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Artigo DOI: 10.18468/pracs.2017v10n2.p79-95 PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 Planejamento estratégico participativo e seus efeitos no clima organizacional Leiliane Penafort da Silva1, Ananias Costa Oliveira2, Luis de Jesus Pereira3 e Cláudio Marcio Campos de Mendonça4 1 Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. E-mail: leilianesilva-unifap@hotmail.com 2 Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. E-mail: ananiasoliveira@unifap.br 3 Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. E-mail: luis_jpereira@yahoo.com.br 4 Universidade Federal do Amapá - UNIFAP. E-mail: cmarcio@gmail.com RESUMO: O objetivo deste artigo é investigar a participação no planejamento estratégico co- mo fator de satisfação e influência no clima organizacional. O universo amostral é a Pró- Reitoria de Gestão de Pessoas - PROGEP, da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. Quanto à abordagem do problema, esta pesquisa se caracteriza como qualitativa e quantitativa, e do ponto de vista dos seus objetivos é classificada de tipo exploratória e descritiva. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário com 22 servidores e entrevistas com 3 gestores, correspondendo a uma parcela de 69% de seu público-alvo. O resultado geral da pesquisa indi- cou um nível de 86% de satisfação dos servidores, evidenciando que envolver as pessoas nas decisões e na construção de instrumentos estratégicos da instituição contribuiu para fomentar a gestão participativa e melhorar o clima organizacional entre os envolvidos. Palavras-chave: Gestão Participativa. Planejamento Estratégico. Clima Organizacional. Participatory strategic planning and its effects on organizational climate ABSTRACT: The aim of this article is to explore the participation in strategic planning as a satis- faction factor and his influence in organizational climate. The sample frame is the Dean’s Office Personnel (PROGEP) of the Federal University of Amapá – UNIFAP. As for the approach to the problem, this research makes use of both qualitative and quantitative methods, and from the point of view of its objectives is classified as exploratory and descriptive. The data collection was done using questionnaire sheets which were filled by 22 civil servants and interviews with 3 managers, which corresponds to a share of 69 percent of its target audience. The general re- search result reported a satisfaction level of 86 percent of the civil servants, and this shows us that the involvement of people in decision making as well as in building strategic instruments of the organization has helped to foster participatory management and improve the organiza- tional climate among stakeholders. Keywords: Participatory Management. Strategic Planning. Organizational Climate. 1 INTRODUÇÃO No contexto atual de mudanças e de de- senvolvimento tecnológico vivenciado pelas organizações, faz-se necessário uma gestão organizacional estruturada e bem planeja- da, com o propósito de conduzir pessoas e processos de forma eficaz, promover me- lhorias, criar um ambiente colaborativo, motivado, propício ao autodesenvolvimen- to e, consequentemente, à conquista de resultados positivos. 80 Silva, Oliveira, Pereira e Mendonça PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 Neste sentido, conduzir a organização em um caminho onde seus objetivos sejam alcançados de forma eficiente, é uma tarefa desafiadora. Diante desse contexto, estudi- osos se dedicam a criar modelos e teorias de gestão com ênfase a orientar as organi- zações no alcance de seus objetivos, de forma eficaz, por meio de gestores e demais colaboradores. O planejamento estratégico é uma das grandes ferramentas advinda desses estudos. Vale ressaltar, que as organizações são compostas por recursos, competências e, principalmente por pessoas, sua maior van- tagem competitiva. Neste contexto, torna- se fundamental alinhar as estratégias orga- nizacionais por meio da gestão participativa na construção de um instrumento de plane- jamento. Chiavenato (2016) ratifica que, cada vez mais, torna-se necessária a participação das pessoas no processo decisório organizacio- nal, uma vez que elas colocam em prática as ações definidas e alimentam os indicadores. Assim, o processo de elaboração das estra- tégias não deve ser construído somente por gestores ou consultores, mas de forma co- letiva, pois deve estar em consonância com o contexto interno em que a organização está inserida (PINTO et al., 2016). Considerando a premissa de que pessoas são partes essenciais e que conduzem as ações corporativas, entre as quais está o planejamento estratégico, esta pesquisa tem por objetivo investigar a participação na construção do planejamento estratégico como fator de satisfação e influência no clima organizacional. É válido considerar que o clima organiza- cional não é algo constante quanto à sua favorabilidade, pois ele sofre influência de uma gama de fatores relacionados ao am- biente de trabalho, desde aspectos psicoló- gicos até sua estrutura física. Assim, o equi- líbrio entre as diversas variáveis que com- põem o ambiente corporativo, é que vai definir a atmosfera que existirá no cenário da organização. Os conceitos apresentados nesta pesqui- sa ajudarão na compreensão das temáticas planejamento estratégico participativo e clima organizacional, que fazem parte do cotidiano das Instituições. Este entendi- mento oferece um suporte tanto para os gestores, auxiliando na tomada de decisão e condução das atividades, quanto para os demais colaboradores que atuam nos diver- sos níveis organizacionais, possibilitando diagnosticar problemas, bem como as fer- ramentas para solucioná-los. Outra contribuição deste estudo é mos- trar que um instrumento sistemático, como o planejamento estratégico, pode ser cons- truído de forma participativa, proporcio- nando satisfação e fortalecimento da equi- pe. Desse modo, desenvolver estudos que busquem envolver a equipe com a missão, visão, objetivos e valores da organização, contribuem para uma sólida investigação da relação planejamento estratégico participa- tivo e melhoria do clima organizacional. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A Participação no contexto da Adminis- tração A mudança é uma das características mais significativas das organizações. As transformações são profundas e ocorrem em ritmo cada vez mais dinâmico e acelera- do. Nesse contexto, faz-se necessário pro- mover um estilo de administração dinâmi- co, democrático e que valorize as pessoas Planejamento estratégico participativo e seus efeitos no clima organizacional 81 PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 que fazem parte da organização. A gestão participativa é um processo que objetiva o desenvolvimento da empresa, sem deixar de lado a participação do indivíduo. Este ambiente altamente mutável exige profissionais mais flexíveis, criativos e com iniciativa para inovar, revelando a necessi- dade de uma participação mais intensa do funcionário nas atividades da organização. Motta (2001), destaca alguns fatores que justificam o maior envolvimento dos traba- lhadores nas gestões das empresas como a democratização das relações sociais, a ele- vação do nível educacional, a complexidade das empresas modernas, os avanços das ciências, das tecnologias e do conhecimen- to. De acordo com Motta (2004), a partici- pação no sentido amplo e teórico do termo, compreende todas as formas e meios pelos quais os membros de uma organização, como indivíduos ou coletividade, podem influenciaros destinos dessa organização. No sentido restrito, pode-se definir a parti- cipação como a influência, por parte das pessoas que se encontram abaixo do nível de direção superior, de decisões ou funções usualmente consideradas privativas da ge- rência ou dos proprietários da empresa. Acompanhando essa linha de pensamen- to, Ferreira, Reis e Pereira (2006), afirmam que a participação consiste basicamente na criação de oportunidades para as pessoas influenciem decisões que as afetarão. Essa influência pode variar pouco ou muito. Par- ticipação é um caso especial de delegação, na qual o subordinado obtém maior contro- le, maior liberdade de escolha em relação as suas próprias responsabilidades. Na mesma linha de raciocínio, Chiavena- to (2005), afirma que Administração Parti- cipativa é o uso de tomada de decisão con- junta. Através dela, o colaborador participa de uma expressiva condição de poder na tomada de decisão com seus superiores imediatos. Este autor acrescenta que a ad- ministração participativa se refere à combi- nação de recursos organizacionais – huma- nos, matérias, financeiros, informação e tecnologia – para alcançar objetivos e atin- gir desempenho excepcional. Outros autores utilizam o termo “Gestão Participativa” para expressar essa ideia de maior envolvimento do colaborador nas decisões da organização. Na visão de Furta- do e Carvalho Neto (2007), por exemplo, a gestão participativa é uma estratégia ge- rencial utilizada pelas empresas para au- mentar sua eficiência e eficácia. A Gestão Participativa, para Robbins (2009), cria um elo entre os colaboradores e a empresa, pois, a medida que eles passam a conhecer a missão, a visão e os objetivos organizacionais e se identificam com eles, os mesmos passam a contribuir de forma mais pró ativa para que esses objetivos or- ganizacionais sejam alcançados. Leal Filho (2007) afirma que a participa- ção mobiliza a inteligência da organização, valoriza o potencial das pessoas e permite que elas exprimam suas ideias e emoções e desenvolvam relações pessoais e organiza- cionais. Para Luck (2008), trabalhar em um clima participativo provoca a melhoria do comportamento, reduz resistência às mu- danças e aumenta a produtividade das or- ganizações. Observa-se do posicionamento dos auto- res mencionados que a Gestão Participativa proporciona resultados significativos para a organização, principalmente quando há o envolvimento dos colaboradores no proces- so de tomada de decisão, onde subenten- de-se que os pontos de vista de todos são 82 Silva, Oliveira, Pereira e Mendonça PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 considerados. Desse modo, a equipe estará mais comprometida com a empresa, contri- buindo para o alcance dos objetivos organi- zacionais. 2.2. Planejamento Estratégico Em um contexto em que ameaças e o- portunidades exigem das organizações mu- danças adaptativas às transformações am- bientais, Kaplan e Norton (2000) ressaltam que as estratégias devem refletir essas transformações. E para que as estratégias logrem êxito faz-se necessário um planeja- mento. O planejamento estratégico, como mo- delo de construção e consolidação das es- tratégias organizacionais, consiste num pro- cesso contínuo baseado em etapas onde são consideradas as variáveis de ambiente da organização, as diretrizes organizacionais e a formulação, a implementação e o con- trole da estratégia (CERTO; PETER, 2010). Segundo Hitt, Ireland e Hoskisson (2011), o planejamento estratégico compreende a combinação de compromissos, decisões e ações que irão nortear a organização na obtenção de vantagem competitiva. Nesse processo, acrescentam os autores, devem ser considerados a análise de fatores inter- nos e externos à organização de modo que possibilite a definição da visão e missão or- ganizacional. Oliveira (2007), acrescenta que o proces- so decisório deve ocorrer antes, durante e após a elaboração e implementação do pla- nejamento estratégico na empresa. Ressal- ta que os processos decisórios devem levar em conta aspectos individuais e organiza- cionais fazendo com que os dois fatores possam confluir seus interesses em prol da estratégia organizacional. De modo geral, na visão de Kaplan e Nor- ton (2000) as organizações estão cada vez mais percebendo a importância de investir em conhecimento, capacidades e relacio- namentos estabelecidos por seus colabora- dores. Para os autores, trata-se de investir em recursos intangíveis como forma de es- tabelecer bases para vantagem competitiva por meio de um planejamento estratégico organizacional, de modo que a consecução da estratégia exige, sobretudo, o alinha- mento entre as variáveis de elementos in- tangíveis da organização. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2014) defendem um modelo de gestão estratégica baseada na aprendizagem estratégica orga- nizacional onde a estratégia é formada di- namicamente por qualquer pessoa na orga- nização. Assim, estes autores compreen- dem que a aprendizagem estratégica, cujo processo de criação acontece de forma co- letiva na organização, ajuda a criar e forta- lecer a gestão e a cultura estratégica da or- ganização. Os estudos de Silveira Junior (1995), con- cluíram que a construção do planejamento estratégico participativo, envolvendo todos os indivíduos dos diversos níveis da organi- zação, torna-se um processo de mudança organizacional. Neste sentido, este proces- so deve ser caracterizado por um canal a- berto de comunicação entre todos da orga- nização, pois, embora a estratégia seja de responsabilidade do nível institucional, o melhor planejador é o indivíduo que está no dia a dia da organização, que conhece as áreas de atuação e coloca em prática as estratégias para o alcance das metas traça- das (CHIAVENATO, 2016). Planejamento estratégico participativo e seus efeitos no clima organizacional 83 PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 2.3. Clima Organizacional Dentre os diversos conceitos relaciona- dos acerca desta temática, Pimenta (2012) afirma que clima organizacional é o reflexo da atmosfera que paira no ambiente de trabalho e sofre influência direta de uma gama de fatores. Nesse sentido, o clima refere-se ao ambiente psicológico interno da instituição que “está intimamente rela- cionado com o grau de motivação de seus participantes” (CHIAVENATO, 2016, p. 320). Sanches (2015) é contundente ao afirmar que o clima organizacional é a percepção extraída do coletivo, que se resume na for- ma como os colaboradores veem a organi- zação. Nesta ótica, eles realizam determi- nadas avaliações que, consideradas satisfa- tórias ou não, além de influenciar no com- portamento organizacional, podem gerar resultados negativos. Andrade, Fisher e Ste- fano (2015), reforçam a preocupação das organizações com essa percepção das pes- soas em relação ao contexto organizacional. Assim, Martins (2008) acrescenta que devido ao ambiente mutável e instável em que as organizações estão inseridas, elas têm buscado cada vez mais conhecer sobre a dinâmica organizacional e, além disso, verificar como colaboradores expostos a uma série de estímulos advindos da organi- zação e do ambiente de trabalho, têm per- cepções similares e acabam gerando signifi- cados semelhantes aos aspectos importan- tes da vida organizacional. Estes conceitos são importantes para a “compreensão do modo como o contexto do trabalho afeta o comportamento e as atitudes das pessoas neste ambiente, sua qualidade de vida e o desempenho da or- ganização” (MARTINS, 2008, p. 31). Outro fator relevante, é o papel do ges- tor, que segundo Chiavenato (2016), está relacionado com a motivação de pessoase equipes. O autor vai mais a fundo e afirma que a partir do momento em que o gestor proporciona senso de satisfação e autorrea- lização, contribui efetivamente para se cul- tivar um clima organizacional leve, incenti- vador e favorável à produtividade da orga- nização. No entanto, é importante salientar que, apesar de muitos autores considerarem termos sinônimos, o entendimento propos- to por Steuer (1989, apud MARTINEZ E PA- RAGUAY, 2003, p. 60), prevê que motivação e satisfação possuem conotações diferen- tes, onde “motivação manifesta a tensão gerada por uma necessidade e satisfação expressa a sensação de atendimento da necessidade”. Nesse sentido, Chiavenato (2014) complementa que a satisfação está relacionada à maneira como o colaborador se sente no ambiente organizacional. Desta maneira, a avaliação de satisfação ou não se dá a medida em que as necessidades das pessoas são atendidas pela organização, em suas particularidades. Já a motivação, segundo Villardi (2011), é um meio pelo qual uma plêiade de razões ou motivos demonstra, induz, incentiva, estimula ou provoca algum tipo de ação ou comportamento humano. Está relacionada “com a personalidade do ser humano e com o seu desenvolvimento mental, emocional, profissional e social” (CUNHA, 2014, p. 61). Ainda segundo o au- tor, a motivação pode ser considerada uma ação que leva o colaborador a perseguir o alcance e, até mesmo, a superação de de- terminados objetivos, sendo estes individu- ais ou organizacionais. A presente pesquisa elabora um estudo de clima no órgão de gestão de pessoas de 84 Silva, Oliveira, Pereira e Mendonça PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 uma instituição federal de ensino superior, com aspectos altamente peculiares. Segun- do Rizzatti (2002), nas universidades, as políticas relacionadas com a gestão de pes- soas devem ser baseadas no crescimento profissional dos colaboradores por meio do incentivo a capacitação continuada. Na visão de Schein (1982), o clima orga- nizacional transforma o comportamento dos colaboradores, por meio de procedi- mentos administrativos, participação nas decisões políticas e administrativas, reco- nhecimento e incentivos, influenciando sig- nificativamente nos fatores motivacionais dos servidores da Instituição. De acordo com Chiavenato (2016) esta influência do clima também se reflete na maneira como as pessoas percebem a instituição, no rela- cionamento com colegas e líderes, e como avaliam a estrutura organizacional, o estilo de liderança, a cultura corporativa, os valo- res e a missão da instituição. 3 METODOLOGIA A pesquisa é uma construção de conhe- cimento original, conforme determinadas exigências científicas, e para isso são neces- sários que critérios como: coerência, consis- tência, originalidade e objetivação sejam obedecidos. Para atender esses critérios é preciso que na metodologia sejam descritos o tipo de pesquisa, o universo e a amostra, o método e o instrumento de coleta de da- dos, bem como os métodos estatísticos pa- ra análise dos resultados (SILVA; MENEZES, 2005). Segundo Collis e Hussey (2005), o capítulo referente a metodologia é o lugar para se explicar os dados coletados. Do ponto de vista da abordagem do pro- blema, esta pesquisa se caracteriza como qualitativa e quantitativa. Segundo Diehl (2004), a pesquisa quantitativa faz uso da quantificação, utilizando técnicas estatísti- cas, objetivando resultados que evitem pos- síveis distorções de análise e interpretação, possibilitando uma maior margem de segu- rança. Já a pesquisa qualitativa, na visão deste mesmo autor, busca compreender e classi- ficar os processos dinâmicos vividos nos grupos, possibilitando o entendimento das mais variadas particularidades dos indiví- duos. Marconi e Lakatos (2008), acrescen- tam que esse tipo de pesquisa apresenta uma preocupação em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Gil (2008) classifica a pesquisa do ponto de vista da natureza, que pode ser básica ou aplicada. A abordagem ao problema po- de ocorrer de forma qualitativa ou quanti- tativa e os objetivos podem ser alcançados através da pesquisa exploratória, descritiva ou explicativa. Do ponto de vista dos seus objetivos, es- ta pesquisa é exploratória e descritiva. Co- da, (2014), afirma que a pesquisa explorató- ria visa proporcionar maior conhecimento do assunto, no intento de tornar a pesquisa mais concisa ou elaborar hipóteses. Trata- se também de um estudo descritivo porque procura descrever as características de uma experiência. De acordo com Gil (2008), uma das peculiaridades desse tipo de pesquisa está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questioná- rio e a observação sistemática. O universo amostral deste estudo foi a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas - PRO- GEP, da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP. Fazem parte desta Pró-Reitoria 41 servidores efetivos pertencentes ao quadro técnico administrativo. De acordo com as Planejamento estratégico participativo e seus efeitos no clima organizacional 85 PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 listas de frequência, 32 pessoas participa- ram da construção do planejamento estra- tégico da PROGEP. Obteve-se um total de 22 servidores que responderam ao questio- nário, no período de 01 a 08 de agosto de 2016, correspondendo a uma parcela de 69% do público-alvo da pesquisa, sendo portanto, uma amostra significativa. Para investigar a participação na cons- trução do Planejamento Estratégico como fator de satisfação e influência no Clima Organizacional, esta pesquisa foi desenvol- vida nas seguintes etapas: a) Definição da problemática e objetivo; b) Definição das variáveis organizacionais; c) Montagem do instrumento; d) Definição de parâmetros; e) Aplicação e coleta da pesquisa; f) Tabula- ção dos dados; e g) análise e interpretação dos resultados com a estatística descritiva para a dimensão quantitativa do artigo. Foram escolhidas as variáveis Gestão Participativa, Planejamento Estratégico e Clima Organizacional para verificar a satis- fação dos servidores em relação a alguns aspectos da PROGEP. À cada variável foi atribuída uma pequena série de perguntas. A escolha dessas variáveis advem da filtra- gem de resultados de estudos sobre o pro- cesso de construção do planejamento estra- tégico e seus efeitos sobre a organização. A escolha da variável Gestão Participativa teve como base o estudo de Forte (2003), que propõe um modelo de plano estratégi- co elaborado de forma participativa para garantir ações que incorporem grandes re- sultados. Quanto a variável Planejamento Estratégico, Barbosa e Brondani (2004) mostram a importância de ser utilizado co- mo ferramenta fundamental para direcio- nar e auxiliar o correto gerenciamento das organizações. A escolha da variável Clima Organizacional é baseada no trabalho de Santos (2000), que aponta um método para desenvolver o diagnóstico do clima organi- zacional, baseado na influência de certos fatores, para melhoria contínua da relação indivíduo-organização. Um dos instrumentos de pesquisa utili- zados foi a entrevista semi-estruturada com as três principais gestoras da PROGEP (Pró-Reitora e Diretoras), no intuito de veri- ficar suas percepções sobre a participação da equipe na construção do planejamento estratégico e se esta participação influen- ciou no clima organizacional. Segundo Boni (2005), a entrevista semi-estruturada é composta por questões abertas e fechadas, na quais os respondentes têm a possibilida- de de fazer as considerações necessárias sobre o sobreo tema proposto. Outro instrumento de pesquisa usado foi o questionário, aplicado eletronicamente com a autorização da Pró-Reitoria, compos- to por 25 questões, sendo 24 questões fe- chadas e 1 aberta, configuradas com afir- mativas e interrogativas. Estas questões ofereceram respostas em forma de escala do tipo Likert, com variação de 1 a 5 pon- tos, onde 1 significa que o servidor discorda totalmente e 5 demonstra que ele concorda totalmente, por exemplo. Segundo Potrich (2012), esse tipo de escala processa o nível de concordância ou discordância dos cola- boradores em relação às questões submeti- das. Luz (2003), acrescenta que nesse método de escala Likert o respondente poderá ma- nifestar-se com maior precisão e na tabula- ção dos dados será possível graduar o grau de intensidade de satisfação ou insatisfação dos participantes em relação à questão. Foram formulados parâmetros para faci- litar a tabulação dos dados, visando a me- lhor adequação das diferentes opções de 86 Silva, Oliveira, Pereira e Mendonça PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 respostas ao objetivo da pesquisa. Luz (2003), ressalta que cada opção de resposta deve ser interpretada na tabulação, como manifestação de satisfação ou insatisfação do respondente. Pelos parâmetros definidos, ao se tabular uma pergunta, serão considerados “satisfei- tos” os servidores que optarem pelas res- postas “Mais concordo que discordo” e “Concordo totalmente”. As respostas “Mais discordo que concordo” e “Discordo total- mente”, serão consideradas como manifes- tação de insatisfação. Na opção “Nem con- cordo nem discordo”, tabula-se só o per- centual. Definida a parametrização, passou-se à aplicação e coleta de dados, que ocorreu através da submissão do questionário aos servidores da PROGEP, por meio da ferra- menta Google Drive. As questões foram enviadas para o e-mail dos respondentes. A identificação dos entrevistados foi mantida em sigilo, conforme recomenda Cunha (2014), para não interferir no resultado da pesquisa, bem como para garantir o máxi- mo de sinceridade, no sentido de obter da- dos mais fiéis. Posteriormente, passou-se à tabulação dos dados para verificar os percentuais de satisfação dos servidores em relação as três variáveis escolhidas. Incialmente a tabula- ção foi realizada para verificar o grau de satisfação dos participantes em relação a cada pergunta. Logo após, utilizando a estatística descri- tiva, tabulou-se por variável, sendo conside- radas todas as perguntas inseridas na variá- vel, possibilitando obter o nível de satisfa- ção para cada assunto abordado. O percen- tual de satisfação de cada variável corres- ponde à média aritmética dos percentuais de satisfação das perguntas que compõem a variável. Em seguida, de forma análoga, foi realizada a tabulação geral, consideran- do as três variáveis abordadas. Por fim, foi realizada análise estatística através da técnica correlações de Pearson, gerada por meio do programa estatístico IBM SPSS Statistics Base 22.0, para avaliar a correlação entre sete variáveis que afetam o clima organizacional. 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Serão apresentados os resultados das análises quantitativa e qualitativa dos ques- tionários e das entrevistas aplicados aos servidores e gestores da PROGEP, respecti- vamente. A priori será mostrada a análise por variável e posteriormente se fará a aná- lise geral dos resultados da pesquisa. Os servidores possuíam em sua maioria (46%) idade entre 18 e 30 anos, sendo que os demais se dividiam em: 36% entre 31 e 40 anos; 14% acima de 51 anos e 5% entre 41 e 50 anos. 64% são pessoas do sexo fe- minino. Quanto ao nível de instrução, 55% da amostra, possui Especialização; 23% pos- suem Ensino Médio/Técnico; 19% têm Gra- duação e 5%, Mestrado. 55% desses 22 ser- vidores estão na Instituição de 1 a 3 anos; 23% há menos de 1 ano e 23 % fazem parte do quadro institucional há mais de 3 anos. 4.1 Gestão participativa O gráfico 1, mostra o grau de satisfação da variável “Gestão Participativa” (82%), e os percentuais de satisfação para cada per- gunta desta série. Esta variável abordou os seguintes aspectos: a) fomento da gestão participativa (pergunta 6); b) feedback, in- centivo e reconhecimento por parte do lí- der na construção do planejamento estra- Planejamento estratégico participativo e seus efeitos no clima organizacional 87 PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 tégico (perguntas 7, 8 e 11, respectivamen- te); c) oportunidade e liberdade para ideias e críticas (pergunta 9); d) satisfação propor- cionada em construir o planejamento estra- tégico (pergunta 10) e e) disponibilidade do líder em sanar dúvidas (pergunta 12). Gráfico 1. Percentuais da variável Gestão Participativa Fonte: Pesquisa dos autores (2016). O gráfico mostra que os percentuais de satisfação para as perguntas tendem a se aproximar de 100%. A pergunta 8, “Seu lí- der incentivou sua participação no plane- jamento estratégico da PROGEP?”, obteve 100% de satisfação. As perguntas “Na ela- boração do planejamento estratégico, hou- ve oportunidade e liberdade para dar idéias e fazer críticas” e “A participação na elabo- ração do planejamento estratégico me pro- porcionou satisfação”, obtiveram percentu- al de 95% de satisfação pelos respondentes. Em relação à entrevista com as gestoras, quando perguntado se “Na elaboração do planejamento estratégico, houve oportuni- dade e liberdade para os colaboradores da- rem ideias e fazerem críticas”, todas as res- postas evidenciaram que foi dada a oportu- nidade aos servidores de opinar, sugerir e até mesmo questionar acerca de determi- nados pontos do planejamento. Acerca deste fator, uma das entrevista- das respondeu: “A metodologia utilizada envolveu toda a PROGEP. Nós erámos divi- didos em grupos e nos grupos nós tínhamos a oportunidade de opinar, de sugerir. As pessoas se envolveram e participaram com afinco. Tiveram a oportunidade de falar so- bre as suas atividades”. Outra pergunta da entrevista indagou se “Há na PROGEP uma cultura baseada na gestão participativa? por quê?”. As respos- tas foram afirmativas. Uma das gestoras relatou: “ A partir do momento que a ges- tão reúne, deixa para a equipe a possibili- dade de dar sugestões na tomada de deci- sões e assim a gente tem essa oportunidade de participar e opinar”. Outra resposta res- salta: “Nas decisões a serem tomadas, as equipes que compõem esta Pró-Reitoria, participam, dando sugestões e feedback para que o gestor tome determinada deci- são.” Desta forma, as respostas das gestoras convergem com os resultados do questio- nário exibidos no gráfico anterior. Assim, pode-se afirmar que a gestão da Progep busca inserir seus colaboradores em suas politicas e em seus processos decisórios. Consequentemente esses servidores têm a percepção que estão inseridos nesse con- texto de Gestão Participativa, pois lhes são oferecidas oportunidades para o diálogo e a participação. 4.2 Planejamento estratégico O gráfico 2, mostra os resultados da vari- ável “Planejamento Estratégico”, em que verificou-se um percentual de 90% de satis- fação dos servidores. 86% dos participantes se consideram responsáveis pelo alcance dos objetivos traçados no Planejamento estratégico (pergunta 13) e 82% afirmaram 88 Silva, Oliveira, Pereira e Mendonça PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 que estão empenhados para alcançar esses objetivos (pergunta 16). Gráfico 2. Percentuaisda variável Planejamento Estratégico Fonte: Pesquisa dos autores (2016). Um ponto a se destacar no gráfico acima se refere às perguntas 15 e 17, que alcança- ram um nível significativo de satisfação dos servidores (95%). Os respondentes foram categóricos ao considerarem que no pro- cesso de construção do Planejamento estra- tégico houve envolvimento e interação en- tre as equipes (pergunta 15), bem como, busca pelo consenso nas discussões (per- gunta 17). Na entrevista com as gestoras, um dos aspectos abordados foi quanto as contribui- ções que a construção coletiva do Planeja- mento Estratégico trouxe ao ambiente or- ganizacional da PROGEP. As respostas apon- tam que essa participação possibilitou aos servidores visualizarem a sua importância para a Instituiçao, bem como, adquirir a convicção de que as atividades que execu- tam são fundamentais para o desenvolvi- mento da Organização. Nesse sentido, uma das gestoras afirmou que uma das conquistas dessa participação coletiva na construção do planejamento da PROGEP, “foi perceber que cada pessoa, cada tarefa, cada ação que é desenvolvida, faz parte de um plano maior. Isso valoriza o trabalho das pessoas, faz com que você se sinta importante para a instituição, pois você vê que a instituição depende de você e das atividades que você executa.” Esses resultados remetem à ideia de que a construção coletiva do planejamento da PROGEP trouxe resultados significativos para a equipe, pois a metodologia utilizada abriu espaço para a discussão e interação entre os participantes. Este ambiente de integração culminou na percepção pelos servidores de que o trabalho que desempe- nham é essencial para alcançar os objetivos institucionais. Desta maneira, todos se sen- tiram motivados e comprometidos em al- cançar as metas traçadas. 4.3 Clima organizacional Quanto a variável “Clima Organizacio- nal”, foi solicitado aos participantes que avaliassem sua satisfação em relação a fato- res que integram o ambiente organizacional da PROGEP. Os fatores com maior grau de satisfação (entre 70% e 80%) foram: ambi- ente psicológico, liderança, equipe, reco- nhecimento e respeito. Já os fatores de es- trutura física e equipamentos alcançaram percentuais críticos de satisfação, 23% e 32%, respectivamente. Resultado similar houve nas respostas das entrevistas, em que foi perguntado “Quais fatores do ambiente organizacional da PROGEP, você considera pontos fortes e pontos fracos para a satisfação da sua equi- pe?”. Obteve-se a seguinte resposta de uma das gestoras: “Considero um ponto forte o fato de haver uma preocupação da gestão no sentido de promover e participar de ati- vidades que busquem a interação pessoal e o envolvimento dos servidores. Em contra- Planejamento estratégico participativo e seus efeitos no clima organizacional 89 PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 partida, a estrutura física não é apropriada para comportar a equipe.” No gráfico 3, observa-se um grau elevado de satisfação dos servidores (85%), para o Clima Organizacional. Os participantes afir- maram que fazer parte da construção do planejamento incentivou o trabalho em e- quipe (pergunta 18) e influenciou nos pro- cessos de tomada de decisão (pergunta 19), onde se nota 95% e 78% de satisfação, res- pectivamente. Nas perguntas: como os ser- vidores avaliaram o relacionamento com o líder (pergunta 20) e com os colegas de tra- balho (pergunta 21), após o processo de elaboração do planejamento, houve um percentual de satisfação de 86% e 95%, respectivamente. Gráfico 3. Percentuais da variável Clima Organizacional. Fonte: Pesquisa dos autores (2016). Na pergunta 22, do gráfico acima, os res- pondentes afirmaram que existe na PRO- GEP uma cultura baseada na gestão partici- pativa (77%). A pergunta 24 mostra que 73% dos participantes consideram que a PROGEP é aberta a receber sugestões e contribuições de seus colaboradores. A per- gunta 25, aponta que 86% dos servidores indicariam a PROGEP para um amigo traba- lhar. As análises abordadas pelo gráfico, apon- tam para um clima organizacional favorável no ambiente da PROGEP. Corroborando esta afirmação, a entrevista com as gesto- ras evidencia fatores positivos na motivação dos servidores. Quando perguntado acerca dos fatores que mais motivam os colabora- dores da PROGEP, uma das entrevistadas citou a autonomia e descentralização na execução de atividades, o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, a definição de metas e o respeito às ideias e problemas colocados pela equipe. Outra resposta a ser destacada na entre- vista, quanto aos fatores motivacionais dos servidores, é a importância de se ter no ambiente de trabalho um relacionamento interpessoal favorável com os colegas e com a chefia. Afirma uma das gestoras: “Precisamos nos sentir aceitos, cuidados e receber estima das pessoas (...) eu vejo isso muito forte na progep. Há uma interação, um relacionamento interpessoal muito a- gradável entre os servidores”. Nesse contexto em que as gestoras iden- tificaram os elementos que motivam os co- laboradores da PROGEP, observa-se que tais elementos foram oportunizados e con- cretizados através da forma participativa de construção de um instrumento de planeja- mento para a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, como já visto na análise dos ques- tionários, das variáveis “Gestão Participati- va” e “Planejamento Estratégico”. Este fato portanto, confirma a relação planejamento estratégico participativo com clima organi- zacional positivo no ambiente de trabalho. 4.4 Análise geral dos resultados da pesqui- sa Além de calcular os percentuais de satis- fação dos participantes quanto às três vari- 90 Silva, Oliveira, Pereira e Mendonça PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 áveis abordadas na pesquisa, Luz (2003) afirma que faz-se necessário calcular o grau de satisfação dos participantes em relação à pesquisa como um todo, ou seja com rela- ção ao conjunto das variáveis pesquisadas. Assim, este percentual calculado representa o resultado geral da pesquisa, também chamado de ISG – Índice de Satisfação Ge- ral. Este Índice de Satisfação Geral, é obtido através da média aritmética dos percentu- ais de satisfação dos participantes, conside- rando todas as variáveis pesquisadas. O grá- fico 4 mostra o ISG em relação às variáveis gestão participativa, planejamento estraté- gico e clima organizacional. Observa-se que as três variáveis apresentaram níveis eleva- dos de satisfação (82%, 90% e 85%, respec- tivamente) e portanto o resultado geral da pesquisa indica um grau de 86% de satisfa- ção. Figura 4. Gráfico do ISG – Índice de Satisfação Geral Fonte: Pesquisa dos autores (2016). Outro ponto a ser destacado nesta pes- quisa, é a análise estatística das correlações de Pearson, com base nos conceitos de Dancey e Reidy (2005), que apontam a se- guinte classificação: r = 0,10 até 0,30 (fra- co); r = 0,40 até 0,6 (moderado); r = 0,70 até 1 (forte). Assim, a correlação de nível 0,01 é considerada significativa, enquanto que a correlação de nível 0,05 é considera- da altamente significativa. A tabela 1 expõe a relação de significância entre alguns fato- res do ambiente organizacional da PROGEP. Tabela 1. Coeficientes de correlação de Pearson entre sete variáveis que influenciam no clima organizacional da PROGEP. Corre- lação Ambi- ente Psico- lógico Estru- tura Física Lide- rança Equi- pam. Equi- pe Res- peito Carga de Traba- lho Ambi- ente Psico- lógico 1 ,358 ,685** ,174 ,344 ,753** ,530* E. Física ,358 1 ,314 ,424* -,059 ,209 ,396 Lide- rança ,685** ,314 1 ,202,098 ,531* ,735** Equipa pa- mento ,174 ,424* ,202 1 -,375 -,124 ,209 Equipe ,344 -,059 ,098 -,375 1 ,641** -,029 Res- peito ,753** ,209 ,531* -,124 ,641** 1 ,345 C. Traba- lho ,530* ,396 ,735** ,209 -,029 ,345 1 N 22 22 22 22 22 22 22 **. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades). *. A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades). Fonte: Pesquisa dos autores (2016). Nessa lógica, é possível verificar que am- biente psicológico sofre influência significa- tiva de valor moderado de liderança (685**), significativa forte de respeito (753**) e altamente significativa de carga de trabalho (530*). Assim é possível inferir que, na percepção dos colaboradores da PROGEP, para se ter um ambiente psicoló- gico saudável, é necessário que haja um bom relacionamento com a liderança, alto nível de respeito e uma carga de trabalho proporcional às atribuições e capacidades dos colaboradores. É possível sintetizar ainda que os colabo- radores consideram que o respeito entre os indivíduos da organização é significativo para se ter uma equipe sólida (r= 641**), Planejamento estratégico participativo e seus efeitos no clima organizacional 91 PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 bem como altamente significativo para se ter uma boa liderança (531*). Todas estas variáveis obtiveram avalia- ções positivas por parte da equipe, durante a participação no planejamento estratégico, o que influenciou favoravelmente no clima organizacional. Assim, aspectos relevantes foram ressaltados como: gestão participati- va, interatividade, comprometimento, a- prendizado e envolvimento entre as equi- pes. O consenso entre os colaboradores sobre o incentivo fornecido pela liderança, para participação de toda a equipe no pla- nejamento estratégico, correlaciona-se sig- nificativamente com a liberdade de propor sugestões e fazer críticas, bem como fo- menta a prática da gestão participativa. Considerando que o conceito de clima organizacional engloba o nível de satisfação dos funcionários de uma organização, acer- ca de vários fatores e que influencia a moti- vação e o comportamento dessas pessoas, pode-se notar que as respostas dos questi- onários mostraram relevantes índices per- centuais (acima de 80%) de satisfação para as três variáveis abordadas, bem como evi- denciaram a motivação dos servidores da PROGEP, refletindo desta forma na melho- ria do ambiente de trabalho. Outro ponto a destacar é que estas vari- áveis foram compostas por perguntas que abarcam as dimensões de clima organiza- cional. Assim, observou-se nos resultados que a participação dos servidores na cons- trução do planejamento estratégico da PROGEP proporcionou um clima organiza- cional favorável e positivo entre os mes- mos. A análise das entrevistas com as ges- toras corrobora também esta afirmação. Deste modo, os resultados expostos evi- denciam uma relação entre processo parti- cipativo na construção do planejamento estratégico e percepção coletiva satisfatória quanto ao ambiente organizacional. Os resultados expostos indicam que quando a gestão da PROGEP deu prioridade e incentivo para a equipe compor a cons- trução do planejamento estratégico, os ser- vidores sentiram-se motivados e valoriza- dos pelo trabalho que desempenhavam. Isto possibilitou o empoderamento da e- quipe que se envolveu com a missão, as metas e os valores da instituição, o que re- fletiu na integração, colaboração e no rela- cionamento entre gestores e colegas de trabalho, bem como, no grau de satisfação dos servidores em fazer parte da constru- ção de um instrumento importante para o alcance dos objetivos institucionais. 5 CONCLUSÃO Considerando o que foi exposto, pode-se afirmar que o objetivo da pesquisa de in- vestigar a participação na construção do Planejamento Estratégico como fator de satisfação e influência no Clima Organiza- cional, foi alcançado, evidenciando que en- volver as pessoas nas decisões e na elabo- ração de instrumentos estratégicos da or- ganização, contribui para fomentar a gestão participativa e melhorar os relacionamentos entre os envolvidos. Nesse sentido, verificou-se que houve empenho da equipe da PROGEP no proces- so de construção de seu Planejamento Es- tratégico, bem como, um gerenciamento baseado no empoderamento, onde os cola- boradores se sentiram totalmente respon- sáveis pelo alcance dos objetivos do plane- jamento. Esse envolvimento se mostrou um indicador contributivo para um bom ambi- ente de trabalho, refletindo portanto no clima organizacional. 92 Silva, Oliveira, Pereira e Mendonça PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macapá, v. 10, n. 2, p. 79-95, jul./dez. 2017 A gestão participativa remete a uma ação transparente, baseada no diálogo e com possibilidades de resultados positivos, con- siderando que a construção coletiva é o somatório do comprometimento de colabo- radores e gestores que visam melhorar os resultados da organização. E nesse sentido, a gestão da PROGEP incentivou a participa- ção, fornerceu feedback e reconhecimento aos servidores na construção do planeja- mento estratégico, proporcionando opor- tunidade para novas ideias, críticas e com- partilhamento de experiências. Desta forma, a dinâmica e a metodologia participativa aplicada na construção do pla- nejamento estratégico, refletiu diretamente no clima organizacional da PROGEP, pois influenciou no processo de tomada de deci- são, incentivou o trabalho em equipe e a- primorou a integração entre os colaborado- res e destes com os gestores. Isto possibili- tou uma melhor percepção dos servidores em relação ao ambiente organizacional, que passaram a ter a visão de uma cultura base- ada na gestão participativa e aberta a rece- ber contribuições. Esta pesquisa apresenta temáticas rele- vantes e fornece subsidios para aquisição de informação e aprendizagem, pois aborda assuntos que fazem parte do cotidiano das organizações como Gestão Participativa, Planejamento Estratégico e Clima Organiza- cional e que muitas vezes apresentam pon- tos críticos que impedem o alcance dos ob- jetivos organizacionais. Compreender a di- nâmica desses processos e suas relações no ambiente de trabalho facilitará o diagnosti- co de situações e a tomada de decisão, no sentido de aprimorar métodos mais eficazes para o desenvolvimento da organização e das pessoas que a compõe. Deste modo, trazer à discussão as temá- ticas abordadas neste trabalho, contribui para subsidiar as organizações a desenvol- ver um clima organizacional positivo, favo- recendo a produtividade, a criatividade, a motivação e os resultados alcançados. Estes fatores são fundamentais para as institui- ções, considerando o contexto dinâmico e altamente mutável que as cercam, onde se faz necessário gerenciar de forma eficiente os recursos e as pessoas que compõem o ambiente corporativo para que se possa atingir os objetivos traçados. Diante do exposto, espera-se que os re- sultados da pesquisa estimulem novas in- vestigações sobre o tema abordado, visto que, o planejamento estratégico participa- tivo constitui-se em um dos diversos ins- trumentos que pode ser utilizado para con- tribuir com a melhoria do ambiente organi- zacional. Portanto, este trabalho abre um leque de possibilidades para estudos poste- riores, servindo como norteador na busca de se implementar e incentivar ações que proporcionem a participação dos colabora- dores nos processos decisórios, bem como, desenvolvam estratégias para a construção de um clima organizacional favorável. REFERÊNCIAS ANDRADE, Sandra Mara de; FISCHER, André Luiz; STEFANO, Silvio Roberto. 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A referência epistemológica da pesquisa é a Teoria Crítica frankfurtiana, fundamentada em três pares categóricos dialéticos: história-naturalização, práxis social-sistema, e alienação-emancipação. A literatura prevalente da área foi revisada no tocante aos conceitos em estudo. Metodologicamente, foi realizada uma pesquisa integralmente qualitativa, com uso de três tipos de entrevistas: entrevista narrativa com história de vida; entrevista com elementos-estímulo; e entrevista narrativa ficcional. Para compreensão das narrativas, utilizou-se a técnica de análise hermenêutico-dialética. Os resultados indicam o predomínio da concepção pragmática-instrumental, no tocante à Administração, pela qual ela continua a ser pensada e discursada como uma ação tecnológica e teleológica, que utiliza saberes múltiplos e aprendizagens cambiantes como meios para alcance das finalidades do contexto organizacional mutante. Quanto ao Administrador, há a emergência da concepção estética para apresentá-lo. Por essa concepção, há a migração do histórico estereótipo do Administrador controlador e vigilante para a representação do Administrador como profissional performático. O segundo resultado, que se apresenta como o mais relevante em relação ao Administrador, é o da fuga da profissão. Palavras-chave: Administração. Administrador. Capitalismo Flexível. Teoria Crítica. Abstract The text is backed up by a field research whose goal was to critically comprehend the conceptions of the management field about the Management and the Manager, in times of flexible capitalism. Epistemologically, the research was conducted by the Frankfurtian critical perspective, based on three categorical dialectical pairs: (i) history versus naturalization; (ii) social praxis versus system; (iii) alienation versus emancipation. The mainstream literature of the Management area was revised. Methodologically, a fully qualitative research was carried out using three types of surveys: (i) narrative survey with life story; (ii) a survey with stimuli elements; and (iii) fictional narrative surveys. For the sake of interpretation and comprehension of the narratives, a hermeneutical-dialectical analysis technique was used. The results indicate the predominance of the pragmatical-instrumental conception regarding Management, through which it continues to be thought and discussed as a technological and teleological action, that uses multiple knowledge and shifting learning as a means of reaching the goals of the changing organizational context. Regarding the Manager, there is the emergence of the aesthetical conception to introduce it. Through this conception, there is the migration from the Artigo submetido em 17 de maio de 2014 e aceito para publicação em 13 de outubro de 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1679-395123042 1 Doutora em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Professora assistente na Universidade Estadual do Ceará. Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700, Campus do Itaperi, CEP 60.714.903, Fortaleza - CE, Brasil. E-mail: ana.batista@uece.br 2 Doutor em Administração pela Fundação Getulio Vargas/EAESP; Professor adjunto na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Endereço: Campus Universitário Lagoa Nova, Edifício do CCSA – 1º andar - CEP 59078-970, Natal – RN, Brasil. E- mail: arimates@gmail.com http://ebape.br/ http://dx.doi.org/10.1590/1679-395123042 mailto:ana.batista@uece.br mailto:arimates@gmail.com Concepções de administração e administrador em tempos de capitalismo flexível: uma abordagem crítica Ana Cristina Batista-dos-Santos José Arimatés de Oliveira Cad.EBAPE.BR, v. 13, nº 1, artigo 4, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 2015. p. 53-82 historic stereotype of the controlling and watchful Manager to the representation of the Manager as a performance professional. The second result, the most relevant with respect to the Manager, is that of the escape from the profession. Keywords: Management. Manager. Flexible Capitalism. Critical Theory. Introdução Embora ainda minoritárias, as pesquisas críticas no campo da Administração têm ganhado espaço. Isso é exemplificado pelo surgimento e crescimento do movimento Critical Management Studies, no contexto internacional (ALVENSON e DEETZ, 1998), pela criação de linhas temáticas para trabalhos que adotam uma perspectiva crítica em eventos brasileiros de referência, como os encontros da Associação Nacional dos Cursos de Pós-graduação em Administração (ANPAD), ou, ainda, pela identificação de mais de uma geração de autores socializando trabalhos de cunho crítico na Administração, no contexto brasileiro. Dentre esses autores, podemos citar: Maurício Tragtenberg, na perspectiva marxista libertária, e Alberto Guerreiro Ramos na perspectiva fenomenológica; eles se constituem nos precursores dos estudos críticos em Administração no Brasil, bem como Fernando Cláudio Prestes Motta, José Henrique de Faria e Fernando Coutinho Garcia, representando a primeira geração na linha tragtenberguiana, e autores contemporâneos como Ana Paula Paes de Paula, Francis K. Meneghetti, Maria Ceci Araújo Misoczky, dentre outros. A despeito dos frequentes debates sobre a falta de consenso quanto ao conceito de crítica para os críticos (PAULA, 2008), observa-se certa confluência temática nos trabalhos: poder, controle, dominação, disciplina e ideologia, colocados como crítica ao capital; e emancipação, autonomia e mudança social, apontadas como possibilidades para o trabalhador. Em geral, os textos trazem como pano de fundo a dialética capital- trabalho, e, não menos frequentemente, narram a administração como agente do capital, presos ao discurso da sua culpabilização por tomá-la como promotora dos males que assolam o trabalho. A pesquisa que fundamenta este trabalho identificou e buscou trabalhar criticamente uma lacuna: a questão “ontológica” (não respondida) da administração – O que é Administração? -, questão essa imersa no silêncio acrítico sobre a administração enquanto trabalho e sobre o administrador enquanto trabalhador, tanto por parte do mainstream, quanto por parte da crítica. Mesmo concordando que predomine, historicamente, uma sujeição acrítica da administração ao capital, este trabalho propõe que essa questão fundamental tem sido mal respondida. Parte-se, aqui, da compreensão da administração como trabalho e do administrador, profissional assalariado, como integrante da classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2003), classe não- proprietária. A administração inscreve-se como processo de trabalho na concretude das relações de produção, sendo, como afirma Braverman (1987, p. 228): “um processo de trabalho rigorosamente análogo ao processo de produção, embora ele não produza artigo algum que não seja a operação e coordenação da empresa. [Portanto], examinar a gerência significa também examinar esse processo de trabalho que contém as mesmas relações antagônicas contidas no processo de produção”. A pergunta apenas aparentemente simples – O que é Administração? –, que vem sendo respondida indefinidamente como ciência, arte, tecnologia, fenômeno político ou, de maneira simplista, como sendo aquilo que os gerentes fazem, quando não silenciada, desvela-se, então, como o problema conceitual da Administração, problema de um campo com crise de identidade possivelmente devido a sua sujeição acríticaaos movimentos do capitalismo. Esse foi o tema escolhido para estudo: aprofundar-se na questão “ontológica” da Administração, considerando o contexto sócio-histórico do capitalismo flexível. O objetivo geral da pesquisa foi compreender criticamente as concepções do campo administrativo sobre a Administração e o Administrador, em tempos de capitalismo flexível, operacionalizado pelos seguintes objetivos específicos: (i) identificar as concepções do campo administrativo sobre a Administração; (ii) identificar as concepções do campo administrativo sobre o Administrador; (iii) discutir, a partir de uma abordagem crítica, os resultados dos objetivos anteriores. http://ebape.br/ Concepções de administração e administrador em tempos de capitalismo flexível: uma abordagem crítica Ana Cristina Batista-dos-Santos José Arimatés de Oliveira Cad.EBAPE.BR, v. 13, nº 1, artigo 4, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 2015. p. 54-82 Concepções de Administração e Administrador na Literatura Prevalente Diversos autores podem ser considerados integrantes do mainstream da administração. Este texto socializa uma síntese de concepções identificadas em sete desses autores, por entender que foram ou são propagadores do pensamento administrativo em três momentos da recente história da administração, esta amalgamada com três fases do capitalismo: capitalismo familiar, capitalismo burocrático e capitalismo flexível (BOLTANSKI e CHIAPELO, 2009). Taylor (1986) e Fayol (1989) representam o primeiro momento de sistematização da matéria administrativa, imersos historicamente na transição de um capitalismo tipicamente familiar para um capitalismo burocrático. Em seguida, através de Drucker (1975), são acessadas as concepções de administração e administrador na fase de oponência do capitalismo burocrático, seguindo o anúncio da lógica flexível. O último bloco de autores, composto por Deming (1990), Ohno (1997), Champy (1995), e Mintzberg (2009), representa as concepções atualmente dominantes sobre o capitalismo em sua fase flexível. Os Quadros 1 e 2 sintetizam os temas e concepções identificados na literatura consultada: Quadro 1 Síntese das concepções da literatura (Administração) Concepção sistêmica Concepção pragmática Concepção comportamental Concepção filosófico- doutrinária Concepção político- ideológica Função Órgão Sistema totalizante Cérebro Sistema de melhoria contínua Atividades Desempenho Prática Prática situacional Ação transformadora “Ciência” Liderança Força Responsabilidade Posição Filosofia Doutrina Instituição social “Ciência” Fayol Drucker Deming Ohno Taylor Drucker Deming Mintzberg Drucker Champy Taylor Fayol Taylor Drucker Fonte: Quadro elaborado pelos autores (2013). Quadro 2 Síntese das concepções da literatura (Administrador) Concepção sistêmica Concepção pragmática Concepção comportamental Concepção filosófico- doutrinária Concepção político- ideológica Planejador Regente Otimizador do sistema Fazedor Artesão Treinador Professor Modelo Cooperador Responsável Mobilizador da Discipulador Conselheiro Educador Inculcador de valores Cooptador Aprendiz http://ebape.br/ Concepções de administração e administrador em tempos de capitalismo flexível: uma abordagem crítica Ana Cristina Batista-dos-Santos José Arimatés de Oliveira Cad.EBAPE.BR, v. 13, nº 1, artigo 4, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 2015. p. 55-82 (demonstrador) Frenético Eliminador de desperdícios mudança Líder visionário Comunicador Herói Concepção sistêmica Concepção pragmática Concepção comportamental Concepção filosófico- doutrinária Concepção político- ideológica Taylor Deming Taylor Drucker Ohno Mintzberg Taylor Fayol Deming Drucker Ohno Champy Mintzberg Deming Champy Taylor Deming Fonte: Quadro elaborado pelos autores (2013). A linguagem sistêmica é recorrente na totalidade dos autores estudados. Contudo, a concepção sistêmica é diretamente assumida em Fayol (1989), Drucker (1975), Ohno (1997) e Deming (1990). Essa concepção emerge predominantemente através de um discurso metafórico que toma a Administração como uma função ou órgão específico, que integra uma organização entendida como organismo vivo, exemplificando a prática corrente no campo administrativo de praticar a transferência inadequada de conceitos (RAMOS, 1981). Por vezes, a Administração é apresentada como sendo o próprio sistema, preferencialmente, um sistema total, global. Nessa categoria de concepção, o Administrador tende a ser identificado como planejador, regente e otimizador do sistema. A concepção pragmática emerge de maneira bastante expressiva na quase totalidade dos autores examinados. Ela se torna identificável através de um discurso que, ao tentar definir a Administração, utiliza com frequência termos como ação, prática, atividades, tarefas, e desempenho. Por vezes, essa ação – ou prática – é adjetivada como transformadora e situacional, por exemplo, dando os contornos com que cada autor vai qualificando a Administração como algo pragmático. O tema “ciência” também integra as concepções pragmáticas, apenas no sentido evocado por Mintzberg (2009), de que algum resultado da ciência é pragmaticamente utilizado pela Administração. Os autores que concebem, predominantemente, a Administração de maneira pragmática são: Taylor (1986), Drucker (1975), Deming (1990), e Mintzberg (2009). O Administrador, nessa concepção, é identificado como um permanente fazedor, é metaforizado como artesão, como treinador, e ainda, como professor demonstrador; também é apresentado como um indivíduo frenético e com uma obsessão pela eliminação de desperdícios. A concepção comportamental, por sua vez, desvela-se no discurso da literatura principalmente através do tema liderança, mas também através de dimensões como responsabilidade, força e posição, pelas quais a Administração deve “se comportar” como: (i) tendo a responsabilidade por algo; (ii) sendo uma força em si mesma; ou (iii) aquela que deve atuar a partir da posição que lhe é inerente. Os autores que, em geral, transitam nesse universo semântico para conceber a Administração são: Drucker (1975), Deming (1990), Champy (1995), e Mintzberg (2009). Por essa concepção, o Administrador se comporta como modelo, cooperador, mobilizador da mudança, é metaforizado como herói, mas, principalmente, é narrado como líder e como responsável pelo que acontece nas organizações. Surpreendentemente, a concepção filosófico-doutrinária emerge de maneira pontual somente em autores considerados expoentes da Administração tradicional: Taylor (1986) e Fayol (1989). Taylor (1986), apesar Cont. Quadro 2 http://ebape.br/ Concepções de administração e administrador em tempos de capitalismo flexível: uma abordagem crítica Ana Cristina Batista-dos-Santos José Arimatés de Oliveira Cad.EBAPE.BR, v. 13, nº 1, artigo 4, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 2015. p. 56-82 de qualificar como científico o sistema de Administração que propunha, apresenta a Administração como uma nova filosofia. Fayol (1989) entendia a Administração como a doutrina que faltava ao mundo dos negócios. Autores mais contemporâneos como Deming (1990) e Champy (1995) assumem essa concepção filosófico-doutrinária através de suas representações de Administrador, apresentando este último através de metáforas como discipulador, conselheiro, educador e inculcador de valores. Já a concepção político-ideológica é aqui compreendida como identificável no discurso de Drucker (1975), quando este afirma de maneira categórica e prescritiva que a Administração é uma instituição social, a despeito de qualquer debate sociológico ou consenso social sobre tal “enquadramento”; e, também, no discurso taylorista, que inaugura a definição da Administraçãocomo ciência, sem igualmente ter havido qualquer consenso acadêmico sobre a questão, exemplificando concepções que se impõem pelo discurso, independentemente de existirem ou não fundamentos para admiti-las ao nível do concreto. O Administrador, nessa concepção, desvela-se, em Taylor (1986), como cooptador de conhecimento; e como aprendiz, no discurso da qualidade; ambos relacionados ao conhecimento como “matéria-prima” da “Administração- ciência”. Fundamentos Epistemológicos e Desenho da Pesquisa A crítica, em sentido frankfurtiano, especialmente a oriunda das reflexões da primeira geração da Escola de Frankfurt, é aquela resultante do exercício da auto-reflexividade, exercício que impõe colocar os juízos e conceitos prévios em suspensão para interrogar-se sobre si, o outro, o mundo, visando compreender, sempre provisoriamente, os fenômenos sociais. Oposta que é à lógica formal, causal, linear, própria à teoria tradicional positivista, a Teoria Crítica (TC), por sua vez, entende a lógica dialética como constituinte da realidade, sendo, portanto, a que melhor daria conta de compreender essa mesma realidade (HORKHEIMER, 1980; ADORNO, 1980; 1986). Pautar-se na dialética para empreender uma práxis de pesquisa crítica exige adequações metodológicas, buscando apreender essa tensão dialética constituinte dos fenômenos. Este trabalho se fundamentou nas contribuições de Adorno (1980), Horkheimer (1980), e os dois juntos (ADORNO e HORKHEIMER, 1985), para eleger categorias epistemológicas críticas norteadoras do trabalho de campo, a saber: naturalização-história; sistema-práxis social; e alienação/dominação-emancipação. Uma pesquisa de natureza integralmente qualitativa foi delineada, isto é, aquela fruto da interação entre dados qualitativos e análise qualitativa dos dados (DESLAURIERS e KÉRISIT, 2008), utilizando-se a entrevista como técnica de coleta que leva à emergência de narrativas situadas no interstício homem-mundo, que se abrem como textos passíveis de compreensão. Foram utilizados tipos variados: (i) entrevista narrativa com história de vida; (ii) entrevista com elementos-estímulo; e (iii) entrevistas narrativas ficcionais. Essas são adaptações de múltiplas técnicas, configurando um mix metodológico favorável à manifestação da tensão dialética própria às dimensões epistemológicas norteadoras. Quanto ao primeiro tipo de entrevista, investiu-se na dimensão narrativa como fundamento para emergência das concepções de administração e administrador. Para Jovchelovitch e Bauer (2002), em geral, as entrevistas narrativas são uma forma de entrevista não estruturada e de profundidade, que tem em vista a reconstrução discursiva de algo anteriormente vivido pelo sujeito, visando ultrapassar o clássico modelo pergunta-resposta. Nessa entrevista, tinha-se como alvo o discurso do outro em sua rememoração do vivido (HAGUETTE, 2001). Conforme os roteiros (Apêndice: Quadros 5, 6, 7), buscou-se evocar uma narrativa histórica do sujeito, na qual os objetos em estudo pudessem ser por ele evocados no cenário da sua existência. Partiu-se do entendimento de Adorno (1980) de que devemos sempre considerar a constituição histórica dos fenômenos se pretendemos compreendê-los, ressaltando a importância das dimensões objetivas (economia, sociedade, política) e subjetivas (momentos psicológicos), que captem o entrelaçamento entre o individual e o social. Importava saber, por exemplo, sobre a história de vida dos sujeitos à época da escolha do curso de administração, e o que os levou, naquele momento, a optar pela área. Que concepções tinham, àquela época, sobre a administração e o profissional administrador? Como tais concepções se entrelaçavam com sua história de vida, com o mundo em geral e o organizacional, em particular? http://ebape.br/ Concepções de administração e administrador em tempos de capitalismo flexível: uma abordagem crítica Ana Cristina Batista-dos-Santos José Arimatés de Oliveira Cad.EBAPE.BR, v. 13, nº 1, artigo 4, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 2015. p. 57-82 Na segunda entrevista, o elemento-estímulo foi o recurso incentivador e norteador da fala. Elemento- estímulo é “algo” (pergunta, afirmação, proposição) que se apresenta ao entrevistado como uma proposta suficientemente ampla, mas necessariamente focal, servindo de eixo a uma entrevista (ALBANDES- MOREIRA, 2002). Originalmente, o autor falava de questão-estímulo. Nessa pesquisa, editou-se a expressão para elemento-estímulo tendo em vista que são múltiplas as possibilidades de estímulos, e não apenas uma pergunta. O elemento-estímulo possibilita ao pesquisador obter o máximo de informação multidisciplinar relevante e necessária à pesquisa, sem transformar a entrevista em interrogatório. Usando variados elementos que estimulem o entrevistado a discorrer sobre a temática central, o pesquisador provê condições de exame do tema em termos de práticas e de experiências subjetivas, de afetos e conhecimentos, de teorias e realizações mais próximas da realidade. O elemento-estímulo foi a palavra ADMINISTRAÇÃO, colocada em folha impressa em estilo cartaz, diante do entrevistado, solicitando que ele falasse livremente sobre ela. Dentre as inúmeras possibilidades de conteúdos que poderiam surgir, tinha-se especialmente em consideração, quando da proposta desse segundo tipo de entrevista, a possibilidade de emergência das concepções de administração e administrador envoltas em conteúdos ligados à tensão dialética da práxis social-sistema, devido à recorrente tendência de professores, alunos e administradores reproduzirem o discurso sistêmico dos livros e textos da área, no qual, para a administração, é delegada a tarefa de garantir a funcionalidade de uma organização-sistema, negando não só aos subordinados, mas também ao administrador, as possibilidades de uma espontaneidade própria à práxis social autêntica. Essa proposta metodológica baseou-se na perspectiva epistemológica de Horkheimer (1980) que denunciava a postura sistêmica da teoria tradicional que toma a realidade social como formada por elementos, organizados em uma lógica harmônica que elimina a contradição, e corroborada por Adorno (1980), para quem essa visão harmonizadora mecânica se constitui na colocação de um véu que escamoteia os antagonismos inscritos em sua base material, que é a práxis. O terceiro tipo foi a entrevista narrativa ficcional, combinação e adaptação das técnicas da entrevista narrativa tradicional (JOVCHELOVITCH e BAUER, 2002) e da entrevista ficcional (ALBANDES- MOREIRA, 2002). Jovchelovitch e Bauer (2002) discutem a relação entre narrativa, realidade e representação, e entendem que as narrativas não devem ser consideradas como espelhos da realidade, devendo-se atentar para sua dimensão expressiva, aquela que guarda relação com as representações do contador de história: “o que dizer de narrativas que estão claramente separadas da realidade dos acontecimentos?” (idem, p. 109). O que elas dizem sobre o que/como os narradores pensam? Assim, com a entrevista narrativa ficcional, buscou-se evocar narrativas “descoladas” dos eventos fáticos, porém plenamente imbricadas nas representações dos sujeitos de pesquisa. Com os roteiros (script) propostos (Apêndice, Quadros 8 e 9), almejava-se, principalmente, “acessar” tais representações, especialmente as relacionadas aos construtos administração e administrador. Entretanto, ensejava-se, também, com o “descolamento” do real que a ficcional possibilita, identificar possíveis conteúdos que expressassem a tensão dialética alienação/dominação-emancipação. Especialmente no tocante as suas narrativas fictícias de carreiras, esperava-se ver em que situações profissionais eles colocariam o administrador. Seria no recorrente lugar de mediação entre capital e trabalho? Se não neste, em qual seria? Com esse desenho de pesquisa, foi-se ao campo. Ao todo, foram entrevistados 7 sujeitos. No
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