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E-BOOK GESTÃO AMBIENTAL III A Crise Ambiental Atual APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem vamos estudar alguns eventos que ocorreram a nível mundial e que influenciaram nas políticas ambientais atuais. Vamos identificar alguns dos principais eventos de poluição que marcaram as últimas décadas e que contribuíram para as mudanças no cenário mundial. Ainda iremos refletir sobre o nosso papel e quais as atitudes que poderíamos adotar para melhorar as condições de vida do nosso planeta. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar os principais eventos de poluição causados pelo homem no meio ambiente;• Reconhecer os principais encontros mundiais que ocorreram para a melhoria da qualidade ambiental; • Definir o papel do homem para a melhoria das condições ambientais.• DESAFIO As alterações causadas pelo homem no meio ambiente resultaram na atual “crise ambiental”, sendo esta uma das questões mais preocupantes na atualidade a nível mundial. Alguns autores consideram que o planeta pode estar chegando em um momento crítico no que se refere ao uso indiscriminado dos recursos naturais, perdurando o dilema se atingimos ou nos aproximamos de um ponto irreversível desse uso. O entendimento comum é de que muitos são os fatores que contribuem para desencadear a presente crise. Com base nos fatores que levam à crise ambiental, descreva dois problemas ambientais enfrentados na sua cidade. De que forma você pode contribuir para a resolução desses problemas e, assim, contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população. INFOGRÁFICO Na figura, podemos nomear alguns dos principais fatores que causam a crise ambiental. CONTEÚDO DO LIVRO Para falarmos de Crise Ambiental, acompanhe o artigo "Crise ambiental: adaptar ou transformar? As diferentes concepções de educação ambiental diante deste dilema" de Vicente Paulo dos Santos Pinto e Rachel Zacarias. Boa leitura. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! DICA DO PROFESSOR Vamos analisar quais os eventos que marcaram as últimas décadas na área ambiental: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Em 1992 aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou somente, Cúpula da Terra, sendo palco para um maior discussão e entendimento acerca da importância da compreensão da dependência entre desenvolvimento e um ambiente equilibrado. Com relação ao tema, marque a alternativa correta: A) A Convenção do clima e da Biodiversidade foram dois dos importantes documentos produzidos durante esse evento. B) A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento teve a participação de 120 nações. C) A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento ficou conhecida também como a ZOO-92. D) A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento produziu somente um documento: a Agenda 21. E) A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento ocorreu na cidade de São Paulo. 2) Após a revolução industrial, o ser humano começou a manipulação de substâncias e materiais. Apesar do enorme desenvolvimento, não havia uma gestão adequada dos resíduos ou mesmo controle de risco de seus sistemas produtivos. E assim, a história da humanidade também é marcada por graves acidentes. De acordo com o assunto, analise as afirmativas a seguir e marque a alternativa correta: I – O acidente de Chernobyl ocorreu em 26 de abril de 1986, na Ucrânia, e devido a falha humana; II - Em 13 de setembro de 1987, em um ferro velho de Goiânia, no Brasil, ocorreu vazamento de petróleo. III – O desastre de Mariana, em Minas Gerais, Brasil, ocorreu em 2016 e causou uma avalanche de rejeitos. A) I e II. B) II e III. C) Apenas a II D) Apenas a I. E) Apenas a III. 3) Distintos encontros dos líderes mundiais foram feitos durante o último século tendo em vista um desenvolvimento mais sustentável. Distintos documentos e acordos foram firmados durante esses encontros. Com relação ao clima, qual foi o maior acordo já firmado ao longo da trajetória desses encontros? A) O documento "Nosso Futuro Comum". B) O livro “Primavera Silenciosa”. C) O relatório “Limites ao crescimento". D) A agenda 21. E) O Protocolo de Quioto. 4) A Conferência de Estocolmo, em 1987, começou a delinear o conceito de desenvolvimento sustentável como resposta à procura de uma forma mais consciente de coexistir. O desenvolvimento da humanidade deve ser pautado por três alicerces, o _______________, o _______________ e o ______________. Marque a alternativa que completa corretamente a assertiva acima, e conforme os alicerces do desenvolvimento sustentável. A) ambiental / justo / tributário. B) ambiental / econômico / social. C) econômico / social / capital. D) Justo / capital / ambiental. E) tributário / social / econômico. A Educação Ambiental é, sem dúvida, um pilar para a busca de soluções para a crise ambiental em que vivemos. Atualmente, existem duas correntes principais da Educação Ambiental, que apresentam visões distintas das ações necessárias à superação da crise: Visão Reformista e Visão Crítica. 5) Analise as afirmações a seguir e assinale as alternativas que correspondem à Visão Reformista: I – A solução da crise requer a transformação da ordem social e do modelo econômico vigente. II – A crise atual se deve, entre outros aspectos, ao desperdício de recursos e à ineficiência na produção. III – Desconsidera mecanismos de compensação (ex: Protocolo de Quioto) como alternativa para atenuação da crise. A) Apenas I. B) Apenas I e III . C) Apenas II. D) Apenas I e II. E) Apenas III. NA PRÁTICA Vamos ver agora um exemplo das consequências que o meio ambiente pode sofrer com a interferência do homem. Caminhando nas ruas de grandes centro urbanos, você teve a sensação de que a temperatura está mais elevada do que indicam os termômetros? As ilhas de calor podem ser percebidas em grandes centros urbanos como: Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Controle da Poluição Para aprofundar os seus conhecimentos sobre a temática em estudo, leia o capítulo "A Crise Ambiental Atual" (páginas 13 a 27). A batalha de Cubatão contra a poluição atmosférica Em 1981, Cubatão, em São Paulo, foi considerada a cidade com a pior qualidade do ar em todo o mundo, e conhecida globalmente como o "Vale da Morte". Acesse o documentário e descubra como Cubatão se tornou o símbolo de recuperação ambiental. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Antropoceno: a Era do colapso ambiental A nossa espécie surgiu e se espalhou pela Terra durante o Pleistoceno, mas foi no Holoceno que nos tornamos o que somos hoje, mais de 7 bilhões de habitantes. E é exatamente por isso que Paul Crutzen ganhou o prêmio Nobel de Química ao afirmar que o mundo entrou em uma nova era geológica, a do ANTROPOCENO, que significa “época da dominação humana”. Acesse e descubra o que isso significa. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A ambientalização das relações de consumo APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, abordaremos as relações entre capitalismo, consumo e meio ambiente. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o consumo, o capitalismo e suas relações com o meio ambiente.• Reconhecer o conceito de desenvolvimento e consumo sustentável.• Indicar as consequências das relações de consumo sobre o meio ambiente.• DESAFIO Um famoso pesquisador, Abraham Maslow, tentou compreender como o ser humano se relaciona com suas necessidades. Para tal, ele fez uma divisão hierárquica, na qual as necessidades de nívelmais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto, visando atingir a sua autorrealização. Esta hierarquia ficou conhecida por pirâmide de Maslow. A pirâmide define um conjunto de cinco necessidades: - Necessidades fisiológicas (básicas), tais como: a fome, a sede, o sono, o abrigo, entre outras. - Necessidades de segurança, tais como: sentir-se seguro em casa, ter emprego estável, ter condições de cuidar da saúde (plano de saúde), entre outras. - Necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos, tais como: pertencer a um grupo, fazer parte de um clube, entre outras. - Necessidades de estima, as quais passam por dois caminhos: o reconhecimento da capacidade pessoal e o reconhecimento dos outros mediante a nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos. - Necessidades de autorrealização, nas quais o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser. Quando refletimos sobre a pirâmide de Maslow e sua relação com o capitalismo e com o consumo, percebe-se que o ser humano sempre almeja mais em função do meio ao qual ele acessa. Quanto maior a satisfação de suas necessidades “básicas” (fisiológicas, de segurança e sociais), maior é a procura por novas necessidades, alimentadas pelo consumismo e pelo status. Logicamente, diante do sistema econômico vigente (capitalismo), o consumo é a base para a geração de renda, pois ele gera produção, a qual gera empregos. Estes, por sua vez, geram renda e, consequentemente, aumentam do consumo. A partir da perspectiva ambiental, como podemos sustentar indefinidamente este consumo? Cabe lembrar que, do ponto de vista ambiental, o consumismo (modo de vida orientado pelo consumo de bens ou serviços calcados na ideia de status que ele pode oferecer – sucesso, felicidade e prazer –, atribuído pelos meios de comunicação de massa) se apresenta como responsável pelos impactos ambientais e suas consequências. Qual seria, então, a solução? Existe outra maneira de se manter o padrão de vida das pessoas e ao mesmo tempo não impactar significativamente o meio ambiente? Veja a definição de desenvolvimento sustentável no link a seguir: O que é desenvolvimento sustentável? Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Consumo Sustentável Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A partir dos conceitos apresentados sobre a pirâmide de Maslow e dos conceitos de desenvolvimento e consumo sustentável, escreva um texto crítico relacionando uma necessidade básica e uma necessidade social da pirâmide de Maslow. Demonstre como podemos atender às necessidades das pessoas e não impactar significativamente o meio ambiente. Procure utilizar os conceitos de desenvolvimento e consumo sustentável. Cite exemplos do dia a dia. INFOGRÁFICO O infográfico a seguir apresenta as relações entre o capitalismo, o consumo e o meio ambiente e suas consequências. CONTEÚDO DO LIVRO Aprofunde seus conhecimentos lendo o capítulo A Ambientalização das Relações de Consumo, do livro Realidade socioeconômica e política brasileira, base teórica para esta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura! REALIDADE SOCIOECONÔMICA E POLÍTICA BRASILEIRA Daniele Fernandes da Silva Revisão técnica: Luciana Bernadete de Oliveira Graduada em Ciências Políticas e Econômicas Especialista em Administração Financeira Mestre em Desenvolvimento Econômico Regional Lilian Martins Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário Gisele Lozada Graduada em Administração de Empresas Especialista em Controladoria e Finanças Alexsander Canaparro da Silva Bacharel em Administração de Empresas MBA em Marketing Práticas Avançadas MBA em Comércio Exterior e Internacional Mestre em Administração Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147 R429 Realidade socioeconômica e política brasileira [recurso eletrônico ] / Daniele Fernandes da Silva... et al.; [revisão técnica: Luciana Bernadete de Oliveira... et al.]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-450-2 1. Economia. I. Silva, Daniele Fernandes da. CDU 338 A ambientalização das relações de consumo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o consumo, o capitalismo e suas relações com o meio ambiente. Reconhecer o conceito de desenvolvimento e consumo sustentável. Indicar as consequências das relações de consumo sobre o meio ambiente. Introdução Neste capítulo, você vai aprofundar-se no estudo da complexa relação entre o consumo e o meio ambiente, vendo o que significa consumo sustentável e analisando as consequências dessa relação. Consumo no capitalismo e os impactos no meio ambiente Desde a era de produção em massa, no início do século XX, estimulada pelo novo modo de produção fordista, as relações de consumo passaram a apresentar uma nova fase. A implementação de linhas de montagem automatizadas na fábrica de automóveis de Henry Ford permitiu que os trabalhadores se especializassem na produção de uma determinada etapa do processo produtivo. A esteira rolante reduzia o tempo de transporte das peças ao longo do processo de produção, de maneira que, com a repetição da mesma tarefa sucessivamente, o trabalhador se tornaria cada vez mais ágil, aumentando a produtividade – a quantidade de bens produzidos por hora aumentou consideravelmente (RIBEIRO, 2015). O uso de máquinas transformou radicalmente a natureza da atividade produtiva: o processo produtivo passou a ser rotinizado com a precisão de um relógio e se esperava que tudo acontecesse com precisão no modo e no tempo Realidade_Socioeconomico_Book.indb 307 13/06/2018 13:29:40 esperados. Assim, “as máquinas levaram” as organizações a se adaptarem às suas exigências e o processo mecanizado passou a ditar as relações e o modo como as pessoas se comunicam. Contudo, o processo de produção vigente apresentava uma visão autoritária de Ford, que tinha grande controle sobre os trabalhadores tanto durante quanto após a jornada de trabalho. Isso se justificava pela necessidade de garantir a resistência física dos trabalhadores, uma vez que se tratava de um processo de produção intensivo. Porém, essa metodologia gerava insatisfação da classe trabalhadora, tornando-se um ponto negativo para os resultados que Ford esperava. Assim, uma das formas que o empresário encontrou para estimular a adesão dos trabalhadores foi o aumento dos salários, que passaram a ser dos maiores entre as grandes empresas da época. Ford identificou que era preciso satisfazer necessidades dos trabalhadores para que eles interagissem melhor com a empresa (RIBEIRO, 2015). A produção aumentou significativamente e, mesmo com maiores custos devido ao pagamento de maiores salários aos trabalhadores, bem como uma quantidade de horas de trabalho diárias inferior, a lucratividade passou a crescer consideravelmente com o novo método de gestão de Ford. Assim, o sucesso desse modo de produção capitalista, em que o crescimento da riqueza é resultado da exploração da força de trabalho, disseminou-se pelo país e pelo mundo. A partir do início do século XX, a produção em massa da indústria norte- -americana, junto a maiores ganhos salariais, oferecia à sociedade maior poder aquisitivo e maior quantidade de bens a preços mais acessíveis. Novas necessi- dades de consumo passavam a ser criadas pelas empresas, estimulando ainda mais o consumo; surgia uma nova mentalidade na sociedade norte americana. A população passava a objetivar melhores condições de vida, introduzindo em seus planos a aquisição da casa própria e do carro, que anteriormente eram considerados bens de luxo, ao alcance de poucos indivíduos (RIBEIRO, 2015). Os desejos dos consumidores passaram a ser moldados pela cultura de uma sociedade capitalista e o que em tempos antigos era considerado necessidade, passou a ser confundido com desejo. Por exemplo, para alguém que tivesse sede, um copo de água seriao ideal; em uma sociedade capitalista, para satis- fazer a sede, passa-se a desejar um copo de suco ou refrigerante (conforme a característica de cada pessoa). Nota-se que desejo e necessidade passam a ser confundidos entre a população: de acordo com Sandroni (2005), a necessidade é a exigência individual ou social que deve ser satisfeita por meio do consumo de bens e serviços. O desejo, segundo Jales (2017), é a vontade de comprar aquilo que se quer (não o que se precisa). A ambientalização das relações de consumo308 Realidade_Socioeconomico_Book.indb 308 13/06/2018 13:29:40 As necessidades não são apenas fisiológicas, como representa a Figura 1, pois envolvem também questões psicológicas e relacionadas às condições básicas de vida. Figura 1. As necessidades humanas. Fonte: Andreasi (2011, documento on-line). A pirâmide de Maslow, criada em meados dos anos 1950 pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow, é uma representação de que as necessidades humanas ultrapassam a esfera biológica. A teoria de Maslow organizou essas necessidades em uma pirâmide, na qual, na base, encontram-se as necessi- dades mais básicas, relacionadas à sobrevivência do indivíduo, como água e comida, e, no topo, as mais complexas, envolvendo a autorrealização, como o desenvolvimento pessoal e o talento (REZ, 2016). Desse modo, sabendo que as necessidades das pessoas não se resumem apenas a itens relacionados à própria sobrevivência, com o tempo, as empre- sas passaram a adquirir cada vez mais espaços publicitários para conquistar a atenção dos consumidores. Porém, diante de tamanha concorrência nos anúncios, tornou-se difícil para uma marca se destacar entre as outras, o que refletiu a menor eficácia da propaganda tradicional. Para chamar e reter a atenção das pessoas, os anunciantes identificaram que era preciso oferecer algo que se destacasse em todos os veículos de co- 309A ambientalização das relações de consumo Realidade_Socioeconomico_Book.indb 309 13/06/2018 13:29:41 municação: intervalo de televisão, outdoor, revista, ônibus, metrô, mensagens no celular, e-mail e redes sociais. Assim, o estímulo diário da propaganda sobre os desejos das pessoas torna insaciável o consumo na sociedade. A questão que se levanta, nesse sentido, é o impacto da aceleração do consumo sobre o meio ambiente, pois os recursos para a produção dos bens e serviços são escassos e se confrontam com as necessidades e desejos humanos, que são ilimitados e renascem diariamente. Um adicional a essa pressão é o crescimento populacional e o aumento dos padrões de vida, que aumentam o consumo absoluto e a pressão sobre a utili- zação dos recursos escassos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014). Alguns países já começaram a alertar a população em relação à utilização racional dos recursos disponíveis, em especial aos métodos de produção das indústrias, que podem provocar degradação do meio ambiente (ar, solo, rios, por exemplo). Assim, cada vez mais, a satisfação do consumidor e a opinião pública passaram a estar diretamente ligadas à participação das organizações em causas sociais, e a responsabilidade social transformou-se numa vantagem competitiva por parte das empresas (LEITE et al., 2007). Desenvolvimento e consumo sustentável O modo de produção capitalista, iniciado no século XX, tem como característica principal o acúmulo de riquezas por parte dos donos dos meios de produção e a exploração da força de trabalho. A produção em massa, resultado da mecanização dos processos de produção, permitiu, também, o consumo em massa: a maior quantidade de bens a preços mais populares representou um avanço no desenvolvimento econômico. Desenvolvimento econômico se distingue de crescimento econômico: o primeiro está relacionado a questões qualitativas, ou seja, se o aumento de riquezas está sendo distribuído de forma igualitária entre os indivíduos daquela sociedade, gerando bem-estar – são exemplos de itens que provo- cam aumento da qualidade de vida. Para Vasconcellos e Garcia (2014), o crescimento econômico se refere à geração de riquezas em um país em um determinado período – um país ser rico não significa que é desenvolvido, e vice-versa. O crescimento é um dos principais objetivos dos governos em todos os países do planeta, portanto, é inevitável que aconteça. Em alguns casos, o crescimento ocorre de modo mais lento e, em outros, mais acelerado, mas o importante é criar uma estrutura para suportá-lo e supri-lo de forma sustentável. Isso significa dizer que, com o aumento da produção de bens e A ambientalização das relações de consumo310 Realidade_Socioeconomico_Book.indb 310 13/06/2018 13:29:41 serviços, é preciso dar importância às atitudes relacionadas à utilização dos recursos do meio ambiente. Em relação ao consumidor, a sua tarefa está no consumo consciente, para que a agressão ao meio ambiente seja minimizada ou zerada (ARAÚJO et al., 2006). Estimular o consumo significa aumento de produção, geração de empregos e renda, crescimento e desenvolvimento. Assim, dado que o consumo de bens é um dos itens que representa crescimento com desenvolvimento, configura- -se como um elemento fundamental nas políticas econômicas dos governos, mas gera preocupações em relação aos impactos no meio ambiente, pois os recursos naturais são limitados. A ameaça de escassez dos recursos disponíveis, tanto para a produção de bens e de serviços quanto para o próprio consumo direto, tem recebido grande atenção por parte dos governos e da população. O consumo e a utilização racional dos recursos permitem que o desenvolvimento seja sustentável, ou seja, que possa ser usufruído pelas gerações futuras – daí surge a ideia do capitalismo sustentável. A sustentabilidade pode ser econômica, social e ambiental, mas todas se preocupam com a utilização dos recursos existentes de forma racional, para manter a subsistência das próximas gerações, confi- gurando uma preocupação de longo prazo (BRASIL, 2005). Para Philippi (2001), sustentabilidade é a capacidade de se autossustentar, de se automanter. Quando se realiza uma atividade sustentável qualquer, isso significa que a mesma pode ser mantida por um período indeterminado de tempo. Uma sociedade sustentável é aquela que não coloca em risco os recursos naturais necessários para a vida do ser humano, não comprometendo a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades. O meio ambiente é motivo de preocupação, principalmente, desde as últimas décadas do século XX, quando passou a fazer parte da agenda dos governos de vários países, bem como dos diversos segmentos da sociedade civil or- ganizada. Os dados revelam que os problemas ambientais têm se agravado com as atividades produtivas e com o consumismo nas sociedades. A partir da Revolução Industrial, com a possibilidade de produção em grande escala e, posteriormente, com a produção em massa, permitida pela introdução da linha de montagem automatizada por Henry Ford, no século XX, a poluição no planeta se agravou (BRASIL, 2005). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2005), o modelo atual de desenvolvimento econômico vem gerando enormes desequilíbrios sociais. O mundo vem apresentando elevados níveis de crescimento econô- mico, ou seja, de geração de riqueza, ao mesmo tempo em que se registra o crescimento da miséria, da degradação do meio ambiente e o aumento da 311A ambientalização das relações de consumo Realidade_Socioeconomico_Book.indb 311 13/06/2018 13:29:41 poluição do planeta. Daí a importância do desenvolvimento sustentável, que surge como uma forma de reduzir as desigualdades existentes, bem como de dar continuidade às atividades que são essenciais para a vida humana. Foi na década de 1970 que assuntos relacionados ao desenvolvimento sustentável surgiram pela primeira vez, sendo chamados, na época, de ecodesenvolvimento. O link a seguir apresenta melhor esse conceito. https://goo.gl/Qgd7eb Segundo o Ministério do Meio Ambiente(BRASIL, 2005), quando surgiu a preocupação com o meio ambiente e a relação do mesmo com a busca pelo desenvolvimento econômico nos diversos países, podia-se observar duas visões: Os possibilistas culturais (ou “tecnocêntricos” radicais): os possibi- listas culturais defendiam que os benefícios gerados pelo crescimento econômico eram maiores do que os custos do impacto sobre o meio ambiente. Tais benefícios se resumem na eliminação das desigualdades sociais na medida em que o crescimento econômico é alcançado, o que constituía, para esses indivíduos, um bem maior quando comparado aos impactos desse crescimento sobre as condições ambientais. Deterministas geográficos (ou “ecocêntricos” radicais): os determi- nistas geográficos apresentavam uma preocupação máxima em relação às condições ambientais, que sofriam grandes ameaças com a aceleração do crescimento econômico. Para os mesmos, os limites do meio ambiente são tamanhos que a humanidade estaria próxima de uma catástrofe. Isso porque o crescimento econômico observado nas diversas regiões do planeta exigia a expansão da utilização dos recursos naturais que são limitados, levando-os ao esgotamento, ao mesmo tempo em que os níveis de poluição aumentavam significativamente. Assim, o ecodesenvolvimento surge como uma proposição conciliadora entre o crescimento e os limites do meio ambiente, pois o relatório The limits to growth (“Os limites do crescimento”), publicado em 1972, alertou sobre a situação potencial do planeta, por meio da apresentação de cenários catas- A ambientalização das relações de consumo312 Realidade_Socioeconomico_Book.indb 312 13/06/2018 13:29:41 tróficos, caso o padrão de desenvolvimento utilizado na época continuasse. Nesse sentido, o crescimento econômico estava limitado à capacidade dos recursos naturais (BRASIL, 2005). Para os ecocêntricos radicais, o crescimento se constituía em um processo relevante para o progresso, mas não absoluto na erradicação da pobreza e das disparidades sociais. Havia a necessidade de se conquistar um equilíbrio global, estando-se atento aos limites do crescimento populacional, ao modo com o que os países menos desenvolvidos buscavam o crescimento e desen- volvimento econômico e, principalmente, aos impactos das ações do homem no meio ambiente. Desde então, outros relatórios passaram a alertar sobre a necessidade de mudança no padrão de desenvolvimento que vigorava nos diversos países do mundo. Assim, surge a necessidade de intervenção e o direcionamento do desenvolvimento econômico, de forma a conciliar os níveis de crescimento econômico com o uso prudente dos recursos naturais. Cabe à entidade su- perior, o Estado, agir no sentido de estimular um consumo sustentável, com base na criação de leis e na fiscalização adequada do cumprimento das regras estabelecidas. É na década de 1980 que o conceito de desenvolvimento sustentável surge, a partir do relatório Our common future (“Nosso futuro comum”), que também ficou conhecido como Relatório de Brundtland. Esse relatório foi divulgado pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983, apresentando de forma detalhada os desafios a serem enfrentados pelos diversos países, bem como os esforços a serem realizados por todos em relação à paz, à segurança, ao desenvolvimento e ao meio ambiente (BRASIL, 2005). Nesse relatório, encontram-se: [...] estratégias ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 e daí em diante; [...] maneiras para que a preocupação com o meio ambiente se traduza em maior cooperação entre os países em desenvolvimento e entre países em estágios diferentes de de- senvolvimento econômico e social e leve à consecução de objetivos comuns e interligados que considerem as inter-relações de pessoas, recursos, meio ambiente e desenvolvimento; [...] meios e maneiras pelos quais a comunidade internacional possa lidar mais eficientemente com as preocupações de cunho ambiental; [...] noções comuns relativas a questões ambientais de longo prazo e os esforços necessários para tratar com êxito os problemas da proteção e da melhoria do meio ambiente, uma agenda de longo prazo para ser posta em prática nos próximos decênios e os objetivos a que aspira a comunidade mundial (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESEN- VOLVIMENTO, 1991, apud LAYRARGUES, 1998, p. 143-144). 313A ambientalização das relações de consumo Realidade_Socioeconomico_Book.indb 313 13/06/2018 13:29:41 A evolução do conceito de ecodesenvolvimento para o de desenvolvi- mento sustentável foi resultado da maior abrangência deste último e da ligação entre o crescimento econômico e as relações com o meio ambiente no longo prazo: [...] o fator diferenciador entre ecodesenvolvimento e desenvolvimento sus- tentável reside a favor deste último quanto à sua dimensão, globalizante, tanto desde o lado do questionamento dos problemas ambientais como da ótica das reações e soluções formuladas pela sociedade. Ele não se refere especi- ficamente ao problema limitado de adequações ecológicas de um processo social, mas a uma estratégia para a sociedade que deve levar em conta tanto a viabilidade econômica quanto a ecológica. Num sentido abrangente, a noção de que a sustentabilidade leva à necessária redefinição das relações sociedades humanas/natureza, portanto, a uma mudança substancial do próprio processo civilizatório, introduzindo o desafio de pensar a passagem do conceito para ação (OLIVEIRA FILHO, 2004, p. 8). Para Vasconcellos e Garcia (2014), se as necessidades a serem supridas se limitassem à esfera biológica, seria possível dizer que a quantidade de bens disponível seria suficiente, solucionando o problema da escassez. Contudo, as ilimitadas necessidades se expandem para fora da esfera biológica da so- brevivência. Além disso: as necessidades se renovam diariamente, exigindo o contínuo suprimento dos bens para atendê-las; enfrentamos a constante criação de novos desejos e necessidades mo- tivados pela perspectiva de aumento do nível vida. Observando que a necessidade abrange tanto a esfera biológica quanto a psicológica, a sua satisfação, bem como a dos desejos humanos, está muito longe de ser alcançada. Isso ocorre tanto em economias mais desenvolvidas quanto em vias de desenvolvimento – o resultado disso é que o problema de escassez se renova (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014). Com o passar do tempo e com a influência do Estado e das atitudes or- ganizacionais sobre os impactos no meio ambiente, os indivíduos passaram a se dar conta da necessidade do uso consciente dos recursos da natureza, uma vez que eles são escassos e podem se esgotar. Assim, a noção de que A ambientalização das relações de consumo314 Realidade_Socioeconomico_Book.indb 314 13/06/2018 13:29:41 o desenvolvimento econômico deve ser sustentável se dissemina entre os diversos países do planeta. O consumo e o meio ambiente Os danos ambientais provocados pelas indústrias para atender ao consumismo existente estão entre as grandes preocupações que envolvem tanto os políticos quanto a população em geral. O modelo de produção industrial em massa, para atender o consumo em massa, inicialmente levou as empresas a deixarem de lado as preocupações com os impactos na natureza, que se encontram entre as externalidades negativas de sua atuação – o grande objetivo era a acumulação de riquezas. Quando uma transação econômica resulta em custos ou benefícios para terceiros, ocorre uma externalidade negativa ou positiva (respectivamente). Se essas externa- lidades resultarem em benefícios, chamamos isso de externalidade positiva; se os impactos provocarem custos ou prejuízos, estaremos diante de uma externalidade negativa (SANDRONI, 2005). As ameaças ao meio ambiente e as pressões de organismos não governa- mentais ligados ao meio ambiente influenciaram a legislação e o surgimento voluntário de novas condutas ambientais por parte dos indivíduose também dos setores industriais. Todas essas questões modificaram a rotina das orga- nizações, as quais passaram a adequar os seus processos de produção e de prestação de serviços às novas regras e à nova visão dos consumidores em relação às questões ambientais. Os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre suas próprias atitudes, que podem impactar o meio ambiente, e têm se tornado mais exi- gentes com relação à atuação das empresas nas questões sociais e ambientais – muitos indivíduos acabam priorizando os produtos de empresas que estão comprometidas com a questão ambiental. 315A ambientalização das relações de consumo Realidade_Socioeconomico_Book.indb 315 13/06/2018 13:29:41 Posto isso, a imagem das empresas em relação à sua participação nas questões sociais e ambientais passou a ser fundamental nos seus planeja- mentos estratégicos. A adoção de novas posturas entre os administradores e empresários os levou a adequar os processos às novas exigências impostas pela sociedade: minimizar ou zerar os impactos das atividades sobre o meio ambiente passou a ser um diferencial na conquista de maiores fatias de mercado. A inserção em novos mercados também passou a exigir que as empresas sejam ecologicamente corretas. Dentre as atitudes das empresas em relação à sustentabilidade ambiental, destaca-se adequar a estrutura, assim como os colaboradores em geral e os parceiros comerciais para que também sejam responsáveis pela questão da sustentabilidade. Isso permite que se efetive o objetivo da empresa de minimizar os impactos ambientais de suas atividades. São exemplos simples de medidas sustentáveis que podem ser realizadas nas organizações, segundo Grisotto (2015): economia no uso da energia elétrica; utilização racional dos materiais de expediente; redução no uso de materiais descartáveis; prática de reuso, reciclagem ou renovação de recursos. O envolvimento de todos os colaboradores contribui para que as práticas sustentáveis se multipliquem dentro e fora da organização. Segundo Marques (2009), as organizações têm forte influência sobre o ambiente político social no desempenho das suas atividades, assumindo novas responsabilidades nesse âmbito. Além da melhora na imagem da empresa no mercado, as práticas sustentáveis podem influenciar o aumento da lucratividade, uma vez que ampliam o leque de consumidores que se preocupam com as ques- tões ambientais. O consumidor que opta por produtos e serviços de empresas que realizam práticas sustentáveis acaba sendo um consumidor consciente que também rea- liza o seu papel em relação à sustentabilidade ambiental. Uma das estratégias utilizadas pelas organizações para conquistar esse tipo de clientela é o chamado “marketing verde”, voltado ao processo de venda de produtos e serviços que apresentam benefícios ao meio ambiente. É uma estratégia de vinculação A ambientalização das relações de consumo316 Realidade_Socioeconomico_Book.indb 316 13/06/2018 13:29:41 de marca, produto ou serviço a uma imagem ecologicamente consciente, de uma empresa que faz sua parte perante a sociedade, ou seja, uma empresa ecologicamente consciente (OLIVEIRA et al., 2015). A empresa brasileira Natura é um exemplo de organização que apresenta uma forte imagem no mercado relacionada à preocupação com o meio am- biente. Desde o surgimento da empresa, na década de 1950, a questão de sustentabilidade está presente nas suas práticas, que permanecem até os dias atuais, sendo o seu grande diferencial (TERRA, 2009). Apesar de ser uma preocupação mais atual na sociedade, a questão da sustentabilidade sempre foi utilizada nas estratégias de marketing da Na- tura. Atualmente, a empresa apresenta-se engajada nas causas sustentáveis e, desde 2005, faz parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). O reconhecimento de suas práticas em relação ao uso sustentável da biodiver- sidade brasileira ocorre tanto no Brasil quanto no exterior (CARVALHO; BARBIERI, 2012). A influência das atitudes da Natura sobre a sociedade inicia no controle das práticas sustentáveis dos próprios fornecedores. São diversas as estra- tégias adotadas com foco sua cadeia de suprimentos; os seus fornecedores, por exemplo: São induzidos a passar por processos de autoavaliação em relação à qualidade, ao meio ambiente e à responsabilidade social. Passam por programas de capacitação de fornecedores para elaboração de relatórios de sustentabilidade e quantificação e gestão de emissões de gases de efeito estufa (CARVALHO; BARBIERI, 2012). Em relação aos próprios produtos: Algumas linhas apresentam o uso de tecnologias limpas, as quais re- duzem os impactos ambientais ao longo da cadeia produtiva. Existe um direcionador específico em relação às fórmulas dos produtos da empresa, de modo a evitar a utilização de matérias-primas de origem animal, mineral ou sintética em prol das alternativas de origem vegetal. Com isso, a empresa busca reduzir os efeitos negativos do processo produtivo em todo o ciclo de vida do produto. 317A ambientalização das relações de consumo Realidade_Socioeconomico_Book.indb 317 13/06/2018 13:29:41 Em 2008, a Natura implementou o Programa de Certificação de Ingredientes, de modo a garantir que os insumos utilizados como matéria-prima no processo de produção sejam extraídos de maneira sustentável, bem como promovam o desenvolvimento social das comunidades extrativistas. O principal exemplo do caso Natura é que é possível adotar inovações que gerem benefícios sociais e ambientais ao longo de uma cadeia produtiva completa (CARVALHO; BARBIERI, 2012). A empresa Faber-Castell, líder mundial na fabricação de lápis de madeira reflorestada, é outro exemplo de organização que realiza práticas sustentáveis. A fabricação dos lápis, chamados de EcoLápis, é realizada com 100% de madeira reflorestada. Além disso, existe um total aproveitamento da madeira e dos seus subprodutos que não são utilizados na fabricação do EcoLápis e que são direcionados, por exemplo, para a geração de energia, como substrato orgânico para plantas, para a fabricação de chapas de aglomerado e em granjas de criação de frangos. A empresa assumiu um compromisso com a sociedade e o meio ambiente que se estende a projetos socio- ambientais para despertar a consciência da comunidade em relação à importância de cuidar do ambiente natural, além de oferecer oportunidade para que crianças em situação de desigualdade social desenvolvam sua criatividade (FABER CASTELL, 2018). ANDREASI, D. Consumismo x pirâmide de Maslow: uma outra visão da teoria. [S.l.]: Jovem Administrador, 2011. Disponível em: <http://jovemadministrador.com.br/ consumismo--x-piramide-de-maslow-uma-outra-visao-da-teoria/>. Acesso em: 10 jan. 2018. ARAÚJO, G. C. et al. Sustentabilidade Empresarial: conceito e indicadores. 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Disponível em: <http://educacao.faber-castell.com.br/conheca- -a-faber-castell/sustentabilidade/>. Acesso em: 11 abr. 2018. A ambientalização das relações de consumo320 Realidade_Socioeconomico_Book.indb 320 13/06/2018 13:29:42 DICA DO PROFESSOR Apresenta-se no vídeo uma reflexão sobre a ambientalização das relações de consumo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) No livro Consumo sustentável, destaca-se que os bens, em todas as culturas, funcionam como manifestação concreta dos valores e da posição social de seus proprietários. Analisando o conceito de consumismo, leia as afirmativas abaixo e defina qual delas mais se encaixa em tal conceito: A) O consumismo é o modo de vida orientado pelo consumo de bens ou serviços calcados na ideia de status que ele pode oferecer (sucesso, felicidade, prazer), atribuído pelos meios de comunicação de massa. B) O consumismo não envolve a mudança de hábitos e nem a replicação de valores da sociedade. C) O consumismo mostra algo ligado aos desejos da pessoa, independente da sociedade e do grupo a qual pertence. D) O consumismo foca produtos locais desprovidos de marcas valorizadas pela sociedade, sem utilizar meios de propaganda de massa e de marketing, favorecendo o consumo mais consciente. E) A felicidade e a qualidade de vida estão intimamente ligadas a conceitos coletivos e altruístas, sempre se pensando no bem coletivo e na consciência do cidadão. Várias são as estratégias que foram surgindo em função da maior conscientização 2) sobre o nosso papel de consumidor em relação ao meio ambiente. Entre as estratégias que surgiram, o consumo verde: A) mostra-se como aquele que busca a qualidade e o preço, refletindo sobre o processo de produção mais limpo do produto, a partir da escolha de produtos e serviços que poluam menos o ambiente (através de seu ciclo de vida). B) revela que o consumidor verde não está preocupado em reduzir os problemas ambientais, e sim em demonstrar status de poder comprar produtos mais caros. C) não possui limitações. D) mostra que muitas empresas, em função da questão ambiental, passaram a mapear o consumo das populações de menor renda, as quais se apresentam como um nicho de mercado interessante para os produtos verdes. E) destaca uma preocupação por parte das pessoas, do governo e das empresas de diminuir a desigualdade ao acesso aos bens ambientalmente corretos, abaixando os preços de tais produtos para que as classes mais pobres possam consumi-los. 3) Refletindo sobre o conceito de consumo sustentável, que está além de consumir produtos “verdes”, do tipo de tecnologia existente nos produtos e do comportamento individual de consumo, marque a alternativa correta acerca do conceito de consumo sustentável: A) Comprar o que é realmente necessário, estendendo a vida útil do produto o quanto for possível e descartando-o de maneira correta, considerando também o incremento de políticas públicas de inserção de todas as classes sociais em um patamar igualitário de escolha de produtos. B) O desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. C) O modo de vida orientado pelo consumo de bens ou serviços calcados na ideia de status que ele pode oferecer (sucesso, felicidade, prazer), atribuído pelos meios de comunicação de massa. D) O modelo de produção no qual se desenvolve, fabrica-se e distribui-se um produto para consumo de forma que este se torne obsoleto ou não funcional, em um tempo programado, sem perder a confiança do consumidor na marca, visando forçá-lo a comprar um novo produto. E) Um modelo de consumo que valoriza o produto ambientalmente correto, não importando a forma como podemos acessá-lo. É um estilo de vida individual. 4) Leia atentamente as afirmativas a seguir e escolha a que descreve CORRETAMENTE as características das relações entre consumo e cidadania. A) Consumo e cidadania não podem ser pensados de forma conjunta e inseparável. B) O exercício da cidadania pode ser desvinculado do consumo. C) O consumo é uma apropriação coletiva de objetos que nos passam status e satisfação biológica e tem relação direta com a cidadania. D) O consumo está diretamente regulado pela cidadania e pelo pensamento de comunidade. E) O consumidor não deve ser crítico, devendo se ater aos desejos individualistas e esquecer- se das pessoas e de suas comunidades. 5) Sobre a politização das relações de consumo, leia atentamente as afirmativas a seguir e escolha a que condiz com seus conceitos e práticas. É aquela política que busca ações em todos os locais, visando integrar o máximo de A) pessoas para que elas entendam as relações de consumo e sejam cidadãs mais conscientes. B) Uma das respostas políticas para a percepção da exploração e das desigualdades nas relações de consumo deve ser a tentativa de fomentar a exploração, aumentando a proporção do consumo realizado dentro do mercado convencional. C) A soberania do consumidor deve se ater a sua própria vontade, esquecendo-se das questões políticas, sociais e ambientais que o cercam.D) O movimento dos consumidores não utiliza estratégias de boicote, cooperativas, rotulagens, entre outras, pois busca identificar, cada vez mais, produtos estilizados e que deem cada vez mais status. E) O consumidor deve estar consciente de sua posição, se politizar na defesa das forças do mercado e visar produtos com menores preços, independente das consequências ligadas às questões ambientais. NA PRÁTICA A seguir, veremos as relações de consumo, suas características e suas consequências, a partir da apresentação do ciclo de vida como uma das ferramentas para um consumo sustentável e consciente. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Avaliação de ciclo de vida Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Ciclo da lata de alumínio Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A história das coisas (versão brasileira) Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Desenvolvimento sustentável APRESENTAÇÃO A preocupação com o meio ambiente tem ganhado cada vez mais força. Para as empresas que pretendem se destacar no mercado, não basta gerar lucro e crescer. Agora, como diferencial, elas precisam se destacar em sua forma de gestão e posicionamento frente às questões ambientais. Distintas correntes de pensamento econômico foram propostas ao longo da história para incluir as questões ambientais. Concomitantemente, nasce um conceito-chave, o desenvolvimento sustentável, que não vai contra o crescimento econômico, porém esse deve ser comprometido com a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social, além de garantir às gerações futuras acesso às matérias-primas e a um ambiente de qualidade. O desafio é grande. Será que você está preparado? Não basta ser radical. É preciso pensar e propor soluções. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai saber a diferença entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico sustentável, conhecer as principais correntes do pensamento econômico que integram as questões ambientais, bem como reconhecer os tipos de ambientalismo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar crescimento econômico de desenvolvimento econômico e sustentável.• Reconhecer as principais vertentes econômicas que abordam os problemas ambientais.• Identificar as características principais do ambientalismo e do ambientalismo radical.• DESAFIO Durante muitos anos, a humanidade utilizou os recursos naturais para promover o seu desenvolvimento sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. Rios foram poluídos, solos foram contaminados e o ar, por vezes, ficou irrespirável, trazendo enormes prejuízos ao meio ambiente e também à saúde das pessoas. No entanto, estamos mudando. Luciano, gestor ambiental, acaba de ser contratado por uma consultoria para atuar no assessoramento ambiental dentro das empresas. Em seu primeiro processo, precisa vistoriar uma oficina mecânica para o atendimento de condicionantes de licença ambiental. Chegando ao local, Luciano se depara com um ambiente de aspecto sujo, com manchas de óleo pelo piso, peças jogadas pelos cantos e tonel com óleo direto no piso. Além disso, constatou que os funcionários, moradores do entorno da oficina, estavam sujos e sem o devido equipamento de segurança, e o dono do estabelecimento reclamava do processo e das exigências por parte do órgão ambiental, bem como do baixo fluxo de clientes. Luciano, então, propôs ao dono do estabelecimento uma mudança completa na oficina, baseada na limpeza do local, na renovação de pintura, na colocação de caixa de madeira para estocagem de peças com óleo, no treinamento e no acompanhamento dos funcionários. O objetivo foi obter mais qualidade de vida e atividade, bem como local adequado para a colocação do tonel, assegurando que essas ações, além de atenderem às exigências do órgão ambiental, fariam a oficina crescer economicamente. As mudanças foram feitas na oficina e, de fato, a clientela retornou ao local. Luciano acabou ganhando uma promoção pela sua atuação nesse processo. Agora, seu desafio será compreender por que Luciano se saiu tão bem nesse trabalho. Analise o case colocado e avalie o posicionamento de Luciano. Para tanto, responda: 1. Levando em consideração o desenvolvimento sustentável, por que você acha que Luciano teve êxito nesse processo? 2. Luciano poderia ser enquadrado em algum tipo de ambientalismo? Justifique. INFOGRÁFICO A sociedade humana depende dos recursos naturais. Extraímos tudo do meio ambiente para transformar e produzir os bens de consumo de que necessitamos. No entanto, nossa economia pouco discutiu e incluiu essa relação estreita entre o desenvolvimento econômico e as questões ambientais. Não obstante, e considerando que se trata de uma discussão muito mais profunda da civilização humana que a econômica, nasceu o conceito de desenvolvimento sustentável e que tem moldado muito a gestão mundial pública e privada. Vamos, agora, neste Infográfico, conhecer as principais vertentes do pensamento econômico que integram as questões ambientais. Atente também para os principais eventos que deram origem a esse importante conceito. Seguimos, então, rumo ao desenvolvimento mais sustentável para a humanidade. CONTEÚDO DO LIVRO Desenvolvimento sustentável é um assunto que está em alta, sendo amplamente discutido na mídia mundial. De modo geral, a sustentabilidade visa garantir um equilíbrio entre a economia, a sociedade e o ambiente, a fim de diminuir os impactos ambientais, e desta forma, deixar para as gerações futuras um ambiente mais limpo. Falando dessa forma, parece fácil implantar a sustentabilidade, mas na prática, nem sempre isto se torna fácil. Muitas vezes empresas e governos resistem em adotar formas de diminuir os impactos ambientais, pois muitas vezes os custos financeiros são elevados. Muitas empresas estão preocupadas apenas com o desenvolvimento econômico, não havendo uma real preocupação com as questões ambientais e/ou sociais. Para saber mais a respeito desse assunto, leia o capítulo titulado Desenvolvimento sustentável da obra Gestão Ambiental, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. GESTÃO AMBIENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Diferenciar crescimento econômico de desenvolvimento econômico sus- tentável. > Reconhecer as principais vertentes econômicas que abordam os problemas ambientais. > Identificar as características principais do ambientalismo e do ambienta- lismo radical. Introdução O objetivo geral da gestão ambiental em empresas é fazer com que cada uma delas obtenha lucros, mas evitando ou mitigando os impactos ao meio ambiente, otimizando o uso de matérias-primas e reduzindo os resíduos gerados. Dessa forma, as empresas buscam promover o desenvolvimento sustentável, pelo qual obtêm crescimento econômico, mas sem comprometer a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social, fazendo com que as gerações futuras tenham acesso a um ambiente equilibrado. O primeiro passo para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado é reconhecer que os recursos naturais são finitos. Neste capítulo, você conhecerá as condições necessárias para um crescimento econômico sustentável, bem como as ferramentas e conhecimentos de que as empresas dispõem para colocá-lo em prática e ainda assim garantir seus lucros. Por fim, verá a importância do ambientalismo e suas diversas formas de manifestação. Desenvolvimento sustentável Ronei Tiago Stein Crescimento econômico versus desenvolvimento econômico sustentável O aumento da população mundial ao longo da história exige áreas cada vez maiores para a produção de alimentos, bem como técnicas de cultivo que aumentem a produtividade da terra. Florestas cedem lugar a lavouras e criações, espécies animais e vegetais são domesticadas, muitas extintas eoutras, ao perderem seus predadores naturais, multiplicam-se acelerada- mente, afetando toda a cadeia alimentar (ALMEIDA, 2007). Há séculos, o ser humano vem retirando matérias-primas do ambiente, para promover seu sustento e desenvolvimento. Em troca, ele devolve poluição, contaminação e degradação ao ambiente, provocando enormes impactos. Conforme ressalta Schwanke (2013), esse modelo é denominado sistema aberto, e está baseado nas seguintes premissas: � suprimento inesgotável de energia; � suprimento inesgotáveĺ de matéria; � capacidade infinita do meio de reciclar matéria e absorver energia. Infelizmente, muitas pessoas, empresas e alguns governos ainda possuem essa errônea ideia de que a energia e a matéria são inesgotáveis. Sob essa premissa, o ambiente acaba sendo deixado totalmente de lado, havendo apenas e unicamente a preocupação com o crescimento da economia. Esses agentes não estão preocupados com a causa ambiental, fazendo apenas o estritamente necessário em relação ao ambiente. Ou seja, o lucro é o único objetivo do crescimento econômico, não importando como exatamente será obtido, quais as consequências ambientais para obtê-lo e quais efeitos que a sociedade irá enfrentar. Por outro lado, Schwanke (2013) menciona que cada vez mais a questão ambiental vem se tornando uma realidade para os diversos setores da so- ciedade (indústrias, governos, população), com a conscientização de que o acúmulo de resíduos, desmatamentos, queimadas e outras formas de degradação ambiental podem trazer graves consequências para a saúde, para a qualidade ambiental e para a própria imagem dos agentes envolvidos. No setor produtivo, esses valores foram gradativamente incorporados com ações no sentido da utilização racional dos recursos naturais e do controle dos impactos negativos ao meio ambiente, originando uma nova percepção ambiental. Dessa forma, surgiu o modelo de desenvolvimento sustentável, que foi conceituado em 1987, pela Comissão Mundial de Desenvolvimento e Desenvolvimento sustentável2 Meio Ambiente, formada originalmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1984. De maneira geral, o desenvolvimento sustentável busca atender três aspectos básicos: o econômico, o ambiental e o social. Cabe mencionar que esses três aspectos devem estar em total integração para que a sustenta- bilidade realmente se mantenha. Qualquer atividade econômica, seja ela para produção ou consumo, envolve a utilização de ambiente natural. Logo, quando uma empresa deseja otimizar insumos e gerar menos poluentes, além do próprio ambiente sair ganhando, a empresa economiza dinheiro e a população de modo geral sai ganhando em qualidade de vida, pois menos poluentes são gerados. Para uma empresa ser considerada sustentável, deve contemplar as cinco dimensões de sustentabilidade, descritas a seguir (CAMPOS, 2001): � Sustentabilidade social — entendida como a criação de um processo de desenvolvimento sustentado por uma civilização com maior equidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres. � Sustentabilidade econômica — deve ser alcançada mediante o ge- renciamento e a alocação mais eficientes dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos e privados. � Sustentabilidade ecológica — pode ser alcançada por meio do aumento da capacidade de utilização dos recursos, limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos que são facil- mente esgotáveis, redução da geração de resíduos e poluição, tudo isso mediante conservação de energia e recursos e da reciclagem. � Sustentabilidade espacial — voltada à obtenção de uma configuração rural–urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas. � Sustentabilidade cultural — inclui a procura por raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, que facilitem a geração de soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a área. Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2016) mencionam que a gestão da produção, com foco na sustentabilidade, deve considerar não apenas a eficiência do processo em termos de perda de matéria-prima, uso de energia, qualidade dos produtos e serviços, tecnologia e capacidade de inovação, responsabilidade social e ecológica, mas também a recuperação, reutilização ou reciclagem, Desenvolvimento sustentável 3 a conservação dos recursos naturais e os impactos ocasionados pelo ciclo de vida dos produtos. Dessa forma, princípios de prevenção e precaução ambiental tornam-se parte do processo de produção. Dentre os benefícios que uma empresa pode obter ao implantar uma produção mais sustentável, Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2016) destacam: � desenvolvimento de produtos com ecodesign e potencialização do valor percebido pelo cliente; � integração dos sistemas de gestão para tornar o uso de informações mais objetivo; � relação de parceria com os clientes e fornecedores para adequar a produção e produzir somente o que for necessário; � otimização do esforço produtivo pelo desperdício zero, para gerar menor número de ações e resíduos; � menor consumo de energia e recursos; � seleção de matérias-primas e insumos ambientalmente adequados; � locais de trabalho mais limpos e seguros. A Figura 1 resume alguns propósitos dos modelos de produção sustentáveis. Figura 1. Elementos vinculados aos modelos de produção sustentável. Fonte: Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2016, p. 154). Desenvolvimento sustentável4 Segundo Haddad (2015), nos últimos tempos têm surgido iniciativas do governo federal estimulando o desenvolvimento mais sustentável por meio de alguns incentivos fiscais. Algum exemplos são destacados a seguir. � Ecocrédito municipal: mecanismo econômico de mercado sob a forma de incentivo fiscal que visa estimular, dentro das propriedades ru- rais nos limites geográficos de um município, a formação de áreas de preservação ambiental destinadas à conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos. � ICMS ecológico: denominação para qualquer critério ou conjunto de critérios de caráter ambiental utilizados para o cálculo do valor que cada município de um estado tem direito a receber do repasse de 25% dos recursos financeiros do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), decididos autonomamente por lei estadual. Quanto maior a participação do ICMS ecológico nesse valor, maiores serão os incentivos fiscais para que os municípios implementem projetos de preservação ambiental, incluindo os ecossistemas de bacias hidrográficas e a sua biodiversidade. � Impostos verdes e taxas ambientais: representam basicamente a imposição de um ônus financeiro sobre a poluição ou degradação ambiental. Seria pago pelas empresas que, nas fases de implantação, de operação e de manutenção de seus empreendimentos, provocas- sem danos ambientais, descarregando e emitindo resíduos no meio ambiente, sendo que suas alíquotas diferenciadas seriam calibradas de acordo com o dano que a poluição do empreendimento provoca. Inversamente, pode-se pensar no imposto verde positivo (ou benefício) para empresas e consumidores, como o Imposto de Renda Ecológico, um tipo de Lei Rouanet para o patrimônio natural. � Financiamentos incentivados: abertura ou uso de linhas especiais de financiamento para projetos de investimento que tenham por objetivo a conservação e a preservação dos recursos ambientais, assim como a introdução de critérios ambientais na avaliação de projetos de inves- timentos de infraestrutura econômica e de projetos de investimento diretamente produtivos. Sendo assim, existe uma grande diferente entre o desenvolvimento eco- nômico e o desenvolvimento econômico sustentável. Obviamente, a economia de uma nação ou empresa é fundamental,mas o crescimento precisa trazer Desenvolvimento sustentável 5 bem-estar social e respeitar o ambiente. Os lucros são importantes, mas devem estar baseados em uma economia que vise encontrar formas de reduzir ou diminuir os impactos ambientais. Soluções econômicas para problemas ambientais Algumas correntes de economistas têm procurado desenvolver conceitos, métodos e técnicas que objetivam calcular os valores econômicos detidos pelo ambiente. Dessa forma, ao longo da história, foram surgindo diferentes linhas de pensamento/vertentes econômicas. Logo, quando mencionamos vertentes econômicas que abordam as questões ambientais, estamos falando de formas de promover um crescimento que respeite o ambiente. Cabe res- saltar que esses pensamentos foram evoluindo à medida que o ser humano obteve mais informações/conhecimentos sobre as questões ambientais. Dentre as principais linhas de pensamento nessa área, Portugal, Portugal Júnior e Brito (2012) mencionam: � malthusiana; � neoclássica; � economia ecológica; � economia do desenvolvimento sustentável (ecodesenvolvimento). Cada linha de pensamento citada apresenta diferentes vertentes econômicas, ou seja, características específicas, seja em relação ao surgimento ou à evolução. Além disso, apresentam diferentes contribuições para o entendimento da problemática ambiental no âmbito econômico mundial. A linha de pensamento malthusiana tem origem na teoria do economista inglês Thomas Robert Malthus (1766–1834), cuja doutrina relacionava a evolução da população e a capacidade produtiva da economia. Conforme mencionam Barbieri e Feijó (2014), Malthus ligou a questão da sobrevivência humana com o crescimento populacional e a competição por recursos naturais. A quantidade de alimentos e outros recursos disponíveis para o consumo humano representava para ele um freio ou um estímulo, de- pendendo de sua escassez relativa, para o crescimento demográfico. Ou seja, afirmava que a população cresceria até o ponto em que seria Desenvolvimento sustentável6 simplesmente impossível produzir alimentos suficientes para o grande número de pessoas que existentes no planeta. De acordo com Portugal, Portugal Júnior e Brito (2012, documento on-line), Malthus afirmava: Que a população crescia em uma progressão geométrica enquanto que a produção, principalmente de alimentos, tinha seu crescimento em progressão aritmética. Isso levaria a um grave problema de baixo abastecimento de um mercado com demanda em franca expansão. Na época de Malthus, não havia, nas mais diferentes áreas, tecnologias e conhecimentos científicos como nos dias atuais. Por isso, ele imaginava que esse “colapso alimentar” ocorreria em um futuro muito breve. Passados mais de 190 anos de sua morte, tal colapso alimentar ainda não chegou, apesar de algumas nações, principalmente as mais pobres, apresentarem graves problemas de fome. Por sua vez, a linha de pensamento neoclássica defende que o mercado ga- rante o equilíbrio entre a disponibilidade e a demanda de recursos básicos, como de água, por exemplo, sendo que a cobrança altera o comportamento dos agentes para melhor (GODOY, 2011). A economia neoclássica surgiu no fim do século XIX e início do século XX, pelos estudos do austríaco Carl Menger (1840–1921), do inglês William Stanley Jevons (1835–1882) e do francês Léon Walras (1834–1910). Cabe mencionar que houve outros autores/estudiosos que compuseram as bases da economia neoclássica, mas estes três foram os que mais se destacaram. A economia neoclássica nasceu em diversos países, sob culturas econô- micas diferentes, quase ao mesmo tempo, tendo o “[...] objetivo central de mostrar como um mercado funciona quando tais átomos sociais dançam, por assim dizer, a música dos preços” (PRADO, 2001, p. 11). Ou seja, a eco- nomia neoclássica estuda a formação dos preços, a produção e a distribui- ção da renda por meio do mecanismo de oferta e demanda dos mercados. Atualmente, predomina no cenário mundial a economia neoclássica, sendo que existem diferentes versões em uso na área da economia. Prado (2001) menciona que há uma versão macroeconômica, que se caracteriza por empregar variáveis agregadas como produto nacional, consumo, renda, quantidade de moeda, etc., em especial a noção de função de produção agregada, na qual entram, grosso modo, os fatores de produção de capital, trabalho e terra. Há também uma versão microeconômica, em que os fatores de produção são considerados, um a um, como quantidades homogêneas, e os consumidores e as firmas são agentes que tomam decisões individualmente. Desenvolvimento sustentável 7 Porém, principalmente após a década de 1960, no período pós-guerra, empresas, governos e indivíduos começaram a se preocupar mais com as questões ambientais. Dessa forma, surgiu a economia ecológica (também chamada de economia verde em algumas bibliografias), que está baseada em um desenvolvimento mais sustentável, que inicialmente era denominado de ecodesenvolvimento. A economia ecológica representa uma crítica direta ao sistema econômico clássico, o qual não insere os custos ambientais na abordagem econômica. O ponto de vista ecológico na economia implica uma mudança fundamental na percepção dos problemas de alocação de recursos e de como devem ser tratados, postulando uma revisão da dinâmica do crescimento econômico (CAVALCANTI, 2003). Conforme Romeiro (2012), para algo ser considerado sustentável, o desen- volvimento deve ser economicamente sustentado (ou eficiente), socialmente desejável (ou includente) e ecologicamente prudente (ou equilibrado). O autor ainda menciona que a proposição conciliadora dos ecodesenvolvi- mentistas se baseia num conceito normativo sobre como pode e deve ser o desenvolvimento. A intenção é manter um crescimento econômico eficiente (sustentado) a longo prazo, acompanhado da melhoria das condições sociais (distribuindo renda) e respeitando o meio ambiente. De modo análogo, os ecodesenvolvimentistas propõem um conjunto de políticas ambientais ca- pazes de levar em conta o risco ambiental, havendo um equilíbrio entre o crescimento econômico e meio ambiente. Atualmente, existem diferentes maneiras de promover o desenvolvimento mais sustentável em empresas e garantir uma economia mais ecológica. Como exemplos, podemos citar a Análise do Ciclo de Vida (ACV) dos produtos, a Produção mais Limpa (P+L), o ecodesign e a logística reversa. Chehebe (1997) menciona que a ACV dos produtos é uma técnica que busca avaliar os aspectos e os impactos potenciais associados a um determinado pro- duto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias- -primas elementares que entram no sistema produtivo até o descarte do produto final. Logo, a ACV é a parte da gestão ambiental que avalia produtos e processos. A partir da ACV, empresas podem identificar e prever falhas na questão ambiental, para então encontrar soluções que busquem minimizar ou eliminar essas falhas, bem como eventuais impactos ambientais, e até mesmo diminuir a quantidade de materiais/rejeitos gerados. Com isso, o próprio consumidor/ cliente poderá escolher produtos mais sustentáveis. Já a P+L consiste em realizar ajustes no processo produtivo, a fim de reduzir a emissão e geração de resíduos sólidos. Segundo Lemos, Mello e Desenvolvimento sustentável8 Nascimento (2008), esses ajustes podem envolver pequenas reparações na situação atual da planta empresarial, compra de novas tecnologias (simples ou complexas) ou a troca de todo o sistema de produção. Essa escolha varia de empresa para empresa, sendo preciso avaliar o processo produtivo de cada uma de forma isolada. Por sua vez, o ecodesign busca evitar o uso de determinados materiais, tendo em vista a dificuldade em relação aos seus processos de reciclagem e descarte final de forma isolada. O ecodesign deve prever que os objetos/ produtos serão reciclados e, para isso, precisam ser desmontados. É im- portante facilitar o reconhecimentodos materiais, de modo que todos os componentes, mesmo os constituídos por diferentes materiais, possam ser reciclados e reutilizados. Assim, o ecodesign promove o uso de materiais renováveis. Carvalho e Mano (2018) descrevem que os processos e métodos dos materiais renováveis partem do descarte de um material ou de partes de um produto. Quanto mais fácil for a desmontagem e a extensão de vida desses materiais, maiores serão as possibilidades de renovação de novos materiais. Por fim, as atividades da logística reversa estão relacionadas com o des- tino adequado de produtos e embalagens, de forma que respeitem o meio ambiente. Leite (2009) e Pereira et al. (2012) mencionam que a logística reversa em empresas tem como vantagens: � aumento da competitividade; � promoção da limpeza de estoque; � garantia do respeito às legislações em vigor; � valorização econômica; � garantia da recuperação de ativos. Logo, percebe-se que diferentes linhas econômicas foram responsáveis pelos conhecimentos do atual modelo econômico em uso. Mais recentemente, devido à conscientização quanto aos impactos ambientais que veem sendo causados, o ser humano vem cada vez mais se preocupando com a questão ambiental e buscando uma economia mais limpa e ambientalmente mais eficiente. Tipos de ambientalismo De acordo com Pereira (2018), atualmente é comum as pessoas (ou até mesmo as empresas) se declarem ambientalistas, mesmo que não participem de um grupo da sociedade civil dedicado à proteção ambiental. Desenvolvimento sustentável 9 De modo geral, o ambientalismo é um movimento construído historica- mente, estando disperso em diversas vertentes, dedicando-se a proteção e conservação do ambiente. Philippi Jr. (2014) descreve que, ao longo das décadas de 1950 e 1960, várias questões sociais e políticas criaram um intenso ativismo público, que acabou instigando a formação de um movimento ambientalista mais amplo. No Brasil, durante a década de 1960 foram produzidas importantes legislações voltadas à proteção ambiental, como o novo Código Florestal e a nova Lei de Proteção aos Animais. Alguns fatores desempenharam um papel decisivo na formação dos mo- vimentos ambientalistas, dentre os quais podemos destacar os seguintes (PHILIPPI JR., 2014): � tomada de consciência a respeito dos efeitos da afluência no pós-guerra e das consequências dos testes atômicos; � ampla divulgação de uma série de desastres ambientais; � avanços no conhecimento científico no tocante à temática ambiental; � publicação de estudos antropológicos a respeito dos valores e do estilo de vida dos povos tradicionais e a influência de outros movimentos sociais. No âmbito mundial, o ambientalismo vem mostrando uma crescente integração com outros movimentos sociais, pois cada vez mais as pessoas estão percebendo que, por trás das crescentes disparidades sociais, da de- gradação ambiental e dos abusos aos direitos humanos, estão as estruturas econômicas globalizadas, o que exige, portanto, uma estratégia política de enfrentamento global para garantir a construção e a consolidação das sociedades sustentáveis (PHILIPPI JR., 2014). O ambientalismo está comprometido não apenas com um ambiente em que prepondera e preocupa a questão da poluição decorrente da industria- lização, mas também com fatores subjacentes à vida das espécies presentes no planeta (GOMES; BRANDALISE, 2017). Em termos gerais, podemos distinguir tipos diferentes ambientalismo. O primeiro deles pode ser chamado de ambientalismo conservacionista, que busca a compensação por uma atividade extrativa, como a mineração ou a extração de petróleo. A compensação busca proteger determinado fragmento de paisagem natural da ocupação e uso extrativista pelo ser humano. Por Desenvolvimento sustentável10 isso, seus representantes buscam criar zonas de amortecimento e zonas de proteção, seja da vegetação nativa, fauna ou corpos d'água, a fim de que não haja atividades antrópicas extrativistas nessas áreas. Há também o chamado de ambientalismo populista, aquele que busca promover a nacionalização das atividades extrativas e estimular a indústria nacional. Ou seja, seu objetivo é transferir o impacto ambiental causado por empresas para o Estado, já que as empresas geram impostos e empregos. Dessa forma, esse tipo de ambientalismo apresenta a ideia de que o Estado é responsável por encontrar formas de evitar e mitigar os impactos ambientais. Tamos ainda o que poderíamos chamar de ambientalismo das formas de vida, cuja ideia central é que as empresas possam praticar a atividade extrativa, desde que contribuam para a melhoria da qualidade de vida e o crescimento econômico da população afetada e/ou que se encontre próxima ao empreendimento. Ou seja, esse tipo de ambientalismo busca compensar a atividade extrativista por meio do apoio à população. Já o chamado ambientalismo de justiça socioambiental critica o modelo econômico vigente, que discrimina certos grupos da sociedade, principalmente quem apresenta menores condições financeiras. Dessa forma, busca a justiça social e vê a desigualdade social como algo inaceitável. Dentre as práticas adotadas por esse tipo de ambientalismo, destacam-se o consentimento livre, prévio e informado, o zoneamento ecológico socioeconômico, a plena participação da população nas decisões que a afetam e a regulamentação estrita das indústrias extrativas para garantir que os direitos da população envolvida não sejam violados. Por fim, temos o ambientalismo radical (também chamado de profundo), que encara a natureza como portadora de direitos semelhantes aos possu- ídos pelas pessoas. Dessa forma, nenhuma atividade extrativista pode ser praticada, uma vez que a terra seria um ser vivo, assim como as plantas e os animais. Todos teriam o mesmo direito de não serem violados, e isso inclui o ambiente como um todo. Tampouco busca qualquer tipo de compensação da empresa extrativista, apenas a manutenção de ambientes sem qualquer interferência externa. Frente ao que prega o ambientalismo radical, parece impossível imagi- narmos o desenvolvimento da economia e da própria humanidade sem haver interferências e impactos ambientais. Obviamente, precisamos encontrar formas de produzir e promover o desenvolvimento econômico, mas de forma mais sustentável. Todos esses tipos de ambientalismo surgiram principalmente após a década de 1960, quando emergiu uma maior preocupação com as questões Desenvolvimento sustentável 11 ambientais, dando origem à chamada economia verde. Mesmo que o ser humano venha causando grandes impactos ambientais, não podemos ser radicais a ponto de proibir toda e qualquer prática extrativista ou que vise o desenvolvimento econômico. Para haver desenvolvimento, a humanidade depende dos recursos naturais. Caso as atividades extrativistas fossem proibidas, haveria consequências sociais enormes, pois muitos iriam morrer de fome, principalmente nações e pessoas com piores condições financeiras. Por outro lado, é necessário repensarmos como o planeta vem sendo alte- rado pelo ser humano, pois já não está mais dando conta de tanta exploração e retirada de recursos. Com uma população mundial estimada em mais de 7,5 bilhões de pessoas, o desenvolvimento sustentável precisa ser colocado em prática imediatamente, nos mais diferentes setores da economia. Referências ALIGLERI, L.; ALIGLERI, L. A.; KRUGLIANSKAS, I. Gestão industrial e produção sustentável. São Paulo: Saraiva, 2016. ALMEIDA, D. H. C. Mudanças climáticas: premissas e situação futura. São Paulo: LCTE, 2007. BARBIERI, F.; FEIJÓ, R. L. C. Metodologia do pensamento econômico: o modo de fazer ciência dos economistas. São Paulo: Atlas, 2014. CAMPOS, L. M. S. SGADA: sistema de gestão e avaliação de desempenho ambiental: uma proposta de implementação. 2001. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) — Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. Disponível em: https:// repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/81601.
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