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ESPOROTRICOSE O QUE É IMPORTANTE SABER? O QUE É? A esporotricose é uma micose cutânea e/ou subcutânea, de ca- ráter zoonótico, causada pelo fungo dimórfico do complexo Sporo- thrix, principalmente pelas espécies S. schenckii e S. brasiliensis. Essa afecção acomete animais domésticos (aves e mamíferos) e o homem. No Brasil, a ocorrência da esporotricose tem sido frequentemente di- agnosticada em felinos domésticos, que podem se infectar facilmente e transmitir a doença ao homem (SANTOS, 2019). AGENTE ETIOLÓGICO O Sporothrix spp. (figura 1) é um fungo dimórfico, que habitual- mente é encontrado na natureza na forma filamentosa e, após ser ino- culado no hospedeiro, faz transição para sua forma leveduriforme (GREENE, 2015; VETTORATO et al., 2018). Estudos moleculares apontam um complexo com seis es- pécies distintas, sendo S. brasilien- sis o que possui maior fator de viru- lência, devido sua capacidade de infiltrar em tecidos animais e levar a morte. Figura 1. Forma levedur iforme de Spo- rothrix spp. Imagem: https://mycology.adelaide.edu.au/ virtual/2008/ID2-Jan08.html#page-top https://mycology.adelaide.edu.au/virtual/2008/ID2-Jan08.html#page-top https://mycology.adelaide.edu.au/virtual/2008/ID2-Jan08.html#page-top O Sporothrix spp. é comumente encontrado em maté- ria orgânica em decomposição encontrada na terra, espi- nhos e farpas sendo que o gato pode se contaminar tanto em contato com a terra ou através de ferimentos oriundo de brigas com outros animais infectados (CAVALCANTI, 2018). EPIDEMIOLOGIA A doença pode acometer aves e mamíferos domésti- cos e o homem. Tem ocorrência mundial, sendo mais pre- valente em regiões tropicais e subtropicais (figura 2). No Brasil, há relatos da detecção de quatros espécies do com- plexo S. schenkii, sendo a mais importante a S. brasiliensis, representando 97% dos casos isolados em felinos no país. (SANTOS, 2019). Figura 2. Distr ibuição da esporotricose no mundo. Imagem: adaptado de Chakrabarti et al ., 2015 Alta Moderada Baixa Carga de Esporotricose A transmissão da esporotricose ocorre pela entrada do fungo na pele, entretanto para ocorrer infecção, deve haver lesão da epi- derme (GREMIÃO et al., 2017) . Ela é popularmente conhecida co- mo “doença do jardineiro”, pois a contaminação se dava frequente- mente por ferimentos causados por espinhos em pessoas que viviam na zona rural. Já a transmissão do animal para o homem, pode ocor- rer por contato direto da pele lesionada com secreções de animais doentes, além de arranhaduras ou mordeduras destes animais, geral- mente, dos gatos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATO- LOGIA – RIO DE JANEIRO, 2019). ESPÉCIES ACOMETIDAS Os felinos são os principais envolvidos na transmissão da esporotricose, possivelmente de- vido a maior carga fúngica em lesões, hábitos de arranhar árvores, percorrer longas distâncias e envolvimento em brigas, estas ligadas também ao hábito de se defenderem utilizando a arranha- dura (SCHUBACH, 2013). TRANSMISSÃO Porém, existem relatos da presença do fungo em outros ani- mais como primatas, bovinos, camelídeos, caprinos, suínos, aves, tatus, golfinhos e artrópodes (abelhas, pulgas, formigas). Esses hos- pedeiros podem, eventualmente, ser responsáveis pela infecção no homem (LARSSON, 2011). FORMAS DA ESPOROTRICOSE A doença pode se apresentar de diferentes formas clínicas sendo elas: Cutânea: Apresenta lesões na pele, podendo ser uma única lesão (fixa - Figura 3a) ou múl- tiplas lesões (cutânea dissemi- nada - Figura 3b) (BRASIL, 2019). Linfocutânea: formam-se nódulos no tecido subcutâneo que por sua vez, se- guem os vasos linfáticos da região afeta- da, sendo as lesões se apresentando em formato de cordão (figura 4) (BRASIL, 2019). Figura 3. Formas cutâneas de esporotr icose. A) Cutânea fixa. B) Cutânea Disseminada Imagens cedidas pelo Prof. Marconi Rodrigues de Faria, PUCPR A B Figura 4. Forma linfocutâ- nea. Imagem cedida pelo Prof. Marconi Rodrigues de Faria, PUCPR Extracutânea: quando o fungo atinge outros orgãos, compro- metendo, ossos, pulmões, mucosas (figuras 5a e 5b), entre out- ros (BRASIL, 2019). LESÕES Nos gatos, a doença ocorre principalmente na forma cutânea, apresentando-se como áreas circulares, elevadas, com alopecia e crostas, em grande número com ulceração central. Essas lesões são encontradas comumente na cabeça, região lombar e membros (figuras 6 e 7), por serem os locais mais afetados nas brigas (CAVALCANTI, 2018). Imagens cedidas pelo Prof. Marconi Rodrigues de Faria, PUCPR A B Figura 5. Forma extracutâ- nea com lesão em mucosas. A) Lesão oftálmica. B) Lesão respiratória. Imagens cedidas pelo Prof. Marconi Rodrigues de Faria, PUCPR Figura 6. Gato com lesões na cabeça. Figura 7. Gato com lesões na cabeça e membros. Nos seres humanos as lesões são muito semelhantes, poden- do ser encontrados também pequenos nódulos dérmicos ou subcu- tâneos no local de inoculação, e também nas mucosas conjuntival, nasal, bucal ou genital (SANTOS, 2019). Porém, a ocorrência mais comum é a infecção linfocutânea, se dando após a inoculação do agente na pele. Formas mais graves são raras, ocorrendo princi- palmente em pessoas imunossuprimidas (SANTOS, 2018). DIAGNÓSTICO Para realização do diagnóstico definiti- vo é importante basear-se nos dados infor- mados pelo tutor no histórico, anamnese e, principalmente, pelo exame clínico realiza- do. É nele que o médico veterinário vai fazer a avaliação e reconhecimento das lesões e possíveis sinais que encaminharão para o diagnóstico da doença. Aliados a isso, deve amparar-se em resultados de exames labora- toriais, tais como: citodiagnóstico (figura 8); exame micológico (cultivo); histopatologia; reação em cadeia de polimerase (PCR); dentre outros (LARSSON, 2011). Figura 8. Coleta de mater ial para exame citopatológico. Imagem cedida pelo Prof. Mar- coni Rodrigues de Faria, PUCPR CITODIAGNÓSTICO Pode ser realizado a partir de material coletado, como exsu- dato e biópsia do tecido afetado, submetido à colorações especiais de Gram, Wright, Giemsa, Rosenfeld, que permitem a evidencia- ção, principalmente em gatos, de formas leveduriformes, arredon- dadas, ovóides, em forma de “charuto”, com 3-5 cm de diâmetro e 5-9 cm de comprimento. Em cães e equinos tais formas são escas- sas ou muito raras. Independentemente dos resultados obtidos pela citologia deve-se, sempre, submeter o material coletado a exame micológico (LARSSON, 2011). EXAME MICOLÓGICO A partir do material colhido, deve-se realizar o cultivo em Ágar Sabouraud dextrose, acrescido de cicloeximida (25° e 37°C), Ágar BHI (37°C) ou no Meio de Celeste Fava Neto (37°C), para ca- racterizar os aspectos micromorfo- lógicos do agente (com formas de “margarida” ou “crisântemo”) (figura 9). O cultivo demanda entre 10 e 14 dias para confirmar ou des- cartar o diagnóstico etiológico (LARSSON, 2011). Figura 9. Aspecto microscópico de S. schenckii em sua forma filamentosa. Imagem: https://mycology.adelaide.edu.au/ virtual/2008/ID2-Jan08.html#page-top https://mycology.adelaide.edu.au/virtual/2008/ID2-Jan08.html#page-top https://mycology.adelaide.edu.au/virtual/2008/ID2-Jan08.html#page-top HISTOLOGIA Deve-se escolher uma área de lesão nova, intacta, não dre- nante e submetê-la à biópsia incisional ou excisional. Em função do número extremamente variável de organismos, oscilando desde um grande número (felinos) até escassos agentes presentes (caninos, equinos) recomenda-se, além da coloração clássica He- matoxilina-Eosina (HE), recorrer às técnicas argênteas de metena- mina de Gomori ou Grocott ou, ainda, ao do Ácido periódico de Schiff (PAS). Os organismos são pleomórficos, arredondados a ovaloides, ocasionalmente observados em franco brotamento (3-8 micrômetrosde diâmetro). Por vezes observa-se organismos com formato alongado (formato “em charuto”), de até 10 micrômetros de comprimento, tanto livres como alojados no interior de macró- fagos (LARSSON, 2011). REAÇÃO EM CADEIA DE POLIMERASE O método de Reação em Cadeia de Polimerase foi desenvol- vido para a detecção do agente, diretamente a partir de amostras teciduais biopsiadas de pacientes, felinos e humanos, com esporo - TRATAMENTO O combate à doença encontra desafios pois, o tempo prolon- gado e regular do tratamento, a dificuldade em fornecer medica- mentos por via oral aos felinos pelos tutores e o alto custo dos me- dicamentos dificultam a cura do animal (SCHUBACH, 2004). É importante ressaltar que durante o trata- mento, é indispensável o uso de luvas ao manipular os animais, sendo esta uma forma de prevenir a transmissão da doença ( BRASIL, 2019). As opções terapêuticas para o tratamento da esporotricose humana e felina são os derivados azólicos, principalmente os tria- zólicos (de primeira geração: itraconazol e flu- conazol); os iodeto de sódio e potássio; a terbi- nafina; a anfotericina B; associados ou não a remoção cirúrgica das lesões, além da termo- terapia e a criocirurgia, sendo importante o tricose, recorrendo-se a “primers” oligonucleotídeos baseados no gene quitina-sintetase 1 (CHS1) do S. schenckii (LARSSON, 2011). o acompanhamento de um profissional da saúde para realizar a avaliação clínica e orientação médica quanto a melhor opção tera- pêutica (BRASIL, 2019). Os casos de esporotricose canina podem ser submetidos à terapia halogênica, com solução satura- da de iodeto de sódio ou potássio a 20% via oral. Já a esporotricose equina também pode ser tratada com iodetos, sendo o iodeto de potássio administrado via oral e o iodeto de sódio, via endoflébica (LARSSON, 2011). PREVENÇÃO Para a prevenção da esporotricose é essencial a educação em saúde através da divulgação das medidas preventivas à população, como: Guarda responsável do animal; Tratamento adequado dos animais doentes; Nunca abandonar o animal, mantê-lo com acesso restrito à rua, não só durante o tratamento mas por toda a vida do ani- mal, evitando que esse se infecte ou dissemine a doença. (BRASIL, 2019) É importante também a utilização dos Equipamentos de Pro- teção individual (EPI) durante a manipulação de animais doentes e manter o mínimo contato possível com os mesmos durante o trata- mento. A destinação correta dos animais que vieram a óbito por conta da doença é de grande importância no controle. Recomenda- se que seja realizada incineração do corpo destes animais, evitando enterrar o animal ou jogar o cor- po no lixo, pois assim evita que o ambiente seja contaminado (BRASIL, 2019). Por fim, quanto mais cedo for feito o diagnóstico e trata- mento adequado, menores são os riscos para o animal, o ser humano e o ambiente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Se tratando de uma zoonose, a esporotricose é uma doença de importância em saúde pública, devendo a população ser infor- mada e conscientizada sobre as formas de contágio, os sintomas apresentados e métodos de prevenção, garantindo não só um diag- nóstico rápido e tratamento correto, mas um controle efetivo da doença. Assim, a castração se torna importante, pois além de con- trolar a população desses animais também colabora na manutenção do animal em domicílio, reduzindo comportamentos de risco para a disseminação do agente como brigas com outros felinos e gran- des deslocamentos no ambiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENVEGNÚ, A. M. et al. Disseminated cutaneous sporotrichosis in patient with alcoholism. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, [s.l.], v. 50, n. 6, p. 871-873, dez. 2017. FapUNIFESP (SciELO). 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