-las. Causas de inimputabilidade (exclusão da culpabilidade) Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (CP, Art. 26) Inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato -> Isento de pena; Não era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato -> redução 1/3 a 2/3 Menores de 18 anos (CP, Art. 27) -> Critério Biológico (exceção no CP) O menor responderá perante ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e não ao CP. Obs. A imputabilidade penal deve ser aferida no momento do fato criminoso, atenção! Embriaguez (CP, Art. 28): Acidental – Proveniente de caso fortuito ou força maior + inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato -> Isento de pena Incompleta – Proveniente de caso fortuito ou força maior + não possuía plena capacidade de entender o caráter ilícito -> Redução de 1/3 a 2/3 Obs. A embriaguez patológica também exclui a imputabilidade, nesse sentido será tratada como doença mental. Não excluem a imputabilidade penal Ainda, leve para prova que não excluem a imputabilidade penal a emoção/paixão e os casos de embriaguez que não sejam provenientes de caso fortuito ou força maior. Art. 28 – Não excluem a imputabilidade penal: I – a emoção ou a paixão; II – a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. Ainda, trata-se de uma circunstância agravante, a embriaguez preordenada. Art. 61 – São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II – ter o agente cometido o crime: l) em estado de embriaguez preordenada. Potencial consciência da ilicitude A potencial consciência da ilicitude é a possibilidade de o agente, de acordo com suas características pessoais, conhecer o caráter ilícito do fato. Nesse sentido, o Professor Renan Araújo explica que um Advogado tem maior potencial consciência da ilicitude do que uma pessoa sem instrução, por exemplo. Assim, quando o agente age acreditando que sua conduta é lícita comete o erro de proibição. Erro sobre a ilicitude do fato Art. 21 – O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Parágrafo único – Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Exigibilidade de Conduta Diversa Para que haja culpabilidade não basta que a conduta seja típica e ilícita, ainda é necessário que existam condições do agente agir de forma diferente. Por isso trata-se de um elemento da culpabilidade, a Exigibilidade de Conduta Diversa. Caso se conclua que não havia outra forma de agir, o agente está acobertado por uma causa de exclusão da culpabilidade Vejamos a literalidade do CP. Coação irresistível e obediência hierárquica Art. 22 – Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. Vamos explorar essas duas causas. Causas de exclusão da culpabilidade Coação moral irresistível – Ocorre quando uma pessoa coage outra a praticar determinado crime, sob a ameaça de lhe fazer algum mal grave. Não confunda: Coação física irresistível -> Exclui o Fato Típico Coação moral irresistível -> Exclui apenas a Culpabilidade Obediência hierárquica – o agente pratica o fato em cumprimento a uma ordem proferida por um superior hierárquico. Atente-se que ser isento de pena, a ordem não pode ser manifestamente ilegal. Não confunda: Ordem manifestamente ilegal -> Agente e superior respondem juntos Ordem não manifestamente ilegal -> Apenas o superior responde Obs. A obediência hierárquica só se aplica aos funcionários públicos, não aos particulares! Causas de Inimputabilidade Vimos acima os elementos da culpabilidade e as causas de inimputabilidade associadas, apenas para facilitar, conheçamos um mnemônico que pode salvar pontos preciosos em sua prova. MEDECO -> O Medeco não é culpado Minoridade Embriaguez Doença mental Erro de proibição inevitável Coação moral irresistível Obediência hierárquicaCONCURSO DE PESSOAS Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
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