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freud e a origem da psicanálise

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FREUD E A ORIGEM DA psicanálise
 De forma revolucionária, a teoria de Freud se depara com tabus e preconceitos tanto no meio social como no meio científico da época, em uma sociedade burguesa, capitalista e patriarcal, em que a sexualidade e, especialmente a sexualidade feminina, era muito oprimida.
 Freud pertencia à cultura judaica, à do meio burguês vienense, mais especificamente à do meio científico e médico, círculo social que, ainda que fosse mais liberal do que o do cidadão comum, também ficou surpreso pelas formulações de nosso autor. Sigmund Freud apresentou um antagonismo entre cultura e natureza humana que até então nunca havia sido formulado. Apresentar o ser humano como uma razão outra, que não está inscrita na lógica consciente, representava um grande desafio que este autor teve que enfrentar até seus últimos dias.
 O Inconsciente é, talvez, o conceito mais importante da formulação psicanalítica. Esse é um conceito que aponta para uma região do psiquismo que é acessível por meio das chamadas formações do inconsciente, como os sonhos, os atos falhos, os lapsos, os sintomas e os chistes. Por meio da descoberta do Inconsciente, Freud impõe uma terceira ferida narcísica na humanidade, como ele próprio afirmou, tendo sido a primeira realizada pela teoria heliocêntrica, com Copérnico, e a segunda com a teoria evolucionista de Darwin. O inconsciente é a grande parte de nós e, no entanto, não é visível à consciência.
 Consciente
 Inconsciente
 A origem da psicanálise remonta ao século XIX, quando o fenômeno da histeria causava grande inquietação no campo médico e científico e o grande paradigma nesse momento era o modelo da anatomia e da patologia. Significa que, para o aparecimento de alguma doença, deveria haver necessariamente uma explicação dentro de um referente anatomopatológico. Isso não era encontrado na histeria. Não havia algum dano neurológico ou corporal qualquer.
A histeria, palavra que vem do grego ὑστέρα, remonta à ideia de “útero”. Acreditava-se que seria um acometimento feminino apenas. Hoje sabemos que não existem apenas mulheres histéricas. Para compreender um pouco mais sobre a origem da psicanálise, investigaremos a problemática histérica no século XIX e como ela contribuiu fundamentalmente para a criação da psicanálise.
Até então, aquilo que podemos chamar de manifestação histérica era interpretado como possessão demoníaca. A mulher histérica era vista como um ser possuído por algum demônio, que a fazia agir involuntariamente, simulando doenças.
Século XV
Por volta do século XV até o século XVIII, a Igreja Católica Romana, por meio da Inquisição, conduzia um processo que identificava e investigava os casos de protesto e de subversão em relação aos dogmas religiosos. Esse processo coincide com o período da “caça às bruxas”, que privilegiava, sobretudo, uma vigilância constante com relação às mulheres que supostamente agiam em favor da feitiçaria. Durante esse período, muitas mulheres histéricas foram condenadas à fogueira, pois os seus sintomas e manifestações comportamentais não eram factíveis de explicação.
Século XVIII
Isso começa a se modificar em meados do século XVIII com o fenômeno do mesmerismo. As concepções de histeria centradas em uma perspectiva demoníaca cedem espaço para uma interpretação científica, passando, paulatinamente, a ser efetivamente entendida como uma doença dos nervos, algo que teria sua etiologia centrada nas estruturas do sistema nervoso.
 Franz Anton Mesmer supunha que as doenças nervosas tinham origem em um certo desequilíbrio do fluido energético universal. Isso significa que os corpos possuiriam uma certa quantidade de energia vital que, aliás, perpassa todos os seres.
Uma doença, por exemplo, nessa leitura, seria o resultado de um desequilíbrio nessa energia. Quando alguém está triste e ganha um abraço de uma pessoa querida, isso pode revigorar uma quantidade de energia, ou uma palavra que conforte e ampare ajuda a restaurar essa vitalização.
 Mais tarde, já no século XIX, James Braid, com a hipnose, permitiu o início da transformação da teoria do fluido energético por uma concepção físico-química da histeria, como veremos com Charcot. A ideia era que, a partir da indução do estado hipnótico, alterações orgânicas fossem verificadas.
A histeria
 A histeria é uma manifestação de quadros clínicos bastante variados, que, em geral, expressam classicamente no corpo o resultado manifesto de um conflito psíquico. Desde as origens da humanidade, são conhecidas histórias de histeria. O tratamento prescrito na época de Hipócrates era a inalação de vapores que emanavam de produtos excêntricos e atividades físicas que teriam como função recolocar o útero no seu lugar certo. Curiosamente, indicava-se preventivamente a prática de atos sexuais.
 A histeria, na atualidade, encontra-se um pouco dispersa dentro dos manuais psiquiátricos. Hoje, vemos algo da histeria figurando entre os chamados transtornos somatoformes ou transtorno de personalidade histriônica. Os transtornos somatoformes representam uma categoria psicodiagnóstico que nos manuais de diagnóstico específicos, como o DSM e CID, aparecem descritos pelos transtornos com sintomas somáticos, conversivos e dissociativos e outros, apresentando como característica comum a presença de sintomas somáticos associados a pensamentos, sentimentos e sofrimento psíquico.
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Jean-Martin Charcot foi um neurologista francês debruçou na investigação da histeria por meio da hipnose, método que começou a ser bastante empregado. 
A hipnose como técnica
De forma sintética, podemos apontar a hipnose como método que produz um rebaixamento de consciência sob indução da sugestão hipnótica, ou seja, por meio da fala e do poder simbólico do hipnotizador. Certamente, você se lembrará da imagem de um relógio de bolso sendo movimentado de um lado para o outro em uma cena em que alguém é induzido ao estado hipnótico.
Começou-se a perceber alguns elementos a partir daí:
1- Os sintomas histéricos não eram produções de pactos diabólicos ou de simulação.
2- O conjunto bem definido de sintomas dessa neurose era passível de ser observado e recolocado dentro de uma trama de sentidos, em uma narrativa histórica, e não dentro de uma perspectiva orgânica meramente.
Ao observar que os sintomas histéricos podiam ser investigados e alterados a partir de um estado hipnótico, Charcot introduziu a histeria no meio científico. Posteriormente, ele começa a observar que os conteúdos, em geral, apresentavam uma relação com algo sexual, apesar de ele não entrar muito nessa seara.
No século XIX, havia muito moralismo em torno da sexualidade, com muitos tabus envolvendo a questão do sexo.
 Nessa contemporaneidade, Sigmund Freud era um jovem médico austríaco, ambicioso, que almejava realizar algo grande em sua vida. Freud sabia das investigações de Charcot com as histéricas no Hospital Salpêtrière, em Paris, na França. Conseguiu uma bolsa de estudos e partiu rumo a Paris para entender melhor a relação da histeria com a hipnose. Uma vez hipnotizada a paciente histérica, a crise dela passou a ser reconstruída nas investigações de Charcot. Acontece que as pacientes, que maioritariamente eram mulheres, passaram a oferecer muito mais informação do que lhes era solicitado, e constantemente conteúdos sexuais apareciam nas narrativas.
A sexualidade na cena
Freud começa a se interessar pelo fenômeno da histeria, e não hesita em desbravar os enigmas da sexualidade nessa condição.
Retornando a Viena, Freud consegue continuar suas investigações com Josef Breuer, um médico mais experimentado, também curioso sobre os efeitos da hipnose na histeria e que ajudara bastante Freud, seja com incentivos morais seja financeiramente.
Josef Breuer (1842-1925) foi um importante médico que teve contribuições no campo da neurofisiologia e trabalhou como médico pessoal de muitos intelectuais residentes em Viena.Ficou conhecido por participar no lançamento das bases da psicanálise.
Nas Obras Completas de Freud, especificamente nos textos dos Estudos sobre a Histeria, vemos o passo a passo das investigações desse momento mais inicial da formulação do edifício teórico-clínico da psicanálise.
A relação da histeria com a hipnose vai ser conectada pela ideia de sexualidade, eixo básico para a compreensão da origem da psicanálise.
Essa relação começa a ser aprofundada a partir do encontro de Freud com Breuer.
É por meio de Breuer que Anna O., sua paciente, surge na cena. É o caso princeps, o caso pioneiro a respeito das investigações psicanalíticas sobre o inconsciente, apesar de esse conceito fundamental da psicanálise ainda estar sendo gestado nesse momento.
 Estamos acompanhando aqui o processo de gestação da psicanálise. Nesse momento, inclusive, podemos acompanhar particularmente um conceito que veremos mais adiante, o inconsciente.
A partir dos relatos de Breuer sobre Anna O., Freud começou a se interessar cada vez mais pelos enigmas da histeria:
Nos Estudos sobre a Histeria, que compõem textos entre 1893 e 1895, Breuer e Freud acompanharam as evoluções sobre a histeria a partir da hipnose.
O famoso texto da Comunicação Preliminar (1893) é escrito pelos dois médicos. Logo após o texto, segue-se a descrição de outros casos clínicos desse primeiro momento da psicanálise. Se observarmos juntos os cinco casos clínicos descritos no texto da Comunicação Preliminar, veremos alguns elementos básicos do germe inicial da psicanálise.
As correspondências de Freud com Wilhelm Fliess também são interessantes para acompanhar esse período inicial. Do ponto de vista teórico, observamos a concepção da primeira ideia da relação entre representação e afeto, que está na origem de uma primeira noção de trauma.

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