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DIREITO ADMINISTRATIVO IV - PODERES ADMINISTRATIVOS

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1. PODERES ADMINISTRATIVOS 
a. Carvalho Filho conceitua os poderes administrativos “como o conjunto de prerrogativas 
de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos para o fim 
de permitir que o Estado alcance seus fins”. 
b. São deveres do administrador público, entre outros: 
I. Dever de eficiência; 
II. Dever de probidade; 
III. Dever de prestar contas; 
IV. Poder-dever de agir. 
c. O poder do administrador público – que constitui, ao mesmo tempo, dever para com a 
comunidade – é irrenunciável pelo seu titular. 
d. Poder vinculado: 
I. Justifica a prática de ato vinculado; 
II. Fato – Lei – Determinar – Vinculado; 
e. Poder Discricionário: 
I. Para praticar ato discricionário; 
II. Fundamenta a revogação do ato administrativo, que se dá por conveniência 
ou oportunidade; 
III. Fato – Lei – Alternativas/Opções – Discricionário; 
f. Poder Hierárquico: 
I. Representa graus de subordinação dentro da Administração Pública; 
II. Prerrogativas: fiscalização, coordenação, delegação, revisão, avocação, etc; 
III. Características: 
1. Não alcança os particulares; 
2. Não há hierarquia entre administração direta e as entidades da 
administração indireta, pois essas possuem autonomia 
administrativa; 
3. Art. 12, Lei n.º 9784/99 – Um órgão administrativo e seu titular 
poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua 
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe 
sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em 
razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica 
ou territorial; DELEGAÇÃO 
4. Art. 13, Lei n.º 9784/99 – Não podem ser objeto de delegação: I – a 
edição de atos de caráter normativo; II – a decisão de recursos 
administrativos; III – as matérias de competência exclusiva do órgão 
ou autoridade; NÃO DELEGAÇÃO - NOREX 
5. Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos 
relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de 
competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior. AVOCAÇÃO 
A avocação se verifica quando o superior chama para si a competência 
de um órgão ou agente público que lhe seja subordinado. Esse 
movimento que é excepcional e temporário, decorre do poder 
administrativo hierárquico. 
6. Súmula 510, STF. Praticado o ato por autoridade, no exercício de 
competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a 
medida judicial. 
7. Art. 116, Lei n. 8112/1990 – São deveres do servidor: (...) IV – cumprir 
as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais; (...) XII 
– representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder. 
g. Poder Disciplinar: 
I. Prerrogativa da Administração Pública para punir os agentes e os 
particulares que estiverem sob sua disciplina; 
II. Contraditório e ampla defesa, sob pena de nulidade da punição. É 
vedada a verdade sabida (inconstitucional), pois para o administrador uma 
penalidade tem que dar a oportunidade de defesa ao punido; 
III. Em alguns momentos decorre do poder hierárquico; 
IV. Para Di Pietro (2009, p. 93), o poder disciplinar é o que cabe à 
Administração Pública para apurar infrações e aplicar penalidades aos 
servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa. 
V. O poder discricionário é tipicamente discricionário. Maria Sylvia Di 
Pietro ao lecionar sobre o tema, ressalta que “a administração não tem 
liberdade de escolha entre punir e não punir, pois tendo conhecimento de 
falta praticado por servidor, tem necessariamente que instaurar o 
procedimento adequado para sua apuração e, se for o caso, aplicar a pena 
cabível. Não o fazendo, incide em crime de condescendência criminosa, 
previsto no artigo do Código Penal e em improbidade administrativa, 
conforme art. 11, inciso II, da Lei n. 8429, de 02.06.1992”; 
h. Poder Regulamentar 
I. Competência dos chefes do poder executivo para edição de decreto. Existem 
dois tipos de decretos: 
II. Decretos de execução ou regulamentares: 
1. Detalhar a lei para sua fiel execução; 
2. Ato secundário, pois primeiro vem a lei, se precisar complemento virá 
decreto; 
3. Não pode contrariar a lei (contra legem); 
4. Não pode extrapolar os limites da lei (ultra legem); 
5. Art. 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) 
IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir 
decretos e regulamentos para a sua fiel execução; 
6. Art. 49, CF. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...) V 
– sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do 
poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; 
III. Decretos autônomos: 
1. Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) VI – 
dispor, mediante decreto: a) organização e funcionamento da 
administração federal, quando não implicar aumento de despesa, 
nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções 
ou cargos públicos, quando vagos; 
i. Poder Normativo 
I. Competência para editar normativo (regimento interno, instrução 
normativa, deliberação, resolução, decreto e portaria), logo, mais amplo que 
o poder regulamentar. 
j. Poder de Polícia 
I. Para Meirelles “poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração 
Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e 
direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado.” 
II. Polícia administrativa e polícia judiciária: a distinção entre polícia 
administrativa e judicial é perfeitamente abordada por José dos Santos 
Carvalho Filho (2008, p.75-76): “Quando agentes administrativos estão 
executando serviços de fiscalização em atividades de comércio, ou em locais 
proibidos para menores, ou sobre as condições de alimentos para consumo, 
ou ainda em parques florestais, essas atividades retratam o exercício de 
Polícia Administrativa. Se, ao contrário, os agentes estão investigando a 
prática de crime e, com esse objetivo, desenvolvem várias atividades 
necessárias à sua apuração, como oitiva de testemunhas, inspeções e 
perícias em determinados locais e documentos, convocação de indiciados, 
etc. são essas atividades caracterizadas como Polícia Judiciária, eis que, 
terminada a apuração, os elementos são enviados ao Ministério Público 
para, se for o caso, providenciar a propositura da ação penal”. 
III. Art. 78, CTN: Considera-se poder de polícia atividade da administração 
pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, 
regula a prática de ato ou obtenção de fato, em razão de interesse público 
concernente à segurança, higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da 
produção e do mercado, no exercício das atividades econômicas 
dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranquilidade 
pública ou o respeito à propriedade e aos direitos individuais e coletivos; 
IV. Art. 145, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão 
instituir os seguintes tributos: I – impostos; II – taxas, em razão do exercício 
do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços 
públicos específicos... 
V. Ciclo de Polícia Administrativa (ordenação lógica dos atos): 
1. Ordem de Polícia: além da lei, os atos administrativos infralegais – atos 
normativos. 
2. Consentimento de Polícia é o que a doutrina costuma chamar de 
limitações administrativas (licenças e autorizações). Atividade 
preventiva. 
3. Fiscalização de polícia. Atividade Preventiva 
4. Sanção de polícia. Atividade repressiva. 
VI. Poder de Polícia originário e delegado: “ADMINISTRATIVO. PODER DE 
POLÍCIA. TRÂNSITO. SANÇÃO PECUNIÁRIA APLICADA POR SOCIEDADE DE 
ECONOMIA MISTA. IMPOSSIBILIDADE. (...) A controvérsia em debate é a 
possibilidade de exercício do poder de polícia por particulares (no caso, 
aplicação de multas de trânsito por sociedade de economia mista). 3. As 
atividades que envolvem a consecução do poder de polícia podemser 
sumariamente divididas em quatro grupos, a saber: (i) legislação, (ii) 
consentimento, (iii) fiscalização e (iv) sanção. (...) 5. Somente os atos 
relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis, pois aqueles 
referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder 
Público. 6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por 
particulares estaria, inclusive, comprometido pela busca do lucro – aplicação 
de multas para aumentar a arrecadação.” (STJ, REsp 817534/MG) 
VII. “É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, às pessoas 
jurídicas de direito privado, integrantes da Administração Pública indireta de 
capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço 
público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.” (re 
633782) 
VIII. Atributos 
1. Discricionariedade: o poder de polícia dispõe de certa 
discricionariedade, haja vista o poder público ter liberdade para 
escolher, por exemplo, quais atividades devem ser fiscalizadas para 
que se proteja o interesse público. 
2. Autoexecutoriedade: possibilidade da Administração executar 
pessoalmente seus atos. A multa, como sanção resultante do 
exercício do poder de polícia administrativa, não possui a 
característica da autoexecutoriedade. 
3. Coercibilidade: é obrigatório, não representa uma opção para o 
particular. Pode usar, inclusive, força física proporcional à gravidade 
do fato. 
IX. Prescrição: Art. 1º da Lei n. 9873/199: Prescreve em cinco anos a ação 
punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta, no exercício do 
poder de polícia, objetivando apurar a infração à legislação em vigor, 
contados da data da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou 
continuada, do dia em que tiver cessado. §2º. Quando o fato objeto da ação 
punitiva da Administração também constituir crime, a prescrição reger-se-á 
pelo prazo previsto na lei penal. 
X. Tese de Repercussão Geral: INFO 793/2015, STF – “É constitucional a 
atribuição às guardas municipais do exercício de poder de polícia de trânsito, 
inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente previstas.” 
2. USO E ABUSO DE PODER (LEI N.º 4.898/1965) 
a. Gênero abuso de poder com três espécies: excesso de poder (de competência); desvio 
de poder (de finalidade) e omissão; 
b. Excesso de competência (ou de poder): a autoridade competente age além do 
permitido em lei, ou seja, atua ultra legem. 
c. Desvio de finalidade (ou de poder): ato praticado com objetivo diverso do previsto na 
lei, ou seja, contra legem. 
d. Omissão: inércia da administração em realizar suas funções. Violação do poder-dever.

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