Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIJORGE BACHARELADO EM ODONTOLOGIA ANA PAULA DE OLIVEIRA ASSIS BIOÉTICA NA ODONTOLOGIA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO SALVADOR-BA 2022 ANA PAULA DE OLIVEIRA ASSIS BIOÉTICA NA ODONTOLOGIA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO Atividade realizada ao curso de Bacharelado em Odontologia do Centro Universitário UNIJORGE na disciplina de bioética e odontologia, ministrada pela Profª Dra. Priscila Regis Matos Pedreira a critério de avaliação parcial do semestre 2022.2. SALVADOR-BA 2022 REVISÃO DE LITERATURA No decorrer do século XIX foram estabelecidas as primeiras organizações profissionais, consequência da divisão social do trabalho que surge com força nas sociedades ocidentais, abrindo espaço para a odontologia surgir como uma profissão moderna e autônoma, especialmente como um trabalho especializado. Isto foi definido primeiramente nos Estados Unidos e mais posteriormente na maior parte dos países da Europa. Os dentistas puderam se organizar no cenário profissional e uma vez sendo desenvolvida uma série de regras que garantissem o monopólio comercial aos especialistas na área, a odontologia alcançou uma posição social que garantia uma união da classe e monopólio do mercado de saúde bucal. É importante salientar que assim como a odontologia, outras áreas que hoje constituem a medicina tiveram autonomia no século XIX, podemos citar como exemplo a oftalmologia e ortopedia. Contudo, o tratamento odontológico foi dissociado equivocadamente da terapêutica sistêmica em consequência dos métodos artesanais de trabalho, relacionados a extração de dentes e confecção de próteses para repor unidades dentárias perdidas (CARVALHO, 2006). No contexto do século XIX houve um significativo aumento de doenças bucais que levaram a maior demanda dos dentistas na sociedade. Foi evidente nesta época que a demanda de mercado foi impulsionada pelo índice alarmante da doença cárie já em estágios avançados e um dos fatores consequentes desta patologia foi a popularização do mercado do açúcar. Ainda neste século estudos aprofundados na área, somados a novos conceitos e interpretações quanto a odontologia, desenvolveram técnicas e tecnologias que instituíram esta como uma profissão fundamentada nas ciências da saúde (CARVALHO, 2006). Algumas décadas mais tarde ao contexto citado anteriormente, a humanidade enfrentou talvez as mais severas atrocidades que as gerações já tinham visto. Dentre todos os horrores das guerras que assolaram a Europa na primeira metade do século XX, os testes e estudos realizados em seres humanos foram os mais cruéis. Ao longo deste século, outros acontecimentos marcaram negativamente a saúde mundial. Diante disto, representantes políticos de todo o mundo se mobilizaram para criar documentos que garantissem que estas barbaridades não se repetissem (ZANELLA, 2019). Nestas circunstâncias pós guerra anteriormente pontuadas, surgem os primeiros códigos que instituíram regras perante estudos com seres humanos. O primeiro de todos estes foi o Código de Nuremberg, criado pelos juízes que julgaram os crimes de guerra praticados na Segunda Guerra mundial durante o que ficou conhecido como “processo contra os médicos”, julgamento que determinou a culpa a médicos alemães que cometeram crimes de guerra em experimentos com indivíduos. O que preocupou os então presentes juízes e médicos foi o fato de não haver nenhuma lei internacional ou declaração formal que diferenciava experimentação humana legal da ilegal (CARVALHO, 2006). Perante o exposto, foram elaborados por médicos norte-americanos seis códigos que definiam os limites de uma pesquisa legal. O código de Nuremberg foi então destrinchado destes pontos em dez pautas contudo, não ergueu força de aprovação suficiente devido as dificuldades que enfrentou para se encaixar dentro dos conjuntos de leis americanas e alemãs. Posteriormente na década de 60 foi estabelecido o código de Helsinque pela Associação Médica Mundial como uma declaração dos códigos éticos que orientassem os médicos e outros profissionais que participassem de pesquisas clínicas envolvendo seres humanos (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018). Esta última, foi desenvolvida a partir dos 10 princípios que fundamentaram em 1947 o Código de Nuremberg somados a outros elementos da Declaração de Genebra de 1948, uma declaração dos deveres éticos dos médicos e apesar de serem dirigidos diretamente aos mesmos, estes princípios fundamentaram o código de ética de outras áreas envolvidas com pesquisas realizadas em humanos, o que inclui a odontologia. A Declaração é um documento importante na história da bioética pois foi o primeiro esforço significativo da comunidade médica para regulamentar a própria pesquisa e serviu como base para a maioria dos documentos que surgiram posteriormente. Entre o período de 1975 e 2013 passou por alterações que a tornaram o que é hoje (DIK; DOENGES, 2019). A declaração de Helsinque é fundamentada em vários preceitos que orientam os padrões éticos em pesquisas médicas e são mais detalhados no código. Esses princípios incluem: 1) proteger a saúde do paciente como maior prioridade e agirem sempre com o intuito de promover a saúde e o bem- estar dos indivíduos envolvidos nas pesquisas médicas; 2) A pesquisa médica tem por objetivo gerar conhecimento e para entender melhor a fisiopatologia das doenças e consequentemente facilitar o diagnóstico preciso e o tratamento (DIK; DOENGES, 2019). Ao longo das décadas que sucederam as guerras e em meio a todo o contexto citado anteriormente, o bioquímico norte-americano Van Rensselaer Potter levantou a preocupação quanto ao avanço das ciências médicas diante da segurança ambiental e demográfica da raça humana. Potter pensou sobre que o conhecimento se estendesse além dos limites disciplinares envolvidos nas pesquisas e tratamentos, e considerou-os insuficientes, propondo uma organização multidisciplinar que chamou de bioética (ZANELLA; SGANZERLA; PESSINI, 2019). A Bioética surgiu em meio a distância entre a ciência e as humanidades e possuía um apelo para superar essa distância, que para o autor se revelava nociva para o futuro da humanidade e para a sobrevivência da espécie. Potter então volta suas ideias para um desenvolvimento futurista da humanidade, estudando os rumos nos quais a ciência e a vida tomassem caminhos com o mesmo objetivo e conceituou a bioética como a ciência da sobrevivência (ZANELLA; SGANZERLA; PESSINI, 2019). Em meio a este contexto e inspirados nos princípios éticos estabelecidos ao longo das décadas, surge o primeiro código de ética odontológico (CEO), agora dentro de uma odontologia modernizada ao contexto da época e definida dentro de seus limites. O CEO foi estabelecido no Brasil em 1957 e desde então houveram releituras e modificações inspiradas nas outras declarações previamente citadas que permitiram a este documento evoluir ao que temos de atual. O CEO, prevê direitos e deveres voltados para todos os profissionais praticantes da saúde bucal, como dentistas e auxiliares (VILELA SANTOS et al., 2020). O código de ética odontológico prevê as relações profissionais entre o dentista e o paciente e orienta e assegura as relações e decisões. Ao analisarmos como exemplo o seguinte relato hipotético: “...tinha uma paciente que chegou ao consultório para fazer algumas restaurações, mas no exame clinico detectei que precisava fazer canal e o orçamento dobrou. Expliquei a ela a importância de preservar aquele elemento dentário em boca, porém como ela não tinha condições, preferiu extrair o dente”. É possível interpretar o CEO dentro da proposta do texto. Segundo o código caracteriza-se como infração “deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, custos e alternativas do tratamento”, ponto que foi respeitado pela profissional,que esclarece a importância do tratamento e preservação do elemento dentário, valores e alternativas. Diante disto, o paciente tem o livre arbítrio de escolher realizar o procedimento que se encaixe dentro de seus limites socioeconômicos e culturais. REFERÊNCIAS CARVALHO, C. L.: A transformação no mercado de serviços odontológicos e as disputas pelo monopólio da prática odontológica no século XIX. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 13, n. 1, p. 55-76, jan.-mar. 2006. Conselho Federal de Medicina. Resolução 1098 de 30/6/1983 - Declaração de Helsinque – Adotada pela 18a Assembléia Mundial de Médicos, Helsinque, Finlândia, 1964 e revista na 29a Assembléia Mundial de Médicos, Tóquio, Japão, 1975. DIK, B. J.; DOENGES, T. J. Declaration of Helsinki | 1964, 7 fev. 2019. UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. Nuremberg Code — United States Holocaust Memorial Museum. Disponível em: <https://www.ushmm.org/information/exhibitions/online- exhibitions/special-focus/doctors-trial/nuremberg-code>. VILELA SANTOS, L. et al. A EVOLUÇÃO DO CÓDIGO DE ÉTICA ODONTOLÓGICA BRASILEIRO. Revista Brasileira de Odontologia Legal, v. 7, n. 2, 1 set. 2020. ZANELLA, D. C.; SGANZERLA, A.; PESSINI, L. V.R. POTTER’S GLOBAL BIOETHICS. Ambiente & Sociedade, v. 22, 2019a.
Compartilhar