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O Neoliberalismo no Brasil e a questão social

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O Neoliberalismo no Brasil e a questão 
social
APRESENTAÇÃO
A retomada histórica sobre os conceitos do modelo neoliberal e os seus rebatimentos no Brasil e 
no mundo, em especial junto às classes trabalhadoras, permitem que o profissional de serviço so
cial reflita, para que, por meio de tal análise crítica, possa planejar e executar ações que tenham 
por finalidade a busca pela autonomia da classe trabalhadora. Para tanto, é necessária a efetivaçã
o de políticas públicas eficazes e institucionalizadas que servirão como instrumento de combate 
aos efeitos do capital e do mercado.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ver os reflexos da crise social causada pela política n
eoliberal dos anos 1990 no Brasil e os seus fantasmas, que ainda assombram a classe trabalhador
a.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Identificar o neoliberalismo como um projeto global que é dirigido pelo capital financeiro i
nternacional por meio de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Ba
nco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). 
•
Descrever o projeto neoliberal que prevê cortes nos gastos sociais, privatizações, descentra
lização e políticas focalizadas e descontínuas que levam ao desmonte do Estado. 
•
Reconhecer a importância de o assistente social conhecer o projeto neoliberal para a sua at
uação na sociedade atual.
•
DESAFIO
O sistema neoliberal preconiza a busca pelo chamado livre-mercado. Nesse modelo econômico, 
pessoas ou grupos de pessoas são livres para realizar operações financeiras, agindo livremente s
em a interferência do Estado. Isso significa também que, nessa lógica, o mercado se autorregula, 
mas, em outros aspectos, o conceito de livre-mercado refletirá nas relações entre trabalhadores e 
empregadores.
Dessa forma, trabalhadores circulam pelo mercado ofertando a sua mão de obra a quem melhor r
emunerá-los. No entanto, o que ocorre na vida real é uma relação em que, quase sempre, impera 
a desigualdade de forças entre patrão e empregado. O empresário oferta o menor pagamento pos
sível para que seja feita determinada tarefa e cabe ao trabalhador aceitar ou não.
Diante do cenário imposto pelo sistema de reformas neoliberalistas, você, como assistente socia
l, recebeu os seguintes questionamentos: que órgãos podem mediar a relação entre patrões e em
pregados e de que forma é possível buscar o equilíbrio dessa relação de desigualdade entre eles? 
Neste Desafio, responda ao questionamento.
INFOGRÁFICO
Como resultado do projeto neoliberal, a sociedade brasileira tem passado por grandes mudanças 
com relação ao universo do trabalho. Novos modelos de organização surgem por meio da reestr
uturação produtiva, que se baseia na acumulação flexível e na adoção do neoliberalismo no gove
rno brasileiro, em especial na década de 1990.
É possível notar que tal fato tem ocasionado consequências maléficas para a classe trabalhadora, 
apresentando como resultados o desemprego estrutural baseado no enxugamento da força de tra
balho e a precarização, a flexibilização e a desregulamentação dos contratos de trabalhos (ANT
UNES, 2006).
No Infográfico a seguir, você vai conhecer alguns dados que demonstram o cenário de aumento 
do desemprego ocorrido nos anos 1990. 
CONTEÚDO DO LIVRO
O modelo neoliberal, em síntese, questiona o investimento estatal em políticas públicas de intere
sse social e determina a organização de um Estado isento no campo social e amplo para o capital
.
No capítulo O neoliberalismo no Brasil e a questão social, da obra Fundamentos teóricos e meto
dológicos do serviço social III e IV, você vai conhecer o processo histórico de surgimento e imp
lantação do modelo neoliberal no Brasil e no mundo, bem como as suas consequências para as p
olíticas sociais de Estado. Além disso, você vai ter acesso a alguns dados sobre o conceito de me
rcado e à contrarreforma do Estado brasileiro, em especial na década de 1990.
Boa leitura.
FUNDAMENTOS 
TEÓRICOS E 
METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO 
SOCIAL III E IV
Anderson Barbosa 
Scheifler
O neoliberalismo no 
Brasil e a questão social
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar o neoliberalismo como um projeto global que é dirigido 
pelo capital financeiro internacional por meio de organismos como 
o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para 
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).
  Descrever o projeto neoliberal que prevê cortes nos gastos sociais, 
privatizações, descentralização e políticas focalizadas e descontínuas 
que levam ao desmonte do Estado.
  Reconhecer a importância de o assistente social conhecer o projeto 
neoliberal para a sua atuação na sociedade atual.
Introdução
Neste capítulo, vamos trazer alguns apontamentos sobre os concei-
tos do pensamento neoliberal e as relações deste modelo econômico, 
baseado em uma ideologia social, econômica e política em meio ao 
sistema capitalista e as consequências dessa ideologia no processo de 
financiamento do mercado em detrimento das políticas de Estado. Os 
conceitos de livre mercado, a mercantilização das forças de trabalho e os 
organismos internacionais de controle e financiamento dessas políticas 
também serão tema de nossa explanação. Por fim, traremos alguns dados 
históricos que demonstram o desmonte das políticas sociais de Estado 
que teve seu ápice no Brasil na década de 1990 e seus reflexos nos dias 
atuais que interferem diretamente em nossa prática profissional.
Neoliberalismo, mercado e a destruição 
do Estado social
O neoliberalismo é compreendido, segundo alguns autores, como uma teoria 
que busca interpretar o homem por meio da economia. Considera que através 
da economia tudo pode ser compreendido e explicado, sendo o centro do ser 
humano e de suas relações. Comblin (2001, p. 15) aponta que o neoliberalismo 
surgiu na cidade de Chicago no período do pós-guerra sob a inspiração do 
austríaco Friderich Hayek e Milton Friedman. Teve seu ápice na década 
de 1980, tornando-se a base de um chamado pensamento único no mundo 
ocidental. Adotado pelo capitalismo como sendo a melhor das estratégias 
para sua expansão no mundo, esse método foi implementado por inúmeros 
países como base para um projeto de sociedade. Um exemplo foi o Chile, que 
a partir de 1975, por meio dos chamados “Chicago boys”, buscou efetivar 
esta metodologia como experimentação das teorias de Friedman e Hayek.
O neoliberalismo é considerado também uma filosofia que se apresenta 
como teoria econômica, haja vista o valor científico atribuído à economia no 
mundo atual. Busca fundamentar-se enquanto ciência pura visualizando o 
homem na sua integridade, considerando inclusive as questões éticas como 
parte de suas contribuições em meio a sua visão de mundo. Tem um caráter 
quase que totalitário, visto que possui raízes com o liberalismo clássico de 
Adam Smith. Este, por sua vez, consistia em emancipar a economia de todos 
os fatores externos que não fossem parte do sistema econômico, em suma, 
uma teoria que permitiria a regulação da economia por si própria, avessa 
a fatores externos. Daí surge a denominação de mecanismo de mercado. 
Os pensadores liberais afirmavam que estabelecendo uma liberdade ao 
mercado, este iria assegurar a justiça nas relações humanas e a superação 
dos problemas sociais. O mercado seria a luz para todos os problemas da 
sociedade capitalista moderna (COMBLIN, 2001).
Desses preceitos, surge então a expressão “livre mercado”. Essa prática, 
no entanto, possui algumas contradições quando da sua implantação efetiva 
nas nações do século XX. A Inglaterra, por exemplo, introduziu o livre inter-
câmbio apenas na segunda metade do século, após a Primeira Guerra Mundial, 
pois já possuía uma determinada superioridade industrial e comercial e era 
sabedora de que o livre mercado traria benefícios para o país. Esta é uma das 
consequências do livremercado, as nações mais desenvolvidas sempre irão tirar 
vantagem quando estabelecidas condições de livre comércio com nações menos 
desenvolvidas, para estas, abrir suas fronteiras ao mercado pode significar a 
impossibilidade de desenvolvimento do próprio aparato industrial, visto que 
O neoliberalismo no Brasil e a questão social2
as nações mais avançadas já possuem técnicas de produção, comércio e de 
relações firmadas junto ao mercado internacional. Torna-se uma competição 
desleal para com os iniciantes nesse meio.
O livre comércio é utopia porque os seus defensores não contemplam o mercado 
real, não partem de considerações empíricas. Contemplam a ideia de mercado 
puro e deduzem dela todas as virtudes do mercado. Não se trata de mercado 
real, e, sim, de ideal de mercado, do mercado perfeito. Porém, postulam que o 
mercado produzirá todas as virtudes do mercado perfeito e ideal na medida em 
que se aproxima do ideal. Por isso, o progresso da humanidade exige progresso 
na liberdade de mercado. O mercado pretende julgar e orientar a evolução 
da economia. Eis o perigo. Eis a explicação aos fracassos provocados pela 
aplicação das teorias liberais. O mercado livre não existe entre seres humanos 
reais. É uma construção teórica, ideal entre abstratos que teoricamente seriam 
trabalhadores e consumidores. O liberalismo poderia funcionar num mundo 
feito de robôs, mas não pode funcionar no mundo dos seres vivos que existem 
realmente (COMBLIN, 2001, p. 17).
Esse livre mercado, descrito pelo autor, considera uma ordem social em 
que trabalhadores circulam livremente ofertando sua mão de obra a quem 
melhor remunerá-los. O que vemos na vida real é uma relação em que, quase 
sempre, impera a desigualdade de forças entre patrão e empregado. O em-
presário oferta o mínimo possível para que seja feita determinada tarefa e ao 
empregado cabe aceitar, pois este normalmente precisa suprir as necessidades 
básicas de sobrevivência suas e de sua família, ou abrir mão da oferta para que 
imediatamente outra pessoa se disponha a trabalhar pelo mesmo valor, ou até 
menos, dependendo do seu grau de necessidade. Este fenômeno é conhecido 
também como a lei da oferta e da procura, que, neste caso, é aplicada ao 
conceito de força de trabalho enquanto mercadoria que adquire valor para 
empregado e patrão.
Segundo Adam Smith, autor de A riqueza das nações, “o consumo é o objetivo e o 
desígnio único de qualquer produção”. Essa afirmação impulsiona uma reflexão so-
bre como agem dois dos mais importantes mecanismos por trás das tendências da 
economia de mercado, oferta e procura, tidas como responsáveis pela quantidade, 
disponibilidade e preço de tudo o que é produzido e/ou comercializado.
3O neoliberalismo no Brasil e a questão social
A relação entre o mercado e o consumidor demanda algumas considerações 
que não são devidamente contempladas pelo livre exercício do mercado. O 
ser humano não escolhe de forma livre o que irá comprar, já que possui ne-
cessidades anteriores a quaisquer desejos de consumo. Itens de alimentação, 
por exemplo, são necessidades vitais de consumo para os seres humanos, 
de modo que itens como eletrodomésticos, materiais de construção, bens de 
transporte e outros, são secundários quando colocados em comparação aos 
Apesar de sofrer influências no campo das escolhas individuais, mesmo sendo tais 
predisposições coadjuvantes significativos no desdobramento das coisas, o mercado 
é igualmente vulnerável a outros tipos de ações cuja ocorrência é mais frequente do 
que seria razoável admitir.
Excluindo as questões de caráter econômico mais amplo, pertinentes aos domínios 
da macroeconomia, a impossibilidade de suprir totalmente um universo de interessados 
em algum produto favorece a elevação do preço, já que a baixa disponibilidade de um 
artigo não costuma refrear o consumo, ao contrário, instiga o desejo por sua obtenção 
literalmente a qualquer custo.
Inversamente a isto, quando há abundância de opções e baixo interesse, os preços 
voltam a baixar, provocando um fenômeno que, segundo Smith, estaria a cargo de 
uma “mão invisível”, “entidade” representativa da interação entre consumidores e 
produtores nas situações de alternância de predomínio entre oferta e procura e suas 
repercussões de valor.
A procura, ou demanda, reflete o que se deseja consumir, ou seja, uma intenção (mas 
não a ação de fato). Significa ter predisposição à compra. Comprar significa efetuar 
uma aquisição e representa a ação propriamente.
Por sua vez, a oferta tem a ver com o propósito principal por que as empresas se 
motivam a fabricar seus produtos. Da mesma forma que ocorre no caso da demanda, 
é importante distinguir a diferença entre oferecer e vender. Oferecer é ter a intenção 
ou estar disposto a vender, enquanto vender é fazê-lo realmente. Portanto, a oferta é 
regida pelo intuito de venda dos produtores.
A lei da oferta e da procura pretende coordenar o humor do mercado mediante as 
escolhas de seu público em relação aos produtos e serviços oferecidos. Do equilíbrio 
entre eventualidade e efetividade de compra resulta a quantidade e o preço razoáveis 
a que deve ser transacionado cada bem.
De modo conclusivo, oferta e demanda são as forças que movem a economia de 
mercado. Determinam em que quantidade se deve produzir um produto e a que 
preço deve ser vendido.
Tudo gira em torno da relação entre empresas e consumidores. Desse convívio 
nascem os estímulos à procura, oferta e formação de preços. De um lado, se acha a 
demanda, onde se concentram as necessidades individuais de consumo. Do outro, a 
oferta, representando as empresas e seus produtos ou serviços. Entre ambas emerge 
o mercado, lugar em que se acomoda o intercâmbio de interesses.
Fonte: Ortiz (2018).
O neoliberalismo no Brasil e a questão social4
anteriores. A publicidade apresenta-se também como um fator determinante, 
servindo enquanto instrumento do mercado que busca convencer os consu-
midores a comprar bens e serviços de que não precisam e dos quais irão se 
tornar dependentes. Esse sistema de consumo desenfreado, por fim, acaba 
por inserir os trabalhadores em um círculo vicioso movido pelo trabalho que 
gera renda e que mantém o padrão de consumo cada vez mais elevado, que 
necessita então de mais trabalho para suprir a elevação do referido consumo.
A teoria neoliberal está ligada ao conceito de globalização. Esta acaba 
por fornecer mecanismos que privilegiam a dominação das grandes nações 
como Estados Unidos da América, União Europeia e Japão, por meio de suas 
empresas em favor de seus Estados. Comblin (2001) destaca que as relações 
internacionais operam pelo sistema de globalização do mercado. Esse mercado 
mundial opera de forma aberta para que todos que se interessarem possam 
operar nele. Vendedores e compradores são livres e partem de condições 
iguais de negociação, as nações são livres para realizarem intercâmbios de 
bens e serviços sendo harmonizados pela “mão invisível” do mercado. Na 
concepção dos defensores da teoria neoliberal, o mercado é compreendido 
pelo mundo todo, assim sendo, não existem razões para estabelecer fronteiras 
para o seu funcionamento.
Os defensores do pensamento neoliberal possuem um inimigo declarado, 
que também foi um dos responsáveis pelo fortalecimento dessa metodologia 
no final do século XX, o socialismo.
Tanto para Hayek, como para Friedman, o socialismo é o mal absoluto. Pois 
o socialismo é negação do livre mercado. Por conseguinte, o socialismo é 
incompatível com a liberdade. O socialismo é o obstáculo fundamental ao 
advento da liberdade. Pois a fonte da liberdade está no mercado. O socialis-
mo é planejamento. Planejamento é negação da liberdade de mercado. Este 
socialismo encontrou a sua forma completa na União Soviética e nos seus 
satélites. Porém, também a socialdemocracia já contém o vírus do socialismo 
e precisa ser combatida de igual maneira porque leva inevitavelmente ao 
socialismo absoluto. Segundo o neoliberalismo, o planejamento é impossívela nível nacional, a fortiori a nível mundial. Por conseguinte, não pode haver 
livre escolha no socialismo. Os bens serão atribuídos de modo arbitrário sem 
respeitar a liberdade dos indivíduos. Já que o socialismo é o mal absoluto, o 
seu contrário igualmente é absoluto: o liberalismo total. Se o livre mercado não 
for total, sempre será suspeito de desvio rumo ao socialismo. Daí o fanatismo 
anti-socialista dos alunos de Hayek ou Friedman (COMBLIN, 2001, p. 20).
A ideologia neoliberal seduz muitas pessoas. Tem crescido enquanto 
programa político nos países emergentes e de terceiro mundo, nações me-
5O neoliberalismo no Brasil e a questão social
nos resistentes a mudanças ideológicas e à implantação de projetos políticos 
“inovadores”. Esses países buscam eliminar o Estado, muitas vezes corrupto, 
inapto e incompetente para gerir as problemáticas nacionais. 
O que devemos destacar é que, na maioria dos casos, essa corrupção, essa 
inaptidão e incompetência, são frutos das intenções dos próprios representantes 
do Estado. Muitas vezes sucateiam de forma proposital serviços públicos de 
grande valia para a população, com o objetivo de desqualificá-los, criando 
um ambiente favorável à desestatização ou a privatização desses serviços. 
Comblin (2001) afirma que o ideário neoliberal visa desestatizar as empresas 
públicas, entregando-as para as empresas privadas, para que estas possam 
retirar o lucro das instituições investindo no sistema de especulação mundial. 
O Estado neoliberal não pode interferir nos preços e nos salários. Tudo deve 
ficar por conta do mercado. Na prática, o que acontece é sempre a privatização 
dos lucros e a coletivização das perdas (grifo nosso). Se um banco entra em 
falência, o Estado paga, ou seja, os cidadãos pagam. Na hora dos lucros, os 
cidadãos não têm participação (COMBLIN, 2001, p. 22).
Cabe destacar o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacio-
nal para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) como agentes incentivadores 
e operadores dessa política em nível mundial. A eles cabe a missão de financiar 
as políticas neoliberais por meio de empréstimos e investimentos nos países 
que necessitam para, em contrapartida, estabelecerem alguns parâmetros de 
organização aos que fazem uso desses recursos que servirão para propagar 
o ideário neoliberal.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) é um organismo com sede na cidade norte-
-americana de Washington, criado em 1945. Seu objetivo é estabelecer a cooperação 
econômica em escala global. Sua atuação visa garantir estabilidade financeira, favorecer 
as relações comerciais internacionais, implantar medidas para geração de emprego e 
desenvolvimento sustentável e buscar formas de reduzir a pobreza.
Cada país possui uma cota de participação no fundo, estabelecida preliminarmente. 
O destaque é para os países desenvolvidos, que são os maiores cotistas; por essa razão, 
são eles que gerenciam o organismo.
Os empréstimos do FMI são concedidos aos países com problemas financeiros, para 
isso é preciso cumprir as metas estipuladas pelo organismo e nelas estão previstas a 
O neoliberalismo no Brasil e a questão social6
Pereira (2000) destaca que foi a partir da adoção dos princípios estabeleci-
dos no Consenso de Washington, nos anos 1980, que determinava uma forte 
disciplina fiscal, o controle da inflação e a redução do Estado na economia, que 
as políticas neoliberais passariam a sugerir também a realização de reformas 
estruturais, dentre as quais uma reestruturação institucional, o que alguns 
autores também chamariam de “Contrarreforma do Estado”. Esta, segundo 
Behring (2003), considera que as políticas sociais estão condicionadas pela 
direção hegemônica do desenvolvimento econômico e político adotado pelo 
país. Sendo assim, não há espaço para a manutenção de investimentos, ou 
gastos sociais, visto que. o Estado deverá agir mantendo o funcionamento do 
livre mercado, não se desgastando mais com programas sociais ou projetos 
que não tenham viés econômico.
No Brasil, a chamada ofensiva neoliberal toma forças na década de 1990, 
após o processo de redemocratização do país. Pereira (2000) destaca o período 
entre 1990 e 1992, conhecido como “Era Collor”, em referência ao primeiro 
presidente eleito pelo voto direto após 29 anos - Fernando Collor de Mello. 
implantação, por parte do devedor, de: ajuste orçamentário, cortes nos gastos públicos, 
monitoramento da taxa cambial, barrar o consumo excessivo com a diminuição salarial, 
dentre outros.
Quando o FMI é acionado por um país em crise, agentes são enviados para analisar 
a situação financeira do mesmo e, a partir daí, direcionar as medidas que poderão 
contribuir para a resolução dos problemas. O principal objetivo desses agentes é evitar 
que tais problemas se alastrem e tomem proporções maiores, que possam repercutir 
internacionalmente na economia.
O Banco Mundial (World Bank) ou BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e 
Desenvolvimento) é uma agência das Nações Unidas criada em 1° de julho de 1944. 
A sede está localizada na capital dos Estados Unidos, Washington. Originalmente, foi 
criado com a finalidade de ajudar os países que foram destruídos na Segunda Guerra 
Mundial.
Hoje, aproximadamente 150 países membros participam na composição do capital 
do banco. O valor de cota e o direito de voto são determinados a partir do nível de 
participação no mercado mundial. O principal acionista é os Estados Unidos, fato que 
lhe concede o poder de veto em todas as decisões.
O Banco Mundial fornece financiamentos para governos, que devem ser destinados, 
essencialmente, para infraestrutura de transporte, geração de energia, saneamento, 
além de contribuir em medidas de desenvolvimento econômico e social.
Além de governos, empresas de grande porte podem adquirir empréstimos, porém, 
é necessário apresentar a viabilidade da implantação de projetos, além disso, o país 
de origem da empresa deve garantir o pagamento dos recursos.
Fonte: Freitas (2018).
7O neoliberalismo no Brasil e a questão social
Nesse período de governo o que se percebeu foi uma enorme discrepância 
entre as propostas, tanto no campo econômico quanto no campo social, feitas 
no período de campanha e as ações realizadas após as eleições. Destacamos 
algumas dessas ações: 
  No campo econômico:
 ■ a mudança da moeda, que voltou a ser o cruzeiro;
 ■ redução da liquidez por meio do sequestro e do congelamento dos 
ativos financeiros;
 ■ desindexação geral, especialmente entre preços e salários;
 ■ achatamento salarial;
 ■ privatizações;
 ■ abertura da economia ao capital.
  No campo social:
 ■ preservação e aprofundamento da fragmentação e descoordena-
ção institucional. Ao contrário da área econômica, vários setores 
ligados às áreas da educação, saúde, previdência e trabalho foram 
desmembrados e fragmentados contribuindo para o sucateamento 
dessas políticas;
 ■ demissões em massa em conformidade com a reforma do Estado;
 ■ oposição sistemática à consumação de novos direitos constitucionais;
 ■ resgate do assistencialismo, do clientelismo e do populismo nas 
práticas sociais;
 ■ rejeição explícita do padrão de seguridade social previsto na Cons-
tituição Federal de 1988;
 ■ seletivização e focalização das políticas sociais a partir de 1991. 
(PEREIRA, 2000, p. 162-163).
A persistência na inflação, as denúncias de corrupção e outras questões 
viriam a ocasionar o impeachment do presidente Collor, assumindo o então 
vice-presidente Itamar Franco, que assume com um legado de destruição 
do sistema de proteção social deixado pelo seu antecessor. Exemplos disso 
foram: o desaparelhamento, a fragmentação e a pulverização de recursos nos 
programas sociais; a desarticulação das redes de serviços sociais; o retorno 
do clientelismo e do fisiologismo; corrupção; esvaziamento do projeto SUS e 
outros (PEREIRA, 2000, p. 164).
Com toda esta bagagem herdada, Itamar pouco teve a contribuir para a 
melhoria das condições sociais da nação, no entanto, cabe destacarque uma 
das conquistas do povo nesse período foi a aprovação da Lei Orgânica da 
O neoliberalismo no Brasil e a questão social8
Assistência Social – LOAS, de 1993, que já estava sendo protelada há cinco 
anos. Outro destaque no campo social foi a criação do Plano de Combate à 
Fome, à Miséria e pela Vida (PCFMV), de 1993. O programa tinha sua atua-
ção pautada em três princípios-chave que seriam: a solidariedade privada, a 
parceria entre Estado, mercado e sociedade e a descentralização da provisão 
social. O PCFMV, como esperado, teve vida breve. Os resultados alcançados 
não foram suficientes para ocasionar impactos efetivos perante a complexidade 
das problemáticas trabalhadas. Impasses financeiros, logísticos e administra-
tivos, bem como a falta de comprometimento do Estado, trouxeram problemas 
variados que acabaram por encerrar com o plano.
Em 1995, toma posse o presidente Fernando Henrique Cardoso, FHC, que 
tem como promessas iniciar um processo de amplas reformas constitucionais 
permitindo ao Estado retomar suas funções essenciais que, segundo ele, seriam 
de aumentar a eficiência da burocracia federal e abrir a economia privatizando 
os ativos da união. Segundo Serra (2000, p. 79), os planos de governo do 
presidente FHC eram de: 
[...] transmitir ao país a convicção de que suas promessas nas áreas de agri-
cultura, educação, emprego, saúde e segurança deveriam ser traduzidas na 
linguagem tecnocrática, por controle de gastos públicos, aceleração das pri-
vatizações, reforma tributária, novas políticas monetária e cambial e incentivo 
à parceria governo/setor privado que correspondiam, de fato, às ações de 
governo. O projeto FHC busca evidenciar que os teóricos do Welfare State, 
dada a crise do capitalismo na década de 80, teriam de repensar suas ideias, 
sobretudo em relação ao Brasil, cuja máquina estatal, segundo esse projeto, 
encontrava-se praticamente falida.
Considerando esse cenário, percebe-se que a sociedade brasileira tem 
passado por grandes mudanças no que se refere ao universo do trabalho. 
Novos modelos de organização ocorrem por meio da chamada reestruturação 
produtiva que se baseia na acumulação flexível e na adoção do neoliberalismo 
no governo brasileiro, em especial nos anos 1990. Isso tem ocasionado conse-
quências maléficas junto à classe trabalhadora, apresentando como resultado 
o desemprego estrutural baseado no enxugamento da força de trabalho e a 
precarização, flexibilização, e desregulamentação dos contratos de trabalho 
(ANTUNES, 2006).
Cabe a nós, assistentes sociais, reconhecermos as características do projeto 
neoliberal e os desafios que emergem por meio dessa política frente a nossa 
missão de trabalharmos com o enfrentamento das expressões da questão social. 
Questão social que está relacionada diretamente com o modo de produção 
9O neoliberalismo no Brasil e a questão social
capitalista e suas nuances em meio à relação entre processo de industrializa-
ção, operariado e classe burguesa. A questão social acaba se constituindo por 
meio dos reflexos dessas relações que, por muitas vezes, são contraditórias.
Nesse sentido, dadas as substanciais transformações no mundo do trabalho, de tal 
forma a afetar a realidade das classes trabalhadoras, principais usuárias das políticas 
sociais, e dadas as alterações desenvolvidas no âmbito dos Estados nacionais, orga-
nismos responsáveis, por excelência, pelas respostas às refrações da “questão social”, 
sendo as políticas sociais mediações entre o Estado e as classes sociais, pode-se então 
afirmar que, consequentemente, as políticas sociais no atual contexto neoliberal são 
substancialmente alteradas em suas orientações e em sua funcionalidade. 
Como solução parcial à crise capitalista, o neoliberalismo pretende a reconstituição 
do mercado livre, reduzindo e inclusive eliminando a intervenção social do Estado 
em diversas áreas e atividades. Assim, nessa nova estratégia hegemônica (neoliberal) 
do grande capital, é concebido um novo tratamento à “questão social”. Cria-se uma 
modalidade polimórfica de respostas às necessidades individuais, diferentes conforme 
o poder aquisitivo de cada pessoa. Portanto, tais respostas não constituiriam um direito, 
mas uma atividade filantrópica/voluntária ou um serviço comercializável; também a 
qualidade dos serviços responde ao poder aquisitivo da pessoa; a universalização cede 
lugar à focalização e à municipalização; a “solidariedade social” passa a ser localizada, 
pontual, identificada com a autoajuda e com a ajuda-mútua.
Fonte: Montaño (2006).
ANTUNES, R . Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006.
BEHRING, E. R. Brasil em contrarreforma: desestruturação do Estado e perda de direitos. 
São Paulo: Cortez, 2003.
COMBLIN, J. O neoliberalismo: ideologia dominante na virada do século. Petrópolis: 
Vozes, 2001.
PEREIRA, P. A. P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. São 
Paulo: Cortez, 2000.
SERRA, R. M. S. Crise de materialidade no Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2000.
O neoliberalismo no Brasil e a questão social10
Leituras recomendadas
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do 
mundo do trabalho. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2015.
BRASIL. Norma operacional básica NOB/SUAS: construindo as bases para a implanta-
ção do Sistema Único de Assistência Social. Brasília, DF: SUAS, 2005. Disponível em: 
<http://www.assistenciasocial.al.gov.br/sala-de-imprensa/arquivos/NOB-SUAS.pdf>. 
Acesso em: 15 jul. 2018.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Legislação e Resoluções sobre o Trabalho do/a 
Assistente Social. Brasília, DF: CFESS, 2011. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/
arquivos/LEGISLACAO_E_RESOLUCOES_AS.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2018.
DICIONÁRIO Financeiro. Como funciona a lei da oferta e da procura. 2018. Dispnível 
em: <https://www.dicionariofinanceiro.com/como-funciona-lei-da-oferta-procura/>. 
Acesso em: 17 jul. 2018.
FREITAS, E. FMI e Banco Mundial. 2018. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.
br/geografia/fmiebancomundial.htm>. Acesso em: 15 jul. 2018.
MONTAÑO, C. Um projeto para o Serviço Social crítico. Katálysis, v. 9, n. 2, p. 141-157, 
jul./dez. 2006. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/
view/S1414-49802006000200002/7483>. Acesso em: 15 jul. 2018.
ORTIZ, A. Lei da oferta e da procura. 2018. Disponível em: <https://www.infoescola.
com/economia/lei-da-oferta-e-da-procura/>. Acesso em: 15 jul. 2018.
11O neoliberalismo no Brasil e a questão social
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
Não é de hoje que o Brasil é reconhecido por ser um país de desigualdades extremas. É comum 
e rotineiro, na história nacional, o cenário em que indivíduos têm abundância de recursos enqua
nto outros lutam pela manutenção de recursos mínimos suficientes para a própria sobrevivência.
Diante de tal quadro, a fome é uma das expressões mais perversas. A década de 1990, por exem
plo, foi marcada pela precarização das políticas sociais, em especial aquelas que se relacionam c
om a temática de combate à fome.
Na Dica do Professor a seguir, você vai acompanhar uma retomada do que foram as políticas de 
combate à fome naquele período.
Confira.
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NA PRÁTICA
Em meio a um cenário de ampliação das políticas de ideologia neoliberal no Brasil, é possível v
erificar que, cada vez mais, é necessário trabalhar a articulação entre os profissionais assistentes 
sociais para que, por meio da união de forças e saberes, haja fortalecimento para atuar no enfrent
amento das expressões da questão social.
Para tanto, a Resolução do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) n.º 470, de 13 de maio 
de 2005, determina a criação de espaços descentralizados de articulação e organização dos assist
entes sociais, com a intenção de promover a interiorização e a democratização da gestão pública 
dos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS).
Apartir de então, surgem os Núcleos do Conselho Regional de Serviço Social (NUCRESS), que 
se constituem em espaços de valorização do serviço social, do exercício profissional, da defesa d
a profissão e da articulação profissional.
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Você vai conhecer, na prática, um caso em que uma assistente social busca o NUCRESS para de
senvolver ferramentas de enfrentamento das problemáticas vivenciadas em seu local de trabalho.
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SAIBA +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo
r:
Programa Fome Zero e o paradigma da segurança alimentar: ascensão e queda de uma co
alizão?
Um dos problemas que ainda persistem no Brasil é a fome. A luta contra tal problema ganhou vi
sibilidade durante o governo Lula, quando foram criados programas sociais, como o Fome Zero 
e o Bolsa Família, almejando a distribuição direta de renda. Para saber mais detalhes sobre a evo
lução das políticas de combate à fome no país, leia o artigo a seguir.
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Como criar um banco de alimentos
Os bancos de alimentos, também conhecidos como bancos alimentares, têm como objetivo recol
her donativos de bens alimentares e recuperar excedentes alimentares da sociedade para compart
ilhar com pessoas necessitadas. Para saber mais detalhes sobre a criação de uma organização de 
banco de alimentos, acesso o manual a seguir.
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782016000200013&lang=pt
http://www.redebancodealimentos.org.br/files/pub/128424015877364_Fases-de-criao-de-um-Banco-de-Alimentos.pdf

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