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TEMA 6- Movimentos negros na história do Brasil

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Movimentos negros na história do Brasil
Prof.ª Renata Figueiredo Moraes
Descrição
A presença do movimento negro na história do Brasil desde as primeiras décadas do século XX até a contemporaneidade.
Propósito
A história do Brasil foi feita por homens e mulheres negros que não apareciam nos livros. Por isso, estudar os diferentes movimentos negros que
apareceram na história do país ajuda a refletir sobre a exclusão dessa parcela da sociedade e a construção de alguns mitos – entre eles, o da
democracia racial, importante instrumento de opressão de regimes políticos que se abstiveram de pensar a sociedade como um tudo.
Objetivos
Módulo 1
O conceito de raça e o racismo no Brasil
Reconhecer o conceito de raça para aprofundar a discussão sobre racismo.
Módulo 2
As ações dos movimentos negros (1930-1970)
Identificar o surgimento dos movimentos negros na República.
Módulo 3
O movimento negro uni�cado – ações e sujeitos
Identificar as diferentes estratégias de ação do MNU na segunda metade do século XX.
Módulo 4
O século XXI – novas e antigas questões
Reconhecer avanços, retrocessos e desafios para o futuro do movimento negro nas primeiras décadas do século XX.
Introdução
Ao falarmos do movimento negro, precisamos ampliar nosso olhar para o século XIX e, principalmente, para o século XX. Primeiramente, porque a
movimentação social de homens e mulheres negros existiu desde os tempos da escravidão e foi primordial para a lei que acabou com esse regime
de mais de três séculos. Em segundo lugar, porque a diversidade existente entre eles produziu inúmeras formas de atuação política.
Não é uma tarefa fácil inserir dentro de um mesmo conceito a ideia de movimento negro devido à multiplicidade de ações de homens e mulheres
negros. Desse modo, este texto é um caminho para entendermos a movimentação política, cultural e social de uma parte da sociedade brasileira
que lutou por muito tempo para ser reconhecida como pertencente a ela.
Por isso, ao pensar em sociedade brasileira, é fundamental entender o processo de racialização ocorrido após o fim da escravidão a fim de ver a
“raça” como um conceito político e um fator essencial na luta do movimento negro. Os diferentes projetos de mobilização de homens e mulheres
negros mostram até que ponto tais ações não foram homogêneas e como diferentes regimes políticos sofreram as demandas dessa parcela da
população.
As ações culturais, a produção de escritos e a atuação das mulheres precisam ser vistas como um dos fatores de desenvolvimento de uma
identidade negra durante o período republicano no Brasil. Afinal, o movimento negro mais contemporâneo é o resultado de um processo de luta de
mais de 100 anos que atualmente enfrenta novos desafios – e um deles é a derrubada do mito da democracia racial.

1 - O conceito de raça e o racismo no Brasil
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito de raça para aprofundar a discussão sobre racismo.
A mobilização
O fim da escravidão em 1888 representou a continuidade da mobilização de homens e mulheres negros para uma vida com direitos políticos e
sociais retirados deles no período da escravidão.
Se antes da libertação muitos se reuniram em irmandades negras, gerando laços de solidariedade e políticos, no período do pós-abolição novas
identidades foram construídas na ocupação de diferentes espaços. No entanto, o processo de racialização da sociedade se aprofundou no período
pós-abolição, criando barreiras para aqueles que fossem não brancos. Desse modo, é essencial discutir como o conceito “raça” foi visto por
intelectuais e governos em diferentes épocas, o que oferece suporte para se entender algumas dinâmicas criadas pelo movimento negro na
resistência ao racismo.
Manchete do jornal Gazeta de Notícias no dia 13 de maio de 1888.
A “raça” surgiu como um subproduto do processo de expansão europeia iniciado no século XV, já que os europeus passaram a estabelecer
distinções sistemáticas entre eles próprios e os povos fisicamente diferentes. A própria ideia de europeu, até então inexistente, foi construída a
partir da comparação e da dominação do outro. Desse modo, “raça” passa a ser uma categoria analítica necessária para organizar a resistência ao
racismo.
A categoria “classe” não é suficiente para explicar o racismo sofrido pelos negros no Brasil, pois as discriminações e as desigualdades estão ligadas
majoritariamente à noção de “cor” (GUIMARÃES, 1999, p. 11).
As “raças sociais”, portanto, constituem construções permanentes sobre as quais se organiza a luta antirracista. Nesse caso, é importante ler a
definição de Antonio Sérgio Guimarães acerca da estrutura do racismo brasileiro:
O racismo brasileiro está umbilicalmente ligado a uma estrutura estamental, que o naturaliza, e não à estrutura de classes, como se
pensava. Na verdade, também as desigualdades de classe se legitimam por meio da ordem estamental. O combate ao racismo, portanto,
começa pelo combate à institucionalização das desigualdades de direitos individuais. Ainda que o racismo não se esgote com a conquista
das igualdades de tratamento e de oportunidades, esta é a precondição para extirpar as suas consequências mais nocivas.
(GUIMARÃES, 1999, p. 16)
Como as desigualdades de classe aprofundam as diferenças sociais, no Brasil, ocorre uma institucionalização de tais desigualdades fortemente
ligada à cor dos indivíduos. Nesse caso, até em condições iguais de classe negros serão alvos de preconceitos, seja de forma individual ou
institucional, como é o caso das ações policiais.
Atenção!
Discutir raça é identificar a existência de um problema, e não de reafirmar uma diferença entre os homens pela sua origem biológica.
A diferença que emperra o ir e vir de muitos cidadãos brasileiros foi determinada institucionalmente a partir da cor da pele e da ideia de que não
brancos podem receber tratamento diferenciado. Desse modo, o conceito de raça age como um dos critérios mais relevantes na regulação dos
mecanismos de recrutamento para ocupar posição na estrutura de classes (HASENBALG, 1979, p. 192).
Entretanto, identificar a existência de um racismo ou de diferenças raciais entre cidadãos brasileiros nunca foi uma ação do Estado brasileiro no
século XX. Pelo contrário: o Estado sempre reforçou a ideia de que brasileiros viviam em uma harmonia racial na qual o sucesso da miscigenação
contribuía para a construção de uma identidade brasileira, sem ódios raciais tais como os vividos pelos afro-norte-americanos.
Monumento em homenagem à Zumbi dos Palmares.
Diferentes orientações políticas silenciaram o racismo e a violência gerada pelo Estado e incentivaram uma produção intelectual disposta a
defender a harmonia racial no Brasil. Ao longo do século XX, diferentes governos fecharam os olhos para uma parcela significativa da sociedade
cujos membros não se reconheciam como brancos e que não tinham direitos sociais por serem negros.
O caso brasileiro
A década de 1930 deu margem para a construção do conceito de “democracia racial”, encabeçado por intelectuais, por exemplo, Gilberto Freyre, que,
ao interpretar a origem do Brasil e não identificar nela ódios raciais, louvou a miscigenação, que seria um sinal da boa convivência entre as “raças”.
Como não havia um sistema legalizado de segregação racial no país no período pós-abolição, acreditava-se na sua inexistência de fato.
Gilberto Freyre.
O mestiço, a partir dos anos 1930, tornou-se o ícone nacional e a cultura mestiça, a representação oficial da nação. Para isso, foi necessário um
investimento de intelectuais e do próprio Estado na construção de uma “autêntica” identidade brasileira baseada na mestiçagem que gerava a
verdadeira nacionalidade (SCHWARCZ, 2013). Um dos tipos de investimento se deu por meio da educação, em que formas de vida do grupo social
se tornaram hegemônicas em detrimento das diferenças de língua, cultura e história, o que evitaria uma nação cindida, como a dos Estados Unidos
(SISS, 2003, p. 68).
Porém, a dependerdo grupo que tenha sofrido a violência da discriminação, podemos pensar que também existe no Brasil uma cisão velada ou
evidente. Desse modo, resta a pergunta:
Quais foram os efeitos das políticas que não propuseram de fato uma pretensa harmonia racial a partir da identificação das diferenças existentes
na sociedade brasileira?
Essa questão poderá ser respondida à medida que formos tratando dos movimentos negros existentes em diferentes épocas. Uma primeira
resposta à questão está em Carlos Hasenbalg, o qual, na década de 1970, em seu livro Discriminação e desigualdade racial, indicou alguns motivos
para a permanência da desigualdade. Para ele, “brasileiros de cor” sofriam formas de dominação, além de uma desqualificação peculiar e das
desvantagens competitivas que provêm de sua condição racial (HASENBALG, 1979, p. 20).
Para Hasenbalg, era preciso tirar a ênfase do legado do escravismo como uma explicação das relações raciais
contemporâneas. O sistema educacional também teria uma parcela de culpa, já que, segundo o autor, reproduzia o
caráter elitista e aristocrático da sociedade, produzindo símbolos de status e de diferenciação social.
No entanto, uma prática de negação do racismo e de exaltação da miscigenação se fez presente no campo das letras e dos estudos sociológicos e
literários com Silvio Romero e João Batista de Lacerda, autores que enalteceram a mestiçagem como um instrumento de assimilação racial dos
supostos grupos inferiores.
Já outros, como Manoel Bonfim e Alberto Torres, fizeram críticas às teorias raciais, expondo seus aspectos políticos, imperialistas e falaciosos,
enquanto intelectuais negros, como Juliano Moreira, Monteiro Lopes e o professor Hemetério dos Santos, por exemplo, sustentaram posições
antirracialistas e antirraciais.
Revistas do movimento negro mostravam mulheres usando vestidos da moda do início do século XX.
Identidade nacional
Como pensar em uma identidade nacional diante da diversidade étnica e cultural existente? Esse conceito de identidade nacional é válido, uma
vez que, para haver a existência de uma identidade, outras são anuladas?
Para tais respostas, vale a pena conhecer uma reflexão sobre as identidades no mundo contemporâneo. Trata-se do autor Stuart Hall, cujo
questionamento sobre a pós-modernidade pode nos ajudar.
Segundo Hall (2006), não existe uma identidade plena e unificada. Por conta disso, como se pode definir o que é
nacional em um quadro de mobilidade vivido, na visão do autor, pelo sujeito desses novos tempos? Para Hall, a
identidade é formada e transformada no interior da representação.
Existem elementos que identificam uma pessoa a uma nacionalidade. Além disso, as identidades nacionais não subordinam todas as outras formas
de diferença. Outra coisa para a qual o autor chama a atenção é a forma como as “culturas nacionais contribuem para ‘costurar’ as diferenças numa
única identidade” (HALL, 2006, p. 65).
Para ele, a identidade nacional e as outras “locais” ou particulares estão sendo reforçadas pela resistência à globalização. Se a identidade nacional
está em declínio, isso significa que novas identidades híbridas estão tomando seu lugar. Para alguns teóricos, aponta Hall, um dos efeitos dos
processos globais é o enfraquecimento das formas nacionais de identidade cultural.
A diversidade de identidades nacionais.
Em compensação, também haveria um reforço de outros laços e lealdades culturais. As identidades locais, regionais e comunitárias, assim, têm se
tornado mais importantes. Vejamos!
[...] o fortalecimento de identidades locais pode ser visto na forte reação defensiva daqueles membros dos grupos
étnicos dominantes que se sentem ameaçados pela presença de outras culturas.
(HALL, 2006, p. 85)
Sobre tal fortalecimento, é importante destacar as demais identidades existentes dentro de uma nação – entre elas, a negra e indígena. Entre outras
formas, isso pode ser feito por meio do ensino da origem dessas identidades e da forma com que elas se conjugam.
Para entender as ações de alguns sujeitos, é preciso ter uma compreensão sobre o impacto das identidades e da raça para a construção política de
ações de combate à discriminação. Dessa maneira, o fortalecimento que Hall vê para as identidades locais e étnicas nada mais é do que uma
resposta à violência sofrida por determinados grupos durante anos.
Se a ideia de nacional não satisfaz a todos, é preciso construir novos laços identitários, que podem ser vistos no
aprofundamento de movimentos sociais (entre eles, o negro) ao longo das décadas.
O movimento negro resistiu ao processo de construção da identidade nacional feita no Brasil por meio de métodos eugenistas que visavam ao
embranquecimento da sociedade (MUNANGA, 2019).
Mesmo com o fracasso do projeto de embranquecimento, porém, houve a permanência de mecanismos psicológicos que propunham um
embranquecimento das identidades, da cultura e de outros fatores. A falha de um não destruiu a perpetuação de outro – e o racismo é um desses
métodos.
Exemplo de prática eugenista.
Em seu livro Antirracismo, liberdade e reconhecimento (2006), Jacques d’Adesky indicou que o racismo aspira impor uma uniformização da
humanidade pela diluição das diferenças mediante a assimilação cultural, a educação escolar e a mestiçagem física, conduzindo também ao
menosprezo cultural e às violências físicas, morais e psicológicas.
Uma forma de combatê-lo, assim como à sua violência, seria a adoção de cotas e políticas públicas, a qual, ao mesmo tempo que provoca um
debate e expõe quem se opõe a tais medidas, põe em evidência argumentos perigosos para a condução da sociedade e a eliminação das
diferenças.
Um dos argumentos contrários era de que as ações afirmativas racializavam o Brasil e o problema social. No entanto, de acordo com d’Adesky, os
críticos às cotas não entendiam que:
[...] uma política consistente de luta antirracista passa por ações específicas, sem prejuízo de soluções tradicionais que focalizam a luta
contra a pobreza. Além disso, alguns tendem a evitar a discussão alegando que, no Brasil, não se sabe direito quem é negro. Subentende-se
dessa forma que a mistura racial tem diluído tanto a população que torna-se difícil discernir quem é pardo, mulato, preto, negro etc. Diante
dessa realidade difusa, o bom senso recomendaria mesmo em preocupar-se com os problemas sociais e econômicos, e não com o
racismo.
(D’ADESKY, 2006, p. 60)
O discurso da miscigenação, portanto, será benéfico quando houver propostas de políticas públicas específicas para uma parcela da sociedade.
Para d’Adesky, os que criticam um reconhecimento adequado da imagem de negros e indígenas o fazem por um desejo de cultivar o ideal de
homogeneização racial, acreditando nas virtudes da assimilação cultural como soluções para diluir as diferenças étnicas e as desigualdades
socioeconômicas.
Não há dúvidas de que houve um esforço público e intelectual para a promoção de uma pretensa igualdade racial e um projeto de assimilação e
eliminação de identidades, principalmente das que fossem divergentes de um projeto maior de sociedade. Contudo, muitas gerações de homens e
mulheres enfrentaram de diferentes formas os fundamentos da ideologia racial elaborada desde o século XIX.
Repare no quadro, como a ideia de que os descendentes de Cam - equivocadamente entendidos como negros, ou marcados pela cor na história
bíblica - vão se livrando dessa marca pelo branqueamento.
A Redenção de Cam, do pintor Modesto Brocos. Registro do embranquecimento como solução de melhoria para o povo brasileiro.
Essa ideologia racial que pregava a miscigenação (e, consequentemente, o branqueamento da sociedade) colocou em lados opostos negros e
mestiços. Ao fazê-los diferentes, dividiu a força que eles poderiam ter para combater o racismo, o qual, aliás, atinge os dois.
Por isso, historicizar as ações desses movimentos é fundamental para entender os diferentes instrumentos de luta e sua adequação a projetos
políticos vigentes (e quase sempre racistas).Conceito de raça e o racismo
Assista agora uma análise sobre o conceito de raça para aprofundar a discussão sobre racismo.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
No senso comum, resultado de um processo de apagamento, o fim da escravidão é descrito como um momento que se concretizou pela
atuação da princesa Isabel em 1888. Essa descrição falaciosa, no entanto, não dá conta do processo de luta abolicionista ou estimula o
conhecimento sobre o período pós-abolição. Sobre tal período, avalie as alternativas:
I - O fim da escravidão representou uma continuidade da mobilização de homens e mulheres negros quanto a seus direitos políticos e
econômicos suprimidos no período de escravidão.
II - O fim da escravidão representou o fim das demandas e mobilizações de homens e mulheres negros quanto a seus direitos políticos e
econômicos suprimidos no período da escravidão.
III - Se, no período da luta abolicionista, as irmandades negras geraram laços de solidariedade e políticos, no pós-abolição, elas constituíram um
espaço de construção de identidade.
Marque a alternativa correta.
Parabéns! A alternativa E está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
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aboli%C3%A7%C3%A3o%2C%20novas%20identidades%20foram%20constru%C3%ADdas%20na%20ocupa%C3%A7%C3%A3o%20de%20diferentes%20
Questão 2
O conceito de democracia racial é um debate intelectual formulado na década de 1930. Qual intelectual brasileiro interpretou a origem do Brasil
por meio da democracia racial?
Parabéns! A alternativa C está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20d%C3%A9cada%20de%201930%20deu%20margem%20para%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20conceito%20de%20%E
A Somente I está correta.
B Somente II está correta.
C Somente III está correta.
D I e II estão corretas.
E I e III estão corretas.
A Caio Prado Jr.
B Sergio Buarque de Holanda
C Gilberto Freyre
D Celso Furtado
E Florestan Fernandes
2 - As ações dos movimentos negros (1930-1970)
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o surgimento dos movimentos negros na República.
Anos iniciais da República
Os primeiros anos republicanos, também conhecidos como o pós-abolição, foram de construção de uma nova ideia de Brasil, distante da que
predominou durante o período do Império, cuja duração, em sua maior parte, deu-se sob o regime da escravidão. Porém, ao romper com esse
sistema, não houve nenhuma política de inserção desses homens e mulheres egressos da escravidão em uma política pública de educação.
Exemplo
Um dado alarmante indica que, em 1918, 2/3 da população negra era analfabeta.
Grande parte desse contingente servia de mão de obra barata, não podendo concorrer com os imigrantes europeus por melhores postos de trabalho.
A realidade da população negra no pós-abolição mobilizou homens e mulheres negros para ações mais efetivas de melhoria de vida. Tais ações se
deram a partir de um associativismo capaz de:
A Frente Negra Brasileira realizava eventos e bailes, como essa festa de aniversário da entidade em 1935.
Reconstruir laços de solidariedade e políticos
A Frente Negra Brasileira oferecia aulas e palestra aos associados. Tinha até uma banda, como mostra a imagem da década de 1930.
Gerar mudanças signi�cativas a longo prazo
Na capital da República (à época, Rio de Janeiro), sobrevivia um passado da escravidão a despeito das obras de embelezamento de uma cidade que
desejava refletir uma cidade europeia.
João Cândido (primeira fileira, à esquerda do homem com terno escuro), líder da Revolta da Chibata.
Com isso, enquanto as britadeiras do progresso construíam novas avenidas, a violência contra a população negra era sistemática. Uma delas foi a
Revolta da Chibata. Liderado por João Cândido em 1910, esse movimento era formado por marinheiros (no caso, homens negros) que se revoltaram
contra as chibatadas recebidas. Afinal, a prática de castigo da escravidão não poderia ter sobrevivido no século XX.
Ainda assim, essa prática existia nas costas de homens negros que não eram e nem nunca tinham sido escravizados.
A República não deixava passar a escravidão. Ao mesmo tempo, práticas culturais negras, como a capoeira e os batuques, também eram
combatidas. Herança dos tempos da escravização, tais práticas serviam como um ambiente de reconstrução de identidades durante o Império,
permanecendo fortes na República.
Capoeira no Porto de Salvador.
Roda de samba no Rio de Janeiro em 1936.
O surgimento do samba é um dos exemplos de práticas negras que resistiram a despeito das ações policiais e da imprensa, que combatiam
atitudes de trabalhadores (homens e mulheres) negros para o divertimento.
Ainda no tema divertimento, clubes negros foram criados na capital da República, já que os clubes brancos, em muitos casos, não aceitavam como
sócios homens e mulheres negros. Há diversos exemplos desse tipo de associativismo. Chamamos a atenção agora para as associações
recreativas criadas por trabalhadores negros.
Tais associações reafirmavam uma cultura de ritmos negros, tendo, entre sócios e fundadores, africanos e seus descendentes. Esse tipo de
organização é uma marca das primeiras décadas do pós-abolição e mostram até que ponto homens e mulheres negros poderiam se organizar para
defender uma opção de lazer e reconstruir laços sociais perdidos ou inexistentes por conta dos anos de escravidão.
A necessidade de se organizarem em associações evidenciava a distinção existente entre homens e mulheres brancos e negros, porque não era
permitido, de forma subliminar, frequentar os mesmos ambientes de diversão. Essa restrição não era compatível com a propaganda existente: a de
que, no Brasil, reinava um “paraíso racial”.
Nas primeiras décadas do século XX, tal crença começava a ganhar adeptos, principalmente entre políticos e intelectuais que viam com interesse a
ideia de um Brasil mestiço, pensado a partir da construção de uma nacionalidade que pegaria elementos das camadas populares.
Enquanto isso, a cultura popular de homens e mulheres negros era rechaçada pelas autoridades policiais e pela imprensa, que tentavam evitar a
propagação de algo que, para eles, era bárbaro e do tempo da escravidão.
Para homens e mulheres negros, sobreviver na República só seria possível a partir de uma mobilização entre seus
pares. Podemos classificar tal mobilização como uma espécie de movimento social, o qual, hoje em dia,
caracterizamos como negro.
Institucionalização de batalhas
Na década de 1930, surgiu uma importante iniciativa de movimento negro, a qual, estabelecida em São Paulo, gerou ressonâncias em outras
cidades. Diante de um processo de urbanização e industrialização existente na capital paulista que excluía o negro, em 1931, foi criada a Frente
Negra Brasileira (FNB).
Com forte caráter nacionalista, a FNB tinha filiais em outros estados. Para alguns estudiosos, a Frente Negra foi o
primeiro movimento ideológico e com caráter eminentemente urbano.
Entre suas ações, destacava-se a criação do Departamento de Instrução e Cultura para os membros, já que seus fundadores acreditavam que a
educação era um importante requisito para solucionar os problemas da população negra nas primeiras décadas do século XX.
Militantes da Frente Negra Brasileira.
Desde esse período, as iniciativas educacionais da FNB identificavam o problema relativo aos conteúdos ministrados nas escolas, que colocavam
os negros como “desgraçados”, e o preconceito existente nos livros didáticos sobre a história do negro e sua participação na formação do Brasil.
Não fazia sentido alunos negros aprenderem uma história que destacava uma visão dos seus antepassados apenas na esfera do fracasso. Tal
narrativa, afinal, não contribuiria para a formação desse aluno. Para driblarem isso, os educadores pertencentes aoDepartamento de Instrução da
Frente Negra faziam abordagens de eventos nos quais o negro tivesse destaque. A expulsão dos holandeses e o Quilombo de Palmares são dois
exemplos.
Comentário
Há quase um século, já existia uma demanda do movimento negro por uma reavaliação dos conteúdos de história ensinados nas escolas. Tratava-
se, aliás, de algo que mais tarde seria a bandeira de movimentos sociais no final do século XX.
A Frente Negra foi a mais importante organização do movimento negro do início do século XX, chegando a reunir cerca de 40 mil associados em
diferentes estados. Ela serviu como referencial para a luta contra o racismo no Brasil e no exterior. Os analistas desse movimento indicam que sua
existência foi o resultado do acúmulo de experiências organizativas dos afro-paulistas e uma reação à forte discriminação vivida por eles em
anúncios de jornais e associações.
A FNB ainda é vista como o primeiro movimento ideológico que buscou sintetizar o assimilacionismo e a prática cultural com o caráter urbano.
Antes dela, houve, também em São Paulo, o Centro Cívico Palmares (1923-1929), que acabou sendo visto como o embrião para a Frente Negra.
Outra iniciativa anterior foi a publicação de um jornal que, mais tarde, entrou para a galeria dos jornais da “imprensa negra” paulista.
O primeiro número de Clarim d’Alvorada foi publicado em janeiro de 1924 e, além de circular pela cidade de São Paulo, era distribuído em outras
cidades. As diferentes fases pelas quais passou o jornal mostrava um amadurecimento da necessidade de uma consciência política e social da
comunidade negra na busca por uma cidadania plena. O impresso sobreviveu até o ano de 1933, tendo cerca de 64 edições publicadas. A Frente
Negra também teve seu órgão oficial, A voz da raça, cujo cabeçalho tinha a seguinte frase: “O preconceito de cor no Brasil só nós os negros
podemos sentir”.
Capa da primeira edição do Clarim d’Alvorada.
Esse periódico circulou entre os anos de 1933 e 1937, totalizando cerca de 70 edições. Vendido sob um sistema de assinaturas, ele tinha uma
produção em grande escala, pois era distribuído para outras cidades.
Mesmo atenta aos problemas da educação no Brasil, principalmente quanto à abordagem da história do negro, a Frente Negra não conseguiu
sistematizar uma proposta de política educacional mais abrangente, muito menos a elaboração de um material didático específico ou de uma grade
curricular. Ainda assim, a FNB foi o prenúncio das críticas ao ensino do país que excluía homens e mulheres negros da construção da sociedade
brasileira e, consequentemente, da história do Brasil.
Em 1937, a FNB preparava-se para se tornar um partido político a fim de disputar as eleições. No entanto, com o golpe do Estado Novo, que fechou
uma série de partidos, a Frente Negra também foi fechada, encerrando suas atividades.
Livro Casa-grande & senzala, escrito pelo pernambucano Gilberto Freyre.
Ao mesmo tempo que a Frente Negra valorizava a história negra e dava espaço em seus jornais para textos que abordassem essa temática, uma
importante obra sobre a origem do Brasil – e que marcaria toda a pauta do movimento negro a partir dali – era lançada. Casa-grande & senzala, livro
escrito pelo pernambucano Gilberto Freyre, foi publicado em 1933 e privilegiava a história do Brasil colonial.
Em sua abordagem, Freyre identificava elementos do cotidiano de um grande engenho para exemplificar a sociedade brasileira, em que a harmonia
racial e, consequentemente, a mestiçagem seriam elementos de construção de tal sociedade. O reforço da inexistência de uma guerra racial serviu
durante muitos anos para que diferentes regimes políticos justificassem a falta de políticas públicas para uma parte da população brasileira.
Se não havia guerra racial, o racismo também não existiria e, logo, não deveria ser combatido. Os efeitos da famosa “democracia racial” estão até
hoje na mentalidade de muitos brasileiros (todos eles brancos), que acreditam que o grande problema do país é a questão social, a pobreza, embora
não percebam que ela atinge a maioria da população negra, a qual, por sua vez, não ocupa os principais postos de trabalho – mesmo que tenha
estudos para tal. Quando estão em pé de igualdade, membros dessa população são preteridos de oportunidades por serem negros.
Charge de Bira sobre o mito da democracia racial.
A partir da segunda metade do século XX, as principais pautas das lutas dos coletivos e dos movimentos negros foram marcadas pelo combate à
propagação do “mito da democracia racial”. Seu objetivo é justamente evitar que essa “democracia” se espalhasse ainda mais nas políticas
públicas, já que elas são as únicas que poderiam reverter o quadro de desigualdade social no Brasil.
Todos contra o mito
Enquanto combatiam o “mito da democracia racial”, as iniciativas particulares ou coletivas não deixaram de existir. Perto do fim do período do
Estado Novo, surgiram outras associações negras. Listemos duas delas:
Escola de música e canto orfeônico da União dos Homens de Cor.
União dos Homens de Cor
Fundada em Porto Alegre em 1943, ela teve filiais em outros estados. Privilegiava a assistência médica e jurídica, assim como a promoção de
cursos de alfabetização (SANTOS, 2022, p. 231).
Teatro Experimental do Negro ensaiando Sortilégio, com Abdias Nascimento e Léa Garcia, 1957.
Teatro Experimental do Negro (TEN)
Criado por Abdias Nascimento, o TEN surgiu no Rio de Janeiro em 1944.
Apesar de a iniciativa de Abdias Nascimento ser a formação de uma companhia teatral, o TEN assumiu outras funções culturais e políticas. Para seu
idealizador, a alfabetização do negro era fundamental, principalmente no caso das mulheres trabalhadoras, cuja maioria ocupava a função de
empregadas domésticas.
O projeto de Abdias alfabetizou cerca de 600 pessoas. Já no ano seguinte da sua construção, o TEN encenou a peça O imperador Jones no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro. Dessa iniciativa, saíram importantes atrizes, como Ruth de Souza, Léa Garcia e Mercedez Batista.
A respeito dos efeitos do TEN, Abdias Nascimento sintetizou:
ercedez Batista
Primeira bailarina negra do Municipal, a figura de Batista foi imortalizada em uma estátua situada em uma praça no bairro da Saúde, importante lugar
de herança africana, na cidade do Rio de Janeiro.
A um só tempo, o TEN alfabetizava seus primeiros participantes e oferecia-lhes uma nova atitude, um critério próprio
que os habilitava também a ver, enxergar o espaço que ocupava o grupo afro-brasileiro no contexto nacional.
(NASCIMENTO, 2006, p. 211)
Junto com a alfabetização, o TEN tinha outro importante papel: discutir a situação do negro na sociedade. A companhia dava o protagonismo de
suas apresentações aos negros, ou seja, o papel principal das peças.
Saiba mais
A companhia teatral de Abdias Nascimento influenciou, décadas mais tarde, outros coletivos negros teatrais. O mais famoso deles é o Olodum, em
Salvador.
O TEN encerrou suas atividades em 1968, no auge da ditadura militar no Brasil, obrigando seu fundador a se exilar nos Estados Unidos.
O período de existência do TEN e de ações do movimento negro foi marcado por iniciativas que tentaram incluir a população negra na sociedade
brasileira. Para isso, valorizavam-se as experiências vindas do exterior e tentava-se afirmar a dignidade, a busca de reconhecimento social e a
igualdade da maioria dos negros. Essa fase também foi marcada por maior agitação intelectual e política, havendo uma presença de representantes
dos setores progressistas brancos junto às entidades negras (GONZALEZ; HASENBALG, 1982, p. 24).
Integrantes do TEN.
Além das iniciativas de coletivos e associações negras, é importante ressaltar os estudos de intelectuais que tinham como objeto de estudos a
questão racial. Na década de 1950, houve um projeto de apoio a estudiosos (em sua maioria, brancos) com patrocínio da Unesco. Nesse projeto,
importantes obras foram produzidas, o que permitiu a ampliação de conhecimentos e questionamentosa respeito da questão racial no Brasil.
Um desses autores foi Luís de Aguiar Costa Pinto, que publicou em 1953 O negro no Rio de Janeiro. Essa obra destacava a diferença entre as vidas
de pessoas brancas e negras. O autor também apontou a discrepância relativa aos estudos sobre a população negra. Vejamos:
O negro brasileiro, ou melhor, o brasileiro negro e o processo de sua integração nos quadros da sociedade brasileira – da condição de
escravo à de proletário e da condição de proletário à de negro de classe média – jamais despertaram o interesse sério dos estudiosos do
negro no Brasil, porque um arraigado estereótipo os convencera de que nada havia a estudar em relação ao negro igual a nós, ao negro não
africano, não analfabeto, não escravo, não trabalhador rural, não separado do branco pela distância imensa que separa o vértice da base de
uma pirâmide social rigidamente estratificada. O que o negro tinha de diferente de nós era o que se oferecia ao estudo: suas matrizes
africanas, o drama de sua vinda para o novo mundo, sua condição de escravo, o estoque de influência que ele trouxe para cá e despejou
fartamente na argamassa com que a história cimentou o chão e as vigas da civilização brasileira.
(COSTA PINTO, 1952, p. 26)
A denúncia feita por Costa Pinto dizia respeito à colocação do negro, como objeto de estudo, em um nicho que o estereotipava. Ou seja, só era
permitido estudá-lo como alguém na miséria e ligado à escravidão. Parecia não haver outra posição para o homem e a mulher negro e negra na
história e na sociedade. Por que o negro não poderia, por exemplo, ser estudado como trabalhador, brasileiro, político e intelectual?
Essa questão de Costa Pinto nos instiga a continuar pensando na força do movimento negro, o qual, na segunda metade do século XX, parecia gritar
ainda mais para a sociedade. Uma parte desse grito dizia que a democracia racial não existia – principalmente em um período de ditadura militar –
e que a história do Brasil excluía grande parte da população da sua própria história.
Junto ao movimento negro, estavam intelectuais como Florestan Fernandes e Thales de Azevedo. Ambos corroboravam a denúncia da inexistência
não só da democracia, mas também – e principalmente – de uma democracia racial.
Refletir sobre esse movimento é ver ações contra um mito que, ainda no século XXI, precisa ser constantemente desmobilizado.
Historicizando o movimento negro
Veja agora uma explicação sobre o surgimento dos movimentos negros na República.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
No período pós-abolição, a condição de homens e mulheres negros era muitas vezes marcada pelo analfabetismo e pelo fato de que eles
serviam como mão de obra barata. Tais questões foram pautas de mobilização desse grupo, o que se deu a partir de:
Parabéns! A alternativa D está correta.
A Irmandades religiosas
B Irmandades de ofício
C Universidades
D Associações
E Igrejas
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paragraph'%3ENa%20primeira%20metade%20do%20s%C3%A9culo%20XX%2C%20grande%20parte%20da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20negra%20
aboli%C3%A7%C3%A3o%20mobilizou%20homens%20e%20mulheres%20negros%20para%20a%C3%A7%C3%B5es%20mais%20efetivas%20de%20mel
Questão 2
“Art. 1° - Fica fundada nesta cidade de São Paulo, para se irradiar por todo o Brasil, a Frente Negra Brasileira, união política e social da gente
negra nacional, para a afirmação dos direitos históricos da mesma, em virtude da sua atividade material e moral no passado e para
reivindicação de seus direitos sociais e políticos, atuais, na comunhão brasileira.” (Estatuto da Frente Negra Brasileira. Diário Oficial do Estado
de São Paulo, 1931.)
Avalie as assertivas sobre a FNB:
I - Tinha um apelo regional no estado de São Paulo.
II - Tinha um caráter nacional com filiais nos estados.
III - Foi um movimento com caráter rural.
IV - Seu principal foco era a educação como solucionadora de problemas da população negra.
Marque a alternativa correta.
Parabéns! A alternativa D está correta.
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A Somente I está correta.
B Somente II e II estão corretas.
C Somente I e IV estão corretas.
D II e IV estão corretas.
E III e IV estão corretas.
3 - O movimento negro uni�cado – ações e sujeitos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as diferentes estratégias de ação do MNU na segunda metade do século XX.
Respeita minhas vitórias!
Como movimento social, o movimento negro tem como particularidade a atuação relativa à questão racial e engloba um conjunto de entidades,
organizações e indivíduos que lutam contra o racismo e por melhores condições de vida. Ele é uma resposta à forma com que a sociedade brasileira
trata a população negra e ao mito da democracia racial, mais próximo de um senso comum do que obra exclusivamente de Gilberto Freyre.
No entanto, é essencial que tenhamos a seguinte noção: os negros não são um bloco monolítico com
características únicas e universais. Houve, afinal, diferentes tipos de mobilização – e, neste módulo, falaremos
justamente dessa diversidade. A característica que uniu esses diferentes movimentos foi a consciência de que
apenas com o reforço de uma identidade negra seria possível encarar o inimigo comum: o racismo.
Por ser complexo, de acordo com uma própria militante do movimento negro, Lélia Gonzalez, não é possível falar dele no singular. Na verdade,
destaca Gonzalez, há uma especificidade comum, o negro, embora existam divergências quanto à sua mobilização. Por conta disso, o movimento
deve ser visto no plural (GONZALEZ; HASENBALG, 1982, p. 19).
Para Joel Rufino, historiador e intelectual negro, o ideal seria pensar o movimento negro como um conjunto de entidades e ações iniciadas após a
década de 1930 e que lutaram contra o racismo e a marginalização. Dessa forma, é interessante pensar nas mobilizações que aglutinaram homens
e mulheres negros na segunda metade do século XX, período de transformação política e social.
Placa sobre o Renascença Clube.
Uma iniciativa importante promovida pela intelectualidade negra do Rio de Janeiro foi a fundação do Renascença Clube, em 1951, como um espaço
de sociabilidade de homens e mulheres negros de classe média que, por conta da cor, não poderiam frequentar clubes ocupados majoritariamente
por brancos.
Entre as atividades realizadas no clube, havia concursos de beleza para a escolha da mulher negra mais bonita, danças de salão e, da década de
1970 em diante, bailes soul, que ficaram conhecidos como Black Rio.
O Renascença Clube existe até hoje no Rio de Janeiro, reforçando, com isso, sua ancestralidade e a valorização da cultura
negra.
Em 1976, um grande jornal noticiava a mobilização de jovens negros para uma música nada parecida com o samba ou o batuque, sons tipicamente
associados à cultura negra. O ritmo do soul, somado a um orgulho da negritude, veio dos Estados Unidos e tomou conta da juventude negra no Rio
de Janeiro e em São Paulo – mais precisamente, nas periferias dessas duas cidades.
Em plena ditadura militar, os bailes black foram um fenômeno da década de 1970 e uma das facetas do movimento negro do período.
De algum modo, tanto o movimento dos direitos civis dos Estados Unidos quanto a mobilização dos norte-americanos exerceram influência sobre
os jovens negros brasileiros, que se reuniam em grandes bailes black para dançar e pensar a questão racial, já que ela não estava desconectada das
ações musicais desses jovens.
Baile soul na década de 1970, no Rio de Janeiro.
Outro ponto de ação dizia respeito a uma estética negra. Ela, afinal, resgatava o amor a seus traços e cabelos, que passam a ser valorizados e
crescem ao natural, ganhando o nome de “black”. Ao mesmo tempo, quem aderia a tal estética sofria discriminação. Por contade suas roupas e de
seus cabelos, esses jovens mobilizavam outros, os quais, sem perceber, acabavam por fazer política.
Foto da exposição de Carlos Vergara sobre o Carnaval no Rio de Janeiro.
A repressão a essa movimentação foi forte, tendo sido mais uma das realizadas no período da ditadura, especialmente porque, ao valorizar uma
estética e cultura “black”, ela evidenciava que a democracia racial pregada por esse regime político era inexistente, assim como o era a própria
democracia.
Artistas como Toni Tornado e Tim Maia foram testemunhas e promotores de tais eventos e dessa estética, demarcando para a contemporaneidade
que a arte negra poderia ser diversa – e não apenas a que vinha do samba e do batuque.
Toni Tornado.
Tim Maia.
Contudo, as ações desses jovens irritavam os defensores da harmonia racial, como Ibrahim Sued, o que fez com que o colunista social d’O globo
escrevesse em 1977 sobre o fenômeno:
A tônica do movimento é lançar o racismo no país, como existe nos States. Eles chamam uns aos outros de “brother”, e o cumprimento é
com o punho fechado para o alto. Nos shows que estão promovendo no Rio e em São Paulo conseguiram a presença de 10 mil pessoas.
Os brancos são evitados, maltratados e até insultados. As autoridades estão atentas a esse movimento, pois pode se tratar de problemas
de segurança nacional. E mais: no Brasil não existe racismo. Existem pessoas que alcançam posições mais elevadas e outras menos. Nos
espetáculos, os negros aproveitam a oportunidade para a agitação, jogando negros contra brancos e fazendo a preleção para o domínio da
raça no Brasil, a exemplo do que acontece nos States.
(PEDRETTI, 2022, p. 86)
A imprensa se esforçava em dizer que não existia racismo no Brasil e que alguma menção a isso era algo importado. Ao mesmo tempo, jornalistas
se espantavam com a adesão ao movimento musical promovido por negros que tentavam, aos olhos de Ibrahim Sued, racializar a sociedade
brasileira.
Estudiosos do movimento conhecido como Black Rio negam qualquer tipo de segregação a pessoas brancas, mas indicam que os bailes eram
oportunidades para a reafirmação de uma identidade negra.
Saiba mais
Foi na década de 1970 que o Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, pregou o deslocamento das comemorações do 13 de maio, data de assinatura
da Lei da Abolição, para 20 de novembro, dia de morte do Zumbi dos Palmares, herói mais apropriado para se pensar a liberdade em um tempo de
ditadura militar.
As mulheres negras também começaram a se mobilizar nos movimentos negros existentes, principalmente no Rio de Janeiro, e alguns relatos de
militantes históricas desses movimentos indicam a existência de um machismo estrutural que não permitia uma ação completa delas como
articuladoras políticas. A década de 1970 seria de transformação em muitos sentidos nos movimentos sociais.
Os militantes dos movimentos existentes em diferentes cidades começaram um profícuo diálogo em meados dos anos 1970, articulando um
movimento de caráter nacional. Como resultado disso, com uma diferença de 11 dias, houve a fundação do movimento negro em Salvador em 7 de
junho de 1978 e, no dia 18, em São Paulo, do Movimento Negro Unificado (MNU).
Ato que deu início ao MNU.
Em novembro desse mesmo ano, foi publicado o manifesto Cadernos negros, uma publicação do MNU contra a discriminação racial. Nesse
momento, constituía-se uma ampla articulação desses movimentos, assim como uma denúncia do racismo na sociedade brasileira.
Na segunda Assembleia Nacional do MNU, realizada em Salvador no dia 4 de novembro de 1978, ficou estabelecido o 20 de novembro como dia de
luta e da consciência negra, ao mesmo tempo que se negava o dia 13 de maio, visto como o dia da assinatura de uma lei que havia ficado apenas no
papel e que pouco tinha feito para mudar a situação do negro (GONZALES, 1982, p. 58). Para os membros do MNU, não era mais possível acreditar
na ideia da democracia racial, já que ela representava fortes barreiras para a luta contra o racismo.
Saiba mais
Uma denúncia feita por esse movimento foi o projeto assimilacionista, que visava ao branqueamento das populações negras e indígenas (D’ADESKY,
2006, p. 71).
Ninguém solta a mão de ninguém!
Para Joel Rufino dos Santos, a fundação do MNU foi o desfecho de um caminho que transitou por diversas ações até chegar à organização política
e ideológica, sendo um fruto do “milagre brasileiro” e das suas frustrações sociorraciais. Ela era também uma resposta ao “mito da democracia
racial” e a todas as imagens que amenizavam a condição racial no Brasil, criando uma ideologia sobre uma história: a da escravidão (SANTOS,
1985).
MNU da Bahia.
O MNU tornou-se uma organização com representações em vários estados brasileiros e acabou influenciando na criação de outras organizações
negras. O contexto da criação do movimento e das suas intenções estava totalmente relacionado a um período de ditadura militar que já dava
indícios de abertura política.
Na iminência de uma abertura, era preciso ocupar espaços para garantir a participação de todos e todas a fim de promover uma verdadeira
transformação social. Ou seja, um caminho para isso era a denúncia e a derrubada do mito da democracia racial, além de dar uma atenção maior à
complexidade da sociedade brasileira.
Um dos aspectos de reivindicação de transformação da sociedade passava também pela reavaliação do papel do negro na história do Brasil e pela
denúncia da existência de desigualdades materiais e simbólicas, gerando desvantagens gritantes entre os brasileiros, principalmente no caso dos
afrodescendentes (D’ADESKY, 2006). Estudos que problematizavam a questão negra na nação aproveitaram o ensejo para repensar o papel do negro
e do indígena na história do Brasil.
Exemplo
Esses estudos estão no bojo das reivindicações futuras de obrigatoriedade de um ensino que ampliasse a abordagem de uma história do Brasil que
há muito tempo privilegiava homens brancos e de origem europeia.
Fora do Brasil, a Unesco patrocinou a coleção História geral da África. De seus 8 volumes, 4 saíram primeiramente no Brasil, embora atualmente
todos os volumes estejam digitalizados e disponíveis em português.
Essa coleção reuniu um material escrito por especialistas de diversos países e abordou diferentes temas, regiões e períodos da história africana,
sendo pioneira na reunião de historiadores, incluindo os africanos, dispostos a pensar um projeto maior acerca da história de um continente.
Livros da coleção História geral da África.
História geral da África representou, por fim, um esforço para combater uma visão do continente construída durante o período colonial (XIX e XX),
dando um caráter negativo à história do continente europeu e ao seu direito à história, além de colocar os africanos no papel de sujeitos dela (LIMA,
2004). A obra de oito volumes também:
Instigou novos estudos.
Gerou um campo de conhecimento inédito até então.
Foi uma base teórica e mais detalhada sobre o continente e sua formação cultural e histórica.
Serviu àqueles interessados em não só estudar o continente, como também em conhecer as origens de uma parte do povo ancestral da sociedade
brasileira.
Na década de 1990, anos após a Constituição de 1988 e com um novo período republicano (dessa vez, distante dos horrores da ditadura), a questão
racial passou a constar na agenda de debates de políticas públicas de diferentes órgãos, como: sociedade, escolas, universidades e mídia. Todos
eles passaram a discutir o racismo e a discriminação racial. Essa discussão foi essencial para gerar um movimento de luta por meio da articulação
de políticas públicas efetivas para o combate a um mal tão secular.
Convenção Nacional do Negro, de 1986.
Uma das propostas foi a de transformar o 13 de maio em dia nacional de denúncia contra o racismo. A data – que, em 1988, foi marcada por
protestos diante do centenário da abolição e da ideia de que ela teria sido uma farsa – passava a ser ressignificada, ficando disponível para um
novocampo de luta.
Uma forma de combater o racismo era educar a população e inserir mais pessoas negras no ensino superior. Essa constatação fez com que uma
das ações do movimento negro fosse a de criação de pré-vestibulares comunitários para jovens negros e carentes, servindo como uma ponte para a
universidade.
Apenas por dentro seria possível mudar a estrutura desse sistema de ensino. As ações da sociedade civil para o reforço na educação de jovens
negros e carentes surgiram na Bahia (mais precisamente, na periferia de Salvador). Já no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, elas foram uma
iniciativa da Pastoral do Negro (SISS, 2003, p. 157). Essas ações de pré-vestibulares negros alimentaram as reivindicações por ações afirmativas
cujo resultado mais visível é o das cotas raciais nas universidades brasileiras.
Desse modo, o movimento negro do século XX foi amplo e complexo, tendo enfrentado diferentes regimes políticos. Ainda assim, ele foi essencial
para mobilizar a sociedade brasileira e acordá-la para o problema do racismo, o qual, a despeito de atingir a todos, é vivido cotidianamente por
homens e mulheres negros.
Marcha "Zumbi está vivo", realizada no Rio de Janeiro em 1983.
O século XXI iniciaria com uma perspectiva de mudança que passava pela educação. Mais uma vez, ela se revela como um caminho seguro para a
mudança da mentalidade da sociedade.
O movimento negro uni�cado
Assista agora uma apresentação sobre as diferentes estratégias de ação do MNU com o objetivo de unificar o movimento negro.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“Funcionando no Lins de Vasconcelos, numa casa antiga, pequena, com grande quintal arborizado, a sede do Renascença reunia ‘pessoas que
apesar de intelectualmente e economicamente capazes, não tinham acesso a diversos tipos de diversões por serem negros’. A origem do clube
é tema recorrente nas conversas com os antigos e novos associados“ (GIACOMINI, S. M. A alma da festa: família, etnicidade e projetos num
clube social da Zona Norte do Rio de Janeiro, o Renascença Clube. Belo Horizonte: UFMG, 2006. p. 28-19).
No início dos anos 1950, a fundação do Renascença Clube como espaço de convivência demonstra o(a):
Parabéns! A alternativa C está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EEm%201951%2C%20uma%20intelectualidade%20negra%20no%20Rio%20de%20Janeiro%20fundou%20o%20Renascen%C3%A7a%20Cl
Questão 2
(IBFC – PM/MG – analista de gestão da Polícia Militar – Pedagogia – 2015) Ao longo do século XX, em diferentes momentos e lugares do
Brasil, surgiram associações e movimentos organizados em prol do atendimento às necessidades de populações negras. A intensa mobilização
emergiu em fins dos anos 1970 e, nesse cenário, aconteceu uma reorganização do movimento negro, podendo-se considerar como um de seus
importantes marcos a criação do MNU, em 1978, com intuito de articular entidades diversas e demarcar o caráter político da luta contra a
discriminação racial. Tratou-se, assim, de um momento de rearticulação e instauração de uma nova agenda política de combate antirracista,
que passa a se organizar em frentes de luta, como:
A inexperiência associativa que levou a elite negra a imitar os clubes dos brancos.
B isolamento da comunidade destacada que ignorava a democracia racial brasileira.
C interesse de um grupo de negros na afirmação social para se livrar do preconceito.
D existência de uma elite negra imune ao preconceito pela posição social que ocupava.
E criação de um racismo invertido que impedia a presença de pessoas brancas nesses clubes.
I - A recuperação da autoestima negra por meio da modificação de valores estéticos, da reapropriação de valores culturais, da recuperação de
seu papel na história nacional e do avivamento do orgulho racial.
II - O processo de abertura política e a emergência dos movimentos sociais em consonância com a transição democrática no Brasil.
III - O combate à discriminação racial por meio da universalização da garantia dos direitos e das liberdades individuais, incluindo os negros,
mestiços e pobres.
IV - O combate às desigualdades raciais por meio de políticas públicas que estabeleçam, a curto e médio prazo, maior equilíbrio de riqueza,
prestígio social e poder entre brancos e negros.
Assinale a alternativa correta.
Parabéns! A alternativa B está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EOs%20militantes%20dos%20movimentos%20existentes%20em%20diferentes%20cidades%20articularam%20um%20movimento%20de
4 - O século XXI – novas e antigas questões
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer avanços, retrocessos e desa�os para o futuro do movimento negro nas
primeiras décadas do século XX.
A I, II e III, somente.
B I, III e IV, somente.
C I e III, somente.
D I e IV, somente.
E II e IV, somente.
Orgulho de ser preto!
O século XXI teve início com as comemorações voltadas para os 500 anos do Brasil, havendo a crença de que seria um tempo de progresso e
mudanças. No entanto, algumas permanências podem ser sentidas até os dias de hoje, duas décadas depois do seu início.
O fato é que estamos vivendo tempos de retrocesso e descrença sob a sombra de um futuro sem igualdade social. Ignorar a presença de homens e
mulheres negros e indígenas na construção da sociedade brasileira e, consequentemente, da sua história, é recriar velhas questões.
III Conferêncial Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa.
Por isso, pensaremos nessas primeiras décadas do século XXI como uma curva ascendente de conquista de direitos, principalmente dos raciais, e
que teve uma forte queda nos últimos cinco anos. Mesmo que essa queda seja sentida por eles, os movimentos sociais não esmoreceram, tendo
feito um resgate para a história de homens e mulheres negros esquecidos que contribuíram para o fortalecimento da democracia política.
Já no primeiro ano do novo século, o Brasil enviou para Durban, na África do Sul, uma delegação para a Conferência Mundial das Nações Unidas de
2001 contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância. Nosso país foi um signatário do relatório da conferência, que pregava
ações concretas para esse combate.
Apesar de não ser um resultado direto dessa participação, o sistema de cotas raciais foi estabelecido no Brasil no ano seguinte: a Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) foi a pioneira dessa ação em universidades públicas. O Decreto nº 30.766/2002 estabelecia cotas de até 40%
para as populações negra e parda. Atualmente, ele fixa:
istema de cotas raciais
Lei nº 3.708, de 9 de novembro, regulamentada pelo Decreto nº 30.766, de 4 de março de 2002.

20% para negros

20% para alunos da rede pública

5% para pessoas com de�ciência ou membros de minorias étnicas
A questão racial entraria de vez para a agenda pública nos primeiros anos do século XX. Ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em
13 de maio de 2002, foi aprovado o Segundo Plano Nacional de Direitos Humanos (COSTA, 2011, p. 67).
O primeiro plano, também no governo FHC, alertava para o combate a injustiças sociais e violações de direitos humanos no país. O segundo,
publicado em data significativa, tinha ações para a população negra e indígena como um importante enfoque. Entre elas, o Segundo Plano Nacional
de Direitos Humanos pregava a política de ações afirmativas para o combate à desigualdade social e apontava que os currículos escolares que
deveriam estar atentos à questão da discriminação.
Também em 2002, o Ministério das Relações Exteriores incentivou a entrada de afrodescendentes na carreira diplomática por meio de bolsas. No
ano seguinte, já no primeiro mês do governo Lula, foi assinada a Lei nº 10.639/2003, uma importante alteração na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), de 1996, que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira.Essa lei resultou de uma ação política e
histórica de grupos ligados a movimentos sociais.
O mesmo ano ainda reservou outras conquistas, como a Criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) (COSTA,
2011, p. 68) e o estabelecimento do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra, com a inclusão da data no calendário escolar.
A importância do ensino da história e cultura afro-brasileira para todas as idades.
O mesmo ano ainda reservou outras conquistas, como a Criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) (COSTA,
2011, p. 68) e o estabelecimento do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra, com a inclusão da data no calendário escolar.
Atenção!
Mudança no ensino era pauta do movimento negro, no mínimo, desde a década de 1930, quando a Frente Negra já alertava para a existência de uma
história na qual o negro tinha papel secundário.
Tais ações afirmativas tiveram como resultado:
Práticas para o reconhecimento sociocultural.
Promoção da igualdade.
Universalização de direitos civis, políticos e sociais (política de universalização de direitos).
Organizações ligadas ao movimento negro investiram em iniciativas voltadas para a educação, principalmente na linha do acesso ao ensino superior
e na formação de educadores. Um dos motivos disso é o fato de tais organizações considerarem a educação um dos mais importantes
mecanismos a se acionar para a redução das desigualdades sociais e raciais.
Exemplo
Em 2008, a lei inseriu a história e cultura indígena como obrigatória no currículo escolar, alertando-se para o etnocídio existente na sociedade
brasileira.
tnocídio
Destruição da civilização ou da cultura de uma etnia por outro grupo étnico.
As ações do que chamamos de movimento negro se ampliaram. Se antes elas ficavam restritas a encontros presenciais e ações nas ruas, nos
partidos políticos e nas universidades, atualmente, é possível identificar mobilizações individuais.
Além disso, alguns coletivos estão atentos a outras necessidades. Uma delas é pensar o papel da mulher negra e resgatar o protagonismo de
muitas delas, que, atuando nas décadas de 1970 e 1980 nas ações do movimento negro, foram apagadas de uma história que não individualiza
essas ações.
Exemplo
Um movimento importante para isso foi a sanção, em 2014, por parte da presidente Dilma Rousseff, da data do 25 de julho como o Dia Internacional
da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela.
Por isso, vale destacar algumas dessas mulheres, que falaremos na próxima seção. Vamos lá?
Pensamento preto!
A primeira dessas mulheres é Lélia Gonzalez (1934-1994). Bacharel em Filosofia, História e Geografia, ela foi professora do CAP-UERJ e da Puc-Rio.
No carnaval, o mito da democracia racial é atualizado.
Por ter participado da fundação do MNU nos anos 1970, Gonzalez foi fortemente vigiada no regime militar. Sua produção intelectual é uma crítica ao
caráter eurocêntrico das Ciências Sociais e do feminismo ocidental. Lélia Gonzalez também atuou na assessoria de filmes que tinham a temática
racial e em mandatos políticos, principalmente os da deputada constituinte Benedita da Silva.
Em sua obra, Gonzalez alertou para o racismo e o sexismo na cultura brasileira, principalmente no caso do carnaval:
O mito que se trata de reencenar aqui é o da democracia racial. E é justamente no momento do rito carnavalesco que o mito é atualizado
com toda a sua força simbólica. E é nesse instante que a mulher negra transforma-se única e exclusivamente na rainha, na “mulata deusa
do meu samba”, “que passa com graça/fazendo pirraça/fingindo inocente/tirando o sossego da gente”. É nos desfiles das escolas de
primeiro grupo que a vemos em sua máxima exaltação. Ali, ela perde seu anonimato e se transfigura na Cinderela do asfalto, adorada,
desejada, devorada pelo olhar dos príncipes altos e loiros, vindos de terras distantes só para vê-la. Estes, por sua vez, tentam fixar sua
imagem, estranhamente sedutora, em todos os seus detalhes anatômicos; e os “flashes” se sucedem, como fogos de artifício eletrônicos.
E ela dá o que tem, pois sabe que amanhã estará nas páginas das revistas nacionais e internacionais, vista e admirada pelo mundo inteiro.
Isso sem contar o cinema e a televisão. E lá vai ela feericamente luminosa e iluminada no feérico espetáculo.
(GONZALEZ, 1984, p. 69)
A autora denunciava a persistência do mito da democracia racial em momentos nos quais a mulher negra é fortemente sexualizada e objeto de
desejo de todos aqueles que não a enxergam no seu cotidiano. A tal harmonia racial parecia ocorrer em algumas épocas do ano, e o carnaval é uma
delas.
Outra historiadora é Beatriz Nascimento (1942-1995). Graduada pela UFRJ em 1971, ela foi pesquisadora do Arquivo Nacional e da FGV, além de
professora da rede pública. Em 1975, Beatriz Nascimento organizou na UFF a Semana de estudos sobre a contribuição do negro na formação
brasileira, antecipando as abordagens que hoje são essenciais para se pensar a história do Brasil. Sua intelectualidade negra foi influenciada
também pelas viagens que fez a Angola e Senegal na década de 1980 – e podemos ver parte dessa reflexão no filme Ôrí (1989).
Em suas pesquisas, a professora e pesquisadora colocou homens e mulheres negros como protagonistas e questionou como a negritude tornava-se
sinônimo de escravidão e objetificação:
As manifestações preconceituosas são tão fortes que, por parte de nossa intelectualidade, dos nossos literatos, dos nossos poetas, da
consciência nacional, vamos dizer, somos tratados como se vivêssemos ainda sob o escravismo. A representação que se faz de nós em
literatura, por exemplo, é a de criado doméstico, ou, em relação à mulher, a de concubina do período colonial. O aspecto mais importante do
desleixo dos estudiosos é que nunca houve tentativas sérias de nos estudar como raça.
(NASCIMENTO, 2006, p. 34)
Para Beatriz, não era mais possível ver os negros nos mesmos lugares, isto é, o da subalternidade, e tendo vivido apenas um período da história do
Brasil: o da escravidão. Ela propunha uma quebra de paradigmas, propondo como a história deveria ser feita: a partir de um outro olhar e de novas
questões que colocassem o homem negro e a mulher negra no centro do debate.
Beatriz e Lélia mantinham um diálogo e permaneciam atentas ao machismo existente (principalmente dentro do
movimento negro) na sociedade. Ambas deixaram um importante legado seguido por outras mulheres negras.
Entre elas, vale destacar Sueli Carneiro. Nascida em 1950, ela é filósofa, escritora e ativista, tendo recebido em 2002 o título de doutora honoris
causa pela UnB. Carneiro fundou em 1988 o Geledés – Instituto da Mulher Negra, uma organização da sociedade civil para a denúncia e o combate
ao racismo, ao machismo e à desigualdade social, além de dar protagonismo às mulheres negras. Para ela, é preciso “enegrecer o feminismo”:
Com essas iniciativas, pôde-se engendrar uma agenda específica que combateu, simultaneamente, as
desigualdades de gênero e intragênero; afirmamos e visibilizamos uma perspectiva feminista negra que
emerge da condição específica do ser mulher, negra e, em geral, pobre; delineamos, por fim, o papel que essa
perspectiva tem na luta antirracista no Brasil.
(CARNEIRO, 2003, p. 11)
Para Carneiro, é urgente haver medidas que tirem a mulher negra do estrato social mais baixo da sociedade. O feminismo de outrora, para ela, não é
capaz de responder às demandas de mulheres negras; por isso, a autora defende seu “enegrecimento” para gerar reflexões que atinjam esse grupo
social de forma mais específica.
Lélia Gonzalez.
Beatriz Nascimento.
Sueli Carneiro.
Essas três mulheres são insuficientes para demonstrar a complexidade de todo o movimento social negro existente no Brasil nas últimas décadas
do século XX e do início do XXI. No entanto, a valorização das suas biografias tem gerado uma reflexão importante que provoca novos estudos –
entre eles, o dabranquitude e dos seus efeitos para a leitura racial da sociedade.
Desse modo, refletir sobre Lélia, Beatriz e Sueli é ver as muitas mulheres negras silenciadas e assassinadas, às vezes, apenas por serem mulheres
ou negras.
O movimento negro no século XXI
Veja agora quais foram os avanços, os retrocessos e quais são os desafios para o futuro do movimento negro no século XXI.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
(FGV – Prefeitura de Paulínia/SP – coordenador pedagógico – 2021 – adaptada) As leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008 tornaram obrigatória a
inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo oficial da rede de ensino. Analise as afirmativas a seguir a respeito dessas
leis:
I - Pretendem inverter a narrativa eurocêntrica, pois a cultura brasileira é indígena e africana.
II - Constatam que a historiografia sobre o passado brasileiro havia secundarizado a importância da cultura indígena.
III - Valorizam o estudo do passado dos africanos como aspecto fundamental para a compreensão da história brasileira.
Está correto o que se afirma em:
A I.
B II.
C I e II.
D II e III.
Parabéns! A alternativa D está correta.
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Questão 2
(Fundação Carlos Chagas - educador social - nível superior – 2018) O termo “ação afirmativa” ficou diretamente relacionado ao sistema de
cotas para a população negra e indígena para acesso às universidades. Sobre essa temática, é correto afirmar que
Parabéns! A alternativa E está correta.
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Considerações �nais
Vimos neste conteúdo que os movimentos sociais foram responsáveis por muitas mudanças políticas. A primeira delas é a própria abolição da
escravidão, que ocorreu por meio de uma lei clamada pelo movimento abolicionista (hoje em dia, visto como movimento social).
As ações de homens e mulheres negros que vieram depois serviram para suprir a falta de políticas públicas específicas para uma população recém-
saída da escravidão. Afinal, desde sempre se notou a urgência de uma nova educação, que não só abrangesse a todos, como também incluísse
todos e todas como sujeitos da história do Brasil.
Nas décadas seguintes, percebemos as manifestações daqueles que, cientes do seu papel político, não se calaram diante da permanência da
discriminação racial e da reprodução de alguns mitos, como o de que não havia racismo, de que todos eram irmãos de raça e de que o Brasil vivia
uma democracia racial. Derrubar tais mitos é fundamental – e o movimento negro tem isso como pauta até hoje.
E I e III.
A as ações afirmativas potencializam a diversidade, fortalecendo que todos possam ter o mesmo mérito educacional.
B a delegacia da mulher e do idoso não podem ser consideradas ações afirmativas.
C as ações afirmativas deveriam se concentrar na inclusão e no acesso à educação de pessoas em situações de desigualdades.
D as ações afirmativas podem ser adotadas de modo espontâneo no combate às desigualdades.
E as ações afirmativas abrem portas para a universalização e a participação de todos os segmentos da população.
Na segunda metade do século XX (em grande parte vivido em um período de ditadura), o movimento negro se reconstruiu e se fortaleceu,
principalmente na sua diversidade de papéis. Apesar da forte repressão às suas manifestações, a cultura negra é um ponto de apoio para essas
ações. O processo da redemocratização no Brasil, com o fim da ditadura militar, a promulgação da Constituição em 1988 e a eleição democrática de
novos presidentes, alimentou homens e mulheres na busca por mais direitos sociais e políticos, além de construir medidas mais afirmativas – entre
elas, as cotas.
Por isso, o Brasil do século XXI é resultado direto da mobilização de homens e mulheres negros insatisfeitos com o papel dado a eles por uma
sociedade racista, machista e homofóbica. A tendência é que nos transformemos com o fim das ilusões e, ao encararmos a realidade da
desigualdade brasileira, possamos reverter esse quadro nas próximas décadas.
Podcast
Escute agora uma análise sobre os movimentos negros na história do Brasil.
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Referências
CARNEIRO, S. Mulheres em movimento. Estudos avançados. v. 17. n. 49. 2003.
COSTA PINTO, L. DE A. O negro no Rio de Janeiro: relações de raça numa sociedade em mudança. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1952.
COSTA, R. C. R. DA; OLIVEIRA, L. F. DE. O pensamento social brasileiro e a questão racial: da ideologia do “branqueamento” às “divisões perigosas”.
In: COSTA, R.; MIRANDA, C.; LINS, M. (Orgs.). Relações étnico-raciais na escola: desafios teóricos e práticas pedagógicas após a Lei nº 10.639. Rio
de Janeiro, 2011. 
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GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista brasileira de Ciências Sociais. Anpocs, 1984.
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LIMA, M. Fazendo soar os tambores: o ensino de história da África e dos africanos no Brasil. Cadernos Penesb. n. 5. EDUFF, 2004.
MUNANGA, K. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil. São Paulo: Autêntica, 2019.
NASCIMENTO, B. Por uma história do homem negro. In: RATTS, A. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo:
Imprensa Oficial, 2006.
PEDRETTI, L. Dançando na mira da ditadura: bailes soul e violência contra a população negra nos anos 1970. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022.
PEREIRA, J. S. Reconhecendo ou construindo uma polaridade étnico-identitária?: desafios do ensino de história no imediato contexto pós-Lei
10.639. Estudos históricos. v. 21. n. 41. jan.-jun. 2008. p. 21-43.
SANTOS, J. R. O movimento negro e a crise brasileira. São Paulo: FESP, 1985.
SANTOS, Y. L. DOS. Racismo brasileiro: uma história da formação do país. São Paulo: Todavia, 2022.
SCHWARCZ, L. Nem preto nem branco, muito pelo contrário. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
SISS, A. Afro-brasileiros, cotas e ação afirmativa: razões históricas. Rio de Janeiro: Quartet; Niterói: Penesb, 2003.
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Acesse o YouTube para assistir a quatro vídeos: 25 de julho – feminismo negro contado em primeira pessoa (canal Do Moro Produções); 1976
movimento Black Rio (canal TV da Rua); Cultne – Lélia Gonzalez – Pt 1 (canal Cultne); O outro em branco – reflexo reverso (canal Lab Afrikas).
Outra dica é assistir ao documentário Ôrí, de 1989. Basta acessar canal Curta! e digitar o nome do filme no campo de busca da página.
Acesse o site do Ipeafro para conhecer seus projetos.

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