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Relações entre Senhorios Episcopais e Monarquia Castelhana-Leonesa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
INSTITUTO DE HISTÓRIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA COMPARADA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As Veredas da Negociação: Uma Análise Comparativa das Relações entre os Senhorios 
Episcopais de Santiago de Compostela e de Sigüenza com a Monarquia Castelhano-
Leonesa na Primeira Metade do Século XII 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maio de 2013 
Universidade Federal do Rio de Janeiro 
BRUNO GONÇALVES ALVARO 
 
 
 
 
 
AS VEREDAS DA NEGOCIAÇÃO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS 
RELAÇÕES ENTRE OS SENHORIOS EPISCOPAIS DE SANTIAGO DE 
COMPOSTELA E DE SIGÜENZA COM A MONARQUIA CASTELHANO-
LEONESA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XII 
 
 
 
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-
Graduação em História Comparada, Instituto de História 
da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, 
como parte dos requisitos necessários à obtenção do 
título de Doutor em História Comparada. 
 
 
Orientadora: Profa. Dra. Andréia Cristina Lopes Frazão 
da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2013 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALVARO, Bruno Gonçalves. 
As Veredas da Negociação: Uma Análise Comparativa das Relações entre 
os Senhorios Episcopais de Santiago de Compostela e de Sigüenza com a 
Monarquia Castelhano-Leonesa na Primeira Metade do Século XII / Bruno 
Gonçalves Alvaro. – 2013. 
vii, 280 p. 
 
Tese (doutorado) – UFRJ/IH/ Programa de Pós-Graduação em História 
Comparada, 2013. 
 
Orientadora: Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva 
 
Referências Bibliográficas: f. 297. 
1. Senhorios episcopais. 2. 3. História Comparada. 4. Castela e Leão. 5. 
Idade Média Central. I. Santiago de Compostela. II. Sigüenza. III. 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, IH, Programa de Pós-Graduação em 
História Comparada. IV. As Veredas da Negociação: Uma Análise 
Comparativa das Relações entre os Senhorios Episcopais de Santiago de 
Compostela e de Sigüenza com a Monarquia Castelhana-Leonesa na Primeira 
Metade do Século XII. 
Bruno Gonçalves Alvaro 
 
AS VEREDAS DA NEGOCIAÇÃO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS 
RELAÇÕES ENTRE OS SENHORIOS EPISCOPAIS DE SANTIAGO DE 
COMPOSTELA E DE SIGÜENZA COM A MONARQUIA CASTELHANO-LEONESA 
NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XII 
 
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-
Graduação em História Comparada, Instituto de História 
da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, 
como parte dos requisitos necessários à obtenção do 
título de Doutor em História Comparada. 
 
Aprovada por: 
 
____________________________________________________ 
Profª. Drª. Andréia C. L. Frazão da Silva – Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(Orientadora) 
_____________________________________________________ 
Profº. Dr. Álvaro Alfredo Bragança Júnior – Universidade Federal do Rio de Janeiro 
_____________________________________________________ 
Profª. Drª. Leandro Duarte Rust – Universidade Federal do Mato Grosso 
_____________________________________________________ 
Profª. Drª. Leila Rodrigues da Silva – Universidade do Federal do Rio de Janeiro 
_____________________________________________________ 
Profº. Dr. Marcelo Pereira Lima – Universidade do Federal da Bahia 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Maio/2013 
DEDICATÓRIA 
 
 
 Dedico esta tese a minha mãe, Isabel Cristina Gonçalves Alvaro, por me ensinar o 
amor ao trabalho que extrapola as lógicas da vida; ao meu pai, Apparecido Alvaro Filho, 
por me ensinar a responsabilidade que traz a dedicação ao ofício que escolhemos para 
sobreviver. Vocês dois são meu maior trunfo e orgulho! Meus melhores professores! 
A Ana Lúcia P. do Nascimento Alvaro, minha esposa, amiga, irmã, mulher e 
namorada, por toda a paciência, cuidado e desprendimento ao se ver diante de um 
casamento recente e, mesmo assim, abrir mão de vontades e desejos, na esperança que a 
concretização desta pesquisa me trouxesse paz. 
Ao meu primo, mais irmão do que primo, Gustavo Gonçalves Alvaro, por tudo e 
com amor! 
A Marcos B. de Almeida (Kiko), pois só enquanto eu respirar, vou me lembrar de 
você! 
Por fim, a todos aqueles que ainda acreditam no debate franco e honesto em meio à 
fogueira de vaidades que é a Universidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 A pesquisa que aqui apresento foi desenvolvida durante um período, no mínimo 
complexo de minha trajetória acadêmica e em meio a mudanças drásticas, mas que não 
deixaram de trazer agradáveis surpresas. Por este motivo sou extremamente grato às 
instituições que permitiram que, em meio às tempestades, eu pudesse com um pouco de 
tranquilidade chegar aos resultados aqui alcançados. 
 Sendo assim, meus agradecimentos formais à Universidade Federal do Rio de 
Janeiro: aos seus Institutos de História (IH) e de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS); ao 
Programa de Estudos Medievais (PEM) e, por fim, ao Programa de Pós-Graduação em 
História Comparada (PPGHC), ambientes em que pude crescer de alguma maneira como 
pesquisador e pessoa. Sou igualmente grato aos seus servidores, professores e colegas de 
estudo. 
 Agradeço imensamente ao Centre d'Etudes Supérieures de Civilisation Médiévale 
da Université de Poitiers, na figura do Prof. Dr. Stéphane Boissellier que, junto à Casa de 
Velázquez, me possibilitou a oportunidade de participar do III Atelier de Estudos 
Medievais Ibéricos, em Lisboa, no final de 2010. Curso no qual tive a grande sorte de 
conhecer pessoas que se tornaram importantes amigos: André Luiz Bertoli (Universidade 
Nova de Lisboa) que, ao lado de sua esposa Camila, me mantiveram próximo ao velho 
Brasil, amizade que se manteve e se mantém. Pela constante ajuda bibliográfica, sou grato a 
Carlos J. Rodríguez Casillas (Universidad de Extremadura), amigo que me salvou diversas 
vezes com envio de obras cujo acesso, mesmo com a Internet, era inviável; Vicent Royo 
Pérez (Universitàt de València) e Fernando Arias Guillén (University of Saint Andrews/ 
Centro de Ciencias Humanas y Sociales – CSIC), pelas contribuições e debates a respeito 
da polêmica sobre o feudalismo ibérico. A todos vocês sou extremamente agradecido! 
 Não posso deixar de agradecer minha orientadora, Profa. Dra. Andréia Cristina 
Lopes Frazão da Silva, pelos muitos anos de cuidado e atenção dispensados à minha 
pessoa. Sua confiança e paciência foram fundamentais para que eu conseguisse alçar vôos 
até então apenas guardados na esperança. E apesar de toda problemática envolta na redação 
final desse trabalho, soube manter com firmeza minha condução e sempre com uma palavra 
de alento me manter firme na jornada! Suas viagens a Sergipe e as muitas conversas que 
tivemos estarão para sempre guardadas na minha lembrança e, não tenho dúvidas, que 
encerro meu doutorado tendo crescido como pesquisador e, principalmente, como ser 
humano, graças ao seu exemplo! 
 A Profa. Dra. Leila Rodrigues da Silva e Prof. Dr. Álvaro Bragança Júnior pela 
participação em minha banca. 
Aos grandes amigos: Prof. Dr. Leandro Duarte Rust, pelo constante apoio e 
solicitude ancorados em uma fidelidade que foi se construindo gradualmente durante os 
anos, no convívio praticamente diário do nosso ofício, ora em lugares exóticos dos rincões 
do Brasil, ora em telefonemas feitos durante a madrugada para ouvir-me lamuriar sobre a 
vida! Prof. Dr. Marcelo Pereira Lima, cuja amizade não posso medir, tendo sido, ao lado de 
Leandro, um dos amigos mais presentes que tive no decorrer do desenvolvimento da tese, 
participando ativamente junto a mim com suas intervenções e com o fantástico trabalho de 
tradução de diversos documentos notariais de Sigüenza. 
 Prof. Dr. Marcus Silva da Cruz, meu primeiro mestre, pelos conselhos, conversas e 
todo o apoio dado no decorrer desses treze anos de amizade! 
 Kimon Speciale, cujo carinho eu não consigo definir. Amigo que trouxe alegria em 
tempos de turbulências e o ótimo gosto da memória de tempos cariocas,estando eu em 
terras sergipanas! 
 Thiago Porto (UFPA) e toda sua família pelo amor que me deram durante todos 
esses anos, fazendo parte integral de meu crescimento como ser humano em tempos de 
Tijuca. 
 Ao amigo Fernando Gralha de Souza por toda confiança, incentivo e 
compartilhamento de conhecimento histórico. 
 Paulo Duarte, com sua boa e velha camaradagem e alegria marota! 
 Rodrigo Rainha e Alexandre Moraes, pela ajuda fundamental enquanto estiveram, 
respectivamente, na Espanha e em Portugal, me enviando importante auxílio bibliográfico; 
ao pessoal do PEM-UFRJ: Carolina Fortes, Thalles Rezende, Rodrigo Ballesteiro, Bruno 
Uchoa, Guilherme Marinho e o grande e inigualável Marcelo Fernandes, pelas muitas 
conversas que tivemos! 
 Àqueles que foram sendo adicionados no caminho: Profa. Dra. Maria Filomena 
Coelho (UnB) por suas constantes intervenções e pelas palavras de ânimo e encorajamento; 
Profa. Dra. Claudia Regina Bovo (UFTM), pelo auxílio fundamental nas discussões sobre 
política e pelas indicações de leitura; Profa Dra. Raquel de Fátima Parmegiani (UFAL), 
companheira de Vivarium e que tem dividido o mesmo sonho de trabalho e Profa Dra. 
Renata Cristina de S. Nascimento (PUC-GO/UEG/UFG), pelo decisivo convite para o II 
Encontro Internacional de Estudos Medievais, um verdadeiro divisor de águas na minha 
trajetória. 
 A Universidade Federal de Sergipe e aos colegas do Departamento de História, 
ambiente no qual redigi praticamente toda a tese. 
 Agradeço a Augusto da Silva, cuja honra de tê-lo como amigo me envaidece. 
Alfredo Julien e Amanda, por suprirem em Ana e em mim a necessidade constante de 
amizade e companheirismo; Fábio Maza, companheiro de reflexões acadêmicas no tédio da 
nossa preciosa sala em constante “reforma”; Claudefranklin Monteiro, pela receptividade 
quando cheguei “fresco” ao DHI; Dilton Cândido Maynard, por todo o apoio e incentivo no 
interminável trabalho solitário que é a vida de um pesquisador; Antônio Fernando de 
Araújo Sá, pelos muitos debates e por todos elogios e críticas feitas no decorrer da minha 
trajetória no departamento como pesquisador e professor; Antônio L. Sousa, por todo o 
apoio no período em que fiz parte do GPCIR-UFS; Lourival Santana, pelos ensinamentos 
administrativos; Aldo Dinucci, do Departamento de Filosofia da UFS, pelas feijoadas e 
cervejas de sexta-feira no Centro de Aracaju, revivendo nossa amado Rio de Janeiro e a 
todos os demais colegas que sempre com atenção e curiosidade, procuraram, de alguma 
maneira, ouvir o que eu estava pesquisando. 
 Um agradecimento especial ao chapa Bruno de Melo Messias pela boa prosa, apesar 
de torcer pelo Flamengo e pelas consultas jurídicas! 
 Sempre a: Angélica Cerqueira; Thiago e Raquel; Kátia e Renata; Rodrigo Otávio e 
família; Rodrigo Carvalho; Celi; Leonardo Bertolossi; Rafael Albuquerque, Bruno e Aline 
e todos os muitos e muitos amigos que não caberiam aqui! 
 Aos amigos do peito: Aquino Neto, Yuri, Débora, Tia Pepa e Seu Aquino, minha 
grande família sergipana! Acrísio Neto, Emily e toda patota que foi a Turma 2009-2! 
Minha primeira turma como professor de História Medieval na Universidade Federal de 
Sergipe. Sintam-se abraçados e beijados! 
 A todas as turmas que trabalharam comigo nesses últimos quatro anos, meu sincero 
obrigado. Mas devo um agradecimento especial a última, a derradeira turma como Prof. 
Assistente! A paciência de todos vocês foi fundamental para a conclusão dessa Odisséia! 
Por este motivo, a todos das disciplinas de História Medieval I e II do interminável segundo 
semestre de 2012 (que só acabou agora em 2013): MEU MUITO OBRIGADO! Beijos para 
quem é de beijo e abraços para quem é de abraço! 
 A todos os meus orientandos. Todos mesmo! Mas, com um especial agradecimento 
aos que dividiram os percalços da pesquisa junto com a monitoria de disciplinas: ao amigo 
Rafael Costa Prata (Magrão) e Lívia M. Albuquerque Couto (Filhota). 
 A toda minha família pela compreensão da ausência, um tanto forçada, é claro! Tia 
Síndia e Expedito e todos e todos os tios e tias, primos e primas, papagaios e curiós! 
 Por fim, a todos que não se rendem jamais: Aponta pra fé e rema! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vaidade das vaidades – diz 
Coélet – vaidades das vaidades, 
tudo é vaidade. 
Que proveito tira o homem de 
todo o trabalho com que se 
afadiga debaixo do sol? Uma 
geração vai, uma geração vem, e 
a terra sempre permanece. O sol 
se levanta, o sol se deita, 
apressando-se a voltar ao seu 
lugar e é lá que ele se levanta. O 
vento sopra em direção ao sul, 
gira para o norte, e girando e 
girando vai o vento em suas 
voltas. Todos os rios correm 
para o mar e, contudo, o mar 
nunca se enche: embora 
chegando ao fim do seu 
percurso, os rios continuam a 
correr. Todas as palavras estão 
gastas e ninguém pode mais 
falar. O olho não se sacia de ver; 
nem o ouvido se farta de ouvir. 
O que foi, será, o que se fez, se 
tornará a fazer: nada há de novo 
debaixo do sol! Mesmo que 
alguém afirmasse de algo: 
“Olha, isto é novo!”, eis que já 
sucedeu em outros tempos muito 
antes de nós. Ninguém se 
lembra dos antepassados, e 
também aqueles que lhes 
sucedem não serão lembrados 
por seus pósteros. 
Eclesiastes, 1, 2-11. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio de Janeiro 
BRUNO GONÇALVES ALVARO 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS VEREDAS DA NEGOCIAÇÃO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS 
RELAÇÕES ENTRE OS SENHORIOS EPISCOPAIS DE SANTIAGO DE 
COMPOSTELA E DE SIGÜENZA COM A MONARQUIA CASTELHANO-
LEONESA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XII 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2013 
RESUMO 
 
ALVARO, Bruno Gonçalves. As Veredas da Negociação: Uma Análise Comparativa das 
Relações entre os Senhorios Episcopais de Santiago de Compostela e de Sigüenza com a 
Monarquia Castelhano-Leonesa na Primeira Metade do Século XII. Rio de Janeiro, 2013. 
Tese (Doutorado em História Comparada) – Instituto de História, Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. 
 
Esta pesquisa doutoral teve como objetivo principal analisar comparativamente as relações 
específicas entre os senhorios episcopais de Santiago de Compostela e Sigüenza com a 
monarquia castelhano-leonesa, na primeira metade do século XII. Por meio do Método 
Comparativo em História buscamos demonstrar os níveis de negociação, assim como as 
estratégias empreendidas entre tais instâncias políticas no Medievo Ibérico. 
Através de um corpus documental, composto por crônicas e documentos notariais, 
defendemos que as tensões no seio dos senhorios episcopais não significaram tentativas de 
usurpação da legitimidade monárquica, tampouco, uma ação dominadora desta última sobre 
as dioceses analisadas. Sendo assim, o que a documentação nos permitiu verificar foram 
traços de interdependências baseadas nas doações senhoriais e nos privilégios concedidos 
aos bispos senhores dentro de uma lógica relacional que buscava a harmonização entre a 
instituição monárquica e a eclesiástica, representadas, respectivamente, pelas dioceses de 
Santiago de Compostela e Sigüenza e a coroa de Castela e Leão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
ALVARO, Bruno Gonçalves. The Paths of Trade: A Comparative Analysis of the 
Relationship between Landlords bishops of Santiago of Compostela and Siguenza with the 
Castilian-Leonese monarchy in the First Half of the twelfth century. Rio de Janeiro, 2013. 
Tese (Doutorado em História Comparada) – Instituto de História, Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. 
 
This doctoral research aimed to comparatively analyze the specific relationships between 
landlords bishops of Santiago de Compostela and Siguenza and the Castilian-Leonese 
monarchy in the first half of the twelfth century. Through the Comparative Method we seek 
to demonstrate the levels of negotiation, as well as the strategies undertaken by the politicsin the Iberian Middle Ages. 
Through a documentary corpus, consisting of chronic and notarial documents, we argue 
that the tensions within the Episcopal landlords didn’t meant attempts of usurpation of 
monarchical legitimacy, neither, an action of dominion from the monarchies on the referred 
dioceses. 
So, what the documentation showed us were traces of interdependencies based in donations 
and manorial privileges granted to lords bishops within a relational logic that sought 
harmonization between the monarchical and ecclesiastical institution, represented 
respectively by the diocese of Santiago de Compostela and Siguenza and the crown of 
Castile and Leon. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1 
 
CAPÍTULO I – OS ESTUDOS SOBRE O SENHORIO E O CORPUS 
DOCUMENTAL COMPOSTELANO E SEGUNTINO.................................................27 
1.1. AS GUERRAS RENDILHADAS DA ERUDIÇÃO: O IMPACTO DOS ESTUDOS 
FRANCESES SOBRE O SENHORIO NA HISTORIOGRAFIA ESPANHOLA...............29 
1.1.1. A Sociedade Feudal: os caminhos abertos pelo ensaio de Marc Bloch a respeito 
do senhorio...........................................................................................................................30 
1.1.2. Entre senhores e camponeses: Georges Duby e os mecanismos do 
senhorio................................................................................................................................37 
1.1.3. Alain Guerreau e a relação de dominium: Há paisagem após o horizonte?........45 
1.2. O LUGAR DO SENHORIO NA HISTORIOGRAFIA IBÉRICA NO SÉCULO 
XX.........................................................................................................................................51 
1.2.1. O balanço das guerras conceituais da historiografia espanhola: O feudalismo 
como epicentro da discussão e o impacto nos estudos sobre o senhorio........................53 
1.2.2. Abuso de linguagem ou tirania da palavra?: novas perspectivas na 
historiografia sobre o senhorio..........................................................................................69 
1.2.3. O estudo dos senhorios na Idade Média Central Ibérica: o caso específico dos 
senhorios episcopais de Santiago de Compostela e de Sigüenza.....................................77 
1.3. A DOCUMENTAÇÃO ANALISADA..........................................................................82 
1.3.1. Documentação diplomática......................................................................................82 
1.3.2. Documentação cronística..........................................................................................95 
 
CAPÍTULO II - A IGREJA DE SANTIAGO DE COMPOSTELA E A 
CONSOLIDAÇÃO DO SEU SENHORIO EPISCOPAL: OS CAMINHOS DA 
AUTORIDADE E DA OBEDIÊNCIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 
XII.......................................................................................................................................101 
2.1. UMA FORÇA SENHORIAL-EPISCOPAL NA GALIZA: SANTIAGO DE 
COMPOSTELA..................................................................................................................101 
2.1.1. Antecedentes: a complexa situação da monarquia castelhano-leonesa em 
princípios do século XII....................................................................................................103 
2.1.2. Tempo de buscar e tempo de perder: as negociações senhoriais da Igreja de 
Santiago de Compostela e suas relações com o condado galego de Raimundo de 
Borgonha entre 1093 e 1107.............................................................................................107 
2.2. RESTAURAR O DESTRUÍDO, CONSERVAR O RESTAURADO E MELHORAR O 
CONSERVADO: AS TENSÕES NO SENHORIO EPISCOPAL 
COMPOSTELANO............................................................................................................114 
2.2.1. As tensões entre Urraca I, Alfonso I de Aragão e o senhorio episcopal 
jacobeu...............................................................................................................................115 
2.2.2. Tempo de abraçar e tempo de separar: o fracassado matrimônio de Urraca e 
Alfonso I de Aragão e a consolidação do senhorio episcopal compostelano (1109-
1115)...................................................................................................................................122 
2.3. A FABRICAÇÃO DE UM REI: ALFONSO RAIMÚNDEZ E AS DISPUTAS 
SENHORIAIS EM SANTIAGO DE COMPOSTELA.......................................................128 
2.3.1. Entre o poder senhorial-episcopal e o poder monárquico: os caminhos da 
autoridade e da obediência (1110-1124)..........................................................................131 
2.3.2. De rei a imperador, de bispo a arcebispo: as relações entre o senhorio episcopal 
de Santiago de Compostela e a monarquia castelhano-leonesa sob o governo de 
Alfonso VII, Imperador (1126-1140)...............................................................................141 
2.3.3. Algumas considerações sobre os aspectos específicos da atuação senhorial-
episcopal de Diego Gelmírez............................................................................................158 
 
CAPÍTULO III - O NASCIMENTO DE UM SENHORIO EPISCOPAL: A DIOCESE 
DE SIGÜENZA E AS RELAÇÕES DE AUTORIDADE E OBEDIÊNCIA COM A 
MONARQUIA CASTELHANO-LEONESA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 
XII.......................................................................................................................................163 
3.1. ANTES DO SENHORIO EPISCOPAL SEGUNTINO: OS ELEMENTOS 
FUNDAMENTAIS PARA A ARTICULAÇÃO DA CONQUISTA DE SIGÜENZA......165 
3.1.1. Principais aspectos sobre a conquista de Sigüenza..............................................167 
3.1.2. O primeiro bispo seguntino pós-restauração........................................................173 
3.2. A DIOCESE DE SIGÜENZA E OS CAMINHOS PARA SUA 
SENHORIZAÇÃO..............................................................................................................177 
3.2.1. Sigüenza entre dois Alfonsos: os primeiros anos do episcopado seguntino e suas 
relações com Castela-Leão e Aragão...............................................................................178 
3.2.2. A formalização da concessão senhorial como ação monárquica para a 
consolidação da fronteira castelhano-leonesa por meio da diocese seguntina e auxílio 
para a legitimação da construção da imagem imperial.................................................194 
3.3. SIGÜENZA E SUAS FRONTEIRAS COM OUTRAS DIOCESES: AS TENSÕES 
SENHORIAIS EPISCOPAIS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XII...................201 
3.3.1. Assim as Igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia: 
as motivações dos litígios entre Sigüenza, Osma, Tarazona e Zaragoza......................203 
3.3.2. Algumas considerações sobre os aspectos específicos da atuação senhorial-
episcopal de Bernardo de Agen........................................................................................217 
 
CAPÍTULO IV – CONCLUSÕES DE CONJUNTO: A COMPARAÇÃO ENTRE OS 
SENHORIOS EPISCOPAIS DE SANTIAGO DE COMPOSTELA E SIGÜENZA E 
SUAS RELAÇÕES DE NEGOCIAÇÃO COM A MONARQUIA CASTELHANO-
LEONESA .........................................................................................................................219 
4.1. AS VEREDAS SENHORIAIS EPISCOPAIS DE SANTIAGO DE COMPOSTELA E 
SIGÜENZA DIANTE DA SITUAÇÃO POLÍTICA PENINSULAR NA PRIMEIRA 
METADE DO SÉCULO XII..............................................................................................221 
4.2. AS DOAÇÕES SENHORIAIS COMO ELEMENTO FUNDAMENTAL DAS 
RELAÇÕES DE NEGOCIAÇÃO ENTRE AS DIOCESES DE SANTIAGO DE 
COMPOSTELA E SIGÜENZA COM A MONARQUIA CASTELHANO-
LEONESA...........................................................................................................................2294.3. OS ASPECTOS DO PODER SENHORIAL-EPISCOPAL EM SANTIAGO DE 
COMPOSTELA E SIGÜENZA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XII: O 
EXERCÍCIO DA AUTORIDADE.....................................................................................236 
 
CONCLUSÃO...................................................................................................................241 
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................245 
 
 1 
INTRODUÇÃO 
 
 
A atração do conhecimento seria mínima, se não 
houvesse tanto pudor a vencer no caminho até ele. 
Friedrich Nietzsche, 1886 [2007]. 
 
A história depende da posição social e institucional de 
quem a escreve. 
Antoine Prost, 1996 [2008]. 
 
 
 O fenômeno senhorial na Idade Média Central, principalmente, no caso hispânico, 
tem sido objeto de análise há um considerável tempo. É possível observar, pelo número de 
estudos e publicações, diversas abordagens teóricas e metodológicas, cujo recorte não se 
limita apenas ao período medieval, prolongando-se até os anos iniciais do século XIX. 
 O medievalista francês Dominique Barthélemy, em um conhecido verbete, 
publicado no nosso país em 2002, destaca que diversos volumes não seriam suficientes para 
dar conta da análise historiográfica do que nós medievalistas denominamos como 
“senhorio”.1 Porém, mesmo alertando para a amplitude do conceito e sua aplicabilidade a 
vários objetos históricos, ele próprio o define como “um tipo de poder não estatal, próximo, 
rude e privatizado”, para, a seguir, não deixar de salientar que “é normal que o historiador 
elabore o conceito, apresentando-o em seguida para discussão”.2 
 Barthélemy não foi o único a tentar traçar uma definição para “senhorio” e um 
caminho interpretativo. Especificamente na Espanha, historiadores como Salvador de Moxó 
y Ortiz de Villajos, Luis García de Valdeavellano, António Dominguez Ortiz, Bartolomé 
Clavero, Carlos Estepa Díez, entre tantos outros, também se debruçaram nessa ampla 
temática, buscando, cada um ao seu modo e, ao seu tempo, classificações, conceitos e 
definições para a complexidade que envolveu o desenvolvimento senhorial na Hispânia e 
mesmo as relações mantidas no seu interior. 
 
1 Cf. BARTHÉLEMY, Dominique. Senhorio. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. (Coord.). 
Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru, SP; São Paulo, SP: EDUSC; Imprensa Oficial do Estado, 
2002. 2v., V. 2, p. 465-476. 
2 Ibidem. p. 465. 
 2 
Esta variedade conceitual e complexa sobre como se caracterizou ou mesmo se 
constituiu o fenômeno senhorial na Península Ibérica, algo ainda não respondido 
satisfatoriamente pela historiografia que se debruça no assunto, foi um dos principais 
aspectos que nos atraiu na tentativa de entender melhor o senhorio e, principalmente, as 
múltiplas relações nele inscritas. Consideramos que o seu exame não envolve somente a 
análise profunda da documentação medieval produzida e preservada, mas, também, a 
própria historiografia redigida sobre o tema, incluindo os silêncios e as querelas acadêmicas 
que estão relacionados ao seu estudo. Ao realizarmos nossas leituras investigativas, do 
âmbito mais geral até os trabalhos específicos sobre o senhorio medieval na Península 
Hispana, verificamos que muitas das concepções tidas hoje como as mais aceitas estiveram 
inseridas em querelas marcadas por um discurso institucional específico, que acabou 
excluindo e relegando ao limbo acadêmico outras visões. Ao lermos tais trabalhos, foi 
possível perceber o desmerecimento indevido que receberam naquele período. 
 Percebemos no decorrer do período de levantamento e análise bibliográfica para 
nossa pesquisa, que, apesar da existência de um considerável número de estudos gerais 
sobre os diversos tipos de senhorios medievais e numerosos formas de defini-los, a 
historiografia sobre o tema ainda carecia de uma abordagem mais específica, ao menos, no 
que diz respeito aos senhorios de cunho episcopal. Mesmo os trabalhos que encontramos 
dedicados a estudá-los recorriam sempre a perspectivas que buscavam analisá-los em uma 
perspectiva de longa duração, partindo da criação e finalizando com a extinção de 
determinado senhorio episcopal. Isto os obrigou, do nosso ponto de vista, a passar muito 
superficialmente sobre as suas relações mantidas com as monarquias no período medieval, 
um dos objetivos principais da presente tese, bem como as relações mantidas com os seus 
respectivos cabidos, a Igreja de Roma, forças locais, como por exemplo, comerciantes e 
senhores laicos, etc.3 
Isto foi observado em relação ao senhorio episcopal de Sigüenza e, em parte, com 
Santiago de Compostela, os dois casos que escolhemos para nossa pesquisa doutoral.4 
 
3 Mesmo com as críticas que temos a alguns desses trabalhos dedicados a uma abordagem mais globalizante, 
fundamentados nos pressupostos das histórias eclesiásticas e perspectivas jurídico-institucionais tradicionais, 
não podemos ignorar seus aspectos regionalistas, que não deixaram de contribuir para o conhecimento, ao 
menos documental, de determinadas dioceses, como o caso de Santiago de Compostela e Sigüenza. 
4 Os dois únicos estudos de maior fôlego que temos conhecimento sobre os senhorios dessas duas dioceses 
adotam esse tipo de abordagem. No caso compostelano, o autor analisou a história do senhorio da Igreja de 
 3 
Sendo assim, a especificidade a qual nos referimos diz respeito a entender e explicar as 
relações de negociação mantidas por tais senhorios episcopais com a coroa, mas, sobretudo, 
desta última para com o que denominamos como poder senhorial-episcopal específico, a 
partir do momento em que o fenômeno senhorial passa a generalizar-se em Castela e Leão a 
partir de finais do século XI.5 Consequentemente, buscamos evidenciaras características 
comuns e singulares que eles apresentaram e que acabam fugindo às classificações feitas 
pela historiografia. Desta forma, cabe ressaltar que nossa perspectiva de análise visou 
romper com projetos de longa duração e totalizadores. 
Salientamos que não objetivamos com nossa tese criar um novo modelo de senhorio 
episcopal ibérico, mas estudar dois casos específicos inseridos em um determinado espaço 
geográfico e temporal. De todo modo, não pretendemos afirmar que as tipificações dos 
senhorios empreendidas pela historiografia sejam desnecessárias ou mesmo que tenham 
sido de todo abolidas por nós nesse trabalho. Na verdade, apenas consideramos que as 
subdivisões elaboradas na tentativa de explicar os diversos tipos de senhorios ibéricos não 
devam ser entraves ou barreiras estanques para que percebamos o quão complexo foi o 
processo relacional entre os senhorios episcopais e a monarquia castelhana-leonesa. 
No caso das dioceses, consideramos que o poder senhorial, fundamentalmente, no 
que tange à sua característica não estatal, deve ser visto como parte integrante do processo 
pela constante busca de legitimidade por parte da referida monarquia. Isso evidência a 
dependência monárquica às forças episcopais locais. 
 Alguns autores,6 no excessivo cuidado na diferenciação entre diocese e senhorio, 
parecem ignorar um dado fundamental presente ao menos nos casos analisados nesta 
pesquisa: a simbiose entre as funções senhoriais e episcopais quando o senhorio era 
entregue nas mãos de um bispo e no que isso acarretava. Ora, pensar, como identificamos 
 
Santiago de Compostela entre os séculos IX e XIII. No que diz respeito à Sigüenza, o objetivo ainda vai mais 
além: análise do senhorio episcopal do seu surgimento até sua extinção, no século XIX, abordando os 
aspectos econômicos e sociais. Cf. BARRERO SOMOZA, José. El Señorío dela Iglesia de Santiago de 
Compostela (Siglos IX-XIII). La Coruña: Diputación Provincial de A Coruña, 1987 e BLÁZQUEZ 
GARBAJOSA, Adrián. El Señorío Episcopal de Sigüenza: Economía y Sociedad (1123-1805). Guadalajara: 
Institución Provincial de Cultura Marqués de Santillana, 1988. 
5 Cf. ORTIZ DE VILLAJOS, Salvador de Moxó. Los Señoríos. En torno a una problemática para el estudio 
del régimen señorial. In:______. Feudalismo, señorío y nobleza en la Castilla medieval. Madrid: Real 
Academia de la Historia, 2000. p. 137-204. 
6 Cf. BLÁZQUEZ GARBAJOSA, op. cit. e GARCÍA DE VALDEAVELLANO, Luis. Curso de historia de 
las instituciones españolas: De los origenes al final de la Edad Media. Madrid: Alianza Editorial, 1998. 
 4 
em alguns trabalhos, que no exercício prático os prelados diferenciavam ou separavam suas 
obrigações senhoriais-episcopais é, no mínimo, ilusório. 
Adrián Blázquez Garbajosa afirma que: 
 
Obispo y señor son, pues, dos poderes distintos aunque encarnados en este 
caso en uma misma persona, al igual un señor laico podía ser al mismo 
tiempo miembro de un consejo de Castilla o corregidor de una ciudad sin 
que por ello existiese confusión de poderes entre sus posesiones señoriales 
y sus funciones en tanto que representante de la autoridad real. En el caso 
del obispo-señor la potesdad eclesiástica representa, en cierto modo, la 
causa profunda de la donación señorial: al jefe religioso se le concede una 
potesdad civil en la ciudad cabeza de su obispado, aumentando así su 
prestigio y engrandeciéndolo a la vista de sus feligreses. 
Esa misma deferenciación entre diócesis y señorío es aplicable sin duda, a 
todos los señoríos episcopales españoles.7 
 
Apesar de reconhecermos que diocese e senhorio são duas instâncias diferentes e, 
consequentemente, dois espaços de poder distintos, defendemos que quando se encontram 
unidos nas mãos de um mesmo representante, o bispo, não há distinção prática no exercício 
da autoridade do poder senhorial. Melhor, inclusive, o denominarmos, nesse caso de “poder 
senhorial-episcopal” e não mais apenas senhorial. 
 Assim, somos obrigados a matizar as considerações deste historiador espanhol, 
justamente por discordarmos da perspectiva de que estes “dois poderes distintos” no 
exercício cotidiano da autoridade senhorial-episcopal sejam distinguidos, separados pela 
persona que os detêm. Insistir nesta perspectiva é, no mínimo, transpor para a Idade Média 
Central um posicionamento que, em tese, se discutirá apenas com o advento da 
modernidade.8 
Pensar que um bispo, detentor de um senhorio e dos direitos relacionados a ele, 
ignorava o poder episcopal no momento de exercer sua autoridade senhorial é um equívoco 
que deve ser revisto. A documentação evidencia que tal “divisão” não estava na pauta de 
assuntos dos senhorios episcopais daquele período. Porém, percebe-se que fazia parte das 
preocupações da monarquia. E este é um dos principais pontos da complexidade relacional 
 
7 BLÁZQUEZ GARBAJOSA, op. cit., p. 58. 
8 Ver sobre isso, por exemplo: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. 
Dicionário de Política. Brasília: Ed. UnB, 1998 e HESPANHA, António Manuel. As Vésperas do Leviathan: 
Instituições e poder político (Portugal – séc. XVII). Coimbra: Almedina, 1994. 
 5 
das negociações pautadas na autoridade e dependência que buscamos demonstrar e 
explicar. 
Definimos no decorrer do nosso trabalho o enunciado “poder” a partir dos 
postulados apresentados por James B. Given em seu livro “Inquisition and Medieval 
Society: power, discipline and resistance in Languedoc”.9 Sendo assim, “poder” foi 
utilizado como sinônimo das tensas relações que ocorrem dentro de algumas organizações 
sociais, na qual os interesses específicos são fomentados ao mesmo tempo em que, 
dialeticamente, reincidem e transformam um universo mais amplo de interesses e 
propósitos socialmente partilhados. 
 No caso de nossa análise doutoral, que se sustenta na comparação entre as relações 
de negociação estabelecidas entre dois senhorios episcopais com a coroa de Castela e Leão, 
a “organização social específica” a que se refere James B. Given em seu trabalho é a que 
reúne a monarquia e os senhorios episcopais de Santiago de Compostela e Sigüenza, que 
possuem interesses específicos visando afirmarem e ascenderem posições de poder 
singulares, mas ao mesmo tempo constituem a organização política, social, religiosa, 
econômica, administrativa e social do Reino de Castela e Leão nas primeiras décadas do 
século XII. 
 Observa-se que tal definição tem ao menos duas grandes vantagens para o nosso tipo 
de estudo. Em primeiro lugar, possibilita-nos reconhecer a especificidade de um campo de 
poder demarcado política e institucionalmente pela existência da monarquia, mas ao mesmo 
tempo indica que este campo só alcança sentido se compreendido nas tensões decorrentes 
da condição senhorial dos envolvidos, uma vez que não podemos ignorar que a monarquia 
também era possuidora de senhorios. Finalmente, o laço social que chamamos, portanto, de 
“poder” é a assimetria de posições sociais e diferença de interesses, logo, uma arena aberta 
ao conflito e à luta. Entretanto, pressupõe, ao mesmo tempo, cooperação, solidariedade, 
envolvimento e aproximação. 
Como afirma Given: 
 
Lordship is probably one of the first social bonds that springs to mind 
when we think about medieval social solidarities. It is a complex 
 
9 GIVEN, James B. Inquisition and Medieval Society: power, discipline and resistance in Languedoc. Ithaca 
& Londres: Cornell University Press, 1997. 
 6 
phenomenon, embrancing a wide variety of relationships. These range 
from intimate, face-to-face ties of a master and his household retainers to 
the highly formalized, and often emotionally distant, relationships of a 
great prince and his subjects.10 
 
 Percebe-se, desta maneira, que a noção por nós adotada do enunciado “poder” se 
ajusta às relações estabelecidas entre bispado e monarquia, sendo, ainda, um instrumento 
analítico que atende as nossas perspectivas comparativas. Além de colocar o senhorio como 
centro do debate que norteou as relações de negociação que, para nós, evidenciaram a 
interdependência entre tais instâncias: as dioceses de Santiago de Compostela e a 
monarquia castelhana-leonesa, na primeira metade do século XII. 
Frente tais constatações, como já sublinhado, decidimos pesquisar as relações entre 
os senhorios episcopais de Santiago de Compostela e Sigüenza com a coroa de Castela e 
Leão, focando nos aspectos que dizem respeito aos níveis de negociação e o exercício da 
autoridade e à dependência no supracitado período, momento no qual, para a referida 
monarquia, verificou-se uma contínua busca por sua legitimidade como autoridade superior 
do reino. Sendo assim, o estudo comparado possibilitou analisar os níveis das negociações 
específicas entre tais senhorios episcopais e a monarquia, procurando, desde modo, 
evidenciar quais foram os elementos comuns e, principalmente, diferenças entre elas. 
Para nós, privilegiar os aspectos da influência do poder senhorial-episcopal no 
duplo viés de dependência da monarquia na tentativa de legitimar sua posição, ao mesmo 
tempo que exercia sua autoridade, possibilitou realçar a importância que possuíam as forças 
locais e o quanto foram influentes no âmbito das relações entre os senhorios e a monarquia. 
Consideramos que a definição para “senhorio” esboçada pelo medievalista francês 
Dominique Barthélemy, e já apresentada no início desta introdução,11 não se aplicou 
totalmente ao nosso caso de estudo. Para nós, o senhorio pode sim ser caracterizado como 
um tipo de poder com características não estatais, como enfatizado por ele.12 Entretanto, os 
aspectos rude, privado e mesmo próximo dizem respeito ao caso específico dos chamados 
“senhorios castelões”,principal objeto de estudo de Barthélemy no referido artigo.13 Sendo 
 
10 Ibidem. p. 160 e 170. 
11 A saber, “um tipo de poder não estatal, próximo, rude e privatizado”. 
12 Cf. BARTHÉLEMY, op. cit. 
13 BARTHÉLEMY, op. cit. p.466. 
 7 
assim, trabalhamos o senhorio em nossa pesquisa definido como um tipo de poder de 
mando exercido sobre homens e terras.14 
Os casos que analisamos possuem uma especificidade que deve ser sublinhada: o 
poder senhorial-episcopal tem sua autoridade reconhecida pela monarquia castelhana-
leonesa que se encontra, entre meados do século XI e durante todo o século XII, 
dependente de um processo de legitimação deveras confuso. Tal legitimação estava sujeita 
a forma como as doações dos direitos senhoriais às dioceses, como ferramentas políticas, 
seriam manuseadas por aqueles que as recebessem.15 Ao mesmo tempo, não se trata de 
afirmar que houve tentativas explícitas de “usurpação” da posição monárquica de Castela e 
Leão pelos senhores-bispos. Na verdade, o que identificamos, e para isso partimos 
justamente da análise das negociações evidenciadas na documentação, foi um constante 
jogo político e institucional de interdependência de ambas as partes. 
Isso significa que, para a legitimação e a consequente manutenção do statu quo da 
monarquia, foi elaborada uma complexa dinâmica de vínculos. Como verificamos, o 
principal caminho para tal foram as doações de senhorios, possibilitando à coroa 
castelhana-leonesa, de algum modo, obter bases para sua legitimação e, ao mesmo tempo, 
almejar obediência dos episcopados. Ao mesmo tempo, como percebemos, aos senhorios 
episcopais também era frutífera tal prática, uma vez que, reconhecia-se a pertinência e a 
influência eclesiástica nos assuntos institucionais da monarquia naquele período. Ou seja, 
tal instituição estava estritamente vinculada aos ventos da Igreja, como organização cujo 
poder naquele período estava em franco crescimento. 
Sendo assim, o que acaba se explicitando, cada vez mais, é uma dependência 
monárquica, de cunho local, aos senhorios episcopais e vice-versa. Ou seja, entre esta 
constante variação entre quem manda e quem obedece encontrava-se a prerrogativa do 
poder senhorial-episcopal, força esta que poderia minar ou fortalecer a legitimidade da 
coroa de Castela-Leão. Esta constatação rompe com uma noção deveras tradicional da 
 
14 Cf. ESTEPA DÍEZ, Carlos. Formación y consolidación del feudalismo en Castilla y León. In: Vários 
autores. En torno al feudalismo hispánico. Congreso de Estudios Medievales, 1. Ponencias y debates. León: 
Fundación Claudio Sánchez Albornoz, 1989. p. 157-256 e GUERREAU, Alain. O Feudalismo: Um horizonte 
teórico. Lisboa: Edições 70, 1982. 
15 Consideramos que, como já deve ter ficado evidenciado, nosso trabalho focou apenas nas relações de 
dependência nas negociações entre a monarquia e os senhorios episcopais. Ficando de fora, deste modo, os 
demais integrantes da sociedade medieval: senhores laicos e os vilãos. 
 8 
historiografia, exposta em um interessante estudo realizado por Julio Escalona Monge.16 
Ele afirma que: 
 
Por una parte, entraña un discurso moral, legitimador del poder regio, que 
tiende a elevar a la condición de realidad histórica el cliché de los «nobles 
egoístas» – movidos sólo por ambiciones personales y carentes de miras o 
concepciones políticas más elevadas – frente al de una monarquía 
preocupada por hacer valer una autoridad y unos derechos cuya bondad y 
legitimidad se dan por supuestas. Por otra parte, asumir y hacer propios 
los discursos emanados de la monarquía conduce en último término a 
establecer una relación inversamente proporcional entre poder regio y 
poder nobiliario y a reducir las dinámicas políticas de la Castilla 
plenomedieval a la alternancia entre dos «estados fundamentales»: 
«orden» vs «caos»; «monarquía fuerte = nobleza sometida» vs 
«monarquía débil = nobleza levantisca». Se impone así una visión 
unidireccional de los hechos : un poder monárquico y unas políticas regias 
cuya bondad se asume, bien se imponen sobre una nobleza carente de otro 
programa político que no sea su interés inmediato (estado de «monarquía 
fuerte»), bien fracasan en ese intento (estado de «monarquía débil»), en 
perjuicio de la comunidad del reino. Aquí también juegan condicionantes 
de tipo historiográfico entre los medievalistas. Así, las diversas 
formulaciones de la sociedad feudal basadas en el «modelo francés», 
donde predomina la idea de que el feudalismo surge por 
disolución/debilitación del poder regio a manos de una nobleza 
particularista, se puede conjugar fácilmente con la visión tradicional 
derivada de las crónicas, para producir el tópico arraigadísimo de la 
monarquía castellano-leonesa como «monarquía fuerte». Interpretaciones 
en este sentido abundan incluso en obras recientes, sin que esté 
suficientemente explicado el por qué de esa fortaleza del poder regio, 
sobre todo si al mismo tiempo se acepta – como se suele hacer al 
contemplar estos períodos desde la atalaya de los desarrollos 
bajomedievales – que las monarquías del siglo XII carecían de recursos 
organizacionales suficientes para imponer una acción de gobierno 
centralizada y efectiva sobre su territorio.17 
 
 O mesmo que Ecalona Monge identificou em sua análise cronística das relações de 
negociação entre a monarquia e as forças nobiliárquicas, pudemos perceber nas relações 
entre os senhorios episcopais de Santiago de Compostela e Sigüenza com a coroa de 
Castela e Leão. 
 
16 ESCALONA MONGE, Julio. Misericordia regia, es decir, negociemos: Alfonso VII y los Lara en la 
"Chronica Adefonsi imperatoris". In: ALFONSO ANTÓN, María Isabel; ESCALONA MONGE, Julio; 
MARTIN, Georges. (Coord.). Lucha política: condena y legitimación en la España medieval. Lyon: ENS 
Éditions, 2004. p. 101-152. 
17 Ibidem. p. 102 e 103. 
 9 
Ou seja, o que se observou foi uma constante busca por alianças que se desfazem e 
refazem constantemente entre Compostela, Sigüenza e a monarquia, por meio, justamente, 
das muitas doações realizadas por esta última a essas igrejas e, para nós, a principal delas 
eram as de cunho senhorial ou, pelo menos, aquelas que mais interessavam a estas dioceses. 
Sendo assim, percebemos que as tradicionais fórmulas senhorio episcopal submetido = 
monarquia forte versus monarquia enfraquecida = senhorio episcopal insurgente não se 
aplicam, ao menos, aos casos estudados no período em questão, primeira metade do século 
XII. 
 No entanto, como veremos, nem sempre tais doações eram efetivadas rapidamente 
ou como descrito nos documentos, in perpetuum. Isso obrigava os senhorios episcopais 
estarem em constante alerta e, consequentemente, também a própria monarquia, fonte de 
tais doações, uma vez que o que estava em jogo era, por um lado, um dos principais 
instrumentos para expansão e manutenção da legitimidade da segunda no contexto de 
tensões que foram os anos finais do século XI e todo o século XII. Ou seja, sem as doações, 
as autoridades episcopais e mesmo monárquica se viriam abaladas e com isso a busca pela 
legitimidade, desta última, afetada. 
 Para os episcopados, porque as doações senhoriais contribuíam para ajudar a 
colocar sob seu controle as muitas forças de ação no interior dos seus domínios – a 
aristocracia, em geral, vilões, etc. Para a monarquia, por sua vez, não concretizar suas 
promessas significava a perda do apoio dos episcopados, fosse no, já referido, processo de 
legitimidade ou no desenvolvimento e mesmo legitimação do empreendimento que, 
posteriormente, a historiografia viria chamar de Reconquista.18 Mas, ao mesmo tempo, de 
 
18 Alertamos que não adentramos no decorrer da nossa tese nos muitos debates historiográficos travados a 
respeito deste conceito. Desta maneira,indicamos que, ao menos, em nossa pesquisa, mesmo conhecendo 
todo o pano de fundo acerca do termo Reconquista, optamos por utilizar a palavra conquista em substituição 
ao polêmico enunciado. Contudo, indicamos os respectivos estudos para àqueles que queriam se aprofundar 
mais na questão: AYALA MARTÍNEZ, Carlos de. Reconquista, cruzada y órdenes militares. In: SARASA 
SÁNCHEZ, Esteban. (Coord.). Las Cinco Villas aragonesas en la Europa de los siglos XII y XIII: de la 
frontera natural a las fronteras políticas y socioeconómicas (foralidad y municipalidad). Zaragoza: 
Instituición Fernando El Católico, 2007. p. 23-38; BALOUP, Daniel. Reconquête et croisade dans la Chronica 
Adefonsi imperatoris (ca. 1150). Cahiers de linguistique et de civilisation hispaniques médiévales, Paris, n. 
25, p. 453-480, 2002; BOISSELLIER, Stéphane. Réflexions sur l'idéologie portugaise de la Reconquête: XII-
XIV siècles. Melanges de la Casa de Velázquez, Madrid, n 30 (1: Antiqueté-Moyen Âge), p. 139-166, 1994; 
CANTARINO, Vicente. The Spanish reconquest: a cluniac holy war against islam? In: SEMAAN, Khalil I. 
(Eds.). Islam and the Medieval West. Albany: State University Of New York Press, 1980. p. 82-109; 
CUENCA TORIBIO, José Manuel. La reconquista y la formación de la comunidad histórica española. In: 
ADÃO DA FONSECA, Luís; AMARAL, Luis Carlos; FERREIRA SANTOS, Maria Fernanda. (Coords.). Os 
 10 
maneira quase paradoxal, foi possível compreendermos os motivos pelos quais muitas 
vezes a coroa adiava seus dons ou mesmo suprimia tais prerrogativas. Ora, grosso modo, ao 
outorgar senhorios às dioceses, ela não estava isenta de correr riscos como ter que lidar com 
episcopados cada vez mais fortalecidos em âmbito local, já que exerciam o poder senhorial-
episcopal de fato. 
Sendo assim, o que observamos em nossa pesquisa e que deve ficar claro foi que a 
doação de um senhorio a uma diocese ia muito além da simples concessão de um pedaço 
territorial a ser ocupado e administrado por um bispo ou cabido para manutenção de seu 
sustento em nome, do que, equivocadamente, grande parte da historiografia enxerga como 
um poder central (monarquia) frente a um poder periférico (senhorios) na Idade Média 
Central. Mesmo um pro remissione peccatorum ou um remedio animarum, expressões 
constantemente encontradas nos documentos diplomáticos, devem ser vistas além da 
conhecida característica da religiosidade cristã medieval, sendo inseridos, desta maneira, 
em um jogo de estratégias políticas institucionais.19 O próprio recebimento do senhorio20 
subentendia algum tipo de retorno da diocese ao doador, nem que fosse uma obediência 
futura, da mesma forma como a doação poderia representar uma busca do doador por 
aliança, um meio de provocar a adesão e comprometimento para superação de obstáculos 
presentes em sua efetiva posição de poder. Fixar-se apenas nos aspectos econômicos e 
religiosos das doações seria ignorar todos essas características e empobrecer o estudo das 
 
reinos ibéricos na Idade Média: livro de homenagem ao professor doutor Humberto Carlos Baquero Moreno. 
Porto: Livraria Civilização, 2003. 3 v. V.2, p. 695-701; GARCÍA FITZ, Francisco. La Reconquista. Granada: 
Editorial Universidad de Granada, 2010; LUIS MARTÍN, José. Reconquista y cruzada. Studia Zamorensia, 
Zamora, n. 3, p. 215-241, 1996; LOMAX, Derek W. La Reconquista. Barcelona: Crítica, 1984; RÍOS 
SALOMA, Martín Federico. La Reconquista: Una construcción historiográfica (siglos XVI-XIX). México/ 
Madrid: Universidad Nacional Autónoma de México, Instituto de Investigaciones Históricas/ Marcial Pons 
História, 2011; _____. La “Reconquista”: una aspiración peninsular? Estudio comparativo entre dos 
tradiciones Historiográficas. Bulletin du centre d’études médiévales d’Auxerre, Auxerre, n. 2, 2008. 
Disponível em: http://cem.revues.org/index9702.html. Último acesso: 29 de dezembro de 2011; _____. De la 
Restauración a la Reconquista: la construcción de un mito nacional (Una revisión historiográfica. Siglos XVI-
XIX). En la España medieval, Madrid, n. 28, p. 379-414, 2005; VANOLI, Alessandro. L’invenzione della 
Reconquista. Note sulla storia di una parola. Reti Medievali Rivista, Napoli, n. 9, p. 1-13, 2008, entre outros. 
19 Cf. CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano. 1. Artes de Fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. 
20 Ou seja, como um poder exercido sobre os homens e a terra. Sendo assim, ressaltamos mais uma vez que o 
senhorio foi visto por nós como um elemento que vai além da questão meramente territorial ou de direitos e 
privilégios de exercício de determinada autoridade. Cf. GUERREAU, op. cit., principalmente, páginas 217-
223. Ver também, para o caso castelhano-leonês: ESTEPA DÍEZ, Carlos. Notas sobre el feudalismo 
castellano en el marco historiográfico general. In: SARASA SÁNCHEZ, Esteban; SERRANO MARTÍN, 
Eliseo. (Eds.). Estudios sobre señorío y feudalismo (Homenaje a Julio Valdeón). Zaragoza: Institución 
Fernando el Católico, 2010. p. 77-105. 
 11 
relações de negociação entre a monarquia e os senhorios episcopais de Santiago de 
Compostela e Sigüenza. 
Como foi dito, a doação de senhorios às dioceses pressupunha, por um lado, a 
necessidade da coroa de firmar sua presença nominal nos territórios recém-conquistados, o 
que só poderia, em tese, ser atingido pela “legitimidade monárquica”. Tal legitimidade é 
complexa de se alcançar e que, nesse caso, estava vinculada, entre outros casos, ao apoio 
episcopal, representado pelo reconhecimento da condição monárquica de doar e efetivar 
suas doações. Mas, por outro lado, tais dons também criavam a possibilidade eclesiástica de 
reclamar para si o direito dela mesma doar por meio do exercício do poder senhorial-
episcopal em suas mãos e assim, inclusive, fortalecer cada vez mais sua legitimidade 
diocesana.21 Verifica-se, desta maneira, um complexo quadro de interesses conflitantes 
entre os senhorios episcopais e a coroa castelhana-leonesa em âmbito local, onde a 
autoridade da monarquia não se fazia diretamente presente, o que nos levou a defender em 
nossa pesquisa que as tensões geradas por essa condição só poderiam ser harmonizada 
através da negociação entre tais instituições. 
Mas, por que então a monarquia continuava doando cada vez mais senhorios às 
dioceses? 
A resposta para este questionamento interligou-se aos conflitos enfrentados pela 
coroa castelhana-leonesa nos anos iniciais do século XII e a posição específica das duas 
dioceses selecionadas para análise. 
Resumidamente, podemos afirmar que as mortes do único filho homem de Afonso 
VI e, logo em seguida, do seu genro Raimundo de Borgonha resultaram em um grande 
problema sucessório que se complicou mais com o fracassado matrimônio entre sua filha 
Urraca e o rei aragonês Afonso I, o Batalhador.22 Somado a isso, podemos destacar as 
 
21 Que, evidentemente, com a detenção do poder senhorial, apenas reforça todo um aparato discursivo cristão 
bem anterior aos séculos XI e XII e que pode ser constatado, por exemplo, em Santo Agostinho e tantos 
outros. Cf. BARTHÉLEMY, op. cit. 
22 Cf. RECUERO ASTRAY, Manuel. Alfonso VII (1126-1157). Burgos: La Olmeda, 2003; _____. Alfonso 
VII, Emperador: El Imperio Hispanico en el Siglo XII. León: Centro de Estudios e Investigación San Isidoro, 
Casa de Ahorros y Monte de Piedad, Archivo Historico Diocesano, 1979; REILLY, Bernard F. The Kingdom 
of León-Castilla under King Alfonso VII (1126-1157). Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1998; 
_____. The Kingdom of Leon-Castilla under King Alfonso VI, 1065-1109. Princeton: Princeton University 
Press, 1988; _____. The Kingdom of Leon-Castilla under Queen Urraca (1109-1126). Princeton: Princeton 
University Press, I982; VALDEÓN, Julio; ZABALO JAVIER, Salrach, José Mª. Javier. Feudalismo y 
Consolidaciónde los Pueblos Hispánicos (Siglos XI-XV). 3 ed. Barcelona: Labor, 1989. Historia de España, 
4. 
 12 
constantes revoltas aristocráticas nos diversos pontos do reino, que obrigaram cada vez 
mais a doação de senhorios como um tipo de estratégia na tentativa de contribuir para o 
processo de legitimidade da monarquia.23 
Outros dois pontos que foram considerados para uma melhor compreensão do 
paradoxal quadro de doações de senhorios no âmbito político do século XII: o avanço de 
conquista territorial e processo de repovoamento, além do chamado “projeto imperial” 
presente na política da coroa castelhana-leonesa, principalmente em Afonso VI, e que 
tomou ares mais elaborados com a ascensão ao trono de seu neto Afonso VII que, inclusive, 
chegou a ser coroado em Leão, no ano de 1135, com amplo apoio episcopal.24 Tais 
postulados ainda hoje geram polêmicas na historiografia, mas, a despeito disso, os 
consideramos como condição sine qua non para uma melhor compreensão das relações de 
negociação entre a monarquia e as dioceses possuidoras de senhorios e a interdependência 
que identificamos entre tais instâncias. 
Como veremos, os episcopados poderiam ser aliados, mas também inimigos da 
política expansionista castelhana-leonesa e a consequente busca pela pacificação e 
manutenção dos territórios recém-conquistados.25 
No caso compostelano, pudemos observar, em nosso estudo, a continuidade das 
doações de senhorios se justificavam, entre outros motivos, pela atuação dessa diocese, por 
meio do seu episcopado, nas questões relacionadas à sucessão do trono em favor de Afonso 
Raimúndez, filho de Urraca e Raimundo de Borgonha, e que foram, em longo prazo, 
marcantes para Castela-Leão, já que o infante galego sobe ao trono, principalmente, graças, 
entre outros apoios, a uma verdadeira campanha do bispo compostelano Diego Gelmírez. 
 
23 Como sabemos esse tipo de estratégia não era nenhuma novidade, mas tende-se a generalizar-se, como já 
ressaltado, em finais do século XI e durante todo o século XIII. 
24 Não podemos ignorar também que o título Imperator foi reclamado durante certo tempo por Afonso I, o 
Batalhador, rei da Aragão. Cf. LEMA PUEYO, José Angel. Alfonso I el Batalhador, rey de Aragón y 
Pamplona (1104-1134). Gijón: Ediciones Trea, 2008. Ver também: RECUERO ASTRAY, Manuel. Alfonso 
VII (1126-1157). Burgos: La Olmeda, 2003; _____. Alfonso VII, Emperador: El Imperio Hispanico en el 
Siglo XII. León: Centro de Estudios e Investigación San Isidoro, Casa de Ahorros y Monte de Piedad, Archivo 
Historico Diocesano, 1979. 
25 Cf. GORDO MOLINA, Ángel G. Alfonso VII, sucesión e Imperium. El príncipe cristiano en la Chronica 
Adefonsi Imperatoris y el diplomatario regio como modelo de virtud. Fuentes cronísticas e imagen del 
soberano de León. Edad Media, s/d. Disponível em: 
http://edadmedia.cl/wordpress/wpcontent/uploads/2011/04/AlfonsoVIISucesioneImperium.pdf. Último 
acesso: 28 de dezembro de 2011; _____. Estructuras regias en el reino de León. La praeparatio en la 
elevación al trono imperial de Urraca I y Alfonso VII. Factores diferenciadores y de estabilidad en el 
gobierno. Edad Media, s/d. Disponível em: http://edadmedia.cl/wordpress/wp-
content/uploads/2011/04/EstructurasregiasenelreinodeLeon.pdf. Último acesso: 30 de novembro de 2011. 
 13 
Por sua vez, a tomada da cidade de Sigüenza das mãos muçulmanas e a restauração 
de sua diocese estavam em sintonia com a política monárquica de domínio territorial 
anteriormente citada, o que a levava a depender do apoio episcopal seguntino na região 
central do reino.26 
Porém, apesar disso tudo, as relações entre esses senhorios episcopais e a monarquia 
castelhana-leonesa não foram constantemente harmônicas e este foi outro aspecto que nos 
debruçamos em nossa pesquisa. E que possibilitou salientarmos uma vez mais os pontos de 
análise que consideramos principais: a negociação calcada nas estratégias de utilização da 
doação senhorial às respectivas dioceses; as estratégias empreendidas pelos episcopados no 
jogo político daquele período e, por fim, a interdependência entre tais instâncias, o que 
quebra o paradigma centralista. 
Frente às complexidades encontradas, recorremos a uma abordagem fundamentada 
no método comparativo em História, já que tivemos como pressuposto que elas poderiam 
incidir em diferenças expressivas entre as relações de negociação entre cada um desses 
senhorios episcopais com a coroa castelhana-leonesa, principalmente em se tratando de 
aspectos como, por exemplo, os limites do poder senhorial-episcopal, ou mesmo os laços 
de dependência mútua entre cada um deles com a monarquia. 
Para nós, tais limites e abrangências só poderiam ser verificados se levados em 
consideração os aspectos específicos de cada um destes senhorios episcopais e as doações 
que conseguiram pleitear e obter no período em questão. 
Por este motivo, a comparação foi um fator primordial na construção da nossa 
pesquisa, já que, como demonstraremos nos subsequentes capítulos, ela foi capaz de nos 
possibilitar uma visão mais ampla das complexidades e mesmo contradições em que 
estiveram sustentadas as relações de negociação entre a monarquia e esses dois senhorios 
episcopais, assim como as estratégias e táticas utilizadas para a amenização das tensões 
surgidas no caminho. 
Em suma, defendemos que a melhor maneira de demonstrar as nuanças desse 
fenômeno na Idade Média Ibérica é por meio do estudo comparado das suas relações. No 
 
26 Cf. REGLERO DE LA FUENTE, Carlos Manuel. Los obispos y sus sedes en los reinos hispánicos 
occidentales (Mediados del siglo XI – mediados del siglo XII: tradición visigoda y reforma romana. In: 
XXXIII Semana de Estudios Medievales, Estella, 18 a 22 de julio de 2005, Actas: La reforma gregoriana y su 
proyección en la cristiandad occidental: siglos XI-XII. Navarra: Departamento de Cultura y Turismo/ 
Institución Príncipe de Viana, 2006. p. 195-288. 
 14 
nosso caso específico, fizemos isto focando na negociação; no exercício, mesmo que 
limitado da autoridade do poder senhorial-episcopal e nos níveis dependência mútua entre 
as instituições monárquica e eclesiástica. 
Deve-se sublinhar sempre o processo contínuo de busca pela legitimidade por parte 
da coroa castelhana-leonesa e das respectivas dioceses, mas que, contudo, não percebemos 
ter sido similar nas suas relações com esses dois senhorios episcopais. 
 No que diz respeito às nossas escolhas por Santiago de Compostela e Sigüenza, e 
não por outras Igrejas, levamos em consideração, em primeiro lugar, a ausência de estudos 
comparativos dedicados não só às duas dioceses, mas, ainda, a comparação entre senhorios 
episcopais.27 
Outro aspecto do nosso interesse foi o fato de serem dois senhorios que surgiram em 
períodos diferentes, mas que foram sendo consolidados contemporaneamente, no século 
XII. Isso não significou, à primeira vista, que suas relações com a monarquia se deram de 
maneira similar. Ou seja, apesar de serem estas duas Igrejas detentoras de senhorios, 
pressupomos e pretendemos demonstrar que as características de suas relações com a 
monarquia foram sensivelmente diferentes em seu desenrolar. 
 Em terceiro, há de se salientar que a Igreja de Santiago de Compostela foi, além de 
um grande centro de peregrinação, um dos mais expressivos focos urbanos da Península 
Ibérica na Idade Média Central e um bispado que estava de maneira bem participativa no 
núcleo das atividades políticas daquele momento. Seus bispos, principalmente, Diego 
Gelmírez – posteriormente primeiro arcebispo compostelano –, são exemplos marcantes de 
senhores eclesiásticos neste período. Isso instigou nosso interesse e motivou sua escolha. 
 Em contrapartida, o que nos chamou atenção na diocese de Sigüenza e seu senhorio 
foi o fato de, apesar de ser expressivamente menor que Compostela, ela ter figuradocomo 
uma das Igrejas mais atuantes na política monárquica de Castela-Leão, durante 
praticamente toda Idade Média Central. Seus bispos, como foi possível verificar na 
documentação diplomática preservada nos seus arquivos diocesanos e nos documentos 
 
27 Principalmente, entre dois tão distintos como o nosso caso de estudo: uma arquidiocese e uma diocese. 
Seria bem mais simples, por exemplo, comparar Santiago de Compostela com Toledo ou Sigüenza com 
Osma. Já que o primeiro bloco corresponde a duas arquidioceses reconhecidamente como as maiores 
detentoras de direitos senhoriais na Idade Média Ibérica. Porém, consideramos que tal comparação correria o 
risco de ser empobrecida pelo fato de já partir de similitudes básicas como suas dignidades episcopais. 
 15 
oriundos da monarquia, foram figuras constantes no séquito real, desde a restauração da 
dignidade eclesiástica na cidade seguntina.28 
A própria criação de seu senhorio episcopal – datado em meados do século XII –
esteve relacionada a um momento específico da região central da península, em meio aos 
diversos conflitos entre Castela-Leão, Aragão e as forças militares Islâmicas.29 Por fim, 
como ressaltamos em nota, sua dignidade eclesiástica também se difere de Santiago. 
Sigüenza foi apenas diocese, porém, atestamos debates sobre a possibilidade do primeiro 
bispo seguntino ter sido também arcebispo de Compostela logo após a morte de Diego 
Gelmírez, o que ampliou mais nossa análise, possibilitando estabelecermos possíveis 
relações mais diretas entre as duas Igrejas.30 
Esta disparidade, tanto territorial e institucional como, aparentemente, política, entre 
as duas Igrejas, tornou a comparação das relações desses dois senhorios episcopais com a 
coroa de Castela-Leão um empreendimento atrativo para aplicarmos nossa proposta 
metodológica de um estudo comparado. 
 As redes nas quais a diocese de Santiago de Compostela e Sigüenza estiveram 
envolvidas são uma profícua possibilidade para se analisar como se organizaram as relações 
de negociação entre dioceses possuidoras de senhorios e a monarquia, além de entendermos 
a amplitude de alcance do exercício da autoridade do poder senhorial-episcopal e os níveis 
de interdependência entre as instituições monárquica e eclesiástica através do senhorio 
como elo de laço entre elas. 
Finalmente, um último ponto que deve ser destacado para nossa escolha: o acesso a 
documentação do período selecionado. 
Pudemos recorrer para nossa pesquisa ao que consideramos ser um rico corpus 
documental de caráter variado e que cobriu os aspectos que consideramos pertinentes de 
cada um desses senhorios episcopais e da monarquia castelhana-leonesa. Documentação 
que possibilitou, inclusive, perceber a extensão dessas relações com outras dioceses e 
 
28 Cf. SÁEZ SÁNCHEZ, Carlos. Orden, conservación y ostentación: el cartulario de la catedral de Sigüenza 
(c. 1212). Anuario de estudios medievales, Madrid, v. 1, n. 36, p. 171-199, 2006. 
29 Cf. RECUERO ASTRAY, Manuel. Alfonso VII (1126-1157). Burgos: La Olmeda, 2003 e REGLERO DE 
LA FUENTE, op. cit. 
30 Cf. BARRERO SOMOZA, op. cit. Essa informação é contestada por Toribio Minguella y Arnedo. Cf. 
MINGUELLA Y ARNEDO, Toribio. Historia de la Diócesis de Sigüenza y sus Obispos: Desde los 
cominenzos de la Diócesis hasta fines del Siglo XIII. Madrid: Imp. de la Revista de Arch., Bibl. y Museos, 
1910. Vol. 1. 
 16 
mesmo com a coroa de Aragão e a Igreja de Roma, que, mesmo não tendo sido objetos de 
reflexões mais profundas, não foram por nós ignorados.31 
 Essa variedade documental esteve em sintonia com o método comparativo, pois 
contribuiu fortemente para testarmos uma maior quantidade de hipóteses explicativas, além 
de nos permitir cobrir diversas lacunas encontradas nos próprios documentos e que só 
puderam ser resolvidas por meio do cotejamento entre fontes. 
Ao analisarmos cada um desses senhorios episcopais passamos a nos questionar, de 
maneira geral, até que ponto a explicação historiográfica espanhola sobre o fenômeno 
senhorial, principalmente, o de cunho eclesiástico, tem atendido plenamente a demanda de 
suas complexidades? 
Ainda como questão central, pode se afirmar que as relações entre os senhorios 
episcopais e a monarquia foram mantidas apenas por uma questão de proximidade pessoal? 
Não é possível que tenham extrapolado esse aspecto? Como o exercício da prática senhorial 
e episcopal deve ser analisado nesses dois casos? Eram vistas como atividades distintas no 
período? Especificamente, até que ponto os senhorios episcopais conseguiram exercer sua 
autoridade nos casos estudados? Quais estratégias foram utilizadas? Como as relações de 
obediência com a monarquia se mantiveram? Qual o nível de negociação estabelecido entre 
a monarquia castelhana-leonesa e cada um desses senhorios episcopais? 
Como ressaltamos anteriormente, procuramos responder todos esses 
questionamentos a partir da análise comparativa das relações entre os senhorios episcopais 
de Santiago de Compostela e Sigüenza com a monarquia castelhana-leonesa, na primeira 
metade do século XII, procurando dar ênfase nos caminhos da negociação, nos aspectos da 
autoridade do poder senhorial-episcopal e na interdependência entre as instituições 
monárquica e eclesiástica no referido período. 
Tivemos como objetivo geral nessa tese demonstrar que, por meio do método 
comparativo em História, é possível verificar, dentro de um quadro tão amplo, como foi o 
fenômeno senhorial episcopal, as complexidades relacionais e as especificidades no 
exercício da autoridade do que denominamos como poder senhorial-episcopal. Além da 
contínua busca pela legitimidade monárquica, o que, em contrapartida, gerou diversos 
níveis de dependência desta última a este tipo de poder supracitado. Ao mesmo tempo que 
 
31 Todo o corpus documental utilizado nesta pesquisa é apresentado no capítulo 1 da nossa tese. 
 17 
os senhorios episcopais se viam na necessidade de estabelecer vínculos de proximidade 
com a instituição monárquica para exercer o referido poder em seus territórios. 
Enfim, nossa pesquisa primou por focar características que, para nós, foram 
ignoradas ou pouco analisadas pela maior parte da historiografia dedicada aos senhorios 
episcopais e suas relações com a monarquia. Fato que se explica, principalmente, pelas 
querelas historiográficas que se arrastaram por anos na Espanha e, no que parece, só agora 
passam a se amenizar, mas, que, em nossa opinião, ainda ressoam nas reflexões produzidas 
no Brasil.32 
Especificamente, nos voltamos para os senhorios episcopais castelhanos-leoneses, 
pois, nos parece terem sido eles aqueles que apresentaram o maior número de variáveis nas 
relações com a monarquia no século XII hispânico. Este período também se apresenta como 
o de maior complexidade de tais relações nesse território. Sendo assim, trata-se de um 
campo mais profícuo para que nossa pesquisa pudesse propor novos rumos ou mesmo nos 
ampararmos nos trabalhos já publicados que mais se aproximaram da nossa perspectiva. 
Finalmente, procuramos propor uma comparação por blocos, na qual analisamos as 
relações entre cada uma das dioceses e a monarquia de maneira isolada. Deste modo, de 
maneira analítica, contrapomos os resultados alcançados para chegarmos às nossas 
conclusões. No entanto, isso não pressupõe que os dois senhorios episcopais não 
constituíram inter-relações entre eles mesmos. Foi apenas uma escolha por uma melhor 
precisão metodológica. 
No que diz respeito ao método, mesmo reconhecendo a existência de diversos tipos 
de abordagem, realizamos um exercício comparativo baseado nos estudos empreendidos 
pelo historiador alemão Jürgen Kocka.33 Ele ressalta que “comparar em História significa 
discutir dois ou mais fenômenos históricos sistematicamentea respeito de suas 
singularidades e diferenças de modo a se alcançar determinados objetos intelectuais”.34 
 
32 Além disso, não há de se negar que muitas vezes os pressupostos teóricos e conceituais, adaptados para a 
tentativa de compreensão do contexto representado nos documentos que permitem o estudo dos senhorios 
episcopais, pecam ao transpor para os séculos XI e XII noções que evidentemente não estavam em sintonia 
com as relações construídas naqueles momentos. 
33 Cf. KOCKA, Jürgen. Comparison and Beyond. History and Theory, Middletown, n. 42, p. 39-44, fev. 
2003. As transcrições desse artigo foram feitas a partir da tradução elaborada por Maria Elisa Bustamante. 
34 KOCKA, op. cit., p. 39. 
 18 
O mais importante destacado por esse pesquisador é que, não necessariamente, tais 
fenômenos devam ser de sociedades diferentes, podendo-se, também, estabelecer uma 
comparação de possíveis similitudes e/ou diferenças de um fenômeno social local.35 
Entendemos aqui, como fenômeno social, por exemplo, o exercício da autoridade 
oriunda do poder senhorial-episcopal. Ou, ainda, a maneira como se desenvolveram, 
durante a primeira metade do século XII, as relações de negociação e de interdependência 
entre a monarquia e os senhorios episcopais. 
Este modo de comparação, na qual selecionamos núcleos isolados de análise e 
contrapomos seus resultados, possibilita uma maior segurança para alcançar objetivos 
intelectuais, tais como entender se as relações de dependência entre a monarquia 
castelhana-leonesa e os senhorios episcopais se diferenciavam ou não a partir de interesses 
específicos, pressões políticas, contexto militar, religioso, a dignidade eclesiástica de cada 
uma das igrejas, etc. 
Esta preocupação está em sintonia com a proposta de Kocka, quando afirma que 
 
o ato de comparação pressupõe a separação analítica dos casos a serem 
comparados. Mas, isto não significa ignorar ou negligenciar as inter-
relações entre estes casos (se e na extensão de que estas existam). Ao 
invés disto, tais inter-relações devem se tornar parte do esquema 
comparativo através de sua análise como fatores que levaram a 
similaridades ou diferenças, convergência ou divergência entre os casos 
que se compara.36 
 
 Desta maneira, defendemos evidenciar-se que, ao “isolarmos” para análise os dois 
senhorios episcopais, não estamos ignorando o que Kocka chamou de inter-relações, que 
apesar de não definido em seu artigo,37 temos classificado como as características que 
definem as relações que vinculam, no nosso caso, os dois núcleos comparados com a 
monarquia. 
 
35 Cf. Idem. 
36 Ibidem. p. 44. 
37 Isso, entre outras questões pertinentes, é ressaltado em: LIMA, Marcelo Pereira; RUST, Leandro Duarte. 
Ares pós-modernos, pulmões iluministas: Para uma epistemologia da História Comparada. Revista de 
História Comparada, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, junho de 2008. Disponível em: 
http://www.hcomparada.ifcs.ufrj.br/revistahc/artigos/volume002_Num001_artigo002.pdf. Último acesso: 3 de 
fevereiro de 2012. 
 19 
Resta, do exercício comparativo, verificar de que maneira e em até que ponto a 
autoridade do poder senhorial-episcopal foi exercida por cada uma das dioceses e, nos dois 
casos, qual o nível de interdependência entre cada um deles e a coroa. Além de 
percebermos de maneira mais evidente o papel das doações senhoriais nas negociações 
travadas em meio ao clima de tensão daquele período. 
Não podemos ignorar o quanto cada um desses senhorios episcopais contribuiu ou 
dificultou na legitimação da monarquia castelhana-leonesa, à medida que esta, ora apenas 
prometia, mas em outros momentos efetivava suas doações senhoriais. Cabe ressaltar que 
procuramos não naturalizar tal exercício e, como será possível verificar, problematizamos, 
também, o fato da própria monarquia também ser detentora de senhorios. 
Aplicamos o método comparativo a uma variedade de documentos que passamos 
agora a apresentar resumidamente, uma vez que, como já ressaltado, retornamos a eles no 
capítulo 1, quando serão abordados da maneira mais profunda. 
Grosso modo, podemos dividir o corpus documental da nossa pesquisa em duas 
partes que foram nomeados por “Documentação diplomática” e “Documentação 
cronística”. 
No primeiro bloco, para o estudo das relações entre Compostela e a monarquia, 
recorremos aos diplomas presentes no Tumbo A da Catedral de Santiago de Compostela, a 
partir da edição crítica elaborada por Manuel Lucas Alvarez.38 São ao todo 165 
documentos, redigidos em latim, dos quais utilizamos apenas aqueles emitidos entre 
meados do século XI até, aproximadamente, a segunda metade do século XII. 
No que diz respeito a Sigüenza, lançamos mão da documentação publicada em um 
anexo intitulado Colección Diplomática, presente no livro Historia de la Diócesis de 
Sigüenza y sus Obispos: Desde los cominenzos de la Diócesis hasta fines del Siglo XIII, 
escrito por Toribio Minguella y Arnedo, em 1910.39 Tal coleção soma no total 265 
documentos, escritos em latim, dos quais utilizamos em nossa pesquisa, aproximadamente, 
 
38 LA DOCUMENTACIÓN DEL TUMBO A DE LA CATEDRAL DE SANTIAGO DE COMPOSTELA. Estudio 
y Edición de Manuel Lucas Álvarez. León: Centro de Estudios e Investigación San Isidoro, Caja de España de 
Inversiones, Caja de Ahorros y Monte Piedad, Archivo Histórico Diocesano, 1997. 
39 Minguella y Arnedo, bispo de Sigüenza entre 1898 e 1916, compilou tais materiais a partir de pergaminhos 
originais e copias presentes em um cartulário datado do século XIII, preservados, na época, no Archivo 
Diocesano de la Catedral de Sigüenza. 
 20 
34 diplomas que cobrem o período de 1124 (uma doação realizada pela rainha Urraca I) a 
1151 (uma carta de doação do bispo Bernardo aos cônegos da igreja de Sigüenza).40 
Além deste grupo de documentos diplomáticos, que compreendem uma parte da 
espinha dorsal da pesquisa, utilizamos também outros que abarcam os governos de Urraca I 
e Afonso I, o Batalhador.41 
Na parte de documentos cronísticos, não há referências ou mesmo alguma 
documentação desse tipo produzida, especificamente, em Sigüenza no período que 
abordamos. Contudo, foi possível rastrear a presença do primeiro bispo seguntino em uma 
das crônicas por nós utilizada, a Historia Compostelana, que nos serviu sobremaneira para 
analisarmos também as relações entre a monarquia e o senhorio episcopal jacobeu. Além 
dos limites do exercício da autoridade do seu poder senhorial episcopal.42 
Manuseamos também para estudo de tais relações as Crónicas Anónimas de 
Sahagún e a Chronica Adefonsi Imperatoris.43 
Algumas dessas crônicas, principalmente a Historia Compostelana, fazem 
referências a muitos dos diplomas de doações que analisamos, por este motivo, sua 
utilização foi primordial, inclusive, para termos outro tipo de visão das relações mantidas 
entre os senhorios episcopais e a monarquia, que iam além das fórmulas diplomáticas. Este 
segundo grupo de documentos pode ser considerado a outra parte da espinha dorsal do 
nosso trabalho. 
Por fim, o bloco de documentos variados, corresponde àquelas fontes utilizadas por 
nós como contrapontos para algumas questões mais superficiais e que não tomaram parte 
 
40 COLECCIÓN DIPLOMÁTICA. In: MINGUELLA Y ARNEDO, Toribio. Historia de la Diócesis de 
Sigüenza y sus Obispos: Desde los cominenzos de la Diócesis hasta fines del Siglo XIII. Madrid: Imp. de la 
Revista de Arch., Bibl. y Museos, 1910. Vol. 1. p. 347-389. 
41 COLECCIÓN DIPLOMÁTICA DE ALFONSO I DE ARAGÓN Y PAMPLONA (1104-1134). Transcripción 
y edición crítica de José Ángel Lema Pueyo. Donostia-San Sebastián: Eusko Ikaskuntza, 1990; 
DIPLOMATARIO DE LA REINA URRACA DE CASTILLA Y LEÓN (1109-1126). Edición y índices por 
Cristina Monterde Albiac. Zaragoza: Anubar, 1996 e

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