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FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA A formação da sociologia e a identificação de seus objetos A realidade e a perspectiva sociológica Ciências naturais e sociologia o traba

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5 
 
2 FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
A Sociologia surge do movimento de pensar e questionar a realidade social, 
no momento em que a vida da sociedade europeia do final do século XVIII está 
marcada pela desagregação de seus valores e de suas crenças tradicionais, em 
consequência das transformações produzidas pela constituição da modernidade, 
baseada no primado da razão como meio de interpretação dessa realidade. 
A Sociologia é uma ciência que nasce da contradição entre o novo e o velho; 
entre, de um lado, a ênfase no desenvolvimento do progresso – proporcionado 
pelo avanço das ciências naturais e a consequente introdução de inovações 
tecnológicas, fundamentais à consolidação do capitalismo, com o crescimento 
industrial resultante das mudanças significativas no modo de produção e de 
consumo, na composição do mercado de trabalho e nas relações de trabalho e de 
produção – e, de outro lado, a tentativa de restabelecimento da ordem social, 
subvertida em seus valores fundamentais (PILETTI , N.; PRAXEDES, W., 2010). 
A Sociologia como ciência surgiu no século XIX, momento de desenvolvimento 
do método científico em outros setores do conhecimento humano. Ela tinha como 
preocupação aplicar o ponto de vista científico à observação e à explicação dos 
fenômenos sociais e buscou compreender as transformações sociais provocadas 
pelas Revoluções Industrial e Francesa. 
A Sociologia parte da noção de que a vida humana em sociedade está sujeita 
a uma ordem social e procura compreender as regularidades e as leis que regem as 
relações entre os homens. 
 
Papel inicial da Sociologia 
 
Sob inspiração das ciências da natureza, concebia-se que o conhecimento 
científico nas ciências sociais deveria dar aos homens o controle de sua sociedade e 
de sua história assim como a física e a química lhes possibilitaram o controle das 
forças naturais. Os pioneiros e fundadores da Sociologia aspiravam também fazer do 
conhecimento sociológico um instrumento de ação e pretendiam modificar a própria 
sociedade em que viviam. 
 
 
6 
 
A constituição da Sociologia como ciência 
 
Desde a sua criação, a Sociologia preocupa-se com a definição do seu objeto 
de pesquisa e os métodos de análise para não se confundir com o senso comum. A 
Sociologia como ciência utiliza-se de pesquisas quantitativas, levantamento de dados 
empíricos e técnicas de observação da realidade. Análise consistente do material, 
que possibilite a outros pesquisadores a reprodução e a validação dos mesmos 
resultados. 
 
Os precursores da Sociologia 
 
Embora não seja possível um único indivíduo fundar um campo inteiro de 
estudo, havendo muitos colaboradores no pensamento sociológico, atribui-se 
especial proeminência a Augusto Comte (1798-1857). Para Comte, o papel da 
Sociologia seria explicar as leis do mundo social, assim como as ciências da 
natureza explicam o mundo físico. Comte formulou a lei dos três estágios do 
conhecimento humano: o teológico, o metafísico e o positivo. 
 
A lei dos três estágios de Augusto Comte 
 
Estágio teológico: o pensamento humano era guiado por ideias religiosas e 
pela crença de que a sociedade era expressão da vontade divina. 
Estágio metafísico: se desenvolveu no período da Renascença, em que a 
sociedade passou a ser vista em termos naturais e não sobrenaturais. 
Estágio positivo: anunciado pelas descobertas de Galileu e Newton, conduziu 
ao estímulo da aplicação de técnicas científicas para a compreensão do mundo 
social. 
A sociologia é vista como a última ciência a se desenvolver por ser a mais 
complexa de todas as ciências (PILETTI , N.; PRAXEDES, W., 2010). 
 
 
 
 
 
7 
 
A institucionalização da Sociologia 
 
Émile Durkheim (1858-1917) foi um dos precursores da Sociologia como 
ciência. Foi influenciado pelo pensamento de Augusto Comte, porém considerava suas 
ideias especulativas demais. Durkheim procurou dar uma base empírica para o 
conhecimento sociológico. 
Para Durkheim, o princípio básico da Sociologia era “estudar os fenômenos 
como coisas”. Com isso queria dizer que a vida social pode ser analisada de forma 
tão rigorosa quanto os objetos ou fenômenos da natureza. 
Para Durkheim, as sociedades têm uma realidade própria – a sociedade é 
mais do que ações e interesses de seus membros individuais. 
A Sociologia, como ciência, passou a ocupar um espaço na universidade em 
1887, quando Émile Durkheim passou a lecionar na Universidade de Bourdeux e 
criou a primeira cátedra desta ciência na França. 
Em 1902, Durkheim transferiu-se para a Universidade Sorbonne, em Paris, 
onde contribuiu para a formação de inúmeros cientistas sociais reunidos em um 
grupo que ficou conhecido como Escola Francesa de Sociologia. 
 
A constituição da Sociologia como ciência 
 
Wright Mills (2009), no texto “A promessa”, afirmou que os seres humanos 
envolvidos na vida cotidiana tendem a ter uma visão limitada dos horizontes sociais, 
pois sua visão de mundo social se encontra restrita aos ambientes mais próximos. A 
sociologia é uma ciência que adota um olhar mais amplo sobre o mundo social e, 
dessa forma, permite aos seres humanos compreenderem a relação entre suas 
vidas individuais com os contextos sociais mais amplos. 
Segundo Giddens (2012), sob a perspectiva prática, a Sociologia permite a 
compreensão das diferenças culturais entre os grupos sociais. Permite uma análise 
precisa dos resultados das ações políticas e possibilita que os indivíduos tenham 
uma maior autocompreensão do seu papel na sociedade. 
Portanto... A Sociologia é uma ciência que surge no século XIX em um contexto 
de transformações históricas profundas na sociedade europeia e tem como objeto de 
 
8 
 
estudo o homem e suas interações sociais. Seus precursores foram Augusto Comte 
e Émile Durkheim. 
 
A educação em perspectiva sociológica 
 
A educação é um objeto privilegiado da Sociologia. O ato de educar é 
concebido, ao mesmo tempo, a base da conservação da ordem e o esteio de suas 
mais radicais transformações. (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 11). 
Questões sociais como: que tipo de educação deve existir? Quais são os 
conhecimentos que o sistema educacional deve garantir a todos os cidadãos? A 
educação das classes dominantes deve ser igual à educação dos segmentos pobres 
da população? Como garantir essa igualdade? 
Percebe-se que os temas que permeiam o debate na área educacional são os 
mesmos presentes no debate político e social contemporâneo, evidenciando a 
estreita ligação entre os problemas da sociedade e os problemas da educação. 
 
Tendências no desenvolvimento da sociologia da educação 
 
Ao analisar o desenvolvimento dos estudos sociológicos sobre educação, 
Antônio Cândido identifica diversos focos sobre os quais a educação pode ser 
estudada na Sociologia: 
 
 a) A primeira é sobretudo uma reflexão sobre o caráter social do processo 
educativo, seu significado como sistema de valores e sua relação com as concepções 
e as teorias do homem. Nessa perspectiva, a educação é vista como processo de 
socialização do indivíduo para a vida em sociedade. Esse é o ponto de partida da 
análise de Émile Durkheim. 
 
b) A linha pedagógico-sociológica desenvolveu-se, principalmente, nos 
Estados Unidos, onde procurou efetuar o estudo dos aspectos sociais da educação a 
fim de obter o bom funcionamento da escola. Seu foco é o estudo dos grupos sociais, 
formas de interação, a relação da escola com a comunidade, entre outros. Essa 
concepção tem como pano de fundo o “culto à eficiência” escolar. A sociologia é 
 
9 
 
concebida como componente da pedagogia e da administração escolar. Essa área 
tem sido cultivada por educadores como ramo da ciência da educação. 
 
c) A terceira linha é devida a sociólogos ou a educadores de orientação 
sociológica, que veem a sociologia educacional como ramo da sociologia, não da 
ciência da educação.Preocupa-se com a função social da educação e com a solução 
dos problemas educacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 
3 AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA 
3.1 A formação da sociologia e a identificação de seus objetos 
As reflexões sobre o comportamento humano sempre estiveram presentes em 
sociedades e comunidades ao redor do mundo e ao longo do tempo, em épocas e 
configurações sociais distintas. As pinturas rupestres feitas em cavernas e 
elaboradas por hominídeos expressavam as formas de organização dos grupos 
 
10 
 
sociais que surgiam, as caças, os perigos vividos, os espaços visitados, as viagens 
empreendidas. As representações pictóricas podem datar do período Paleolítico, que 
se estendeu da origem do homem até 10.000 a.C. Ou seja, o desejo de expressar, 
gravar e compreender a história humana está presente entre indivíduos desde os 
primórdios das organizações sociais mais elementares. 
É possível que a identificação do indivíduo como parte de um grupo seja um 
fator preponderante para a inclinação à reflexão a respeito dos contextos em que o 
grupo se insere. A expressão livre dos laços entre humanos deu espaço à reflexão, 
elaborada pelos filósofos da Antiguidade Clássica, sobre a pureza, a moral e a 
função de cada comportamento. Esse tipo de pensamento norteou as leituras sobre 
interações sociais até meados do século XVIII. 
O Iluminismo, também chamado de Século das Luzes, trouxe novas 
possibilidades de interpretação da natureza do comportamento humano. Nesse 
período, passa-se a considerar a complexidade das relações humanas, normalmente 
baseadas na estrutura de organização política do Estado. Mas são as rápidas 
transformações decorrentes da Revolução Industrial as responsáveis pelo grande 
interesse em medir, projetar e identificar formas de relações e comportamentos 
sociais. Devido à Revolução, se altera o modo de produção, consumo e organização 
social e política. E isso tem um motivo: o caos e os desequilíbrios sociais, 
desencadeados por situações nunca antes conhecidas. Por isso, pensadores 
passaram a observar os comportamentos sociais em busca de uma resposta para as 
transformações que se sucediam. (MARTINS, J. S; ECKERT, C; NOVAES, S. C; 
2005). 
As dinâmicas sociais passaram a ser foco não apenas de observação, mas de 
estudo. Por que essas dinâmicas acontecem da forma como acontecem? Quais são 
os elementos que incidem sobre as organizações sociais? Quais elementos as 
tornam estáveis, lineares, ou quais incitam o desejo por ruptura, por revoluções? E, 
para os pensadores cujos trabalhos deram origem à sociologia, a questão 
preponderante era: como reorganizar ou reestabelecer as sociedades após o caos? 
Esses são alguns dos questionamentos que nortearam a definição de metodologias 
para a observação e a análise de dinâmicas sociais e que culminaram na 
delimitação de um campo científico específico, a sociologia. A ciência das relações 
 
11 
 
sociais nasce com o estigma de pousar o olhar sobre um objeto instável, abstrato, 
difícil de ser controlado. 
Por isso, alguns autores que analisaram brilhantemente seus contextos 
sociais e históricos tiveram seus estudos utilizados como base para a construção da 
sociologia como campo científico, e seus métodos foram considerados integrantes 
do aporte que deu origem a essa área de estudo. Entre eles, destacam-se Auguste 
Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Desses autores, apenas Karl Marx 
não define claramente etapas ou métodos de análise e interpretação de interações 
sociais com o objetivo de criar uma abordagem científica a ser retomada por futuros 
pesquisadores. Mas a forma de organização de sua leitura sobre as estruturas 
sociais oferece tantos dados para o fortalecimento da sociologia como ciência que 
sua obra se equipara, nesse sentido, às dos outros três estudiosos. (SILVA, 2005). 
A seguir, você vai conhecer melhor a contribuição de cada um deles para o 
estabelecimento e o fortalecimento da sociologia como campo científico. Tenha em 
mente que, com exceção de Durkheim e Weber, os autores mais importantes para a 
formação das teorias sociológicas clássicas não faziam parte da mesma geração e 
analisavam contextos sociais, políticos e históricos distintos. 
 
Auguste Comte (1798–1857) 
 
O francês Auguste Comte inicia seus estudos na Escola Politécnica ainda 
adolescente, mas há uma pausa entre o início de seus estudos e a sua conclusão. 
Tal pausa foi causada pelo fechamento temporário da Escola e depois por sua 
expulsão. Após concluir os estudos, ele vive uma grave crise psicológico-emocional 
e se afasta da pesquisa por algum tempo. Sua primeira obra, Plano de Trabalho 
Científico para Reorganizar a Sociedade, realizada em 1822, demonstra como 
imaginava recompor a sociedade num período de intensas rupturas, em que a 
Europa vivia alternâncias de poder entre regimes despóticos e revoluções. Comte foi 
secretário e amigo do Conde de Saint-Simon, nobre francês teórico do socialismo 
utópico. Contudo, rompeu com o Conde após alguns anos, por não considerar 
definitivas as suas teorias sobre as organizações sociais. O positivismo comtiano 
define os parâmetros empíricos para a observação das dinâmicas sociais. Além 
disso, é a teoria que define o objeto sociológico como elemento próprio da ciência. 
 
12 
 
Para Comte, se existiam leis que regiam as ciências naturais, também existiam leis 
que regiam os objetos sociais. Para conhecê-las, as etapas empíricas da 
observação à comparação deveriam ser respeitadas. Foi Comte o teórico que definiu 
o termo “sociologia”. (SILVA, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.tomlivre/auguste-comte.br 
 
Karl Marx (1818–1883) 
 
De origem judaica, o alemão Karl Marx estudou direito, filosofia e história, 
concluindo o doutorado ainda bem jovem, aos 23 anos. Voltado à filosofia hegeliana, 
o jovem Marx escrevia artigos jornalísticos que questionavam a organização política 
alemã e enfatizavam o aporte democrático. Por isso, foi expulso e se mudou para a 
França, onde conheceu Engels. Seu posicionamento político o levou a ser expulso 
também da França, então ele foi para a Inglaterra, onde permaneceu até a sua 
morte. O primeiro trabalho em que aparece sua marca metodológica mais 
importante para a sociologia, o materialismo histórico, é O Manifesto do Partido 
Comunista, escrito em parceria com Friedrich Engels, em 1848. O materialismo 
histórico é uma teoria que entende que as relações entre a produção e o consumo 
 
13 
 
de mercadorias é o que determina as estruturas e organizações sociais. Por isso, as 
grandes transformações históricas foram pautadas pela alteração na forma de 
produção, do feudalismo para o mercantilismo e depois para o capitalismo. Para 
Marx, o capitalismo causaria tensões ininterruptas entre as classes, trabalhadores e 
burgueses, e essas tensões levariam à tomada de poder pelos trabalhadores, que 
colapsariam o sistema e estabeleceriam o comunismo. Para o autor, a marcha para 
o comunismo era inevitável, por isso o materialismo histórico possui um viés 
determinista. (SILVA, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.jornal.usp.br 
 
Émile Durkheim (1858–1917) 
 
O francês Émile Durkheim também tinha origem judaica, mas declarava não 
praticar nenhuma religião. Assim como Marx, estudou filosofia, porém seus trabalhos 
se voltavam inteiramente à definição das metodologias de pesquisas e aportes 
técnicos da sociologia. Sua carreira acadêmica se inicia com estudos voltados para 
a ciência da educação. Criador da chamada “escola de sociologia francesa”, 
Durkheim foi o primeiro acadêmico a ocupar a cátedra de ciências sociais na 
Universidade de Sorbonne. Durkheim dialoga em seus trabalhos com Comte e Marx, 
mas tem um alinhamento maior com as teorias positivistas. Ele compreende que a 
 
14 
 
sociologiatem objetos próprios e diferentes daqueles do direito, da filosofia e da 
economia. Mas, diferente de Comte, Durkheim não acreditava em leis sociais, e sim 
na determinação de métodos e etapas para a observação, a classificação e a 
comparação dos fenômenos sociais, o que constituiria a verdadeira ciência 
sociológica. A tipificação de comportamentos é um dos elementos usados pelo 
pensador para chegar à observação científica dos fenômenos sociais. (SILVA, 
2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www. historiaonline.com.br 
 
Max Weber (1864–1920) 
 
O alemão Max Weber estudou história, economia e direito. Sua origem foi 
intelectualmente privilegiada, já que, como filho de um político do Partido Nacional 
Democrata alemão, pôde ter contato com estudiosos e intelectuais de seu tempo. 
Weber foi para os Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. Lá, passou a 
analisar aspectos de uma sociedade capitalista, comparando-os às estruturas 
tradicionais morais e culturais da Alemanha, cuja corrupção ou enfraquecimento 
 
15 
 
durante a República de Weimar o preocupava. Weber transcende o positivismo de 
Comte, o materialismo de Marx e o funcionalismo de Durkheim, mas admite as 
contribuições de cada um desses aportes, dialogando com seus teóricos em alguns 
trabalhos. O pensador alemão criou a chamada sociologia compreensiva, um 
método de análise que compreende as construções simbólicas de maneira subjetiva. 
Ou seja, é um método que admite que o aparato sistêmico de significação de 
fenômenos sociais é o que dá sentido à ação, e ele pode ser diferente em contextos 
sociais, políticos e históricos distintos. Por isso, Weber contraria o determinismo do 
materialismo histórico de Marx e a impossibilidade de transcendência das estruturas 
sociais de Durkheim. Para ele, o espaço que Marx deu aos conflitos entre classes 
como motor da história foi dado aos processos de racionalização dos fenômenos 
sociais, em associação às dinâmicas de dominação social. 
Comte viveu todo o processo de erosão do poder da nobreza e da monarquia 
francesa, bem como os impactos resultantes dos movimentos que culminaram na 
Revolução Francesa, na ruptura da monarquia e na constituição da república no 
país. Revoluções não são transições, não são alterações que ocorrem aos poucos; 
não há espaço ou tempo para acomodações de mudanças. Para que eclodam, é 
preciso que haja um momento anterior de caos. E os momentos subsequentes à 
ruptura e à instalação de um novo modelo de organização política e social costumam 
também ser pautados por desorganização e incerteza. (SILVA, 2005). 
Para Comte, porém, independentemente dos objetivos de um movimento 
político e das alterações que ele poderia trazer às organizações sociais, deveria 
haver espaço para se pensar em planejamento social e organização, pilares que 
construiriam o bem-estar social. A racionalidade deveria nortear as ações e, assim, 
estabeleceriam-se planos e etapas que ordenariam e manteriam seguras e 
controladas quaisquer alterações na organização social. 
Como você viu, Marx, Weber e Durkheim buscavam compreender as causas 
e consequências das interações sociais. Eles verificavam o modo como tais 
interações se conectavam com um contexto histórico comum e avassalador para as 
estruturas tradicionais de organização social: a modernidade. Por isso, alguns 
elementos estão presentes nas abordagens desses autores. Entre eles, você pode 
considerar: as características estruturais e a expansão do capitalismo, o processo de 
urbanização, a expansão da produção, a saturação do consumo doméstico e as 
 
16 
 
expansões territoriais. Essas transformações deram novas formas e sentidos às 
interações sociais. Os mesmos elementos também tiveram impacto na organização, 
na estrutura e na função do Estado, de modo que a democracia e o liberalismo são 
pautas para as análises sociológicas. (SILVA, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.todamateria.com.br 
 
Como você pode perceber, a sociologia percorreu um longo caminho para se 
estabelecer. Ela se fortaleceu a partir de teóricos com formação em áreas diversas, 
que procuraram explicar ou dar sentido ao caos social que acreditavam existir, ou às 
transformações que vivenciaram. Sua origem, portanto, é resultado de um processo 
de construção de leituras sociais de aproximadamente um século. 
 Seu objeto de estudo, porém, é algo mais claro de se observar nesse 
processo. A sociologia deixa de lado os impactos das organizações do Estado ou de 
elementos sobrenaturais para se concentrar nas práticas sociais que permitem a 
manutenção, a organização ou a ruptura de sistemas de organização social, política 
e econômica. 
 
17 
 
3.2 A realidade e a perspectiva sociológica 
A definição da realidade e as interações estabelecidas dependem, para a 
sociologia, das leituras possíveis para cada indivíduo. Essas possibilidades seriam 
delimitadas pelas técnicas e comportamentos definidos e adquiridos pelo convívio 
com o grupo social de origem. Veja, por exemplo, a pesquisa sociológica sobre a 
memória realizada por Silva (2005). Ao se inserirem numa sociedade que preza mais 
os valores de troca do que os valores de uso dos objetos, os sujeitos da pesquisa 
perderam o objetivo principal da feitura de cerâmica e, com ele, a matéria-prima das 
lembranças. Não estavam mais no lugar onde nasceram e, se a sociabilidade se 
ancorava nas relações de reconhecimento e pertencimento, desejar os mesmos 
utensílios utilizados pela comunidade local era uma forma de não ficar à margem. 
Além disso, o espaço do assentamento já não era o mesmo do passado; não 
havia homogeneidade na origem dos moradores. Eles vinham do Vale do 
Jequitinhonha, em Minas Gerais, do interior de estados do Nordeste, especialmente 
Bahia, Pernambuco e Alagoas, e de estados do Centro-Oeste e do Sul do País, 
como Mato Grosso do Sul e Paraná. Essa gama de origens diferentes fomentava 
conflitos e grupos rivais se punham em atrito devido ao “desconhecimento prévio”. 
Assim, Silva (2005) observou dois desafios metodológicos. 
O primeiro desafio era fazer com que os depoentes compartilhassem o 
mesmo objetivo da pesquisa: o resgate da memória. Aqui está o ponto-chave que 
torna essa pesquisa tão interessante. A socióloga despiu-se dos conceitos 
amplamente difundidos sobre o distanciamento demandado do pesquisador e adotou 
uma metodologia que aproximava pesquisador e pesquisado por meio do diálogo. A 
situação que inicialmente causou estranhamento e desconfiança por parte dos 
sujeitos da pesquisa, especialmente dos líderes políticos (que tendiam a generalizar 
as falas e, com isso, elevavam o risco de enviesar a pesquisa), mostrou-se eficiente 
quando a autora seguiu um conceito de W. Mills que ela mesma cita em seu texto: a 
imaginação sociológica tornou-se sua guia. 
Tomando o diálogo como fonte de troca e saberes, Silva (2005) ministrou uma 
palestra aos alunos do curso noturno do assentamento. Ela falou sobre a memória e 
a sua importância para o processo de reconstrução da identidade e mesmo para a 
constituição dos alunos como sujeitos históricos de uma nova história. Já o segundo 
 
18 
 
desafio girava em torno do caráter teórico-metodológico da pesquisa. Como 
interpretar narrativas orais, interpretar silêncios, identificar esquecimentos ou 
resistências? Como transformar falas em dados a serem analisados, constituintes de 
uma trajetória? 
Como afirma Benjamin (1994): 
A alma, o olho e a mão estão assim inscritos no mesmo campo. Interagindo, 
eles definem uma prática. Essa prática deixou de nos ser familiar. O papel 
da mão no trabalho produtivo tornou-se mais modesto e o lugar que ela 
ocupava durante a narração está agora vazio. (Pois a narração, em seu 
aspecto sensível, não é de modo algum o produto exclusivo da voz. Na 
verdadeira narração, a mão intervém decisivamente com seus gestos 
apreendidosna experiência do trabalho, que sustentam de cem maneiras o 
fluxo do que é dito.) 
A interpretação é de que a relação entre pesquisado e pesquisador é 
artesanal, é feita pelo trabalho das mãos. Inseridos num meio em que o objetivo era 
a produção dos objetos, os depoentes talvez se expressassem mais 
espontaneamente. Se a ideia inicial da oficina de cerâmicas em argila se mostrou 
infrutífera, o mesmo não aconteceu com a oficina de fuxicos (pequenos círculos de 
tecido franzido nas bordas por meio de um alinhavado simples que se assemelham a 
pequenas flores e são matéria-prima para colchas, tapetes, toalhas e almofadas 
artesanais, entre outros produtos). Nessa oficina, aprendendo uma arte nova, ou 
relembrando os ensinamentos das mães e avós, as mulheres do assentamento 
viram-se num ambiente em que as memórias puderam emergir por meio das 
canções entoadas na execução do trabalho, que as lembravam de sua terra de 
origem, suas famílias, suas tradições. O estudo da história de uma vida não é a 
finalidade da sociologia. Ele leva à construção da noção de trajetória como uma 
série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente (ou um mesmo 
grupo) em um espaço de devir e submetido a transformações incessantes. Os 
acontecimentos biográficos definem-se antes como “alocações” e como 
“deslocamentos” no espaço social, isto é, nos diferentes estados sucessivos da 
estrutura da distribuição dos diferentes tipos de capital que estão em jogo no campo 
considerado. Assim, diferente das biografias comuns, a trajetória descreve a série de 
posições sucessivamente ocupadas pelo mesmo indivíduo em estados sucessivos 
do campo social. 
 
19 
 
É apenas nas estruturas de um campo que se define o sentido dessas 
posições sucessivas: as atitudes, o trabalho e tudo aquilo que torna o campo 
interessante o suficiente para ser objeto de uma pesquisa. A coerência teórica dessa 
metodologia se dá pelo fato de que o tempo do devir social dos indivíduos e dos 
grupos já está estruturado por normas, definições sociais, representações ou 
oportunidades típicas socialmente condicionadas de desenvolvimento ou de 
orientação biográfica. Apesar de muito elucidativas, é preciso estar atento ao fato de 
que as biografias, autobiografias e histórias de vida não revelam toda a vida de um 
indivíduo, mas apenas uma versão selecionada de como ele deseja se apresentar. 
Naturalmente, esse não é um processo descartável, já que também é importante 
conhecer e verificar as interpretações que as pessoas fazem de sua própria 
experiência para explicar parte do comportamento social. (CANDIDO, 2006). 
Uma das maiores dificuldades das ciências humanas ao se estabelecerem 
como disciplinas foi a criação e a adequação de ferramentas metodológicas para 
tratar de seus objetos de pesquisa. A ideia era que, ao mesmo tempo em que 
normatizassem a produção científica e acadêmica, as ferramentas também 
legitimassem tais disciplinas, mostrando normatização e controle da pesquisa. Havia 
grande dificuldade em mostrar que, embora afastadas das ciências naturais, 
necessitando de abordagens diferentes, as ciências cujos objetos eram os homens e 
seus pensamentos, suas construções e interações sociais, podiam ser confiáveis; a 
volatilidade do objeto consistia mais em uma oportunidade do que em um problema. 
Foi preciso construir modelos de certa forma rígidos, que conferissem legitimidade 
às pesquisas das novas disciplinas que se formavam — por muitas vezes, a quebra 
desses modelos mostrava certos vieses nas pesquisas. Depois da criação da 
sociologia como disciplina, ocorreu o processo de distinção entre ela e as demais 
ciências, a partir da formulação de metodologias próprias ainda no século XIX. A 
interdisciplinaridade é retomada a partir de fins do século XX, tornando as análises 
mais ricas e aprofundadas. 
Mas qual é a trajetória da sociologia como disciplina? De acordo com Candido 
(2006), pode-se dividir o processo de constituição da sociologia brasileira como 
ciência em dois períodos. No primeiro, entre 1880 e 1930, a sociologia seria “[...] 
praticada por intelectuais não especializados, interessados principalmente em 
formular princípios teóricos ou interpretar de modo global a sociedade brasileira” 
 
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(CANDIDO, 2006, documento online). Nesse período, não haveria ensino nem 
pesquisa empírica acerca de aspectos delimitados da realidade contemporânea. O 
segundo período se construiria após a década de 1940, e nesses 10 anos entre uma 
fase e outra é que a sociologia se incorpora ao ensino superior e passa a ser tratada 
como instrumento de análise social. 
 Nessa fase, surgem os primeiros sociólogos de formação brasileira, que 
fomentam o segundo período da sociologia no País. Ainda segundo Candido (2006), 
a sociologia como campo científico sofre duas influências tão decisivas que a 
marcam permanentemente: a do direito e a do evolucionismo. No século XIX, o 
esforço de compreender o Estado, o universo econômico e as estruturas políticas do 
País foi, essencialmente, do jurista, que o autor determina como “[...] o intérprete por 
excelência da sociedade, que o requeria a cada passo e sobre a qual estendeu o 
seu prestígio e maneira de ver as coisas” (CANDIDO, 2006, p. 273). Contudo, 
[...] como as teorias dominantes na segunda metade do século se achavam 
marcadas pelo surto científico de então, notadamente a Biologia, que saiu 
dos laboratórios para se divulgar de maneira triunfante, os juristas 
mergulharam na fraseologia científica e se aproximaram, neste terreno, dos 
seus pares menos aquinhoados, médicos e engenheiros, que com eles 
formavam a tríade dominante da inteligência brasileira. Vemos então, na 
Sociologia, os juristas inaugurarem uma orientação cientificista, como se 
dizia, que contou desde logo com a cooperação de engenheiros e sobretudo 
médicos. A sociologia brasileira formou-se, portanto, sob a égide do 
evolucionismo e recebeu dele as preocupações e orientações fundamentais, 
que ainda hoje marcam vários dos seus aspectos (CANDIDO, 2006, p. 273). 
De fato, os pensadores mais influentes do período, como Sílvio Romero e 
Fernando de Azevedo, tiveram e assumiram influência darwinista e jurista. Azevedo, 
um dos fundadores da disciplina no Brasil, foi influenciado por um caldo de cultura 
científica — que ia dos juristas aos filósofos, passando pelos defensores da biologia. 
No texto A Ciência da Humanidade: Sociologia... Seu lugar entre a ciência, seu 
método, pode-se perceber em Sílvio Romero a influência evolucionista, a partir da 
óptica jurista de análise social. O direito constitui-se de fatos observáveis: as leis. 
Mas as leis existem para regimentar uma sociedade, um corpo social que age, vive e 
discute; que, portanto, está em constante movimento. 
Num Estado, cidadãos estão sob suas leis, mas as leis não são as mesmas 
em países diferentes, nem se apresentam a todos os cidadãos da mesma maneira. 
A ciência jurídica, portanto, pode ser subdividida em vários ramos, que entram numa 
 
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mesma variável geral: a sociologia. Mas a sociologia é uma ciência? Esse 
questionamento sobre a legitimidade da sociologia como ciência é para onde o olhar 
de Romero (2001) se direciona, criticando os opositores da “ciência da sociedade”. 
O maior crítico da sociologia brasileira é o poeta e jurista Tobias Barreto. A crítica do 
jurista sergipano estaria especialmente desenvolvida em “estudos alemães” e é 
apresentada no ensaio Variações antissociológicas. Seus argumentos contrários à 
“ciência da sociedade” eram os seguintes: 
 
 estudo dos fenômenos sociais culminaria numa “pantosofia” (uma ciência 
do “tudo”), que não é compatível com o espírito humano; 
 culminaria também em sociolatria, ou seja, a exaltação da grandeza 
humana, algo que para Barreto era inconciliável com uma ciência social; 
 a liberdade invalidaria a sociologia: “Enquanto não se provar que a 
vontade humana é uma forçanatural [...] como o calor e a eletricidade, a 
sociologia nada vale” (BARRETO, 1962, p. 42); 
 se a sociologia trata da sociedade, então seu objeto seria uma abstração 
sem objetivo e haveria tantas sociologias quanto existem grupos sociais; 
 homem, família e Estado não poderiam ter explicações e mecanismos, 
como existem nos objetos das ciências naturais; 
 a sociologia derivaria da ideia errada de que a sociedade é um indivíduo 
diferente do Estado, assim sociologia e ciência política seriam ciências 
diferentes; 
 para Barreto (1962), a mania da “lei”, que regularia normas e épocas, 
exposta com a estatística como prova para o fenômeno social, não 
provaria nada; 
 emparelhamento da sociologia com as ciências naturais não funcionaria, 
pois não há uma ciência da natureza parecida com o que a sociologia 
procurava ser em relação à sociedade. 
 
Segundo Romero (2001, p. 54), 
 
 
 
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“[...] não há dúvida de que o jurista de Estudos de Direito tem em grande 
parte razão. Mas não se deve concluir do abuso para a condenação geral 
da coisa. Porque alguns fantasistas andam por aí a inventar engraçadas e 
insustentáveis leis sociológicas”. 
 
O trabalho do pesquisador está em constante construção e transformação. O 
objeto demanda sempre uma forma de olhar única, particular. Assim, transportar 
métodos de análises conhecidos, eficazes anteriormente, nem sempre mostra-se 
eficiente. Mas o trabalho dos sociólogos que se seguiram à delimitação do campo 
científico mostra que, muito mais do que encaixar um objeto num tipo de abordagem 
ou análise preexistente, é ofício do pesquisador procurar, desbravar, produzir novos 
meios de se chegar ao seu tema, ao seu objeto. 
3.3 Ciências naturais e sociologia: o trabalho de Spencer na legitimação do 
campo sociológico 
É interessante você observar que os pensadores da sociologia 
empreenderam uma luta árdua para desenvolver metodologias próprias, e a ciência 
política trava hoje a mesma batalha. Definida por alguns autores apenas como um 
desdobramento ou uma ramificação da sociologia, já que seu foco é uma parte 
importante da estrutura de qualquer sociedade (o Estado e as relações sociais que 
advêm dele), a ciência política busca ainda hoje estabelecer metodologias 
particulares, que a legitimem como ciência diversa da sociologia. Nesse caminho, 
muitos criticam seus pensadores por utilizarem métodos quantitativos e estatísticos 
em demasia, como numa clara oposição às experiências qualitativas mais utilizadas 
pela sociologia contemporânea, transformando-a, talvez, numa ciência “dura”. Mas, 
se para se opor à sociologia é preciso adotar metodologias quantitativas, isso não 
poderia classificar a ciência política quase como uma ciência matemática? É 
possível relacionar o modo como a ciência política trabalha hoje para se diferenciar 
da sociologia com o modo como a sociologia trabalhou para se diferenciar das 
ciências naturais no século XIX. Naquele período, a classificação das ciências se 
dava em função de uma suposta complexidade, como no modelo a seguir: 
 
1. Matemática 
2. Astronomia 
 
23 
 
3. Física 
4. Biologia 
5. Sociologia 
 
Aqui, a sociologia já se encaixava no plano das ciências, mas no menor grau 
de complexidade. Para Spencer, o quadro não se definia em ordem de importância, 
mas da seguinte maneira: 
 
1. ciências abstratas 
2. ciências abstrato-concretas 
3. ciências concretas 
 
Ou seja, para Spencer, haveria particularidades em cada ciência provenientes 
da natureza de seus objetos, mas o rigor metodológico asseguraria a sua 
classificação como ciência. Por isso, não poderia haver ciência mais ou menos 
complexa, mais ou menos importante, ainda que houvesse diferenças ocasionadas 
pelos objetos de estudo. (AUGUSTINHO, 2018) 
O evolucionismo moderno quebrou essas barreiras, como mostra Spencer na 
sua delimitação dos processos do método de pesquisa: 
 
1. observação 
2. observação artificial 
3. experimentação 
4. comparação 
5. classificação 
6. indução 
7. dedução 
 
O autor definiu e categorizou passos e assegurou que não haveria outros, 
nem ciência que não precisasse deles. E a sociologia não fugiria à regra. Spencer 
relata que, como cientista e sociólogo, seu objeto foi o próprio ato de observar e 
desenvolver o método da sociologia. A partir de comparações com temas e objetos 
da física, da biologia, da astronomia, da anatomia e da química, ele chegou à 
 
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conclusão que buscava: o método da sociologia é o mesmo de todas as outras 
ciências. Como você viu, a sociologia surgiu como uma “resposta científica” às 
questões sociais que emergiram no século XIX, especialmente com o desenrolar da 
Revolução Industrial. (ROMERO, 2001). 
A sociedade em crise, desorganizada e em situação de caos, levou 
pensadores a trabalharem numa resposta, numa saída para os problemas sociais 
como a fome, a violência e o desemprego. Comte e Durkheim trabalharam para que 
a ciência pudesse dar respostas e direções para o restabelecimento da ordem. Já 
Marx viu no caos a expressão de que as sociedades estavam inevitavelmente se 
transformando, e o despertar das classes trabalhadoras levaria o processo em 
direção ao comunismo mais objetivo. Mas todos os teóricos se fundamentaram nos 
diálogos com os parâmetros empíricos das ciências naturais para a definição das 
práticas de análise dos fenômenos sociais, pavimentando o caminho para os 
chamados “sociólogos profissionais” do século XX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.mundociencia.com.br

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