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Conteúdo: ANATOMOFISIOLOGIA APLICADA À ESTÉTICA Gisele Andrade Laura Cechinel Anatomofisiologia do pescoço Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os músculos, nervos e vasos do pescoço. � Diferenciar as alterações inestéticas que acometem a região do pes- coço e colo. � Relacionar procedimentos estéticos associados às alterações estéticas na região do pescoço e colo. Introdução A compreensão e o conhecimento da anatomofisiologia do pescoço é de extrema importância para complementar a avaliação facial em con- sultório, juntamente com uma anamnese detalhada. Esse conhecimento detalhado tem fundamental importância na aplicação correta e eficiente de tratamentos estéticos na região de estudo. Você vai aprender sobre os principais músculos, nervos e vasos que irrigam o pescoço, além de saber especificar a origem e o trajeto deles. Também compreenderá melhor as suas funções, como ocorrem as suas inserções na região de estudo e as consequências de possíveis danos. Reconhecimento dos músculos do pescoço A região cervical pode ser dividida, para o estudo anatômico, em pescoço e nuca. A nuca é a parte posterior da região cervical, estende-se desde a cabeça até o dorso, confluindo com ele pelo músculo trapézio, ela será estudada juntamente com os músculos do dorso. Para o estudo do pescoço, pode-se dividi-lo em duas regiões anterolaterais, uma esquerda e outra direita, de acordo com o traçado uma linha mediana imaginária sobre a linha média na face anterior do pescoço. São nessas faces anterolaterais que encontram-se as principais estruturas do pescoço, onde estão a traqueia, as cartilagens laríngeas e o esôfago, situados na linha média, no encontro dos limites anteriores das faces anterolaterais. A face anterolateral pode ser dividida em outras duas regiões, a região anterior do pescoço e a região posterior do pescoço, sendo o músculo esternocleidomastóideo o divisor. Observe, na Figura 1, que a região anterior tem formato triangular, se pode chamá-la de trígono anterior do pescoço, o mesmo também acontece com a região posterior, sendo chamada de trígono posterior. A divisão do pescoço em regiões e trígonos tem importância anatômica para melhor compreensão, localização, identificação e nomeação das inúmeras estruturas que nele estão contidas. Figura 1. Trígono anterior e posterior do pescoço. Fonte: Trígonos (2014). O trígono anterior do pescoço é delimitado pela margem anterior do mús- culo esternocleidomastóideo, pela margem inferior da mandíbula e pela linha mediana anterior. Encontra-se nesse trígono o osso hioide, ele divide o espaço Anatomofisiologia do pescoço2 em duas outras regiões, a região supra-hióidea e região infra-hióidea. A região supra-hióidea é limitada anteriormente pela margem do músculo ester- nocleidomastóideo, medialmente pela linha mediana anterior, superiormente pela margem inferior da mandíbula e inferiormente pelo osso hióideo. Seu assoalho é formado pelo músculo milo-hióideo. Quanto à região supra-hióidea, se pode dividi-la em três trígonos: trígono submandibular, trígono digástrico e trígono carotídeo superior. O trígono submandibular é muito pequeno e está localizado na linha mediana, delimitado inferiormente pelo osso hióideo que forma a base do triângulo e como limites laterais estão os ventres anteriores de ambos os músculos digástrico, que formam o vértice do trígono em suas inserções no mento. O trígono digástrico também possui tamanho pequeno e é limitado pelo músculo digástrico, seu assoalho é formado pelo músculo milo-hióideo. É nesse trígono que se encontra a glândula salivar submandibular. Já o trígono carotídeo superior apresenta a bifurcação da artéria carótida comum e a veia jugular interna, seu limite superior e medial se faz pelo ventre posterior do músculo digástrico. O limite inferior é determinado pelo osso hióideo e pela linha imaginária que se prolonga até o músculo esternocleidomastóideo, que faz o limite lateral do trígono. A região infra-hióidea é delimitada lateralmente pela margem anterior do músculo esternocleidomastóideo, medialmente pela linha mediana anterior e superiormente pelo osso hióideo, que forma a base do triângulo. Ele se estende em profundidade até a laringe e parte cervical da traqueia. Essa região está dividida em: trígono muscular e trígono carotídeo inferior. O trígono muscular está limitado pelo músculo omo-hióideo, margem anterior do músculo esternocleidomastóideo e pela linha mediana anterior. Logo, o trígono carotídeo inferior está limitado superiormente pelo osso hióideo e por uma linha imaginária prolongada do hioide até a margem anterior do músculo esternocleidomastóideo, medialmente pelo músculo omo-hióideo e lateralmente pela margem anterior do músculo esternocleidomastóideo. Nesse ponto, são encontradas as artérias carótida comum, artéria tireóidea superior, artéria laríngea superior, veia jugular interna, nervo vago (X par craniano) e a alça cervical do plexo braquial. O trígono posterior do pescoço é um triângulo formado pela margem posterior do músculo esternocleidomastóideo, pela margem lateral do músculo trapézio e como base desse triângulo se tem a clavícula. Pode-se subdividir esse trígono através do músculo omo-hióideo em outros dois, o trígono occipital e o trígono omoclavicular. O trígono occipital é delimitado anteriormente pela margem posterior do músculo esternocleidomastóideo, posteriormente pela margem lateral do músculo trapézio e inferiormente pelo músculo omo-hióideo. 3Anatomofisiologia do pescoço O trígono omoclavicular tem como limite superior o músculo omo-hióideo, inferior a clavícula e medial a margem posterior do músculo esternocleido- mastóideo. Identificam-se contidos nesse trígono a artéria subclávia, o plexo braquial e a porção mais distal da veia jugular externa. Com relação aos músculos superficiais do pescoço, o músculo platisma é um músculo dérmico muito extenso e delgado que possui forma quadrangular. Tem a sua origem na base da mandíbula e está inserida na pele por baixo da clavícula com ação de esticar a pele do pescoço. Nos músculos laterais do pescoço, o músculo esternocleidomastóideo é cilíndrico e robusto, se estende obliquamente pela face anterolateral do pescoço. Tem sua origem na cabeça esternal – face ventral do esterno. Na cabeça clavicular – terço medial da clavícula, está inserido no processo mastoide do osso temporal e metade lateral da linha nucal superior, tendo como ação auxiliar na inspiração, inclinação lateral e rotação com a face para o lado oposto e também na flexão da cabeça. Os músculos escalenos, como o músculo escaleno anterior, estão situados profundamente na face lateral do pescoço, embaixo do músculo esternoclei- domastóideo. Tem origem nos tubérculos anteriores e está inserido na face superior da 1º costela. Sua ação é elevar a 1ª costela e flexionar a lateral da coluna vertebral cervical. Já, o músculo escaleno médio é mais triangular que o escaleno anterior e, é o mais longo dos escalenos, tem como função a elevação da costela (inspiração). O músculo escaleno posterior é o menor e mais profundo com relação aos citados e tem a forma aplanada, também possui a ação de elevar a constela no processo de inspiração. Os músculos supra-hióideos, como o músculo digástrico, que possui dois ventres que estão ligados por um tendão intermediário que é preso ao osso hioide, têm origem no ventre posterior e inserção no ventre anterior, como possibilidade de ação elevar o osso hioide e baixar a mandíbula. O músculo estilo-hióideo é fusiforme e delgado, corre em paralelo ao ventre posterior do músculo digástrico, em direção ao osso hióideo, fixando-o e puxando o dorso cranial na deglutição. O músculo milo-hióideo forma o assoalho da boca e eleva o osso hioide, erguendo a língua e forçando-a para trás na deglutição. O músculo gênio-hióideo tem origem na espinha mental da mandíbulae traciona o osso hioide para frente e para cima, auxiliando o músculo milo-hioide na deglutição. Os músculos infra-hióideos, como o músculo esterno-hióideo, plano e delgado localizados na região anterior do pescoço, têm a função de abaixar e fixar o osso hioide, também auxiliando na deglutição. O músculo esternoti- reóideo, situado sob o músculo esterno-hióideo, estende-se do manúbrio do esterno até a cartilagem tireóidea, igualmente contribui para a deglutição. O Anatomofisiologia do pescoço4 músculo tíreo-hióideo e o músculo omo-hióideo são pequenos e atuam fixando o hioide, puxando-o para baixo, bem como a laringe e auxilia na deglutição. O músculo omo-hióideo localiza-se na região anterolateral do pescoço e da mesma forma auxilia no processo de deglutição. Os músculos pré-vertebrais, como o músculo reto anterior da cabeça, que é um músculo muito curto localizado anteriormente à articulação atlanto- -occipital. Tem como ação inclinar e girar a cabeça para o mesmo lado. O músculo longo da cabeça é um músculo plano, largo superiormente e estreito em sua extremidade inferior. Está localizado anteriormente às primeiras cinco vértebras cervicais e possui a mesma ação do músculo reto anterior da cabeça. O músculo longo do pescoço é plano e com formato levemente triangular, com larga máxima em sua porção média. Fica imediatamente em contato com a face anterior dos corpos das vértebras cervicais e das primeiras torácicas, além disso, encontra-se recoberto pelo músculo longo da cabeça e em sua porção superior, ainda apresenta a função de girar a cabeça e incliná-la para o mesmo lado. Identificação dos nervos do pescoço Os nervos da região do pescoço são formados pelos ramos ventrais dos quatro nervos cervicais superiores. Inervam alguns músculos do pescoço, o diafragma e áreas da pele na cabeça, pescoço e tórax. Cada ramo ventral possui anasto- mose com o subsequente, em que formam-se três alças de convexidade lateral (C1 com C2, C2 com C3 e C3 com C4). Dessas três alças derivam ramos que constituem as duas partes do plexo cervical (superficial e profunda). A parte superficial é constituída por fibras essencialmente sensitivas, que formam um feixe que aparece ao nível do meio da borda posterior do músculo esternocleidomastóideo, ponto em que os filetes se espalham em leque para a pele na região que circunvizinha ao pavilhão da orelha, à pele do pescoço e à região próxima à clavícula. A parte profunda do plexo é constituída por fibras motoras, destinando-se à musculatura anterolateral do pescoço e ao diafragma. Para isso, além de ramos que saem isoladamente das três alças, encontra-se duas formações importantes que são a alça cervical e o nervo frênico. A alça cervical é formada por duas raízes, uma superior e outra inferior. A raiz superior da alça cervical atinge o nervo hipoglosso quando este desce ao pescoço. A raiz inferior desloca-se para baixo alguns centímetros lateralmente à veia jugular interna, com uma curva posterior para frente, realizando uma anastomose com a raiz superior. 5Anatomofisiologia do pescoço A alça cervical emite ramos que inervam todos os músculos infra-hióideos. O nervo frênico, formado por fibras motoras que derivam de C3, C4 e C5, desce pelo músculo escaleno anterior, passa junto ao pericárdio, para se distribuir no diafragma. Cada ramo, exceto o primeiro, divide-se em duas partes: uma ascendente e outra descendente, que se unem em alças comunicantes. Da primeira alça (C2 e C3), originam-se ramos superficiais que inervam a cabeça e o pescoço. Da segunda alça (C3 e C4), originam-se os nervos cutâneos do ombro e do tórax, com ramificações superficiais ou profundas. As superficiais perfuram a fáscia cervical para inervar a pele, enquanto que os ramos profundos inervam os músculos. Os ramos superficiais formam grupos ascendentes e descendentes e as séries profundas mediais e laterais. Superficiais ascendentes � Nervo occipital menor (C2) – inerva a pele da região posterior ao pavilhão da orelha. Figura 2. Nervo occipital menor. Fonte: Netter (2000). Anatomofisiologia do pescoço6 � Nervo auricular magno (C2 e C3) – seu ramo anterior inerva a pele da face sobre a glândula parótida, comunicando-se com o nervo facial. O ramo posterior inerva a pele sobre o processo mastóideo e sobre o dorso do pavilhão da orelha. � Nervo transverso do pescoço (C2 e C3) – seus ramos ascendentes sobem para a região submandibular formando um plexo com o ramo cervical do nervo facial abaixo do músculo platisma. Os ramos des- cendentes perfuram o platisma e são distribuídos anterolateralmente para a pele do pescoço, até a parte inferior do esterno. Superficiais descendentes � Nervos supraclaviculares mediais (C3 e C4) – inervam a pele até a linha mediana, parte inferior da segunda costela e a articulação esternoclavicular. � Nervos supraclaviculares intermédios – inervam a pele sobre os músculos peitoral maior e deltoide ao longo do nível da segunda costela. � Nervos supraclaviculares laterais – inervam a pele das partes supe- riores e posteriores do ombro. Ramos profundos – séries mediais São os ramos comunicantes com o hipoglosso, vago e simpático. Assim, os ramos musculares inervam os músculos reto lateral da cabeça (C1), reto anterior da cabeça (C1 e C2), longo da cabeça (C1, C2 e C3), longo do pescoço (C2- C4), raiz inferior da alça cervical (C2-C3) e os músculos infra-hióideos, com exceção do tíreo-hióideo e do nervo frênico (C3-C5) que inerva o diafragma. Ramos profundos – séries laterais Os ramos profundos laterais do plexo cervical comunicam-se com as raízes espinhais do nervo acessório (C2, C3, C4), no músculo esternocleidomastói- deo, trígono posterior do pescoço e na parte posterior do trapézio. Os ramos musculares são distribuídos para o músculo esternocleidomastóideo (C2, C3, C4) e para os músculos trapézio (C2, C3), levantador da escápula (C3, C4) e escaleno médio (C3, C4). Veja nas Figura 3 e 4: 7Anatomofisiologia do pescoço Figura 3. Plexo cervical. Fonte: Netter (2000). Figura 4. Plexo cervical. Fonte: Netter (2000). Anatomofisiologia do pescoço8 Especificação dos vasos do pescoço Como se sabe, do ventrículo esquerdo sai a artéria aorta, a qual possui uma porção ascendente, um arco aórtico (que se curva para a esquerda) e uma porção descendente. Do lado direito do arco aórtico, evade a artéria ou tronco braquiocefálico (tem aproximadamente 2 cm de comprimento), de onde saem duas artérias: a carótida comum direita (que segue verticalmente) e a subclávia direita (que se continua para a direita). Do lado esquerdo do cajado aórtico, essas duas artérias, que do lado direito saem como um tronco, agora são separadas: artéria carótida comum esquerda e artéria subclávia esquerda. Com isso, já se tem um elemento anatômico interessante, se pode dizer que as artérias carótida comum esquerda e subclávia esquerda tem uma parte intratorácica, o que não acontece com os mesmos vasos do lado direito. Artéria carótida comum Inicia do lado direito, do tronco braquiocefálico e, do lado esquerdo, do arco aórtico. Seu término se dá ao nível da borda superior da cartilagem tireóidea. Essa artéria não emite nenhum ramo no pescoço, seus únicos ramos são os que ocorrem em sua divisão. O nome carótida vem do grego karotides, que significa sono profundo, porque quando a artéria carótida comum é comprimida tanto do lado direito quanto do esquerdo, o fluxo sanguíneo para o encéfalo é interrompido e causa perda de consciência. Ela é facilmente palpável na borda medial do músculo esternocleidomastóideo, entre esse músculo e os músculos infra-hióideos. O significado do pulso da artéria carótida tem uma importância muito grande na prática médica, porque se o pulso dela não for sentido significa a morte, ou seja, esse pulso é um sinal de vida. Ao nível da borda superior da cartilagem tireóidea, ela se divide em um ramo lateral e outro medial. O ramo lateral é a artéria carótida interna,que normalmente, também, não há ramos no pescoço, pois ela vai irrigar encéfalo. O ramo medial é a artéria carótida externa, que vai para o pescoço, face e escalpe. Com o nível de sua divisão ou término, ela apresenta uma dilatação cha- mada de seio carotídeo, no qual, inclusive, passa para a artéria carótida interna, em que possui barorreceptores (sensíveis às variações da pressão arterial). Acima da divisão da artéria carótida comum (no meio do V), existe o corpo ou glomo carotídeo que possui quimiorreceptores (sensíveis às variações da quan- tidade de oxigênio no sangue), os quais, em uma situação de aumento de CO2 (hipercapnia), estimulariam o bulbo a acelerar os movimentos respiratórios. 9Anatomofisiologia do pescoço Artéria carótida interna Tanto do lado direito, quanto do esquerdo, esta artéria entra na cavidade craniana através do canal carotídeo. Na cavidade craniana, ela está em vários ramos, mas os dois principais são: a artéria cerebral média e a artéria cerebral anterior. Artéria carótida externa Inicia na borda superior da cartilagem tireoide e termina no colo da mandíbula. Seu primeiro ramo se dirige para baixo (é descendente) e é chamado de artéria tireóidea superior, a qual dá quatro ramos: um para o músculo esternocleido- mastóideo, a artéria laríngea superior (encontra-se junto ao ramo interno do nervo laríngeo superior), um que perfura a membrana cricotireóidea e outro para a região infra-hióidea. Existem anastomoses entre as artérias tireóideas superiores. O segundo ramo da artéria carótida externa é a artéria lingual, que pode ser confundida com o nervo hipoglosso. Essa artéria é tortuosa e possui vários ramos. Ela dá ramos supra-hióideos (para a região supra-hióidea) e em seguida se divide em artérias que vão para a língua: artéria dorsal da língua, artéria sublingual (para a região inferior da língua) e artéria lingual profunda ou ranina (ramo terminal). Há um espaço denominado Triângulo de Pirogoff que é delimitado pela borda lateral do músculo miloióideo (medialmente), pelo nervo hipoglosso e pelo tendão inter- mediário do músculo digástrico, onde é feita a ligadura da artéria lingual, a qual é o conteúdo desse espaço. Anatomofisiologia do pescoço10 Seu terceiro ramo, difícil de ser dissecado, é a artéria faríngea ascendente, que sai posterior à artéria carótida externa e perto do início dela. Ela dá ramos importantes: ramos faríngeos, ramos palatinos, ramos timpânicos e ramos meníngeos (que vão para a dura-máter e para a pele do pescoço, passando pelo forame lácero e pelo forame jugular). No quarto ramo é a artéria facial, que também é tortuosa e se dirige para a face. Ela dá um ramo para a glândula submandibular (ramo glandular), ramos para o palato (ramos palatinos), ramos para a tonsila palatina ou amídala (ramo tonsilar) e ramos submandibulares ou submentuais. Para o quinto ramo, se tem a artéria occipital, que vai para a parte pos- terior do escalpe. Ela dá vários ramos para a musculatura, um ramo para o músculo esternocleidomastóideo, ramos auriculares (para a orelha), ramos para a dura-máter (que passam pelo forame jugular) e um ramo descendente (que é o mais importante). O sexto ramo é a artéria auricular posterior, que é pequena e vai para as regiões do pavilhão auricular e do escalpe relacionada com a orelha. Finalmente, o término da artéria carótida externa ocorre no colo da mandíbula, dentro da glândula parótida, quando se divide em artéria temporal superficial e artéria maxilar. A artéria temporal superficial vai suprir a parte anterior e lateral do escalpe. E a artéria maxilar vai irrigar a membrana do tímpano, grande parte da dura-máter (através da artéria meníngea média), os dentes, os músculos da mastigação e a cavidade nasal (as conchas nasais, os seios da face e o septo nasal, por meio da artéria esfenopalatina). Artéria subclávia É a segunda artéria do pescoço. Ela tem início do lado direito do tronco bra- quiocefálico e, do lado esquerdo, do arco aórtico. Seu término se dá quando ela cruza a primeira costela. Essa artéria possui três partes, que são divididas pelo músculo escaleno anterior: a primeira parte é a que fica antes deste músculo, a segunda parte fica posterior ao músculo e a terceira parte fica depois do músculo. Da primeira parte sai a artéria vertebral, o tronco tireocervical e a artéria torácica interna ou mamária interna. A artéria vertebral está relacionada com a vascularização do SNC, tendo poucos ramos no pescoço, mas é importante saber que a artéria vertebral direita se une à artéria vertebral esquerda, formando a artéria basilar. A artéria basilar possui vários ramos no encéfalo, porém, as que vão interessar são apenas as artérias cerebrais posteriores (uma direita e outra esquerda). Essas artérias cerebrais posteriores vão se anastomosar com as 11Anatomofisiologia do pescoço artérias cerebrais médias através de artérias comunicantes posteriores (anasto- mose intracraniana entre os sistemas carótido e subclávio). As artérias cerebrais anteriores (ramos das artérias carótidas internas), por sua vez, anastomosam entre si (a direita com a esquerda) por intermédio de uma artéria comunicante anterior, que é um local muito comum de ocorrência de aneurismas. O tronco tireocervical ou tronco tireobicérvicoescapular derivam das artérias tireóidea inferior, cervical transversa e a supraescapular. Da artéria tireóidea inferior ainda sai a artéria cervical ascendente, a artéria laríngea inferior e ramos para a traqueia. Há uma anastomose entre as artérias tireói- deas superiores e inferiores (anastomose entre as artérias subclávia e carótida externa). A artéria cervical transversa dá um ramo superficial para o músculo trapézio e um ramo profundo que vai para a musculatura profunda. Da segunda parte da artéria subclávia sai apenas o tronco costocervical, do qual derivam a artéria torácica suprema e a artéria cervical profunda. A artéria cervical profunda tem uma anastomose com o ramo descendente da artéria occipital e com o ramo profundo da artéria cervical transversa (anastomose entre as artérias carótida externa e subclávia). Da terceira parte da artéria subclávia sai, apenas, a artéria escapular des- cendente, que na maioria das vezes não existe. Drenagem venosa De cada lado, há três veias que são mais importantes: a veia jugular externa, a veia jugular anterior e a veia jugular interna. Veia jugular externa Tudo inicia com a junção das veias temporal e frontal que origina a veia tem- poral superficial. As veias da região timpânica, da dura-máter, dos dentes, dos músculos da mastigação e da cavidade nasal se unem para formar o plexo pterigoide, o qual forma a veia maxilar. Do mesmo modo, a junção das veias temporal superficial e maxilar origina a veia retromandibular, que se une à veia auricular posterior (que vem da parte lateral do escalpe e do pavilhão auricular) para dar origem à veia jugular externa. Essa veia jugular externa cruza o músculo esternocleidomastóideo e desemboca na veia subclávia. Próximo ao seu término, ela apresenta uma válvula superior e outra inferior (que são insuficientes), entre as quais há uma dilatação, que é o bulbo da veia jugular externa. Os afluentes dessa veia são: a veia jugular externa posterior (que vem da nuca, do escalpe), a veia cervical transversa, a veia supraescapular e a veia jugular anterior. Anatomofisiologia do pescoço12 A veia jugular externa drena a cavidade nasal, cavidade oral, parte do escalpe, a dura-máter e pouca coisa da face. A veia jugular anterior que, geralmente, são duas, é formada por veias submentuais, descem pela região anterior do pescoço, onde recebem algumas veias da laringe, e desembocam na veia jugular externa. Entre as duas veias jugulares anteriores, há o arco venoso jugular, que as ligam e pode se prolongar para unir-se às veias jugu- lares externas. Veia jugular interna O seio sigmoide dá origem a esta veia ao nível do forame jugular,ou seja, ela é a continuação desse seio. Logo na sua origem, encontra-se o bulbo da veia jugular interna. O seio petroso inferior, como drena para a veia jugular interna, também chega no seu bulbo. O seio sagital superior drena o encéfalo, assim otérmino da veia jugular interna é ao nível da veia subclávia. A junção das veias subclávia e jugular interna forma o tronco venoso braquiocefálico. E da união dos dois troncos venosos braquiocefálicos se origina a veia cava superior. Além do bulbo superior (na origem), essa veia também possui um bulbo inferior, o qual possui duas válvulas. Os afluentes da veia jugular interna são as veias facial, faríngea, lingual e tireóidea superior, as quais muitas vezes se unem e formam o tronco tirolin- guofaringofacial de Farabeuf. Portanto, conclui-se que o território de drenagem desta veia é muito amplo e inclui o encéfalo, parte da face, da faringe, da língua, da tireoide, etc. As veias tireóideas médias são as últimas afluentes da veia jugular interna e desembocam no tronco venoso braquiocefálico. Veia vertebral A veia vertebral passa pelos forames transversos das vértebras cervicais. É formada profundamente à nuca por veias de músculos profundos e veias do plexo vertebral interno, também recebe veias da cavidade intracraniana e a veia cervical profunda. Essa veia desemboca no tronco venoso braquiocefálico e não na veia subclávia. Os dois triângulos mais importantes do pescoço são o triângulo de Fara- beuf e o triângulo de Guyon. O primeiro triângulo, denominado triângulo de Farabeuf, é limitado pela veia jugular interna, pelo tronco tirolinguofaringo- facial de Farabeuf e pelo nervo hipoglosso. Desprezando o nervo hipoglosso e tomando o tendão intermediário do músculo digástrico como limite, o segundo triângulo, chamado de triângulo de Guyon, é delimitado. Assim, um triângulo 13Anatomofisiologia do pescoço fica dentro do outro, sendo o de Guyon maior do que o de Farabeuf. O nome jugular vem do latim jugo, que significa canga, ou seja, um objeto colocado transversalmente. Jugular significa flebus sphagitus, veia do sacrifício, porque, quando o pescoço é cortado transversalmente, ela se rompe. Logo, jugulare, em latim, quer dizer cortar transversalmente. Alterações inestéticas que acometem a região do pescoço e colo A partir do conhecimento acerca do músculo Platisma, localizado na região do pescoço, é possível iniciar o entendimento de como ocorre as alterações inestéticas na região, juntamente com a região do colo. Assim como a pele do pescoço e o seu tecido subcutâneo, o músculo platisma atrofia e perde o seu tônus, deixando, dessa forma, a região mais flácida e com perda das suas propriedades viscoelásticas, porém o músculo cria uma “reorganização” que irá gerar a hipertonia muscular, proporcionando uma pseudo restauração do tônus muscular. A partir disso, o músculo perde a sua homogeneidade, ocorrendo uma perda da densidade dos espaços das fibras musculares, abrindo espaços na superfície do músculo platisma. Os sinais de envelhecimento que são observados no pescoço e colo são: Flacidez A flacidez é um dos sintomas do envelhecimento da pele da região do pescoço e colo, ocorrendo a perda da definição mandibular e no ângulo cervicomental com uma ptose cutânea cervical. Essa perda de definição da região mandibular forma a ptose na região, a conhecida “papada” (Figura 5). Anatomofisiologia do pescoço14 Figura 5. Flacidez na região do pescoço. Fonte: Ferreira (2015). Atrofia na forma das bandas do músculo platisma O resultado das mudanças do músculo platisma (Figura 6), com o passar do tempo e com algumas fibras entre elas, formam clusters e leva ao encurtamento do músculo em repouso. Isso acarreta em uma atrofia ao longo do tempo, juntamente com a atividade persistente do platisma para suportar as estruturas flutuantes do pescoço e da boca, levando a uma aparência mais proeminente. Figura 6. Músculo platisma: antes e depois. Fonte: Pratti (2017). 15Anatomofisiologia do pescoço Rugas horizontais A primeira pergunta a se fazer é se as rugas horizontais são rugas de expressão (Figura 7). Se forem, espera-se que a toxina botulínica seja efetiva, como as rugas frontais. No entanto, a toxina botulínica não é efetiva de forma alguma, porque as rugas horizontais não são rugas de expressão. Existem dois tipos de rugas no pescoço: rugas superficiais de fotoenvelhecimento ‒ linhas de expressão dinâmicas e linhas profundas; e rugas pela acumulação de tecido. Figura 7. Rugas horizontais: antes e depois. Fonte: Ultherapy (2017). Rugas superficiais de fotoenvelhecimento Como exemplo, temos as rugas periorais no lábio superior. O conhecido código de barras é devido à elastólise do extrato papilar superficial, que se desconfigura e se torna muito folgado, em comparação com a derme subjacente. Ao dobrar essa folga, forma um vinco fino, como as rugas superficiais. Também pode ser notado na área do pescoço. Anatomofisiologia do pescoço16 Linhas de expressão dinâmicas As linhas de expressão dinâmicas ocorrem pela influência dos músculos cutâneos aos quais a pele está ligada. No entanto, o platisma está preso muito abaixo na pele que cobre o acrômio e as regiões deltoides e subclaviculares. Acima, embora algumas fibras se apeguem à borda inferior da mandíbula na parte anterior da linha oblíqua externa, ele é essencialmente inserido na pele da bochecha e na comissura labial. No colo, portanto, o platisma cobre apenas a região anterolateral do pescoço em uma fáscia superficial dividida e sem inserção na pele cervical como tal. Linhas de expressão profundas As rugas horizontais são vincos elásticos permanentes, assim como rugas entrejugais e rugas verticais. Estas são causadas por restrições posicionais do pescoço e múltiplos movimentos de flexão-extensão da cabeça no pescoço. A cabeça é levantada e abaixada muitas vezes ao dia, dobrando a pele cervical de acordo com a direção horizontal. Estas dobras tornam-se perenes com a perda de plasticidade cutânea, à medida que a pele cervical se desconfigura com a idade e fica esticada em comparação com o pescoço subjacente. Procedimentos para alterações estéticas na região do pescoço e colo Realizar procedimentos nas regiões colo e pescoço é um grande desafio para os profissionais no tratamento estético. Dentre os recursos disponíveis no mercado atualmente, veja alguns procedimentos que podem diminuir significativamente as linhas de expressão na região de interesse: Radiofrequência A radiofrequência tornou-se um padrão de tratamento estético com diversas indicações, devido a sua versatilidade, eficácia e segurança. A técnica age através da geração de calor no tecido embaixo da pele, induzindo a produção de novas fibras de colágeno e, dessa forma, proporciona uma melhora no aspecto da pele. Para que se obtenha os resultados, são emitidos correntes de alta frequência com tensão de 30.000 a 40.000 volts e com frequência de 1560 a 200 kilohertz. 17Anatomofisiologia do pescoço Dentre os resultados mais comuns para a radiofrequência, estão a melhora da flacidez da pele, a redução de rugas, o tratamento de gordura e a redução da celulite. Carboxiterapia A carboxiterapia é uma das melhores terapias para combater celulite, excesso de gordura corporal, flacidez e envelhecimento corporal e facial. É um método não-cirúrgico, que consiste no uso terapêutico de dióxido de carbono (CO2) administrado por via subcutânea. A origem desta terapia é encontrada na estação de águas termais de Royat- -France. Especificamente na década dos anos 50, quando um grupo de cardio- logistas usou esta terapia em pacientes com diferentes doenças relacionadas à circulação sanguínea ruim e ao acúmulo de gordura. A maneira como a carboxiterapia é realizada, é usando equipamentos especialmente preparados, que regula a velocidade do fluxo, o tempo de injeção e monitora a porcentagem da dose administrada. O CO2 funciona na zona afetada e é rapidamenteeliminado. Criolipólise A criolipólise é a destruição não-invasiva e seletiva do tecido adiposo por resfriamento controlado. Ela é utilizada na região do pescoço quando o pa- ciente apresentar excesso de gordura na região, com o aspecto de “papada”. O tratamento é realizado para a melhora do contorno da região. A metodologia aproveita a observação de que as células ricas em lipídios são mais suscetíveis ao crioinjúria do que as contrapartes ricas em água, tais como a pele subjacente. O dispositivo de tratamento utiliza um aplicador em forma de copo que desenha um rolo de pele e tecido adiposo subcutâneo entre duas placas de resfriamento. O tempo de tratamento típico é de uma hora, durante o qual a temperatura do rolo de tecido diminui para cerca de 0° C. A cristalização de lipídios citoplasmáticos dentro dos adipócitos inicia uma cascata de eventos, caracterizada por apoptose de adipócitos, paniculite e eventual perda de adipócitos. Clinicamente, isso se traduz em uma diminuição efetiva na espessura da camada de gordura. Microagulhamento Este tratamento estético é indicado para remover cicatrizes de acne, disfarçar manchas, outras cicatrizes, rugas ou linhas de expressão da pele, através de Anatomofisiologia do pescoço18 uma estimulação natural feita com microagulhas que irão penetrar na derme e, dessa forma, favorecer a formação de fibras de colágeno que proporciona- rão sustentabilidade a essa pele. Este tratamento pode ser realizado através da utilização manual das microagulhas, denominado Dermaroller ou com o aparelho automático que é chamado de Dermapen. Este procedimento apre- senta um leve desconforto ao paciente devido às agulhas. Quanto maior for a agulha, maior a dor, porém o tratamento oferece ótimos resultados para a pele. Preenchimento com ácido hialurônico O ácido hialurônico é uma substância orgânica presente entre as células do corpo humano. Com o avanço da idade, as fibras de colágeno tendem a diminuir, e é, então, que o preenchimento com ácido hilaurônico entra em ação, pois ele mantém as fibras de colágeno que irão dar sustentação à pele, diminuindo os problemas de elasticidade. Para devolver a sustentação da pele, o preenchimento com ácido hialurônico é indicado em casos de correção das depressões que não são muito profundas. Entre elas, está o uso de ácido hialurônico no preenchi- mento da região do pescoço e colo, para corrigir rugas finas. A substância age, também, em sulcos nasogenianos (bigode chinês), sulcos nasojugais (olheiras) e rugas glabelares (entre as sobrancelhas). Como é depositado na área mais superficial da pele, ele irá hidratar a região em que foi aplicado. O potencial de atrair líquido é uma das principais características deste produto. Logo após o tratamento com o ácido é possível perceber os efeitos do preenchimento. É um procedimento minimamente invasivo, sem a necessidade de suturas, com quantidade reduzida de hematomas e que provoca pouco inchaço. A região tratada leva em torno de uma semana para se recuperar totalmente. Toxina botulínica tipo A O grande destaque para tratamentos na região do pescoço envolve o uso da toxina botulínica. Ela consegue atuar sobre o músculo platisma e melhorar de forma significativa o contorno da região do pescoço desse paciente, juntamente com outros procedimentos caso o grau de flacidez seja mais acentuado. Ela é conhecida popularmente como “botox” e é uma proteína que é pro- duzida pela bactéria Clostridium botulinum. Seu mecanismo de ação ocorre através da injeção em pequenas quantidades dessa toxina, com orientação a bloquear a ação do músculo no qual foi realizada a aplicação. Dessa forma, ela atua como um bloqueio da musculatura das linhas indesejadas. Sua recuperação é rápida e o procedimento apresenta mínima dor. 19Anatomofisiologia do pescoço Alguns efeitos colaterais permanecem por cerca de três a sete dias após o procedimento. A toxina começa a fazer efeito sete a 14 dias depois e esse efeito perdura por cerca de três a seis meses até desaparecer gradativamente, enquanto a ação muscular retorna. Com aplicações em intervalos regulares, pode ocorrer de o músculo enfraquecer e, dessa forma, as aplicações passarem a durar mais tempo. Os efeitos colaterais são mínimos e relacionam-se com a injeção local. Dor ou edema podem surgir em torno do local da injeção. Maquiagem pode ser usada após o tratamento, mas é preciso ter cuidado para não pressionar ou massagear a área após algumas horas do procedimento. Em casos raros, os pacientes podem desenvolver fraqueza temporária dos músculos vizinhos, também temporariamente. Veja na Figura 8 o uso da toxina botulínica na região do pescoço para suavizar a aparência do músculo platisma. Figura 8. Suavização da aparência do músculo platisma com uso de toxina butolínica. Fonte: Oliveira (2016). Anatomofisiologia do pescoço20 NETTER, F. H. Atlas de Anatomia Humana. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. TRÍGONOS cervicais. Anatomia Viva. 2014. Disponível em: <https://anatomiaviva. wordpress.com/2014/06/09/trigonos-cervicais/>. Acesso em: 27 set. 2017. Leituras recomendadas BARBOSA J. R, BARBOSA C. Toxina Botulinica em Odontologia. 1. Ed. Elsevier, 2017. MADEIRA, M. C. Anatomia da face: bases anatomofuncionais para a prática odonto- lógica. 6. ed. São Paulo: Sarvier, 2008. MADEIRA, M. C. Anatomia da face: bases anatomofuncionais para a prática odonto- lógica. 8. ed. São Paulo: Sarvier, 2012. VELAYOS, J. L.; SANTANA, H. D. Anatomia da cabeça e pescoço: enfoque estomatológico. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 21Anatomofisiologia do pescoço http://wordpress.com/2014/06/09/trigonos-cervicais/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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