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AMANDA RODRIGUES SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL (SUA) É definido como sangramento proveniente do corpo uterino, com anormalidade – seja na sua regularidade, no volume, na frequência ou duração, em mulheres não-grávidas. Tal manifestação poderá apresentar-se como um quadro crônico, isto é, no contexto de episódios que se repetem pelo menos nos 6 meses anteriores, ou como um quadro agudo, que requer cuidados urgentes ou de emergência. SANGRAMENTO UTERINO NORMAL constitui fluxo menstrual com duração de 3 a 8 dias, com perda sanguínea de 5 a 80 mL e ciclo que varia entre 24 e 38 dias (variabilidade de três dias). Qualquer sangramento que não tenha essas características é considerado anormal. EPIDEMIOLOGIA O Sangramento Uterino Anormal afeta 30% das mulheres em idade reprodutiva, atingindo até 50% daquelas na perimenopausa. É mais rara em crianças, mas pode ocorrer. Estima-se que, entre as mulheres com SUA agudo que procuram atendimento, 49,2% apresentam uma concomitante condição médica que justifica o sangramento e 53% delas já apresentaram um quadro prévio de SUA que exigiu tratamento. Além disso, 35% manifestaram anemia no momento do atendimento, sendo 13,7% com anemia severa, com índices de hemoglobina menores do que 10g/Dl. ETIOLOGIA O SUA é uma condição frequente, de etiologia múltipla, e a idade da mulher influencia diretamente na orientação das hipóteses diagnósticas. Na adolescência, nos primeiros 2 anos após a menarca, a irregularidade pode ser consequência da imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise. Mulheres entre 20 e 40 anos de idade geralmente apresentam maturidade do eixo, que se traduz em ciclos menstruais regulares. Sangramento anormal nesse período, excluídas causas obstétricas, podem ocorrer por causas decorrentes de lesão estrutural nos órgãos ou ausência dessas lesões. Já as mulheres com mais de 40 anos até a menopausa comumente apresentam irregularidades no padrão dos ciclos menstruais, decorrentes de flutuações na função do eixo e patologias do endométrio e miométrio. No climatério, na pós-menopausa e na senescência, predominam as causas endometriais. CLASSIFICAÇÃO PALM-COEIN O Grupo de Desordens Menstruais desenvolveu um acrônimo denominado PALM-COEIN de terminologia flexível para a classificação das causas de SUA, cuja nomenclatura foi aceita pela Federação Internacional Ginecologia Obstetrícia (FIGO) no início de 2011 para facilitar a comunicação, o atendimento e a pesquisa. São 9 categorias dispostas de acordo com a sigla PALM-COEIN: Pólipo Adenomiose Leiomioma Malignidade e hiperplasia do endométrio Coagulopatia disfunção Ovulatória Endometrial Iatrogênica causas Não classificadas Em geral, os componentes do grupo PALM são entidades estruturais que podem ser visualizadas em exames de imagem ou avaliadas pela histopatologia. Já no grupo COEIN, participam entidades que não apresentam essas características. CAUSAS ESTRUTURAIS PÓLIPO A prevalência dos pólipos endometriais varia de 7,8% a 34%, em mulheres com SUA, sendo mais comuns em mulheres na peri e pós-menopausa. Causam aumento do volume menstrual, menstruações irregulares, sangramento pós-coito ou sangramento intermenstrual. AMANDA RODRIGUES ADENOMIOSE A sintomatologia é variável e relaciona-se, essencialmente, com a profundidade do miométrio atingido. Assim, as formas superficiais (quando atinge 0,5 mm abaixo do endométrio) caracterizam-se por SUA, enquanto na adenomiose profunda também há sintomatologia dolorosa, com dismenorreia e dispareunia. A relação entre adenomiose e SUA ainda não é totalmente esclarecida. As estimativas da prevalência de adenomiose variam amplamente, de 5% a 70%, em parte pela inconsistência do diagnóstico. LEIOMIOMA Os sintomas variam de acordo com a localização do mioma. Os miomas são classificados, segundo a FIGO, em submucosos, intramurais e subserosos tipos 0 a 8. Os submucosos são os mais envolvidos com o SUA. MALIGNIDADE E HIPERPLASIA Embora deva ser lembrado em todas as etapas da vida, tem sua incidência aumentada em mulheres perimenopáusicas. Essa maior incidência justifica a avaliação endocavitária e endometrial nessa etapa da vida. Entre os fatores de risco para o adenocarcinoma do endométrio, alinham-se a obesidade, o diabetes e a hipertensão. Ademais, qualquer condição de exposição prolongada aos estrogênios sem oposição de progestagênios deve ser considerada como risco para a doença. Em geral, clinicamente devem ser suspeitados pela presença de sangramento, que ocorre na grande maioria das vezes no período após a menopausa. CAUSAS NÃO ESTRUTURAIS COAGULOPATIA Qualquer alteração dos mecanismos de coagulação pode se expressar clinicamente por SUA. A causa mais comum é a doença de von Willebrand (DVW), porém também devem ser citadas hemofilia, disfunções plaquetárias, púrpura trombocitopênica e os distúrbios de coagulação associados a doenças como hepatopatias e leucemia. Especial atenção para essa causa para as jovens com história de sangramento abundante desde a menarca e com anemia. Dessa forma, deve-se considerar a presença de coagulopatia congênita ou adquirida quando a história clínica revelar: sangramento aumentado desde menarca; uma das seguintes condições hemorragia após o parto hemorragia relacionada a cirurgia sangramento aumentado associado a tratamento dentário; 2 ou mais das seguintes condições hematoma pelo menos 1 vez ao mês epistaxe pelo menos 1 vez ao mês sangramento gengival frequente história familiar de sangramento. A menorragia, presente em aprox. 93% das mulheres com DVW, pode ser o único sintoma apresentado, iniciando-se mais comumente na menarca. DISTÚRBIO OVULATÓRIO Os sangramentos anovulatórios podem ocorrer em qualquer época, embora se concentrem nos extremos do período reprodutivo. Devem ser incluídos, além dos sangramentos anovulatórios, os sangramentos irregulares decorrentes de outras disfunções ovulatórias (como a insuficiência do corpo lúteo e o encurtamento da fase folicular da pré-menopausa). No período reprodutivo, a causa mais frequente de anovulação é a síndrome dos ovários policísticos (SOP). É considerada a desordem endócrina mais comum, afetando 5% a 10% das mulheres na menacme. ENDOMÉTRIO Distúrbios primários do endométrio frequentemente se manifestam como alterações de hemostasia endometrial local, decorrente de resposta inflamatória, como na doença inflamatória pélvica. AMANDA RODRIGUES IATROGENIA Entre as causas de iatrogenia responsáveis por SUA, devem ser lembrados os sistemas intrauterinos medicados ou inertes e agentes farmacológicos que alteram diretamente o endométrio, interferindo nos mecanismos de coagulação do sangue ou influenciando a ovulação. Os anticoncepcionais hormonais estão com frequência associados a sangramentos intermenstruais e manchas (spotting). Entre outros medicamentos associados a SUA, estão os anticoagulantes, o ácido acetilsalicílico, os antiepilépticos, os hormônios da tireoide, os antidepressivos, o tamoxifeno e os corticosteroides. CAUSAS NÃO CLASSIFICADAS Incluem lesões locais ou condições sistêmicas raras que podem ser causas de SUA, a exemplo das malformações arteriovenosas, da hipertrofia miometrial, das alterações müllerianas e da istmocele. DIAGNÓSTICO Quantificação do fluxo por meio do escore: Pictorial Blood Assessment Chart (PBAC), com sensibilidade de 86% e especificidade de 89%. O PBAC é calculado a partir das características dos absorventes usados pela mulher durante o período de sangramento. Multiplica-se constante de 1 em cada absorvente levemente encharcado, de 5 se moderadamente encharcado e de 20 se completamente encharcado. Nocaso de tampões vaginais, utilizam-se constantes de 1, 5 e 10, respectivamente. Para pequenos coágulos, usa-se constante de 1 e para os grandes de 5. Ao final, somam-se os valores obtidos; se apresentar um escore maior ou igual a 100, representa perda sanguínea excessiva, isto é, acima de 80 mL. Uma história clínica deve ser direcionada para identificação da natureza do sangramento, identificação de possíveis causas estruturais ou orgânicas, impacto na qualidade de vida e avaliação das expectativas da mulher, especialmente em relação a necessidade de contracepção ou desejo de gravidez. O exame físico deve ser completo por meio de palpação abdominal, exame especular e toque bimanual. O hemograma deve ser solicitado para todas as mulheres com SUA para avaliar anemia ferropriva. O teste de gravidez deve ser solicitado para aquelas pacientes em idade fértil. Testes de coagulação devem ser solicitados nos casos de antecedentes de sangramento menstrual aumentado desde a menarca ou antecedentes pessoais e/ou familiares de sangramento anormal. A dosagem de hormônios tireoidianos deve ser realizada nos casos de suspeita clínica de tireoidopatia. Sangramento intermenstrual e pós-coito, dor pélvica associada e idade > 45 anos constituem indicadores de risco para câncer endometrial ou outras doenças estruturais nas mulheres em idade reprodutiva. A ultrassonografia transvaginal (USTV) constitui a primeira linha propedêutica para identificação de anomalias estruturais. A histeroscopia com biópsia dirigida pode ser indicada nos casos de USTV inconclusivos. A biópsia endometrial deve ser realizada no caso de sangramento intermenstrual persistente, falha do tratamento clínico e naquelas mulheres com idade > 45 anos. TRATAMENTO A terapêutica nos casos de SUA ou pode ser medicamentosa ou cirúrgica, a depender da intensidade do sangramento e da característica aguda ou crônica da anormalidade. O manejo da fase aguda dependerá basicamente da faixa etária, do estado geral da paciente e do volume de sangramento. A terapia hormonal é considerada a primeira linha de tratamento para pacientes com SUA aguda. As opções de tratamento incluem contraceptivos orais combinados (ACOs) e progestagênios orais. Se houver hipovolemia, indica-se o uso de altas doses de estrogênio na paciente jovem e/ou curetagem, se a AMANDA RODRIGUES paciente possuir fatores de risco para câncer de endométrio. Não dispomos de estrogênios endovenosos no Brasil. Além disso, recomenda-se ácido tranexamico 500 mg 8/8h, nos dias de maior sangramento, não excedendo 5 dias. Na abordagem inicial do SUA crônico, o primeiro passo é determinar se há ou não desejo de gravidez. Se houver, é preciso realizar abordagem da anovulação e/ou infertilidade porventura existentes. As opções terapêuticas, neste caso, incluem medicações não hormonais como AINES e ácido tranexâmico (TXA). Obviamente, o diagnóstico e tratamento de condições subjacentes que possam interferir no sangramento menstrual como o hipotireoidismo e anemia devem ser imediatamente implementados. A escolha entre tratamento hormonal ou não depende de fatores individuais, mas em casos de o sangramento irregular ou prolongado, o uso de tratamento hormonal regula o ciclo reduzindo a probabilidade de sangramento não programado ou aumentado, além de proteger o endométrio da hiperplasia/ câncer. As opções neste caso são os progestágenos, o sistema intrauterino de levonorgestrel. sangramento uterino normal Epidemiologia Etiologia classificação Palm-coein Causas estruturais Pólipo Adenomiose Leiomioma Malignidade e hiperplasia Causas não estruturais Coagulopatia Distúrbio ovulatório Endométrio Iatrogenia Causas não classificadas diagnóstico Tratamento
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