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Senso Comum e Gramsci: Filosofia Política

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2º ANO – SÍNTESE PARA ESTUDOS COMPLEMENTARES DE FILOSOFIA
SENSO COMUM E GRAMSCI: “Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos.” Encontra-se no senso comum a presença de elementos ingênuos, aleatórios e difusos, além do fato de ser conservador, isto é, resistente a mudanças, constituindo-se numa forma de conhecimento não sistematizado e acrítico. A função do intelectual orgânico é favorecer a passagem do senso comum ao bom senso, isto é, o núcleo sadio das crenças e práticas populares, dotado de ética adequada e ação efetiva contra as contradições da realidade. A formação dos intelectuais e governantes é, na maior parte das vezes, ideológica, favorecendo as disputas de classe e divisões da cultura. Ótima questão, que utiliza a filosofia política de Gramsci para interpretar o senso comum. O senso comum não corresponde a ideias inaptas ao conhecimento. Pode ser considerado como um conhecimento ingênuo ou irrefletido, mas de maneira nenhuma algo irracional e falsificador da realidade. Ele é, na verdade, muito útil à vida cotidiana. Deve-se levar em consideração que Gramsci desenvolveu a ideia de intelectuais orgânicos em oposição aos intelectuais tradicionais. Os orgânicos teriam a característica de se vincularem ao projeto da classe na qual estão inseridos. Sendo assim, não podem ser considerados como uma simples elite técnica. 
VIDA DE GRAMSCI: A resistência do teórico marxista Antônio Gramsci ao regime fascista valeu-lhe longos anos de cadeia. Mesmo no cárcere, escreveu muito, criticando o dogmatismo do marxismo oficial que, ao petrificar a teoria, impedia a prática revolucionária. O nacional-socialismo alemão e o fascismo italiano foram doutrinas e práticas políticas totalitárias. O totalitarismo caracteriza-se por estabelecer um Estado total, monolítico, que absorve, em seu interior, em sua organização, o todo da sociedade e suas instituições, controlando-a por inteiro; elimina, dessa maneira, a participação política pluralista. Tanto na Alemanha quanto na Itália, alguns filósofos contribuíram com a formação da ideologia do nazifascismo ou a ela se opuseram. Benedito Mussolini e Adolf Hitler aceitaram a crítica marxista ao liberalismo, mas ambos recusavam a ideia de uma revolução proletária. Antonio Gramsci é considerado um dos grandes filósofos políticos do século XX. No Brasil, sua obra foi amplamente resgatada nos anos 1980 e 1990 para a reflexão sobre a democracia no país e para a construção de práticas pedagógicas mais críticas. Um dos postulados de Gramsci é o de que: “Todos [os homens] são filósofos, ainda que a seu modo inconscientemente”. Por serem dotados de consciência, está aberta a possibilidade a todos os indivíduos de refletirem de forma não fenomênica sobre seu cotidiano.
POLÍTICA EM GRAMSCI: Proferiu o seguinte comentário a respeito de Maquiavel: “Maquiavel não é um mero cientista; ele é um homem de participação, de paixões poderosas, um político prático, que pretende criar novas relações de força e que por isso mesmo não pode deixar de se ocupar com o ‘deve ser’, que não deve ser entendido em sentido moralista. Assim, a questão não deve ser colocada nestes termos, é mais complexa: trata-se de considerar se o ‘dever ser’ é um ato arbitrário ou necessário, é vontade concreta, ou veleidade, desejo, sonho. O político em ação é um criador, um suscitador; mas não cria do nada, nem se move no vazio túrbido dos seus desejos e sonhos. Maquiavel não trata o “deve ser” na perspectiva ontológica da filosofia clássica. O juízo moral se submete às condições concretas que se apresentam para a conquista e a conservação do poder do Estado pelo príncipe moderno. O político, segundo Maquiavel, baseia suas ações na realidade factual. Seu dever deve ser considerado como um “ato arbitrário ou necessário, como vontade concreta, ou veleidade, desejo, sonho”. Isso está muito distante da perspectiva clássica, uma vez que visa à conservação do poder do Estado. 
PRODUÇÃO EM GRAMSCI: Fordismo é um termo que se generalizou a partir da concepção de Antonio Gramsci, que o utiliza para caracterizar o sistema de produção e gestão empregado por Henry Ford, em sua fábrica, a Ford Motor Co., em Highland Park, Detroit, em 1913. O método fordista de organização do trabalho produziu surpreendente crescimento da produtividade, garantindo, assim, produção em larga escala para consumo de massa. O papel desempenhado pelo fordismo, enquanto sistema produtivo, despertou, por exemplo, a atenção de Charles Chaplin, que o retratou com ironia no filme Os Tempos Modernos. O controle dos tempos e movimentos do trabalho, com a introdução da esteira rolante, e de salários mais elevados em relação à média paga nas demais empresas. A esteira é o símbolo do modelo fordista de produção. Não é sem razão que ela é tão bem representada no filme Tempos Modernos, de Chaplin. Além da utilização desta, o modelo fordista apresentava um forte controle sobre a produção, que se tornava em larga escala, utilizando-se, inclusive, do aumento do salário para os funcionários, com intuito de estimulá-los a produzirem mais. 
CULTURA E A IDEOLOGIA EM GRAMSCI: Vários autores procuram demonstrar que esses dois conceitos não podem ser utilizados separadamente, pois há uma profunda relação entre eles, sobretudo no que diz respeito ao processo de dominação nas sociedades capitalistas. O pensador italiano Antônio Gramsci (1891-1937) analisa essa questão com base no conceito de hegemonia e no que ele chama de aparelhos de hegemonia. “Por hegemonia pode-se entender o processo pelo qual uma classe dominante consegue que seu projeto seja aceito pelos dominados, desarticulando a visão de mundo autônoma de cada grupo potencialmente adversário. Isso é feito por meio dos aparelhos de hegemonia, que são as instituições no interior do Estado ou fora dele, como o sistema escolar, a igreja, os partidos políticos, os sindicatos e os meios de comunicação. Nesse sentido, cada relação de hegemonia é sempre pedagógica, pois envolve uma prática de convencimento, de ensino e aprendizagem. Para Gramsci, uma classe se torna hegemônica quando, além do poder coercitivo e policial, utiliza a persuasão, produz o consenso, que é desenvolvido mediante um sistema de ideias muito bem elaborado por intelectuais a serviço do poder, para convencer a maioria das pessoas. Por esse processo, cria-se uma “cultura dominante ativa”, que deve penetrar no senso comum de um povo, com o objetivo de demonstrar que a visão de mundo daquele que domina é a única possível. A ideologia não é o lugar da ilusão e da mistificação, mas o espaço da dominação, que não se estabelece somente com o uso legítimo da força pelo Estado, mas também pela direção moral e intelectual da sociedade como um todo, baseada nos elementos culturais de cada povo. Mas, Gramsci aponta também a possibilidade de haver um processo de contra hegemonia, desenvolvido por intelectuais orgânicos, vinculados à classe trabalhadora, na defesa de seus interesses. Contrapondo-se à inculcação dos ideais burgueses por meio da escola, dos meios de comunicação de massa, etc. eles combatem nessas mesmas frentes, defendendo outra forma de pensar, agir, e sentir na sociedade em que vivem.”. Os aparelhos de hegemonia são as instituições no interior do Estado ou fora dele, como o sistema escolar, a igreja, os partidos políticos, os sindicatos e os meios de comunicação. Nesse sentido, cada relação de hegemonia é sempre pedagógica, pois envolve uma prática de convencimento, de ensino e aprendizagem. A hegemonia ocorre através de um processo que convence a classe dominada das ideias da classe dominante. Esse processo é também pedagógico, e resulta das relações de poder ao interno da sociedade. 
EDUCAÇÃO E GRAMSCI: Um dos grandes dilemas da educação na sociedade moderna é reproduzir a sociedade ao mesmo momento em que tem que contribuir para a sua mudança. Antonio Gramsci e Paulo Freire são autores que muito inspiramaqueles que entendem a educação como forma de superação das contradições da sociedade capitalista. Em contrapartida, os estudos de Émile Durkheim e de Pierre Bourdieu demonstram como a escola, longe de transformar a sociedade, acaba por reproduzi-la, inclusive nas desigualdades que lhes são próprias. 
GEORG LUKACS: “Para compreender a História, a análise marxista remonta aos fundamentos materiais da ação humana, à produção e à reprodução materiais da vida humana. Nela descobre as leis históricas objetivas, mas não nega, no entanto, o papel da subjetividade na História. Apenas determina o lugar exato que lhe cabe na totalidade objetiva da evolução da natureza e da sociedade.” A citação acima exprime, com rigor, o método materialista dialético, concebido por Karl Marx para a investigação social, cujo propósito era a transformação da sociedade, tendo em vista a superação do capitalismo e a construção da sociedade sem classes.Os fundamentos materiais da ação humana decorrem das relações sociais, manifestadas nas relações de produção, que determinam o ser social do homem e interferem no mundo da natureza. A produção da vida material é um fenômeno fundamental para a teoria marxista. Segundo o filósofo alemão, é a partir dela que as relações sociais se manifestam, que a história se transforma e que a subjetividade do homem se forma. 
O trabalho, em seu caráter fundante do ser social, constitui a atividade permanente e imanente da própria existência humana e o elemento impulsionador para a dinâmica da vida em sociedade, que incide de forma decisiva no processo de ruptura do homem com seu meio natural. O trabalho, em seu caráter fundante do ser social, constitui a atividade permanente e imanente da própria existência humana.A mercadoria não se impõe como uma coisa ou um conjunto de coisas, mas antes como uma lógica (...) A tese da reificação desconhece o essencial da teoria socioeconômica do Capital. Os seres humanos não se tornam coisas. Isto só sucede na escravidão (anterior e exterior à extensão das mercadorias) e na prostituição. (Henri Lefebvre. Sociologia de Marx, 1979, p. 73) 
REIFICAÇÃO DE GEORG LUKACS: Segundo Lukács, a fonte primária, o polo de disseminação da reificação situa-se na organização capitalista do trabalho. A trajetória histórica de suas modalidades principais, da oficina artesanal à grande indústria, não cessa de ampliar a fragmentação da subjetividade do trabalhador. Se perseguirmos o caminho desenvolvido pelo processo de trabalho desde o artesanato, passando pela cooperação e pela manufatura, até a indústria mecânica, descobriremos uma racionalização continuamente crescente, uma eliminação cada vez maior das propriedades qualitativas humanas e individuais do trabalhador. 
CONSCIÊNCIA DE CLASSE DE GEORG LUKACS: Na sociedade capitalista apenas a burguesia e o proletariado são “classes puras”, isso é, classes “cuja existência e evolução baseiam-se exclusivamente no desenvolvimento do processo moderno de produção. ” As outras classes, pelo fato de sua posição na sociedade não se fundar exclusivamente no seu lugar no processo de produção, são incapazes de perceber a sociedade atual em sua totalidade, e por isso estão condenadas a desempenhar um papel subordinado, nunca podendo intervir efetivamente na marcha histórica como fator de conservação ou progresso, isso é, como classes exclusivamente reacionárias ou revolucionárias. Assim, por exemplo, o caráter incerto ou estéril de classes como a pequena burguesia, que de certa forma ainda se relacionam às formações sociais anteriores ao capitalismo, explica-se pelo fato de sua existência não ser fundada exclusivamente sobre sua situação no processo de produção capitalista. Seu interesse de classe manifesta-se em função de manifestações parciais da sociedade, e não da construção da sociedade como um todo. 
ARISTÓTELES E CATARSE: Falava da tragédia como catarse, pela qual a arte nos capacita a lidar com emoções universais por nos confrontar com elas e, em certo sentido, nos fazer purgá-las, ao assistirmos a um drama. Hsun Tzu achava que, de certa forma, a música reflete a harmonia da ordem divina, de modo que sabermos apreciar a música de maneira adequada nos leva a um certo insight [iluminação] da realidade última. Schopenhauer acreditava que a arte é um insight do aspecto fundamental da realidade: a vontade, isto é, o poder por trás de toda atividade do universo. Para Aristóteles, a arte tem uma função preponderantemente expressiva. Podemos dizer que somente Aristóteles possui uma definição de arte com relação à função expressiva. Enquanto Hsun Tzu e Schopenhauer concebiam a arte como insight, Aristóteles a enxergava como catarse, ou seja, como expressão humana (apesar de alguns autores considerarem que a função pedagógica seja a predominante na concepção aristotélica de arte). 
O JUÍZO ESTÉTICO EM KANT: é uma intuição do inteligível no sensível, em que o sujeito não proporciona nenhum conhecimento do objeto que provoca, não consiste em um juízo sobre a perfeição do objeto, é válido independentemente dos conceitos e das sensações produzidas pelo objeto. Então, para Kant, a estética é uma intuição subjetiva. Segundo Kant, o juízo estético advém do prazer gerado, não havendo necessidade de estar relacionado com qualquer conhecimento acerca do objeto. Nesse sentido, esse corresponde a somente uma intuição de ordem subjetiva, de acordo com a forma que o sujeito percebe o objeto. 
O BELO E O ESPÍRITO ABSOLUTO: Segundo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a realidade é a manifestação do Espírito infinito ou Absoluto, que é necessariamente histórico, dialético e realizador da unidade entre pensamento e mundo. Sobre a manifestação do Espírito na arte, segundo a Filosofia de Hegel, a base do artista é o Absoluto e a arte se inclui em uma história que está longe de ser cíclica. Para ele, a história tem um sentido, a do progresso do Espírito. “A arte está incluída nesta história: exprime, como a religião e a filosofia, o modo como o espírito chega a superar a oposição ou a contradição entre a matéria e a forma, entre o sensível e o espiritual. (...) Em Hegel, o belo é a própria realidade concreta apreendida no seu desdobramento histórico. Quando esta realidade toma a forma sensível do belo artístico, determina o Ideal do belo artístico. E este Ideal do belo aparece na história de três formas fundamentais: a arte simbólica, a arte clássica e a arte romântica. (...) É na arte romântica - a última forma particular de arte - que a espiritualidade atinge seu máximo. A arte romântica é uma arte da interioridade absoluta e da subjetividade consciente de sua autonomia e de sua liberdade. A representação do divino, do ‘reino de Deus’ abandona qualquer referência à natureza, à realidade sensível. (...) Esta arte romântica produz obras poderosas, na pintura, música, mas sobretudo no domínio da criação literária e poética: Dante, Cervantes, Shakespeare até Goethe e Schiller.” No início do século dezenove, mais precisamente com Hegel, a arte é concebida no interior do domínio do absoluto, isto é, da verdade enquanto tal e dos elementos que a expõem. A beleza é, enquanto produto da arte, manifestação sensível do absoluto. O idealismo hegeliano enxerga no absoluto a totalidade da realidade. Já a concepção estética do filósofo relaciona a beleza como sendo a máxima expressão sensível dessa totalidade. 
INDUSTRIA CULTURAL: O modo de comportamento perceptivo, através do qual se prepara o esquecer e o rápido recordar da música de massas, é a desconcentração. Se os produtos normalizados e irremediavelmente semelhantes entre si, exceto certas particularidades surpreendentes, não permitem uma audição concentrada, sem se tornarem insuportáveis para os ouvintes, estes, por sua vez, já não são absolutamente capazes de uma audição concentrada. Não conseguem manter a tensão de uma concentração atenta, e por isso se entregam resignadamente àquilo que acontece e flui acima deles, e com o qual fazem amizade somente porque já o ouvem sem atenção excessiva.(ADORNO, T. W. O fetichismona música e a regressão da audição. As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memorização e com forte apelo à cultura de massa. A respeito do tema da regressão da audição na Indústria Cultural e da relação entre arte e sociedade em Adorno, existe a impossibilidade de uma audição concentrada e de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de que a música tornou-se um produto de consumo, encobrindo seu poder crítico. A arte organiza-se pelo sistema capitalista e, consequentemente, funciona como peça através da qual se manipula o interesse do público e se justifica como a reprodução de um estilo de vida. Essa arte deixa de servir a si mesma e passa a servir, como qualquer coisa industrial, à geração incessante de cifras. A indústria cultural deve, então, ser vista através de crítica severa, pois apenas assim se libertaria a Arte desta necessidade financeira e a transformaria em algo que serve o seu propósito social emancipatório. Isto quer dizer que a Arte precisa se liberar das reproduções sistêmicas próprias de uma indústria capitalista. O conformismo e a passividade do espectador devem ser, por conseguinte, superados para que a crítica aconteça. 
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