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F I S I O L O G I A V E G E T A L FISIOLOGIA VEGETAL Claudivam Feitosa de Lacerda Engenheiro Agrônomo/UFC MS, Solos e Nutrição de Plantas/UFC DS, Fisiologia Vegetal/UFV Professor Adjunto Departamento de Engenharia Agrícola Centro de Ciências Agrárias Universidade Federal do Ceará Joaquim Enéas Filho DS, Biologia Celular – Universidade de Grenoble I Professor associado I da Universidade Federal do Ceará Camila Barbosa Pinheiro Graduada em Ciências Biológicas/UFC Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular Universidade Federal do Ceará Fortaleza-Ceará Setembro de 2007 CONTEÚDO UNIDADE PÁGINA Introdução à Fisiologia Vegetal ------- ------------------------------------------------------------1 Dr. José Tarquínio Prisco Estrutura e Função de Células, Tecidos e Órgãos -----------------------------------------------8 Relações Hídricas -----------------------------------------------------------------------------------34 Nutrição Mineral ------------------------------------------------------------------------------------70 Fotossíntese -----------------------------------------------------------------------------------------102 Translocação de Solutos pelo Floema ----------------------------------------------------------139 Respiração ------------------------------------------------------------------------------------------155 Crescimento, Diferenciação e Morfogênese ---------------------------------------------------175 Hormônios e Reguladores de Crescimento ----------------------------------------------------214 Fotomorfogênese ----------------------------------------------------------------------------------285 Reprodução em Plantas Superiores -------------------------------------------------------------301 Frutificação ----------------------------------------------------------------------------------------319 Dormência e Germinação ------------------------------------------------------------------------332 APRESENTAÇÃO “A convivência do homem com as plantas é muito antiga, sendo que primitivamente ele as utilizava na fabricação de seus instrumentos de caça e de pesca e na alimentação por meio do extrativismo e de pequenos plantios. No entanto, o crescimento populacional e os problemas a ele associados, proporcionaram mudanças na postura do homem de puramente extrativista para descobridor, em níveis cada vez mais profundos, do vasto mundo vegetal. Essas descobertas envolveram uma gama de ciências inter-relacionadas, dentre as quais a Fisiologia Vegetal, ciência que estuda o funcionamento das plantas, teve e continua tendo o seu lugar de destaque. O ensino dessa disciplina na UFC, como na maioria das universidades brasileiras, tem enfrentado dificuldades, dentre as quais destaca-se a inexistência de livros- textos atualizados em língua portuguesa” (Azevedo & Lacerda, Anais do X Encontro de Iniciação à Docência, UFC, p. 159, 2002). Essa apostila, portanto, foi construída com o objetivo de atender as necessidades dos estudantes da disciplina Fisiologia Vegetal do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular/UFC. Esse trabalho contempla, nas suas 356 páginas, o programa completo da disciplina Fisiologia Vegetal, dividido em treze unidades. Ele engloba um pouco das nossas experiências com os mais diversos assuntos abordados e, evidentemente, foi concebido a partir da leitura de diversos trabalhos científicos e dos principais livros que citamos a seguir: Relações Hídricas (Ferreira, 1992), Water Relations of Plants and Soils (Kramer and Boyer, 1995), Mineral Nutrition of Higher Plants (Marschner, 1995), Fisiologia Vegetal (Ferri, 1985), Plant Physiology (Salisbury & Ross, 1991), Plant Physiology (Taiz & Zeiger, 1991, 1998, 2002), Introduction to Plant Physiology (Hopkins, 2000), Ecofisiologia Vegetal (Larcher, 2000), Seeds (Bewley & Black, 1994). A elaboração desse texto teve as importantes contribuições do Prof. José Tarquínio Prisco (Introdução à Fisiologia Vegetal e informações obtidas de suas notas de aula, notadamente na área de Relações Hídricas) e do Pesquisador da Embrapa/CNPAT Dr. Marlos Aves Bezerra (Transformação Genética de Plantas e informações pessoais sobre Fotossíntese e Relações Hídricas de Plantas). Essa nova versão da Apostila, sua 3a Edição, teve também a valiosa contribuição do Prof. Joaquim Enéas Filho, que fez uma revisão completa do texto. Além disso, não posso esquecer do apoio da Instituição Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular que me acolheu durante a realização desse trabalho, na condição de Professor Substituto. A utilização da Apostila Fisiologia Vegetal tem tido boa aceitação por parte dos estudantes, o que foi revelado por um estudo qualitativo que coletou opiniões dos estudantes do semestre 2001.2 (Guilherme, Azevedo & Lacerda, trabalho enviado para XI Encontro de Iniciação à Docência/UFC, 2002). Assim, espero que esse trabalho continue sendo útil para os estudantes dos Cursos de Agronomia e de Ciências Biológicas e também para os futuros profissionais que dele necessitarem. E, se o tempo não nos for ingrato ou se nós não formos ingratos com ele, é possível que um dia essas letras estejam preenchendo as páginas de um livro de fácil leitura e de grande utilidade pública. Fortaleza, 18 de Outubro de 2002 Claudivan F. Lacerda UNIDADE I INTRODUÇÃO À ISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITO E APLICAÇÕES Dr. José Tarquinio Prisco Eng. Agrônomo, M.S., Ph.D. Prof. Emérito/UFC 2 INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA VEGETAL: CONCEITOS E APLICAÇÕES 1. Importância das Plantas para a Humanidade O estudo das plantas desperta interesse, não só por simples curiosidade, mas, principalmente, devido ao fato de serem essenciais e imprescindíveis ao homem. A história do Homo Sapiens em nosso planeta é uma demonstração inequívoca de que desde os primórdios de sua existência, ele depende direta ou indiretamente, das plantas que vivem na superfície terrestre, nos oceanos, nos lagos e nos rios. É por esta razão que muitos afirmam que a história da Botânica confunde-se com a história da humanidade. As populações primitivas se interessaram pelas plantas, não só porque forneciam madeira que era utilizada para fabricar suas moradias, seus instrumentos de caça e de pesca, mas, principalmente, devido às propriedades alimentícias, tóxicas e medicinais dos vegetais. O homem contemporâneo continua estreitamente dependente das plantas. Considerando-se apenas as plantas possuidoras de sistema vascular (pteridófitas, gimnospermas e angiospermas), verifica-se que elas fornecem: alimentos para o homem e animais; madeira para moradia e mobiliário; fibras para vestimenta; medicamentos para prevenção e cura de doenças em animais e no homem; papel, borracha, temperos, bebidas alcoólicas (aguardente, whisky, gim, rum, vodka, vinho, licor, cerveja, etc.) e não alcoólicas (sucos, chá, café, chocolate, etc.); combustíveis e seus derivados (madeira, álcool, querosene, gasolina, asfalto, plásticos, fertilizantes, etc.). Além disto, as plantas contribuem para o embelezamento do meio físico e manutenção do oxigênio atmosférico em níveis que permitem a vida animal em nosso planeta. Esta dependência gerou o interesse no estudo dos diversos aspectos do vegetal, tais como: sua estrutura (morfologia) e a origem dos diferentes tecidos e órgãos que compõem o corpo da planta (morfogênese); como as características do vegetal são transmitidas de geração em geração (genética); como as plantas são classificadas e quais as suas relações filogenéticas (taxonomia e sistemática); como as plantas estão distribuídas na superfícieterrestre (fitogeografia); como as plantas interagem com o ambiente que as cerca (ecologia); e, finalmente, como os vegetais crescem e se multiplicam (Fisiologia). 2. Conceito de Fisiologia Vegetal e seu Relacionamento com outras Ciências De maneira simplista, a fitofisiologia é o ramo da botânica que trata dos fenômenos vitais que ocorrem nas plantas, ou seja, como funcionam os vegetais. Mais especificamente, ela estuda os processos e funções do vegetal, bem como as respostas das plantas às variações do meio ambiente (solo, clima e outras espécies vegetais e animais). Entende-se por processo qualquer seqüência natural e contínua de acontecimentos que possa ser observada nas plantas. Dentre eles pode-se citar: fotossíntese, respiração, absorção e condução de água e de nutrientes, translocação de fotoassimilados, germinação, floração, etc. Considera-se função como sendo a atividade natural de uma parte qualquer do vegetal, ou seja, o papel desempenhado por um órgão, tecido, célula, organela ou constituinte químico da planta. Por exemplo, a atividade fundamental dos cloroplastos é a fotossíntese e a das mitocôndrias é a respiração, já os estômatos desempenham papel importante no controle da difusão, para dentro ou para fora, de vapor de água, de CO2 e de O2. Estas organelas e células estão localizadas nas folhas, que são órgãos onde ocorrem a fotossíntese, respiração e transpiração. 3 No estudo dos seres vivos a relação entre estrutura e função, apesar de complexa, pode ser visualizada como interdependente, ou seja, a função depende da estrutura e esta última é criada (gerada) pela função. A Figura 1 ilustra estas inter-relações, partindo-se do nível organizacional mais simples para o mais complexo. Figura 1 – inter-relações entre estrutura e função nos seres vivos. ASPECTO ORGANIZACIONAL ASPECTO FUNCIONAL ORGANISMOS ÓRGÃO S TECIDOS CÉLULAS ORGANELAS MOLÉCULA S ÁTOMOS PRÓTONS, ELÉTRONS, ATIVIDADE FÍSICA E QUÍMICA DOS COMPONENTES CELULARES (METABOLISMO) CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO M O R F O L O G I A F I S I O L O G I A F Í S I C A Q U Í M I C A E ATIVIDADE FÍSICA E QUÍMICA DOS COMPONENTES DA MATÉRIA 4 A análise mais acurada deste esquema (Figura 1) mostra que as plantas possuem moléculas inertes, as quais são formadas de átomos, que, por sua vez, são constituídos de prótons, elétrons, nêutrons, etc. Por outro lado, a matéria inanimada encontrada no ambiente que nos rodeia e representada por rochas, areia, barro, atmosfera, solução aquosa de rios, lagos, lagoa e oceanos, também é constituída dos mesmos componentes. Quando estas moléculas, proveniente dos vegetais ou da matéria inanimada, são isoladas e examinadas individualmente, elas obedecem às leis da física e da química que descrevem o comportamento (atividade) da matéria inanimada. Apesar de serem constituídos dos mesmos componentes encontrados na matéria não viva, os vegetais são bem mais complexos e altamente organizados. A matéria inanimada consiste de uma mistura ao acaso de compostos químicos, que são relativamente simples, enquanto que nos vegetais as moléculas são agrupadas em organelas bem estruturadas e que são componentes celulares. Estas, por sua vez, estão organizadas em tecidos, que se agrupam para formar os diferentes órgãos da planta. As atividades físicas e químicas dos componentes da matéria são objeto de estudo da física e da química, respectivamente. Entretanto, o comportamento (atividade) físico (a) e químico (a) dos componentes celulares, conhecido como metabolismo, é estudado na Bioquímica e na Fitofisiologia (Fisiologia Vegetal). Os efeitos do metabolismo no crescimento e no desenvolvimento das plantas, bem como os efeitos das variações ambientais no metabolismo e por via de conseqüência, no crescimento e desenvolvimento, são também objeto de estudo da Fisiologia vegetal. Pode-se ainda concluir que a organização estrutural das macromoléculas, organelas, células, tecidos e órgãos do vegetal é fundamental para um crescimento e desenvolvimento equilibrados (Figura 1). Portanto, mudanças no ambiente que redundem em alterações estruturais, quase sempre, resultam em efeitos sobre o metabolismo e, por via de conseqüência, sobre o crescimento e desenvolvimento do indivíduo. Em resumo, o perfeito funcionamento do vegetal depende, basicamente, de sua organização estrutural e da atividade física e química dos componentes celulares. A conseqüência disto é que os fitofisiologistas, além dos conhecimentos de anatomia e de citologia, devem possuir uma boa base de física e de química, pois o estudo da Fisiologia Vegetal fundamenta-se e utiliza metodologias próprias destas ciências. Quando se analisa o efeito das variações ambientais sobre o crescimento e desenvolvimento do vegetal verifica-se que isto depende, em grande parte, do genótipo do indivíduo. Para que se possa entender isto se deve ter em mente que o crescimento e desenvolvimento dependem das atividades físicas e químicas dos componentes celulares, que, por sua vez, são regulados graças a interação entre o patrimônio genético do indivíduo – potencial hereditário - e o meio ambiente (Figura 2). Outra conclusão que pode ser extraída desta figura é que quando qualquer fator ambiental afeta o crescimento e desenvolvimento de um indivíduo ele só poderá fazê-lo através de mudanças no metabolismo do indivíduo. Isto significa que para que se possa entender claramente como o crescimento e desenvolvimento do vegetal são afetados por determinado fator ambiental, precisa-se saber como ele afeta as atividades físicas e químicas dos componentes celulares deste indivíduo. Visualiza-se melhor o significado da interação genótipo-ambiente quando se semeia, em determinada área, um grupo de sementes de arroz e outro de feijão. O patrimônio genético contido no genoma de cada uma destas espécies garantirá que as plantas produzidas a partir das sementes de cada uma delas tenham as características morfológicas (fenótipo) do arroz ou do feijão. Entretanto, é o ambiente que irá determinar se as plantas serão vigorosas ou raquíticas, turgescentes ou murchas, se irão florescer ou permanecer em estado vegetativo, e assim por diante. Como será visto posteriormente, dos fatores ambientais que afetam o crescimento e desenvolvimento das plantas, a luz (intensidade, qualidade e duração), a umidade (do solo e da atmosfera), a temperatura (do solo e do ar), a concentração de sais 5 solúveis no solo (ânions: cloretos, sulfatos, carbonatos e bicarbonatos – raramente nitratos; cátions: sódio, magnésio e cálcio – raramente potássio) e de gases na atmosfera (O2, CO2, C2H4, O3, CO, SO2, H2S, HF, NO, NO2 e compostos orgânicos voláteis) são os mais importantes. Apesar de muitos dos efeitos destes fatores ambientais no crescimento e desenvolvimento já serem conhecidos, ainda falta muito para que se possa explicar o que ocorre a nível celular e molecular. A compreensão do que ocorre a este nível poderá fornecer ao homem os conhecimentos básicos indispensáveis ao desenvolvimento de métodos e técnicas de manejo capazes, não só de otimizar a produção agrícola como também evitar possíveis efeitos deletérios de certos fatores ambientais sobre o crescimento e desenvolvimento dos vegetais. Figura 2 – Relação entre potencial hereditário, meio ambiente e crescimento e desenvolvimento do vegetal. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO PROCESSOS E FUNÇÕES DO ORGANISMO ATIVIDADE FÍSICA E QUÍMICA DOS COMPONENTES CELULARES (METABOLISMO) MEIO AMBIENTE POTENCIAL HEREDITÁRIO 6 3. Aplicações da Fisiologia Vegetal Além dos aspectos teóricos, que ajudam o homem a entender como as plantas nascem, crescem e se reproduzem, os estudos da Fisiologia Vegetal fornece conhecimentos que possibilitam um manejo mais adequado dos indivíduos e das populações vegetais cultivadas e nativas, como se acabou de discutir.Apesar da fitofisiologia ter aplicações na ecologia, no paisagismo e jardinagem, na farmacologia e na fitoquímica, foi na agricultura (olericultura, fruticultura, silvicultura, floricultura, forragicultura, e agricultura propriamente dita) onde os conhecimentos oriundos desta ciência causaram maior impacto. Uma boa produção agrícola é conseqüência de um crescimento e desenvolvimento adequados, os quais dependem da operação equilibrada dos diversos processos e funções do vegetal. Examinando-se as altas produtividades observadas na chamada agricultura moderna verifica-se que isto se deve, basicamente, a utilização de cultivares mais produtivos (contribuição da Genética e do Melhoramento), ao uso de fertilizantes (contribuição da Fisiologia e da Ciência do Solo), ao uso de pesticidas (contribuição da Fitopatologia e da Entomologia), ao uso de irrigação e de máquinas agrícolas (contribuição da Engenharia Agrícola, da Ciência do Solo e da Ecofisiologia), ao uso de técnicas de propagação vegetativa (contribuição da Fisiologia) e, finalmente, ao uso de técnicas de armazenamento e de transporte de sementes, de frutos e de hortaliças (contribuição da Engenharia Agrícola e da Fisiologia). Estes fatos, por si só, demonstram quão importante tem sido a contribuição desta ciência para o desenvolvimento da agricultura. Convém salientar, entretanto, que a utilização inadequada de algumas destas tecnologias tem provocado, não só o aumento exagerado no consumo de energia e de fertilizantes provenientes de fontes não renováveis, como também tem se constituído em ameaça para a vida em nosso planeta. Os exemplos mais conspícuos disto são a salinização e poluição dos solos e das águas e a poluição dos alimentos decorrente do uso inadequado de defensivos agrícolas. Além disto, o aumento constante da população de nosso planeta vai nos forçar, cada vez mais, a utilizar áreas que hoje são consideradas inadequadas para a agricultura, devido a falta ou excesso de água, problemas de salinidade, de sodicidade, de acidez e alcalinidade dos solos, e, finalmente, temperaturas altas ou baixas. Mais uma vez, os fitofisiologistas estão sendo chamados para colaborar na solução destes problemas, através de estudos que visam: a) O esclarecimento dos mecanismos envolvidos na absorção e transporte de nutrientes, bem como dos de fixação simbiótica do nitrogênio atmosférico, encontrado em algumas espécies vegetais; estas descobertas, por certo, contribuirão para otimizar o uso de fertilizantes e poderão fornecer subsídios para que se transfira a característica de fixar nitrogênio para espécies que não a possuem; a consecução destes objetivos possibilitará uma grande economia de fertilizantes originados de fontes não renováveis; b) A compreensão dos mecanismos envolvidos na resistência aos diversos tipos de estresses sofridos pelas plantas, a fim de que se possa desenvolver métodos e técnicas de manejo que sejam capazes de minorar os efeitos deletérios do estresse; informações deste tipo, quando acopladas ao trabalho de biologistas moleculares e de melhoristas podem redundar no desenvolvimento de cultivares que sejam produtivos e menos susceptíveis aos diferentes tipos de estresse; c) O estudo dos mecanismos fisiológicos e bioquímicos envolvendo a relação patógeno/planta e inseto/planta; uma melhor compreensão do que ocorre na fisiologia das plantas susceptíveis e daquelas que são resistentes ao ataque do patógeno ou inseto poderá fornecer dados fundamentais para o controle biológico 7 das doenças e pragas, e, até mesmo possibilitar a descoberta de “medicamentos curativos”. 4. Dificuldades Encontradas no Estudo da Fitofisiologia Ao se examinar os representantes dos diferentes grupos que compõem os vegetais, verifica-se que dentre as cerca de meio milhão de espécies de plantas, são encontrados indivíduos que possuem as mais variadas formas, tamanhos, ciclos de vida e que vivem em diferentes habitats. Estes fatos criam enormes dificuldades aos fitofisiologistas no que diz respeito a generalizações sobre os processos e funções de todos estes grupos de indivíduos e de como o ambiente modifica estes processos e funções. Estas dificuldades, associadas a razões de ordem econômica, levaram os fisiologistas a concentrarem seus esforços no estudo das plantas produtoras de sementes (gimnospermas e angiospermas). Entretanto, como os representantes destes grupos são indivíduos bastante complexos, do ponto de vista morfo- fisiológico, os pesquisadores têm lançado mão do artifício de estudar organismos mais simples (algas e bactérias, por exemplo), extrapolando os conhecimentos adquiridos nestes estudos para as plantas vasculares. Exemplos disto são os estudos sobre absorção de íons e de solutos, em geral, que foram realizados com algas dos gêneros Chara e Nitella, os de fotossíntese, especialmente aqueles relacionados com a fixação e assimilação do CO2, que foram feitos em algas dos gêneros Scenedesmus e Chlorella, além dos estudos sobre o metabolismo dos ácidos nucléicos e proteínas, os quais foram, inicialmente, levados a cabo na bactéria Escherichia coli. Outro fator que limita o estudo dos processos e funções do vegetal, especialmente a nível celular, é a dificuldade de se medir in vivo a atividade metabólica nos diversos compartimentos da célula. Geralmente, o que se faz é quebrar a integridade estrutural do tecido e de suas células com o auxílio de técnicas que envolvem maceração e centrifugação, a fim de se isolar organelas ou o citosol, onde, então, são feitas as análises físicas e químicas in vitro. Este tipo de enfoque experimental que envolve a extrapolação de fenômenos que ocorrem em um tubo de ensaio para o organismo vivo, apesar de não ser o ideal, tem sido responsável pela elucidação de muitos dos mecanismos envolvidos nos processos fisiológicos. Finalmente, como os métodos utilizados na Fisiologia Vegetal são físicos, químicos ou anátomo-citológicos, os equipamentos utilizados estão, cada vez mais caros e sofisticados, dificultando a aquisição dos mesmos por grupos de pesquisadores que não tenham um bom suporte financeiro para seu trabalho. LEITURAS RECOMENDADAS RAVEN, P. H., EVERT, R. F. & EICHHORN, S. E. Biology of Plants. 5th ed., Worth Publishers, Inc., New York, USA, 791p. AUTORES DIVERSOS: Annual Review of Plant Physiology. Publicação anual que teve seu primeiro volume publicado em 1950 e em 1988 (vol. 39) passou a denominar-se de Annual Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology. Ann. Ver., Inc. (ed.), Palo Alto, California, USA. UNIDADE II ESTRUTURA E FUNÇÃO DE CÉLULAS, TECIDOS E ÓRGÃOS. 9 ESTRUTURA E FUNÇÃO DE CÉLULAS, TECIDOS E ÓRGÃOS 1. INTRODUÇÃO Como definimos na unidade I, a Fisiologia Vegetal estuda os processos e as funções do vegetal, bem como as respostas das plantas às variações do meio ambiente. Os processos e as funções do vegetal ocorrem nas estruturas do vegetal, em níveis subcelulares, celulares, de tecidos ou de órgãos. Torna-se fundamental, portanto, conhecermos a estrutura da planta e de suas partes, antes de entrarmos na discussão do funcionamento do vegetal. O termo Estrutura significa “armação, esqueleto, arcabouço”. Como mostramos na unidade I, a matéria viva tem uma organização que obedece a seqüência abaixo: Átomos (C, H, O e N) ⇓ Moléculas (aminoácidos, glicose, ácidos graxos, etc.) ⇓ Macromoléculas (proteínas, celulose, lipídios, etc.) ⇓ Células (membranas, paredes, organelas, etc.) ⇓ ⇓ Tecidos ⇒ Órgãos ⇒ Organismo O termo Função,também definido na unidade I, representa a atividade natural de uma parte qualquer do vegetal, ou seja, o papel desempenhado por um órgão, tecido, célula, organela ou constituinte químico da célula. Partindo-se dos conceitos acima, depreende-se que “a função depende da estrutura”. Veja alguns exemplos: a estrutura das raízes (incluindo seus pelos radiculares) e o seu crescimento dentro do solo permitem que elas atuem na absorção de água e nutrientes; a estrutura dos vasos do xilema, composto de células com paredes lignificadas, permite que ele transporte água e outros materiais na planta, a longa distância; a estrutura “flexível” das células-guarda permite que elas atuem nas trocas gasosas; o sistema de membranas internas dos cloroplastos, rico em pigmentos, permite a absorção da luz e a realização da fotossíntese. Em todos os casos citados acima, a estrutura está apta a realizar uma ou mais funções ou processos específicos, os quais, normalmente, não podem ser realizados por outra estrutura vegetal distinta. Por exemplo, não podemos imaginar, como algo natural, que a fotossíntese seja realizada pelas células das raízes. Isso sugere a existência de uma especificidade entre a estrutura e a função, podendo a necessidade em realizar determinada função ter, evolutivamente, gerado ou moldado uma determinada estrutura. Em outras palavras, “A ESTRUTURA parece ter sido gerada pela FUNÇÃO”. Por exemplo, a evolução das plantas terrestres a partir de aquáticas e o aumento do tamanho das plantas geraram a necessidade de sistemas para aquisição e transporte de água e minerais a longa distância (funções). A partir da necessidade destas funções ocorreu a evolução dos sistemas de 10 absorção e de condução de água (estruturas). Hoje sabemos que o crescimento das raízes (estrutura) dentro do solo é fundamental para a absorção de água e nutrientes (função) e que o xilema (estrutura) é fundamental para o transporte desses materiais para as folhas (função). Neste capítulo serão abordados os seguintes itens: • Classificação dos organismos vivos e os princípios básicos da vida vegetal; • Estrutura da célula vegetal e as funções desempenhadas por cada uma de suas partes; • Os tecidos vegetais e suas funções; • As estruturas básicas e funções de raízes, caules e folhas; Estes conhecimentos serão úteis no estudo de Fisiologia vegetal. 2. A CLASSIFICAÇÃO DOS ORGANISMOS VIVOS Desde os tempos de Linnaeus (1707 a 1778), os biologistas têm tentado classificar os seres vivos. No início, eles buscaram maneiras de fácil identificação, baseadas em “esquemas artificiais de classificação”. Após as descobertas de Darwin (Século XIX), passou-se a utilizar esquemas de classificação baseados no relacionamento evolucionário, os chamados “esquemas naturais de classificação”. Desde então, os biologistas vêm estudando estes sistemas naturais de classificação, buscando definir critérios morfológicos que reflitam melhor o relacionamento evolucionário. Atualmente, sabe-se que a morfologia, ou seja, a forma e a estrutura do organismo, é o produto final da ação dos genes (codificados nas seqüências de DNA). Isto é, toda a informação necessária para formar o organismo está codificada nestas seqüências de DNA. Esta descoberta forneceu uma poderosa ferramenta para os biologistas que trabalham com sistemas naturais de classificação. Tendo como base a análise filogenética de seqüências de DNA altamente conservadas, os organismos vivos foram divididos em três principais Domínios (Figura 1): Bacteria, Archaea e Eucarya. O domínio Bacteria, que forma o reino Eubacteria (um exemplo são as cianobactérias), não possui núcleo verdadeiro e são classificados como procariotos. Os organismos do domínio Archaea, que formam o reino archaebacteria (organismos adaptados a condições extremas, como ambientes altamente salinos ou sulfurosos), também são procariotos, porém eles diferem dos organismos do domínio Bacteria. O domínio Eucarya inclui os eucariotos, organismos que possuem um núcleo verdadeiro. Esse domínio pode ser dividido em seis reinos: Archezoa, Protista, Chromista, Plantae, Fungi e Animalia. Antes dos três domínios de vida (Bacteria, Archaea e Eucarya) terem sido reconhecidos, um sistema artificial de classificação, baseado na existência de cinco reinos, era amplamente aceito. De acordo com esse esquema, todos os organismos eram divididos nos seguintes reinos: Monera, Protista, Fungi, Plantae e Animalia. O reino Monera inclui todos os organismos procariotos, bactérias e archaebactérias. Os demais reinos são formados por organismos eucariotos. Alguns biologistas ainda seguem essa classificação, a qual é baseada principalmente na dicotomia entre procariotos (células com DNA circular no citoplasma) e eucariotos (células com DNA linear contido dentro do núcleo). No entanto, a descoberta de que archaebactérias e eucariotos são grupos filogeneticamente irmãos, sugere que archaebatérias não pertencem ao mesmo reino das bactérias. 11 Figura 1 – Esquema de classificação natural e filogenia dos organismos vivos. (A) os três domínios de vida; (B) divisão dos organismos em dois reinos procarióticos e seis reinos eucarióticos; (C) Filogenias hipotéticas, mostrando a origem dos principais grupos de eucariotos. O aparecimento do núcleo, mitocôndria e cloroplasto e a perda do cloroplasto, são indicados (Campbell, 1996, citado por Taiz & Zeiger, 1998). O reino Plantae, que nos interessa mais diretamente, inclui as algas vermelhas e verdes, bem como as como plantas. Dentro da perspectiva da fisiologia vegetal esta classificação é interessante, visto que as algas verdes têm sido amplamente utilizadas como modelos no estudo de processos fisiológicos, como fotossíntese, nutrição mineral, fotomorfogênese, etc. ArcheaeBacteria Eucarya Eubacteria Archeae – bacteria Archeae– zoa Protista (protozoa) Chromista Plantae Fungi Animalia E u b ac te ri a A rc h ae b ac te ri a A rc h ez o an s D in o fl ag el la te s C ili at es Z o o fl ag el la te s B ro w n a lg ae G o ld en al g ae F u n g i A n im al s E u g le n o id s P la n ts R ed A lg ae G re en A lg ae W at er m ol d s D ia tm s Universal ancestor N M C C C C C X X X X Chloroplasts (derived from cyanobacterium)C Mitochondria (derived from aerobic eubacterium) Nucleus Loss of chloroplasts - Endosymbiotic events Chloroplast derived from eukaryotic cell (probaly red alga) (A) (C) (B) ArcheaeBacteria Eucarya Eubacteria Archeae – bacteria Archeae– zoa Protista (protozoa) Chromista Plantae Fungi Animalia E u b ac te ri a A rc h ae b ac te ri a A rc h ez o an s D in o fl ag el la te s C ili at es Z o o fl ag el la te s B ro w n a lg ae G o ld en al g ae F u n g i A n im al s E u g le n o id s P la n ts R ed A lg ae G re en A lg ae W at er m ol d s D ia tm s Universal ancestor N M C C C C C X X X X Chloroplasts (derived from cyanobacterium)C Mitochondria (derived from aerobic eubacterium) Nucleus Loss of chloroplasts - Endosymbiotic events Chloroplast derived from eukaryotic cell (probaly red alga) ArcheaeBacteria Eucarya Eubacteria Archeae – bacteria Archeae– zoa Protista (protozoa) Chromista Plantae Fungi Animalia E u b ac te ri a A rc h ae b ac te ri a A rc h ez o an s D in o fl ag el la te s C ili at es Z o o fl ag el la te s B ro w n a lg ae G o ld en al g ae F u n g i A n im al s E u g le n o id s P la n ts R ed A lg ae G re en A lg ae W at er m ol d s D ia tm s Universal ancestor N M C C C C C X X X X Chloroplasts (derived from cyanobacterium)C Mitochondria (derived from aerobic eubacterium) Nucleus Loss of chloroplasts - Endosymbiotic events Chloroplast derived from eukaryotic cell (probaly red alga) (A) (C) (B) 12 As plantas terrestres, por sua vez, incluemas briatas (musgos, hepáticas e anterófitas), pteridófitas (plantas vasculares, como as samambaias) e as plantas produtoras de sementes (gimnospermas e angiospermas). OBS: O termo “Planta Superior” é aplicado para as plantas vasculares (pteridófitas) e para as plantas produtoras de sementes (angiospermas e gimnospermas) As Briatas são pouco abundantes em número de espécies. Os principais exemplos são os musgos e as hepáticas. Elas não possuem raízes ou folhas verdadeiras e também não produzem sistema vascular e tecidos de sustentação. A ausência dessas estruturas limita o tamanho destas plantas, as quais raramente são maiores que 4 cm de altura. São plantas terrestres que, no entanto, dependem da água para a reprodução, a qual é feita principalmente por esporos. As Pteridófitas possuem raízes e folhas verdadeiras e produzem tecidos vasculares e de sustentação. Isto permite que elas cresçam com tamanho de pequenas árvores. Apesar destas plantas serem mais adaptadas às condições de falta de água do que as briófitas, elas ainda dependem da água para a reprodução (movimento do esperma para o ovo). Estas plantas, portanto, vivem em ambientes relativamente úmidos. São as samambaias. O principal grupo, dentre as plantas terrestres, é constituído pelas plantas com sementes. Existem duas categorias de plantas com sementes: as Gimnospermas, com sementes nuas, e as Angiospermas, com sementes protegidas pelo fruto. A principal inovação das angiospermas foi a flor, por isso elas são referidas como plantas que florescem. As gimnospermas são tipos menos avançados, sendo conhecidas cerca de 700 espécies. O principal grupo é o das coníferas, incluindo pinheiros e sequóia. As angiospermas são tipos mais avançados e tornaram-se abundantes no período Cretáceo, cerca de 100 milhões de anos atrás. Cerca de 250 mil espécies de angiospermas são conhecidas, porém muitas ainda permanecem sem ser caracterizada. As angiospermas podem ser divididas em dois grupos: monocotiledôneas (um cotilédone) e dicotiledôneas (dois cotilédones). Além da distinção baseada no número de cotilédones no embrião da semente, os dois grupos também apresentam diferentes aspectos anatômicos, como o arranjo dos tecidos vasculares, a morfologia do sistema radicular e a estrutura da flor. Abaixo mostramos alguns exemplos de famílias de mono e dicotiledôneas. Monocotiledôneas – Gramineae, Palmae, Liliaceae, Agavaceae, Bromeliaceae, Musaceae, Orchidaceae, etc. Dicotiledôneas – Cactaceae, Cruciferae, Rosaceae, Rutaceae, Leguminosae, Malvaceae, Myrtaceae, Cucurbitaceae, Umbeliferae, Rubiaceae, Compositae, Euforbiaceae, etc. Como o grupo de plantas dominante sobre a terra e por causa da sua importância econômica e ecológica, as Angiospermas têm sido estudadas muito mais intensivamente do que outros tipos de plantas, portanto este curso de Fisiologia Vegetal será direcionado para elas. 13 3. OS PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE NORTEIAM A VIDA VEGETAL A diversidade de tamanho de plantas é algo do conhecimento de todos, observando-se plantas com altura menor que 1 cm até árvores com mais de 100 m. A morfologia das plantas, ou seja, a sua forma, é, também, bastante diversa. Baseado nessa diversidade de formas, nós poderíamos sugerir, por exemplo, que os “mandacarus” teriam pouco em comum com as coníferas ou mesmo com as leguminosas. No entanto, a despeito de suas adaptações específicas, todas as plantas têm a mesma morfologia externa e realizam fundamentalmente processos similares e possuem um esboço de arquitetura semelhante. Nós poderíamos sumariar essas semelhanças nos seguintes itens: • Como produtoras primárias, as plantas verdes são as coletoras da energia solar. Elas convertem a energia da luz solar em energia química, a qual é estocada nas ligações químicas formadas quando os carboidratos são sintetizados a partir de CO2 e H2O (Fotossíntese); • Diferente de outras células reprodutivas, as plantas não são móveis. Em substituição à mobilidade, as plantas evoluíram a capacidade para crescer na busca dos recursos essenciais, como luz, água e nutrientes minerais; • As plantas terrestres são estruturalmente reforçadas para suportar a sua massa, visto que elas crescem em direção à luz, contra a força da gravidade; • As plantas terrestres perdem água continuamente pela evaporação (transpiração) e, para conviver com esse problema, evoluíram mecanismos para evitar a dessecação; • As plantas terrestres possuem mecanismos para transportar água e nutrientes minerais do solo até os locais fotossintetizantes (principalmente as folhas) e de crescimento (meristemas), e mecanismos para transportar os produtos da fotossíntese para os órgãos ou tecidos não fotossintéticos (como as raízes) e também para as regiões de crescimento (meristemas); • As plantas crescem, se desenvolvem e interagem com o ambiente. Por exemplo, o desenvolvimento da planta é influenciado pela temperatura, luz, gravidade, ventos, umidade do solo e do ar, etc. • Finalmente, nas plantas verdes, como em outras máquinas, as estruturas e funções são intimamente relacionadas (já comentado anteriormente). 4. A CÉLULA VEGETAL Podemos dividir uma célula vegetal da seguinte forma (Figura 2): Célula Vegetal = Parede Celular + Protoplasto (unidade do protoplasma) PAREDE CELULAR PROTOPLASMA ⇒ Membrana Celular + Citoplasma + Núcleo + Vacúolo Citoplasma ⇒ Citosol + Organelas + Citoesqueleto O Citoplasma é a solução dentro da célula, incluindo as organelas, com exceção do Núcleo; Citosol – é a solução hidrofílica dentro da célula, onde estão mergulhadas as organelas, rico em moléculas orgânicas; 14 Organelas – Mitocôndrias, Plastídios, Retículo endoplasmático, complexo de Golgi, Vacúolos, Peroxissomos (Glioxissomos), Oleossomos; Citoesqueleto – rede tridimensional de filamentos protéicos que organiza o citosol. Figura 2 – Representação diagramática de células típicas, animal e vegetal. Note que o maior tamanho, e as presenças de parede celular, cloroplastos e grandes vacúolos diferenciam as células vegetais das células animais (Alberts, 1994) 4.1 Parede Celular As células são caracterizadas não somente pelo seu conteúdo e organização interna, mas também por uma complexa mistura de materiais extracelulares que, nas plantas é referida como parede celular (a parede celular diferencia as células vegetais das células animais). Esta parede é constituída, principalmente, de carboidratos, proteínas e de algumas substâncias complexas (Tabela 1). Estes componentes são sintetizados dentro da célula e transportados através da membrana plasmática para o local onde eles se organizam. A parede celular possui diversas funções: • Atua como um exoesqueleto celular, possibilitando a formação de uma pressão positiva dentro da célula (turgescência) e, consequentemente, a manutenção da forma da célula; • Por resistir à pressão de turgescência, ela se torna importante para as relações hídricas da planta; • A parede celular permite a junção de células adjacentes; • Determina a resistência mecânica das estruturas do vegetal, permitindo que muitas plantas cresçam e se tornem árvores de grandes alturas; • A resistência mecânica das paredes do xilema também permite que as células resistam às fortes tensões criadas dentro dos vasos, o que é fundamental para o transporte de água e minerais do solo até as folhas; 15 • Em sementes, os polissacarídeos da parede das células do endosperma ou dos cotilédones funcionam como reservas metabólicas. Na maioria das paredes celulares, isso não ocorre; • Alguns oligossacarídeos presentes na parede celular podem atuar como moléculas de sinalização, durante a diferenciação celular e durante o reconhecimento de patógenos e simbiontes. • Embora a parede celular seja permeável para pequenas moléculas, ela atua como uma barreira à difusão de macromoléculas, sendo a principal barreiraà invasão de patógenos. Tabela 1 – Componentes estruturais da parede celular Componente Exemplos Polissacarídeos Celulose Calose Microfibrilas de β-(1,4) glucano β-(1,3) glucano Hemicelulose Xiloglicano Xilano Glucomanano Arabinoxilano β-(1,3; 1,4) glucano Pectinas Homogalacturonano Ramnogalacturonano Arabinano Galactano Proteínas estruturais Glicoproteínas ricas em hidroxiprolina, conhecidas como extensinas Lignina Macromolécula fenólica altamente complexa Estruturalmente, pode-se dividir a parede celular, de fora para dentro, em: Lamela Média, Parede Primária e Parede Secundária. A Lamela Média é uma fina camada de material, considerada o cimento que promove a junção de paredes primárias de células adjacentes. É constituída de substâncias pécticas (ácido péctico, pectato de cálcio e de magnésio) e de proteínas (não são as mesmas encontradas no restante da parede celular). A lamela média juntamente com a parede primária origina-se da placa celular que é formada durante a divisão celular (telófase). As Paredes Primárias são formadas em células jovens em crescimento. Algumas paredes primárias, tais como aquelas do parênquima de bulbos de cebola, são muito finas (100 nm) e possuem arquitetura simples. Outras paredes primárias, tais como aquelas encontradas em colênquima ou em epidermes, podem ser bem mais espessas e conter múltiplas camadas. A parede primária é constituída de celulose, hemiceluloses, pectinas, proteínas e compostos fenólicos (Tabela 2). A celulose é uma molécula longa, não ramificada, formada 16 de resíduos de glicose unidos por ligação β-1,4, sendo sintetizada na membrana plasmática pelo complexo enzimático contendo a celulose sintase. Uma única molécula de celulose, sintetizada por esse complexo enzimático, pode conter acima de 3.000 unidades de glicose. A junção, através de pontes de hidrogênio, de 20 a 40 cadeias individuais de celulose formam as Microfibrilas (Figura 3), as quais possuem espessura de 5 a 12 nm. Tabela 2 – Composição média de paredes primária e secundária Componentes Parede Primária Parede Secundária % Polissacarídeos 90 75 Celulose 25 45 Hemicelulose 25 30 Pectinas 35 - Proteínas 1-8 - Lignina - 25 As microfibrilas de celulose e as hemiceluloses, que formam uma matriz semicristalina, estão embebidas em uma matriz de natureza de gel de substâncias pécticas (Figura 3). A hemicelulose é uma mistura complexa de açúcares e derivados de açúcares, que formam uma rede altamente ramificada. As hemiceluloses e pectinas são sintetizadas no Complexo de Golgi, em reações catalisadas por enzimas provenientes do retículo endoplasmático, e transportadas em vesículas que se fundem com a membrana celular, liberando o conteúdo na parede em crescimento (ver Figura 7). A orientação das microfibrilas de celulose, dentro da matriz semicristalina, é feita pelos microtúbulos, e nas células que se alongam (como em caules e raízes) elas tendem a ser orientadas perpendicularmente ao crescimento. Figura 3 – Diagrama mostrando o arranjo dos principais componentes da parede celular primária (Taiz & Zeiger, 1998). 17 A parede primária da célula também contém aproximadamente 10% de glicoproteínas (proteínas contendo açúcares ligados), as quais são ricas no aminoácido hidroxiprolina. Estas glicoproteínas são conhecidas como Extensinas. Embora não se conheça a precisa função das extensinas, acredita-se que elas contribuem para a rigidez da parede celular, ou seja, elas são proteínas estruturais (Figura 3). As paredes secundárias são formadas após a célula parar de crescer. Elas são ricas em celulose e lignina (Tabela 2). No entanto, elas podem conter polissacarídeos não celulósicos (principalmente aqueles classificados como hemiceluloses) e proteínas. A parede secundária pode tornar-se altamente especializada em estrutura e função, refletindo o estado de especialização celular. As células do xilema de árvores, por exemplo, apresentam paredes secundárias bastante espessas, que são reforçadas pela presença de lignina. Isto é fundamental para o transporte de água a longa distância. Depois da celulose, a lignina é a substância orgânica mais abundante nas plantas. Trata- se de um composto fenólico, formado a partir de três álcoois: coniferil, cumaril e sinapil, os quais são sintetizados, dentro da célula, a partir do aminoácido fenilalanina. As moléculas dos três álcoois, uma vez na parede celular, sofrem a ação de enzimas que os convertem para a forma de radicais livres. Estes radicais livres são altamente reativos e se unem ao acaso, produzindo a lignina (Figura 4). Esta é a grande diferença entre a lignina e outros biopolímeros, como amido e celulose, ou seja, nestes últimos as ligações não são ao acaso. Figura 4 – estrutura parcial de uma molécula de lignina (Taiz & Zeiger, 1998) 18 Do exposto acima, vê-se que a estrutura da parede celular varia consideravelmente, dependendo da função exercida pela célula (Figura 5). Células que têm a função de sustentação, como fibras e esclereides, possuem parede secundária altamente lignificada. Este também é o caso dos vasos do xilema. Por outro lado, células com elevada atividade metabólica e células em crescimento possuem apenas parede primária. Outras células podem possuir espessamento da parede primária, como é o caso de células epidérmicas de caules. Nas folhas, as células-guarda (que são células epidérmicas diferenciadas) possuem espessamento diferencial da parede celular, o que está relacionado a sua função (mudanças no volume destas células permite a abertura ou fechamento do estômato e, consequentemente, as trocas gasosas). Figura 5 – Seção transversal de um caule de linho, mostrando células com diferente morfologia da parede celular. Note as fibras do floema com parede bastante espessa (Taiz & Zeiger, 1998) 4.2 Protoplasma – é formado pela Membrana Plasmática, pelo Citoplasma e pelo Núcleo. O protoplasma define o conteúdo celular, sendo o protoplasto a unidade do protoplasma. 19 4.2.1 Membrana plasmática O sistema de membranas celulares é crucial para a vida da célula (Figura 2). A membrana plasmática (plamalema ou membrana celular) e as demais membranas que circundam os diversos compartimentos celulares, mantêm as diferenças eletroquímicas essenciais entre o citosol e o meio externo e, entre o citosol e o interior de cada compartimento, respectivamente. Todas estas membranas biológicas têm organização molecular semelhante, consistindo de uma bicamada lipídica contendo proteínas embebidas, formando uma estrutura conhecida como “mosaico fluido” (Figura 6). Os lipídios constituintes das membranas são moléculas insolúveis em água de natureza anfipática (possuem uma região hidrofílica e outra hidrofóbica) , arranjadas em uma dupla camada de cerca de 8 a 10 nm de espessura. Essa bicamada lipídica, forma a estrutura básica das membranas e, em face de sua relativa impermeabilidade, funciona como barreira ao movimento de íons e de moléculas polares. Figura 6 – A estrutura da membrana plasmática. Note a bicamada lipídica e as proteínas integrais e periféricas (Taiz & Zeiger, 1998) Dentre as principais classes de lipídios encontradas em membranas vegetais (Tabela 3), a mais abundante é a dos fosfolipídios, os quais são formados por uma molécula de 20 glicerol que se liga de um lado a um grupo fosfato e do outro a dois ácidos graxos. Ligados ao grupo fosfato pode aparecer colina, serina, etanolamina ou inositol, constituindo os diversos tipos de fosfolipídios. Os ácidos graxos contêm entre 14 e 24 átomos de carbono, sendo geralmente, um saturado e outro insaturado. Diferenças no comprimento da cadeia e no grau de saturação dos ácidos graxosinfluenciam diretamente a estrutura da membrana. A presença de duplas ligações provoca dobras na cadeia de carbono acarretando, um aumento na permeabilidade da membrana. Tabela 3 - Principais lipídios da membrana plasmática de folha de espinafre (Rochester et al., Physiol. Plant., 71: 257-263, 1987) Componente % do Lipídio Total Fosfolipídios 63,8 Esfingolipídios 13,6 Glicolipídios 2,7 Esteróis 19,9 Os esteróis e os glicolipídios, embora sejam menos abundantes do que os fosfolipídios podem desempenhar importantes funções nas membranas biológicas. Os esteróis são triterpenos sintetizados pela rota do ácido mevalônico, que atuam na estabilização, principalmente, da membrana plasmática e do tonoplasto (membrana do vacúolo), pelas interações com os fosfolipídios destas membranas. Já os glicolipídios, são moléculas de lipídios contendo um ou mais resíduos de carboidratos. As proteínas associadas com a bicamada lipídica são de três tipos: as integrais ou intrínsecas, as periféricas e as ancoradas em lipídios, prenil, fosfatidilinositol (Figura 6). Visto que as bicamadas de fosfolipídios são praticamente impermeáveis a maioria das substâncias polares, os fluxos de íons através das membranas biológicas ocorrem quase que exclusivamente através de proteínas integrais (proteínas transmembranares, isto é, que têm acesso aos dois lados da membrana). Estas proteínas podem ter um ou mais domínios através da membrana e estão envolvidas também na síntese de ATP, na transdução de sinais e na formação de gradiente eletroquímico. 4.2.2 Citoplasma – é formado pelo citosol e as organelas, delimitado pela plasmalema. 4.2.2.1 Citosol O citosol é a porção líquida hidrofílica do citoplasma na qual ficam mergulhadas as organelas, e que ocupa pequeno volume da célula, principalmente nas células altamente vacuoladas. O citosol é o local de muitos e importantes processos celulares, destacando-se: a glicólise (primeira etapa da respiração aeróbica), a via das pentoses-fosfato, a síntese de sacarose, a síntese de proteínas, etc. 21 4.2.2.2 Organelas • Plastídios Os plastídios supõem-se, se originaram a partir de cianobactérias por endossimbiose. Eles constituem uma família de organelas circundadas por dupla membrana, característicos das células de plantas. Os plastídios surgem dos proplastídios, pequenos corpos vesiculares produzidos nas células meristemáticas. Podem-se destacar cinco tipos de plastídios: cloroplastos, amiloplastos, leucoplastos, cromoplastos e etioplastos. Os plastídios sem coloração, ou seja, sem pigmentos, são os amiloplastos e os leucoplastos. Os leucoplastos, encontrados nas folhas e caules verdes, estão envolvidos na síntese de monoterpenos (compostos voláteis encontrados nos óleos essenciais) e na síntese de lipídios. Os amiloplastos estão envolvidos na síntese e acúmulo de amido em tecidos não fotossintéticos. Nas folhas, o amido é sintetizado nos cloroplastos que são os mais proeminentes dos plastídios, sendo que eles realizam a fotossíntese e contêm os pigmentos fotossintéticos (principalmente clorofilas) que são responsáveis pela coloração verde das folhas (e também de caules). Os cromoplastos sintetizam outros pigmentos diferentes da clorofila. As cores características de frutos de tomate e laranja, de raiz de cenoura e batata- doce e de flores de mal – me – quer e botão de ouro é devido à presença de cromoplastos contendo pigmentos carotenóides. Os etioplastos são formados quando a planta está na obscuridade, neste caso vai ocorrer síntese de carotenóides e protoclorofilídio a, não ocorrendo, porém, síntese de proteínas e de clorofila. • Mitocôndrias As mitocôndrias supõem-se se originaram a partir de eubactérias aeróbicas por endossimbiose. Elas possuem duas membranas: uma externa, sem invaginação, e outra interna que se apresenta completamente invaginada, formando as conhecidas cristas mitocondriais. A fase aquosa contida dentro da membrana interna é conhecida como matriz e a região entre as duas membranas é conhecida como espaço intermembranar. Estes compartimentos possuem composição diferente, o que se deve aos diferentes graus de permeabilidade das membranas externa e interna. A membrana externa permite a passagem de íons e moléculas com tamanho até 10.000 Da. A membrana interna restringe-se à entrada de íons e pequenas moléculas e possui carreadores específicos, que promovem a troca de íons e moléculas entre a matriz mitocondrial e o espaço intermembranar. As mitocôndrias são os sítios da respiração celular, um processo no qual a energia liberada durante a oxidação de açúcares é usada para a síntese de ATP. Neste processo, a degradação de piruvato (gerado na glicólise), liberando CO2 e produzindo NADH e FADH2 (ciclo de Krebs), ocorre na matriz mitocondrial, enquanto que a formação de ATP e o consumo de O2 ocorrem nas cristas mitocondriais (cadeia transportadora de elétrons). • Retículo Endoplasmático e Complexo de Golgi O envelope nuclear, o retículo endoplasmático (RE) e o complexo de Golgi formam, em conjunto, um elaborado sistema de endomembranas envolvido na biossíntese, processamento e secreção de lipídios, proteínas e polissacarídeos. Parte do retículo endoplasmático é associada com ribossomos, formando o retículo endoplasmático rugoso. O RE rugoso é associado, principalmente, com a síntese de proteínas, muitas delas sendo proteínas de membranas. A região do retículo endosplasmático não 22 associada aos ribossomos é conhecida como RE liso. O RE liso é o principal local de biossíntese de lipídios para a formação de membranas (Figura 7). Figura 7 – Esquema mostrando a síntese, transporte e deposição de polissacarídeos da matriz da parede celular. As vesículas se fundem com a membrana plasmática, aumentando a sua extensão, e liberam o conteúdo na matriz da parede em crescimento (Raven, 2001) O complexo de Golgi é constituído de sacos membranosos achatados, conhecidos como cisternas, que são separados do retículo endoplasmático. O complexo de Golgi serve para organizar e processar cadeias de oligossacarídeos de glicoproteínas que são transferidas para ele, via vesículas provenientes do retículo endoplasmático. Estas vesículas fundem-se com a membrana do complexo de Golgi, descarregando seus conteúdos nas cisternas de Golgi. Neste complexo, os oligossacarídios são modificados e outras moléculas de açúcares podem ser adicionadas. As glicoproteínas modificadas deixam o complexo de Golgi em vesículas secretoras, as quais descarregam seus conteúdos em locais dentro da célula ou se fundem com a membrana plasmática, descarregando seus conteúdos fora da célula. Outra importante função do complexo de Golgi em células de plantas, é a síntese de polissacarídios complexos (como as hemiceluloses e pectinas), os quais são descarregados por vesículas na matriz da parede celular em crescimento (Figura 7). • Oleossomos Em adição ao acúmulo de amido (nos amiloplastos) e de proteínas (nos corpos protéicos), muitas plantas sintetizam e acumulam grandes quantidades de triacilgriceróis (uma 23 molécula de glicerol esterificada com três ácidos graxos) durante o desenvolvimento da semente. Estes óleos são estocados em organelas conhecidas como oleossomos (também chamadas de corpos lipídicos ou esferossomos). Estas organelas são as únicas que são circundadas por uma meia membrana. Os triacilgliceróis contidos nos oleossomos de sementes, não são móveis na planta e, portanto, precisam ser degradados para uma forma orgânica móvel (sacarose), durante a germinação. Neste processo, os triacilgliceróis são inicialmente degradados pela enzima Lipase, liberando o glicerol e os três ácidos graxos. Os ácidos graxos vão para o glioxissomo, onde é dada continuidade no processo de conversão de lipídio para sacarose. A sacarose é em seguida transportada para o eixo embrinário, servindocomo fonte de energia para o crescimento da plântula. • Vacúolos Os vacúolos são organelas circundadas por uma única membrana conhecida como tonoplasto. As células meristemáticas têm numerosos vacúolos pequenos. Já nas células maduras, o vacúolo é um compartimento único que pode ocupar de 80 a 90% do volume celular. OBS: alguns autores consideram o vacúolo como um compartimento à parte, não fazendo parte do citoplasma. Os vacúolos são responsáveis pelo balanço hídrico celular, além de ter outras deferentes funções e propriedades, dependendo do tipo de célula em que ele ocorre: • Em células em crescimento, muitos compostos orgânicos e inorgânicos acumulam nos vacúolos. Estes solutos criam a pressão osmótica que é responsável pela pressão de turgescência necessária para o crescimento e manutenção da forma dos tecidos. • Em plantas suculentas, a flutuação diária no conteúdo de ácidos orgânicos nos vacúolos é conhecida como Metabolismo Ácido das Crassuláceas (plantas CAM, como cactáceas e crassuláceas). Isto está diretamente associado à fixação de CO2 (Fotossíntese). • Vacúolos são também ricos em enzimas hidrolíticas (proteases, glicosidases, etc.) que participam da degradação das macromoléculas celulares durante o processo de senescência. Neste aspecto, eles se assemelham aos lisossomos de células animais, que funcionam na digestão intracelular. • Um tipo especializado de vacúolo, conhecido como vacúolo protéico neutro, é abundante em sementes, servindo como o local de estoque de proteínas. • Muitas células de plantas sintetizam pigmentos, tais como antocianina e betacianina, os quais são armazenados nos vacúolos. Outros produtos secundários, incluindo alcalóides, saponinas, glicosídios cianogênicos, etc., também se acumulam nos vacúolos. • Estoque de cristais de oxalato de cálcio (como em plantas de Araceae). • Acúmulo de sais potencialmente tóxicos (Na+, Cl-, etc.) em halófitas (plantas nativas de ambientes salinos). • Os vacúolos têm importante papel na homeostase de íons, mantendo as concentrações de alguns íons (Ca2+, PO4 2-, NO3 -, etc.) constantes e em níveis adequados no citosol. 24 • Microcorpos As células de plantas também possuem peroxissomos, uma classe de organelas esféricas de alta densidade (1,25 g/cm3) circundadas por uma única membrana e especializada para realizar determinadas funções. Os dois principais microcorpos são os peroxissomos e os glioxissomos, além dos peroxissomos não especializados. Os peroxissomos são estruturas de alta densidade (1,25 mg/cm2) encontradas em todas as células eucarióticas e, nas plantas, eles são encontrados nos tecidos fotossintéticos. Os peroxissomos atuam na remoção de hidrogênio de substratos orgânicos, consumindo O2 no processo, de acordo com as seguintes reações: RH2 + O2 → R + H2O2 (R: representa o substrato orgânicos) 2 H2O2 H2O + O2 (o peróxido de hidrogênio é tóxico e precisa ser degradado pela planta) Os peroxissomos contém grande quantidade da enzima catalase (serve como marcador para identificação de peroxissomos), a qual catalisa a última reação, ou seja, a degradação do peróxido de hidrogênio (H2O2). Algumas reações do processo de fotorrespiração ocorrem nos peroxissomos (veremos em fotossíntese). Uma destas reações produz o H2O2, o que justifica a participação desta organela no processo. Os glioxissomos, por sua vez, são encontrados principalmente em sementes oleaginosas (soja, algodão, mamona, etc.). Os glioxissomos contêm as enzimas do ciclo do glioxilato, o qual participa do processo de conversão lipídios em açúcares durante o processo de germinação destas sementes (veremos quando estudarmos Dormência e Germinação). OBS: Nas células animais, as reações da β-Oxidação, associadas à degradação de ácidos graxos, ocorre nas mitocôndrias. Em plantas, este processo ocorre nos peroxissomos ou nos glioxissomos. 4.2.3. Núcleo O núcleo é um compartimento encontrado nas células eucarióticas, o qual armazena a informação genética da espécie. Ele contém o material genético, na forma de ácido desoxiribonucléico (DNA). O DNA contém os genes, os quais possui a informação para a síntese do ácido ribonucléico (RNA), um processo conhecido como transcrição (Figura 8). Cada gene contém a informação para sintetizar uma molécula específica de RNA (RNA mensageiro ou mRNA). As moléculas de mRNA são exportadas para o citosol onde irão dar origem às proteínas, no processo conhecido como tradução. A síntese de proteínas pode ocorrer em ribossomos livres no citosol ou nos ribossomos associados ao retículo endoplasmático (RE rugoso). Catalase 25 Transcrição Tradução DNA mRNA Proteínas Replicação DNA Figura 8 – Os processos genéticos básicos. Os processos de replicação do DNA, que ocorre antes da divisão celular, e de transcrição, ocorrem no núcleo; o processo de tradução ou síntese de proteínas ocorre no citoplasma (Alberts, 1994) O núcleo é um compartimento relativamente grande, com diâmetro de 5 a 30 µm, sendo circundado por uma dupla membrana, conhecida como envelope nuclear. As membranas interna e externa se fundem em alguns locais, para formar os complexos poros nucleares, os quais interrompem a integridade do envelope nuclear e permitem a exportação de RNA e de ribossomos do núcleo para o citosol e a importação de proteínas do citosol. O núcleo contém ainda, uma densa região granular conhecida como nucléolo, o qual é o sítio da síntese de ribossomos. Os nucléolos e o envelope nuclear desaparecem durante a divisão celular. 4.3 O Citoesqueleto O citosol de células eucarióticas (incluindo plantas e animais) é organizado por uma rede tridimensional de filamentos protéicos, conhecidos como citoesqueleto. Esta rede de filamentos protéicos garante o movimento e a organização espacial das organelas no citoplasma. Ela também executa papéis fundamentais em diversos outros aspectos, como: manutenção da forma da célula, mitose, meiose, citocinese, deposição de parede celular e diferenciação celular. O citoesqueleto de células é composto de três tipos de proteínas: os microtúbulos, os filamentos intermediários (formados por queratina) e os microfilamentos. Os microtúbulos são cilíndricos com diâmetro de 25 nm, formados por polímeros de uma proteína globular, a tubulina. Os microfilamentos são fibras sólidas, com cerca de 7 nm de diâmetro, formados pela proteína actina. 4.4 Plasmodesmas e as definições de simplasto e apoplasto Os plasmodesmas são extensões tubulares da membrana plasmática, de 40 a 50 nm de diâmetro, que atravessam a parede celular e conectam os citoplasmas de células adjacentes (Figura 9). Cada plasmodesma contém um estreito tubo de retículo endoplasmático, conhecido como desmotúbulo. Assim, os plasmodesmas permitem não somente a junção dos conteúdos das regiões citosólicas de células adjacentes, mas, também, o conteúdo do retículo endoplasmático. No entanto, o pequeno diâmetro dos plasmodesmas evita que ocorra transferência de organelas e muitas macromoléculas entre as células, permitindo apenas a difusão de pequenas moléculas (como sacarose) e de íons (K+, Cl-, Ca2+, etc.). A conexão de células vizinhas através dos plasmodesmas, cria uma rede contínua de citoplasmas em toda a planta, conhecida como Simplasto. De maneira similar, estas células produzem uma rede de espaços extracelulares, conhecida como Apoplasto. O apoplasto 26 Figura 9 – Plasmodesma. (A) micrografia eletrônica mostrando os plasmodesmas conectando células adjacentes; (B) diagrama mostrando o relacionamento entre a membrana plasmática, retículo endoplasmático e o desmotúbulo (Raven, 2001)compreende o espaço formado pelas paredes de células interconectadas, pelos espaços intercelulares e pelo tecidos vasculares não vivos (vasos do xilema). Os conceitos de simplasto e apoplasto são especialmente úteis quando estudamos o transporte de água e de solutos dissolvidos (sacarose, nutrientes minerais, etc.) na planta. 5. A PLANTA COMO UM ORGANISMO 5.1 Meristemas e Tecidos O crescimento das plantas é concentrado em regiões de divisão celular conhecidas como MERISTEMAS. Estes meristemas podem ser classificados como: � Meristemas Primários – Se desenvolvem de células embrionárias (meristemas apicais do caule e da raiz). Estes meristemas são responsáveis pelo crescimento em extensão e eles produzem o corpo primário da planta (protoderme, tecido fundamental e procâmbio). � Meristemas Secundários – Se desenvolvem de células maduras diferenciadas (Meristemas Laterais – Câmbio vascular e felogênio). Estes meristemas permitem o crescimento secundário ou em diâmetro de caules e raízes, e são encontrados em 27 dicotiledôneas e gimnospermas. No corpo secundário destes órgãos encontramos, de fora para dentro, periderme, floema secundário, xilema secundário. OBS 1: em caules em crescimento primário e secundário pode-se encontrar, no centro, uma medula. OBS 2: os meristemas axilares, intercalares e de raízes laterais promovem o crescimento primário Os três principais sistemas de tecidos encontrados nos órgãos do vegetal e originados a partir dos meristemas são: a) Tecido Dérmico - corresponde à “pele” da planta A epiderme é o tecido dérmico de plantas jovens que apresentam crescimento primário. Deve-se destacar que sua função depende da função do órgão. Por exemplo, a superfície da parte aérea é coberta com cutícula cerosa para reduzir as perdas de água, além de pêlos e tricomas que são extensões das células epidérmicas. Nas superfícies de raízes as células são adaptadas para absorção de água e nutrientes minerais. Extensões destas células epidérmicas, os pêlos radiculares, aumentam a superfície de absorção. Como se vê, as adaptações aparentemente semelhantes nas folhas e raízes, produzem funções que atendem a necessidade do vegetal. Nas plantas que apresentam crescimento secundário, a epiderme é destruída e a Periderme (composta pelo felema (súber), felogênio e feloderma) passa a funcionar como tecido de proteção. Isso ocorre em caules e raízes de dicotiledôneas e de gimnospermas. b) Tecido Fundamental - compõe ou preenche o corpo da planta. Os tecidos fundamentais apresentam diferentes tipos de células com diferentes funções: • Parênquima – constituído de células metabolicamente ativas com parede primária fina. Está presente em todos os órgãos da planta. Funções: fotossíntese, respiração, assimilação, armazenamento, secreção, etc. • Colênquima – Células alongadas com parede primária espessa. Contribui como suporte estrutural para plantas em crescimento, particularmente a parte aérea. • Esclerênquima – São células com parede secundária e são freqüentemente mortas na maturidade. Sua principal função é dar suporte mecânico, principalmente, nas partes maduras da planta. Os principais tipos são as fibras e os esclereides. c) Tecido vascular Os tecidos vasculares são compostos de dois principais sistemas de condução: o xilema e o floema. O xilema transporta água e minerais das raízes para o resto da planta. O floema distribui os produtos da fotossíntese e uma variedade de outros solutos por toda a planta. Os traqueídeos e os elementos de vaso são as células condutoras do xilema. Estes dois tipos de células possuem paredes secundárias espessas e perdem seu citoplasma na maturidade; isto é, elas são mortas quando funcionais. Os elementos crivados, nas angiospermas, e as células crivadas, nas gimnospermas, são responsáveis pela translocação 28 de açúcares e outras substâncias no floema. Diferente das células condutoras do xilema, as células condutoras do floema são vivas quando funcionais. No entanto, elas não possuem núcleo e vacúolos centrais, e possuem relativamente poucas organelas citoplasmáticas. 5.2 Anatomia dos Órgãos Vegetais No corpo vegetativo de uma planta podemos distinguir três órgãos: folha, caule e raiz (Figura 10). Estudos da anatomia desses órgãos, em cortes transversais, permitem as seguintes observações: a) Folhas As folhas são estruturas tipicamente laminares, presas aos caules através do pecíolo, sendo o principal órgão fotossintetizante. Os locais de inserção de folhas no caule são conhecidas como nó e a região entre dois nós é conhecida como entrenó. A lâmina foliar, também conhecida como limbo, possui uma epiderme superior (adaxial) e uma epiderme inferior (abaxial). Entre as duas epidermes é onde se localizam os tecidos fotossintéticos, conhecidos como mesofilo, que significa meio da folha (Figura 10A). Uma cutícula cerosa cobrindo as duas epidermes, principalmente a adaxial, também é observada. O mesofilo é constituído de células de parênquima, podendo ser distinguido, na maioria das dicotiledôneas, o parênquima paliçádico, uma a três camadas de células alongadas localizadas abaixo da epiderme adaxial, e o parênquima esponjoso, células com formatos irregulares e que permitem a formação de grandes espaços intercelulares (Figura 10A). Nas folhas de monocotiledôneas, não se observa essa distinção. As folhas também possuem uma rede de feixes vasculares (Figura 10A), contendo xilema e floema, que são contínuos, através do pecíolo, com o tecido vascular do caule. Em folhas de dicotiledôneas, observa-se um sistema de feixes (conhecidos como nervuras) interconectados e de diâmetro decrescente, que asseguram o transporte de água e minerais para cada célula fotossintética e a remoção dos produtos da fotossíntese. Em folhas de monocotiledôneas, as nervuras são distribuídas paralelamente ao longo do limbo foliar. OBS: O conjunto de folhas e de caules é conhecido como parte aérea. b) Caules O caule funciona principalmente como suporte e via de transporte, podendo realizar fotossíntese em muitas espécies. Em caules jovens de dicotiledôneas, os feixes vasculares são bem organizados, formando um anel concêntrico em torno de uma medula parenquimática (Figuras 10B e Figura 11). Na maioria das dicotiledôneas, o xilema fica para dentro e o floema para fora. O córtex, também constituído de células parenquimática, se localiza externamente aos feixes vasculares e a epiderme é a camada mais externa. No entanto, o arranjo dos tecidos em caules pode variar consideravelmente, dependendo da idade do órgão e se a espécie é monocotiledônea ou dicotiledônea. Diferentemente dos caules de dicotiledôneas, os caules da maioria das monocotiledôneas, apresentam os tecidos vasculares arranjados em feixes mais ou menos dispersos entre os tecidos de preenchimento (Figura 11). Nestas plantas, torna-se difícil distinguir claramente os limites entre o córtex, os 29 cilindros vasculares e a medula (no centro). Os feixes usualmente contêm fibras (esclerênquima), as quais contribuem para a resistência mecânica destes caules. Por outro lado, em caules mais velhos de dicotiledôneas, que apresentam crescimento secundário, ocorre formação de floema secundário para fora e xilema secundário para dentro, a partir do câmbio vascular. Nestes caules, a epiderme é substituída pela periderme. Figura 10 – Representação do corpo vegetativo primário de uma dicotiledônea. Cortes transversais de uma folha (A), de um caule (B) e de uma raiz (C). (Taiz & Zeiger, 1998) 30 Figura 11 – Diagrama mostrando uma seção transversal de um caule de monocotiledônea (A) e de caule jovem de uma dicotiledônea (B) (Hopkins, 2000) c) Raízes As raízes fixam a planta no solo, absorvem e transportam água e minerais do solo, além de armazenar reservas. Nas raízes de dicotiledôneas podemosdistinguir a raiz principal e inúmeras raízes laterais. Um diagrama de uma seção transversal de uma raiz primária (raiz que apresenta crescimento primário) mostra uma disposição bem diferente daquela observada em caules (Figura 10C e Figura 12). Neste diagrama podemos distinguir, de fora para dentro, as seguintes camadas de células: epiderme, córtex, endoderme e cilindro central (estelo). No cilindro central é que são encontrados os feixes vasculares, sendo que o xilema se localiza mais internamente e o floema mais externamente. Também se observa uma camada de células abaixo da endoderme, conhecida como periciclo, a partir da qual se desenvolvem as raízes laterais. Figura 12 – Diagrama de um corte transversal de uma raiz típica (Hopkins, 2000) 31 Além da atividade do meristema apical, os desenvolvimentos dos caules e do sistema radicular de gimnospermas e de dicotiledôneas dependem, também, da atividade de meristemas laterais (ou secundários). Estes meristemas são o câmbio vascular e o felogênio, os quais vão produzir o crescimento em diâmetro destes órgãos (Figura 13). Muitas monocotiledôneas não formam câmbio vascular, e o pequeno crescimento radial deve-se ao aumento em diâmetro de células não meristemáticas. Figura 13 – Cada anel de crescimento do lenho representa um ano de crescimento. O número de anéis varia de acordo com a distância do solo. (a) Diagrama de uma secção longitudinal mediana do tronco de uma árvore e (b) seções transversais retiradas em diferentes níveis. Uma vez iniciado o crescimento secundário numa dada porção do caule (ou da raiz), esta não mais aumenta em comprimento.( Raven, 2001). Secções transversais de caule (A) e de raiz (B) de Tília (Esaú, 1972). Os números indicam os anéis de crescimento de xilema secundário. No centro da figura A (caule), se observa uma medula rodeada por resquícios de xilema primário. O número 1 na figura B (raiz) representa o xilema primário da raiz. cv = câmbio vascular; r = floema com fibras e raios; Note que o câmbio vascular fica entre o xilema secundário (para dentro) e o floema secundário (para fora). A parte mais externa constitui a periderme. 32 BIBLIOGRAFIA BUCHANAM, B. B., GRUISSEM, W., JONES, R. L. Biochemistry & Molecular Biology of Plants. Rockvile, Maryland: American Society of Plant Physiologists, 2000, 1367p. ESAU, K. Anatomia Vegetal. Barcelona, Espanha, Edicions Omega, 1972. 779p. FAHN, A. Plant Anatomy. 4th ed. Oxford: Pergamon Press, Inc., 1990, 588p. HOPKINS, W. G. Introduction to Plant Physiology. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons, Inc., 2000, 512p. RAVEN, P. H. Biologia Vegetal. 6ª edição. Editora Guanabara Koogan S.A. 2001, 905p. SALISBURY, F. B., ROSS, C. W. Plant Physiology. 4th ed. California: Wadsworth Publishing Company, Inc., 1991, 682p. TAIZ, L., ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. 3ª edição. Editora Artmed, 2004.719p. 33 ESTUDO DIRIGIDO No 01 ASSUNTO: ESTRUTURA E FUNÇÃO DE CÉLULAS, TECIDOS E ÓRGÃOS. 1 – Indique as principais diferenças entre uma célula animal e uma célula vegetal. 2 - Descreva a estrutura da célula vegetal. 3 – Faça uma descrição detalhada sobre a parede celular. Quais as suas funções? 4 – O que você entende por protoplasto? 5 – Indique as funções das seguintes estruturas subcelulares: Plasmalema Núcleo Retículo Endoplasmático Vacúolo Aparelho de Golgi Glioxissomos Mitocôndria Peroxissomos Cloroplasto Oleossomos 6 – Defina simplasto e apoplasto. 7 – Classifique os sistemas de tecidos existentes nas plantas superiores. 8 – Enumere as funções dos órgãos existentes em uma planta. UNIDADE III RELAÇÕES HÍDRICAS 35 HH RELAÇÕES HÍDRICAS INTRODUÇÃO A água executa papéis cruciais na vida da planta. Para cada grama de matéria orgânica feita pela planta, cerca de 500 gramas de água são absorvidas pelas raízes, transportada através do corpo da planta e perdida para a atmosfera. Ela representa de 80 a 95% da massa dos tecidos em crescimento, sendo, portanto, o principal constituinte do protoplasma. É neste ambiente aquoso que as reações metabólicas ocorrem, com a água sendo reagente ou produto de muitas destas reações. A alta capacidade da água de absorver calor (alto calor específico) contribui para que as plantas não sofram tanto com as flutuações de temperatura do ambiente. É também o solvente em que os nutrientes minerais penetram nas raízes e são transportados através da planta e em que os fotoassimilados e outros compostos orgânicos são translocados. A entrada de água na célula é responsável pela manutenção da turgescência e, portanto, do crescimento e, também, pela forma e estrutura dos tecidos que não possuem rigidez. De todos os recursos que a planta necessita para o seu desenvolvimento, a água é o mais abundante e, ao mesmo tempo, o mais limitante para a PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA. Isto torna de grande importância a prática da irrigação, principalmente nas regiões de climas árido e semi-árido. Além disso, a disponibilidade de água também limita a PRODUTIVIDADE DE ECOSSISTEMAS NATURAIS. Assim, o entendimento dos mecanismos de absorção, transporte e perda de água pelas plantas tornam-se muito importante. PARTE I – A ÁGUA E A CÉLULA VEGETAL 1. Estrutura e Propriedades da Água A molécula de água consiste de um átomo de oxigênio covalentemente ligado a dois átomos de hidrogênio. As duas ligações O – H formam um ângulo de 105o (Figura 1). O oxigênio é fortemente eletronegativo e tende a atrair em sua direção os elétrons dos átomos de hidrogênio. Consequentemente, o oxigênio adquire uma carga negativa parcial (δ-), enquanto que os dois átomos de hidrogênio se tornam positivamente carregados (δ+). Esta distribuição assimétrica de cargas, torna a água uma molécula dipolar. Essa separação de cargas positivas e negativas gera uma forte atração mútua entre moléculas de água adjacentes e entre moléculas de água e algumas macromoléculas. Nestes casos, as ligações predominantes são as pontes de hidrogênio. Figura 1 – Diagrama da molécula de água (Taiz & Zeiger, 1998) 36 Muitas das propriedades físicas e químicas da água dependem do arranjo espacial dos átomos de hidrogênio e oxigênio. Algumas serão apresentadas abaixo: a) Temperatura e estado físico A propriedade mais simples e, talvez, a mais importante da água, é que ela é líquida na faixa de temperatura compatível com a vida. Em geral, os pontos de fusão e ebulição se relacionam com o tamanho molecular e, as mudanças de estado físico para pequenas moléculas ocorrem em temperaturas menores do que para as grandes. Isto é observado em algumas moléculas, como amônia e hidrocarbonetos (metano e etano), as quais são agrupadas através das fracas forças de Van der Waals e a energia requerida para mudança de estado é relativamente pequena. Estas moléculas são encontradas como gases em temperaturas ambientes. Com base somente no seu tamanho, era de se esperar que a água também ocorresse na forma de vapor nas temperaturas encontradas na maior parte da terra, o que não ocorre na realidade. Estas diferenças estão associadas à presença do oxigênio na molécula de água, o qual introduz a polaridade e a oportunidade de formação de pontes de hidrogênio. Outras moléculas que contêm oxigênio, como etanol e metanol, também possuem pontos de ebulição próximos ao da água (Tabela 1). Tabela 1 – Algumas propriedades físicas da água e de outras moléculas de similar tamanho molecular
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