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Prévia do material em texto

Copyright © 2022 Evilane Oliveira
 
Princesa Distorcida
1ª Edição
 
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos que
aqui serão descritos são produto da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É
proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra,
através de quaisquer meios, sem o consentimento escrito da autora. A
violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610. /98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
 
Todos os direitos reservados.
 
Edição Digital | Criado no Brasil.
 
ÍNDICE
Epígrafe
Dedicatória
Aviso da autora
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Agradecimentos
Contato
Outras obras
 
 
 
“Você é a maldição da minha existência e o objeto de meus desejos.”
— Anthony Bridgerton
 
Para você que se refez colando seus próprios pedaços sozinha.
 
Princesa Distorcida é um romance dark e aborda como tema central
o incesto (romance entre irmãos). Se você não gosta do assunto ou é
sensível, NÃO LEIA!
A partir daqui você está por sua conta e risco.
Boa leitura,
LAKE TREVISAN
 
O único som que pude ouvir embaixo das minhas cobertas foi das
gotas de chuva batendo contra os vidros das janelas. Fechei os olhos e apertei
meus punhos enquanto acalmava minha respiração. Um. Dois. Três...
Passos soaram me assustando, então minhas pálpebras se abriram.
Enquanto minha alma parecia derreter de medo, meu peito doía. Era uma dor
crua, horrível e que me fazia ter ânsia de vômito.
— Ratinha.
Fiquei rígida e quis rolar para debaixo da cama. Tudo nele me
assustava. Sua voz crua, sua altura, seus olhos. Isso era o bastante para que eu
entrasse em desespero.
Já pensei em contar aos meus irmãos o que ele fazia. Já pensei em
dizer à mamãe, mas do que adiantaria? Todos o temiam. Ninguém me
defenderia, eu não os culpava.
Ettore era um demônio. O pior de todos eles.
Senti suas mãos deslizarem por minhas pernas e tentei desconectar.
Contei várias vezes até o cem, esperando tudo acabar, rezando para que fosse
rápido. Só que não acabava. Meu corpo doía, como todas as vezes. Meus
olhos ardiam com lágrimas, mas eu as empurrei de volta. Ele ficava irritado
ao ver minhas lágrimas.
— O que...
A luz acendeu, Ettore se ergueu e eu me encolhi, puxando meu
edredom. Meu peito doeu quando vi mamãe de pé, com a boca aberta,
completamente em choque. Seus olhos bonitos estavam brilhando com
lágrimas não derramadas e meu pai estava de pé perto dela.
— Qual é o seu problema, Ettore? — mamãe gritou, horrorizada.
Eu cobri meus ouvidos, tremendo.
— Cala a boca! — meu pai gritou, arrumando a calça, enquanto
mamãe vomitava ali. — Você trouxe essa rata no ventre quando chegou! Você,
Violetta. Eu faço o que diabos eu quiser...
— Ela é uma criança, seu desgraçado! — Minha mãe correu em sua
direção e ele a pegou pelo cabelo. Sua mão colidiu com o rosto dela e eu
gritei. — Banheiro, Lake! Agora! — Sua ordem reverberou enquanto seu
lábio sangrava. Eu não conseguia me mexer.
— É culpa sua, Violetta! — ele gritou, continuando a bater nela.
— Não, Ettore. Ele é o culpado...
— Eu odeio você, sua puta!
— Eu também te odeio! — ela berrou antes que ele puxasse a arma e
a ajoelhasse diante de mim.
— Pai, por favor — implorei, chegando mais perto do final da cama.
— Não sou seu pai, sua rata imunda! E vou matar sua mamãe bem na
sua frente. Quero mais lágrimas, me dê mais...
— Não, por favor. Por favor... — pedi, com a vista embaçada do
líquido que ele parecia amar.
Meu pai tirou uma faca do terno enquanto segurava minha mãe pelo
cabelo. Os olhos azuis dela estavam arregalados, o medo neles me paralisou,
e quando ele deslizou a lâmina em seu pescoço eu gritei.
Mamãe sempre foi incrível. Tão devota em relação aos filhos,
bondosa e amorosa. Até Rocco, o filho de Ettore com outra mulher, era
amado por ela. Eu a amava mais que a mim, e meus irmãos faziam o mesmo.
Sempre fizeram.
Agora, ele estava tirando-a de nós.
Arrancando a única fonte de bondade do nosso mundo podre, escuro e
cruel.
— Está sentindo dor, Ratinha? — Seus olhos negros perturbados
feriram meu peito enquanto eu continuava gritando. Tão alto, tão forte.
Ettore empurrou minha mãe para a frente enquanto o sangue manchava
suas mãos. Eu cobri meus ouvidos e solucei. Eu o odiava, cada grama de mim
odiava aquele homem, mas o que mais eu odiava era o temer.
Eu morria de medo dele. Temia o seu toque, seu olhar, suas palavras.
Ele era meu pior pesadelo.
— Que bom! — Ele sorriu e deu um passo em minha direção enquanto
eu me empurrava contra a cabeceira da cama. — Porque eu vou foder você
em cima do sangue da sua mãe.
Suas palavras sumiram quando Rocco apareceu, segurando uma arma
na mão. Seus olhos capturaram mamãe no chão e sua mandíbula apertou.
— Desça, agora. — Suas palavras soaram firmes, furiosas.
— Ei, seu pedaço de lixo, abaixe a porra dessa arma — nosso pai
gritou, mas Rocco não titubeou. Quando ouvi o clique da arma e o som
ensurdecedor de tiro, eu gritei novamente.
Porém, Ettore ainda respirava e ele usava cada grama de ar para rir.
— Patético.
— Vamos ver quem é patético. — Rocco o pegou pela blusa e o tirou
do quarto.
Ouvi gritos no corredor e sabia que eram meus irmãos. Me movi para
encontrá-los, mas a visão dela de olhos abertos me fez ficar parada. Minhas
pernas ficaram moles e eu desabei. Rastejei, sentindo o líquido espesso
molhar meus joelhos e mãos.
Me aproximei do corpo inerte e senti meu coração ser rasgado do
peito.
Mamãe estava morta.
Não iríamos mais comprar vestidos juntas e nem colares que ela
colecionava. Nada seria como antes. Tudo que eu tinha estava desabando. Eu
precisava dele.
Deus, como eu precisava dele. Onde ele estava?
Como em forma de resposta para minhas preces, ele surgiu na porta.
Seu cabelo escuro estava bagunçado e seus olhos azuis me olharam dos pés à
cabeça.
— Há quanto tempo? — Sua pergunta me fez balançar a cabeça e me
abraçar. — Lake, há quanto tempo?
— Não importa! — gritei de volta, me sentindo fria como gelo. — Ele
a matou. Ele matou nossa mãe! — Apontei para o corpo sem vida.
Prince evitou encará-la.
— Vamos.
Suas mãos me agarraram e eu evitei estremecer em seus braços.
Evitei, porque naquele momento ele era a única pessoa que eu queria ao meu
lado.
Prince sempre foi a única pessoa que eu queria ao meu lado.
Meu carrasco, meu herói, meu príncipe.
Nada mais importava. Ele sempre seria tudo.
Nada era capaz de mudar isso.
 
 
13 ANOS
 
— Estou cansada de me esconder. Cansada de ficar dentro dessa
casa. — Minhas palavras pareciam fogo.
— Lake. — Vi seu olhar ficar escuro e odiei isso.
Ninguém via esse lado dele. Nunca aparecia.
Só comigo. Quando o assunto era relacionado a minha segurança.
Ergui a cabeça e o encarei enquanto respirava fundo. Seu cabelo
estava bagunçado e seu braço estendido enquanto desenhava algo no papel.
— Você sai, tem amigos, até namoradas, e eu continuo presa aqui! —
grunhi, me erguendo.
Prince jogou o caderno na mesa. Quando seu corpo ficou rígido e
seus olhos encontraram os meus, eu estremeci.
Odiava o sentimento dentro de mim. Era feio. Horrível. E eu não
podia deixar isso me consumir. Nunca.
— Rocco sabe o que é melhor para nós...
— Para você é fácil, Prince! — gritei, tremendo, assistindo-o andar
em minha direção. — Tudo é fácil para você e Matteo. Para mim, é um
inferno!
Desde que a nossa mãe foi morta por nosso pai – pai deles –, eu
estava dentro dessa casa. Sem ver a luz do dia sem ser pelas janelas, atrás
de cortinas.Eu sabia que Rocco e Romeo tinham razão sobre a minha segurança,
mas como eu poderia ficar feliz assim?
— Eu estou com você, Lake. Sempre.
Prince me puxou para os seus braços e eu fechei os olhos, inspirando
o cheiro de hortelã e sabonete.
Não seja uma doente.
Minha voz ecoou na minha mente tão enojada que eu me afastei dele,
sentindo um caroço crescer em minha garganta enquanto meu estômago
revirava.
— Só quero sair. Uma vez sequer. Eu só preciso de normalidade...
— Vamos lá. — Sua mão enrolou na minha e eu arregalei os olhos.
— Você precisa vestir uma roupa larga. Não faça perguntas.
Prince enfiou um dos seus moletons em mim antes de eu suspirar
quando descemos a escada. Ele colocou o capacete em minha cabeça e
desceu o visor escuro.
— Vão pensar que você é uma foda. Não se preocupe.
Senti uma pontada dentro de mim. Odiava reagir assim às suas
aventuras.
— Tá.
Prince dirigiu pela propriedade e ninguém nos parou. Rocco não
estava aqui, muito menos Matteo ou Romeo. Euforia encheu meu peito
quando passamos pelos portões.
Com medo, apertei meus braços ao redor dele e senti sua risada
vibrar pelo peito. Odiava quão bem ele me conhecia. Como se seus gestos
fossem sempre calculados para me fazer rir.
Assim que a moto parou, eu ergui a cabeça e vi uma floresta. Prince
me ajudou a descer e quando o capacete estava fora, ele me guiou para o
meio das árvores.
— Oh, merda! — exclamei, com os olhos arregalados. O lago
Michigan estava diante de nós, tão bonito quanto quando eu o via pela
janela.
— Senta. — Prince me puxou para uma pedra, então eu me sentei.
Respirei fundo quando ele fez o mesmo. Meu peito estava apertado,
eu via a apreensão em seus olhos. Odiava vê-lo lutando contra si mesmo.
— Rocco vai me iniciar em breve. — Sua garganta balançou e eu
toquei seu rosto. — Odeio isso. Eu só queria sumir. Ir para longe e nunca
mais saber da Outfit.
— Compartilhamos os desejos. — Minhas palavras foram suaves.
Prince me encarou, e enquanto meu peito batia frenético, meus
pensamentos me recriminavam. Não faça isso.
Mas eu fiz.
Minha boca bateu contra a dele em um segundo. Foi tão fugaz. Porém,
mesmo assim, eu me senti no céu. Era quase como se tudo dentro de mim se
encaixasse. Os cacos afiados se encontraram e tudo voltou ao normal.
Porém, foi rápido. Prince empurrou meus ombros e acabou a dois
metros de mim, com os olhos tão arregalados que eu jurava que nunca o tinha
visto tão assustado em toda minha vida.
— Que. Porra. Foi. Essa, Lake? — Seu grito foi ensurdecedor.
Meus olhos começaram a queimar, e enquanto eu tentava abrir minha
boca e falar algo, eu não me lembrava mais como pronunciar nada. As
palavras estavam longe de mim.
— Lake, por que você fez isso, porra? — Sua voz era tão assustada.
E o medo não foi o que mais me incomodou.
Foi o nojo.
Porque naquele momento eu também sentia o mesmo.
Meu corpo começou a parecer tão nojento que eu me joguei no lago.
Esfreguei minha pele com minhas próprias roupas enquanto meu irmão ficou
me olhando perplexo.
— Saia da água! — ele berrou, furioso. — Você vai ficar doente!
— Me des-desculpa. Por fa-favor...
Prince desistiu de esperar por mim e me puxou da água, se molhando
no caminho. Seus braços me rodearam e ele segurou minhas mãos.
— Pare com isso, Lake!
— Me desculpa. Por favor, não tenha nojo de mim — implorei,
sufocando.
Ele ficou em silêncio, e o vazio continuou enquanto me levava até a
sua moto.
Não consegui não o abraçar enquanto voltávamos. Senti que estava
perdendo-o. Como areia, ele estava escapando entre meus dedos. E eu não
podia fazer nada.
Porque eu era uma doente nojenta que amava o próprio irmão.
Meu sangue.
— Nunca mais vamos falar sobre o que aconteceu hoje. — Suas
palavras verberaram em minha mente enquanto ele me guiava para dentro da
mansão.
— Eu sinto muito.
— Nunca mais, Lake.
E, realmente, nós não voltamos a falar sobre isso.
Nunca mais.
 
ATUALMENTE
 
Quando meu celular começou a tocar, eu o empurrei para dentro do
bolso traseiro da calça jeans. O frio hoje estava ameno, por isso apenas um
moletom cobria meus ombros. Não que eu realmente ligasse para essa
merda.
Eu quase perdi meus irmãos.
Por pouco, a Cosa Nostra teria rasgado os quatro em pedaços. Não
sei como ou de onde tirei força para pegar os explosivos que Rocco
carregava. Mas eu fiz. O piloto me ajudou e eu detonei todas as dinamites
que havia ali.
Eles estão bem.
A minha própria voz gostava de me tranquilizar. Era até uma piada,
porque sempre foi ela quem me fazia querer arrancar minha própria pele.
— Eu falei a você para atender a porra do telefone.
Por causa dele.
Minha voz me punia, me dizendo todos os dias o quanto o amar era
errado, o quanto deixá-lo me tocar era um pecado, o pior de todos.
Eu me virei e o vi na minha lateral, andando em minha direção como
o leão cruel que eu sabia que ele era, mas que ele conseguia manter
escondido. Seus olhos azuis semicerraram e ele segurou meu rosto com
força, a irritação ondulando por cada pedaço dele.
— Pare de sair sem seus soldados.
Ele havia recuperado algumas memórias desde Nova Iorque. Um mês
havia se passado, mas sua superproteção, jamais.
— Eu precisava pensar. — Puxei meu rosto e me virei, encarando
Cloud Gate.
As pessoas, maioria turistas, se amontoavam ao redor da escultura
enorme, tentando tirar uma foto qualquer. Todos pareciam tão livres. Tão
felizes por estarem em Illinois, apreciando Chicago.
A mesma cidade que me aprisionava. Que me sufocava estar aqui.
— Você pensa com a cabeça, não com as pernas. — A voz do Matteo
ecoou, então olhei para Prince.
— Sério? Você não pode fazer o trabalho sujo sozinho? — grunhi,
irritada.
Não por ele ter vindo atrás de mim. Isso era o habitual, mas por
trazer Matteo. Na verdade, não foi isso que me irritou, apenas o fato de que
ele não poderia me tocar com nosso irmão aqui.
— Eu poderia, mas quando o assunto é você, a sujeira alcança um
patamar muito elevado — ele rosnou apenas para que eu escutasse. —
Vamos.
Revirei os olhos e andei para longe do Cloud Gate e da liberdade
que aquele ponto exalava. Uma que eu nunca teria, nem em um milhão de
anos.
— Vocês falaram com ele? — perguntei assim que entrei no carro do
Matteo. Ele estava dirigindo, com Prince ao seu lado e eu atrás.
— Sim, e adivinha? É a porra de um não. Eu disse que você deveria
esperar mais um tempo — Matteo resmungou, irritado.
Como uma forma de me punir por ir de boa vontade para Nova
Iorque com Carmelo, Rocco me proibiu de trabalhar. Eu vivia como a Lake
de treze anos, escondida na mansão do meu irmão.
— Já fez um mês... o Centro precisa de mim, vocês sabem disso —
murmurei de volta e encarei Prince. Ele esfregou o rosto e olhou pela janela.
— Mais duas semanas e falamos de novo — meu irmão me
respondeu.
Eu acenei, bufando. Era a porcaria do jeito.
Assim que chegamos à mansão do Rocco e da Sienna, eu vi meus
irmãos mais velhos. O meu Don estava de braços cruzados, com uma calça
de moletom que parecia filha única e só. As tatuagens dele cobriam boa
parte da pele e seu cabelo estava curto, como sempre. Seu olhar era de não
me desafie, e por mais que eu quisesse, sabia qual era o meu lugar.
— Onde você estava?
Sienna desceu a escada com Amo e Rhett. Assim que os garotos
pularam no pai, eu fui salva. Rocco dedicou sua atenção aos dois e eu passei
devagar, fugindo.
— Nós vamos conversar — ele gritou, me fazendo ficar rígida.
Foda-se.
Subi a escada e só parei quando cheguei ao meu quarto. Joguei minha
bolsa, retirei meu moletom e calça. Andei até o closet e procurei outra
roupa. Me virei ao ouvir minha porta abrir. Prince lambeu os lábios e deu
um passo em minha direção. Ele havia feito outras tatuagens no último mês, e
hoje de manhã foi fazer mais uma. Eu o ouvi murmurar que seria no pescoço
e lá estava ela. Tinha um plástico sobre ela e eu não conseguia ver, mas logo
descobriria.
— Você se acha muito esperta, hum? — ele grunhiu, se aproximando.
— Na verdade, eusou. — Respirei fundo e me virei, me abaixando
para pegar os meus Vans. Deixei-os separados e cacei um vestido. Quando
senti a mão grossa apertar minha cintura, eu fiquei rígida.
— Então, vamos lá.
Ele me puxou em direção à porta e eu arregalei os olhos.
— Eu estou nua! — gritei, com medo dos nossos irmãos nos
pegarem.
Ele tirou a própria camisa e enfiou em mim. Novamente recomeçou a
andar, me arrastando. Quando chegamos ao térreo, podia ouvir meus
sobrinhos brincando com os pais.
— Vamos ver se é mesmo tão esperta. — Prince me empurrou para o
lavabo e eu arregalei os olhos. — Vou foder sua boceta esperta aqui, a
algumas paredes dos nossos irmãos. É isso que você quer, certo?
Prince se inclinou, segurando meu rosto, mas eu neguei. Rhett ou
Amo poderiam se sujar e Rocco poderia trazê-los para se lavarem aqui.
Matteo poderia estar por perto e nos ouvir. Isso não podia acontecer.
— Villain, por favor. — Toquei seu peito, sabendo que o monstro
estava querendo sair para brincar. — Eu juro que não sairei mais sem os
soldados.
— Tarde demais, Silk.
Assim que fiquei arrepiada, ele soube que havia ganhado. Prince me
empurrou contra a borda da pia, puxando meu cabelo e me arqueando para
si. Seu peito duro esmagou meus seios cobertos pela sua camisa. Segurei
seus ombros e ele mordeu meu queixo, pescoço e depois, em uma descida
lenta, meu colo. Os chupões ficaram vermelhos instantaneamente.
— Sente-se na pia.
Ele me ajudou a subir, porém um tapa alto ecoou e uma ardência
junto a um arrepio começou. Minha boceta estava úmida e vermelha. Prince
capturou meu clitóris e torceu, me fazendo gritar.
— Está vendo? Você quer que nos descubram.
— Não. — Neguei rápido, enquanto ele enfiava os dedos em mim e
retornava ao clitóris inchado e dolorido.
— Você ainda está tomando seus comprimidos, certo? — ele
perguntou, retirando seu pau da calça preta. Era longo, grosso e com veias
saltadas. Prince o cutucou na minha entrada úmida e apertada. Uma carícia
lenta que fez o suco deslizar pela minha bunda.
— Si-sim.
Eu jamais pararia de tomar remédios. Uma gravidez era a última
coisa que eu queria na minha vida. Prince e eu não podíamos ter filhos.
Nunca.
— Me foda, Villain. Pare de brincar.
Os olhos dele incendiaram e ele estocou de uma vez. Eu gritei, mas
ele colocou a mão sobre meus lábios. Prince lambeu minha bochecha e eu
estremeci quando ele deslizou para fora. Prendi-o com minhas pernas
querendo gozar, mas ele apenas desfez o aperto. Villain segurou a parte de
trás das minhas coxas e as empurrou abertas próximas ao meu peito. Caí
contra o espelho, sentindo a torneira contra minha coluna.
Villain me fodeu lentamente enquanto lágrimas enchiam meus olhos
com o prazer pequeno e crescente. Parecia o céu, ele nunca havia me fodido
assim. Movi meus quadris para o encontrar, mas ele se retirou.
— Fique parada. — Ele bateu em minha boceta mais uma vez e me
mostrou os dedos molhados. — Abra a boca.
Eu abri. Prince os aproximou da minha boca e eu fechei os lábios em
torno deles. Minha excitação tocou minha língua e eu gemi. Ele entrou em
mim de novo, subindo a camisa, então choraminguei, ainda chupando seus
dedos.
— Tem alguém? — Quando a voz do Matteo ecoou, eu fiquei rígida.
Prince sorriu e se inclinou sobre meus seios, lambendo a ponta antes
de responder ao nosso irmão.
— Oi, cara. Sou eu — ele murmurou e, mais uma vez, deslizou
dentro de mim.
Meus olhos se arregalaram e Prince sorriu, me fodendo lentamente.
Ele chupou meu mamilo e mordeu, me fazendo colocar a minha mão sobre a
boca para não gritar.
— Você viu a Lake? — Matteo perguntou.
Prince torceu meu clitóris rindo.
— Só quando chegamos. Ela deve estar por aí.
Ele puxou meus quadris e estocou fundo. Suas mãos pegaram meu
seio e o levaram à boca, chupando com força.
— Tá bom. Vou deixar você cagar em paz.
Prince me girou assim que ouvimos os passos se afastando. Olhei
pelo espelho e o vi sobre mim. Tão alto enquanto eu era uma menina na sua
frente. Villain tirou minha camisa e me puxou contra seu pau grosso. Ele me
fodeu mais uma vez enquanto eu gemia baixo e o encarava pelo espelho.
O plástico da sua tatuagem estava deslizando com seus movimentos.
Assim que ele finalmente caiu, eu arregalei os olhos. E quando Prince olhou
para o teto, as letras maiúsculas ficaram visíveis.
SILK.
Na parte da frente, bem diante de todos. Meu apelido.
Ele me estocou e eu gozei enquanto lágrimas enchiam meus olhos.
Ele gozou dentro de mim, me enchendo, até não haver espaço e sua porra
vazar.
Prince me virou, entrou em mim novamente e se moveu em meio ao
seu sêmen pingando no chão.
— Sua tatuagem... — comecei a falar, mas ele abocanhou meu
mamilo, faminto.
Ele não parou de me foder, até que eu gozei novamente e ele também.
Minhas coxas estavam úmidas e seu pau ainda duro.
— Minha tatuagem — ele olhou para o espelho e movimentou a
cabeça — é seu presente de aniversário.
Meu coração ficou pequeno, quase minúsculo, e em segundos se
encheu de paixão, amor, tesão e muita obsessão.
— Você me tem. Eu pertenço a você, como você me pertence. — Sua
voz era cheia de certeza e uma possessividade que eu conhecia bem.
— Prince... — Toquei seu rosto, ainda olhando as letras que
formavam meu apelido.
— Diga que me pertence, Silk. Diga quem é seu rei.
— Você. Eu pertenço a Prince Trevisan. Meu rei.
Ao bater os lábios nos meus, eu o beijei como todas as vezes –
urgente, sedenta e com amor. Eu o amava mais que a mim e nós dois
sabíamos disso.
E pagaríamos por isso.
 
 
 
 
ATUALMENTE
 
Honra é algo que poucos homens têm e eu não fazia parte desse
seleto grupo. Porque eu não podia ser honrado quando fodia minha irmã
pelos cantos da mansão da nossa família. Eu não podia ser honrado quando
eu a observava lambendo a colher com chocolate, imaginando sua boca no
meu pau, enquanto nossa família estava presente.
— Cara? — Matteo grunhiu, então eu o encarei. — Que porra, você
tá desligado, hein?
— O que foi? — perguntei, sentindo o olhar de todos sobre mim.
— Rocco quer que vá para Oak Park comigo.
Nem fodendo. Eu não sairia de perto da Lake.
— O quê? Não! — ela gritou.
Eu a encarei, um sinal claro para ela retroceder.
— Ele vai me ajudar com a cidade. — Meu irmão, o que eu sabia
que era o mais próximo a mim, encarou-a. — Você pode passar os finais de
semana lá. Ou ele vem pra cá.
— Eu preciso pensar — falei, encarando quem era realmente
importante.
Rocco.
— É uma decisão sua. Porém, vou precisar de você hoje. — Ele
jogou o guardanapo na mesa e se ergueu.
— Aonde vamos? — murmurei e me ergui também.
Sienna o encarou, engolindo em seco.
— Pegar minha sogra no aeroporto.
O silêncio foi excruciante. Eu sabia pouco sobre como tudo começou
entre Sienna e Rocco, mas Lake fez questão de me explicar algumas coisas
importantes.
Homens da famiglia entraram em Chicago e causaram estragos. O
Don de lá, Enrico, ofereceu uma oferta de paz. Uma que tinha como peça
principal um casamento.
Sienna era da Cosa Nostra. Uma princesa intocada da famiglia e foi
dada como moeda de troca pela paz. No final, não houve paz, mas Rocco se
afeiçoou à loira e hoje a ama de uma maneira quase impossível de ser
explicada.
— Sua mãe está vindo? — Blue perguntou a Sienna.
Ela estava sentada ao lado de Matteo, em silêncio a maior parte do
tempo.
— Sim. Enrico permitiu contanto que ela não volte para a Itália.
Quando Rocco respirou fundo, sua esposa ficou rígida.
— Ela vai morar em algum apartamento. Não a quero xeretando a
gente.
— Ela não é um soldado, Rocco. Por um minuto, sua atenção pode
estar voltada para algo que não seja a Outfit? — Sienna se ergueu,
parecendo cansada. — Ela quer conhecer os netos, quer me ver e,
principalmente, quer visitar o último lugar que filho dela, aquele que você
matou, esteve.
Lake se ergueu e a encarou.
— Não foi ele e você sabe. Nunca mais diga isso — a Trevisan mais
nova berrou, rígida. — Nós já tivemos essa conversa um milhão de vezes. Já
me desculpeipor esconder a verdade de você, mas nós sabemos quem matou
seu irmão, e não foi o meu.
— Lake — Sienna ecoou chocada, mas ela a ignorou.
— Foi Giulio. E sua mãe também deveria saber disso, antes que ela
aja como você em relação ao Don da Outfit.
Sienna abriu a boca e voltou a fechá-la. Rocco olhou para mim e
acenou em direção à saída.
— Rocco...
Ele saiu andando e eu fiquei em dúvida se o seguia ou não, porém,
quando Sienna correu atrás dele, ficou claro que eu precisava dar um tempo
a eles.
— O.k., próxima pauta da família caótica Trevisan? — Matteo
perguntou, rindo e eu balancei a cabeça.
— Bom dia! — Lunna saudou assim que entrou na sala de jantar.
Remy estava aos seus pés, olhando para a sala toda. Depois disso, se
aproximou e ergueu a mão. Bati em sua palma e depois fechamos os punhos.
— Olá, King. — Lake se aproximou e ficou de joelhos, o garoto
apenas piscou.
— Sua tia falou com você — grunhi ao ver Lake murchar.
Remy era fechado demais para meu gosto. A única pessoa com quem
ele interagia fora seus pais, era eu e seus primos.
— Olha, eu ganhei uma boneca nova. — Nina apareceu com a babá e
os gêmeos.
— E tá chorando por quê? — Assim que a voz do filho de Lunna e
Romeo ecoou, a filha do Matteo fez uma careta.
— O Rhett a jogou no chão.
Remy encarou o primo e empurrou o ombro dele.
— Não mexa com ela.
Matteo assobiou e ergueu os dois polegares.
— É isso, King! Cuide da nossa princesinha — ele gritou antes de
Blue o encarar e revirar os olhos.
— Vamos, filha, vamos pegar nossas coisas. — A esposa dele se
ergueu e pegou a mão da garotinha.
As duas sumiram depois de beijarem Lunna. Ela se sentou e colocou
Remy na cadeira.
— Você ainda não falou com sua tia. — Lembrei a ele, que a olhou e
acenou.
— Não é pessoal. Remy não curte pessoas. — Lunna riu e tocou na
bochecha da filha mais nova, que estava amarrada a ela. — Lua ama você.
— Eu sei. — Lake fez bico e piscou os cílios longos.
Lake pediu licença depois disso e eu a segui para a escada. Assim
que entramos em meu quarto, eu a empurrei contra a parede e agarrei a sua
cintura.
— Como diabos você consegue ser tão deliciosa?
Ela suspirou e eu roubei seus lábios. Lambi o inferior e toquei sua
língua. Lake se agarrou a mim e me beijou com mais força.
— Diga que não vai para Oak Park. — Ela se parou nossas bocas,
respirando com dificuldade.
— Pode ser bom...
Lake empurrou meu peito e me olhou furiosa.
— Bom? Para quem?
— Vou ter meu lugar lá, um apartamento. — Beijei seu pescoço. —
Você poderia ir aos finais de semana e seria um lugar nosso.
— Não sei...
— Poderíamos ficar juntos. Lá ninguém nos conhece.
Ela engoliu em seco e mordeu o lábio.
— Isso é bom, mas... — Lake olhou para mim e eu fui engolido por
seus olhos. — Não quero passar cinco dias sem ver você.
— Tudo bem, não vou. — Suspirei e beijei sua boca. — Preciso ir.
Não se meta em encrenca.
— Eu nunca faço isso. — Ela riu e eu me inclinei, fazendo-a parar.
— Eu juro. Não vou fazer nada.
— Eu te amo, Silk.
— Eu te amo, Prince.
 
Rocco se apoiou no carro enquanto assistia à sogra descer do avião.
A mulher era bonita, deveria ter uns cinquenta e poucos anos, mas não
parecia realmente. Sienna teve a quem puxar a beleza.
— Onde está minha filha? — Suas palavras voaram ríspidas.
Rocco ergueu as sobrancelhas.
— Olá, sra. Rizzi. Como vai?
Ele se virou e eu abri a porta do carro para ela. Um soldado entrou
no banco do motorista e eu fui ao lado, deixando Rocco com a sogra atrás.
— Sienna está com meus filhos — Rocco grunhiu.
— Onde meu filho foi morto?
Porra. A mulher era violenta.
Rocco a encarou, completamente sério.
— Mantenha sua boca fechada e pergunte à sua filha. Não vou lidar
com você.
A mulher apertou a mandíbula e balançou a cabeça, contrariada.
O silêncio nos seguiu até chegarmos à casa. Sienna estava com a
filha nos braços enquanto os gêmeos estavam ao seu lado. Ela sorriu
brilhantemente quando viu a mãe.
— Mamma. — Sienna piscou rápido e correu até a mãe.
A mulher a abraçou com força e segurou seu rosto. Ela fungou e
sorriu, limpando o rosto da filha.
— Você está impecável. Parece igual a anos atrás.
As duas sorriram e Sienna se virou, chamando os gêmeos.
— Olhe, mamãe, esses são Rhett e Amo. — Sienna tocou na cabeça
dos filhos e os garotos encararam a velha, franzindo as sobrancelhas. —
Cumprimentem a vovó.
— Oi... vovó. — Ambos pausaram antes de chamá-la assim.
— Olá. — A mulher apenas acenou friamente e encarou a menina nos
braços de Sienna.
— Essa é a... — A voz de Sienna baixou.
— Mais uma Trevisan. — A voz dela pareceu enojada, então Rocco
se aproximou.
— Olhe, fale ou respire perto dos meus filhos com esse tom
novamente e eu vou cortar sua cabeça, porra.
Meu irmão estava rígido, Sienna de olhos arregalados e as crianças
cochichando, sem perceber o que estava acontecendo.
— Por que não entramos? — chamei, antes que Rocco sacasse sua
arma e atirasse na mulher diante de nós.
— Sim, sim. Melhor. — Sienna se apressou e encarou a mãe. — Eu
faço das palavras do meu marido as minhas. Eu te amo, mas por esses três eu
mesma atiro em você.
Sienna se virou e entrou em casa, com os filhos por perto, parecendo
a leoa que todos nós conhecíamos.
 
— Onde você está? — murmurei no meio do meu quarto, depois de
vir do dela e não achar Lake.
Desci a escada e fui para a cozinha. Não havia ninguém além da
cozinheira. Me virei para voltar para o andar de cima, mas parei ao ver
Lake. Ela estava sorrindo enquanto um homem estava ao seu lado, no píer.
Calma. Grunhi para mim mesmo, com medo de matar alguém.
Eu não podia demonstrar ciúme na frente das pessoas, mas era
apenas isso no que eu havia me transformado agora, um possessivo estúpido
que queria a irmã para si próprio.
— Eu perdi alguma coisa? — Minha voz ecoou forte e Lake pulou,
arregalando os olhos. Não sei se ela chegou a perceber, mas deu um passo
para longe do homem. — Quem é você?
— Oi, cara! Sou Luca. — Ele estendeu a mão.
Encarei Lake.
A porra do cara que Rocco queria que ela casasse? Sério?
— Lake, entre, agora — lati, tenso, mas Silk se aproximou e tocou
minha coluna. — Eu mandei você entrar.
— Eu vejo você outra hora, Luca. Preciso resolver alguns problemas
com meu irmão.
Um balde de água fria foi jogado em minha cabeça.
Irmão.
Eu era seu irmão.
Sim, doente de merda, só agora você percebeu isso?
— Relaxa, cara. Vou ser seu cunhado em breve. — O sorriso na cara
dele me fez me mover sem perceber, mas a mão da Lake me segurou.
— Vamos. Vamos. — Ela me puxou com firmeza e eu encarei o
imbecil antes de deixar que ela me levasse.
Assim que estávamos longe o suficiente, ela me encarou balançando
a cabeça.
— Não é nada, eu juro. — Suas palavras não surtiram nenhum efeito
em minha raiva.
— Na próxima vez que eu vir você próxima dele, vou matá-lo. Você
me ouviu? — rosnei baixinho, para que apenas ela pudesse ouvir.
Lake engoliu em seco e acenou.
Eu entrei em nossa casa e subi a escada. Tomei banho e quando saí,
Lake estava sentada perto da janela, olhando para a frente. Assim que
terminei de me vestir, bateram à porta.
Caralho.
— Ei, cara. — Acenei para Matteo depois de abrir a porta.
Ele se espreguiçou bocejando.
— Estou indo. Você quer ir conosco?
Assim que Lake desceu da janela com um baque, eu olhei para o meu
irmão. Talvez ficar longe fosse bom. De alguma forma, ver aquele idiota
com ela me lembrou o quão frágil era o que tínhamos. Assim que nossos
irmãos descobrissem, eu estaria morto.
E ela com aquele idiota.
— Eu quero ir! — ela murmurou atrás de mim e eu a encarei.
— Preciso ver com o Rocco, mas faça uma mala. — Matteo me
encarou depois de responder a ela.
— E você?
— Pode ser. — Acenei, sabendo que não deixaria Lake em Oak Park
sozinha.
Meu celular começou a tocar assim que ele saiu, então o peguei e vi
o nome do Yerík. Fazia algum tempo que eu não tinha notícias dele.
— Ei!
Lake saiu do meu quarto para arrumar sua mala e eu me concentrei no
meu melhor amigo.— Como está? — Sua pergunta soou baixa.
— Bem, cara. E você? Seu plano está dando certo?
— Não. Tive que adiar. A garota vai se casar. Vou estudar a logística
para sequestrá-la no dia.
— Você está certo disso? — Me sentei na cama e olhei para a tevê
grande.
— É claro. Eu vou me vingar. Pela minha família.
— O que Aduke acha disso?
Desde que eles se reencontraram na Rússia, estavam mais próximos.
— Ela não sabe e nem vai saber.
Eu não gostava disso, mas Yerík era grande o bastante para saber o
que fazer.
— Lembrou-se de mais alguma coisa?
Sua mudança de assunto me fez respirar fundo.
— Estou me lembrando dos meus irmãos. Só isso, por enquanto.
Lembrei da minha infância com eles e de odiar meu pai.
Mas para isso eu não precisava de lembranças.
Eu odiava Ettore Trevisan pelo fato de ele ter tocado em algo que
não deveria, e se já não estivesse morto, eu o torturaria por dias até me
cansar e o mataria, arrancando sua cabeça.
— Se concentre e vai conseguir.
Romeo queria me levar ao médico, mas Lake o impediu. Ele não
havia mais tocado no assunto e eu queria que tivesse.
— Eu estou bem. Está tudo bem.
Yerík não empurrou o assunto. Quando desliguei, enviei uma
mensagem a Romeo perguntando se podíamos ir ao cara hoje. Ele respondeu
que precisava ver com ele.
Uma hora depois, eu tinha um lugar para ir, antes de Oak Park.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANOS ATRÁS...
 
O som do portão abrindo foi ruidoso, mas ignorei e continuei a
arrastar o corpo pesado. Levei-o com esforço pelo galpão, e quando cheguei
a outro portão, dessa vez um na lateral, puxei o corpo e empurrei escada
abaixo.
Minhas mãos estavam cheias de sangue e minha blusa escura, úmida.
Sangue. Dele.
Puxei-o para um tipo de cela no andar de baixo e abri o saco preto.
Seu rosto estava completamente desfigurado. Nariz para o lado, quebrado
em diferentes pontos. Seu lábio, partido, sangue inundando sua boca ferida.
Eu o joguei para fora do saco.
Minha pulsação era calma, quase como se tudo que eu estava fazendo
fosse algo normal e corriqueiro. Não era.
Eu odiava violência. Queria fugir, sair de Chicago e nunca retornar,
mas meus irmãos jamais permitiriam isso.
Me afastei, peguei um balde com água e joguei em seu rosto.
— Acorda.
O homem não se moveu, seus olhos nem se abriram. Eu segurei seu
pescoço e o ergui. Não sabia de onde veio a força, mas ela apareceu.
— Acorde, seu pedaço de merda.
Seu olho roxo abriu um pouco e eu o sentei na cadeira, prendendo
seus pulsos.
— Onde estou? — Sua voz forte hoje estava fraca, abatida.
Era assim que eu o queria. Fraco.
— No inferno, e eu prometo que nesse, o diabo sou eu.
Ele piscou e eu ergui o queixo. Diversão brilhou em seu olhar.
— Você?
— Sim, eu. — Empurrei minha faca em sua coxa e ele gritou.
Peguei os equipamentos para o manter vivo e comecei a trabalhar,
furando-o e prometendo a mim mesmo que antes da sua morte, eu o
transformaria no rato.
O único.
 
O homem estalou os dedos diante do meu rosto e eu gritei, me
sentando rapidamente. Romeo se ergueu da cadeira e andou até mim, com os
olhos semicerrados.
— Ei, calma. — O médico, ou o que diabos ele era, colocou a mão
no meu ombro.
— Não me toque. — Me ergui da cadeira e saí em direção à porta.
Romeo demorou alguns minutos, mas logo me encontrou em seu
carro. Meu irmão se aproximou e se abaixou até a janela, inclinando a
cabeça.
— O que lembrou?
O que lembrei? Fechei meus olhos e o rosto desfigurado me fez
respirar profundamente.
— Não quero falar sobre isso.
— O.k. Você quer voltar a fazer isso? — Seus olhos iguais aos de
Lake quase me sufocaram. Eu queria me lembrar, é claro. Quem era aquele
homem? Por que eu o machuquei e, mais importante, onde ele estava?
Eram muitas perguntas e poucas respostas, então logo respondi meu
irmão.
— Sim.
— Vou avisá-lo.
Romeo entrou no carro e nós fomos embora.
 
— Onde você estava? — Lake abriu a porta da casa de Matteo assim
que cheguei a Oak Park.
— Onde estão todos? — perguntei, entrando enquanto ela me seguia.
— Saíram para a casa da amiga da Blue. Onde você foi? — Sua voz
me acompanhou pela escada, então parei nos degraus.
— Romeo me levou ao médico. Ele fez uma espécie de hipnose.
— O quê? — Silk gritou, chocada. Segurei seu rosto com as duas
mãos. — Você se lembrou de algo?
— Eu... sim, mas não entendi ainda.
— Era com quem? — Ela engoliu em seco. Eu suspirei e Lake se
afastou. — Era com Hope?
— Lake... — Me aproximei, confuso.
— Não acredito que você se lembrou logo dela! — ela gritou,
fazendo menção de correr, mas segurei seu braço.
— Não me lembrei dela. Era um homem, mas eu não o conheço. Eu
estava fazendo algo que parecia errado, mas na lembrança era certo. Parecia
completamente certo.
— Você vai voltar lá? — Lake se acalmou e eu acenei. — Quero ir
com você na próxima vez.
Eu acenei, puxando-a para mim.
— Vamos para o quarto.
Ela acenou e me guiou até o quarto em que ficaria. Eu me sentei na
cama e caí para trás. Lake se apoiou nas minhas coxas e se ajoelhou entre
elas. Coloquei o braço atrás da cabeça e a observei. Seus olhos brilhavam
de excitação.
— Eles podem voltar a qualquer momento?
— Não. É aniversário do garoto.
Bom.
Lake abriu minha calça e puxou minha cueca, fazendo meu pau
semiduro pular. Sua mão com unhas longas o pegou e eu respirei fundo.
— Chupe meu pau, Silk.
Ela suspirou e abriu os lábios, me levando para o fundo da sua
garganta. Eu segurei seu cabelo e puxei, empurrando no fundo. Lake
arregalou os olhos, sufocada, então abrandei, vendo-a gemer.
— Isso, Silk. Você é perfeita.
Ela me fez gozar com algumas lambidas. Lake engoliu toda minha
porra e eu me ergui, pronto para curvá-la e foder sua boceta apertada.
— Eu menstruei — ela falou ainda de joelhos.
— Me deixe ver. — Mordi meu lábio.
Ela arregalou os olhos e suas bochechas coraram. Lake se levantou e
ergueu o vestido que usava. Seus dedos seguraram a calcinha e abaixaram.
Seu absorvente estava bem ali, havia pouco sangue por ser seu começo.
Meu pau ficou duro e eu levei meus dedos para sua boceta. O sangue
era quente e escorregadio. Lake suspirou quando enfiei dois dedos em seu
canal. Com o polegar, friccionei seu clitóris, ouvindo seus gemidos até ela
morder meu peito, gozando em meus dedos. Quando retirei os dois, Lake me
assistiu, horrorizada, lamber seu sangue.
— Porra, Prince. — Seu peito subia e descia, ofegante.
— Até a porra do seu sangue é bom.
Me afastei dela, fui ao banheiro e me limpei. Quando retornei, ela
entrou e fez o mesmo. Me deitei na cama e respirei fundo. Minha mente
cansada me trouxe mais uma lembrança e eu a deixei vir.
 
ANOS ANTES...
 
As pernas de Hope se abriram, me recebendo com gemidos. Minha
mente se desconectou. Enquanto sentia suas unhas em minha pele, seus seios
em meu peito, eu me apeguei às imagens borradas do cabelo preto, dos olhos
azuis. Da sua boca atrevida.
De cada pedaço dela que eu não deveria pensar.
Quando gozei, eu me imaginei fazendo isso dentro dela.
Imprudente, sujo e cru.
Deixei Hope na cama e corri para o banheiro. Apertei meu pau a
ponto de doer, com vontade de arrancá-lo fora. A dor me cegou
abruptamente e eu soquei a parede, tremendo.
Eu era nojento. Um miserável que merecia a morte de uma maneira
mais horrível.
Saia da minha mente. Pare de brincar comigo.
Implorei, tremendo, enquanto sua risada me atormentava. Fazia dois
anos desde a última vez que coloquei meus olhos nela. Eu me afoguei em
drogas, mulheres e prazer, mas nada era capaz de tirá-la de mim.
Mas essa merda era errada.
Eu não deveria usar imagens dela enquanto fodia outra.
Queria dizer que essa era a primeira vez, mas, foda-se, não era. E
Hope não era a primeira menina a ser usada por mim enquanto eu desejava
que ela fosse outra pessoa.
Que ela fosse minha irmã.
Era tão fodido e distorcido. Nada me envergonhava mais que amá-la.
Sempre seria isso e eu podia me castigar o quanto eu quisesse, isso nunca
mudaria. Porque ela era a minha dona.
Sempre foi.E eu odiava admitir isso. Odiava pensar nisso.
Porque era errado e fodido.
Porém, desde que descobri a sua volta iminente, eu estava por um
fio.
— Baby, você está bem? Posso entrar? — Hope questionou atrás da
porta.
Eu peguei minha toalha e a envolvi em meu corpo. Deixei-a entrar e
dei passos querendo sair do mesmo local. A culpa me corroeu.
— Prince — sua voz me fez fechar os olhos enquanto eu ainda estava
de costas —, por que você sempre faz isso? — A dor em sua voz me fez
desejar socar meu próprio rosto.
— Faço o quê? — Deixei a indiferença subir e comecei a me vestir.
— Nada. Deixa pra lá.
Quando a porta a se fechou, eu respirei aliviado. Assim que cheguei
à sala, ouvi a campainha tocando. Fiquei parado em frente a madeira branca
e encostei minha cabeça, tentando pensar. O som irritante ecoou de novo e,
respirando fundo, abri a porta do apartamento. Então quis engolir minha
própria língua.
— Que diabos é isso? — questionei, olhando para minha irmã.
— Oi, Prince. — Lake me empurrou, jogando o cabelo longo sobre o
ombro.
— Amor... — Hope apareceu no corredor usando apenas uma camisa
minha. — Oh, oi!
— Lake, essa é a Hope. Hope, essa é minha irmã.
As palavras pareciam lava em minha boca.
— É um prazer. — Hope se aproximou de Lake, mas ela apenas me
encarou por longos segundos. Ela sempre fazia isso. Sempre me julgando
com a porra dos olhos. Parecendo se recompor, o olhar dela viajou até
Hope.
— Foi um prazer, Hope.
Lake andou para o corredor como se a casa fosse dela, então eu a
perdi de vista quando Hope me olhou.
— Hum, eu acho melhor eu ir. — Ela andou até onde estava sua
bolsa.
Eu queria dizer que não precisava ir, porém era preciso.
Eu estava fodido.
Assim que Hope vestiu seu short, ela saiu pela porta depois de me
beijar.
Relutei enquanto ia para o corredor. Parei em frente ao quarto de
hóspedes e suspirei, balançando a cabeça. Não vou fazer isso. Andei direto
para o outro quarto para pegar minha carteira e suspirei ao abrir a porta e
encontrar Lake na cama onde eu havia acabado de transar com minha
namorada.
— Você a fodeu aqui? — Sua pergunta me fez arregalar os olhos.
Que. Porra. Era. Essa?
— Lake, que diabos? — grunhi, me aproximando. Fiquei rígido ao
ver seu olhar deslizar pelo meu corpo.
— Fiquei dois anos longe imaginando como você estaria... — Sua
boca se esticou e o sorriso diabólico ali me mostrou que não era ela. Não
era a minha menina.
— Lake! — gritei, fúria nadando pelas minhas veias.
— Você se sente nojento, Prince? Você tem nojo de mim? — Lake
mordeu o lábio antes do seu vestido deslizar. O vislumbre da calcinha
apareceu e eu me odiei por notar. Odiei ela por estar desse jeito.
— Você deve ir para o outro quarto de hóspedes — ordenei, me
aproximando.
Segurei seu braço e a puxei da cama. Arrastei-a até a outra porta e a
empurrei para dentro enquanto ela ria.
— Não sei quem diabos é você, mas não vou ficar escutando as suas
besteiras!
— Foda-se, Prince! — ela gritou no meu rosto, me fazendo sentir o
cheiro do álcool.
Lake puxou o braço, mas eu continuei segurando-a.
— Você bebeu?
— Como diabos você acha que eu viria até aqui? — Ela riu sem
alegria. Senti meu peito doer. O que havia acontecido? — Como eu poderia
te encarar sóbria?
— Dois anos e você precisa de bebida para me encarar? —
questionei, tremendo e vendo seus olhos começarem a se encher de água.
— Dois anos e você não foi me ver.
A dor irradiou pelo meu peito com mais força.
— Eu não podia, porra! Você deveria ter respondido as minhas
mensagens...
— Para quê? — Sua pergunta foi como um tapa. — Para você dizer
que eu era...
— Preciso sair.
Caminhei pelo corredor enquanto ouvia o seu soluço. Sua dor me
cortava. Eu odiava me importar tanto com ela.
— Fuja, Prince. Você sempre fez isso.
Bati a porta fechada e fui para fora. Correndo como o diabo foge da
cruz.
No meu caso, minha irmã era a minha cruz.
 
DIAS DEPOIS...
 
— Não é normal. — A voz suave ecoou e meu corpo ficou rígido. —
A Lake não pode...
— Não toque na porra do nome dela — eu gritei. Hope pulou, seus
olhos arregalados de medo. — Ela não é da sua maldita conta.
Havíamos voltado do Date há alguns minutos e Hope estava furiosa
por Lake a ter confrontado.
— Você é.
Eu ri, balançando a cabeça. Hope me olhou, implorando com os
olhos coisas que não fazia usando a boca.
— Não, não temos nada. Eu venho aqui, fodo você e vou embora.
— Se é só isso, por que você volta?
Porque eu precisava. Necessitava estar aqui da mesma forma como
necessitava respirar. Me enfiar na boceta quente e disposta de Hope me fazia
esquecer a que eu realmente queria.
Doente de merda.
— Porque você abre as pernas e me deixa ficar.
Foi como um tapa e eu sabia que estava sendo um idiota. Sabia dessa
porra muito bem, mas Hope tocou em um assunto proibido.
— Ela me mandou ficar longe de você, ou vai enfiar uma bala em
mim. Você acha isso normal? — Ela ergueu o queixo, me desafiando.
Desde que Lake havia voltado do internato estava fodendo minha
vida e mente. Estava tentando com afinco falar comigo, me alcançar, mas eu
não queria. Não podia perdoá-lo. Não podia ficar perto dela.
Porque se eu ficasse, porra, nós não conseguiríamos manter nossas
mãos para si.
— Ela quer cuidar de mim.
Não, seu escroto. Ela quer você tanto quanto você a quer. Dois
doentes.
Pra porra. Quis gritar para minha mente quebrada, mas apenas peguei
minha camisa.
— Eu preciso ir.
— Vá. Certamente estarei aqui quando voltar. — Hope abraçou a si
mesma, olhando pela janela.
Saí da sua casa e entrei em meu carro. Dirigi por horas até chegar à
mansão. Vi Lake assim que entrei em seu quarto. Minha irmã se ergueu e seus
olhos jogaram punhais em minha direção.
— Você perdeu a porra da sua mente? — perguntei, me aproximando.
— Que porra você quer, Lake?
— Você sabe o que eu quero.
Meu coração parou.
— Quero que me ame novamente. Não me afaste. Sei que cometi um
erro, eu pedi perdão. Por favor, pare de me ignorar.
Era isso. Meu perdão, meu amor. Não a merda distorcida que você
tanto queria.
— Você se lembra daquele dia... quando me levou para o lago?
Era a única lembrança que eu jamais esqueceria.
— Não devemos... — comecei a falar e seus olhos azuis se encheram
de lágrimas.
— Não vou me desculpar por amar você. Eu sei que é errado, mas
não posso, Prince. — Balançou a cabeça com força e mordeu o lábio. —
Senti sua falta todos os dias.
— Por que não falou comigo, então? — Minhas palavras ficaram
rudes. — Eu te enviei milhares de mensagens...
— Eu não podia. — Balançou a cabeça. Estremeci ao lhe dar um
olhar zangado. — Eu... Eu quase falei ao Rocco sobre você...
— O quê?
Falar o quê?
— Sim, mas você está melhor, certo? — Sua pergunta era
desesperada.
— Estou. Sua ida foi a melhor coisa que aconteceu, Lake. — Minhas
palavras a arruinaram, ela nem mesmo conseguiu falar. — Eu estou bem e
quero que você suma da minha vida novamente!
— Você não quer dizer isso...
— Eu quero. — Acenei rapidamente e andei para longe. — Vou
propor casamento a Hope. É o certo a se fazer — menti, ardendo de dentro
pra fora. Eu precisava sair dali.
— É ela que você quer?
— Lake. — Minha mandíbula apertou.
Ela se aproximou e tocou o meu peito, então me empurrou na cama e
subiu em meu colo, me deixando completamente sem reação. Apertei o
colchão entre os dedos e Lake continuou com seu jogo sujo.
— Ela faz você ficar assim? — perguntou, apertando meu pau entre
seus dedos.
Não importava que era errado, ela estava focada no que queria. E,
droga, ela sabia que conseguiria. Porque o inferno congelaria antes de um
Trevisan não ter o que quer.
— Lake... — eu grunhi, olhando-a retirar o moletom, ficando só de
calcinha em meu colo. — Oh, porra! — Fiquei rígido quando ela esfregou
seus seios em meu peito.
— Você pensa em mim quando está com ela, Prince? — questionou,
lentamente beijando meu rosto até estar com a boca sobre a minha. Tão
perto. — Você me imagina no lugar dela...
— Cale a boca — ordeneisufocado, mas minhas mãos subiram com
vida própria e meus dedos seguraram o mamilo rosado e duro. — Não posso
aguentar isso...
— Eu não quero que você aguente — respondeu de volta, atrevida.
Assim que ela balançou seus quadris, eu me inclinei e levei seu mamilo para
os meus lábios. Droga.
Eu nos virei, jogando-a na cama. Suas costas se arquearam enquanto
eu lambia sua pele e mordia o mamilo. Era bom, porra, era perfeito.
— Preciso ver... — Minha voz gotejou necessidade e eu deslizei até
estar entre suas pernas.
Meus dedos afastaram o tecido rendado antes de Lake gritar quando
minha língua serpenteou em suas dobras molhadas. Abri sua boceta e enfiei
minha língua, provando o que era proibido.
O que eu jamais deveria tocar ou desejar.
Mas como minha mente dizia, eu era um doente de merda.
— Lake! — Quando a voz de Matteo ecoou, fiquei rígido e pulei
para longe dela. Minha boca ainda com seu gosto e ela deitada, coxas
abertas, uma prova concreta de que me deixou provar sua boceta.
— Vai lá — mandei, entrando no banheiro e fechando a porta.
Fechei os olhos e soquei o espelho. O vidro quebrou, fazendo uma
bagunça.
Não seja um doente, filho da puta.
 
ATUALMENTE...
 
— Onde sua cabeça foi? — Lake apareceu diante de mim.
Eu respirei fundo, puxando-a para mim.
— Por que não me disse que toquei em você antes da Dinamarca?
Lake se apoiou em meu peito e inclinou a cabeça.
— Você se lembrou... do quê?
— Do dia em que ameaçou Hope. Quando cheguei em casa e lambi
sua boceta. — Minhas palavras rápidas a fizeram suspirar. — Eu quero
saber as coisas.
— Não queria que se sentisse culpado. Fiz minhas decisões mesmo
sendo jovem, eu queria ser tocada por você. Sempre vou querer.
— Eu quero saber de qualquer coisa. Tudo que sabe sobre mim, o
Prince de antes.
Lake se afastou e tocou meu rosto. Sua boca bateu sobre a minha e
depois se afastou, me deixando com o desejo de devorá-la.
— Tem uma coisa, mas eu preciso que você continue comigo. O meu
Prince.
Meu batimento cardíaco aumentou a cada palavra.
— Me prometa.
— Diga. O que é? — Segurei seu pulso e ela mordeu a boca.
— Prometa que Villain não vai aparecer.
Eu sabia que era algo ruim e perigoso. Sabia disso com força dentro
de mim. Lake jamais pediria isso se não soubesse que o que quer que falaria
traria o Villain.
— Eu prometo. Agora me conte.
— Eu prefiro mostrar.
 
 
ANTES...
 
Havia algo que me dominava todas as vezes que eu chegava aqui. Era
uma espécie de segunda personalidade, uma versão de mim que amava a
escuridão, que queria usufruir dela.
Eu chamava essa parte de Villain.
Eu era o príncipe, e ele, o vilão.
Eu era o bom e ele era o mau.
— Podemos conversar? — Ele rastejou até a parede, se encolhendo.
— Não, não podemos, pai.
Seu rosto ficou suave e ele engoliu em seco.
— Acabe com isso. É mais humano fazer isso...
— Por quê? — Me agachei diante dele, inclinando a cabeça. — Você
conversou com ela? Deu a ela a chance de te fazer mudar de ideia?
Uma careta moldou suas feições. Ele a odiava e isso me fazia odiá-lo
muito mais.
— Aquela rata...
Me movi rápido e soquei seu rosto com força, arrebentando o lábio
cortado. Faltava um pedaço, eu cortei lentamente meses atrás.
— Não se atreva — grunhi, balançando a cabeça. Eu vinha
planejando o hoje há muito tempo. Era o dia de vingá-la. — Vamos, pai. Eu
quero que sinta o que ela sentiu.
Eu o ergui e o empurrei na mesa. Prendi suas mãos com corda e
amarrei com força. Fiz o mesmo com os pés e o deixei deitado sobre a mesa,
rígido.
Me sentei diante dele e sorri, relaxando.
Peguei minha arma, coloquei minhas balas e desenrolei uma
camisinha no cano longo. O rosto de Ettore ficou em choque enquanto o
poder inundava minhas veias. Era isso, Villain havia chegado.
— O que você está fazendo? — meu pai gritou.
Eu respirei fundo, encarando-o e rindo dele.
— Nada, pai. Nada que você já não tenha feito.
Me ergui e andei até ficar atrás dele. Desci a calça frouxa que eu o
deixava usar, enquanto seus gritos ecoavam me pedindo misericórdia. Ela
pediu por misericórdia? Eu apostava que sim. Quando encostei o cano em
seu cu, ele ficou completamente rígido. Empurrei, ouvindo-o gritar, me
mandando parar.
— Prince! Pare com isso! — meu pai berrou.
Mas empurrei o restante com força, vendo seu ânus começar a
sangrar.
— Ela sangrou? Certeza que sim. — Minha mente ruidosa me fez
imaginar e eu consegui enxergar vermelho, tomado por raiva. Meus braços
tremiam e eu sentia o mais puro ódio.
— Por favor — ele gritou e soluçou.
Bati minha arma mais fundo dentro do seu rabo enquanto ele gritava,
alimentando meu vilão, fazendo-o sorrir em meio ao caos.
— Cuidado, Ettore, um aperto e eu atiro no seu rabo. — Eu ri ao
falar enquanto ele chorava audivelmente. — Ela chorava assim? Você a
deixava chorar?
— Prince!
— Ou você batia nela pelas lágrimas? — gritei, ficando tenso.
Ele batia nela? Machucava-a além disso?
A fúria latente correu pelas minhas veias. Cerrei meu punho livre e
soquei suas costas diversas vezes ao mesmo tempo que empurrava a arma no
seu cu sangrento. Mas não era suficiente. Machucá-lo nunca parecia
suficiente. Peguei uma das minhas facas e deslizei a lâmina pela pele cheia
de cicatrizes.
O sangue deslizou e ele gritou.
Villain adorou, ele quis se banhar em seu sangue.
— Você nunca mais vai colocar as mãos nela. Nunca.
Ela é minha.
Eu tocarei nela.
Apenas eu.
Doente.
— Prin-prince...
Assim que a voz doce encheu minha mente e os olhos azul-claros
apareceram diante de mim, eu sorri, contente. Ela sempre sabia o que eu
queria, mesmo quando eu não falava sobre isso.
 
Fazia mais de dez minutos que ele me deixou sozinha dentro do
carro, dizendo que viria rápido. Meu irmão entrou no galpão abandonado e
não voltou. Respirei fundo e abri a porta do carro. Dei passos até o portão e
entrei. Ouvi ruídos vindos do final e segui o som até descer a escada.
O lugar era diferente de tudo que já vi. Parecia um depósito, mas
foram instaladas grades que iam do chão ao teto. O ruído agora estava nítido
e era um choro horrível. Era Prince? Não sabia e achava pouco provável.
Ele nunca chorava.
— Você nunca mais vai colocar as mãos nela. Nunca.
As palavras me fizeram ficar rígida, mas a cena diante de mim me fez
vomitar.
— Prin-prince?
Meu irmão estava diante de mim, usando uma faca para desenhar nas
costas do homem que sangrava. Eu não conseguia ver seu rosto porque ele
estava com a cabeça para a parede. Ofeguei, vendo sua mão desaparecer
atrás do homem.
O que ele estava fazendo?
Eu não precisei pensar muito. Quando ele tirou a mão, uma arma
apareceu e no cano dela tinha uma camisinha. Meu estômago revirou e o
Prince sorriu.
Não, não meu Prince.
Não era ele. Aquele homem não era ele. Não podia ser.
— O que você... — comecei a falar, mas o homem ergueu o rosto.
Meu coração parou.
Todo o sangue foi drenado do meu rosto, e para não cair, tive que me
apoiar na parede velha.
Ettore.
Papai.
Não, ele não era o seu pai.
Mas ali havia só o resto do homem imponente que um dia o monstro
havia sido. Cicatrizes moldaram seu rosto, faltava orelha e lábio, e um corte
cruzava seu olho que parecia cego.
— O que... — Minha respiração ficou forte e eu não conseguia
respirar.
Minhas entranhas reviraram, um arrepio atravessou meu corpo e eu
vomitei tudo que comi no píer com Prince ao meu lado, contanto piadas
péssimas.
— Ele está vivo? — Olhei para o meu irmão.
Calmamente, ele colocou a arma e a faca na mesa. Seus passos em
minha direção me deixaram nervosa, mas eu sabia que ele nunca me
machucaria.
— Até o dia em que você quiser.
Como?
Ele tocou meu rosto e eu respirei fundo, meu queixo tremendo como
todo meu corpo.
— Uma palavra sua e eu o mato.
Ettore choramingou e eu o olhei. O ódio em seus olhos era real e
sempre me conduziu desde que nasci. Ele me odiava porque eu era o fruto do
seu fracasso. Ter sua esposa sequestrada e estuprada foi sua ruína.
— Desde quando? — perguntei, engolindo em secoe voltando a
olhar meu irmão. — Desde quando você o mantém aqui?
— Há algum tempo...
Me afastei, fechando os olhos e me inclinando sobre meus joelhos.
— Rocco me mandou enterrá-lo e...
— Como assim? Ele não parece morto para mim — resmunguei
baixo, apertando minhas mãos trêmulas.
Prince segurou meu braço e me puxou para a escada. Suas mãos
seguraram meu rosto e ele se inclinou. Eu podia sentir seu cheiro, meu peito
apertou com ânsia.
— Ele não estava, e quando percebi isso me livrei dos soldados que
Rocco designou para me ajudar. — Prince olhou em meus olhos e sorriu. O
toque da sua pele na minha me fez estremecer. — Eu o fiz sofrer, Lake.
Durante todo esse tempo, eu o fiz sofrer e farei mais pelo resto da minha
vida.
— Se ele já sofreu, por que não o matou ainda?
— Não é suficiente. Torturá-lo por todo esse tempo não foi suficiente
e não será suficiente daqui a uma década.
Seu olhar obstinado não era real. Ele não parecia meu Prince.
— Por você, eu vou fazê-lo desejar nunca ter nascido.
Eu toquei seus braços e depois seu rosto. Ele era lindo, o mais lindo
homem que já vi, e mesmo assim, nesse momento, sua beleza não conseguiu
esconder o homem furioso e cruel dentro dele.
Duas palavras que nunca imaginei usar para falar sobre ele.
Prince Trevisan era bondoso, honrado e fiel. O homem diante de mim
tinha tudo, menos bondade.
— Eu não consigo acreditar que ele está vivo — murmurei, sentindo
meu coração se apertar. Olhei na direção do Ettore, mas Prince segurou meu
rosto, voltando para si.
— Eu sei o que estou fazendo. Ele nunca vai escapar.
— Rocco sabe que ele está aqui? — Minha voz era fraca.
— Não e nunca vai saber.
Me arrepiei com isso.
Rocco me mantinha em uma redoma. Eu não podia sair ou fazer
amigos. Minha vida era enclausurada na mansão. Hoje, foi uma das raras
vezes, desde o dia que beijei Prince no lago, que eu saí de casa. Ele havia
esquecido disso, não tocamos no assunto e hoje estávamos bem. Normal.
Deus, eu não achava que seria possível ser normal. Nunca seria.
Não quando eu amava meu próprio irmão.
— Você quer que eu o mate?
Ele matar alguém?
— Você odeia violência. Sempre odiou... — comecei a falar, mas ele
colocou a mão sobre minha boca, me calando.
— Por você, eu faria o inferno de playground.
Respirei fundo, tremendo com suas palavras e com o significado por
trás delas. Talvez, realmente, ele não quis dizer isso, mas minha mente
distorcida desejou ardentemente.
— Vamos embora, isso foi demais pra você...
Não. Ainda não.
Me virei e caminhei de volta. Ettore ergueu o rosto ao me ouvir se
aproximando. Eu peguei a faca com as mãos trêmulas, mas com uma
obstinação fria e latente.
— Você se lembra daquela noite? — perguntei, arrastando a faca no
alumínio da mesa.
— Lake...
— Não fale o nome dela — Prince grunhiu, então percebi que estava
perto.
— Eu tinha seis anos — murmurei devagar, ouvindo sua voz
nitidamente me chamando de rata e imunda, dizendo que meu lugar era no
esgoto. — Estava nevando, era frio, porra, ainda sinto aquele frio. Você me
tirou da minha cama. Me arrastou para o píer enquanto a neve caía.
A imagem era viva em minha mente. Eu chorava, implorava para
voltar para dentro. Ele apenas me disse para ficar parada.
— Não se mexa até eu dizer que pode.
E assim foram horas parada da neve, usando um pijama fino e
pantufas molhadas. Até ele aparecer na porta da cozinha e me mandar entrar.
Sozinha e morrendo de frio, foi assim que minha mãe me encontrou na
cozinha de casa.
— Lake, o que fazia na neve? — Sua voz era perfeita. Suave,
amável. Ela era perfeita e eu a amava demais.
— Acabei de achá-la, sua filha é louca.
Eu me agarrei a ela assim que ele sumiu e nenhum segundo daquela
noite a soltei. Ela me enfiou em uma banheira quente e entrou comigo,
enquanto eu tremia.
— Minha mãe sempre tentou me proteger de você. — Respirei fundo,
lembrando-me de toda preocupação que ela sentia. — Ela tinha medo de
você. Você a apavorava da mesma maneira que um dia me apavorou.
Ettore ficou rígido e eu ergui a faca, pronta para me vingar. Para
machucá-lo, mas eu não conseguia me mexer ou causar a dor que um dia ele
me fez passar.
Eu não estava pronta.
— Está tudo bem.
Prince retirou a faca das minhas mãos e me puxou contra seu peito.
Ao fazer isso, ele usou a lâmina que eu segurava para empurrar no antebraço
do Ettore.
O grito dele me fez bem, jamais imaginei algo assim.
— Um dia, você vai ser a única pessoa machucando-o.
Eu sabia que ele estava certo, eu sentia em minhas veias que isso
aconteceria, porque Ettore querendo ou não, eu era uma Trevisan, sempre
seria.
— Me espere lá fora.
Quase neguei, mas eu precisava de tempo.
Ele me guiou para a escada, e assim que cheguei ao andar de cima
me inclinei sobre o portão de ferro e vomitei mais uma vez.
Limpei os lábios ainda ouvindo a voz da minha mãe.
Você é corajosa. Intensa e corajosa.
Não sou, mamãe. Nunca fui e nunca vou ser.
Sou fraca. A rata imunda que ele me chamava.
— Lake, estou aqui. — Mãos tocaram em meus ombros.
Eu o senti. Prince me colocou sobre os braços e me levou para o
carro, enquanto as lágrimas encheram meus olhos. Ele se sentou e me deixou
em seu colo.
— Eu sou fraca...
— Não, baby, você só foi machucada demais e tem feridas demais
para sarar.
— Quando vou ficar bem? — perguntei, entre soluços.
Prince segurou meu rosto entre as mãos e eu funguei, enquanto seus
olhos, as íris que eu mais amava no mundo, brilhavam com um tipo de
adoração que eu jamais experimentei.
Éramos jovens. Crianças amando um ao outro.
Crianças pecando ao amar um ao outro.
 
 
ATUALMENTE...
 
Lake bateu as unhas longas que estavam pintadas de preto no painel
do carro enquanto eu seguia o GPS. Matteo foi para Oak Park sem nós dois
depois de eu explicar que precisava resolver uma coisa. Lake inventou que
precisava ir à manicure e iria comigo mais tarde.
— Você está bem, certo? — Sua voz ecoou e eu respirei fundo.
— Você quer me dizer que dormiu com alguém? — perguntei com
calma.
— O quê? Não!
— Você já dormiu com alguém que não fosse eu? — A frase deslizou
e eu sabia que era errado questionar isso.
— Isso não é justo. — Seus olhos procuraram os meus e eu a encarei.
— Já?
— Não, seu idiota! Só seu pai quando me estuprou!
Apertei minhas mãos no volante, respirando fundo ao estacionar no
meio-fio. Estendi minha mão e segurei sua nuca, puxando-a para mim.
Quando Lake ergueu o queixo, indomável, eu descansei minha testa na sua.
— Me perdoe.
— Você já dormiu com mulheres que nem conhecia, tantas que não
poderia contar nas mãos. Não seja um filho da puta comigo.
— Eu sei... quer dizer, eu não sei porque não lembro. Mas, Silk, eu
só respiro você. Em todas as vezes que fodi alguém era desejando que fosse
você.
— Porra, isso é reconfortante. — Ela tentou se afastar, mas segurei
sua nuca com mais força. — Me solte.
— Por que diabos eu faria isso? — rosnei, tenso. — Você me
pertence.
— Prince — Lake grunhiu. Eu me inclinei, lambendo sua pele e
descendo para os seus seios. Mordi a carne com força suficiente para marcar
e a encarei. — Seu idiota!
— Novamente, você me pertence.
Ela revirou os olhos, e quando tentou se afastar, eu a deixei ir.
Voltei a dirigir e assim que o GPS alertou que estávamos chegando, vi
um galpão no final da rua de terra batida com árvores ao redor.
— O que diabos...
Lake não esperou por mim. Ela saiu do carro e eu a segui, vendo-a
abrir o portão com tanta familiaridade que me deixou cauteloso. Assim que
entramos, eu senti que já havia vindo aqui. As lembranças que tive no
médico que Romeo me levou devagar apareceram como flashs. Eu carregava
um corpo, descia a escada pela porta direita, onde agora Silk abria. Eu a
acompanhei, e antes que eu terminasse de descer os degraus, eu sabia quem
estava ali.
— Ettore. — Minha voz ecoou assim que um homem atrás de uma
grade alta apareceu.
Ele estava deitado, dormindo, e acordou em um salto. O corpo magro
e faltando dentes não pareciao homem das minhas lembranças.
— Prince. — Ele se ergueu cambaleando, mantendo o olhar entre
mim e Lake.
Meu olhar foi para ela. Eu estava preocupado, como ela estava se
sentindo? Porém, ela estava impassível andando pelo corredor, até parar e
se virar com os braços cruzados. Seu olhar era frio, completamente distante.
— Eu disse que o traria. — Ela suspirou e encarou Ettore. — Você
quer ver o monstro que o transformou?
— Me explique isso, agora! — eu gritei, vendo o homem se arrastar
pela parede.
— Você o manteve preso, torturando-o por anos até ser sequestrado.
Você me mostrou ele...
As imagens foram aparecendo como um borrão. O dia em que a
trouxe aqui, seu rosto apavorado, eu fodendo-o com uma Glock. Fechei os
olhos e respirei fundo.
— Você o manteve aqui por quê? — Minha pergunta ecoou pelas
paredes frias de concreto.
Eu a encarei e vi a mulher impiedosa que ela havia se tornado. A
garota que eu me apaixonei era apenas uma parte dela, uma pequena em
comparação a essa.
— Eu sabia que voltaria...
— Você deveria ter matado o desgraçado — resmunguei com raiva.
Eu não sabia por que estava tão irritado, se por ela ter continuado na
presença dele, vindo aqui, ou por eu ser o culpado disso.
— Por que eu faria isso? Eu brinquei com Ettore tanto quanto você.
Se não mais. Eu o fiz pagar por cada estupro. Cada vez que me tocou
enquanto eu chorava pedindo para que ele parasse.
Eu apertei meus pulsos tremendo. Eu sabia que ela merecia sua
vingança.
— A cada vez que eu implorava para que alguém me salvasse...
infelizmente, a princesa não foi salva, então ela transformou a coroa dela em
uma arma e se vingou sozinha.
Suas palavras foram como facas perfurando meu coração. Eu devia
tê-la salvado. Eu deveria ter entrado naquele quarto e arrancado a cabeça de
Ettore.
— Saia daqui — ordenei friamente, mas ela se aproximou.
— Me faça sair.
— Me mate. — A voz dele nos interrompeu e eu o encarei.
— Ah, nós vamos. — Ela se aproximou dele e inclinou a cabeça. —
Mas antes eu quero que meus irmãos possam se vingar de você.
— Você enlouqueceu? — gritei, furioso.
— Nos vingamos. Eles merecem isso. Rocco merece pela mãe dele,
Romeo e Matteo por nossa mãe. Pelas torturas físicas e psicológicas que
Ettore os fez passar.
Eu sabia que ela estava certa, mas se eles soubessem o que fiz, seria
uma traição.
— Foi uma traição — grunhi, fora de mim. Lake respirou fundo. —
Eles vão me matar, é isso que quer, Lake? A merda da minha morte?
— Não! Claro que não... — Ela passou as duas mãos pelo cabelo
escuro. — Eu só...
— Vamos matá-lo — falei com raiva e ela se virou para encarar meu
pai.
— Eu só quero morrer em paz...
Um barulho ecoou no andar de cima e eu puxei minha arma. Lake
pegou a dela e nos viramos para a escada. Quando passos foram ouvidos, eu
fiquei na frente dela, mirando.
Não havia fuga. Estávamos presos.
— Fique quieto — rosnei para meu pai e ele acenou e se agachou.
Os passos ficaram mais perto e eu semicerrei os olhos ao ver uma
bota aparecer. Um homem loiro surgiu e eu mirei em sua testa.
— Porra, você sabe se esconder, bebezinha.
Que caralho era esse?
Lake respirou fundo e eu continuei mirando a arma na cara do idiota.
Quem diabos era esse cara, e por que ele estava chamando Lake assim?
— O que está fazendo aqui? — Lake baixou a arma e deu um passo
até ficar ao meu lado. — Está tudo bem. — Ela colocou a mão sobre a minha
pistola, baixando-a.
Ele abriu os braços, quase como se soubesse que ela correria para
ele. Que o diabo o ajudasse, porque se Lake desse um passo, eu arrancaria a
cabeça dele.
— Lionel, o que está fazendo aqui? — ela perguntou, rígida.
— Eu vim ver você. — Ele sorriu e me encarou. — Você deve ser o
irmão dela.
— Saia daqui, agora! — gritei, dando um passo na direção do cara.
Ele franziu as sobrancelhas, mas fez o que mandei. Assim que ele
subiu a escada, eu encarei minha irmã.
— Quem é esse idiota?
— Ele estudou comigo no internato.
O.k., foda-se.
— Vamos embora. — Me virei para Ettore. — Eu cuido de você
depois.
Subi a escada e encontrei o imbecil na frente do galpão. Andei em
sua direção e agarrei sua blusa, empurrando-o contra a parede.
— Não sei quem diabos você é ou o que pretende vindo do inferno
até aqui, mas eu sei de uma coisa: eu vou mandar você de volta. De um jeito
ou de outro.
Soltei-o assim que ele respirou com força, erguendo as mãos.
— Lake era minha amiga. É só isso, cara. Relaxa.
— É bom mesmo.
— Como diabos você veio parar aqui?
Eu me afastei e me virei para ver Lake andando em nossa direção.
— Onde está ficando? — ela perguntou. Lionel falou o nome do hotel
mais famoso de Chicago. — Quando vai embora?
— Não sei, talvez hoje, depois dessa recepção... — Ele me encarou
e voltou a olhar para ela. — Foi bom rever você, Lake.
— Calma, não seja dramático. Meu irmão é ciumento. — Ela
suspirou e seus ombros cederam. — Onde Cassedy ficou? — perguntou.
— No hotel. Eu vim com Christian.
Ele acenou para o carro e um cara balançou a mão, focado em seu
celular.
— O.k. Eu passo no hotel depois. — Ela me encarou e seus olhos me
pediram calma sem dizer uma única palavra. Lake o abraçou e a raiva dentro
de mim aumentou. — Agora vá embora.
Lionel foi embora e eu fiquei parado, vendo seu carro desaparecer.
— Como ele chegou aqui?
— Talvez tenha nos seguido. — Lake respirou fundo. — Lionel é só
um colega de classe. Ele e Cassedy são um casal. Pare de rosnar.
— E o outro?
Lake respirou fundo.
— Christian é só um garoto.
— Você ficou com ele?
— Sim, eu troquei beijos com ele. É isso?
Eu respirei fundo e tentei me acalmar. Como ela havia falado antes,
isso não era justo. Andei para nosso carro e abri sua porta, indo para a
minha.
— Você pode ir comigo ao hotel.
Posso? Eu não ia pedir, porra.
 
Assim que chegamos à nossa casa, avisei a Matteo que só iríamos
para Oak Park no final de semana. Ele levou na boa. Lake subiu para seu
quarto e eu encontrei a sogra de Rocco na sala, olhando o celular.
Ela me ignorou e eu fiz o mesmo. Peguei o controle do videogame e
me virei para subir a escada.
— Você é o mais novo. — As palavras dela me pararam. — Meu
filho e você teriam quase a mesma idade.
Me virei e encarei a senhora Rizzi. Ela parecia Sienna mais velha.
— Eu conheci seu filho — falei rápido e semicerrei os olhos.
Conheci? Flashs de um homem loiro e alto que vivia com um moreno cruzou
minha mente.
— Ele era um bom garoto. A Outfit o arruinou.
— Ele se arruinou. Meu irmão foi benevolente com ele. Até quando
nos traiu, fomos benevolentes. Todos queriam sua cabeça, mas Rocco lhe
deu uma chance.
— Ele amava a famiglia.
— E morreu por isso.
Me virei e subi a escada, deixando-a para trás.
Entrei em meu quarto, sentei-me sobre a cama e vi um papel pardo na
mesinha. Peguei-o e abri o envelope. Assim que retirei, havia um saquinho
com fios de cabelo e um bilhete.
Seu passado.
Sua decisão.
Rocco.
 
Porra. Peguei o saco e respirei fundo. Isso poderia me dizer se eu
pecava ao amar minha irmã. Se isso era um erro grotesco pelo qual nós dois
temíamos. Ali tinha uma sentença, e as duas me deixaram alerta.
Se eu fosse seu irmão de sangue, tudo continuaria igual.
Se eu não fosse, viveríamos com esperança de um futuro.
Um que não tínhamos. Nossos irmãos jamais nos deixariam ter.
Crescemos juntos, mesmo que um papel diga que o sangue de Violetta não
corre em minhas veias, ainda era um pecado.
Um pelo qual pagaríamos, uma hora ou outra.
Guardei o envelope na gaveta e coloquei as mãos na cabeça. Eu
precisava sair e beber. O quanto antes, ou enlouqueceria.
Ainda não conseguia acreditar que Lake havia mantido nosso pai
preso por todos esses anos. Se nossos irmãos descobrissem, eu não queria
nem pensar no que fariam.
— Estou saindo — avisei a ela, depois de tomar banho e me trocar.
— Aonde vai? — Ela saiu do banheiro enxugando o cabelo, vestindo
apenas um moletom e um top que marcava seus mamilos.
— Para Oak Park.
Lake franziu a testa e deixou as mechas negrascaírem para o lado.
— Por quê?
— Eu preciso beber e quero fazer isso com meu irmão. Posso? —
grunhi, irritado.
Ela acenou, jogando a toalha na cama. Lake retirou o top e entrou no
closet, e quando saiu, o moletom também havia sumido. Agora seu corpo
estava coberto por um vestido curto e brilhoso. Ela me encarou e ergueu a
sobrancelha.
— Eu pensei que ia para Oak Park.
— Você se trocou por quê?
— Eu resolvi ir ver meus colegas do internato.
Como é? Apertei meus punhos, querendo curvá-la e bater em sua
bunda. Lake continuou me encarando séria e eu respirei fundo.
— Aproveite sua noite, então. — Me virei e andei para fora.
Puxei meu celular e avisei ao meu irmão que estava indo para o Date.
Ele respondeu que estava me aguardando.
Bom, eu precisava me distrair antes de matar alguém.
 
Viver em um internato faz você se aproximar de desconhecidos,
porque eles são sua única companhia. Christian, Lionel e Cassedy eram isso
para mim. Dividi o quarto com Cass, e quando a conheci percebi que eu teria
que conviver com seu namorado e o irmão dele.
— Oh meu Deus, eu nem acredito que estou com você! — Cass pulou
em meus braços assim que o elevador abriu as portas.
— Nem eu. Como vieram parar aqui? — murmurei, apertando-a
contra mim.
Cass se afastou e seu cabelo loiro enganchou nos brilhos do meu
vestido. Ela tinha minha altura e era a pureza em pessoa, completamente
diferente de mim.
Fui arruinada há anos e a cada segundo era mais.
— Christian teve que resolver alguns problemas da empresa aqui.
Olhei por cima do seu ombro e o seu cunhado estava com os olhos
presos em mim. Quando Lionel apareceu por trás, Cass me puxou para o
sofá.
— Oi, gente! Lil, desculpe pelo meu irmão. — Franzi as
sobrancelhas ao murmurar.
Era estranho falar isso ao mesmo tempo em que tudo dentro de mim
implorava para ir até o Date para vê-lo.
— Não esquenta. — Lionel se aproximou de Cass e beijou seu
pescoço.
— Então, onde fica a diversão dessa cidade? — Cass perguntou,
relaxando contra seu namorado.
— Chris — eu o encarei —, oi. — Me aproximei e passei a mão em
seu cabelo.
— Ei, pequena.
Relaxei quando seus olhos sorriram.
— Vai ter um racha daqui a alguns minutos — falei, dando de
ombros.
Queria ir até Prince, mas era arriscado demais. Então, ir até Navy
Pier serviria.
Meia hora depois aparecemos entre as pessoas. Eu peguei uma
cerveja e virei lentamente. Meus amigos se entretinham com as corridas de
motos enquanto eu dançava com Cass.
— O que estão fazendo da vida agora? — perguntei para a minha
amiga assim que paramos de pular.
— Eu sou professora on-line de francês, e os irmãos trabalham com a
empresa. — Ela sorriu e eu questionei por que não dava aula presencial. —
Você sabe, Lil me leva para todo lugar. Viajamos muito, não conseguiria
manter.
Eu conseguia imaginar. Lionel sempre foi obcecado por ela, ele
entrava todas as noites em nosso quarto apenas para dormirem juntos. Cass
nunca se importou com essa necessidade dele, pelo contrário, ela o amava.
— E você, como está?
— Bem.
Era uma mentira, mas eu não podia despejar meus problemas em
cima dela. Cass nunca me entenderia. Ninguém faria isso.
— Eu trabalho como advogada em um centro comunitário.
— Sério? Isso é incrível, Lake.
Eu também achava.
Assim que sorri para ela, um cabelo loiro passou me chamando
atenção. Quando vi o homem de cabelo escuro e com tatuagens, pedi licença
a Cass.
— Quanto tempo. — Estalei a língua e Kiara se virou.
Eu nunca me acostumaria com a beleza da loira e nem com a do seu
marido. Giulio foi muito importante para mim por um tempo. Realmente foi
meu único amigo nessa cidade por um longo tempo. Hoje, com sua família,
não nos víamos mais.
— Lake, você está linda. — Kiara sorriu e eu devolvi o gesto.
— Onde estão seus irmãos? — Giulio perguntou, olhando por cima
de mim.
— Eles não estão aqui...
— Então você não deveria estar aqui — ele me cortou, semicerrando
os olhos.
— É território da Outfit, estou protegida.
— Com quem você está?
Acenei para meus amigos e Giulio balançou a cabeça, então o vi
pegar o celular.
— Você não é meu pai, Giulio — grunhi, irritada, e revirei os olhos.
— Nós viemos nos divertir um pouco, sem preocupações — Kiara
suspirou —, certo, amor? — Ela pontuou sua voz, então Giulio colocou o
celular no bolso. — Se divirta, Lake, e se você se meter em encrenca, não
esqueça de esquecer que nos viu.
Eu ergui meus polegares para os dois e sorri quando Giulio revirou
os olhos e arrastou a esposa para longe.
Voltei para Cass e encontrei Lil a devorando. Christian estava
encostado em seu carro, olhando a multidão enquanto colocava o cabelo
loiro para trás.
— Se possível — eu me encostei ao seu lado —, você está mais
estranho que antes — murmurei sobre a música, fazendo-o sorrir de lado. —
Estou feliz por terem vindo. Sabe, faz tempo que não nos víamos sem ser no
videogame.
Christian era o que mais continuava próximo por conta das nossas
partidas em games.
— Eu também estou. Você continua tão gata quanto anos atrás.
Eu ri, balançando a cabeça. Se tinha uma coisa que ele sabia fazer,
era deixar alguém sem graça.
— Tire o cavalinho da chuva — murmurei de maneira firme e ele riu,
erguendo as mãos.
Cass e Lil se aproximaram e nós bebemos até meu celular tocar.
Peguei-o e saí da multidão para encontrar um local calmo.
— Oi — respondi a chamada da Blue e me sentei em um banco.
— Prince está bêbado, muito bêbado, e está falando algumas coisas...
Meu coração afundou assim que a voz da minha cunhada ecoou
incerta.
— Eu preciso que venha aqui. Agora, Lake.
Porra.
— Eu estou indo.
Desliguei a chamada e fui até meu carro. Enviei uma mensagem
avisando a Cass que precisava ir e saí do estacionamento. Eu demorava um
pouco para chegar a Oak Park, mas dessa vez foi rápido.
Quando Blue abriu a porta da mansão, eu evitei encarar seu rosto. E
se Prince falou algo para ela? Jesus, eu não queria pensar nisso. Subi a
escada rapidamente e cheguei ao quarto dele. Blue me seguiu e eu estava
tentada a pedir que saísse, mas até eu sabia meus limites.
Era a casa dela.
Abri a porta do banheiro e o encontrei adormecido na banheira. Ele
estava vestido com a roupa que saiu de casa. Me virei para Blue e lhe dei
um sorriso sem graça.
— Ele dormiu. O Matteo chegou?
— Não. Zyon o deixou aqui. — Blue passou as mãos pelos braços.
— Ele estava chamando uma Silk. Você sabe se ele está vendo alguém?
Alívio percorreu meu corpo.
— Não — balancei a cabeça —, não sei. Talvez Matteo saiba?
— Ele não sabe. — Blue olhou para Prince e depois para mim. —
Espero que ela faça bem a ele. Sabe, seja uma garota calma e boa. Prince
tem muita bagagem, acho que ele não aguentaria lidar com alguém que tenha
tanta também.
Sua frase quebrou um pouquinho de mim em milhões de pedacinhos.
Eu queria ser boa para ele, digna dele, mas sabíamos que isso nunca
seria verdade. Eu sempre seria a Lake arruinada e ele sempre seria meu
irmão.
— Ele é forte... — Minha voz soou fraca.
— É claro, mas o amor tem que ser calmo também. — Blue suspirou
e riu, balançando a mão. — O que estou dizendo? Meu relacionamento com
Matteo foi um verdadeiro furacão.
— Mas vocês encontraram a calmaria.
— Mas levou muito tempo.
Blue sorri e se despediu, me dizendo para chamá-la caso eu
precisasse de algo. Quando ela saiu, eu fechei a porta e entrei no banheiro.
Meu apelido estava ali, tatuado, para todos verem.
— O que está fazendo, baby?
Suspirei e tirei sua roupa com muita dificuldade. Quando terminei, eu
o acordei o suficiente para conseguir andar. Vesti uma cueca limpa nele e me
deitei ao seu lado, cansada.
— Silk. — Sua voz ecoou grave.
— Estou aqui — respondi em um fio de voz, tocando seu rosto.
— Eu te amo, bebê. Amo demais.
Meu peito apertou e eu beijei sua boca devagar.
— Mas a culpa e o medo estão acabando comigo.
Fechei meus olhos e respirei fundo quando as lágrimas começaram a
se acumular. Eu também me sentia assim. Estava claro o quanto as omissões,
mentirase medo estavam nos destruindo pouco a pouco.
De dentro pra fora.
— Comigo também.
— Precisamos falar com eles, Silk.
Eu sabia que sim, mas pra quê? Eles matariam nós dois. Nos
separariam para sempre.
— Não, shiu, não precisamos. — Subi em seu colo e me inclinei,
beijando seu lábio. — Eles nunca vão saber. É nosso segredo.
Prince segurou meus quadris e eu o beijei, devagar e faminta. Ele
puxou meu cabelo e, em questão de segundos, meu vestido estava fora e
minha calcinha para o lado, enquanto eu gemia sentindo-o profundamente
dentro de mim.
— Eu te amo, Prince — falei, suspirando.
E ele gozou dentro de mim, me marcando como sua mais uma vez.
— Se um dia eles descobrirem — sua voz torturada alcançou meu
coração —, eu quero que siga sua vida. Se case, tenha filhos, seja feliz.
— Não fale isso... — Comecei calma, mas ele me prendeu na cama,
segurando meu rosto.
— Não me procure, não brigue com eles por mim. Siga em frente.
— Eu nunca vou seguir em frente. Nunca.
Prince fechou os olhos e se afastou. Ele não parecia mais bêbado,
apenas lento.
— Eles nunca machucariam você, somente a mim, por isso, se algo
acontecer, eu preciso que continue sua vida — pediu, enquanto eu me
sentava e o olhava andando pelo quarto.
— Eu os farei pagar...
— São nossa família.
— Você é minha família, Prince — berrei, insultada. — E eu sou
capaz de tudo por você.
Eu era.
De andar sobre o fogo, ou jogar quem quer que fosse nas chamas.
Não importava.
Nada importava para mim além dele.
— Você não entende? O que fazemos é um erro.
Não deveria doer tanto, já que era a verdade, mas doeu ouvi-lo.
— Então, por que você volta? Por que você sempre volta? — gritei,
enquanto meu rosto recebia as lágrimas grossas.
— Porque — Prince balançou a cabeça e se inclinou sobre a mesa,
de costas para mim — eu não me vejo sem você. É sufocante imaginar que
eu não posso mais te tocar.
Solucei e fechei meus olhos, destruída. Isso sempre seria nossa ruína.
Nós sabíamos disso.
— Prince? — Matteo chamou na porta, então me ergui, vesti minha
roupa e limpei meu rosto, enquanto Prince pegava uma calça de moletom.
— Oi, cara — ele respondeu enquanto eu me deitava e fingia dormir.
Tentei respirar devagar e prestar atenção no que eles falavam.
Matteo queria saber se ele estava bem e depois mudou de assunto.
— Você deveria sondar com ela sobre o que te falei — Matt
resmungou e eu franzi as sobrancelhas. — Precisamos ter controle sobre
Rosemont. E o casamento dela pode nos fornecer isso.
— Ela nunca vai aceitar, você sabe disso.
— Ela vai se casar com ele, querendo ou não. Rocco só quer que
isso seja de modo pacífico.
Oh meu Deus!
Eles queriam realmente me casar com Luca.
Assim que Matteo foi embora e a porta se fechou, eu fingi que tinha
adormecido. Prince apenas se deitou, me puxando para o seu peito. Eu evitei
afastá-lo e dizer que ele não deveria ter escondido isso de mim.
Evitei, porque eu sabia que isso era algo que apenas Rocco Trevisan
poderia me explicar e desfazer.
 
— Você está bem?
Eu estava?
Desde que saí da casa do Matteo, sem falar com ninguém, eu estava
flutuando em minha mente. De tanto pensar, parecia que nada fazia sentido.
— Você sabia da pretensão do seu marido e do irmão dele? —
questionei a minha irmã. Lunna era tudo que eu não era – amável, fácil de
lidar e bondosa.
Ela arregalou os olhos, confirmando, então desviei meu olhar. Havia
vindo a sua casa em busca de uma fuga, mas parecia que em qualquer lugar
que eu fosse, as pessoas sempre serviriam a Outfit. Ninguém queria lidar
comigo.
— Romeo e Rocco querem seu bem. Eles estão tentando fortalecer
nossas fronteiras, nos proteger...
A perfeita mulher da máfia.
Lunna Trevisan.
— E quem vai me proteger? Eu nem conheço esse homem direito —
falei, balançando a cabeça.
— Nunca duvide do que sou capaz de fazer por você. — Lunna
segurou minha mão. — Eu, Si, Blue. Nós te amamos e nunca vamos deixá-la
sozinha.
Eu sabia disso, mas a teoria era completamente diferente da prática.
— Sienna e eu encontramos o amor nos casamentos arranjados dentro
da máfia. — Lunna tirou meu cabelo da frente do rosto e sorriu. — Você
também vai, Lake.
Eu já o havia encontrado.
No meu irmão.
— Quando? — perguntei, afastando minha mão da sua.
— Em dois meses, Lake.
Dois meses e eu seria embalada a vácuo em direção à forca.
Parabéns, Lake.
 
Eu estava fugindo de todos há quase uma semana. Não vi mais
Prince, porém suas mensagens estavam lotando meu celular. As chamadas,
então, incontáveis. Eu só queria ficar sozinha até ser tarde demais. Esse dia
havia chegado, pelo que parecia.
De terno, Rocco entrou em meu escritório no centro comunitário. As
únicas vezes que o vi de terno durante o dia foi em seu casamento e no dia
que foram buscar Lunna na Rússia.
— O lugar realmente ficou bom. — Ele rodou o dedo no ar e eu
engoli em seco.
— Sim — respondi, me apoiando na cadeira.
Romeo surgiu na porta e sorriu apertado. Eu sabia o que ambos
vieram fazer.
— Eu tenho vários motivos para fazer o que você já deve saber. —
Meu irmão mais velho se sentou e apoiou seus pés na minha mesa, como se
ele fosse o dono do lugar.
— Território, Outfit, poder... incontáveis, realmente. — Imitei seus
movimentos, encarando-o.
Rocco sorriu e olhou para mim em silêncio por um longo tempo.
— Eu amei você no dia em que a conheci. Você era pequena demais,
olhos azuis demais e o cabelo muito escuro — Rocco murmurou e meu
coração parou. Ele nunca falou sobre isso. — Violetta me disse para
proteger você. Disse a nós dois. — Ele apontou para Romeo. — Nós
falhamos com você, Lake. E nunca vamos nos perdoar por isso.
— Isso é passado...
— Não sinto como se fosse. Dói hoje da mesma maneira que doeu
aquela noite — Romeo falou e se aproximou, sentando-se na ponta da mesa.
— Você era nossa garotinha, Lake. Isso nunca deveria ter acontecido.
— Mas aconteceu e não é culpa de vocês. Nem minha.
Minha garganta fechou e meus olhos arderam.
Eu sofria até hoje todos os resquícios daquela noite, mas eu não
deixava isso definir minha vida. Um dia eu fui a vítima, hoje não mais.
— Eu já sei do casamento. Então, vou poupar vocês de falarem sobre
isso. — Respirei fundo e pigarreei. — Se vocês disserem que farei isso
apenas se eu quiser, podemos conversar, mas eu acho que não, então não se
preocupem, eu farei o meu dever.
Rocco respirou fundo e colocou as mãos atrás da cabeça.
— Eu vejo um fogo em você que nenhum de nós tem. — Ele bateu os
pés no chão e se ergueu. — Eu garanto a você que vai ser feliz. Nós dois
vamos garantir isso.
— Eu não vou — sussurrei baixinho, mas os dois ouviram.
— Por quê? — Romeo questionou de maneira firme.
— Porque eu — pigarrei novamente — amo outra pessoa.
Assim que ambos franziram a testa, eu me arrependi de ter falado.
— Se você ama alguém, jamais vamos forçá-la a ficar com outra
pessoa. Quem é o garoto? Podemos conhecê-lo...
Minha cabeça girou e eu neguei rapidamente.
— Estou brincando. — Me ergui e encarei os olhos desconfiados. —
Eu vou me casar com Luca.
Rocco se aproximou mais e segurou meu rosto.
— Seja sincera.
— Estou sendo. — Segurei suas mãos e sorri. — Eu não quero me
casar, mas irei porque sou leal a vocês e a Outfit.
Rocco relaxou e eu me afastei, respirando fundo.
— Agora saiam daqui, eu preciso trabalhar.
Ambos acenaram e em segundos fiquei sozinha. Meu estômago
esfriou e meus olhos começaram a lacrimejar. Sem conseguir me conter,
solucei e me curvei sobre a mesa, tremendo.
Cresça, Lake, você é uma Trevisan.
Ser um Trevisan sempre foi mais que coragem e força, sempre foi
sobre aceitar a maldição e se banhar no sangue que ela representava.
Eu estava me banhando, mas as lágrimas me acompanhavam como um
lembrete vívido de que eu queria mais.
 
— Eles disseram a você?
A voz rígida ecoou assim que abri a porta, quando voltei do almoço.
Prince estava encostado na minha mesa, com os braços cruzados. Ele
vestia um casaco preto longo, calça preta e uma camiseta branca.Seus olhos
fixos em mim, o semblante tão sério como nunca vi.
— Eu ouvi o Matteo falando pra você, e hoje, Romeo e Rocco
vieram aqui — falei de uma vez e andei até minha cadeira, colocando a
minha bolsa lá.
— Vamos encontrar uma maneira. — Prince se virou. — Não sei
ainda, mas...
— Eu vou me casar com Luca.
Silencioso, ele semicerrou os olhos e eu sustentei seu olhar. Prince
balançou a cabeça e riu sombriamente.
— Como você disse noites atrás, isso está nos matando — eu disse,
desviando os olhos dos dele.
— Olha o que está falando, Lake. Presta atenção na merda que está
falando! — ele grunhiu, rígido.
Eu o encarei. Apenas olhando para ele eu podia ver que Villain
estava em guerra com o meu Prince.
— Não o traga para isso — pedi e respirei fundo. — Somos irmãos.
O meu sangue corre em suas veias e isso... Prince, é errado.
— Você me disse que era um dos menores erros que já cometemos...
Sim, eu disse.
— Isso não deixa de ser um erro.
— Eu sou apaixonado por você, mas ele... ele é insano. Ele nunca vai
te deixar ir.
— Vocês dois precisam — afirmei, reunindo forças.
Prince fechou os olhos e respirou fundo. Quando os abriu, não havia
mais um centímetro dele, apenas Villain.
— Eu vou impedir isso, Silk. — Ele se afastou da mesa,
completamente sério. — Eu estarei morto no dia que outro homem colocar as
mãos em você.
Ele se virou e saiu da sala, levando meu ar nas mãos.
Ao ouvir meu celular tocar, eu o cacei dentro da bolsa. Quando vi o
nome da Kiara, estranhei. Não éramos próximas, muito pelo contrário.
— Ei, hum, Giulio comentou sobre seu noivado...
Merda.
— Fiquei sabendo há pouco tempo também. — Sentei-me na cadeira
e respirei fundo. — Está aliviada por eu estar sentindo o mesmo que você
anos atrás?
— Não, apenas sinto por você.
Fiquei em silêncio, confusa.
— Há algo na solidão da mulher mafiosa que ninguém consegue
enxergar. Somos reduzidas aos nossos maridos. Ao que é importante para a
máfia. Ninguém questiona nossos desejos — Kiara falou baixo e eu engoli
em seco. — Eu espero, na verdade, quero muito que você seja feliz.
Nenhuma mulher deve passar a vida em uma relação sem amor.
— Obrigada, Kiara. Isso é... importante.
— Um dia, eu vi o quanto você é forte e leal a quem ama... a Prince.
Aquele desespero, aquela necessidade... sua família tem sorte por ter você,
Lake. Não se esqueça disso.
Ela desligou e eu continuei segurando o celular, lembrando-me da
noite que implorei para que ela aceitasse Giulio para que eu pudesse ter meu
irmão de volta.
Obrigada por me fazer lembrar quem eu sou, Kiara.
 
À noite, meus irmãos se reuniram para jantar e deixar meu noivado
às claras. Eu estava com um vestido preto que agarrava meu corpo até os
quadris. Uma fenda se abria ali, mostrando minha coxa pálida. As alças eram
finas e meus seios estavam empinados.
Passei a mão pelo cabelo e encarei o batom vermelho no espelho. Os
cílios estavam longos, e os olhos ainda mais azuis deixavam a cor escarlate
viva.
Calcei meus sapatos, e assim que Sienna me chamou, desci a escada.
Quando cheguei ao meio, vi Luca. Eu sabia que Rocco apressaria as coisas,
por isso não me surpreendi com sua presença.
O homem sorri e eu devolvi o gesto, evitando procurar quem eu
realmente queria ver. Cada decisão hoje era pensada para ele. Não para o
meu noivo.
— Lake Trevisan — Romeo falou ao lado da esposa.
— É um prazer revê-la. — Luca sorriu e beijou minha mão.
— Também. — Acenei, tentando ficar calma.
Nós saímos para a sala e nos sentamos. Apenas nesse momento
percebi que Prince não estava aqui. Todos estavam, menos ele.
— Onde está o Prince? — questionei, incomodada.
Meus irmãos olharam entre si. Sienna foi a única capaz de me
responder.
— Ele teve uma emergência com o Yerík.
Emergência?
Acenei calmamente e encarei Luca. Ele era loiro e mais velho que eu
alguns anos. Beleza não faltava no cara, mas algo, sim. Ele não era meu
Prince.
— Com licença. — Rocco se ergueu assim que seu celular tocou.
Imediatamente, Romeo e Matteo fizeram o mesmo. Meu estômago
rodou e eu sabia que era Prince. Olhei para minha irmã e Lunna sustentou
meu olhar, negando saber de algo.
— O jantar será servido.
Nos erguemos e fomos até a sala de jantar. Luca se sentou diante de
mim e eu tentei ser simpática, mas algo sobre Yerík e Prince não estava me
deixando relaxar. Meus irmãos voltaram para a sala de jantar apenas para
dizer que precisavam se ausentar.
— Fique à vontade, Luca. — Romeo apontou para mim e o loiro se
ergueu.
Meus irmãos não voltaram a se sentar, prontos para saírem. O capo
de Rosemont me encarou e sorriu. Quando ele tirou uma caixa de veludo do
bolso, eu apenas aceitei meu destino.
— Lake, você aceita ser minha esposa?
Meus olhos queimaram, eu quis gritar, espernear e fugir, mas não
podia.
— Sim.
Três letras, uma palavra.
Minha ruína.
Luca colocou o anel em meu dedo e eu me ergui. Sorri para minha
família e minhas cunhadas sorriam, contentes, mas com um brilho extra de
preocupação.
— Marcaremos outro jantar, Luca. — Matteo deu a mão a ele e todos
saíram rapidamente.
— Quem ligou para Rocco? — questionei, nervosa.
Sienna respirou fundo antes de responder:
— Prince.
Droga.
— Eu vou sair — avisei, andando para a escada.
Peguei meu casaco e duas armas. Assim que voltei para baixo,
Sienna, Blue e Lunna estavam andando, preocupadas.
— Se eles voltarem, eu estou dormindo.
— Lake, não acho...
Eu ignorei Lunna e vi Blue morder a unha.
— Alguma coisa aconteceu, eu sinto.
As três suspiraram e eu saí de casa. Minha intuição cresceu quando
saí e vi menos da metade dos seguranças. Entrei em meu carro e dirigi para
longe, pisando no acelerador.
Liguei para Prince, apertando o volante. Chamou duas vezes e
quando ia cair na caixa postal ele atendeu.
— Onde está? — perguntei, tremendo por dentro.
— Onde você está? — Sua voz aumentou e eu percebi que ele estava
correndo.
— Indo até você.
— Volte para a mansão. — Sua urgência estava me deixando louca.
— O que aconteceu? Onde você está?
— Ele fugiu, Silk. Não sei como, mas ele não está aqui.
Tudo aconteceu em câmera lenta. Meu pé no freio, minha queda
brusca contra o volante e meu carro brecando. Prince gritou e eu senti uma
nova pancada, dessa vez, um carro batendo no meu.
Ratinha.
Abri meus lábios e gritei como nunca, berrei por segundos infinitos.
Tremi por dentro e ouvi pessoas ao redor do carro.
— Lake! — Prince gritou e eu percebi minhas lágrimas.
Reuni forças, parei de gritar e fechei meus olhos.
— Estou indo.
Pisei no acelerador e saí em alta velocidade. Eu não sabia como eu
poderia encarar meu demônio fora da gaiola, mas eu o faria e eu o colocaria
de joelhos diante de mim.
Assim que estacionei o carro diante do galpão, vi meus irmãos
juntos. Prince tinha o rosto machucado e eu sabia que havia sido um dos
nossos irmãos.
— Você quer brincar de rainha, Lake? — Rocco gritou quando parei
diante dele.
— Eu não preciso brincar.
Peguei minha arma e entrei no galpão. Desci a escada e olhei para
cada pedaço do lugar. Havia sangue na cela de Ettore. Vi as pegadas de
sangue até a escada, mas havia duas. Uma de chinelo e outra de uma bota.
Não sabia quem poderia ter sido, mas eu nunca saberia explicar o
motivo de Lionel aparecer em minha mente. Uma imagem fugaz, mas que
dizia muito. As botas que ele usou no dia que saímos juntos.
Entrei no sistema de câmeras que havia no galpão e não me
surpreendi ao ver meu colega de internato entrando aqui e saindo com Ettore.
Peguei meu celular e liguei para ele. Chamou uma vez.
— Diga a Cass que sinto muito.
— O quê? — ele perguntou, confuso, com barulho de carro ao fundo.
Subi a escada e corri para o meu, sedenta.
— Por matar você.
Desliguei a chamada e pisei no acelerador. Quando entrei no prédio
grande, meus irmãos já estavam ao meu redor. Assim que as portas se
abriram, eu vi Christian e Cass. Ela se ergueu sorrindo, mas parou quando
me viu.
— Lake? O que...
— Onde está Lionel?
Christian se ergueu do sofáe olhou para os meus irmãos.
— Por que você quer saber?
— Ele pegou algo que me pertence.
Christian engoliu em seco e Cass se aproximou de mim.
— Quando ele aparecer, diga a ele que vou devolver o que pertence
a ele quando ele fizer o mesmo. — Matteo agarrou Cass sem eu ter que
explicar nada.
— Lake! — Cass gritou e eu ignorei, mesmo doendo no mais fundo
do meu ser.
— Tique-taque.
 
Assim que chegamos ao Village, Rocco quebrou seu silêncio.
— Vocês perderam a mente? — ele gritou, possesso.
Eu admito que esperei isso até antes.
Cassedy estava em um quarto no andar de cima, com Giulio a
vigiando. Meu coração reclamava disso, queria ir até ela, mas eu sabia que
precisava do apoio do Rocco.
— Eu fiz isso — Prince falou pela primeira vez e eu evitei encará-lo.
— Eu me lembro perfeitamente que decidi não o enterrar, Lake não tem nada
a ver com isso...
— É óbvio que ela tem. Ela o manteve aqui por anos, enquanto você
estava na Dinamarca, pelo amor de Deus! — Romeo rugiu e eu estremeci por
dentro.
— Eu queria me vingar e o fiz! — falei de maneira firme e
semicerrei os olhos. — Eu o torturei por anos e não me arrependo de nada!
— Você cresceu, criou uma língua de serpente e agora quer gritar
comigo, Lake? — Rocco se aproximou tanto que encostou sua testa na minha.
— Quem é você?
Você.
A palavra estava na ponta da minha língua, mas segurei porque o
fogo estava aceso em seus olhos. O demônio estava presente.
— Eu sou seu irmão, mas não é ele que está falando com você agora.
É o seu Don, me respeite, porra! — ele gritou, segurando meus ombros. —
Eu e cada filho da puta nessa sala vingamos você. A nossa maneira. Prince
não tinha permissão para fazer o que fez!
— Grite comigo! — Prince entrou na minha frente. — Grita na porra
da minha cara, não na dela!
Gritei quando Rocco socou Prince com força e o empurrou até a
parede, furioso.
— Eu vou matar você, seu merda! É isso que você quer? A morte por
sua traição?
— Por favor, assim me tira da minha miséria. — Sua voz soou firme.
Meu coração latejou, doente. Me inclinei, agarrando a minha barriga.
A dor ali parecia emocional, mas assim que minha mão tocou a pele, foi
como fogo.
— Vamos nos acalmar. — Matteo passou por mim e ficou ao lado
dos dois. — Ettore atrai os piores sentimentos de nós, mas somos família.
Nós ficamos quando ele caiu, e continuaremos aqui quando o matarmos.
Dessa vez, definitivamente.
— Matteo está certo. — Romeo passou por mim também e eu soltei o
ar, tremendo. — O imbecil vai devolvê-lo assim que perceber que a garota
dele está aqui.
— Sim, tudo bem. — Rocco soltou Prince. — Mas nunca mais você
vai agir assim comigo. Eu dou minha vida pela de vocês, mas eu exijo
respeito. De todos. — Ele se virou e olhou entre nós. Suas sobrancelhas se
juntaram e eu vi a escuridão me engolir.
 
 
Lake despencou no chão e eu corri até ela, assustado como nunca.
Peguei seu corpo pequeno nos braços e ela gemeu. Quando a apoiei e subi
seu vestido, vi uma mancha roxa. Ela grunhiu de dor, desacordada.
— Merda. Foi no acidente de trânsito, talvez... — Matteo olhou a
mancha em sua barriga e eu a cobri novamente.
— Vou levá-la para o médico — avisei e andei para o elevador.
Rocco me seguiu com Romeo.
— Fique de olho na garota — Rocco falou para Matteo e ele acenou,
pedindo que avisassem sobre Lake.
Romeo dirigiu em silêncio no começo, mas depois abriu a boca.
— Ettore tem um poder indescritível de nos desestabilizar. Rocco
está insultado e magoado por sua traição, e ser o homem que matou a mãe
dele e estuprou a irmã, piora tudo.
Eu sabia disso.
— Eu não consigo dormir desde que descobri que ele a estuprava —
confessei, minha garganta fechando. — E mesmo que eu não me lembre, sei
que uma parcela enorme do que esqueci era também dessa sensação horrível
de culpa, de remorso.
Romeo me olhou pelo retrovisor.
— Eu a amo mais que a mim, Romeo. Não consigo lidar com isso,
acho que nunca vou conseguir lidar com o fato de alguém ter machucado
Lake.
— Você, eu, Rocco, Matteo... todos nós sentimos isso.
— Eu...
— Ela é nossa menina, Prince. Nossa garotinha. Ela nunca vai
crescer aos nossos olhos.
Suas palavras deveriam me alegrar, mas não fizeram isso. Romeo
nunca me perdoaria por tocar nela. Por desejar algo que deveria ser puro,
intocado e perfeito. Algo que eu jamais poderia manchar com minhas mãos
cheias de pecado.
— Ettore vai morrer. Eu prometo — afirmei, mudando de assunto.
Assim que chegamos ao complexo da nossa casa, eu a levei para o
centro médico. Uma doutora apareceu assim que coloquei Lake sobre uma
mesa. Rocco e Romeo nos seguiram e eu expliquei o que houve.
— Ela está com uma contusão.
A médica explicou que faria mais exames, mas que não deveríamos
nos preocupar. Rocco e Romeo voltaram para o Village enquanto eu me
sentava ao lado dela. Peguei sua mão e a trouxe para meus lábios, mas cessei
meus movimentos quando vi o anel de noivado.
Eu tentei esquecer que ela estava prometida a outro homem, que em
breve ela seria dele e não minha. Ela entraria em uma igreja, teria filhos e
um casamento. Ela teria tudo que merecia enquanto eu assistiria a tudo,
destruído.
Sufocado, afastei sua mão e vi seus olhos abertos, focados em mim.
— Ei, o que está sentindo? — perguntei, engolindo com força.
— Apenas uma dor na barriga. — Seus olhos procuraram minha mão,
mas eu as escondi sobre minhas pernas, por baixo do casaco. — E você?
— Eu estou bem. — Acenei e peguei meu celular.
Havia duas chamadas do Yerík. Pareceu que minha desculpa para não
participar do jantar de noivado atraiu meu melhor amigo. Enviei uma
mensagem e esperei.
— Yerík está bem?
Ergui meu rosto e franzi as sobrancelhas.
— Si me disse que houve uma emergência com ele.
Lake segurou meu olhar e eu engoli com força.
— Não posso ver outro homem colocar um anel em seu dedo. Nunca.
Ela respirou fundo e estendeu a mão, a mesma com a aliança. Eu a
encarei, sem me mexer.
— Você acha que eu quero me casar com Luca? — Sua voz quebrou e
sua mão caiu. — Eu quero você. Sempre foi você e sempre vai ser.
Ela fungou e eu encarei suas lágrimas.
— Em outras circunstâncias, eu escolheria você sem hesitar. —
Desviei os olhos e ela tocou meu cabelo. — Mas somos irmãos, Prince.
E se não fôssemos? Os fios de cabelo ainda me atiçavam, mas eu
queria realmente saber?
— Eu não posso ficar e assistir você com ele, Lake — falei sério e
me ergui. — Vou caçar e matar Ettore, preciso disso, mas depois — olhei em
seus olhos azuis e toquei seu rosto perfeito — vou ficar com Yerík.
— Prince... — Lake segurou meu braço, com os olhos arregalados.
Eu suspirei, me inclinando.
— Eu amo você, Silk. Mas, por favor, não me peça para assistir isso
— implorei, como um Trevisan nunca deveria fazer. Mas eu fiz, porque Deus
e o diabo sabiam que se ela pedisse, eu ficaria.
Iria morrer aqui, assistindo-a ser de outro homem.
— Me leve com você. Vamos fugir. — Seu lábio tremeu e eu toquei
sua testa bonita, deslizando por sua bochecha. — Prince, por favor...
— Ele nos encontraria. Poderia demorar anos, mas ele o faria.
— Não me importo...
— Mas eu, sim. Não vou submeter você a uma vida fugindo. O meu
amor é carnal, mas ainda sou seu irmão, ainda devo proteger você.
Ela me agarrou, enfiando o rosto na curva do meu pescoço,
soluçando como a garotinha que Romeo a definiu. Como nossa menina
machucada.
Eu a segurei firme, tentando me fundir a ela.
No fim, eu não consegui.
 
 
Prince me deixou sozinha em algum momento depois que adormeci.
A médica me deu alta e disse que precisava tomar medicação. Eu peguei os
frascos e andei para casa enquanto recordava as palavras dele.
Ele ia embora.
E eu não podia culpá-lo, eu jamais aguentaria vê-lo com outra
mulher. Eu sabia o quanto ia ser dolorido para ele estar aqui, ver Luca e eu.
E por mais que isso me destruísse, eu tinha que deixá-lo livre.
Assim que cheguei à casa, minhas cunhadas me rodearam com
perguntas e cuidados. Mas eu não fiquei por muito tempo. Eu precisavaver
Cass. Por isso, depois de tomar banho, engolir comprimidos e vestir um
vestido solto para não machucar e um casaco, eu fui para o Village.
— Você realmente está bem? — Rocco questionou, semicerrando os
olhos.
— Me desculpe por ontem, por tudo. Não queria desrespeitar você.
— Toquei em sua mão e me aproximei. Segurei seu rosto e apoiei minha
testa em seu peito. — Me desculpe por deixar o assassino da sua mãe fugir e
por trazer de volta essa dor.
— Oh, garotinha ingênua. — Meu irmão sorriu, segurando meus
ombros. — A sua segurança, dos meus filhos e de Sienna são as únicas
razões pelas quais eu estou furioso. Não posso deixar Ettore se aproximar da
minha família.
Meu coração apertou e eu o abracei com força. Rocco Trevisan
podia ser o demônio, mas ele protegia os seus.
Quando ele me deixou ir, subi para ver Cass. Assim que cheguei,
Giulio me deixou entrar. Cassedy estava no sofá, abraçando as pernas
enquanto chorava.
— Ah meu Deus! — ela gritou, se encolhendo, então ergui minhas
mãos. — Eu não fiz nada... eu não sei o que Lil fez...
— Minha família é a máfia, Cass. — Engoli com força e ela
arregalou os olhos. — Lil pegou algo que eu guardava. Alguém. — Eu a
encarei, me aproximando devagar. — Essa pessoa é horrível, ela me
estuprou quando eu era uma criança, matou minha mãe, torturou meus irmãos
e... me modificou pra sempre. — As palavras saíram enquanto eu sentia as
lágrimas. — Não vou fazer nada contra você. Mas preciso que Lil me
devolva essa pessoa.
— Como... por que...
— Eu não sei também, mas vou deixar você, ele e Chris saírem daqui
ilesos apenas quando ele fizer o que eu e meus irmãos queremos.
— Eu sinto muito por isso, Lake. — Cass soluçou.
Entreguei o celular em suas mãos.
— Ligue pra ele. Dê a localização e diga que estou esperando por
ele.
Ela discou o número tremendo e colocou no viva-voz. Lil atendeu no
primeiro toque.
— Estou indo. Estava fazendo um trabalho para o pai...
— Lake me pe-pegou. — Cass fungou. — Ela vai me matar em duas
horas.
— O quê?
— Eu preciso que você traga o homem que pegou...
— Baby, eu não...
— Duas horas, Lionel. Isso é tudo. Vou mandar a localização. —
Cass desligou e enviou.
Eu respirei fundo e me sentei diante dela.
— Obrigada, Cass.
— Ele vai vir, Lake. Eu juro. — Ela acenou, tremendo, então peguei
suas mãos. — Ele está estranho nas últimas semanas... seu pai o forçando a
trabalhar... eu tentei perguntar, mas ele nunca falava...
— Lil vai ficar bem. Vocês dois.
— Eu jamais imaginei que tivesse passado por tanto, Lake. Eu sinto
muito. — Ela soluçou e eu limpei seu rosto.
— Isso me modificou, mas é parte de quem sou hoje.
— Eu quero ir embora. Quero ficar no meu quarto e dormir uma vida.
— Ela riu, passando a mão pelo nariz. — Obrigada por vir até aqui. Eu
estava com medo.
— Eu sei. — Eu a puxei e a abracei, implorando para que Lil viesse
o mais rápido que pudesse.
Porque uma coisa era minha decisão de não a machucar, outra era
dos meus irmãos.
Saí do quarto e fui até o salão. Assim que cheguei, vi Prince de
costas. Me aproximando mais, vi quando uma mão feminina tocou em seu
braço e depois o abraçou.
Quem era ela? E o mais importante, por que ela estava abraçando-o?
 
Jill estava com o rosto inchado e tremendo. Ela havia descoberto que
Roman foi morto. Só não sabia que havia sido eu a pessoa quem tirou a vida
dele.
— A mamãe... ela me contou, eu... — A mulher soluçou.
— Olha — eu a guiei para um banco —, você precisa se acalmar. —
Segurei seus ombros e Jill acenou, fungando.
— Ela disse que Roman está morto. Que era culpa do seu irmão —
ela sussurrou baixinho e me encarou, parecendo totalmente destruída.
— Não é culpa dele, Jill — falei com firmeza e me afastei.
Minha talvez irmã inclinou a cabeça, franzindo o rosto.
— Eu o matei.
O pouco sangue que circulava em seu rosto escorreu, deixando-a
branca. Não sentia remorso por ter feito isso, Roman me traiu. Me levou
para a morte e eu tinha certeza de que ele me mataria se tivesse tido a
chance.
— O... o quê?
— Tinham levado minha irmã, eu fui buscá-la e Roman fingiu me
ajudar. Ele armou uma emboscada. Se não fosse por meus irmãos... eu
estaria morto no lugar dele.
— Não. — Jill balançou a cabeça e se levantou, porém perdeu o
equilíbrio. Eu a segurei, mas logo fui afastado. — Não me toque!
Ergui minhas mãos, me sentindo torturado por seu olhar.
— Não me toque! Você o matou? Meu irmão... meu irmãozinho... —
Ela piscou e lágrimas grossas escorreram por seu rosto. — Como...
— Eu não queria que estivesse tão magoada...
— Você o matou! Prince, você matou meu irmão.
Eu sabia disso. E não me arrependia, mas decidi não jogar isso em
seu rosto.
— Eu preciso ir...
Jill saiu do Village e eu me apoiei no balcão, engolindo com força.
Uma mão pousou em minha coluna e eu fiquei ereto, me afastando.
— Eu ouvi. — Lake acenou para a saída por onde Jill tinha passado.
— Ela não entende, e por mim, tudo bem.
Minha irmã respirou fundo e eu olhei para sua barriga, preocupado.
Assim que ela dormiu ontem, eu corri de volta para cá, procurando por
respostas.
Eu precisava matar Ettore. Dessa vez, rápido e sem jogos.
— Estou melhor. — Sua voz me fez erguer a atenção para seu rosto.
Seus olhos azuis estavam límpidos e seus lábios molhados vermelhos
e convidativos. Jesus, ela era perfeita. Eu odiava encarar Lake sabendo que
nunca mais a tocaria.
— Alguma novidade com a sua amiga? — Mudei de assunto, parando
de encará-la.
— Cass está assustada, eu já a tranquilizei. Só queremos Ettore e eu
a deixo ir embora com Lil...
— Ele? — Semicerrei os olhos. Ela tinha perdido a cabeça?
— Prince...
— Ele pegou algo meu, me enganou... eu vou matá-lo na primeira
oportunidade — grunhi, rígido.
— Não, você não vai. — Lake engoliu em seco. — Por mim, por
favor. — Sua voz suave alcançou Villain, e o idiota se curvou à realeza
Trevisan.
— O que ele quer com Ettore? Você já pensou nisso? — perguntei,
me afastando.
— Não faço ideia. — Lake agarrou os braços, negando. — Talvez
tenha sido apenas estupidez...
— Ninguém faz nada desse tipo por uma estupidez, Lake.
Nossos irmãos surgiram e eu os encarei. Rocco havia reunido seus
homens e toda a Outfit estava caçando Ettore, sem saber que ele era ele.
— Se souberem que ele está vivo... — Lake começou, mas Matteo
colocou a mão sobre sua boca, alerta.
— Você quer nossa cabeça? — ele perguntou, completamente rígido.
— Vamos subir.
Rocco guiou todos nós para o elevador. Assim que chegamos à sua
sala, me aproximei da janela para encarar a rua.
— Se descobrirem que ele está vivo, vão tentar me tirar do poder. —
Rocco acendeu um cigarro e apoiou seus quadris na mesa. — Os aliados de
Ettore, aqueles que me respeitam, se puderem escolher vão escolhê-lo, vão
se rebelar.
— Não queremos uma fodida guerra, então precisamos achar aquele
demônio — Romeo grunhiu, tirando suas armas e se sentando.
— Eles podem tirar você do poder? — Lake perguntou, com a voz
baixa.
Rocco a encarou, tragou o cigarro e soltou a fumaça lentamente, sem
pressa nenhuma.
— Sim, porque Ettore ainda está vivo, então ele ainda é o Don —
Matteo resmungou.
Lake encarou Rocco rapidamente, assustada.
— A única maneira de me tirarem daqui será com a minha morte.
O silêncio gélido fez meu corpo estremecer.
— Ettore amaria fazer isso. — Rocco encarou nós todos. — Nós
vamos achá-lo, e se não o fizermos e eu morrer, não se preocupem. As vidas
de vocês e das suas famílias estarão a salvo. Me certificarei disso.
— Pare de falar estupidez! — Romeo se ergueu, semicerrando os
olhos e com os punhos fechados, tremendo. — Se você cair, cairemos juntos.
Lake acenou concordando e todos a seguimos.
— Nada disso vai acontecer — falei, voltando a olhar para a janela.
— Eu vou enfiar uma bala na cara daquele merda e vamos ficar bem.
Um carro estacionou diante da boate e eu semicerrei os olhos. Um
saco foi jogado para fora.
— É ele — gritei para os meus irmãos e corri para o elevador.
Rocco correu para a escada,e quando cheguei lá fora ele estava
carregando o saco para dentro.
— Saiam! Todos! — ele rugiu, insano, então todos começaram a se
mexer.
Me curvei sobre o saco e meu peito sacudiu, ansioso. Rasguei o
plástico e fiquei rígido com o que vi.
— Pedaço de lixo! — Matteo gritou.
Eu segurei o pescoço de Lionel. Ele ainda estava vivo. O garoto
abriu os olhos e eu apertei sua garganta.
— Onde ele está? — gritei em seu rosto e Lionel se debateu.
— Eu tentei trazê-lo de volta, mas... — Ele agarrou minha mão.
— Deixe-o falar! — gritou Rocco, então me afastei.
— Me bateram e eu desmaiei. Não sei onde está agora...
Esfreguei minhas mãos em meu rosto e subi para meu cabelo,
puxando os fios negros. Inferno!
— Por que você o pegou, seu imbecil? — Lake se aproximou e
chutou suas costelas. — Eu deveria matar você...
— Eu só queria saber quem ele era... eu vi que o escondia lá e fiquei
curioso...
— Não minta! — ela gritou e enfiou o salto fino na garganta dele,
pressionando. — Não minta ou eu vou furar sua garganta.
— Uma pessoa me contratou para isso...
— Quem? — Ela empurrou mais e um filete de sangue deslizou.
— Eu não sei quem ele é. Fizemos o negócio por telefone. Eu juro
por Cass — ele gritou, tremendo de medo. — Ele só me pediu para pegá-lo
e levá-lo a uma propriedade. Eu fiz isso, mas quando estava perto Cass
ligou.
— Onde é esse lugar? — Romeo questionou, pegando o celular.
O amigo da Lake disse, então meu irmão saiu com o celular no
ouvido.
— Enfie uma bala na cara dele. — Quando Rocco se virou para ir
embora, eu vi o olhar de Lake.
— Eu gostaria de fazer mais perguntas — pedi ao meu irmão e ele se
virou.
Rocco encarou o menino no chão e depois acenou.
Lake tirou o pé e respirou fundo. Matteo seguiu Rocco e eu peguei
Lionel, empurrando-o até nossas salas de tortura.
— Onde ela está? — Sua voz quebrou. Lake abriu uma das portas. —
Lake, ela não tem nada a ver com isso. Deixe-a ir...
— Eu quero que você cale a porra da boca e só a abra quando eu
perguntar algo.
Lionel fechou os olhos, mas ficou em silêncio. Puxei uma cadeira e
me sentei diante dele.
— Você trabalha com o quê?
— Roubos. Não pequenos, coisas grandes.
— Quando essa pessoa entrou em contato com você?
— Há alguns meses. Ela seguiu a Lake e descobriu o local.
— Você sabia das câmeras, se é tão inteligente — sondei e ele
acenou.
— O cara queria que descobrissem.
Romeo bateu na porta avisando que precisávamos ir. Eu deixei
Lionel e saí com Lake. Nos dividimos nos carros e dirigimos juntos. Lake
estava com Matteo, e eu, sozinho.
— É nessa — Romeo grunhiu pelos fones do carro, então estacionei.
Saí do veículo e apertei meu sobretudo. Retirei minha arma e peguei
uma faca. O local era afastado e havia um carro, o mesmo que jogou Lionel
para fora diante da boate. Árvores altas se perdiam pelos lados e atrás da
casa pequena.
— Olhos em toda parte — Rocco gritou.
Eu procurei por Lake e a encontrei olhando para todos os lados
enquanto segurava duas pistolas pequenas.
— Vamos entrar.
Rocco chutou a porta e eu mirei a arma para dentro. Nos espalhamos,
e assim que cheguei a um quarto vi a calça que Ettore usava. Sangue sujava o
chão. Havia alguns algodões e embalagens de curativos.
— Ele saiu por aqui! — Matteo gritou e eu segui sua voz.
Quando saímos da casa por trás, a floresta apareceu. Lake pisou do
lado de fora e eu me aproximei. Ela respirou fundo, tensa, então toquei seu
ombro.
— Fique aqui.
— Não! — Ela me olhou, semicerrando os olhos. — Eu vou com
vocês.
— É muito aberto, ele pode estar sobre as árvores...
— Não, ele mal consegue andar com os dedos amputados. — Ela
devolveu, feroz.
— Prince está certo, você fica — Rocco grunhiu andando.
Lake engoliu com força e evitou nos encarar.
Nós saímos um atrás do outro, cada um mirando em uma direção.
Barulho dos bichos nos faziam nos mexermos rapidamente e voltar ao ponto
zero. Porém, um frio na minha espinha me alertou antes que acontecesse.
Eu me virei e ouvi minha última respiração antes que um grito
ecoasse.
Silk.
Minhas pernas se moveram rápido e meus braços agarravam a arma
com força enquanto o vento chicoteava meu rosto. O medo esvaziou minha
mente e meu coração zumbia como um louco, querendo chegar até ela.
As árvores passavam e a cada segundo eu me questionava se
realmente havia andado tanto. Não parecia antes, mas agora a distância entre
minha alma e eu me punia.
A distância entre Silk e eu fazia Villain se contorcer e comandar.
 
 
 
 
 
 
 
— Vamos, ratinha.
Sua voz entorpeceu meus movimentos assim que ele surgiu. Senti a
arma na minha cabeça antes de ouvir sua voz imunda.
Ettore se arrastou diante de mim. Ele mal conseguia se manter de pé.
Eu arranquei a maior parte dos seus dedos do pé. Para se manter levantado,
ele estava usando uma bengala. Na luz do dia eu podia ver melhor o estrago
que Prince e eu havíamos feito.
Ele não tinha mais dentes, seu rosto era um amontoado de cicatrizes
horrorosas e não havia mais cabelo. Ele inclinou a cabeça e alguém atrás de
mim, o mesmo que segurava a arma, puxou meu cabelo de repente. Eu gritei
assim que um soco foi desferido em minhas costelas e eu caí de joelhos.
— É assim que eu quero você, sua rata imunda! — Ettore riu e a cena
era patética.
Sem dentes, completamente desfigurado.
— Eu já te vi assim tantas vezes. Você é patético, Ettore. — Sorri,
mordendo meu lábio. — Eu tenho vergonha de ter chamado você de pai
algum dia.
— Sua mãe não tinha nenhuma vergonha de mim. Mas de você... —
Ele estalou a língua, algo que eu me arrependia de não ter arrancado quando
tive a oportunidade. — O fruto do estupro, a rata imunda que cresceu dentro
dela, a putinha nojenta...
— Tire esse homem das minhas costas e repita, seu verme...
— Não, agora não...
O cara me ergueu e eu tentei me soltar, mas a arma foi colocada em
meu rosto de novo. Ettore guiou a gente para o carro e eu pedi para que meus
irmãos chegassem antes, porém eles não chegaram.
— Eu quero brincar com você, ratinha. Relembrar o passado. —
Ettore sorriu e eu comecei a gargalhar.
— Com o pau que eu arranquei? — Arqueei as sobrancelhas e ele
ficou rígido. — Compra um vibrador, filho da puta.
Ele ergueu a mão com apenas dois dedos e bateu em meu rosto. Eu
cuspi sangue no chão do carro e sorri de novo.
— Faça seu melhor, imbecil!
O outro homem, que eu não conhecia mas sabia que era alguém da
Outfit, colocou um saco em minha cabeça. O carro acelerou e eu reuni
forças, porque eu sabia que estava indo para o inferno.
 
 
Eu o vi colocá-la no carro, enquanto corria. Porém, antes que eu
chegasse, eles haviam sumido. Corri para meu carro, mas os pneus estavam
furados. Caí de joelhos no chão e soquei a areia.
Mais uma vez, inútil. Mais uma vez, não consegui salvá-la.
— Eu decorei a placa. Rastreiem o carro — Romeo gritou.
Eu me ergui assim que senti uma mão em meu ombro. Matteo apertou
e eu engoli com força.
— Vamos pegá-la.
— Eu quero um carro! — Rocco gritou no telefone. — Não precisam
rastrear. O filho da puta deixou o endereço na parede.
Giulio apareceu depois de dez minutos. Nós entramos em seu carro
enquanto eu tentava me controlar, tentava empurrar o ódio e toda a raiva de
mim mesmo por não conseguir deter aquele demônio.
Eu a deixei lá. Sozinha. Eu disse para ela ficar.
— Prince, não é hora de procurar culpados. Precisamos focar nela.
Só nela.
Eu sabia disso. Mas era horrível a sensação de inutilidade que eu
sentia.
— Eles estão em uma casa não muito longe — Rocco grunhiu,
olhando para o celular, onde o endereço estava. — Cabeça no lugar, não
vamos agir com a emoção.
— Todos nós o odiamos, mas esse não é o foco. Precisamos matá-lo.
Nada de jogos ou vingança. Uma bala e só.
Matteo baixou a planta do lugar e nós começamos a pensar no plano.
Um que fosse efetivo, sem emoções.
Eu acatei isso e deixei Villain tomar o lugar. Ele sempre foi melhor
nisso que eu.
 
Assim que o carro parou, me puxaram de dentro. Eu fui arrastada
para algumlugar e depois me jogaram no chão. Eu abri meus olhos, mas o
saco ainda estava em minha cabeça.
— Reúna os homens. Eu vou arrancar a cabeça do Rocco hoje.
Não! Quase gritei, pavor preenchendo minha alma.
— Você nunca vai conseguir — falei baixo, me fingindo de forte.
— Não? Eu deixei o endereço desse local na parede daquela casa.
Eles vão vir resgatar a ratinha que eles tanto defendem. — Sua voz se
aproximou e o saco saiu do meu rosto. Ettore sorriu e inclinou a cabeça.
Ele estava certo. Eles viriam, mas meus irmãos não eram burros.
Nunca foram.
— Mas antes dessa festança, vamos brincar, ratinha. — Ettore se
virou para o homem. — Venha deixá-la nua, Ryder.
Eu apertei minha mandíbula e o seu comparsa imundo se aproximou.
Ele me ergueu e eu fiquei rígida, puxando meus pulsos presos na base da
minha coluna. O homem cortou o tecido do meu vestido, logo meu sutiã foi
rasgado e meus seios ficaram expostos.
Eu decorei o rosto do Ryder quando se aproximou da minha meia-
calça. Não gritei, empurrei ou tentei fugir. Não, eu não faria essa merda. Não
daria esse gostinho a Ettore. Eu não era uma rata, nunca fui e nunca seria.
Eu era uma Trevisan, e mesmo caindo seria forte. Foda-se.
Assim que fiquei nua, Ettore se aproximou, lambendo o que sobrou
do seu lábio. Meu estômago se revirou de nojo, mas engoli minha bile.
Quando o cotoco do seu dedo passou pelo meu mamilo, eu o encarei com o
rosto inexpressivo.
— Quando menina você já era perfeita, gostosinha demais, mas
agora, olhe esses peitos — ele grunhiu sorrindo enquanto eu continuava
parada. — Lembra da noite em que me viu? Prince fez você ir lá. Aquele
pedaço de alma podre.
— Eu gostei de ver seu rabo sendo fodido por uma arma.
Ele sorriu e pegou uma arma, segurando com os punhos e um dedo
anelar restante no gatilho. O cano da arma tinha uma camisinha sobre ele.
— Eu vou gostar de foder sua boceta com ela.
Ryder me empurrou de repente e eu caí sobre uma cama. Eu nem
havia percebido que estávamos em um quarto. Ele puxou meus pulsos e os
prendeu em cada lado da cabeceira. Ele fez o mesmo com minhas pernas
enquanto eu encarava a janela fechada.
Ettore subiu entre minhas pernas e me tocou com seus dedos restantes
e o pedaço que havia ficado dos amputados. Eles deslizaram pelos meus
lábios grandes, pressionaram meu clitóris e se enfiaram em meu canal. Eu
continuei encarando a janela.
— Você gosta disso — ele grunhiu e eu o vi, pela lateral, lamber os
dedos. — Olha aqui, está molhada.
O inútil nem mesmo conhecia a fisiologia do corpo de uma mulher.
Era vergonhoso.
— O primeiro que rompeu seu hímen e o último antes da sua morte.
— Ele enfiou a arma de uma vez e eu quase deixei um gemido de dor ecoar.
Meus olhos quiseram se umedecer, mas os proibi. Foquei na
garotinha medrosa de anos atrás, a pobre menina que rezava para que alguém
a salvasse, que surgisse qualquer pessoa e a tirasse da sua miséria, mas
ninguém surgia.
Ninguém jamais surgia.
Aquela mesma garota que não sabia por que estava sendo castigada,
por que esse homem a odiava tanto, mas hoje ela era uma mulher e entendia
que não tinha culpa.
Não era culpa dela.
Era dele. Sempre foi dele.
Ele me estuprou por minutos longos com a arma. Ele beijou e chupou
meus mamilos, me causando nojo, mas continuei parada, focada em uma
coisa – na menina que precisava ser salva, mas se salvou sozinha.
Na mãe dela que morreu por ela.
Nos irmãos que a vingaram.
No homem que manteve o diabo preso por anos, porque sentia que
era o seu dever. O mesmo homem que ela amava com tanta força que
aguentou o inferno e faria novamente.
— Você é tão deliciosa, ratinha. — Ettore gemeu entre minhas
pernas, ainda me estuprando com a arma. — Goze pra mim.
Nem depois de morta.
— Patrão. — Ryder gemeu ao fundo e eu fiquei rígida.
— Venha, Ryder, foda essa boceta.
Eu fechei meus olhos e tentei pegar e colar os pedaços que flutuavam
de mim. Eu não consegui. Quando o porco imundo deslizou para dentro de
mim, sem delicadeza nenhuma, eu apertei meus olhos, gritando por dentro.
Ele grunhiu, gemendo ao me estuprar, lambendo meus seios e barriga.
Eu chorei por dentro, me sentindo suja. Quando ele gozou, graças a Deus na
camisinha, eu virei e vomitei na cama.
— Está com nojo, puta? — Ele riu e se inclinou, mordendo meu seio.
— Saia, Ryder. Nossos convidados chegaram.
Meus irmãos.
— Vista minha roupa! — gritei, apavorada com a ideia de que eles
me vissem assim.
De que Prince me visse assim.
— E acabar com a diversão? — Ettore riu, negando.
Os sons de carros derrapando encheram meus ouvidos. Ettore se
sentou em uma cadeira ao lado da cama e Ryder saiu. O que eles estavam
planejando? Minha coluna esfriou e eu olhei para a porta.
Quando a abriram, meu estômago caiu. Prince olhou para mim e seus
olhos escureceram dez tons. Não era mais ele, era Villain.
— Eu vou te dar dois minutos para correr. — Sua voz estava gélida.
— Olhem para ela — Ettore pediu, rindo. — Em poucos minutos eu
fiz o mesmo que fiz por anos quando ela era uma menininha.
— Eu vou arrancar sua cabeça... — Rocco grunhiu, entrando no
quarto.
Prince entrou também e eu balancei a cabeça.
— Saiam daqui! Ele chamou outras pessoas — falei pela primeira
vez e Rocco me olhou. Deus, eu jamais havia visto o diabo com pena, mas
ali estava meu irmão, destruído por mim.
— Elas podem vir, podem me matar, podem fazer tudo... eu nunca
vou sair daqui sem você — ele gritou, olhos cheios de lágrimas e, pela
primeira vez, me deixei cair.
Lágrimas encheram meus olhos e eu respirei fundo. Procurei por
Matteo e Romeo, mas ambos não estavam aqui. Ettore riu e encarou nós três.
— Não sei como eu consegui dar a vida a pessoas tão patéticas.
Barulho de tiros ecoaram e eu assisti Ettore cair para a frente com a
mão no ombro ensanguentado. No mesmo segundo, Rocco o alcançou.
Escutei mais carros parando e o medo congelou meu corpo. Matariam meus
irmãos.
— Me solte! — gritei para Prince, que estava indo em direção a
Ettore.
Ele se aproximou e cortou as cordas com a faca que usava. Assim
que fiquei livre, abri o armário e tirei uma blusa enorme de dentro. Não
sabia de quem era a casa, mas isso teria que servir. Assim que cobri meu
corpo, pulei a cama e parei diante de Ettore.
— Me dê a arma — pedi a Rocco, que estava apontando para ele. —
Me dê, eu preciso disso... — Se foi meu pedido ou tom de voz, não sei, mas
meu irmão deslizou a arma em minha mão.
Segurei o rosto de Ettore e deslizei a arma em sua boca. Me curvei,
sorrindo e inclinando a cabeça.
— Diga ao diabo que eu vou daqui a alguns anos.
Eu atirei próxima dele, tão perto que seu sangue respingou em mim,
tão perto que senti pedaços do seu cérebro sobre minha roupa.
Me virei para os meus irmãos e sorri, deslizando os dedos pelas
minhas bochechas sujas.
— Vamos pra casa.
 
 
 
Ela estava ensanguentada dos pés à cabeça, com pedaços de Ettore
pelo rosto, mas ainda sorria. Eu não sabia como ela podia ser tão forte, mas
ali estava ela, de pé. Enquanto seus irmãos estavam em pedaços por ela.
— Armas nas mãos. Vamos sair — Rocco gritou.
Ereta, Lake fez o que ele mandou e passou por mim, então saímos da
casa. Assim que alcançamos o lado exterior, encontramos Romeo segurando
um homem, Ryder, um dos capos de confiança do Rocco. Quando o nosso
irmão nos viu, ele o jogou na nossa frente.
— Você, seu pedaço de lixo! — Rocco agarrou o homem pela gola
da camisa. — Seu traidor de merda!
— Vocês roubaram o poder. Ettore está vivo...
— Estava. Não mais. Porém, não se preocupe, vocês logo estarão
juntos.
Ele socou o homem, que caiu.
— Você gostou de me estuprar, seu porco? — Lake chutou a cara
dele e o homem caiu para trás. Ele já estava machucado, talvez, obra dos
meus irmãos.
— Ele? — Matteo perguntou, em choque.
Eu não esperei por nada. Corri até o homem e enfiei minha faca em
sua barriga, puxando o cabo para baixo enquanto ouvia seus gritos. Eu sorri
quando vi seu estômago para fora e o encarei.
— Eu quero que você se lembrede mim no inferno e o motivo pelo
qual estou fazendo isso. — Me inclinei perto do seu ouvido. — Ela me
pertence.
O homem caiu para o lado e eu ouvi gritos. Me virei e vi Rocco
olhando para alguns dos homens que ele liderava.
— Quem chamou vocês aqui? — ele berrou mais uma vez.
— Ettore está vivo — um deles, que eu não consegui ver, gritou.
— Está? Onde? — Rocco abriu os braços, olhando ao redor. — Esse
homem, o Ryder, sequestrou minha irmã e ele teve o que mereceu neste
minuto. Mais alguém quer isso?
Os homens ficaram em silêncio.
— Vão embora. Ou eu vou fazer vocês conhecerem o diabo com esse
rato imundo!
Eles se dispersaram rapidamente. Meus irmãos se aproximaram e eu
segurei a mão da Lake, então a enfiei no carro. Por todo o trajeto, ela não
olhou ou falou com nenhum de nós.
Silk estava perdida dentro de si mesma.
 
Havia algo nela que estava me sufocando, ou talvez, fosse em mim.
Eu queria vingá-la, queria matar Ettore com minhas próprias mãos. Porém, o
que eu e Villain ainda não parecíamos entender era que Lake Trevisan não
precisava ser salva. Não mais, pelo menos. A caçula dos Trevisan podia
vingar a si mesma.
Havíamos voltado do centro médico há pouco tempo e ela subiu para
tomar banho. Pediram exames e ela tomou as precauções necessárias quando
acontece um estupro.
 
Odiava pensar nisso. Que tocaram nela mais uma vez.
— Eu ia perguntar se você está bem, mas é estúpido — comecei a
falar assim que entrei em seu quarto.
Ela estava com uma toalha em volta do corpo e outra na cabeça. De
pé, com os olhos azuis focados na janela, olhando para ela, perdida.
— Estou bem — murmurou, respirou fundo e me encarou.
Quando ela sorriu, eu quis me ajoelhar e pedir perdão. Por tê-la
deixado para trás, por tê-la feito ficar e ser pega. Por Ettore tê-la tocado.
Quando Lake andou para o closet, eu me sentei na cama, fraco.
Completamente destruído.
— Prince, não se preocupe... estou bem.
Lake vestiu uma camisola e entrou nas cobertas. Fechei meus olhos e
puxei meu cabelo com força, tremendo. Peguei a primeira coisa que estava
diante de mim e joguei. O objeto, que vi ser meu celular, colidiu com a tevê
e a quebrou.
— Prince... — Eu a senti se mexer e me virei.
— Você não está bem, não tem por que estar — gritei, furioso, e senti
lágrimas encherem meus olhos. — De novo, tocaram em seu corpo sem sua
permissão! Isso não é certo! Isso é fodido e cruel e... porra, Silk, você é a
última pessoa nesse mundo fodido que merecia algo assim, então não diz que
está bem!
Ela nem mesmo me encarou. Seu rosto estava virado para a janela.
— Silk, me deixa segurar você...
— Não precisa, eu estou...
— Como não? — rugi, completamente despedaçado.
Lake me ignorou. Isso me magoou, mas eu sabia que era sobre ela,
não sobre mim. Ela precisava de tempo e eu precisava dar isso a ela. Eu fui
ao banheiro, peguei sua escova de cabelo e voltei para o quarto.
Ela não se mexeu um centímetro. Eu me aproximei e me ajoelhei
diante dela. Seus olhos bonitos se fixaram em mim e eu passei a escova nos
fios negros e longos. Ela piscou, me olhando a cada segundo. Assim que
finalizei onde eu conseguia pentear, deixei a escova de lado e encostei minha
testa na dela.
— Que toda dor que você sente seja passada para mim. Nunca fui de
pedir muita coisa a Deus, mas eu preciso que ele faça isso por mim. Mesmo
que eu não mereça. Porque, Silk, você merece.
— Deus não gosta de mim.
Eu achava que estava despedaçado, mas até ouvir suas palavras,
nada nunca doeu tanto.
— Ele gosta, quem não gostaria da minha garota? — perguntei, com a
voz entorpecida. — Eu errei...
— Você? — Lake tocou meu rosto e deslizou o dedo pela minha
barba por fazer. — Você é bondoso, honrado e fiel.
— E você também.
— Não, eu não sou. Se eu fosse, Deus teria me poupado hoje e há
anos atrás. Ele teria poupado aquela garotinha, Prince. — Sua voz amena me
fez segurar sua mão e a puxar.
— Então, grite com ele. Diga a ele o que está sentindo, é seu direito.
— Prince...
— Você precisa, Silk.
Lake suspirou, mas se ergueu e me seguiu. Assim que descemos a
escada, eu vi Sienna, Blue, Kiara e Lunna juntas. Nenhuma se mexeu quando
passamos por elas.
Assim que chegamos ao cais, Lake olhou o lago ainda gelado. Eu a
segurei e pulei dentro dele. Nós fomos engolidos pela água e submergimos
logo depois. Eu a segurei junto a mim e tirei seu cabelo do rosto.
— Vamos lá, amor. Grite! — pedi, mas ela negou, ar gelado saindo
pelos lábios. — Grite, Lake! Grite!
Ela tapou o rosto e, quando percebi, seus ombros tremiam e ela
soluçava forte, com tanta dor, que tudo que eu queria no mundo era fazer isso
amenizar.
— Grite, Silk!
Então, ela fez. Ela gritou alto. Apenas gritos agudos seguidos de
lágrimas e soluços. Um sofrimento que chegava a ser palpável.
— Por que você deixou que ele me destruísse? — ela gritou para o
céu. — Eu não merecia isso! Nunca mereci nada disso! Eu era uma
garotinha, uma garotinha indefesa... por que você deixou me magoarem
tanto? — Seus ombros sacudiram e ela socou a água. — Por que deixou que
a escuridão manchasse minha alma? Como você pôde permitir que eu me
tornasse isso? Eu jamais vou te perdoar. Nunca. Eu não merecia isso.
Nenhuma garotinha merece.
Ela soluçou e as lágrimas se juntaram à água. Eu a abracei com força
e ela se segurou em mim, tremendo. Eu saí do lago com ela nos braços, e
assim que me virei, as esposas dos meus irmãos estavam ali com Kiara. Elas
se aproximaram e envolveram toalhas em nós dois.
Sienna não conseguiu se segurar e começou a chorar ao abraçar Lake,
ainda agarrada a mim. Logo, Kiara, Lunna e Blue fizeram o mesmo. Lake
chorou ao vê-las, e como pôde, tocou em cada uma.
— Eu sinto muito por isso ter acontecido de novo. Sinto muito,
muito, muito — Lunna gaguejou e tocou o cabelo dela. — Eu deveria
conseguir te proteger, você é minha irmãzinha...
Lake não conseguiu responder de tanto chorar.
— Eu vou aquecê-la. Depois vocês sobem para vê-la — murmurei
de maneira firme, então todas se afastaram.
Voltei para a mansão, enchi a banheira com ela ainda agarrada a mim
e entrei. A água quente nos aqueceu rapidamente. Eu limpei seu cabelo e
beijei a ponta do seu nariz.
— Obrigada por isso — ela resmungou, se aconchegando em meu
peito.
— Não me agradeça. Por nada. — Passei a mão em seu cabelo.
Lake respirou fundo quando fiz carinho em suas costas. Ainda
custava a acreditar que ela havia passado pela mesma coisa, mais uma vez.
Odiava saber que ela estava sentindo toda essa dor e eu não podia melhorar.
Beijei seu ombro, bochechas e testa tentando de alguma maneira
curá-la.
— Me beije — ela pediu, erguendo o rosto, mas não consegui me
mexer.
— Não acho uma boa ideia. — Toquei sua bochecha e suspirei. —
Você precisa de um tempo...
— Eu preciso de você. Das suas mãos, lábios e cheiro. Deus, eu
preciso tanto do seu cheiro — ela suplicou, nervosa, então me inclinei. —
Por favor, me faça esquecer...
Eu a tirei da banheira e fui até o quarto. Fechei a porta e me deitei na
cama sobre ela. Nossos corpos molhados deslizando um sobre o outro, seus
gemidos baixos e meu desejo misturados com a necessidade de fazê-la
esquecer.
— Prince... — Ela suspirou e eu desci beijando seus mamilos
rosados, sua barriga lisa e cheguei à sua boceta. Beijei ali, molhando-a,
pedindo por um orgasmo e ela me deu em poucos segundos.
— Sou eu aqui, Silk. Sou eu entrando em você — falei lentamente
enquanto deslizava para dentro da sua boceta apertada. — Quem está aqui,
amor?
— Meu Prince.
Lake abriu os olhos e rebolou, arqueando a coluna, me oferecendo
um banquete em que eu me deliciaria. Capturei um mamilo e chupei com
força. Lake tapou a boca mordendo a mão e eu segurei sua nuca, puxando-a.
Ela deixou sua boca livre e eu juntei nossos lábios.
Nossos lábios sedentos chupando e procurando o controle. Lake
ganhou quando gozou e choramingou debaixo de mim. Nos virei e ela
rebolou, jogando o cabelo para o lado, enquanto se apoiava em meu peito.
— Você é tudoque eu sinto. — Ela suspirou.
Eu apertei sua bunda, puxando-a para baixo, gozando dentro dela
desprotegido e gemendo em sua boca.
— Que bom, Silk, porque você é tudo que eu sempre senti.
Ela caiu em meu peito e, em poucos segundos, adormeceu. Eu
continuei acordado, ouvindo sua respiração e agradecendo por ela. Porque,
por um segundo, quando cheguei correndo naquela casa e não a encontrei...
eu podia jurar que a tinha perdido para sempre.
 
Assim que desci a escada depois de trocar de roupa no meu quarto,
eu encontrei meus irmãos na sala. As esposas deles também estavam
presentes. Kiara e Giulio, pelo que parecia, tinham ido embora. Ambos e o
filho estavam aqui por causa da fuga de Ettore.
— Como ela está? — Rocco perguntou assim que entrei e me sentei.
— Melhor, eu acho. — Passei a mão pelo cabelo e respirei fundo. —
Ainda não acredito que aquele outro também tocou nela.
— Também não... — Matteo se ergueu e eu acenei.
Assim que entrei no quarto e vi a arma com a camisinha, soube o que
Ettore havia feito, mas nunca imaginei que ele seria capaz de deixar um
soldado inútil tocar em Lake.
— Queria ter mantido o desgraçado vivo.
Fui tomado por ódio. Se eu tivesse raciocinado também teria, mas eu
não me arrependia.
— Alguém desconfiou de algo? — Romeo perguntou e eu o encarei.
Ele estava fora da casa quando entramos, foi ele quem atirou em Ettore
primeiro pela janela.
— Nada. Eles estão quietos, como sempre.
Rocco respirou fundo.
— O que importa é que ela está aqui, conosco, e que aquele filho da
puta está no inferno.
Sim, era isso que importava.
— Você matou Lionel? — Romeo perguntou para mim.
— Não, Lake não queria. E agora, acho melhor a gente fazer o que
ela quer.
Sienna e as outras concordaram rapidamente. Rocco se ergueu e
estalou o pescoço.
— Eu vou ver meus filhos.
Ele saiu da sala com Sienna e logo todos se dispersaram, restando
apenas eu e Matteo com sua Blue.
— Você está bem? — a ruiva de olhos azuis questionou e eu dei de
ombros. — Não, você não está.
— Eu vou ficar quando ela estiver bem.
Blue apertou os lábios em um quase sorriso, compreendendo.
— Com tudo isso, morar em Oak Park está fora dos planos? —
Matteo perguntou.
— Eu só vou se ela for comigo.
Ele acenou e olhou sobre o ombro.
— Talvez, com tudo isso, o casamento dela também devesse ser
adiado. — Meu irmão apertou meu ombro. — Eu preciso ir para a casa, mas
cuide dela.
— Farei isso.
Assim que ambos saíram, Tebow apareceu e se deitou sobre meus
pés. Acariciei seu pelo e o encarei. Ele nunca estava por perto, sempre
alerta com os filhos do Rocco. Ele os protegia com afinco.
— Ela não está bem, Tebow. E eu não sei o que fazer pra ajudar.
O cachorro não pôde me dar dicas, por isso o deixei dormir e subi a
escada. Assim que entrei em seu quarto, ela estava acordada e calçando as
botas.
— Ei, ei, para onde você vai? — perguntei, confuso.
Eu pensei que ela passaria o resto do dia na cama.
— Preciso mandar Cass, Christian e Lionel embora. — Ela pegou
sua jaqueta, depois de vesti-la, puxou os fios negros de dentro.
— Você pode fazer isso depois, Lake...
Ela se aproximou, tocou meu rosto e beijou minha boca lentamente.
— Vamos comigo. Será rápido, prometo.
Eu abri meus olhos e acenei. Assim que saímos, Rocco enviou uma
mensagem questionando o que diabos estávamos fazendo. Eu expliquei o que
Lake queria fazer e ele não respondeu mais.
— Você não sai de perto de mim — falei rápido para Lake, puxando
seus quadris em minha direção assim que entramos no elevador.
— Jamais.
Nós pegamos Lionel e subimos para o quarto onde Cass estava.
Assim que entramos, a garota se ergueu. Eu percebi que Lake tinha pressa
por ela. A garota parecia completamente assustada.
— Saiam da cidade e nunca mais coloquem os pés aqui — Lake
rosnou.
Lionel acenou, puxando a garota.
Assim que eles saíram, Lake piscou com lágrimas nos olhos.
— Cass não merecia isso.
— Você já fez demais. — Toquei sua bochecha e beijei seu nariz. —
Agora, vamos embora.
— Mais uma parada, por favor — Lake pediu.
Eu respirei fundo, mas acenei.
 
 
 
 
 
 
 
Eu era boa em fingir, mas nunca boa o suficiente quando Prince
estava comigo. Ele me via, sob toda a máscara de força, ele conseguia me
enxergar.
Olhei de lado e vi sua concentração na estrada. Seu braço apoiado na
porta e mão no volante. Seu cabelo escuro estava alinhado para o lado e sua
barba por fazer estava maior. Eu conseguia ver o quanto estava cansado.
— Você tem certeza de que quer ir até lá?
Sim, eu tinha.
— Não se preocupe.
Assim que chegamos à nossa antiga casa, Prince estacionou e
ficamos dentro do carro. Ninguém se mexeu. Ele não se lembrava dessa
casa, se o fizesse, era pouca coisa.
— Como ela era?
Ele não precisou me dizer quem. Era nossa mãe.
— Ela era incrível. Nós brincávamos juntos ali. — Apontei para o
jardim onde ela me levava sempre. Atrás dele, havia um lago, não o
Michigan, o nosso. Lá havia um cais quase igual ao da mansão.
— Ela amava você?
E aí, Lake? Ela te amava?
Ettore disse que ela tinha nojo e se envergonhava de mim. Que eu era
fruto do seu sofrimento, mas será? Violetta nunca me diminuiu ou fez
diferença entre mim e meus irmãos.
— Sim, ela amava. — Olhei para Prince e pisquei rapidamente para
não chorar. — Eu era a sua princesinha. Sua garotinha. Ela amava pentear
meu cabelo, fazer tranças e brincar de bonecas... Deus, eu sinto tanta falta
dela.
Prince tocou minha coxa e apertou suavemente. Eu o olhei e sorri
engasgada, sem conseguir falar. Ele deslizou os dedos em meu rosto e puxou
minha mão para sua boca.
— Eu tenho certeza de que ela amou você, porque não há ninguém
que conheça você por inteira e não a ame. — Funguei, piscando rápido. Ele
se inclinou e me puxou para seu colo, então toquei seu rosto. — Eu amava
você antes, sinto na minha alma, mas hoje é mais que amar. É necessitar da
sua felicidade para eu ser completo.
— Prince, nós vamos acabar machucados no final disso — murmurei,
sufocada. Ele suspirou e eu me inclinei, apoiando minha testa na dele. — Eu
odeio pensar no futuro. Odeio saber que vamos nos perder em algum
momento.
— Eu sei, também odeio isso. — Prince me afastou e tocou meus
braços. — Vou fazer o teste de DNA. Eu quero me agarrar a algo, Lake...
— Nosso sangue não vai mudar nada. Nossos irmãos ainda vão
machucar você...
— Eu sei, mas precisamos de algo. Qualquer coisa...
— Andy voltou para Chicago? Talvez, você possa convencê-la...
— Rocco me deu uma mecha de cabelo dela. — Franzi as
sobrancelhas, ele não havia me dito isso. — Eu não sabia se faria. Mas
agora... a mísera migalha que me faça acreditar em um futuro com você, me
fará fazer qualquer coisa.
— A gente pode ir para o Yerík... ficar um tempo...
— Ele está na Rússia. Seríamos mortos assim que fôssemos
reconhecidos, além do mais, não vou condenar você a uma vida de fuga —
Prince grunhiu, insultado.
Eu respirei fundo, compreendendo.
— Você quer contar a eles sobre nós? — perguntei, nervosa.
— Não pra eles diretamente. — Ele esfregou o rosto. — Para Blue,
Lunna e Sienna.
Fiquei rígida e ele segurou minhas coxas, me mantendo presa.
— Elas... elas... — As palavras ficaram presas em minha garganta.
— Precisamos de aliados. Elas controlam nossos irmãos, você sabe
disso.
— Não! — gritei, percebendo o erro. — Elas trairiam os três. E isso
já aconteceu vezes demais para Matteo, Rocco e Romeo apenas deixarem de
lado. Somos irmãos deles, não delas.
Prince fechou os olhos e esfregou as mãos no rosto, tenso. Toquei seu
cabelo e relaxei em seu colo.
— Eles não vão entender. Nós... nós só precisamos de distância...
talvez, assim, a gente consiga esquecer um do outro...
Ele encarou a casa em silêncio e riu, balançando a cabeça.
— Você não entende, não é? — ele grunhiu. Quando se virou, segurou
meu pescoço entre os dedos, me mantendo rente ao seu rosto furioso. — Nós
não vamos deixar você ir. Isso tudo — sua mão livre deslizou pelas minhas
coxas e subiu até meus seios — émeu e dele. Ninguém, nem mesmo você vai
mudar isso.
Meu corpo se acendeu como uma lâmpada. Eu o queria dentro de
mim a cada vez que ele reafirmava que eu era dele. Não importava se tinham
me tocado antes, agora tudo que eu queria sentir era ele.
— Me leve para a casa — pedi, sem fôlego, fazendo-o sorrir de
lado.
— Por que, Silk? — Prince abriu a porta e saiu comigo. O sol estava
baixando, a noite começava.
— O que...
Ele me levou até o capô do carro preto e me sentou nele.
— Vou dar o que você quer.
— Prince, mas...
Olhei ao redor, nervosa. Não havia ninguém. A casa estava
abandonada há anos. Ninguém entrava aqui, ainda assim...
— Você pode gritar tanto quanto sua boceta pedir. Apenas Villain e
eu a ouviremos. — Ele puxou minha calça para baixo e levou a calcinha
junto. Minha bunda bateu contra o metal gelado e eu gemi. — Isso, Silk, abra
suas coxas e dê o que é nosso.
Prince me empurrou sobre o capô e eu me deitei, com as pernas
enroladas em sua cintura. Seu pau grosso e vermelho saltou entre nós e ele
deslizou pelos lábios escorregadios. Sedenta, eu arqueei e ele continuou
brincando até eu sentir minha bunda molhar.
— Jesus Cristo, essa boceta é a coisa mais linda que já pus os olhos.
— Ele gemeu, olhando vidrado para baixo. Eu guiei minha mão e esfreguei
meu clitóris, então Prince sorriu. — Suba sua blusa, me mostre esses seios.
Eu puxei o moletom e o ar frio deixou meus mamilos duros
instantaneamente. Prince deslizou para dentro de mim, gemendo devagar,
com olhos fechados e boca entreaberta. Quando bateu no fundo, eu gozei.
— Prince! — grunhi alto e seus quadris saíram. Quando voltaram, foi
rápido e duro. — Villain!
Suas mãos agarraram meus quadris e ele me puxou de encontro ao
seu pau. Eu gritei, ele gritou, mas não estávamos satisfeitos. Prince saiu de
mim, me puxou e me colocou de frente para o carro. Eu me inclinei,
deitando-me e ele puxou minha bunda, me fodendo ora lentamente, ora
rápido. Meus peitos doíam pelo atrito com o metal, minha barriga ardia, mas
minha boceta estava amando a atenção, amando os dois homens lutando por
ela.
— Amor! — gritei alto e gozei novamente.
— Isso, Silk, goze em meu pau. Leve meu esperma. Um filho meu em
sua barriga seria perfeito. Porra, só de imaginar fodendo você grávida eu
quero gozar mil vezes.
A visão me fez tremer e gozar novamente, mais um, puxando seu
sêmen, querendo inconscientemente engravidar do meu irmão.
— Boa menina. — Ele bateu em minha bunda e eu sorri lentamente,
sentindo a ardência na minha pele e sua boca em meu pescoço. — Quer mais
um antes de voltar?
— Sim, eu gostei de poder gritar. — Ri e ele fez o mesmo.
Deus, eu o amava.
 
Os dias se passaram e eu senti que estava acontecendo algo. Prince
não foi para Oak Park e Rocco ou Sienna não tocaram mais no assunto
casamento.
— Você está me levando para onde? — perguntei a Blue assim que
saímos da sua casa.
Era aniversário da Nina hoje. Todos vinham para cá, eu vim mais
cedo para ajudar. O que logo entendi que não era preciso. Blue tinha uma
equipe trabalhando no aniversário da garotinha.
— Matteo encontrou um apartamento para o Prince. Preciso ir lá
pegar as chaves — Blue explicou suavemente e nem percebeu como meu
estômago esfriou com isso.
— Você acha que ele vem morar aqui? Tipo, de verdade? — Minha
voz saiu baixa, Blue percebeu a aflição.
— Não se preocupe. Agora que o casamento foi adiado, Rocco está
cogitando deixar você com Prince aqui.
O quê?
— Como assim o casamento foi adiado? — perguntei, com os olhos
arregalados.
— Ninguém vai fazer você se casar depois do que passou. Rocco já
não iria deixar, mas fomos firmes com todos sobre isso.
— Fomos? — questionei suavemente e ela pegou minha mão.
— Sua irmã, Sienna e Kiara.
— A Kiara sabe? — perguntei, nervosa e envergonhada.
Ela não era próxima de nenhuma de nós, mas de alguma maneira era
mais próxima que muita gente da Outfit.
— Giulio pediu a Rocco que ela e Dante ficassem na mansão
enquanto caçavam Ettore. Pelo que parece, ele estava cauteloso sobre o
homem querer machucar sua família por ele ter sido da Cosa Nostra — Blue
explicou, a todo momento franzindo as sobrancelhas. Ela ainda não
conseguia entender bem o que acontecia conosco.
— Ah.
— Kiara é legal. Gosto dela.
Eu sabia que era. Mas eu havia magoado a esposa de Giulio anos
atrás. Tinha certeza de que ela não esqueceria tão facilmente.
Assim que chegamos ao apartamento, percebi que era bem parecido
com o que Matteo tinha antes, a diferença desse era que ele não tinha
morador nenhum.
— É um prédio novo. Vocês serão os primeiros moradores.
Assim que Blue abriu a porta, eu suspirei com o tamanho do lugar.
Não havia mobília, mas eu conseguia imaginar quão bonito seria. Entrei no
espaço e vasculhei cada canto, apaixonada pelo lugar.
— Esse pode ser seu quarto, já que tem uma paisagem incrível. —
Blue olhou pela janela do chão ao teto.
— Sim, é incrível.
— Prince pode ficar no do lado oeste. É bonito também.
Não falei nada, porque eu sabia que não dormiríamos separados.
Porém, Blue não sabia e nunca poderia saber.
Assim que voltamos para sua casa, eu subi para me arrumar. Peguei
um vestido com alças finas e uma fenda na perna. Ele parecia um pouco com
o que usei no meu noivado com Luca, porém era numa cor bordô perfeita.
— Uau. — Nina abriu a boca assim que desci a escada. — Você está
linda, titia.
Eu me inclinei e ajoelhei diante dela. Seu cabelo ruivo era liso em
cima com as pontas cacheadas. Nina seria uma garota incrível, disso eu não
tinha dúvidas.
— Ninguém está mais linda que você. Seu vestido é incrível.
Ela sorriu e girou, fazendo o tecido rosa tocar minha pele. Eu sorri,
quando olhei para cima, Prince estava ali, sem blusa e com um casaco
grosso. A tatuagem com meu nome estava completamente visível, perfeita
como ele. Eu sorri e levei Nina até ele.
— Titio Plince! — ela gritou animada e ele a pegou nos braços.
— Eu fiquei tonto ao ver você. Você está linda. — Suas palavras
foram ditas olhando para Nina, mas a maneira como ele disse me fez
derreter.
— A titia também está linda e a mamãe, e a tia Sisi e a tia Lua —
Nina foi falando e tocando um dedinho de cada, contando.
— Sim, a titia Lake está linda.
Seus olhos alcançaram os meus e eu engoli em seco, olhando ao
redor. Ninguém parecia reparar em nós dois, então sorri e fui para o seu
lado. Nina monopolizou a atenção dele a noite inteira. A garota era
apaixonada.
— Entregue o presente dela, Dante. — Ouvi a voz da Kiara quando
estava próxima da entrada e Nina estava com os primos.
— Mãe, não. — Sua voz ecoou séria e Kiara respirou fundo.
Dante era mais novo que os outros, mas era parecido com Remy.
Ambos eram calados até demais.
— Nina, feliz aniversário! — Kiara entregou a caixa média
enfeitada. Nina pulou animada.
— Obrigada, tia Ky. — Ela olhou para Dante e sorriu. — Ei, Dane.
— Nina esperou pela resposta do garoto, mas ele apenas suspirou. — Você é
um garoto mau. Meninos bons não ignolam garotas legais.
— Você não é legal, Inie.
— Lógico que sou! — Nina bateu o pé, se irritando, então me
aproximei.
— Que tal chamar sua mãe para cantarmos? Está na hora — falei,
sorrindo.
Ela me encarou séria.
— Dane disse que sou chata!
— Não disse isso.
— Dante, não se chama uma dama de chata, ou que ela não é legal.
Você é um cavalheiro — murmurei séria e ele respirou fundo.
— Parabéns, Inie, você é legal.
O menino se virou e saiu andando como se fosse um adulto de vinte
anos e não o garotinho de três.
Nina saiu também e logo cantamos parabéns para ela. Quando cortou
o bolo, Blue e Matteo perguntaram para quem seria o primeiro pedaço. Nina
sorriu e olhou para todos. Quando seus olhinhos pararam em mim, eu senti
minha barriga esfriar.
— Pala minha titia por ser uma plincesa superfolte!
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu olhei para Blue, que sorria.
Eu abracei minha sobrinha e beijei sua bochecha.
— Eu amo você, Lovely. Obrigada!
Ela me apertou contra si e eu peguei opedaço do bolo. Me virei e
ergui o prato em direção a Prince.
— Quem é o preferido agora?
Ele balançou a cabeça rindo e eu fui para o seu lado. Ele colocou o
braço sobre meus ombros e eu o encarei.
— Você está tão bonita nesse vestido que quero o rasgar todo.
— Que pecado, ele vale uma fortuna. — Sorri, tentando ignorar as
pessoas ao redor.
— Você vale uma fortuna, amor.
Meu coração inchou e eu quis beijar sua boca, mas obviamente não
podia.
— Hoje, eu e você, no apartamento novo.
— Pronta para morar comigo, Silk? — Ele nem tentou fingir que era
uma surpresa.
— Ansiosa.
 
 
 
 
 
 
 
 
Rocco olhou para Lake dançando com Rhett e ergueu as
sobrancelhas.
— Jesus, ela os faz fazerem coisas inimagináveis.
Nós rimos, porque era verdade.
— Está machucado por perder o posto de tio favorito da Nina? —
Matteo questionou, bebendo uma dose de uísque.
— Está doendo muito, vou precisar de um tempo — falei, levando a
mão ao peito e todos riram novamente.
Lake se aproximou depois de dançar e eu evitei olhar para ela. Deus
sabia que estava a um ponto de rasgar sua roupa. E com nossos irmãos por
perto, isso seria perigoso.
— Então, Luca não foi convidado? — Sua pergunta me fez encará-la.
Que porra era essa?
O anel havia saído do seu dedo há dias e era bom, porque eu poderia
matar alguém vendo aquela merda.
— Não. Saudade do seu futuro marido? — Matteo se encostou na
cadeira, sorrindo.
— Talvez... — Ela fez uma careta assim que toquei sua coxa por trás,
apertando com força. — Estou brincando. — Sua perna saiu da minha posse.
— Então, Blue falou que vamos adiar o casamento.
— Por alguns meses. O que você acha? — Rocco questionou,
encarando-a cauteloso.
— Acho bom. — Ela acenou e pegou um copo. Ela se serviu de
uísque e virou o copo. — Quero ficar por perto, sabe? Me casar com Luca
me levaria para longe de vocês...
Rocco suspirou e me olhou. Eu acenei. Matteo havia falado com ele
sobre eu querer vir para Oak Park apenas se ela viesse junto. Rocco
concordou, se ela quisesse.
— Prince vai se mudar na próxima semana. Você quer vir ficar com
ele até o casamento?
Porra de casamento.
— Sim, acho que sim. — Ela sorriu e me encarou.
Eu acenei e olhei para as pessoas espalhadas.
Uma mulher estava parada com os olhos em mim, mais à frente. Eu a
encarei sabendo que seu rosto não era estranho, mas minha mente não quis
me ajudar.
— Antonella — Romeo resmungou ao meu lado. Eu o encarei antes
de voltar a olhar para a garota. — Você tirou a virgindade dela quando ela
era noiva do Matteo.
Eu cuspi a bebida e meu irmão riu.
— Não se preocupe, ele não gostava dela nem nada — Rocco
explicou, mas ainda parecia estranho.
— Você estava em um mau momento, cara — Matteo começou e eu o
olhei. — Bebendo demais, fumando várias porcarias e fodendo meninas
proibidas.
O último eu ainda fazia.
— Com Lake no internato, você viveu um momento escuro — Rocco
emendou.
Eu encarei minha garota. Lake estava olhando para Antonella como
se fosse arrancar sua cabeça.
— Entendi, mas desculpa, cara — pedi a Matteo e ele deu de
ombros.
Lake pediu licença e saiu. Quando fui procurá-la, não encontrei em
lugar nenhum. Fiquei de lado na sala e olhei para o lado quando Antonella
apareceu.
— Você parece bem. — Ela inclinou a cabeça.
— Eu estou.
— Você não se lembra de mim. Eu soube. — Antonella bebeu da taça
cheia de champanhe. — E nem sabe o quanto arruinou a minha vida aquela
tarde, contra seu carro.
— Meus irmãos falaram algo sobre isso... — Franzi as sobrancelhas.
— Você...
— Nunca me casei. Meus pais me odeiam pela vergonha, mas olhe só
para você, perfeito. — Ela riu, balançando a cabeça. Antonella se virou para
mim, deixando a sala às suas costas. — Eu não sabia que ia ser tão estúpida,
mas bastou você estalar os dedos e minha calcinha caiu.
Eu fiquei em silêncio, porque sabia que ela precisava disso.
— Você só quis brincar e eu era o parque de diversões, e quando se
cansou, fiquei lá, sozinha e arruinada. Nenhum homem quis casar com a
garota que Matteo Trevisan abandonou sem a virgindade.
— O que você quer?
— Você nunca poderia me dar o que eu quero. — Antonella sorriu,
mas havia lágrimas em seus olhos. A menina parecia arruinada, quebrada,
indefesa.
— Você não sabe disso até falar...
— Eu quero um marido, filhos, uma casa. Uma vida. A que tirou de
mim.
Eu respirei fundo e dei um passo em sua direção.
— Eu posso conseguir isso. Me diga com quem e eu vou fazê-lo se
casar com você.
Antonella sorriu e inclinou a cabeça.
— Você.
Porra, nem fodendo.
— É justo, já que você tirou minha pureza.
— Eu não, jamais. Escolha outro — grunhi, irritado.
— Então, escolha você. — Ela deu de ombros.
Ela se virou e saiu andando como se não tivesse jogado uma bomba
em meu colo.
— Eu pensei que vocês relembrariam a cena patética de transar.
Óbvio, dessa vez sem o carro — Lake rosnou ao meu lado.
Eu me virei, vendo-a escondida na escuridão. Andei até ela e puxei
seu pulso, entrando em uma porta qualquer.
— E você perguntando daquele saco de merda? — perguntei,
recordando sua fala com nossos irmãos. — Quer se casar, porra?
— É óbvio que não, seu possessivo do caralho! — Ela puxou a mão,
furiosa.
— E você? Surtada com Antonella?
— Não fale o nome dela! — Silk gritou, me empurrando. Segurei
seus pulsos sobre sua cabeça. — Me deixe sair, agora!
— Não, Silk, porque você precisa de mim entre suas pernas,
lembrando a quem pertence — grunhi irritado e puxei seu vestido. A fenda
me ajudou a afastar suas coxas. Toquei sua boceta nua e gemi, me dando
conta de que ela não usava calcinha.
— Você é tão ciumento, Villain.
Suas palavras me fizeram abrir o zíper nas suas costas. A besta
dentro de mim, o Villain, sempre queria a porra dos seus peitos. Assim que
desci a parte de cima, me inclinei lambendo seus mamilos, puxando um para
os meus lábios. Lake gritou e eu sorri.
— Silêncio, princesa, seu príncipe está te fodendo no meio de uma
festa. Você não quer que todos os convidados ouçam, certo?
Ela gemeu baixo e puxou os braços, então eu a deixei livre. Suas
unhas rasparam em meu peito e ela empurrou seus quadris contra mim,
pressionando sua boceta em minha calça. Abri meu zíper e coloquei meu pau
para fora. Ele já estava duro desde que ela desceu a escada como uma
maldita rainha.
— Me foda, Villain — ela pediu, empurrando os seios.
Eu mordi a lateral dos dois, lambi e chupei, deixando marcas roxas.
Deslizei meu pau em sua boceta gulosa e ela me recebeu quente e apertada.
— Quem é seu príncipe, Silk?
— Você. Prince Trevisan. Meu.
Eu empurrei com força dentro dela, batendo suas costas na parede,
ouvindo seus grunhidos. Coloquei a mão entre nós, acariciando onde nos
juntávamos. Lake estremeceu quando toquei seu clitóris e brinquei com os
lábios da sua boceta rosada.
— Goze, amor — pedi.
Ela tapou a boca, se contorcendo. Assim que terminou, ela me fez
afastar e ficou de joelhos.
— Nunca vi uma princesa se ajoelhar.
— Se for para chupar seu príncipe, ela se ajoelha.
Lake abriu os lábios e me lambeu devagar, com os olhos em mim.
Seu cabelo escuro estava solto em ondas em suas costas e seus peitos
pesados e macios visíveis. Sua língua se agitou e eu quis fechar os olhos,
mas nem o diabo me faria perder essa cena. Lake gemeu ao redor do meu pau
e o engoliu, levando-o tão fundo que senti a ondulação da sua garganta.
— Você quer na sua boca, na boceta ou nos seus peitos? — perguntei,
sem fôlego.
Lake arregalou os olhos azuis.
— Peitos — falou de maneira firme e me engoliu novamente.
Assim que o gozo chegou, ela se afastou, juntou os seios e minha
porra respingou em tudo. Lake tocou o sêmen com os dedos e o espalhou,
levando até os mamilos. Eu me ajoelhei também e ajudei. Agarrei seu seio e
espalhei o creme espesso.
Lake abriu a boca e eu levei gotas até seus lábios e ela fez o mesmo
comigo. Gememos sentindo meu gosto ao mesmo tempo. Lake puxou o
vestido e escondeu os seios cremosos molhados com a minha porra. Nos
erguemose eu toquei sua boceta melada. Lambuzei meus dedos e chupei,
faminto.
— Hoje, apartamento.
Ela respirou fundo e acenou.
— Prince... — ela gemeu quando retornei meus dedos à sua boceta.
— Mais um — implorei e ela acenou devagar. — Suba seu vestido,
quero comer sua boceta.
Ela se apoiou na parede e eu agarrei suas coxas. Subi-a e me
inclinei, lambendo suas dobras. Era tão bom, porra. Chupei seu clitóris
inchado e enfiei minha língua em seu canal apertado. Lake gemeu, e quando
gozou, senti seu mel atingir minha língua. Porra, não havia nada melhor.
— Você sai primeiro — murmurei assim que ela baixou o vestido
pela segunda vez.
— O.k. Feche o casaco, minhas unhas deixaram marcas. — Ela
pegou o casaco e o fechou.
Me inclinei, segurando seu rosto e beijando sua boca. Chupei sua
língua e ela gemeu, me afastando.
— Precisamos ir.
Sorri com suas palavras e ela saiu. Quando se passaram cinco
minutos da sua saída, eu fiz o mesmo. Bati de cara com Blue. Ela sorriu e
semicerrou os olhos.
— O que houve com sua boca? Está vermelha...
Porra, era sério? Idiota.
— Deixe de ser curiosa. — Sorri, piscando o olho.
— Você é horrível. — Ela balançou a cabeça.
Assim que ela saiu, eu respirei fundo e relaxei.
O.k., Prince, ninguém pegou você fodendo sua irmã. Relaxe.
 
Nossos irmãos foram embora e eu dei um jeito de sair com Lake.
Matteo já havia subido com Blue e Nina, então não viu. Eu agarrei sua coxa
nua e ela sorriu, entretida no celular.
— Abra suas pernas, Silk — pedi e ela parou de rir.
— Como assim? Estamos no carro...
Sua voz diminuiu quando ela viu que eu estava certo disso. Lake
abriu as pernas, obediente.
— Puxe seus joelhos e se apoie na porta — solicitei. Suas bochechas
começaram a corar. — Rápido, Silk.
Lake fez o que pedi, quando vi sua boceta, eu me inclinei escovando
seus lábios. Estavam úmidos e, querendo provar, eu os levei à boca,
gemendo.
— Seus peitos, agora.
— Prince...
Eu a encarei firme e ela abriu o zíper e baixou o topo do vestido.
— Porra, esse vestido deve ter algum feitiço. Eu quero foder você a
cada minuto que está dentro dele — grunhi, ansioso, me inclinando. Peguei
mais mel da sua boceta e passei em seus mamilos. — Coloque na minha
boca.
Lake suspirou e se ajoelhou no banco. Quando se inclinou e me deu o
seio, eu dirigi chupando seu mamilo. Ela gemeu, e com minha mão no
câmbio, fodi sua boceta. Entrei no estacionamento do prédio e soltei seu
mamilo. Saí do carro e corri até seu lado. Puxei-a para fora e a inclinei
sobre a lateral, deslizando dentro dela.
— Ah meu Deus!
— Sou eu quem estou fodendo sua boceta, Silk.
— Prince... — ela gemeu.
Eu a fodi lentamente até nós dois estarmos quase gozando. Empurrei
dentro dela e despejei meu sêmen gritando.
— Meu Deus. — Ela suspirou e eu a puxei, segurando seu cabelo na
base do pescoço, mordendo seu lábio inferior e afundando minha língua em
sua boca, beijando-a com fome. Lake se entregou da mesma forma,
apaixonada, necessitada.
— Eu amo você.
— Eu amo você.
Ela sorriu e eu cobri seus seios. Nós fechamos o carro e subimos
para o apartamento. A única coisa que havia ali era uma cama que comprei
um dia atrás, sabendo que a usaria hoje.
— Então, você gostou do meu vestido? — Ela girou, tocando nos
quadris e subindo em direção aos seios. Seus olhos azuis brilhavam,
excitados, brincalhões. — Eu o comprei ontem. — Ela subiu na cama e se
virou. Lentamente, abriu o zíper e o vestido deslizou para fora. Sua bunda
nua era redonda e suas coxas eram grossas. Lake se virou devagar, cobrindo
os seios e sorrindo.
— Havia comprado uma calcinha com a mesma cor, mas parecia
certo ir sem, já que eu precisaria manter você entre as minhas coxas em
algum momento. — Suas palavras me fizeram lamber os lábios. — Para o
caso de alguma vagabunda falar com você... o que aconteceu. — Ela arqueou
a sobrancelha.
— Então, você me manteve entretido na sua boceta para que eu não
falasse com aquela menina?
— Você não disse o nome dela. Bom. — Ela empurrou o cabelo para
trás, ainda me impedindo de ver seus peitos.
— Você disse para eu não falar.
Ela mordeu o lábio e acenou.
— Sim, eu mantive e posso fazer mais e mais vezes. — Ela tirou as
mãos dos seios e eu agradeci a Deus por ela ser minha garota.
Porque se não fosse, eu teria que roubá-la de quem quer que fosse.
E matá-lo por sonhar que ela poderia pertencer a alguém se não a
mim.
 
 
 
 
 
 
 
 
Havia algo em mudar de casa que estava me deixando apreensiva e
nervosa. Parecia que eu estava abandonando alguma coisa, mas não estava,
certo?
— Você tem certeza disso? — Sienna perguntou dobrando uma calça
jeans e colocando sobre a pilha. — Eu sei que ainda vai estar por perto... é
só que aqui é sua casa.
— Não se preocupe, Sienna. Vou ficar bem, além do mais, posso
almoçar com você quase todos os dias. Esqueceu que trabalho aqui? —
murmurei sorrindo.
— Você está certa. — Ela deixou as roupas de lado e caminhou até
estar à minha frente, alisando o vestido que usava. — Eu sei que você
passou por muita coisa recentemente e eu decidi te dar um tempo. Eu sei que
precisava.
Fazia mais de um mês desde aquela tarde. Eu podia fingir que havia
esquecido tudo, mas dentro de mim ainda restava o nojo. Minha psicóloga
retornou para a minha vida dias atrás, quando passei a noite em claro.
Flávia me dizia que meu corpo e minha mente precisavam de
descanso. Eu sabia que ela estava falando sobre sexo, não era tonta.
Pesquisas e mais pesquisas diziam que depois de um abuso, a pessoa se
torna aversa a sexo, mas comigo... droga, comigo era completamente
diferente.
Quando Prince me tocava, parecia que eu esquecia completamente
aquela tarde. Nenhum vestígio, apenas seu cheiro, suas mãos e sua boca.
Apenas ele e eu.
Nada mais importava.
E por mais que eu quisesse falar para ela sobre isso, sabia que era ir
longe demais.
— Não quero que se case com Luca. Nem antes e nem depois, mas
estar na máfia tem suas grandes desvantagens. — Sienna afastou uma mecha
do meu cabelo e tocou meu ombro. — E por mais que a gente tenha definido
que esse casamento só vai acontecer daqui a alguns meses, eu ainda estou
preocupada.
Os olhos dela se encheram de lágrimas e eu queria que os meus
estivessem secos, mas não estavam.
— Eu não quero me casar com Luca — falei. Foi como se um tijolo
de concreto saísse dos meus ombros. — Não quero, porque...
Eu já amo alguém. Eu o amo tanto que me sufoca.
— Porque eu mereço estar com alguém que eu ame — completei,
engolindo com força.
Sienna segurou minhas mãos.
— E essa pessoa já está na sua vida? — Havia tanta esperança em
seus olhos, quase como se ela esperasse por isso.
— Se estivesse não faria diferença.
— Lógico que faria. Você se casaria com ele. Eu te dou minha
palavra.
Eu amava Sienna, porque ela era a única mulher na minha vida que
me enxergou sob a camada frágil daquela menina.
— Ele não existe, Si. Eu vou me casar com Luca.
Algo quebrou em seus olhos antes de ela olhar para a janela. Por
segundos, seu silêncio se prolongou e ela respirou fundo. Quando enfim me
encarou, minha cunhada parecia resignada.
— No dia que Rocco me escolheu, eu rezei para que ele não o
fizesse. Queria me casar com Juliano, todos diziam que ele pediria minha
mão aquela semana. — Sienna sorriu. — Isso não aconteceu, Rocco me
escolheu e daquele dia até o momento que conheci seu irmão eu fui infeliz,
mas me mantive forte. Eu queria ter tido alguém ao meu lado que entendesse
o que eu estava passando. — Ela me encarou de maneira firme. — Luca vai
honrar você, vai protegê-la, mesmo sabendo que você não precisa de
ninguém para salvá-la. E eu estou aqui para te dizer que esse casamento
pode ser o início de algo grande como seu irmão e eu. E se não for, estarei
aqui também.
Eu abracei Sienna, apertando seu corpo ao meu porque eu amava a
maneira que ela sempre cuidava de todos nós. Eu a amava.
— Minha mãe amaria você. Sabe, ela sempre amou as pessoas que
faziam os filhos dela se sentirem bem.Si sorriu e piscou rapidamente.
— Se cuida, tá bom? — Ela beijou meu rosto e se ergueu.
Enfiei as roupas que ela dobrou na mala, mas me virei quando ela me
chamou.
— Cuide do Prince. Infelizmente, ele nunca mais voltou para mim.
Acho que para ninguém além de você. — Ela sorriu com tristeza e enxugou
uma lágrima que escapou.
— Eu prometo.
Quando ela me deixou sozinha, eu encarei a janela. Fechei meus
olhos e respirei fundo, tentando entender como eu e Prince faríamos para
viver o que desejávamos sem machucar e enojar nossa família.
 
— Você está bonita. — Matteo sorriu quando entrei no Date dias
depois.
Hoje havia sido a nossa mudança. Contratei uma equipe de limpeza e
elas estavam dando uma geral no apartamento. Prince e eu decoramos e
compramos os móveis on-line. Foi legal fazer isso.
— Eu sou bonita todos os dias. — Dei de ombros e me sentei no
banco alto.
Eu estava usando uma calça de couro preta, botas altas e um casaco
branco peludo. Estava frio demais em Oak Park.
— Oi, Zyon! — Sorri para um dos amigos de Matteo e ele acenou. —
Onde está sua garota?
— Eu não tenho uma e estou bem assim. — Ele sorriu para amenizar
as palavras rudes.
— Eu acho que só não achou a que vai fazer você se contorcer.
— Está me jogando praga? — Ele semicerrou os olhos e Matteo riu.
Me virei quando senti um braço pousar em meus ombros. Assim que
seu cheiro me rodeou, eu sorri.
— Preciso falar com você — Prince murmurou para Zyon.
— Fala aí, cara.
— Rocco encontrou uma noiva para você.
Zyon cuspiu a cerveja que tomava no balcão e me fulminou.
— Como diabos você...
— Ela não tem nada a ver com isso. Vá até Chicago depois, Rocco
quer falar com você sobre os detalhes. — Prince rebateu rápido demais,
fazendo Matteo franzir as sobrancelhas.
— Que conversa é essa? Zyon é um soldado, Rocco não é um
casamenteiro do caralho. E quando é, com certeza não é para arrumar uma
esposa para ele. — Matteo se ergueu.
Prince o encarou, então toquei sua perna por baixo do balcão e seus
ombros desceram, relaxando.
— Antonella me pediu um favor...
Eu afastei a minha mão e o encarei. O que diabos essa garota estava
fazendo?
— Ela quer se casar comigo? — Zyon riu, balançando a cabeça. —
Cara, arrume outra pessoa...
— Matteo confia em você, então eu confio... você é uma ótima
escolha. — Prince continuou falando e eu me ergui.
— E o que diabos você tem a ver com isso? Por que precisa ser
alguém que você confia? — perguntei, explodindo.
— É minha culpa ela estar arruinada, eu só quero ajudar...
— Tão solidário — ironizei e me virei para Zyon e Matteo. —
Parabéns pelo noivado, Zyon.
Me virei e saí andando até o palco onde uma banda tocava, uma
mulher linda cantava apaixonadamente. Eu me sentei a uma mesa próxima,
observando.
— A sua cena de ciúmes na frente do nosso irmão não foi inteligente,
Lake. — Prince se sentou em uma cadeira livre e agarrou meu braço. Estava
escuro demais para qualquer pessoa nos ver.
— Sério? Eu quero que me explique por que diabos o nome da
Antonella está na sua boca!
— Na festa da Nina ela conversou comigo. Ela, obviamente, me
culpou pela ruína dela. Disse que a vida dela acabou desde que Matteo a
deixou...
— Você não tem culpa se ela abriu as pernas para você!
— Porra, Silk, não é isso! A garota está acabada. Ela só quer um
casamento...
— Aposto que você foi a primeira opção dela, certo? — questionei,
inclinando a cabeça. Ele respirou fundo, desviando os olhos dos meus. — Eu
sabia...
— Eu disse que não, pelo amor de Deus! Zyon vai ser um bom
marido, é isso que importa. Não vou mais falar com ela ou dela. Eu juro.
Neguei, balançando a cabeça. Estava irritada demais para concordar
com qualquer coisa que ele falasse, principalmente quando o assunto
envolvia uma garota que ele já tocou.
— Eu quero dormir em nossa casa, pela primeira vez, bem. Nós dois,
Silk. Só a gente, pela primeira vez. Não estrague isso com ciúme.
— Fácil pra você, Prince — respondi, me virando e olhando para
seus olhos azuis. — Eu sou sua, e sempre que fui tocada por alguém além de
você, foi contra minha vontade.
Foi como um tapa em seu rosto. Ele olhou para o chão e apertou a
ponta do nariz. Seu olhar não voltou ao meu e seu silêncio me disse que fui
longe demais. Ele não tinha culpa disso.
— Desculpe, eu só não gosto de saber que outra garota já ficou com
você.
Ele continuou sem me olhar. Sua mão segurou meus dedos e ele
desenhou aleatoriamente devagar na minha palma. Quando prestei atenção,
percebi que ele escrevia Villain.
— Ei, estou aqui — murmurei, me inclinando e tocando seu rosto. —
Ei, calma. Está tudo bem. — Tentei acalmar a fera prestes a explodir. —
Isso, estou aqui, estou bem.
— Eu preciso lutar. — Ele estalou o pescoço. — Não, ele precisa
lutar.
Villain.
Eu acenei e nós nos erguemos. Havia uma luta clandestina nos limites
de Oak Park. Matteo e ele já foram com Romeo e Rocco. Eu nunca fui, mas
Prince falou sobre algumas vezes.
— Preciso ir — ele avisou a Matteo e nosso irmão acenou.
Nos despedimos e entramos no carro dele. Prince dirigiu com a mão
na minha coxa, apertando tão firme que doía um pouco.
— Prince...
— Não — ele rosnou.
Eu engoli em seco, acenando.
Nós entramos no local afastado minutos depois. Prince falou com o
organizador e depois me arrastou até um banco na plateia lotada. Ele me
sentou e se inclinou sobre mim, completamente sério.
— É ele por inteiro, agora. Villain. — Ele segurou meu cabelo na
minha nuca e lambeu meu pescoço. — Você consegue lidar com ele, Silk? —
A dor no meu couro cabeludo me fez demorar na resposta, mas suspirei
acenando. — Ele está no controle, não diga que eu não avisei.
Ele se inclinou e mordeu meu ombro. Mesmo por cima do casaco,
senti machucar. Villain se afastou e olhou ao redor. Eu suspirei e lambi meus
lábios. Ele tirou o casaco preto, a camisa, as botas e ficou apenas com a
calça justa.
Meu peito acelerou, juntei minhas pernas, desejando lamber sua
barriga. Ele encontrou meu olhar, mas apenas se virou e caminhou para o
ringue.
— De volta, hoje. Villain! — um homem gritou no microfone, me
deixando arrepiada.
Prince subiu na plataforma mais alta e estalou o pescoço. Agitado, o
seu oponente entrou pulando. Prince ficou calmo, apenas o observando.
Quando um sinal ecoou dando início à luta, o homem se adiantou e tentou
desferir o primeiro golpe. Prince não se mexeu e recebeu o soco no rosto.
Ele sorriu, lambendo o lábio, deixando a plateia em silêncio.
O homem atacou mais uma vez, porém nessa Prince se abaixou. Ele
chutou a perna do homem, que caiu. Quando o fez, Villain se afastou e
esperou que ele se erguesse. Assim que ele se ergueu, o homem falou algo.
Villain ficou rígido e depois foi uma sucessão de movimentos rápidos. Ele
socou a garganta do homem e, em segundos, seu oponente estava no chão,
com Villain socando-o repetidamente.
O juiz, ou algo do tipo, os separou. Prince andou lentamente enquanto
o homem cambaleava. Villain sorriu, e quando foi liberado para atacar, ele
chutou o homem nas costelas, girou e chutou sua coxa. Assim que seu
oponente caiu, Villain se inclinou e bateu repetidamente no homem até ele
ficar inerte. Não tive dúvidas de que era cem por cento Villain ali. Para o
tirarem de cima do homem, precisaram de três homens.
Assim que ele se afastou, eu vi a escuridão em seus olhos. Não havia
sinal do meu Prince.
Eu peguei suas coisas, me ergui e caminhei até ele, percebendo que
em seu peito havia respingos do sangue do homem. Quando seus olhos
pousaram em mim, Villain sorriu. A escuridão do seu sorriso arrepiou minha
alma e esquentou meu corpo.
Se eu dissesse que seu lado escuro não me excitava, eu seria uma
mentirosa.
E se eu fosse uma mentirosa, jamais poderia admitir que estava
molhada por presenciar a sua carnificina.
— Vamos, Principessa.
Me arrepiei novamente e sua mão deslizou na minha. Villain me
guiou pela multidão, quando chegamos ao estacionamento, suas mãos
cavaram em minha bunda e ele juntou sua bocaà minha. Era esfomeado, rude
e cruel.
Era completamente nós.
 
 
Silk mordeu meu lábio e eu abri a porta do carro, colocando-a
dentro. Me afastei e corri para o lado do motorista. Pisei no acelerador,
desejando estar dentro dela mais que o meu ar. Villain estava no comando e,
de alguma maneira, Lake estava relaxada com ele. Sua mão entrou em minha
calça e ela me masturbou até chegarmos ao apartamento.
Eu empurrei suas costas contra o metal do elevador e ela gemeu,
abraçando minha cintura. Chupei seu pescoço, deixando marcas, mas não
pareceu suficiente. Eu mordi e quando senti o gosto de sangue, minha besta
se acalmou.
— Villain! — ela gritou, assustada, antes de eu lamber a ferida.
As portas se abriram e eu a levei para a nossa casa. Coloquei-a
sobre o sofá e a observei retirar o casaco e a calça. Quando ficou apenas de
lingerie, eu me aproximei e vi gotas de sangue na ferida. Me ajoelhei e lambi
novamente, amando o gosto do seu sangue na minha língua.
— Você precisa disso? — perguntei, rouco de desejo, acenando para
a peça frágil.
Ela engoliu em seco, apenas depois conseguiu acenar. Peguei minha
faca no tornozelo e enfiei entre sua pele e o tecido frágil.
O som da peça sendo cortada me satisfez, e quando seus seios
saltaram, sorri. Me inclinei, lambi seu mamilo e depois o outro. Beijei o
vale entre ambos e desci até seu umbigo. Lambi e rodopiei minha língua,
ouvindo os gemidos nada baixos de Lake.
— Abra as coxas, Silk.
Minha garota obedeceu e eu beijei seu monte coberto pela calcinha
de renda. Me apoiei sobre meus tornozelos e toquei sua boceta coberta. Lake
arqueou, gemendo baixinho, agora.
Ergui minha faca e deslizei em sua barriga. Seus olhos se
arregalaram e eu sorri, feliz pela surpresa em suas íris. Deslizei o lado
afiado em sua pele, quase podia imaginar os pelos cortando. Lake ofegou e a
faca parou sobre sua boceta coberta.
— Villain... — ela gaguejou, nervosa.
Eu virei a faca, puxando com a ponta a sua calcinha. Quando o tecido
ergueu, coloquei a faca de lado para dentro, e assim que a ponta saiu do
outro lado do tecido, Lake estava respirando com dificuldade. Pressionei o
metal frio nas suas dobras e ela ofegou.
— Shiu, amor.
Lake engoliu em seco e eu virei a faca, puxando e cortando sua
calcinha. Assim que o tecido deixou sua boceta nua, joguei a faca para o
lado. Abri os lábios rosados e observei o suco que cobria sua boceta. O
medo andava de mãos dadas com o desejo. Aqui estava a prova.
Capturei com meu dedo e lambi meu polegar. Lake mordeu o lábio e
empurrou os quadris. Eu me inclinei, lambi de cima a baixo e mordi seu
clitóris. Isso a fez gritar.
— Grite, Silk, ninguém pode ouvir você. — Beijei suas coxas e
voltei para sua boceta. — Isso te assusta ou conforta?
Ela gemeu com meu dedo entrando em seu canal apertado. Lambi
suas dobras e quando ela ficou rígida para gozar, eu me afastei.
— Vire, Silk, você vai gozar no meu pau.
Ela se virou no sofá e eu segurei sua bunda. Desci minha calça e meu
pau saltou, duro e necessitado. Minha garota se inclinou e deixou sua bunda
para cima, fazendo sua boceta se alinhar com meu pau. Deslizei para dentro
e ela suspirou com o aperto. Puxei para fora e bati de volta com força.
— Ah, meu Deus, Prince! — Seu grito ecoou e eu sorri.
— Seu príncipe não está aqui hoje, amor.
— Não me torture — ela pediu, sem fôlego enquanto eu a fodia
rápido.
— É o que faço de melhor, Silk.
Ela olhou sobre o ombro e eu sorri, me inclinando. Peguei seu
pescoço e a puxei, colando meu peito nas suas costas. Lake gritou, segurando
o braço onde eu apoiava em seu peito, para segurar sua garganta. Ela se
virou e juntou seus lábios nos meus. Eu enfiei minha língua em sua boca e ela
gemeu.
— Goze, Silk.
Nem um segundo depois sua boceta pulsou e ela molhou meu pau. Eu
a deixei ter seu momento, e quando terminou me sentei e a coloquei sobre
mim.
— Sente no seu trono, princesa.
— É um prazer, majestade.
Seu sorriso me fez beijar sua boca. Lake sentou em meu pau e
rebolou, me levando no fundo. Quando meu pau pediu libertação, ela saiu e
se ajoelhou. E assim que gozei, sua boca pegou cada maldita gota.
— Eu te amo, Villain. — Ela sorriu.
Eu capturei uma gota do meu sêmen que descia pelo canto da sua
boca, coloquei em seu lábio e ela lambeu.
— Eu amo você, princesa.
 
Lake tomou banho e eu fiz o mesmo, olhando para ela como se fosse
desaparecer. Uma hora, ela iria. Eu sabia disso. Nós iríamos nos separar e
eu sabia que seria minha morte. Porque eu morreria tentando tê-la de volta,
morreria para ter mais um vislumbre dela com a água deslizando por seu
cabelo, enquanto ela fechava os olhos e pendia a cabeça para trás.
Um vislumbre da mulher da minha vida.
— O que você tanto pensa? — ela perguntou assim que saímos do
banheiro.
Eu vesti uma cueca e me deitei, enquanto ela andava até o closet. Ela
pegou uma camisola e a vestiu.
— Trabalho — menti, porque eu preferia sofrer em silêncio do que
ver a mesma dor em seus olhos.
— Hum. — Ela pegou uma escova e penteou o cabelo.
Assim que terminou, ela se deitou ao meu lado e se aconchegou em
meu peito. Beijei sua testa e ela sorriu. Deus, parecia as portas do paraíso se
abrindo para mim.
— Amanhã eu volto oficialmente ao trabalho. — Suas palavras
ecoaram.
— Aquele lugar é seu.
— É, eu sei. — Ela sorriu novamente. — Eu chego cedo e farei
nosso jantar, então não se atrase.
— Você cozinhando? Isso é novidade.
— Lunna me ensinou coisas básicas. Eu vou me sair bem. — Ela riu,
pouco confiante.
— Eu sei que vai.
Ela suspirou e tocou meu rosto.
— É meu Prince? — Sua pergunta simples, porém com tanto
significado, martelou em meu coração.
— Sim, sou eu. — Engoli em seco. — Isso te confunde? Nós dois.
Lake se apoiou em meu peito e ergueu a cabeça.
— Um pouco, mas entendo...
— Eu também não entendia. Não é algo do tempo que estive na
Dinamarca. Já é algo antigo, que nasceu comigo. Eu me lembro disso, da
gente brigando pelo controle. — Franzi as sobrancelhas. — Quando eu
torturava Ettore, nunca era eu. Era ele.
Lake acenou devagar, compreendendo.
— Eu aceito essa parte minha, aceito sua escuridão e às vezes, até a
abraço. Como hoje. Eu fiquei furioso por me lembrar dos estupros. Não de
você, nunca vai ser de você, mas do que aconteceu, e eu precisava colocar
para fora. Villain precisava.
— Eu sei, eu vi em seus olhos a mudança.
Era exatamente isso. Uma mudança. Villain aparecia quando uma
chave era girada em minha mente. Ele gostava de coisas perversas, ele
amava a escuridão.
E uma parte do príncipe que ela amava também.
— Quando isso for demais, quando não conseguir lidar, se afaste de
mim. Corra, corra muito e rápido.
— O quê? Por quê?
— Porque eu amo você, mas a obsessão dele é você.
Lake acenou, engolindo em seco.
Eu a deitei ao meu lado e nós adormecemos de conchinha em pouco
tempo.
 
No dia seguinte, ela foi trabalhar e eu fiquei em Oak Park. Matteo
queria reunir seus homens para falar sobre minha liderança nas contas e
cobradores. Os homens dele eram silenciosos, e muitos me observaram com
cautela.
— Prince é meu irmão, como sabem, e ele vai ficar em Oak Park.
Cobradores devem se dirigir a ele a partir de hoje. — Matteo dispensou
todos e eu acenei para o meu irmão.
— Eles não pareceram gostar disso — murmurei, me sentando diante
dele quando entramos no seu escritório.
— Eles não precisam gostar. Zyon está ocupado por sua culpa, então
nada mais justo que você lidar com a merda dele.
— Cara... — comecei a falar, mas Matteo me olhou.
— Zyon perdeu a namorada há dois anos. Ele não estava pronto para
isso, mas já que você o enfiou nisso, não tem saída.
— Antonella não é uma garota ruim e, porra, ela merecia que eu a
ajudasse...
— Então, por que não foi você que propôs casamento a ela?
Porque eu amo outra pessoa. Amo nossa irmã.
— Isso seria o mais justo, não acha?
— Sim, mas não posso me casar. — Respirei fundo e me ergui. —
Vou conversar com Antonella e Zyon. Se ambos realmente nãoquiserem,
peço a Rocco para recuar.
— O.k., Prince, Rocco sempre escuta você.
— Como assim sempre, cara? — perguntei, irritado pelo seu tom.
— Blue.
Ele me lembrou que falei sobre a mãe dela e o fato de eu ter pedido
por sua vida quando ele não fez, eu o entendia.
— Não era o momento, você agiu por impulso...
— Eu agi como um filho da puta. — Matteo grunhiu e era visível que
isso ainda o machucava. — Blue ficou magoada e eu sei que até hoje é grata
por você ter aparecido naquele momento.
Meu irmão balançou a cabeça e pegou uma dose de uísque.
— Isso não importa mais. Vá lidar com seu trabalho.
Eu acenei e saí, mesmo contrariado.
Assim que surgi no corredor, Zyon apareceu. Quando me viu, ele deu
um passo para o lado. Antonella estava ali, olhando ao redor e engolindo em
seco.
— Ei — cumprimentei ambos, mas Zyon apenas manteve o silêncio.
— Hum, Zyon quis me trazer para conhecer Oak Park. A casa... —
ela falou baixo enquanto ele olhava para longe todo momento. — Eu acho
que foi um erro, no entanto.
— Não, claro que não — falei rápido, mas o seu noivo continuou
com a boca fechada. — Zyon quer que conheça tudo. Não é, Zyon? —
perguntei, empurrando a questão.
— Não, não é. — Ele me encarou. — Você rompeu a virgindade que
deveria ser tirada por mim, então, por que diabos eu vou me casar com ela e
não você? — ele gritou, mas graças a Deus ninguém fora a garota e eu ouviu.
— Calma — ordenei, rígido.
— Eu... — Antonella abriu a boca, mas a fechou.
Ela se virou e saiu andando para longe. Zyon me encarou, quase
como se esperasse que eu fosse atrás dela, mas... desculpa amigo, esse era o
seu dever.
— O prazer de ser um Trevisan — ele grunhiu e se virou, seguindo-a.
Eu fui trabalhar como Matteo pediu, quando anoiteceu fui para casa.
O cheiro de algo bom chegou ao meu nariz assim que passei da porta. Lake
apareceu vestindo um short jeans tão curto que eu via sua bunda, e um top
branco que dava para ver nitidamente seus mamilos.
— Oi... — Quando eu ia abrir a boca para falar seu apelido, uma
miniatura da Blue apareceu.
— Titio! — Nina pulou em meus braços e eu sorri. — Minha mamãe
e meu papai saíram, então eu pedi para ficar com você e a titia princesa!
— Sério, Principessa?
Ela acenou com força e seu cabelo ruivo balançou.
— Sua titia fez algo para comermos? — perguntei, andando até uma
Lake sorridente.
Eu beijei seu cabelo e passei para a cozinha. Ela havia posto a mesa
e um macarrão cheiroso estava no centro, com uma salada.
— Sim! Macarrão da tia Lulu.
Lake riu e eu coloquei Nina na cadeira. Me sentei na ponta e Lake na
outra.
— Então, como está na sua escolinha? — Sua tia começou a puxar
conversa enquanto nos servíamos.
Nina contou tudo detalhadamente, dizendo que seus primos não a
deixavam brincar na hora do lanche. Lake riu escondido, porque Nina estava
realmente brava.
— Remy é rude.
— Você sabe o que é rude? — perguntei, divertido.
— Não, mas ouvi a mamãe dizer isso para o papai quando ele falou
coisa feia.
Lake e eu rimos, sem nos conter, então Nina nos observou até rir
também.
 
 
 
 
 
 
 
Meu primeiro dia de volta ao trabalho havia sido bom, mas parecia
que não iria se repetir hoje. Assim que entrei na minha sala meu telefone
tocou. Eram moradores, mãe e filha, precisando de atendimento.
— Ei, você quer um pirulito? — perguntei à criança que não deveria
ter mais de cinco anos. Vi Nina nela por um segundo.
A menina olhou para a mãe, que sorriu e acenou. Ela pegou o doce
dos meus dedos e agradeceu.
— Qual o seu nome, princesa? — perguntei sorrindo e ela piscou.
— Eu sou Renata e ela é a Flora — a mãe falou e eu sorri.
— Que nome lindo! — afirmei, realmente apaixonada. A garotinha
sorriu pela primeira vez. — No que posso ser útil a vocês, Renata? Já
frequentam o centro comunitário, certo?
A mãe engoliu com força e olhou para a filha. A mulher tinha uma
pele negra e cabelo cacheado, enquanto a garotinha era parda e tinha cabelo
ondulado.
— Flora, que tal você desenhar coisas aqui neste papel para mim? —
murmurei, me erguendo e pegando uma folha e lápis de cor. Levei tudo para
a mesa de centro longe da minha mesa e a menina me seguiu, acenando.
Deixei-a desenhando e me sentei novamente.
— Pode falar, aqui é um lugar seguro. E farei tudo que estiver ao meu
alcance para que se sinta da mesma maneira — murmurei de maneira firme.
Ela acenou. Antes das palavras, lágrimas encheram seus olhos.
— Eu conheci o pai da Flora há alguns anos. Eu... não sabia que ele
era envolvido com drogas. — Ela balançou a cabeça e fungou baixo. —
Nosso namoro foi conturbado, ele sempre foi agressivo e me bateu muito,
mas então eu engravidei. De alguma maneira achei que o consertaria...
Renata sorriu tão triste que pareceu apertar meu estômago.
— Ele não mudou. Ficou mais violento. — Ela olhou para a filha e
soluçou, levando as mãos ao rosto. — Ontem, eu precisei ir ao trabalho e
deixei ela com ele. Deus, como eu me arrependo...
— O que ele fez?
Meu corpo se arrepiou, vislumbres da garotinha que um dia fui
cruzou meus olhos.
— Eu esqueci o celular, e quando voltei ele estava sobre ela,
abusando dela. Da minha garotinha. — Renata me encarou e eu vi o
desespero e a dor em seus olhos. — Eu preciso da guarda da minha filha,
preciso que ele apodreça na cadeia. Já fui à delegacia, mas ele fugiu...
Levei um segundo para respirar e acalmar a menininha cheia de dor e
lembranças. Quando enfim ela se recolheu, eu respirei fundo e segurei as
mãos da Renata.
— Ninguém vai tirar a Flora de você e ele vai apodrecer na cadeia.
Eu juro.
Pedi mais informações a ela, e quando nossa sessão havia acabado,
eu me aproximei da Flora e me sentei ao seu lado. Toquei seu cabelo e ela
me encarou. A dor me sufocou e eu desejei que houvesse uma maneira de
vingá-la.
— Você é incrível e nada disso é culpa sua.
Flora olhou para a mãe e depois para mim. Quando ambas saíram da
minha sala, eu suspirei e fechei os olhos. Quando abri, vi o desenho dela.
Havia um urso nos braços da garotinha e um homem de pé, completamente
escuro.
Eu me ergui rígida e fui para minha mesa. Puxei meu celular e liguei
para a segurança. Assim que Black atendeu, eu suspirei.
— Eu preciso que encontre uma pessoa para mim.
Desliguei o telefone e o coloquei sobre meu peito. Lágrimas grossas
encheram meus olhos e elas deslizaram pelos cantos, me destruindo.
Respirei fundo e meu celular tocou.
— Eu o encontrei.
— Leve-o para o Village.
Eu me ergui e saí do centro comunitário. Assim que cheguei à boate
dos meus irmãos, Romeo estava a minha espera. Eu não parei diante dele,
então ele me seguiu.
— Eu posso saber por que diabos tem um cara numa cela a pedido
seu? — ele grunhiu enquanto eu entrava no corredor das celas.
Tirei meu casaco e puxei as mangas do meu moletom claro. Eu sabia
que isso logo seria inútil, pois o sangue mancharia cada pedaço de tecido.
— Eu estou falando com você, Lake! — ele gritou, insano, então eu o
encarei.
— Ele estuprou uma garotinha do centro comunitário. Cinco anos!
Ela tem cinco anos, como a Nina! — gritei, tremendo e piscando rápido para
não chorar.
Romeo ficou sem reação, mas logo se recuperou.
— Você não pode matar todos... eles se escondem em casas de
pessoas importantes, eles, às vezes, são as pessoas que respeitamos. Não
podemos chegar a todos.
— Mas eu cheguei a esse, e juro pela minha vida, que ele não vai
sair vivo dessa sala. — afirmei, rígida. Meu irmão segurou meu rosto. —
Rome...
— Faz tempo que não me chama assim. — Ele sorriu e beijou minha
testa. — Vá, bebê. Faça o que achar que deve.
Ele se virou e saiu. Eu entrei na sala e encontrei um homem branco,
com cabelo escuro.
— Echo? É você, certo? — perguntei, me apoiando na parede e
colocando um pé sobre o outro.
— O que eu estou fazendo aqui? Vocês pegaram o cara errado — ele
falou sério, me olhando de cima a baixo. — Quem é você?
— Ninguém importante, só a advogada da sua esposa e filhinha.
Seu rostoficou sem expressão, mas ele se recuperou rápido.
— E o que diabos estou fazendo aqui? Cadê a Renata?
Eu me movi e retirei minhas facas do tornozelo. Tirei minha arma e
coloquei sobre a mesa. Echo estava amarrado à cadeira e tentou se soltar
para pegá-las.
— A Renata está tentando cuidar do psicológico que você fodeu, seu
merda! — grunhi, me aproximando e me inclinando. — E da garotinha
também, seu estuprador.
— Eu não fiz nada! Me solte! — ele gritou alto e eu sorri.
— Ninguém vai te escutar. Você falou isso pra ela quando ela
chorou?
Echo gritou assim que passei a faca em seu peito. Segurei seu mamilo
e o cortei. Sorri quando o sangue deslizou.
— É tão rápido — murmurei, fascinada com o líquido vermelho
deslizando.
— Pare! Pare com isso.
— Mas, querido, eu só comecei. — Sorri e me virei, pegando a outra
faca. — Que tal agora o seu pau? — Levei um dedo ao canto da boca e ergui
as sobrancelhas, rindo.
— Socorro! Socorro, alguém me tira daqui!
— Não grite, Echo, faz você parecer uma menininha. — Estalei a
língua, divertida.
Me aproximei, peguei a mesa e a afastei. Não queria perder muito
tempo. Suas mãos estavam presas atrás, então foi fácil abrir a calça molhada
de sangue. Seu pau pequeno e mole saiu e eu quase ri dessa merda, mas
engoli. Com nojo, segurei a coisa ouvindo seus gritos.
— Vocês, homens, se acham tão superiores só porque carregam isso.
É uma pena ter que tirar o seu orgulho, Echo. Realmente, é uma pena.
— Por favor, pare com isso! Socorro! — Lágrimas desciam pelo seu
rosto, mas em nenhum momento me convenceram. A única coisa em minha
mente era a pequena Flora, sendo abusada por esse pervertido.
Passei a faca e forcei, olhando para ele. O sangue jorrou rápido,
quando terminei, segurei seu pau imundo bem diante do seu rosto perplexo e
desesperado de dor.
— Agora me diz, Echo, como você vai foder outra garotinha, seu
merda?
Empurrei seu pau na sua cara e me afastei.
— Eu poderia enfiar uma bala na sua cara, mas a hemorragia que
isso vai causar, além de te fazer sofrer por mais tempo, vai te mandar para o
inferno.
— Oh meu Deus! — Ele soluçou, chorando.
— Ah, não se preocupe com o sangue. — Inclinei a cabeça, sorrindo.
— O chão é lavado periodicamente, você sabe, né, meus irmãos amam
brincar.
Joguei minha faca na mesa e saí da sala. Não me surpreendi quando
vi Prince de pé, diante de mim. O cara poderia estar no inferno que sairia de
lá depois de uma briga insana com o demônio apenas para me salvar.
— Romeo me disse o que houve — ele resmungou, me olhando de
cima a baixo.
Infelizmente, eu precisava de roupas novas.
— Eu preciso de roupas. Cass deve ter deixado para trás algumas.
Pode buscar?
— Não, eu não posso.
— Por quê? — Semicerrei os olhos, irritada.
— Porque você não vai tomar banho aqui. Lave as mãos, nós vamos
subir.
Eu respirei fundo, mas fiz o que ele disse.
Assim que fiquei um pouco mais limpa, subimos e eu tomei banho.
Peguei uma calça da Cassedy e vesti uma blusa quentinha. Quando fiquei
pronta, saí e encontrei Prince olhando pela janela.
— O que foi? — Me aproximei e encontrei Jill parada na frente,
encarando o Village.
— Ela deve querer falar comigo. — Ele passou a mão pelo cabelo.
Eu segurei seu casaco, virando-o para mim.
— Jill está magoada, isso não passa rápido, dê um tempo a ela.
— Eu sei. — Prince suspirou e me encarou. — Tudo bem com isso
tudo que aconteceu hoje?
Se eu dissesse que estava, seria mentira.
— Vai ficar.
— Você vai voltar para o centro ou quer ir para a casa? — Ele tocou
meus ombros e eu o abracei.
— Queria ir para casa, mas marquei um almoço com a Lunna.
— Se divirta, então.
Ele me levou até meu carro e viu que Jill não estava mais ali. Dirigi
até a casa da Lunna e fui recebida por Remy na sala com a irmã Lua. Eu sorri
e me aproximei.
— Como foi na escola? — perguntei, vendo que ainda estava de
uniforme.
— O de sempre.
Nossa, esse garoto...
Peguei Lua e beijei seu rostinho. Ela era muito parecida com a
Lunna, eu a achava linda e uma fofura de garota.
— Ah, que bom que chegou! — minha irmã me abraçou e olhou para
Remy. — King, por que ainda está com o uniforme?
— Lua estava sozinha.
Lunna acenou, olhando ao redor.
— O.k., obrigada por cuidar da sua irmã. — Ela sorriu para o filho e
ele se ergueu, saindo da sala.
— A babá deve estar em algum lugar próximo, mas Remy é
superprotetor. — Lunna riu e me chamou para sentar no sofá.
— Como você está? — perguntei antes que ela pudesse fazer a
mesma questão a mim.
— Ótima. Deus, minha vida parece um conto de fadas. — Ela sorriu
feliz e eu a acompanhei. — Estou brincando, mas, sim, eu estou feliz nesse
momento. Lua é incrível e Remy é meu garotinho perfeito. Romeo é a melhor
coisa da minha vida. — Lunna suspirou apaixonada. — Mas vamos falar de
você.
— Eu estou bem. — Respirei fundo e puxei minhas pernas para cima,
apoiando a bochecha no sofá.
— Como está sendo morar só você e o Prince? — Lunna puxou a
blusa e deu o peito a Lua, o que não a deixou ver minha rigidez pela
pergunta.
— Bem, sabe, ele é ele. Nós funcionamos, sempre fizemos isso.
— Realmente. — Ela riu e inclinou a cabeça. — Eu te amo e quero
que seja muito feliz. Talvez você conheça um cara em Oak Park, se
apaixone... hum? — Lunna arqueou as sobrancelhas, rindo.
— E meu noivo? — murmurei para tirar seu foco e ela balançou a
mão.
— Vamos esquecer Luca. Ele mora longe demais. Quando nos
veríamos? No Natal? — Ela torceu o rosto, negando. — Quero nós juntas.
— Eu também. Eu também.
— Então, parece que temos outra grávida na família. — Lunna
começou a fofoca sem me olhar.
— Sério? — Eu abri a boca. — Lunna! Você vai lotar essa casa.
— Não, não sou eu! — ela gritou, rindo. — Romeo quer mais, mas
estou irredutível. Remy e Lua está ótimo.
— Sienna, então? — perguntei, achando estranho também. Ela havia
dado à luz a Alena há meses.
— Estou entre ela e Kiara. Estávamos na mansão aquele dia, e ambas
foram ao banheiro. Quando fui, havia um teste de gravidez positivo
esquecido na bancada. — Lunna arregalou os olhos, excitada pela fofoca.
— Logo iremos descobrir, mas aposto em Kiara. Dante já está com
quatro anos.
— É, talvez por isso eu chamei as duas para tomar chá mais tarde
com a gente.
— Meu Deus, como você é fofoqueira. — Balancei a cabeça e nós
rimos juntas.
 
 
 
 
 
Kiara e Sienna chegaram na hora exata que Lunna marcou, eu as
invejei pela pontualidade. Eu sempre chegava atrasada aos lugares.
— Ei, como estão? Muito obrigada pelo convite. — Kiara sorriu
para mim e abraçou Lunna.
— Precisamos conversar mais. — Minha irmã sorriu e eu balancei a
cabeça, sem Kiara ver. Lunna só era uma fofoqueira mesmo. — Blue está
chegando.
Como se fosse um chamado, o carro preto do Matteo estacionou.
Blue saiu dele e pegou Nina. Dante e os gêmeos já haviam sumido. Só a
Alena e a Lua haviam ficado.
— Ei, princesa! — Beijei Nina, que retribuiu com entusiasmo.
Logo, ela se juntou aos primos e nós fomos para a sala de chá da
Lunna. Eu nunca havia ido ao cômodo, mas era bonito e tinha uma vista para
o lago.
— Jesus, o Matteo quase me deixa louca. — Blue balançou a cabeça
ao se sentar no sofá. — Não sei se aqui está assim, mas ele sai cedo demais
e volta supertarde.
— Aqui sim! — Sienna ergueu a mão, pronta para reclamar. — Mas
eu não posso culpá-lo. Se eu pudesse também sumiria. Minha mãe está me
deixando louca! Ela comenta sobre tudo, e quando não é tentando me ensinar
sobre meus filhos, é algo relacionado a morte de Salvatore.
Quando ficamos em silêncio, ela suspirou balançando a cabeça.
— Eu a amo, mas conciliar Rocco e ela está me deixando exausta.
Peguei em sua mão e apertei, porque estava estampado em seu rosto
seu cansaço.
— Ela se ressente de você estar com Rocco? — Kiara perguntou,
sentada na ponta do outro sofá. Sienna acenou. — Mas ele não teve culpa,
certo? Pelo que Giulio me disse, ele quem matou seu irmão...
— Foi, mas mamãe não entende apenas isso. — Si suspirou
audivelmente e me encarou.— Prince está bem?
Sienna sempre nos tratou como seus filhos, e com Prince não era
diferente.
— Sim. — Acenei contida e Blue pigarreou.
— Matteo disse que ele obrigou Zyon a se casar com Antonella. —
Suas palavras saíram baixas. — Eu não entendi por qual motivo ele faria
isso.
— Romeo disse que ele se sente responsável pela ruína dela dentro
da máfia. — Lunna deu de ombros.
— De noiva de um dos herdeiros, ela foi para a menina manchada.
Ninguém quis se casar com ela depois disso. — Kiara se arrepiou. — Blue,
talvez não compreenda, mas uma garota sem virgindade e falada pelo povo é
como a morte dentro de qualquer máfia.
— Sim, até da Outfit, mesmo Rocco tendo deixado isso mais de lado.
— Sienna olhou pela janela. — Eu acharia melhor Prince se casar com ela.
Meu corpo ficou rígido e Si me encarou. Tentei disfarçar meu
incômodo ao sorrir negando.
— Ele jamais faria isso.
— Então, ele não deveria ter tirado a virgindade dela — Lunna
rebateu rapidamente. — Amo Prince, mas Rocco deveria tê-lo obrigado a se
casar com ela.
— Lunna. — Blue fez uma careta.
— É a verdade, aliás, Zyon não está feliz com isso, tá? — a minha
irmã questionou enquanto eu empurrava minhas palavras.
— Não, óbvio que não, ele perdeu a namorada recentemente. — Blue
suspirou, triste.
— O que você acha? — Kiara perguntou, sorrindo.
— Eu acho que basta um Trevisan sendo obrigado a se casar —
murmurei séria, deixando todas em silêncio.
— Seu casamento não vai acontecer... por tudo que houve... — Si
começou e Lunna emendou.
— É claro que não, seus irmãos jamais fariam isso.
É, parecia que não.
Quando o celular de Sienna começou a tocar, ela sorriu ao levar o
aparelho à orelha.
— Ei... quem está falando? — Seu sorriso caiu e eu a olhei, curiosa.
— O sr. Trevisan está no Village... ele está lá, não em um helicóptero. —
Sua voz aumentou antes de se erguer. — Meu marido não ia voar hoje, você
está errado!
Ela olhou entre nós e eu me ergui e me aproximei. Meu corpo ficou
frio e eu engoli com força.
— Para onde Romeo foi? — ela perguntou a Lunna, que se levantou
como todas.
— Ele ia até Oak City... o que houve? — Sua voz diminuiu até ser um
sussurro.
— De helicóptero?
— Sim, Matteo disse que iriam todos... — Blue falou, pálida.
Sienna cobriu o rosto e suas pernas cederam. Quando ela cambaleou,
eu tentei segurá-la, mas ela caiu. O soluço que rasgou seu peito me alertou e
esfriou minha alma.
— Giulio, Giulio... — Ela soluçou ainda no celular, então eu peguei
o telefone.
— É a Lake. O que houve? — perguntei rígida e andei até a janela
enquanto Lunna e Blue acudiam Sienna. Kiara me seguiu, pronta para falar
com o marido.
— O helicóptero que levava Romeo, Rocco, Matteo e Prince caiu. —
Suas palavras eram irreais. Elas ecoaram em minha mente, mas não fazia
sentido. — Estamos indo em direção ao local, mas, Lake...
— O que? — Minha voz tremeu.
— Foi sobre o lago congelado. Não sabemos o que encontrar.
Kiara pegou o celular, porque eu o deixei cair. Me curvei sentindo
cada célula do meu corpo se resumir a pó. Eu não podia sequer imaginar que
meus irmãos haviam caído de helicóptero. Não podia visualizar uma vida
sem eles, parecia minha morte.
— Diga que estou indo. Quero um carro, ou qualquer porcaria que
vão usar para resgatá-los — gritei para Kiara, que tremia no celular.
— Ele quer falar com você. — Kiara empurrou o celular de volta e
eu o coloquei no viva-voz.
— Não há tempo para isso. Estou com homens de confiança. Zyon,
Travis e alguns outros. Porém, notícias correm. Os capos estão se reunindo.
A maioria já está achando que todos morreram. Você entende o quão
perigoso isso é? Para vocês, esposas e filhos?
— E o que diabos você quer que eu faça? — gritei, tremendo,
enquanto as lágrimas enchiam meus olhos. — Meus irmãos estão debaixo de
gelo, Giulio! O que você quer que eu faça?
— Lidere. Por um dia, ou uma semana. Lidere até eu encontrar seus
irmãos — Giulio falou baixo. — Porque eu vou encontrar.
Sua promessa era firme e eu podia sentir que ele realmente quis dizer
isso.
Porém, promessas seladas na aflição eram apenas palavras ditas por
alguém desesperado.
E todos nós estávamos.
Desliguei depois de dizer que faria isso. Chamei meu segurança e o
mandei convocar todos os homens que não estavam no resgate dos meus
irmãos.
— Não vou conseguir ficar de pé quando eles quiserem nossa cabeça
e dos nossos filhos. — Blue balançou o rosto, soluçando.
— Eu vou pegar Remy e Lua. Preciso proteger meus filhos. — Lunna
limpou o rosto molhado e me encarou. — Eles querem meu filho, certo?
Remy é o herdeiro...
— Por favor, nós precisamos ficar juntas — murmurei calmamente
enquanto via Sienna ainda no chão, tremendo e chorando. — Kiara vai para
o bunker com os filhos de vocês e as babás.
— De novo? Esse pesadelo mais uma vez? — Blue choramingou.
Eu respirei fundo e limpei meu rosto.
— Façam o que estou dizendo. Agora.
Todas nós fizemos o que era necessário. Quando saímos da mansão
estávamos vestidas como se fôssemos a um jantar de negócios, porém, a
única negociação de hoje seria nossas vidas.
— Fiquem calmas — Sienna murmurou assim que estacionou o carro
diante do Village. Havia muitos carros por ali. — Coloquem os óculos e
olhem para a frente.
— Eu acho melhor você falar com eles — murmurei, tremendo e com
uma necessidade imensa de chorar.
— Você é irmã, é uma Trevisan mais que todas nós. É com você,
Lake.
Encarei Lunna e solucei. Imaginar que talvez somente eu tivesse
sobrado partia meu coração. Eu sabia que jamais seguiria em frente, eu não
podia. Não sem eles.
— Por Remy, Nina, Rhett, Amo, Lua, Alena... Por nós — Sienna
implorou, quebrando meu coração mais uma vez.
— O.k., fiquem ao meu lado.
— Jamais sairíamos — elas falaram em uníssono.
Os homens lotavam o salão do Village. Nós quatro subimos no palco,
com nossos seguranças ao redor. Sabíamos que vir a frente de homens que
acreditavam que éramos lixo era perigoso.
— Boa tarde, senhores — Black gritou e o silêncio recaiu sobre o
lugar.
— Olá a todos. Ficamos felizes e um tanto surpresas pela rapidez
com que chegaram a Chicago — disse alto e olhei ao redor, vendo alguns
rostos retorcidos e outros serenos.
— Nosso Don morreu, é claro que estamos com pressa.
Sienna estremeceu ao meu lado, mas fingi que não vi.
— Meu marido está bem — ela grunhiu, controlada. — Ele não
estava naquele helicóptero. Rocco está bem e só estamos aqui porque, pelo
que parece, os soldados e capos tão fiéis já estavam orquestrando uma forma
de tirar a família Trevisan do poder.
— Se os quatro morreram, não resta ninguém para assumir. Vamos
votar! — um homem gritou.
Eu o encarei e memorizei seu rosto, porque em breve arrancaria sua
cabeça.
— Eu estou aqui — rosnei, séria. — Sou uma Trevisan e ninguém vai
assumir o lugar do meu irmão, seu Don, porque ele está vivo! — Aumentei
meu tom para que pudessem me ouvir, mas estava completamente calma por
fora. — Quando ele retornar a Chicago, farei com que saiba quais os nomes
das pessoas que ousaram pedir uma votação quando, abertamente, sua irmã e
esposa estavam diante de vocês falando que ele está vivo.
— Por que ele não fala conosco? — A voz era familiar. Quando
encontrei o rosto de Luca, eu quis enfiar o anel de noivado que ele me deu
em sua garganta.
— Por que você não questionou isso a mim, noivo? — cuspi, batendo
meus cílios. — Luca, ele não está em um lugar com área, mas não se
preocupe, levarei sua questão a ele quando ele retornar.
— Onde estão seus filhos? Os herdeiros legítimos? — um homem de
jaqueta escura questionou e eu o encarei.
— Longe de pessoas como você — Lunna gritou, andando até o
homem, mas Black a segurou. — Toque no nome dos meus filhos e eu mesma
vou arrancar seus olhos!
O homem semicerrou o olhar, mas não se mexeu.
— Essa reunião está se estendendo mais que o necessário. — Sienna
tocou o ombro da Lunna. — Rocco Trevisan e seus irmãos estão bem. Voltem
para as suas casas, para as suas famílias, e esperem pelaligação dele.
— Por que seguiríamos ordens de uma mísera mulher?
Eu sorri, dei alguns passos até a borda do palco e chutei o rosto do
homem que estava diante de mim. Me agachei até ficar na sua altura e o
encarei.
— Porque esta mulher aqui vai cortar seu pau minúsculo e enfiar na
sua boca — gritei enquanto ele apertava a mandíbula, furioso. O sangue
deslizava do seu nariz. — Alguém quer reclamar de mim? Das minhas
cunhadas? — Me ergui berrando para todos, mas ninguém se mexeu.
— Vão embora. Já! — Black gritou e sua voz retumbou por todo o
Village.
Assim que ficamos sozinhas, eu caí de joelhos, esgotada. Lunna
colocou as mãos nos olhos enquanto eu ouvia o choro de Sienna. Blue
continuava olhando para o nada.
— Co-como eu vou contar à minha fi-filha? — Sua voz quebrou.
Com o queixo trêmulo, eu me ergui e toquei seu rosto.
— Eles estão bem. Eu vou procurá-los agora — afirmei, vendo o
desespero nos olhos das mulheres mais fortes que já conheci na minha vida.
— Eu vou com você — Sienna falou e eu acenei.
Lunna e Blue voltariam para a casa, por causa das crianças.
— Eu e Sienna estamos indo — falei para Giulio assim que ele
atendeu.
— Tem um helicóptero esperando por vocês na mansão. — Sua voz
saiu abafada por causa do vento. Ele parecia estar voando, pelo visto.
— Traga meu marido, não ouse voltar sem ele. — Chorando, Lunna
segurou meu rosto.
— Eu vou trazer — beijei sua bochecha —, eu juro — prometi,
tocando seu cabelo longo e encarando os olhos que eram tão azuis quanto o
mar.
— Acredito em você. — Ela me abraçou apertado e Blue se juntou a
nós.
Guardei o celular e fomos para a casa. Quando a aeronave se ergueu,
eu fechei meus olhos e implorei para que meus irmãos estivessem bem.
Que Prince estivesse bem, porque se eu o perdesse, não sobraria
nada de mim.
Na primeira vez que ousei pensar em perdê-lo, havia sido como
andar sobre chamas, porém, dentro de mim eu sempre soube que ele estava
vivo. Quando todos desistiram, eu fiquei de pé por ele.
Eu sabia que ele estava vivo, porque havia apenas um coração dentro
de mim, mas ele batia por nós dois.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como esperávamos, Giulio estava em um helicóptero. Nós
sobrevoamos o lago Michigan quase por completo quando eu vi Sienna se
abater completamente. Ela se curvou sobre os joelhos e gritou alto com tanta
dor que eu quase pude sentir sobre meus ossos.
— Si... — Minha voz saiu por nossos fones. Toquei seus ombros e a
puxei para mim. — Si, ele...
— Eu não posso viver sem ele, escolho não viver sem ele. — Ela me
olhou com lágrimas descendo por seu rosto. — Que tipo de mãe eu sou que
não pode viver sem o marido? Que não pensa nos filhos? Que tipo de amor
doentio é esse que toma tudo que tenho dentro de mim e me deixa sem nada?
Balancei a cabeça e me neguei a encará-la.
— Olhe para mim, Lake! Você acha que eu conseguiria viver sem seu
irmão? A morte é mais convidativa que isso. Aquele homem, meu Rocco, é o
que faz meu coração continuar batendo. Eu o odeio e amo com cada célula
do meu corpo, e imaginar que ele está lá embaixo, sem vida, me destrói
completamente. — Ela gritou cada palavra desesperada.
Eu a entendi. Entendi mesmo não querendo entender. Mesmo
querendo não amar alguém com essa intensidade, não querendo amar meu
próprio irmão com essa intensidade.
— Senhora — o piloto gritou e nós olhamos para fora.
Pedaços grandes boiavam no que parecia ser um buraco no rio
congelado.
— O gelo está fino, não posso pousar. Giulio está vindo para cá — o
homem falou com firmeza.
— Tem alguma corda que posso usar? — Sienna questionou,
engolindo com força e puxando suas luvas.
— Não acho seguro...
— Eu vou descer, de um jeito ou de outro.
O homem suspirou ao ouvir a voz séria e acenou para a escada presa
ao piso da aeronave. Sienna abriu a porta e a jogou.
— Está ventando demais... — O homem tentou novamente, mas eu o
calei com um olhar.
— Desça, irei atrás de você. Segure firme — falei rapidamente e ela
acenou.
Sienna desceu lentamente, e como o piloto disse, estava ventando
demais. Ela balançou para o lado e por um segundo quase caiu, mas minha
cunhada voltou a ficar firme. Assim que ela pisou no gelo, eu desci.
A corda estava gelada mesmo sob minhas luvas. O vento me jogou de
um lado para o outro, congelando meu estômago por um segundo. Voltei a
ficar firme e desci lentamente, quando pisei no chão, Sienna tocou meu
ombro. Nós andamos lentamente com o helicóptero sobre a nossa cabeça.
O buraco que parecia pequeno de cima era enorme. Não havia sinal
dos meus irmãos, apenas pedaços do helicóptero.
— Eu vou entrar — Sienna falou.
Eu me virei, vendo-a tirar o casaco.
— Ele não está aí — falei, rígida, porque se estivesse não seria com
vida.
— E onde ele está? — Sua voz caiu ao mesmo tempo em que ouvi um
grito.
Nos viramos e primeiro vi o vermelho, depois uma pessoa
balançando as mãos. Eu corri com Sienna, e assim que nos aproximamos vi
que o vermelho era sangue. Muito sangue.
— Porra, o que vocês duas estão fazendo aqui? — Sentado, Matteo
gritou, segurando a perna que parecia machucada.
Eu vi que a poça vermelha vinha do lado. Assim que percebi quem
era, caí ao seu lado.
— Ei... — chamei devagar. Prince abriu as pálpebras por um
segundo. Procurei seu machucado e apertei, mas estava gelado demais. —
Acorda.
— Passarinha... — Rocco gemeu atrás de mim.
Eu me virei e o encontrei segurando o braço.
Sienna o agarrou e chorou no pescoço dele. Rocco apenas apertou os
dentes, morrendo de dor, mas compreendendo o desespero dela.
— Prince, acorde — pedi, assim que voltei a olhá-lo. — Sou eu,
acorde — implorei, ouvindo meu batimento cardíaco ir à loucura. — Por
favor.
— Ele está com uma laceração na barriga — Romeo falou, deitado.
Eu me movi para ele, ainda segurando a mão do Prince. — Eu bati minha
coluna, não consigo mexer minhas pernas. Dói pra caralho.
— Fique quieto. Giulio já está vindo com o socorro.
Romeo acenou e me olhou.
— E a Lótus?
O amor em seus olhos me fez responder rápido.
— Está esperando você com Remy e Lua. — Toquei seu rosto e o
beijei. — Fique quietinho que já, já você estará com a sua Lótus.
— Silk — Prince gemeu.
Eu me aproximei, vapor condensado deixando meus lábios a cada
respiração.
— É a Lake, mané. Fique acordado, já estamos indo para casa. —
Matteo estalou o pescoço e respirou fundo, fechando os olhos.
— Blue está tão assustada — Sienna falou enquanto eu apoiava
minha testa na do Prince.
— Estou aqui. Acorde. Abra seus olhos, por favor — implorei,
falando baixo com a garganta fechando.
— Ele vai ficar bem, Lake — Rocco falou e eu acenei.
Até Giulio chegar, eu fiquei com Prince, tocando-o e dizendo mais e
mais para que ele acordasse e ficasse comigo. Romeo e ele foram os
primeiros a serem içados para o helicóptero dos bombeiros. Eu tentei ir com
ele, mas era inviável, por isso fui com Sienna para o mesmo que havia nos
trazido. Antes de subir, no entanto, esperamos içarem Matteo e Rocco
também.
Olhei para fora, deixando o restante do helicóptero para trás.
— E o piloto? — perguntei, me dando conta de que não havia
ninguém além dos meus irmãos.
— Romeo estava pilotando. — Matteo grunhiu com dor e eu toquei
seu braço.
Assim que pousamos, Blue apareceu com seu cabelo cor de fogo
voando e olhos cheios de lágrimas. Matteo sorriu quando foi movido para a
maca.
— Suba aqui, Flame.
Blue não pensou duas vezes. Matteo estava meio sentado e ela ficou
sobre seu colo, tendo cuidado com a perna machucada.
— Você não se atreva a sair de perto de mim novamente. — Ela
segurou seu rosto com uma mão, apontando o dedo magro para ele. — Não
se atreva, Matteo... nossa filha, ela... eu nunca...
— Tudo bem, Flame, estou aqui. Está tudo bem. — Ele a abraçou
apertado antes de colocarem os dois em uma ambulância. Eu entrei nela e vi
Rocco e Sienna subirem em um dos nossos carrinhos de golfe.
Assim que entrei no complexo de saúde, fui atrás do Prince, que
havia entrado em cirurgia. Lunna estavaandando no quarto que Romeo
ficaria. Eu entrei e ela me olhou, piscando e fungando.
— Ele ma-machucou a coluna, mas estava bem, ele falou comigo...
perguntou da Lu-lua, do Re-remy... ele va-vai ficar bem — ela falava uma
palavra sobre a outra, nervosa e trêmula.
— Shiu, está tudo bem. Já, já ele vai para casa — falei com firmeza.
Ela me abraçou com uma força desmedida, chorando em meu cabelo.
Nós esperamos por horas. Longas horas. E quando Lunna cansou, eu
a deixei dormindo no quarto de Romeo e fui para o do Prince. Me deitei na
cama e puxei minhas mãos juntas para o meu rosto, só aí me dei conta do
sangue.
— Por favor, por favor — implorei a Deus.
Ao mesmo Deus que me dizia que era pecado o amar, o mesmo Deus
que me deu livre arbítrio, mas deixou claras as consequências. O mesmo
Deus que amava a todos, que me amava, mesmo eu pecando.
Ele já havia trazido Prince para mim, ele faria novamente.
Eu necessitava que ele fizesse isso.
 
Eu acordei horas depois com a porta sendo aberta. Empurraram uma
maca para dentro e eu vi o cabelo escuro primeiro. Depois ele apareceu de
lado e então sua tatuagem ficou visível.
Um senhor entrou depois dele, segurando uma prancheta, então
questionei sobre a saúde do Prince.
— Ele teve o pulmão perfurado e houve um princípio de hemorragia,
mas conseguimos controlar rapidamente — o médico falou, arrumando os
óculos. — Prince vai dormir por algumas horas por causa da anestesia, mas
está estável.
— Obrigada, doutor — murmurei, me aproximando do meu irmão.
Peguei sua mão e me inclinei, vendo sua barriga enfaixada. Ele
estava com os olhos fechados e parecia sereno. Afastei seu cabelo e
descansei minha cabeça em seu ombro.
— Estou aqui, amor. Não vou sair daqui, eu prometo.
Ele não esboçou reação e eu não esperei que o fizesse. Fiquei ao seu
lado por horas, quando a porta voltou a abrir, era Lunna.
— Como ele está?
— Não acordou ainda. E o Romeo? — Suspirei, me afastando do
Prince.
— Dormiu há alguns minutos, depois de brigar com o efeito da
anestesia. — Minha irmã sorriu e se aproximou, pegando na mão dele. —
Nem acredito que todos estão vivos.
— Nem eu. — Sorri, com os olhos úmidos.
— Sienna vem ver Prince daqui a pouco. Ela está preocupada.
Eu imaginava.
Lunna saiu e a porta voltou a ser aberta depois de alguns minutos.
Dessa vez, Matteo entrou com Blue ao lado. Ele estava em uma cadeira de
rodas e sua perna enfaixada.
— Como ele está? — Matteo se aproximou e segurou o ombro de
Prince.
— Não acordou ainda. — Sorri para Blue e ela tocou a perna de
Prince.
— Vamos ficar na mansão até a minha perna melhorar. Ligue quando
ele acordar. — Meu irmão se aproximou de mim e segurou minha mão. —
Obrigado por cuidar de tudo. Delas.
Blue e Nina.
— Eu sou uma Trevisan, não sou? — Dei de ombros, mas meu irmão
me puxou para olhar bem em meus olhos.
— Você é a melhor versão dessa família fodida. — Ele tocou em meu
rosto. — Nina e Blue são as coisas mais importantes da minha vida. Você as
protegeu. Mesmo quando estava morrendo por dentro, você as protegeu,
então, me deixe agradecer.
— Matt...
— Obrigado por cuidar do meu coração.
Eu o abracei e choraminguei em seu ombro. Matteo me soltou e Blue
me abraçou também.
— Obrigada! Amo você.
Assim que ambos saíram do quarto, eu me virei para Prince. Me
surpreendi ao vê-lo com os olhos meio abertos.
— Enquanto você salvava o dia, quem cuidou de você?
Eu corri para seu peito e o abracei, tendo muito cuidado com o seu
lado direito.
— Eu nunca tive tanto medo na minha vida... — Tentei falar,
tremendo.
Ele beijou meu cabelo. Com lágrimas deslizando por meu rosto, ele
segurou minhas bochechas.
— Eu estou bem, Silk — Prince murmurou, enxugando minha pele,
então me afastei um pouco. — Então, quem?
— É o seu dever cuidar de mim, então... — Sorri devagar e ele tocou
meu rosto com carinho. Eu derreti, amando seu toque.
— Seu príncipe chegou.
— Cadê o cavalo branco? — brinquei.
Ele riu, negando.
A porta foi aberta pela terceira vez e Sienna surgiu. Rocco estava ao
seu lado, com Rhett e Amo nas suas pernas. Alena estava nos braços da Si.
— Como eles vieram parar aqui? — perguntei a Sienna quando me
afastei e ela abraçou Prince.
— Rocco.
Meu irmão era louco pelos filhos, não estava surpresa que ele havia
mandado trazer seus herdeiros.
— Pronto para outra? — Meu irmão mais velho sorriu para Prince.
Seu braço também estava enfaixado onde ele machucou.
— Me lembre de nunca mais entrar em um helicóptero com Romeo
no comando. — Prince riu e Rocco balançou a cabeça, rindo.
— Ele sabe pilotar, aquela tempestade de neve nos pegou. Acontece
— Rocco falou, tocando nos filhos a cada oportunidade.
— Eu sei, estou zuando. Como ele está?
— Não acordou ainda, mas os médicos disseram que bem. A coluna
é algo que vamos descobrir quando ele acordar. — Todos nós respiramos
fundo.
Rocco me abraçou e eu relaxei contra o seu peito, me sentindo
protegida.
— Obrigado, pequena.
Eu beijei seu rosto e me afastei. Eles foram embora depois de mais
alguma conversa. Quando fiquei sozinha com Prince, me virei e voltei para
perto dele.
— Ficamos pouco tempo morando juntos, hum? — Eu ri, puxando
conversa.
Ele se afastou um pouco, me dando espaço para deitar, o que fiz
rapidamente.
— Vou me recuperar rápido, não há nada que fique entre mim e você
depois que eu tive um gosto do que é morar com você.
Minhas bochechas coraram e ele riu, mas parou quando sentiu
desconforto.
— Durma. — Toquei seu rosto e sorri. — Eu preciso disso. Hoje foi
um dia horrível e cansativo.
— Então, feche os olhos, princesa. Não vou sair daqui.
Isso me confortou tanto que por um segundo me assustei. Mas era
isso, certo? Eu o queria ali, ao meu lado para sempre. Eu o amava com tanto
afinco, que pensar em um futuro sem ele parecia como um castigo com uma
imensidão de dor.
Uma da qual eu não queria ou estava preparada para ter.
— Você me assustou — murmurei, bocejando quando ele tocou meu
cabelo.
— Eu me assustei. — Seus olhos ficaram claros e sinceros. — Por
um segundo, eu vi minha morte e percebi ali que vale a pena. Viver uma vida
com você, mesmo que escondidos, vale a pena. Amar você vale a pena. Eu
poderia morrer ali e teria vivido com glória por ter você.
— Prince... — Pisquei o olhando, mas ele fechou as pálpebras.
— Eu poderia morrer hoje e teria valido a pena, porque eu tive você.
 
 
 
 
 
 
 
 
O acidente havia sido um borrão, mas eu me lembrava do principal, a
queda. Romeo não foi realmente o culpado. O vento era aterrorizante.
Romeo desceu o tanto que pôde, e quando o helicóptero caiu, nós fomos para
o fundo do lago.
Nós não, eu e Matteo. Rocco nos salvou, mesmo com o braço fodido
entrou na água e nos tirou de lá. Meu irmão aguentou a dor e só parou quando
amarrou o paletó na minha ferida e do Matteo.
Ir de última hora a Oak City havia sido uma emergência. Rocco
descobriu que uma nova gangue estava comprando de nós e adulterando a
merda. O Don não resolvia as coisas por telefone e ir até lá de carro levaria
tempo, então ele optou pelo helicóptero.
Fomos todos porque ele quis assim. Romeo era seu consigliere,
andava com ele para cima e para baixo, mas Matteo e eu, não. Porém, nesse
dia ele quis que fôssemos com ambos.
— Você tá bem, né? — Rocco perguntou, sentado ao lado da minha
cama no dia seguinte. Ele parecia preocupado. Os únicos no hospital ainda
eram eu e Romeo.
— Estou. O médico disse que ficarei aqui uns dias, mas estou bem.
Ele acenou, olhando para o celular. Romeo ainda não havia acordado
e isso estava nos deixando cautelosos.
— Nina está aqui! — Lake deu um gritinho quando a filha de Matteo
apareceu.
— Tio Plince! — Quando Nina pulou em cima de mim, Lake deu um
grito assustado.
— Tudo bem. — Eu a acalmei e segurei Nina. — Oi, princesa. Como
você está?
— Bem, mas e o senhor?
Sorri quando ela colocou a mão no queixo, parecendo pensativa.
— Estou melhor agora com a princesa do tio aqui. — Beijei sua
cabeça e ela sorriu, contentepela resposta.
— O meu papai disse que vai ficar bom logo — ela comentou
baixinho. — A tia Kiki disse que eu sou uma garotinha comportada.
— E por que ela disse isso? — Lake puxou conversa, sentando ao
lado.
— Porque o Dane não quis blincar comigo. Acleditam? — Ela fez
um movimento afirmativo com a cabeça e Lake me olhou sorrindo.
— O Dane é chato igual o pai dele, Nina — Rocco falou sério e Nina
fez careta.
— Talvez. — Ela colocou a mão abaixo do queixo.
— Dane é um garoto. Todos os garotos são chatos — Lake falou com
firmeza e nossa sobrinha me encarou.
— Mas o tio Plince e meu papai não são — ela negou, confiante.
— E o tio Rocco? — Meu irmão semicerrou os olhos.
— E o titio Locco.
Lake e eu rimos. Nina ficou comigo mais alguns minutos antes dos
seus pais aparecerem para me ver e pegá-la.
— Se precisar de algo, me ligue. — Rocco se levantou para sair
também.
Eu acenei, agradecendo em seguida.
Quando Lake e eu ficamos sozinhos, ela sorriu para mim.
— Nina é tão esperta. — Lake colocou o cabelo atrás das orelhas.
— Para a idade dela, com certeza. — Sorri, pegando sua mão.
Lake se sentou por perto e colocou a cabeça em meu ombro. Depois
de algum tempo, percebi que ela adormeceu. Toquei em sua bochecha e
suspirei.
Quando ela apareceu no meio daquele gelo, quase me obriguei a ficar
acordado, mas a dor estava me cegando. De alguma forma, eu relaxei e fui
engolido pela escuridão porque sabia que ela estava comigo, ela me
manteria ali. Com ela.
Foi um daqueles momentos que eu disse a ela. Não importava se eu
fosse morrer, estaria feliz por estar em sua presença, sob seu olhar.
Porra, podia parecer idiota, mas a maneira como eu a amava não
podia ser explicada com palavras fáceis.
Lake Trevisan tinha minha alma e coração entre os dedos.
 
 
Quando Romeo acordou no dia seguinte, todos correram para o seu
quarto. Assim que Rocco abriu a porta, ele estava de pé beijando Lunna, que
estava sentada na cama. Quando nos ouviram, ambos se afastaram. Eu estava
em uma cadeira de rodas, com Lake empurrando.
— Vocês podiam ter batido — Romeo grunhiu, mas nós o ignoramos
e entramos.
Não precisamos perguntar se estava tudo bem, ele parecia excelente.
Nós conversamos rapidamente, mas tive que voltar ao meu quarto quando o
médico mandou. Lake riu assim que me deitei na cama novamente.
— Eu quero ir embora.
— Mas já? — Ela arqueou as sobrancelhas, divertida.
Ela parecia estar amando minha ruína.
— Sim, eu não posso te foder nessa porra de hospital — rosnei.
Ela parou de sorrir e mordeu o lábio.
— Realmente não pode. — Lake se aproximou e tocou a tatuagem em
minha garganta. — Eu amo isso. — Ela suspirou e se inclinou até meu
ouvido. — Se você for um garoto bonzinho, vou tatuar seu nome na minha
bunda.
— Na bunda, não. — Alcancei suas coxas e coloquei a mão entre
suas pernas. — Bem aqui. — Pressionei a parte interna da sua coxa, perto da
sua boceta.
— Sério? Você nunca vai deixar uma pessoa chegar tão próximo daí.
— Ela riu, piscando,
Toquei realmente entre suas pernas grossas.
— Eu vou tatuar. Aprendi no meu tempo na Dinamarca.
— Sério? — Ela parecia cética.
— Sim, as de Yerík fui eu quem fiz.
— Tudo bem, então.
Ela sorriu e beijou meu rosto, próximo da minha boca. Segurei seu
cabelo e a puxei, mas Lake foi mais rápida e desviou. Rosnei, irritado, e ela
beijou minha bochecha.
— Aqui não. Alguém pode entrar. — Sua explicação deveria ter me
acalmado, mas a besta dentro de mim não queria entender.
— Tudo bem. — Me forcei a falar e ela se afastou.
Nós passamos mais dois dias no hospital, mas eu queria ir para a
casa. A nossa casa, por isso que quando tive alta, cinco dias depois, eu
fiquei furioso quando Lake concordou em ficar em Chicago.
— Você deveria ter dito não, me apoiado — falei com raiva, me
sentando na cama.
— Você precisa ter uma assistência que em casa não temos. — Lake
abriu as janelas do meu antigo quarto. Sienna já havia arrumado cada
porcaria em seu lugar.
Isso era algo que estava me incomodando. Ela havia ido ao nosso
apartamento.
— Você a deixou ir até lá? — perguntei. Lake suspirou, parando de
se mover. — Ela pode ter achado coisas...
— Não achou nada. Tudo estava em perfeita ordem. Suas coisas no
seu quarto, e as minhas, no meu. — Quando ela franziu as sobrancelhas, vi a
centelha de dúvida.
— Será?
— Pare de me enlouquecer. Sei que queria ir para a casa, mas é
melhor ficarmos aqui. — Ela se aproximou e se sentou ao meu lado. —
Sienna vai ficar em cima, sabe como ela é com você. Vou dormir no meu
quarto...
— Nem fodendo.
— Você está agindo como uma criança quando lhe negam doce...
— Sua boceta é doce, então acho que está certa.
Lake balançou a cabeça e suspirou.
— Eu também quero sua cabeça entre as minhas pernas, mas
precisamos ter cuidado. — Sua voz saiu baixa, submissa e eu fui rendido.
Que porra.
— O.k. Só uma semana. Nada mais.
Ela sorriu e olhou para a porta. Eu havia trancado assim que entrei.
Lake voltou a me encarar e juntou nossos lábios. Eu gemi, puxando sua nuca
e assumindo o controle. Mordi seu lábio e ela abriu a boca para reclamar,
mas usei a brecha para enfiar a língua. Lake gemeu e derreteu contra meu
peito.
— Se eu tocar em você agora, sua boceta vai estar como, Silk?
Ela suspirou e mordeu o lábio.
— Responda a maldita pergunta, Lake.
— Ensopada — gemeu baixinho, então subi seu vestido.
— Toque suas dobras e coloque seus dedos melados na minha boca.
Seu colo ficou vermelho, mas ela me obedeceu. Lake levou sua mão
até a borda do vestido e abriu as coxas, afastando a calcinha de renda
branca. Ela enfiou os dedos gemendo e continuou a tortura. Minha boca
estava com água, e meu pau, duro.
— Essa porra é minha. — Agarrei sua mão e puxei para meus lábios.
Lambi cada um dos dedos, sentindo seu gosto. Foi como se eu
estivesse no deserto e apenas uma gota de água caísse em meus lábios. Eu
avancei, puxando-a pelos quadris e me deitando. Sentei sua bunda em meu
rosto e lambi sua boceta molhada. Meu pau soltou sêmen e eu gemi quando
abocanhei seu clitóris. Lake mordeu a cabeceira acolchoada para conter seus
gritos.
Eu a chupei com sede, e quando gozou eu a segui. Era inevitável.
— Ah, Prince... — Ela riu, saindo de cima enquanto eu lambia os
lábios.
— Você...
Parei de falar quando bateram e depois giraram a maçaneta. Os olhos
dela duplicaram e eu xinguei.
— Ei, acabei fechando a porta para dormir — gritei para a porta.
— Hum, é... o.k. Você viu a Lake? — Sienna perguntou.
Fodeu.
— Ela disse que ia tomar banho — respondi, vendo Lake andar de
um lado para o outro.
— Ah, é que vim do quarto dela...
Porra fodida dos infernos.
— Você perguntou à sua mãe? Ao Rocco? Eu realmente não sei onde
ela está — falei, tentando ficar calmo.
— Tudo bem. Vou procurar pela casa. Bom descanso...
Assim que suspirei aliviado, ela voltou a falar.
— Aliás, preciso pegar uma coisa no seu banheiro. Pode abrir pra
mim? — Assim que Sienna retornou a falar, Lake levou as mãos ao rosto.
Apontei para o closet e Lake entrou nele, com cuidado para não fazer
barulho. Me ergui e vi a mancha de gozo na calça. Tirei a roupa e peguei um
short limpo da pilha que havia na cadeira.
— O que você esqueceu no meu banheiro, Si? — perguntei, com a
voz entediada.
Sienna entrou e olhou ao redor. Eu soube ali que ela sabia. Sienna
nunca foi idiota.
Ela andou para o banheiro e pegou uma caixa com um teste de
gravidez.
— Grávida? De novo? — Arqueei as sobrancelhas.
— Não, não estou. — Ela me olhou, fechou os olhos e saiu do quarto,
sem falar mais nada.
Seu desapontamento não podia ficar mais visível.
Fechei a porta e me deitei na cama. Lake saiu do closet e se
aproximou, mordendo a unha.
— Ela sabe — falei de uma vez.
— Meu Deus — Lake levou as mãos à boca, tremendo —, meu Deus,
meu Deus... — ela continuou falando isso, desesperada.
Minha cirurgia doeu quando me ergui, mas ignorei isso.
— Olha, não surta. É a Sienna, ela não vai entregar a gente...
— Prince, pelo amor de Deus,ela deve estar com nojo de nós dois!
— ela gritou e se afastou, andando para lá e para cá. — Ela... ela... ela... ela
deve achar um erro, é óbvio que ela vai falar pra ele!
— Lake...
— Jesus! Ele vai matar nós dois. — Ela estremeceu.
Eu me aproximei, segurando seus ombros e depois seu rosto.
— Fique calada, porra! Ela não vai entregar a gente, não sem ter a
certeza absoluta.
— Vamos embora, por favor. — Lake piscou e o medo em suas íris
não era por ela, era por mim.
Nós dois sabíamos o que nossos irmãos fariam comigo.
— Pra onde, Silk? Nossos irmãos merecem mais... eles vão ficar
putos, mas não vão me matar...
Era mentira.
Lake era a menina deles, nossa. Eles rasgariam meu corpo.
— E você... você só vai ser mantida longe de mim. — Toquei sua
nuca e a puxei para mim.
— Eles podem não querer, mas vão fazer isso...
Foda-se, eu não me importava comigo.
— Você vai sair do quarto e subir para o seu, quieta. Quando descer,
finja. Se Sienna perguntar algo, minta. — Lake acenou mesmo com meu
aperto. — Vai ficar tudo bem, Silk. — Beijei seu cabelo
— Me diz — ela se afastou e colocou as mãos no meu peito —, se
eles descobrirem... você jura, jura que vamos embora. Se tivermos a
oportunidade, nós vamos embora.
— Não...
— Jure! Jure por mim, por sua alma, pelo seu coração! — Lágrimas
enchendo seus olhos e o desespero em suas palavras me fizeram jurar.
— Eu juro! Prometo, Silk. — Puxei-a para mim e beijei sua boca.
Ela se afastou mais uma vez e andou para a porta.
— Sem olhar para trás.
— Sem olhar para trás.
Ela saiu do meu quarto e eu fui para o closet. Vesti uma calça e
coloquei minhas facas nas pernas e braços. Quando vesti a blusa, bateram à
minha porta.
 
 
 
 
 
 
 
 
Assim que encontrei Sienna depois de muito andar pelo quarto, ela
estava no cais. Me aproximei, apertando meu casaco e ficando ao seu lado.
— Você estava me procurando? — Tentei deixar o nervosismo que
apertava meu estômago de lado e sorri.
— Hum, sim. — Sienna se virou e me encarou.
De alguma maneira eu soube, olhando em seus olhos azuis, que ela
não tinha certeza, mas desconfiava de algo.
— Eu fui pegar as coisas do Prince em Oak Park... Lake, ele levou
alguém para lá?
Sua pergunta me fez gelar, mas apenas franzi as sobrancelhas.
— Alguma menina? Eu não vi, por quê? — perguntei, cruzando os
braços e fingindo desconfiança.
— Encontrei uma calcinha nas roupas dele...
Caralho. Como diabos esqueci uma calcinha nas roupas dele, porra?
— Se ele levou alguém, foi quando eu estava no trabalho — falei,
desviando os olhos dela. — Por que não pergunta a ele?
— Não. Ele vai achar que estou me intrometendo na vida dele. —
Ela suspirou, negando e se virando para o cais novamente. — Enfim, a festa
que o prefeito fará é nesse final de semana. Já escolheu um vestido?
— Não, você vai às compras? — murmurei, sabendo que Sienna
amava me vestir.
— Talvez... — Ela sorriu e eu relaxei.
Nós voltamos para dentro e eu subi para o meu quarto. Mandei uma
mensagem para Prince, mas ele não respondeu. Esperei por quase duas
horas, mas me cansei. Fui até seu quarto e abri a porta, quando vi seu corpo
adormecido na cama me acalmei.
Saí sem fazer barulho e encontrei Blue na cozinha. Nina estava longe
de ser vista.
— Você está bem?
Depois do susto de quase ser descoberta, eu estava.
— Sim, sim. Cadê nossa garota? — Me sentei apoiada no balcão
largo que nos separava.
— Escola. Depois de dias, Matteo finalmente a deixou ir. — Blue
riu, prendendo o cabelo no alto da cabeça. — Sienna disse que vamos às
compras amanhã. — Ela fez uma careta. — Amo Sienna, mas ir a um
shopping com ela e Lunna é pedir pra morrer.
— Ela nos veste como se fôssemos suas bonecas — completei,
gemendo.
Blue acenou.
— Vou porque preciso de um vestido para essa festa.
— Eu também.
Nós conversamos por alguns minutos e eu me lembrei da grávida
misteriosa.
— Sim, Lunna encontrou um teste de gravidez positivo aqui na
mansão — comecei a fofoca e Blue arregalou os olhos. — Estavam aqui
Sienna e Kiara. Agora, Lunna e eu estamos tentando descobrir quem é. —
Ergui a sobrancelha e ela se aproximou, cochichando.
— Eu aposto em Sienna.
— Não, ela não.
Neguei rápido, lembrando-me que Prince havia perguntado a ela
quando entrou no quarto.
— Kiara, com certeza. — Apontei para Blue e ela mordeu o lábio.
— Sim, mais provável. Si não esconderia de nós.
Kiara também iria a essa festa, por isso, Blue traçou um novo plano.
Lunna amaria a ideia, porque estava tão curiosa quanto nós.
No jantar, Prince ficou no quarto, de repouso, por isso fui levar sua
comida. Assim que entrei, ele tirou os olhos do videogame por um segundo.
— Com fome? — Sorri, aliviada por estarmos protegidos em nosso
segredo.
— Sim. — Ele acenou sorrindo e pausou o jogo. Coloquei a bandeja
à sua frente e ele focou em comer. — Tudo bem?
— Sim. — Acenei olhando para a porta, mas estava fechada. —
Sienna achou uma calcinha minha nas suas roupas. — Mordi meu lábio e
Prince fez uma careta.
— Não havia levado as coisas para o seu quarto?
— Sim, não sei como esqueci uma.
Prince tocou meu rosto e acariciou minha bochecha com o polegar.
— Está tudo bem.
— Por que está com essa roupa? — Toquei em sua perna e senti a
faca. Meu corpo ficou rígido. — Você está armado?
Prince desviou os olhos dos meus.
— Sim, eu achei que Rocco já estivesse vindo me matar...
— E o que você iria fazer com as facas se ele tivesse vindo?
Machucá-lo? — Semicerrei os olhos quando ele não me respondeu, então me
ergui da cama. — Ele é nosso irmão.
— Eu vou defender você até a minha morte. Só vou parar de lutar e
aceitar meu destino quando você estiver segura — ele rebateu rapidamente e
inclinou a cabeça, fúria nadando no mar azul.
— Eu sei me defender também. Eu posso nos defender quando for
preciso, mas eu não posso ver você machucar nossos irmãos. — Me
aproximei e toquei seu rosto. — Eles não entendem, e nós, não muito tempo
atrás, também não.
Prince recuou. Seu silêncio foi longo e eu não sabia se ele não
mudaria de ideia. Se havia algo que Prince fazia sem medir consequências,
era me proteger.
 
No dia da festa, Prince ficou em casa por motivos óbvios, enquanto
todos nós comparecemos à festa. Matteo já estava bom da perna e Romeo
nem parecia que havia machucado a coluna. Ao lado da Lunna em um vestido
preto que agarrava seu corpo em todas as partes poucos centímetros acima
do joelho, meu irmão estava de terno preto, completamente sério.
— Eu ainda fico chocada com a beleza da Lunna — Sienna
murmurou ao meu lado. Eu acenei, mas Si também estava esplêndida. Com
um vestido azul-escuro ombro a ombro e longo, ela estava a perfeição. —
Você também é perfeita — ela murmurou rápido e eu encarei seus olhos. —
Vocês são parecidas...
Eu estava com o cabelo liso e preso atrás. Meu vestido era de alças
finas e a parte superior lembrava um espartilho, mas esse alcançava apenas
meu umbigo. A saia caía fluida e havia uma fenda na perna esquerda. Ele era
completamente preto, com detalhes em prata.
— Obrigada, Sienna. Você também.
O prefeito fez um discurso curto, mas decidido. Todos os presentes,
desde a polícia a empresários ricos, sabiam quem éramos. Ninguém na
cidade ousaria falar sobre a Outfit. Nem mesmo a polícia.
Nós nos sentamos juntos com Kiara e Giulio à mesa. Depois que
Sienna disse o que Giulio fez por nossa família aquele dia, nossos irmãos
estavam mais confiantes sobre o ex-Cosa Nostra.
Eu ainda custava a acreditar que Giulio foi capaz de voltar a Outfit
depois de fugir. Olhando para Kiara, eu poderia entender. Ele a amava mais
que tudo. Ela era a sua esposa e sua alma.
O que todos nessa mesa tinham era o que eu sempre quis.
Eu consegui o amor insano, a obsessão mais crua, porém ninguém
nunca poderia presenciar esse amor. Isso me destruía.
— Você está bem? — Blue perguntou ao lado e eu a encarei.
Completamente de vermelho, a esposa de Matteo fez várias cabeças se
virarem quando chegou.
— Sim, eu acho. — Fiz uma caretae sorri. — Estou um pouco
enjoada, mas não é nada de mais...
— Quer ir para a casa? — Matteo perguntou, preocupado.
Sim! Por favor, eu poderia estar com Prince agora. Livres do medo.
— Talvez, vou esperar alguns minutos pra ver se melhoro. — Dei um
sorriso amarelo a todos na mesa.
— Melhor ir — Lunna afirmou séria e chamou um dos nossos
seguranças. — Iremos daqui a pouco. Não se preocupe.
Olhei para meus irmãos mais velhos e eles acenaram. Saí da festa
com o soldado do Rocco e ele me levou para casa. Assim que o carro entrou
na propriedade, vi um veículo parado em frente à casa. Eu não o conhecia e
isso foi o suficiente para ficar em alerta.
— Pare o carro — pedi ao soldado e ele o fez.
Semicerrei os olhos e meu coração caiu quando vi Alena nos braços
da mãe de Sienna. Que merda aquela louca estava fazendo? Saí do carro e
corri em sua direção. Assim que me viu, ela arregalou os olhos e ficou
completamente branca.
— O que você está fazendo? — gritei, sentindo meu corpo se
arrepiar.
Batidas dentro do carro ecoaram, então olhei para dentro. Rhett e
Amo estavam deitados no chão. Meu coração parou.
— O que você ia fazer? — grunhi, me aproximando e arrancando
Alena dos seus braços. A menina começou a chorar e seus irmãos também.
— Leve essa senhora para dentro — ordenei a um dos soldados.
Trêmula, peguei meus sobrinhos e liguei para Rocco, enquanto seus
filhos choravam.
— A sra. Rizzi pegou os gêmeos e a Alena... ela ia levá-los para
algum lugar. Os meninos estavam no chão do carro...
— Como é? — Sua voz enviou arrepios por meu corpo.
— Por um segundo ela não fugiu com seus filhos. Venha para casa.
Me ajoelhei diante dos gêmeos ainda segurando a bebê.
— Está tudo bem agora. A titia chegou e seus pais estão vindo —
falei com firmeza, mas os dois choramingaram mesmo assim.
Droga.
Eu entrei com os dois e subi. Procurei pela babá dos três, uma das
quatro que Rocco e Sienna pagavam. Encontrei duas adormecidas no sofá na
sala de jogos. Quando tentei acordá-las, tremi por dentro.
— Acorda, Julia! — Rhett balançou a mulher morta, então eu o
puxei.
— Rhett, aqui. Vamos procurar o tio Prince — chamei, saindo da
cena horrorosa e indo até o quarto do Prince.
Não havia ninguém nele. Por um segundo fiquei arrepiada, mas me
forcei a me acalmar. Ele estava bem, precisava estar.
Desci com as crianças na mesma hora que meus irmãos chegaram.
Sienna caiu de joelhos diante dos filhos e os agarrou.
— Oh meu Deus, estão bem? — ela perguntou, com lágrimas nos
olhos enquanto Rocco pegava a Alena nos braços.
— Ei, campeões, tudo bem? — ele falou com os gêmeos, que
estavam agarrados a Si.
— Tudo. A vovó queria levar a gente pra conhecer o tio Salvatore —
Amo falou pela primeira vez.
Eu me virei para esconder meu choque.
— A gente disse que não queria, mas ela continuou — Rhett falou
irritado.
— A tia Lunna vai levar vocês para a casa dela e a mamãe vai
buscá-los já, já com o papai. — Sienna se ergueu e beijou os filhos, que
começaram a reclamar.
— Escutem a sua mãe — Rocco falou sério e entregou Alena para
Lunna.
Assim que saíram, eu os segui em direção à sala. Sra. Rizzi estava
sentada, olhando para as mãos. Ela parecia serena, calma demais para quem
ia lidar com o diabo da Outfit.
— Mãe — Sienna chamou parando diante dela, enquanto Rocco ficou
longe. Eu apostava que ele não confiava em si mesmo perto dela. — O que
você ia fazer com meus filhos? — A voz da Sienna quebrou. A mulher loira,
furiosa e impiedosa que fez Rocco Trevisan se apaixonar por ela estava em
pedaços.
— Meus bebês... eles... mãe, por favor...
— Pare com essa merda! — Rocco gritou, saindo das sombras e
ficando de frente para a sogra. — Você tem ideia de quantas maneiras
distorcidas e fodidas de te matar estão passando pela minha cabeça? — Ele
se inclinou e segurou o rosto da mulher. — Minha mulher não vai se curvar
para você. Eu vou arrancar sua língua e fazê-la mastigar tudo. Abre a porra
da sua boca!
— Me largue! — a mulher falou pela primeira vez, em um rosnado
alto. — Salvatore me espera, ele me chamou e pediu que eu levasse as
crianças. Ele quer conhecer os sobrinhos. — Sua voz saiu séria, como se
realmente tivesse acontecido isso.
— Que porra você fumou? — Matteo rosnou ao lado de Blue, na
ponta da sala.
— Ele está me esperando. Ele disse que seu pai está lá também. — A
mulher sorriu para Sienna e lhe estendeu a mão. — Vamos comigo. Nós duas.
Salvatore vai amar ver você.
Sienna caiu no sofá e levou as mãos ao rosto, chorando. Seus ombros
tremiam e eu desejei ter o poder de tirar sua dor.
— Você enlouqueceu completamente... — Rocco grunhiu, enojado.
— Você tem nojo de mim? — A mulher sorriu e olhou para todos na
sala. Quando seus olhos pararam em mim, senti minha alma congelar. —
Com isso dentro de casa?
Meu coração golpeou minhas costelas. Eu vi minha vida e de Prince
passar por nossos olhos em segundos.
— Com aquele demônio a corrompendo? O pecado que os dois
cometem sob o seu teto... — Sra. Rizzi cuspiu no chão. — Irmãos... é um
nojo!
Meu chão se abriu quando todos os rostos se viraram para mim.
Meus irmãos e minhas cunhadas me olharam completamente confusos.
Enquanto minha vida acabava, eu me perguntei onde Prince estava. Me
perguntei se ele havia corrido para longe o bastante, onde nenhum Trevisan o
encontraria.
E quando o tiro ecoou, eu não me importei se alguém havia morrido,
apenas desejei que tivesse sido eu.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De alguma maneira eu soube que precisava voltar para a casa. Fui
para o cais e fiquei mais de uma hora olhando para o gelo. Até que Yerík me
ligou. Meu melhor amigo estava a milhares de quilômetros, e no momento
que eu precisei, nem tendo consciência dessa necessidade, ele se fez
presente.
— Eu acho que você precisa sair daí enquanto é tempo. Compre
passagens, venha para a Finlândia. Vou encontrar você lá — Yerík
resmungou apressado.
— Deixá-la está fora de questão.
— Isso é fodido demais, já falei pra você. — Ele respirou fundo. —
Traga ela.
— Deixar nossos irmãos parece um erro. Nós dois sabemos disso.
— Você vai ser morto — ele gritou e eu fechei meus olhos. — Eles
vão te matar na primeira chance e ela... porra, ela vai continuar viva, mas
destruída pela sua morte.
— Eu preciso ir, cara. — Me ergui da madeira repleta de neve e
olhei para a casa. — Yerík...
— Sim, Villain?
— Se alguma coisa acontecer, venha até ela e diga que eu queria que
fosse diferente.
— Você fez o exame?
— Ele não importa.
Eu desliguei e andei para a casa. Assim que entrei, ouvi vozes. Parei
na sala e vi Lake de pé, de costas para mim. Todos estavam olhando para
ela. Alguém atirou e eu corri, derrubando-a no chão. Ela gritou e eu me
movi, procurando qualquer sinal de tiro.
— Ei, ei! Tudo bem? — gritei, apavorado.
— Sim — ela me olhou em pânico —, se levanta. — Ela me
empurrou e nos erguemos juntos.
Eu olhei ao redor da sala e encontrei nossos irmãos nos encarando. A
mãe de Sienna estava com a cabeça caída e o sangue escorria dela para o
chão. Que porra...
— Eu vou perguntar uma vez. — A voz de Rocco soou perigosa. Eu
fiquei rígido. — O que diabos está acontecendo? Por que a mãe da Sienna
disse isso?
— Eu não sei o que ela disse — falei calmamente, erguendo meu
queixo.
— Que você está fodendo a porra da sua irmã! — Matteo gritou, eu o
vi pela lateral dos meus olhos.
— Isso é mentira. — Lake se apressou enquanto eu ainda estava em
choque. — Pelo amor de Deus, Rocco! — ela gritou, horrorizada. — A
mulher estava dizendo que falou com o filho morto...
Rocco se aproximou lentamente e eu continuei o encarando. Meus
olhos nos dele, mas também em Matteo. Se um deles se aproximasse dela, eu
teria pouco tempo.
— Quem é Silk? — Rocco acenou para a minha garganta. — Quem
porra é Silk, Prince?
— Ninguém — grunhi, apertando meus pulsos.
Eu não esperei o soco, mas ele veio como um raio. Seu punho colidiu
com minha mandíbula e eu cambaleei para trás.
— Quem é Silk? — Ele agarrou meu casacoe me empurrou contra a
parede.
— Ninguém!
Dessa vez seu soco foi na minha barriga. Em cima da minha cirurgia
recente. A dor cegou meus sentidos por longos segundos.
— Rocco! Pare com isso! — Lake gritou, batendo no braço dele. —
Não o machuque, por favor. Pare!
— QUEM É SILK, PRINCE? — ele berrou mais uma vez e socou minha
barriga.
Senti o sangue molhando minha pele, e a dor dessa vez não me
segurou.
— Sou eu! — Lake gritou mais uma vez, porém, de alguma forma,
mais alto.
Tão alto que sua voz reverberou dentro da minha alma.
Meu irmão soltou meu casaco e deu um passo para trás. O rosto
furioso deu lugar ao choque e, em seguida, ao nojo. Ele balançou a cabeça,
olhou ao redor e voltou a nos encarar, franzindo as sobrancelhas.
— Você fodeu a Lake? A sua irmã? — A voz dele era repleta de
asco.
Por quê? Porque o amor que eu sentia por ela era sinônimo de algo
tão nojento?
Por que diabos amar Lake Trevisan causava repulsa nas pessoas?
Eu a amava mais que a mim, um tipo de amor que poucas pessoas no
mundo terão a sorte de experimentar, mas ainda assim viam esse amor com
nojo.
— Eu a amo — falei com firmeza.
Ele fechou os olhos e balançou a cabeça olhando para mim.
— Quem é você? Meu irmão jamais faria isso! — Matteo gritou, se
aproximando.
— Ele faria e fez. Ele odiava isso e se culpava, mas ele a amou.
Antes — falei e os dois me olharam perplexos. — Ele a amou quando
manteve o pai preso por anos. Ele a amou mesmo não se lembrando dela. Na
Dinamarca, preso, ele a amou.
— Pare de falar! — Rocco gritou, sacando a arma e mirando em meu
rosto.
Em segundos, Lake ficou na minha frente.
— Não faça isso. Por favor, eu imploro, não faça isso. — Ela
soluçou, tremendo. Por mais que eu quisesse tocá-la, sabia que não era o
momento.
Talvez esse momento nunca mais fosse chegar.
— Lake... — Sienna se ergueu, completamente chocada. Pela mãe
morta ou por nós. Ou pelos dois. Eu não sabia.
— Deixem o Prince sair. Eu juro que não vamos mais nos ver... eu
juro. Rocco, eu juro pelo meu sangue. Por nossas vidas, deixe-o ir — Lake
implorou e eu odiei cada palavra.
Villain quis se soltar, arrancar as correntes que eu usava para
prendê-lo, mas eu o mantive sob controle.
— Você acha que eu acredito em uma palavra que sai da sua boca?
— Rocco cuspiu. — O que você acha que é? Quem você acha que é para me
pedir isso?
— Eu sou uma Trevisan.
— Você e ele não merecem a porra desse nome! — Matteo andou até
ficar diante dela. — Como vocês conseguem se olhar na porra do espelho?
Lake se encolheu e eu empurrei Matteo para longe dela.
— Não grite com ela! — berrei, furioso, então ele me socou. Eu não
revidei, não podia, porque de alguma maneira o entendia. — Me bata, me
torture, me mate, mas você não vai gritar com ela.
— Vocês... — Sienna falou e eu a encarei sobre o ombro de Matteo.
— A calcinha era sua, não é? — A pergunta foi para Lake. Não vi o rosto
dela, mas sabia que estava chorando. Sienna balançou a cabeça. — Desde
quando?
— Eu já falei — respondi, querendo poupar Lake. — Na Dinamarca,
quando éramos adolescentes, sempre. Porque não mando em meu coração.
Você também não.
Rocco andou de um lado para o outro, em silêncio.
— Eu vou matar você — Matteo falou.
— Faça — eu acenei —, agora ou amanhã, mas deixe-a de fora
disso! — rosnei, tentando controlar meus impulsos.
— Ela? — Rocco olhou para todos e parou em mim. — Ela vai se
casar hoje.
— Ela não quer esse casamento — falei rápido, furioso só por
pensar em Lake se casando.
— Não dou a mínima para o que ela quer. — Rocco se aproximou
ainda com a arma na mão. — Ela é nada para mim.
— Rocco... — Sienna começou, mas meu irmão ergueu a mão.
— Você vai se casar com Luca e eu terei sorte de nunca mais olhar
para o seu rosto. — Ele balançou a cabeça mais uma vez. — E você, porra,
eu vou fazer o que o diabo amaria fazer.
— Você não é Deus! — Lake gritou, furiosa.
— Não, eu sou o demônio. — Rocco deu um sorriso impiedoso.
— Levem Prince para a mesma cela que o pai dele, o que abusou da
irmã dele. — Ele semicerrou os olhos. — A semelhança é assustadora.
— Não se atreva! — Lake gritou, passando ao meu lado.
Segurei seu ombro, mas Matteo me socou na barriga. Dessa vez, o
sangue manchou tanto ele quanto eu.
— Ettore me estuprou, Prince nunca seria capaz disso. Você conhece
seu irmão! — ela berrou, fora de si. — Conhece o coração dele, vocês todos
o fazem. — Ela olhou para Sienna. — Você sabe, Si. Ele nunca seria capaz
disso. — As lágrimas desceram novamente, alcançando seus lábios e caindo
sobre o decote.
Ela estava linda no vestido. Era horrível pensar que essa seria minha
última imagem dela.
— O meu irmão jamais tocaria na minha irmã — Rocco falou sério e
se aproximou dela. — E você, por um momento da minha vida, imaginei no
meu trono, mas eu estava errado.
— Ainda somos nós. Prince e Lake. Seus irmãos...
— Prince e Lake não são nada para mim.
Blue e Sienna permaneceram em silêncio, ambas chorando.
— Escolha um vestido, você vai se casar — Matteo murmurou sério.
Eu quis socar sua cara, mas eu pude ouvir a voz da Lake.
Eles não entendem, e nós não muito tempo atrás, também não.
Não nos compreendiam. Eles não tinham culpa.
— Eu vou te ver ainda hoje. — Rocco mirou seus olhos em mim,
completamente sério.
Então se virou e encarou a sogra morta.
— Alguém tira a porra dessa mulher do meu sofá! — Com seu grito,
Matteo me empurrou para fora e eu fui levado por meu irmão para a morte.
Eu só não sabia que ela seria meu inferno também.
 
 
 
 
 
 
Todo meu corpo doía. Cada parte com células vivas latejava. Minha
mente corria tentando pensar em alguma saída, qualquer uma onde eu
pudesse tirá-lo da posse dos nossos irmãos e irmos embora. Mas não havia.
Nem uma mísera chance de fuga.
Prince e eu chegamos ao nosso final e ele não era feliz.
Sienna me colocou dentro do bunker, segurando a bolsa que havia
agarrado desde que saímos para aquele jantar. Olhei para o local fechado e
engoli em seco. Ordens do Rocco. Presa em um lugar que deveria me
proteger. Si fungou. Eu sabia que isso estava doendo nela. A morte da mãe, o
quase sequestro dos filhos, eu e Prince.
Porém, também, me prender aqui.
Foi assim que ela foi tratada ao chegar aqui. Presa, sozinha,
machucada.
— Por que não me falou? — Ela fungou, desnorteada. — Isso é
errado em tantos níveis, mas eu... eu faria algo. Deus, eu não quero que
Rocco mate Prince.
— Me deixe ir... — pedi, morrendo por isso.
Usar sua dor para meu benefício era errado, mas era a única maneira.
— Me deixe ir. Eu sumo com ele — implorei, mas Sienna negou.
— Rocco jamais me perdoaria. Nunca. Ele me ama, mas há algo
sobre vocês, irmãos dele, que o deixa completamente fora de si. — Uma
lágrima solitária deslizou no rosto já molhado. — E eu nem entendo isso
porque vocês cresceram separados, mas esse sangue — ela apontou para
minhas veias — é sinônimo de uma lealdade cega e de um amor que arruína
tudo em que toca.
— Eu amo o Prince, Sienna. Ele é a minha vida — confessei,
agarrando suas mãos. — Aquele homem, o mesmo que me segurou quando
caí andando de bicicleta, o mesmo que me viu nascer, aquele homem é a
única coisa boa que me foi dada. Prince me ama de uma maneira — parei de
falar porque eu iria dizer que ela não sabia, mas ela sabia — distorcida que
só um Trevisan pode amar.
Sienna negou, confusa.
— Eu sei. Você está confusa, eu também estive, Si. Desde a minha
adolescência lutando contra algo que meu coração pedia e minha alma
implorava. Eu o beijei pela primeira vez quando éramos dois adolescentes e
ele correu de mim, me odiou e teve nojo.
— Lake... — Ela desviou o olhar.
— Olhe para mim! — gritei, desesperada — Esta é uma história
distorcida onde a princesa não é a mocinha. Da princesa que tentou o
príncipe a pecar e ele pecou.
— Por favor...
— Na Dinamarca, eu o beijei mais uma vez, eu o fiz me tocar e me
foder, sem nem imaginar quem eu era. A única vilã dessa história sou eu. A
pessoa que deve pagar pelo errode pecar, sou eu!
— Ele não é inocente!
— Eu muito menos! — berrei, sufocada. — Se Rocco quer punir
alguém, que me puna. Não ele, que ao chegar aqui tentou se manter longe e,
mais uma vez, como a serpente, eu o tentei.
— Nenhum de vocês é inocente. — Sienna soltou minhas mãos e
recuou. — Eu amo você, mas hoje vou ser leal ao meu marido.
Si saiu e fechou a porta, levando com ela qualquer esperança que eu
tinha de conseguir fugir e ajudar Prince. O som da fechadura me fez gritar,
caindo de joelhos. Não havia maneira de sair. Fechei meus olhos e pensei
em alguma forma. Porém, quanto mais o tempo passava, mais nervosa eu
ficava. Prince precisava de mim, e como uma garota estúpida, eu estava
presa.
Me ergui e mexi em todo canto do quarto de pânico. Era grande, com
várias camas e comida estocada. Meu estômago agitou com fome, mas eu o
esqueci. Ele não era importante. Abri uma porta e armas apareceram. Peguei
coldres e enfiei duas armas em minhas laterais. Peguei as facas e coloquei na
perna, dentro da cinta-liga.
Haveria uma brecha, e Deus me ajudasse, eu a usaria.
Uma hora depois ou algo perto disso, ouvi barulho. Meu coração
golpeou contra minhas costelas e eu me ergui da cama. Me afastei e me
escondi, e quando um cabelo vermelho apareceu, eu me senti péssima, mas
prendi Blue com meu braço.
— Pare com isso! — ela falou baixo e tocou minha mão. — Eu vim
ajudar.
Suas palavras me acalmaram, mas não a soltei.
— Minha mãe era usuária de drogas — Blue murmurou e seu corpo
relaxou contra o meu peito. — Não sei se já ouviu sobre isso...
— Eu preciso sair daqui. Me desculpa, mas vou fazer o que for
preciso...
— Um dia, ela havia sido pega com drogas da Bratva. Para Rocco,
isso é a morte. Então, eu implorei a Matteo pela vida dela. — A voz suave
quebrou e Blue fungou. — Matteo não me ajudou. Lembrar disso me rasga a
alma, mas é a verdade. Ele sequer se mexeu pela vida dela. Mas Prince —
Blue soluçou como se a lembrança estivesse vívida na sua cabeça e, talvez,
estivesse — não me perguntou nada, ele apenas ligou para Rocco e a salvou.
Soltei-a devagar e mirei a arma, tremendo. O rosto da ruiva de
Matteo estava cheio de lágrimas. Ela levou a mão à boca e acenou.
— Eu disse a ele naquele exato momento... no dia que precisar de
mim, só me diga a hora e local. Ele não precisou me dizer nada, Lake. Eu vi
em seus olhos, naquela sala, sem ele nem mesmo me olhar. — Blue respirou
fundo. — Este é o momento. Vá salvá-lo e, por favor, consiga.
— Blue...
— Corra.
Eu me movi para fora e continuei correndo. Minhas pernas ardiam
em cima do salto que ainda estava em meus pés. A faca raspava a minha
pele, mas eu continuei até estar em meu carro. Pisei no acelerador e dirigi
mais rápido do que nunca.
Corri pela vida dele e pela minha.
Eu parei o carro antes do galpão para onde eu ia há anos. Verifiquei a
munição das armas e coloquei-as de volta no meu corpo. Peguei um dos
meus elásticos de cabelo e o prendi mais no alto. O salto faria barulho, por
isso optei por deixá-lo no carro.
Antes de ir, disquei no celular que ainda estava comigo o número de
Yerík. Demorou para ele atender, talvez pelo fuso, mas quando o fez suspirei
aliviada.
— Eu preciso que esteja pronto para pegar Prince no aeroporto —
falei rápido.
— O quê?
— Nos descobriram — murmurei, respirando com dificuldade.
— Porra. Ele precisa de documentos novos...
— Eu sei, já tenho alguém que os fará.
Yerík desligou pedindo que eu o mantivesse informado. Disquei
outro número, e quando sua voz ecoou, tentei deixar todo o ressentimento de
lado.
— Eu preciso da sua ajuda.
— Lake? — A voz dele ecoou completamente confusa.
— Eu pago o que você pedir.
Ele não demorou para aceitar e, em questão de minutos, eu tinha
documentos novos para Prince em Indiana.
Guardei meu celular ao desligar e foquei no principal, tirar Prince
dos nossos irmãos.
Entrei na mata e andei devagar, sentindo meus pés doerem contra as
pedras e pedaços de madeira. A escuridão banhava a floresta, mas não
deixei o medo se aproximar. Eu precisava chegar até ele.
Ouvi vozes assim que fiquei a poucos metros do edifício alto. Me
escondi atrás de um tronco grosso de uma árvore grande e respirei fundo.
Meu peito subia e descia, mas eu controlei os ruídos com a boca.
— Eu não vou matar meu irmão! — Romeo gritou, me deixando
rígida. — Olha para mim, porra, eu posso atirar, mutilar e torturar quem
você quiser, mas não ele!
— Você acha que eu quero isso? — Rocco rebateu rápido. — Eu o
peguei nos braços, inferno! Mas o que você quer que eu faça? — Sua voz
ecoou perdida.
— Eu também não sei, mas esse não é o caminho.
— Como eles foram capazes de fazer algo assim? — Matteo falou e
eu ouvi o choro em sua voz. — Como ele pôde? Como diabos ela pôde? Eu
sempre os vi como melhores amigos...
— Não faço ideia, tenho nojo só de imaginar Lake nua — Rocco
grunhiu e eu fechei meus olhos.
Porém, me dei conta de que se eles estavam aqui, Prince estava
sozinho lá dentro.
Me movi devagar e fui pela mata. Pisei em um galho quebrado e
quase gritei ao sentir a coisa perfurar a pele fina dos meus pés. Continuei
morrendo de dor e cheguei ao galpão.
Entrei no local sem pressa, porque se tinha algo que aprendi era que
você só era pego quando estava fazendo algo errado.
Desci a escada com a arma na mão mesmo sabendo que meus irmãos
nunca deixariam outra pessoa participar dos nossos problemas. Meu coração
caiu quando vi Prince. Ele estava sentado e sangue pingava da sua roupa
para o chão. A poça redonda de sangue já preenchia o piso onde sua cadeira
estava.
— Ei, acorde — chamei baixo e abri o portão atirando na tranca.
Não saiu nenhum som, porque peguei silenciadores. — Prince.
Me ajoelhei em seu sangue e desamarrei suas mãos. Seu rosto estava
com hematomas, por um momento odiei meus irmãos. O que eles haviam
feito?
— Silk... — Ele abriu as pálpebras e eu senti pavor me preencher.
Ele não conseguiria ir até o carro. Era visível em seus olhos opacos
e sua pele pálida que havia perdido muito sangue.
— Vamos embora. — Tentei erguer seu corpo, consegui apenas na
terceira vez.
Saí da cela e fechei os olhos. Como eu o carregaria até o carro? Era
impossível.
— Eu preciso que fique aqui — falei, sem fôlego, e o coloquei de
volta na cadeira.
— O que está fazendo? — Seu suspiro baixo e fraco me trouxe
lágrimas.
— Deixe as mãos para trás.
Ele fez isso e eu saí da cela. Limpei meus pés no lado sem sangue
para não deixar pegadas e andei na ponta deles. Fechei a cela e fui para a
parede do fundo, onde a escuridão me encobertaria. Esperei longos minutos
até ouvir passos e aguardei para ver se os três apareceriam. Só assim meu
plano daria certo.
— Porra... — Romeo falou, com Rocco e Matteo atrás dele.
Os três se aproximaram e eu peguei minhas armas. Quando eles me
ouviram, não houve tempo para sacarem suas próprias pistolas. Eles
arregalaram os olhos, chocados. Eu sabia que eles não esperavam por mim.
— Sienna! — Rocco gritou, mas eu neguei.
— Blue — falei encarando Matteo e ele ficou rígido. — Ela tem algo
que poucas pessoas têm – gratidão e lealdade. Não foi você, foi ele. E
quando ela teve que escolher, ela escolheu quem havia escolhido ela. Você
sabe do que estou falando.
Meu irmão piscou e desviou o olhar. Eu sabia que o havia
machucado, e por um momento me importei, mas foi só ouvir o gemido de
dor de Prince que tudo desapareceu.
— Entrem na cela. Rocco e Matteo. Você fica — falei para Romeo.
Ele me encarou, sem reservas ou máscaras, apenas meu irmão.
— Como isso aconteceu? — Romeo murmurou, franzindo as
sobrancelhas.
— Eu não saberia te responder isso, mas posso te falar que eu o amo.
Como se ele fosse um pedaço de mim, como minha alma e nada, nada que
você, a igreja ou as pessoas falem pode mudar isso.
— É errado! — Rocco gritou, furioso.
— É, mas nenhum de nós se importa de fazer o errado.
— Lake... — Matteo começou.
— “O orgulho do homem o humilha, mas o de espírito humilde obtém
honra.” [i]—recitei a bíblia e encarei os três. — Quem de nós é mais
orgulhoso? Não peça desculpa, não implore, não perdoe... este é o nosso
lema e isso é um pecado.
— O que você...
— “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela
espada morrerão.” [ii]— Ignorei Romeo, tremendo ao segurar a arma. —
Quantas vidas tiramos? Quantas vezes empunhamos uma espada e levamos
alguém à morte? Várias! O meu pecado é amar meu irmão e compreendo
totalmente, não aceito e nem peço perdão por isso, mas compreendo.
Os três me olharam sem reação.
— Vou me casar com Luca. Vou fazer o que quiser. Mas depois. —
Encarei Rocco, séria. — Agora... agora, eu sairei daqui com ele e vocês não
irão me impedir.
— Você não vai atirar em nós... — A voz do Rocco parou assim que
apertei o gatilho e atirei bem ao lado do seu braço, atingindo a parede.
— Por ele, eu vou.
Ele amaldiçoou e puxou Matteo para a cela.
— Pegue Prince e feche a cela. — Acenei com a minha arma para
Romeo e ele fez o que pedi.
Assim que Rocco e Matteo estavam presos, eu olhei para eles.
— Eu estarei no meu quarto pela manhã.
Romeo subiu as escadas e eu o segui, mantendo a mira de uma arma
neles e a outra em Romeo. Nós subimos e eu respirei fundo, sentindo um
pouco de alívio. Abri o carro do Romeo e o mandei pôr Prince dentro.
— Lake, não faça nada estúpido...
— Eu já fiz. Eu atirei contra meu Don, meu irmão. — Me afastei dele
e abri a porta do lado do motorista. — Me deixe ir, nos dê tempo...
— Nem um milhão de anos será suficiente para você se despedir
dele.
— Eu vou tentar.
Entrei no carro e dirigi rapidamente. Parei para trocar de carro,
porque sabia que o de Romeo tinha rastreador. Colocar Prince nele levou
tempo, mas eu o fiz rapidamente. Depois de quase vinte minutos, estacionei e
liguei para a única pessoa que eu jamais pensei em ligar.
— O que houve?
— Eu preciso da sua amiga, aquela médica. Agora, aqui no
estacionamento — grunhi, sem fôlego.
— Você sabe que não moro mais aí, certo?
— Eu preciso dela aqui, não você! Pode me ajudar ou não?
Kiara suspirou e disse que sim. Desliguei e quebrei o celular. Em
cinco minutos as portas do elevador se abriram e uma garota apareceu
carregando uma mala.
— O que houve com ele? — Aysha abriu a porta e eu deitei o banco.
— Ele fez uma cirurgia e hoje se meteu em uma briga — expliquei,
respirando fundo. A garota acenou e rasgou a camisa dele.
— Caramba. — Aysha fez uma careta e eu me encolhi ao ver a ferida
aberta. — Eu vou fechá-lo, mas você precisa levá-lo a um hospital. Pode
haver uma hemorragia interna...
Não tínhamos tempo, a costura teria que servir. Assim que ela
começou a trabalhar, Prince gemeu em alguns momentos. Quando enfim
acabou, ela enfiou dois potes de remédio na minha mão.
— Faça ele engolir pelo menos dois desses a cada quatro horas.
Eu guardei os comprimidos e a encarei.
— Eu vou pagar por isso.
— Um dia. — Aysha se afastou e fechou a porta do carro.
Eu voltei a dirigir, e dessa vez não parei em nenhum lugar. Prince
acordou em algum momento e eu o fiz engolir os remédios.
— O que houve, Silk? — Ele estava sonolento, por isso apenas dei
água a ele e pedi que dormisse. — Não, me diz... como saímos de lá?
— Eu preciso que descanse. A viagem é longa. Nós conversamos
daqui a pouco.
— Você me tirou de lá. — Prince me ignorou e olhou para a barriga.
— Você fez isso?
— Não, aquela amiga da Kiara. Aysha.
— Para onde estamos indo? — Ele focou na paisagem.
— Pegar documentos novos. — Optei por dizer apenas isso.
Prince pegou minha mão e levou até sua boca. Ele beijou cada junção
dos meus dedos e isso fez lágrimas encherem meus olhos.
— Por que você está chorando, Silk? — ele perguntou assim que
solucei e seus olhos vieram para os meus.
— Eu... eles...
Mentira.
Nada me preocupava além dele. Não me importei comigo, com
outros, apenas com o homem que possuía meu corpo, alma e coração.
Prince estava debilitado e eu o deixaria. Voltaria para o inferno da
máfia e o deixaria seguir sua vida sem mim, isso partiu meu coração em
tantos pedaços quanto o cinturão de asteroides nas órbitas de Marte e
Júpiter. Lá, na imensidão do universo, eles pareciam minúsculos, e era assim
que meu coração se sentia.
 
 
As lágrimas dela secaram em algum momento, mas não deixei de
tocá-la. Nem quando quis me curvar para vomitar. Os remédios que ela me
fez engolir eram grandes e estavam me dando enjoo. Eram eficazes, no
entanto. A dor havia diminuído bastante.
— Aysha disse que precisa ir a um hospital. — Lake deslizou pela
pista e eu pude ver a placa nos dando boas-vindas a Indiana.
— Estou bem. — Suspirei quando olhei para seu rosto.
Ela estava com o mesmo vestido que usou para ir ao jantar. Sua
maquiagem estava borrada e seu cabelo se soltando do rabo preso no alto da
sua cabeça. Mas nada disso conseguiu deixá-la menos que perfeita.
Qualquer coisa que já senti em minha vida não se aproximava do
amor que eu sentia por ela.
— Para onde vamos? — perguntei, desejando poder vislumbrar um
futuro.
— Yerík disse que para a Finlândia. — Ela engoliu com força.
— Você falou com ele?
— Sim, eu precisava que fosse até o aeroporto.
— O.k., você fez certo. — Beijei seus dedos e olhei para a pista.
Ela dirigiu mais um tempo, mas quando entrou em um condomínio de
luxo eu estranhei. Onde estávamos e quem veríamos?
— Olhe para mim — Silk pediu e isso me alertou.
Foquei em seu rosto e Lake sorriu. Suas mãos tocaram meu rosto e
havia uma saudade em seus olhos que por um momento não compreendi, mas
logo o fiz.
— Você não vai comigo, não é?
Seu queixo tremeu, e enquanto seus olhos piscavam rápidos, ela
acenou. Um simples gesto foi capaz de me trazer mais dor que o buraco em
minha barriga.
— Você sabe... o final, ele nunca foi bonito para nós. — Lake
acariciou minha bochecha, chorando. — Ninguém nunca me fez acreditar que
teríamos um final digno. Só o que necessitamos.
— Silk...
— Não posso correr o risco de eles entrarem em um consenso e
matarem você. — Ela balançou a cabeça e fungou. — E por mais que doa, eu
escolhi ficar, escolhi permanecer para que eles te deixem ir em paz, sem
buscas.
— E quem disse que eles não nos deixariam ir? — perguntei, mas
nem mesmo reconheci minha voz.
— Nós conhecemos nossos irmãos.
Ela estava certa, e talvez fosse isso que mais me irritasse. Ela estava
certa. Minha Lake sabia que eu tinha consciência disso.
— Eu arrumei documentos novos e essa pessoa vai levar você até a
Finlândia. Ela me deve. — Suas palavras saíram fortes.
Eu me inclinei, ignorando a dor.
Na alma e na barriga.
— Como eu posso viver sozinho depois de conhecer o paraíso que é
viver ao seu lado?
Minha pergunta a fez me abraçar mais forte que nunca, porque nós
dois sabíamos que isso não voltaria a acontecer.
— Eu sempre, eternamente, vou reviver a dádiva que foi estar em
seus braços — Lake sussurrou baixinho e segurou os pedaços da minha
camisa. — Se um dia você amar de novo, espero que seja calmo, que te
deixe confortável e que faça você sentir pelo menos um décimo do que me
fez sentir. — Lake sorriu enquanto partia meu coração.
Eu não imaginava amar ninguém além dela. Ninguém parecia capaz
disso. Só ela.
— Eu nunca vou amar de novo. Para isso precisaria de um coração, e
neste momento ele está completamente destruído. — Puxei-a pela nuca e a
encarei sem reservas, deixando-a ver a dor e todo o desespero.
— Prince...
— Viva sua vida plenamente, Silk. Viva por nós dois, porque estou
morrendo. E eu sei que o futuro será horrível.
— Não, não vai ser. — Ela limpou seu rosto e tocou o meu. — Nós
vamos ficar bem. Eu aqui, e você lá. Nós precisamos ficar bem. Porque
senão... de que valeu a pena?
— Você vai se casar com ele?
Eu precisava perguntar, porque se fosse, Deus, eu jamais sairia
daqui.
— Não. Não vou, não posso. — Ela olhou para a casa e beijou meus
dedos. — Nós precisamos ir. Por favor, jamais duvide do meu amor por
você. Isso sempre foi a única coisa que me manteve sã. No meu pior
momento,você foi a única coisa que me manteve de pé.
Eu não duvidava. Jamais duvidei do seu amor quando era óbvio em
suas ações.
— Eu seria um idiota se fizesse isso. — Beijei sua boca, puxando-a
contra mim.
A dor foi boa, ela se juntou a da minha alma e fez o nosso beijo ser o
mais doloroso de todo o mundo. Lake me puxou mais, como se pudéssemos
nos fundir. Suas mãos apertaram a blusa, as unhas rasgando o tecido e depois
minha pele enquanto eu invadia sua boca, procurando alívio. Procurando
memorizar seu beijo.
Procurando memorizar Lake dentro de mim, para que eu nunca mais
me sentisse sozinho no mundo, mas era em vão.
Sem Lake, eu era apenas um menino perdido.
Ela deixou beijos em meu rosto e pescoço, me abraçando.
— Eu te amo. Por toda minha vida eu te amei. Para sempre te amarei.
Isso não vai morrer, é impossível. — Ela fungou enquanto lágrimas desciam
por seu rosto.
Toquei sua pele, espalhei a lágrima e beijei seu nariz, olhos, boca,
sobrancelhas. Tudo que eu pude alcançar, eu beijei.
— Você é a melhor coisa da minha vida. — Tentei sorrir, tentei agir
como um adulto, e em vez de quebrar diante dela, optei por ser forte para
ela. Foi um inferno, mas eu o fiz. — Um dia, se o universo quiser, nós vamos
nos reencontrar.
— Eu acredito nisso. — Ela acenou repetidamente.
Abracei o corpo dela e fechei meus olhos, lágrimas que segurei
desceram, mas as escondi rapidamente.
— Eu te amo, Silk. Você é dona da minha alma. Dona de nós.
Ela soluçou e se afastou.
— Eu amo você. Os dois. Pra sempre.
Ela me beijou novamente, e quando nos separamos ouvi uma porta
abrir. A entrada da casa estava clara.
— Quem é a pessoa que arrumou os documentos? — perguntei
quando ela abriu a porta.
— Não importa quem é. Importa o que ele vai fazer.
Quando Lionel surgiu com sua namorada ao lado eu encarei os dois.
Saí do carro, ignorando a dor latente em minha barriga.
— Lake — grunhi, irritado.
Eu teria matado esse rato quando pude, mas não fiz por ela, sabendo
que jamais o veria novamente, só que agora ali estava ele.
— Lake. — Ele acenou e evitou me olhar.
Sua namorada olhou para Lake e eu conseguia ver as lágrimas em
seus olhos.
— Eu... — a garota falou, mas logo ficou em silêncio.
— Oi, Cass. — Lake veio para perto de mim e segurou minha mão.
— Vocês me devem e sabem disso. Tirar Prince dos EUA é pouco para o que
você fez a mim, Lionel.
— Eu sei e estou com o jato pronto. — O cara não me olhou
novamente, era sábio por isso. Eu poderia matá-lo.
O que ele fez ocasionou tudo pelo qual eu sempre temi. Lake,
indefesa. Lake, abusada.
Ele era o culpado.
— Bom. Prince precisa de um médico. — Ela me olhou e o casal
encarou minha barriga. O curativo já estava com sangue.
— Você vai ficar? Dormir aqui? — Cass perguntou.
— Não, eu só vim deixá-lo.
Lionel e ela acenaram e suspiraram.
— Nós vamos dar um tempo a vocês. Prince, é só entrar na casa.
Eu semicerrei os olhos, mas ele não esperou por resposta. Apenas se
virou e levou sua namorada junto.
— Eu não gosto disso — falei de maneira firme. Lake me puxou para
trás do carro. — Silk.
— É nossa única chance. — Ela deu um sorriso triste e segurou meus
braços. — Jesus! Eu queria que tivéssemos tempo. Eu...
Eu a calei batendo minha boca na sua. Sua língua entrou em meus
lábios e eu chupei, sedento por seu toque, qualquer coisa que ela pudesse me
oferecer.
— Prince, por favor. — Ela gemeu se afastando, mas eu a empurrei
contra o carro. Segurei sua coxa e empurrei meus quadris contra ela. Lake
mordeu meu peito e suas unhas fincaram em minha carne.
— Sem calcinha, mais uma vez — gemi, tocando sua bunda nua.
Apertei com força e ela gemeu. Eu a ergui e Lake abriu suas coxas. A
dor em minha barriga ficou em segundo plano quando enfiei meu pau duro
dentro dela. Lake jogou a cabeça para trás e eu baixei o topo do seu vestido,
arrebentando as alças. Me inclinei capturando seu mamilo e mordi para em
seguida sugar. Comi sua boceta lentamente, fazendo-a implorar.
— Oh, Princesa, eu amo você e essa boceta. Porra, como eu amo sua
boceta. — Capturei seu clitóris e apertei, seu corpo se arrepiou e Lake
gozou. — Preciso do seu gosto na minha língua.
Eu caí de joelhos e segurei suas coxas abertas. Lambi de cima a
baixo, amando o sabor. Lake gritou quando mordi um dos seus lábios
grandes e girei minha língua em seu canal.
— Prince, por favor.
— Implore mais, Silk. Porra, não acredito que é a última vez que vou
ter meu pau tão profundo em você. — Minhas palavras foram cruas e a dor
voltou, mas eu a usei para dar prazer a Lake.
Chupei seu clitóris e me ergui, voltando meu pau para o seu lugar.
— Sua boceta é meu lar.
— Eu amo você. — Ela gemeu enquanto as lágrimas desciam.
Quando alcançaram seu decote, eu me inclinei e lambi cada uma delas,
deixando as minhas próprias em sua pele.
Lake soluçou e eu fiz o mesmo. Assim que gozei, eu a abracei
apertado e beijei sua testa.
— Um dia, eu prometo.
— Não faça isso. Não me dê esperanças — ela pediu, chorando.
Segurei seu queixo.
— Um dia, eu prometo.
Ela acenou e me abraçou com força. Eu odiei me despedir dela, me
senti fracassado, perdido e fraco.
Eu, Villain, nós odiávamos nos sentirmos fracos.
Lake se afastou, se vestiu e eu a levei até a porta do carro. Assim que
abri, ela tocou minha barriga.
— Deixe o médico cuidar de você.
— Eu vou, prometo.
Ela acenou, me abraçou e entrou no carro. Eu me afastei, e mesmo na
escuridão, consegui ver seu rosto brilhando pelas lágrimas. Me matou saber
que ela voltaria para Chicago sozinha, na madrugada, chorando.
— Um dia.
— Um dia.
Ela dirigiu para longe e eu fiquei parado, vendo meu coração ir e
levar minha alma junto. Não ficou nada, apenas a dor de não a ter aqui. A
solidão fria de não saber quando a veria.
Porém, de uma coisa eu tinha absoluta certeza, eu a veria.
Um dia.
 
Lionel e eu não trocamos palavras, Cass foi a pessoa que me recebeu
na casa e trouxe o médico para me tratar. Foi ela também quem me deixou no
jato e a última que vi desde que saí dos EUA. Eu havia viajado por horas, a
dor física havia cessado, mas a pior não.
— Ei, cara. — Yerík me puxou para seus braços assim que o
encontrei no aeroporto da Finlândia.
Ele estava mais forte, com um casaco escuro, gorro e um cachecol.
As luvas também eram pretas. Abracei-o com força e o larguei quando
desejei poder fechar os olhos e chorar. Porra, eu estava ridículo.
— A garota é insana, mano.
Completamente.
— Eu não sei o que fazer. Pra onde ir. Sem ela, estou perdido —
confessei, olhando para o meu melhor amigo e ele me abraçou novamente.
— Às vezes é bom se perder. Em outro momento, você vai se
encontrar.
— Sem ela? Impossível.
— Eu também achei isso. — Ele colocou o braço sobre meus ombros
enquanto andávamos para o carro. A porcaria do país era frio como Chicago
nunca foi.
Cassedy me deu roupas de frio, e graças a elas eu não estava
tremendo dos pés à cabeça.
— Então, eles descobriram tudo? — Yerík perguntou enquanto
dirigia.
Eu respirei fundo, olhando para a neve acumulada. Depois de um
tempo, encarei meu amigo.
— Eles descobriram, me mantiveram preso, me bateram, e depois,
ela me salvou. Ela foi até lá, mirou uma arma na cara do nosso Don e me
tirou de lá.
— Cara, sua garota é louca. — Yerík riu, mas eu vi a admiração.
Eu a chamava de princesa, mas a verdade era que Lake Trevisan era
uma rainha, uma distorcida, insana e impiedosa.
Eu tive sorte de tê-la.
Eu precisava ter sorte para recuperá-la.
 
 
 
 
 
Eu não sei como cheguei a minha casa. Tudo parecia um borrão em
minha mente. Dirigi no automático, chorando por todo o caminho, e quando
cheguei meus irmãos estavam na sala. Eles me assistiram subir a escada e
me perder dentro de mim mesma.
Eu não dormi, nem sei se era capaz, mas meu coração estúpido, fraco
e dolorido não conseguia me deixar sem chorar.
No banho, dentro da banheira que eu usei com ele tantas vezes.
Na cama, onde ele me tocou como o único homem que podia fazer
isso.
Em tudo que eu olhava,via ele.
E isso me destruiu lentamente.
— Lake, por favor — Lunna implorou na porta enquanto eu estava
sentada na janela, olhando para a imensidão de gelo que cobria o lago.
Sienna já havia vindo, e pensar em Lunna com nojo de mim, como Si,
me partia ao meio.
— Lake, não me deixe de fora...
Eu me ergui e fui até a porta. Assim que abri, ela se assustou com o
barulho repentino e, talvez, com a minha aparência horrível.
— Eu... eu sinto muito.
— Por quê? Você não fez nada comigo, Lunna — falei, voltando para
meu lugar.
Ela fechou a porta e se aproximou até se encostar na janela também,
de frente para mim. Seus olhos estavam cansados e seu cabelo preso.
— Por ter percebido isso e não ter feito algo.
Suas palavras me fizeram erguer o olhar. Lunna sorriu e fungou
baixo.
— No dia do aniversário da Nina. Eu estava com dor de cabeça e
procurei um lugar com menos iluminação. — Lunna olhou para o gelo e eu
senti meu estômago girar. — Eu vi vocês entrarem e saírem de lá. Poderia
não ser nada de mais, mas a maneira como vocês saíram, preocupados, me
disse que havia algo ali. Então, quando Sienna disse que encontrou uma
calcinha nas coisas dele, eu liguei os pontos.
— E não contou a ninguém? Não teve nojo de nós dois?
— Eu acho que depois de passar por tanta coisa, eu não me sinto
mais no direito de julgar. Porém... sim, por um momento senti repulsa.
— É errado, dizem...
— Porque somos condicionados a isso desde sempre. Ninguém acha
isso normal, Lake. Ninguém. Porque não é. — Lunna apertou meu joelho. —
Mas não estou dizendo que o amor que sente por ele é. Amar é o que somos
ensinados. Não entendo seu amor, mas não tenho nojo dele. Eu tenho medo.
— Eu a encarei, sentindo minha garganta fechar. — Medo do que as pessoas
pensam, do que podem fazer com vocês. Eu tenho medo.
— Eu realmente o amo — murmurei, cansada emocionalmente, e
solucei. Lunna se aproximou e me abraçou. — Não sei como vou viver sem
ele. Não parece justo ou correto fazer isso.
— Eu imagino que sim. Porém, nós amamos vocês. Seus irmãos
podem não confessar, mas eles se sentem aliviados por você ter ido até lá e
libertado Prince.
Eu sabia que sim, a discussão deles ainda estava viva em minha
cabeça.
— Eu vou me casar com Luca — sussurrei, porque eu realmente o
faria.
— Eu não quero que faça isso...
— Eu preciso. — Acenei, certa disso, mas Lunna suspirou
contrariada. — Preciso ir embora, Lunna. Preciso deixar tudo isso pra trás.
— Apontei para o quarto. — Isso tudo... as lembranças estão me sufocando,
não posso ficar mais um dia nesta mansão.
Luna fungou e eu a deixei me abraçar.
— Você vai ficar bem, Lake.
— Um dia.
Um dia eu ficaria.
 
Eu não fiquei melhor com o tempo. Ele deveria me curar, certo? A
dor não estava diminuindo. Nem um por cento. E eu não escondi isso de
ninguém. Meus irmãos assistiram a minha queda dia após dia. Até,
finalmente, o dia do meu casamento.
Quando Rocco falou com Luca, obviamente o imbecil loiro correu
para acatar a ordem do seu Don como um filhote. Eu não estava sendo justa,
mas ultimamente eu não era eu.
— Você está linda. — Sienna sorriu tristemente me olhando.
Não era para ser um dia alegre? Me perguntei enquanto passava a
mão pelo tecido de seda. Eu escolhi um vestido simples, nada de véu, nada
de cauda ou qualquer coisa que realmente dissesse que eu era uma noiva. O
vestido era branco de mangas longas, um decote pequeno e fluido pelo
corpo.
— A mais linda noiva, e olha que eu fui incrível. — Lunna sorriu,
tentando me fazer sorrir, mas realmente não havia como.
— Eu queria que você se visse... — Blue murmurou ao lado,
abraçando Nina.
— Por quê? A garota no espelho não sou eu.
Elas respiraram fundo e Nina desceu dos braços da mãe. Quando ela
se aproximou de mim, me ajoelhei para ficar na sua altura, pouco me
importando com o vestido.
— Você tá tliste. É pelo titio Plince? Cadê ele? — Suas palavras
fizeram a comporta se abrir.
Cadê ele? Deus, eu queria saber, mas não sabia. Yerík não me avisou
nada, e eu não liguei, porque, sinceramente, continuar mantendo contato só
me faria sofrer mais.
— Nina... — Blue tentou tirá-la de perto, mas eu abracei minha
sobrinha.
— A titia não está triste, princesa. Está tudo bem — menti, me
afastando e enxugando minhas lágrimas com um lenço.
— Eu posso comer um docinho?
Então sorri pela primeira vez.
Blue a levou e eu me ergui com a ajuda da Sienna.
— Não se preocupem comigo. Eu estou bem.
Era mentira, mas quem se importava?
Eu desci do quarto e fui levada à igreja. Quando saí do carro, meus
irmãos estavam ali. Eu os ignorei. Não havia falado com nenhum e isso não
mudaria.
— Romeo vai levá-la até o altar — Rocco falou, mas eu apenas
neguei.
— Ninguém vai. Se estou indo para o inferno, não quero companhia.
Eu e o diabo nos damos bem.
Eles respiraram fundo, notoriamente irritados.
— É para seu bem, nós jamais faríamos algo que a machucasse...
— Então, por que estou sangrando?
Matteo abriu a boca, mas voltou a fechá-la.
— Me diz, Matt, por que tudo dentro de mim parece em chamas?
Sorri, vendo que nenhum falaria nada.
— Sentem em seus lugares e assistam a minha ruína.
Andei para longe deles, e quando anunciaram minha entrada, eu me
desconectei.
 
Luca era um cara simples, gostava de piadas e isso eu percebi apenas
hoje. Eu não quis festa, mas houve e eu fui obrigada a ir. As pessoas não se
importavam, elas festejavam, sorriam, bebiam e comiam alegremente,
enquanto eu me perdia em minha mente. O que Luca logo percebeu.
— Você quer ir embora?
Sim!
Não, se você pensa em me tocar!
Luca logo descobriria que teria uma esposa no papel, mas na cama,
jamais. Ninguém iria me tocar. Nunca.
— Sim. — Acenei, suspirando.
Não me despedi da minha família e isso chocou o capo de Rosemont.
Assim que entrei em seu carro para irmos, Luca se sentou diante de mim. Eu
tinha que admitir que ele era bonito. Com olhos azuis, um cabelo loiro limpo
e uma covinha no queixo que o deixava atraente, ele era o sonho de qualquer
mulher. Menos o meu.
— Você quer me contar do porquê nosso casamento foi às pressas?
— ele sussurrou, sorrindo.
— Meus irmãos têm suas próprias vidas agora. Queriam se livrar da
caçula — murmurei, a mentira deslizando facilmente.
— Hum, bom pra mim, então — ele murmurou, rindo novamente.
Eu fiquei em silêncio e olhei para fora da janela. Chicago ficou para
trás e logo adentramos mais fundo em Illinois. Eu tinha que dizer o quanto o
meu estado era lindo.
— Você não parece com a Lake Trevisan que subiu naquele palco e
colocou centenas de homens crescidos em seu lugar. — Luca ergueu a
sobrancelha, compenetrado.
Eu não era mais ela.
— Gosto de guardar essa Lake.
Luca riu novamente. Não sabia que uma pessoa podia rir tanto.
— Meus pais não puderam ir ao casamento pela viagem longa — ele
explicou algo que eu nem havia percebido. — Eles são idosos.
— Ah, que pena — murmurei, tentando soar o mais sincera possível.
— Você os conhecerá amanhã.
Amanhã parecia perto demais para conhecer qualquer pessoa, mas
apenas acenei.
Assim que chegamos, depois de horas e conversas a base de risos de
Luca, nós entramos na sua residência. Já havia anoitecido, por isso fomos
diretamente para os quartos da casa. Ela era uma casa mediana, pequena em
comparação a dos meus irmãos, mas era bonita e sofisticada.
— Esse é o...
— Meu quarto — falei de maneira firme, fazendo Luca inclinar a
cabeça. — Não vou dividir uma cama com você.
— Hum, estranho, mas concordo. Não vamos dividir o quarto —
Luca murmurou.
Eu vi que meus pertences estavam arrumados. Sienna havia mandado
tudo hoje pela manhã.
— Sério? — perguntei, um tanto chocada. Qual homem casa com uma
mulher e não quer dividir o quarto com ela?
— Sim, mas isso não quer dizer que não vamos dividir a cama. Eu
preciso de um herdeiro, depois dele, aí você pode ficar por conta própria.
Que diabos?
— Não vou lhe dar filho algum. Não vou me deitar com você. Nunca
— pontuei cada palavra e Luca riu. O infeliz riu!— Durma bem, Lake.
A porta foi fechada e eu corri para passar a chave. Quando fiquei
protegida, procurei por qualquer coisa no quarto, câmeras e escutas. Não
havia nada.
Tirei o vestido e o rasguei em pedaços, jogando a porcaria no meu
closet. Tomei um banho longo e limpei o beijo de Luca na minha testa na
hora do casamento. Ele bem que queria na boca, mas me abaixei rápido.
Depois de me vestir, entrei nas cobertas e chorei.
Por muito tempo.
 
Eu fingi estar doente por uma semana. Luca vinha me ver, mas logo
saía e seus pais não vieram com medo de pegarem a doença. Dramáticos.
Porém, meu marido logo percebeu que era mentira. Então, conheci seus pais.
Eram velhinhos ranzinzas que tratavam Luca como um menino, não um
homem. Seu pai era um pouco bruto, mas eu o ignorei a maior parte do
tempo.
— Meus pais são donos do local.
Estávamos indo a um restaurante que os pais dele nos convidaram.
Eu não queria ir, estava com um mal-estar pela comida apimentada que comi
no almoço, mas Luca implorou.
— Hum, legal.
O homem ao seu lado, Baron, riu. Ele era melhor amigo do Luca e
sempre estava conosco. Era legal, mas eu não estava com ânimo para fazer
amizades.
— Baron — Luca resmungou, mas o amigo riu mais.
— Ei, ela está entediada. Deveríamos levá-la a uma boate legal.
Luca negou, rígido, mas eu me interessei.
— Eu quero ir.
Qualquer coisa com barulho suficiente me faria parar de ouvir meus
pensamentos. Eles estavam me enlouquecendo.
— Obrigado, Baron — Luca grunhiu, revirando os olhos.
Então nós jantamos com os pais de Luca, porém Baron ficou no carro
todo o tempo. Ele parecia entretido com o celular quando voltamos. Fomos
para a boate, e assim que entramos, eu relaxei. Minha cabeça derreteu e eu
dancei, me afastando dos dois.
Ambos ficaram na mesa e eu me mexi ao som lento de Ariana
Grande. Fui ao bar, pedi uma bebida e quando voltei dancei mais. Meus pés
já estavam doendo quando enfim me cansei. Me virei para ir até Luca, mas
parei ao ver Baron me encarando.
O olhar intenso me fez franzir as sobrancelhas. Que porra ele estava
fazendo?
Andei em sua direção, mas percebi que ele não estava realmente
olhando para mim, e sim, com o olhar perdido na multidão. Eu vi quando
Luca começou a falar com ele. A mão do meu marido foi para a coxa de
Baron e eu fiquei chocada quando ele beijou o canto da boca do outro.
Que porra era essa?
Ignorei isso e voltei a andar. Bebi com eles e quando fomos embora,
Baron se juntou a gente. Entrei na casa e subi para o meu quarto. A bebida
tinha feito efeito e eu estava um pouco tonta, mas não menos curiosa.
Luca não me seguiu e eu fiquei quieta até ouvir passos. Múltiplos.
Abri um pouco minha porta e vi ambos. Levei minha mão à boca,
chocada demais ao ver ambos se beijando.
— Meu Deus! — murmurei, chocada.
Os dois continuaram se beijando e vi quando Baron abriu a calça de
Luca. Meu marido abriu sua camisa e ambos sumiram dentro do quarto
escuro.
Fechei minha porta devagar e deslizei pela madeira, grata demais a
Deus pela dádiva de ter me casado com um homem GAY. Agora eu sabia o
motivo de Luca querer esse casamento. Era sua fachada.
— Ah, Luca, peguei você.
 
 
 
 
 
Três meses.
Noventa dias.
Duas mil cento e sessenta horas.
O tempo do meu inferno era medido por dor, não pelo relógio. E eu
estava cansado.
— Eu preciso pensar bem na minha rota de fuga — Yerík murmurou,
focado em um mapa.
Sim, ele ainda estava focado em sequestrar a filha de um dos capos
da Bratva. Eu achava uma loucura, mas ele estava decidido. O sequestro já
deveria ter acontecido, mas tudo fazia a garota adiar o casamento.
— Você deveria ter uma rota no ar. É mais fácil — opinei, olhando
para a janela.
Ficamos de vez na Finlândia por motivos óbvios. Yerík precisava
coordenar melhor o sequestro e eu precisava manter minha cabeça sobre meu
pescoço.
— Você sabe pilotar? — Ele me encarou sério.
Yerík era mais velho que eu quase dez anos. Tínhamos muitas coisas
diferentes e tantas outras iguais, uma dessas era saber a hora de parar. Não
sabíamos.
— Não, mas essa garota vai cancelar esse casamento de novo e dá
tempo de aprender.
Yerík acenou e passou a procurar um curso de pilotagem.
Eu o deixei focado no trabalho e dei uma volta. A casa onde
morávamos ficava em Kemi, uma cidade pequena repleta de florestas e lagos
congelados. Era frio e não conhecíamos ninguém. Há duas semanas, Aduke
esteve aqui, mas precisou ir para a casa, para sua família. Ela e Yerík não
estavam bem, era visível. Aduke não gostava da ideia de ele querer
sequestrar alguém.
Me sentei em um banco depois de tirar a neve e cruzei meus braços.
O parque estava bonito, mas ultimamente tudo estava me deixando para
baixo.
Lake não adorava o frio, mas eu sabia que ela gostaria daqui. O lago
sempre a faria lembrar do Michigan. Ela se sentiria em casa, mesmo longe.
Fechei meus olhos e peguei o celular. Havia uma foto dela, uma das
várias que deixei no celular. Não trouxe o aparelho, mas todas estavam
salvas na nuvem. Nos primeiros dias aqui pensei em ligar, mas não queria
colocá-la em problemas.
Então, eu estava escrevendo mensagens em um grupo que estava
apenas eu. Eu mandava a cada vez que algo me lembrava ela, ou quando
queria matar alguém por não a ter.
Tudo se resumia a ela.
— Ei, bom dia! — Uma senhora se sentou na ponta e eu me afastei
mais, sem responder. — Você vem aqui quase todos os dias.
— E você também.
Já a havia visto por aqui, mas ela nunca se aproximou.
— Sim, você está sempre no meu banco.
Eu olhei ao redor e a encarei.
— Seu?
— Sim, Paulo amava esse banco, todos os dias nos sentávamos aqui.
Você está no lugar dele. — Ela fez uma careta, mal-humorada. — Pare de se
sentar aqui.
— Olha, você precisa falar com o prefeito...
— Seu pestinha. — Ela atacou com sua bengala e eu me ergui,
chocado. — Saia. Não volte aqui.
— Você fugiu do asilo? — perguntei, irritado, mas ela piscou e em
segundos começou a chorar. Muito.
Porra.
— Olha, dona, eu tô indo... — Apontei para a saída do parque, mas
ela pegou meu braço e me fez sentar.
— Deixe de ser abestalhado, não estou chorando. — Ela suspirou,
sorriu e inclinou a cabeça. — Gabi.
Olhei para sua mão estendida e fiquei confuso pra caralho. Eu vinha
aqui apenas para pensar em Lake sem Yerík nos meus ouvidos.
— Prince.
— Que piada. — Ela revirou os olhos. — Meu marido realmente se
sentava aí. — Sua voz baixou e ela olhou para a frente. — Ele se foi há três
meses.
Três meses.
— Eu perdi alguém há três meses também.
— Sério? Morreu de quê? Meu Paulo infartou...
— De nada, ela está bem — falei rápido, assustado só com a ideia
de perder realmente Lake.
— Então, você não perdeu nada. Só deixou pra trás.
— Não fale o que não sabe. — Apertei minha mandíbula.
— Estou sendo sincera. — A velhinha deu de ombros.
Me ergui, insultado demais, e a encarei.
— Boa tarde, Gabi.
Me virei e comecei a andar, porém ela gritou meu nome. Irritado, me
virei novamente.
— O quê?
— Sua garota merece alguém que lute por ela — Gabi murmurou
séria, então, se apoiando na bengala, a velhinha me deu as costas e foi
embora.
 
As palavras da Gabi continuaram em minha mente por dias. Quando a
sua sugestão alcançou um patamar elevado em minha mente, eu decidi agir.
Peguei meu celular e liguei para Lake. Chamou duas vezes e caiu. Ela
não retornou. Nem um dia depois e nem um mês depois. Eu sentia que algo
estava acontecendo, mas sabia que não podia ir para os Estados Unidos.
— Porra, você aprendeu rápido. — Yerík riu enquanto eu pilotava
um helicóptero pela primeira vez. Nós demos uma volta com o professor por
perto e depois fomos almoçar no restaurante de sempre.
— Yerík. — Suspirei, empurrando o prato remexido. Eu estava sem
fome.
— O quê? — ele perguntou depois de morder um hambúrguer.
Fiz uma careta ao ver o molho em sua barba por fazer.
— Preciso ir até ela — falei, por fim.
— Porra, cara, não! — Ele balançou a cabeça, ficando
completamente sério.
— Eu preciso. Estoucom documentos novos, ninguém vai saber que
estou lá. — Minha voz aumentou e Yerík respirou fundo, limpando a boca
com o guardanapo. — Ela não me respondeu. Liguei e ela não respondeu.
Alguma coisa está acontecendo, cara.
— Ela deve estar bem... cara, ela é forte — ele rebateu, com
confiança.
— O.k., mas eu preciso vê-la.
Meu melhor amigo balançou a cabeça, jogou o guardanapo na mesa e
levou as mãos à cabeça. Depois de muito tempo, ele acenou.
— Eu vou com você.
Viajar não era tão simples para nós, uma vez que tínhamos aberto um
bar na Finlândia para encobrir o que realmente fazíamos – tráfico e
matadores de aluguel. Yerík e eu nos dividíamos nas coisas, por isso,
primeiro resolvemos nossos problemas e depois focamos na viagem.
Eu nem sabia que estava tão ansioso até entrar na porra do avião.
 
Nós pousamos em Wisconsin e fomos dirigindo até Chicago. Yerík
foi esperto nisso, porque os homens do Rocco poderiam me reconhecer. Eu
não sabia o que ele disse para explicar minha ausência e nem queria.
A única coisa em minha cabeça era ver minha Silk.
Esperei por um longo tempo até ela sair do shopping. Seu cabelo
voava e tinha um segurança com ela. Fiquei de pé, e quando seus olhos
bateram nos meus, seu corpo virou pedra. Movimentei a cabeça chamando-a
e ela acenou.
Assim que despistou o segurança, Blue entrou em meu carro. Ela
olhou para cada pedaço meu e me abraçou. Eu fiz o mesmo, era bom estar
em casa.
— Eu preciso da sua ajuda — falei assim que ela se afastou.
— Prince... eu...
— Você é a única pessoa que pode me ajudar. — Segurei sua mão
com força e Blue suspirou.
— Aquele dia, eu soltei a Lake. Eu a deixei ir e paguei por isso com
Matteo. Você entende? — Seu cabelo vermelho deslizou e eu a vi respirar
fundo.
Suspirei ao entender o significado disso.
— Você não me deve mais nada. Eu entendo. — Acenei, tocando sua
cabeça. — Darei meu jeito. Estou com saudades da Nina.
— Não é isso que eu quis dizer, eu vou ajudar, mas... Lake não é
mais a mesma.
Eu sabia que não. Nem eu era.
— Também não sou, Blue.
A esposa de Matteo respirou fundo e pegou o celular. Depois de
soltá-lo, me olhou com coragem.
— Ela está morando em Rosemont, agora.
Tudo que Blue pudesse fazer para me machucar doeria menos do que
isso. Porque eu sabia o que significava. Ela se casou com Luca.
— Ela não vem para Chicago desde o casamento. Óbvio que vamos
sempre lá, Sienna e Lunna — Blue respirou fundo —, mas no último mês ela
estava mais distante e indisposta a nos ver.
Eu me inclinei sobre o volante e soquei o painel, fúria nadando em
minhas veias. Ela mentiu para mim. Me disse que não se casaria, mas onde
ela estava? Nos braços daquele filho da puta.
— Prince, calma! — ela berrou, assustada.
Eu fechei meus olhos, tentando inutilmente me acalmar.
Silk mentiu na minha cara.
— Eu vou até lá. Faça com que ela saia de casa.
Blue abriu a boca, mas voltou a fechá-la. Eu sabia o que ela estava
pensando, mas não importava. Nada disso importava.
— Salve meu contato. Não deixe Matteo saber que estou aqui.
Blue suspirou, mas acenou. Assim que saiu do meu carro, eu comecei
a dirigir. Peguei Yerík no hotel e fui até Rosemont matar alguém.
 
Eu tinha um segredo. Um que ninguém sabia e eu queria manter
assim.
— Você está linda. — Luca sorriu ao lado de Baron.
De modo quase imperceptível, eles se afastaram. Se eu não soubesse
o segredo deles, não teria percebido. Luca sorriu relaxado e Baron também.
— Realmente — Baron concordou e eu me sentei longe dos dois.
— Eu estou de moletom e casaco da cabeça aos pés — resmunguei,
revirando os olhos e eles deram de ombros.
— Então, algo para fazer hoje?
Nada. Nada mesmo.
Minhas cunhadas queriam vir me visitar, mas neguei. Não queria
ninguém em Rosemont. Não podia. Meu celular começou a tocar e eu peguei
o aparelho novo. Fazia alguns meses que perdi o outro quando o joguei na
cabeça de Baron em uma boate. Eu estava bêbada e ele estava brincando
comigo.
— Ei, Blue — respondi, sorrindo e me erguendo, deixando o casal
de pombinhos sozinho.
— Ei, estou em Rosemont. Não surte. Me encontre no King’s. — Sua
voz soou tensa e eu me preocupei instantaneamente.
— Meus irmãos estão bem? — perguntei baixo, mas Blue não
respondeu.
Quando desligou na minha cara, eu já estava subindo a escada. Vesti
uma roupa quente com botas pretas e saí de casa após avisar ao casal secreto
que eu iria ver minha cunhada. Luca não gostava de seguranças, por isso eu
também não andava com eles.
Assim que cheguei ao King’s, me senti fora da minha zona de
conforto. Era um lugar jovem, com boliche e sinuca. Não sabia o que Blue
tinha na cabeça de vir para cá.
Eu a procurei pelo local, mas não a vi. Talvez ainda fosse chegar,
por isso me sentei e aguardei. Quando o garçom se aproximou, pedi um
hambúrguer com batatas fritas e suco.
— Obrigada. — Sorri para o garoto e ele saiu da minha frente,
deixando a visão de todo o espaço aberta.
Meus lábios cederam quando vi um homem parado no final do lugar,
perto da parede. Respirei fundo, neguei e apertei meus olhos, mas ele
continuou lá. Me olhando. Me ergui para andar em sua direção, mas ele fez o
mesmo, por isso parei.
Prince parou diante de mim e eu quase caí quando minhas pernas
viraram geleias.
— De quem é o anel em seu dedo?
Escondi minha mão e tentei abrir a boca, mas nada saía. Como você
dizia ao homem que amava que se casou com outro?
— Quantas mentiras você me contou?
Não, eu não... mas ele estava certo. Eu menti.
— Eu não podia ficar em Chicago — respondi de maneira firme e me
apoiei na mesa.
Me sentei e o encarei, ainda de pé. Ele parecia o mesmo, mas seus
olhos não. Não havia fogo, nada. Ele parecia abatido.
— Como você está? Senta — pedi, na verdade, quase implorei.
— Eu estou morto por dentro. Você, no entanto, parece bem. — Sua
amargura me fez tentar tocá-lo, mas ele se esquivou.
— Olha, Luca nunca me tocou, se é isso que tanto te irrita. Eu jamais
permitiria — falei, tentando me aproximar, mas Prince riu.
— Você acha que é por isso? — Ele negou e se inclinou, quando seus
dedos agarraram a minha mão, eu me assustei. — Meu anel deveria estar
aqui, não o dele. — Prince tirou o anel de casamento e jogou no meio da
pista de boliche.
Deus, como era possível ele existir? Qualquer homem ficaria furioso
só de pensar que sua garota foi tocada por alguém, mas ele estava furioso
por um anel idiota.
— Você sabe o que houve. Sabe que eu também queria isso.
— Você não quer mais? — Sua voz soou machucada.
— Isso não é possível para nós dois — falei, sem o encarar.
Prince respirou fundo e o garçom chegou. Eu comecei a comer
enquanto ele me observava como um falcão. Quando me enchi, empurrei a
batata com cheddar em sua direção. Ele amava.
— Não quero. — Ele se ergueu e jogou o dinheiro na mesa, então eu
fiz o mesmo com medo de ele ir embora. — Venha comigo. — Prince
estendeu a mão e a minha palma coçou para ir.
— Para onde?
— Importa? — ele grunhiu, irritado. — Se estou ao seu lado, importa
para onde eu vou te levar?
— Não, claro que não — falei rápido e peguei sua mão.
Saímos do King’s e eu respirei fundo o ar de Rosemont. Era uma
cidade linda e aprendi a gostar dela. Prince me colocou no carro e dirigiu.
Quando ele entrou em um hotel na cidade, eu o segui sem questionar.
Assim que entramos em seu quarto, vi uma mochila e muitos casacos.
Me virei para ele, mas percebi que não o escutei se aproximar. Prince estava
na minha frente, quase cobrindo meu corpo com o seu.
Seu cheiro me entorpeceu. A dor tão conhecida e regular cedeu e eu
enfim consegui respirar.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Havia algo nela que eu não sabia o que era, eu podia perceber pelos
seus olhos. Eles fugiam de mim, mesmo eu vendo a necessidade que ela tinha
de me tocar.
— Há quanto tempo está... aqui? — Eu ia perguntar casada, mas a
palavra parecia balas de uma doze na minha boca.
— Há poucos meses. — Lake ergueu a mão e tocou meu casaco. —
Não teve um dia que eu não imploreipara que eu estivesse com você.
— Por que você se casou, Lake? — perguntei, me afastando do seu
toque. Ela puxou a mão junto ao peito.
— Porque era o que restou.
Semicerrei os olhos e ela andou até a janela.
— Ficar em Chicago sem você, com eles, parecia errado. — Ela
fechou os olhos e depois me encarou. — Nenhum consegue me encarar.
Todos acham que meu pecado foi demais. Então, Prince, qual era o ponto de
permanecer?
— Você sabia que se casaria no dia em que me levou a Lionel. Sabia
e mentiu...
— Sim, e daí? Eu minto, Prince! Como você, nossos irmãos... foda-
se! — Ela andou até mim e empurrou o dedo em meu peito. — Então, pode
me julgar... me odeie... você não sabe como me senti subindo em um altar...
Eu me afastei, apertando meus olhos. Imaginei Lake andando pela
igreja. Jesus, obrigado por ter me levado para longe, porque assistir a isso
seria minha morte.
— Você acha que eu estava feliz? Que eu fiquei feliz ao comprar a
merda de um vestido? De viajar até uma cidade desconhecida? Porra,
Prince, não! Eu segurei minhas lágrimas, fiz o que esperavam de mim, e
quando cheguei a Rosemont desabei.
— Olha...
— Luca foi bom pra mim. Na verdade, bom demais para ser
verdade...
— Você se apaixonou por ele?
A pergunta pesou em meu peito, mas Lake me olhou dos pés à cabeça
e balançou a cabeça.
— Você é tão idiota. — Lake riu e andou pelo quarto, até parar e me
encarar. — Luca é GAY e mesmo se não fosse, eu jamais poderia amar alguém
além de você.
Porra, o quê?
— Ele queria um casamento para manter a fachada que é sua vida.
Ele e o melhor amigo são um casal — ela explicou e se sentou na cama,
parecendo cansada.
— O que você tem? Parece cansada, e não é só agora. Desde que
entrou naquele lugar...
— Não tenho nada — ela rebateu, irritada.
Me aproximei e toquei sua testa. Ela parecia quente. Peguei as pontas
do seu casaco e tirei dela, ouvindo seus gemidos.
— O que diabos você está fazendo? — Silk gritou.
— Você está febril... — Tirei sua calça também, mas parei quando
notei algo. — Que porra é essa?
Havia um plástico enrolado em sua coxa. Abri suas pernas e vi a
tatuagem ali.
Villain.
Porra.
Meu nome estava escrito em letras pequenas e minúsculas. Toquei
sua coxa e suspirei.
— Quando fez isso? — perguntei, sem forças.
— Há uma semana. Está infeccionado e não sei por que... — Ela
suspirou com dor quando toquei. Realmente estava.
— Você precisa deixar sem o plástico. — Peguei as pontas e retirei.
Havia uma pomada ali que ela devia ter passado. — E precisa ficar de
calcinha a maior parte do tempo. A infecção pode ser pelo atrito com a
roupa.
— O.k. — Ela engoliu em seco e eu percebi como estávamos.
Eu de joelhos entre suas pernas abertas. Olhei para sua boceta
coberta e levei minha mão ali. Lake mordeu o lábio.
— Alguém teve essa visão da sua boceta, Silk? — Esfreguei meu
polegar e ela engoliu em seco.
— A tatuadora. Ela era uma mulher.
Puxei o tecido e sorri ao ver que estava molhada. Lake empurrou os
quadris em minha direção e eu me inclinei, capturando seu clitóris com
minha boca. Por alguns segundos foi como se eu estivesse no paraíso. Silk
gemeu agarrando meu cabelo e eu levei meus dedos à sua entrada. Enquanto
a chupava e lambia, meus dedos fizeram inveja ao meu pau. Entrando nela,
sentindo seu aperto.
— Prince, oh Deus! — Ela jogou a cabeça para trás e eu segurei suas
coxas.
— Vou comer sua boceta assim, sem seus peitos em meu rosto por
causa da tatuagem — reclamei chateado e abri meu zíper.
Lake empurrou os quadris e eu entrei em sua boceta escorregadia.
Joguei a cabeça para trás bem, porque finalmente estava em meu lugar. Em
casa.
— Como senti sua falta, porra — rosnei, agarrando sua cintura.
Bati sua bunda em minha pélvis, fodendo-a tão forte que ela gritava a
cada estocada. Segurei seu cabelo e a puxei contra mim. Cobri sua boceta
com minha palma e depois esfreguei seu clitóris. Ela grunhiu, tremendo.
Soltei seu cabelo e toquei seus peitos. Lake gemeu, ambos estavam mais
cheios e os bicos duros. Eu queria os dois em minha boca.
— Goze — ordenei, tremendo, e ela acenou.
Com duas estocadas, Lake gritou e banhou meu pau. Eu a deitei na
cama, abri suas pernas e me masturbei. Ela me olhou com as pálpebras meio
abertas e assistiu a minha porra sujar suas coxas e boceta. Meu nome tatuado
foi contemplado também.
— Abra mais as suas coxas.
Silk segurou seus joelhos e eu deslizei dentro dela. Me inclinei com
cuidado e mordisquei seu mamilo. Chupei a carne deliciosa e mais uma vez
gozei. Dessa vez, dentro dela.
— Porra, toda vez parece o céu — grunhi, ainda dentro dela,
sentindo seus espasmos. Respirei fundo, me acalmando e percebendo que
fiquei sobre ela. — Tudo bem? — perguntei e ela acenou.
Saí da sua boceta e caí ao seu lado. Lake se ergueu e foi ao banheiro,
quando voltou me encarou parada na porta.
— Eu preciso ir.
Não, porra.
— Você não vai. Vamos embora daqui. — Me ergui e andei até ficar
a sua frente. Lake respirou fundo. — Eu não vou mais acordar na Finlândia
pensando nos motivos que fazem você estar longe, enumerando cada um para
que eu me sentisse correto, mas quer saber, Lake? Eu não sou correto.
— Nossos irmãos...
— Que se fodam. Eles podem me procurar pelo mundo todo, eu não
dou a mínima.
— Eles vão te matar...
— Que matem, mas, por favor, que o tempo que tive antes tenha sido
com você ao meu lado. — Implorei com os olhos para ela me escolher dessa
vez.
Eu estava cansado de pensar nessa garota. De tentar me convencer
que era o melhor. Para quem, porra?
— Não estamos felizes, Lake.
— Eles vão nos caçar... — Ela desviou os olhos lacrimosos dos
meus.
— E vamos fugir. Eu posso lidar com uma vida fugindo, o que eu não
posso, de maneira nenhuma, é respirar mais um dia sem você comigo. Isso
me mata.
Ela fungou e correu até meu peito. Eu a abracei com força e ela
enrolou seus braços em meu pescoço. Seu cheiro era tudo que eu sentia
naquele momento, e se pudesse morrer, eu o faria em paz.
— Vamos. Porém, eu preciso falar com Luca.
— Ele vai contar ao Rocco — protestei, mas Lake negou.
— Eu tenho o segredo dele, ele vai guardar o meu.
Tentei pensar em uma maneira de fazê-la mudar de ideia, mas ela já
estava pegando suas roupas. Merda!
Quando entramos na casa, eu a achei bonita, mas não algo à altura da
minha Silk. Lake entrou na frente, e quando vimos Luca, paramos. Ele estava
jogando videogame com outro cara.
— Baby, você precisa ver, Baron perdeu tudo — Luca gritou sem nos
ver.
— Ei, tudo bem? — Lake falou e o tom da sua voz fez eles se
virarem.
Os dois se ergueram e eu fiquei atrás da Lake os encarando.
— Ei, cara. — Luca franziu as sobrancelhas. — Seu irmão disse que
precisou dar um tempo de Chicago. Já retornou?
— Luca, eu estou indo embora.
Ele ficou branco e depois começou a balançar a cabeça.
— Lake, o quê? — Luca deu um passo, mas me movi e ele parou.
— Você pode falar o que quiser. Que resolvi ir morar em Paris,
gastando seu dinheiro. Qualquer coisa, Luca. — Ela se aproximou dele e
ergueu o rosto. — Mas eu não posso mais ficar aqui.
— E o Rocco? Eu... que diabos é isso, Lake? — Ele parecia
completamente furioso e, principalmente, assustado.
— O que acabei de dizer. Ele vai me ligar e eu vou confirmar.
Rocco não era idiota. Logo sacaria, mas eu não dava a mínima. Eu
passaria a vida fugindo, mas valeria a pena. Com Silk, eu sabia que valeria.
— Lake... — Ele olhou nervoso em minha direção.
— Eu sei que era fachada, Luca. Vi você e Baron assim que cheguei.
— Lake se aproximou dele e o homem arregalou os olhos, me encarando
com pavor.
— Que porra... — Ele começou a negar, mas era inútil.
— Olha, não se preocupe conosco. Não vou dizer nada a ninguém. —
Ela respirou fundo. — Eu vou embora, porque não posso ser feliz aqui. Eu
sei que me entende.
Luca respirou fundo e me encarou.
— O que está acontecendo? Por quê?
Lake me encarou e eu dei de ombros. Eu não ligava para a opinião de
ninguém além da dela.
— Prince e eu cruzamos a linhade irmão e irmã — Lake murmurou e
eu toquei sua barriga, puxando-a contra mim.
Os dois arregalaram os olhos e a aversão foi visível a seguir, mas
rapidamente encobriram isso.
— Você... — Baron, ou algo assim, desviou o rosto e andou para
longe.
Luca olhou entre nós, enojado.
— Não estou pedindo sua permissão, Luca. Um segredo pelo outro. É
uma troca justa, não acha? — A voz dela se tornou firme e ele engoliu em
seco.
— Se você quer isso... eu não posso fazer nada.
— Você é um cara legal. Sabe, merece ser feliz. — Silk sorriu e se
aproximou dele.
Cautelosa, ela abriu os braços. Luca suspirou e a puxou para si. Eles
se abraçaram e quando eu ia puxá-la, ele a soltou. Baron se manteve longe e,
que bom, porque bastava Luca próximo a Lake.
— Vou pegar minhas coisas.
Silk começou a subir a escada, mas eu fiquei. Não tiraria meus olhos
dos dois filhos da puta. Se eles pensassem em nos trair, eu arrancaria a
cabeça deles.
— Vou ficar aqui, caso vocês mudem de ideia — murmurei, me
sentando e colocando minha arma na mesa de centro.
Ambos se sentaram e ficaram iguais pedras.
Peguei meu celular e liguei para Yerík.
— Estou levando-a.
— Você perdeu a cabeça, seu insano? — ele gritou, e no fundo ouvi
música.
— Eu não vivo sem ela, você sabe disso.
— Nesses meses...
— Eu apenas fiquei sobre a borda, tentando não me afogar. Cara, ela
é minha, preciso levá-la. Se você achar arriscado para você e Aduke, nós
vamos para outro lugar.
— Aduke, Aduke... esqueça ela. Acabou.
— Cara, não fode, não acabou nada.
— Acabou, ela acabou de me ligar. Me pediu pra escolher entre ela e
a vingança. Quando escolhi, ela disse que não dava mais. Que eu seguisse
minha vida.
Caralho, que inferno!
— O.k., olha, eu estou levando Silk. Quando voltarmos, eu posso
ligar para ela — murmurei, tenso.
— Não. Meu foco é pegar aquela garota, ter a minha vingança. Se
Aduke não pode lidar com isso, por mim, tudo bem.
— Yerík...
— Venha logo. Nosso voo sai em uma hora. Porra, tem que comprar
passagem para ela também. Ela tem documentos falsos? Porque vai precisar.
Não, mas ela sabia onde conseguir.
Desliguei o celular e me inclinei sobre meus cotovelos.
— Sabe, vocês não são tão diferentes de nós — comecei a falar e os
dois me encararam. Ergui os olhos e suspirei. — Deus os condena da mesma
forma.
— Jamais ficaria com meu irmão, isso é nojento! — Baron gritou,
nervoso.
— Se um dia alguém te amar da maneira como eu amo aquela mulher,
você terá sorte. Nossas almas não têm laços sanguíneos, e a dela me
pertence, a minha, pertence a ela. Como meu coração.
Baron ia falar mais, porém Luca tocou sua perna e o calou.
— Não sou ninguém para julgar você. Cuide dela. Só isso. — Luca
acenou gentil e olhou para Baron. Durante poucos segundos eles tiveram uma
conversa com o olhar e pronto, Baron relaxou na cadeira.
Um tempo depois, Lake surgiu. Ela carregava duas malas e eu quase
chorei por isso. Ela não ia precisar disso na Finlândia. Na verdade, teríamos
que comprar novos casacos.
Peguei minha arma da mesa e guardei no coldre. Me aproximei da
Lake e tomei as malas das duas mãos. Ela sorriu e agradeceu.
— Luca, obrigada por tudo. Entrarei em contato.
— Tudo bem. Fique bem e segura. — Luca a abraçou novamente e
depois de acenar para Baron, ela andou ao meu lado para fora.
Coloquei suas malas no carro e entramos. Lake sorriu e descansou
sua cabeça em meu ombro enquanto eu começava a dirigir.
— Tá longe de acabar, né? — Sua voz ecoou fraca e eu apertei sua
coxa.
— Não importa.
E na verdade, não importava. Eu poderia viver uma semana ou duas,
mas se tivesse sido ao lado dela, morreria feliz.
Era egoísta, mas era a verdade.
 
 
 
 
Não demorou muito para a nossa família perceber o que havia
acontecido. Sienna foi a primeira a ligar e eu ainda estava em solo
americano.
— Luca disse que foi para Paris. — A voz dela ecoou baixa. —
Como Prince está?
Eu o encarei diante de mim, dentro de um jatinho que Lionel nos
emprestou novamente. Ele estava dormindo, parecia tão exausto. Sua
respiração suave me deu a sensação de calmaria. Era bom, mas a tempestade
viria.
— Eu não sei, estou em Paris — falei, bocejando.
— Lake, você nunca iria para Paris. Aquele lugar não faz seu estilo.
— Si riu na linha, nervosa.
Ao ouvir passos ao fundo, semicerrei os olhos.
— As pessoas mudam, Sienna. Onde estão meus irmãos? — Mudei
de assunto, sabendo que eles estavam ao seu lado.
— Estão aqui.
É claro.
— Eu preciso desligar. Estou indo fazer compras...
— É madrugada aí, Lake.
Porra.
— É uma promoção exclusiva. Sabe, uma fila imensa, preciso chegar
cedo.
— Você não nos engana — Rocco resmungou ao tomar o celular e eu
respirei fundo. — Eu aceitei os seus termos, Lake. Não fui atrás dele, o
deixei ir enquanto você permanecesse...
— Eu não sei por que está nervoso. Eu estou na França com a
permissão do meu marido. Não sou mais responsabilidade sua, Rocco.
— Não sei o que fez a Luca, mas eu vou descobrir.
— Como sua esposa falou, é madrugada.
— Lake, eu vou matar vocês dois dessa vez.
— Rocco, eu estou em Paris, curtindo o país, livre das demandas de
vocês. Me esqueçam — grunhi, irritada pela sua ameaça.
— Eu vou te encontrar.
— Eu passo o meu hotel assim que pousar — murmurei e ele
desligou.
Eu não sabia o que estava passando na cabeça deles, mas de uma
coisa eu tinha certeza, eu não ia ficar mais um segundo longe do Prince. Não
podia. E mesmo que nossos irmãos nos caçassem, eu permaneceria fugindo.
Nada mais importava.
Eu me sentei ao seu lado e apoiei minha cabeça em seu ombro. Yerík
me observou da outra ponta e eu o encarei.
— Por que você não nos condena como todo mundo? — perguntei
baixo.
Sempre quis fazer essa pergunta. Desde que Prince descobriu que
éramos irmãos, Yerík o apoiou em tudo. Até em nossa relação.
— Não posso julgar meu melhor amigo quando ele faz algo que o
deixa feliz. — Ele encarou a janela. — Não posso julgá-lo quando eu
presenciei quão miserável a vida dele é sem você.
De alguma forma estúpida, eu me senti bem com a centelha de
reconhecimento. Mesmo que fosse ridículo querer que alguém que você
amava estivesse sofrendo. Saber que não sofria sozinha aliviava.
— Aduke está na Finlândia?
Yerík respirou fundo e me encarou. Ele era alto, com tatuagens em
todos os lugares, menos no rosto. Seus olhos eram azuis e ele era mais velho
que Prince e eu. Apostaria uns trinta e poucos.
— Não estamos mais juntos.
— Entendi, sinto muito.
— Não sinta.
Ele me ignorou logo depois e eu fiquei quieta. Prince continuou
dormindo e eu voltei a pensar na minha família. Eu os veria de novo? E os
pequenos? Um dia, eu os veria grandes? Nina casando, os gêmeos, Remy,
Alena e Lua também? Isso trouxe lágrimas aos meus olhos. Não queria viver
longe da minha família.
Na verdade, eu nunca desejei ficar longe.
Meu desejo sempre foi nós quatro juntos, sempre.
Eu odiava que isso nunca poderia se realizar.
Odiava saber que eu não os veria novamente, e se os visse, seria
minha ruína.
— Silk — Quando Prince murmurou baixinho, eu o olhei. Seus olhos
estavam selados e sua respiração continuava lenta. — Silk... não vá.
Meu coração doeu. Ele estava sonhando comigo deixando-o?
— Ei, estou aqui — respondi, engolindo meu choro e tocando sua
mão, apertando-a. — Estamos juntos. Dessa vez pra sempre, eu juro.
 
Quando chegamos à Finlândia, Prince e Yerík tiveram que sair. Eu
não sabia como estava sendo a vida deles aqui, mas de uma coisa eu tinha
certeza, a casa era um lixo.
— Eu não vou morar aqui. Pelo amor de Deus, como você viveu aqui
tanto tempo? — perguntei quando ele chegou trazendo comida. Yerík não
estava com ele.
A casa era de um andar e não era quente o bastante. Era próxima da
cidade, mas eu vi que demorava alguns minutos.
— Essa não é nossa casa, Silk. Calma. — Ele segurou meu rosto
entre as mãos e sorriu. — Você fica tão linda brava.
— Onde é, então? — murmurei, sendo engolida pelo meu cachecol.
— Lá. — Ele apontou para trás e eume virei.
Depois da porta de trás, havia uma floresta que estava
completamente branca, coberta pela neve. Porém, havia um caminho aberto
entre ela. Abri meus lábios, chocada. A casa era vermelha e estava coberta
de neve também.
— Oh meu Deus! — gritei, sorrindo e me soltando dele. — Vamos lá.
Ele me enfiou no carro e nós chegamos à casa em dois minutos.
Desci da camionete e subi a escada. A casa realmente era linda. Abri a porta
e a quentura me abraçou.
— Vim aquecer antes de te trazer. — Ele riu nas minhas costas e eu
tirei meu cachecol, gorro e luvas.
— É tão bonita — murmurei para a lareira e Prince me abraçou por
trás.
— Eu a comprei no dia que viajei para te buscar. — Beijou minha
cabeça com carinho, então me derreti em seus braços. — Yerík disse que eu
era um idiota, mas fazer o quê?
— Onde ele está? — perguntei, olhando-o.
— Foi resolver alguns negócios. — Prince se afastou e pegou minhas
malas.
— O que estão fazendo aqui? — questionei, seguindo-o escada
acima.
— Tráfico, mortes... essas coisas. — Ele deu de ombros e eu
estremeci.
— Poderíamos recomeçar sem isso em nossas vidas — indiquei
assim que entramos no quarto.
Prince se virou e colocou as malas no chão. Ele me encarou,
franzindo as sobrancelhas.
— É nisso que somos bons. Saí da família Trevisan, mas ainda sou o
mesmo mafioso com a alma fodida.
Saí da família Trevisan.
Jesus, eu achava que nada poderia me fazer tremer longe dos meus
irmãos, mas aqui estava eu.
Eu não saí, né? Eu amava meus irmãos, amava minhas cunhadas e
sobrinhos. Não queria sair de nenhum lugar, eu só queria amar Prince.
— Ei, ei. — Prince segurou meu rosto e eu pisquei, encarando-o. —
O que...
— Eu nunca quis sair da família. Ainda me sinto uma Trevisan,
mesmo sabendo que sou uma Bianchi... — tentei falar, mas Prince me
interrompeu.
— Eu renuncio qualquer coisa que me afaste de você, família ou não.
Eu entendia, mas isso ainda doía.
— Eu também, mas não dói menos.
Prince me abraçou e descansou seu queixo na minha cabeça. Eu
envolvi meus braços em sua cintura e me apoiei em seu peito.
— Nós vamos ver todos de novo. Um dia.
Eu não sabia se tinha mais medo ou prazer em saber disso.
 
Prince e eu ficávamos dentro de casa todo o tempo, na verdade, eu
ficava. Não vi mais Yerík desde que cheguei, e Prince sempre saía à noite e
voltava de madrugada. Eu sabia o que ele ia fazer.
— Esse bar que vocês têm... — comecei a falar assim que nos
sentamos para jantar. Ele sairia em breve.
— Hum. — Seu murmúrio foi feito enquanto comia um pedaço de
carne que grelhamos.
— Não precisa de uma bartender? — Ergui a sobrancelha, sugestiva,
e ele parou de comer.
— Yerík contratou uma garota — Prince murmurou sem interesse e eu
fiquei alerta.
— Uma garota? Por que nunca ouvi falar dela? — sondei, cortando o
pedaço de tomate da salada.
— Porque é uma menina normal. — Deu de ombros, totalmente
concentrado na comida.
— Eu quero ir com você, hoje.
Prince me olhou acenando e eu sorri. Bom, a garotinha Trevisan ia
sair do ninho.
Eu subi para me vestir enquanto Prince ficou lavando a louça. Não
havia muitas opções no frio que fazia, por isso fui ao óbvio – calça
quentinha e um casaco peludo. Calcei minhas botas e Prince colocou meu
cachecol.
— Tome. — Ele me deu minhas luvas e nós saímos.
Assim que chegamos ao bar que não era tão longe quanto pensei,
Prince me colocou atrás do balcão com uma carranca feia.
— O quê? — perguntei sobre o som alto.
— Não saia daqui.
— O que houve? — murmurei, completamente confusa.
— Alguém que não confio. Fique com a Finley. — Prince acenou
para a garota ao lado e eu o encarei.
— Minutos atrás você não a conhecia — resmunguei, semicerrando
os olhos.
Ele agarrou minha mão, colocando sobre seu coração.
— Isso é somente seu. Pare com ciúme.
Estremeci e acenei, mordendo meu lábio. Prince me puxou e beijou
meus lábios rapidamente. Quando me soltou, eu suspirei e ele saiu.
— Então, você é a garota do Rude.
A voz me deixou confusa. Porém, só depois me lembrei do nome que
Prince havia usado para sair dos EUA.
— É. — Acenei e olhei ao redor.
— Finley — ela estendeu a mão —, e você? — A garota era jovem
realmente, tinha cabelo escuro igual ao meu e era tão magra quanto uma
modelo.
— Sasha.
O nome que estava na minha identidade era estranho na minha voz.
— É um prazer, Sasha. Aqui é calmo na semana, mas sexta e sábado
fica bem louco — ela gritou sobre a música enquanto servia dois homens.
— Estou vendo. — Sorri.
O bar realmente era agitado. Durante as horas que Prince não voltou
para me pegar, eu aprendi a servir algumas pessoas com a ajuda da Finley.
Ela até que era legal.
— Onde Yerík está? — perguntei a ela assim que o movimento
diminuiu e Prince surgiu conversando com um homem em uma das mesas.
— Não sei. Ele sempre aparece pra fechar.
E ela estava certa. Quando chegou perto das duas da madrugada, as
pessoas se dispersaram e Yerík chegou. Ele estava usando um casaco preto e
uma balaclava para cobrir o rosto. Ele andou até a mesa onde Prince estava
e se sentou. O cara que estava com ele saiu depois que apertaram as mãos.
— Então? Você conseguiu saber se ela vai adiar novamente? — A
voz do Prince ecoou assim que andei até os dois e Finley desligou o som.
— Ela quem? — perguntei, deslizando em seu colo e me sentando.
Prince se encostou no banco acolchoado e segurou minha coxa.
— A garota que Yerík vai sequestrar.
Prince apertou o domínio sobre minha perna e o aviso era claro. Não
fale nada.
— Porra, isso é... surreal — murmurei baixo.
Ele observou a chama na pequena lareira que havia em cada mesa.
O bar era rústico e tão aconchegante que eu poderia viver aqui.
— Por que você vai fazer isso? — perguntei, me inclinando sobre a
mesa.
Prince suspirou e eu percebi minha posição sobre seu colo.
— Vingança. — Ele não me encarou, só olhou para Prince. — Seu
namorado vai me ajudar nisso.
— Eu aposto que sim. — Me remexi ao virar e ele agarrou minhas
coxas. — Ele é mais fiel a você que a mim.
— Não chega a tanto, mas sim, vou ajudar Yerík. — Prince deu de
ombros, como se não fosse nada de mais.
— Eu vou fechar o caixa com a Finley. — Yerík se ergueu e saiu.
Assim que ele sumiu, as mãos do Prince subiram pelas minhas coxas.
— Sabe o lado ruim de morar na porra de um lugar frio? — Sua voz
perfurou a cama de roupa e me arrepiou. — Eu não posso enfiar a mão em
sua calcinha.
Apertei meu ventre e empurrei minha bunda em seu colo, sentindo
seu pau duro.
— Vamos lá, Silk. Vou foder você enquanto dirijo.
— Não vai ser a primeira vez. — Lambi meus lábios, olhando para
ele sobre o ombro.
— Não, não vai, porque você sempre testa minha obsessão pela sua
boceta.
Ele me ergueu e eu dei tchau para Finley. Prince me agarrou e eu
gritei quando fui erguida e posta sobre seu ombro.
— Rude!
— Eu serei, amor, eu prometo.
 
 
 
 
 
 
 
Eu a coloquei em meu colo, fechei a porta e ela começou a tirar a
calça grossa. Assim que ficou nua da cintura para baixo, eu guiei meu pau
para sua boceta. Lake jogou o cabelo para trás e eu segurei os fios perto da
sua nuca.
— Olhos na estrada, Silk. Me foda com as mãos no volante. Você vai
ser meus olhos.
Ela suspirou e agarrou o volante enquanto eu segurava seus quadris.
Ergui seu corpo e ela desceu novamente, engolindo meu pau. Eu podia vê-lo
brilhando com o suco da sua boceta.
— Porra, amor, você parece ficar mais apertada a cada vez —
grunhi, sedento pelo orgasmo.
— Vou virar para a esquerda, diminua.
Desacelerei o carro e mudei a marcha. Lake bateu a bunda em meu
colo, gemendo cada vez mais alto. Eu enfiei a mão na sua frente, agarrei a
barriga plana e depois sua boceta. Capturei seu clitóris e girei, fazendo-a
gritar. Ao sentir sua tatuagem agora cicatrizada, eu grunhi.
— Goze.
— Prince. — Ela se curvou e suas mãos saíram do volante.
Dei uma palmada em sua boceta que a fez gritar e se erguer.
— Olhos na rua, mãos no volante ou nada de gozar, Silk.
— Tá, o.k. — Sua respiração atropelouas palavras e logo voltou a
fazer seu trabalho e eu o meu.
Sua boceta me apertou e eu sabia que ela estava quase lá. Pressionei
seu botão inchado e rosa, fazendo-a gritar, gozando e puxando o meu para
mim.
— Meu Deus. — Lake respirou fundo e eu parei o carro.
Ela se virou, sorriu e mordeu o lábio. Capturei sua boca e suspirei ao
sentir o gosto bom. Lake gemeu e meu pau ganhou vida. A neve começou a
cair e eu a girei. Silk sentou sobre mim e usou meu pau como seu brinquedo,
subindo, rebolando e descendo.
— Eu amo seu pau — ela gemeu chegando a um novo orgasmo.
Eu ri e gozei também, beijando sua boca.
— Eu estou uma bagunça. — Lake riu, saindo do meu colo e se
sentando no banco ao lado.
— Se vista. Não vou tirar você nua do carro.
Ela acenou e começou a colocar as roupas. Assim que chegamos
perto da casa do Yerík, eu vi marcas de rodas na neve. Não era incomum
durante o dia, porque muitos turistas subiam a montanha, mas nesse horário,
sim.
— Eles nos encontraram — falei de maneira firme, fazendo Lake
parar de sorrir.
Ela olhou para os lados e para a frente. Me inclinei, peguei minhas
armas e entreguei uma nas mãos dela.
— Não quero machucar ninguém — ela murmurou, nervosa.
Eu agarrei seu rosto, puxando-o contra o meu.
— Eu também não, mas se alguém tentar pegar você, eu vou.
— Prince...
— Não vou voltar para o inferno, é solitário demais.
Dirigi até nossa casa e estacionei. Abri minha porta como se eu não
soubesse que havia pessoas me observando. Peguei a mão da Lake e a levei
para dentro. Não me surpreendi ao ver Rocco fumando, sentado na minha
poltrona.
Sem camisa.
No frio da Finlândia, chegava a ser ridículo.
— Vocês não aprenderam nada comigo? — Ele tragou o cigarro e
soltou a fumaça em círculos pequenos. — Local aberto demais, casa
desprotegida... nada?
Meu irmão voltou a tragar e colocou o tornozelo para descansar
sobre o joelho direito. Ouvi barulho na cozinha pouco antes de Sienna surgir.
Lake deu um passo, mas parou imediatamente.
— Ei, eu amei essa casa. Rocco achou insegura, mas é tão
aconchegante. — Ela se sentou no colo dele e tirou o cigarro dos seus dedos,
jogando a bituca na lareira.
— Onde estão os outros? — Lake perguntou, engolindo em seco.
— Onde mais? Em suas casas. — Ele deu de ombros.
— Não é uma visita com a família toda. Talvez, em outra
oportunidade. — Sienna sorriu e Rocco a encarou, balançando a cabeça.
— Você não veio tentar me levar de volta? — A voz da minha Silk
ecoou incerta, fazendo Rocco a encarar.
— Eu vim deixar duas coisas. — Ele pegou uma pasta, e quando foi
a abrir, empurrei Lake para trás e segurei minha arma. — Para você. — Ele
estendeu para Lake e ela passou por mim, indo até ele.
Com os dedos trêmulos, ela pegou e voltou para o meu lado.
— Isso é...
— Seu divórcio. Luca deu entrada nele assim que saiu. Decidiu que
não quer mais esse casamento. Por mim, foda-se. — Rocco esfregou as mãos
na calça jeans e se ergueu com Sienna. — E isso é seu.
Olhei para o envelope nas suas mãos e engoli em seco. Era...
— Eu encontrei Andy. Havia sangue seu no nosso centro médico, nas
roupas e até no helicóptero. — Agarrei o papel pardo e meu irmão inclinou a
cabeça. — Eu já abri, obviamente.
— E o que... — Lake começou, mas eu já sabia a resposta.
— Não somos irmãos — Rocco murmurou, encarando nós dois. —
Você não é filha do Ettore. Você não é minha irmã. — Seus olhos se fixaram
em Lake, eu vi a tristeza em seu olhar. — Prince é filho da Andy, não da sua
mãe, Violetta.
— Mas...
— Eu não sei como ou por que Violetta pegou Prince para criar.
Realmente não sei, mas eu me lembro da barriga dela. Lembro-me disso...
Talvez tenha perdido o bebê e Ettore decidiu trazer um dos gêmeos
bastardos...
Eu coloquei minha arma sobre a mesa de centro e me sentei,
franzindo as sobrancelhas e sentindo algo dentro de mim doer. Eu não me
lembrava de Violetta, porque eu sentia essa dor? Ela não estava em minha
mente... mas eu sabia, sentia que a amava.
— Prince é um Trevisan, continua sendo. A Lake é uma Trevisan de
alma, sempre será, mas por tudo... ela merece carregar o nome do seu sangue
nos documentos. — Sienna entregou a Lake uma nova pasta, e quando ela a
abriu vimos todos os seus documentos com o sobrenome Bianchi.
— Eu nunca quis ser uma Bianchi. — Ela piscou rapidamente e me
olhou. Toquei seu rosto e ela desabou em lágrimas. — Sempre odiei
Carmelo...
— Eu sei — Rocco murmurou e nos olhou. — Eu também odiaria,
mas pra isso acontecer — ele gesticulou entre nós —, vocês precisam de
sobrenomes diferentes.
Eu sabia que ele não entendia nós dois, mas sua decisão de estar aqui
dizia muito.
Lake se jogou no peito do nosso irmão mais velho e enrolou os
braços no pescoço dele. Rocco a segurou e enfiou seu rosto no cabelo dela.
Ele a abraçou com força, e quando a soltou ela não fez o mesmo, continuou
lá.
— Eu te amo, me desculpa por tudo. — Ela soluçou, se afastando
apenas o suficiente para encarar seu rosto. — Você sempre será meu irmão,
não ligo para nosso sangue, você sempre foi nada além de justo com nós
quatro. Nada além do melhor irmão. Eu tenho orgulho de você, eu te amo.
— Seja feliz, Lake. Eu serei sabendo que você está.
Ela sorriu, acenando e o abraçando novamente.
— E você pode voltar a ser uma Trevisan quando se casarem, não
que eu esteja colocando pilha — Sienna murmurou sobre fungadas, então eu
a abracei. Si soluçou me apertando. — Eu vou morrer de saudade. Queria
que voltassem conosco...
— É impossível. Podemos entender que não são irmãos de sangue,
com um pé atrás, mas entendemos. Porém, as outras pessoas...
— Elas nunca vão entender. — Acenei, terminando por Rocco.
Lake se afastou dele e eu dei um passo em sua direção.
— Me desculpe se amá-la tirou a sua confiança em mim, mas eu juro,
por nosso sangue, irmão, que eu vou proteger e amá-la. Sempre. Todos os
dias da minha vida.
Rocco acenou e eu me aproximei, abrindo os braços. Ele me puxou e
eu fechei meus olhos. Logo o abraço se desfez.
— No Natal, iremos vir todos — Sienna murmurou. Eu me virei,
vendo Lake em seus braços. — A família toda sabe disso, Matteo está meio
retraído, mas ele vai superar.
— Matteo está mais chateado por Blue ser impertinente do que
qualquer coisa — Rocco falou com seriedade.
— Homens Trevisan. — Sienna ergueu as sobrancelhas e Lake riu.
— Nós precisamos ir. Os gêmeos estão doentes e Lunna só consegue
lidar com eles, Alena, Lua e Remy por pouco tempo.
Qualquer pessoa sã não conseguiria, mas optei por não falar nada.
Rocco guiou a esposa para fora e parou na porta, ambos se virando.
— Cuidem um do outro. Estamos a uma ligação de distância.
Eu respirei fundo e acenei, relaxando pela primeira vez em muito
tempo. Ter o apoio da família era importante para mim, mas mais ainda para
Lake. Eu não me lembrava deles como ela. Ela os amava muito mais que eu.
— Eu ligarei — prometi e os dois saíram da casa, deixando a porta
fechar.
Lake se virou para mim e colocou as mãos no rosto, correndo até
mim. Eu a ergui e ela me abraçou com força que uma garota pequena não
deveria ter, mas ela tinha.
— Eu não acredito que não somos irmãos. — Sua testa descansou na
minha e eu segurei seu cabelo. — Não acredito que passei anos me achando
suja por te amar.
— Sem sangue igual, sem tabu, sem pecado — murmurei, sorrindo,
com suas pernas enlaçando minha cintura. — A primeira coisa que eu quero
sabendo disso...
— O quê? — Ela ergueu o rosto, me olhando com expectativa.
— Um bebê. Preciso ver você grávida. — Sorri quando ela
semicerrou os olhos, rindo.
— Não creio, pensei que diria que seria se casar! — Lake grunhiu,
tentando ficar séria.
— Podemos fazer isso amanhã, eu quero também. — Sorri e segurei
seu rosto. — Mas agora quero foder cada pedaço seu, amar você sabendo
que por esse pecado não irei para o inferno.
— Só por esse? — Ela lambeu meus lábios e eu mordi seu queixo.
— Só, porque nós sabemos que vamos estar lá. Juntos. Em família.
Lake gemeu quando coloquei a boca em seupescoço. Chupei a carne
e mordi, deixando uma marca. Quando deslizei pelo seu colo, ela tirou o
casaco e puxou a blusa. As marcas mais visíveis estavam ali. Tantos roxos
de mordidas e chupões que eu tinha o dever de deixar.
Marcá-la era a única maneira de acalmar Villain.
Ela era nossa, sem pecado, apenas com a depravação da obsessão.
— Coloque aquele vestido...
— Qual? Agora? — Ela respirou fundo, excitada.
Eu acenei, colocando-a no chão.
— O que usou no aniversário da Nina.
Lake lambeu os lábios e acenou. Ela subiu a escada e eu me sentei
depois de me servir com uísque e baixar as luzes, deixando apenas o fogo
crepitar. Minutos depois, ela surgiu. Sua perna grossa aparecendo na fenda,
seus peitos apertados no tecido.
— Dance para mim. — Liguei nosso som.
Seu cabelo estava liso e alcançava sua bunda. Deus, ela era perfeita.
Quadris largos, cintura fina e peitos que eu amava foder. Lake balançou a
bunda girando e suas mãos deslizaram pelo corpo lentamente.
Quando me encarou, suas palmas estavam subindo por seus seios e
parando em seu pescoço. Lake mordeu o lábio e seus olhos azuis brilharam
com as luzes que vinham da lareira.
— A maneira que você me possui é inacreditável — rosnei,
deixando a bebida de lado.
Lake se aproximou com a boca entreaberta e colocou o pé no sofá
entre minhas pernas, então deslizei minha palma pela coxa nua.
— Você está escutando a letra dessa música? — Ela se inclinou e eu
senti o cheiro da sua pele. — Ouça, Prince.
A voz da mulher era linda, baixa e cantava sobre mim e Lake.
Ele está fora de si, eu estou enlouquecendo
Nós temos aquele amor, o do tipo insano
Eu sou dele, e ele é meu
No fim, somos ele e eu[iii]
 
— No fim, somos ele e eu... — Lake cantarolou em meu ouvido.
Eu me ergui, acabando com a distância. Colei minha boca na sua e
lutamos pelo controle, eu lambi, mordi e procurei seu sabor doce. Quando o
achei, quis cada vez mais, mais um pouco, mais um segundo.
Conosco sempre era assim. A necessidade, nosso desejo e nossa
obsessão.
Lake me deixou arrancar seu vestido, e quando ficou nua eu a
carreguei até nosso quarto, deitei-a sobre nossos lençóis e segurei seu
tornozelo. Beijei seus dedos, subi para sua panturrilha até ter beijado cada
parte. Lambi a tatuagem marcando-a com meu nome e entre suas coxas. Fiz o
mesmo com sua barriga plana e mordisquei sua pele. Assim que cheguei aos
seus mamilos, capturei um e saboreei, gemendo.
— Prince, por favor.
— O que, princesa?
— Não brinque comigo, apenas me faça sua.
Ela já era minha, mas não falei isso. Apenas fiz o que ela queria,
deslizei pela sua boceta, fazendo-a gemer e beijei seus lábios, engolindo
cada murmúrio.
 
Duas semanas depois nós chegamos a nossa casa depois de ir ao bar.
Prince me agarrou ainda na entrada, e quando cheguei ao sofá já estava nua.
Villain me amou da forma que mais gostava, lentamente e depois bruto e
insano.
Eu não sabia qual das duas eu mais gostava, mas de uma coisa eu
sabia, ser a princesa desse príncipe era bom.
— Mais rápido, princesa.
Ele puxou meus quadris e eu me sentei em seu colo. Prince jogou a
cabeça para trás e eu lambi seu pescoço, desenhando cada letra do meu
nome. Desci até encontrar seu peito e ergui os quadris, sentando mais rápido.
— Como eu vivi tanto tempo sem você sentada sobre mim?
— Tsc, tsc, tsc. — Sorri obstinada e o fiz gozar rápido.
Nós ficamos na sala, em frente à lareira, apenas olhando um para o
outro ainda nus. Eu contornei suas tatuagens e ele tocou minha pele,
admirando-a como se eu fosse perfeita.
— Você é tão macia. — Ele beijou minha testa e eu sorri, me
erguendo um pouco e me apoiando em seu peito.
— Eu quero abrir um centro comunitário aqui. Igual o que eu tinha
em Chicago.
Eu vinha pensando nisso desde que cheguei. Kemi não era uma
cidade tão grande, mas em todos os lugares havia pessoas precisando de
ajuda.
— Escolha o lugar e ele é seu, Silk.
Eu sorri e o abracei com força.
— Obrigada! Te amo! — Beijei seu rosto todo e ele riu, agarrando
meus quadris.
— Tem uma maneira melhor de me agradecer.
Seu sorriso safado me fez morder o lábio e me sentar em seu colo.
— Faça seu melhor, Silk.
 
No dia seguinte, eu estava diante do computador que Prince havia me
dado depois de ver alguns locais para construir o centro, olhando para as
meninas juntas. Até Kiara estava com elas.
— Sim, descobrimos quem está grávida. — Blue ergueu as
sobrancelhas e Kiara a encarou.
— Vocês desconfiaram?
— Você deixou o teste de gravidez no banheiro. — Lunna riu,
enrolando uma mecha do cabelo.
Elas estavam no jardim de um salão de festas. Era o casamento do
Zyon com a Antonella. Meus irmãos estavam em algum lugar pela festa.
— Parabéns, Kiara. Tenho certeza de que Giulio está pulando de
alegria.
— Sim, demais. Muito obrigada. É outro menino. — Ela sorriu
animadamente e eu festejei.
Desde que Prince falou de bebês logo após descobrirmos que não
éramos irmãos, eu estava mais inclinada a engravidar. Seria um processo,
porque obviamente deveria haver algo de errado, já que não engravidei
durante todo esse tempo. Eu tinha uma consulta marcada para o mês que vem
e estava nervosa.
— E onde está a Nina? — perguntei a Blue e ela olhou para trás.
Com um suspiro, me encarou. — Rodeada dos Trevisan protetores e
mandões. Vou salvá-la. Te amo!
— Te amo! Corra, ela está com tédio. — Nós rimos e Sienna me
mostrou Alena.
— Estamos animadas para ir no Natal! Por favor, deixe para comprar
as decorações quando eu estiver aí!
— Eu jamais privaria você desse prazer — falei com seriedade e
todo mundo explodiu em risadas.
— Ei, eu sou boa em decorar. Sejam pessoas ou lugares. — Ela riu,
jogando o cabelo loiro impecável.
Ouvi a porta bater e olhei sobre o ombro. Prince bateu a neve para
longe dos ombros e sorriu. Suas bochechas e nariz estavam vermelhos.
— Prince chegou — murmurei ainda o olhando e depois voltei para
as garotas.
As três estavam me encarando com um sorriso amável.
— O quê?
— É bom ver você feliz. Só isso — Lunna falou e as meninas
concordaram.
— Ei, garotas Trevisan e menina Conti. — Prince enfiou a cabeça na
tela e elas começaram a falar com ele.
Assim que desliguei, ele beijou meu rosto.
— Como foi no bar?
Em Chicago era tarde, enquanto nós já estávamos entrando na
madrugada.
— Bem, Yerík está deixando algumas coisas organizadas por causa
do sequestro.
— Já está próximo? — Fechei o notebook e me ergui.
Prince acenou, caminhando para a cozinha. Eu coloquei seu jantar
para esquentar e me sentei enquanto ele esperava.
— Onde ele vai levar a garota? — perguntei, sem o encarar.
Prince já havia dito que quanto menos soubéssemos, melhor. Mas
isso era eu, não nós. Ele sabia de tudo.
— Quanto menos soubermos, melhor.
— Essa garota, qual o nome dela? — Ignorei sua fala e continuei.
— Não sei. Não quero saber também. Isso não vai durar mais que
dois meses, logo ele vai se sentir vingado e vem pra casa. — Prince pegou
sua comida e se sentou me olhando.
— Ela é de uma família da Bratva, certo?
— Silk. — Seu tom de voz me disse para parar.
— E se eles quiserem retaliar? Procurarem ele por aqui? —
perguntei, pensando o quanto isso era perigoso.
— Eles não sabem onde estamos. Ninguém sabe. — Prince pegou a
minha mão. — Não se preocupe, nós dois não vamos ser um dano colateral.
— Eu sei, é só que estou pensando nela.
Prince me soltou e bufou longamente.
— Ela não é importante.
— Ela é uma garota que não tem culpa dos erros do pai. — Minha
voz ficou firme.
Prince se ergueu, empurrando o prato. Eu sabia que tinha ido longe
demais, mas era a verdade.
— Yerík é como um irmão, eu o amo e ele me ajudou pra caralho
desde que o conheci. Não me importo com essa garota. Se ele a matar, eu
enterrarei o corpo dela sem hesitar. Então, pare, Silk. — Prince segurou meu
rosto com carinho, deslizando o dedão pela minha bochecha lentamente. —
Ela não é importante. Você é. Yerík é.
— Não quero que você se machuque...
— Eu não vou, prometo.
Parecia umapromessa vazia, mas mesmo assim optei por acreditar.
Era apenas isso que eu podia fazer.
Prince me beijou, depois terminou de comer, então subimos. Depois
de fazer amor, me deitei em seu peito.
— Dá pra acreditar que estamos bem? Sem fuga, sem medo? — Sua
voz ecoou quando meus olhos queriam se fechar.
— Parece um sonho.
— Você acha que nossos irmãos no mesmo ambiente que nós vão
ficar bem? — Sua voz preocupada me fez suspirar.
— Vamos seguir o de sempre, nada de muito toque na frente deles e
pronto. Não acho muito justo, já que estamos em casa, mas...
— Eles não estão acostumados conosco — ele completou por mim e
eu acenei.
— Amo você. Boa noite, Prince.
— Boa noite, Silk. Te amo.
 
Ao sentir uma mão acariciando minha bunda, eu suspirei.
— Amor, estou dormindo — reclamei, ainda de olhos fechados.
— Acorde, preciso levar você a um lugar.
— Prince, pelo amor de Deus, o sol nem raiou.
Ele me puxou pelas pernas e me pegou nos braços.
— Prince! — gritei, irritada, mas ele beijou meu rosto.
— Eu vou amordaçar você se continuar gritando.
Minhas bochechas ficaram vermelhas e eu abri os olhos, finalmente.
Prince estava descendo a escada. Ele me colocou sobre o sofá e me mandou
levantar.
— Vou fechar seus olhos — ele murmurou, já colocando uma venda
no meu rosto.
— O que diabos você está aprontando uma hora dessa? — berrei,
chateada. Ele colocou algo em meu corpo, era macio, parecia seda. — Se
acha que vou sair nesse frio da porra só com isso está louco.
— Dá pra você ficar calada? Ou quer que eu tape sua boca? — ele
rosnou. Se eu pudesse, teria revirado os olhos. — Boa menina.
Ele colocou um casaco logo após e calçou botas quentinhas. Um
cachecol foi enrolado em meu pescoço e eu suspirei quando ele enfiou um
gorro. Puxei o cachecol, cobrindo minha boca.
— Pronto, vamos lá, reclamona.
Ele me levou para fora e eu suspirei ao sentir a brisa fria. Suas mãos
agarraram meus quadris e ele me colocou no carro que já estava quente.
Agradeci a Deus por Prince ter vindo ligá-lo antes.
— Não vai me agradecer por ter ligado o carro antes?
— Eu? Você quem me tirou de casa de madrugada.
Prince riu e o carro ganhou vida. Ele colocou uma música e ficamos
em silêncio até o carro parar, alguns minutos depois. Prince me tirou do
carro e eu senti a brisa mais fria ainda. Onde a gente estava? Ele tirou meu
casaco e eu senti uma echarpe macia ser posta em meus ombros.
— O que você está aprontando? — perguntei, me abraçando.
Prince riu por perto, mas não me respondeu.
— Prince, eu juro por Deus que vou atirar na sua cabeça.
— Que horror! — A voz rouca de uma senhora ecoou chocada.
— Quem está aqui? — gritei, então tiraram minha venda.
Pisquei para me acostumar com a claridade e me surpreendi ao
perceber que o sol estava nascendo. Estávamos no que parecia ser um
parque. Olhei ao redor e encontrei Prince no final de um caminho de pétalas
vermelhas sobre a neve. Ele não estava sozinho. Havia uma mulher mais
velha ao seu lado, curvada sobre a bengala e segurando um livro.
Finley estava na lateral, sorrindo e balançando a mão. Yerík estava
ao lado, segurando o que parecia ser um notebook. Eu semicerrei os olhos e
consegui visualizar minha família na tela. Meu coração martelou e eu apertei
meus lábios.
— É nosso casamento? — perguntei, tremendo, e ele acenou.
— Ande para mim, Silk.
Ele estava usando um terno preto e suas tatuagens escapavam pelas
costas das mãos e pescoço, onde meu nome descansava. Eu dei um passo em
sua direção, sendo movida por minha necessidade de ser a sra. Trevisan
dele.
— Você está tão linda.
Me olhei e sorri ao ver o vestido que parecia tão fino quando ele me
vestiu, mas agora eu podia ver que era grosso. Ela liso, não tinha muitos
detalhes, mas era perfeito. As mangas eram longas, meu decote era redondo
e delicado. A echarpe era de renda branca e tão quente quanto macia. Toquei
meu cabelo e ele estava em ondas naturais. Talvez um pouco bagunçado, mas
não liguei. Eu me sentia linda sob os olhos lacrimosos de Prince.
Deus, ele era realmente meu? Prince Trevisan era poderoso,
destemido e impiedoso, mas comigo se tornava o homem que me amava tanto
que chorava, o que me colocava sobre tudo e todos, e não dava a mínima
sobre deixar isso claro.
— Deus, como eu te amo. — Toquei seu rosto e beijei sua boca.
— Essa é a Gabi. Ela é uma amiga que coincidentemente é juíza de
paz também — ele me apresentou à senhora, que me olhou com esperteza.
— A única da cidade.
— Sim, e ela me chantageou. — Prince sorriu, segurando minhas
mãos.
— Eu quero saber como. — Sorri para Gabi e ela balançou a mão.
— Eu preciso fazer o café dos meus netos, vamos logo com isso.
Nós rimos e continuamos rindo até a cerimônia acabar. Nos beijamos
longamente e rimos mais quando percebemos, depois de nos afastar, que
Gabi tinha sumido. Yerík se aproximou e eu sorri para a minha família.
— Obrigada por estarem aqui mesmo que de forma virtual. Nós
amamos vocês — falei com lágrimas deslizando.
— Eu queria estar aí. — Sienna fungou, chorando, e Blue acenou
concordando.
— Amamos vocês, por favor, sejam felizes. — Lunna piscou e
lágrimas caíram dos seus olhos.
— Você está linda, Lake — Matt falou e eu derreti em choro.
— Eu te amo, Matt. Obrigada por estar aqui — murmurei enquanto
Prince dizia o mesmo.
— Cuide da nossa garotinha — Romeo pediu e eu o encarei.
— Pode apostar que vou. — Prince beijou meu cabelo.
— Eu queria ter levado você até o altar, mas a vida não é justa. Entre
todos nós, você é realmente merecedora da felicidade. De ser feliz. Eu te
amo, pequena — Rocco falou sério e Sienna o abraçou.
— Obrigada, Rocco. Por tudo.
Eu funguei ao ver Lunna no colo do Romeo, enquanto Blue tinha o
braço de Matteo em seus ombros. Eles estavam felizes. Haviam encontrado o
tipo de amor que eu sempre senti, mas que sempre foi proibido para mim.
— Amo vocês — murmurei, fungando, então eles desligaram.
Prince me abraçou e eu o beijei. Finley continuou tirando fotos e eu
sorri, sabendo que estava inchada de sono e do choro.
— Obrigada por estarem aqui — Prince murmurou para os dois e eu
acenei em seu peito.
Os dois foram embora e Prince me levou até um banco próximo. Me
sentei e encostei minha cabeça em seu peito, enquanto assistíamos juntos ao
sol subindo.
— Ela é linda. — Admirei minha aliança de ouro branco com um
diamante azul.
— É da cor dos seus olhos.
Era, realmente era. A aliança que a acompanhava era mais fina que a
dele e tinha nossos apelidos gravados nelas de um lado e do outro, nossos
nomes.
Silk e Villain.
Lake e Prince.
Ele beijou meu cabelo e eu segurei seus dedos nos meus. Apertando
e sentindo, pela primeira vez na vida, que eu estava amando e sendo amada
sem proibições.
Prince era meu. Meu namorado, meu homem, meu marido. Meu
melhor amigo.
Nós percorremos um caminho difícil, cheio de percalços que nos
aterrorizaram por muito tempo, mas valeu a pena. Estar ali, diante da neve e
vendo um sol ameno surgir, fez valer a pena.
Ser a garota com o nome tatuado em seu pescoço, a que ele colocou
em um pedestal alto e a protegeu com toda sua força, valeu a pena.
Ser amada por um Trevisan valeu a pena.
Minhas cunhadas e eu que o dissessem.
Esse amor distorcido, cruel e insano era o melhor.
E, definitivamente, valeu a pena.
 
FIM!
Gostou? Não esqueça de avaliar o livro!
Encerrar Renascidos Em Sangue é como dar adeus a um pedaço de
mim. Um pedaço que me modificou para sempre, e que sempre fará, porque
eu sei que nada aqui vai morrer. Tudo vai continuar com vocês. Os que lerem
agora, ao lançar, ou os que lerem daqui a cinco, dez anos.
Quero agradecer tanta gente aqui, mas vou focar no mais importante
ao longo desta série.
VOCÊ.
Que vibrou comigo, que se encantou e me encorajou a cada passo que
dei nesta longa jornada. A você, leitor, que me impulsiona mais e mais em
busca de excelência.
Na busca para entregar algo que vocês gostem.
Obrigada por todo carinho, amor e reconhecimento.
Sem vocês eunão seria metade do que sou hoje.
Obrigada a você que acompanhou Renascidos Em Sangue até aqui.
Obrigada a minha família por estar sempre ao meu lado.
Obrigada a minha assessora, Vanessa, minha melhor amiga,
Veridiana, minha revisora, Andrea. Obrigada por serem impecáveis. Por me
apoiarem e serem tão importantes.
Com todo o amor do mundo,
 
“Eu o temia tanto quanto o desejava.”
“Sequestrada pelo Mafioso” chega ainda em 2022!
 
Meus olhos se prendem na fumaça. Ela é densa, mas aos poucos
começa a sumir, não sobrando nada. Trago mais forte, inspirando
calmamente para logo expirar. Minha irmã sempre reclama quando me
encontra com cigarros. Já a avisei que fumar é um dos meus vícios menos
preocupantes. Tenho alguns muito mais sombrios.
Novamente encaro a fumaça e me forço a me levantar da poltrona do
apartamento pomposo. O silêncio no cômodo é o completo oposto dos
barulhos lá fora. Las Vegas é a cidade que não dorme, eu acho que até mais
que Nova York. Não que eu vá muito a essa cidade. São palavras das
pessoas. É o que comentam.
Sirvo-me de uísque puro e caminho para a minha janela. As luzes
estão brilhantes, na cidade; os carros, barulhentos; as boates e cassinos,
abertos, à espera dos festeiros. O que não é o meu caso.
Moro na Itália, um lugar afastado de Roma. Minha casa fica, como
dizem, no meio do nada. Cresci em um lugar cercado por árvores e é lá que
vivo até hoje com meus dois irmãos, Teodora e Vincenzo.
De uma casa para outra são uns bons cinco minutos de carro. A pé,
eu diria que uns trinta. É o meu lugar. Não saio de lá nem com uma arma na
cabeça. Morrerei dentro do meu jardim.
— Acho incrível seu modo de aproveitar a cidade, Enrico. — Deixo
os meus olhos fixos na rua assim que escuto a voz do meu irmão.
— Pensei que já estivesse com o pau enterrado em alguma
vagabunda dessa cidade — digo, virando o copo e deixando o líquido
amargo descer queimando minha garganta.
— Temos trabalho a fazer… — ele murmura e eu me viro, dando de
cara com ele de braços cruzados. Somos quase idênticos, mas Vincenzo é
mais novo e mais idiota que eu.
— Sério? Que curioso você lembrar disso hoje. — Arqueio minha
sobrancelha e ele fecha os olhos, respirando fundo.
— Não sei por que sempre fica remoendo essa bobagem…
— Você me deixar quase morrer sozinho enquanto estava transando
com uma puta é bobagem? — questiono cruzando os braços. Minha voz é
séria.
Uma semana atrás quase morri em um dos confrontos pelas ruas de
Roma. Drogados filhos da puta me atraíram para uma emboscada. Quase fui
morto. Minha sorte foi que um dos meus soldados entrou na minha frente e
matou o homem que estava pronto para me mandar para o inferno. Não tinha
sinal de Vincenzo, e quando o encontrei ele estava entre os lençóis de uma
prostituta. Ou pelo menos é o que ele pensa que eu acho.
Vincenzo tensiona o rosto e se vira, indo pegar seu próprio copo com
uísque.
— Você distorce tudo — resmunga enquanto se volta para mim. —
Vista-se. Estamos saindo em dez minutos. — Ele sai da sala sem outra
palavra.
Idiota.
 
— Casa bonita — resmungo entrando no hall da casa de Bertoni. Ele
está sentado no sofá da sua sala enquanto eu ando por ela, ouvindo os
cliques repetidos do meu sapato contra o chão.
As paredes da mansão são escuras, deixando o lugar completamente
negro. As únicas coisas claras nesta casa são alguns móveis. Viro-me
devagar e, o encarando, viro o uísque que ele me deu.
— Você veio aqui por um motivo e eu sei qual. Que tal parar de
enrolação e ir direto ao ponto? — Sua voz é rouca e eu sorrio, fazendo seu
rosto se contorcer com irritação.
Bertoni é alto, magro e parece um homem comum, mas disto ele não
tem nada. Seus roubos às minhas cargas estão fodendo com a logística dos
meus negócios. Controlar uma cidade já dá trabalho demais, Bertoni só está
adicionando merda no meu caminho.
— Eu gosto de aproveitar o máximo de tempo possível antes de
matar alguém. Meu irmão adora meus trabalhos também. Quer aprender. Meu
pai sempre disse que eu tenho uma vocação para lecionar. — Sorrio
friamente e entrego meu copo a Dino, um dos meus soldados.
— Você vai me matar? Está cego ou completamente louco? Vocês não
saem vivos daqui. Meus homens matarão todos. — O velho ri, se erguendo
de vez. Ele limpa as mãos na roupa e sorri ironicamente.
— Você não me conhece mesmo, então — as palavras saem, ao
mesmo tempo em que Vincenzo chega até o homem e o levanta pelo
colarinho.
Ele sorri, à espera de seus seguranças, mas para quando ninguém
entra na casa. O medo rasteja pelos seus olhos e eu sinto nojo do homem à
minha frente.
— Onde eles estão? O que fizeram? — Seu grito é quase
ensurdecedor. Porém já fiz pessoas gritarem muito mais alto que isso. Ele só
está sendo patético. Eu sorrio limpando meu paletó e recomeço a andar.
Coloco o copo seco na mesa de centro e cruzo os braços.
— Dino, leve-o para o carro — ordeno, observando Vincenzo se
afastar e deixar que o outro pegue o idiota.
— Vamos embora — meu irmão murmura, e eu aceno, seguindo Dino
para fora, de olho em Bertoni.
— Me soltem! — Ele se vira me encarando, e eu ergo os olhos. —
Ela está no sótão. Peguem-na! — Bertoni volta a gritar enquanto se sacode
nos braços de Dino, e eu franzo as sobrancelhas.
— Quem? — questiono, achando que ele está brincando. Bertoni
parece um lunático estúpido, não vou cair em suas armadilhas tão inúteis
quanto ele.
— Peguem-na! Ela é minha. Vai para onde eu for. Não a toquem.
Matarei todos —volta a berrar, e eu reviro os olhos, ao ver seu rosto
completamente furioso.
— Vou verificar — Vincenzo murmura, mas nego e começo a subir a
escada.
No andar de cima é tudo como a sala; luxo, escuridão e dinheiro.
Escuto meus passos no corredor e vejo uma pequena porta no teto e uma
corda.
— Inferno! — resmungo, puxando-a, e uma escada desce.
Murmurando mais algumas maldições, eu subo a escada minúscula e
chego ao sótão. Suspiro ao ver a parede de tijolos e uma porta trancada.
Tudo parece sujo e, vendo as teias de aranhas na porta e nos cantos, também
constato que não vem ninguém aqui há um longo tempo.
Bertoni quer me enganar. Se alguém estivesse aqui, não estaria sujo
assim. Filho da puta! Vou rasgar sua garganta por me fazer perder tempo.
Movo-me para a escada, querendo sair daqui. Meus sapatos fazem barulho
no chão e, em meio a eles, eu escuto uma batida na porta com teias de
aranhas.
Merda.
Volto para ela e suspiro. Dou duas batidas na porta e quem está do
outro lado responde com uma batida mais fraca. Aperto a ponta do meu nariz
e, suspirando, dou um chute na porta.
A porcaria estava tão podre que se parte ao meio. Entro no cômodo
que parece um quarto e procuro a pessoa que bateu na porta em resposta.
Assim que meus olhos focam numa mulher no canto da parede, eu paro de me
mover. Ela está encolhida, sentada, e eu engulo em seco, enxergando seu
olhar apavorado fixado em mim.
— Vamos lá. — Minha voz sai mais rouca do que eu pretendia. Seu
corpo se encolhe rapidamente e eu franzo as sobrancelhas. O que diabos
aconteceu com essa menina?
Suas bochechas fundas me dizem que a mulher não come há dias, sua
pele está tão suja que não sei qual é a cor dela. Aproximo-me devagar e
desvio os olhos quando vejo que ela está apenas com uma camisola velha
transparente.
— Levante — ordeno, e ela estremece, erguendo seus olhos. Os dois
são tão cinzentos quanto o próprio céu em dia de tempestade. Porém um
deles tem uma mancha verde na parte inferior. Verde igual ao dos meus
próprios olhos.
— Papai? Onde ele está? — ela pergunta fraca e eu me torno mais
confuso ainda. — Eu… estou com fome. Pode pedir a ele para me ver? Vou
ficar quietinha, eu ju-juro. — Ela tosse e eu aperto meus punhos. Bertoni é
pai dela? Que porra é essa?
— Erga-se — mando novamente e ela acena, tentando se levantar.
Mas é inútil. Suas pernas balançam e perdem a força, levando a menina ao
chão novamente.
— Merda. — Abaixo-me, pegando-a, e sinto seu corpo se tensionar e
seus olhosse fecharem com força.
Saio do sótão com ela agarrada a mim como um filhote de macaco.
Suas mãos se juntam atrás do meu pescoço e suas pernas envolvem minha
cintura enquanto desço as escadas e a levo para o lado de fora. Ela parece
sentir dor, não entendo essa merda, mas não paro de pensar no motivo disso.
Bertoni é um sádico de merda. Será que ele abusava dessa menina?
Se sim, eu vou arrancar seu pau com um alicate.
Não encontro o carro de Vincenzo, então presumo que ele já foi e
levou Bertoni. Dino está do lado de fora com os homens de Bertoni e os
meus. Seus olhos se arregalam ao ver a mulher em meus braços.
— Abra a porta — mando, e ele o faz de maneira rápida. Coloco a
mulher sentada no banco e vejo quando ela se encolhe perto da janela,
abraçando as pernas. Fecho a porta, a mantendo lá dentro.
— Ela ainda está viva? — um dos homens do velho murmura para
outro e eu me aproximo, semicerrando os olhos.
— O que Bertoni fez com ela? — Aperto meus punhos, querendo
matar todos eles.
Não entendo a necessidade de querer saber tudo a respeito dela, ou o
desejo enlouquecedor de matar todos os infelizes que colocaram os olhos
sobre ela. Não a conheço, e, mesmo se conhecesse, eu não dou a mínima
para os problemas dos outros. E é isso que está me enlouquecendo. Por que
quero protegê-la?
— Ela pertencia a ele. Bertoni a tratava como um objeto. Como um
bicho de estimação, na verdade — o homem moreno fala devagar e engole
em seco. — Ele a tem desde que ela tinha apenas doze anos. Ganhou ela
como pagamento de uma dívida —explica, e eu sinto meu sangue correr
quente. — Ninguém tinha permissão de subir. Só a empregada para deixar
comida ou uma professora que ensinava a ela, mas nas duas últimas semanas
ninguém ouviu nada dela. Pensamos que tinha morrido. Ele a deixou lá para
morrer de fome? — A sua fala parece uma pergunta e eu me canso de ouvir
sobre essa merda.
— Vão embora. Dino se encontrará com vocês amanhã para dar o
restante do pagamento combinado. — Eles acenam e eu entro no carro, ao
lado dela.
O cheiro de sujeira impregnado nela me faz abrir as janelas apenas
um pouco. Decido, suspirando, que assim que chegarmos em casa a farei
tomar banho e comer. Ela permanece encolhida no canto do carro, até que
paramos em frente ao prédio do meu apartamento. Coloco-a em meus braços
e subimos no elevador privado.
Dino abre a porta do apartamento e eu entro no cômodo, passando
por Vincenzo. Seus olhos se arregalam, seus lábios se abrem, e eu balanço a
cabeça, dizendo que falaremos sobre isso outra hora.
Entro em meu quarto, ainda com ela no colo, e ando direto para o
banheiro. Coloco-a sentada na bancada e suspiro ao ver quão pequena ela é.
Mesmo na bancada, ela fica mais baixa que eu. Sua testa alcança a altura do
meu queixo.
Seus olhos se erguem e, devagar, duas lágrimas descem, limpando a
sujeira enquanto as minhas mãos então em sua cintura. Assim que as tiro de
lá, ela respira aliviada, abraçando sua própria barriga.
— Qual o seu nome? — Deixo minhas mãos longe do seu corpo. Ela
olha para os lados, à procura de algo ou alguém. Novamente, ela parece
apavorada.
— Giovanna — sua voz é apenas um sussurro. — Mas… Papai me
chama de Aberração ou Ferrugem — sua voz é suave, e ela pisca aqueles
malditos olhos incríveis. Novamente, a vontade de matar o desgraçado me
consome. — Por causa do meu cabelo, eu acho. — Ela parece tão ingênua,
parece que nada no mundo é capaz de chegar a ela.
— Quem é papai? Bertoni é seu pai? — questiono, cruzando meus
braços e me mantendo afastado. Agora que ela falou, presto atenção em seus
fios avermelhados. Ela é ruiva.
— Não. Ele… — Ela engole em seco e encara seus próprios pés. —
… só me ordenou que o chamasse assim quando fui morar com ele. — Sua
explicação me coloca na borda, e eu tento parar a onda de raiva que passa
por meu corpo.
Fecho meus olhos e me pergunto quão doente aquele idiota é. Vou
matá-lo, não tenho nenhuma dúvida disso. Mas antes quero fazer sumir todo
o sofrimento que estou vendo nos olhos dessa menina. É uma loucura, mas
algo dentro de mim grita para que eu primeiro me certifique de que ela está
bem.
— Vou te dar um banho. Não tema. Não te farei mal — sussurro,
encarando seu rosto, e acho que nunca falei uma coisa tão verdadeira.
Ela engole em seco, mas não fala nada. Eu coloco as pontas dos meus
dedos na sua camisola e puxo o material fora do seu corpo. Tento manter
meus olhos em seu rosto, mas sua pele me chama atenção. O vale entre seus
seios tem várias cicatrizes. Aproximo-me e aperto meus olhos ao ver vários
cortes de uma faca pequena. Desvio a atenção em seguida, colocando uma
blusa minha sobre seu corpo nu.
Puxo-a da bancada e a levo para debaixo do chuveiro. A água é
quente e eu tento diminuir um pouco para não machucar sua pele. Coloco-a
no chuveiro enquanto seguro seu corpo pela cintura. Pego a esponja com
sabonete e a deslizo pelo seu corpo. A camisa encharca rapidamente, mas
não me impede de limpá-la. É melhor mantê-la vestida. Imagino os horrores
pelos quais ela passou e não quero ser um gatilho.
Em alguns minutos seu corpo está limpo e eu posso ver a cor dele.
Branca. Ela é tão clara quanto as nuvens e um dia ensolarado. Depois que
enxáguo seu corpo, eu a faço se sentar no vaso sanitário e lavo seus cabelos
com um xampu que já estava no banheiro. Enxáguo-os também e, em seguida,
pego meu roupão e a faço colocá-lo, depois de tirar a blusa molhada.
Novamente, pego-a em meus braços e a levo para a cama.
— Onde está papai? — ela questiona, deitada na cama.
— Ele não é seu pai. Não o chame assim! — rosno, fazendo-a se
encolher. Seus olhos se fecham e eu engulo a minha frustração. — Ele está
morto. Eu o matei — informo frio e saio do quarto a passos rápidos.
Quando chego à sala, eu vejo Vincenzo de braços cruzados, à minha
espera. Uma pena que não posso lhe dar atenção agora.
— Onde está Dino? — pergunto ao mesmo tempo em que a porta se
abre e meu amigo aparece com as sacolas e um carrinho cheio de comida.
Pedi que fizesse isso enquanto subíamos no elevador.
— Mandei o garçom ir embora. Está aqui tudo que pediu. — Ele me
entrega a sacola e eu puxo o carrinho com comida para todos nesta casa, mas
que são apenas de Giovanna.
Volto para o quarto sem olhar para Vincenzo. Ela está onde a deixei.
Sento-me, deixando o carrinho próximo, e tiro as roupas da sacola. Tem
algumas camisetas, duas calças jeans, calcinhas e sutiã. Fora uma camisola
com um desenho bobo na frente.
— Gio — chamo, forçando minha voz rouca a abrandar. Ela se vira e
logo se senta, limpando o rosto. Ela estava chorando. — Trouxe roupas e
comida — informo e vejo seus olhos duplicaram de tamanho ao ver os
pratos.
Trago todos eles para a cama, e ela, devagar, pega o primeiro prato
com um pedaço de carne assada e legumes ao lado. Em menos de alguns
minutos o prato está limpo e Gio começa a comer o próximo com frango
grelhado e purê de batatas.
Sento-me na minha poltrona e suspiro, chamando sua atenção. Seus
olhos opacos me observam, e eu aceno para a comida.
— Devagar. Você vai vomitar tudo — aviso, encarando sua boca
ainda em movimento. Giovanna acena e durante a próxima meia hora eu a
observo comer.
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	Epígrafe
	Dedicatória
	Aviso da autora
	Prólogo
	Capítulo 01
	Capítulo 02
	Capítulo 03
	Capítulo 04
	Capítulo 05
	Capítulo 06
	Capítulo 07
	Capítulo 08
	Capítulo 09
	Capítulo 10
	Capítulo 10
	Capítulo 11
	Capítulo 12
	Capítulo 13
	Capítulo 14
	Capítulo 15
	Capítulo 16
	Capítulo 17
	Capítulo 18
	Capítulo 19
	Capítulo 20
	Capítulo 21
	Capítulo 22
	Capítulo 23
	Capítulo 24
	Capítulo 25
	Capítulo 26
	Capítulo 27
	Capítulo 28
	Capítulo 29
	Agradecimentos
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