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67 diversas políticas públicas iniciadas no início do século XXI. Um dos grandes valores dessas abordagens da aprendizagem é poder mostrar, tanto aos estudantes quanto aos educadores, que todas as crianças têm valor, são inteligentes e a individualidade é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Assim, não cabe mais o pensamento de que determinado estudante não consegue aprender sem antes esgotar as estratégias individualizadas de aprendizagem. A educação mundial foi impactada no sentido de que, atualmente, as instituições de ensino conseguem possibilitar os estudantes se desenvolverem de forma muito mais propícia. Houve uma diminuição constante no número de analfabetos em todo o mundo, queda dos níveis de depressão nos níveis fundamental e médio em território nacional e, por fim, um decréscimo bastante acentuado da evasão escolar no Brasil e no mundo (LOURO, 2000; SANTROCK, 2006). 7 DISTÚRBIO DA APRENDIZAGEM Distúrbios, transtornos, dificuldades e problemas de aprendizagem são expressões com significados distintos. Contudo, esses termos têm sido utilizados de forma aleatória, tanto na literatura especializada como na prática clínica e escolar, para designar indistintamente quadros de diagnósticos diferentes (GIMENEZ, 2005). Fonte: iped.com.br 68 Apesar de não se observar consenso quanto à definição operacional na literatura especializada, muitos profissionais — principalmente na escola norte- americana — já demandam definições mais claras, que permitam um diagnóstico mais preciso. Entre os pesquisadores brasileiros, porém, é possível fazer algumas distinções (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004; TULESKI; EIDT, 2007). Segundo José e Coelho (2002), os problemas de aprendizagem são situações difíceis enfrentadas por indivíduos, mas com expectativa de aprendizagem em longo prazo. Ciasca (2004) diferencia os problemas de aprendizagem em dois tipos: dificuldades de aprendizagem e distúrbios ou transtornos da aprendizagem. O primeiro está relacionado à parte pedagógica; já o segundo se relaciona a causas físicas (comprometimento neurológico). Fonseca (1995) considera que as dificuldades escolares têm caráter global, abrangendo os conteúdos pedagógicos, os professores, os métodos de ensino e o ambiente físico e social em que o aluno está inserido. Fonte: biancalimapsicologa.com.br Na visão comportamentalista, distúrbio e transtorno são nomenclaturas equivalentes (CIASCA, 2004). Todavia, de forma mais precisa, o termo “transtorno” é usado para indicar a existência de um conjunto de sinais sintomatológicos ou comportamentos clinicamente reconhecíveis, associados a sofrimento e interferência com funções pessoais (RELVAS, 2008). A definição mais aceita para “distúrbios” da aprendizagem é a do National Joint Committee on Learning Disabilities (NJCLD), que http://www.biancalimapsicologa.com.br/ 69 traz uma visão médica e orgânica, indicando uma disfunção neurológica para explicar atrasos na aquisição da leitura, escrita ou cálculo: [...] distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades na aquisição e no uso da audição, fala, escrita, e raciocínio matemático. Essas desordens são intrínsecas ao indivíduo e presume-se serem uma disfunção do sistema nervoso central. Entretanto, o distúrbio de aprendizagem pode ocorrer concomitante com outras desordens como distúrbio sensorial, retardo mental, distúrbio emocional e social, ou sofrer influências ambientais como diferenças culturais, instruções inapropriadas ou insuficientes, ou fatores psicogênicos. Porém, não são resultado direto dessas condições ou influências (CIASCA, 1991, p. 36). Não existe uma classificação padrão para os alunos com distúrbios de aprendizagem. De acordo com as definições atuais, são indivíduos com inteligência provavelmente normal, mas que não alcançam rendimento acadêmico nos níveis esperados nas áreas da leitura, expressão escrita ou matemática. Outros apresentam problemas mais abrangentes, que afetam todas as áreas acadêmicas e sociais (SMITH, 2008). Ohlweiler (2016) caracteriza os perfis especificados pelo CID-10 e DSM-V. Veja a seguir. Transtorno de leitura: é caracterizado por uma dificuldade específica em compreender palavras escritas. Os alunos com diagnóstico de distúrbios de aprendizagem em leitura têm menos habilidades de leitura do que os alunos com baixo rendimento. Como a leitura e a escrita estão intimamente ligadas, muitos desses alunos têm problemas de escrita. Em função de a complexidade escolar crescer, os alunos com baixa proficiência de leitura e escrita não conseguem acompanhar as exigências acadêmicas. Transtorno da expressão escrita: refere-se apenas à ortografia ou caligrafia. Geralmente há uma combinação de dificuldades: composição de textos escritos; erros de ortografia, gramática e pontuação; má organização dos parágrafos, etc. Transtorno da matemática: não está relacionado à ausência de habilidades matemáticas básicas como a contagem, mas sim à forma como a criança associa essas habilidades com o mundo que a cerca. Atividades que exigem raciocínio também são afetadas nesse transtorno. 70 Custódio e Pereira (2013) sinalizam que a educação escolar é perpassada por vários fatores que, de forma direta ou indireta, interferem no processo de aprendizagem dos alunos. As autoras destacam ainda, que os transtornos funcionais específicos demarcados no documento de Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), são “alterações manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, da fala, da leitura, da escrita, no raciocínio, em habilidades matemáticas, ou na atenção e concentração” (2013, p. 4). Muitos são os posicionamentos teóricos que buscam classificar os alunos que apresentam dificuldades específicas de aprendizagem no contexto escolar, no entanto, a Secretaria de Estado da Educação/Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional (SEED/ DEEIN), tem como referência de nomenclatura a classificação adotada pelo MEC (CUSTÓDIO & PEREIRA, 2013). Assim como há vários tipos de manifestações dos distúrbios de aprendizagem, há também diversas causas e diferentes níveis de gravidade possíveis. Infelizmente, pouco ainda se sabe sobre as causas desses distúrbios. Há indícios de presença de lesão cerebral, causada por um acidente ou por falta de oxigênio do feto ou do bebê, e mesmo um fator genético associado. Contudo, como apresentado por Smith (2008), a falta de evidência física ou de diagnóstico médico real de lesão cerebral ou danos no sistema nervoso central torna falho o prognóstico, remetendo a um contexto de exclusão. Cabe notar que o impacto da deficiência pode ser atenuado ou mesmo corrigido. Usar termos como suposta lesão cerebral e hipóteses de disfunção no sistema nervoso central pode conduzir a uma conclusão que dificilmente será provada e que talvez seja um engano. Empregar termos que envolvem lesão cerebral (como dislexia), em vez de termos como distúrbios de leitura, pode dar a impressão de que nada pode ser feito em relação a ela, o que pode levar os pais, os educadores e o indivíduo a desistir de corrigir as dificuldades educacionais identificadas. Eles podem também estabelecer expectativas muito baixas. Sabemos, por meio de pesquisa em educação, que, quando se estabelecem expectativas e metas baixas, os alunos normalmente as alcançam, mas raras vezes as ultrapassam. Se as metas estabelecidas para uma criança com distúrbios de aprendizagem forem muito baixas, ela talvez nunca desenvolva todo o seu potencial. Por essas razões, muitos professores da educação especial opõem- -se ao uso de termos médicos ligados à lesão cerebral (SMITH, 2008, p. 117). 71 7.1 Rendimento nasatividades escolares Algumas crianças têm distúrbios de aprendizagem leves e, com assistência, ajustam-se ao currículo padrão oferecido, continuando nele até a universidade. Crianças com distúrbios mais graves, por sua vez, precisam de suporte e apoio — frequentemente intensivos — durante todo o ano letivo e na vida adulta. Os alunos com distúrbios de aprendizagem são diferentes dos seus colegas de turma. Embora os indivíduos possam diferir em seus potenciais e fragilidades, estilos de aprendizagem e personalidade, todos têm dificuldades relacionadas aos distúrbios de aprendizagem que resultam em desempenho acadêmico ineficiente, abaixo do esperado, agravado ao longo dos anos. Há uma preocupação acadêmica/social com a tendência de reprovações, uma vez que não resultará em uma melhora de rendimento e parece relacionar-se positivamente à evasão escolar. Smith (2008) lista algumas características comportamentais provenientes desses distúrbios que afetam diretamente o processo de aprendizagem e o rendimento escolar. Falta de motivação ou pouco senso de responsabilidade: muitos anos de frustração e de insucesso escolar podem afetar negativamente a motivação dos alunos. Estes podem se convencer de que não há nada que eles possam fazer para alcançar o sucesso. Quando as pessoas supõem que vão falhar, elas se tornam muito dependentes dos outros, aumentando assim a probabilidade de poucas realizações. Como se supõem “defeituosas”, não veem motivos para se esforçar, uma vez que nunca conseguiram obter uma boa nota. Desatenção: a desatenção e a impulsividade são duas outras caraterísticas comuns. Esse fator pode explicar por que esses alunos são incapazes de entender partes relevantes dos problemas que precisam resolver ou das tarefas que precisam fazer Inabilidade para generalizar: muitos alunos com distúrbios de aprendizagem também apresentam dificuldades para transferir ou generalizar os seus conhecimentos para diferentes habilidades ou situações. 72 Falha no processamento de informação: muitas pessoas com distúrbios de aprendizagem têm dificuldades de aprender a ler, a escrever e a entender o que está sendo dito, e até mesmo de se expressar por meio da verbalização de palavras. Habilidades insuficientes para resolver problemas: normalmente, falta a esses alunos um raciocínio estratégico, e eles têm poucas habilidades na resolução de problemas de raciocínio. Nem todos os indivíduos com distúrbios de aprendizagem têm problemas no campo das habilidades sociais, mas muitos não são socialmente competentes. As dificuldades com as habilidades sociais, em conjunto com o baixo rendimento e o comportamento distraído na sala de aula, influenciam o status social dessas crianças. Elas são vistas pelos seus colegas de classe como excessivamente dependentes, menos cooperativas e antissociais. Isso implica que essas crianças não são incluídas nos grupos e, sendo rejeitados pelos seus colegas, têm dificuldades de fazer amigos. Assim, essas crianças vivenciam fortes sentimentos de solidão e de falta de amigos. A rejeição e as habilidades sociais inadequadas persistem durante a adolescência. Os indivíduos com distúrbios de aprendizagem que não recebem atenção para os seus problemas desde o início enfrentam sérios desafios por toda a vida. Quanto mais cedo é proporcionada intervenção, melhor (SMITH, 2008). 7.2 O que acontece no Brasil Segundo Ciasca (2004), o número de crianças com distúrbios ou dificuldades para aprender é elevado, atingindo até 20% da população escolar de países desenvolvidos. Destes, apenas 7% teriam algum problema neurológico associado. No Brasil, essas cifras aumentam, mantendo-se constantes apenas no que se refere à presença de quadro neurológico. É importante notar que, embora os distúrbios e as dificuldades escolares não sejam produtos específicos de uma classe social, eles são mais incidentes nas classes menos favorecidas, pois há um somatório de problemas. A própria manutenção da criança no sistema de ensino é uma questão. Isso explica por que a realidade brasileira observada nas estatísticas do IBGE é tão assustadora. 73 Em função desses fatores, aponta-se uma prevalência da dificuldade de aprendizagem, em detrimento do distúrbio de aprendizagem. Ciasca (2004) e outros pesquisadores brasileiros chamam atenção ao processo de avaliação e intervenção de forma indiscriminada, sem considerar esse contexto mais amplo. Ensinar e aprender são processos lentos, individuais e estruturados, quando não se completam por alguma falha interna ou externa surgem os distúrbios e as dificuldades de aprendizagem, levando à criança não só à desmotivação quanto ao desgaste e à reprovação, transformando-a num rótulo dentro da escola, “perturbando” pais e professores que buscam, a partir daí, todo e qualquer tipo de diagnóstico, na tentativa de descobrir as causas, classificá- las e, se possível encontrar uma solução objetiva para o quadro (CIASCA, 2004, p. 29). 7.3 Os distúrbios de aprendizagem e a aquisição de linguagem A linguagem é a base para outras aprendizagens. Leitura, escrita, raciocínio e, posteriormente, as habilidades matemática dependem da aquisição de linguagem (BASTOS, 2016). Acredita-se que as dificuldades ou os distúrbios de aprendizagem estejam intimamente relacionadas à história prévia de atraso de linguagem (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004) ou outro distúrbio de comunicação em fase pré-escolar (SMITH, 2008). Mas o que é comunicar-se? Como se dá esse processo? Para entender os distúrbios de comunicação, deve-se entender primeiro o processo da comunicação no ser humano. A comunicação está associada à linguagem e à interação; logo, são necessárias pelo menos duas pessoas, que desejem trocar uma mensagem: um emissor e um receptor. Inicialmente, o emissor tem uma ideia ou um pensamento e o transmite por meio de um código compartilhado pelo receptor. Assim, a comunicação só ocorre quando o receptor compreende a mensagem que o emissor passou. Observe o esquema na Figura 1. 74 De forma simplificada, o processo de comunicação pode ser resumido pelos seguintes elementos: emissor – chamado também de locutor ou falante, é quem emite a mensagem para um ou mais receptores; receptor – é o interlocutor ou ouvinte, ou seja, é quem recebe a mensagem emitida pelo emissor; mensagem – representa o conteúdo ou o conjunto de informações transmitidas pelo emissor; código – trata-se do conjunto de signos utilizados na mensagem; canal de comunicação – corresponde ao meio usado para transmitir a mensagem, como voz, linguagem de sinais, gestos ou escrita; contexto ou referente – trata-se da situação comunicativa em que estão inseridos o emissor e receptor; ruído na comunicação – ocorre quando a mensagem não é decodificada de forma correta pelo receptor, por exemplo, quando há barulho do local, voz baixa ou mesmo desconhecimento do código, entre outros. O código, com seus sinais, seus símbolos e suas regras próprias, constitui a linguagem e permite que ela tenha significado. A comunicação será insatisfatória ou mesmo não ocorrerá se o emissor ou o receptor não puderem usar a linguagem adequadamente ou tiverem um mecanismo imperfeito para emitir ou receber a mensagem. 75 Segundo Smith (2008), é importante distinguir três termos, os quais estão inter- relacionados: comunicação, linguagem e fala. 1. A comunicação é o processo de troca de conhecimento, ideias, opiniões e sentimentos por meio do uso da linguagem verbal ou não verbal (por exemplo, gestos). 2. A linguagem é o método regulador básico da comunicação, envolvendo a compreensão e o uso dos sinais e dos símbolos pelos quais as ideias são representadas. 3. A fala é a produção vocal da linguagem. Para falar, o cérebro envia mensagens que ativam outros sistemas. A voz éproduzida na laringe, quando o ar expelido dos pulmões gera um fluxo que faz a cavidade vocal (sistema vibratório) vibrar, produzindo sons. Os sons viajam pela garganta, pela boca e pelas cavidades nasais (sistema de ressonância), e são articulados em voz pela língua, pelos palatos duro e mole, pelos dentes, pelos lábios e pela mandíbula (SMITH, 2008) Observe na Figura 2 a forma como o corpo humano produz a fala. 76 7.4 Os distúrbios de comunicação Os distúrbios da comunicação são, em geral, divididos em dois grandes grupos: Distúrbios da fala: afetam a habilidade de pronunciar as palavras com clareza e podem envolver distúrbios da voz, incluindo timbre, volume ou qualidade. Distúrbios da linguagem: pessoas com distúrbios da linguagem podem ter dificuldade para entender palavras faladas ou escritas. Está relacionado ao conteúdo da mensagem. Os distúrbios da fala e da linguagem não são interligados. Uma pessoa pode ter tanto o distúrbio da fala quanto o da linguagem, como ter um e não ter o outro. É importante destacar também que as dificuldades ou distúrbios de aprendizagem não estão associados somente aos problemas de comunicação e de linguagem. Elas podem estar associadas às questões pedagógicas, neurológicas e intelectuais. Um dos exemplos mais conhecidos na atualidade é o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), de ordem neurobiológica, que provoca desatenção, inquietude e impulsividade. Segundo Smith (2008), a fala é considerada anormal quando é ininteligível, desagradável ou interfere na comunicação. O ouvinte consegue perceber claramente qualquer um dos três problemas de fala que podem afetar negativamente o processo de comunicação. 1. Problemas de articulação: a produção do som é defeituoso, e o resultado são sons incorretos. A articulação está relacionada à idade, à cultura e ao ambiente da pessoa que fala. 2. Problemas de fluência: estão associados ao padrão e à fluidez da fala de uma pessoa, e normalmente envolvem hesitações ou repetições que interrompem a fluência da fala, como a gagueira. 3. Problemas de voz: nesse caso, o tom ou o volume podem ser percebidos como estranhos ou inapropriados. Veja a seguir alguns transtornos da fala, segundo Pedroso e Rotta (2016): Disartria: trata-se de problema articulatório que se manifesta na forma de dificuldade para realizar alguns ou muitos dos movimentos necessários à 77 emissão verbal. Disfemia: é a dificuldade de manter a fluência da expressão verbal. Caracteriza-se por uma expressão verbal interrompida em seu ritmo, de maneira mais ou menos brusca. O tipo mais comum de disfemia é a gagueira, também chamada de tartamudez. Disfonia: implica alterações na qualidade da voz ou em sua emissão, relacionada a distúrbios orgânicos ou funcionais das cordas vocais ou, ainda, por uma respiração incorreta. A disfonia pode se apresentar por meio da rouquidão, soprosidade ou aspereza da voz. Dislalia: a dislalia, ou transtorno específico de articulação da fala, ocorre quando a aquisição dos sons da fala pala criança está atrasada ou desviada, levando a má articulação, omissões, distorções ou substituições dos sons da fala. Rinolalia: refere-se à ressonância nasal maior ou menor que a do padrão correto da fala, podendo ser causada por problemas nas vias nasais, vegetação adenoide, lábio leporino ou fissura palatina. A linguagem é um sistema complexo que usamos para comunicar os nossos pensamentos aos outros. Essa habilidade envolve o que pode ser dito ou não; quando, onde e para quem; para que propósito; além do conhecimento linguístico para produzir enunciados gramaticais (SMITH, 2008). Assim, os três aspectos da linguagem são forma, conteúdo e uso. Forma: é o sistema de regras usado em todas as linguagens. Conteúdo: reflete a intenção e o significado das expressões faladas ou escritas. Uso: trata da aplicação da linguagem em várias comunicações, de acordo com o contexto social da situação. Observe agora alguns transtornos da linguagem conforme vemos em Pedroso e Rotta (2016): Afasia: as afasias compreendem os transtornos de linguagem causados por uma lesão cerebral, ocorrida após a aquisição total da linguagem ou durante o seu processo. Existe uma perda parcial ou total da capacidade de 78 expressão dos pensamentos e da sua compreensão. Discalculia: é caracterizada por uma inabilidade ou incapacidade de pensar, refletir, avaliar ou raciocinar processos ou tarefas que envolvam números ou conceitos matemáticos. Dislexia: a dislexia ocorre no início do processo de alfabetização. É uma dificuldade de identificar os símbolos gráficos, acarretando fracasso em outras áreas que dependem da leitura e da escrita. Disgrafia: é uma perturbação da linguagem escrita, que abrange as competências mecânicas da escrita É importante notar que o desenvolvimento pobre da linguagem pode ser causado por fatores ambientais, como a falta de estímulo e a própria experiência para o desenvolvimento cognitivo e para a aprendizagem da língua. Algumas crianças não desenvolvem a linguagem porque não têm modelos apropriados de papéis. Algumas são deixadas sozinhas com muita frequência; outras não são estimuladas com conversas. Outras são punidas por falar ou são ignoradas quando tentam se comunicar. Muitas delas não têm razão para falar; não têm nada para falar e poucas experiências para contar. Por tais motivos, correm, definitivamente, o risco de desenvolver distúrbios significativos de linguagem (SMITH, 2008, p. 153) 7.5 Educação especial e a educação inclusiva O sistema educacional brasileiro tem passado por mudanças que buscam uma política inclusiva, com vistas ao atendimento educacional especializado gratuito aos alunos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino. Contudo, crianças com necessidades educacionais especiais muitas vezes são segregadas da escola. 79 Fonte: www.ismonitor.ac.mz/ Takasei e Chun (2010) fazem uma revisão da literatura e listam algumas das ações que poderiam contribuir para a implementação da inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais no ensino regular. Entre elas, encontramos a oferta de cursos de capacitação; a diminuição do número de alunos por sala de aula regular; o trabalho conjunto do professor especializado com professor do ensino regular; mudanças atitudinais, pedagógicas, comunicacionais e arquitetônicas do ambiente escolar. Além disso, os autores apontam a importância do envolvimento de uma equipe multi ou interdisciplinar. Em relação a crianças com distúrbios de comunicação, Takasei e Chun (2010) indicam a necessidade de uma parceria entre a educação e a fonoaudiologia. Os resultados revelam que a crença, de pais e professores, no desenvolvimento do aluno e o diálogo estabelecido entre os profissionais, a família e a criança, favoreceu o desenvolvimento de situações de comunicação em um ambiente acolhedor da diversidade, fundamental em um processo de inclusão, e que depende da participação de diferentes atores sociais, no caso, educadores e fonoaudiólogos (TAKASEI; CHUN, 2010, p. 253). É certo que existe a necessidade de um atendimento educacional especializado para as crianças com distúrbios de aprendizagem. No entanto, o que se discute hoje é que essa educação seja inclusiva. A ideia da inclusão é mais do que garantir o acesso às instituições de ensino. O objetivo é eliminar obstáculos que limitam a aprendizagem e a participação ativa do aluno com necessidades educacionais especiais no processo educativo e social. http://www.ismonitor.ac.mz/
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