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Movimento Negro no Brasil Contemporâneo

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O movimento negro no Brasil e os 
desafios contemporâneos
Apresentação
O movimento negro no Brasil contemporâneo é herdeiro de uma história de insurgência e de luta 
que se inicia de forma mais organizada a partir do final do século XIX, mas suas raízes mais 
profundas remetem à resistência dos africanos escravizados que foram trazidos para a América. 
Hoje são chamadas de "movimento negro" todas as associações, entidades, organizações e 
indivíduos que desenvolvam a luta antirracista e por melhores condições de vida para a população 
negra. Suas estratégias de luta e de mobilização mudam conforme as conjunturas e, portanto, 
temos "movimentos negros", no plural, que atuam em diferentes âmbitos: cultural, educacional, 
político, etc.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as origens do movimento negro na conjuntura do 
pós-abolição. Compreenderá as mudanças de orientação ocorridas nas décadas de 1930 e 1940, e 
as lutas empreendidas durante a ditadura civil-militar implementada com o golpe de 1964. Por fim, 
analisará a atuação do movimento negro na contemporaneidade, avaliando suas conquistas e 
estudando os dilemas que enfrenta.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Descrever as origens do movimento negro no período do pós-abolição.•
Analisar o desenvolvimento do movimento negro a partir da Era Vargas.•
Identificar as conquistas recentes e os novos desafios do movimento negro no mundo 
contemporâneo.
•
Infográfico
Durante os anos 1980, quando diferentes setores da sociedade brasileira lutavam pela convocação 
de uma Assembleia Nacional Constituinte para elaboração de uma nova Constituição, o movimento 
negro se articulou para que suas demandas se transformassem em texto constitucional. Nos 
trabalhos da Constituinte entre 1987 e 1988, integrantes de diferentes organizações e entidades e 
intelectuais negros participaram de audiências públicas, foram chamados como especialistas para 
analisar os direitos da população negra e, ativamente, pressionaram os constituintes para que sua 
histórica luta lograsse vitórias.
Neste Infográfico você verá algumas vitórias alcançadas pelo movimento negro durante a 
Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988, que resultaram em artigos do texto da 
Constituição de 1988.
Aponte a câmera para o 
código e acesse o link do 
conteúdo ou clique no 
código para acessar.
https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/bfce1569-4eb4-4c6f-bc05-35ca58722a9d/f9e7d0ac-64f6-4a59-a526-5a436337da5f.png
Conteúdo do livro
Uma das demandas que perpassou a história do movimento negro foi o reconhecimento e a 
valorização da cultura, da história e da memória africana e afro-brasileira. Somente enfrentando-se 
a invisibilização e o silenciamento da população negra e abandonando a ideia de que vivemos em 
uma "democracia racial" poderíamos viver em uma sociedade realmente democrática, em que os 
valores constitucionais de isonomia fossem realmente cumpridos. O movimento negro também se 
deparou com diferentes desafios, de acordo com as conjunturas de sua atuação, e, como resposta, 
apresentou certas pautas e formas de organizar sua luta. Em períodos ditatoriais, precisou enfrentar 
a repressão e a vigilância; na democracia, após 1988, encontrou no Estado, em diferentes 
momentos, um interlocutor e um cumpridor dos direitos da população negra.
No capítulo O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos, base teórica desta 
Unidade de Aprendizagem, você aprenderá como o movimento negro se organizou no pós-
abolição. Verá as modificações ocorridas após a década de 1930 e os desafios perante a ditadura 
do Estado Novo. Estudará a rearticulação do movimento negro, buscando uma unidade de luta na 
década de 1970, e conhecerá algumas das principais conquistas e desafios da contemporaneidade.
HISTÓRIA E 
CULTURA 
AFRICANA, AFRO-
BRASILEIRA E 
INDÍGENA 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Descrever as origens do movimento negro no período do pós-abolição.
 > Analisar o desenvolvimento do movimento negro a partir da Era Vargas.
 > Identificar as conquistas recentes e os novos desafios do movimento negro 
no mundo contemporâneo.
Introdução
Quando citamos o movimento negro, falamos da mobilização da população negra 
em prol de seus direitos e em uma luta antirracista. Essa mobilização variou ao 
longo do tempo, de acordo com as distintas conjunturas desde a colonização 
do Brasil, passando pelo regime monárquico, até o período republicano. Foi por 
meio dessa luta secular que a população negra garantiu direitos e enfrentou o 
racismo estrutural.
Contudo, muitas vezes essa história de luta e resistência não está presente 
nos livros didáticos. As reivindicações da população negra são diluídas em outras 
formas de organização social ou totalmente invisibilizadas. Por exemplo, você 
conhece a União dos Homens de Cor, o Teatro Experimental do Negro ou o Grupo 
Palmares? Sabe quem são Abdias do Nascimento, Oliveira Silveira, Lélia Gonzales 
O movimento 
negro no Brasil 
e os desafios 
contemporâneos
Caroline Silveira Bauer
e Beatriz Nascimento? Se a resposta é não, você foi privado de parte fundamental 
da história do Brasil do século XX.
Neste capítulo, você vai estudar o movimento negro brasileiro e suas modifi-
cações ao longo da história, desde sua organização no pré e no pós-abolição até 
os desafios contemporâneos. Além disso, vai ver a especificidade de cada uma 
dessas conjunturas e as diferentes formas de luta empreendidas por entidades, 
organizações e indivíduos. Assim, será possível reconhecer que as mobilizações 
atuais do movimento negro têm uma longa história, que remonta à América Por-
tuguesa e à chegada dos primeiros africanos escravizados na colônia.
O movimento negro no pós-abolição
Antes de iniciar o estudo sobre o movimento negro e sua história e memória, 
é importante definir o que é movimento negro. De acordo com Pereira (2007, 
p. 235), o movimento negro pode ser entendido como:
[...] o conjunto de entidades, organizações e indivíduos que lutam contra o racismo 
e por melhores condições de vida para a população negra, seja através de práticas 
culturais, de estratégias políticas, de iniciativas educacionais etc., fazendo da 
diversidade e pluralidade características desse movimento social.
A partir dessa definição, nota-se algumas características do movimento 
negro. A princípio, trata-se de diferentes formas de organização (associações, 
entidades, grupos, indivíduos). Existem diversas formas e frentes de luta, 
como na cultura, na educação, na política etc. O que une essa diversidade 
organizacional e de lutas é a luta contra o racismo e por melhores condições 
de vida para a população negra.
Segundo Pereira (2007, p. 255):
Nesse sentido seria correto utilizarmos a expressão “movimentos negros” no 
plural. Entretanto, tenho verificado ao longo de minhas pesquisas que tanto as 
lideranças como os militantes desse movimento social se autodenominam e são 
denominados militantes do “movimento negro”, no singular.
Vale ressaltar que o movimento negro foi se alterando ao longo do tempo, 
adaptando-se às conjunturas e, ao mesmo tempo, forjando condições para 
sua luta. Pereira (2007) afirma, citando Nascimento e Nascimento (2000), que 
existem movimentos negros no Brasil desde que os primeiros seres humanos 
escravizados na África foram desembarcados na América Portuguesa, não 
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos2
existindo africanos e afro-brasileiros sem seu protagonismo de luta anties-
cravista e antirracista. Essa luta contempla a fuga do sistema escravista e a 
criação de quilombos, a militância abolicionista e as formas organizacionais 
em associações mutualistas e recreativas, irmandades religiosas e organi-
zação de clubes.
Pereira (2007) também cita a definição de Santos (1985), que considerava 
o movimento negro uma denominação autodeclarada, ou seja, movimento 
negro é tudo aquilo que seus protagonistas dizem sermovimento negro. 
De acordo com Pereira (2007), a própria expressão “movimento negro” teria 
surgido em 1934, em um texto publicado no jornal A Voz da Raça, veículo de 
divulgação da Frente Negra Brasileira.
Na verdade, Santos (1985 apud PEREIRA, 2007) identificou nos discursos 
das lideranças do movimento negro nos anos 1980 duas definições: uma mais 
estrita, que considerava “movimento negro” as ações e entidades dedicadas 
à luta contra o racismo em atuação nos últimos 50 anos; e outra mais ampla, 
preferida pelo autor, que definia o movimento negro como:
Todas as entidades, de qualquer natureza, e todas as ações, de qualquer tempo 
(aí compreendidas mesmo aquelas que visam à autodefesa física e cultural do 
negro), fundadas e promovidas por pretos e negros. (Utilizo preto, neste contexto, 
como aquele que é percebido pelo outro; e negro como aquele que se percebe a 
si). Entidades religiosas, assistenciais, recreativas, artísticas, culturais e políticas; 
e ações de mobilização política, de protesto antidiscriminatório, de aquilomba-
mento, de rebeldia armada, de movimentos artísticos, literários e “folclóricos” — 
toda essa complexa dinâmica, ostensiva ou invisível, extemporânea ou cotidiana, 
constitui movimento negro (SANTOS, 1985 apud PEREIRA, 2007, p. 236).
Pouco antes e depois da abolição nacional da escravidão em 1888, circu-
lavam jornais e revistas, editados por negros, que traziam reflexões sobre 
raça e preconceito. Podemos citar como exemplos as seguintes publicações: 
Treze de Maio, criado no Rio de Janeiro em 1988, A Pátria, fundado em São 
Paulo em 1889, e O Exemplo, criado em Porto Alegre em 1982 (PEREIRA, 2007).
Com a abolição e a Proclamação da República, a população negra não 
vivenciou melhoras em suas condições materiais e simbólicas. Na verdade, 
foi marginalizada, tanto politicamente, em função da não garantia de seus 
direitos políticos, quanto socialmente, submetida às políticas de branquea-
mento social, sustentadas no “racismo científico”. Também foi marginalizada 
economicamente, preterida em relação aos trabalhadores imigrantes euro-
peus. Segundo Domingues (2008, p. 102):
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos 3
Para reagir a esse quadro de marginalização nas primeiras décadas da República, os 
líberos, ex-escravos e seus descendentes resolveram instituir o que posteriormente 
foi designado de movimento negro organizado, criando dezenas, quiçá centenas de 
grupos (denominados clubes, grêmios ou associações), de caráter eminentemente 
assistencialista, recreativo e/ou cultural). Tais grupos exerceram — ou almejaram 
exercer — um importante papel de conscientização e mobilização raciais.
Na primeira e na segunda década do século XX, as publicações citadas 
anteriormente aumentaram significativamente e passaram a formar o que foi 
chamado de imprensa negra, concentrada principalmente na cidade de São 
Paulo. Essa imprensa negra reunia intelectuais e trabalhadores e denunciava 
a discriminação racial em diferentes espaços da sociedade brasileira: na 
educação, no emprego, no espaço público, nos locais de lazer, na moradia 
etc. Isso significou uma maior organização contra o racismo (PEREIRA, 2007).
Um dos marcos da história do movimento negro nas primeiras décadas 
do século XX foi a criação da Frente Negra Brasileira, em 16 de setembro de 
1931, por José Correia Leite, Jayme de Aguiar, Vicente Ferreira, Henrique Cunha, 
Raul Joviano do Amaral, Gervásio de Morais e Arlindo Veiga dos Santos. Em 
1933, começou a circular em São Paulo seu jornal, A Voz da Raça. De acordo 
com Domingues (2008, p. 102), a Frente Negra:
[...] chegou a aglutinar milhares de negros — espalhados por mais de 60 dele-
gações (‘filiais’) — em torno de um programa que anatematizava o ‘preconceito 
de cor’. Mantinha escola, grupo musical, time de futebol, grupo teatral; oferecia 
assistência jurídica, serviço médico e odontológico, cursos de formação política, 
de artes e ofícios.
De acordo com Pereira (2007, p. 244):
A FNB era uma organização com forte caráter nacionalista, cuja estrutura lembra 
a de agremiações de inclinação fascista, como a Ação Integralista Brasileira (AIB), 
fundada em outubro de 1932. Seu estatuto, datado de 12 de outubro de 1931, prevê 
um Grande Conselho e um presidente, que era ‘a máxima autoridade e o supremo 
representante da Frente Negra Brasileira’. Seu jornal, A Voz da Raça, que circulou 
entre 1933 e 1937, mantinha em destaque, no cabeçalho, a frase ‘Deus, Pátria, 
Raça e Família’.
Após se ramificar por diferentes estados brasileiros, a Frente Negra, em 
1936, transformou-se em partido político. No entanto, o partido foi extinto 
no ano seguinte com o golpe do Estado Novo (PEREIRA, 2007).
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos4
De acordo com Santos (1985, apud PEREIRA, 2007), um dos objetivos 
da criação da Frente Negra Brasileira foi responder ao mito da de-
mocracia racial, uma leitura da sociedade brasileira que ganhou força após a 
publicação do livro Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre, em 1933, e que 
se tornou um componente da identidade nacional brasileira. Esse mito seria 
assentado basicamente em três ideias (SANTOS, 1985 apud PEREIRA, 2007):
1) que as relações raciais no Brasil são harmoniosas;
2) que a miscigenação ocorrida no Brasil foi uma contribuição à humanidade;
3) que o “atraso” social dos negros devia-se à escravidão.
Para saber mais, assista ao vídeo “Democracia Racial” de Silvio de Almeida 
(2017), do canal TV Campus UFSM, no YouTube.
Assim como a Frente Negra Brasileira, surgiram outras organizações negras 
pelo Brasil, como a União dos Homens de Cor, criada em Porto Alegre em 1943 
e, posteriormente, difundida por outros estados. Sobre a União dos Homens 
de Cor, Domingues (2008, p. 102) afirma que: “[...] foi uma das principais en-
tidades negras. [...] era constituída de uma complexa estrutura organizativa 
e chama-se à atenção sua escala expansionista”.
Podemos citar, ainda, o Teatro Experimental do Negro, criado em 1944, 
no Rio de Janeiro, por Abdias do Nascimento. O Teatro empreendia ações de 
alfabetização de seus integrantes, recrutados de diferentes grupos sociais: 
operários, empregados domésticos, pessoas empobrecidas que viviam em 
comunidades, funcionários públicos etc. Essas ações educativas também 
visavam a oferecer aos integrantes “[...] uma nova atitude, um critério próprio 
que os habilitava também a ver, enxergar o espaço que ocupava o grupo 
afro-brasileiro no contexto nacional” (GOMES, 2011, p. 140-141).
De acordo com Nascimento (1978, p. 129‒130), o Teatro Experimental do 
Negro “[...] iniciou sua tarefa histórica e revolucionária convocando para seus 
quadros pessoas originárias das classes mais sofridas pela discriminação”. 
Com tanta riqueza de talentos, o Teatro Experimental do Negro foi o respon-
sável por educar, formar e apresentar os primeiros intérpretes dramáticos 
brasileiros negros.
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos 5
O movimento negro após a Era Vargas
Após os anos de autoritarismo e ditadura do Estado Novo, com repressão e 
vigilância sobre os membros do movimento negro, essas entidades viveram 
um novo período autoritário e ditatorial com o golpe de 31 de março de 1964 
e a implantação da ditadura civil-militar brasileira.
Para alguns autores, “[...] a ditadura [...] desarticulou a luta política do 
movimento negro organizado. Seus militantes eram vigiados pelos órgãos 
repressão. A discussão pública da questão racial foi praticamente banida” 
(DOMINGUES, 2008, p. 103). Para outros, que vêm desenvolvendo investigações 
sobre a história desses indivíduos e organizações, o movimento negro passou 
a atuar na clandestinidade, mas sem abandonar suas lutas contra o racismo 
e por melhores condições de vida para a população negra.
Essas investigações têm ressaltado a criação e o protagonismo de grupos 
como:
 � Grupo Palmares, criado em Porto Alegre em 1971;
 � Centro de Estudos de Arte Negra, inaugurado em São Pauloem 1972;
 � Bloco afro Ilê Ayê, fundado em Salvador em 1974;
 � Núcleo Cultural Afro-brasileiro, criado em Salvador em 1976;
 � Instituto de Pesquisas das Culturas Negras, fundado no Rio de Janeiro 
em 1975;
 � Grupo de Trabalho André Rebouças, que surgiu em Niterói em 1975;
 � Centro de Estudos Brasil-África, criado em São Gonçalo em 1975.
Como protesto pela ausência de espaço e representatividade no 
espaço público tanto no movimento feminista quanto no movimento 
negro, muitas mulheres afro-brasileiras fundaram suas próprias organizações 
desde os anos 1980. Alguns exemplos são a Geledés, em São Paulo, a Criola, 
no Rio de Janeiro, a Nzinga — Coletivo de Mulheres Negras, de Belo Horizonte, 
e a Associação das Mulheres Negras, de Porto Alegre (DOMINGUES, 2008).
Em todas essas organizações, chama a atenção a ênfase sobre a pesquisa 
das culturas negras. Foi uma estratégia dessas organizações, já que havia 
impedimentos para que as entidades se registrassem como raciais. Elas 
pretendiam que a noção de “negro” extrapolasse uma abordagem racial e 
fosse entendida como sinônimo de uma cultura (PEREIRA, 2007).
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos6
Uma das primeiras entidades do movimento negro contemporâneo surgida no Rio 
de Janeiro foi a Sociedade de Intercâmbio Brasil-África (Sinba), fundada em 1974. 
Essa entidade publicava o jornal Sinba, que circulou entre 1977 e 1980, e logo no 
primeiro número, de julho de 1977, na matéria intitulada “O que é a África?”, surgiam 
questões fundamentais para o movimento social negro que se constituía naquele 
momento: discussões sobre as informações que nos levam a constituir memória 
e sobre as identidades construídas pelos negros brasileiros. A memória que se 
buscava construir em relação à África, como importante elemento para a constru-
ção de identidades negras positivas, deveria se basear nas lutas protagonizadas 
por negros africanos, não só no passado longínquo, mas principalmente naquele 
momento histórico de descolonização, de luta por liberdade e pela conquista de 
melhores condições de vida (PEREIRA, 2007, p. 245).
No processo de transição política, com a conquista de maior liberdade 
de manifestação e opinião e a rearticulação dos movimentos sociais, o mo-
vimento negro também passou por transformações. Em 1978, foi fundado o 
Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial que, posteriormente, 
passou a se chamar Movimento Negro Unificado (MNU). O MNU tinha centros 
de luta no Rio de Janeiro, em Salvador, em Porto Alegre e em Vitória. O ato 
de lançamento do MNU ocorreu no dia 7 de julho de 1978, nas escadarias do 
Teatro Municipal, no centro da cidade de São Paulo, com repercussão nacional 
e internacional (PEREIRA, 2007).
De acordo com Domingues (2008, p. 103):
Na década de 1980, o MNU foi a mais importante organização a levantar a ban-
deira em defesa dos direitos dos afro-brasileiros. No seu Programa de Ação de 
1982, defendia as seguintes reivindicações ‘mínimas’: desmistificação da demo-
cracia racial brasileira; organização política da população negra; transformação 
do movimento negro em movimento de massas; formação de um amplo leque de 
alianças na luta contra o racismo e a exploração do trabalhador; organização para 
enfrentar a violência policial; organização dos sindicatos e partidos políticos; luta 
pela introdução da História da África e do Negro no Brasil nos currículos escolares, 
e a busca pelo apoio internacional contra o racismo no país.
Pereira (2007) afirma que é nesse período das décadas de 1970 e 1980 
que o movimento negro absorve a expressão “movimento negro” para se 
autodenominar. Esse é considerado o marco inicial do movimento negro 
contemporâneo. Esse movimento negro contemporâneo se caracteriza por 
quatro características específicas (PEREIRA, 2007, p. 238‒239):
1. a constante denúncia do chamado “mito da democracia racial”, ou 
seja, da ideia de que as relações de raça no Brasil seriam harmoniosas;
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos 7
2. a nítida, e praticamente exclusiva, aproximação com as organizações 
de esquerda, que marcou profundamente a constituição das primeiras 
organizações, ainda durante o regime militar;
3. as influências culturais e políticas provindas do chamado “Atlântico 
negro”, das lutas de libertação em países africanos e pelos direitos 
civis nos Estados Unidos;
4. a assunção do 20 de novembro (dia da morte de Zumbi dos Palmares, 
em 1695) como o dia a ser comemorado pela população negra em 
substituição ao 13 de maio (Dia da Abolição da Escravatura), fato que 
engloba ampla discussão sobre a valorização da cultura, da política e 
da identidade negra e provoca objetivamente uma revisão acerca do 
papel das populações negras na formação da sociedade brasileira, na 
medida em que desloca propositalmente o protagonismo em relação 
ao processo da abolição para a esfera dos negros (tendo Zumbi como 
referência), recusando a imagem da princesa branca benevolente que 
teria redimido os escravos.
Comemorar o dia 20 de novembro em vez de 13 de maio foi uma luta 
do Grupo Palmares, de Porto Alegre, que realizou o primeiro ato de 
celebração naquela data. A segunda assembleia do MNU, realizada em Salvador, 
em novembro de 1978, declarou o 20 de novembro como o Dia Nacional da 
Consciência Negra. Hoje, a data é feriado em diversos municípios brasileiros.
Conquistas e desafios contemporâneos 
do movimento negro
Vimos que o movimento negro contemporâneo começou a se constituir ainda 
durante a ditadura civil-militar brasileira. Na conjuntura da transição política, 
principalmente a partir de meados dos anos 1970, surgiram centenas de en-
tidades, organizações e indivíduos que pautaram direitos, lutas e temas que 
continuam na ordem do dia das reivindicações do movimento negro. Desde 
então, muitas conquistas foram alcançadas, porém os desafios são enormes 
em uma sociedade em que o racismo, muitas vezes, é velado ou organizado 
institucionalmente.
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos8
Essas entidades, organizações e indivíduos somavam em torno 90 grupos 
em 1988 e, ao longo da década de 1990, alcançaram o número de mais de 1.300, 
realizando trabalhos de cunho cultural, educacional, político, recreativo e 
religioso. Esse aumento expressivo demonstra um aumento da militância, 
mas também sua fragmentação, uma característica do movimento a partir 
da última década do século XX. Juntamente à fragmentação, também ocorreu 
o processo de regionalização do movimento negro. O MNU pode ter perdido 
sua força política aglutinadora, mas sugiram outras organizações de inserção 
nacional, como os Agentes de Pastoral Negros (APNs), a União de Negros 
pela Liberdade (Unegro), o Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB), o Fó-
rum Nacional de Mulheres Negras, a Coordenação Nacional dos Estudantes 
Negros Universitários (CECUN), a Coordenação Nacional dos Remanescentes 
de Quilombos, a Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN) e o 
Movimento Nacional pelas Reparações (DOMINGUES, 2008).
A seguir, vamos abordar algumas das lutas e conquistas do movimento 
negro contemporâneo, começando pela política de ações afirmativas. 
De acordo com Domingues (2008, p. 106), as ações afirmativas são políticas 
compensatórias que visam a “[...] eliminar ou minimizar as desigualdades de 
oportunidades por meio de políticas públicas (ou privadas) voltadas a favo-
recer aqueles grupos que, historicamente, sofreram (e sofrem) discriminação 
negativa”. Podemos citar como exemplo a reserva de vagas em concursos 
públicos e em processos seletivos (cotas raciais).
Domingues (2008, p. 106-107) traz dados interessantes em relação 
a uma pesquisa realizada pelo DataFolha em duas conjunturas dis-
tintas. Em 1995, foi realizada a seguinte pergunta aos entrevistados: “Diante da 
discriminação passada e presente contra os negros, têm pessoas que defendem 
a ideia de que a única maneira de garantir a igualdade racial é reservar uma 
parte das vagas nasuniversidades e nos empregos nas empresas para a popu-
lação negra, você concorda ou discorda com essa reserva de vagas de estudo e 
trabalho para os negros?”. O resultado foi o seguinte: os mais pobres (69,5% dos 
brancos e 80,3% dos negros que recebem até 10 salários mínimos) e os menos 
escolarizados responderam ser favoráveis às cotas. Porém, nas parcelas mais 
ricas e mais escolarizadas, apenas 30,5% dos brancos que recebem mais de 10 
salários mínimos afirmou ser favorável a essa política. A pesquisa foi repetida 
em 2006, e o resultado foi semelhante: 65% dos entrevistados disseram ser 
favoráveis à reserva de um quinto das vagas nas universidades públicas e 
privadas para pessoas negras.
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos 9
As políticas de ações afirmativas, como a das cotas raciais, realizam um 
processo de “discriminação positiva”, ou seja, têm como objetivo compensar 
a desigualdade de oportunidades da população negra no Brasil e dar segui-
mento à luta antirracista.
Outra conquista do movimento negro diz respeito à histórica demanda 
para o ensino das culturas africana e afro-brasileira e da história da África 
em todos os níveis de ensino no Brasil. Como já visto, a educação sempre foi 
uma preocupação do movimento negro, o que pode ser evidenciado com as 
funções educacionais assumidas por algumas organizações, como o Teatro 
Experimental do Negro.
Segundo Gomes (2011, p. 136):
Ao estudarmos as formas de organização dos negros após a Abolição da Escravatura 
e depois da Proclamação da República, a literatura nos mostra que, desde meados 
do século XX, a educação já era considerada espaço prioritário de ação e de reivin-
dicação. Quanto mais a população negra liberta passava a figurar na história com 
o status político de cidadão (por mais abstrato que tal situação se configurasse 
no contexto da desigualdade racial construída pós-abolição), mais os negros se 
organizavam e reivindicavam escolas que incluíssem sua história e sua cultura.
A demanda para o ensino da cultura e da história africana e afro-brasileira 
permeou diferentes entidades e organizações no processo de transição 
política brasileiro. Durante a realização da Assembleia Nacional Consti-
tuinte (1987‒1988), diferentes lideranças do movimento negro apresentaram 
demandas relativas ao ensino dessas temáticas por meio de participações 
nas esferas do processo constitucional. Ainda que o movimento negro tenha 
logrado muitas conquistas na elaboração da Constituição de 1988 (BRASIL, 
[2016]), como a ideia de igualdade entre todos paralelamente ao respeito à 
diversidade cultural, étnica e identitária da sociedade brasileira, as conquistas 
relativas ao ensino demoraram mais para serem alcançadas.
Foi somente em 2003, com a promulgação da Lei nº 10.639, de 9 de janeiro 
(BRASIL, 2003), que o ensino da cultura e história africana e afro-brasileira foi 
tornado obrigatório, modificando a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 
(BRASIL, 1996), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). No ano 
seguinte, foi aprovado o parecer do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 
2006), que propõe as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações 
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Africanas e Afro-Brasileiras. 
Em 2008, houve uma nova alteração, por meio da Lei nº 11.645, de 10 de março 
(BRASIL, 2008), incluindo a cultura e a história indígenas juntamente com a 
cultura e a história africana e afro-brasileira.
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos10
Veja a seguir um trecho do parecer do Conselho Nacional de Educação 
(BRASIL, 2006) elaborado e relatado por Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, 
professora e doutora na área de educação. O trecho demonstra como a 
inclusão dessas temáticas e a promoção de uma educação para as relações 
étnico-raciais com um direcionamento antirracista pode transformar a prática 
docente:
Para obter êxito, a escola e seus professores não podem improvisar. Têm de des-
fazer a mentalidade racista e discriminadora secular, superando o etnocentrismo 
europeu, reestruturando relações étnico-raciais e sociais, desalienando processos 
pedagógicos. Isto não pode ficar reduzido a palavras e a raciocínios desvinculados 
da experiência de ser inferiorizados vivida pelos negros, tampouco das baixas 
classificações que lhes são atribuídas nas escalas de desigualdades sociais, eco-
nômicas, educativas e políticas (BRASIL, 2006, p. 236).
Em outro trecho, Petronilha Silva reforça a importância dessas mudanças 
para uma positivação da cultura, da identidade e da história da população 
negra:
Precisa o Brasil, país multiétnico e pluricultural, de organizações escolares em 
que todos se vejam incluídos, em que lhes seja garantido o direito de aprender 
e de ampliar conhecimentos, sem ser obrigados a negar a si mesmos, ao grupo 
étnico-racial a que pertencem, a adotar costumes, ideias, comportamentos que 
lhes são adversos. E estes certamente serão indicadores da qualidade da edu-
cação que será oferecida pelos estabelecimentos de ensino de diferentes níveis 
(BRASIL, 2006, p. 240)
Desde a promulgação dessas leis, passando pela aprovação do Estatuto 
da Igualdade Racial, os temas em torno da etnicidade e sua valorização co-
meçaram a pautar as políticas educacionais, com mais ou menos efetividade 
de acordo com o período ou com os interesses de determinadas gestões 
governamentais.
Conforme aponta Domingues (2008, p. 108), uma das tendências contem-
porâneas do movimento negro:
[...] é intensificar a campanha em prol de políticas públicas específicas em be-
nefício da população negra. Além disso, exige-se que tais políticas, executadas 
pelos poderes instituídos (governos municipais, estaduais e federal), estejam em 
consonância com as reivindicações do próprio movimento.
Domingues (2008) também cita outras tendências para compreendermos 
a atuação do movimento negro na contemporaneidade. Veja a seguir.
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos 11
A institucionalização: trata-se de um processo de vinculação orgânica entre 
as entidades e o governo ou as instituições do Estado por meio da cria-
ção de órgãos específicos ou secretarias para tratar das questões raciais. 
Se, por um lado, a incorporação dessas pautas pelo Estado pode ser compre-
endida como um avanço na luta antirracista, por outro lado, outros problemas 
podem dificultar o desenvolvimento de políticas públicas em benefício da 
população negra, como a burocratização, a cooptação de lideranças, a falta 
de orçamento, a ausência de diálogo e a inoperância.
A “ongzação”: trata-se da criação de Organizações Não Governamentais 
(ONGs) para fazer ações em prol da população negra em diferentes campos: 
direito, educação, saúde etc. Embora muitas ONGs atuem diretamente em 
comunidades, com ações concretas com o público-alvo, elas dependem de 
linhas de financiamento nacionais e estrangeiras e, portanto, podem per-
der sua autonomia ou ter suas metas e prioridades alteradas. Além disso, 
as ONGs também são criticadas por, em muitos casos, promoverem uma 
política assistencialista e substituir o poder público, oferecendo serviços 
que são obrigações do Estado e direitos dos cidadãos.
A participação política: outra tendência contemporânea do movimento negro 
é a participação política em partidos dos diferentes espectros ideológicos. 
Nesses partidos, têm sido formadas frentes negras, defendendo as reivindi-
cações específicas da população negra brasileira. Contudo, muitos políticos 
negros ainda denunciam a falta de receptividade dos debates antirracistas 
dentro dos partidos, considerados uma temática menor ou de dissenso.
A sindicalização da luta antirracista: no âmbito dos sindicatos, o movimento 
negro tem se organizado para o combate à discriminação racial no ambiente 
de trabalho. Dessa forma, assim como no âmbito político-partidário, criaram-
-se frentes negras. Nas centrais sindicais, surgiram órgãos e secretarias 
dedicados a tratar da questãoracial no trabalho.
A celebração da negritude: trata-se de uma tendência de valorização dos 
elementos culturais e étnicos da população negra, celebrando a negritude 
pela arte, estética, história, memória e práticas e rituais religiosos africanos 
e afro-brasileiros. Essa atuação tem como objetivo o aumento da autoestima 
da população negra a partir de práticas de reconhecimento e valorização e a 
construção de uma autoimagem positiva, superando a histórica abordagem 
estereotipada e preconceituosa com que a população negra foi representada 
em diferentes meios culturais.
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos12
Para finalizar esse item, é importante recuperar um dos principais desafios 
enfrentados pelo movimento negro na contemporaneidade. Na verdade, esse 
desafio se desdobra em três, mas todas as partes se referem à educação das 
relações étnico-raciais na contemporaneidade.
Primeiramente, é importante lembrar que a luta antirracista não deveria 
ser uma preocupação exclusiva da população negra. Para enfrentarmos o 
racismo, é necessário o engajamento de todas as pessoas e, principalmente, 
o reconhecimento da população branca de seus históricos privilégios. Quando 
falamos em racismo, falamos de um sistema de hierarquia e exclusão que 
não foi forjado pela população negra, mas sim pela população branca, para 
legitimar uma pretensa superioridade. Assim, a desconstrução do racismo 
também passa pela ação direta dos brancos.
Em segundo lugar, é preciso reconhecer o desafio de desenvolver uma luta 
antirracista em um país como o Brasil, onde o conflito racial é não declarado 
ou velado, ainda que seja vivido cotidianamente pelas pessoas negras. Isso 
significa que a história das relações raciais no Brasil não se construiu como 
em outros lugares, como nos Estados Unidos ou na África do Sul, onde foram 
elaboradas e executadas leis e políticas de segregação racial. De acordo com 
Domingues (2008, p. 116):
[...] como aqui as contradições raciais são mascaradas, não é uma tarefa fácil persu-
adir o negro a se insubordinar politicamente contra um problema que oficialmente 
não existe. O resquício do mito da democracia racial permanece incrustado no 
imaginário social, propalando o eficaz discurso de que o problema no Brasil não 
é racial, mas simplesmente social.
Nessa caracterização de um dos principais desafios do movimento negro 
na contemporaneidade, a terceira dimensão relaciona-se ao enfrentamento 
do chamado colorismo, ou uma suposta hierarquização entre os tons de 
pele das pessoas negras. O desafio é muito bem expresso por Domingues 
(2008, p. 116): “É sabido que a classificação racial das pessoas no Brasil é 
ambígua, plástica, gelatinosa. Em grande medida, isso acontece devido ao 
discurso político da mestiçagem, que divide ou impede a união de todos 
os afrodescendentes numa única categoria”. Para a maioria do movimento 
negro, se declarar negro é uma decisão política. Assim, o que mais importa 
não é a quantidade de melanina na pele de alguém, mas sim estar disposto 
a enfrentar as iniquidades raciais.
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos 13
Referências
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da 
educação nacional. Brasília: Presidência da República, 1996. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 22 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro 
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no 
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura 
Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2003. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm. Acesso 
em: 22 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro 
de 1996, modificada pela Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003 que estabelece as 
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de 
Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. 
Brasília: Presidência da República, 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 22 jun. 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e 
Diversidade. Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais. Brasília: 
SECAD, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/orientacoes_et-
nicoraciais.pdf. Acesso em: 22 jun. 2021.
DOMINGUES, P. Movimento negro brasileiro: história, tendências e dilemas contem-
porâneos. Dimensões, n. 21, p. 101-124, 2008. Disponível em: https://periodicos.ufes.
br/dimensoes/article/view/2485/1981. Acesso em: 22 jun. 2021.
GOMES, N. L. O movimento negro no Brasil: ausências, emergências e a produção 
dos saberes. Política & Sociedade, v. 10, n. 18, p. 133-154, 2011. Disponível em: https://
periodicos.ufsc.br/index.php/politica/article/view/2175-7984.2011v10n18p133/17537. 
Acesso em: 22 jun. 2021.
NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. 
NASCIMENTO, A.; NASCIMENTO, E. L. Reflexões sobre o movimento negro no Brasil, 
1938-1997. In: GUIMARÃES, A. S. A.; HUNTLEY, L. (org.). Tirando a máscara: ensaios sobre 
o racismo no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
PEREIRA, A. A. O “Atlântico Negro" e a constituição do movimento negro contemporâneo 
no Brasil. Perseu - História, Memória e Política, n. 1, v. 1, p. 235-263, 2007. Disponível em: 
https://revistaperseu.fpabramo.org.br/index.php/revista-perseu/article/view/146/113. 
Acesso em: 22 jun. 2021. 
SANTOS, J. R. O movimento negro e a crise brasileira. Política e Administração, v. 1, n. 2, 
jul./set. 1985.
O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos14
Leitura recomendada
ALMEIDA, S. Democracia racial. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (6 min). Publicado pelo canal 
TV Campus UFSM. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=34hiFz_Pu2o. 
Acesso em: 22 jun. 2021. 
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O movimento negro no Brasil e os desafios contemporâneos 15
Dica do professor
O dia 20 de novembro é considerado o Dia da Consciência Negra desde o ano de 2011. Em função 
das determinações da Lei no 10.639, muitas escolas celebram a data, realizam a Semana da 
Consciência Negra ou, ainda, o Mês da Consciência Negra. Mas você sabe por que a escolha do dia 
20 de novembro e a que ele se contrapõe? Você sabe que grupo do movimento negro propôs essa 
alteração da memória social?
Nesta Dica do Professor, você conhecerá mais sobre o processo de transformação do 20 de 
novembro em uma data importante para o movimento negro brasileiro. Saberá quem foram seus 
propositores e qual é o seu objetivo em contrapor a celebração do 13 de maio, dia da abolição da 
escravidão. 
 
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Exercícios
1) O estudo sobre a mobilização, a luta, a resistência e as conquistas da população negra no 
Brasil ao longo dos séculos tem despertado cada vez mais o interesse das ciências humanas 
e sociais.Sobre as definições de “movimento negro”, são feitas as seguintes afirmativas:
I – A definição de “movimento negro” engloba entidades, organizações e indivíduos que se 
engajam na luta antirracista e por melhores condições de vida para a população negra.
II – Uma das principais características do “movimento negro” é sua pluralidade, tanto 
associativa quanto pelas formas de luta (por meio da cultura, da educação, da política, etc.).
III – Embora exista um protagonismo da população negra desde o período colonial, não 
podemos chamar de “movimento negro” as experiências anteriores à década de 1970.
Assinale a alternativa que indica apenas as afirmativas corretas:
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) Apenas II e III.
A atuação do movimento negro brasileiro está diretamente relacionada às características 
culturais, econômicas, políticas e sociais da história brasileira ao longo dos séculos. As 
diferentes conjunturas influenciaram a forma de organização e de atuação dessas entidades 
e indivíduos.
 
Sobre a história do movimento negro, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmativas 
a seguir:
 
( ) Nas primeiras décadas do século XX, que correspondem ao período imediato pós-
abolição, as organizações negras se caracterizavam por seu viés assistencialista e mutualista.
( ) Na ditadura do Estado Novo, existia um partido político negro, a Frente Negra Brasileira, 
tolerado por Getúlio Vargas por seu caráter nacionalista.
2) 
( ) Durante as décadas de 1970 e 1980, a despeito da ditadura civil-militar brasileira, o 
movimento negro se rearticulou, pautando a positivação cultural e étnica da população 
negra.
( ) Após o término da ditadura civil-militar brasileira, o movimento negro se desarticulou, já 
que suas principais conquistas foram garantidas com a promulgação da Constituição de 
1988.
 
Assinale a alternativa que indica a ordem correta:
A) V – V – F – F.
B) V – F – V – F.
C) V – F – F – V.
D) F – V – F – V.
E) F – F – V – V.
3) Leia o texto de Petrônio Domingues (2008, p. 108), que trata da escolaridade de pessoas 
brancas e negras e traz dados que evidenciam a desigualdade e a discriminação racial no 
acesso a um direito básico de todos os cidadãos: o direito à educação.
“A escolaridade média dos brancos e dos negros tem aumentado de forma contínua ao longo 
do século XX. Contudo, um jovem branco de 25 anos tem, em média, mais 2,3 anos de 
estudos que um jovem negro da mesma idade, e essa intensidade da discriminação racial é a 
mesma vivida pelos pais desses jovens – a mesma observada entre seus avós.”
Sobre essa situação, analise as seguintes afirmativas:
I – Como forma de compensar e corrigir as históricas desigualdades de oportunidades entre 
brancos e negros, foram instituídas políticas de ações afirmativas, entre elas, as políticas de 
cotas raciais em concursos públicos e em processos seletivos.
II – A desigualdade entre brancos e negros evidenciada pelos dados apresentados por 
Domingues não pode ser atribuída a questões raciais, já que a Constituição garante acesso à 
educação a todos os cidadãos.
III – O trecho evidencia que essa discriminação ocorria apenas no início do século XX, na 
conjuntura do pós-abolição, e ao longo do século essa desigualdade foi superada, tendo a 
escolaridade aumentado continuamente.
Assinale a alternativa que indica apenas as afirmativas corretas:
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) Apenas II e III.
4) O movimento negro brasileiro contemporâneo enfrenta uma série de desafios na luta 
antirracista e por melhores condições de vida para a população negra. 
Sobre esses desafios contemporâneos, analise as afirmativas a seguir:
I – Os debates e a luta antirracista deveriam ser uma preocupação exclusivamente da 
população negra, pois é apenas a população negra que sofre as consequências do sistema de 
hierarquia e exclusão característicos do racismo, criado por pessoas brancas.
II – Diferentemente das experiências de discriminação e segregação racial em outros países, 
no Brasil, os conflitos raciais são “não declarados” ou “velados”, o que dificulta sobremaneira 
o enfrentamento ao racismo.
III – A ideia de “democracia racial” é um desafio vencido e superado pelo movimento negro 
desde os anos 1930, já que a mestiçagem contribuiu para a dissolução das divisões raciais 
dos brasileiros.
Assinale a alternativa que indica apenas as afirmativas corretas:
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) Apenas II e III.
5) Um dos aspectos que caracterizou o movimento negro durante o período da ditadura civil-
militar foi o reconhecimento e a valorização da cultura, da história e da memória da 
população negra. Quanto a esse tema, assinale a alternativa correta: 
A) Essa luta restringiu-se aos anos 1970 e 1980, encerrando-se com a Constituição de 1988 e 
com o reconhecimento da diversidade cultural e étnica da população.
B) Essa luta restringiu-se aos anos 1970 e 1980, encerrando-se com a promulgação da Lei no 
10.639 e alcançando o objetivo de valorização da “cultura negra”.
C) Essa luta restringiu-se aos anos 1970 e 1980, pois o movimento negro percebeu que a luta 
antirracista não obtinha conquistas suficientes no âmbito cultural.
D) Dando continuidade a essa luta, o movimento negro no século XXI tem atuado apenas no 
âmbito do ensino, fazendo valer a Lei no 10.639.
E) Dando continuidade a essa luta, o movimento negro no século XXI segue promovendo a 
valorização da negritude como expressão da cultura negra.
Na prática
A capoeira foi registrada como patrimônio cultural imaterial brasileiro em 2008. Esse registro 
comprova o reconhecimento e a valorização de elementos da cultura afro-brasileira para a 
sociedade brasileira, assim como auxilia na positivação de elementos identitários da população 
negra. Porém, nem sempre os elementos culturais da população negra foram valorizados. Ao 
contrário, além de estigmatizadas e cercadas de preconceitos, algumas práticas, como a própria 
capoeira, o candomblé e o samba, já foram criminalizadas.
Confira, Na Prática, como a capoeira pode ser utilizada como uma forma de promover uma 
educação para as relações étnico-raciais, valorizando a cultura afro-brasileira.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja a seguir as sugestões do professor:
Os “rolês” do movimento negro brasileiro na atualidade, nas 
“pegadas” da educação
Leia, neste artigo, uma análise do movimento negro na contemporaneidade, a partir da entrevista 
de centenas de militantes de movimentos antirracistas pelo Brasil.
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Percursos de uma pesquisa sobre o pós-abolição sul-rio-
grandense: história social, imprensa negra e historiografia
Leia, neste artigo, como pode se desenvolver uma pesquisa sobre o período do pós-abolição, 
abordando a temática da imprensa negra a partir dos preceitos da história social. A autora analisa o 
jornal O Exemplo.
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Institucionalização e contestação: as lutas do movimento negro 
no Brasil (1970-1990)
Leia, neste artigo, como se deu o processo de atuação e luta política do movimento negro entre os 
anos 1970 e 1990, na conjuntura do processo de transição política e de construção da democracia 
no Brasil.
https://www.scielo.br/j/rieb/a/n5t36tkzLX7YvFc3PThcr9m/?format=html
http://historiasocialecomparada.org/revistas/index.php/silloges/article/view/26?v=788132927
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Caminhos, pegadas e memórias: uma história social do 
movimento negro brasileiro
Acompanhe, nesteartigo, uma cronologia do movimento negro no Brasil a partir de uma 
perspectiva da história social.
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O movimento negro e a configuração da Lei 10.639/03
Conheça, por meio da leitura deste artigo, a histórica luta do movimento negro por reformulações 
no currículo da educação básica, e como se deu a aprovação da Lei no 10.639, de 2003, instituindo 
a obrigatoriedade do ensino da história da África e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas.
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https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/173908?v=1647481367
https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/relacoesinternacionais/article/view/3686?v=1804651626
http://www.encontro2016.ms.anpuh.org/resources/anais/47/1477018313_ARQUIVO_artigocompleto.pdf?v=100936650

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